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Editorial
10 Anos do Grupo Mídia: a ousadia é a energia que nos move
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novação e muito trabalho. Estas premissas sempre nortearam a trajetória do Grupo Mídia desde seu começo, em fevereiro de 2007. Uma empresa que partiu de um sonho e se materializou, rapidamente, em um dos grupos de comunicação mais atuantes e arrojado do interior do País. Sempre focado em atender as demandas do mercado editorial, o Grupo Mídia produziu inúmeras publicações ao longo destes dez anos. Primando pela qualidade editorial e pelo compromisso com o público, a empresa investiu na interatividade, na convergência, na mobilidade e no projeto gráfico. Afinal, nossa missão é utilizar das melhores e mais eficazes ferramentas e plataformas para manter nossos leitores bem informados. O Grupo Mídia se orgulha por ter contribuído com diferentes mercados, desde a sua primeira publicação, ao oferecer conteúdo de qualidade e aprimoramento profissional. Prova disso são as revistas da área de Saúde: HealthCare Management, Health-IT e HealthARQ, que se tornaram produtos nacionais de referência em gestão e negócios. A empresa também incorporou em seu portfólio a Revista Realiza Premium, uma publicação focada no público regional, e que se destaca pelas pautas temáticas e pelo projeto gráfico luxuoso,
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Edmilson Jr. Caparelli CEO | Publisher
levando informação de qualidade a um leitor altamente exigente. Outro segmento editorial em que o Grupo Mídia já se consolidou é o de Energia. Ao lançar a Revista Full Energy, posicionou-se como líder na geração de conteúdo voltado a gestão na área energética. Para segmentos como óleo e gás, sucroenergético, eólica, solar e biomassa, a Revista gera conhecimento ao publicar reportagens sobre temas atuais, discutir assuntos relevantes e abrir espaço para diferentes especialistas apresentarem seus pontos de vista. O Grupo Mídia também difunde informações sobre energia diariamente no portal e nas mídias sociais da Full Energy, além de produzir entrevistas especiais em vídeo. E a empresa mais uma vez inovou ao lançar o Prêmio 100 Mais Influentes da Energia e o Fórum Full Energy, que contam com a presença das principais personalidades do setor. Como a dedicação e o talento de uma equipe altamente capacitada e comprometida, o Grupo Mídia está pronto para continuar levando informação e conhecimento de qualidade para o setor energético por mais 10, 20, 30 anos... Sempre focado em alçar voos mais altos, sem nunca ter medo de ousar e inovar. Afinal, como já disse Steve Jobs, “inovação distingue um líder de um seguidor”.
NESTA EDIÇÃO
DEZEMBRO - JANEIRO 2017 Código de Cores
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A Full Energy organiza suas editorias pelo código de cores abaixo: Líderes e Práticas Sustentabilidade Tecnologia e Inovação Mercado Gente e Gestão Ideias e Tendências Estratégia Bioenergia
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Energia responsável CPFL Paulista investe R$ 491 mil no Centro Infantil Boldrini em projeto de geração solar fotovoltaica; iniciativa proporcionará economia estimada de 10% na conta de luz
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A energia que vem dos telhados Setor de energia solar fotovoltaica apresenta crescimento de 100% em participação no mercado; estima-se que até o final de 2017 o Brasil tenha, aproximadamente, 20 mil unidades instaladas entre residenciais e comerciais
As promessas da bioeletricidade Cogeração de energia a partir da biomassa da cana pode melhorar o caixa das usinas de canade-açúcar e ampliar o uso de energia elétrica limpa e renovável no Brasil. Mas alguns percalços precisam ser superados
Articulistas:
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Tercio Marques Dalla Vecchia
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Ricardo C. Deotti e Dib Nunes Junior
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Carolina Araújo
DOSSIÊ O
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Itaipu: energia se faz com competência e motivação Ariel da Silveira, superintendente de RH, apresenta a gestão de pessoas da maior hidrelétrica do país
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Inovação, eficiência e disciplina: O caminho para chegar ao resultado esperado
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Perguntas para...
Luiz Augusto Nóbrega Barroso
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poder dos ventos
O Poder dos Ventos
Apesar de ventos contrários, energia eólica já é realidade
Desafios eólicos
Perfil
Com Jean-Paul Prates, especialista em energia
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Ponto Final
Petróleo continua tendo importância para o futuro energético do Brasil edição 23 | FULL ENERGY
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ALTA TENSÃO
Rede elétrica inteligente reduz consumo de energia O Brasil já viveu a era de apagões e, atualmente, com a crise econômica, o país trabalha com o excedente de energia até 2020. A rede elétrica inteligente (smart grid) é uma importante alternativa a fim de garantir um consumo eficiente de energia. Com a implantação de medidores inteligentes, que começam a ser instalados no país, as fraudes de energia passam a ser praticamente nulas. A expectativa, no entanto, é de não ter projetos de larga escala em prática tão rápido quanto em outros países, uma vez que o projeto de cidades inteligentes requer um alto investimento.
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Foto: Divulgação
Carro flex: o melhor custo-benefício De acordo com estudo realizado pela Accenture Research, o carro flex continuará sendo a melhor opção de compra para o consumidor. A razão deve-se ao uso em larga escala do etanol em modelos bicombustíveis, que apresentam melhor custo/ benefício em relação aos veículos elétricos e híbridos a gasolina. A pesquisa considerou fatores tecnológicos, econômicos e políticos. O estudo aponta ainda que no Brasil, Índia e Rússia, “o mercado de veículos elétricos não existe, o número de compradores potenciais é extremamente baixo e não há infraestrutura, mesmo para os ricos que poderiam comprá-los. O Brasil tende a ir na direção do etanol como alternativa futura ao diesel e à gasolina.”
Energia elétrica sofre reajuste de 9% a partir de 2017 Segundo previsão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), compartilhada pela Abradee, a associação que reúne as distribuidoras de energia, as contas de luz poderão sofrer um aumento de 8 a 9%. Este índice pode alterar, uma vez que o assunto passa por audiência pública e não está fechado. A razão do aumento deve-se à indenização de cerca de R$ 65 bilhões devida pelo governo às concessionárias de transmissão de energia. Isso significa que a conta de luz ficará mais cara até 2024, mas o impacto a cada ano varia. O diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, apontou que, mesmo que o impacto médio de 9% se confirme, essa alta vai ser inferior à redução dos custos com transmissão de energia nas contas de luz nos últimos anos.
Diálogo entre os players do biodiesel Para reforçar o diálogo com o setor e seus diversos agentes, o Ministério de Minas e Energia promoveu, em janeiro, a primeira reunião da Mesa de Abastecimento de Biodiesel. Durante o encontro, o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, Márcio Félix, destacou que o segmento tem tido papel de destaque no MME e lembrou dos avanços que serão conquistados com o RenovaBio, iniciativa que busca a expansão dos biocombustíveis. “O setor de biocombustíveis do país já é reconhecido internacionalmente, mas temos uma oportunidade nova de dar um salto a mais, de maneira que o setor entre em um novo patamar.” Na reunião, entidades do setor produtivo apresentaram informações sobre safra de soja e de outras matérias-primas relevantes para os biocombustíveis. Também foram relatados os dados referentes a exportação, esmagamento, outros mercados do segmento e a expectativa de demanda do biodiesel. Já o setor de distribuição falou sobre a expectativa do mercado de diesel e sobre a demanda bimensal de biodiesel.
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Fotos: Divulgação
Energia Nuclear já responde por 20% da geração elétrica dos Estados Unidos Cerca de 20% da eletricidade dos EUA é gerada a partir de energia limpa das centrais nucleares. São 99 geradores operando e quatro novos reatores em construção nos Estados de Georgia e Carolina do Sul, mas é no Texas onde estão as fábricas mais eficientes do país. Quatro novas usinas nucleares fornecem cerca de 6% da energia de todo o Estado. No final do ano passado, Illinois reconheceu o valor da energia nuclear no cumprimento de seus objetivos de energia limpa, incluindo o padrão zero de emissões. O Estado pode adquirir créditos de energia zero-carbono de usinas nucleares que, por sua vez, nivelam o campo de jogo entre o gás nuclear e o gás natural no mercado de eletricidade desregulamentado do Estado.
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Palavra do Editor
Foco em pessoas
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erir bem os talentos dentro de uma empresa da área de energia faz muita diferença. Não é à toa que, na primeira edição de 2017, a revista Full Energy traz um enfoque especial em gestão de pessoas. Na matéria de capa, Ariel da Silveira, superintendente de Recursos Humanos da maior hidrelétrica do Brasil, a Itaipu Binacional, apresenta um raio-x da política adotada na empresa para desenvolver competências, motivar e reter funcionários. Já na construção de outra hidrelétrica, muita gente foi necessária para tirar do papel uma usina projetada no meio da Floresta Amazônica, às
Clivonei Roberto, Editor da Revista Full Energy
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margens do Rio Madeira: a UHE Jirau, inaugurada em Rondônia no final do ano passado. Cerca de 25 mil trabalhadores, entre profissionais altamente capacitados e operários anônimos, participaram da construção deste sonho, que vai aumentar a segurança energética do país e contribuir para a redução da tarifa. Em Bioenergia, gestores de companhias produtoras de biodiesel relatam os desafios em gerir centenas de fornecedores de matérias-primas, que são fundamentais para a obtenção do óleo utilizado na produção do biocombustível. Da sinergia entre as grandes companhias e os pequenos produtores agropecuários surgem belas iniciativas, que resultam em uma produção de maior qualidade e na manutenção do agricultor familiar no campo. Conheça ainda a trajetória e o que pensam diferentes especialistas da cadeia energética nacional. Jean-Paul Prates, especialista em petróleo e energias renováveis; Charles Lenzi, presidente da AES Eletropaulo; e Luiz Barroso, presidente da Empresa de Pesquisa Energética, compartilham análises e lições sobre o aperfeiçoamento do setor energético no Brasil. Já na Editoria Dossiê desta edição, confira “O Poder dos Ventos” na composição da matriz energética do país. Em uma série de matérias, mostramos o potencial eólico, o avanço das políticas públicas, os entraves que ainda pesam sobre o desenvolvimento desta fonte e o que se pode esperar do futuro. Estas são apenas algumas manchetes de uma edição repleta de novidades, de ensinamentos de gestão e de tecnologias que comprovam o quanto a matriz energética brasileira é diversificada. Boa leitura!
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Perguntas para...
Luiz Augusto Nóbrega Barroso, Presidente da EPE
Foto: Apine
Sobreoferta: como resolver este nó? Everton Frask Lucero, do Ministério do Meio Ambiente
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Os atuais desafios econômicos envolvem o enfrentamento de importantes questões estruturais, o que pode colocar em xeque o ritmo de uma possível retomada energética, diz o presidente da EPE
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ara a presidência da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o governo federal buscou um profissional experiente. Assumiu a função, em julho de 2016, Luiz Augusto Nóbrega Barroso. Graduado em Matemática, ele é Mestre e Doutor em Pesquisa Operacional (otimização) e pesquisador Associado do Instituto de Investigación Tecnológica (IIT) da Universidad Pontificia Comillas de Madri, na Espanha. Além disso, Barroso também leciona na Escola de Regulação de Florença e foi professor visitante de diversas universidades no mundo, incluindo o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Ainda no setor acadêmico, o matemático ministra aulas na Summer School of Regulation of Energy Utilities, da Florence School of Regulation (FSR), em Florença, na Itália, desde 2010. Fora do âmbito acadêmico, Barroso foi diretor-técnico da Consultoria PSR, em que trabalhou por 18 anos liderando estudos de planejamento, regulação, finanças, gestão de riscos e comercialização de energia no Brasil e em mais de 30 países nas Américas, Europa e Ásia. Frente à EPE, tem a importante missão de buscar um reposicionamento da entidade para além da sua atuação já consolidada. Segundo ele, o ano de 2016 foi marcado pela continuação da deterioração das condições econômicas do Brasil. O país vem passando por uma das piores recessões econômicas da história, com impactos significativos na demanda por energia elétrica. E os próximos anos, na sua projeção, também não vão ser fáceis. Como os desafios econômicos são enormes e envolvem o enfrentamento de importantes questões estruturais, o ritmo de uma possível retomada está em xeque.
“No caso da energia elétrica, existe perspectiva de menor crescimento econômico no futuro próximo. Além disso, a entrada de oferta contratada em leilões anteriores deve manter a situação de suprimento confortável pelos próximos anos. Se essa é uma boa notícia pela ótica física, pelo lado comercial há forte sobrecontratação das distribuidoras, o que também deve se manter por alguns anos.” Esta perspectiva de sobrecontratação possui impactos diretos na necessidade de contratação de energia nova nos leilões futuros, que é uma situação que a EPE vem sinalizando desde pelo menos agosto do ano passado em várias oportunidades. Nesta edição, em conversa com a revista Full Energy, Luiz Augusto Nóbrega Barroso fala sobre as mudanças na gestão da área energética com o governo do presidente Michel Temer, os impactos da Operação Lava Jato sobre os investimentos energéticos do país, a ratificação do Brasil no Acordo de Paris, a PEC-55 e os desafios do setor para 2017.
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A posse do presidente Michel Temer trouxe quais mudanças na gestão da área energética? A gestão da área energética foi completamente reformulada com a indicação do ministro Fernando Coelho Filho para o Ministério de Minas e Energia, em maio de 2016. De uma forma geral, o ministro Fernando trabalhou arduamente para construir um time técnico com credibilidade. Ele conseguiu trazer nomes de grande respeitabilidade para sua equipe no Ministério e para as principais empresas do setor, como Pedro Parente na Petrobras, e Wilson Ferreira Jr., na Eletrobras. O convite que ele me fez para vir para a EPE foi para trazer a experiência que tive ao longo da minha vida profissional para poder realmente ajudar a construir um setor energético dinâmico, com harmonia e integração na atuação entre as instituições e suas equipes.
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Quais são os impactos da Lava Jato sobre os investimentos em energia no país? Difícil dizer, porque há implicações da Lava Jato que não se limitam a questões econômicas e seus possíveis efeitos sobre investimentos em energia, por exemplo. O aumento da incerteza sobre as perspectivas do país afeta os investimentos, em geral, e de infraestrutura, em particular.
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Perguntas para...
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O Brasil está fazendo a lição de casa para cumprir o compromisso assumido na COP-21? Sim. Importante dizer que as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) foram estabelecidas como contribuições globais, isto é, para o conjunto da economia. Isso quer dizer que uma maior emissão em um setor pode ser compensada por menor emissão em outro setor econômico. Na energia, da mesma forma, o maior êxito em uma medida pode compensar dificuldades com outras. Especificamente na produção e uso da energia, ações estão sendo implementadas para o desenvolvimento mais acelerado da geração distribuída, tais como o estabelecimento do valor de referência especial para geração distribuída (VRes) e o Programa de Incentivo à Geração Distribuída (Pró-GD), além do Plano de Ação em Eficiência Energética. Além disso, temos os leilões de energia, que funcionam como principal vetor da introdução de renováveis na matriz. Diferentemente do resto do mundo, o Brasil já parte de uma matriz com alta participação de renováveis, sendo a hidroeletricidade o nosso “carro-chefe”.
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Com a ratificação Acordo de Paris pelo Brasil, o país passa a priorizar as fontes renováveis de energia em detrimento das fontes fósseis? O Brasil já possui uma matriz energética bastante renovável. Diria que estamos hoje com o grau de renovabilidade na matriz que muitos outros países buscam estar em algumas décadas. Como mencionei, a nossa “renovável chefe” é a hidroeletricidade. A presença das “novas” renováveis – PCHs, biomassa, eólica e solar – é uma realidade e o planejamento atuará para facilitar sua penetração de forma sustentável. Aqui, temos alguns desafios. O primeiro é compor uma matriz energética que absorva da melhor forma possível – em termos técnicos e econômicos – a variabilidade de produção destas renováveis, sobretudo eólica e solar. O segundo desafio é justamente desenvolver um estudo de cálculo destes limites máximos de penetração de renováveis no sistema, considerando o sistema de geração e transmissão e o fato de estarmos construindo hidrelétricas sem reservatórios, reduzindo a capacidade de flexibilidade operativa do sistema. Este estudo, que pretendemos desenvolver em 2017, determinará quanto o sistema pode acomodar de renováveis e responderá qual é o custo incremental em se acomodar um limite maior de penetração.
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O país deve investir em fontes não-renováveis, como carvão e gás natural? Em que pese o aumento da importância relativa das fontes renováveis na matriz energética do país, as fontes não-renováveis ainda terão seu espaço. Por exemplo, a geração termelétrica ainda desempenha papéis importantes no sistema, como a redução da exposição à volatilidade hidrológica em escala sazonal ou superior. No contexto brasileiro atual, os geradores hidrelétricos, notavelmente aqueles aos quais os reservatórios estão associados, conferem ao sistema elétrico a flexibilidade operativa requerida para contrabalancear as oscilações de curto prazo das gerações eólica ou solar. No entanto, com as restrições à construção de novas hidrelétricas, pode ser que no futuro as termelétricas representem a solução econômica e ambientalmente ótima para se prestar este “serviço” essencial para manter a garantia de segurança de suprimento elétrico no curto prazo. No caso específico do gás, existe um ambiente de preços de gás internacional favorável e boas perspectivas do Pré-sal, em que a União é proprietária de uma parcela da produção do gás associado devido ao regime de partilha. Neste caso, o que precisamos é equacionar com calma o complexo “namoro” entre as indústrias de gás e de energia elétrica. Também olharemos o papel da cogeração a gás como geração distribuída. O carvão possui a desvantagem de ser uma tecnologia com maior grau de emissões e, desta forma, ambientalmente mais complexa. Mas o planejamento não descarta nenhuma tecnologia.
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A aprovação da PEC-55 pode afetar novos investimentos na área energética? Acredito que qualquer medida do governo que ajude a melhorar a perspectiva econômica do Brasil ajuda a atrair novos investimentos para a infraestrutura do país, especialmente aquelas que buscarem resolver as questões estruturais por seu impacto de longo prazo. Com a dificuldade do Brasil de elevar o refino de gasolina e caso o país volte a ter crescimento de consumo do combustível, podemos ter problemas de abastecimento? Estimamos um crescimento moderado de menos de 1% a.a. da demanda global de combustíveis para a frota total de veículos leves do Ciclo Otto, em função da perspectiva do setor automotivo nos próximos anos. Este
acréscimo de demanda para o Ciclo Otto representará um volume adicional que será suprido preferencialmente pelo etanol. A participação na matriz veicular do Ciclo Otto para esses dois combustíveis é função do preço do etanol hidratado em relação ao da gasolina C, considerando a participação majoritária da tecnologia flex fuel na frota nacional (aproximadamente 70% em 2015). Em recente análise sobre perspectivas de etanol e gasolina nos próximos 10 anos, consideramos que apenas em um cenário de crescimento baixo da oferta de etanol haveria importações de gasolina. Mesmo neste cenário, se considerarmos o volume histórico já produzido (31 bilhões de litros em 2014), as importações de gasolina A ocorreriam apenas em 2025 e seriam da ordem de 500 milhões de litros.
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sempre e precisamos de mecanismos que fomentem a competição mais isonômica possível entre elas para que o Brasil possa se beneficiar em termos de custos e benefícios destas tecnologias candidatas.
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Acredita que energias limpas e renováveis, como eólica, solar e biomassa, merecem novas políticas de incentivo no país? Mais do que lutar por novas políticas de incentivo no país, devemos procurar racionalizar o conjunto de incentivos existentes. O que significa racionalizar os incentivos na forma de subsídios? Definir a necessidade, o prazo, regras de transição, reduzir as distorções nos preços relativos das fontes, eliminando subsídios cruzados e incentivos perversos entre ambiente de contratação que muitas vezes favorecem comportamentos oportunistas. Quero deixar claro que não se trata de não reconhecer as externalidades positivas das fontes renováveis citadas. Antes, pelo contrário, o objetivo geral deve ser a formação de preços mais transparente e objetiva, com maior remuneração relativa dos atributos desejáveis de cada fonte. Pode-se inclusive pensar em taxação de carbono, o que, sem dúvida, contribuiria para a valorização relativa de fontes não emissoras de GEE (gases de efeito estufa).
Quais são os desafios para 2017 na área energética? Teremos um ano movimentado com aperfeiçoamentos nos leilões de energia, publicação do plano decenal, do plano de longo prazo (2050) e de intensas discussões sobre o aprimoramento do modelo setorial, para gerar um setor energético dinâmico, com harmonia e integração na atuação entre as instituições e suas equipes. Buscaremos soluções que sejam robustas, que só serão obtidas com muito diálogo e utilizando a inteligência distribuída do setor. Porém, talvez o desafio mais significativo esteja na sobrecapacidade atualmente existente associada à perspectiva de baixo crescimento econômico, que afetam o volume de energia nova a ser contratada em leilões. Esta sobreoferta também produz preços de curto prazo (PLD) reduzidos, com efeitos comerciais a todos aqueles expostos a este preço. Não será um ano fácil.
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Qual é o futuro destas fontes na matriz energética do país? O planejamento conta com todas as fontes, e acrescento as pequenas centrais hidroelétricas e as térmicas a biomassa à sua lista de renováveis. Como comentei, cada fonte possui atributos relevantes que devem ser levados em conta na contratação. O Brasil possui um bom problema que é a existência de um portfólio amplo de fontes candidatas à expansão. Mas como a demanda por energia é finita, não é possível contratar todas as fontes
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Sustentabilidade
Estratégia
Centro Infantil Boldrini
Energia responsável CPFL Paulista investe R$ 491 mil no Centro Infantil Boldrini em projeto de geração solar fotovoltaica; iniciativa proporcionará economia estimada de 10% na conta de luz 18
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esde 1998, a CPFL Energia desenvolve o Programa de Eficiência Energética (PEE), que tem por objetivos a preservação dos recursos naturais e a promoção da educação para o uso racional de energia elétrica, evitando o desperdício. Os recursos do programa provêm do valor arrecadado nas contas de luz. Essa verba volta para a sociedade por meio
de projetos que buscam tornar mais consciente a relação das pessoas com a energia elétrica, fazendo com que esta seja utilizada com responsabilidade. Em Campinas (SP), o Programa de Eficiência Energética da CPFL realizou, há cerca de dois anos, a substituição de todas as lâmpadas para a tecnologia LED do Centro Infantil Boldrini, o maior hospital especializado na América
Latina no cuidado a crianças e adolescentes com câncer e doenças do sangue. Ao todo foram instaladas 6.200 lâmpadas LED, com um investimento de R$ 530 mil, e uma economia de 969 MWh/ano. Em meados de janeiro, a CPFL Paulista – distribuidora do Grupo CPFL Energia - fez um investimento ainda mais arrojado no hospital filantrópico: implantou uma usina de geração de energia solar fotovoltaica, com investimento de R$ 491 mil. No projeto, foram instalados 276 painéis solares para gerar energia limpa, que será consumida pela instituição. O projeto de geração solar fotovoltaica do Centro Infantil Boldrini contempla um sistema de painéis solares com uma capacidade instalada de 70 kWp, gerando em torno de 108 MWh/ano. Essa energia é suficiente, por exemplo, para abastecer por um ano 44 residências, com consumo mensal de 200 KWh. A iniciativa deve reduzir em aproximadamente 10% o valor da conta de consumo de energia do hospital. A energia gerada pela usina contribuirá para evitar a emissão de 135 toneladas de gás carbônico (CO2), um dos principais agentes causadores das mudanças do clima. Para efeito de comparação, essa quantidade de CO2 que não é lançada na atmosfera representa para a natureza o mesmo que o plantio de 810 novas árvores. “Ao patrocinar projetos como esse, do Centro Infantil
Projeto de energia solar irá reduzir o consumo energético do hospital em 10%
Boldrini, estamos contribuindo para o desenvolvimento das fontes renováveis de energia e para a expansão da geração distribuída solar do país, que tem grande potencial de expansão na área de concessão da CPFL Paulista”, diz o Gerente de Eficiência Energética da CPFL Energia, Luiz Carlos Lopes Júnior. CPFL aprimora expertise em energia solar Além dos investimentos do Programa de Eficiência Energética, o Grupo CPFL Energia vem desenvolvendo iniciativas paralelas para fomentar a geração distribuída solar. Por meio do projeto de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) Telhados Solares, o Grupo está promovendo a instalação de painéis solares em 230 consumidores na região de Barão Geraldo, em Campinas, ao custo de
R$ 14,8 milhões. Além disso, por meio da controlada CPFL Eficiência, também desenvolve projetos de geração solar para indústrias e comércios. Tanto a instalação de usina de energia fotovoltaica no Centro Infantil Boldrini, como a colocação de painéis solares em consumidores residenciais de Campinas estão em sintonia com os investimentos da CPFL em inovação na área de energia solar. Estas iniciativas fazem parte do plano da companhia em contribuir para a expansão da geração solar fotovoltaica no país, bem como em desenvolver novas tecnologias nesta área. Tanto que a CPFL instalou em Campinas a usina solar Tanquinho, a maior do Estado de São Paulo, com 1,1 MWp de capacidade, que está sendo utilizado para o desenvolvimento dos projetos de
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Sustentabilidade
No telhado do Hospital Boldrini foram instalados 276 painéis solares
Projeto de energia solar irá reduzir o consumo energético do hospital em 10%
GD Solar. Em Tanquinho, a CPFL realiza testes com diversos tipos de painéis fotovoltaicos para identificar as tecnologias mais eficientes de geração de energia com o menor custo operativo. A CPFL Energia está expandindo suas operações para atuar no segmento de geração solar distribuída. A iniciativa faz parte do plano de oferecer um portfólio 20
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completo de produtos e serviços energéticos integrados aos consumidores, que vão desde a migração ao mercado livre às soluções de eficiência energética. Os investimentos da CPFL em energia solar mostram que a companhia enxerga a energia solar como um negócio estratégico. Não é à toa que vem olhando com carinho para o potencial do mer-
cado residencial de geração solar distribuída, avaliando o segmento do ponto de vista técnico-comercial. Os estudos em curso têm como objetivo preparar o Grupo para quando este mercado se tornar suficientemente maduro. “Com as ações no Hospital Boldrini, divulgamos o potencial e os benefícios da tecnologia da energia solar fotovoltaica”, diz Alexandre Moreira Pinto, analista de eficiência energética do Grupo CPFL. Para ele, a tendência é de crescimento exponencial deste mercado. “Embora seja pequeno em comparação com a energia convencional, tem um grande futuro. Prova disso é que cresce ano a ano.” Desde 2013, com a liberação da micro e da minigeração distribuída, este mercado ganhou fôlego. O que tem favorecido o processo tem sido a queda gradual dos preços dos equipamentos para se fazer uma instalação de energia solar fotovoltaica. “O investimento começa a ficar mais viável.” Mas o crescimento da micro e a minigeração de energia, inclusive utilizando a energia fotovoltaica, poderá concorrer no futuro com o modelo tradicional de fornecimento de energia? Na opinião de Alexandre, esta não é uma preocupação. “Não haverá competitividade direta, as empresas de energia estão se preparando para este avanço.”
Representantes da CPFL ao lado da coordenadora do Centro Infantil Boldrini, Sílvia Brandalise
Retorno para a sociedade De acordo com Alexandre, o investimento em energia fotovoltaica no Hospital Boldrini não foi apenas uma iniciativa da CPFL na área de eficiência energética da companhia ou voltada ao desenvolvimento de tecnologias em energia solar. Os projetos desenvolvidos com o Boldrini visam contribuir com a instituição. “Vimos na substituição das lâmpadas comuns por LED e na geração solar fotovoltaica possibilidades de proporcionar economia financeira a um hospital que tem um histórico de grande relevância
para a nossa comunidade”, afirma Alexandre. Para Waldir Vilalva Dezan, arquiteto urbanista e vice-presidente da diretoria do hospital, foi muito importante para o Boldrini participar deste projeto com a CPFL, empresa que, segundo ele, já tem uma parceria antiga com a instituição. Os painéis solares foram instalados no telhado do prédio da radioterapia e da reabilitação, duas alas que consomem muita energia por conta das características dos equipamentos. “A economia energética que teremos será muito
significativa, o que fará diferença nas nossas finanças, até porque o hospital vive de arrecadação”, sublinha Dezan. Mas ele reconhece que, ao participar deste projeto, o Boldrini está contribuindo com o aprimoramento de novas tecnologias e com o desenvolvimento de uma energia limpa. “Por isso, mais do que pela questão social, participar de um projeto como este traz retorno para a sociedade. É gratificante saber que o Boldrini está ajudando com pesquisas que vão culminar na consolidação da energia solar no país.”
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Ideias e Tendências Tecnologia e Inovação
A energia que vem dos telhados Setor de energia solar fotovoltaica apresenta crescimento de 100% em participação no mercado; estima-se que até o final de 2017 o Brasil tenha, aproximadamente, 20 mil unidades instaladas entre residenciais e comerciais
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energia é fundamental na vida do homem. Não é à toa que as nossas vidas são, literalmente, movidas por diferentes fontes energéticas, de atividades eletroquímicas a operações mecânicas. Entretanto, o Brasil tem fracassado em alguns aspectos de gestão, produção e distribuição de energia. Desde 2001, o país vem enfrentado uma instabilidade energética, lidando com momentos de cortes forçados de energia – como a Crise do
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Apagão – e dificuldades com a escassez das chuvas. A falta de investimentos no setor, aliada ao aumento progressivo do consumo de energia elétrica da sociedade moderna, tem causado essa dificuldade energética no país. O fato é que o Brasil precisa, urgentemente, se energizar de forma inteligente. O carvão e o petróleo são exemplos de fontes de energia bastante utilizadas no mundo moderno, no entanto, altamente poluentes, visto que a queima dessas matérias-primas libera
gases de efeito estufa, resultando em diversos problemas sociais e ambientais. Outro problema energético que pode ser pontuado é o desequilíbrio da matriz energética brasileira. Segundo o Balanço Energético Nacional (BEN) 2016, publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), no Brasil, durante o ano de 2015, as energias não renováveis apresentaram 58,8% de participação na Oferta Interna de Energia (OIE), contra 41,2% das energias renováveis.
Contudo, a fim de unir eficiência energética e baixos impactos ambientais, o governo brasileiro está buscando cada vez mais a utilização das energias renováveis. De acordo com a EPE, as energias renováveis mostraram aumento de 1,8% de participação no ano de 2015 em relação ao ano anterior. Neste contexto, a energia solar tem se destacado, sendo explorada crescentemente tanto para a geração no ramo empresarial, quanto em sistemas residenciais.
Distribuída e centralizada São dois os segmentos do setor de energia solar fotovoltaica no Brasil: geração centralizada solar fotovoltaica e geração distribuída solar fotovoltaica. A primeira diz respeito ao modelo tradicional de operação das grandes usinas de energia elétrica, conectadas a uma extensa rede de linhas de transmissão e distribuição. A segunda corresponde a fontes de energia
elétrica conectadas ao próprio consumidor, como a geração de energia no telhado das casas. Segundo Rodrigo Lopes Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o segmento de geração distribuída representa, atualmente, cerca de 7.500 sistemas fotovoltaicos de micro e minigeração no
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Ideias e Tendências
país, totalizando por volta de 57 megawatts em potência instalada. Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) prevê que, até 2024, cerca de 1,2 milhão de unidades consumidoras passem a produzir sua própria energia, totalizando 4,5 gigawatts (GW) de potência instalada no Brasil. Já o segmento de geração centralizada apresentou, em 2015, aproximadamente 3.300 megawatts (MW) em potência contratada. Para o presidente da Absolar, a diferença na escala desses dois mercados é bastante expressiva. “O mer-
cado de geração centralizada é mais representativo, apesar de a geração distribuída estar gradativamente crescendo em taxas elevadas.” Ainda para o executivo, a geração centralizada é fundamental para o desenvolvimento da fonte solar fotovoltaica no Brasil. “Ela é essencial para atrair a cadeia produtiva e os fabricantes. Trazer e manter no país estes fabricantes e os empregos gerados por eles, uma vez que a contratação é feita em volume grande, é um desafio do setor”, acrescenta.
Energia solar: potencial de 200 “Brasis”
Rodrigo Lopes Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar)
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O Brasil é privilegiado do ponto de vista solar. Tropical e com excelente nível de radiação originária do sol, o país apresenta um potencial técnico altíssimo para a produção de energia solar fotovoltaica. Segundo Sauaia, se o Brasil desenvolvesse toda a sua capacidade em produção de energia solar fotovoltaica centralizada, atingiria o potencial de 28.500 GW, o que representa mais do que o potencial de todas as demais fontes renováveis e não renováveis do país atualmente, que totalizam 149 GW. “É uma monstruosidade. Daria para abastecer 200 ‘Brasis’ com esse potencial técnico, do ponto de vista de potência. São 200 vezes a matriz elétrica brasileira em potência”, evidencia. Diante de todo esse potencial, o Ministério de Minas e Energia criou, em 2015, o Programa de Desenvolvimento de Geração Distribuída de Energia Elétrica (ProGD), que incentiva a geração de energia a partir de placas solares dentro das unidades consumidoras, podendo ser compartilhada com o sistema das distribuidoras de energia através de um sistema de crédito.
O sucesso da geração distribuída
Telhados energéticos De acordo com Marcel Haratz, diretor da Comerc Solar, a energia obtida através do sistema solar fotovoltaico distribuído não pode ser comercializada, tanto a concebida em um endereço residencial, quanto a produzida em um estabelecimento comercial. Entretanto, esses locais recebem créditos com a distribuidora local. “Se você tem uma casa que consome 500 kwh por mês, mas produz 200 kwh, irá pagar no final do mês apenas a diferença, que no caso equi-
No final de janeiro, o Ministério de Minas e Energia mostrou o quanto as ações de estímulo à geração de energia pelos próprios consumidores - conhecida por micro e minigeração distribuída – têm sido bem-sucedidas. De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o país já registra 7.610 conexões de geração distribuída até janeiro de 2017, totalizando potência instalada de 73.569 KW. Entre as energias renováveis mais utilizadas, a fonte solar fotovoltaica é a que mais se destaca, com 7.528 conexões. Em termos de potência instalada, a energia gerada pelo sol também saí na frente com 57.606 KW. Na comparação por Unidades da Federação, Minas Gerais mantém o primeiro lugar (1.644) em número de conexões com geração distribuída, seguida de São Paulo (1.369) e Rio Grande do Sul (769). A grande maioria das conexões de geração distribuída permanece nas residências. Segundo a Aneel, 5.997 das conexões de geração distribuída atendem essa classe de consumo. Já o comércio é responsável por 1.186 adesões.
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Ideias e Tendências
Temperaturas baixas
Marcel Haratz, diretor da Comerc Solar
vale a 300 kwh. Além disso, esse crédito pode ser utilizado em até 60 meses, mas apenas em endereços do alcance da distribuidora em que você se cadastrou ”, explica. Segundo o diretor da Comerc Solar, um sistema de geração de energia fotovoltaica para uma casa com quatro quartos precisa de um investimento de aproximadamente R$ 25.000, utilizando uma área de até 40 m² de painel solar. Um comércio de médio porte com área de painel solar de 800 m², por exemplo, exigiria um investimento de R$ 600 mil. Já um comércio grande, com área de 4.000 m² de painel solar, demandaria um investimento de até R$ 3 milhões. No entanto, Haratz assegura que, por mais que o investimento seja alto, o retorno é muito positivo ao longo dos 26
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anos, visto que os painéis fotovoltaicos possuem uma vida útil de aproximadamente 25 anos e não apresentam problemas corriqueiros com manutenção. “Esse é um tipo de investimento para 20 anos. A pessoa precisa estar pronta para aplicar o dinheiro nos recursos necessários e fazer o planejamento de rentabilidade, calculando o payback”. O processo para instalar placas fotovoltaicas é bem simples. A prestadora de serviços, possivelmente, irá simular quanto o cliente irá conseguir de produção energética em determinado local em função do tamanho da instalação. Uma dica é que os painéis gerem de 80% a 70% da necessidade energética do cliente, para que o sistema de créditos com a distribuidora funcione satisfatoriamente, sem nunca perder os pontos.
Se calor fosse bom para a energia solar fotovoltaica, o melhor lugar seria o deserto do Saara. Segundo o diretor da Comerc Solar, temperaturas altas podem prejudicar o desempenho da produção energética através de placas solares fotovoltaicas. “Os melhores lugares do mundo são os desertos frios, onde você tem muito sol, mas ao mesmo tempo tem uma baixa temperatura durante o dia”, comenta.
Payback do investimento em energia solar fotovoltaica O paybak, prazo do retorno do investimento de um projeto, é calculado considerando quanto o cliente vai aplicar, dividido pelo que vai economizar mês a mês. Quando o consumidor é comercial, leva-se em conta o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Além disso, segundo Haratz, outras variáveis são levadas em consideração, como o índice de insolação e a temperatura do local. Confira na tabela o payback das principais cidades brasileiras.
Índice Comerc Solar – Baixa tensão (Residencial e pequenos consumidores/ novembro de 2016) ESTADO
CIDADE/DISTRIBUIDORA
ALÍQUOTAS ICMS
ÍNDICE SOLAR (Geração x Tarifa COM ICMS
GERAÇÃO SOLAR DE ENERGIA (MWh/ Ano)
PAYBACK (ANOS)
SP
São Paulo – ELETROPAULO
18%
6,70
1359
12,15
RJ
Rio de Janeiro – LIGHT
29%
6,91
1592
7,96
RS
Porto Alegre – CEEE
30%
7,37
1550
7,46
DF
Brasília – CEB
21%
6,88
1707
7,99
PR
Curitiba – COPEL
29%
5,06
1271
10,86
AM
Manaus – AMAZONAS
25%
9,62
1620
6,14
PA
Belém – CELPA
25%
12,50
1658
4,80
Redução dos custos Atualmente, existem cerca de 1,5 milhão de projetos instalados na Austrália. No Brasil, o cenário é um pouco diferente, porém tão promissor quanto. De acordo com Haratz, o país apresentou, em 2016, aproximadamente, 6 mil unidades instaladas, entre comerciais e residenciais. Além disso, segundo o diretor, a estimativa é que, até o final de 2017, o número chegue a 20 mil unidades, triplicando a quantidade atual.
Esse aumento significativo está completamente atrelado ao valor dos investimentos em energia solar fotovoltaica. Se a perspectiva de redução de custos com os equipamentos se confirmar para os próximos anos, este mercado deverá ganhar um impulso exponencial. De acordo com Haratz, existe uma estimativa de que os preços dos painéis solares reduzam pela metade até 2040. “Durante os dez últimos anos apresentamos um índice de
10% a 20% de redução dos preços por ano”, acrescenta. Na projeção do presidente da Absolar para 2017, a expectativa é de crescimento continuado da tecnologia da energia solar no país, uma vez que, mesmo em anos de turbulência econômica e política, o setor apresentou 100% de crescimento. “Vários projetos estão sendo construídos agora nesse setor, sendo que parte deles entrará em operação no ano de 2017 e outra parte até o final de 2018”, finaliza. edição 23 | FULL ENERGY
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artigo
Tercio Marques Dalla Vecchia,
Biocombustíveis: quais as regras?
P
ediram-me para escrever o que esperar dos biocombustíveis em 2017 – vou me ater ao etanol. Considerando que previsões e expectativas de especialistas nesta Terra em tempos de Trump e PCC têm tido a mesma validade que as previsões dos bruxos e druidas que se encontram por aí, aproveito para fazer previsões até o fim dos tempos, que, por sinal, nem parece tão longe assim... Capitalismo envolve riscos! Avaliar riscos e tomar atitudes é função do empreendedor. Durante o governo Dilma, o maior risco era saber o que os loucos do PT iriam aprontar. O novo governo promete regras e, melhor ainda, obedece às regras. O que deveria ser a regra volta a ser regra!!! Fantástico. O governo abriu diálogo com o setor de biocombustíveis. Conversar é o primeiro passo para qualquer entendimento!!! Etanol, para o consumidor comum, é, simplesmente, um combustível alternativo que deve ser mais econômico do
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que a gasolina, seu concorrente direto nas bombas dos postos de abastecimento. A barreira dos 70% do preço da gasolina está gravada na cabeça das pessoas. Os postos de abastecimento informam quando é “econômico” ou não abastecer com etanol! Econômico?!?! O que se quer e é necessário? O reconhecimento dos benefícios do etanol para a sociedade. As ditas externalidades agora podem ser apresentadas e discutidas com o governo. A discussão começa por demonstrar a realidade dos benefícios e como valorá-los. São três os pontos críticos de discussão: 1) a valoração das externalidades (quanto vale a melhoria da saúde, a redução da emissão de GEE (gases de efeito estufa), a economia de divisas com importações, os empregos gerados e a roda da economia na cadeia produtiva etc). Como calcular quanto vale isso em reais? 2) como e de quem cobrar
engenheiro químico e CEO da Reunion Engenharia
o valor destes benefícios? As sugestões: a. limitações legais de emissão de poluentes pelas entidades individuais? Uma das principais bandeiras do setor sucroenergético; b. diferenciais de impostos entre combustíveis fósseis e bio – tipo a CIDE? c. incentivos fiscais? d. prêmio por redução da emissão dos GEE? e. mandatos ou obrigações legais exigindo o aumento da participação dos biocombustíveis na matriz energética? f. outras ideias? 3) Como fazer a sociedade entender e concordar que os benefícios são reais e que existem custos que devem ser cobertos? Estes itens dependem do governo e parece que têm grandes chances de prosperar este ano. É fundamental que o setor tenha capacidade de argumentação e que as conversas não se transformem apenas em reuniões sociais.
‘
O GOVERNO ABRIU DIÁLOGO COM O SETOR DE BIOCOMBUSTÍVEIS. CONVERSAR É O PRIMEIRO PASSO PARA QUALQUER ENTENDIMENTO!”
Petrobras A transparência da nova diretoria é de bater palmas. A simples determinação de que os derivados de petróleo terão seus preços reajustados conforme o custo do petróleo (que deveria ser a regra geral) dá um alívio e uma certeza: o empresário do setor de biocombustíveis ficará sujeito ao risco “petróleo”. Assumir riscos faz parte, mas é um risco que não depende mais do humor dos políticos ou dos diretores de plantão, mas da conjuntura internacional. O que dizer da estabilidade e confiabilidade do Brasil? Haja coração. Quantos e quem sobreviverão à Lava Jato? Qual será o comportamento do próximo presidente? Ninguém sabe responder. Vamos torcer e trabalhar por aqueles que se mostrarem totalmente compromissados com a estabilidade deste Brasil. Empresário precisa de lucro! Se as equações acima forem bem resolvidas e houver cheiro de lucro, os com-
promissos da COP-21 serão cumpridos com tranquilidade e atingir a meta de produzir 50 bilhões de litros de etanol em 2030 pode acontecer. Não vale ficar apenas afirmando que temos que dobrar a capacidade de produção de etanol. Metas são apenas metas, mas não hectares de cana plantados e dezenas de novas usinas soltando fumaça. Vamos torcer para que a lógica e o bom-senso sejam vencedores! E o futuro imediato? 2017? Os preços do etanol continuarão a ser remuneradores, apesar de que, para o produtor, será sempre melhor produzir açúcar - que hoje remunera muito mais. Há uma tendência de alteração do mix devido aos investimentos que estão sendo realizados no sentido de aumentar a produção de açúcar. Não deverá ser reduzida mais a oferta de etanol, pois os canaviais estão sendo ampliados. Haverá produto para todos com remuneração adequada. E o futuro ampliado? A
verdade é que os biocombustíveis (e os combustíveis também) líquidos só terão sentido enquanto houver quem os consuma. Há uma tendência de médio e longo prazo de os motores a explosão serem preteridos por motores elétricos. Veículos de transporte individual serão colocados em segundo plano no mundo inteiro. Haverá maior necessidade de energia elétrica que deverá vir de fontes alternativas, em que se incluem os biocombustíveis sólidos – biomassa (bagaço e palha no setor sucroenergético, resíduos agrícolas e florestais etc). Nota: É ingenuidade achar que as instituições estão tão firmes que a morte do Ministro Teori Zavascki não vá influenciar no futuro da Lava Jato. E se esta mudança implicará numa mudança em todo o sistema político e, como consequência, em tudo que dele depende, o que é regra no Brasil. Se para melhor ou pior, só saberemos mais para frente...
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Bioenergia
Mercado
As promessas da bioeletricidade Cogeração de energia a partir da biomassa da cana pode melhorar o caixa das usinas de cana-de-açúcar e ampliar o uso de energia elétrica limpa e renovável no Brasil. Mas alguns percalços precisam ser superados 30
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O
lacionada à demanda e a crise financeira impactou o mercado, levando a um quadro de sobrecontratação no Brasil, conforme pontua o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim. “Temos energia sobrando frente ao nosso consumo. Mas se o país voltar a crescer, todos os grandes projetos de fornecimento de energia estão com o cronograma atrasado. O único setor que pode responder rápido e de forma equilibrada é o setor sucroenergético, do bagaço da cana, por meio da chamada bioeletricidade”, afirma Jardim. Em consonância, o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos, argumenta que a
energia da biomassa da cana precisa ser mais conhecida e valorizada, pois se constitui na principal fonte de energia elétrica limpa e renovável – na categoria biomassa – da matriz energética brasileira. Entre as vantagens dessa fonte energética, Campos também destaca o fato de ser gerada durante a safra da cana – entre abril e novembro –, que coincide com o período seco, quando os reservatórios de água estão baixos e o setor elétrico mais precisa de energia complementar, além da geração próxima aos grandes centros urbanos. Segundo o presidente da Siamig, em 2015, a bioeletricidade participou com 77% da potência outorgada dentro da biomassa e ofertou ao Sistema Integrado Nacional (SIN) Foto: Ferdinando Ramos
s 19,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar moída pela usina Guarani, do Grupo Tereos, na safra 2016/17 resultaram não só na produção de 1,6 toneladas de açúcar, mas também de 640 mil m³ de etanol e na cogeração de 1.030 GWh de energia a partir da queima do bagaço de cana. Isto significa que, além de produzir a própria energia e operar de modo autossuficiente, a usina ainda comercializa seus excedentes, exportando energia elétrica para as redes de transmissão. Na visão de Jacyr Costa, diretor da divisão Brasil do Grupo Tereos, o setor sucroenergético vive um momento bastante positivo no mercado de açúcar e com perspectivas propícias ao etanol face aos compromissos assumidos pelo Brasil por meio do Acordo de Paris. Mas o cenário, que está interessante, pode ficar melhor ainda, tanto para empresários como para os consumidores – em especial para aqueles que pleiteiam uma matriz energética mais limpa. Uma das metas do governo brasileiro é aumentar o uso sustentável de energias renováveis – solar, eólica e biomassa – para ao menos 23% da geração de eletricidade no Brasil. A produção de bioeletricidade em larga escala depende, contudo, da retomada do crescimento econômico do país. Isto porque a produção de energia está diretamente re-
Jacyr Costa, diretor da divisão Brasil do Grupo Tereos
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mercado
Para se ter uma ideia, em 2016, a fonte biomassa pôde participar apenas do chamado Leilão A-5/2016, destinado à contratação de energia para entrega a partir de 2021, mas teve poucos projetos comercializados. Além disso, concorreu diretamente com térmicas a carvão, não havendo nenhuma diferenciação no preço-teto estabelecido para o leilão entre biomassa e carvão, quanto ao requisito ambiental, por exemplo. Zilmar Souza, gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), salienta que a perspectiva do setor para 2017 é que a energia a partir da biomassa
20.400 GWh, o que significou poupar 14% da água nos reservatórios do submercado elétrico Sudeste/Centro-Oeste, justamente no período seco, o mais crítico para o setor elétrico nacional. “Essa oferta de energia renovável e limpa equivale, também, a ter provido atendimento a 10,5 milhões de residências e evitado a emissão de 8,3 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, marca que somente seria atingida com o cultivo de 58 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos”, exemplifica Campos.
Com tantas potencialidades identificadas, por que a produção da bioeletricidade não avança no país? De acordo com Mário Campos, os gargalos vão desde aspectos estruturais até a questão da previsibilidade. “Existe o problema da conexão com as linhas de transmissão; de financiamento para a ampliação dos projetos, bem como de utilização da palha, que depende de tecnologia de recolhimento e de maquinários com viabilidade econômica de longo prazo. Além disso, falta uma definição clara do papel da bioeletricidade na matriz energética e um horizonte de longo prazo para se trabalhar. É preciso que o cenário fique mais claro para que os investimentos possam ocorrer”, ressalta. 32
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Foto: Cortesia UNICA - Niels Andreas
Fatores limitantes
seja mais valorizada na matriz energética brasileira e que exista, já nesse início de ano, uma definição clara sobre a possibilidade de haver leilões para a bioeletricidade no decorrer do ano, em ambiente regulado. “Esperamos ter mais espaço nos leilões, embora ainda haja incertezas sobre a demanda a ser contratada em relação à contração econômica mais persistente e severa que o esperado. É importante que o Brasil continue evoluindo em termos de ambiente regulatório, bem como é fundamental o fortalecimento do mercado livre, para que possamos ter a contratação, em 2017, de um número maior de projetos”, afirma Souza.
Zilmar Souza, gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica)
Horizontes abertos pelo RenovaBio No cenário de grandes desafios rumo à produção de bioeletricidade em larga escala, o Programa RenovaBio 2030, lançado pelo governo federal com o objetivo de aumentar a participação de biocombustíveis na matriz energética brasileira até 2030, é visto com otimismo. O secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, acredita que o debate em torno do RenovaBio, puxado pelo governo federal junto a todos os elos da cadeia produtiva de biocombustíveis, vai encontrar caminhos para o crescimento da participação da bioeletricidade. O gerente de bioeletricidade da Unica, Zilmar Souza, prevê que a bioeletricidade será direta ou indiretamente contemplada no RenovaBio por se tratar de um produto sinérgico com o etanol. “Se a opção for por mais etanol na matriz de energia do país, terão que ser pensadas políticas públicas adequadas para a bioeletricidade”, comenta. Neste contexto, o presidente da Siamig, Mário Campos, considera que a expansão das plantas instaladas e demais investimentos em bioeletricidade deverão ser impulsionados. Segundo ele, em Minas Gerais, das 36 usinas que hoje produzem bioeletricidade, apenas 20 cogeram energia.
Mário Campos, presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig)
Arnaldo Jardim, Secretário de Agricultura de São Paulo
“Caso houvesse demanda e financiamento disponível, assim como no país, Minas poderia dobrar a sua produção e exportação”, estima. Jacyr Costa, do Grupo Tereos, concorda, lembrando que a bioeletricidade é uma alavanca para o setor sucroener-
gético. “No caso da Guarani, a empresa tem investimentos realizados com contrato de longo prazo, com preço fixo. Isso dá retaguarda. E em algum momento vamos voltar a ver preços melhores em bioeletricidade, porque o país vai voltar a crescer”, finaliza. edição 23 | FULL ENERGY
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Foto: Itaipu Binacional
Gente e Gestão
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Itaipu: energia se faz com competência e motivação Ariel da Silveira, superintendente de RH, apresenta a gestão de pessoas da maior hidrelétrica do país
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Foto: Itaipu Binacional
Gente e Gestão
Despedida de estagiários que participaram de programa de estágio promovido pela Itaipu durante as férias
Q
uando se olha uma imagem da Hidrelétrica de Itaipu, uma imponente usina de concreto, em meio às águas do Rio Paraná, chama a atenção. E os números comprovam a grandiosidade desta estrutura, inaugurada em 1984. Em 2016, reassumiu a liderança mundial em produção anual de energia, com a marca de 103.098.366 MWh gerados, embora não seja mais a maior hidrelétrica do mundo. Mas poucos se lembram que, para fazer girar esta estrutura
e produzir tanta energia, um exército de trabalhadores, brasileiros e paraguaios, se dedica diariamente. Atualmente, 1.378 empregados do Brasil e 1.681 do Paraguai trabalham na Itaipu Binacional, na fronteira entre os dois países. No ano passado, a hidrelétrica foi responsável pelo abastecimento de 17% de toda a energia consumida em território brasileiro e de 76% do consumo paraguaio. Segundo o superintendente de Recursos Humanos da margem brasileira da usina, Ariel
da Silveira, a maior parte dos funcionários, cerca de 40%, trabalha na Diretoria Técnica, diretamente ligada à produção de energia. O perfil dos empregados é acompanhado por meio de relatórios de gestão, que permitem monitorar diversos indicadores, tais como distribuição de cargos por áreas e formação, identificação de raça e gênero, locais de origem, entre outros. O perfil relatado na Tabela 1 refere-se aos empregados brasileiros.
Tabela 1
Quantidade de Empregados por Gênero, Raça e Faixa Etária Masculino
Feminino
Total
Branca Amarela Negra Parda Indígena Total Branca Amarela Negra Parda Indígena Total Branca Amarela Negra Parda Indígena Total 3
1
14
109
30
576
18
13
127
734
168
220
2
8
34
1
265
33
887
23
22
175
1
1.108
231
Até 30 anos 91 TOTAL GERAL
36
Entre 30 e 50 anos Acima de 50 Anos
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0
8
38
121
3
1
22
147
1
23
192
744
18
14
150
926
1
6
40
253
2
9
40
1
305
2
37
23
24
212
1
1.378
0
270 1.118
“DESAFIO É GARANTIR QUE NOSSO PESSOAL, EM AMBOS OS PAÍSES [BRASIL E PARAGUAI], ESTEJA ADEQUADAMENTE CAPACITADO PARA ATINGIR A PROPOSTA DA MISSÃO E DA VISÃO DE ITAIPU”, Ariel da Silveira
Foto: Itaipu Binacional
A hidrelétrica possui seu core de negócio focado na produção de energia, área tradicional e majoritariamente masculina, com sua grande maioria de cargos técnicos e operacionais. Atualmente, na parte brasileira da usina, trabalham 1.108 homens e 270 mulheres, sendo que as trabalhadoras correspondem a aproximadamente 20% do total de empregados. A Itaipu possui comitê específico que trata e trabalha questões de equidade de gênero. A empresa implantou um plano de ação referente à equidade de gênero, que tem por objetivo garantir a aplicação de políticas internas que fomentem a igualdade entre homens e mulheres em todos os aspectos. Além disso, nos editais de seus processos seletivos utiliza linguagem inclusiva e acolhedora em relação ao trabalho feminino na empresa. A Itaipu possui uma política binacional de recursos humanos. Inclusive, um dos desafios e uma peculiaridade da gestão de pessoas na Hidrelétrica é garantir a binacionalidade, na opinião de Silveira. “Outro desafio é garantir que nossas lideranças e nosso pessoal, em ambos os países, estejam adequadamente capacitados para conseguir atingir a proposta da missão e da visão de Itaipu. Ter o melhor desempenho operacional e as melhores práticas de sustentabilidade no mundo é uma meta desafiadora e que exige muito esforço e foco da área de recursos humanos.”
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Foto: Itaipu Binacional
Gente e Gestão
Em Itaipu, a ferramenta utilizada para o desenvolvimento profissional é o Sistema de Gestão de Desempenho
“A PRINCIPAL PECULIARIDADE NA GESTÃO DE PESSOAS É CONSEGUIR QUE UM DOS VALORES DA EMPRESA, A BINACIONALIDADE, SEJA APLICADO EM PLENITUDE NO SISTEMA DE GESTÃO DE PESSOAS. SÃO CULTURAS, SITUAÇÕES ECONÔMICAS E SISTEMAS JURÍDICOS DIFERENTES.” Ariel da Silveira
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Os principais focos da política de pessoas da Hidrelétrica, de acordo com Silveira, têm sido conhecer o desempenho dos empregados, entender as necessidades de capacitação, entregar o melhor desenvolvimento, manter a motivação e buscar que as entregas dos trabalhadores melhorem a cada dia. Desenvolvimento profissional A gestão de pessoas de Itaipu é baseada em competências e desempenho. Este enfoque orienta as ações dos empregados de acordo com a estratégia da empresa, sem desrespeitar as características pessoais dos colaboradores. A gestão por competências proporciona às pessoas a oportunidade de evidenciar o de-
senvolvimento profissional e como consequência o crescimento na carreira, reduzindo a subjetividade do processo. A ferramenta utilizada para o desenvolvimento profissional é o Sistema de Gestão de Desempenho, um processo contínuo de desenvolvimento fundamentado no preparo permanente dos gestores, na compreensão da importância da avaliação por parte dos empregados e no uso de um software moderno, constantemente adaptado à realidade da empresa, que permite uma avaliação ampla, objetiva e clara. Desta forma, as competências irão subsidiar todos os processos que fazem parte da estrutura da gestão: seleção de pessoas, carreira e remuneração, sucessão, desenvolvimento, gestão do conhecimento, benefícios, e medicina e segurança do trabalho.
Juridicamente, a Itaipu foi criada e é regida por um Tratado Internacional, celebrado pelos governos dos dois países. Por isso, obedece a esta legislação específica. Derivado desse tratado, existe um Protocolo sobre Relações de Trabalho e Previdência Social, aprovado pelas mesmas autoridades, que regula, de forma binacional, as relações de trabalho dos empregados da Itaipu, contratados no Brasil ou no Paraguai. Esse protocolo estabelece as regras uniformes a serem aplicadas em ambos os países - bem parecidas com as da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Também está previsto um conjunto de temas que se regulam pela lei do país de contratação (por exemplo, previdência social, direitos sindicais, juízo competente para causas trabalhistas, formalidades e prova do contrato de trabalho, capacidade jurídica dos trabalhadores, entre outros). No caso de leis novas, no Brasil ou no Paraguai, o protocolo estabelece uma regra de análise para avaliar sua aplicação aos empregados da Itaipu. “Em síntese, temos um sistema jurídico especial e binacional, bem parecido com a CLT”, diz Silveira. A empresa adota uma política de incentivos focada em uma ampla cesta de benefícios. Dentre eles, destacam-se os seguintes: plano de saúde completo de abrangência nacional, contemplando inclusive assis-
tência odontológica; previdência complementar; auxílio alimentação; auxílio educação; auxílio creche; complemento auxílio enfermidade; auxílio funeral; licença-maternidade com prorrogação; licença paternidade com prorrogação; licença amamentação e programa de Voluntariado. Além desses, a empresa paga Participação nos Resultados, mediante acordo de metas pré-estabelecidas; realiza uma análise anual de progressão na carreira; e investe na qualificação dos empregados por meio de um Modelo de Educação Corporativa, baseado em competências e processos. “Portanto, adotamos incentivos que geram valor para o empregado e sua família”, frisa o superintendente de recursos humanos da parte brasileira da Itaipu. A gestão da Hidrelétrica também investe em saúde e qualidade de vida dos colaboradores, com programas reconhecidos em todo o setor elétrico. Destaque para iniciativas nas áreas de proteção a ruído, riscos ergonômicos, combate ao tabagismo e à obesidade, programas de caminhada, ginástica laboral específica, entre outros. “Temos inclusive academia gratuita nos ambientes de trabalho para uso dos trabalhadores fora do horário de expediente e uma academia funcional para empregados da área técnica, visando garantir
Foto: Itaipu Binacional
Incentivos
Todos os empregados da empresa têm a oportunidade de participar de ações educacionais
Modelo exigente de segurança e saúde ocupacional
A Itaipu investe na qualificação dos empregados por meio de um Modelo de Educação Corporativa, baseado em competências e processos
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Foto: Itaipu Binacional
Gente e Gestão
as condições físicas adequadas à execução das atividades, em especial da área de manutenção. Nosso programa de qualidade de vida e saúde tem mais de 20 anos”, relata Silveira. O turnover da Itaipu foi de 6,57% em 2016. Considerando todas as demissões, foram 91 no total no último ano. Destas demissões, 84 foram por aposentadoria programada, o que representa 6,07%. Portanto, foram 7 demissões por iniciativas da empresa e/ou dos empregados, o que corresponde a um turnover de 0,5%, aproximadamente. “Esta tem sido uma constante nos últimos cinco anos.”
Peculiaridades de Itaipu
Em Itaipu, diferente de outros empreendimentos binacionais, os trabalhadores do Brasil e do Paraguai trabalham lado a lado, diariamente e por longos anos
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A principal peculiaridade na gestão de pessoas é conseguir que um dos valores da empresa, a binacionalidade, seja aplicado em plenitude no sistema de gestão de pessoas. São culturas, situações econômicas e sistemas jurídicos diferentes. “Temos que nos esforçar para manter o equilíbrio das políticas de pessoal de forma equânime nos dois países. A política de pessoal é única (binacional) e o esforço das áreas de RH de ambas as margens é garantir que assim se mantenha.” Silveira salienta que o cui-
dado e o zelo nesse valor são a principal peculiaridade. Em Itaipu, diferente de outros empreendimentos binacionais, os trabalhadores do Brasil e do Paraguai trabalham lado a lado, diariamente, por longos anos, “e essa oportunidade é a nossa grande riqueza e a nossa grande força, mas também é o nosso principal foco de atenção e de esforço”. A segurança e a integridade física das pessoas perante os riscos do ambiente, os aspectos de saúde ocupacional e a qualidade de vida também são peculiaridades que exigem maior atenção se comparadas à gestão de pessoas em outros setores da economia. No Planejamento Empresarial e no desenvolvimento profissional são contempladas ações que estão em conformidade com os padrões de qualidade, salubridade, segurança das pessoas e sustentabilidade organizacionais, que contribuem para a excelência da produção de energia elétrica, independente de que nacionalidade seja o trabalhador. “Assim, a busca pelo mais exigente modelo de segurança e saúde ocupacional é uma peculiaridade que nos obriga a perseguir as normas internacionais mais protetivas possíveis, independentemente de serem brasileiras ou paraguaias. ”
Foto: Itaipu Binacional
Desde 2014 a Itaipu adota, binacionalmente, o Plano de Carreira e Remuneração por Competências
Plano de carreira Desde janeiro de 2014 a Itaipu adota, binacionalmente, o Plano de Carreira e Remuneração por Competências (PCR) como forma de estabelecer uma política fundamentada em meritocracia, com perspectivas claras de carreira e desenvolvimento profissional baseadas num sistema de gestão de desempenho alinhado à estratégia corporativa. A política da Itaipu é contratar por meio de processo seletivo na base da carreira, ou seja, nos cargos iniciais e, a partir daí, desenvolver o profissional de acordo com a necessidade empresarial. Tanto o PCR, quanto a gestão do conhecimento e o programa de sucessão, fazem parte do Sistema Integrado de Gestão de Pessoas e visam subsidiar as decisões empresariais sobre a evolução da carreira gerencial e não gerencial dos empregados na entidade. A educação corporativa é um dos principais pilares para auxiliar a carreira dos empregados. Ela está estruturada para educar os colaboradores dentro do seu processo
de trabalho. Identificadas as demandas estratégicas da organização e quais são os processos que mais diretamente contribuem para o atingimento da visão de futuro, a educação deve garantir os melhores resultados dos trabalhadores naqueles processos. O empregado assume, neste modelo - além da posição de aprendiz -, a condição de educador de outros colegas, podendo montar conteúdo de cursos, ser mentor de educação e mesmo gerir processos de desenvolvimento específico. “Essa é uma inovação que temos como a melhor aposta para sustentar carreiras de sucesso na empresa.” Na Itaipu, o salário-base e a remuneração são definidos considerando as especificidades da função, a qualificação profissional e o mercado. Para a ascensão na carreira, o funcionário precisa apresentar bom desempenho, cumprir um tempo mínimo no cargo/ complexidade e também é necessário que haja disponibilidade de vaga na complexidade da função pretendida.
Plano de metas e capacitação Anualmente, em Itaipu, é estabelecido um Plano de Metas que descreve as condições de participação dos empregados nos resultados da entidade. Este plano estabelece os critérios para o alcance de metas coletivas e individuais e, desta forma, incentiva a produtividade no trabalho. A aferição do grau de cumprimentos destas metas define o valor que cada empregado receberá na Participação dos Resultados. O Sistema de Gestão de desempenho tem um eixo que mede as competências, sendo destinado a aferir as necessidades educacionais. Agora também incluirá um eixo de metas individuais e coletivas, possibilitando definir com maior precisão a produtividade de cada empregado ou equipe. A companhia investe sistematicamente em capacitação e treinamento. Dentre eles, destacam-se os seguintes programas: Desenvolvimento Gerencial, Programa em Gestão de Processos e Gestão de Projetos, Programa de Segurança
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Gente e Gestão
Gerenciamento da mudança A Superintendência de Recursos Humanos da Itaipu possui um mapa estratégico que norteia suas ações em gestão de pessoas. Ele foi construído com ampla participação das áreas. Portanto, o RH é responsável por executar a gestão de pessoas definido pelo conjunto da empresa. Este mapa está conectado com a estratégia geral da organização. “Procuramos entender o que gera valor para os clientes e como podemos melhorar nossos serviços. Procuramos pensar em nossos serviços com visão de mercado, modelando a construção junto com 42
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os clientes e promovendo melhorias para eles mesmos”, afirma Silveira. A gestão de Itaipu tem uma orientação forte à melhoria de processos, promovendo, dentro do RH, semanas Kaizens - envolvendo também colaboradores de diversas áreas da empresa. As mudanças necessárias ao desenvolvimento organizacional são estruturadas em projetos de forma matricial, criados com a participação dos vários setores da companhia e com bastante cuidado em gerir, adequadamente, as mudanças que serão derivadas dos projetos.
Também a área de RH tem modificado sua postura de relacionamento com os clientes, ou seja: “ao invés de atender, queremos criar relacionamentos”. Em alguns casos, projetos que normalmente seriam conduzidos pelo RH, o são pelos clientes, sendo o RH um dos co-criadores dos projetos. “Com isso reforçamos que a política de gestão de pessoas não é algo só de RH, mas de todos. Sendo de todos e feito por todos, o gerenciamento da mudança tem maior efetividade e pouca resistência”, pontua Silveira.
Foto: Itaipu Binacional
no Trabalho, Programa de Formação de Operadores, Programa de incentivo à Pós-Graduação (lato sensu e stricto sensu). Todos os empregados da empresa têm a oportunidade de participar de ações educacionais. Em 2016 a média de horas de treinamento por empregado foi de 60h. Existe uma área formal de Desenvolvimento de RH, que tem como foco desenvolver nas pessoas as competências essenciais para a execução da estratégia corporativa. O modelo de Educação Corporativa está estruturado por trilhas de aprendizagem a partir dos processos da Cadeia de Valor da Empresa e das competências gerencias e profissionais.
Silveira: “Temos que nos esforçar para manter o equilíbrio das políticas de pessoal de forma equânime nos dois países [Brasil e Paraguai]”
A Hidrelétrica de Itaipu possui estreita relação com a comunidade local e se preocupa com a formação profissional na região. Tanto que sedia, dentro da área da usina, o Parque Tecnológico Itaipu, que abriga três universidades: a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e a Universidade Aberta do Brasil (UAB). Além disso, promove várias ações de fomento à economia local e ao desenvolvimento territorial sustentável, como o apoio a incubadoras de empresas e às ações de turismo regional, que qualificam a mão de obra e promovem a inovação em diversos setores. Também possui um programa de estágio remunerado, que contribui com a formação de acadêmicos de Foz do Iguaçu e região, e um programa de iniciação e incentivo ao trabalho, que oferece vagas a menores carentes da comunidade local. Dessa maneira, Itaipu possibilita melhor qualificação das pessoas da comunidade para participarem de seus Processos Seletivos. De acordo com Silveira, esses esforços já mostram resultados efetivos. Desde 2006, em todas as seleções públicas para contratação de pessoal, há aprovados da região. “E nos últimos processos, os candidatos oriundos da região de influência de Itaipu já são a maioria.”
Foto: Itaipu Binacional
Comunidade
A Itaipu Com 20 unidades geradoras e 14.000 MW de potência instalada, a Itaipu Binacional, localizada ao longo do Rio Paraná, é líder mundial na geração de energia limpa e renovável, tendo produzido, desde 1984, mais de 2,4 bilhões de MWh. Em 2016, a usina hidrelétrica brasileira e paraguaia reassumiu a liderança mundial em produção anual de energia, com a marca de 103.098.366 MWh gerados. No ano passado, a hidrelétrica foi responsável pelo abastecimento de 17% de toda a energia consumida pelo Brasil e de 76% do consumo no Paraguai. Desde 2003, Itaipu tem como missão empresarial “gerar energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico, sustentável, no Brasil e no Paraguai”. A empresa tem ainda como visão de futuro chegar a 2020 como “a geradora de energia limpa e renovável com o melhor desempenho operativo e as melhores práticas de sustentabilidade do mundo, impulsionando o desenvolvimento sustentável e a integração regional”.
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artigo
Quer investir no setor sucroenergético? Tudo começa com uma boa due diligence
A
área agrícola das empresas do segmento sucroenergético concentra os maiores riscos e os maiores problemas e apresenta campo propício para uma due diligence ser bem-feita. Para esta avaliação, são envolvidos diversos contingentes de colaboradores e os mais variados recursos de produção. Sua imprevisibilidade é alta e as situações encontradas são, muitas vezes, as mais criativas e inusitadas. Alguns problemas se repetem, mas muitas tecnologias utilizadas são geradas e aplicadas quase que exclusivamente em suas próprias condições. Na análise levantada por uma due diligence se encontram muitos diferenciais competitivos e também se escondem os grandes riscos para quem está interessado em adquirir um negócio sucroenergético ou simplesmente investir nele. As rotinas de relacionamento com o mundo do agronegócio, sejam fornecedores, parceiros, órgãos públicos e instituições comerciais, são com frequência muito peculiares, seja no âmbito operacional, legal, comercial, financeiro ou estratégico. Muitas
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vezes, a viabilidade da empresa está diretamente ligada a diversos desses fatores. Os principais pontos de risco encontrados estão ligados a contratos mal elaborados, contratos com elevada concentração de vencimentos e valores acima do mercado, dependência de fornecedores de cana e de terras, canaviais de baixa produtividade, regiões com problemas ambientais, solos de menor fertilidade, relevo impróprio para a mecanização, frota velha ou reduzida com elevado índice de terceirização, resultados operacionais ruins nas operações de colheita e transporte, logística extremamente comprometida - com longas distâncias das áreas de produção -, estradas ruins e acesso difícil às propriedades produtivas. É importante também, numa due diligence, avaliar o nível técnico do quadro de gestores em posição estratégica e seu comprometimento com as metas da empresa. Além disso, deve-se apurar os custos de produção das principais etapas do sistema produtivo de cana e compará-los a fontes críveis. A avaliação
Ricardo C. Deotti,
engenheiro agrônomo
da eficiência dos serviços de apoio necessários às operações de campo, a possibilidade de expansão da lavoura e a imagem que a empresa tem junto a produtores, proprietários de terras e prestadores de serviços da região são também muito importantes. Há regiões onde a concorrência com outras empresas agrícolas e outros negócios é extremamente impactante a ponto de deixá-las sem condições de recuperação de produtividade ou de redução de custos. Embora o nível de credibilidade seja também medido pela análise financeira e pelo cumprimento de compromissos assumidos com instituições financeiras e fornecedores, o prestígio que a empresa acumulou na região pode ter um enorme peso na sobrevivência e no sucesso da empresa. O levantamento do Capex (em português, despesas de capital ou investimento em bens de capital) necessário para os próximos anos para recuperação ou crescimento da empresa é também fundamental para que o investidor fique sabendo qual deve ser o capital a ser
aplicado. As avaliações dos ativos biológicos darão a ideia do capital armazenado no campo, do seu potencial para produção de açúcar, etanol e energia elétrica e quanto a empresa precisará investir para garantir o faturamento futuro e o payback pretendido no negócio. Os potenciais investidores correm riscos muito grandes quando a due diligence não é realizada por empresas experientes e capacitadas para analisar todos estes fatores que certamente poderão comprometer ou alavancar o negócio sucroenergético. Segundo informações levantadas pelo Grupo IDEA, consultoria especializada em due diligences, grande parte dos novos players que acessaram este mercado na década passada não obtiveram o sucesso esperado. Por não conhecerem a cultura do setor ou por desconhecimento da complexidade da produção canavieira, agora estão tentando se livrar do negócio, colocando o patrimônio adquirido à venda. Querem recuperar o que investiram, mas certamente contabilizarão pesadas perdas ao sair. Muitos casos começaram com due diligences imprecisas e mal feitas, que não apuraram corretamente índices de produtividade e de rendimentos, apontando para faturamento muito acima do seu potencial. Com os seis anos de crise de preços do setor, a situação se agravou e não atingiram os níveis de faturamento desejados.
Algumas empresas recorreram a chamadas de capital, outras simplesmente já passaram o bastão para credores ou fecharam as portas. As empresas avaliadoras especializadas no negócio canavieiro, que realizam due diligences, usam nestas avaliações indicadores de desempenho técnico-operacionais atualizados e de alta credibilidade para fins de comparação com o mercado, além de estarem muito atentas aos dossiês preparados por aqueles que tentam valorizar demais seus ativos ou esconder ineficiências dentro da complexidade da produção canavieira. Muitas vezes, as diferentes realidades podem esconder verdadeiras armadilhas ou até mesmo tesouros, cujo desvendamento e elucidação podem determinar o sucesso ou o fracasso dos futuros investimentos. O setor sucroenergético sempre trabalhou com margens estreitas e não pode ter riscos ou obrigações muito elevadas a cumprir, pois tornam o investimento inviável. O levantamento bem balizado de dados é importante para alimentar as planilhas de modelagem financeira do negócio, usadas para decisões finais dos investidores. O conhecimento da realidade da área agrícola de cada empresa avaliada é, portanto, trabalho a ser realizado por profissionais experientes, devidamente qualificados e que disponham de amplo conhecimento e expertise na identi-
Dib Nunes Jr.,
engenheiro agrônomo e diretor do Grupo IDEA
ficação e no tratamento a ser dispensado a todas estas peculiaridades. Sua visão, avaliação e parecer embasam as tomadas de decisões corretas e evitam muitas surpresas desagradáveis. A melhoria dos cenários e a mudança de rumos da política econômica do Brasil estão atraindo novos investidores ao mercado. Porém, estão muito mais cautelosos em relação à situação das empresas, procurando analisá-las com maior nível de detalhes antes de realizarem investimentos para a transferência do controle acionário. Somente uma equipe especializada em auditorias e diagnósticos é que poderá dar segurança aos novos entrantes, identificando o real potencial produtivo e os gargalos da empresa avaliada, firmando-se nos principais pontos críticos ou favoráveis de cada caso, além de detectar as possíveis ameaças e oportunidades inerentes ao negócio. O Grupo IDEA realizou oito due diligences em empresas sucroenergéticas no segundo semestre de 2016. Já ao longo dos últimos anos, realizou 38 avaliações desta natureza. As recentes buscas por due diligences demonstram que os investidores voltaram a enxergar oportunidades de negócios neste setor no Brasil. Bons ventos voltaram a soprar. edição 23 | FULL ENERGY
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O Poder dos Ventos Com 430 parques de produção e 10,74 GW de capacidade instalada, energia eólica alcança participação de 7,1% na matriz energética brasileira
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Parque eólico instalado em Aracati (CE)
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unca se deve subestimar o que não se vê. Basta observar a importância dos ventos, que movimentam a areia das dunas, transportam sementes e moveram inúmeros veleiros ao redor do mundo no período dos descobrimentos. A sociedade moderna, em busca de alternativas limpas e renováveis, passou a investir em tecnologias para transformar os ventos em energia. Não é à toa que o Brasil vem adotando políticas públicas para estimular a produção de energia eólica no país. A crise hídrica, que aconteceu no início da década de 2000, devastou a economia brasileira e levou a nação ao racionamento de energia elétrica. Problema que evidenciou a emergência em diversificar as fontes energéticas do país. Apesar de o Brasil ter instalado a sua primeira turbina de energia eólica em 1992, em Fernando de Noronha (PE), o governo levou dez anos para criar o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa), que intensificou a utilização das fontes renováveis, como a Pequena
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Central Hidrelétrica (PCH), Biomassa e a Eólica. Entretanto, segundo Sérgio Augusto Costa, diretor executivo da VILCO Engenharia e Consultoria, foi a partir do final de 2009, no 2º Leilão de Energia de Reserva (LER), que o setor de energia eólica ganhou o seu primeiro certame exclusivo, resultando num sucesso de 1,8 GW contratados. Para Costa, “a demanda por energia e a política setorial possibilitaram que novos leilões ocorressem nos anos seguintes a 2009, com suces-
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so da participação das eólicas, principalmente devido à tarifa de geração de energia competitiva desta fonte comparada às demais. Além disso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com a política de exigência de índice de nacionalização para financiamento de aerogeradores, máquinas e equipamentos, foi fundamental na consolidação da cadeia de suprimentos de equipamentos e serviços deste setor”. Mesmo que a atuação desse segmento seja muito recente,
o Brasil tem se destacado no cenário internacional, ocupando a quarta posição em crescimento de energia eólica no mundo em 2015. De acordo com Elbia Gannoum, presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), nos últimos seis anos, o investimento feito pelas empresas da cadeia produtiva de energia eólica – já 80% nacionalizada – foi de R$ 48 bilhões. “Se contarmos de 1998 até hoje, já somamos cerca de R$ 60 bilhões investidos”, acrescenta.
Potencial A energia eólica tem uma trajetória virtuosa de crescimento sustentável. Para se ter uma ideia, em 2015, essa fonte energética abasteceu, mensalmente, uma população equivalente a
todo o Sul do País, o que corresponde a 33 milhões de habitantes e 11 milhões de residências. De acordo com pesquisa publicada pela ABEEólica sobre os dados mensais de energia
eólica, em dezembro de 2016, a participação dessa fonte na matriz alcançou 7,1%. De acordo com Elbia, o Brasil possui, atualmente, 430 parques eólicos instalados, que
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representam 10,74 GW de capacidade eólica – muito mais do que a nação consome neste momento. “A energia eólica no Brasil ainda possui muitas décadas de desenvolvimento para o futuro”. Para a presidente da Associação, a situação favorável da indústria eólica pode ser explicada pela ótima qualidade dos ventos brasileiros e também pelo forte investimento das empresas que, nos últimos cinco anos, construíram uma cadeia produtiva nacional para sustentar os compromissos assumidos. “Com a expansão do setor eólico, boa parte dos estados brasileiros está revendo o seu potencial de geração eólica, considerando torres de medições anemoméGráfico 1
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tricas de 120 metros ou mais. A previsão é de que o potencial eólico onshore (em terra) chegue, no mínimo, em 350 GW de potência instalada”, acrescenta Sérgio Augusto Costa. Segundo o diretor, no momento, estão em construção mais de 134 usinas eólicas com potência total de 3.101 MW. Além disso, existem no Brasil cerca de 202 usinas com a construção ainda não iniciada, que totalizam potência de 4.720 MW. A previsão é que o país chegue com aproximadamente 18 GW de potência instalada em eólicas até 2020. “Estima-se que cerca de R$ 60 bilhões foram investidos no setor desde o início da eólica no Brasil”.
“A SITUAÇÃO FAVORÁVEL DA INDÚSTRIA EÓLICA PODE SER EXPLICADA PELA ÓTIMA QUALIDADE DOS VENTOS BRASILEIROS E TAMBÉM PELO FORTE INVESTIMENTO DAS EMPRESAS QUE, NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS, CONSTRUÍRAM UMA CADEIA PRODUTIVA NACIONAL PARA SUSTENTAR OS COMPROMISSOS ASSUMIDOS.” Elbia Gannoum
O Brasil está entre os países com ventos de melhor qualidade. Em função do clima, relevo e regimes de ventos, os maiores potenciais eólicos estão localizados nas regiões do Nordeste e Sul. Entretanto, para Costa, o potencial nessas duas regiões ainda é subutilizado, principalmente devido à falta de linhas de transmissão e subestações para que essa energia possa escoar. Confira no Gráfico 2 a potência instalada (MW) nos estados onde a energia eólica é explorada.
Benefícios Cada MW instalado de energia eólica gera 15 postos de trabalho, revela Elbia. Em 2016, foram gerados no Brasil cerca de 30 mil postos de trabalho. Para Costa, a economia local é movida durante a construção e os municípios aumentam a sua receita devido ao crescimento do recolhimento do ISS (Imposto Sobre Serviços) na implantação do empreendimento. Além disso, o diretor acentua que, ao se construir um parque eólico, programas sociais são desenvolvidos para auxiliar as comunidades locais, que são afetadas direta e indiretamente pelo impacto de instalação.
Gráfico 2
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Aerogerador horizontal do Centro de Demonstração em Energias Renováveis (Ceder) da PUC-RS
Os ventos que vêm do Sul Com reconhecido potencial para a produção de energia eólica, o estado do Rio Grande do Sul possui, hoje, 72 parques eólicos instalados, gerando um total de 1.568,8 MW, segundo relatório da ABEEólica divulgado em janeiro de 2017. O grande potencial do estado – que ocupa o 4º lugar em capacidade instalada, atrás apenas de Rio Grande do Norte, Bahia e Ceará – deve-se a um conjunto de fatores que vão desde a qualificação profissional até a quantidade de energia eólica disponível, conforme detalha a equipe do Laboratório de Eficiência Energética da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). “Temos mão de obra qualificada, topografia adequada, posição logística privilegiada, ventos de ótima qualidade, sazonalidade de geração de energia aderente ao tamanho do Brasil, e malha de transmissão do Rio Grande do Sul e suas subestações preparadas para uma rápida expansão”, lista a instituição. Apesar das condições favoráveis, o Rio Grande do Sul tem um potencial eólico subutilizado.
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Usina Eólica do Vale dos Ventos 54
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Apesar de ventos contrários, energia eólica já é realidade
Políticas públicas que alavancaram e prejudicam o setor no Brasil
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ntre 2004 e 2008, o país viveu um período de desenvolvimento embrionário da energia eólica. Foi quando a tecnologia de geração não aproveitava totalmente o potencial de geração dos ventos. “Eram pequenos rotores, baixas alturas de instalação de hubs/nacelles e pequenas potências instaladas comparadas às tecnologias atuais”, afirma Sérgio Augusto Costa, diretor-executivo da VILCO Engenharia e Consultoria. Foi nesse período, especificamente em 2004, que foi lançado o Programa de Incentivos de Fontes Alternativas (PROINFA), que previa, inicialmente, a contratação de 1.100 GW de eólicas. Na prática, foram instalados 964 MW. O objetivo era acelerar
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os investimentos em tecnologias renováveis, como eólicas, PCHs e biomassa, por meio de contratos de 20 anos, sendo a Eletrobras a responsável pela comercialização da energia gerada pelos empreendimentos contratados pelo PROINFA. O boom de geração eólica no país aconteceu entre 2009 a 2015, quando a tecnologia avançou sobremaneira, com rotores maiores, elevadas alturas de instalação do hub/nacelle e aumento da potência instalada por aerogerador. Atualmente, o aerogerador onshore (para aplicações em terra) de maior desempenho disponível para geração eólica (modelo E-126 da fabricante alemã ENERCON) possui 127 metros de diâmetro de rotor, hub de 135 metros de altura e potência instalada de 7,5 MW. Este crescimento também foi possível devido ao ambiente favorável aos investimentos nesta fonte de energia e pela competitividade fomentada pelos leilões de energia. “A fonte eólica, após o PROINFA, teve, no 2º Leilão de Energia de Reserva de 2009, um primeiro leilão exclusivo para a contratação desta fonte, o que resultou num sucesso de 1,8 GW contratados”, lembra Costa. Além disso, durante esses anos o país vivenciou uma competição de projetos eólicos entre si e também com outros projetos de fontes renováveis por meio dos Leilões de Fontes Alternativas (A-3 e A-5), sendo a eólica bem-sucedida em praticamente todos os certames.
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Elbia Gannoum, presidenteexecutiva da ABEEólica
Até 2015, a potência instalada de eólicas era de aproximadamente 8,4 GW. Em função das exigências para o financiamento por meio do Programa de Financiamento de Máquinas e Equipamentos (FINAME), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), houve o desenvolvimento no Brasil da cadeia produtiva dos equipamentos e máquinas utilizados no mercado eólico, ou seja, a nacionalização da produção dos equipamentos com a geração de empregos diretos e indiretos. Assim, a eólica se consolidou como sendo a segunda fonte mais contratada nos leilões de
energia e mais competitiva, atrás apenas das grandes centrais hidrelétricas. “Foi muito importante para o setor o desenvolvimento da política de financiamento do BNDES, que vigorou até 2016, com juros subsidiados e prazos de amortização de até 16 anos, antes do setor eólico ser atingido pela crise econômica atual”, diz o diretor executivo da VILCO Engenharia e Consultoria. A energia eólica tem se desenvolvido com grande intensidade devido ainda a algumas desonerações tributárias que outras fontes de geração também possuem. “As principais desonerações são a isenção de PIS/PASEP
Parque eólico em Osório, RS
e da COFINS, através do Regime de Incentivo a Projetos de Infraestrutura (REIDI), e de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), por meio do convênio CONFAZ nº 101, de 1997. Isso significa que houve um incentivo de impostos para a criação da cadeia produtiva, que foi uma política industrial de muito sucesso”, explica Elbia. A executiva ressalta ainda que é importante entender, no entanto, que a eólica foi uma fonte que se desenvolveu muito fortemente por sua competitividade, eficiência tecnológica e alto fator de capacidade dos parques brasileiros. “O uso de energia eólica tem crescido
consistentemente porque, nos últimos anos, desenvolveu-se uma cadeia de energia eólica 80% nacionalizada e competitiva, o que levou a energia eólica a ser a segunda fonte mais competitiva do país.” Marcha à ré Em dezembro de 2016, houve o cancelamento do 2º Leilão de Reserva para a contratação de energia eólica e solar. A justificativa do governo era de que existia sobra de energia e também que a contratação do leilão de reserva poderia onerar o consumidor por meio do Encargo de Energia de Reserva (EER). A medida desagradou o setor e foi duramente criticada pela
ABEEólica. “Não há sentido nessas justificativas pelo seguinte fato: do ponto de vista comercial, a contratação de energia de reserva leva a um aumento do EER. Todavia, é importante notar que o EER de uma eólica pode funcionar como um seguro, na medida em que reduz a probabilidade de acionamento de termoelétricas com preços mais elevados. Dessa forma, em um período de hidrologia desfavorável, o aumento da tarifa decorrente do acionamento da bandeira amarela ou vermelha pode ser bem maior que o EER. Lembrando que estamos presenciando a pior hidrologia desde que se começou a medição do Operador Nacional do edição 23 | FULL ENERGY
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Foto: Basf
Sistema Elétrico (ONS). As eólicas, por exemplo, têm sido fundamentais para o abastecimento do Nordeste, especialmente considerando o baixo nível do reservatório de Sobradinho”, divulgou a entidade em nota. Além disso, a medida também foi considerada pelo setor como um retrocesso nos investimentos da indústria. “Num momento em que o próprio governo sinaliza um grande pacote de medidas para estimular a retomada de investimentos,
Projeto eólico que a Basf participa no exterior 58
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é um grande contrassenso desmobilizar uma indústria jovem, montada com investimentos altíssimos nos últimos anos, que inclusive não precisa de pacote e que tem registrado crescimento consistente, com geração de 41 mil empregos no ano passado e outros 30 mil neste ano. Em nossas previsões, que eram bastante modestas, de contratação de cerca de 1 GW no leilão, colocaríamos mais R$ 8 bilhões de investimentos e pelo me-
nos mais 15 mil empregos na cadeia produtiva”, divulgou a associação. Segundo a entidade, a cadeia produtiva eólica já havia investido mais de R$ 65 bilhões em novos projetos eólicos e, atualmente, conta com uma produção 80% nacionalizada, com seis fabricantes de aerogeradores, quatro de pás eólicas e mais de 1.000 fornecedores de outros componentes. “Há grandes empresas internacionais que vieram para o Brasil,
“A ENERGIA EÓLICA É UMA DAS APOSTAS DO GOVERNO E SERÁ PROFUNDAMENTE NECESSÁRIA. ESTA FONTE TEM RÁPIDA IMPLEMENTAÇÃO E PODE CUMPRIR, NUM PRAZO CURTO, COM AS MEDIDAS ADOTADOS NO ACORDO DE PARIS, JÁ QUE TEM OFERTA DISPONÍVEL IMEDIATAMENTE”, Elbia Gannoum
Cadeia Produtiva Com as regras do FINAME adotadas pelo governo brasileiro, grandes parques fabris de empresas multinacionais passaram a ser instalados no Brasil e, consequentemente, desenvolveu-se também uma cadeia de subfornecedores. São dezenas de empresas brasileiras criadas ou que passaram a se dedicar para oferecer componentes para a cadeia produtiva eólica. A maioria delas está localizada no Nordeste, no Sul e também no Sudeste. Hoje, são sete fabricantes de aerogeradores, quatro fabricantes de pá, mais de 10 fabricantes de torres e mais de 1.000 fornecedores de peças e componentes. As gigantes multinacionais também foram atraídas por esta oportunidade de negócio no Brasil, como é o caso da alemã Basf, que ingressou com força nesta cadeia produtiva fornecendo químicos para construção. Recentemente, a empresa trouxe soluções como os grautes cimentícios de ultra resistência, MasterFlow 9200 e MasterFlow 9300, desenvolvidos a partir de nanotecnologia aplicada, conferindo desempenho técnico superior para proporcionar uma maior resistência a cargas dinâmicas e repetitivas para ancoragem das torres eólicas. São produtos com elevada fluidez, homogeneidade e facilidade de bombeamento. A elevada resistência à compressão, ao impacto e à fadiga, a elasticidade e a retração compensada garantem que a ancoragem das torres ocorra de maneira segura, rápida e econômica. Essas características asseguram um aumento significativo na vida útil do parque. Ainda para as torres de concreto, há grautes específicos para juntas verticais e horizontais, MasterFlow 9080 e MasterFlow 9100, respectivamente. São utilizados para criar uma estrutura monolítica que resista às cargas as quais a estrutura estará submetida. Para grauteamentos e concretagens dessas torres foi desenvolvido o MasterBrace 1441, adesivo epóxi indicado como fôrma química que possui elevada tensão de aderência, garantindo uma colagem de alta durabilidade e com boa aderência também em superfícies úmidas. Se medidas públicas não atrapalharem, a tendência é que esta cadeia produtiva continue crescendo de vento em popa, com a adesão e o surgimento de um número bem maior de players.
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montaram fábricas e trouxeram empregos. É importante entender que, no mercado de energia eólica, uma energia contratada hoje vai gerar contratos e empregos para as fábricas nos dois anos seguintes. Como tivemos uma contratação baixa em 2015, teremos fábricas mais ociosas já em 2017. Com contratação zero em 2016, teremos fábricas praticamente paradas em 2018. Grandes empresas não vão continuar no Brasil com fábricas vazias”, dispara Élbia, que completa: “Corremos um grave risco de desmobilização da cadeia produtiva e isso é um golpe quase mortal numa indústria jovem, promissora e que hoje gera a energia mais competitiva do país, não contando 60
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obviamente as grandes hidrelétricas, que possuem restrição para novos projetos. É uma decisão que não guarda coerência com outras movimentações do governo de garantir retomada de investimentos e da economia”, analisa. Embora Costa compartilhe da mesma opinião, afirmando que o cancelamento do Leilão “demonstrou insegurança no planejamento do governo e gerou incertezas que podem afastar os investidores”, também avalia que “o cancelamento foi benéfico para o consumidor, pois não haverá oneração da tarifa de energia proveniente de um novo leilão de reserva, num momento em que há sobra de energia”.
Segundo ela, a tendência é voltar para o histórico pêndulo de “falta-sobra” de energia no país por carência de uma análise mais ampla no planejamento. “É óbvio que se olharmos apenas o Produto Interno Bruto (PIB) do ano que vem e se estivéssemos falando de um leilão A-3 e A-5, pode-se concluir que um leilão não seria necessário agora, mas se analisarmos o cenário macro de intenção de atrair investimentos e retomar a atividade econômica, dar sinais positivos para os investimentos e fazer planejamento considerando segurança energética e energia competitiva, cancelar o leilão de reserva foi um grande erro”, avalia a executiva.
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Desafios eólicos A energia eólica apresenta inúmeros benefícios para a sociedade que vêm sendo cada vez mais explorados no Brasil; porém, também há desvantagens e desafios que precisam ser considerados
Usina Eólica de Millennium
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aplicação da energia eólica abrange diversas vantagens em relação às energias tradicionais e até mesmo em comparação com outros tipos de energias renováveis. Além de apresentar um grande índice de desenvolvimento, essa fonte energética oferece inúmeros benefícios para a sociedade, desde a redução da dependência dos combustíveis fósseis até a criação de empregos. Mas nem tudo são flores. Mesmo apresentando muitos pontos positivos, o uso dessa matéria-prima para a produção de energia elétrica expressa, em níveis de aproveitamento energético, desvantagens e impactos relevantes, principalmente no uso de grandes aerogeradores. É inegável que o setor eólico brasileiro tem se desenvolvido significativamente nos últimos anos. No entanto, devido à rápida expansão, alguns desafios precisam ser superados. A falta de subestações e linhas de transmissão, por exemplo, estão sendo os maiores vilões da energia eólica no atual momento. Segundo Elbia Gannoum, presidente-executiva da da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), uma das questões mais importantes em relação a este tema está na agilidade do crescimento das energias renováveis de baixo impacto versus a velocidade para a ampliação de linhas de transmissão. “Este é um de-
safio mundial. Um artigo publicado recentemente no MIT Technology Review mostra que países como Alemanha, China, Índia e Austrália estão também enfrentando problemas por falta de transmissão.” A presidente da entidade explica que, na Alemanha, a rapidez para implantação de parques eólicos, especialmente no Norte do país, é maior do que a capacidade de construir linhas de transmissão. Tal ocorrência sobrecarregou os sistemas de transporte de energia, levando o governo alemão a pagar aos produtores um valor para que eles diminuíssem sua geração eólica. “Índia e Austrália estão ambas sob pressão para construir mais linhas para que possam, efetivamente, sustentar os planos de desenvolvimento das renováveis.” No Brasil, essa realidade não é diferente. No entanto, Elbia ressalta que, por mais negativo que esse quadro seja, o cenário no país já foi pior. “Antes, não havia necessidade de se garantir a transmissão para participar de um leilão, o que nos levou a ter nossos primeiros parques, instalados em 2012, prontos, mas sem transmissão”, explica. Atualmente, existem no país cerca de 3% de parques sem transmissão. Segundo a executiva, o modelo de leilão foi reformulado para que isso não aconteça mais. “É um avanço, mas ainda nos falta o principal: ter de fato a capacidade de
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transmissão para podermos seguir crescendo com as energias renováveis de baixo impacto, como é o caso da eólica.” A responsabilidade das instalações de linhas de transmissão é da distribuidora ou da transmissora, que detém a licitação dos trechos em que serão introduzidos os sistemas de transporte de energia. Entretanto, ciente da relevância e gravidade do problema, a ABEEólica contratou um profundo estudo para analisar todo o sistema de
transmissão do país, seus entraves e saídas viáveis. O material, que será distribuído em cinco cadernos temáticos, já está em produção e seus resultados estão sendo compartilhados com órgãos do governo e estudiosos. “É preciso, por exemplo, considerar que o planejamento de transmissão e sua implantação levam mais tempo que o de energias como a eólica e, portanto, precisam começar antes, demandando maiores investimentos e riscos”, complementa Elbia.
“É UM AVANÇO, MAS AINDA NOS FALTA O PRINCIPAL: TER DE FATO A CAPACIDADE DE TRANSMISSÃO PARA PODERMOS SEGUIR CRESCENDO COM AS ENERGIAS RENOVÁVEIS DE BAIXO IMPACTO, COMO É O CASO DA EÓLICA”, Elbia Gannoum
Demais pontos
Sérgio Costa, diretorexecutivo da VILCO Engenharia e Consultoria
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Para Sérgio Augusto Costa, diretor-executivo da VILCO Engenharia e Consultoria, outro entrave da energia eólica brasileira está na dificuldade de financiamentos para o setor. “O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), embora possua uma política de financiamento para projetos eólicos, em função da crise econômica atual, não possui capacidade de atender a demanda de financiamentos de projetos na área.” Além disso, é possível encontrar alguns obstáculos na questão logística da energia eólica. Neste ponto, é possível ressaltar a dificuldade em escoar a produção dos aerogeradores eólicos e seus componentes para os locais onde os parques são instalados, visto que a malha rodoviária e marítima nacional não possui, ainda, a dimensão adequada para o setor.
Vantagens e desafios Para buscar entender melhor sobre o setor eólico brasileiro, a equipe da Full Energy entrevistou Sérgio Augusto Costa, que comenta as vantagens e os desafios da energia que vem dos ventos. • Vantagens - É uma fonte de combustível limpa. A energia eólica não polui o ar, como as usinas que dependem da combustão de combustíveis fósseis – como carvão ou gás natural. Além disso, as turbinas eólicas não produzem emissões de gases que causam chuva ácida ou efeito estufa na atmosfera. - O vento é uma fonte de energia sustentável e renovável. Os ventos são resultantes da energia solar. Eles são causados pelo aquecimento da atmosfera através do sol, a rotação da Terra e as irregularidades da superfície terrestre. A oferta dessa matéria-prima é abundante, principalmente no Nordeste e Sul do país. - A energia eólica é rentável. É uma das tecnologias de energia renovável mais baratas atualmente disponíveis, com preço de geração aproximado de R$ 235 por MWh, dependendo do recurso eólico e do financiamento do projeto em particular. - As turbinas eólicas podem ser construídas em fazendas ou propriedades rurais. Isso beneficia muito a economia
nestas localidades, onde a maioria dos melhores sites de vento são encontrados. Agricultores e pecuaristas podem continuar trabalhando a terra por que as turbinas eólicas usam apenas uma fração do espaço. Além disso, os proprietários de usinas de energia eólica fazem pagamentos de arrendamento ao agricultor ou fazendeiro pelo uso da terra, proporcionando renda adicional aos proprietários de terras. - O vento cria empregos. De acordo com a ABEEólica, somente em 2014 foram criados cerca de 40 mil empregos e 41 mil empregos em 2015. • Desafios - A energia eólica deve ainda competir com as fontes de geração convencionais com base nos custos. Dependendo do nível de geração de energia de um site eólico, o parque eólico pode não ser competitivo em termos de custos. Mesmo que o custo dessa energia tenha diminuído drasticamente nos últimos dez anos, a tecnologia requer um investimento inicial mais elevado do que os geradores alimentados a combustíveis fósseis, por exemplo. - Os locais com os melhores recursos de vento são, muitas vezes, localizados em lugares remotos e distantes de cidades, onde a eletricidade é necessária. Extensas linhas de transmissão devem ser cons-
truídas para trazer a eletricidade do parque eólico para os centros consumidores. - Em determinados casos, o desenvolvimento e a implantação do projeto eólico pode não ser o uso mais rentável da terra. Terrenos adequados para a instalação de aerogeradores devem competir com usos alternativos para a terra, que em algumas situações podem ser mais valorizados do que a geração de eletricidade. - Aerogeradores podem causar ruído e poluição estética. Embora as usinas eólicas tenham relativamente pouco impacto no meio ambiente em relação às usinas convencionais, existe preocupação sobre o ruído produzido pelas pás da turbina eólica (ruído aerodinâmico) e impactos visuais na paisagem, além do efeito estroboscópico (efeito da alternância da passagem de luz entre as pás). - As pás da turbina eólica podem danificar a fauna local. Os morcegos e pássaros, principalmente de rotas migratórias, podem ser mortos ao voarem em direção ou próximo às pás da turbina em operação. A maior parte destes problemas pode ser resolvida ou reduzida em grande escala por meio do desenvolvimento tecnológico (implantação de sistema de detecção de rotas migratórias e consequente desligamento dos aerogeradores) ou do ade-
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A falta de subestações e linhas de transmissão está sendo a maior vilã da energia eólica
quado posicionamento dos parques eólicos, considerando as rotas migratórias. Até há pouco tempo, acreditava-se que o ruído de alta frequência das engrenagens e das pás das turbinas poderia estar interrompendo os sistemas de ecolocalização dos morcegos. Porém, estudos recentes da Universidade de Calgary, no Canadá, financiados pela Shell Energy e pela Alberta Wind Energy, demonstram que as pás da turbina em movimento causam queda na pressão (cria-se um vórtice de pressão de ar menor ao redor das pontas das pás, semelhante ao vórtice na ponta das asas do avião), que faz com que os pulmões delicados dos morcegos se expandam, estourando os vasos sanguíneos do tecido (efeito 66
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barotrauma). Para evitar mortalidade deste mamífero voador, uma solução seria aumentar a velocidade mínima do vento necessária para colocar as pás em rotação. A maioria dos morcegos é mais ativa em ventos de baixa intensidade. - A grande desvantagem da energia eólica é o seu carácter variável e intermitente, o que dificulta o seu uso como fonte regular de energia. A quantidade de energia eólica disponível pode variar de hora para hora e, no pior dos casos, em fração de horas. Assim, o despacho de geração eólica deve ser realizado no momento em que há disponibilidade de vento. Porém, a conjugação de eólica com outras fontes de energia, como a pequena central hidrelétrica, ou bio-
massa, por meio de projetos híbridos, possibilita o fornecimento de energia com continuidade e confiabilidade. É importante frisar que o sistema elétrico brasileiro é um sistema hidro-termo-eólico, em que a base da energia é fornecida pelas grandes usinas hidrelétricas. A coordenação e o controle da operação da geração são realizados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), sendo um dos objetivos a otimização do custo de geração da energia, planejando o uso de térmicas (fonte de energia mais cara) em detrimento do armazenamento de água nos reservatórios das usinas hidrelétricas. Sendo assim, a eólica atua na compensação da falta de geração hídrica, diminuindo a necessidade de geração térmica.
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Líderes e Práticas
Inovação, eficiência e disciplina: o caminho para chegar ao resultado esperado
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ngenheiro eletricista de formação, Charlez Lenzi tem uma trajetória de sucesso no Grupo AES, inclusive com atuação fora do Brasil. É presidente da AES Eletropaulo e COO da AES Brasil, estando à frente de um plano de modernização e automação das empresas que visa permitir uma gestão mais eficiente de ativos e melhorar a qualidade dos serviços prestados. Para ele, a inovação é sempre a chave para o sucesso. Visão que faz parte da estratégia das empresas e que norteia sua relação com as pessoas que lidera. “Inovação é uma atitude que procuramos estimular para que possamos alcançar os nossos objetivos de longo prazo.”
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1. Agilidade e capacidade de adaptação O ambiente de negócios apresenta mudanças cada vez mais frequentes e é importante ter a agilidade necessária na tomada de decisões, identificando as oportunidades e ameaças, fazendo a leitura correta dos seus potenciais impactos e, com isso, programar as ações adequadas. A empresa precisa estar preparada para implementar ações que garantam a sua sustentabilidade e perenidade, satisfazendo seus clientes, acionistas, empregados e comunidades onde atua. 2. Busca constante pela excelência A busca pela excelência deve ser um objetivo geral da organização. Satisfazer clientes com nível de expectativa cada vez maior e, ao mesmo tempo, garantir que a equação econômica do negócio seja satisfeita. Qualidade, inovação, eficiência e disciplina na execução daquilo que foi planejado são questões fundamentais para que a organização chegue aos resultados esperados.
Charles Lenzi, presidente da AES Eletropaulo
3. Amplitude de experiências Ter um conjunto amplo de experiências profissionais, que possibilite a vivência em diversas áreas de negócio ou em empresas diferentes, assegura um leque de aprendizados importantes ao executivo. Uma experiência internacional possibilita a convivência com diferentes culturas, facilitando sua compreensão sobre variados ambientes e visões de negócios, ampliando sua capacidade de adaptação a situações novas. Essa amplitude de experiências permite desenvolver aspectos profissionais e pessoais
que são muito importantes para a vida organizacional. 4. Focar nas pessoas As pessoas é que tornam tudo possível e, para que se sintam estimuladas a dar o seu melhor, precisam compreender claramente e concordar com a visão estratégica da organização. Comunicar com clareza os objetivos e metas da empresa e trabalhar para que o ambiente de trabalho possibilite que as pessoas utilizem todos os seus dons e talentos é uma tarefa fundamental do executivo. Estabelecer relações de confiança através de comunicações sinceras e transparentes, reconhecendo e dando feedback constante, são instrumentos fundamentais na gestão de pessoas. 5.As pessoas certas nos lugares certos Escolher as pessoas com as quais se vai trabalhar, formar equipes e desenvolver pessoas são aspectos críticos na gestão organizacional. É importante entender quais os perfis mais adequados para diferentes posições e funções, incentivando o espírito colaborativo e criando competição saudável dentro da equipe, que permita a troca de opiniões, discussões técnicas, críticas construtivas e análises sob diferentes pontos de vista. As equipes devem ser constituídas por pessoas de ambição proativa e com perfil crítico. A ambição aqui é por sempre procurar aprender mais e por estar determinado a atingir objetivos, crescer e se desenvolver, colaborando para que seus colegas também se desenvolvam e cresçam com a organização.
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artigo
Treinamento bem feito aumenta o controle de perdas e a lucratividade da empresa
Carolina Araújo,
diretora executiva da Araújo RTC Gestão de Riscos e Treinamentos
O treinamento não está voltado apenas à transmissão de conhecimento, mas também à mudança comportamental e educacional do colaborador
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specífica para a gestão do treinamento, a NBR ISO 10.015 fornece diretrizes que orientam e auxiliam as organizações nesta área, ajudando a identificar e analisar as necessidades de uma empresa; a projetar e planejar; a executar; e a avaliar os resultados, além estabelecer parâmetros de monitoramento e de melhoria de processo do treinamento. Uma ferramenta da ISO 10.015 para a realização de um treinamento é o PDCA (Plan - Do – Check - Action ou, em português, Planejar - Desenvolver - Comparar - Agir Corretivamente), que contribui para o planejamento e a sistematização de todo o processo de capacitação. Uma empresa não é obrigada a cumprir o que dita esta norma, que é apenas orientativa, mas a partir do momento que incorpora esta ISO em seu planejamento estratégico, é importante que tenha auxílio de empresa especializada na área, para que dê conta de atender as diretrizes que esta70
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belece. Caso contrário, a proposta da norma, que é possibilitar a gestão dos processos de treinamento da empresa dentro de um conceito arrojado, amplo e qualitativo, não atingirá os resultados almejados. A ISO 10.015 foca em tecnologia do treinamento e na aprendizagem operacional. Está desenhada especificamente para satisfazer as necessidades relacionadas ao treinamento. Permite a geração de indicadores, que contribuem com o processo de gestão de pessoas da companhia. A 10.015 ajuda a mensurar o que é tão desejado pelas empresas: resultados. De posse destes indicadores e sabendo geri-los, a organização atinge aumento de eficiência e de lucratividade. Mas como esta mensuração, que o processo de treinamento possibilita, contribui com a melhoria dos resultados da empresa? A questão é que o treinamento não está voltado apenas à transmissão de conhecimento, mas também à mudança comportamental e
educacional do colaborador, o que está intrinsecamente ligado a um fator central para qualquer negócio: o controle de perdas. Desafio que aumenta a importância e a complexidade do treinamento, exigindo que seja realizado dentro de parâmetros adequados e por empresas devidamente habilitadas. Se não há mudança de comportamento, a capacitação não traz resultados. A realização de um treinamento de alto nível, cumprindo todos os quesitos da ISO 10.015, não apenas propicia o aumento do lucro da organização, como também a satisfação de seus clientes ou funcionários. As diretrizes da norma permitem que o treinamento vise aumento da produção, e redução da incidência de acidentes e da rotatividade, além de impactar outros aspectos. Os resultados obtidos a partir de um processo bem feito de capacitação podem influenciar positivamente o desempenho global da companhia - quanto a efetividade,
custos, produção etc -, uma vez que peça-chave dentro de qualquer organização, o funcionário, estará apto a corresponder às demandas da empresa. Os indicadores mensurados são produzidos, praticamente, a partir da observância de uma das diretrizes da ISO 10.015: a avaliação que ocorre ao longo do treinamento, em que são consideradas as provas aplicadas, o desempenho nas atividades práticas, e aspectos intangíveis, como ganho financeiro, custo-benefício, potencial de perdas minimizadas e a eficácia do próprio processo de formação. É importante destacar que o fato de a capacitação oferecer acúmulo de conhecimento ao colaborador não significa que houve mudança de atitude. Mas como é possível dimensionar se o treinamento provocou mudança de comportamento? Em um curso sobre trabalho em espaço confinado, por exemplo, o docente fala na sala de aula sobre a aplicação da instrumentação. Apresenta o detector de gás e o aluno, na reciclagem, diz que nunca viu o instrumento. Algo está errado na formação deste treinando, uma vez que o domínio sobre este tipo de aparelho é fundamental em procedimentos em espaço confinado. Consta inclusive da legislação. Identifica-se, neste caso, um erro na formação deste aluno que pode redundar em falhas na operação, inclusive com acidentes. Esta informação é inserida no book individual deste
treinando e transmitida ao departamento de recursos humanos da companhia contratante do treinamento. Um treinamento bem estruturado e conduzido a partir da ISO 10.015 permite a percepção do desempenho dos alunos, bem como de falhas – muitas vezes graves - na sua formação pregressa, como neste exemplo citado anteriormente. Isto é importante para a empresa contratante, que pode usar os dados obtidos no processo de treinamento para o redirecionamento e o aperfeiçoamento da gestão de pessoas da organização. Equipes multidisciplinares Embora muitas companhias prefiram manter equipes internas para a realização de treinamentos orgânicos, esta nem sempre é a melhor estra-
tégia. Primeiro porque é dispendioso para a organização tirar profissionais da linha de produção e dedicá-los a processos de formação. Além disso, uma empresa terceirizada em treinamento consegue dispor de equipes multidisciplinares para ministrar cursos de diferentes áreas, com pedagogia adequada e proficiência na atividade. Até porque nem sempre a companhia contratante tem especialistas aptos a conduzir capacitações que atendam todas as demandas internas. Outro ponto importante é que uma empresa terceirizada, por atuar exclusivamente em treinamento, consegue manter seus profissionais atualizados quanto às legislações vigentes e às tecnologias de vanguarda nas mais variadas áreas do conhecimento, como saúde, meio ambiente e segurança do trabalho.
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Entre o petróleo e os ventos
Potiguar de coração, Jean-Paul Prates tem mais de 25 anos de experiência na concepção e execução de projetos na área energética, como petróleo, biocombustíveis e energia renovável
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matriz energética brasileira tem uma base renovável, que deverá ganhar um espaço cada vez maior. “Mas as energias não-renováveis, especialmente diante do Pré-Sal, ainda vão ganhar espaço. Riqueza que não podemos nos dar ao luxo de desprezar.” Esta é a opinião do especialista em energia Jean-Paul Prates, um dos grandes consultores da área no país. Com mais de 25 anos de experiência na concepção e execução de centenas de projetos nas áreas de petróleo, gás natural, biocombustíveis e energia renovável, Prates participou da elaboração do marco regulatório da atual indústria do petróleo do Brasil. Atualmente, dirige as consultorias Expetro, sediada no Rio de Janeiro (RJ), e a CRN-Bio, cujo escritório fica em Natal (RN), especializadas em energia, petróleo, recursos naturais e meio ambiente. Também preside o SEERN (Sindicato das Empresas do Setor Energético do Rio Grande do Norte), além de comandar o CERNE (Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia) - o primeiro think tank do Nordeste, dedicado à formulação e ao auxílio na execução de estratégias públicas e privadas relacionadas com recursos naturais, energia e sustentabilidade. Em 2014, Prates decidiu trilhar a carreira política, por considerar que “isso nos cabe
a todos, cidadãos comuns, para o aprimoramento desta atividade no Brasil”. Foi eleito primeiro suplente da Senadora Fátima Bezerra pelo Rio Grande do Norte, para o período 2015-2022. Área internacional da Petrobras O primeiro nome sugere sua ascendência. A mãe de Prates é francesa, e o pai, brasileiro. Nasceu em 1968, um ano depois de seus pais se casarem em Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde se conheceram e moravam. Resolveram morar no Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro de Botafogo. “Costumo dizer que sou botafoguense de nascimento e, obviamente, de time também.” Cursou todo período pré-universitário no Colégio de São Bento, no Centro do Rio. Uma instituição rígida, em que se formam cerca de 60 pré-vestibulandos por ano. Depois cursou Direito e Economia, paralelamente - na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) pela manhã, e na PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica, do Rio de Janeiro) à tarde, respectivamente. “Apesar de algumas experiências pregressas, posso dizer que minha carreira profissional se iniciou efetivamente no setor de contratos internacionais da assessoria jurídica da Braspetro, então subsidiária da Petrobras, que concentrava todas as atividades no exte-
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rior.” Começava naquele momento seu envolvimento com o setor petrolífero. Por conta do conhecimento de idiomas, foi parar na área internacional da Petrobras, onde desenvolveu grande interesse pelo funcionamento desta indústria e pela política setorial relacionada com a exploração do petróleo. Indústria do petróleo No início dos anos de 1990, Prates foi se especializar fora do país. Fez dois mestrados concomitantes: Planejamento Energético e Gestão Ambiental, pela Universidade da Pennsylvania (Wharton School), e Economia do Petróleo e Energia, pelo Instituto Francês do Petróleo (hoje IFP School). “Mas antes de sair do país para estudar, fundei a Expetro, a primeira consultoria brasileira especializada na cadeia produtiva da indústria do petróleo, em 1991.” Quando voltou ao Brasil, em 1993, retomou as atividades na Expetro, montando equipes multidisciplinares de consultores para assessorar empresas e executar projetos em petróleo, gás e energia. Começou trabalhando em países vizinhos, como Argentina, Peru, Colômbia e Venezuela. Em 1997, a consultoria foi contratada pelo Governo Federal para elaborar o marco regulatório resultante da nova Lei do Petróleo. “Conseguimos elaborar um modelo consistente e que resultou no 74
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crescimento e aprimoramento da Petrobras e de tudo que gira em torno dela. Uma regulação segura, altiva e produtiva como o país precisava.” Ele ainda era jovem quando liderou o grupo que elaborou o marco regulatório – tinha menos de 30 anos de idade. Processo que foi muito importante para o país, uma vez que estabeleceu questões importantes para a indústria do petróleo brasileira, como o sistema de royalties, o contrato de concessão oficial, a formatação da agência reguladora - desde seu primeiro organograma até as suas primeiras portarias - etc. Um processo de construção que foi importante para o setor petrolífero brasileiro, para o mercado de trabalho e para muitas cidades. “Concebemos um modelo que permite ajustes e calibragens de acordo com os momentos históricos, a geopolítica, os interesses em jogo e até em função dos seus próprios resultados, como foi o advento do Pré-Sal. Mesmo com todos os percalços vividos nos últimos anos, o setor de petróleo no Brasil se desenvolveu tremendamente.” Quase uma década depois de participar da formatação do marco regulatório do petróleo, Prates contribuiu ativamente, em 2006, de grupos de discussão sobre o modelo de partilha. Ele considera que a escolha do modelo não é um “Fla-Flu” e todos os modelos regulatórios permitem ajustes normalmente influenciados pela política
setorial adotada por um governo e também de acordo com a conjuntura global e a competitividade que o país e seus ativos petrolíferos apresentem a cada momento. No caso do modelo de concessões, a vantagem é sua aplicação bem mais simples e a arrecadação direta pelo Estado por meio dos royalties e demais tributos especiais. No sistema de partilha, como a parte do Estado é recebida em óleo/gás, é preciso auditar exaustivamente os custos e investimentos, apurar o lucro de cada projeto e então realizar a partilha da produção. Ele lembra que, atualmente, os dois regimes estão em vigor no Brasil: o primeiro para as áreas ditas “convencionais” e o segundo para o polígono do Pré-Sal. “Penso que, muito em breve, deveremos realizar uma consolidação dos regimes jurídicos sobre o petróleo, garantindo a soberania sobre os recursos, o controle e a fiscalização por parte da agência reguladora, e a flexibilidade de calibrar as ofertas e tributos de acordo com a atratividade dos nossos ativos ao investimento.” Se o risco é baixo e o lucro é alto, a tributação (ou seja, a partilha direta com a sociedade brasileira) pode ser mais alta. Nos casos de risco mais alto, lucratividade baixa ou mesmo nos casos de maturidade da curva de produção (campos em fim de vida), a tributação e os termos contratuais podem ser amenizados.
Ventos potiguares Após cumprir uma quarentena auto imposta, Prates assessorou mais de 80 diferentes empresas ao longo de mais de uma década, na formatação e execução de projetos nas áreas de petróleo, gás natural, biocombustíveis e energia renovável. Em 2003, começou o trabalho de planejamento energético para o Estado do Rio Grande do Norte, onde passou a residir em 2007. Assumiu o mandato de Secretário de Estado de Energia e bateu as metas que havia estabelecido no plano decenal, que elaborou em 2003. A principal meta? Levar o Rio Grande do Norte, de 0 MW de capacidade de geração, à autossuficiência energética. O Estado vem de mais de 40 anos de tradição petrolífera e Prates sempre teve clientes e projetos que o levaram regularmente a Natal. Foi diretor interino de uma das empresas canadenses que fez parceria com a Petrobras no campo offshore de Pescada Arabaiana, em 1998. Em 2001, preparou um plano estratégico para o setor energético do estado do Rio Grande do Norte, que entregou gratuitamente ao então Governador, Garibaldi Alves, que não conseguiu levá-lo adiante por estar em fim de mandato. Sua sucessora, a Governadora Wilma de Faria, conheceu o plano e
convidou Prates a atualizá-lo em 2003. “Preparei um Plano de Desenvolvimento Energético que estabelecia, entre outras metas, a autossuficiência energética e a autossuficiência em derivados de petróleo até 2010.” Dezoito meses antes de estourar este prazo, assumiu a execução do plano. E o resultado foi bem-sucedido. “Houve tempo para organizar políticas incisivas de apoio ao desenvolvimento das fontes renováveis, finalizar a longa implantação da Termoaçu e conquistar uma refinaria proporcional à produção local.”
Em fim de abril de 2010, entregou o cargo com as metas cumpridas e mais de 2GW em eólicas contratadas em leilões federais. “O Rio Grande do Norte chegava à liderança nacional em projetos eólicos contratados, e em construção. Hoje, graças a essa arrancada, o estado é o líder nacional em geração, construção e contratação de energia renovável, e pode dizer que seu consumo pode ser integralmente abastecido pelo vento, com excedentes a exportar para o resto do Nordeste, onde o regime hídrico se encontra tão desfavorável.” edição 23 | FULL ENERGY
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Filho adotivo do Rio Grande do Norte Para atender clientes e desenvolver projetos relacionadas ao setor de petróleo, Prates utiliza o escritório da Expetro, no Rio de Janeiro. Já as atividades relativas às fontes renováveis desenvolve no escritório da CRN-Bio, em Natal, onde atende cliente do RN, além de estados vizinhos, como Ceará, Piauí, Paraíba, Pernambuco e até Bahia e Maranhão. “Portanto, divido a residência e o domicílio empresarial entre as duas capitais: a do petróleo e a dos ventos.” Natal, no entanto, é o local que Prates escolheu para viver. O Rio Grande do Norte é seu objeto de estudo preferido. Suas mazelas, seu povo, sua política, sua economia, seus potenciais, suas limitações. “Posso dizer que me especializei no RN e ele, em retribuição, me adotou.” Tanto na parede do escritório do Rio, como de Natal, está pendurado o quadro com o título de Cidadão Norte-Riograndense, que lhe foi conferido dois anos após ter saído do governo potiguar, contando com a unanimidade dos membros da Assembleia Legislativa do estado. “Recentemente, tive a honra de ser eleito para o Senado Federal, na condição de primeiro suplente da Senadora Fatima Bezerra. O Estado continua retribuindo minha dedicação por ele. E espero poder continuar contribuindo ainda mais para o seu aprimoramento no futuro. O RN mudou minha vida, e é justo que eu possa pretender mudá-lo para melhor, também.” 76
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Filosofia de vida Para Prates, Deus é um ente múltiplo e complexo, presente integralmente em todas as pessoas, seres e recursos. “Portanto, tudo o que você pratica de bom, contribui para aumentar a felicidade e o sucesso à sua volta, e por conseguinte do universo em geral.” Por outro lado, o inverso também é verdadeiro: a má conduta, mesmo quando escapa de ser punida pela lei dos homens, não foge da reação negativa do seu entorno. “Esta é a minha ‘religião’ particular.” Prates gosta de jogar e assistir futebol, tênis e boliche. Ele já foi crooner de uma orquestra de salsa e jazz latino. “E gostaria muito de retomar isso daqui a alguns anos, pois me fazia muito bem.” Outro hobby de Jean-Paul é
estudar profundamente a História da Humanidade e a do Brasil. “Recentemente, por ter que estudar com meus filhos, tenho acabado por ficar depois sozinho procurando novas fontes, mapas, linhas do tempo, obras alternativas que me atualizem e aprofundem em temas mais complexos.” E na hora de viajar? Turismo ele tem praticado, normalmente, apenas quando é convidado a palestrar ou trabalhar em locais diversos das sedes. “Me dou ao direito de ficar mais uns dias para conhecer e explorar a localidade. No mais, como passei maus bocados com o frio da Filadélfia e de Calgary, onde estudei e trabalhei, dou preferência a lugares quentes, e com vento, é claro!”
Bate-papo com Jean-Paul Prates Hobbies: Jogar e assistir futebol, tênis e boliche, e estudar a História da Humanidade. Planos: Voltar a ser “crooner” em orquestra de salsa e jazz latino. Filosofia de vida: “Saber manter o equilíbrio”. Turismo: Lugares quentes e com vento. Residência e domicílio empresarial: Natal e Rio de Janeiro. Crença: “A má conduta, mesmo quando escapa de ser punida pela lei dos homens, não foge da reação negativa do seu entorno”. Objeto de estudo preferido: “O Rio Grande do Norte, com suas mazelas, seu povo, sua política, sua economia, seus potenciais e suas limitações.
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Ponto Final
Petróleo continua tendo importância para o futuro energético do Brasil
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stratégica para o país, a política energética está sob novo comando desde 2016. Independente de como toda esta mudança de governo aconteceu, este segmento tem sido relativamente bem-sucedido em produzir quadros qualificados e que sobrepõem os objetivos estratégicos do Brasil em relação às origens ou indicações políticas. Esta é a opinião do consultor em energia Jean-Paul Prates. Para ele, no caso da atual composição do Ministério de Minas e Energia e suas estruturas subsidiárias, há vários nomes que têm experiência e notoriedade. “Portanto, tanto na área de petróleo e gás quanto de energia, acredito que a gestão em curso preservará os direcionamentos que tiverem sido corretamente apontados anteriormente, como, por exemplo, a preocupação em manter a matriz limpa e o incentivo à construção de uma indústria nacional
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competitiva.” Esta nova gestão também poderá, segundo ele, ajustar alguns pontos em que ocorreu desgaste ou desvio do modelo ideal. O importante é que os gestores técnicos são pessoas em que o setor deposita confiança, a partir de seus perfis profissionais. A Petrobras, na sua opinião, é de fundamental importância para o segmento energético brasileiro. E mais ainda para a indústria do petróleo nacional. “Não é porque houve falhas, desvios ou distorções na sua gestão, por maiores que possam ter sido, que deveremos considerar a sua existência como um erro.” A manutenção da Petrobras como referência e principal agente do setor é fundamental para que se garanta o retorno indireto (além-tributação) da renda petrolífera para a cadeia produtiva e para a sociedade brasileira, segundo Prates. Mas é preciso corrigir os procedimentos, assegurar transparência, aperfeiçoar a
governança e garantir cumprimento às normas. O especialista afirma que é crucial manter a salvo a hegemonia da Petrobras, pois ela é o principal instrumento de política setorial para os investimentos na área. Apesar de algumas vozes ainda ecoarem desejos de privatização ou de tratamento indiferente, esta posição não é realista com nenhum país grande produtor, exceto os que utilizam regime de acessão (em que o proprietário da terra detém os direitos minerais sobre o subsolo). Mesmo com todos os percalços vividos nos últimos anos, o setor de petróleo no Brasil se desenvolveu tremendamente. Na sua visão, o legado dos avanços na área petrolífera nacional não se esgota por conta das atuais investigações e penalizações de quem agiu ilegalmente. “O legado continua. O país tem uma base sólida em termos de marco regulatório para o setor. E tem muito futuro pela frente.”
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Eventos 2017 Março 6º Wind Power Tech Local: São Paulo Data: 23 e 24 de março Informações: windpowertechbrazil.com
19º Seminário de Mecanização e Produção de cana-de-açúcar Local: Ribeirão Preto Data: 29 a 30 de março Informações: ideaonline.com.br
Abril CENOCON 2017 – Centros de Operação e Controle das Empresas de Energia Elétrica Local: São Paulo Data: 4 e 5 de abril Informações: abrapch.org.br/eventos/ detalhe/34/cenocon
The Pipeline + Expo Energy Local: Tulsa, Oklahoma, EUA Data: 4 a 6 de abril Informações: pipelineenergyexpo.com
Renexpo Local: Augsburg, Alemanha Data: 6 a 9 de abril Informações: renexpo.de
FO Licht Brazil Local: São Paulo Data: 24 a 26 de abril Informações: informagroup.com.br/sugar/pt
EXPEDIENTE CEO/Publisher: Edmilson Jr. Caparelli Diretora Administrativa: Lúcia Rodrigues Diretora Financeira: Rafaela Mofato Diretora de Arte: Erica Almeida Alves Diretor de Marketing: Jailson Rainer Diretor Executivo: Marcelo Caparelli Diretora Comercial: Giovana Teixeira Diretor de Projetos Especiais e Customizados: Márcio Ribeiro Diretora Editorial: Carla de Paula Pinto Editor da Revista Full Energy: Clivonei Roberto Colaboração: Maísa Oliveira Estagiários: Juliana Ijanc’ e Kahel Ferreira Produtora de Arte: Valéria Vilas Bôas Coordenação de Pesquisa: Janaína Novais Assitente Comercial: Stefânia Mazoni Gerente de Clientes: Anderson Siqueira e Maurício Fagundes
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