Full Energy 22ª Edição

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Editorial

2016, o ano da consolidação

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o ser escrita em chinês, a palavra crise é composta por dois caracteres: um representa perigo, e o outro remete a oportunidade. Não há como negar que o ano que acaba reservou fortes emoções. Foi marcado por baixa atividade econômica, turbulências políticas e insegurança para investidores. Apesar do cenário delicado, 2016 foi um ano de superação para o Grupo Mídia. Com uma atuação consagrada na área da Saúde, com várias publicações reconhecidas por sua qualidade editorial, o Grupo fortaleceu sua atuação em outros segmentos, como Energia. O ano que chega ao fim foi de consolidação para a Full Energy. Sempre trazendo matérias atuais e com grande ênfase em gestão e negócios, a publicação já se destaca entre as principais revistas nacionais deste segmento. É verdade que o setor energético brasileiro é um dos que mais sofrem com a instabilidade econômica e política do país. Mas, como disse o físico alemão Albert Einstein: “Em momentos de crise, só a imaginação é mais importante que o conhecimento.” Mesmo diante de um cenário difícil, o Grupo Mídia ousou. Promoveu,

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Edmilson Jr. Caparelli

CEO | Publisher

no mês de novembro, o evento “100 Mais Influentes da Energia”, premiando as personalidades que mais se destacaram no setor energético nacional em 2016. Paralelamente, também organizou o 1º. Fórum Full Energy, discutindo os principais temas relacionados à conjuntura energética, com a participação de autoridades das mais diferentes matrizes. Poucos veículos de comunicação da área de energia deram um passo tão arrojado em tão pouco tempo. E estamos prontos para ir além. Das novidades para 2017, além de novas editorias e reportagens aprofundadas, a Full Energy vem com um time reforçado. Marcelo Caparelli traz sua experiência para comandar o departamento comercial, e o jornalista Clivonei Roberto assume o jornalismo da publicação, depois de uma longa trajetória no setor sucroenergético. Vamos nos encontrar muito ao longo do próximo ano, enfocando os principais assuntos do setor de energia e levando informação de qualidade aos gestores e especialistas de um dos segmentos mais importantes do país. Afinal, citando outra frase de Einstein, “Quem supera a crise, supera a si mesmo.”



NESTA EDIÇÃO

OUTUBRO - NOVEMBRO

Código de Cores A Full Energy organiza suas editorias pelo código de cores abaixo: Líderes e Práticas Sustentabilidade Tecnologia e Inovação Mercado Gente e Gestão Ideias e Tendências Estratégia

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Rio Oil & Gas 2016 Maior evento do setor de energia da América Latina discute questões regulatórias e econômicas para estímulo à competitividade das indústrias de óleo e gás no Brasil

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Para onde vamos? Expectativas e anseios para o setor energético em 2017

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Sorgo que te quero bem Produzir etanol e biomassa com sorgo após o fim do ciclo de processamento da cana possibilita à usina diluir seus custos e aumentar o uso do parque industrial da empresa

Articulistas:

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Ventos incertos Cancelamento do 2º Leilão de Compra de Energia de Reserva de 2016 representa ameaça para a cadeia produtiva eólica brasileira

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Aumentar a produtividade e reduzir custos Especialistas e profissionais de usinas apresentaram, durante Seminário em Ribeirão Preto, segredos e inovações para aumentar a produtividade e reduzir custos

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É tempo de plantar Um impulso à bioeletricidade dependerá da recuperação econômica do país

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Fórum Full Energy e 100 Mais Influentes da Energia Um dia dedicado a propostas, debates, palestras e premiação para o setor de energia do país

Rodrigo Thadeu de Araújo


DOSSIÊ Petrobras

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COP-22: chegou a hora de colocar os compromissos em prática As ações brasileiras priorizam os setores que mais contribuem com as emissões de gases de efeito estufa no país, como agropecuária, energia e uso de terras e florestas

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Entressafra de recuperação “Antes só víamos a redução dos negócios, mas neste ano temos um cenário melhor do que no mesmo período de 2015”

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Xisto: revolução ou problema? SO Brasil tem a 10ª maior reserva mundial de gás de xisto; por causa dos riscos ambientais, ativistas e comunidades lutam contra a exploração desta fonte energética no país

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Perguntas para...

Everton Frask Lucero, do Ministério do Meio Ambiente

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Perfil

Paulo Gallo, presidente do Ceise_Br

Efeito colateral: A origem da crise

Fase de recuperação

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Ponto Final

Esperança renovada

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Fotos: Divulgação

ALTA TENSÃO Temer sanciona Lei que flexibiliza participação da Petrobras no Pré-Sal A Petrobras agora tem preferência na escolha das licitações na região do Pré-Sal das quais quer participar, sendo consultada pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) para exercer ou não seu direito de prioridade. O Projeto de Lei nº 4.567, sancionado por Michel Temer em novembro, flexibiliza a obrigação da petroleira de ser operadora única e de ter a participação mínima de 30% nos consórcios referentes às áreas do Pré-Sal. Com a mudança, a expectativa do governo é atrair novos empreendedores para a exploração dessas áreas, com consequente geração de renda por meio do pagamento de impostos, royalties e participações especiais. Enquanto isso, espera-se que a Petrobras possa se dedicar à sua atividade-fim de forma mais competitiva.

Fontes renováveis se destacam na matriz energética brasileira A participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira é três vezes superior ao indicador mundial. A constatação baseia-se em dados do boletim “Energia no Mundo 2014-2015”, divulgado anualmente pelo Ministério de Minas e Energia. Segundo o boletim, em 2015 as fontes renováveis apresentaram participação de 41,2% na matriz energética do país, enquanto o indicador mundial foi de 13,8%. No mesmo ano, o Brasil também se destacou na matriz de geração elétrica com 74% de renováveis, quase o triplo do índice mundial, de 23,8%. O estudo apontou, ainda, que as fontes mais consumidas no planeta são: petróleo (31,4%); carvão mineral (28,1%); gás natural (21,6%); energia nuclear (4,9%); energia hidráulica (2,6%) e outras fontes não especificadas (11,4%).

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Hidrelétrica Jirau Localizada a 120 km de Porto Velho, Rondônia, a Usina Hidrelétrica Jirau foi oficialmente inaugurada no dia 16 de dezembro. Situada no Rio Madeira, a usina é a terceira maior geradora de energia elétrica do Brasil. Com potência instalada de 3.750 megawats, 50 turbinas e capacidade para atender cerca de 40 milhões de pessoas, Jirau recebeu investimentos na ordem de R$ 19 bilhões. As obras de construção civil começaram em 2009. O projeto surgiu como alternativa para o atendimento da demanda de energia do setor elétrico nacional. A usina foi entregue com um atraso de 20 meses em relação ao cronograma inicial, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Fotos: Divulgação

Brasil atinge recorde anual de nova capacidade instalada de energia elétrica O ano ainda não acabou e o Brasil já superou sua meta quanto à energia elétrica nova adicionada ao sistema em 2016. Segundo o CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), até o último dia de novembro, a capacidade instalada de geração elétrica já somava 9.130 MW, 26% a mais do que a meta estabelecida para este ano, de 7.223 MW. Com isso, o país bate o recorde anterior de expansão da geração anual (7.509 MW), registrado em 2014. O CMSE também adianta que o risco de qualquer déficit de energia em 2017 é de 0,9% para os subsistemas Sudeste/ Centro-Oeste e de 0,1% para o Nordeste.

BNDES aprova criação de Fundo de Energia Sustentável O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) acaba de aprovar a criação do Fundo de Energia Sustentável, que investirá em ofertas primárias e no mercado secundário, em debêntures incentivadas de projetos de infraestrutura, prioritariamente em ativos relacionados a uma economia de baixo carbono. Com patrimônio de R$ 500 milhões e prazo de 15 anos, o Fundo de Energia Sustentável será incentivado nos termos do artigo 3º da Lei 12.431, assegurando a isenção para investidores pessoa física. O BNDES espera, com a iniciativa, incentivar a criação de um mercado de títulos verdes no Brasil, aumentar a base de investidores em infraestrutura e incrementar a liquidez de títulos de infraestrutura.

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Palavra do Editor

Da tormenta à esperança

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hora de virar a página. 2016 foi um daqueles anos que, literalmente, sugou muito de nossa energia. Que o diga uma das principais protagonistas do setor energético brasileiro, a Petrobras. Atingida em cheio pelas investigações da Operação Lava Jato, a companhia enfrenta a mais grave crise de sua história. Mas a causa dos problemas da empresa vai além da corrupção. Como frisa o cientista José Goldemberg, a situação em que a maior empresa brasileira se encontra está relacionada a anos seguidos de erros de gestão. Em uma das principais reportagens desta edição da Full Energy, apresentamos o Dossiê Petrobras. Vários especialistas em energia analisam a origem

Clivonei Roberto, Editor da Revista Full Energy

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da crise que a empresa enfrenta, mas também projetam um futuro de recuperação da companhia, agora sob a batuta de Pedro Parente. Na Editoria Estratégia, abordamos as discussões da COP-22 e os compromissos que estão sendo assumidos pelo mundo afora – inclusive no Brasil – para colocar em prática o Acordo de Paris. A matéria apresenta inclusive as contribuições brasileiras para redução das emissões de gases poluentes na área energética. Esta edição apresenta ainda o potencial bioenergético do sorgo sacarino, que pode ser utilizado como uma cultura complementar nas usinas de cana-de-açúcar, e também enfoca o potencial discutível da exploração do gás de xisto. No Brasil, vale a pena extrair este gás para produzir energia? O ano termina com sinais de esperança, o que abre a expectativa de que 2017 trará um tempo de retomada do crescimento econômico, estabilidade política e novos investimentos na área energética. Sinal de esperança vem do lançamento do programa RenovaBio 2030, que deverá trazer novos incentivos ao etanol no país e reconhecer as externalidades do setor sucroenergético. Esperança está nos novos rumos da gestão da Petrobras, marcada inclusive por uma política de preços para os combustíveis sintonizada com o mercado e isenta das “ideologias” que tanto prejudicaram a companhia e a economia brasileira nos últimos anos. Esperança também de que novas políticas ou projetos, voltados à área energética, serão colocados em prática ou destravados. E que tenhamos novas imagens como a do funcionamento da Hidrelétrica de Jirau. Terceira maior do país, a usina foi construída no estado de Rondônia e inaugurada oficialmente no apagar das luzes de 2016. Que 2017 seja um ano de boas notícias. Boa leitura!



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Perguntas para...

Everton Frask Lucero, do Ministério do Meio Ambiente

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Prioridade para as fontes renováveis

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Compromisso brasileiro é de aumentar a participação de bioenergia sustentável na matriz energética para aproximadamente 18% até 2030

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Lucero. Diplomata de carreira formado pelo Instituto Rio Branco, ele conversou com a Full Energy nesta edição, destacando as metas e estratégias brasileiras para o cumprimento do Acordo de Paris.

ezembro de 2015 foi histórico. Durante a COP21, na capital francesa, 195 nações aprovaram o Acordo de Paris, se comprometendo a reduzirem as emissões de gases poluentes. O resultado da conferência foi comemorado, mas agora é hora de ser colocado em prática. No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) tem a responsabilidade de articular, junto aos demais órgãos competentes do Governo e entidades da sociedade civil, as ações que apoiarão a implementação da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira ao Acordo de Paris. Para tal, a pasta iniciou a preparação de uma Estratégia Nacional de Implementação e Financiamento da NDC, que deverá ser construída e articulada com todos os setores interessados, por intermédio do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, durante o primeiro semestre de 2017. Um dos profissionais responsáveis pelos encaminhamentos relativos ao acordo, no âmbito do MMA, é o secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Everton Frask

Em cumprimento ao Acordo de Paris, quais são as metas e estratégias do país em bioenergia� Aumentar a participação de bioenergia sustentável na matriz energética brasileira para aproximadamente 18% até 2030, expandindo o consumo de biocombustíveis, aumentando a oferta de etanol, inclusive por meio do aumento da parcela de biocombustíveis avançados (segunda geração), e aumentando a parcela de biodiesel na mistura do diesel.

E quanto ao setor florestal� Fortalecer o cumprimento do Código Florestal, em âmbito federal, estadual e municipal; fortalecer políticas e medidas com vistas a alcançar, na Amazônia brasileira, o desmatamento ilegal zero até 2030 e a compensação das emissões de gases de efeito estufa provenientes da supressão legal da vegetação até 2030; restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, para múltiplos usos; ampliar a escala de sistemas de manejo sustentável de florestas nativas, por meio de sistemas de georreferenciamento e rastreabilidade aplicáveis ao manejo de florestas nativas, com vistas a desestimular práticas ilegais e insustentáveis.

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E em energia� Alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030, incluindo: expandir o uso de fontes renováveis, além da energia hídrica, na matriz total de energia para uma participação de 28% a 33% até 2030; expandir o uso doméstico de fontes de energia não fóssil, aumentando a parcela de energias renováveis (além da energia hídrica) no fornecimento de edição 22 | FULL ENERGY

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Perguntas para...

energia elétrica para ao menos 23% até 2030, inclusive pelo aumento da participação de eólica, biomassa e solar; alcançar 10% de ganhos de eficiência no setor elétrico até 2030.

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E os planos para o setor agrícola� Fortalecer o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC) como a principal estratégia para o desenvolvimento sustentável na agricultura, inclusive por meio da restauração adicional de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030 e pelo incremento de 5 milhões de hectares de sistemas de integração lavoura-pecuária-f lorestas (iLPF) até 2030.

O que o setor industrial pode esperar� Promover novos padrões de tecnologias limpas e ampliar medidas de eficiência energética e de infraestrutura de baixo carbono.

Quais são as metas para o setor de transporte� Promover medidas de eficiência, melhorias na infraestrutura de transportes e no transporte público em áreas urbanas.

O compromisso tende a reduzir a importância para o Brasil de energias fósseis� No contexto da NDC, pretende-se aumentar a participação das fontes renováveis na matriz energética nacional de 40% para 45%. Esse é um esforço ambicioso, dado que o país terá crescimento populacional e deverá promover crescimento econômico até

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2030. A título de comparação, um importante bloco de países se comprometeu com um patamar de 27% de renováveis em sua matriz energética até 2030.

Como ocorrerá esta transição� Fontes fósseis continuarão sendo utilizadas, uma vez que ainda representarão cerca de 55% da matriz energética brasileira em 2030. Contudo, o governo brasileiro vem empenhando esforços para uma transição para sistemas de energia baseados em fontes renováveis, em sintonia com uma descarbonização da economia mundial até o final deste século. Estará, assim, no contexto do desenvolvimento sustentável e do acesso aos meios financeiros e tecnológicos necessários para essa transição.

Serão implementadas políticas públicas para estímulo à ampliação das fontes limpas� Por exemplo, o BNDES promoveu recentemente alterações nas suas políticas de financiamento com vistas a contribuir para a ampliação de fontes de energias renováveis na matriz elétrica brasileira e direcionar investimentos em Taxa de Juros de Longo Prazo (TJPL) para projetos com alto retorno social e ambiental.

Quais fontes energéticas serão incentivadas� Segundo o BNDES, não haverá apoio a investimentos em termelétricas a carvão e óleo combustível. O banco também manteve elevada sua participação (em até 70% em TJLP) em energias renováveis como eólica, PCHs, biomassa e cogeração, e aprovou um aumento de até 80% no financiamento para projetos de energia solar, em TJLP. Antes esse valor era de até 70%.


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Mercado

Rio Oil & Gas 2016 Maior evento do setor de energia da América Latina discute questões regulatórias e econômicas para estímulo à competitividade das indústrias de óleo e gás no Brasil

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coando as preocupações de um setor que tem sofrido com a crise, a Rio Oil & Gas discutiu “Os caminhos para uma indústria de petróleo competitiva”. Nos quatro dias do evento, realizado em outubro, empresários, especialistas e autoridades debateram estratégias e mecanismos legais para dar novo fôlego ao setor frente aos desafios impostos globalmente, como a queda acentuada no preço do barril de petróleo entre 2015 e início de 2016, e nacionalmente, como o endividamento da Petrobras e os desdobramentos da Operação Lava-Jato.

Na abertura da feira, considerada a maior do setor de energia da América Latina, o presidente Michel Temer destacou que o Executivo e o Legislativo têm se empenhado para promover alterações na legislação que regula o setor de óleo e gás no Brasil, a fim de atrair novos investimentos. Neste sentido, o peemedebista lembrou o Projeto de Lei nº 4567/16 – que então tramitava no Senado e posteriormente foi sancionado por ele –, destinado a f lexibilizar a obrigação da Petrobras de atuar em todos os campos do Pré-Sal. Em consonância com Temer, o presidente da estatal,


Pedro Parente, argumentou que, sem a mudança na legislação, o desenvolvimento do Pré-Sal seria retardado e o setor público teria perdas significativas com a menor geração de royalties. Segundo Parente, a cada campo de petróleo são necessários até US$ 10 bilhões para iniciar a produção e quase a metade disso pode se transformar em receita para o setor público. Na ocasião, Jorge Camargo, presidente do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis) – entidade promotora Rio Oil & Gas –, enfatizou que a “abertura” à iniciativa privada será importante para o suprimento da demanda brasileira por combustíveis no futuro, uma vez que o país tem o quinto maior mercado de combustíveis do mundo. Além das discussões sobre a legislação que regula o setor, o evento oportunizou debates sobre compliance, conhecimento, engenharia, finanças, onshore, sustentabilidade e tecnologia nas arenas e fóruns realizados paralelamente ao congresso e à exposição. A programação incluiu, ainda, o Future Leaders Forum, maior encontro global de jovens profissionais da indústria de petróleo, e o Encontro de Asfalto, que debateu o desenvolvimento de produtos e tecnologias para pavimentação asfáltica.

Números e perspectivas Na 18ª edição da Rio Oil & Gas, passaram pelo Riocentro 34,2 mil visitantes, incluindo mais de 100 palestrantes, de 22 países, e 3.920 conferencistas. Além disso, participaram da exposição 540 empresas. Apesar dos números expressivos, em função da crise, a edição de 2016 foi bem mais enxuta que a de 2014, que contou com 1,3 mil empresas expositoras. Contudo, entre os participantes, o clima era de confiança de que a situação do setor tende a melhorar. “A gente entende que, apesar dos desafios no segmento, o pessoal que vive e respira o negócio do petróleo ainda se encontra confiante de que a indústria, de certa forma, vai encontrar um caminho. Situações de desafio, de crise, trazem também a necessidade de todos que fazem parte desse jogo repensarem suas estra-

tégias e a maneira com que atuam no mercado e isso faz com que algumas oportunidades possam aparecer”, salientou Valter Zinato, diretor executivo de Fluid Handling Solutions da Trelleborg, uma das expositoras. Durante a feira, a empresa lançou sua solução para soldagem de vedação in loco. “Se você tem um navio de FPSO para passar por manutenção, ao invés de ele voltar para o estaleiro, isso pode ser feito em alto-mar, com uma equipe nossa, que vai, faz toda a parte de desmontagem, soldagem, substituição de vedação e soldagem dessas vedações. Desta forma, economiza-se tempo e recursos, já que estes navios têm que estar trabalhando a toda hora”, esclareceu Osvaldo Hirama, gerente geral da Trelleborg. edição 22 | FULL ENERGY

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mercado

“A �ABERTURA� À INICIATIVA PRIVADA SERÁ IMPORTANTE PARA O SUPRIMENTO DA DEMANDA BRASILEIRA POR COMBUSTÍVEIS NO FUTURO, UMA VEZ QUE O PAÍS TEM O QUINTO MAIOR MERCADO DE COMBUSTÍVEIS DO MUNDO”

Jorge Camargo, presidente do IBP

Premiações Com o objetivo de reconhecer personalidades que contribuem para o desenvolvimento do setor de petróleo e gás, durante a Rio Oil & Gas, o IBP entregou o Prêmio “Leopoldo Miguez” a João Carlos de Luca, diretor-presidente da Barra Energia, atual conselheiro e ex-presidente do IBP. No evento, o Instituto também concedeu o Prêmio “Plínio Cantanhede”, homenagem aos autores dos melhores trabalhos técnicos apresentados em todos os eventos promovidos pelo IBP no período de julho de 2014 a junho de 2016. Nesta edição, foram premiados cinco trabalhos, os quais ficarão disponíveis para consulta na biblioteca do Instituto. 24

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Foto: Divulgação CoppeUFRJ

artigo

Brasil: perspectivas para o setor de energia em 2017

Amaro Pereira Junior,

Professor do Programa de Planejamento Energé�co da Coppe/ UFRJ

O ritmo de expansão dos projetos estruturantes é bem lento, mas pode começar a melhorar em 2017, dependendo da solução dos problemas políticos e econômicos do país

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ano que se encerra foi marcado não somente pelo aprofundamento da crise econômica, mas também por grandes problemas políticos que culminaram com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O governo que assumiu terá apenas dois anos de mandato. No meio do caminho, há o ano de 2017, do qual se espera que a economia do país saia do fundo do poço. Esta solução passa, entre outras coisas, pela eliminação dos gargalos em infraestrutura, em geral, e no setor de energia, em particular, para atração de novos investimentos. Tal tarefa não será das mais fáceis, visto que vários projetos de geração e transmissão de energia elétrica, de exploração de petróleo e gás natural e refino estão parados ou com grande atraso. No setor elétrico, há problemas regulatórios que precisam ser resolvidos para que os leilões de energia nova e de transmissão voltem a ser atrativos para os potenciais investidores. O setor também padeceu com medidas que se mostraram equivocadas, como a renovação das concessões, aliado a uma situação hidrológica desfavorável que resultou em uma elevação considerável nas tarifas. Para 2017, não há perspectivas de melhoras, entretanto, um amplo debate sobre o modelo regulatório em vigor pode ajudar a contornar o problema e preparar o país para a retomada do crescimento, que demandará a expansão da capacidade do sistema.

Na área de petróleo e gás natural, houve uma combinação de redução/interrupção de investimentos com queda abrupta do preço do petróleo no mercado internacional. A desaceleração das atividades atingiu em cheio os estados produtores, com destaque para o Rio de Janeiro. Ao contrário do que vem ocorrendo no setor elétrico, já há mudanças na regulação no sentido de criar condições para a retomada dos investimentos, com destaque para a mudança da lei de partilha que retirou a obrigação da participação da Petrobras de 30% nos consórcios de exploração de recursos do pré-sal. Espera-se que haja avanços também na regulação referente ao gás natural, para que se eliminem as barreiras existentes para atração de investimentos, principalmente na malha de gasodutos. O ano de 2017 também deve ser marcado pela continuidade da expansão na geração eólica e na energia solar fotovoltaica.

Em 2016 a capacidade instalada eólica atingiu a marca de 10 GW, havendo ainda mais 3 GW em construção. A geração solar fotovoltaica também está em franca expansão, tanto no sistema interligado como na geração distribuída. Há ainda boas perspectivas para os biocombustíveis, dependendo da mudança da política de preços dos combustíveis. Enfim, o ritmo de expansão dos projetos estruturantes é bem lento, mas pode começar a melhorar em 2017, dependendo da solução dos problemas políticos e econômicos do país. Há boas perspectivas para as novas fontes renováveis, como as eólicas e as fotovoltaicas, embora o volume de investimentos envolvido nessas tecnologias ainda seja pequeno se comparado com os que envolvem hidrelétricas e o setor de petróleo. Vamos torcer para que, sem sobressaltos, possamos chegar em 2018 com a verdadeira condição de retomada do crescimento.

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Ideias e Tendências | Perspectivas

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Para onde vamos? Expectativas e anseios para o setor energético em 2017

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rojetos de refinarias, hidrelétricas e da Usina Nuclear Angra 3 tiveram sua construção interrompida em 2016 por problemas de ordem política e econômica e são, segundo o professor de Planejamento Energético da Coppe / UFRJ, Amaro Pereira, exemplos de como o ano foi negativo para o setor energético. A queda no consumo de energia elétrica registrada ao longo do ano e acontecimentos recentes, como o cancelamento do leilão de contratação de energia eólica, antecipam um cenário igualmente desafiador para 2017. A seguir, são apresentadas expectativas e anseios para o setor energético com base na perspectiva de empresários e líderes de entidades. edição 22 | FULL ENERGY

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Ideias e Tendências | Perspectivas

Setor sucroenergético Com o objetivo de aumentar a participação de biocombustíveis na matriz energética brasileira até 2030, o plano RenovaBio 2030 acaba de ser lançado pelo MME (Ministério de Minas e Energia) em parceria com entidades do segmento sucroenergético. Entre as metas para o período, está a expansão do volume de etanol, de 28 bilhões para 54 bilhões de litros. O plano é uma das ações do país para cumprir os compromissos assumidos por meio do Acordo de Paris, tratado internacional para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e frear o aquecimento global. “O ano de 2107 será muito difícil, porque as previsões indicam que novamente o país não terá crescimento econômico e, como consequência, o mercado de energia e combustíveis ficará estagnado. Contudo, o próximo ano poderá representar um ponto de inflexão na curva de produção do setor sucroenergético, em função da institucionalização dos compromissos assumidos pelo governo brasileiro no Acordo Climático, pós COP-21”, salienta Mário Campos, presidente da Siamig (Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais). Na visão de Campos, em 2017 as bases para o cumprimento do acordo climático e 28

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Mark Lyra, CEO da Cosan Biomassa

para a redução do gap energético de combustíveis projetado para 2030 poderão ser definidas e o setor tem todas as condições de ser protagonista nesse cenário, porque produz energia limpa e renovável, com grande contribuição ambiental e social. Em consonância, Mark Lyra, CEO da Cosan Biomassa, ressalta: “Em 2017, podemos esperar mais definições de como cada governo pretende desenhar o caminho para atingir as metas de redução de emissões de gases do efeito estufa e isto dará a sinalização necessária para investimentos por parte da iniciativa privada.” A expectativa no setor é

que o RenovaBio se torne lei e que, em março de 2017, seja realizada uma consulta pública sobre sua primeira versão, a qual deve ser discutida até fevereiro. Ao fazer um balanço de 2016, Lyra cita a consolidação da produção de pellets de biomassa como uma das maiores inovações no setor de energia. “Temos aqui no Brasil um grande potencial para expandir essa tecnologia gerando energia limpa e renovável para o mundo. Conseguimos mostrar que é possível transformar resíduos da cana-de-açúcar em um combustível capaz de substituir carvão na geração de energia com grande eficiência.”


Energia elétrica Um dos principais temas de 2016 na agenda das distribuidoras de energia elétrica foi a sobrecontratação. O fim do ano se aproxima, mas os impasses estão longe de serem resolvidos, devendo se estender até 2017. Com a queda de demanda dos consumidores, distribuidoras como a AES Eletropaulo encontram-se com excesso de energia contratada em decorrência da sobrecontratação no Leilão A-1 de 2015,

tendo que vender as sobras com prejuízo no mercado spot de eletricidade. Em abril deste ano, a companhia recorreu à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), em uma tentativa de que o órgão regulador encontrasse uma solução para o problema. A companhia alega que a sobrecontratação foi involuntária, argumentando que as regras dos leilões de energia obrigam as distribuidoras a repor, pelo menos, 96%

Mário Campos, presidente da Siamig

dos contratos de compra de eletricidade que vencem a cada ano, visando garantir que não faltará fornecimento para os clientes, mesmo se o consumo estiver em baixa. Em função da regulamentação, a AES Eletropaulo alega ter sido obrigada a recomprar no Leilão A-1 a maior parte de um contrato bilateral com a AES Tietê, encerrado em 2015, mesmo ciente que não precisaria daquela contratação. Ou seja, segundo a distribuidora, não havia mecanismos regulatórios que lhe permitissem evitar a situação. Em dezembro, a Superintendência de Regulação Econômica e de Estudos de Mercado da Aneel publicou nota técnica negando o pedido de considerar como involuntária a contratação no leilão de 2015. O órgão considerou que o argumento de obrigação legal não é válido porque,

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Ideias e Tendências | Perspectivas

Charles Lenzi, presidente da AES Eletropaulo

segundo a Aneel - pela regra vigente -, se a distribuidora optar por declarar no leilão um valor menor do que 96% do seu montante de reposição, pode sofrer a glosa na parcela não declarada – por um intervalo de três anos – sobre os contratos de energia nova de maior preço. “Dessa forma, não há contratação compulsória. O que há é a possível limitação no repasse ao consumidor da energia contratada nos leilões provenientes de novos empreendimentos. Concomitantemente, há penalidades associadas à exposição con30

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tratual e à sobrecontratação”, afirma a nota. O documento também indica que as distribuidoras deveriam elaborar melhor suas estratégias, a fim de evitar perdas financeiras e ter ganhos. Ao falar sobre as perspectivas para o setor em 2017, Charles Lenzi, presidente da AES Eletropaulo, avalia que o próximo ano ainda reserva desafios em relação ao impacto da queda de demanda e às dificuldades econômicas do país. “Grandes temas do setor elétrico, como a sobrecontratação, devem ser endereçados em busca de um cenário de

recuperação. É importante que todos os agentes do setor continuem trabalhando nesse sentido, incentivando o desenvolvimento de um ambiente adequado e propício para a realização de novos investimentos.” Sobre os planos da companhia daqui para frente, Lenzi detalha: “O grande objetivo da AES Eletropaulo é a recuperação de valor da distribuidora, o que envolve melhorias na satisfação do cliente, indicadores de qualidade, gestão da receita e investimentos em inovação e tecnologia da rede.”


MME: por um ambiente mais atrativo

Petróleo Em 2016, os países membros da OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo) se uniram para anunciar, em meados de dezembro, o corte da produção do combustível, visando reequilibrar o mercado. Depois da iniciativa, os preços dos contratos do petróleo oscilaram bastante. Mas o que se pode esperar do combustível para 2017? Os especialistas discordam sobre o cenário de preços para o próximo ano. Para o Grupo de Energia PIRA, que previu o colapso inicial dos preços do petróleo um ano atrás, observou para a possibilidade de elevação dos preços para US$ 75 dentro de dois anos. Já o Goldman Sachs tem posição diferente. Para o banco, o movimento de alta dos preços não tem fundamentos que o sustentem. Na projeção da instituição, os preços deverão continuar baixos por mais tempo. O comportamento da cotação internacional dos preços do petróleo deverá ser um dos principais temas do setor no próximo ano.

Em nota encaminhada à Full Energy, o Ministério de Minas e Energia afirmou que enfrentou em 2016 múltiplos desafios, como alinhar a realidade física ao planejamento, buscando a racionalização de subsídios, e criando um ambiente mais atraente aos investimentos, através de regras claras e estabilidade institucional. O primeiro leilão de linhas de transmissão da gestão do ministro Fernando Coelho Filho e do governo do Presidente Michel Temer atraiu quase a totalidade dos investimentos previstos. A disputa, realizada em 28 de outubro, resultou em investimentos de R$ 11,6 bilhões, o que equivale a 92% da previsão inicial (R$ 12 bilhões). Foram vendidos 21 dos 24 lotes oferecidos. A venda da Celg-D também foi uma forma de evidenciar o compromisso do governo em continuar trabalhando para que o ambiente de investimentos no país seja atrativo, com transparência e estabilidade regulatória. A negociação marcou também o início de um processo que levará a leilão outras seis distribuidoras da Eletrobras, o que deve ocorre até o final de 2017. De acordo com o MME, tal medida trará vários benefícios: - para os Estados, permitindo o seu desenvolvimento e atração de investimentos, gerando emprego e renda; - para os consumidores, com melhoria no atendimento e mais qualidade de serviço; - e também para todo o segmento de distribuição no país, que terá novos níveis de qualidade. Durante o ano de 2016, foram realizados os leilões de Energia Nova e de Reserva, com investimentos da ordem de R$ 2,9 bilhões, em 59 empreendimentos para o setor energético. Desse total, foram 29 usinas negociadas no leilão de Energia Nova (21 de hidrelétricas, 6 de biomassa e 1 de gás natural), e outros 30 empreendimentos do Leilão de Reserva, sendo todos de hidrelétricas. Para 2017, a pasta, espera continuar trabalhando para um ambiente que possa atrair investidores e colaborar com o processo de retomada do crescimento econômico. “Ressaltamos que a realização dos leilões segue a política de garantir o suprimento energético considerando pontos como a diversificação de fontes e a segurança energética e com um plano ambicioso de investimento em transmissão com a previsão de realização de leilões, com investimentos que podem chegar até a R$ 30 bilhões”, conclui a nota.

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Bioenergia

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Sorgo que te quero bem Produzir etanol e biomassa com sorgo após o fim do ciclo de processamento da cana possibilita à usina diluir seus custos e aumentar o uso do parque industrial da empresa

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sorgo etanol e o sorgo biomassa não são mais promessas, já são realidades. Quando se pensa em um novo produto na agricultura, de fato leva tempo para que amadureça e esteja apto para o uso comercial. Principalmente porque a consolidação do produto não depende apenas dos investimentos em desenvolvimento, mas da cadência da natureza. Apesar de todos os desafios tecnológicos e de mercado, a companhia norte-americana Nexsteppe não mediu esforços – de tempo e de recursos financeiros - no melhoramento genético de produtos que estejam em sintonia com as demandas da agricultura brasileira e do setor sucroenergético, em específico. “Nossos investimentos nos permitiram montar um portfólio completo para o mercado visando oferecer sementes de sorgo etanol, biomassa para a produção industrial de energia elétrica, biogás e, no futuro, etanol de segunda geração”, diz Sílvio Mesquita Carreira, diretor de assistência técnica da Nexsteppe.

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Bioenergia

O sorgo é o quinto cereal mais plantado no mundo e no Brasil ocupa em torno de 800 mil hectares. Uma área dividida em produção de ração animal, de etanol e de biomassa, além de silagem. No entanto, como está a adesão do mercado sucroenergético aos benefícios do sorgo? A incorporação desta matéria-prima ao processo produtivo de usinas e produtores agrícolas está atrelada aos preços de bioenergia praticados, tanto de energia elétrica como de etanol. “O preço do etanol, de certa forma, reagiu à demanda crescente. Já a remuneração da bioeletricidade está estagnada por conta da situação econômica do país. Com a crise, o Brasil passou a gastar menos eletricidade, mas com a estimativa de retomada do crescimento da economia, a expectativa é de que o preço da energia suba e as hidrelétricas não deem conta da demanda”, projeta Carreira. 34

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Entressafra No Brasil, o cultivo do sorgo tem o seguinte calendário: safra de verão, plantada, de maneira geral, entre setembro e o final de novembro ou meados de dezembro, e uma segunda safra, que ocorre entre janeiro e março (safrinha). O período de cultivo do sorgo que mais se ajusta às usinas de cana-de-açúcar engloba parte dos dois calendários: vai do final de novembro a meados de março. “É o momento que usinas estão reformando os canaviais.” Carreira destaca que o cultivo do sorgo é uma grande oportunidade para as áreas de reforma de canaviais das usinas, que ao invés de plantar uma cultura de cobertura ou mesmo deixar a área em pousio, podem adotar um cultivo com incremento na rentabilidade do negócio. É o que possibilita o sorgo, que é viável nas áreas de renovação

da lavoura de cana-de-açúcar, e também representa oportunidade de expansão de área uma vez que os agricultores ao redor das usinas podem plantar a cultura em sucessão à soja e diversificarem seus negócios. O sorgo é uma cultura que se encaixa bem ao período de entressafra de cana-de-açúcar, uma vez que as usinas canavieiras operam, em média, entre 1º de abril e o final de novembro. “Produzir etanol e biomassa após o fim do ciclo de processamento da cana-de-açúcar possibilita à usina diluir seus custos e aumentar o uso do parque industrial da empresa.” Além disso, quando chega o início da safra sucroenergética, no final de março ou 1º de abril, os canaviais da usina podem não estar no ponto, em termos de acúmulo de açúcar. “É mais


uma oportunidade para o sorgo, que pode aumentar o período de safra da unidade e contribuir para que a usina inicie suas operações sem necessariamente esmagar uma cana que não está em plena maturação.” Para uma usina sucroenergética, o sorgo é uma fonte alternativa de matéria-prima para produção de etanol e bioeletricidade em várias oportunidades, na opinião de Carreira. A expectativa é que, na atual entressafra, o sorgo possa ser um aliado ainda mais importante para as usinas canavieiras. Ao longo de 2017, a expectativa é que os preços do açúcar e do etanol continuem em alta. Entretanto, estima-se que a safra de cana no próximo ciclo (2017/18) registre uma queda no volume de moagem ou, no máximo, uma produção semelhante à verificada em 2016/17. Ou seja, para aproveitar os bons preços, as usinas correrão atrás de matéria-prima, o que abre uma possibilidade ao sorgo, que tem condições de aumentar a produção de etanol das usinas – liberando cana para a produção de açúcar -, o que permitirá à empresa cumprir seus contratos e aproveitar o bom momento de preços. “Diante da possibilidade de faltar cana, o empresário do setor começa a se abrir a culturas novas e diferentes fontes de matéria-prima”, sublinha o diretor da Nexsteppe.

Assistência técnica e agronômica O executivo relata que o sorgo ainda impõe um desafio ao setor sucroenergético do ponto de vista agrícola. “A usina está muito bem preparada para manejar a cana, que é um cultivo de ciclo longo, de um ano, um ano e meio. Já o sorgo tem um ciclo curto, que traz outros desafios que exigem um processo de aprendizado por parte do setor agrícola da unidade no que diz respeito ao seu manejo.” Com o objetivo de contribuir com usinas e produtores que incorporarem o cultivo do sorgo, Carreira explica que a Nexsteppe adotou como estratégia não apenas o fornecimento da semente, como também

de toda assistência técnica e agronômica ao cliente. “Estamos prontos para responder todas as perguntas que surgirem. Trabalhamos em conjunto com a usina para que possa lidar com eficiência com o sorgo, que é uma cultura diferente para a empresa.” Embora a adesão das usinas sucroenergéticas ao sorgo ainda esteja em fase de consolidação, Carreira projeta um futuro promissor para a cultura no país. Segundo ele, a situação econômica brasileira ainda ref lete a disposição do empresário, inclusive por dificuldades financeiras, de apostar em novos negócios. edição 22 | FULL ENERGY

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Gente e Gestão

Ventos incertos

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Cancelamento do 2º Leilão de Compra de Energia de Reserva de 2016 representa ameaça para a cadeia produtiva eólica brasileira

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Brasil acaba de atingir a marca de 10 GW de capacidade eólica instalada, mas as entidades e indústrias do setor mal tiveram tempo de comemorar. No dia 14 de dezembro, o Ministério de Minas e Energia anunciou o cancelamento do 2º Leilão de Compra de Energia de Reserva (LER) de 2016, que seria destinado à contratação de energias de fontes eólica e solar, com início de suprimento em 1º de julho de 2019 e prazo de fornecimento de 20 anos. O cancelamento, comunicado a apenas cinco dias do Leilão – que em princípio ocorreria em 28 de outubro e depois foi adiado para 16 de dezembro e, por fim, para 19 de dezembro –, demonstra a falta de previsibilidade na contratação de projetos pelo governo e é encarado como um desestímulo ao setor, conforme ressalta Elbia Gannoum, presidente executiva da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica). “Em um momento em que o próprio governo sinaliza com um grande pacote de medidas para estimular a retomada de investimentos, é um grande

contrassenso desmobilizar uma indústria jovem, montada com investimentos altíssimos nos últimos anos, que inclusive não precisa de pacote e que tem registrado crescimento consistente, com geração de 41 mil empregos no ano passado e outros 30 mil neste ano”, salienta. Segundo a presidente da ABEEólica, a contratação de pelo menos 2 GWs de energia eólica por ano é fundamental para dar um sinal de investimento e segurança para toda a cadeia produtiva e mantê-la ativa, além de ser essencial para que o Brasil alcance os objetivos assinados na COP-21. Contudo, dado o cenário econômico do país, as previsões para o Leilão já eram mais modestas, de contratação de menos de 1 GW, que, segundo Elbia, seriam acompanhados de R$ 8 bilhões de investimentos pelo setor e gerariam, pelo menos, mais 15 mil empregos na cadeia produtiva. Sem o Leilão, no entanto, a tendência é que a situação se complique nos próximos anos. “É importante entender que, no mercado de energia eólica, uma energia

contratada hoje vai gerar contratos e empregos para as fábricas nos dois anos seguintes. Como tivemos uma contratação baixa em 2015, teremos fábricas mais ociosas já em 2017. Com contratação zero em 2016, teremos fábricas praticamente paradas em 2018. Grandes empresas não vão continuar no Brasil com fábricas vazias”, problematiza Elbia. Nos últimos anos, a cadeia produtiva eólica investiu, de acordo com a ABEEólica, mais de R$ 65 bilhões em novos projetos e, hoje, conta com uma produção 80% nacionalizada, com seis fabricantes de aerogeradores, quatro de pás eólicas e mais de 1.000 fornecedores de outros componentes, inclusive empresas multinacionais que se instalaram no país. “Corremos um grave risco de desmobilização dessa cadeia produtiva e isso é um golpe quase mortal numa indústria jovem, promissora e que hoje gera a energia mais competitiva do país, não contando obviamente as grandes hidrelétricas, que possuem restrição para novos projetos”, reforça Elbia.

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Gente e Gestão

te em um cenário de baixa hidrologia e/ou de recuperação econômica mínima”. Considerando esses fatores, a executiva reforça a necessidade de se pensar na segurança energética em longo prazo. “Um leilão de energia não serve para resolver a demanda de amanhã ou da próxima semana, mas para planejar de forma eficiente o que vamos consumir no futuro. Esse é o conceito de segurança energética. E o Brasil precisa começar a praticá-lo. Não ter considerado esta questão de forma rigorosa no passado já nos levou a graves crises de abastecimento, sendo que a última resultou num gasto exorbitante pelo acionamento das termoelétricas”. Neste momento de intensa agenda governamental para promover a retomada do crescimento, com sinalização de

Posição do governo O desempenho da economia brasileira foi um dos fatores apontados pelo MME para o cancelamento do certame, após reunião do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética). De acordo com Paulo Pedrosa, secretário-executivo do Ministério, com o ajuste das projeções de crescimento do PIB, ficou complicada a contratação de sobrecarga de energia. Neste sentido, ele também destacou a projeção da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), de que haverá uma sobreoferta de 9 mil MW até 2020, não sendo necessário o Leilão. O argumento é de que as distribuidoras não precisariam comprar mais energia porque já operam com excedentes. A presidente executiva da ABEEólica critica esse argumento de “sobra”, chamando a atenção para o preço e a qualidade desse excedente. “O que o governo está fazendo é deixar de contratar uma reserva da energia mais competitiva, optando por eventualmente utilizar-se da energia mais cara”, alerta, citando as termoelétricas como exemplo. Ainda sobre a demanda, Elbia frisa que foi feito um estudo profundo para mostrar ao governo que não há energia real de sobra no sistema. “Mostramos ao governo que o que existe é sobra de contrato e não um excedente de garantia física. Temos uma sobra em teoria e no papel, mas na prática e do ponto de vista operacional, foi superestimada e, além disso, desapareceria rapidamen38

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Elbia Gannoum, presidente executiva da ABEEólica

novos investimentos em infraestrutura, fazer um planejamento considerando o conceito de segurança energética é ainda mais importante, na avaliação da presidente executiva da ABEEólica. Elbia também entende ser fundamental que a condição de suprimento do mercado seja analisada como um todo, considerando inclusive as dimensões de risco e custo total de operação, do contrário, os danos podem ser muitos. “Vamos voltar para nosso histórico pêndulo de ‘falta-sobra’ de energia por ausência de uma análise mais ampla no planejamento. É óbvio que se olharmos apenas o PIB (Produto Interno Bruto) do ano que vem e se estivéssemos falando de um leilão A-3 e A-5, pode-se concluir que um leilão não seria necessário agora, mas se analisarmos o cenário macro de intenção de


atrair investimentos e retomar a atividade econômica, dar sinais positivos para os investimentos e fazer planejamento considerando segurança energética e energia competitiva, cancelar o leilão de reserva foi um grande erro”, avalia a executiva. Outro argumento do governo para o cancelamento do leilão é de que não haveria justificativa para onerar mais os consumidores, por meio do EER (Encargo de Energia de Reserva), principalmente porque estariam pagando a mais por uma energia que não seria consumida. A justificativa também é questionada pela ABEEólica. “Do ponto de vista comercial, a contratação de energia de reserva leva a um aumento do EER. Todavia, é importante notar que o EER de uma eólica pode funcionar como um seguro, na medida em que reduz a probabilidade de acionamento de termoelétricas com preços mais elevados. Dessa forma, em um período de hidrologia desfavorável, o aumento da tarifa decorrente do acionamento da bandeira amarela ou vermelha pode ser bem maior que o EER”, exemplifica Elbia. Neste sentido, a executiva ainda lembra que o país presenciou, nos últimos anos, a pior crise hidrológica desde que teve início a medição do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e que as eólicas têm sido fundamentais, por exemplo, para o abastecimento do Nordeste, especialmente considerando o baixo nível do reservatório de Sobradinho.

“O CANCELAMENTO DO LEILÃO (LER) DEMONSTRA A FALTA DE PREVISIBILIDADE NA CONTRATAÇÃO DE PROJETOS PELO GOVERNO E É ENCARADO COMO UM DESESTÍMULO AO SETOR”, Elbia Gannoum

Desafios adicionais O cenário brasileiro, que já é complexo, também envolve a limitação de escoamento da energia eólica, em função de problemas de transmissão em algumas regiões do país. Os estados do Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Bahia, por exemplo, não têm linhas disponíveis para novos projetos. “O Brasil precisará se concentrar em questões de transmissão sem esperar mais”, destaca Elbia Gannoum. Com o objetivo de analisar todo o sistema de transmissão do País, seus entraves e quais seriam as saídas viáveis, a ABEEólica contratou um estudo. “O material, distribuído em cinco cadernos temáticos, aborda, por exemplo, medidas operativas adaptativas de curto prazo para liberar transmissão; revitalização do mecanismo de instalações de transmissão de interesse exclusivo de geração para conexão compartilhada (ICG); leilões coordenados de transmissão e geração; planeja-

mento proativo para expansão das redes”, conta Elbia. O material está em produção e seus resultados serão compartilhados com órgãos do governo, estudiosos do assunto e decisores do setor com a finalidade de ampliar um debate técnico e lúcido sobre o assunto. “Uma das sugestões do estudo, por exemplo, é dar sinais claros e seguros para atrair empresas de geração também para a transmissão. O ‘casamento’ geração e transmissão faz todo o sentido, mas há necessidade de maior segurança para o investidor”, comenta a presidente executiva da ABEEólica. “Fontes de energia estão sendo desenvolvidas para novas opções de baixo impacto com grande eficiência e muito rápido. A transmissão precisa acompanhar essa nova realidade, caso contrário, se tornará um verdadeiro obstáculo para o futuro de fontes de energia mais sustentáveis”, finaliza Elbia Gannoum. edição 22 | FULL ENERGY

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Estratégia

Aumentar a produtividade e reduzir custos Especialistas e profissionais de usinas apresentaram, durante Seminário em Ribeirão Preto, segredos e inovações para aumentar a produtividade e reduzir custos

Auditório durante o 15º Seminário Produtividade & Redução de Custos

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ercado, tecnologias inovadoras, novas estratégias operacionais, cases de sucesso, evolução dos custos de produção, ações para melhorar a produtividade e reduzir custos. Questões importantes para o setor sucroenergético que foram abordadas no 15º Seminário Produtividade & Redução de Custos da Agroindústria Canavieira, nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro de 2016, no Centro de Convenções de Ribeirão Preto. O seminário, que encerrou a programação de eventos do Grupo IDEA em 2016, mais uma vez ofereceu subsídios aos profissionais do setor sucroeneregético para analisarem a conjuntura e desenharem suas estratégias para os próximos anos. “É apenas com conhecimento que as

empresas terão condições de tomarem as melhores decisões e serem mais competitivas”, sublinha Dib Nunes, diretor do Grupo IDEA. Na safra 2016/17, que já chegou ao fim em praticamente todas as usinas do Centro-Sul, o setor passa por um momento positivo em termos de rentabilidade, e as perspectivas para o próximo ano continuam boas. Mas, neste cenário, em que a preocupação das empresas é aproveitar as oportunidades, otimizar seus recursos e ir atrás da competitividade “perdida”, aumentar a produtividade e reduzir custos devem continuar sendo prioridades. Porém, conseguirão surfar melhor neste momento de recuperação as empresas mais “redondas” e que investirem na melhoria de seus índices de produção.

Dib Nunes, diretor do Grupo IDEA

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Estratégia

“É POSSÍVEL TER UMA PERFORMANCE SUSTENTÁVEL UTILIZANDO AS MELHORES TECNOLOGIAS OFERECIDAS PELO MERCADO E FAZENDO UM BOM PLANEJAMENTO DOS TRATOS CULTURAIS”. Cristiano Peraceli

Conteúdo aprofundado Como nas edições anteriores, o Seminário trouxe palestras de representantes de órgãos de classe, executivos de grandes grupos produtores, produtores de cana e consultores de credibilidade no mercado. Cerca de 350 pessoas participaram do Seminário. “A proposta foi apresentar um cenário real do setor, permitindo uma visão bastante prática e objetiva da realidade e oferecendo novos conhecimentos que possam ser aplicados imediatamente no cotidiano das empresas, seja permitindo redução de custos ou garantindo o aumento da produtividade”, finaliza Dib. Paralelamente ao Seminário, também aconteceu a primeira edição do INOVA CANA, uma exposição de novidades tecnológicas para ganhos de produtividade e redução de custos. Expuseram suas soluções no evento as seguintes empresas: Duraface, Sollus, BVI, Euroforte, Basf, Syngenta, Koopert, Arysta, Granbio e Biosoja. 42

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Cristiano Peraceli, gerente de Marketing de Cana da BASF

Premiação do Prêmio CANAMÁXIMA A BASF e o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) divulgaram os vencedores do Desafio CANAMÁXIMA durante o 15º Seminário de Produtividade e Redução de Custos da Agroindústria Canavieira. O concurso é voltado para produtores interessados em cultivar um canavial com boa performance em produtividade O Desafio CANAMÁXIMA é dividido nas categorias de cana planta e soca. “É um concurso inovador que tem o objetivo de incentivar o setor sucroenergético a conquistar uma melhor produtividade

nas lavouras. É possível ter uma performance sustentável utilizando as melhores tecnologias oferecidas pelo mercado e fazendo um bom planejamento dos tratos culturais”, comenta Cristiano Peraceli, gerente de Marketing de Cana da BASF. Já Luiz Antonio Dias Paes, gerente de Marketing do CTC, reforça: “O programa estimulou as equipes técnicas das usinas a utilizarem práticas de cultivo inovadoras, que possibilitam extrair o potencial máximo da cultura, com sustentabilidade e rentabilidade”.


José Olavo Vendramini, Gerente de Desenvolvimento de Tecnologia Agrícola Corporativo do Grupo Guarani

Confira os 12 vencedores do Desafio CANAMÁXIMA CANAMÁXIMA 2ª edição Categoria Cana - Planta - CTC15 ou CTC25 Campeão: Biosev / Continental - Redner Tomas da Silva (representante da Usina) Vice-campeão: Caetê / Paulicéia - Ítalo Francisco de Souza (representante da Usina) Categoria Cana - Planta – Série 9000 Campeão: Biosev / Luciânia (Lagoa da Prata) - Fernando Bezerra de Paula (representante da Usina) Vice-campeão: Usina Guarani / São José - Bárbara Marcasso Copetti (representante da Usina) Categoria Cana - Planta – CTC2, CTC4 ou CTC20 Campeão: Nova América / Tarumã - Antonio Massoli Neto (representante da Usina) Vice-campeão: Raízen / Destivale - Alessandro Martins (representante da Usina) CANAMÁXIMA 3ª edição Categoria Power Cana - Soca Campeão: Biosev / Luciânia (Lagoa da Prata) - Fernando Bezerra de Paula (representante da Usina) Vice-campeão: Guarani – Tanabi - Guilherme Antonio Buonadio (representante da Usina) Categoria Value Cana - Soca – Exclusivo Usinas Campeão: Raízen – Jataí - Marcio de Carvalho Marçal (representante da Usina) Vice-campeão: Araporã Bioenergia - Pedro Henrique Camilo de Castro (representante da Usina) Categoria Value Cana - Soca – Exclusivo Fornecedores Campeão: Agrícola Ouro Verde (ASCANA) - Thiago Teles Ramalho (representante da Usina) Vice-campeão: Agroterenas – Maracaí - Rodrigo Mondini (representante da Usina) “Para nós da Guarani é sempre interessante participar de prêmios como esse que auxiliam no aumento da produtividade do setor canavieiro”, comemora Guilherme Buonadio, da Usina Guarani (unidade Tanabi), vice-campeão da categoria Power Cana Soca e que teve um ganho de R$1,8 mil em relação à média da Usina. Para José Olavo Vendramini, Gerente de Desenvolvimento de Tecnologia Agrícola Corporativo do Grupo Guarani, a aplicação das tecnologias de ponta propostas pelo desafio foram fundamentais para que a companhia obtivesse bom resultado no Canamáxima. “O resultado que atingimos foi exemplo do sucesso das novas tecnologias que a Guarani está adotando. Agora o nosso desafio é posicionar todas as nossas usinas entre as primeiras colocadas, não apenas as unidades Tanabi e São José”, afirma Vendramini.

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DOSSIÊ Petrobras

Efeito colateral: A origem da crise

Além da Operação Lava Jato, a Petrobras enfrentou problemas como congelamento do preço do combustível, depreciação do petróleo e desvalorização do real

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origem da crise histórica da Petrobras não está apenas ligada à Operação Lava Jato. Existem outros agentes causadores que antecederam às dificuldades da companhia brasileira nos últimos anos. Em 2010, o Brasil havia virado a página da crise financeira mundial de 2008, apontando um crescimento anual recorde de 7,5% - o maior aumento do PIB (Produto Interno Bruto) desde 1986. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),

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os investimentos dispararam cerca de 21,8%, ao passo que o consumo das famílias cresceu 7% e os gastos do governo, 3,3%. Para conciliar com esta demanda, a indústria aumentou 10,1% os seus serviços e a agropecuária, por sua vez, cresceu 6,5%. De acordo com as estatísticas, 2010 foi um bom ano para a economia brasileira. O ano seguinte prometia um aumento um pouco mais moderado, na margem de 3%. No entanto, mesmo sendo um número singelo, representava o dobro do crescimento dos Estados Uni-

dos, por exemplo. Em contrapartida, a inflação havia voltado a subir, fechando aquele ano com cerca de 5,9% - maior nível em seis anos. Os ganhos dos brasileiros aumentaram, o dinheiro passou a circular melhor, mas a produção não acompanhou o desenvolvimento, o que aumentou os preços do mercado. Para lidar com o problema, o Banco Central brasileiro subiu a taxa de juros do país gradativamente, passando de 8,5%, no começo de 2010, a 12,5%, em agosto de 2011. Esta estratégia foi utili-


zada para auxiliar o fluxo de dinheiro, tentando reduzir ao máximo a inflação. Por outro lado, esse plano freou o crescimento econômico. Para que a economia voltasse a se desenvolver, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) demandou ao Banco Central que os juros começassem a cair, passando dos 12,5% de agosto de 2011 para 7,15% no começo de 2013. Mas Dilma não contava com o fato de que a inflação continuaria a subir, pressionando toda a economia brasileira. Tentando artificialmente solucionar essa bola de neve, a ex-presidente reduziu as tarifas de energia e congelou o preço da gasolina nas bombas, sangrando a Petrobras.

Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura

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DOSSIÊ Petrobras

O efeito colateral desse erro primário foi a estagnação e o recuo da produção de etanol. Os investimentos pararam porque não dava para manter a competitividade de 70% do preço da gasolina nos postos, levando a estatal brasileira à crise. Segundo Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o fator determinante dessa crise está na má gestão que a companhia teve durante o primeiro governo da ex-presidente Dilma. “Acho que a principal explicação foi uma interferência excessiva do Governo na Petrobras, deixando de lado a racionalidade econômica e transformando a empresa em um instrumento

político. As despesas da Petrobras, no primeiro governo da presidente Dilma, com a venda da gasolina e do diesel abaixo dos preços de mercado, atingiram a cifra de US$ 40 bilhões”. Pires ainda ressalta que a empresa passou de uma dívida de cerca de R$ 6 bilhões, em 2009, para quase R$ 500 bilhões, em 2016. “Nos anos de 2009 e 2010, o petróleo estava a US$ 100, o mercado de combustível cresceu mais de 100% ao ano e a Petrobras tinha sito capitalizada. E depois, em 5 anos, a empresa perdeu tudo. Acho que não existe caso na literatura econômica mundial de uma empresa do porte da Petrobras ter perdido tanto valor em tão pouco tempo”, complementa.

O QUE LEVOU A

EMPRESA À SITUAÇÃO

ATUAL FORAM METAS ARROJADAS COM INVESTIMENTOS E VALORES MUITO

ELEVADOS, QUE DEPOIS FORAM SE MOSTRANDO INVIÁVEIS”,

Alberto Machado

Planos inviáveis

Alberto Machado, diretor executivo da Abimaq

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Outro agente causador da crise histórica da multinacional brasileira está nos editais mal verificados, que geraram aditivos e, consequentemente, aumentaram os custos e causaram a paralisação de obras por impactos negociais. De acordo com Alberto Machado, diretor executivo da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos) e Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ainda vale destacar outros pontos. “O que levou a empresa à situação atual foram metas arrojadas com investimentos e valores muito elevados


nos planos de negócios, que depois foram se mostrando inviáveis. Houve também o excesso de uso de mão de obra contratada pela empresa, projetos com escopos mal definidos, concentração elevada de contratos em poucas empresas – algumas até com pouca tradição – e início de obras sem finalização de projetos”, comenta. Ainda para Machado, a Lava Jato não foi o principal causador desta crise. “Ela apenas evidenciou alguns desses problemas. Assim como o aumento do dólar e a desvalorização do real apenas agravaram uma situação que estava ruim”. José Goldemberg, presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), ainda reforça: “O escândalo da Lava Jato tem a importância dada a ele. O que desacreditou a Petrobras foi o enorme endividamento que ela contraiu”. Diante desses incidentes, como depreciação do petróleo, desvalorização do real e Lava Jato, para o presidente da consultoria agrícola Datagro, Plínio Mario Nastari, os gestores puderam tirar uma lição: “as empresas precisam estar blindadas contra estes tipos de ações, com controles internos mais rígidos, auditoria e transparência”.

Operação Lava Jato A Operação Lava Jato foi a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve. Segundo o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Ribeiro Nardes, os desvios de recursos públicos que provocaram a Operação Lava Jato alcançaram a cifra de R$ 29 bilhões. Conduzida pela Polícia Federal, a investigação começou em março de 2014 para investigar grupos criminosos que usavam uma rede de lavanderias e postos de combustíveis para movimentar dinheiro ilícito. A Petrobras foi, infelizmente, protagonista deste escândalo. A investigação foi muito além dos postos de combustíveis e identificou desvio e lavagem de dinheiro envolvendo diretores da multinacional, as principais empreiteiras do país e os políticos brasileiros. Nesse esquema, grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários superfaturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo doleiros. A Lava Jato foi um escândalo de corrupção bilionário que colocou em xeque a credibilidade da Petrobras. Simultaneamente, a depreciação do petróleo e a desvalorização do real contribuíram para que a empresa, que já enfrentava uma situação de grave endividamento, chegasse à sua maior crise. “Pior que a corrupção foram os erros de gestão, como a compra da Refinaria de Pasadena, os projetos mirabolantes, como a refinaria de Recife e COMPERJ (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) - que abriram espaço para a corrupção - e o aparelhamento político”, complementa Goldemberg.

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DOSSIÊ Petrobras

Fase de recuperação Nova gestão, recolocação no mercado, plano estratégico e fim da participação obrigatória na exploração do pré-sal marcam a nova trajetória da Petrobras 48

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esmo ainda carregando o fardo de petroleira mais endividada do mundo, a Petrobras começa a dar os primeiros sinais de que irá superar a crise e reverter os estragos causados pelo escândalo da Operação Lava Jato e pelos problemas de gestão, que marcaram o comando da companhia nos últimos anos. Por reconquistar a confiança dos investidores, a multinacional está voltando, aos poucos, a ocupar uma posição no mercado que nunca deveria ter saído.

Em 2016, a Petrobras apresentou alta de 168% em suas ações acumuladas no ano, conseguindo subir três degraus em um ranking de valor de mercado que reúne as maiores companhias do setor, em que ocupou o terceiro lugar em 2008. Em janeiro de 2016, a empresa, em seu pior momento, estava na 11ª posição. Porém, segundo o ranking, a petroleira conseguiu mostrar bons resultados no final deste mesmo ano, subindo para o oitavo lugar em outubro. Apesar de todo o drama vivido nos últimos anos, a empresa ainda possui uma marca forte. É


o que defende Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura). “A Petrobras é uma empresa que tem grandes reservas de petróleo, quadro técnico de alta qualidade e tecnologia de expansão de petróleo no mar. Então, ela tem todas as condições de voltar a ser uma empresa com credibilidade e que gera riquezas para o país, voltando a investir e gerar empregos. Acho que essa ficha já caiu para a nova gestão da empresa, com as reduções de custos e a reformulação dos investimentos. Estão colocando-a nos trilhos, em uma nova direção.” A Petrobras apresentava fluxo negativo desde 2008, mesmo antes de a Lava Jato vir à tona. Foi somente no ano passado, em 2015, com Aldemir Bendine à frente da companhia, que voltou a ter fluxo positivo. Para Pires, o primeiro desafio de Bendine foi a publicação do balanço da empresa, que lançou o plano de investimentos. “Eu acho que, de certa maneira, a gestão dele deu início a mudanças na Petrobras e cumpriu um papel.” Já para José Goldemberg, presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), além de ter acabado com o sistema de corrupção da empresa, Bendine conseguiu transmitir uma imagem de administrador apolítico, sem a demagogia da gestão anterior. Ainda sobre a gestão de Bendine, Plínio Mario Nastari, pre-

sidente da Datagro, avalia: “Ele impediu que o barco naufragasse, começando o processo de recuperação. Conseguiu evitar que o tsunami de ações no exterior causasse estragos maiores e conseguiu recuperar o capital de giro que estava comprometido quando assumiu. Apresentou uma atuação positiva, que agora se intensifica com a gestão de Pedro Parente”. Entretanto, a escolha de Dilma Rousseff (PT) por Bendine para substituir Graça Foster na presidência da Petrobras, em 2015, não agradou o mercado num primeiro momento. Derrubou as ações da estatal em quase 7% no dia em que a ex-presidente anunciou a nomeação. Exatamente 18 dias após o Senado ter aberto o processo de impeachment contra Dilma, em maio de 2016, Aldemir

Bendine renunciou ao cargo de presidente da Petrobras. Para tanto, o ex-presidente da petrolífera enviou carta ao Conselho de Administração da companhia e também aos colegas dizendo: “Tomei esta decisão para que os conselheiros possam conduzir as propostas de mudança na diretoria feitas pelo acionista controlador sem sobressaltos que possam prejudicar os interesses da companhia. (...) Deixo esta empresa com a enorme satisfação de ter podido participar da história da maior empresa do Brasil”. No mesmo dia da renúncia, em reunião extraordinária, o Conselho Administrativo nomeou Pedro Parente para a presidência da empresa, que assumiu o cargo no dia seguinte, em 31 de maio de 2016.

Pedro Parente, presidente da Petrobras

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DOSSIÊ Petrobras

Plano estratégico Parente é reconhecido por sua gestão de crises, o que foi um dos motivos para ter sido escolhido para liderar a maior empresa brasileira e a petroleira mais endividada do mundo. O novo mandatário terá como maior desafio dar continuidade ao esforço de solucionar a dívida da estatal, que hoje se aproxima a R$ 450 bilhões. Recentemente, Parente declarou à imprensa que, em cinco anos, a estatal estará saneada, com a credibilidade resgatada e sem riscos de perder a posição que ocupa no mercado. No aspecto financeiro, o presidente disse que a empresa irá antecipar a meta de redução da alavancagem (a relação entre dívida e geração de caixa) para antes de 2020. “A dívida não pode ser duas vezes e meia superior à geração de caixa. Vamos trabalhar pra reduzir o endividamento [hoje, para cada R$ 1 de caixa, há R$ 5 de dívida] e melhorar a receita, com uma política de preços de combustíveis com foco empresarial”, disse à imprensa. Segundo Goldemberg, a nomeação de Pedro Parente como novo presidente da estatal é excelente. “Ele traçou as diretivas para a correção de curso da empresa, já esboçadas por Bendine para fazer a Petrobras voltar às suas origens, que é produzir petróleo em associação com empresas estrangeiras, dividindo riscos e ganhos e não se expandir em ações como distribuição de gás e outros.” 50

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José Goldemberg, presidente da Fapesp

Sob a gestão de Parente, a Petrobras anunciou, em setembro deste ano, o seu Plano Estratégico para o período de 2017 a 2021, com dois indicadores principais que visam o au-

mento da segurança dos seus trabalhadores e a recuperação financeira da empresa no curto prazo. A meta é reduzir a taxa de acidentes registráveis, um indicador da indústria


Foto: Leandro Negro FAPESP

que mede todos os tipos de acidentes e incidentes ocorridos, dos atuais 2,2 por milhão de homens/hora em operações na companhia, conforme registrado em 2015, para 1,4 até 2018, chegando a 1 em 2021. A projeção foi apresentada por Parente ao presidente Michel Temer em reunião no Palácio do Planalto. Segundo o presidente da petrolífera, um dos horizontes do plano é a redução mais rápida das dívidas da empresa. Caso se confirmem as expectativas de Parente, em três anos, a estatal voltará a crescer para, em cinco anos, se tornar a quarta ou quinta maior empresa do setor, com uma produção de 3,4 milhões de barris de óleo e gás por dia. Plínio Nastari acredita que a recuperação da estatal acontecerá antes do prazo previsto por Parente. “Em poucos anos a extração deve superar 3,4 milhões de barris por dia, e a empresa voltará a ser uma das maiores da indústria mundial.” Em contrapartida, para Alberto Machado, diretor executivo da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos) e Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a questão primordial desta projeção não é o prazo, mas sim a tendência. “Não quer dizer que nada disso vai ser consertado de uma hora para a outra, mas na medida em que os indicadores de desempenho começarem a dar sinais de melhora, certamente será indício de que está sendo retomado o crescimento.” Ainda sobre o novo Plano Estratégico da Petrobras,

Plínio Nastari, presidente da Datagro

Adriano Pires acredita que a premissa de reduzir os custos e manter planos dos investimentos são decisões acertadas, porém os números são otimis-

tas demais. “Os desafios são enormes, ele tem total competência para levar a Petrobras de volta ao caminho da lucratividade”, complementa.

Novo marco do pré-sal

O pré-sal é nosso, mas a exploração dele não é mais exclusividade da Petrobras. A base do governo de Michel Temer (PMDB) conseguiu aprovar, no final de novembro, uma lei que acaba com a obrigatoriedade de a Petrobras ser sócia e operadora única do pré-sal. Além de ampliar a participação privada na exploração dos campos, a lei favorece a atração de investimento e geração de receitas. Antes, a lei vigente determinava que a estatal seria a única operadora do pré-sal, com participação mínima de 30% em cada consórcio de exploração. A nova lei permite que a Petrobras defina os campos nos quais tem interesse de participar. “O simples fato de passar de obrigação para um direito de escolha já é uma vantagem para a empresa. Mas é importante mencionar que não é só uma vantagem para a empresa, é uma vantagem para o País também”, disse Pedro Parente à imprensa.

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Ideias e Tendências

Aplicação de alta tecnologia nas unidades da Guarani

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É tempo de plantar Um impulso à bioeletricidade dependerá da recuperação econômica do país

A

Tereos Internacional – Grupo Guarani encerrou a safra 2016/17 em todas as suas sete unidades industriais no início de dezembro. Para marcar o final do ciclo, promoveu, no dia 8 de dezembro, a tradicional reunião de final de safra, quando recebeu seus fornecedores para apresentação do balanço, investimentos e perspectivas. Durante o encontro, estiveram presentes autoridades, como o Secretário Estadual de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim; o presidente da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf; o Deputado Federal Arlindo Chinaglia; o Deputado Estadual Itamar Borges; o prefeito de Bebedouro, Fernando Galvão; e o Deputado Federal e prefeito eleito de São José do Rio Preto, Edinho Araújo.

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Ideias e Tendências

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de equilíbrio e rentabilidade. Arnaldo Jardim acredita que no próximo ano haverá a sustentação dos preços do açúcar, mantendo a boa rentabilidade do setor. “Quanto ao etanol, depende muito da definição da política que o Governo Federal adotará sobre a participação do biocombustível na matriz de combustíveis do país”, afirma Jardim, que está confiante nas políticas que serão traçadas voltadas ao setor em 2017. Estima-se que o estado de São Paulo, maior produtor de cana-de-açúcar do país, apresente, até o final desta safra,

uma produtividade média de 85 toneladas por hectare. Mas o potencial é maior. Para o secretário, o estado pode, ainda, ultrapassar a barreira dos três dígitos. “Podemos, rapidamente, atingir o número de 100 toneladas por hectare. Isso significaria um acréscimo, com a mesma área de produção, de pelo menos 20%.” Ainda o secretário ressaltou a importância da colheita de cana-de-açúcar mecanizada no estado. “A safra que vamos fechar neste ano deve apresentar um percentual de 96% de colheita de cana mecanizada em São Paulo”.

Foto: Ferdinando Ramos

Mesmo com as dificuldades climáticas que atingiram a região Centro-Sul do país, o Grupo Guarani obteve bons resultados durante esta safra, moendo 19,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, sendo 8,5 milhões de toneladas de cana própria e 11,3 milhões de fornecedores. A produção de açúcar totalizou 1,6 milhão de toneladas, a produção acumulada de etanol ficou em 640 milhões de litros e a energia cogerada deverá atingir 1.030 GWh. Para conquistar esses números, de acordo com Jaime Stupiello, diretor Agrícola da Guarani Tereos, a companhia apostou em três diferenciais: eficiência na nutrição, cuidado com o censo varietal e o controle de tráfego na lavoura. “Em energia, nossa prioridade hoje é ter fábricas eficientes para sobrar bagaço e não depender do bagaço externo. Então, temos várias ações para mitigar uma possível falta do material. Na área agrícola, pretendemos plantar mais. Vamos reformar em torno de 20% dos nossos canaviais em 2017”, acrescenta. Pierre Santoul, presidente da Guarani, destaca: “Enceramos a safra 2016/2017 com resultados positivos, com um volume de cana processada superior ao do ano passado. Investimos forte em uma entressafra consistente, assim como na renovação dos canaviais e implantação de novas tecnologias para garantir o aumento de produtividade e estamos colhendo os resultados”. Depois de três anos com dificuldades, o setor apresenta agora dois anos consecutivos

Jacyr Costa Filho, diretor Região Brasil do grupo Tereos


Bioeletricidade Sobre a bioeletricidade, Jacyr Costa, diretor Região Brasil do grupo Tereos, acredita que o crescimento do segmento irá depender, proporcionalmente, da recuperação econômica do país. “Para 2017, nós esperamos um pequeno crescimento econômico. No caso específico da Guarani, estamos com investimentos realizados e contratos de longo prazo com preço fi xo. Voltaremos a ver os preços de eletricidade em alta novamente no Brasil”, comemora.

Entretanto, para poder se desenvolver economicamente, o país precisa estimular o setor da bioeletricidade. Para Jardim, atualmente, o país vive um processo de sobrecontratação de energia. “Hoje, temos energia sobrando para aquilo que é o nosso consumo. Quando o Brasil voltar a crescer, todos os grandes projetos de fornecimento de energia, particularmente os hidroelétricos, estarão com o cronograma altamente atrasado. O único setor que poderá responder de uma forma

equilibrada será o setor do bagaço da cana”, analisa. A respeito do ponto de vista político-econômico, Skaf acredita que, para o próximo ano, o país precisa dar início a um ciclo de reduções de juros. “Hoje, com a inflação sinalizando 5% para 2017, os juros estão em torno de 14%, o que significa 9% de juros na taxa básica Selic. Precisamos, urgentemente, abaixar os juros e fazer o crédito reaparecer para, então, voltarmos a ver a economia girar”. edição 22 | FULL ENERGY

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artigo Rodrigo Thadeu de Araújo,

Capacitação é fundamental para prevenir acidentes

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m uma indústria, independente do segmento em que atue, nem todas as áreas são adequadas para o trabalho ou para a permanência humana. Há locais não projetados para serem ocupados. Ambientes em que o trabalhador somente deve entrar eventualmente, para operações de manutenção, por exemplo. Estas áreas são conhecidas, na nomenclatura técnica, como “Espaço Confinado”. Para identificá-lo é simples. Além de não ser projetado para ocupação contínua humana, o espaço confinado possui meios de entrada e saída impróprios para uma condição normal, principalmente em situações de resgate, e têm ventilação insuficiente, tanto para se garantir a respiração e a temperatura corporal do trabalhador, como para drenar contaminantes, caso necessário. Todos os setores produtivos apresentam, em suas plantas, locais com estas características, como a indústria naval, de óleo e gás, farmacêutica, de mineração, as concessionárias de energia elétrica, entre outros. Além disso, em uma agroindústria, os espaços confinados são mais comuns do que se imagina. São encontrados em tonéis, galerias, biodigestores, dutos, silos, moegas, tremonhas, transportadores enclausurados, elevadores de caneca, misturadores, poços, poços de válvulas, cisternas, esgotos, valas, trincheiras, reatores, vasos, colunas, torres de resfriamento, áreas de diques, filtros coletores, lavadores de ar, ciclones, secadores, entre outros tipos de ambientes.

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oficial do Corpo de Bombeiros, mestre em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e Membro da Comissão Especial de Estudos da NBR-14787

Risco à vida humana Uma caixa d’água ou um tanque, por exemplo, são espaços confinados, mas começam a oferecer riscos quando estão sendo edificados/ fabricados, antes mesmo de entrarem em operação. Isto porque a própria construção da estrutura pode gerar risco ao trabalhador, e por isso é necessária a adoção prévia de procedimentos mitigadores de riscos. Já na rotina de uma indústria ou de uma agroindústria, há várias circunstâncias que levam o funcionário a adentrar em um espaço confinado. Uma das situações mais corriqueiras é a manutenção do próprio espaço ou de máquinas ou aparelhos que estejam no local e que precisam ser checados, consertados, removidos. Outro motivo é a limpeza ou retirada de material nele contido. Mas a entrada nestes espaços para a realização destas operações não deve ocorrer a esmo. A empresa e os colaboradores precisam estar cientes dos riscos e preparados para impedir

qualquer tipo de problema, inclusive por meio da capacitação dos profissionais envolvidos. É importante estar claro que geralmente os acidentes em espaços confinados são considerados graves e, não raramente, terminam na morte do trabalhador e de quem mais for prestar socorro. Por isso que as equipes de salvamento nestes ambientes são mais técnicas, porque as condições envolvem riscos complexos, como de controle atmosférico e de energias perigosas. O Brasil dispõe de poucas estatísticas específicas sobre ocorrências em espaços confinados. Estima-se que há subnotificações de acidentes nestes locais. Apesar disso, o Ministério do Trabalho se preocupou com o grande número de acidentes com óbito nestas condições registrados no país. Isto resultou na criação de uma legislação moderna, influenciada pelas normas vigentes nos Estados Unidos e na Grã Bretanha, que


têm dispositivos legais rígidos para a proteção dos trabalhadores. O Brasil tem a Norma Regulamentadora número 33 (NR-33), em vigor desde 2006, sobre Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados, além de outra matéria que está em revisão: a norma técnica NBR 14787, voltada à Proteção de Acidentes, Procedimentos e Medidas de Proteção em Espaço Confinado. A legislação brasileira nesta área é avançada e não perde em nada para as legislações mais atuais do mundo, tendo como principal objetivo evitar acidentes e mortes de trabalhadores nestas condições. Em síntese, as normas visam prevenir quaisquer problemas em ambientes confinados. Para isso, estabelecem parâmetros que visam antecipar-se às condições de risco, esclarecendo quais são as obrigações de empregados e empregadores em relação ao tema. O empregador A legislação estabelece ao empregador algumas obrigatoriedades quanto a operações em espaço confinado. Para um trabalhador entrar neste ambiente, a empresa precisa emitir, obrigatoriamente, uma permissão de entrada e trabalho (PET). Trata-se de um documento específico, conforme caracterizado pela NR33. Precisa conter número de série e ser emitido em três vias, sendo que uma tem de ser devidamente guardada na empresa por um prazo mínimo de cinco anos. A norma inclusive prevê punição para as empresas que não cumprirem o que for determinado – as não-conformidades.

O empregado Existem procedimentos descritos para entrada nos espaços confinados da empresa, e que devem ser seguidos pelo empregado que for realizar manutenção ou limpeza nestes ambientes. Para desempenhar tais tarefas, precisa estar devidamente capacitado e usando os EPIs (equipamentos de proteção individual) indicados. Inclusive, estes trabalhadores devem estar aptos a atuar nos ambientes confinados da própria empresa, por meio de treinamentos específicos.

Prevenção desde o design Quanto menos espaço confinado tiver na planta industrial ou na área agrícola, menor vai ser a possibilidade de um incidente. Sob essa ótica, as novas plantas industriais ou equipamentos tendem a, cada vez mais, ser construídas dentro de um novo conceito: o Ptd (Protection Through Design), que visa reduzir as áreas de risco para o trabalhador já na concepção do projeto. Uma maneira de se antecipar aos problemas

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artigo

causados por edificações projetadas para serem produtivas, mas nem sempre adequadas para o trabalho humano. Este conceito levará à redução de espaços confinados nas empresas, uma vez que, já no projeto, sempre se perguntará: “será que preciso confinar esta área?” Esta preocupação abrirá espaço para novas soluções ou propostas construtivas. Nos pré-evaporadores, por exemplo, uma maneira tradicional de se fazer limpeza é entrando dentro do equipamento. Mas se o ambiente tiver um tipo de abertura que permita limpeza a céu aberto e no nível do solo? Desta forma, diminuem-se os fatores de risco. O PtD está sendo inserido na revisão da NBR 14787, propondo a antecipação de todos os fatores de risco por meio de ações diretas na infraestrutura, tanto em projetos de máquinas e da planta industrial, como na atividade agrícola. As plantas industriais mais novas já possuem menos ambientes inadequados para o trabalho humano. Antecipar-se à dor de cabeça causada por espaços confinados por meio de novos conceitos construtivos inclui soluções simples, como entradas e saídas que facilitam a passagem dos trabalhadores, inclusive em situações de salvamento. Também é possível estudar soluções para cada área da planta industrial que evitem posteriormente operações em espaços confinados. Uma possibilidade é tirar destes locais os equipamentos que geralmente são instalados em ambientes confinados, facilitando a manutenção e a inspeção. Já uma válvula, que fica dentro de uma galeria de 2 metros de profundidade, dificultando a operação por parte do trabalhador, pode ser manuseada por meio de uma haste com mais de 2 metros de comprimento. Assim, evita-se entrar em um ambiente pequeno, sem ventilação adequada e que apresenta riscos à vida humana. 58

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Capacitação dos profissionais envolvidos Cada espaço confinado tem características específicas. Por isso, a companhia precisa definir protocolos exclusivos para operações naquele espaço, os quais são fruto de uma análise preliminar de risco. Em uma usina de açúcar e etanol, por exemplo, uma caixa de passagem pode ter profundidade de 3 metros, e em outra usina, de 2 metros. Já uma caldeira normal gera inúmeros espaços confinados, que durante a entressafra são frequentados para fins de manutenção e inspeção. Por isso, cada ambiente confinado requer procedimentos de entrada e de emergência individualizados. Cabe à empresa identificar os espaços confinados existentes em suas instalações, uma vez que são individualizados. Deve averiguar riscos, volume, características, formas de ventilação e definir o nível de monitoramento necessário em caso de entrada em seu interior. No entanto, apesar de cada um destes ambientes serem únicos, existem procedimentos gerais que devem ser adotados em caso de operações dentro destes locais, geralmente descritos na política de segurança da empresa. Quando um trabalhador entra em um espaço confinado para desempenhar uma tarefa, uma das regras básicas é o monitoramento constante da atmosfera interna do recinto.

Não se pode colocar um detector de gás quando o espaço é aberto e retirá-lo depois que o trabalhador entra para realizar uma manutenção ou limpeza. A aferição tem que ser contínua, embora isso nem sempre ocorra. Outros aspectos também são importantes e estão previstos nas normas, como calibração e teste de resposta de equipamentos e a devida capacitação do supervisor responsável pelos espaços confinados na empresa. Este é o profissional habilitado para assinar a permissão de entrada e trabalho e tem de fazer um treinamento específico para esta função, num curso com carga horária mínima de 40 horas. Por ter bagagem técnica maior, ele tem condições de garantir a realização da tarefa com segurança. É quem realiza a análise preliminar de riscos e averigua a necessidade de mudança dos protocolos, com a devida ajuda do pessoal de segurança do trabalho. Segundo a legislação, todo trabalhador que entra em um espaço confinado precisa estar devidamente capacitado, independente da atividade que for executar. Além disso, não existe operação nestes locais sem equipe. Enquanto uma pessoa adentra ao ambiente, outra fica vigiando do lado de fora (vigia) – profissional que também precisa ser devidamente treinado em um curso de no mínimo 14 horas-aula.


Seria o “anjo da guarda” de quem está dentro do espaço confinado, responsável pelo monitoramento constante do local, por manter a comunicação com quem entrou e por chamar socorro em caso de emergência. O trabalhador que entra em ambientes confinados e o vigia precisam passar por um curso de, no mínimo, 16 horas, conforme dispõe a NR-33. Mas se os espaços confinados de uma determinada empresa apresentam riscos pontuais, fora do padrão, o curso deve ser estendido e adequado à necessidade. Embora não tenha ação operativa no espaço confi nado, o responsável técnico é outro profissional importante no sistema de segurança. Ele cuida da parte administrativa, atestando que o processo de capacitação em espaço confi nado realizado pela equipe foi ministrado por instrutores com proficiência, por uma organização idônea, e que todo o currículo e carga horária para este tipo de formação foram cumpridos.

Negligência Os acidentes em espaços confinados geralmente são graves, resultando em mortes, pessoas machucadas e perdas materiais. Apesar disso, não é raro haver descuido e desinformação sobre estes ambientes. É mais frequente do que se imagina um trabalhador não

“Todos os setores produtivos apresentam, em suas plantas, locais com espaços confinados, como a indústria naval, de óleo e gás, farmacêutica, de mineração, as concessionárias de energia elétrica, entre outros.”

capacitado e sem os devidos procedimentos de segurança ser designado para cumprir uma tarefa em locais enclausurados. Quando isso ocorre, assume-se um sério risco. Também há desinformação nos mais variados setores. Exemplo disto é o desconhecimento sobre a importância de procedimentos de segurança na área agrícola, que também tem espaços confinados, como tanques de carregamento de vinhaça e de agribombas, que apresentam uma série de riscos para quem for trabalhar em seu interior. Os gestores da empresa devem estar bem informados e capacitados quanto aos riscos que os espaços confinados representam, tomando as providências necessárias para se operar nestes ambientes quando for necessário. A companhia também tem que assegurar que todos os profissionais que forem operar em espaços confinados estejam devidamente capacitados e por empresas e profissionais gabaritados para tal tarefa. Negligenciar a estes temas significa colocar em risco a vida de funcionários e a estrutura da organização, estando ainda sujeito a sofrer punições, conforme determina a legislação. Independente do setor produtivo, qualquer empresa precisa produzir com eficiência e qualidade, mas sem nunca deixar de lado o componente segurança em todas as fases do processo.

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Líderes e Práticas

Fórum Full Energy e 100 Mais Influentes da Energia 60

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Um dia dedicado a propostas, debates, palestras e premiação para o setor de energia do país

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m outubro, o Grupo Mídia realizou, em São Paulo, o I Fórum Full Energy. O evento trouxe como tema “Do Compliance ao Smartgrid: As perspectivas para o setor de energia no Brasil”. A palestra “A importância da cultura do compliance no setor”, de Marcos Meireles, CEO da Rio Energy, abriu o evento. Adalberto Maluf, diretor de Relações Governamentais e Marketing da BYD, palestrou em seguida sobre o tema “Ganhos de eficiência sob a perspectiva climática”. O período da manhã se encerou com o debate “A matriz energética do Brasil necessita de um novo marco regulatório?”. A mesa contou com a participação de Marcos Meireles; Alexander Tenório, diretor da ABESCO (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia) e diretor executivo da PowerEsco; Zilmar de Souza, gerente de bioeletricidade da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar); André Rocha, economista, advogado e analista credenciado pela Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do

Debatedores discutiram o tema “A matriz energética do Brasil necessita de um novo marco regulatório?”

Rodrigo Lopes Sauaia, presidente executivo da ABSOLAR

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Líderes e Práticas

Mercado de Capitais); e Bárbara Rubim, coordenadora de projetos de energias renováveis do Greenpeace Brasil. A segunda mesa-redonda do dia trouxe à luz o debate “Dos desafios da cadeia produtiva à transformação energética”, com a participação de Carlos Evangelista, Presidente da ABGD (Associação Brasileira de Geração Distribuída); Mark Lyra, presidente da Cosan Biomassa; Ary Pinto, conselheiro da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica); Nicola Moreira Miccione, gerente do Escritório de Promoção e Atração de Investimentos e Relacionamento Institucional do Banco do Nordeste; Moacir de Miranda Oliveira Júnior, professor titular e coordenador de mestrado e doutorado em administração da USP, e coordenador do curso de pós-graduação em gestão de negócios de energia elétrica da FIA (Fundação Instituto de Administração); Lucia Casasanta, diretora de conformidade da Eletrobras; e Rodrigo Lopes Sauaia, presidente executivo da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica). A primeira palestra do período da tarde foi de Lucas Kerr de Oliveira, Professor Adjunto na UNILA (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), sobre “A geopolítica nas matrizes energéticas”.

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A segunda mesa-redonda do evento debateu o tema “Dos desafios da cadeia produtiva à transformação energética”

Marcos Meireles, CEO da Rio Energy

Adalberto Maluf, diretor de Relações Governamentais e Marketing da BYD


Personalidades premiadas no “1º 100 Mais Influentes da Energia”

100 Mais Influentes da Energia Ao final das palestras e debates, o Grupo Mídia promoveu no mesmo local o primeiro 100 Mais Influentes da Energia. As personalidades foram eleitas pela Full Energy, contemplando executivos, gestores, especialistas, professores, entre outros profissionais que mais se destacaram no último ano. “Este é o nosso primeiro evento dedicado exclusivamente para o setor de Energia, como também nosso primeiro prêmio para esses grandes nomes. Para 2017, vamos realizar este evento em um espaço bem maior, pois vimos que a nossa proposta foi bem aceita pela comunidade de Energia”, afirma Edmilson Jr. Caparelli, CEO do Grupo Mídia. Nivaldo Rodrigues da Costa, que está à frente da Superintendência da Unidade de Negócios de Tratamen-

Edmilson Jr. Caparelli, CEO do Grupo Mídia

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Líderes e Práticas

to de Esgoto da Sabesp, eleito entre os 100 Mais Influentes da Energia na categoria Sustentabilidade, afirmou que o prêmio demonstra a atenção da Sabesp quanto a esse aspecto. “Temos um importante projeto de geração de energia a partir de esgoto. Isso evidencia nossa preocupação de fomentar a sustentabilidade.” Alexandre Reis, diretor da SEW Eurodrive Brasil, foi eleito na categoria Indústria. “A energia move o mundo. Nosso desafio é conseguir energias renováveis e limpas para que no futuro tenhamos um mundo melhor para as futuras gerações.” Rafael Paniagua, CEO da ABB Brazil, também esteve presente no evento e foi indicado entre os mais influentes na categoria Tecnologia. “Estou muito lisonjeado de estar entre os 100 Mais Influentes de Energia e isso aumenta ainda mais nossa responsabilidade.” Mauricio Garcia, diretor da unidade de Energia da Sotreq, foi eleito na categoria Sustentabilidade. Ele afirmou estar surpreso e honrado com a indicação. “Isso é fruto de muito trabalho e é muito gratificante receber esta homenagem da Full Energy”. “Estou muito lisonjeado com esta indicação. É com muita humildade que recebo este prêmio e espero, no ano que vem, ter mais pessoas representando o setor de energia renovável, que é tão importante para o país”, afirma Mark Lyra, CEO da Cosan Biomassa, eleito na categoria Inovação. 64

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Elbia, Zilmar e Sauaia: premiados na categoria Entidades Setoriais

João Paulo da Silva, diretor da Weg Energia, e Hilton José da Veiga, diretor de recursos humanos da Weg

Premiados na categoria Inovação: Marcos Maciel, Silas Barroso, Mark Lyra e Charlez Lenzi


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Estratégia

COP-22: chegou a hora de colocar os compromissos em prática

As ações de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas priorizam os setores que mais contribuem com as emissões de gases de efeito estufa no país, como agropecuária, energia e uso de terras e florestas 66

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a década de 1980, cientistas perceberam um buraco na camada de ozônio. Para buscar solucionar o problema, um acordo internacional, chamado Protocolo de Montreal, estabeleceu a primeira ação para combater as substâncias destruidoras da camada de ozônio. O objetivo era substituir os CFCs – os clorof luorcarbonetos, compostos artificiais que possuem carbono, f lúor e cloro em sua estrutura – por uma mistura de butano com propano ou por HFCs (hidrof luorocarbonetos), um ‘CFC ecologicamente melhorado’, que combina características físicas e químicas com alta eficiência volumétrica. No entanto, a luta pela preservação da camada de ozônio é constante. Em 2015, em busca de novas medidas contra o aquecimento global, um acordo internacional sobre o clima foi negociado. No dia 12 de dezembro do ano passado, durante a COP21 (21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), em Paris, os 195 países membros da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança Climática) assinaram um tratado que limita o aquecimento do planeta a 2º C até 2100. Conhecido como Acordo de

Paris, o compromisso tem o objetivo central de fortalecer a resposta global à ameaça da mudança do clima e de reforçar a capacidade dos países para lidar com os impactos decorrentes dessas mudanças. Para alcançar essa meta, os governos dos países envolvidos produziram os seus próprios compromissos a partir das chamadas “Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas” (iNDC, na sigla em inglês). Com base nas iNDCs, cada nação apresentou sua contribuição de redução de emissões dos gases de efeito estufa, seguindo o que cada governo considera viável a partir do cenário social e econômico local. Para entrar em vigor, o Acordo de Paris precisava cumprir o critério de ser aprovado como lei doméstica por pelo menos 55 países, que somassem 55% das emissões globais de gases de efeito estufa. No dia 12 de setembro de 2016, o presidente Michel Temer assinou a confirmação do tratado, transformando o Brasil em mais um país a ratificar o acordo. Segundo a imprensa, mais de 60 países ratificaram o tratado, incluindo China e Estados Unidos, nações que, juntas, são responsáveis por mais de 40% das emissões de carbono do mundo.

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Estratégia

“A redução de emissão de gases de efeito estufa que o Brasil propõe é bastante ambiciosa e factível, desde que a sociedade brasileira se engaje nesse desafio. É possível aumentar a produtividade e reduzir emissões com o uso de novas tecnologias e práticas mais eficientes”, acrescenta. O compromisso brasileiro com o Acordo de Paris visa alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030, que, de acordo com Lucero, aumentará a participação de bioenergia sustentável brasileira para, aproximadamente, 18%. O Brasil já dispõe de um dos maiores e mais bem-sucedidos programas de biocombustíveis do mundo, incluindo a cogeração de energia elétrica a partir da biomassa. Além disso, o país alcançou os mais expres-

Novos compromissos do Brasil O Brasil, através de sua iNDC, se comprometeu a reduzir até 2025 as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005. Já para 2030, o país assumiu uma contribuição indicativa de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005. Para tanto, o país pretende, dentre outras iniciativas, zerar o desmatamento na Amazônia Legal e restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, uma área equivalente ao território da Inglaterra. De acordo com Everton Frask Lucero, secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, as ações implementadas da iNDC brasileira deverão abranger tanto a mitigação quanto a adaptação aos efeitos negativos da mudança do clima. “Em mitigação, serão priorizados aqueles setores que mais contribuem com as emissões de gases de efeito estufa no país, como agropecuária, energia e uso de terras e florestas.” Para o secretário, a implementação da iNDC brasileira abre uma nova agenda de oportunidade em negócios sustentáveis no país, podendo ser utilizada como catalisadora para a retomada do desenvolvimento nacional de forma competitiva e menos agressiva ao meio ambiente. 68

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Everton Frask Lucero, secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente

sivos resultados na redução de emissões por desmatamento, principalmente, em função da queda da taxa de desmatamento na Amazônia brasileira, de 71% entre 2004 e 2016. Hoje, a matriz energética brasileira contém 40% de energias renováveis – o que representa três vezes mais a participação média mundial e mais de quatro vezes a dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Em contrapartida, o compromisso do Brasil com o Acordo de Paris tende a estagnar a utilização de energias fósseis. Ainda que essa fonte represente cerca de 55% da matriz energética brasileira, segundo Lucero, o governo vem empregando esforços para uma transição para sistemas de energia baseados em fontes renováveis e descarbonização.


Em Marrakech, no Marrocos, aconteceu em novembro a COP-22 (22ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima). Sob a presidência marroquina, o evento apresentou nova proposta para a implementação do Acordo de Paris. Definiu-se um calendário para a conclusão dos trabalhos em 2018, com a possibilidade de uma sessão da Reunião das Partes no Acordo de Paris (CMA) em 2017 e a consideração de assuntos que ainda não foram incorporados ao programa de trabalho. O Brasil participou da COP22 com ampla e diversificada delegação, incluindo representantes de diferentes âmbitos do Governo, Congresso Nacional, academia, entidades privadas e de organizações não governamentais. Durante a conferência, o ministro do Meio Ambiente José Sarney Filho, chefe da delegação brasileira, ressaltou em suas intervenções a irreversibilidade do Acordo de Paris e a necessidade de acelerar os trabalhos para sua plena implementação, evitando-se entraves ao processo de detalhamento do “livro de regras”. Nesse sentido, defendeu que a suspensão da 1ª Reunião das Partes no Acordo de Paris ocorra por um ano, para avaliar o progresso do programa de trabalho e manter o incentivo a novas ratificações. Entende-se que esse seria um

Foto: Paulo de Araújo/MMA

Brasil na COP-22

José Sarney Filho, Ministro do Meio Ambiente

sinal político adequado para a comunidade internacional sobre a implementação do Acordo de Paris. O ministro também destacou, igualmente, o compromisso e empenho do país na execução da iNDC brasileira. Em pronunciamento na COP22, José Sarney Filho afirmou que o Brasil está preparado para cumprir seus compromissos e que, com instrumentos financeiros e de investimento adequados, pretende atingir seus objetivos antes dos prazos estabelecidos, empenhando os maiores esforços para ir além do pleiteado na iNDC. De acordo com Lucero, fora

o processo negociador normal, durante a COP-22, ocorreu uma série de eventos para mobilizar ações de enfrentamento à mudança do clima através de atores estatais e não estatais. Nesse contexto, cabe destacar o lançamento da “Plataforma para o Biofuturo”, em novembro. “Iniciativa brasileira, em parceria com mais 19 países, que almeja promover a maior utilização de combustíveis renováveis no transporte e na indústria, por meio dos combustíveis avançados e outras soluções da bioeconomia”, ressalta Lucero. edição 22 | FULL ENERGY

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Estratégia

Trump: inconveniente ameaça ao clima da Terra

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Durante sua campanha, Trump prometeu retirar as leis e regulamentações para a proteção ambiental e o combate ao aquecimento climático, acusando Obama de ter declarado guerra ao carvão, um tema eleitoral sensível em vários estados. Porém, após ser eleito, ele parece ter moderado suas posições. Na direção totalmente contrária ao pensamento de Trump estão os movimentos que centram fogo contra as fontes fósseis de energia. A advogada Nicole Figueiredo de Oliveira, ativista ambiental e diretora da 350.org para a América Latina, participou ativamente das discussões que originaram o Acordo de Paris e esteve presente na COP-22. “No Marrocos, cobramos o congelamento da exploração das fontes fósseis, como gás natural, petróleo e carvão. Chegamos a um ponto em que as mudanças climáticas são cada vez mais severas. Exemplo é a pior crise hídrica dos últimos cem anos no Ceará. Os eventos climáticos extremos estão constantes”, dispara Nicole. Segundo ela, se forem somados todos os compromissos climáticos assumidos até o momento, “ainda manteremos o aquecimento de 3º C do planeta”.

Foto: Gage Skidmore

Os termômetros estão subindo. Alguns estudos mostraram que o Acordo de Paris sozinho é insuficiente para controlar o aquecimento global, mas é um precioso início de caminho. Em declaração à imprensa, o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), lembrou que os esforços que os Estados oferecem em suas contribuições nacionais não são suficientes. Se a meta é atingir os 2ºC até o final do século, seria necessário que as emissões globais dos GEE (Gases de Efeito Estufa) fossem de cerca 42 giga toneladas por ano. No entanto, com a implementação dos planos nacionais apresentados até agora, o mundo emitiria por ano entre 54 e 56 giga toneladas, resultando no aumento da temperatura entre 2,9 e 3,4º C em 2100. Outro desafio para o Acordo de Paris e para o clima da Terra está na eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. O presidente eleito disse inúmeras vezes que o aquecimento global não passa de um mito. Muito antes de começar a sua campanha presidencial, em 2012, Trump afirmou, no Twitter, que a mudança climática é “uma lenda inventada pelos chineses para detonar os EUA”. Além disso, Donald Trump já avisou que não pretende dar continuidade à agenda ambiental de Barack Obama, ameaçando cancelar o Acordo de Paris já assinado pelo país. Entretanto, pelas cláusulas do acordo, uma vez que entrou em vigor, o que aconteceu em novembro deste ano, nenhum país que o ratificou pode se retirar com menos de um ano de permanência. E mesmo se o fizer, a renúncia só terá efeito três anos depois. Ou seja, Trump está preso ao Acordo de Paris pelo menos até a próxima eleição. Confirmando o receio global com a eleição do presidente norte-americano, Trump nomeou Scott Pruitt, opositor da política climática de Barack Obama, para liderar a agência de meio ambiente (Agência de Proteção Ambiental). Como secretário estadual de Justiça, Pruitt promoveu uma batalha judicial contra as medidas de Obama, aplicadas pela EPA, que visa reduzir as emissões de gases do efeito estufa nas centrais elétricas a carvão.


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Inovação e Tecnologia

Sertãozinho - SP

Entressafra de recuperação “Antes só víamos a redução dos negócios, mas neste ano temos um cenário melhor do que no mesmo período de 2015” 72

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“D

eixou de piora r”, comemora o empresário Paulo Gallo, presidente do Ceise_Br (Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis), ao comparar o atual momento da cadeia sucroenergética com o período de crise que o segmento

enfrentou nos últimos anos. Para ele, nesta entressafra já são perceptíveis os sinais de melhora em relação à entressafra passada, por exemplo. “Neste ano, temos vários projetos em andamento em empresas na cidade de Sertãozinho, o que não existia no ano passado. Temos duas ou três fábricas de açúcar sendo produzidas, e algumas caldeiras


novas. Ainda é pouca coisa, está longe de ser aquilo que a gente gostaria, mas é um sinal muito positivo”, afirma Gallo. Um dos termômetros da recuperação são os contratos de manutenção na entressafra 2016/17. Nos últimos anos, muitas usinas, por conta das dificuldades financeiras, postergaram alguns trabalhos. Já em 2016, as empresas de

equipamentos e serviços de Sertãozinho (SP) – cidade conhecida como polo nacional de tecnologia voltada ao setor sucroenergético –, registram um movimento melhor do que nos últimos anos. “Ainda é uma recuperação discreta num primeiro momento, mas acredito que virou o ciclo. Antes só víamos a redução dos negócios, mas neste ano temos um cená-

rio melhor do que no mesmo período de 2015”, frisa Gallo. Para o presidente do Ceise_Br, a expectativa é de que a retomada ganhe corpo pouco a pouco, principalmente em 2017, com o reforço das medidas que serão tomadas pelo governo federal dentro do Progama RenovaBio 2030, em sintonia com a cadeia sucroenergética.

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Inovação e Tecnologia

Novas tecnologias Apesar de tímida, a recuperação começa a ser sentida por diferentes empresas fornecedoras de equipamentos e serviços para o setor sucroenergético. Na empresa em que Paulo Gallo é atualmente sócio-diretor, a Servserth Automação Industrial, a percepção é de melhoria do cenário. “A retomada é na mesma proporção do mercado de equipamentos novos, principalmente porque o segmento de automação está intrinsecamente relacionado com as empresas de equipamentos, que são cada vez mais automatizados.” Em outros setores ligados à cadeia sucroenergética, a percepção também é de aquecimento. Para Iwao Ishizaki Neto, engenheiro de inovação da Aperam, um movimento de recuperação do mercado é nítido. “Nesta entressafra, sentimos que o mercado está melhor do que no ano passado. Pelo menos com relação ao interesse por novas soluções ou pela adoção do inox, em substituição a equipamentos ou estruturas em outros materiais.” A entressafra é o momento em que a usina encerra as atividades com a finalidade de fazer manutenção e substituição de equipamentos. “Quando se fala em adoção de matéria-prima como o aço, este é o momento de ser aplicado na unidade.”

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Fernando Vicente, Diretor Industrial da Usina Alta Mogiana

Segundo ele, em uma usina sucroenergética, a entressafra não é apenas a ocasião de se substituir equipamentos por materiais diferentes, como o inox. “Na Aperam, fazemos visitas às usinas na entressafra para verificarmos como se comportou desde o início

do ano algum material que estamos testando em alguma parte do processo.” Ishizaki constata que o interesse das usinas por novos materiais, como o inox, tem se fortalecido, principalmente por conta da redução de custos que proporciona.


Usina Alta Mogiana

Opção pelo inox Taliscas em inox “Hoje, sentimos que as usinas estão se profissionalizando em termos de gestão de custos, mas para isso têm que procurar alternativas inteligentes”, afirma Ishizaki. Isto porque, segundo ele, o inox é um material mais nobre, que confere maior resistência ao desgaste e à corrosão. “Isto proporciona maior disponibilidade do equipamento durante a safra e permite que a entressafra destas usinas seja menor.” Como, na média, a entressafra canavieira encurtou, os materiais com maior resistência à corrosão levam vantagem porque não precisam de intervenção. Neste sentido, a procura por novos materiais, como inox, tem crescido por conta do custo-benefício que este aço oferece. “O setor sucroenergético está mais preocupado em buscar soluções na redução de custos no longo prazo.”

Na Aperam, um exemplo recente são as taliscas de esteira de cana, fabricadas em inox 410 D. Em aço carbono, este componente dura cerca de 3 safras. “Já em inox, a durabilidade da talisca é maior. Dura aproximadamente 8 anos sem a necessidade de substituição.” Mas a companhia não para de pesquisar e testar novas soluções. “Estamos testando outro material para taliscas, com propriedade mecânica maior do que a do 410 D e mais resistente. Assim, esperamos reduzir mais a espessura da talisca.” O conjunto que forma a esteira de cana picada também é composto por correntes – além da talisca. Neste equipamento, um dos desafios da Aperam, atualmente, é desenvolver correntes em inox, com as mesmas características do material utilizado hoje e com custo-benefício interessante.

Fernando Antônio da Costa Figueiredo Vicente, diretor industrial da Usina Alta Mogiana, relata que na entressafra atual a companhia está substituindo o fundo de uma Caldeira de 200 toneladas de vapor/ hora de aço carbono por inox 410 D. “Também estamos executando multijatos da fábrica de açúcar em inox 304, além de ampliarmos o seu uso como chapas de revestimento.” Na Alta Mogiana, a aplicação do inox tem sido amplamente satisfatória por permitir aumento da vida útil e redução de intervenções por desgaste. “Além disso, por produzirmos um alimento, ganhamos nas boas práticas de fabricação”, diz Vicente. Na usina, a substituição por inox tem ocorrido à medida que se esgota a vida útil do aço carbono e se viabiliza a aplicação do inox, sempre avaliando o custo-benefício. Segundo o diretor da Alta Mogiana, diante do desafio de ampliar a aplicação deste material na empresa, “a Aperam é um parceiro forte que tem gerado uma relação ganha-ganha interessante, realizando experiências e buscando otimização dos processos produtivos e suas manutenções”.

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Sustentabilidade

Xisto: revolução ou problema? O Brasil tem a 10ª maior reserva mundial de gás de xisto; por causa dos riscos ambientais, ativistas e comunidades lutam contra a exploração desta fonte energética no país 76

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O

gás de xisto é um gás natural encontrado internamente em uma espécie de rocha sedimentar porosa, denominada xisto (ou folhelho). Suas características são praticamente as mesmas do que o gás tradicional derivado do petróleo. Pelo que se tem nota, o gás de xisto foi explorado pela primeira vez em 1920 na União Soviética, na região onde hoje fica a Estônia, sendo aplicado em fábricas de alcatrão, benzina e gás. Também conhecido como “gás não convencional”, o

grande diferencial desta fonte energética está em sua forma de produção, uma vez que se encontra comprimido em pequenos pedaços dentro das rochas. Dessa forma, para sua retirada, se faz necessária a utilização de pressão hidráulica para que pequenas fraturas na rocha sejam criadas, num processo denominado “fraturamento” (fracking). O processo de retirada parece simples e de fácil realização, mas necessita de uma avançada tecnologia, utilizada tanto para perfurar como para estimular as zonas da rocha que englobam o gás.


poluída por hidrocarbonetos e por outros compostos e metais presentes na rocha e pelos próprios aditivos químicos. Além do risco de contaminação de áreas vizinhas, o processo pode permitir que os gases acumulados nas rochas cheguem a aquíferos e águas superficiais. • Ocorrência de tremores

Poço de exploração do gás no meio de macieiras

Principal empregador mundial desta fonte energética, os EUA passaram por uma explosão, nos anos 2000, na utilização do gás de xisto (shale gas, em inglês), chegando a suprir em torno de um quarto das necessidades energéticas do país. As principais aplicações são: aquecimento de casas; geração de eletricidade; e diversas aplicações em fábricas e indústrias. O barateamento dos custos da utilização do gás contribuiu para este processo, o que inclusive é visto como uma revolução energética no país e com impacto global, uma vez que os EUA são os maiores consumidores de energia do mundo e, com o shale gas, passam a sonhar em atingir a independência energética.

Problemas ambientais No entanto, na mesma proporção que a exploração do gás de xisto avançou comercialmente nos EUA e em outras partes do mundo, como no Canadá, também passaram a ganhar notoriedade vários problemas ambientais decorrentes de sua exploração. • Água misturada a produtos químicos A técnica de extração do gás não convencional consiste na injeção de milhões de litros de água misturados a produtos químicos e areia para gerar fraturas na rocha. Toda a água usada no processo de extração retorna à superfície,

Estudos relacionam a injeção de água residual no subsolo ao aumento da ocorrência de tremores nos Estados Unidos. Um deles, realizado pelo Serviço Geológico do país (USGS), indica que o número de tremores aumentou dramaticamente ao longo dos últimos anos. Mais de 300 terremotos acima de magnitude 3 ocorreram entre 2010 e 2012, em comparação com uma taxa média de 21 eventos por ano, observados entre 1967 e 2000. Os cientistas da USGS descobriram que em alguns locais o aumento da atividade sísmica coincide com a injeção de efluentes em poços de descarte. Outra suspeita é de que o aumento da atividade em poços de gás natural alterou tensões em áreas suscetíveis a terremotos, aumentando a pressão de poros fluidos nas rochas subterrâneas, lubrificando falhas pré-existentes e deixando-as mais propensas à ruptura.

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Sustentabilidade

• Poluição em rios Os fluidos poluídos do fraturamento hidráulico são apontados como a causa da morte de espécies aquáticas em rios próximos às áreas de exploração onde foram verificados vazamentos. • Emissões de metano Apesar de poluir menos que o carvão, a extração de gás de xisto pode emitir na atmosfera, de maneira fugitiva, volumes nada desprezíveis de metano, um gás 20 vezes mais potente que o CO2. Gás de xisto no Brasil A busca pelo gás de xisto no território brasileiro também ocorre, apesar da falta de um marco regulatório claro sobre como as explorações devem ocorrer e da carência de estudos aprofundados sobre os riscos socioambientais da extração de gás não convencional. O país possui a 10ª maior reserva recuperável estimada de gás de xisto do mundo. Consultado pela Full Energy, o Ministério de Minas e Energia não passou informações sobre o posicionamento do governo brasileiro quanto ao gás de xisto. O MME apenas afirmou que “não há previsão de exploração de gás não convencional para as rodadas de leilões de 2017”. 78

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Poço de exploração na Patagônia Argentina

Segundo o professor de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ (Instituto “Alberto Luiz Coimbra” de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro), Alexandre Szklo, não há estimativas adequadas das reservas brasileiras do gás de xisto, uma vez que o país não possui uma exploração comercial desta fonte. “O que temos são estimativas do volume de shale gas no Brasil, mas nem todo este volume seria rigorosamente recuperável.” O conhecimento disponível é um estudo do serviço geológico norte-americano que indica a quantidade do recurso que há no subsolo ao qual se tem tecnologia para recuperar – “o que não significa que é viável de se explorar”.

O professor Szklo relata que a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) fez uma estimativa própria sobre os recursos deste gás disponíveis no país. “Tentou analisar a geologia do shale gas no Brasil e com isso atingiu um valor de 8,2 trilhões de metros cúbicos.” Mas a Coppe/UFRJ tem feito uma avaliação diferente. Na análise da instituição, o que deve limitar a exploração do gás de xisto não é a presença do recurso, mas sim outros fatores. Na sequência, estão alguns deles. - A disponibilidade de recursos hídricos para realizar o fraturamento hidráulico precisa ser adequada para que se tenha um ritmo viável de exploração de poços de shale gas. “No estudo da Coppe, o


Brasil tem diferentes bacias com potencial. O que não seria o caso, por exemplo, do Norte do Rio São Francisco, que não teria disponibilidade de água para se fazer uma exploração intensa.” - Não adianta ter o recurso se não há conhecimento do potencial da curva de recuperação deste recurso. “Se o gás estiver muito preso na rocha, por mais que se perfure, fica difícil de recuperar. Não temos o perfil de recuperação de produção de poços de shale gas no Brasil.” – O ritmo de perfuração de poços precisa ser considerado. É que a curva de produção de um poço de shale gas, seja ele muito ou pouco produtivo, atinge o pico. “Rapidamente se extrai o máximo de um poço, que passa a declinar também rapidamente.” Quando isto acontece, é necessário perfurar mais um poço, justificando o surgimento de uma indústria de serviços de perfuração disponível no local. - O país precisa ter uma lógica de licitação dos blocos de gás não convencional diferente do que tem hoje para petróleo e gás convencional. “Na verdade, para óleo e gás convencional, o grande problema é encontrar o óleo e o gás, e não captá-lo. O problema do gás não convencional não é a dificuldade em descobrí-lo, mas sim a possibilidade de se manter uma produção intensa, contínua e com alto padrão de recuperação.”

Alexandre Szklo, professor de Planejamento Energético da Coppe/ UFRJ

- O regime fiscal atual para óleo e gás convencional não está adequado para o não convencional, de modo a permitir o surgimento de uma “fábrica de poços”. - Nem todas as áreas em que há recursos de gás não convencional têm ramais de gasoduto por perto. “Se não há esta estrutura, não adianta produzir o gás. Podemos construir o gasoduto, mas aí tem o problema de timing. Um poço de shale gas nos EUA tem vida de cinco anos. No Brasil, hoje, não se constrói um ramal de gasoduto em menos de sete anos.” Se não há gasoduto, o produto extraído tem de ser destinado à geração elétrica, uma vez que não há logística de escoamento para atender o mercado de gás.

- A Coppe fez uma simulação para o Brasil considerando o ritmo de perfuração de poços. “Chegamos numa previsão de produção de gás não convencional no país para 2030, se construirmos um poço horizontal por dia: em torno de 15 milhões de metros cúbicos/dia.” Para o professor Szklo, o Brasil não está preparado para o gás de xisto. Não há regulamentação fiscal, nem ambiental. Caso tais medidas sejam tomadas, o país irá limitar as áreas em que será permitido fazer a perfuração. Segundo ele, talvez a bacia do Rio Paraná seja a mais adequada no país para a exploração do shale gas, uma vez que está próxima de gasoduto. “Não temos como dizer se vale a pena explorar esta

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Sustentabilidade

O consumo de água em um poço de gás de xisto é intensivo

fonte energética no Brasil, mas certamente não seria viável em todas as bacias.” Para Alexandre Szklo, os ativistas que levantam bandeira contra os riscos do gás de xisto têm razão em vários pontos. “Com relação ao uso intensivo de água, não tem como perfurar poços intensamente sem utilizar muito o recurso hídrico. Para suprir esta demanda por água, tem que levar caminhões pipa, porque os poços mudam de posição, o que acarreta tráfego intenso de caminhões.” Ou seja, a exploração destes poços traria impacto sobre a demanda de água e a intensificação do uso da malha rodoviária. “Também há o problema do descarte da água. Entre 50% e 60% do reservatório injetado retorna. Como 80

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se coloca aditivos químicos, embora em pouco volume, há o risco de esta água atingir aquíferos subterrâneos.” Também há o registro de pequenos abalos sísmicos atribuídos à exploração do shale gas que devem ser estudados. Outra questão é a ocupação do solo. “Ocupa-se uma área grande de solo para se fazer a exploração contínua.” Segundo o professor da Coppe/UFRJ, há a necessidade, antes de entrar com o processo de exploração desta fonte no Brasil, de fazer estudos adequados dos riscos inerentes a ela. “Mas isso não significa que não se deve fazer a produção do gás de xisto no país, mas é imprescindível realizar os devidos estudos e é preciso aprender a lidar com os riscos relacionados à exploração.”

De olhos nos riscos Na opinião da advogada e ativista Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350. org para a América Latina e coordenadora nacional da Coesus (Coalizão Não Fracking Brasil), recorrer à exploração do gás de xisto no Brasil não vale a pena, independente de onde se realiza a perfuração. “É uma tecnologia cara, tanto no sentido da operação como pelo ônus da recuperação dos estragos que este gás provoca.” Ela destaca que, no Brasil, foram leiloados blocos de xisto desde 2013 sobre os principais aquíferos do país e em terras produtivas agrícolas, como no estado do Paraná, que tem o segundo maior PIB (Produto Interno


Comitiva formada por autoridades brasileiras visitou a Argentina para conhecer os riscos da exploração do shale gas

Bruto) agrícola brasileiro. “Se já existe uma economia local – fortemente calcada na agricultura, no caso do Paraná e temos potencial para recorrer a outras fontes de energia, não vale a pena essa exploração.” Nos Estados Unidos, vários estudos em regiões de exploração do gás de xisto comprovam que as águas superficiais e subterrâneas foram contaminadas pelo fracking. O movimento coordenado por Nicole levou uma comitiva de autoridades brasileiras para conhecer de perto os impactos da exploração de gás de xisto na Argentina. “Eles viram que o consumo de água no país é de 70 mi-

lhões de litros por poço. E é água potável, que não pode ser recuperada depois, porque volta com vários produtos químicos, como chumbo e outras substâncias.” No país vizinho, várias localidades têm registrado aumento de problemas de saúde decorrentes da ingestão de água contaminada, como gastrointerite, segundo ela. Nicole também relata a existência de poços de shale gas no meio de plantações de maçã, pera, pêssego, uva e cereja. “Estamos sempre atentos, tentando alertar a sociedade contra os riscos da exploração deste combustível fóssil”, conclui Nicole.

SE JÁ EXISTE UMA

ECONOMIA LOCAL –

FORTEMENTE CALCADA NA AGRICULTURA, NO CASO DO PARANÁ - E

TEMOS POTENCIAL PARA RECORRER A OUTRAS FONTES DE ENERGIA, NÃO VALE A PENA ESSA EXPLORAÇÃO”,

Nicole Figueiredo de Oliveira

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Perfil

Empreender sempre, sem nunca perder o equilíbrio Paulo Gallo, presidente do Ceise_Br 82

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E

mpreendedor. Esse é o adjetivo que melhor define Paulo Roberto Gallo, 53 anos, presidente do Centro das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise_BR) e sócio-diretor da Servserth Automação Industrial, em Sertãozinho (SP). Ribeirãopretano de nascença, mas sertanezino de coração, Gallo é formado em eletrônica há 35 anos e atua como empresário no setor de automação industrial, mantendo um estreito relacionamento com o setor sucroenergético há mais de três décadas. Ao longo do tempo, Gallo foi sócio em importantes empresas fornecedoras de tecnologias para o setor e membro do Conselho Industrial do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e presidente do Ceise_BR entre 1998 e 1999. Foi reconhecido em 2001 como Personagem do Ano pela APREL (Associação dos Profissionais de Eletroeletrônica do Estado de Alagoas), e como Personalidade da Indústria em 2011, pela revista Visão da Agroindústria. Gallo foi, ainda, diretor executivo da ISA (Sociedade Internacional de Automação) para a América Latina, tendo sido conferencista e palestrante em diversos eventos relacionados à produção de biocombustíveis em vários países das Américas e da Europa, além do Brasil. Autor de diversos artigos tratando de temas técnicos e

setoriais, o empresário vem mantendo uma série de atividades junto a autoridades federais e estaduais em busca de caminhos para a retomada de investimentos no setor sucroenergético. Gestão estratégica Em 2015, foi eleito pela segunda vez presidente do Ceise_Br, assumindo a entidade no começo de 2016 com o compromisso de representar as fábricas de equipamentos, bens de capital, insumos e tecnologia para as usinas do ramo durante o triênio 2016-18. Segundo o presidente, a sua gestão está sendo embasada, entre outras estratégias, na ampliação das ações da entidade junto ao setor sucroenergético, buscando a diversificação de mercados locais e no exterior, através da elaboração de novas parcerias e consolidação de agendas comuns. “Investimos, neste ano, dentro do nosso planejamento estratégico, em visibilidade para o Ceise_Br. Não só no segmento industrial, como também na parte da comunidade como um todo, buscando mostrar os trabalhos sociais que são feitos pela entidade”, complementa. Além disso, o empresário conta que, sob sua gestão, o conselho intensificou, neste último ano, sua ação no cenário político-partidário, passando a participar frequentemente de encontros político-energéticos em Brasília.

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Perfil

RenovaBio 2030 Neste ano, durante a segunda semana de dezembro, diferentes autoridades do setor sucroenergético se reuniram com o Ministério de Minas e Energia para a construção do RenovaBio 2030, programa que busca promover a expansão da produção de etanol e biodiesel no país, em harmonia com o compromisso brasileiro firmado com o Acordo de Paris. Segundo Gallo, o objetivo do programa é permitir que o Brasil consiga atingir as metas de redução de GEE (gases do efeito estufa) que foram acordadas na COP-21, em Paris. “A meta é unir ideias para criar um programa que seja, ao invés de uma iniciativa de governo, um programa de Estado, que visa organizar o setor de renováveis levando em consideração as diferenças de cada setor. O governo está com pressa, visando um Projeto de Lei para ser votado ainda no primeiro semestre de 2017.” Ainda, para o presidente, se o governo realmente conseguir coordenar esse projeto, o setor será beneficiado com um plano diretor de longo prazo, criando um cenário mais propício para investimentos. “O dinheiro está aí esperando oportunidade de investimento, uma possibilidade de se investir com previsibilidade. E para as empresas isso é muito bom, pois reabre o mercado”, avalia Gallo sobre os possíveis impactos do programa para o setor. 84

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“ESTAMOS SAINDO DE 2016 MELHOR DO QUE ENTRAMOS. TUDO O QUE ACONTECEU NO BRASIL DEU UMA DEPURADA NO PAÍS. AS PESSOAS ESTÃO TOMANDO MAIS CONSCIÊNCIA.” Paulo Gallo

Virando o jogo O empresário avalia que 2017 ainda não será um ano bom para a economia brasileira. Porém, será melhor que 2016, ao menos no que diz respeito à política. “Acho até que nós estamos saindo de 2016 melhor do que entramos. Tudo o que aconteceu no Brasil, como, por exemplo, os escândalos políticos, deu uma depurada no país. As pessoas estão tomando mais consciência.” Em Sertãozinho (SP), Gallo considera que novos projetos estão surgindo, mas que o cenário ainda continua longe do que o mercado espera. “O setor começou a se recuperar discre-

tamente, em um primeiro momento, mas acredito que o ciclo mudou. Antes só tínhamos redução e este ano, em relação ao mesmo período de 2015, as coisas estão melhores. Eu espero que isso seja mantido e que os resultados, somados ao Renova Bio 2030, fiquem cada vez melhores”, analisa. “É fundamental que, em 2017, tenhamos mais estabilidade política. Entretanto, estou animado e espero que a economia retome com mais força. Estou com esperanças de que a gente saia dessa fase ruim”, comenta Paulo sobre suas expectativas para o próximo ano.


Sem terno e gravata Paulo Gallo faz questão de conciliar seu tempo entre o comando do CEISE_Br, a empresa de automação que dirige e a vida pessoal. É casado e pai de Daniela, uma garotinha de 10 anos de idade. Fora do cenário empresarial, gosta de se divertir como radioamador, sendo responsável por uma estação de rádio independente. “Esse é o principal hobby que eu tenho. O rádio é uma coisa muito bacana porque você bate-papo com pessoas do mundo inteiro.” Outras paixões são a leitura e as viagens. Um dos roteiros preferidos é desfrutar as praias do Nordeste. O empresário não leva trabalho e problemas para casa. Para ele, é fundamental que exista um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. “É necessário manter um ritmo de trabalho que seja intenso, mas não sacrificante.” Para conseguir lidar com a rotina de trabalho, de representante de classe e de pai, Gallo ressalta a importância de ter uma equipe determinada e coesa. “Quando você tem uma equipe boa, não precisa ficar na operação miúda do dia a dia. Com uma equipe segura, é possível delegar tarefas e depois supervisionar os resultados”.

Bate-pronto com Paulo Gallo Livro de cabeceira: Memórias da Segunda Guerra Mundial, do Winston Churchill. “Além do lado militar, o livro fala sobre política, relacionamentos, estratégias e comando de equipe. É uma história legal. Para quem tem interesse e paciência, eu recomendo”. Hobbies: Leitura e radioamadorismo. Filosofia de vida: “Saber manter o equilíbrio”. Time de futebol: “Eu sou são-paulino não praticante, só simpatizante mesmo”. Destino preferido: Litoral do Nordeste. “As praias são muito bonitas, o povo é muito hospitaleiro, então, é muito agradável e dificilmente você erra”.

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Ponto Final

Esperança renovada

O

ano termina com boa notícia para o setor sucroenergético. Embora em âmbito político e econômico o país continue conturbado, esta importante cadeia da economia brasileira, que gera renda e empregos nas mais diferentes regiões do país, termina 2016 com motivos para estourar o champagne. Depois de muitas reuniões e troca de informações, o governo federal e a cadeia produtiva anunciaram o lançamento do RenovaBio 2030. Um programa que surgiu a partir de um diálogo que começou no início do atual governo, abertura que

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praticamente inexistiu na gestão anterior. O RenovaBio vem ao encontro de exigências antigas da cadeia sucroenergética: reconhecimento das externalidades positivas do etanol e maior participação do biocombustível na matriz energética brasileira. Pontos que foram a pauta do workshop de lançamento do Programa RenovaBio, no dia 13 de dezembro, em Brasília. Para a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e o Fórum Nacional Sucroenergético, o programa está em sintonia com o anseio do empresariado da indústria sucro-

energética, que tem buscado uma proposta governamental de longo prazo, com menor intervenção na economia, especialmente em relação a preços de combustíveis, de maior segurança jurídica e de previsibilidade de regras para retomada de investimentos. A cadeia da cana-de-açúcar está com uma expectativa positiva sobre o programa, que apresenta interesses mais abrangentes, uma vez que envolve ganhos ambientais, sociais e econômicos, indo além das ambições do Próalcool, da década de 1970, cujo objetivo era o abastecimento de combustíveis do país.


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Eventos 2017 Fevereiro 3º Termo Gen (Fórum Estratégico de Geração Termelétrica 2017) Local: São Paulo Data: 16 e 17 de fevereiro Informações: www.forumtermeletrica.com

Março 6º Encontro Cana Substantivo Feminino Local: Ribeirão Preto Data: 16 de março Informações: www.facebook.com/cana.substantivo.feminino 6o Wind Power Tech Local: São Paulo Data: 23 e 24 de março Informações: www.windpowertechbrazil.com 19o Seminário sobre Mecanização e Produção de Cana-de-açúcar Local: Ribeirão Preto Data: 29 e 30 de março Informações: www.ideaonline.com.br

EXPEDIENTE CEO/Publisher: Edmilson Jr. Caparelli Diretora Administrativa: Lúcia Rodrigues Diretora Financeira: Rafaela Mofato Diretora de Arte: Erica Almeida Alves Diretor de Marketing: Jailson Rainer Diretor Executivo: Marcelo Caparelli Diretora Comercial: Giovana Teixeira Diretora Executiva Regional: Gislaine Almeida Diretor de Projetos Especiais e Customizados: Márcio Ribeiro Diretora Editorial: Carla de Paula Pinto Editor da Revista Full Energy: Clivonei Roberto Colaboração: Maísa Oliveira Estagiários: Juliana Ijanc’ e Kahel Ferreira Produtora de Arte: Valéria Vilas Bôas Coordenação de Pesquisa: Janaína Novais Assitente Comercial: Laura Martini e Stefânia Mazoni Gerente de Clientes: Anderson Siqueira, Carlos Apparício e Maurício Fagundes Assinaturas e Circulação: assinatura@grupomidia.com Atendimento ao Leitor: atendimento@grupomidia.com Projetos Editoriais: projetoseditoriais@grupomidia.com Contatos: Matriz: (16) 3629-3010 | Sucursal: (11) 3014-2499 contato@grupomidia.com | redacao@grupomidia.com | comercial@grupomidia.com Matriz: Rua Aureliano Garcia de Oliveira, 256 - Ribeirão Preto - SP Filial: Av. Paulista, 1471 - 11º Andar - São Paulo - SP

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