Full Energy - 28ª Edição

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Editorial

2017: um ano para celebrar

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setor da Energia foi notícia em 2017, não há como negar. Para a energia eólica, os ventos continuaram soprando favoravelmente, apesar do cancelamento de leilão no final de 2016. Os brasileiros aprenderam que do mesmo sol intenso que leva muitos para praias e clubes, se pode tirar energia que gera economia para casas e estabelecimentos e move os ultramodernos veículos elétricos. As turbinas de Itaipu pulsaram como sempre, e já nasceram gigantes hidrelétricas às margens do Rio Madeira. Para as Pequenas Centrais Hidrelétricas, o ano foi de continuar conquistando espaço e mostrando suas potencialidades. E uma nova esperança tem sido costurada nos gabinetes, em sintonia com as demandas da energia que vem da agricultura e da biomassa: o RenovaBio. Já o setor de petróleo e gás, tão prejudicado por escândalos de corrupção nos últimos anos, parece que começou a encontrar oxigênio, puxado pelo êxito dos leilões, pela melhoria dos preços e, principalmente, pela adoção de políticas públicas sensatas e transparentes. A crise econômica está sendo, mesmo que timidamente, superada (apesar de que as turbulências políticas continuam como todo o gás). Em Brasília, uma gestão baseada na visão técnica deu o tom, trazendo credibilidade e previsibilidade ao setor, o que tem animado investidores que, já em 2017, começaram a aportar seus recursos em bons negócios de Energia no Brasil. Prova disso têm sido os leilões que foram realizados neste ano. Sob a batuta do Ministro Fernando Coelho Filho, o Ministério de Minas e Energia tem sido um dos principais protagonistas deste processo de transformação. Não por acaso que o jovem Ministro do MME foi um dos eleitos, e com expressiva votação, para o prêmio 100 Mais Influentes da Energia 2017. Com grande número de executivos, autoridades públicas e convidados, o evento dá sinais claros de que já se consolida como um dos principais momentos do calendário do setor da Energia no Brasil.

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Porém, muito mais do que uma solenidade de premiação que encerra o calendário do setor energético brasileiro, o 100 Mais Influentes da Energia é uma grande celebração: de um setor estratégico, corajoso, inventivo e vibrante. Também é celebração para mais um ano de expansão da Revista Full Energy, que cresce no número de leitores, de visitantes do site e das mídias sociais, de parceiros e na qualidade editorial. Tanto para o setor da Energia, como para a Revista Full Energy, a ousadia e o sonho não têm limites.

Edmilson Jr. Caparelli

CEO | Publisher



NESTA EDIÇÃO

OUTUBRO | NOVEMBRO 2017

Código de Cores A Full Energy organiza suas editorias pelo código de cores abaixo: Líderes e Práticas Sustentabilidade Tecnologia e Inovação Mercado Gente e Gestão Ideias e Tendências Estratégia Bioenergia

Segmento Energia e Recursos da Sodexo tem compromisso permanente com a qualidade de vida A chave do sucesso está no fornecimento de Serviços de Qualidade de Vida e de soluções integradas ao mercado

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Pellets de biomassa: pequenos e poderosos Pellets de biomassa são uma alternativa viável e sustentável para suprir as demandas globais de produção de energia

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Complexo Eólico São Miguel do Gostoso é inaugurado no Rio Grande do Norte Empreendimento conta com 108 MW de potência instalada

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O amanhã será mais digital, inovador e ágil Na celebração de 105 de atuação no Brasil, a ABB apresentou como projeta o futuro e algumas tendências tecnológicas que já estão em movimento

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15 anos de história e de bons ventos A ABEEólica comemora este marco histórico contabilizando mais de 12,3 GW de capacidade instalada, em mais de 490 parques distribuídos pelo país

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Dossiê Petróleo, gás natural e biocombustíveis - Um panorama do Brasil em 2017

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Investimentos e foco em competência Algumas empresas continuam a investir, mesmo em anos mais difíceis, sempre mirando uma estratégia de médio e longo prazos. É o caso da América Energia, que no biênio 2016/2017 construiu duas usinas geradoras, ampliou filiais e cresceu mais de 20%

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O maior Parque Solar da América do Sul nasce no sertão do Piauí Instalado no semiárido piauiense, o parque solar Nova Olinda foi o que recebeu o maior investimento do Brasil e da América Latina

Articulista:

22 Impactos da reforma trabalhista sobre as empresas, por Priscilla Araújo Rocha 6

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Resíduos lucrativos Tecnologia de biodigestão anaeróbica, ofertada ao mercado brasileiro pela Bazico, garante maior sustentabilidade à produção de etanol nas usinas sucroenergéticas

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Aposta na retomada do crescimento Perspectivas futuras para infraestrutura e energia no país são positivas e motivam companhias como o Grupo HTB a acreditarem que 2018 será ano de recuperação, oportunidades e investimentos

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A hora e a vez da Cana-Energia Como está o processo de consolidação da canaenergia no Brasil e o que esperar para o próximo ano

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Italiano é um dos idiomas da Energia Renovável no Brasil O Grupo Enel, através de suas subsidiárias EGPB e Enel Brasil, tem capacidade instalada total em renováveis de cerca de 2.276 MW no país

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Quebec, a força para gerar energia renovável A empresa ultrapassa a marca de mais de 85 projetos executados, com a implantação de mais de 1.000 MW

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Perguntas para...

Erich Schaitza, pesquisador da Embrapa Florestas

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Consultoria Eficiência Energética Empresários Entidades Setoriais Estratégia e Marketing Geração e Produção Gestão de Pessoas Governança Corporativa Indústria Infraestrutura e Engenharia Inovação Mercado e Negócios Personalidades Públicas Pesquisa e Desenvolvimento Provedor de Serviços Qualidade e Segurança Referência Suprimentos e Logística Sustentabilidade Tecnologia

Perfil

Rui Guilherme Altieri Silva, presidente do Conselho de Administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE)

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Ponto Final Boas vindas ao setor energético em 2018

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ALTA TENSÃO Modelo de desestatização da Eletrobras Ao participar de um fórum de CEOs em Nova York - um evento que reuniu mais de 250 investidores americanos e representantes de empresas brasileiras -, o Ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, expôs os objetivos definidos pelo governo brasileiro para a evolução do programa de desestatização da Eletrobras, como a modelagem, a tramitação no Congresso Nacional e o tratamento a ser dado às usinas nucleares e à Hidrelétrica de Itaipu. Aproveitou também para falar sobre as novas oportunidades de investimentos que vão surgir com a aprovação, pelo Congresso Nacional, do Novo Marco Regulatório de Mineração, que atualiza o Código Mineral Brasileiro, cria a Agência Nacional de Mineração (ANM) e aprimora a legislação que trata da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM).

Potência fotovoltaica A energia solar fotovoltaica é estratégica para apoiar o governo federal, estados e municípios no cumprimento da meta brasileira de reduzir 37% as emissões de gases de efeitos até 2025, com indicativo de chegar ao corte de 43% em 2030. Esta é a opinião de Rodrigo Sauaia, presidente-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). “Ao gerar energia elétrica a partir do Sol, o Brasil evita emissões, diversifica a matriz elétrica, alivia os reservatórios hídricos, hoje em situação crítica, reduz custos e emissões com o uso das termelétricas a combustíveis fósseis e ainda impulsiona a geração de empregos locais de qualidade, atraindo investimentos privados e reaquecendo a economia nacional.” Para tornar o Brasil uma potência solar fotovoltaica, a entidade propõe uma contratação anual de 2 gigawatts (GW) de usinas solares fotovoltaicas por meio de leilões de energia elétrica, uma meta nacional de 1 milhão de telhados solares fotovoltaicos em residências, comércios, indústrias, edifícios públicos e na zona rural, a abertura de linhas de financiamento competitivas para pessoas físicas e uma política industrial para reduzir preços de equipamentos nacionais aos consumidores. ENERGIA EM NÚMEROS

...lugar no ranking da geração eólica mundial é a posição que o Brasil ocupa, ultrapassando o Canadá.

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49,8%

...é o que corresponde a produção do pré-sal no total de barris de petróleo produzido pelo Brasil atualmente.


Itaipu: importância estratégica para Brasil e Paraguai A Usina Itaipu comemora mais um recorde de geração de energia elétrica. A companhia atingiu a marca de 2,5 bilhões de MWh, produzidos pela hidrelétrica. O número representa quase 1 bilhão de MWh a mais do que a segunda colocada em produção acumulada no mundo, a Usina de Guri, na Venezuela. Itaipu tem uma importância estratégica para o Brasil e para o Paraguai, gerando uma energia limpa e renovável. Graças à geração da hidrelétrica, em quase 34 anos também foi possível evitar a emissão de 2 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera. Segundo dados da companhia, se toda a energia de Itaipu tivesse sido gerada por combustível fóssil, como o petróleo, teriam sido consumidos 5 bilhões de barris, o equivalente a dois meses da produção mundial petrolífera. A energia já produzida pela hidrelétrica seria capaz de abastecer o planeta por 41 dias. Hoje, a usina binacional responde por 17% do consumo brasileiro e 90% do mercado paraguaio.

Campo de Azulão A Petrobras assinou, no final de novembro, com a empresa Eneva, por meio da subsidiária Parnaíba Gás Natural, o contrato de cessão da totalidade de sua participação no Campo de Azulão (Concessão BA-3), localizado no estado do Amazonas. O valor total da transação foi de US$ 54,5 milhões. A transação faz parte do Programa de Parcerias e Desinvestimentos 2017-2018 e está alinhada com a política de gestão ativa de portfólio, que prioriza investimentos em ativos com maior potencial de geração operacional no curto prazo e com maior possibilidade de otimização de capital e de ganhos de escala.

R$ 4,5 bilhões

...é o quanto o setor solar fotovoltaico brasileiro irá movimentar em 2017, devendo atingir 1 GW em projetos operacionais até o final do ano.

1,5%

...foi o crescimento da demanda por combustíveis leves entre janeiro e setembro de 2017.

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Palavra do Editor

Hora de reconhecer quem faz história na Energia

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gestão do setor energético é estratégica para qualquer país. Mas tão valioso quanto contabilizar o potencial das diferentes fontes de energia é valorizar as competências e os cérebros que atuam na área. Em reconhecimento aos profissionais que se destacam nos diferentes elos do setor, a revista Full Energy e o Grupo Mídia promovem no próximo dia 11 de dezembro, em São Paulo, a segunda edição do Prêmio 100 Mais Influentes da Energia, que já se consolida como a maior celebração da Energia no Brasil. Um tributo a per-

Clivonei Roberto, Editor da Revista Full Energy

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sonalidades que deixaram sua marca, nas mais diferentes áreas, em um dos segmentos mais importantes do país. Por trazer um pouco da carreira e da contribuição ao país dos 100 homenageados do prêmio, esta edição da Full Energy é mais do que especial. Ela é histórica: para o setor e para a vida dos premiados. Homens e mulheres vocacionados (as), que entregaram parte de suas trajetórias para o sucesso de um setor. E em nome do desenvolvimento e da autonomia de um país. Mas esta publicação não apenas reconhece os profissionais eleitos para o prêmio. Também mostra a importância de personalidades como o empresário Cícero Junqueira Franco, um dos precursores do Proálcool, que será homenageado durante a solenidade do 100 Mais Influentes da Energia. Falecido em 2016, ele é um exemplo de visionário daqueles que se entregam ao ideal que acreditam. Na editoria Perfil, o entrevistado é Rui Altieri, presidente do Conselho de Administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que fala sobre o mercado de comercialização de energia no Brasil e o protagonismo cada vez maior da Câmara. Esta edição da revista também se embrenha nas florestas energéticas, desvendando o potencial, o mercado e os entraves desta fonte de geração de energia, com a ajuda do pesquisador da Embrapa Florestas Erich Schaitza. Na última edição da revista deste ano, um cardápio recheado de personalidades da Energia. E que em 2018, a Full Energy continue publicando nestas páginas a história dos profissionais e das autoridades que trazem inovação e prosperidade ao setor energético brasileiro. Feliz 2018, repleto de boas energias!


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Perguntas para...

Florestas energéticas Pesquisador da Embrapa Florestas relata o potencial brasileiro de produção de energia a partir de florestas plantadas 12

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m Colombo, no interior do Paraná, a Embrapa (Embrapa Brasileira de Pesquisa A g r o p e c u á r i a) participou da instalação, em 1978, de uma unidade específica para a pesquisa florestal. Nascia a Embrapa Erich Schaitza, Florestas. As empesquisador da presas privadas Embrapa Florestas apoiaram a iniciativa, que focava principalmente em melhoramento e conservação genética, silvicultura, manejo e agrossilvicultura. Naquela época, iniciava uma crescente preocupação ambiental, que considerava o importante papel que as florestas plantadas e naturais desempenham no equilíbrio ecológico e na manutenção da biodiversidade. Desde sua criação, a unidade colocou um significativo número de tecnologias à disposição do setor florestal brasileiro, propiciando melhor eficiência produtiva, redução dos custos de produção, aumento da oferta de produtos florestais e agrícolas no mercado e, simultaneamente, a conservação do meio ambiente. No Brasil, a produção florestal passou a ser vista como uma alternativa viável e limpa para a matriz energética. O país possui amplo domínio em silvicultura de florestas plantadas e tem avançado em tecnologias para diversificar as espécies para produção de biomassa. Segundo a própria Embrapa, isto traz perspectivas animadoras em relação à produção de biomassa florestal para energia, com vantagem competitiva no cenário mundial. Para que tais perspectivas se tornem realidade, é necessário o desenvolvimento da sua cadeia produtiva em bases sustentáveis. Nesta edição, a Revista Full Energy entrevista Erich Schaitza, pesquisador da Embrapa Florestas, que fala sobre o trabalho realizado pela instituição, a produção florestal com foco energético no país e o conceito de biorrefinaria.

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O que são as florestas energéticas? São florestas que produzem madeira para a geração de energia. No fundo, no fundo, toda floresta pode produzir energia, mas quando se planta florestas especificamente para produzir energia, elas são chamadas de energéticas.

Fale sobre este modelo de negócio? Esse é um negócio tradicional no Brasil. Há muitos anos se planta florestas para a produção de carvão ou para a produção de lenha. Primeiro, plantávamos meio de qualquer jeito, qualquer espécie, sem material genético específico, sem técnicas de silvicultura apropriadas e sem saber exatamente o que produziríamos. Desde os anos de 1970, muita coisa mudou. Os produtores se profissionalizaram. Hoje há produtores que trabalham com espécies apropriadas para a geração de energia, de alta densidade, com bom crescimento de biomassa e boa forma. Por outro lado, como em qualquer área, temos gente que não se profissionalizou. Além da evolução na produtividade das florestas energéticas - advinda da profissionalização do negócio -, a grande novidade do mercado de florestas energéticas é a possibilidade de se plantar madeira para a geração de energia elétrica. Já temos exemplos de florestas plantadas com esta finalidade.

“A grande novidade do mercado de florestas energéticas é a possibilidade de se plantar madeira para a geração de energia elétrica. Já temos exemplos de florestas plantadas com esta finalidade.”

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Perguntas para...

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Qual é o trabalho realizado pela Embrapa Florestas? Nosso trabalho na área é antigo. Na década de 80, nossos técnicos foram para a Austrália e coletaram material genético de eucalipto com potencial de produção de celulose, madeira sólida e de energia. Foram coletadas várias espécies e, junto com as empresas florestais brasileiras, foram instaladas com bancos ativos de germoplasma (apelidados de BAGs). A partir daí, tanto empresas como a própria Embrapa trabalharam para selecionar materiais genéticos produtivos em várias regiões do país. Um BAG é um plantio que contém a variabilidade genética de populações ou de famílias de árvores. A partir dele é possível se fazer seleções e obter materiais altamente produtivos. Os nossos BAGs e o de outras instituições (incluindo as empresas florestais) foram a base do desenvolvimento florestal fantástico do setor de florestas energéticas brasileiro. Em paralelo, caracterizamos a qualidade da madeira dessas espécies. Quem vai plantar algo, pode saber o que esperar em termos de madeira no futuro distante.

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Como aperfeiçoar no Brasil utilização do potencial energético de florestas para a geração de energia? Não vejo muitos entraves além do desenvolvimento de tecnologias para geração de energia (especialmente energia elétrica) em diferentes escalas e considerando a economicidade do sistema. Usar árvores para produzir energia é possível, contanto que não tenha um outro uso que dê mais dinheiro. Vejo algumas alternativas muito interessantes nesse cenário. Há muitos locais onde há florestas e não há consumidores: nem para lenha, nem para carvão; e onde gerar energia elétrica é uma boa alternativa. Outra opção interessante é a de se aproveitar materiais que não são normalmente usados, como desbaste pré-comercial de florestas de pinus.

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Há diferenciais em se formar uma floresta energética? Não há diferença na forma de se plantar para celulose, para lenha, para carvão ou produção de energia elétrica. O que se procura em todos os ca-


sos é a maior produção de biomassa pelo menor custo possível. A diferença estará nas características da madeira, pois quando se quer produzir energia, materiais mais densos do que no caso da celulose são desejáveis. Então, algumas espécies não usadas pelo setor de celulose são boas para a produção de energia. No entanto, para a produção de energia é possível plantar as espécies usadas na produção de celulose. A melhor estratégia para escolher a espécie a ser plantada é procurar a assessoria de um engenheiro florestal experiente. Certamente a espécie mais usada para produção de energia é o eucalipto, plantado em ciclos de 6 a 7 anos. Produzir energia é uma atividade industrial e, como tal, requer suprimento de matéria-prima todos os dias. É importante que a produção florestal seja regulada, isso é, que se produza volumes suficientes de madeira regularmente para que a indústria não pare. Em termos práticos, isso quer dizer que quem planta florestas, deve ter plantios com idades diferentes, para cortar em anos diferentes. E replantá-las, sempre que forem cortadas. Digamos que uma indústria consome um hectare de eucalipto com 7 anos de idade por ano. Para que ela funcione sem parar, seria necessário que alguém tivesse plantado florestas 7 anos atrás. E assim sucessivamente.

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Fale do potencial do Brasil para a geração de energia a partir de florestas? Temos um dos maiores crescimentos de biomassa do mundo. Bons produtores conseguem produzir 20 toneladas de madeira seca por ano. Atualmente, temos mais de 7 milhões de hectares plantados. Isso quer dizer que, anualmente, produzimos 140 milhões de toneladas. Cada tonelada produz 1 MWh de energia elétrica e 1 MWh de energia térmica. Isso quer dizer que o potencial anual de produção de energia de nossos plantios gira em torno de 140 milhões de MWh em energia elétrica e, pelo menos, outro tanto em calor. Na realidade, boa parte dessa madeira vai ser usada na industrialização de outros produtos, porém mais de um terço dela é usada na geração de energia, especialmente como lenha e na produção de carvão, e há um grande potencial para expandir a produção de energia elétrica.

“Quem quer plantar florestas, tem que fazê-lo de forma responsável. Florestas plantadas têm um impacto ambiental pequeno quando comparadas com agricultura. Logo, se achamos que a agricultura é ambientalmente viável, a floresta plantada também é.”

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Como se compatibiliza o negócio de geração de energia a partir de florestas plantadas com a responsabilidade ambiental? Quem quer plantar florestas, tem que fazê-lo de forma responsável. Florestas plantadas têm um impacto ambiental pequeno quando comparadas com agricultura. Logo, se achamos que a agricultura é ambientalmente viável, a floresta plantada também é. Por outro lado, seu impacto ambiental é sempre maior do que o de florestas naturais. Portanto, é inaceitável que se substitua florestas naturais por florestas plantadas. O setor florestal e as autoridades governamentais têm essa visão muito clara. O balanço de carbono de florestas plantadas é positivo e a conversão de áreas agrícolas e pastagens em florestas é uma das medidas recomendadas para a captura de gases de efeito estufa. Florestas plantadas são boas protetoras do solo contra erosão. Em associação com áreas de florestas naturais, formam um mosaico de paisagem apropriado para a fauna silvestre. Há cobranças ambientais que são absolutamente infundadas do ponto de vista técnico. No entanto, há quem plante florestas sem o uso de boas práticas e aí ocorrem impactos indesejados e as críticas são justas. edição 28 | FULL ENERGY

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Perguntas para...

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Atualmente qual é o panorama da geração de energia a partir de florestas no Brasil? Os maiores produtores de energia da madeira estão em Minas Gerais: são produtores de carvão vegetal, em grande parte usado na siderurgia. O setor de celulose também é um grande produtor, usando lixívia para a produção de energia. No Paraná, por exemplo, a Klabin Florestal, recentemente, inaugurou uma planta para a cogeração de vapor para seus processos, e de energia elétrica para consumo próprio e venda para a rede nacional. Tem uma capacidade instalada de 270 MW. O Balanço Energético Nacional, publicado anualmente pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) do Ministério de Minas e Energia, apresenta esses números em detalhe (conferir em ben.epe.gov.br/ downloads/S%C3%ADntese%20do%20Relat%C3%B3rio%20Final_2017_Web.pdf). Segundo ele, em 2016, lenha e carvão geraram 8% de toda a energia nacional. Lixívia, um subproduto da produção de celulose, também derivado da madeira, gera outros 3%. Somando os dois, madeira gerou 11% da nossa energia no último ano. Para se ter uma ideia da magnitude dessa produção, todas as hidrelétricas brasileiras geraram 12,6%.

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Qual é o custo-benefício da produção de florestas plantadas? Todas as fontes renováveis são boas. Temos que falar de três pontos para analisar custo e benefício: - uma grande vantagem da produção de energia com biomassa é a de que é despachável. Isso é, pode ser produzida a qualquer hora, sempre que haja demanda energética. Com isso, podem substituir ter-

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moelétricas com alta emissão de carbono, movidas a carvão, óleo e gás. Sol e vento são ótimas fontes renováveis, mas não são despacháveis. Nem sempre faz sol ou venta quando há demanda energética; - a madeira pode gerar desenvolvimento regional, com produção localizada, próxima à usina geradora. De fato, madeira é um material pesado, volumoso e de transporte caro. Uma das características da produção de energia a partir de madeira bruta é a de que a produção da matéria-prima deve ser feita próxima à usina, de maneira que o transporte não inviabilize o negócio; - a cana para etanol e o bagaço da cana para cogeração de energia são atualmente as únicas biomassas com potencial similar ao da madeira, considerando a escala de produção e as características. Outras matérias-primas ainda têm escala menor. Isso não quer dizer que não tenham um grande potencial. Vejam o potencial do uso de resíduos de suinocultura, pecuária bovina e da avicultura via biodigestão para geração de gás metano.

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Fale sobre o conceito da biorrefinaria. A madeira pode ter múltiplos usos e há uma grande oportunidade de se produzir energia juntamente com outros produtos, sob um conceito de biorrefinaria. Hoje, empresas de celulose não fazem apenas celulose, mas também produzem energia elétrica e químicos derivados da lignina. Serrarias produzem serrados, mas geram energia e podem produzir outros materiais, como chapas de fibras ou compostos de plástico-madeira. As alternativas vão crescendo à medida que há maior desenvolvimento tecnológico e adoção de novos processos.


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