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Valtra A850R
Com 89cv de potência, o A850R é o novo modelo cabinado da Série A2R da Valtra, um trator de médio porte que se destaca pela versatilidade que as diferentes operações desta faixa de potência exigem
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esmo neste período de pandemia, com as jornadas de trabalho reduzidas e muitos profissionais trabalhando em home office, as empresas estão apresentando novidades nas suas linhas de máquinas para a agricultura. Com uma crise de abastecimento de matéria-prima, os dirigentes têm usado criatividade para lançar novos produtos que se agregam à oferta das marcas. Para conhecer um destes lançamentos, a Revista Cultivar Máquinas deslocou a sua equipe para a cidade de Campinas, São Paulo, para conhecer o trator da marca Valtra, modelo A850R, de 89cv. A linha de tratores da Valtra no País é formada por nove séries e 40 modelos, que vão desde pequenos
tratores fruteiros iniciando em 69cv, até os tratores de grande porte da Série S4, com o maior modelo chagando a 375cv. A série à qual que faz parte o modelo testado é a A2R, que tem quatro modelos: A800R, de 80cv; A850R, de 89cv; A950R, de 99cv, e A990R, de 105cv. O modelo A800R é disponível aos clientes para aquisição pelo programa Mais Alimentos. A série A2R é oferecida ao mercado desde 2019, com os modelos plataformados, e desde o último mês de novembro foi lançada na versão cabinada e apresentada à rede de concessionários. O modelo A850R sucedeu na oferta ao trator modelo A750, que foi muito popular, principalmente entre os pequenos e médios produtores. Embora não seja a série de entrada, pela potência de motor e por ser equipado com
Charles Echer
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MOTOR
O motor que equipa este modelo é o 33CwC3, da marca AGCO Power, de três cilindros, volume deslocado de 3.300cm3 e equipado com turbocompressor e intercooler. Na série anterior que a A2R sucedeu, o sistema de injeção de combustível era mecânico e agora a injeção é eletrônica, comandada por uma unidade central posicionada sob o capô dianteiro, em cima do sistema de filtragem do ar. Com esta configuração a potência máxima obtida no motor é de 89cv (65kW) a 2.000rpm pela norma SAE J1995. O torque máximo ocorre a 1.500rpm e alcança 330Nm (33,6kgf.m). Com esta novidade no sistema de injeção, o usuário ganhará em redução do nível de emissões, mais disponibilidade de torque, proporcionado pelo ajuste instantâneo da quantidade, e momento de injeção, proporcionado pelos sensores distribuídos no motor, mas também uma maior proteção, pois se ocorrer alguma falha, o trator entrará em modo de segurança antes que ocorra um dano maior. Ao abrir o capô basculante, que, por sinal, tem ótimo ângulo de abertura, se notam cinco radiadores. O primeiro, do sistema de arrefecimento à água do motor; o segundo, do intercooler; o terceiro, do condicionador de ar; o quarto, do combustível, e o quinto, do óleo do sistema hidráulico.
TRANSMISSÃO
O motor é eletrônico AGCO Power de três cilindros com turbo intercooler
O sistema de controle remoto possui vazão de 40L/ min com duas ou três válvulas de dupla ação
cabine, é um trator de porte médio, multitarefa dirigido ao produtor de médio porte, desde a fruticultura, a pecuária, a horticultura, entre outras atividades que necessitem de um trator desta abrangente faixa de potência. Afinal, o mercado brasileiro oferece muito estes modelos que possuem potência próxima a 100cv.
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O sistema de transmissão deste modelo pode servir a quatro opções do cliente. Primeiramente, a transmissão da versão standard sincronizada com oito velocidades à frente e quatro à ré, a segunda alternativa é uma caixa com 12 velocidades à frente e oito à ré que usa um multiplicador de velocidades, a terceira adiciona um super-redutor “creeper” e proporciona 16 marchas à frente e oito à ré, e como versão mais avançada, a que possui um reversor mecânico sincronizado, dando 12 velocidades à frente e 12 à ré. Como a versão de transmissão presente no modelo que testamos era dotada de super-redutor “creeper” com 16 marchas à frente e oito à ré foi possível encontrar cinco marchas na faixa de 6km/h a 10km/h, mais recomendada para os trabalhos de campo e preparação do solo. Para nós, que conhecemos o princípio tradicional utilizado pela Valtra de utilizar o mesmo óleo de transmissão para o acionamento hidráulico, foi uma surpresa positiva saber que o óleo da transmissão EP SAE 90 é exclusivo dela e que no sistema hidráulico se utiliza o óleo ISO VG 68, específico para sistemas hidráulicos. Também é interessante mencionar que as bombas hidráulicas são externas, localizadas no lado direito do motor, o que evita a necessidade de desmontagem do trator para as manutenções deste sistema. A tomada de potência (TDP) tem rotação standard de 540rpm, mas como alternativas o cliente pode solicitar que o trator venha com a opção 540/540E ou 540/1.000. Em um trator deste porte e faixa de potência é muito impor-
tante a opção de 540 econômica, pois em trabalhos leves, como a pulverização, esta será a mais recomendada. O sistema hidráulico de três pontos utiliza dois robustos pistões externos e possibilita uma capacidade de elevação de 2.600kgf. O acionamento é feito por meio de uma única alavanca. O controle de velocidade de descida do implemento é feito por meio de uma alavanca situada atrás do assento do operador. A barra de tração é do tipo oscilante, com regulagem de altura de engate. O sistema de controle remoto é do tipo Independente e utiliza uma bomba de engrenagem, gerando vazão máxima de 40 litros por minuto com fluxo constante. A pressão máxima do sistema é de 180kgf/cm2. Todos os modelos da série podem vir equipados com uma a três válvulas, de acordo com a necessidade do cliente.
ESTRUTURA
O projeto básico deste trator é finlandês, com algumas características que diferem dos demais. Ao iniciar a apreciação visual do trator nota-se que o suporte dianteiro é uma peça única que à frente serve como suporte dos pesos dianteiros e se estende como suporte do eixo dianteiro até unir-se à parte dianteira do motor. Toda esta peça pesa 230kg e a ela, para a lastragem da parte dianteira, podem somar-se mais quatro peças de 37,5kg cada. O eixo dianteiro motriz da marca ZF tem posicionamento central, mas mantém um bom espaço de vão livre. O depósito de combustível é estrutural, envolvendo a árvore cardânica de acionamento da tração dianteira auxiliar e pode receber um volume de até 79 litros de óleo Diesel, podendo ser expandido até 104 litros com um depósito auxiliar.
à cabine se faz por meio de uma escada de três degraus, com superfície metálica corrugada antiderrapante. A única porta de entrada é a do lado esquerdo e no lado direito o vidro é colado sobre a estrutura da cabine. A saída de emergência é pela janela traseira. Uma vez sentado no assento do operador, nota-se um bom posicionamento dos controles, seja por pedais, alavancas ou interruptores. À frente, um painel com tacômetro, termômetro, medidor de combustível e um painel digital com informações da rotação do motor e do consumo instantâneo de combustível, um horímetro e, quando a TDP estiver acionada, a indicação da sua velocidade angular. Um pouco estranha a posição do acelerador manual, com uma alavanca grande posicionada na lateral do painel, com movimentação para cima acelerando e para baixo a marcha lenta. A regulagem da posição da coluna do volante é feita por um pedal situado
Fotos Charles Echer
Acesso às bombas hidráulicas é facilitado
ERGONOMIA E POSTO DE OPERAÇÃO
Quanto ao posto de operação desta versão cabinada, algumas considerações podem ser interessantes para a análise do projeto. O acesso à porta de entrada
O operador pode fixar uma rotação-alvo que ele deseje utilizar, para o trajeto ou para as manobras
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Fotos Charles Echer
São quatro tipos de transmissão disponíveis: 8Fx4R, 12Fx8R com redutor, 16Fx8R e 12Fx12F com reversor mecânico
O posto do operador pode ser acessado por porta ampla e escadas antiderrapantes
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entre o pedal de acionamento da embreagem e o do freio duplo. No lado direito de todos estes pedais está o acionamento pelo pé do acelerador do regime de rotações do motor. O sistema de controle e escolha de marchas se baseia em duas alavancas colocadas à direita do assento do operador, uma de regime, onde temos as posições de L, H e R, correspondendo ao sistema de baixa, alta e marcha à ré, respectivamente, e a alavanca de marchas com quatro posições, correspondendo 1, 2, 3 e 4. Ainda no lado direito as duas alavancas do sistema de controle remoto, a alavanca única do controle do sistema hidráulico de três pontos, a alavanca acionadora da TDP e a de escolha do regime de rotações, que neste caso selecionava o modo da TDP normal de 540rpm e econômica, 540 E. No lado esquerdo do operador a alavanca do freio de estacionamento e do super-redutor creeper. É interessante que para formar o sistema de uma transmissão de 16 velocidades sobre uma de 12 marchas, o creeper somente atua no grupo de baixa, L. Todo o controle do direcionamento do ar-condicionado e a seleção do seu funcionamento é colocado no teto da cabine. Na parte da frente do operador há três direcionadores de ar e na lateral direita do teto os controles de funcionamento. Na parte traseira uma janela com boa abertura também serve como saída de emergência. Na sua moldura há uma entrada de cabos e chicote de até três polegadas, para a comunicação lógica com equipamentos acoplados. Nota-se um cuidado especial no piso da cabine, protegido por um tapete de borracha com rodapés que impedem que ele se levante, protegendo contra a entrada de sujeira. Na lateral direita, pela parte externa, o projeto contemplou a colocação de uma caixa plástica de proteção à bateria e uma pequena caixa de ferramentas. Como medidas de proteção ao operador o fabricante ofe-
O posto de operador é confortável, possui direção escamoteável e a cabine é ampla e com ótima visualização
rece, entre outros dispositivos, um protetor da TDP do tipo escudo de série. Para colocar o trator em funcionamento há dois dispositivos para segurança e acionamento inadvertido, sendo necessário colocar pelo menos uma das alavancas do câmbio em neutro e pisar na embreagem, que é uma característica da marca.
VÁRIAS HORAS DE TESTE
O teste que fizemos com o trator Valtra, modelo A850R foi nos moldes tradicionais, com muito trabalho de campo e oportunidade de testar as mais diferentes situações. Havia muito tempo e área à disposição e um implemento bem
adequado ao trator. Utilizamos uma grade em V da marca Piccin, modelo GAPCR, com duas seções de oito discos cada, com aproximadamente 2.200mm
de largura útil de trabalho. Durante o teste fomos auxiliados e acompanhados pelo Flávio Pinotti Pastori, que é coordenador de Marketing do Produto, Tratores & Implementos Frontais da Valtra, que em primeiro lugar nos explicou uma funcionalidade muito importante, disponível neste modelo, que é a possibilidade de estabelecer uma memória de rotação. O usuário durante o trabalho pode fixar uma rotação-alvo que ele deseje utilizar, para o trajeto ou para as manobras. Se ele optar por utilizar no trajeto, como é mais comum, poderá retornar à rotação predeterminada somente com um toque em um interruptor. Para fixar a rotação, basta acelerar o trator até a rotação desejada e clicar no interruptor por três segundos que a memória se ativará. Durante o trabalho o usuário perceberá a utilidade deste dispositivo, pois não precisa buscar a rotação desejada no acelerador de pé ou de mão. Mas se durante o uso o opera-
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dor desejar usar o acelerador, este continuará disponível. Durante o teste fizemos passadas consecutivas em um terreno bruto constituído de vegetação mista, com predominância em gramínea tipo braquiária, alternando marchas e rotações. Utilizamos como base a velocidade de 7,2km/h, em 3ª marcha reduzida a 2.000rpm, em que verificamos consumos instantâneos de 8,5 a nove litros por hora, mas também fizemos parte do teste utilizando a 4ª marcha reduzida e também a 1ª marcha do sistema de alta. Concluímos que pelo conforto, consumo de combustível, nível de patinamento das rodas
e estabilidade do conjunto a 3ª marcha do sistema de baixa foi a que melhor se comportou. Pudemos trabalhar uma boa parte da manhã e da tarde avaliando vários pontos do trator que nos interessavam testar. No que se refere ao posto do operador, embora o assento tivesse amortecimento mecânico era possível notar um bom ajuste de posição e proximidade com o volante, de forma a proporcionar bastante conforto. As condições climáticas dentro da cabine eram bastante boas, graças ao excelente condicionador de ar e à adequação da po-
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gares para objetos pessoais, tão úteis para os nossos hábitos atuais de uso de telefones móveis, óculos etc. No interior da cabine o ruído é bastante minimizado, mesmo em uma operação pesada como a gradagem sobre solo firme. Quanto ao motor que já conhecíamos de outros testes, confirmamos a sua capacidade em transmitir torque
e manter a rotação escolhida. Já que o motor agora tem injeção eletrônica, é notável a inexistência de fumaça antes verificada nos motores com injeção mecânica. Este é um dos ganhos obtidos .M por esta nova tecnologia. José Fernando Schlosser, Laboratório de Agrotecnologia Núcleo de Ensaios de Máquinas Agrícolas - UFSM
Teste no campo e no meio da cidade grande O
local dos testes foi o Centro Experimental Central (CEC) do Instituto Agronômico de Campinas, conhecido como Fazenda Santa Elisa. É uma fazenda de quase 700 hectares, muito próxima do centro da cidade de Campinas, onde são desenvolvidas as atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação do tradicional Instituto Agronômico que, por sua vez, mantém uma parceria com o fabricante de tratores. Devido à pandemia, o trabalho presencial atualmente é muito reduzido no local, no entanto se nota uma estrutura imensa formada por muitos prédios utilizados na pesquisa científica e tecnológica, principalmente em áreas estratégicas da produção agrícola do estado de São Paulo, como cafeicultura, horticultura, grãos e fibras. Mais além de um simples local de pesquisa, a Fazenda Santa Elisa é uma enorme reserva ambiental, com árvores de grande porte e uma variedade enorme de vegetação. Não poderíamos ter oportunidade melhor de passar um dia de testes com mecanização agrícola. Fotos Charles Echer
sição das saídas de ar. Quanto à visibilidade, notaram-se a amplitude do vidro dianteiro e a boa posição das colunas para melhorar a amplitude e acompanhar possíveis obstáculos no terreno. O volante de pequeno diâmetro e três raios facilita a visualização do painel de instrumentos. Mesmo se tratando de um trator de porte pequeno-médio, o projeto contempla vários lu-
O teste foi realizado na Fazenda Santa Elisa, do IAC, com o apoio do coordenador de Marketing do Produto, Flávio Pinotti Pastori
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