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Colhedoras
Inimigas da perfeição
As perdas na colheita de soja são inevitáveis mesmo quando a operação é feita com máquinas modernas e bem reguladas. Mas um dos principais fatores que interferem negativamente neste quesito é trabalhar com velocidades muito elevadas em condições de colheita que exigem mais cautela
Osetor agrícola nacional nos últimos anos vem buscando um incremento na produção, porém em contrapartida vem sofrendo bastante com as divergências climáticas. Nesse sentindo é cada vez mais importante a necessidade de um correto planejamento para que perdas nos processos ligados à cadeia de produção sejam minimizadas. As práticas de mecanização respondem expressivamente na produtividade da lavoura, podendo causar benefícios quando conduzidas corretamente ou prejuízos quando mal conduzidas. Dentre as práticas de cultivo mecanizado, a colheita é uma das mais importantes, pois é aplicada no produto que já recebeu todos os investimentos da produção. Ao se referir à colheita, deve-se atentar às perdas, que estão ligadas indiretamente à características como topografia da área, variedade cultivar e umidade do grão, e diretamente a configurações da própria colhedora.
Com a evolução da mecanização, a busca pela redução das perdas vem sendo constantemente preconizadas principalmente pelo alto potencial econômico da soja.
A tecnologia aplicada ao meio agrícola constantemente se inova, na intenção de aprimorar as técnicas de cultivo e consequentemente a produção. Entre as inovações já bastante difundidas no campo temos os monitores de bordo, que disponibilizam dados constantemente e permitem o acompanhamento do funcionamento dos sistemas da máquina, fornecendo também informações que auxiliam na redução dos índices de perdas da operação.
As perdas na colheita mecanizada estão relacionadas às variações climáticas e às condições da cultura, mas também não se pode esquecer dos cuidados mecânicos, da baixa habilidade dos operadores e do uso de máquinas de tecnologia ultrapassada em relação às condições atuais de produção.
Dessa forma, o presente trabalho teve por objetivo quantificar e caracterizar as perdas da colheita mecanizada de soja, conforme a variação da velocidade de deslocamento da colhedora. Foi avaliada a operação de colheita na fazenda Adriana Petrofesa, no município de Paranaíta (MT), como o auxílio de uma colhedora da marca John Deere, modelo STS 9470, ano 2013, com mecanismo de trilha axial, potência nominal de 175kW (138cv), porém evoluída para 300cv de potência no motor e tanque graneleiro com capacidade de 6.750L, equipada com plataforma caracol de 25 pés.
Charles Echer
Detalhe da distribuição das peneiras e coleta das amostras de perdas nos diferentes sistemas da colhedora
Foi utilizado delineamento experimental em DIC, Delineamento Inteiramente Casualizado, onde foram analisadas cinco velocidades de trabalho, sendo (V1 = 2,5km/h; V2 = 4km/h; V3 = 5,5km/h; V4 = 7km/h; V5 = 8km/h), respectivamente, e através dessa variação foram coletadas as perdas e a distribuição de palha. Cada parcela possuía um comprimento de 50 metros e, para clareza dos dados, a cada parcela os dados foram coletados entre os 20 e os 30 metros do início da parcela, tendo assim iniciais 20 metros para estabilização dos sistemas internos da máquina e, ao fim, o operador tinha folga de 20 metros para equilibrar a próxima velocidade testada (Figura 1).
No momento da colheita os grãos se encontravam com 20% de umidade segundo o indicador da própria máquina. A velocidade do rotor, do ventilador e a abertura do côncavo permaneceram constantes durante todas as repetições, ficando em 680rpm para o rotor, 1.000rpm para o ventilador e 19mm para a abertura do côncavo.
Foram avaliados os seguintes parâmetros no campo: Perdas na plataforma, Perdas nos mecanismos internos (sistemas de trilha e limpeza) e Perdas totais. Para isso foram coletadas quatro subamostras com armações circulares, posicionadas ao longo da largura da máquina durante seu trajeto. As armações foram confeccionadas com aros de bicicleta de 0,25m², envolvidas com tela de nylon, sendo que os quatro aros de mesmo tamanho juntos totalizaram uma área de 1m². As armações circulares foram lançadas sobre ao solo durante passagem da máquina, de modo com que os grãos e vagens que se encontravam abaixo da peneira indicam perdas ocasionadas pela plataforma e grãos acima indicam perdas de mecanismos internos.
Foi quantificada também a distribuição de palha como parâmetro para verificar a qualidade da operação de colheita, utilizou-se uma linha devidamente graduada de dez em dez centímetros, permitindo saber a porcentagem de distribuição de palha da máquina, na prática totalizaram 75 pontos e através dos pontos que estavam dispostos sobre o solo nu, representavam onde não havia palha, e os pontos sobre palha caracterizavam a distribuição.
Os dados coletados foram submetidos à análise de variância pelo teste F (p < 0,05) e, quando significativo foi aplicada a
Figura 1 - Croqui da operação
Fotos Sidney Aparecido da Silva
comparação de médias pelo teste de Tukey, a 10% de probabilidade. Em seguida, submetidos à análise de regressão para averiguação do comportamento dos dados em função das velocidades de colheita.
Os resultados encontrados demonstraram que as perdas obtidas na plataforma, no sistema de trilha e as perdas totais foram significativas, demonstrando efeito linear de regressão. Neste sentido, observa-se que as perdas apresentaram comportamento crescente, indicando menores perdas nas velocidades mais baixas e maiores nas velocidades mais altas (Figura 2 A, B, C e D).
As perdas na plataforma podem ocorrer por vários fatores, como ondulações no relevo, onde em velocidades altas, o eixo helicoidal não consegue fazer correção do solo, provocando o aumento da flutuação da plataforma e com isso ocorre o corte da planta acima da inserção de primeira vagem. Isso demonstra que fatores como altura de corte da plataforma, velocidade do molinete, abertura entre cilindro e côncavo, rotação do cilindro trilhador e velocidade de deslocamento influenciam diretamente nas perdas totais. Porém, vale salientar que pode haver interferências indiretas como deiscência das vagens, semeadura inadequada, umidade dos grãos, altura da inserção
da primeira vagem, escolha errada da cultivar, ocorrência de plantas daninhas e mau desenvolvimento da cultura.
Para as perdas no sistema de trilha, a velocidade 1 (2,5km/h) apresentou uma participação de cerca de 38% nas perdas totais, enquanto que para a velocidade 5 (8km/h) a participação das perdas nos sistemas internos em relação ao total de perdas de foi de 47%, sendo assim superior o que alguns autores destacam, que a faixa de perdas no sistema de trilha alcança no nível máximo de variação 38% das perdas totais.
Em relação ao sistema de trilha, devemos destacar ainda que a umidade é um dos fatores limitantes no momento da operação, pois pode interferir na alimentação da máquina causando embuchamento da plataforma e dificultando a debulha. De acordo com pesquisas, a umidade ideal no momento da colheita para minimizar perdas mecânicas está disposta na faixa entre 13% e 15%, na colheita da soja tem minimizado os problemas de danos mecânicos e perdas na colheita. No momento da colheita, a umidade estava em 20%.
De acordo com o presente estudo, as perdas obtidas na plataforma foram de maior participação nesse parâmetro. Associado a isso, a velocidade V5 Foi a que diferiu significativamente, extrapolando a tolerância de perda, que é de apenas um saco por hectare.
As avaliações de perdas durante o processo de colheita se mostram ser de suma importância, assim como também conhecer o método eficiente de medição de perda de grãos, para poder identificar onde e em que quantidades estão ocorrendo, por isso a metodologia peneira se torna mais eficiente, pois permite a diferenciação das causas de perdas e maior rapidez no processo de amostragem.
Para a distribuição de palha, a curva de regressão apresentou efeito quadrático, demostrando um pico de eficiência de distribuição na velocidade V3 (5,5km/h), caracterizado por 61,3% dos pontos marcados com presença de palha, porém o valor não atingiu o mínimo tolerável para uma boa distribuição de palha, o qual por vários autores é de 80%.
Dessa forma ficou claro que perdas na plataforma foram as que mais interferiram nas perdas totais, evidenciando que a velocidade V5 (8km/h) ultrapassou o valor tolerável de uma saca por hectare. É necessário ter um cuidado extra no momento da colheita com regulagem da barra de corte e alimentação.
A distribuição de palha apresentou valor próximo ao nível ótimo de distribuição na velocidade V3 (5,5km/h), com 61,3% de distribuição. Deve-se destacar a importância de uma boa distribuição da palha na área, pois proporciona vários benefícios relacionados à proteção do solo e a maiores produtividades das culturas posteriores.
Com base no experimento com diferentes velocidades, observa-se que para se obter um bom funcionamento e manutenção das perdas na colheita a um nível aceitável, deve-se manter a velocidade na colheita de 4km/h a 6,5km/h, respeitando diferenças de relevo do terreno, produtividade, infestação de plantas daninhas e acamamento, proporções de pedras e galhos no local. .M
Sidney Aparecido da Silva, Unemat, Campus de Alta Floresta Antonio Tassio S. Ormond, UEMG - Campus de Passos Rafael Henrique de Freitas Noronha, UFSB
Figura 2 - Perdas na colheita e distribuição de palha, (V1=2,5; V2= 4; V3=5,5; V4=7; V5=8 Km/h) B
D