Full Energy 26ª Edição

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Editorial

Toda embarcação precisa de um bom comandante

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boa gestão é essencial para qualquer organização, independente do seu porte e estrutura. Por mais que se tenha um mercado em potencial para explorar e um excelente produto ou serviço, se a casa não está arrumada e o negócio não é bem conduzido, não se tem a garantia de que o empreendimento será bem-sucedido. E o nível da gestão ganha responsabilidade ainda maior na Administração Pública, em que os recursos, as pessoas e as estratégias devem ser gerenciados com a mesma excelência perseguida no setor privado. Gerir o bem público, ao contrário do que normalmente se pratica neste país, precisa ser encarado com profissionalismo e ética. Especialmente em áreas estratégicas para uma nação, como a energética. Apesar de todas as turbulências políticas e econômicas que o Brasil enfrenta, tudo indica que o modo de gerir essa grande embarcação, chamada Brasil, mudou. Sinal dessa mudança de foco são as medidas acertadas que têm sido adotadas em Energia. E exemplos do avanço não faltam. A partir de um amplo diálogo entre os atores da cadeia produtiva, nasceu o RenovaBio. Um programa voltado ao desenvolvimento do setor de biocombustíveis e que reconhece os benefícios que os combustíveis líquidos limpos e renováveis oferecem para a sociedade brasileira. As fontes eólica e solar tendem a manter a rota de crescimento. A área de petróleo & gás ganhou maior previsibilidade, criando melhor ambiente para a chegada de novos investidores. A profissionalização da gestão de grandes companhias, como Petrobras e Eletrobras, trouxe eficiência. Especialistas em Energia afirmam que as

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mudanças implementadas pelo atual governo, desde o ano passado, foram fundamentais para o setor, que passa a ser, cada vez mais, visto como um porto seguro para novos investimentos. Ainda há muito a avançar em Energia, mas o ambiente que está sendo construído mostra-se propício para o desembarque de investidores norte-americanos, russos, japoneses, chineses, indianos, e por aí vai. Todos são bem-vindos.

Edmilson Jr. Caparelli

CEO | Publisher



NESTA EDIÇÃO

JUNHO - JULHO 2017 Código de Cores

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O potencial solar dos telhados gigantes Com total de 12 milhões de m², os telhados de galpões e de armazéns no Brasil têm condições de abastecer cerca de um milhão de residências por meio da geração de energia solar fotovoltaica

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Piauí, vocação para as energias renováveis Com 27 parques eólicos em construção e prestes a ganhar uma das maiores usinas solares da América Latina, o estado aproveita seu potencial para impulsionar as fontes limpas e renováveis

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Quebec, a força para gerar energia renovável A empresa ultrapassa a marca de mais de 85 projetos executados e implantação de mais de 1.000 MW

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Diálogo e lucidez Ainda em fase de construção, o programa RenovaBio deverá impulsionar a cadeia de biocombustíveis no país

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RenovaBio: Esperança renovada Construído a partir de um amplo diálogo, o programa tem condições de destravar a retomada de investimento no setor sucroenergético

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Leilão que te quero bem Brasil atinge 11,38 GW de capacidade instalada de energia eólica em julho de 2017

Articulista:

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Foto: Divulgação/Casa dos Ventos

A Full Energy organiza suas editorias pelo código de cores abaixo: Líderes e Práticas Sustentabilidade Tecnologia e Inovação Mercado Gente e Gestão Ideias e Tendências Estratégia Bioenergia


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O “Oscar da Energia” 100 Mais Influentes da Energia 2017 ocorrerá no dia 6 de dezembro, no Espaço Apas

DOSSIÊ Licenciamento

Ambiental

52 Licenciamento Ambiental: indutor ou entrave para as energias renováveis?

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Cuidado com os ventos contrários

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Futuro brilhante para a energia solar no Brasil População, empresas e gestores públicos têm interesse cada vez maior no Brasil em aproveitar seus telhados, fachadas e estacionamentos para gerar energia renovável localmente; a expectativa é que a solar fotovoltaica cresça mais de 300% em 2017

Energia eólica precisa de sólidas estruturas Em 2010, a Confer iniciou sua participação na execução de obras civis na área de energia eólica

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Percalços infindáveis para as PCHs

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Por um modelo mais racional

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Com a palavra, o Ibama

Fachadas solares A tecnologia de painéis Calyxo possibilita a utilização da luz na geração de energia, promovendo maior eficiência e economia

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Perguntas para...

Alberto Machado Neto, diretor de Petróleo, Gás, Bioenergia e Petroquímica da Abimaq

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Fotos de Capa: * Casa dos Ventos/ Santo Augusto VI * Divulgação/ CCOM Gov. Estado do Piauí

Perfil

Olga Simbalista é uma das maiores autoridades do Brasil em energia nuclear

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Ponto Final Prosperidade se promove com políticas acertadas

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ALTA TENSÃO Horário de Verão já não é tão eficaz na economia de energia A alteração dos hábitos do consumidor e o progresso da tecnologia tornaram ineficaz o objetivo do Horário de Verão, segundo estudo realizado pelo Ministério de Minas e Energia. De acordo com a pasta, a adoção da hora adiantada não resulta mais em economia de energia. A manutenção do Horário de Verão, de acordo com as autoridades do setor elétrico, é considerada uma “questão cultural”. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o Horário de Verão não serve para reduzir o consumo de energia, mas sim para diminuir a concentração da carga nos horários de pico. Hoje o vilão do consumo de energia é o ar condicionado, diferente de 30 anos atrás, quando o maior problema eram os chuveiros. Como o calor é mais intenso no fim da manhã e início da tarde, os picos de consumo são registrados atualmente nesse período. O horário de ponta ocorre entre 14h e 15h, e não mais entre 17h e 20h. A continuidade ou a extinção do Horário de Verão está sendo estudada pelo governo.

Biomassa é vedete em feira de Curitiba De 20 a 22 de junho, Curitiba se tornou a capital nacional da biomassa. A cidade recebeu a 2ª Feira EXPOBIOMASSA e o Congresso Internacional de Biomassa (CIBIO 2017), que foram sucesso absoluto de público, negócios e difusão de conhecimento, consolidando os eventos como referência no setor. A feira contou com exposição de máquinas e equipamentos dedicados à biomassa. Mais de 800 pessoas participaram do Congresso. Na programação, a produção, o mercado e o potencial dos pellets foram abordados com profundidade. Cana-energia, biogás e geração distribuída também foram retratados no evento.

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Proibição de veículos a diesel e gasolina O consumo de petróleo no mundo poderá atingir seu pico até o fim da próxima década, na projeção do presidente da Shell, Ben van Beurden. O motivo, segundo ele, será a popularização dos veículos elétricos. Neste cenário, os veículos a bateria substituirão os motores tradicionais a combustão. Apesar disso, ele acredita que o petróleo ainda será necessário por décadas, uma vez que provavelmente continuará sendo o principal combustível para aviões, navios e caminhões pesados. Uma notícia que reforça essa projeção do presidente da Shell vem da Inglaterra. Recentemente, o Reino Unido anunciou planos de proibir veículos a diesel e a gasolina até 2040. No território britânico, a venda de veículos híbridos, que funcionam com um motor elétrico combinado a um a combustão, também será proibida. E esse movimento já está se alastrando pelo mundo afora. Na Noruega, a proibição do uso destes combustíveis fósseis começa a valer em 2025. Na Índia, em 2030. Na Alemanha e na França, o limite também é 2040.

É dada a largada para os carros elétricos Com a perspectiva de proibição de veículos a diesel e a gasolina em grandes mercados consumidores, as companhias do setor automobilístico estão se mexendo. A Mercedes está mudando o investimento para carros de corrida movidos a energia elétrica. Já a sueca Volvo anunciou que, a partir de 2019, só vai produzir carros puramente elétricos ou híbridos. Ao mesmo tempo, já começou a corrida automobilística por inovações voltadas aos carros elétricos. Em julho, por exemplo, a startup de tecnologia Sono Motors, com sede em Munique, na Alemanha, apresentou para o mercado o Sion, um veículo elétrico inovador e econômico com integração solar, e adequado para o uso diário. Com capacidade para rodar 250 km, o veículo custa 16.000 euros (sem bateria). E a Tesla lançou o Model 3, que começa a ser produzido em 2017 e é conhecido como o primeiro elétrico “acessível” da companhia.

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Palavra do Editor

Em busca do céu de brigadeiro

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segundo semestre de 2017 começa com muitas dúvidas: será que o nó da crise política será desatado? A economia, de fato, vai deslanchar? As denúncias contra o atual governo podem influenciar os avanços verificados nos últimos doze meses na área energética? O que esperar dos leilões de energia programados para o 2º semestre? Quais serão as implicações do leilão de descontratação? Perguntas não faltam para este setor, mas que precisa mesmo é de respostas. E rapidamente. Sem elas, os investidores não terão a confiança necessária para aportar seus recursos. É verdade que o interesse pelo setor de Energia no Brasil é notório. Muitos players, inclusive, já apostaram suas fichas no potencial brasileiro. Mas ainda não se pode dizer que o ambiente de negócios no país é o mais saudável.

Clivonei Roberto, Editor da Revista Full Energy

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Um dos desafios nacionais, como destaca a editoria Dossiê desta edição, é aperfeiçoar o sistema de licenciamento ambiental. Afinal, o crescimento sustentável requer, indiscutivelmente, responsabilidade socioambiental, mas isso não pode significar um peso para o desenvolvimento. Como aborda a seção Ponto Final, a gestão da área energética do Brasil deu passos importantes nos últimos meses, sob a batuta do atual governo. Previsibilidade e segurança jurídica norteiam iniciativas como o RenovaBio, programa que vai fortalecer os biocombustíveis no país. Já os leilões de transmissão apresentaram resultado positivo e houve a profissionalização da gestão de grandes empresas, como Petrobras e Eletrobras. Outro setor que se beneficia de uma condução mais profissional da área energética é o da energia solar fotovoltaica. Como apresenta a editoria Estratégia, este segmento atravessa uma fase de “céu de brigadeiro” no país, devendo registrar crescimento aproximado de 300% neste ano, seguindo o mesmo ritmo dos últimos anos. E a brisa segue favorável e constante para outras áreas, como a de energia eólica. Em que pese a urgência de novos leilões nos próximos meses, o Brasil continua sendo um mercado que desponta nesta fonte energética no planeta. As características geográficas favorecem algumas regiões, que descobriram que o vento não apenas gera energia, mas também move a economia e leva prosperidade. É o caso do estado do Piauí, que já é um dos grandes produtores nacionais de energia eólica, e não apenas com os ventos que sopram no faixa litorânea, mas também com os que cortam o semiárido do estado. Numa edição como esta, que vai circular em algumas das maiores feiras do país de energias renováveis, o Piauí comprova que apostar em fontes energéticas limpas vale a pena.



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Perguntas para...

Alberto Machado Neto, diretor de Petróleo, Gás, Bioenergia e Petroquímica da Abimaq FULL ENERGY | edição 26


A receita para a retomada dos investimentos Alberto Machado Neto, diretor de Petróleo, Gás, Bioenergia e Petroquímica da Abimaq, destaca a importância do setor de máquinas e equipamentos para o país, critica a atual política de conteúdo local do governo e pede o aperfeiçoamento da gestão do setor energético brasileiro

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ortalecer a indústria nacional. Foi com este objetivo que nasceu, em 1975, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). A Instituição destaca-se por acompanhar de perto as demandas e mobilizar o setor produtivo, realizando ações junto às instâncias políticas e econômicas, estimulando o comércio e a cooperação internacionais e contribuindo para aprimorar o desempenho em termos de tecnologia, capacitação de recursos humanos e modernização gerencial. Ramificada por todo o país, com escritórios e sedes regionais, a Abimaq representa atualmente 7.500 fabricantes de máquinas e equipamentos mecânicos, dos mais diferentes segmentos. Uma das áreas em que a Associação tem atuação sólida e crescente é a Energia. Nesta edição, a Revista Full Energy entrevista Alberto Machado Neto, diretor de Petróleo, Gás, Bioenergia e Petroquímica da Abimaq. Ele está no comando da diretoria responsável pela coordenação e execução de atividades de apoio e assessoramento às empresas associadas que fornecem, direta ou indiretamente, para a indústria de óleo e gás. Gabarito para ocupar este posto é que não falta para Machado, que é engenheiro químico, com especialização em processamento de petróleo e Mestrado em Engenharia de Produção. Desde 1970 atua no setor de petróleo, tendo trabalhado por 30 anos na Petrobras, em que ocupou funções de diretoria e gerências de alto nível. Além disso, desde 2002 é coordenador do MBA Executivo em Gestão de Negócios em Petróleo e Gás da Fundação Getúlio Vargas, onde é professor. Confira a seguir a entrevista com Alberto Machado Neto.

“A isenção concedida aos bens trazidos de fora não é a mesma que incide sobre os itens produzidos localmente, introduzindo assim um forte viés importador.”

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FULL ENERGY: Qual é a importância do setor energético para a cadeia de máquinas e equipamentos? MACHADO: O setor de petróleo e gás, por sua abrangência e por seu peso na economia nacional, é um dos segmentos com maior capacidade de alavancagem da indústria de bens e serviços, incluindo todas as fases, que vão do poço ao posto (combustíveis), do poço ao plástico (petroquímica), do poço ao poste (geração de energia) e do poço ao prato (fertilizantes). Devido às características geológicas do Brasil, especificamente no setor de petróleo, há forte demanda potencial que deve ser utilizada em prol do desenvolvimento nacional. Já existem na carteira da Petrobras e nas de outras petro-

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Perguntas para...

leiras, reservas estimadas em mais de 30 bilhões de barris de óleo equivalente, considerando óleo e gás natural, e que irá demandar mais de US$ 200 bilhões em investimentos nos próximos 20 anos. Adicionalmente, com a realização de novos leilões de blocos exploratórios, ainda teremos, segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), pelo menos outros US$ 250 bilhões a serem investidos. Em seguida vêm os segmentos de biocombustíveis, de energia eólica e solar. Cabe lembrar que, pelo potencial de áreas agricultáveis, ventos e incidência solar, tais fontes - hoje ditas alternativas - têm amplas possibilidades de desenvolvimento e, se forem precedidas de um planejamento estratégico adequado, poderão proporcionar o adensamento de suas respectivas cadeias de valor.

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FULL ENERGY: Quais são os obstáculos e desafios do setor energético brasileiro? MACHADO: O principal obstáculo é a falta de planejamento estratégico com uma visão completa, considerando todos os segmentos da economia. As medidas que têm sido implantadas pelo governo são sempre pontuais e acabam prejudicando os segmentos não alcançados. Um exemplo disso, dentre tantos, é o REPETRO, que é um regime especial que permite a entrada no país de equipamentos destinados à exploração e produção de petróleo com suspensão de impostos. A isenção concedida aos bens trazidos de fora não é a mesma que incide sobre os itens produzidos localmente, introduzindo assim um forte viés importador. Assim, para o comprador, o produto brasileiro perde ainda mais suas condições de competitividade em relação ao similar importado. Um projeto de desenvolvimento para o Brasil deve, obrigatoriamente, considerar que a exploração de seus recursos naturais tem que ser utilizada para alavancar a economia em outros segmentos, quer diretamente por meio das demandas geradas ou indiretamente por meio do efeito da renda.

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FULL ENERGY: Por quê a confiança é um fator fundamental para a retomada dos investimentos? MACHADO: Para dar conforto aos investidores é necessário que exista segurança jurídica, regras claras e constantes, e respeito aos contratos. Mudanças radicais de rumo, como a que está ocorrendo na política de conteúdo local, são extremamente prejudiciais à atração de investimentos na cadeia produtiva que suporta as atividades de exploração e produção. Cabe esclarecer que as medidas que estão sendo adotadas atualmente beneficiam unicamente os investimentos diretos das empresas de petróleo, com vistas à exploração e produção de petróleo e gás, deixando de fora fornecedores locais de bens e serviços, com grande potencial de investimentos, geração de empregos e renda.

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FULL ENERGY: O Brasil está pronto para uma onda de novos investimentos na área? MACHADO: Como no passado foram investidos cerca de US$ 60 bilhões em decorrência das exigências de conteúdo local e das demandas futuras anunciadas pelo governo, que não se concretizaram, o país corre o risco de ver todo esse esforço desperdiçado, sendo que parte significativa desses investimentos foi levada a efeito com dinheiro público. O Brasil está pronto e tem todas as condições para uma nova onda de investimentos, desde que o governo considere, em seus planos, a inclusão inteligente da indústria local de bens e serviços.

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FULL ENERGY: Qual é o futuro das energias renováveis para a matriz energética brasileira? MACHADO: Comparando com a matriz energética mundial, o Brasil já apresenta, em sua matriz, menor participação de combustíveis fósseis, o que já é um ponto favorável. Entretanto, ainda há bastante espaço para o crescimento de energias ainda pouco presentes, tais como bio-


combustíveis, além de lenha, energia eólica e fotovoltaica. Os gargalos decorrem da falta de uma política para o setor, que não deve ser confundida com protecionismo, mas que considere períodos iniciais, implantação e amortização de novos projetos e curva de aprendizagem, e tenham objetivos e prazos de execução previamente definidos. Qualquer estímulo ao desenvolvimento de um setor deve conter, obrigatoriamente, metas a serem atingidas com a previsão de ônus e bônus.

As medidas que estão sendo adotadas atualmente beneficiam unicamente os investimentos diretos das empresas de petróleo, com vistas à exploração e produção de petróleo e gás, deixando de fora fornecedores locais de bens e serviços, com grande potencial de investimentos, geração de empregos e renda.

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FULL ENERGY: Qual é o impacto da Lava Jato sobre o setor energético do país? MACHADO: Na verdade o impacto não é decorrente da Lava Jato e sim dos problemas por ela detectados. Mas as causas principais vão além dos resultados da corrupção, dado que tem seu cerne no modo como foi conduzida a gestão de todo processo, principalmente após a descoberta do pré-sal. Metas arrojadas, muitas delas inviáveis de serem atingidas, sinalizações erradas passadas para o mercado a partir de estudos “otimistas”, demanda de pessoal superdimensionada, editais mal especificados, gerando inúmeros aditivos, projetos mal definidos ou com escopos incompletos, estudos

de viabilidade técnica e econômica (EVTEs) precários, mal avaliados e sem visão do todo - apresentando falsa viabilidade -, perda do Poder de Compra do Estado com o uso indiscriminado de intermediários (grandes contratantes) e suspensão das ofertas de blocos exploratórios atrativos por mais de oito anos foram fatores que viabilizaram muitos dos fatos hoje descobertos pela Lava Jato e que, juntos, levaram o setor energético do país à situação em que se encontra.

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FULL ENERGY: A Lava Jato contribuirá com o aperfeiçoamento do modelo de gestão da Petrobras? MACHADO: Sem dúvida, e não só da Petrobras. O sentimento de impunidade reinante antes da Lava Jato estimulou, em inúmeros setores, a prática de ilícitos de alguns gestores que acabaram por respingar nas organizações, fazendo com que essas adotassem providências de gestão e, principalmente, de controle que certamente dificultarão tais práticas no futuro. Por outro lado, há que haver um cuidado de não se pecar pelo excesso, inibindo decisões gerenciais necessárias dentro do risco do negócio em questão.

O Brasil está pronto e tem todas as condições para uma nova onda de investimentos, desde que o governo considere, em seus planos, a inclusão inteligente da indústria local de bens e serviços.

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FULL ENERGY: Houve mudanças na gestão do setor de óleo e gás do país? MACHADO: Que mudanças? Na prática elas ainda não ocorreram. Tudo o que foi feito até agora teve como único objetivo acertar as contas da Petrobras e diminuir seu endividamento. Se por um lado ocorreu um fator positivo, que foi o retorno dos leilões de blocos exploratórios, por outro terá seus efeitos benéficos para a sociedade neutralizados pela mudança radical na política de conteúdo local. Do modo como foi projetada, tal mudança vai resultar em investimentos feitos com produtos importados, que entrarão no país ao amparo do REPETRO (com isenções de tributos) e que vão retirar um petróleo que será exportado in natura, deixando aqui apenas os royalties, que serão gastos e acabarão quando o petróleo perder sua importância na economia mundial.

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FULL ENERGY: Para as empresas brasileiras, qual é a política ideal de conteúdo nacional na área de petróleo e gás? MACHADO: O empresário precisa dispor de três fatores básicos para investir: informação, motivação e infraestrutura. Tudo começa pela informação, que deve ser disponibilizada com nível adequado de detalhamento e com a devida antecipação e alocação no tempo. Desse modo, é de fundamental importância para o empresário conhecer, com a devida antecedência, as demandas, quer sejam de investimentos ou de operações. Investimentos anunciados apenas em termos de moeda a ser investida não é informação suficiente, pois na maioria dos casos não disponibiliza ao empresário a estimativa de demanda futura de seu produto, aumentando as condições de incerteza, que infelizmente têm experimentado recentemente. O segundo fator é a motivação, a certeza que

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terá oportunidade para participar, que será convidado a participar das licitações. Para um investidor estrangeiro é muito mais cômodo vir para cá com seus fornecedores tradicionais, onde tem tradição de fornecimento, maior escala nas compras, facilidade de financiamento externo na modalidade de suppliers credit (financiamento condicionado à compra de bens no país de origem), com juros inferiores que os aqui praticados, entre outros fatores que tiram nossa competitividade. O terceiro, que eu chamo de infraestrutura, é exatamente o ambiente de negócios, com condições internacionais de impostos e taxas de juros, câmbio e facilidades de logística, redução da burocracia e etc, fatores que devem ser tratados dentro de uma hoje inexistente política industrial.

“Um país precisa desenvolver condições para que sua indústria possa competir em igualdade, de igual para igual com os concorrentes estrangeiros, não é protecionismo, é apenas uma questão de bom senso”.

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FULL ENERGY: As indústrias brasileiras precisam ser protegidas? MACHADO: O que se torna necessário são medidas estruturais em termos de país, de modo a minimizar o que hoje conhecemos como “custo Brasil”, o que obviamente depende de uma política industrial para o setor, sem protecionismo, pois um país precisa desenvolver condições para que sua indústria possa competir em igualdade, de igual para igual com os concorrentes estrangeiros, não é protecionismo, é apenas uma questão de bom senso.


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