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MATÉRIA DA CAPA JACQUELINE AISENMAN

Literatura Brasileira Para O Mundo

Ela teve que reduzir o ritmo, cuidar mais de si, recomeçar devagarinho. E foi morar em Portugal, à beira mar. Ela fez muito, no decorrer da trajetória de imenso sucesso do Varal do Brasil.

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Jacqueline Aisenman

Bulos é um caso especial de amor pela Literatura Brasileira. Ela fez muito para levar a literatura dos catarinenses para fora do Brasil e conseguiu, através de vários projetos vitoriosos. Infelizmente chega uma hora que é preciso dar um tempo. O Varal do Brasil, capitaneado por ela, em Genebra, na Suiça, onde morou por décadas, encerrou suas atividades, em 2016. Não porque sua idealizadora e realizadora não quisesse mais praticá-lo, mas por uma imposição de saúde, infelizmente.

O trabalho do Varal do Brasil, de divulgar a literatura de língua portuguesa, foi de uma importância ímpar, para todos que a produzem, sejam de que país forem. Eu, que faço um trabalho parecido, há 42 anos, com o Grupo Literário A ILHA, sei bem da grandeza da sua empreitada. A revista Varal do Brasil, as antologias, os sítios na internet, as participações no Salão Internacional do Livro de Genebra integraram autores dos países lusófonos e levaram a sua produção para leitores do mundo todo.

A literatura brasileira fica menos forte sem a dedicação integral da nossa escritora Jacqueline Aisenman, desse grande canal que ela criou que foi o Varal do

Brasil. Estamos torcendo para que logo ela possa retomar o brilhante trabalho que tão bem sabe realizar. Outros trabalhos parecidos, como o Grupo Literário A ILHA, que que já publicou várias antologias, publica a sua revista há 42 anos e a distribui para todo o mundo em suas versões e-book e pdf, com autores de vários países; que publica, também, trabalhos de escritores de todas as partes do mundo no portal PROSA, POESIA & CIA., além da revista; que praticou e pratica projetos como o Varal da Poesia, Poesia Carimbada, Poesia na

Escola, O Som da Poesia, Poesia no Shopping, etc., continuam, mas não preencherão jamais a lacuna que o Varal tem deixado. Mas além de ter dado visibilidade a centenas de escritores, o Varal do Brasil deixa um exemplo que não pode deixar de ser seguido: criou espaços para a literatura sem preconceitos, sem restrições, sem frescuras. Mostrou que é possível continuar o que começamos lá nos anos oitenta, em Santa Catarina, que é abrir espaços para os novos escritores – e para os não tão novos, também -, incentivar a leitura e a escrita, para que se produza mais e melhor, sem depender da “cultura oficial”. Que se arregaçarmos as mangas e encararmos o trabalho, o resultado aparece.

Continuaremos a sua luta, Jacque, e contamos com você em nossas fileiras. Sempre. Precisamos dessa sua força e determinação em criar espaços para a literatura brasileira. Temos muito o que aprender com você. Os escritores que tem como língua oficial a Língua Portuguesa jamais esquecerão o que foi o Varal do Brasil e esperam o seu retorno.

Luiz Carlos Amorim

Palavras De Jacqueline

A seguir, depoimento –feito antes de descontinuar o trabalho - da fundadora e realizadora do VARAL DO BRASIL, Jacqueline Aisenman, que durante oito anos efetivou inúmeros projetos a partir de Genebra, na Suiça, divulgando a literatura dos brasileiros:

“O VARAL DO BRASIL é um projeto que se iniciou em 2009, a partir de meu grande desejo de divulgar a nossa literatura em Língua Portuguesa. Acostumada a ver cadernos literários sempre voltados para o lado intelectual dos leitores e escritores e vendo o pouco espaço dado (com importância) aos amadores, pensei em fazer algo onde tudo fosse feito sem frescuras, ou seja, onde fosse possível apresentar amadores e profissionais juntos, lado a lado, escrevendo sobre as mesmas coisas, na mesma língua e com o mesmo propósito. Ao contrário do que muita gente pensa, o VARAL DO BRASIL não é uma associação ou uma organização. Eu trabalho sozinha e não há lucros financeiros nesta minha atividade. Mas há um lucro muito maior: a satisfação de ver um sonho realizado! A revista foi criada em forma digital (PDF), registrada na Biblioteca Nacional Suíça, com a missão de levar a Língua Portuguesa a todas as partes do mundo, divulgando a cultura e ajudando a preservar a linguagem entre as pessoas que tem o Português como língua pátria, mas que vivem em outros países e também fazer intercâmbio entre escritores de todo o mundo. É feita despretensiosamente, sem grafismo profissional. Com o tempo vieram o site, o blog e a divulgação também passou a ser por intermédio de redes sociais, Scribd e etc.. O sucesso da revista entre os escritores e leitores, nos levou a realizar um primeiro livro em 2011, o Varal Antológico, que foi lançado com muito sucesso em Florianópolis, Santa Catarina e teve a presença para autógrafos de mais de vinte dos coautores. Prosseguindo com o ideal, em 2012 abrimos a Livraria Varal do Brasil e participamos do 26º Salão Internacional do livro e da Imprensa de Genebra, onde levamos mais de cem títulos para exposição e venda e quatorze autores para sessões de autógrafo e bate-papo com os leitores. Apresentamos também, no palco, uma homenagem ao escritor Jorge Amado através de declamação de cordel e música. No mesmo ano lançamos nossa segunda coletânea, o Varal Antológico 2, que foi lançada em cidades diferentes a convite de promotores culturais daquelas cidades. Lançamos em Salvador (BA), Brumadinho (MG) e Belo Horizonte (MG). A revista hoje circula nos cinco continentes, o blog e o site têm leitores também provenientes dos cinco continentes, mostrando que a literatura brasileira, mesmo sem ser traduzida, alcança e atravessa as fronteiras. Bem mais de quinhentos autores já passaram pelo VARAL DO BRASIL. A grande maioria deles, várias vezes.”

Não são projetos sensacionais?, todos levados a efeito nossa querida escri- tora catarinense. Os autores participavam da revista, dos livros, do blog e do site. Foram distribuídas mais de quarenta edições até a sua descontinuidade, em 2016, para que Jacque cuidasse da saúde. A revista era editada bimestralmente. Foram editados, também números especiais temáticos que saíram entre uma e outra edição regular. O desejo da idealizadora e executora do projeto, Jacqueline Aisenman, sempre foi dar o maior número de oportunidades possível às pessoas que buscam um espaço para escrever e proporcionar uma boa leitura a todos! A revista era simples, colorida, falava da alegria com espontaneidade, da tristeza com sinceridade, dos fatos com individualidade. O Varal do Brasil foi um refresco no mundo literário.

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