Editorial
Estratégias para driblar a crise
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m meio a um programa de desinvestimentos, ações judiciais e as consequências como protagonista da Lava Jato, a Petrobras passa por um processo de reestruturação interna para tentar driblar a crise que vem enfrentando. O novo modelo de governança e gestão da estatal, aprovado no início do ano, prevê redução de 30% das funções gerenciais em áreas não operacionais, o que deve projetar uma economia de R$ 1,8 bilhão por ano com as mudanças. As novas políticas em prol da recuperação da Petrobras são visíveis –basta observar a alta das ações da companhia na bolsa de valores no início de agosto, que acompanham os preços do petróleo no mercado internacional. Depois de aprovar o repasse do controle da BR Distribuidora, a Petrobras autorizou, em julho, a venda da participação do bloco BM-S-8 no pré-sal da Bacia de Santos. A negociação foi feita com a norueguesa Statoil em um acordo de US$ 2,5 bilhões, montante que deve se somar à meta de parcerias e desinvestimentos de US$ 15,1 bilhões no biênio 2015/2016. Em relação à BR, a companhia se esforça para manter a integração com a distribuidora mesmo após a venda, numa tentativa de assegurar que
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Edmilson Jr. Caparelli CEO | Publisher
não venha a perder mercado para importadores no futuro. Diante da situação, entra em cena o executivo Nelson Silva para comandar a recém-criada diretoria de Estratégia, Organização e Sistema de Gestão da Petrobras. O ex-presidente da petroleira BG no Brasil, que já estava atuando na estatal como consultor sênior da Diretoria Executiva, carrega consigo a missão de coordenar o processo de revisão estratégica da empresa – atribuição que demanda, além de experiência, muito jogo de cintura. Cabe agora a Silva e às outras seis diretorias da estatal, além da presidência, trilharem novos horizontes em busca de melhorar a situação da companhia. Um dos próximos desafios a serem enfrentados é no cenário político, com a discussão na Câmara dos Deputados da PL que faculta à Petrobras ser exploradora única do Pré-sal. O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, é um dos que defendem a mudança na regra que obriga a companhia a ser exploradora única das reservas petrolíficas. Em meio a tantas turbulências, o que resta é esperar os novos rumos que a estatal terá nas mãos do novo diretor e como cenário político-econômico influenciará tais estratégias.
NESTA EDIÇÃO
JUNHO - JULHO Código de Cores A Full Energy organiza suas editorias pelo código de cores abaixo: Líderes e Práticas Sustentabilidade Tecnologia e Inovação Mercado Gente e Gestão Ideias e Tendências Estratégia
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Momento de retomada Especialistas e executivos lançam perspectivas para o futuro do setor sucroenergético no Brasil
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Governança e gestão em pauta Brazil Windpower reúne lideres do setor de energia eólica e discute expansão de mercado no país
Articulistas:
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Energia Solar, ação! Documentário desmitifica a geração própria de energia através da fonte solar fotovoltaica
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100 Mais Influentes da Energia 2016 Full Energy homenageia empresários e executivos que mais se destacaram no último ano
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Energia competitiva Plano Nacional de Energia prevê a implantação de até oito novas usinas nucleares no Brasil
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Energia solar 3.0: as vantagens da tecnologia OPV Marcos Maciel Filho, CEO da Sunew, fala sobre a implantação de painéis solares orgânicos OPV no Brasil
Rita Kawamata
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68 Walfrido Avila
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Retração da economia x Consumo de gás natural Os benefícios de um combustível favorável à economia de baixo carbono
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BREXIT e o setor energético Como a saída do Reino Unido da União Europeia deve impactar os mercados globais de energia
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Geração Compartilhada Nova resolução para energia solar fotovoltaica deve projetar crescimento de 800% no setor até o fim de 2016
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Oportunidades em tempos de crise Retomada do crescimento no setor de petróleo e gás passa pela solução dos problemas da Petrobras
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Conhecimento e novas tecnologias Fenasucro & Agrocana chega à 24ª edição e aposta em inovação para movimentar R$ 2,8 bilhões em negócios
Ponto Final
O arquivamento de Tapajós e a necessidade de um plano de geração de energia equivalente
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Fotos: Divulgação
ALTA TENSÃO O relógio mais fino do mundo é movido a energia solar Com uma caixa de apenas 2,98 milímetros de espessura, o relógio Citizen Eco-Drive One, desenvolvido pela Citzen Watch, é considerado o relógio analógico mais fino do mundo movido a energia solar. O produto foi lançado em comemoração ao 40º aniversário do movimento de quartzo proprietário Eco-Drive. O aparelho utiliza luz natural ou artificial para gerar sua própria energia, o que elimina a necessidade de susbstituição de bateria. Para a criação de uma faixa tão fina, a companhia utilizou metais mais fortes que os convencionais, que foram inseridos em uma linha limitada a apenas 800 unidades. O relógio, finalizado por uma pulseira de couro de crocodilo preto tem o valor sugerido de US$ 6 mil. Uma versão não-limitada deve ser lançada em breve por US$ 2,6 mil.
Alemanha fabrica primeira moto elétrica em impressora 3D Uma empresa pertencente à Airbus criou a primeira moto elétrica do mundo a partir de uma impressora 3D. Em parceria com a APWorks, a empresa chegou a um produto de estrutura mais leve que uma moto normal (ela pesa apenas 35 kg) e um sistema que consome menos energia elétrica, prolongando assim a duração de sua bateria. A moto foi fabricada com liga de alumínio resiste a corrosão e óxido –mesmo material utilizado na fabricação de robôs e peças de tecnologia aeroespacial, além de um motor elétrico de 6 quilowatts. Foram fabricadas apenas 50 unidades da moto, que estão à venda pelo preço de € 50 mil.
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Maior hélice de turbina eólica do mundo equivale a prédio de 30 andares movida 100% a energia solar A fabricante de turbinas offshore Adwen e a fornecedora de hélices LM Wind Power lançaram, em junho, a maior pá eólica do mundo: com 88,4 metros de altura, a hélice tem o tamanho equivalente a um prédio de 30 andares. O dispositivo foi produzido na fábrica da LM Wind Power, na Dinamarca, e está em fase de testes. A pá foi projetada para os modelos de turbina eólica AD 8-180 DA Adwen, com capacidade nominal de 8MW e 180 metros de diâmetro do rotor. A iniciativa parte da premissa de que quanto mais longa a pá, maior o contato com ventos mais fortes, o que garante mais força e poder rotacional, contribuindo assim para maior geração de energia.
Foto: Divulgação
RS terá primeira vinícula da América Latina movida 100% a energia solar Localizada na cidade de Dom Pedrito (RS), a vinícola Guatambu Estância do Vinho ganhará um parque solar com 600 painéis fotovoltaicos que suprirão 100% da demanda energética do empreendimento. A obra garantirá ao Brasil o título de primeiro país da América Latina a ter uma vinícola movida a energia solar. O investimento de R$ 1,3 milhão tem previsão de retorno em até oito anos. Além de economia de eletricidade, o sistema proporcionará redução de emissões de gás carbônico e ainda devolverá à rede de energia sua produção excedente. A expectativa é gerar uma economia de R$ 200 mil por ano em relação a gastos de eletricidade, além dos benefícios socioambientais para a região da vinícola.
Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil
Os desafios do novo presidente da Eletrobras Sob o comando da Eletrobras desde o último dia 22 de julho, Wilson Ferreira Junior ainda não decidiu se a Eletrobrás venderá mais ativos além de suas deficitárias subsidiárias de distribuição de energia. Segundo ele, um cenário de menor pressão sobre a elétrica pode vir a reduzir os desinvestimentos inicialmente esperados. O Governo Federal mencionou a possibilidade de venda de fatias minoritárias da Eletrobras em usinas e linhas de transmissão para gerar caixa, após a empresa acumular prejuízos de mais de R$ 30 bilhões nos últimos quatro anos. O impasse gerou desentendimentos entre Ferreira Jr. e o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho. Durante a posse do CEO da Eletrobras, Coelho Fillho mencionou que a estatal precisaria se desfazer de algumas participações que detém sem Sociedades de Propósito Específico (SPE). Ferreira Jr., por sua vez, afirmou que nenhum outro ativo além das seis distribuidoras de energia que tiveram suas vendas aprovadas pelos acionistas da empresta estava à venda.
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Palavra da Editora
Mercados em expansão
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pós passar por uma das maiores crises da história, o setor sucroenergético aposta na retomada do mercado. As cotações internacionais do açúcar, o fim da interferência do Governo Federal no preço dos combustíveis e as perspectivas de investimentos e políticas públicas para toda a cadeia produtiva traz otimismo aos empresários do setor. O cenário traz expectativas positivas para a 24ª Fenasucro & Agrocana, uma das maiores feiras do mundo voltadas exclusivamente para o setor sucroenergético. Nesta edição da revista Full Energy, os organizadores do evento falam sobre a aposta em inovações para movimentar R$ 2,8 bilhões em negócios durante o evento, que acontece entre os dias 22 e 26 de agosto em Sertãozinho (SP). Outro setor que tem ganhado cada vez mais detaque no Brasil é o de energia eólica, que atuamente ocupa 8º lugar no ranking mundial de geração e este ano deve ultrapassar 10 GW de capacidade instalada com novas usinas –a previsão inicial era de 9,4 GW, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Tal crescimento é um dos norteadores das discussões na 7ª edição da Brasil Windpower (BWP). A maior feira do setor de energia eólica da América Latina acontece entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro, no Rio de Janeiro (RJ), e reunirá tanto empresas nacionais e internacionais como as maiores lideranças do setor. Nas páginas da Full Energy, nossos leitores também encontrarão as perspectivas do mercado de energia solar fotovoltaica, que apesar de ainda ocupar um espaço tímido na matriz energética brasileira, projeta crescimento de 800% somente este ano, segundo estimativas da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica). E é justamente a energia solar que figura no especial desta edição, onde o CEO da Sunew, Marcos Maciel Filho, fala da tecnologia dos filmes OPV, cujas principais características são o baixo custo de produção e a sustentabilidade, além da capacidade de aplicação em inúmeros setores. Fernanda Testa, Editora da Revista Full Energy
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Boa leitura!
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Momento de retomada Especialistas e executivos lançam perspectivas para o futuro do setor sucroenergético no Brasil 18
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pós enfrentar uma das piores crises da história, o setor sucroenergético brasileiro dá os primeiros passos rumo à retomada, com perspectivas de inventimentos e políticas públicas que, aos poucos, devem atingir toda a cadeia produtiva. A mudança de cenário vem desde o ano passado, quando
os preços do etanol e açúcar apresentaram ligeira recuperação e deram novo fôlego para o setor. Mesmo com uma produção abaixo da inicialmente esperada para a cana-de-açúcar na safra 2016/2017, fatores como as cotações internacio-
nais do açúcar e o fim da interferência do governo federal no preço dos combustíveis faz com que tanto as usinas quanto agricultores projetem lucros no período. Contudo, há uma série de medidas necessárias para a continuidade do crescimento do setor, como a elaboração de políticas públicas, a definição do papel do etanol na matriz de combustíveis no Brasil, a participação da biomassa na matriz energética, entre outros.
Para falar sobre tais perspectivas, a Full Energy consultou especialistas e executivos da área que participaram, no mês de julho, de um evento em São Paulo (SP) voltado para o setor sucroenergético. Confira a seguir as impressões das lideranças ouvidas pela reportagem. edição 20 | FULL ENERGY
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André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético Para André Rocha, o atual cenário político do Brasil faz com que o país vivencie um estado de espera em todos os setores. Ele acredita que medidas mais pontuais, capazes de atingir o setor sucroenergético, só devem ser tomadas a partir do momento em que a situação política estiver finalmente consolidada. Entre as políticas públicas indispensáveis para alavancar ainda mais o setor, Rocha cita a necessidade de ampliação do etanol dentro da matriz de combustíveis. “O governo pode fazer políticas públicas para melhorar a eficiência dos motores flex, e isso já seria um grande ganho para a economia do setor e do país de maneira geral”, diz. O presidente do Fórum Nacional Sucroenergético também acredita que é preciso mais comprometimento do governo com a meta de uso das energias renováveis. Segundo ele, o Brasil, apesar do alto potencial de uso da biomassa, a queima do bagaço e da palha da cana-de-açúcar ainda é pequena e incipiente. “Poderíamos também destravar a bioenergia. Temos uma Itaipu adormecida, uma geração distribuída complementar à geração hídrica e não conseguimos explorar isso. Usamos apenas 23% de nosso potencial. Hoje, 40% das usinas do país exportam energia, mas não em sua plena capacidade. Temos muitos passos a serem dados para atingirmos nosso objetivo. Algumas medidas ajudariam não só a melhorar o fluxo de caixa das unidades, mas também a valorizar mais o setor e nossos ativos, tornando-os atraentes para novos investimentos”, explica.
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O SETOR SUCROENERGÉTICO É UM DOS POUCOS SETORES QUE REALMENTE TEM GARANTIA DE CRESCIMENTO NO BRASIL” Antônio Delfim Netto
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Antônio Delfim Netto, economista e ex-ministro da Fazenda O ex-ministro e economista Antônio Delfim Netto acredita que, apesar da crise que o setor enfrentou recentemente, ele não sofre tantos problemas quando comparado a outros setores, principalmente no que diz respeito à tecnologia, crédito e demana. “O setor sucroenergético é um dos poucos setores que realmente tem garantia de crescimento no Brasil, isso graças ao apoio que o governo deu no passado”, observa. As perspectivas de Delfim Netto são positivas. “O setor agroindustrial brasileiro é, talvez, um dos mais positivos do mundo. Está vivendo uma retomada enorme. Mudou muito com a política cambial, houve uma melhora substancial e acho que vai melhorar”, conclui.
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ESTAMOS VIVENDO O PRIMEIRO ANO DE DÉFICIT [NAS COMMODITIES DO AÇÚCAR] APÓS CINCO ANOS DE SUPERÁVIT NO MUNDO, E HOJE VEMOS PREÇOS DE AÇÚCAR BEM REMUNERADORES.” Fábio Meneghin
Fábio Meneghin, sócio-analista da Agroconsult Fábio Meneghin fala sobre a inversão de um ciclo vicioso para um ciclo virtuoso do setor, e aponta que, mesmo durante o período da crise, a área plantada de cana-de-açúcar não deixou de crescer –apenas perdeu o ritmo de crescimento. Segundo o executivo, um dos pontos positivos na retomada do setor sucroenergético é a mudança da política pública para o etanol no Brasil, mais voltada ao biocombustível, que havia sido abandonada em 2010. Outro fator que favorece a área é a inversão da commodity do açúcar. “Estamos vivendo o primeiro ano de déficit após cinco anos de superávit no mundo, e hoje vemos preços de açúcar bem remuneradores. Ou seja, estamos entrando num ciclo de pelo menos dois anos de preços muito bons no açúcar”, afirma. Tal cenário deve melhorar a rentabilidade das usinas e, consequentemente, dos fornecedores de cana-de-açúcar. No entanto, Meneghin acredita que as melhorias ainda devem levar alguns anos para atingir outras esferas da cadeia, como os fornecedores de equipamentos, por exemplo. “Até chegarmos a novas usinas, deve levar de três a quatro anos, a depender da manutenção dessa política pública para o etanol. Num primeiro momento vemos mais a recuperação da área agrícola, baseada na recuperação da eficiência do que na expansão de mais áreas e mais unidades de moagem de cana”, conclui. 22
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Martinho Seiiti Ono, presidente da SCA Etanol do Brasil Para Martinho Seiiti Ono, ainda não há uma visão clara que garanta ao setor a certeza de investimentos por parte do governo e que o produto seja colocado e remunerado em níveis de retorno aceitáveis. Para o executivo, o setor sucroenergético acreditou, na década passada, em uma promessa do governo de um programa mais sustentável, o que fez com que o país investisse fortemente na ampliação do parque agrícola e industrial, porém sem contrapartida compatível ao tamanho de tal investimento. “Isso gerou muitas dificuldades econômicas e financeiras, concordatas, recuperações judiciais, 70 casos de desaparecimento de usinas, e, quando se fala numa retomada de investimento, logicamente os agentes que estão hoje na cadeia refletem muito antes de fazer alguma coisa. Isso porque precisam de um programa muito mais seguro, sustentável sob o ponto de vista de médio e longo prazo para ter o retorno que se espera sobre o investimento”, comenta. Especialista no mercado de etanol, Ono ressalta a necessidade de políticas públicas para que os estados brasileiros incentivem a venda do etanol. “Poucos estados do Brasil, como São Paulo, Minas Gerais e Paraná possuem uma política pública e estão comprometidos com a energia renovável. Precisamos de políticas públicas mais homogêneas, coesas, especialmente para que possamos alcançar o nível de volume que precisamos vender de energia renovável”, diz.
Aurélio César Nogueira Amaral, diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP) Diretor da ANP, Aurélio César Nogueira Amaral considera que é preciso um conjunto de ações para a efetiva retomada do setor sucroenergético no Brasil. “É preciso criar e estimular investimentos, investir em infraestrutura, diminuir o custo de produção para que o etanol se torne mais produtivo, definir uma política de longo prazo que estimule a produção de etanol, de forma a enfrentar a necessidade de abastecimento que o Brasil precisa quando voltar a crescer”, avalia. Amaral também pondera que, apesar de o Brasil não ter um déficit de abastecimento, é preciso pensar nas necessidades do país a longo prazo em relação à demanda de energia. “É necessário que se invista na produção de etanol e outros derivados para suprir a necessidade de energia adicional que o crescimento do país exigirá. Para isso, é necessário enfrentar esse debate para ver qual é o caminho e a política, quais os investimentos necessários para que tenhamos garantia de abastecimento daqui a 10 ou 20 anos”, afirma. 24
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Gente e Gestão
Governança e gestão em pauta Brazil Windpower reúne lideres do setor de energia eólica e discute expansão de mercado no país
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esponsável por aproximadamente 7% da matriz de energética brasileira, a energia eólica é um dos setores que tem apresentado maior expansão no Brasil. Somente no segundo semestre do ano passado, 56 novos parques eólicos foram inaugurados no país, o que aumentou a capacidade instalada das usinas em 23%, segundo balanço da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica). Este ano, as novas usinas devem superar as expectativas iniciais da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), ultrapassando 10 GW –a previsão nos primeiros meses de 2016 era de um potencial de 9,4 GW. Até 2024, espera-se que os ventos sejam responsáveis por 12% da matriz.
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Este cenário e outras perspectivas para o setor estarão em pauta na 7ª edição da Brazil Windpower Conference and Exhibition, maior feira de energia eólica da América Latina, que acontece entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro no Rio de Janeiro (RJ). Organizado pela ABEEólica, Grupo CanalEnergia e GWEC, a feira espera receber cerca de 2,7 mil visitantes com potencial de realização de negócios. Até o início de agosto, o evento já contava com mais de 100 expositores,
além da presença de profissionais nacionais e internacionais renomados do setor, como o Ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, a presidente executiva da ABEEólica, Élbia Gannoum, o presidente da PSR, Mário Veiga, o Secretário Geral da GWEC, Steve Sawyer, entre outros. “Contamos com a presença da alta cúpula da governança do setor, o que garante discussões de alto nível sobre o desenvolvimento da fonte na matriz elétrica brasileira.
Uma das novidades da Brazil Windpower é a realização de workshops gratuitos, expositores farão apresentações sobre os lançamentos para o mercado.
A programação também irá abordar questões sobre financiamento, meio ambiente, operação e a cadeia de suprimentos do setor eólico, contando com a alta gestão de empresas nacionais e internacionais líderes em seus segmentos”, explica Luiz Renato Lemos, gerente de marketing e vendas do Grupo CanalEnergia, um dos organizadores da feira. Uma das novidades para a edição deste ano, segnundo Lemos, é a realização de workshops gratuitos aos visitantes do evento, onde patrocinadores e expositores farão apresentações sobre os lançamentos para o mercado. “O conteúdo vai desde apresentações técnicas e produtos de financiamento, até políticas estaduais de incentivo à geração eólica”, afirma. As expectativas, de acordo com o represen-
tante da organização, são tão positivas quanto o setor em plena expansão. “Os empresários podem esperar um evento com visitantes que vão até lá para, de fato, fazer negócio, e não apenas matar curiosidade. Os participantes irão encontrar todas as principais empresas do setor, sejam nacionais ou internacionais, com quem poderão iniciar e estreitar relacionamento, além de um congresso e grade de workshops que irão proporcionar um conteúdo único no setor”, conclui.
Serviço: 7ª Brazil Windpower Conference & Exhibition Data: 30 e 31 de agosto e 1º de setembro de 2016 Horário: a partir das 8h30 Local: Centro de Convenções SulAmérica - Rua Beatriz Larragoiti Lucas, Acesso 3 - Rio de Janeiro (RJ)
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Ideias e Tendências
Energia Solar, ação! Documentário desmitifica a geração própria de energia através da fonte solar fotovoltaica
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energia solar está em alta, tanto que virou tema de um web-documentário. O empresário Luis Otávio Colaferro, sócio e diretor de treinamento da Blue Sol – Energia Solar, colocará no ar, em breve, o documentário #MOVIDOSPORENERGIASOLAR. O objetivo do documentário é mostrar a força da energia solar e conscientizar mais de 1 milhão de brasileiros sobre o poder de gerar sua própria energia. Colaferro explica que a ideia do web-documentário surgiu a partir de uma necessidade que a empresa e que todo o setor tem de difusão da tecnologia solar. “Pensamos em aliar essa necessidade a uma paixão do brasileiro, que é o carro”, conta. A ideia de unir um carro elétrico à tecnologia de geração a partir da fonte solar foi algo ob-
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servado por Colaferro fora do Brasil. “Buscamos apoio com um parceiro próximo para ceder um veículo que pudéssemos utilizar para percorrer um trajeto, alimentando-o e abastecendo-o em tomadas cuja energia elétrica fosse gerada a partir dos sistemas no telhado, ou seja, dos nossos próprios clientes”, completa. O carro, neste caso, serve como alavanca para reter a atenção de milhões de brasileiros e, ao mesmo tempo, educá-los sobre energia solar através de histórias de pessoas que já instalaram sistemas.
Concepção O planejamento de como seria o web-documentário teve início em janeiro de 2016. As filmagens tiveram início em 18 de março, em Ribeirão Preto (SP), e a previsão é de que as gravações e edições sejam finalizadas em dezembro deste ano. Colaferro conta que a cidade de partida foi Ribeirão Preto por ser a cidade onde está instalada a sede da Blue Sol – Energia Solar, por ser também onde está o parceiro que cedeu o veículo, e também onde estão os primeiros personagens. O documentário, que teve investimento da ordem de R$ 500 mil, irá mostrar como é o desempenho de um carro elétrico, abastecido por energia solar fotovoltaica, por cerca de 3.500 km. “Além de mostrar esse percurso, também queremos mostrar como ficou a vida de pessoas e empresas que adotaram a energia solar fotovoltaica. A ideia é mostrar como os sistemas foram instalados, que tipo de benefícios trouxe à rotina da empresa/ residência, redução na conta de energia etc”, menciona o idealizador do projeto. Em relação ao abastecimento, o carro utilizado para o documentário vem sendo abastecido, em sua maioria, com energia solar. “Estamos utilizando as residências e empresas que estamos visitando como uma espécie de
Luis Otávio Colaferro e o BMW i3 elétrico usado no web documentário
pit stop para abastecimento. No entanto, o carro anda com uma reserva de combustível comum, para casos de urgência”, esclarece Colaferro. Além de ter passado por Ribeirão Preto, Catanduva (SP) e Andradina (SP), o projeto passará ainda por São Carlos (SP), Jundiaí (SP), Sorocaba (SP), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ). “Nosso foco está apenas em cidades do sudeste brasileiro. No entanto, já começamos a pensar na viabilidade de fazer um projeto ainda maior, contemplando outras regiões do país”, adianta.
Cases e histórias inspiradoras O web-documentário irá mostrar visitas às residências e empresas que geram a sua própria energia por meio de um sistema de energia solar fotovoltaica, conversas com pessoas e histórias de como a energia solar transformou essas vidas. “O intuito é ligar estas histórias ao processo de geração da própria energia, tornando o entendimento sobre a energia solar fotovoltaica mais simples e didático. Isso sem contar que será possível eliminar possíveis objeções sobre a energia solar ao apresentar oportunidades relacionadas à tecnologia e conceito, identificar o perfil e as características de quem usa esse tipo de energia, como acontece o consumo de energia etc.”
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Ideias e Tendências
Projeto visa tornar o entendimento sobre energia solar em algo simples e didático
O projeto apresenta alguns desafios também. Um deles é encontrar um número de sistemas solares em um percurso que permite percorrer um trajeto de 200 km por parada para que o veículo possa ser abastecido com energia elétrica proveniente dos sistemas de geração de energia solar. Um detalhe interessante é que as pessoas entrevistadas, que já são clientes de energia solar, foram receptivas e se interessaram muito pelo veículo, já que existe a possibilidade delas gerarem a própria energia e também a energia elétrica consumida no carro, economizando também no combustível. Após finalizado o trajeto, o material final será totalmente digital e composto por 36 mini capítulos de cinco minutos cada; 12 capítulos com 20 minutos; um hotsite dedicado ao web-documentário; dois canais no YouTube e dois canais no Facebook. “Pensamos e estamos desenvolvendo tudo para que possa ser assistido e entendido por qualquer pessoa que tenha interesse em adotar uma energia limpa e que já tenha ou queira adotar um estilo de vida que favoreça o meio ambiente”, frisa Colaferro. 30
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Tendência Mundial De acordo com o executivo, a energia solar fotovoltaica é, atualmente, uma grande tendência mundial e cresceu nos últimos 16 anos mais de 190 vezes em capacidade instalada. No Brasil, os esforços começaram em 2012, quando a Resolução Normativa 482, da Aneel, passou a permitir que qualquer consumidor de energia elétrica gerasse sua própria energia. Nos dois últimos anos houve um crescimento da energia solar fotovoltaica no país de aproximadamente 304%. “A maioria das pessoas que pensa em carro elétrico e energia solar pondera sobre o investimento necessário e até arrisca a dizer que faltam incentivos. As pessoas não sabem, no entanto, que os sistemas fotovoltaicos para casas e
empresas oferecem, hoje, um retorno de investimento médio de 5 a 6 anos, ou seja, antecipa-se o custo de 5 anos de energia para ter 25 ou 30 anos de geração própria entregues ao consumidor. Trata-se de uma relação de custo benefício muito boa”, calcula Colaferro. Há, também, linhas de financiamento para investir na geração própria muito similares aos valores de financiamentos de veículos. “Pensando nisso, porque não financiar um sistema de geração de energia solar fotovoltaica e, com a economia de energia todos os meses, poupar para trocar de carro, por exemplo?”, sugere Colaferro ao dizer que o retorno do investimento é certo e é por isso que esse mercado cresce tanto no Brasil. “Inclusive, seria viável até a compra de um carro elétrico. Neste caso, a economia
seria ainda mais interessante: o consumidor não teria que pagar nem pela conta de energia e nem pelo combustível que vai deixar de ser consumido”, lembra. O grande concorrente da energia solar para Colaferro ainda é a falta de conhecimento das pessoas a respeito da tecnologia solar e a ideia de que trata-se se algo caro e inviável. “Por isso pensamos no documentário dessa maneira, aliando a grande paixão dos brasileiros por carros esportivos e de luxo para chamar a atenção à tendência e promessa de não ter que se pagar mais por conta de energia elétrica e combustível fóssil. Um ‘empurrão’ para a grande luta da sociedade moderna por ações mais sustentáveis e de combate ao aquecimento global”, salienta. Ao utilizar um carro elétrico, o executivo também o desmitifica, já que poucas pessoas usam esse tipo de veículo. “Ter um sistema de geração de energia solar fotovoltaica já é algo possível no Brasil, mas impossível no imaginário das pessoas. O mesmo vale para o carro elétrico. Porém, as pessoas ainda o imaginam como algo muito longe do alcance. A realidade já é outra e queremos mostrar esses dois aspectos com o web-documentário.” Vale mencionar, no entanto, que o carro elétrico possui o emprego de uma nova tecnologia, mas segundo Colaferro, colocando os números na ponta do lápis, é possível enxergar um bom custo/benefício, especialmente quando se calcula os gastos com combustível comum e com o abastecimento de energia elétrica. O veículo tem uma autonomia de cerca de 140 a 160 quilômetros com a bateria e mais 120 a 140 quilômetros com um tanque reserva de combustível, que alimenta um gerador que, por sua vez, alimenta os motores elétricos. “Um fato interessante é que ao pararmos em diversos postos de combustíveis para descansar, o carro atraia o interesse e a curiosidade das pessoas”, lembra Colaferro.
Luis Otávio Colaferro mostra sistema de geração de energia solar fotovoltaica utilizada em residência
Veículo utilizado em documentário será abastecido com energia elétrica gerada em sistemas solares fotovoltaicos
Experiência de transformação Ao comentar sobre a experiência vivida até agora com o desenvolvimento do web-documentário, Colaferro cita que a possibilidade de levar uma promessa de geração própria de energia, economia na conta de luz, mobilidade a partir de um carro elétrico e extinção dos gastos de combustível, tudo através da tecnologia fotovoltaica e do veículo elétrico,
é uma experiência única de inspiração e educação para todas as pessoas. “A verdade é que quando pudermos cumprir a promessa de que as pessoas não mais terão que pagar a conta de energia elétrica e o combustível e ainda assim aproveitar todos os benefícios que esses dois insumos trazem, como consumo de energia e mobilidade, será uma grande transformação para nosso país e todo o mundo”, finaliza Colaferro.
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artigo de
ANTÔNIO CELSO DE ABREU JÚNIOR
SEGURANÇA ENERGÉTICA E ENERGIAS RENOVÁVEIS NO ESTADO DE SÃO PAULO
Antônio Celso de Abreu Júnior,
População e empresários devem fazer a lição de casa para que o Estado de São Paulo e o Brasil ampliem a participação das energias renováveis na matriz energética
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o campo da energia, o grande desafio dos atuais governantes são a segurança do abastecimento, a dependência energética e as mudanças climáticas. Para vencer esses desafios, é preciso desenvolver um modelo energético que atenda suas necessidades de consumo e promova o crescimento econômico sustentável. As fontes convencionais de energia ainda possuem custos competitivos em relação às fontes renováveis, graças ao conhecimento, capacitação e tecnologia desenvolvida ao longo do tempo. O que ainda impede a competitividade das renováveis são a estrutura de custo, variabilidade de produção (sazonalidade) e distribuição geográfica. Por outro lado, a baixa emissão de gases do efeito estufa e a menor geração de resíduos, que as caracterizam como fontes de baixo impacto ambiental, têm levado os governantes, por meio de políticas de incentivos, a estimular o seu desenvolvimento. Seu alto poder de regeneração, que minimiza a dependência externa por recursos energéticos, além dos benefícios socioeconômicos gerados pela inovação tecnológica e o desenvolvimento industrial trazem um grande valor agregado às renováveis. E os números têm comprovado isso. Em 2015, a indústria de energias renováveis, segundo o Renewables Global Status Report 2016 (REN212016), impulsionada pela queda drástica dos preços globais de combustíveis fósseis, contratos de venda de energia de longo prazo com preços competitivos e o acordo climático histórico em Paris, movimentou US$ 286 bilhões (US$ 7,1
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bilhões no Brasil) e gerou oito milhões de empregos no mundo, mais de 900 mil no Brasil. A capacidade instalada global das fontes renováveis cresceu 9%, em relação ao ano anterior, e chegou a 1.849 GW (incluídas as usinas hidrelétricas). O crescimento das fontes eólica e fotovoltaica se destacaram e foram responsáveis por 76% da capacidade de energia renovável adicionada. No ano passado, 19,2% da energia consumida no mundo foi produzida por fontes renováveis. Na indústria de eletricidade o percentual de participação das fontes renováveis na produção global de eletricidade foi de 23,7%, ainda com forte predominância da hidroeletricidade (16,6%). O Estado de São Paulo é um dos principais exemplos de utilização de fontes renováveis. A participação dessas fontes na matriz energética paulista, em 2014, foi de 53,1%, com forte predominância das fontes de derivados de cana-de-açúcar (31,4%) e hidreletricidade (18%), mas 64,1% da oferta de energia foi importada, princi-
Subsecretário de Energias Renováveis da Secretaria de Energia do Estado de São Paulo
palmente, petróleo, eletricidade e gás natural. A dependência por petróleo manteve-se estável em 18%, mas a importação de gás natural vem decrescendo anualmente, desde 2010, com a entrada em operação comercial do gás natural da Bacia de Santos, que promete levar o Estado à condição de exportador desse recurso. São Paulo consumiu 150.723 GWh de energia elétrica em 2015, 28% do consumo nacional, mas cerca de 60% dessa energia foi importada, entrando pelo Estado por meio das linhas de transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN). Diante deste cenário, evidencia-se que o gargalo para a garantia da segurança energética paulista passa pela expansão de sua capacidade instalada de geração de energia elétrica. A atual capacidade instalada de São Paulo é de 22.863 gigawatts (GW), 16% da capacidade instalada nacional, com forte predominância de geração hidrelétrica (65%). As usinas termoelétricas de biomassa respondem por 25% e as termoelé-
tricas a combustíveis fósseis representam apenas 10% da matriz de eletricidade estadual. O Estado não tem sítios eólicos instalados e a capacidade instalada de usinas solares ainda não é representativa, alcançando cerca de 1 megawatt (MW). O potencial energético do Estado de São Paulo é constituído, principalmente, pelas reservas comprovadas de gás natural da Bacia de Santos, da ordem de 54 bilhões de metros cúbicos, do potencial hidráulico remanescente útil da ordem de 1.400 megawatts (MW), da expressiva capacidade de cogeração da indústria sucroenergética, estimada em 15.247 MW, do potencial eólico “instalável”, da ordem de 4.734 MW, do potencial solar estimado em cerca de 9.000 MW (pico) e do aproveitamento energético dos resíduos sólidos urbanos e de biogás. Apesar de não ser uma fonte renovável, a exploração do gás natural da Bacia de Santos permitirá a expansão da malha de distribuição de gás canalizado no Estado, fazendo com que o biogás, além de utilizado no transporte, possa ser transformado em biometano e transportado pela rede. As regulamentações já estão sendo atualizadas para esse fim. O potencial hidráulico remanescente é constituído, basicamente, por pequenas centrais hidrelétricas, que encontra nas questões socioambientais um dos principais motivos para sua perda de competitividade. A instituição de termos de referência específicos para licenciamentos de empreendimentos de baixo impacto ambiental pode ser uma alternativa para que voltem a ser construídas. As termoelétricas a biomassa, notadamente, as de cana-de-açúcar, têm no sistema de financiamento, nas conexões elétricas para acesso à rede de distribuição e nos contratos de comercialização de longo prazo as restrições para seu desenvolvimento. Os “elevados juros” e a redução dos recursos disponibilizados pelo Programa de Apoio à Renovação e Implantação de Novos Canaviais (Prorenova) e Eficiência Energética dificultam o processo de reestruturação do setor sucroenergético do centro-sul do país. Precisamos evoluir nos mecanismos regulatórios para reduzir o impacto dos custos das inter-
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EM 2015, A INDÚSTRIA DE ENERGIAS RENOVÁVEIS, SEGUNDO O RENEWABLES GLOBAL STATUS REPORT 2016 (REN21-2016), IMPULSIONADA PELA QUEDA DRÁSTICA DOS PREÇOS GLOBAIS DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS, CONTRATOS DE VENDA DE ENERGIA DE LONGO PRAZO COM PREÇOS COMPETITIVOS E O ACORDO CLIMÁTICO HISTÓRICO EM PARIS, MOVIMENTOU US$ 286 BILHÕES (US$ 7,1 BILHÕES NO BRASIL) E GEROU OITO MILHÕES DE EMPREGOS NO MUNDO, MAIS DE 900 MIL NO BRASIL.”
ligações para acesso ao sistema de distribuição de energia elétrica, que, atualmente, são de responsabilidade do acessante, na modelagem dos contratos de venda de energia elétrica de longo prazo, como a criação de valor de referência específico por fonte ou leilões regionais elaborados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). As medições anemométricas realizadas no Estado de São Paulo não mostraram velocidades de ventos tão favoráveis quanto de outras áreas do país, mas algumas regiões serão competitivas após a exploração das áreas brasileiras mais favoráveis e do desenvolvimento tecnológico desses equipamentos. Já as irradiações solares no Estado atingem médias de 5,6 kWh/m2, quase o dobro da Alemanha. Outro insumo com grande potencial de expansão no Es-
tado de São Paulo e em todo o Brasil são os resíduos sólidos. Além da geração de energia, a exploração econômica dos resíduos sólidos é uma solução para a destinação do lixo e a questão dos aterros sanitários. Mas para que esse tema possa evoluir precisamos do interesse e participação de todas as partes relacionadas envolvidas no processo. As renováveis só serão uma realidade quando ganharem escala e entrarem definitivamente nas casas das pessoas, nos comércios e na indústria, por meio da geração distribuída. Os governos federal e estadual estão estimulando o desenvolvimento da geração distribuída no país. Agora será a vez da população e dos empresários fazerem sua parte para que o Estado de São Paulo e o Brasil ampliem a participação das renováveis na matriz energética e garantam segurança energética de forma sustentável.
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Líderes e Práticas
100 Mais Influentes da Energia 2016
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Full Energy homenageia empresários e executivos que mais se destacaram no último ano
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ela primeira vez, a Full Energy traz para o mercado de energia brasileiro o especial “100 Mais Influentes da Energia 2016”. Trata-se de uma homenagem a executivos e empresários que mais se destacaram no último ano no setor. A eleição dos nomes seguirá algumas etapas. Entre elas está a participação do público, que poderá votar através do site www.fullenergy.net. A votação é aberta, ou seja, não são sugeridos nomes, e se estenderá até o dia 10 de setembro. Paralelo a isso está a atuação do setor de pesquisa do Grupo Mídia, através de análises de dados e informações de mercado, pontuando os líderes que mais se destacaram no último ano. Com tais dados em mãos, a eleição ficará por conta do Conselho editorial do Grupo Mídia e da revista Full Energy. A intenção não é mostrar e provar por regras matemáticas a influência de cada um, mas sim prestar uma homenagem a estes profissionais que tanto lutaram para o desenvolvimento do setor de energia do país. Vale ressaltar que serão contemplados profissionais que atuam em toda a matriz energética do Brasil. No total, são 20 categorias que abrangem toda a cadeia, como Personalidade Pública, Provedor de serviço, Qualidade e Segurança, Suprimentos e Logística, entre outros. O evento acontecerá no Espaço Apas, em São Paulo, no dia 10 de novembro. Mais informações pelo e-mail contato@grupomidia.com.
Grupo Mídia também é liderança na Saúde Não é só na área de energia que o Grupo Mídia se destaca. A unidade de negócios de Saúde do grupo é composta pelas publicações Healthcare Management, atual líder no mercado e especializada em gestão na Saúde, HealthARQ, única no Brasil direcionada para arquitetura e engenharia na Saúde, e Health-IT, dirigida para a tecnologia na Saúde, além do portal Healhcare Management, com notícias diárias da comunidade. Além disso, a empresa responde pela realização de importantes eventos, como o “100 Mais Influentes da Saúde”, já consagrado como o Oscar da Saúde no Brasil. Neste semestre, a unidade está organizando o “Fórum Healthcare Business + Prêmio Excelência”, que acontecerá em outubro, no Sofitel Jequitimar, em Guarujá (SP). Confira como foi a premiação do “100 Mais Influentes da Saúde”
Fórum Full Energy No mesmo dia da premiação dos “100 Mais Influentes da Energia” o Grupo Mídia realizará o “I Fórum Full Energy” que trará como tema “Do Compliance ao Smartgrid: As perspectivas para o setor de Energia no Brasil.” O fórum, que antecede a premiação, acontecerá no mesmo local. “Compliance nos Investimentos e financiamentos no setor energético” e “A importância da cultura do Compliance no setor de energia” são alguns dos temas previstos para o fórum. Para inscrever-se, basta acessar o site da Full Energy. edição 20 | FULL ENERGY
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Estratégia
Energia competitiva
Plano Nacional de Energia prevê a implantação de até oito novas usinas nucleares no Brasil
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Vista aérea das usinas nucleares Angra 1 e 2
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oje, no mundo, existem 67 usinas nucleares em construção: 23 na China, nove na Rússia, seis na Índia, cinco nos EUA, quatro na Coréia do Sul, quatro nos Emirados Árabes, duas no Japão, duas em Belarus, duas na Ucrânia, duas no Paquistão, duas na Eslováquia, duas em Taiwan, uma na Argentina, uma na Finlândia, uma na França e uma no Brasil. O Brasil é um dos poucos países que domina o ciclo do combustível nuclear e, ao mesmo tempo, possui uma das maiores reservas de urânio do mundo. Apesar disso, essa indústria tem se desenvolvido a passos lentos no país, em meio a um planejamento estratégico focado na expansão de fontes renováveis devido à falta de conhecimento da sociedade quanto aos reais riscos e benefícios associados à energia nuclear, além de entraves regulatórios que dificultam a participação da iniciativa privada no financiamento de novas usinas. Recentemente, o Reino Unido lançou a construção de mais duas usinas. A potência destas novas unidades representa 18% de acréscimo à potência instalada das 439 usinas em operação, que atualmente geram 12% da eletricidade produzida no mundo. Nos últimos 10 anos, 45 usinas entraram em operação, o que demonstra a competitividade da geração nuclear em termos de custos de produção. Apesar do sentimento de insegurança comumente associado à energia nuclear, trata-se da quarta maior fonte geradora de eletricidade no mundo, atrás do carvão, do gás natural e da hidroeletricidade. Há 442 reatores nucleares gerando energia em 30 países e 66 novos reatores em construção, notadamente em países como China, EUA, Rússia e membros da União Europeia. A energia nuclear tem grande potencial para garantir não só segurança energética, mas também segurança econômica (custos competitivos e disponibilidade de combustível a longo prazo) e segurança ambiental, uma vez que os combustíveis fósseis são os grandes responsáveis pela emissão de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera.
Vale destacar que a energia gerada por uma usina nuclear raras vezes sofre com flutuações imprevisíveis e, por isso, tem capacidade de fornecer energia de base, que deve ser contínua, barata e de alta confiabilidade.
A Energia Nuclear no Brasil
“Os projetos modernos incorporam as experiências advindas do acidente de Fukushima, sendo extremamente seguros”
A crescente necessidade de geração térmica de base no Brasil, e que, nos últimos anos, vem sido atendida de forma cara e poluente, pode ser atendida pela energia nuclear. Em face dessa necessidade, dos compromissos de redução de emissão de gases de efeito estufa assumidos pelo Brasil, e da dificuldade cada vez maior em licenciar hidroelétricas com grandes reservatórios, a opção nuclear terá um relevante papel a desempenhar na matriz energética brasileira, segundo Marcelo Gomes da Silva, assessor de Desenvolvimento de novas Usinas Nucleares da Eletronuclear. Ele conta que, no âmbito da Eletronuclear, diversas atividades têm sido desenvolvidas nos últimos anos para fazer frente ao desafio que um programa de tal escopo impõe, e para tanto são realizados estudos de seleção de áreas candidatas -grandes áreas que tecnicamente seriam adequadas para receber uma usina nuclear.
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Estratégia
Central Nuclear em Angra dos Reis
Silva cita que já foram identificadas 40 áreas, distribuídas em todo o território nacional. Em paralelo, também é realizada uma avaliação técnica das mais modernas usinas atualmente disponíveis, através do contato com os grandes fornecedores internacionais. As visitas técnicas aos estados brasileiros para estudar a implantação de futuras usinas nucleares destinam-se a visualizar in loco o que foi identificado nos estudos a partir de mapas, imagens de satélite e bases de dados. “Nada substitui o olhar de técnicos com longa experiência nos diversos aspectos da implantação de um projeto dessa natureza. Por isso convidamos sempre algum fornecedor de grande porte para nos ajudar com essa avaliação”, explica Silva. Alguns locais como Minas Gerais, Alagoas e Sergipe já foram visitados. O objetivo é acelerar o ritmo dessas visitas, que necessitam sempre do apoio dos governos locais. “É importante ressaltar que essas visitas são apenas 38
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uma avaliação preliminar. Não significa uma escolha propriamente dita. Naturalmente, o processo de escolha envolverá, desde o início, o diálogo transparente com a sociedade”, esclarece. A implantação de novos parques geradores traz inúmeros benefícios para a região escolhida. Esses benefícios assumem diferentes formas. O mais imediato é o lucro econômico, com a geração de renda e a arrecadação de impostos, tanto durante a fase de construção quanto durante a operação da usina. Um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas sobre o caso de Angra 3 apontou que cada real investido na obra se reverte em R$ 1,57 de aumento direto no PIB do estado. Assim, um investimento de R$ 20 bilhões significa um incremento de R$ 30 bilhões no PIB. Adicionalmente, para cada usina em operação, existe a criação de empregos de qualidade. Uma usina emprega de 1 mil a 1,2 mil pessoas entre técnicos, pessoal de manutenção, engenheiros, administrativos, etc.
As usinas nucleares de Angra 1 e 2 ocupam uma área de 3,5 Km2 e têm capacidade instalada de 1.900 MW. O índice de produção da central de Angra é de 570 MW/km2.
“São bons salários, pagos a empregados que fixam residência na região. Esse contingente e suas famílias demandarão serviços públicos de qualidade como escolas, hospitais, etc. No caso de Angra dos Reis, onde estão localizadas as usinas, esses benefícios são bastante perceptíveis, tanto que a população local é amplamente favorável à presença das usinas na região. A região de Angra dos Reis se transformou e hoje abriga universidades, escolas técnicas, etc”, lembra Silva. Para o Brasil, além dos mesmos benefícios em escala nacional, existem retornos na forma de fornecimento de equipamentos e serviços pela indústria nacional -uma usina tem cerca de 60% a 70% de fornecimento nacional- além de o país contar com energia barata. Finalmente, a instalação de usinas nucleares também contribui para que o país atenda aos compromissos recentemente firmados na COP 21, de redução de gases de efeito estufa. A operação de usinas nucleares praticamente não emite esse tipo de gases. Uma usina de 1000 MW evita a emissão de mais de 7 milhões de toneladas de gases de efeito estufa por ano, se comparada com usinas a combustíveis fósseis.
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Estratégia
Equilíbrio para a matriz energética
Marcelo Gomes da Silva, assessor de Desenvolvimento de novas Usinas Nucleares da Eletronuclear
Assim, além dos aspectos técnicos como identificação de locais e de tecnologias, a Eletronuclear, junto com a Eletrobras, trabalha no sentido de buscar um modelo que atraia o investidor privado, agilizando o processo de construção, mas mantendo os mais elevados padrões de segurança da operação das usinas. Apesar da crise econômica, as usinas Angra 1 e 2 não sofreram qualquer impacto. Elas operam na base, continuamente e em plena potência, parando apenas uma vez por ano por cerca de 30 dias para reabastecimento e revisões. Mais do que isso, pelo seu baixo custo de combustível, elas têm um papel importante nesse momento em que a geração térmica de base tem sido tão demandada. Já a construção de Angra 3 foi impactada pela escassez de recursos da Eletrobras e pelas recentes denúncias relacionadas à operação Lava-Jato. “Para tanto, a Eletronuclear tem trabalhado para minimizar os atrasos decorrentes desses fatos”, afirma. 40
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Operando na base, ou seja, gerando 1.450 MW continuamente e com tarifa competitiva, a usina Angra 3 ajudará a equilibrar a matriz elétrica brasileira. Atualmente, a energia nuclear responde por cerca de 3% de toda a eletricidade gerada no Brasil. Embora muitas pessoas sejam contra as usinas nucleares devido a possíveis acidentes e atentados terroristas, as edificações que compõem uma usina nuclear são projetadas para resistir a terremotos, ações externas e o impacto direto da queda de um avião, mantendo sua integridade e segurança. “Os projetos modernos incorporam as experiências advindas do acidente de Fukushima, sendo extremamente seguros”, destaca Silva. Sobre o acidente em Fukushi-
ma, que colocou a indústria nuclear em todo o mundo em estado de alerta, Silva explica que a reação ao acidente começou logo nos primeiros momentos. Três dias depois, a Eletronuclear criou um comitê gerencial para analisar as informações sobre a evolução dos acontecimentos nas usinas japonesas e elaborar um plano de ações para reavaliar a segurança das suas usinas. Além disso, o Brasil conta com uma longa experiência no setor nuclear. Os técnicos são capacitados no centro de treinamento, e a experiência do país em formação é reconhecida. A formação de um operador licenciado é longa, e deve ser iniciada ainda durante a fase de construção das usinas. Assim, os técnicos de Angra 3 estão sendo treinados em Angra 2.
Atualmente, 442 reatores nucleares estão em operação comercial em 30 países nos cinco continentes, com uma capacidade instalada total de 384 GW e fator de capacidade médio de 76%. Em 2013, a geração nuclear representou quase 11% de toda a matriz elétrica no mundo, sendo a quarta fonte a gerar mais eletricidade, depois de térmicas a carvão, térmicas a gás e hidrelétricas.
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Estratégia
Um fato interessante é que, na percepção do público, o risco nuclear está associado a explosões nucleares e efeitos térmicos, que não foram relevantes em nenhum acidente nuclear, incluindo Chernobyl e Fukushima. Além disso, a concentração de urânio radioativo não ultrapassa 5% em uma usina, não podendo ser comparada a bombas atômicas, onde tal concentração chega a 90%. Aconteceram, de fato, acidentes relacionados à operação de usinas nucleares no passado, mas a cada ocorrência a indústria nuclear se aprimora, introduzindo novas tecnologias para tornar as usinas mais seguras, o que resulta na redução da probabilidade de novas ocorrências no futuro. Outro detalhe é que todo rejeito nuclear é armazenado em condições controladas e, por ainda possuir um grande potencial de energia, pode vir a ser reciclado e utilizado por reatores da Geração IV no futuro.
Novas usinas A ocorrência do acidente nuclear de Fukushima em 2011 interrompeu a tendência mundial de expansão nuclear iniciada em 2010, onde alguns países, em virtude do acidente, alteraram seus programas nucleares e políticas regulatórias. A crise econômica de 2008/2009 reduziu ainda o consumo de energia nos países afetados e a capacidade de financiamento por parte das instituições de crédito. Mas, agora, em 2016, a indústria nuclear vem retomando o seu crescimento com novas usinas em diferentes estágios de planejamento e construção. Por sua vez, o Brasil continuará investindo em energia nuclear e deve chegar a 2050 com o total de 15 usinas produzindo eletricidade no país.“Esse número está bastante alinhado com o que se vê no mundo. Ao contrário do que se afirma, o ritmo de construção de novas usinas nucleares vem se intensificando cada vez 42
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mais”, afirma Silva. Até lá, é fundamental que os projetos de construção destas usinas, desde a sua concepção, levem em consideração questões de segurança e impactos socioambientais. Neste cenário pode-se incluir ainda o desafio da criação de um ambiente jurídico regulatório e estável, que viabilize a participação da iniciativa privada
nestes inventimentos, bem como a redefinição da estrutura institucional com a efetiva distribuição das atividades de desenvolvimento tecnológico, fomento, regulação e fiscalização e uma mudança do paradigma de planejamento energético de longo prazo no Brasil, com a inclusão de aspectos de sustentabilidade ambiental e econômica.
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Inovação e Tecnologia
Energia solar 3.0: as vantagens da tecnologia OPV
Tenda
Marcos Maciel Filho, CEO da Sunew, fala sobre a implantação de painéis solares orgânicos OPV no Brasil 44
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Tenda Uma das aplicações dos filmes OPV: abrigo em ponto de ônibus.
onsiderados a terceira geração de painéis fotovoltaicos, os filmes OPV têm ganhado espaço no Brasil graças à tecnologia desenvolvida no país pela Sunew, spin-off do centro de pesquisa aplicada CSEM Brasil. Fundada em 2015 pela FIR Capital, CSEM Brasil, BNDESPar, CMU e Tradaner, e liderada pelo sócio e engenheiro eletrônico Marcos Maciel Filho, de 41 anos, a empresa produz e comercializa o material, cujas principais características são o baixo custo de produção e a sustentabilidade, já que o OPV é feito a partir de matérias-primas orgânicas e abundantes na natureza. Maciel Filho, que ocupa a posição de CEO da Sunew, foi um dos responsáveis pela liderança dos projetos e pesquisas iniciados em 2011 no CSEM, que resultaram no desenvolvimento do painel solar orgânico no Brasil. Embora o OPV tenha surgido ainda na década de 1980 e se desenvolvido nos Estados Unidos nas décadas de 1990 e 2000, foi nos últimos anos que a tecnologia ganhou força em outros países. “Desde 2011, os principais centros de desenvolvimento e fabricação da tecnologia são o Brasil, Japão, Coréia do Sul e Alemanha”, afirma o CEO.
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Inovação e Tecnologia
Com diferentes aplicações, os paineis OPV podem ser implantados na cobertura de estacionamentos. Tenda
Barato e escalável
Novo mercado
Com um processo de fabricação de baixo custo, os filmes OPV são produzidos a partir da impressão em máquinas rolo-a-rolo –técnica semelhante à utilizada para a impressão de jornais. Além da utilização de materiais orgânicos, o processo produtivo demanda baixas temperaturas, o que resulta em poucos gastos de energia. “É uma tecnologia sustentável com baixa pegada de carbono na produção. O OPV gera energia elétrica a partir da transformação da luz em elétrons. Para o armazenamento da energia, podem ser utilizados a própria rede da concessionária de energia ou então baterias. É uma tecnologia de eletrônica orgânica impressa, que permite ainda a produção de outros produtos inovadores, tais como sensores de baixo custo, bateria impressa, circuitos eletrônicos impressos, entre outros. Uma tecnologia que o Brasil tem a chance de participar desde o início e ser um dos líderes mundiais”, explica.
Com a proposta de alinhar design com energia, o executivo aposta em um mercado diferente daquele já atendido pelas tecnologias fotovoltaicas tradicionais. O objetivo é introduzir a comercialização dos painéis em diversos setores, como fachadas de vidro, mobiliário urbano, tendas, estacionamentos, estufas, automóveis, entre outros. “As aplicações são muitas e a imaginação é o limite. O principal desafio é o ganho de escala de produção com consequente redução de custos e ganhos operacionais no processo produtivo. Como a base da tecnologia é química, o aumento de escala trará reduções de
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custo significativas. Para se ter uma ideia, um dos principais insumos do OPV deve atingir redução de custo de 99% em dois anos”, afirma. Segundo Maciel Filho, a aceitação de mercado do OPV tem sido positiva, com projetos em andamento nos mais diversos segmentos. Um exemplo é o futuro prédio da Totvs, em São Paulo, que implantará a tecnologia na fachada do empreendimento. Além de painéis ao longo da fachada, o próprio logo da empresa estará gerando energia. “Como as pessoas poderão perceber essa inovação? Será uma excelente vitrine para a Sunew e para a Totvs. A nova sede será mais um exemplo de inovação da Totvs, líder nacional em ERP”, diz. A capacidade de expansão de mercado do OPV frente às demais formas de geração fotovoltaica estão concentradas, principalmente, nas características exclusivas do material, afirma o CEO. “As grandes vantagens do OPV são a leveza (menos de 1kg por m²), a flexibilidade e a transparência. O OPV soma às demais formas de geração fotovoltaica atendendo a um mercado que busca um produto onde leveza, flexibilidade, diferentes cores e transparência são importantes.” O fato de não depender de um material específico para a impressão também é um diferencial que facilita a expansão da tecnologia OPV. “Novos ma-
teriais que podem ser impressos, tais como a Peroviskita, que tem eficiência de mais de 21%, poderão ser utilizados no nosso processo produtivo. Esse desenvolvimento de futuro é realizado pelo CSEM Brasil, para que a Sunew foque em produção e comercialização dos produtos”, explica.
Expertise aliada ao sucesso Além de contar com um time de profissionais de 11 nacionalidades diferentes, que aceleraram o desenvolvimento da tecnologia OPV no CSEM Brasil e na Sunew, Maciel Filho traz consigo uma expertise de mais de 20 anos em tecnologia e inovação, já tendo atuado como consultor sênior de estratégia e negócios pela Capgemini Consulting, em Londres, trabalhando diretamente com multinacionais no Reino Unido, Europa e Oriente Médio. O currículo do CEO da Sunew conta ainda com cargos gerenciais na BCP Telecomunicações –atual Claro-, além da atuação como COO do CSEM Brasil, que levou o engenheiro eletrônico a assumir a spin-off. Um dos desafios na gestão de uma empresa como a Sunew, segundo ele, está na velocidade e na constante busca por novas aplicações e modelo de negócios. “Trabalhar em um modelo startup é bastante diferente. É necessário muita agilidade nas decisões e capacidade de assumir riscos, tendo em vista que nem sempre as informações necessárias para tomada de decisão estão disponíveis. Requer, além de empreendedorismo, ter ‘cabeça de dono’ e inspirar esse sentimento na equipe. Como a tecnologia oferecida por nós é inovadora em todo o mundo, esses desafios são ainda maiores”, relata. Modelos como spin-offs e startups, de acordo com Maciel Filho, carregam em sua missão o desafio de construir com dinamismo e agilidade, o que requer aprendizado constante da equipe como um todo. No caso da Sunew, voltada para um mercado competitivo e inovador como o fotovoltaico, o engenheiro eletrônico diz que é primordial para o profissional um perfil criativo e com apetite ao risco.
Gadjets como smartphones e tablets também Tenda são uma das aplicações dos filmes OPV.
Tendade gasolina implanta paineis OPV no teto. Posto
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O OPV SOMA ÀS DEMAIS FORMAS DE GERAÇÃO FOTOVOLTAICA ATENDENDO A UM MERCADO QUE BUSCA UM PRODUTO ONDE LEVEZA, FLEXIBILIDADE, DIFERENTES CORES E TRANSPARÊNCIA SÃO IMPORTANTES.”
Tenda Marcos Maciel, CEO da Sunew
“Lançar no mercado um produto inovador (em nível mundial) e estruturar uma empresa do zero é uma grande missão. O maior desafio é pessoas, pessoas, pessoas. Montar e manter um time de alta performance é fundamental”, afirma.
O potencial da geração solar Apesar de o país ainda contar com uma matriz energética dependente da geração hídrica –cerca de 64% da geração de energia vem das hidrelétricas-, o Brasil tem um potencial de geração solar grande, porém pouco explorado. Maciel Filho faz uma breve comparação com a Alemanha, que apesar de apresentar níveis de
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insolação menores que o Brasil, tem na energia solar 45% de sua demanda interna. “No Brasil, esse valor é da ordem de 0,02%. Com o aumento de demanda de energia e os desafios de construção de novas usinas hidrelétricas, o crescimento da geração fotovoltaica distribuída é fundamental para complementar a matriz energética. Além de ser uma tecnologia sustentável, ela é eficiente em todo o país”, diz. Para o executivo, há espaço para o crescimento da energia fotovoltaica distribuída, mas é necessário esforço por parte
das empresas e do governo, bem como previsibilidade regulatória que garanta a expansão industrial do setor. “O Brasil é um dos países com maior potencial para a energia solar. A irradiação solar é excelente e a possibilidade de gerar energia próximo aos pontos de consumo em qualquer local do Brasil faz da energia solar uma excelente fonte para compor a matriz energética brasileira. Porém, é um mercado que requer investimentos de longo prazo para construção da cadeia de valor”, conclui.
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Retração da economia
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Consumo de gás natural Os benefícios de um combustível favorável à economia de baixo carbono
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e acordo com informações da Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado), o gás natural é um energético extremamente versátil, atende indústrias de diversos segmentos como a metalúrgica, siderúrgica, cerâmica, vidreira, entre outras. Já no segmento comercial, o gás natural pode ser usado para climatização de ambientes, geração de energia elétrica e cocção de alimentos em shoppings centers, hotéis e restaurantes. No segmento residencial, o uso de aquecedores de água a gás natural reduz o consumo de energia elétrica, além de levar praticidade ao usuário por substituir o uso de botijões de GLP para cocção. E outro uso, extremamente relevante, é no segmento automotivo: o GNV (Gás Natural Veicular). Hoje, a frota de veículos movidos a GNV no país é de aproximadamente 1,8 milhão de veículos. E há, também, o segmento de veículos pesados a GNV, ainda não explorado no país. Segundo o BEN (Balanço Energético Nacional), em 2016, a participação do gás natural na matriz energética está em 13,5%. No entanto, a Abegás acredita que a participação pode chegar a 20% até 2020, se o energético for destinado aos segmentos corretos. Uma característica, porém, é que o mercado de gás sofre grande influência do setor termelétrico, o que faz variar bastante o seu uso para os despachos térmicos de complementação de demanda de energia. Ainda neste cenário, desde 2015, o país sofre com a retração da economia. Em função disso, houve menor demanda de energia elétrica. Outro fato foi a maior afluência nos reservatórios, o que ocasionou a predominância da geração hídrica em detrimento da geração termelétrica. Resultado: o setor de gás teve uma redução, se comparado o primeiro trimestre de 2016 com o mesmo período de 2015. A retração da economia afetou outros setores como o industrial, que reduziu muito a produção, assim como o consumo de energia. Só para ter uma ideia, o setor termelétrico sofreu uma queda de 26%, enquanto o setor industrial amargou 14%. Entretanto, outras áreas do mercado de gás natural, que dependem de expansão de gasodutos, tiveram crescimento considerável. O residencial, por exemplo, cresceu 20%; o comercial 5,6%; cogeração 2,6% e o uso para matéria-prima teve um incremento de 14%.
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Ideias e Tendências
“Esses outros setores mostram que o gás ainda tem espaço para crescer em segmentos de mercado que não são industriais. Claro que o setor industrial é a âncora do mercado de gás e aí é preciso a retomada da economia para voltar a distribuição nos patamares de 2014”, evidencia Walter Piazza, presidente da GasBrasiliano. Piazza comenta que a empresa sentiu redução e crescimento em alguns mercados. “Tivemos uma redução no setor industrial de 9,4%, mas crescemos 25% no segmento residencial, 11% no comercial e 48% em matéria-prima.” No entanto, o maior destaque no crescimento de gás natural no país e na região de Ribeirão Preto (SP) foi o mercado automotivo. “As aplicações do gás são variadas e têm impactos diferentes em função do mercado greenfield e da economia da região e do país”, observa Piazza. Outro fato importante que vem ocorrendo no setor de gás, segundo Marcelo Mendonça, gerente de Planejamento Estratégico e Competitividade da Abegás, é o momento de transição em virtude da redução da participação da Petrobras no mercado de gás natural, o que gera oportunidade para a entrada de novos agentes no setor. Mercado automotivo, residencial e comercial Nas frotas que utilizam óleo diesel, por exemplo, o gás pode ser aplicado. Mais conhecido nos veículos leves, o gás pode ser utilizado em frotas pesadas também. No setor industrial, o uso de gás tem proporcionado uma eficiência energética considerável, seja no produto ou na redução de custos ou de emissões. O setor de GNV é mais sensível à economia. De acordo com Piazza, o gás natural sempre proporcionou maior controle em relação aos outros combustíveis líquidos. “Quem instalou um sistema GNV no carro nunca perdeu em termos de economia”, enfatiza. O que está acontecendo agora é isso: um movimento forte de instalação de kits GNV. Nas residências, o gás natural substitui o GLP ao 52
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Marcelo Mendonça, gerente de Planejamento Estratégico e Competitividade da Abegás
ser canalizado. A sua queima é melhor e reduz a emissão de gases de efeito estufa. Tem ainda a aplicação comercial pela característica de não necessitar de armazenamento de combustível dentro dos comércios e a cogeração, algo que potencializa o uso do gás natural. Quanto ao mito de que o gás natural é perigoso e oferece riscos de explosão, Piazza é enfático: “Todos os combustíveis são inflamáveis e tem risco de explosão, no entanto, o gás oferece o menor risco. Outro ponto favorável é a questão construtiva: o gás é transportado por tubulações, as chamadas
redes de distribuição, feitas em aço ou polietileno de alta densidade, construídos com rigor e normas internacionais. É o combustível menos perigoso e o que oferece menor risco”, sintetiza Piazza. Mendonça diz que o gás natural é um energético seguro. “Instalações feitas com a devida observância às normas de segurança estabelecidas e com o uso de equipamentos devidamente certificados pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) garantem a segurança na utilização do gás natural em todos os segmentos.”
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Ideias e Tendências
O gás natural é um energético versátil e que atende indústrias de vários segmentos
Investimentos e desafios Hoje, no Brasil, investe-se cerca de R$ 1,4 bilhão por ano no setor de distribuição de gás. Há outras áreas como transporte e liquefação, por exemplo, que demandam outros investimentos. O gás natural, além de ser menos poluente que outros combustíveis, é mais econômico. “O GNV pode trazer uma economia de até mais de 60% para o consumidor final, quando comparado com a gasolina. O gás natural destaca-se, ainda, por sua versatilidade, pois pode ser utilizado para substituir praticamente todos os energéticos concorrentes (GLP, óleo diesel, lenha, carvão, energia elétrica) com elevada eficiência”, frisa Mendonça. A Gás Brasiliano, por exemplo, pretende investir mais de R$ 30 milhões no interior de São Paulo, compreendendo a região de São Carlos (SP) até a divisa com o Mato Grosso do Sul, agregando cidades como São Carlos (SP), Araraquara (SP), Ribeirão Preto (SP), Bauru (SP) e Araçatuba (SP). A empresa pretende chegar em novos municípios nos próximos cinco anos: Macatuba, Barra Bonita, Igaraci do Tietê, Pin54
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dorama, Catanduva, Dumont e Sertãozinho. Num horizonte mais próximo, almeja atingir oito municípios, além dos 30 que já possui em seu raio de atuação. “Temos perspectiva de expansão porque as crises passam e o empresário quer produzir e precisa de um energético competitivo para isso. O gás natural pode atender essa demanda”, aposta Piazza, ao comentar que a distribuição de gás realizada pela empresa é por gasodutos. “Já temos quase mil quilômetros de rede de distribuição no Noroeste de São Paulo e com essas expansões podemos chegar a 1,2 mil quilômetros.” De acordo com o executivo, o gás é um combustível moder-
no, que muda substancialmente a matriz energética do país, além de promover redução de custo operacional e aumento de produtividade. “Nesse momento de crise econômica, as empresas procuram soluções e o gás é versátil, de pronta combustão, eficiente e pode reduzir os custos operacionais das empresas”, argumenta. No entanto, o setor conta com um entrave: o suprimento de gás natural a partir de 2019. Isso porque todas as empresas de gás no Brasil estão promovendo estudos para avaliar e buscar soluções de como será o suprimento após 2019, quando haverá o novo contrato de suprimento com a Bolívia. “A Petrobras espera
Eficiência energética
Walter Piazza, presidente da GasBrasiliano
que outros agentes supridores também participem do mercado, o que cria uma variedade de oportunidades para o setor. São entraves, mas como sempre, ameaças e oportunidades”, sugere Piazza. As principais barreiras vividas pelo setor, na visão de Mendonça, são a falta de diversificação da oferta (novos agentes no setor), o acesso aos dutos de escoamento da produção, unidades de processamento (UPGNs) e terminais de Gás Natural Liquefeito (GNL), além da falta de medidas que incentivem os interessados em acessar a infraestrutura existente de gasodutos de transporte e a capacidade ociosa dos gasodutos, ambos já regulamentados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). “A Abegás acredita que o momento atual, de redução da participação da Petrobras na cadeia de gás natural, representa uma oportunidade para repensarmos o mercado. O governo federal terá papel fundamental na liderança das mudanças necessárias para a evolução do setor, atuando efetivamente como órgão planejador na definição da participação do gás natural na matriz energética”, salienta.
De acordo com Piazza, o país pode melhorar muito a sua eficiência energética. Um estudo realizado pela CTGás, instituição do Senai, em parceria com a Petrobras, diz que 80% das empresas possuem operação de energia ineficiente. “Trabalhos relevantes como inspeções de eficiência energética nas indústrias, treinamentos de auditores de eficiência energética, assistência técnica nas empresas e consultoria em eficiência são importantes porque o cliente consegue um melhor uso energético e redução de custos, melhorando o produto e reduzindo a emissão atmosférica. Vários fatores que pressionam o empresário podem ser atacados e reduzidos com o trabalho de busca de eficiência energética”, observa. Para ele, o tema tem muito espaço para avançar e o país pode melhorar com propó-
sitos de incentivo a alguns mecanismos que trazem eficiência como a geração distribuída e cogeração, por exemplo. Ao fazer a geração distribuída perto do mercado de demanda, evitam-se perdas da ordem de 15% a 20% na transmissão. Já a cogeração pode gerar ciclos de eficiência de até 80%. “A combinação de geração distribuída e de cogeração precisa ser incentivada por políticas públicas. Isso trará ao país maior competitividade para a sua base industrial”, defende o executivo. Mendonça, por sua vez, lembra que o Brasil possui uma matriz energética muito diversa, ao contrário da maioria dos países desenvolvidos, e a melhoria da eficiência energética passa primeiramente pela elaboração de um planejamento energético que tenha como objetivo fazer o melhor uso possível dessa diversidade.
Baixo Carbono
O gás natural é abundante, econômico e sustenta a transição para a energia renovável. “As outras fontes carecem de maiores investimentos em pesquisa para se tornarem mais viáveis economicamente enquanto o gás está disponível”, salienta Piazza. Na Europa e nos EUA, o gás é usado intensamente como forma de reduzir a emissão atmosférica causada por óleo diesel, óleo combustível e carvão. O gás natural é o combustível intermediário, o meio para o alcance de uma economia de baixo carbono, o que está vinculado às decisões e resoluções da COP 21.
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Ideias e Tendências
Mercado e consumo Muitos especialistas dizem que o gás é mais competitivo do que a energia elétrica. Isso acontece porque o gás pode substituir a energia elétrica com vantagem econômica significativa. Exemplo disso é que o Brasil tem a cultura de aquecimento de água com energia elétrica, o que é muito caro e realizado nos horários de ponta e de maior demanda. Outro ponto é a geração de frio: todo mundo liga o ar condicionado na mesma hora. São nessas aplicações que o gás pode substituir a energia elétrica. Mendonça explica que as tarifas do gás natural estão mais baratas que as tarifas de energia elétrica, portanto, o gás está mais competitivo para o consumidor final. No segmento residencial, o gás natural é competitivo em todas as regiões. No Centro-Oeste, o preço do gás natural para clientes de alto consumo é 57,5% inferior ao da energia elétrica. No Sudeste, quando comparado à tarifa de eletricidade para os consumidores de baixo consumo, o preço do gás natural é 7,5% inferior ao da energia elétrica — um indicativo para que os clientes residenciais passem a utilizar o aquecedor a gás substituindo o chuveiro elétrico. Em todas as regiões, as tarifas médias em todas as classes de consumo no segmento comercial foram mais competitivas do que as da energia elétrica. O exemplo mais competitivo é no Nordeste, onde o preço do gás natural é 73,1% inferior à energia elétrica na classe de consumo de 50 mil m³ por mês. No Sudeste, na classe que consome 500 m³/mês, o gás natural tem preço 38,3% inferior ao da eletricidade. “A formação do preço do gás natural no Brasil é baseada numa cesta de óleos, que inclui o petróleo. Portanto, as alterações de preço do petróleo influenciam o preço da molécula de gás natural. Houve redução do preço do gás natural no país, já repassado aos consumidores em alguns Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba e Santa Catarina”, sinaliza Mendonça. Para Piazza, a taxa de câmbio também é uma variável para o preço do gás. “Se o real valoriza ou desvaloriza, também afeta o preço do gás que tem referência em dólar. Os contratos de gás são atrelados ao preço do petróleo e à variação cambial”, afirma. 56
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UM FATO IMPORTANTE QUE VEM OCORRENDO NO SETOR DE GÁS É O MOMENTO DE TRANSIÇÃO EM VIRTUDE DA REDUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DA PETROBRAS NO MERCADO DE GÁS NATURAL, O QUE GERA OPORTUNIDADE PARA A ENTRADA DE NOVOS AGENTES NO SETOR. Uso em usinas Para a região noroeste do Estado de São Paulo, o desafio está no uso combinado do gás natural com a biomassa, devido à predominância desta fonte na região. Nesse contexto de integração de biomassa e gás natural, a eficiência aparente do gás atinge valores entre 85% e 140% - razão entre a quantidade de energia adicional gerada e a quantidade de gás natural aplicado, garantindo a competitividade do gás natural na aplicação. Um dos pontos mais relevantes é que a quantidade de gás natural inserida é pequena, porém a eficiência global das usinas pode ser aumentada significativamente. “A planta continua com sua característica de combustível renovável e o gás natural apresenta-se como um bônus, valorizando e maximizando a energia da biomassa”, enfatiza Piazza. A energia do gás natural aumenta a temperatura do vapor produzido pela biomassa e,
consequentemente, sua capacidade de produzir energia mecânica na turbina a vapor. “Esse ganho pode ser obtido com o uso do gás natural em configurações de superaquecimento do vapor externo à caldeira de biomassa ou em ciclo de reaquecimento, utilizando-se dos gases de exaustão de turbinas a gás natural”, explica o executivo. A biomassa associada ao gás traz eficiência energética, ganhos financeiros e econômicos para as usinas do setor sucroalcooleiro. “Temos vários estudos de casos de usinas híbridas que geram energia com gás e com biomassa, trazendo ganhos adicionais às empresas. O nosso desafio é fazer com que as usinas agreguem o gás natural em sua queima, fazendo-a de forma combinada. Temos capacidade de investir em gasodutos para chegar até as usinas e vamos trabalhar em projetos de melhoria de eficiência energética”, frisa Piazza.
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artigo de
RITA KAWAMATA
MINDFULNESS NO MUNDO CORPORATIVO
Rita Kawamata, sócia e instrutora da Assertiva Mindfulness
Dentre os muitos significados que mindfulness pode ter, um deles é o de atenção plena ou atenção consciente, que é uma capacidade inata da mente humana
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odos nós sabemos prestar atenção de maneira intencional, consciente, e livre de julgamento e crítica. Apesar de ser genuína, essa capacidade fica comprometida no estilo de vida moderno, cheio de pressões por resultados, autocrítica e estímulos diversos e constantes. Por isso, é preciso hoje treinar a mente para estar presente, focada e, ao mesmo tempo, com um certo grau de relaxamento que permite respostas inovadoras e criativas. Também chamamos esse treinamento mental de mindfulness. A essência do treino mental não é novidade: está presente em diversas tradições milenares. A novidade de mindfulness é ser uma abordagem secular, não vinculada a religião ou prática devocional, e adaptada ao homem moderno, cujo corpo é sedentário e a mente é ansiosa. Mindfulness, dessa forma, surgiu no ambiente médico (Hospital da Universidade de Massachusetts, no final da década de 1970), como uma intervenção estruturada em oito encontros, e, desde então, tem sido estudada pela ciência, com ótimos resultados. Que benefícios mindfulness traz ao mundo corporativo? Apesar de não ser uma panaceia, uma fórmula milagrosa que elimina todos os problemas, hoje sabemos que um dos primeiros benefícios da prática de mindfulness é o manejo do estresse. Na ciência, isso tem sido comprovado nos últimos 30 anos em inúmeras pesquisas. Na vida diária, as pessoas conseguem diminuir o tempo de “piloto automático” e estar mais
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conscientes nos momentos importantes, fazendo escolhas apropriadas a cada situação e sendo menos reativas e mais assertivas. Existem diversos cases de sucesso em organizações. Nos relatos de John Ford, por exemplo, sabemos que ele assumiu a Ford em meio a uma séria crise, tendo de demitir funcionários e repensar o modelo de negócio. Chegou a pensar que quebraria. E, a partir de seu treinamento pessoal em mindfulness e compaixão, conseguiu lidar com as circunstâncias e sobreviver à tempestade. Hoje, a Ford é líder em sustentabilidade no seu setor. O Google desenvolveu um programa de Inteligência Emocional com base em Mindfulness para treinar os funcionários, e depois disso, um Instituto (Search Inside Yourself Lidership Institute), apostando no treinamento mental para desenvolver competências para a liderança e melhorar o ambiente de trabalho. Como acontece? Pesquisas em neurociência demonstraram que a prática
regular de meditação mindfulness traz mudanças no cérebro, aumentando a concentração de massa cinzenta em áreas responsáveis por aprendizagem, memória, emoções e controle do estresse. Sabendo hoje da neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro de mudar conforme nossas experiências, já se fala em “treinar a mente para mudar o cérebro” (nome do livro da jornalista Sharon Begley, especializada em neurociência). As informações sobre como isso acontece ainda estão sendo exploradas, mas, aparentemente, a meditação mindfulness pode promover novas sinapses, ou conexões, criando novos caminhos neuronais, e “desligando” outros caminhos, que deixam de ser usados. Ou seja, substituindo velhos padrões e condicionamentos (muitos inconscientes) por novos – detalhe importante: escolhidos conscientemente. Ao treinar atenção focada, desenvolvemos, além de foco e concentração na execução de tarefas, autopercepção e
autoaceitação, criando condições para desenvolver autoestima, consciência e regulação emocional, a base para a tão necessária inteligência emocional. Ao treinarmos atenção aberta, a mente entra num modo mais contemplativo, permitindo novas sinapses e abrindo espaço para a criatividade. Além disso, nossa atenção se volta ao outro, propiciando empatia, e à rede de conexões em que estamos inseridos (conexão). Todas essas habilidades são de incrível ajuda quando ocupamos um posto dentro de uma organização, tanto na relação com colegas, subalternos e chefes, como na nossa própria autorregulação e conduta profissional. Como começar agora? Já existem aplicativos de mindfulness (Headspace, por exemplo), instrutores oferecendo cursos de mindfulnes in company e até cursos
online. Porém, mesmo antes de iniciar a prática da meditação formal, existem técnicas informais que podem ser incorporadas no dia a dia. Seguem três delas: - Três respirações conscientes A qualquer momento, em qualquer lugar, você pode chamar para o momento presente sua mente ansiosa (que estava perdida em preocupações com o futuro ou com remorsos pelo passado) prestando atenção a três respirações consecutivas e espontâneas. Não é preciso mudar a respiração: apenas percebê-la, conscientemente. - Andar com presença
Da próxima vez que levantar para ir ao banheiro ou tomar um café, experimente trazer a atenção para seu corpo enquanto caminha, sentindo, por exemplo, as solas dos pés em contato com o chão. - Repousar os talheres No almoço, em vez de comer correndo, mastigando rápido para terminar logo, ou se distrair com o celular ou a tevê, esteja mais atento à mastigação, à aparência e ao sabor dos alimentos. E tente repousar os talheres enquanto mastiga um bocado. Apenas após engolir, segure os talheres novamente, para fazer uma nova garfada.
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Mercado
BREXIT e o setor energético Como a saída do Reino Unido da União Europeia deve impactar os mercados globais de energia 60
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FGV energia publicou, em julho deste ano, um artigo intitulado “Potenciais impactos do BREXIT nos mercados globais de energia”. Sob autoria de Ieda Gomes, Senior adviser da FGV Energia, o texto traz uma análise das possíveis consequências e impactos que tal saída deve angariar no setor energético mundial, em particular nos mercados de petróleo e gás natural. A Full Energy traz, na íntegra, o conteúdo abordado no artigo nas páginas a seguir. Em 23 de junho de 2016, os eleitores no Reino Unido votaram majoritariamente em um referendo para deixar a União Europeia (UE),
o chamado BREXIT – que é uma contração das palavras Britain Exit. O impacto do BREXIT foi sentido nos principais partidos, com a renúncia do Primeiro Ministro, David Cameron, do líder do Partido UKIP, Nigel Farage e uma nova convenção do Labour Party para escolha de um novo líder. A formalização do BREXIT junto à UE é uma prerrogativa
do Reino Unido, que deve formalmente invocar o Artigo 50 do Tratado de Lisboa, que estabelece as condições para um país-membro deixar voluntariamente a CE. O artigo 50 estabele que “Qualquer Estado-Membro pode decidir retirar-se da União, em conformidade com as respectivas normas constitucionais.“ Ele especifica que o país que queira sair da União deve notificar o Conselho Europeu da sua intenção, negociar um acordo sobre a sua retirada e estabelecer bases legais para um relacionamento futuro com a UE. O Tratado contém uma disposição estabelecendo o prazo de dois anos a partir da data da notificação do artigo 50 para conclusão desses novos acordos. A extensão desse prazo depende do voto unânime dos demais membros da UE. A Primeira Ministra britânica, Theresa May, já deixou claro que não pretende invocar o Artigo 50 antes do final de 2016. Tendo em vista as relações e compromissos assumidos pelo Reino Unido ao longo de 40 anos de participação na UE, este artigo propõe-se a analisar o potencial impacto do BREXIT no setor energético, em particular no mercado mundial de petróleo e gás natural. As consequências imediatas Com o resultado do referendo em favor de BREXIT, o primeiro impacto visível foi a desvaloização da libra esterlina vis-à-vis o dólar norte americano. Desde o voto, a libra caiu cerca de 11% contra uma cesta de moedas internacionais. A libra caiu aos níveis mais baixos dos últimos dez anos, gravitando em torno de £ 1,31-1,36/ USD contra cotações em torno de £ 1,38-1,45/USD antes da votação do referendo (Figura 1). A libra também caiu em comparação com o Euro, estando cotada a £ 1,19 em 19 de julho de 2016, porém a níveis similares aos vigentes no período 2013-2014, o que mostra as incertezas relativas à zona do Euro. A queda da libra reflete as atuais incertezas
A SAÍDA DO REINO UNIDO DA UNIÃO EUROPEIA (UE) TERÁ IMPLICAÇÕES EM DIVERSOS ASPECTOS DO MERCADO COMUM E AINDA SOBRE OS ALCANCES DAS DIVERSAS DIRETIVAS E REGULAMENTOS EMANADOS DA UE. quanto ao papel do Reino Unido fora da UE e quanto à demanda futura por produtos e serviços oriundos do país. No curto e médio prazo, a fraqueza da libra deverá causar pressões inflacionárias por encarecer os produtos importados pela Inglaterra, aí incluídos bebidas, alimentos, têxteis, automóveis e materiais elétricos. O déficit da balança comercial foi de £ 2,3 bilhões em maio de 2016, contra £ 4 bilhões em janeiro do mesmo ano. O déficit com a UE no período fevereiro a abril de 2016 elevou-se a £ 23.8bn. Tendo em vista que as importações são denominadas em Euro ou em dólar, a desvalorização da libra poderá elevar os custos das importações em mais de 10% se a tendência de baixa persistir. As declarações do Presidente do Banco Central Europeu de baixar juros e aumentar a liquidez sinaliza para uma fraqueza da moeda no curto prazo. Por outro lado, os economistas Roger Bootle e Jona-
than Loynes argumentam que a queda da libra poderá sinalizar para um aumento das exportações do Reino Unido, uma vez que, antes do BREXIT a libra encontrava-se em um patamar muito elevado, contribuindo para reduzir a competitividade dos produtos britânicos e para um elevado déficit no comércio internacional. Impactos no setor de petróleo e gás natural O Reino Unido é importador líquido de petróleo e de gás natural desde os anos 2003-2004 e também importa quantidades crescentes de derivados de petróleo. Em 2014 o país importou 29 milhões de toneladas de derivados, contra 14 milhões no ano 2000, embora continue a ser um exportador líquido de gasolina e óleo combustível. O Reino Unido importa gás natural do continente europeu, em particular da Rússia, Noruega e Holanda, e mais recentemente vem importando GNL dos mercados mundiais,
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mercado
através de três terminais de regaseificação. As importações são denominadas em dólar e em Euros, tornando a cesta energética mais cara para o consumidor inglês, mas por outro lado ampliando a competitividade das exportações de bens e serviços ligados à indústria de petróleo, que beiram US$ 40 bilhões. O Reino Unido, em particular Londres, desempenha um papel chave no trading de energia global. O preço de petróleo Brent (Mar do Norte) é um dos principais benchmarks para precificicação nos mercados internacionais, e o ponto nodal NBP (National Balance Point) é um ponto focal para comércio de gás nos mercados europeus. Em um primeiro momento, logo após o referendo, houve uma queda nos preços de commodities energéticas comercializadas globalmente como o petróleo e o carvão, devido tanto à valorização do USD como ainda pela preocupação quanto ao impacto do BREXIT no crescimento da economia mundial – o relatório do Fundo Monetário Internacional publicado em 19 de julho cortou em 0,1% suas previsões anteriores publicadas em abril de 2016. A nova previsão é de um crescimento global de 3,1% em 2016 e de 3,4% em 2017. Os preços dessas commodities já se recuperou desde junho, em antecipação às autoridades monetárias estarem provendo mais liquidez ao mercado. A saída do Reino Unido da UE terá implicações em diversos aspectos
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do mercado comum e ainda sobre os alcances das diversas diretivas e regulamentos emanados da UE. Ainda é bastante prematuro tecer conclusões porque não se sabe se o Reino Unido vai fazer parte futuramente da Área Econômica Européia, à semelhança da Noruega, ou se entrará em uma União Alfandegária, à semelhança da Turquia, ou ainda se integrará um Tratado de Livre Comércio, como no caso proposto pelo Canadá. Algumas áreas de provável impacto estão listadas a seguir: • Acesso a financiamentos do Banco Europeu de Investimentos para projetos de Energia no Reino Unido poderá ser dificultado ou ser mais caro. • Posição do Reino Unido vis-à-vis o compromisso com a UE em aumentar a participação de energias renováveis para 15% em 2020. • Necessidade de estabelecer novos tratados internacionais para construção de novos interconectores para transporte
de gás e eletricidade. • Acesso do Reino Unido aos estoques de gás natural no continente europeu, tendo em vista a baixa capacidade de estocagem existente no país. • Potencial imposição de tarifas aduaneiras sobre gás e eletricidade exportados da Europa para o Reino Unido poderá tornar a importação de GNL mais atraente. O Reino Unido possui uma das economias mais liberais no campo da energia e deverá continuar a cooperar com a União Européia nos esforços de tornar os mercados mais competitivos e abertos. De todo modo, os impactos do BREXIT no setor de energia serão sentidos sobretudo nas relações com os países europeus e com a Rússia, que continuará a ser o maior exportador de gás natural para a Europa. Um efeito colateral da desvalorização da libra foi a valorização das ações de empresas petroleiras cujo balcão principal é a Bolsa de Londres. Essas empresas já vinham se beneficiando da subida recente dos preços do petróleo, que chegou a atingir US$ 50/barril em junho de 2016. Como essas empresas têm a maior parte das receitas em USD enquanto que as despesas são em moeda local, o BREXIT contribuiu para a valorização da BP (BP) e Shell (RSDB), em comparação com a francesa Total (TOT) e a norte-americana Chevron- Texaco (CVX).
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Sustentabilidade
Geração COMPARTILHADA
Nova resolução para energia solar fotovoltaica deve projetar crescimento de 800% no setor até o fim de 2016 64
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pesar de ter começado a se desenvolver na matriz energética brasileira no final da década de 70, a energia solar fotovoltaica passou a ganhar espaço no país a partir de 2012, quando a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) regulamentou a geração distribuída de energia. A partir da resolução normativa 482, clientes, que antes eram consumidores passivos de energia elétrica, passaram a se tornar produtores ativos de parte de sua demanda, além de poder comercializá-la enquanto excedente produtivo. Em março deste ano, mais um passo foi dado a favor do crescimento da energia solar fotovoltaica no Brasil: a resolução nor-
mativa 687 da Aneel, criada em 2015, entrou em vigor no país, permitindo não só a geração de energia própria para consumo residencial, comercial ou industrial, mas a produção remota e o compartilhamento do volume gerado para outras unidades consumidoras, o que ficou conhecido como geração compartilhada. Este novo cenário, segundo perspectivas da própria Aneel, deve fazer com que o setor tenha um crescimen-
to na ordem de 800% até o final de 2016. De acordo com o presidente executivo da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), Rodrigo Lopes Sauaia, a nova resolução, além de criar novas oportunidades de mercado, deixou o sistema esclarecido e mais fácil de ser efetivado. “Temos a possibilidade da geração de energia condominial, por exemplo, onde vários condôminos se reúnem para gerar energia renovável na sua edificação e temos também a oportunidade da geração compartilhada. Nesse modelo, pessoas físicas ou jurídicas podem se reunir em consórcios ou cooperativas e gerar energia de forma conjunta, fazendo o investimento com-
partilhado no sistema de geração de porte maior do que se fosse instalá-lo em sua residência. Isso é importante para o cliente final, porque ele terá redução de custo pelo ganho de escala, democratizando o acesso a energia solar fotovoltaica”, explica. A nova resolução também deve impulsionar mais investimentos no setor. Segundo Carlos Evangelista, presidente da ABGD (Associação Brasileira de Energia Distribuída),
a possibilidade de compartilhamento de energia proporciona condições favoráveis à expansão do mercado. “Às vezes, o investimento inicial em energia solar fotovoltaica é alto. Uma das vantagens da nova resolução é que agora pode-se dividir uma usina ou micro-usina em duas ou três pessoas, com o compartilhamento e compensação de energia em dois ou três clientes. Isso abriu bastante o mercado”, afirma.
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Foto: Full Energy
Sustentabilidade
Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Absolar
Os leilões e as usinas de grande porte Além do mercado de geração distribuída, as usinas solares fotovoltaicas de grande porte também têm contribuído para o crescimento do setor no país. O cenário se expande desde 2013, quando foi realizado o Leilão Estadual de Pernambuco, e posteriormente com novos leilões do Governo Federal, nos anos de 2014 e 2015. Os projetos já contratados somam uma potência de cerca de 3,3 mil MW, que devem entrar em operação até 2018, o que representa investimentos da ordem de R$ 12,5 bilhões no setor. “É um marco importante para o avanço desse segmento da geração centralizada e também um fomentador para a fabricação de equipamentos nacionais como módulos fotovoltaicos, inversores, estruturas de suporte de sistemas e materiais elétricos que compõem o sistema fotovoltaico”, diz Sauaia. 66
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Políticas de incentivo Apesar das perspectivas de crescimento do setor, a energia solar fotovoltaica ainda representa uma pequena fatia da matriz energética brasileira, sendo responsável por apenas 0,02% da produção nacional. De acordo com Sauaia, ainda faltam políticas de incentivo para que o setor possa consolidar sua participação. Os principais obstáculos, segundo o presidente executivo da Absolar, são as poucas opções de financiamento disponíveis e a questão tributária. Em relação ao financiamento, o país ainda precisa oferecer melhores condições para os clientes finais, em especial pessoas físicas. “Precisamos de prazos mais longos. O ideal para o setor seria a oferta de de financiamentos com 10 anos de prazo, com taxas de juros mais baixas e compatíveis com o baixo risco do investimento e o longo prazo de duração e vida útil do sistema fotovoltaico. É preciso o engajamento tanto de bancos públicos quanto privados capazes de estabelecer prodtos financeiros específicos para o setor”, analisa. Já em relação à tributação, Sauaia cita a importância da adesão dos estados brasileiros ao Confaz 16/2015, convênio que contempla a microgeração de energia com a isenção de ICMS, PIS e Cofins. Até agosto, 18 esta-
dos, mais o Distrito Federal, haviam firmado o convênio. “A adesão a esse convênio dos estados é muito importante porque reduz a carga tributária sobre a energia que participa nessa mini e microgeração distribuída solar fotovoltaica”, afirma. Os impostos em equipamentos, insumos e maquinários produtivos colocam a fonte solar em desvantagem em relação a outras formas de energia, segundo o presidente da Absolar. Nesse âmbito, Sauaia considera que é preciso mais diálogo entre a indústria e o Governo Federal, já que a carga tributária na cadeia produtiva acaba diminuindo a competitividade do produto nacional e aumentando seu preço. “Outro ponto importante nessa área é reduzir a carga tributária sobre os equipamentos em si. Os impostos federais ainda incidem sobre a maioria dos equipamentos voltados para o setor fotovoltaico. É preciso isentar esses impostos, a exemplo de outras fontes renováveis que já têm essa isenção. Com isso, conseguiríamos reduzir o preço da energia solar fotovoltaica em mais de 10% no Brasil. É um espaço enorme para ganharmos mais competitividade e tornar a energia solar fotovoltaica mais democrática e disponível para a população brasileira”, diz.
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artigo de
WALFRIDO AVILA
MERCADO LIVRE X MERCADO REGULADO
Walfrido Avila, presidente da Tradener
As vantagens do mercado livre de energia elétrica
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liberdade de escolha do fornecedor de energia elétrica no Brasil, ainda que esteja presente entre nós, com alguns limites, desde 1998, ainda não é um conceito plenamente difundido na sociedade, para além do universo dos grandes consumidores que hoje auferem desta liberdade. Partindo do modelo completamente centralizado implantado em meados do século XX, quiçá necessário para viabilizar os vultosos empreendimentos em geração, transmissão e distribuição em um país ainda a ser desenvolvido, a partir da Constituição Federal de 1988 viu-se que era chegado o momento de colocar a competição como indutor do desenvolvimento. E assim foi feito através do novo marco regulatório consolidado pela Lei 9.074/95, que abriu oportunidade ao consumidor de grande porte, dentro de limites de tensão de atendimento e potência demandada, de escolher seu fornecedor de energia, salvaguardados os direitos de livre acesso às redes de transmissão e distribuição. Depois de atravessar uma grave crise energética e ainda em meio a uma crise econômica, estamos no limiar da abertura plena do mercado de energia elétrica, e é importante que sejam mais amplamente divulgadas as características e as vantagens do livre mercado. Aliás, essa abertura é um dos vetores para vencer a crise, na medida em que impulsionará e retomará o crescimento industrial no país. Os 18 anos de vida do mercado livre no Brasil já mostraram, como no resto do mundo, o potencial da competição para reduzir preços: a elegibilidade do fornecedor de
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energia elétrica já possibilitou economia estimada de mais de R$ 45 bilhões para os consumidores que migraram para o mercado livre, representando uma economia de 18%, segundo cálculo das associações de consumidores e comercializadores. Não há mistério. No mercado cativo, ou Ambiente de Contratação Regulada, a distribuidora, prestadora apenas do serviço de distribuição, repassa a energia aos preços que comprou, sob regras administradas pela Aneel. Em contrapartida, no Ambiente de Contratação Livre, o consumidor, ainda que conectado à mesma distribuidora e pagando pelo mesmo serviço de distribuição (conexão física), adquire sua energia de terceiros, pagando por isso um preço livremente negociado. Isso quer dizer, basicamente, que tem poder de barganha, quer quanto a preços, quer quanto às condições da entrega. Já é assim na maior parte do mundo: nossos vizinhos latino-americanos, em condições socioeconômicas que não diferem profundamente das nossas, em boa parte liberaram seus mercados de
energia, total ou parcialmente. Nos Estados Unidos, em quase metade dos estados os consumidores têm livre escolha dos fornecedores, e na Europa a liberação é total desde 2007, como diretiva da Comissão Europeia. A experiência desses mais de 20 anos de mercado livre tem mostrado que a f lexibilidade que a liberdade de contratação traz quanto ao horizonte contratual, sazonalidade, modulação, reajuste, tipo e localização da fonte geradora pode chegar a trazer até 40% de redução no custo da energia para o contratante, o que já é significativo. Para um consumidor eletrointensivo, em períodos de crise, isso pode ser tudo. Além disso, a customização contratual permite prever paradas programadas, reduções sazonais ou eventuais de produção, enfim, toda uma gama de excepcionalidades que hoje causam dificuldade no relacionamento com a distribuidora. Há que lembrar que a migração ao mercado livre significa apenas troca de contratos: a conexão física permanece a mesma, e a distribuidora permanece remunerada pelo
serviço de rede, com tarifas fixadas pela Aneel – nada muda no fornecimento físico. Uma vantagem significativa do mercado livre é a gestão flexível através de uma comercializadora. Como os preços de curto prazo variam muito, porque flutuam ao sabor da hidrologia – não podemos esquecer que o Brasil é um sistema de base hídrica – contratos múltiplos que agregam tranches com horizontes distintos possibilitam tirar proveito dos períodos de preços baixos e preços altos, comprando o que falta ou vendendo o que sobra, reduzindo o custo total de aquisição de energia. O processo de migração requer que a unidade consumidora tenha demanda igual ou superior a 500 KW e esteja ligada em alta tensão. Há necessidade de adequação do sistema de medição, embora as associações de consumidores e das comercializadoras siga a luta para redução dos requisitos, propugnando pela simplificação da medição e pela isonomia com o sistema de medição do consumidor cativo. Há ainda a necessidade de garantias financeiras para operar no mercado livre. Isso posto, passamos a um relato do status quo das novidades que se espera para breve na legislação do setor, concernentes ao nosso tema. Há atualmente dois projetos tramitando. Em primeiro lugar, há o Projeto de Lei no 1.917 de 2015, atualmente em análise em três comissões da Câmara dos Deputados, que trata não apenas a abertura gradual, mas irrestrita do mercado de energia e que institui todo um arcabouço regulatório que permite que a competição pelo lado da demanda seja efetiva. É o chamado PL da Portabilidade, pelo qual já em 2016 o limite para migração do consumidor livre se reduz de 3 MW para 2 MW, e o do consumidor especial de 500 KW para 300 KW. Essa redução se dará ano a ano até ser eliminada totalmente em 2020. A liberação se estenderá aos consumidores de todos os subgrupos tarifários, incluindo os residenciais, até 2022. Há ainda o Projeto de Lei do Senado no 232
‘
DEPOIS DE ATRAVESSAR UMA GRAVE CRISE ENERGÉTICA E AINDA EM MEIO A UMA CRISE ECONÔMICA, ESTAMOS NO LIMIAR DA ABERTURA PLENA DO MERCADO DE ENERGIA ELÉTRICA, E É IMPORTANTE QUE SEJAM MAIS AMPLAMENTE DIVULGADAS AS CARACTERÍSTICAS E AS VANTAGENS DO LIVRE MERCADO. ALIÁS, ESSA ABERTURA É UM DOS VETORES PARA VENCER A CRISE, NA MEDIDA EM QUE IMPULSIONARÁ E RETOMARÁ O CRESCIMENTO INDUSTRIAL NO PAÍS.” de 2016, que dispõe sobre o modelo comercial do setor elétrico, também abrindo o mercado de energia, atualmente no CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), aguardando recebimento de emendas. A rigor, fosse apenas para a liberação dos limites de tensão e potência, nenhum desses instrumentos teria sido necessário, visto que a Lei 9.074/1995 explicitamente delegou ao Poder Executivo poderes para reduzir esses limites após oito anos transcorridos da sua publicação, ou seja, 2003. Como nada foi feito, está-se aproveitando a ocasião para, com esses projetos, tratar de complementos necessários como, por
exemplo, liberar as distribuidoras para também negociar livremente seus excedentes ou seus déficits. Para resumir, ainda que sem liberdade ampla e irrestrita e sem medição simplificada, o mercado livre segue atraente. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, responsável pela contabilização e liquidação da energia no mercado, reporta que só neste ano mais de mil consumidores abriram processo para migração ao mercado livre. Em economia, não há milagres: se há preços mais baixos é porque eles são viáveis, e não há perdão para decisões erradas (lembro da MP 579) que cobram um alto preço mais a frente. edição 20 | FULL ENERGY
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mercado
Oportunidades EM TEMPOS DE CRISE
Retomada do crescimento no setor de petróleo e gás passa pela solução dos problemas da Petrobras 70
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O
setor de energia, envolvendo petróleo e gás, geração de energia elétrica e fontes alternativas, como eólica, solar e biomassa, representa um importante potencial como indutor do desenvolvimento nacional, pois movimenta uma extensa cadeia de valor. Com isso, o Brasil precisa de uma verdadeira política industrial que estimule e promova o desenvolvimento nacional a partir do uso inteligente da demanda gerada pelo setor de energia. “Não se trata de protecionismo, mas sim de medidas para dotar o país de um sólido, eficiente, competitivo e sustentável parque industrial”, defende Alberto Machado Neto, diretor Executivo de Petróleo e Gás da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) e professor e coordenador acadêmico do MBA em Gestão em Petróleo e Gás.
Machado descreve a crise atual no setor de Petróleo e Gás da seguinte maneira: “Além da expressiva redução do preço internacional do barril do petróleo, fator que reduz o faturamento das empresas e, em consequência, seus investimentos, a demanda por bens e serviços se torna muito inferior à oferta, levando a receitas que não pagam os respectivos custos. Adicionalmente, a crise política e econômica que se abateu sobre o país não possibilita refúgio em
outros segmentos, afinal todos vão mal. O crédito está difícil e caro, faltam garantias e, mesmo que, por ventura, haja vontade política para a implantação de uma política industrial consistente, há pouca ou nenhuma margem para incentivos creditícios e fiscais”, resume. Diante deste cenário, a prioridade do governo atual, como não poderia deixar de ser, é a recuperação do equilíbrio fiscal, de modo a viabilizar a retomada do crescimento. Para Machado, a palavra chave é “credibilidade”, seja de princípios, de competência, de objetivos ou mesmo de expectativa de encaminhamento de soluções viáveis e passíveis de que resultados sejam alcançados no curto prazo. Ele comenta que, em se tratando especificamente do setor de petróleo e gás, a retomada do crescimento passa pela solução dos problemas internos de sua principal locomotiva, a Petrobras, de modo a viabilizar a retomada de seus planos de investimento, não tão vultosos como os anteriores à crise, mas minimamente confiáveis. “Nesse caso, urge recuperar a confiança em pelo menos quatro segmentos da sociedade: os acionistas, para aportarem recursos via capital de risco quando necessário; os financiadores, para a disponibilização de novos créditos ou para negociação da dívida hoje existente; os empregados, para que retomem sua capacidade de gestão e, principalmente,
de decisão e, finalmente, mas não menos importante, toda a cadeia de valor formada pelos fornecedores de bens e serviços para que invistam e desenvolvam as tecnologias necessárias.” O executivo também lembra que, diferentemente de outros segmentos, quando uma empresa de petróleo deixa de investir, diminui de tamanho, pois os reservatórios responsáveis pela produção depletam a uma razão média de 10% ao ano. Assim sendo, uma empresa de petróleo tem que investir em novas áreas sempre, ainda que não adote uma estratégia de crescimento. Com isso, as demandas decorrentes dos investimentos, embora menores, continuam e são complementadas pelas demandas advindas das operações. Porém, o futuro pode ser pujante e promissor. “Dentre as razões para isso, três têm que ser levadas em conta: ainda existem muitas áreas a explorar (estima-se que, nos cerca de 150 anos que a humanidade usa o petróleo, menos de 30% de todo o petróleo existente no globo terrestre foi consumido até então). Nos próximos 40 anos, o petróleo ainda deve ser razoavelmente importante na matriz energética e também como matéria-prima para inúmeros produtos, alguns indispensáveis à nossa sobrevivência, e o Brasil conta com reservas significativas, entre as maiores do mundo”, enumera Machado.
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mercado
Petrobras e a crise no setor de Petróleo & Gás Segundo Machado, o estrago ocasionado pelo escândalo envolvendo a Petrobras foi importante, mas não foi o único culpado pela situação atual em que se encontra o país. A ele devem ser acrescentados, no âmbito interno, o aparelhamento político do setor que priorizou indicações políticas em detrimento da competência técnica, o uso da empresa como instrumento de política econômica congelando os preços dos combustíveis no mercado interno, a suspensão dos leilões de blocos exploratórios e a exigência de ter a Petrobras como operador único nos campos do pré-sal. Já no âmbito externo, a queda do preço do petróleo e das demais commodities e a desaceleração do crescimento dos principais países demandantes são alguns fatores. Outros agravantes são os baixos preços também no mercado internacional. Sendo assim, como o setor poderá se reerguer no País? Machado diz que os preços tendem a buscar um equilíbrio no médio prazo. “Dificilmente teremos o petróleo, de novo, a mais de USD 100 nesta década, mas também dificilmente ficará por muito tempo no patamar atual, tendendo a se aproximar dos USD 70 nos próximos dois ou três anos”, avalia. Por outro lado, ele lembra que o cenário de preço baixo leva à busca pela redução de custos, de modo a cada vez fazer mais por menos. “Se nós juntarmos os dois fatores, podemos ter esperança no reerguimento do setor no País. Não podemos nos esquecer de nosso invejável potencial de reservas de óleo e gás, que nos coloca em posição de destaque em termos internacionais. Como o ditado que diz ‘enquanto há vida, há esperança’, podemos dizer que ‘enquanto há reservas há esperança’, só que não temos muito tempo para monetizá-las, pois especialistas estimam que em cerca de 40 anos o petróleo não terá mais a mesma importância econômica que tem atualmente”, ressalta. 72
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Alberto Machado Neto, Diretor Executivo da Abimaq
“O crédito está difícil e caro, faltam garantias e, mesmo que, por ventura, haja vontade política para a implantação de uma política industrial consistente, há pouca ou nenhuma margem para incentivos creditícios e fiscais.”
Em relação aos investimentos, Machado afirma que os mesmos estão praticamente parados. A indústria tem sobrevivido com as demandas de reposição. Para os poucos investimentos em andamento há ainda o problema da inadimplência e do envolvimento dos principais demandantes em casos de corrupção que estão sendo investigados.
Substituição de Petróleo & Gás Ao ser indagado se o Petróleo & Gás poderão ser substituídos definitivamente algum dia, o executivo da Abimaq responde que não totalmente, mas em boa parte sim. “Muitos fabricantes de automóveis já anunciam o fim da fabricação de motores à explosão antes de meados deste século. Haverá fortes restrições à queima de combustíveis fósseis e, desse modo, a tendência é o petróleo perder parte da importância como energético, mas deve continuar importante como matéria-prima”, avalia. Muito tem se falado sobre o gás de xisto e pré-sal. O gás de xisto depende ainda de melhor entendimento quanto aos riscos ambientais, mas o pré-sal já é uma realidade e sua participação na produção nacional de óleo e gás deve crescer significativa-
mente nos próximos anos. Já o gás natural, por ser mais “limpo” que o petróleo, tende a aumentar sua participação na matriz energética nacional e também deverá crescer como matéria-prima para a indústria de plásticos e fertilizantes. Novo governo Em relação ao novo ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, Machado espera que ele consiga conduzir o setor com uma visão
macro de todas as áreas envolvidas, principalmente com o entendimento da enorme capacidade de alavancagem que o setor, sob a responsabilidade do MME, tem da economia nacional, mediante o aproveitamento de suas demandas de bens e serviços em prol do desenvolvimento da indústria, engenharia e tecnologia. “Minha esperança é que o novo Ministro consiga seguir exemplos como o da Noruega ou do Reino Unido, que, ao invés de simplesmente priorizarem a produção de petróleo ou a geração de energia buscaram sua utilização como ferramenta para o desenvolvimento nacional.” Na visão da indústria, para que o setor de Petróleo & Gás se desenvolva e cresça ainda mais com liquidez e rentabilidade, é preciso reconquistar a confiança, a credibilidade e sinalizar claramente os planos futuros, adotando medidas que tornem toda a cadeia de valor do setor de petróleo e gás sustentável e competitivo em termos internacionais. “Destaco que, até o momento, nunca frutificaram medidas que objetivassem o crescimento homogêneo de toda a cadeia de valor. As que foram adotadas até o presente momento, como o Repetro, a exigência de índice mínimos de Conteúdo Local, o Fundo de Marinha Mercante, entre outras ficaram limitadas, apenas, a alguns elos da cadeia”, conclui Machado.
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Esrtatégia
Fotos: Divulgação
Conhecimento e NOVAS TECNOLOGIAS
Compradores brasileiros e internacionais passaram pela Fenasucro & AGrocana 2015
Fenasucro & Agrocana chega à 24ª edição e aposta em inovação para movimentar R$ 2,8 bilhões em negócios
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ma das maiores feiras do mundo voltada exclusivamente ao setor sucroenergético, a Fenasucro & Agrocana chega este ano à 24ª edição e aposta em tecnologia e soluções inovadoras para repetir o desempenho alcançado em 2015 e movimentar R$ 2,8 bilhões em negócios. O evento, que acontece entre os dias 23 e 26 de agosto nos pavilhões do Centro de Eventos Zanini, em Sertãozinho (SP), irá reunir líderes do mercado e os principais compradores do setor do Brasil e de outros 40 países. Com aproximadamente mil marcas expostas, a expectativa é atrair cerca de 30 mil visitantes nos quatro dias de evento, com potencial de gera-
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ção de negócios até seis meses após a feira. De acordo com Paulo Montabone, gerente geral da Fenasucro, uma das principais novidades da feira este ano é a ampliação da grade do Espaço de Conferências, que contará com mais de 200 horas de eventos gratuitos para qualificação do público visitante – mais que o dobro realizado na 23ª edição, em 2015. “Apostamos no conhecimento e no acesso às novas
tecnologias para que os profissionais do setor sucroenergético se capacitem e criem novas possibilidades de negócios. Para isso, contamos com a presença de especialistas que debaterão temas relacionados a toda cadeia produtiva canavieira. Já na área de negócios, teremos um portfólio de produtos bem abrangente contendo novidades na Indústria, Agrícola, Transporte e Logística, Bioenergia, entre outros”, afirma.
24ª edição da Fenasucro acontece entre os dias 22 e 26 de agosto
A Fenasucro é uma das maiores feiras do mundo voltada exclusivamente ao setor sucroenergético
Feira é a principal vitrine tecnológica do setor sucroenergético
Entre os principais temas abordados na grade de eventos estão a Conferência DATAGRO CEISE Br, Seminário de Bioeletricidade, Encontro de Irrigação e Fertirrigação de Cana-de-Açúcar, Fórum de Comunicação do Setor Sucroenergético, Encontro de Empresários do Grupo LIDE, Seminário de Transporte e Logística, entre outros. Montabone acredita que a capacitação, aliada às soluções e inovações tecnológicas que a feira traz para toda a cadeia produtiva, são essenciais para a atualização dos profissionais, ainda mais diante do atual cenário de retomada do setor. “O setor sucroenergético está vivendo um período de retomada, e, para estar preparado para a nova era do setor, o profissional deverá estar capacitado para alavancar a produtividade e gerar negócios. É preciso estar atualizado e em consonância com as necessidades do mercado, cada vez mais dinâmico e exigente”, diz.
Inovação à palma da mão
Os visitantes da Fenasucro contam pela segunda vez consecutiva com o aplicativo oficial da feira, que tem como principal objetivo facilitar o planejamento do público nos quatro dias de evento e fomentar negócios durante e após a feira. O programa funciona em aparelhos com sistema operacional Android e iOS, e pode ser adquirido gratuitatamente na Apple Store e na Google Play Store. O app traz, entre outras coisas, todas as notícias e informações técnicas referentes à Fenasucro, além de permitir ao usuário a marcação de produtos e expositores favoritos, a definição de rotas entre os estandes e até o agendamento de reuniões. “Acreditamos que promover o aperfeiçoamento técnico e o acesso às tendências e novas tecnologias é um diferencial do evento para o seu público. Hoje a internet tem grande contribuição na formação de opinião sobre empresas e produtos, e queremos atender esta demanda tecnológica que cresce a cada dia”, afirma Paulo Montabone, gerente geral da Fenasucro.
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Foto: Fabrício Fiacadori
Estratégia
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APOSTAMOS NO CONHECIMENTO E NO ACESSO ÀS NOVAS TECNOLOGIAS PARA QUE OS PROFISSIONAIS DO SETOR SUCROENERGÉTICO SE CAPACITEM E CRIEM NOVAS POSSIBILIDADES DE NEGÓCIOS.” Paulo Montabone
Paulo Montabone, gerente geral da Fenasucro
Com perspectivas de crescimento do setor, através do aumento do consumo de açúcar, etanol e energia limpa, as perspectivas também se voltam para a indústria. Com o objetivo de atingir toda a cadeia produtiva da cana-de-açúcar, o evento este ano deve aproximar mais ainda as áreas agrícola e industrial. “A feira é o principal termômetro da cadeia sucroenegética. Entendemos que a interação entre os dois setores é fundamental. Não adianta termos uma produção de cana de má qualidade diante de uma indústria top de linha ou vice-versa”, afirma Montabone. Para Paulo Gallo, presidente do CEISE Br, o desempenho da feira deve confirmar as expectativas de retomada do setor. “A recuperação poderá acontecer já neste segundo semestre, pela demanda por serviços de manutenção. Para 2017, há previsão de retorno de algumas ampliações e pequenos investimentos, e, mais efetivamente, a partir de 2018, se não houver nenhuma grande surpresa no cenário econômico, poderá ocorrer uma retomada mais robusta abrangendo toda a cadeia produtiva sucroenergética”, aponta. 76
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Serviço 24ª Fenasucro & Agrocana Data: 23 a 26 de agosto de 2016 Horário: 8h às 18h – Espaço de Conferências 13h às 20h – Área de exposição Local: Centro de Eventos Zanini (Marginal João Olézio Marques, nº 3.563) – Sertãozinho (SP) Informações: http://www.fenasucro.com.br/
Foto: Divulgação
Otimismo no setor
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Ponto Final
O arquivamento de Tapajós e a necessidade de um plano de geração de energia equivalente
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o último dia 4 de agosto, o Ibama negou a concessão da licença ambiental para a construção da Usina Hidrelétrica São Luiz do Tapajós, no Pará. A permissão, que havia sido solicitada em 2009, teve negativa assinada pela presidente do instituto, Suely Araújo, que considerou que o projeto e o estudo de impacto ambiental não tinham conteúdo suficiente para análise da viabilidade ambiental do empreendimento. A decisão também foi baseada em pareceres da AGU (Advocacia-Geral da União) e da Funai (Fundação Nacional do Índio), que alegaram impedimentos legais e constitucionais ao licenciamento ambiental da usina, já que a construção implicaria no alagamento de terras indígenas. Tapajós, no entanto, seria o maior projeto hidrelétrico previsto para o país nos próximos anos. Com investimento previsto de R$ 30 bilhões, a usina teria a capacidade para gerar 8 mil MW, o que equivale 72% da potência projetada para Belo Monte (PA), maior hidrelétrica em
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Usina de São Luiz do Tapajós teve projeto arquivado pelo Ibama
construção no país que já começou a operar, no rio Xingu. A EPE (Empresa de Pesquisa Energética), órgão do MME (Ministério de Minas e Energia), projetava, com a construção de Tapajós, agreagar 73,6 mil MW ao sistema nacional até 2024, o que representa crescimento de 55% sobre a base atual de 132,9 mil MW. Resta agora, ao governo brasileiro, a elaboração de um plano para geração de energia equivalente à capacidade esperada em Tapajós. O Planalto já pediu às pastas de Minas e Energia e Meio Ambiente soluções que impliquem o uso de energia solar, eólica e de pequenas hidrelétricas para aumentar a capaci-
dade de geração no país. A discussão também abre espaço para o projeto nuclear brasileiro, que até então já estimava a construção de oito novas usinas no Brasil até 2050. O ministro do Meio Ambiente do governo interino, José Sarney Filho (PV), defendeu que a energia correspondente a Tapajós poderia ser suprida com fontes alternativas, como a queima do bagaço de cana-de-açúcar e a energia eólica, por exemplo. Segundo Sarney Filho, o hiato criado pela crise é uma oportunidade que o Brasil tem para reorientar os investimentos em todos os setores de energia.
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Eventos 2016 Setembro X Conferência de PCH - Pequenas Centrais Hidrelétricas, Mercado e Meio Ambiente Local: Hotel Maksoud Plaza – São Paulo (SP)
Data: 13 e 14 de setembro Informações: http://centraishidreletricas.com/ PowerGrid Brazil Local: Centro de Convenções da Expoville – Joinville (SC)
Data: 13 a 16 de setembro Informações: http://www.powergrid.com.br/
TI Energia 2016 - Encontro de Tecnologia da Informação do Setor Elétrico Brasileiro Local: Sheraton Reserva do Paiva Hotel – Cabo de Santo Agostinho (PE)
Data: 21 a 23 de setembro Informações: http://www.tienergia.com.br/
Outubro 16ª Conferência Internacional Datagro sobre açúcar e etanol Local: Hotel Grand Hyatt – São Paulo (SP)
Data: 17 e 18 de outubro Informações: http://www.conferenciadatagro.com.br/ Rio Oil and Gas - Expo and Conference Local: Riocentro – Rio de Janeiro (RJ)
Data: 24 a 27 de outubro Informações: http://www.riooilgas.com.br/
EXPEDIENTE CEO/Publisher: Edmilson Jr. Caparelli Diretora-administrativa: Lúcia Rodrigues Diretora-financeira: Janaiana Marques Diretora de Arte: Erica Almeida Alves Diretor de Marketing: Jailson Rainer Diretor Executivo: Marco Baldan Diretora Comercial: Giovana Teixeira Diretor de Projetos Especiais e Customizados: Márcio Ribeiro Diretora Editoral: Carla de Paula Pinto Editora da Revista Full Energy: Fernanda Testa Redação: Maísa Oliveira Estagiária: Juliana Ijanc’ e Kahel Ferreira Colaboração: Diana Nascimento Produtora de Arte: Valéria Vilas Bôas Coordenação de Pesquisa: Janaína Novais Executivos de Contas: Anderson Siqueira, Faber Fidelis e Fernanda Perucheti Assinaturas e Circulação: assinatura@grupomidia.com Atendimento ao Leitor: atendimento@grupomidia.com Projetos Editoriais: projetoseditoriais@grupomidia.com Contatos: Matriz: (16) 3629-3010 | Sucursal: (11) 3014-2499 contato@grupomidia.com | redacao@grupomidia.com | comercial@grupomidia.com Matriz: Rua Aureliano Garcia de Oliveira, 256 - Ribeirão Preto - SP Filial: Av. Paulista, 1471 - 11º Andar - São Paulo - SP
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