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Colhedoras

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Sob controle

A emissão de ruídos em tratores agrícolas é inevitável. No entanto, a aquisição de modelos cabinados ou até mesmo o uso de protetores auriculares ajuda a manter a poluição sonora em níveis aceitáveis e que não causem danos aos operadores

Com a mecanização agrícola, desde os anos 1960, o uso de máquinas tem sido intensificado no campo, a fim de otimizar o desempenho e a produtividade. Os tratores, que são a base dessa mecanização, eram projetados com o intuito de executar as operações, por vezes deixando de lado fatores ergonômicos responsáveis pela qualidade do trabalho e segurança do operador. Dessa forma, todo o tratorista precisa conduzir, monitorar e realizar as regulagens adequadas do trator e implemento, enquanto é submetido a condições ambientais adversas, vibrações e ruídos que podem ir além do que é permitido pelas normas de segurança do trabalho.

No Brasil, existem cerca de 35 milhões de trabalhadores rurais, onde 10% destes são operadores de máquinas agrícolas. Tendo isso em vista, Fernandes (1991) demonstrou a grave situação dos operadores existente no País: em 300 tratores analisados, os níveis de ruído encontrados foram entre 90dB e 110dB, enquanto que dos 111 tratoristas, 59,8% apresentaram perda de audição induzida por ruído. Passados 30 anos, parte dessa problemática ainda persiste, merecendo atenção dos operadores, gestores e pesquisadores da área.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o ruído é uma das principais fontes ocupacionais que geram incapacidade do trabalhador ao longo dos anos. Dessa forma, a exposição a barulhos excessivos no ambiente é uma das principais causas das perdas auditivas relacionadas ao trabalho e seus impactos sobre a saúde do tratorista não se restringem apenas à audição, mas também podem acarretar distúrbios emocionais, fadiga, estresse e problemas cardiovasculares.

O ruído pode ser definido como sons indesejáveis e desagradáveis, que são causados por diversos fatores em desarmonia, podendo causar problemas físicos e psíquicos à saúde. Exemplo destes são: zumbidos, buzinas, chiados, pancadas, estrondos e outros sons provenientes de máquinas e dispositivos. O risco de problemas auditivos é determinado pelo nível de som, a frequência e o tempo ao qual o operador fica exposto durante as horas de trabalho. Isso também tem relação direta com a probabilidade de acidentes envolvendo tratores.

Existem diversos problemas de saúde que são causados pelo ruído, o mais preocupante é a perda auditiva. Entretanto, essa exposição sem os devidos cuidados pode causar estresse, irritabilidade, hipertensão arterial, entre outros fatores de risco ao operador. É importante ressaltar que o organismo pode se habituar aos sons ao longo do tempo, porém os danos à saúde só aumentam.

A exposição intensa ao ruído decorrente do tempo vai ocasionando a morte das células do sistema auditivo, que não se regeneram mais. Assim, a audição vai sendo reduzida de forma lenta e progressiva, este processo é chamado Perda Auditiva Induzida por Nível de Pressão Sonora Elevada (Painpse) e é irreversível. Para isso, há maneiras e cuidados para prevenir esses efeitos negativos nas jornadas de trabalho, como o uso dos protetores auriculares, a utilização de tratores que possuem cabine e o revezamento de operadores visando à redução do tempo de exposição.

De acordo com a NR15, é errada a utilização de um abafador sonoro com a maior atenuação possível de ruído. Isso porque abafadores com alto poder de atenuação podem expor o operador a certos riscos, por evitar que o mesmo escute determinados sons importantes, como sinais de advertência. A correta utilização dos protetores auriculares deve ser baseada nos níveis de exposição, como demonstrado na Figura 1.

Tipos de protetores auriculares

Existem diversos modelos de protetores auriculares, mas a escolha do modelo adequado irá depender de alguns pontos, como: - Necessidade do operador de ouvir alguma informação durante a operação; - Tempo médio diário de ruído que o operador é exposto; - Compatibilidade do protetor auricular com os demais EPIs; - Características do ambiente de trabalho, exemplo: se muito calor, os plugs de inserção são mais cômodos do que abafadores do tipo concha; - A capacidade auditiva do operador, que caso apresente alguma deficiência, deve utilizar um abafador com menor nível de atenuação.

Fotos Charles Echer

Tratores de cabine garantem mais conforto, além de preservar o operador de exposições que prejudiquem sua saúde

Com relação aos ruídos, conforme recomendação da NR17, o nível aceitável para efeitos de conforto no ambiente é de até 65dB. Com relação à saúde auditiva do trabalhador, de acordo com Braga (2005), 140dB é o valor máximo que o tímpano pode suportar sob risco de rompimento, a partir de 90dB começam a ocorrer danos ao organismo humano. Uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo mostrou que em um grupo de trabalhadores rurais expostos ao ruído dos tratores a perda auditiva foi de 66,7%. O tempo médio para que desenvolvessem a deficiência foi de três a quatro anos e deste grupo, apenas 2,9% dos trabalhadores afirmaram utilizar proteção auditiva durante as operações. Esses dados indicam que muitos operadores de máquinas sequer sabem dos riscos da não utilização dos equipamentos de proteção individual (EPIs) e o quão prejudicial tal escolha pode acarretar em sua saúde futura. Os próprios fabricantes das máquinas geralmente descrevem em seus manuais quais os EPIs que deverão ser utilizados em cada operação, sendo o protetor auricular sempre indispensável. Atividades que expõem o trabalhador a níveis de ruído superior ao estabelecido pela Norma NR15, sem o uso adequado de proteção, preveem os graus de insalubridade classificando-os em mínimo, médio e máximo, o que confere aos trabalhadores 10%, 20% e 40%, respectivamente, de adicionais, sobre o salário mínimo vigente. Em relação às operações agrícolas,

Figura 1

Operação de roçada pode ser simples, mas emite altos índices de ruído que são minimizados com a presença de cabines

Fernandes (1991) constatou que a roçagem e a colheita apresentam altos níveis de ruídos devido ao implemento. Já no preparo de solo, a aração e a subsolagem expõem o tratorista a ruídos mais elevados devido ao esforço do motor para o acionamento do implemento. Nesse mesmo estudo caracterizam a redução do ruído contendo três fontes principais: o sistema de exaustão de gases, a hélice do sistema de arrefecimento e o sistema de admissão de ar.

É possível atenuar o ruído de tratores agrícolas até a níveis salubres, que não causem perda de audição a seus operadores, trabalhando-se com a atenuação do ruído exclusivamente nas fontes (motor e seus acessórios). Assim, faz-se necessário considerar no estudo do ruído emitido por máquinas agrícolas não somente o seu nível, mas também sua relação com o afastamento da fonte emissora ou com o tamanho da máquina, visando a melhoria do conforto do operador.

O uso de cabine nos tratores é bastante recomendado visando o conforto e a saúde do tratorista. Em relação aos problemas sonoros, uma cabine original é recomendada para reduzir o ruído induzido pela máquina abaixo do limite de perigo durante as operações. Isto se deve ao fato do trator ser cabinado, o que funciona como uma superfície refletora e absorvedora do som, deixando passar uma menor quantidade da pressão sonora. Tratores não cabinados deixam os operadores expostos a maiores níveis de pressão sonora.

Nos últimos anos é possível evidenciar um crescimento na venda de tratores cabinados, isto porque estes possuem isolamento acústico, térmico e previnem a entrada de partículas. Além disso, em condições de aplicação de produtos fitossanitários, esta reduz a exposição do operador aos agentes químicos, desde que equipados com filtros de ar compostos por carvão ativado.

Entretanto, devido ao acréscimo no custo de aquisição, muitos produtores não possuem condições econômicas para obtenção destes acessórios. Nesse caso, recomenda-se o revezamento dos operadores nos tratores sem cabine e o uso dos atenuadores sonoros para evitar que este seja sobrecarregado com os níveis de ruído ao ultrapassar a carga horária recomendada pela norma reguladora.

Durante muitos anos o homem tem tido que se adaptar à máquina, sem que sejam considerados os fatores ergonômicos importantes e, com isso, os operadores são expostos a condições inadequadas de trabalho, ocasionando graves problemas de saúde ocupacional. Em decorrência disso, percebe-se, nos últimos anos, uma atenção especial para o desenvolvimento de projetos de tratores que associam rendimento, robustez e produtividade com segurança e ergonomia. Contudo, ainda há um longo caminho a ser percorrido para se obter o mínimo recomendado para atividades seguras.

É importante também que um profissional especializado analise as tarefas que o operador desenvolve durante uma jornada típica de trabalho, realizando a medição de diferentes variáveis que fazem parte do ambiente onde o operador desenvolve sua atividade, e compare com normas já existentes. A partir disso, é possível a elaboração de um caderno de encargos de recomendações ergonômicas, reduzindo os problemas devido ao ruído no sistema mecânico, melhorando de forma integrada, e não dissociada, a segurança, o conforto e o bem-estar do operador.

As operações agrícolas mecanizadas com os tratores agrícolas compreendem dois fatores relevantes: a máquina e o operador. Assim, se constitui uma relação homem-máquina e, quando essa relação não visa o conforto e a segurança do tratorista, este é exposto a elevada carga de trabalho e doenças ocupacionais, o que aumenta a ocorrência de acidentes. .M

Eduarda Yumi Aono Tiago Rodrigo Francetto Rafael Sobroza Becker Alice Balansin Vitor da Silva Pinheiro Santos Airton dos Santos Alonço, Universidade Federal de Santa Maria

Em tratores sem cabine, o ideal é a utilização de protetores auriculares

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