Full Energy 19ª Edição

Page 1








Editorial

Somos

Energia O mundo é energia. Isso é fato e nem sempre demos a devida atenção. A energia nos acompanha em todos os momentos de nossa vida, tanto que a falta de energia é falta de ação, e por que não de vida? Cientes disso, resolvemos unir forças. E o resultado você confere agora. A nova edição da Full Energy está remodelada, fruto da fusão da unidade de energia do Grupo Mídia com a Energia Business, uma renomada publicação voltada para as matrizes energéticas. Desta forma, o principais executivos, CEOs, CFOs, CIOs, gestores e diretores do setor terão, a cada edição, várias informações e análises sobre o mercado de energias. Sabemos que os principais líderes e executivos precisam otimizar seu tempo e pensando nisso, o conteúdo da Full Energy irá direto ao ponto, de forma isenta, com credibilidade e qualidade. E vamos além. A nossa contribuição para com o setor não está restrita apenas a revista. O Portal Full Energy também é uma importante fonte de informação, com as notícias e os fatos diários mais relevantes. Adianto ainda que teremos muitas novidades ao longo deste ano. Temos muita energia para compartilhar com você, leitor. Esse é apenas o começo. Prepare-se! Edmilson Jr. Caparelli CEO/Publisher

8

FULL Energy | edição 19



NESTA EDIÇÃO

abril - maio 16

Parcerias e avanço tecnológico podem fazer a diferença Para especialistas, matriz energética deve ser equalizada e apresentar políticas desenvolvimentistas de longo prazo

22

Sustentabilidade e eficiência na produção de energia e no campo Seminário reuniu grandes nomes da política, economia e meio ambiente para discutir melhorias no agronegócio e no campo energético

24

Ventos a favor Apesar do cenário macroeconômico, as perspectivas para a energia eólica no Brasil são as melhores possíveis

28

Novas demandas e rumos do setor de energia renovável no País Tecnologias, produtos e serviços para o setor de energias renováveis também terão destaque nos eventos

32

A nova geopolítica do petróleo no mundo Países como a Arábia Saudita já consideram alternativas para sustentar a economia na era póspetróleo, os EUA focam no petróleo de xisto e o Brasil tenta encontrar uma saída em meio a crise

Articulistas:

20 Emerson Souza 10

FULL Energy | edição 19

|

31

Plínio Nastari

|

50 Beatriz Resende


40

Os tortuosos rumos do setor energético nacional Para Adriano Pires, cabe ao governo realizar um adequado planejamento de longo prazo para cada segmento do setor energético, definindo o papel de cada fonte na matriz energética e elétrica, reduzindo o intervencionismo e atribuindo segurança regulatória aos setores energéticos

54

Desejos energéticos O que você mudaria no setor de energia do país?

64

Colheita otimizada Nova colhedora de cana desenvolvida pela Case IH proporciona maior disponibilidade, menor custo operacional e melhor tecnologia de gestão

68

Falta de clareza e olhar dedicado Incertezas políticas e de preços ainda rondam a bioeletricidade

71

Ponto Final

Safra 2015/2016 no Centro-Sul atinge 617,65 milhões de toneladas

edição 19 | FULL Energy

11


Fotos: Divulgação

ALTA TENSÃO

12

Enel constrói parque eólico de 90 MW no Brasil com investimento de US$ 190 milhões A Enel, por meio de sua subsidiária Enel Green Power Brasil Participações Ltda, começou a construção do parque eólico de Cristalândia, que está localizado nos municípios de Brumado, Rio de Contas e Dom Basílio, na Bahia. A nova unidade terá capacidade total instalada de 90 MW e tem previsão de entrar em operação no segundo semestre de 2017. Uma vez concluído, Cristalândia será capaz de gerar mais de 350 GWh por ano, o suficiente para satisfazer as necessidades de consumo anuais de mais de 170 mil domicílios brasileiros, evitando a emissão de cerca de 118 mil toneladas de CO2 para a atmosfera. A Enel vai investir cerca de US$ 190 milhões na construção de Cristalândia.

FULL Energy | edição 19

Energia a partir do lixo O Brasil tem potencial de produzir 37 milhões de MW por meio do biometano, um gás que pode ser obtido a partir da degradação de materiais orgânicos presentes no lixo. Isso equivale a pouco mais de um terço da energia gerada por ano na usina hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, segundo estudo feito pela Abiogás (Associação Brasileira de Biogás e Biometano). Nas contas da Abiogás, a produção anual de biometano poderia chegar a 23 bilhões de metros cúbicos no Brasil. A maior parte, 12 bilhões de metros cúbicos, viria de resíduos da cana-de-açúcar usada na produção do álcool. Outros 8 bilhões de metros cúbicos seriam produzidos com rejeitos agrícolas e dejetos de animais como porcos, bovinos e aves. E, finalmente, 3 bilhões de metros cúbicos, oriundos do saneamento urbano, ou seja, do lixo orgânico e dos esgotos domiciliares e industriais. O uso do biometano no país como fonte de energia é quase inexistente. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Brasil usa pouco mais de 0,05% do gás na matriz energética.


China desenvolve painéis solares capazes de gerar energia a partir da chuva Em artigo publicado na Revista Angewandte Chemie, pesquisadores chineses revelaram uma tecnologia que permite que células solares gerem energia a partir da chuva, expandindo a possibilidade de obtenção de energia elétrica em climas diversos. A ideia é que a nova concepção de painéis solares seja capaz de transformar a chuva que cai nas placas em eletricidade. As novas células solares estão sendo desenvolvidas por cientistas da Ocean University of China e Yunnan Normal University, e o objetivo é encontrar meios para lidar com a crise energética. A tecnologia envolve apenas uma folha de grafeno, que em contato com a água da chuva, que não é pura, cria o que os pesquisadores chamam de “pseudocondensador”, ou seja, pontos de carga em desequilíbrio em que os elétrons se movimentam de um lado para o outro. Em outras palavras, utilizando uma fina camada de grafeno, altamente condutor, a célula pode aproveitar a energia da chuva de forma eficaz.

Estímulo à produção de energia limpa O relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) “Tendências globais em investimento em energia renovável 2016”, mostra que, apesar da queda vertiginosa dos preços de petróleo, carvão e gás natural, houve um recorde de investimentos na produção de energia renovável no ano passado. Estes cresceram 5%, para US$ 285,9 bilhões, excluindo os projetos de usinas hidrelétricas, que foram estimados em US$ 45 bilhões. O investimento global em novas unidades de produção de energia de fontes fósseis (carvão e gás) somou US$ 130 bilhões no mesmo período. O volume de energia de fontes eólicas e solar alcançou 118GW, ante 94GW em 2014. As fontes renováveis representaram 53,6% do acréscimo da capacidade de produção de gigawatts de energia, entre todas as tecnologias instaladas, liderando o ranking pela primeira vez. Porém, o peso da capacidade de geração de energia convencional já instalada ainda predomina. As fontes renováveis representaram apenas 10% da produção de energia elétrica no ano passado. Este pequeno percentual já foi suficiente para evitar a emissão de 1,5 gigatone de CO2 na atmosfera em 2015.

Bioeletricidade da cana poupa o equivalente a 14% da água em reservatórios de hidrelétricas Em 2015, o setor sucroenergético brasileiro ofertou mais de 20 mil GWh para o Sistema Interligado Nacional (SIN). De acordo com a Unica (União da Indústria de Canade-Açúcar) e Cogen (Associação da Indústria de Cogeração de Energia), esse volume de energia fornecido à rede pela biomassa da cana foi equivalente a economizar 14% da água dos reservatórios hidrelétricos do principal submercado do setor elétrico Sudeste/Centro-Oeste -, que no ano passado respondeu por 59% do consumo de eletricidade no País. Para o diretor da Cogen, Leonardo Caio Filho, o recente estresse hídrico e a recuperação dos níveis dos reservatórios reforçam a função estratégica da bioeletricidade da cana para o Sistema Interligado. “Pela geração da biomassa estar concentrada no período seco da região Sudeste e Centro-Oeste, a contribuição de cada MWh gerado pela cana é muito significativa, resultando em um indicador tão relevante como este de poupar o equivalente a 14%”, comenta.

edição 19 | FULL Energy

13


Palavra da Editora

Era pós-petróleo? O

Diana Nascimento, Editora da Revista Full Energy

14

FULL Energy | edição 19

setor de energias não para. É muito dinâmico. No entanto, ainda existem algumas ressalvas. Segundo o estudo Previsão de Carga para o Planejamento anual da Operação Energética Ciclo 2016, divulgado pelo EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), a expectativa para 2016 é de mais um ano de retração, com uma leve recuperação em 2017, seguida de um crescimento mais forte a partir de 2018, puxado pela retomada da utilização de capacidade ociosa. Por outro lado, os investimentos em energia eólica são pujantes e estão a todo vapor. Somente para 2016, estão previstos investimentos superiores a R$ 22 bilhões e a geração de 40 mil postos de trabalho. A energia solar também está avançando, enquanto a bioeletricidade, que já contribui para o sistema, pode ser mais estimulada, caso haja vontade política. Globalmente, a demanda por energia no longo prazo é crescente por conta do desenvolvimento dos países e do crescimento da população. Contudo, a diferença será na mudança da matriz mundial fóssil para elétrica e pelas suas fontes de obtenção: eólica, solar, hidrelétrica e nuclear. Essa mudança já está ocorrendo através do desenvolvimento das tecnologias de armazenamento e eficiência dos sistemas. Diante de tudo isso, a impressão que fica é que estamos caminhando para a era pós-petróleo e o futuro do setor de energias passa pelas fontes renováveis.



estratégia

Parcerias e avanço tecnológico podem fazer a diferença Para especialistas, matriz energética deve ser equalizada e apresentar políticas desenvolvimentistas de longo prazo 16

FULL Energy | edição 19


A

matriz energética brasileira é uma das mais limpas do planeta. E todas as fontes de geração de energia são importantes à sua maneira. Para Rui Altieri Silva, presidente do Conselho de Administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a fonte hidráulica é a mais significativa em termos de oferta de energia e capacidade instalada no país. “A geração térmica, por sua vez, é aquela que adiciona segurança ao sistema, podendo ser utilizada em qualquer momento de necessidade. Também não podemos deixar de ressaltar a importância e o crescimento das fontes alternativas renováveis, como a eólica, biomassa, solar fotovoltaica, além das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) que possuem papel fundamental de complemento à matriz energética brasileira de forma sustentável”, resume. Diante das fontes de geração existentes há a necessidade de planejamento, criação e cumprimento de metas e estratégias. Silva comenta que o setor passa por um momento de reequilíbrio, após um período desafiador em razão da baixa hidrologia nos últimos três anos, mas já nota uma recuperação importante neste ano, o que deve auxiliar a normalização do setor em termos estruturais e financeiros. Walfrido Ávila, presidente da Tradener, é taxativo e diz que o maior entrave para o setor energético nacional é a burocracia setorial dos diversos órgãos (ANA, Aneel, MME, EPE, CCEE, ONS), sem falar nas questões de meio ambiente. “Quando se trata de uma PCH que não possui barragem alta, tem reservatório pequeno e só irá levar melhorias para a região onde será instalada, há estados que não permitem a sua construção. Temos um problema dentro dos órgãos que controlam esse aparato energético. Temos a energia mais

o setor passa por um momento de reequilíbrio, após um período desafiador em razão da baixa hidrologia nos últimos três anos.” Aui Altieri Silva

Rui Altieri Silva

edição 19 | FULL Energy

17


estratégia

Walfrido Ávila, presidente da Tradener

Quando se trata de uma PCH que não possui barragem alta, tem reservatório pequeno e só irá levar melhorias para a região onde será instalada, há estados que não permitem a sua construção. Temos um problema dentro dos órgãos que controlam esse aparato energético”. Walfrido Ávila

18

FULL Energy | edição 19

cara do mundo e isso tira a nossa competitividade. Para ser modelo energético para o mundo, o Brasil precisa ser competitivo. Todos os países do mundo fizeram as suas PCHs, exploraram o seu potencial hidráulico de forma eficiente e inteligente”, argumenta. O executivo defende ainda a equalização da matriz, ou seja, quando não tiver água suficiente nas hidrelétricas, que tenha as térmicas gerando energia e com preços condizentes de forma que o consumidor e a indústria não sintam o aumento de preço. Sobre os entraves de cada fonte, Maurício Muruci, analista da Consultoria Safras & Mercado, avalia: “Os entraves do setor de etanol estão centralizados na concorrência com o preço da gasolina, que apenas recentemente foi reajustada, aliviando as pressões dos custos de produção do setor. Sobre o setor de hidrelétricas o entrave está centralizado na possibilidade de retorno de investimentos. Isto ocorreu porque os consórcios do setor privado que compraram as concessões de exploração viram que não conseguiriam ter um retorno adequado para os investimentos necessários à manutenção e ampliação do próprio setor. Elas estavam impedidas de repassar aos clientes estes custos. Logo, evitaram os investimentos

necessários ao atendimento da demanda ainda em 2013. O setor de petróleo passa pela indefinição da Petrobras diante das investigações da Polícia Federal. Além disso, os preços do petróleo tendem a dificultar este cenário até, pelo menos, 2018.” Muruci acredita que deve ser fomentado um modelo de desenvolvimento tecnológico próprio, que atenda as necessidades do país sem que isso resulte em taxas abusivas aos consumidores finais. “O estado tem um papel vital neste processo, desde que adote um ponto de vista estratégico sobre o setor, com políticas desenvolvimentistas de longo prazo. A abertura de setores estratégicos à empresas externas eventualmente pode ser útil através do sistema de joint venture, como adotado na China. Neste ponto é sempre importante lembrar que o setor de energia é altamente estratégico ao país, se posicionado muito além de conceitos político-filosóficos, liberais ou não. Também é importante lembrar que não somente a China adota este papel incisivo sobre as suas fontes de energia. Histórica e atualmente os Estados Unidos, a França, a Alemanha e a Inglaterra adotaram comportamento semelhante neste quesito, motivos pelos quais são a razão de estes países liderarem nestes respectivos setores”, avalia.


edição 19 | FULL Energy

19


artigo de

Emerson Souza

Smart Grids: a necessidade de inovação Redes inteligentes permitem o aprimoramento do serviço de assistência das empresas concessionárias do setor

E

nfrentamos hoje desafios quanto à preservação dos recursos naturais e finitos do nosso planeta. Entre eles, água e energia estão cada vez mais na pauta de grandes metrópoles e populações abundantes. A questão energética brasileira, mais especificamente, se baseia em uma matriz ultrapassada, fruto de um período em que a eletricidade era menos utilizada, relativamente barata e os recursos abundantes, sendo prioridade apenas a expansão e o aumento da produção energética. Dessa forma, com a hiperurbanização, há uma latente necessidade de mudança e inovação pautada por novas demandas de sustentabilidade e evolução das cidades e da forma como as populações vivem.

O desenvolvimento de fontes renováveis de energia, para que se reduza cada vez mais a emissão de gases do efeito estufa (GEEs), é uma realidade conhecida e em andamento. Porém é imprescindível aumentar a eficiência da produção, geração e distribuição de energia para garantir o funcionamento inteligente de grandes metrópoles, a eficiência da produção e, consequentemente, o crescimento econômico. A ciência tem proporcionado um desenvol-

O desenvolvimento de fontes renováveis de energia, para que se reduza cada vez mais a emissão de gases do efeito estufa (GEEs), é uma realidade conhecida e em andamento. Porém é imprescindível aumentar a eficiência da produção, geração e distribuição de energia para garantir o funcionamento inteligente de grandes metrópoles, a eficiência da produção e, consequentemente, o crescimento econômico

20

FULL Energy | edição 19

Emerson Souza, Vice Presidente de Eletricidade para América Latina da Itron

vimento tecnológico cada vez maior, com o aumento do grau de conectividade das redes e sistemas; a partir da aplicação do conceito de Internet das Coisas (IoT), surgiram as Smart Grids, redes inteligentes, que garantem um gerenciamento da produção e distribuição de energia elétrica muito mais eficiente e eficaz. Atualmente, sérios problemas são causados por perdas de energia ao longo da rede, devido a falhas técnicas ou desvios irregulares, as chamadas perdas comerciais, que tem um impacto financeiro material sobre as companhias elétricas e seus clientes. Em todo o mundo, os níveis de roubo de eletricidade são estimados na faixa de 8% das receitas, porém hoje, uma grande quantidade da energia gerada é desperdiçada antes mesmo de chegar ao consumidor brasileiro e os índices de perda no país chegam a cerca de 20% da produção energética, segundo um estudo apresentado na


Conferência Rio+20, em 2012, o que confirma a urgência para o aumento da eficiência e eficácia nas redes de distribuição elétrica no país. A solução para esse quadro se encontra na implementação de Smart Grids, que além de contribuir para, obter maior controle no gerenciamento das redes de transmissão e distribuição de eletricidade, a partir do processamento de big data, possibilitam a obtenção de informações precisas e em tempo real sobre focos de vazamento e desvios clandestinos, o que solucionaria grande parte das perdas técnicas e furtos de energia. Além disso, as redes inteligentes permitem um aprimoramento do serviço de assistência das empresas concessionárias do setor, que serão capazes de identificar com mais rapidez e assertividade, ou até mesmo antever em certos casos, falhas e pontos que necessitem de manutenção ou troca de equipamentos, garantindo um serviço de maior qualidade e mais satisfatório para os usuários, reduzindo em um terço o tempo de reparo das linhas de distribuição, com maior conforto e segurança para o consumidor, que passará menos tempo sem o fornecimento de tais recursos. Com o acesso a uma gama mais completa de dados sobre o

consumo, é possível colocar os consumidores como protagonistas na erradicação de desperdícios e assim promover um consumo mais consciente e sustentável. Outro fator positivo é que uma onda de inovações é possibilitada a partir das Smart Grids como a geração de energia distribuída, que permite que domicílios e indústrias, uma vez conectados às redes, possam ser também polos micro geradores de energia através de energia solar obtida a partir de placas fotovoltaicas e outras tecnologias – alimentando diretamente a rede de distribuição energética e obtendo benefícios e descontos nos custos referentes ao seu próprio consumo. Portanto, as inovações trazidas pelas Smart Grids são uma necessidade latente e imprescindível para a continuidade dos modelos produtivos no Brasil, tornando -os cada vez mais eficientes e garantindo crescimento econômico constante. Também a convergência de redes inteligentes com as emergentes cidades inteligentes e os mercados de Internet das Coisas estão acelerando esta tendência. Os limiares da inovação têm sido construídos e atingidos, proporcionando uma mudança no pensamento sobre como abordar e resolver problemas. Para as redes inteligentes do futuro, a hora é agora.

edição 19 | FULL Energy

21


sustentabilidade

Sustentabilidade e eficiência na produção de energia e no campo Seminário reuniu grandes nomes da política, economia e meio ambiente para discutir melhorias no agronegócio e no campo energético O Seminário Agronegócios e Energias Renováveis ocorrido no dia 31 de março no auditório do Castro’s Park Hotel, em Goiânia, reuniu representantes do Poder Público, ambiental e do agronegócio. Durante a abertura do evento, o governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, declarou que é preciso ter foco na eficiência dos méto22

FULL Energy | edição 19

dos de produção agrícola com sustentabilidade, recuperando áreas antropomorfizadas com o manejo do solo e investindo em energias renováveis. “O Mato Grosso do Sul e Goiás têm problemas parecidos, e a solução passa pela conciliação

de interesses dos governos envolvidos”, disse. O governador de Goiás, Marconi Perillo, ressaltou a união dos sete estados que compõem o Fórum Brasil Central na busca por caminhos para superar a crise econômica. “Agrone-


gócio é a realidade de um Brasil que dá certo. Temos de pensar em alternativas para crescer com sustentabilidade e superar o apagão logístico”, assinalou. Todavia, para o governador, o maior desafio é desenvolver o setor primário e a economia em geral de forma a manter a disponibilidade dos recursos naturais. O secretário do Secima (Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Cidades, Infraestrutura e Assuntos Metropolitanos), Vilmar Rocha, enfatizou sua fala nas ações do Governo de Goiás para o aumento da produção de energia solar. Entre as novidades estão a isenção de ICMS para o mini e microprodutor; o andamento da simplificação do licenciamento ambiental para este tipo de atividade; linhas de financiamento para que pessoas físicas sejam produtoras de energia; e, ainda, um leilão de energia solar no Estado. “A energia solar representa apenas 0,01% da nossa matriz energética, enquanto em outros países já atingiu 10%. Queremos que Goiás seja referência na produção deste tipo de energia no Brasil.”

Rocha ressaltou ainda que o agronegócio deve ser analisado como um dos caminhos mais viáveis para o desenvolvimento econômico do País. “Para isso, precisamos adensar todas as ideias, tecnologias e projetos na área de meio ambiente em favor de um agronegócio sustentável. É a tendência e temos de seguí-la. Este processo já foi iniciado em Goiás, por orientação do governador Marconi Perillo”, avaliou. O presidente do Santander no Brasil, Sérgio Rial, frisou que para conectar sustentabilidade com o agronegócio é necessário estabelecer uma agenda de trabalho entre empresas e governos, onde se discutam ideias e ações. Segundo ele, um dos exemplos

de sucesso dessa parceria está na realização do próprio seminário Agronegócio e Energias Renováveis, cuja ideia surgiu durante uma reunião com o governador Marconi Perillo, em São Paulo (SP). “Este seminário é fruto de um alinhamento entre setor púbico e privado. A ideia surgiu num almoço com Marconi em São Paulo. O alinhamento de setor público e privado vai aprimorar a única vantagem competitiva que nosso País tem, que é o agronegócio. Este setor ainda vive com crédito subsidiado pelos governos. Acreditamos que este País precisa viabilizar mais independência ao agronegócio do setor público e mais parceria com o mercado”, afirmou. A indústria solar ainda é relativamente nova no Brasil. “Começou em grande escala no país a partir de 2014, quando o governo realizou o primeiro leilão específico para essa fonte. O Santander atua como assessor financeiro em projetos que representam 1 GW de energia solar. Pretendemos ter uma participação muito similar ao que temos na energia eólica, onde financiamos projetos que somam 5 GW”, completa Edson Ogawa, responsável pelo Setor de Energia na área de Financiamento de Projetos do Santander. O Seminário contou ainda com debates e painéis e foi uma parceria entre a Secima, Banco Santander e Jornal Valor Econômico.

edição 19 | FULL Energy

23


estratégia

Ventos a favor

Apesar do cenário macroeconômico, as perspectivas para a energia eólica no Brasil são as melhores possíveis

A

energia eólica vem crescendo exponencialmente no Brasil. O cenário para 2016 reflete as condições dos últimos anos, resultado de um modelo de leilão adotado a partir de 2009, quando ocorreu o primeiro leilão de energia eólica e, os sucessivos que vieram em 2010, 2011, 2012 e 2013. A fonte eólica alcançou um patamar de competitividade (preço) no Brasil muito próximo ao das grandes hidrelétricas. Diante disso houve um interesse, por parte do governo, de contratar mais essa fonte de energia. “A fonte eólica foi responsável, ao olhar toda a contratação de energia de 2009 para cá, por 50% do que foi contratado em energia. A perspectiva é que essa contratação continue nos próximos anos”, comemora Elbia Gannoum, presidente executiva da Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica). Segundo ela, a fonte eólica irá, em breve, alcançar a segunda posição na matriz energética. Os dados de geração de energia do ano de 2015 mostram que em termos de participação percentual, a fonte eólica ocupa 6% da matriz energética. Esse quadro irá mudar rapidamente devido as contratações que foram feitas nos leilões de 2009 até 2015, pois os leilões de 2016 ainda não ocorreram, assim como a implementação dos projetos. Foram vendidos nesses leilões, aproximadamente, 14 GW de energia eólica. Desses, alguns estão em implementação e outros já operando. “Hoje, a capacidade instalada da fonte eólica é em torno de 9 GW e estamos construindo mais 9 GW. Até 2019, de acordo com o que contratamos nos leilões, chegaremos a uma potência instalada de 19 GW, o que irá corresponder a 10% da matriz energética nacional. Em 2020, a nossa perspectiva é chegarmos a 12% com a fonte eólica sendo a segunda fonte de energia na matriz energética nacional”, diz Elbia.

24

FULL Energy | edição 19

Usina Eólica de Tramandaí

Localização estratégica Os potenciais eólicos estão concentrados na região Nordeste do País com destaque para os estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Bahia e Piauí. Também há potencial no estado do Rio Grande do Sul. Hoje, o Rio Grande do Norte é o maior estado gerador, em segundo lugar está a Bahia, em terceiro lugar o Rio Grande do Sul e em quarto lugar o Ceará. “A tendência é manter essa participação porque os melhores potenciais estão concentrados nessas regiões”, afirma Elbia.


Ela explica que os melhores ventos para a geração de energia eólica estão nestes estados. O fator principal da geração de energia eólica é a natureza e a qualidade do vento. O Brasil possui o melhor vento do mundo em parques já instalados quando comparado com outros países. “Esse melhor vento do mundo se concentra no Nordeste do país”, ressalta Elbia. Para que a geração de energia eólica seja eficiente, o vento deve apresentar uma característica: além de ser rápido, mas não extremamente veloz, o importante é a permanência desse vento e a sua direção. No caso, são três características básicas: velocidade, constância e direção. Atualmente, a energia eólica é considerada a segunda fonte de energia mais barata. Mas já passou pela fama de ser a mais cara há, mais ou menos, 12 anos quando o Brasil tentou investir em fonte eólica pela primeira vez. Elbia lembra que, naquela ocasião, os preços eram proibitivos, a tecnologia ainda era muito cara e não havia, por parte do Brasil, um conhecimento claro sobre esta fonte de geração. “De lá para cá tivemos uma evolução muito

grande que chamamos de revolução tecnológica. Essa evolução fez com que o custo das máquinas reduzisse em torno de 50%. Além disso, agregamos o conhecimento do vento brasileiro, que é limpo e causa uma produtividade muito maior na geração de energia eólica. Com o rendimento maior, o custo de produção tende a ser menor. Com esse custo menor, a energia eólica se tornou a segunda fonte mais barata, perdendo apenas para as grandes hidrelétricas do país. A terceira fonte de energia mais barata hoje apresenta uma diferença de R$ 60,00 por unidade de energia em comparação com a fonte eólica”, exemplifica a presidente executiva.

Tudo a favor O mundo está destacando a importância de se investir em fontes renováveis e no redirecionamento da matriz de energia. O Brasil é um dos maiores detentores do mundo em recursos renováveis para a produção de energia e a fonte eólica é um destes recursos, pois é limpa, renovável, competitiva e com uma característica muito importante: permite o desenvolvimento socioeconômico das regiões onde está inserida, desde a geração de empregos até a possibilidade de combinar atividades econômicas. “Em geral, quando se decide explorar energia elétrica, é preciso abrir mão de edição 19 | FULL Energy

25


estratégia

Usina Eólica de Vale dos Ventos

outras atividades econômicas. Um lugar onde se instala um parque de geração de energia não pode ter outras atividades. No caso da fonte eólica, ela tem uma convivência harmônica com as demais atividades. Ao invés de escolher uma atividade ou outra, pode-se agregar mais atividades econômicas, permitindo um desenvolvimento socioeconômico superior em comparação com outras fontes”, salienta Elbia. A fonte eólica ocupa pouco espaço físico: cerca de 5% da área dedicada à produção e, o impacto ambiental é muito baixo, a emissão de CO2 é zero. Das fontes renováveis, a energia eólica é a que apresenta o menor impacto socioambiental. No entanto, vale lembrar que qualquer atividade econômica, por definição, tem o seu impacto. A questão é quanto tem de impacto. Geralmente a energia eólica é gerada nas chamadas fazendas eólicas, que são regiões agropecuárias. Na região Nordeste do país há muito mais pecuária do que agricultura devido a característica do clima e os parques são desenvolvidos, principalmente, no semi-árido. No entanto, há agricultura no Rio Grande do Sul, por exemplo, através do cultivo de arroz, coco e pinhão. Todas são atividades que convivem com a energia eólica, assim 26

FULL Energy | edição 19

como a criação de gado também existente no estado. Elbia chama à atenção para um fato social: as fazendas eólicas são geralmente construídas em regiões muito pobres do país, como o semi-árido nordestino, onde há poucas oportunidades econômicas. “Para a implementação destes parques são realizados arrendamentos com os proprietários de terra. Ao fazer um contrato por um período de 20 anos os agricultores passam a ter uma renda mensal por conta do aluguel da terra associada à produção dos aerogeradores. Famílias que estavam acostumadas a sobreviver com o Bolsa Família passam a receber entre R$ 800 a R$ 1.000,00 por mês e por máquina na sua área. Isso muda substancialmente o nível de renda da população”, observa.

Problemas resolvidos Um dos fatores ocorridos no passado, quando a fonte eólica estava sendo desenvolvida, era em relação ao ruído dos aerogeradores, além da morte de pássaros. As torres eólicas se desenvolveram tecnologicamente no decorrer dos anos e, atualmente, são mais altas, silenciosas e mais eficientes. Já em relação à morte de pássaros, é necessária uma legislação ambiental rigorosa onde não se construam parques eólicos em rotas migratórias de aves. “Quando o Brasil começou a fazer seus parques, essa legislação já existia e não foi um problema para o País, que começou os investimentos em fonte eólica de forma mais tardia em relação aos demais países do mundo”, observa Elbia.


Elbia Gannoum, presidente executiva da Abeeólica

Investimentos No ano passado, a energia eólica cresceu 46% em relação ao ano anterior. “A cada ano batemos recordes de crescimento e investimento. Em 2015 foram investidos cerca de R$ 20 bilhões. Para este ano estão previstos investimentos superiores a R$ 22 bilhões. Esses montantes correspondem a mais de 40 mil postos de trabalho, sendo que no ano passado também foram gerados 40 mil postos de trabalho”, contabiliza a presidente da Abeeólica. Quando se olha para números de investimento, no ano passado, o Brasil foi o quarto país que mais investiu em energia eólica (em primeiro lugar está a China, seguido pelos EUA e Alemanha), o que é uma posição razoável. Em termos de aumento de capacidade, e nesse caso, é necessário aplicar a proporcionalidade, visto que a China tem números imensos, dado a natureza de sua economia, o Brasil foi o país que mais cresceu em termos percentuais: 46% em fonte eólica, enquanto a China foi o segundo, com um crescimento de 26%.

Em termos de capacidade instalada, o Brasil é o 10º do mundo, uma posição muito confortável considerando o tempo em que investe em fonte eólica (começou em 2008). Pela legislação, os parques eólicos devem ter 30 MW de potência instalada. Atualmente, o país possui 361 parques eólicos instalados, o que corresponde a 9 GW. A previsão, para 2016, é que sejam instalados mais 165 parques eólicos. “Os nossos parques eólicos estão na vanguarda da tecnologia. Como o prazo de concessão destes parques é de 20 anos, ou seja, eles foram leiloados e contratados por um período de 20 anos, não são esperadas mudanças nesses locais e nem ruptura tecnológica, mas sim mudanças incrementais na tecnologia. Do ponto de vista econômico e financeiro não faz sentido realizar o retrofit ou substituição de aerogeradores”,

comenta Elbia. A energia eólica já alcançou o patamar máximo de competitividade no Brasil. Dificilmente isso será melhorado, até porque os principais fatores para isso já existem: o país tem um grande recurso em energia eólica, toda a indústria está no Brasil produzindo internamente e o país já alcançou alto grau de competitividade. A fonte eólica só não está crescendo mais porque depende da necessidade de energia do país e da política energética que sempre prima pela diversificação da matriz. “Não se pode colocar toda a matriz em apenas uma fonte porque dessa forma coloca-se o sistema em risco de abastecimento. Diante da política energética e das condições da energia eólica, estamos no patamar máximo. O que temos a fazer é preservar essa posição”, finaliza.

Capacidade Eólica Instalada

edição 19 | FULL Energy

27


Tecnologia

28

FULL Energy | edição 19


Novas demandas e rumos do setor de energia renovável no País Tecnologias, produtos e serviços para o setor de energias renováveis também terão destaque nos eventos

A

energia renovável já representa 42,5% da matriz energética brasileira. A previsão, de acordo com dados divulgados pelo Ministério de Minas e Energias (MME), é que, em 2024, este índice alcance 45%. A disponibilidade de fontes limpas e renováveis para a geração de energia e o uso eficiente dos recursos naturais têm impulsionado o crescimento da participação de energias alternativas como a eólica, a solar e a de biomassa. Além de suprir a necessidade do consumo elétrico, a composição de diferentes fontes tem o objetivo de fazer com que o País tenha uma matriz mais limpa. Em contínuo crescimento, a energia solar apresenta grande potencial de mercado. Até 2024, 700 mil consumidores residenciais e comerciais deverão ter instalado em seus telhados painéis fotovoltaicos. Estima-se que, até 2050, 13% de todo o abastecimento das residências no País seja feito por placas fotovoltaicas, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Outro destaque é a energia eólica. O Brasil tornou-se o 10º maior gerador de energia eólica no mundo, com uma expansão de 62%, segundo o Ranking Mundial de Energia e Socioeconomia. No último ano, o Brasil também se destacou no campo do biocombustível, posicionando-se como terceiro maior produtor do mundo, atrás dos EUA e da Alemanha.

2050

Estima-se que, até 2050, 13% de todo o abastecimento das residências no País seja feito por placas fotovoltaicas, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Em tempos de aumento do consumo e crescente demanda por fontes energéticas alternativas a EnerSolar + Brasil - Feira Internacional de Tecnologias para Energia Solar, principal feira de energias renováveis do setor, reunirá de 10 a 12 de maio de 2016, toda a cadeia produtiva dos segmentos de energia solar, fotovoltaica, eólica e de biomassa, no São Paulo Expo Exhibition & Convention Center, em São Paulo. Com soluções voltadas para a indústria dos setores de GTDC (Geração, Transmissão, Distribuição e Comercialização), 80 expositores apresentarão as mais recentes tecnologias, produtos e serviços para o setor de energias renováveis como aquecedores solares, placas termosolares, painéis fotovoltaicos, aerogeradores, inversores, máquinas para transporte e manuseio de biomassa, caldeiras e queimadores, entre outros.

edição 19 | FULL Energy

29


tecnologia

Ecoenergy Como destaque da programação da EnerSolar + Brasil 2016 haverá a 6ª edição do Ecoenergy - Congresso de Tecnologias Limpas e Renováveis para a Geração de Energia, que propõe a discussão dos temas mais relevantes para quem atua na área ou está avaliando a viabilidade de investir em energia solar como políticas públicas e iniciativas dos Estados em prol do desenvolvimento contínuo de energias renováveis; novidades tecnológicas para os sistemas solar térmico e fotovoltaico; e critérios e oferta de financiamento para aquisição de tecnologia em energia solar. Sob o tema central “Ações e políticas públicas, soluções para o financiamento, inovação tecnológica, venda de excedentes e novos negócios em energia solar”, o Ecoenergy apresentará uma programação de mesas-redondas e painéis promovendo importantes debates entre empresários, pesquisadores, representantes do governo, entidades e associações do setor. A programação está estruturada em torno dos seguintes temas: Debate sobre políticas públicas que envolvem a disseminação e incentivo ao uso da energia solar térmica ou fotovoltaica; Análises e vantagens da complementaridade da energia solar com outras fontes como: eólica, hídrica e biomassa; Discussão sobre o impacto da geração 30

FULL Energy | edição 19

a combinação entre políticas públicas para impulsionar a energia solar no Brasil e estimular todo o desenvolvimento da indústria é fundamental”. Rimanta Sipas

Rimanta Sipas, diretor comercial da Cipa Fiera Milano

distribuída fotovoltaica na conta de energia do consumidor e alternativas para solucionar gargalos no financiamento de projetos; Resolução Normativa nº 482/2012; Orientações sobre a troca de energia entre o consumidor e a distribuidora local; Homologação da tecnologia; Novidades tecnológicas aplicadas aos sistemas solar térmico e fotovoltaico; Desafios da indústria de energia solar brasileira; Obtenção do financiamento no BNDES; Análise da oferta de financiamentos; Gargalos na capacitação de pessoal para desenvolvimento, gestão de projetos, aplicação de tecnologia em sistemas solares, assim como resultados de programas implementados; Legislação e Planos Diretores orientados ao uso de sistemas de aquecimento solar e geração de energia fotovoltaica em novos empreendimentos; Incentivos tributários para a geração de energia solar e adesão dos Estados aos planos de redução de carga tributária; e Comercialização e energia no Ambiente de Comercialização Livre e Regulado.

Contribuição A organização do Congresso destaca que a efetiva contribuição para o desenvolvimento do setor se dará por meio das discussões de temas que estão em evidência. “A combinação entre políticas públicas para impulsionar a energia solar no Brasil e estimular todo o desenvolvimento da indústria é fundamental. Aliado a esse movimento, os financiamentos são imprescindíveis. É a partir do entendimento entre a esfera política, indústria produtora de tecnologia e instituições financeiras que as energias renováveis poderão ter seus projetos ampliados”, conclui Rimantas Sipas, Diretor Comercial da Cipa Fiera Milano.


artigo de

Plínio Nastari

Casuísmo no mercado de combustíveis

A

notícia de que o governo cogita reduzir o preço da gasolina e do diesel caminha na direção contrária à recuperação da Petrobras. Desde janeiro de 2011, quando foi inaugurada a política de preços defasados de combustíveis, a Petrobrás teve prejuízo acumulado de US$ 28,41 bilhões com a gasolina e de US$ 46,1 bilhões com o diesel. A comparação dos preços externos, levando em conta os custos de internação, e os preços médios nas refinarias indica que em 1º de abril a gasolina continuava 5,1% abaixo da referência internacional, enquanto o do diesel estava 31% acima. O governo vê com a medida a oportunidade de mais uma vez apaziguar o consumidor, combalido com a queda do PIB e a inf lação geral bem acima da meta. Foi em grande parte pelos preços defasados praticados desde 2011 que a Petrobras acumulou dívida de mais de R$ 470 bilhões, e levou na esteira o setor do etanol, que tem dívida estimada de outros R$ 96 bilhões. Os preços atuais são suficientes para

cobrir apenas os juros da dívida injustamente acumulada, sem amortização. Reduzir preços neste momento implica comprometer ainda mais setores cruciais da economia, altamente fragilizados pelas políticas equivocadas dos últimos seis anos. Em 2015, o consumo de etanol combustível, anidro e hidratado, cresceu 19,6% e o de gasolina pura caiu 9,2%. Este ano, a situação deve se inverter, com um consumo de hidratado menor, pelo aumento no preço do etanol e recuperação do consumo de gasolina. Na condição atual, reduzir o preço da gasolina não faz

Plínio Nastari, presidente da Datagro Consultoria

sentido, e mesmo que houvesse espaço para tal, o mais correto seria aproveita-lo para aumentar o seu tributo específico para ajudar a reduzir o déficit fiscal. No caso do diesel, uma redução de preço seria bemvinda para uma série de setores que dele dependem, mas compromete a capacidade da Petrobras de recuperar o seu caixa. Enquanto não houver uma regulação transparente e previsível que defina a regra de formação dos preços de combustíveis e sua tributação, este mercado continuará sujeito a casuísmos e sem um planejamento de longo prazo.

Em 2015, o consumo de etanol combustível, anidro e hidratado, cresceu 19,6% e o de gasolina pura caiu 9,2%. Este ano, a situação deve se inverter, com um consumo de hidratado menor, pelo aumento no preço do etanol e recuperação do consumo de gasolina.

edição 19 | FULL Energy

31


estratégia

A nova geopolítica do petróleo no mundo

Países como a Arábia Saudita já consideram alternativas para sustentar a economia na era póspetróleo, os EUA focam no petróleo de xisto e o Brasil tenta encontrar uma saída em meio a crise

32

FULL Energy | edição 19


O

barril de petróleo já chegou a custar US$ 150 e hoje está em torno de US$ 40. A forte queda em seu preço, que começou há dois anos, mudou as gerações de força no mundo. Para Ian Bremmer, presidente da Eurasia Group, o Ocidente é muito mais autossuficiente em relação a energia. “Isso significa que os EUA, o grande ator da geopolítica, têm menor interesse em dar prioridade a um Oriente Médio extremamente volátil, sem soluções fáceis. O Oriente Médio está se tornando cada vez menos importante para os EUA, que se lança ao risco político de apoiar países asiáticos, o que tem a ver com a ideia de que os interesses americanos de longo prazo estão focados em fazer com que a China deixe de ser um potencial antagonista e se torne um aliado na Ásia como o ator regional mais importante para ajudar as aspirações de longo prazo dos EUA”, analisa. A queda foi provocada pelas novas tecnologias que tornaram viável a extração do óleo de xisto nos EUA, país que se tornou rapidamente um dos maiores produtores mundiais de petróleo. “Os EUA, como país mais rico do mundo, têm muito interesse em desenvolver fontes renováveis de energia. O custo das baterias e da transmissão de energia diminuiu e a produção em larga escala passou a ser mais sustentável. Isso significa que os EUA vão se interessar cada vez menos em combustíveis poluentes internamente, mas vão exportá-los”, sinaliza Bremmer. O cartel dos países exportadores da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), liderado pela Arábia Saudita, perdeu o controle do mercado. No passado, a Opep cortava a produção quando o preço caía e o petróleo voltava a ficar mais caro. Desta vez a Arábia Saudita decidiu o contrário: aumentar a produção para tornar o petróleo ainda mais barato. Isso para tornar o óleo de xisto americano economicamente inviável. A manobra teve sucesso apenas em parte: algumas companhias de petróleo americanas quebraram. Mas no geral, a produção dos EUA cresceu, apesar do preço baixo. Nessa queda de braço, a Arábia Saudita parece fadada a perder. De acordo com Bremmer, o problema é que os EUA não são mais um produtor de alto custo, mas sim um produtor de custo médio. “Os sauditas basicamente perderam qualquer habilidade de coordenação com a Opep. Então, se os sauditas diminuíssem o ritmo de produção, os preços subiriam com certeza. Mas os americanos vão se adequar à situação e tirar proveito dela. Os iranianos estão produzindo mais, os iraquianos também. O mesmo acontece com os líbios, com uma nova espécie de acordo que permite que a exploração de petróleo continue. Os sauditas estão travados e ainda querem manter sua parcela no mercado, mas não podem fazer mais nada”, observa. Por outro lado, os americanos estão aprendendo a tirar petróleo do chão de maneira mais barata. “Não há dúvida de que haverá algumas empresas de ‘fracking’ que vão à falência, mas haverá uma consolidação desta indústria por causa dos americanos e também porque todo o mundo, inclusive os sauditas, abandonaram a técnica de bombeamento direto”, afirma Bremmer.

edição 19 | FULL Energy

33


estratégia

Arábia Saudita se prepara para a era pós-petróleo A Arábia Saudita já foi descrita como uma vasta extensão de areia em cima de um mar subterrâneo de petróleo. Acesso fácil, quase à superfície, produção a custo baixo, riqueza garantida para nutrir a família real saudita e quase 30 milhões de súditos. Assim ocorre desde a descoberta do primeiro poço de petróleo na Arábia Saudita, em 1938. O país tinha a garantia de uma renda bilionária que mal podia absorver e gastou à vontade durante décadas. Recomendações ao longo dos anos aos líderes sauditas para diversificar a economia de seu país caíam em ouvidos pouco atentos que só consideravam os muitos bilhões de lucros contínuos com exportações daquele único produto, responsável por 90% da renda nacional. A atenção despertou agora. O governo saudita acaba de anunciar a criação de um fundo soberano no valor de US$ 2 trilhões em preparação para a era pós-petróleo. O objetivo é investir no exterior e em casa na criação de novas indústrias e outras atividades econômicas. Os recursos virão da transferência de ações da estatal de petróleo Saudi Aramco, monopolista no setor. Spencer Welch, consultor em petróleo, comenta que houve bastante interesse em relação ao que os sauditas estavam fazendo e alguma surpresa também. “Isso porque foi um movimento incomum e que criou um precedente. É o reconhecimento de que o preço do petróleo está baixo e vai continuar assim por algum tempo, então os produtores precisam pensar em diferentes formas de gestão”, conclui. Por trás do plano está o príncipe Mohammed bin Salman, 30 anos, filho do Rei Salman, o segundo na linha sucessória e já considerada a pessoa mais influente do país depois do pai, aparecendo na linha de frente na renovação da Arábia Saudita. Ao lançar a criação do fundo, o príncipe Salman disse que em 20 anos a economia saudita não dependerá mais só de petróleo. O plano revela a percepção da nova liderança saudita que

34

FULL Energy | edição 19

ascendeu ao poder, no ano passado, de que o preço do petróleo não voltará ao patamar elevado de anos recentes, acima de US$ 100 o barril, com recorde de quase US$ 150. Mesmo tendo se recuperado da baixa de US$ 27 o barril, em janeiro, para chegar aos US$ 35 ou US$ 40 atuais, há poucas chances do petróleo atingir os altos valores do passado recente. “A expectativa é de que os preços se mantenham mais ou menos estáveis por enquanto, até o fim do primeiro semestre deste ano. Com certeza há uma expectativa de ajuste. Depois, o preço pode voltar a crescer bem devagar, na segunda metade do

ano. Isso se o mercado reequilibrar a oferta e a demanda de petróleo”, salienta Welch. O fato é que há muita oferta de petróleo no mercado e a economia voltada para o financiamento e produção do petróleo sofreu cortes por causa dos baixos preços. O príncipe Salman, de uma geração nova do governo saudita, sempre de anciãos, se deu conta de que o resto do mundo se afasta, aos poucos, dos combustíveis fósseis, em benefício do clima. Produtores de petróleo do Golfo, Kuwait e Omã, apertam os seus orçamentos para se adaptar a renda menor nas exportações: US$ 340 bilhões a menos no ano passado. Os Emirados Árabes cortaram subsídios à gasolina. O corte no orçamento em Omã atingiu 16%. A dívida pública em Bahrein chegou a 65% do produto interno bruto, o que só se equilibra com o barril a US$ 120.


Produtores examinam propostas de aumentarem os impostos. A recomendação geral é diversificar a economia para escapar da sina do petróleo. “Acredito que a geopolítica esteja mudando e evoluindo. Todos os mercados mudam ao longo do tempo. Os EUA estão importando menos, enquanto as importações da Ásia têm crescido. E também tem crescido a demanda de petróleo por parte da China, da Índia, países que têm se desenvolvido significativamente. Cada vez mais o petróleo do Oriente Médio tem ido mais para o Oriente e menos para o Ocidente”, aponta Welch. Outro fato é o petróleo produzido pelo Irã que está voltando ao mercado com o fim das sanções, o que pressiona ainda mais o preço do barril para baixo. Depois do ‘fracking’, este é provavelmente o fator mais importante de enfraquecimento da posição saudita. Quando os sauditas se opuseram ao acordo nuclear com o Irã, foi mais um desafio existencial ao regime iraniano do que aos republicanos nos EUA, ou aos israelenses e ao primeiro-ministro Netanyahu. “Os iranianos produzem 3,4 milhões de barris por dia. A produção deve subir para 4,2 milhões de barris por dia, no início de 2017. É o crescimento mais significativo que veremos por parte de qualquer país produtor de petróleo no mundo. É inconcebível que eles tenham congelado a produção aos níveis atuais por causa dos sauditas e de outros países. Esse quadro deve continuar a pressionar o preço do petróleo para baixo, pelo menos nos próximos 12, 18 meses. Vejo os preços subindo com o aumento da demanda nos próximo anos, indo para cerca de US$ 60. Não é sustentável para os sauditas, mas é totalmente sustentável para os EUA e será para outros que aprenderam a explorar a técnica de ‘fracking’ pelo mundo ao longo dos anos no Leste Europeu, na China, na Argentina. Este realmente é o fim da Opep e o fim da produção tradicional de petróleo por parte dos governos autoritários pelo mundo”, alega Bremmer.

O petróleo no Brasil No Brasil, a queda no preço do petróleo veio na pior hora. A Petrobras está quebrada, deve R$ 500 bilhões e foi assaltada no maior esquema de corrupção da história do país. A empresa está vendendo ativos e pretende cortar 12 mil empregos. O preço baixo do petróleo adiciona nova dificuldade à uma empresa que já tinha perdido grande parte da capacidade de investimento. José Goldemberg, presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo), diz que as pessoas que dirigiam a Petrobras, inclusive cientistas completamente desinteressados nos negócios da companhia pensavam só em petróleo. “A Petrobras demorou anos e anos para pensar em gás que é um combustível mais atraente do que petróleo, mas para a Petrobras o gás nunca foi prioritário. É uma questão cultural que acaba de ser colocada em xeque agora pelo o que está acontecendo no mundo. Há mais produtores de petróleo no mundo e creio que não há nenhuma perspectiva do preço do petróleo subir. Não é possível apostar, como o Brasil fez, todas as fichas na produção de petróleo do pré-sal e tornar o país uma nação exportadora de petróleo. É uma visão completamente equivocada da realidade”, analisa. Jorge Camargo, presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, afirma que é preciso entender que o cenário mudou e ajustar o nos-

so modelo a esse novo cenário. “A primeira coisa que todos devem fazer é se tornar mais competitivos. Isso a US$ 100 o barril é muito fácil, mas a US$ 40 tudo tem que mudar: as empresas, os fornecedores, o governo. Todos têm que repensar e se reinventar para serem competitivos nesse novo cenário de preço a US$ 40. Esse é um cenário que a indústria acredita que irá se manter por muito tempo”, frisa. Estados como o Rio de Janeiro e municípios que dependem muito da indústria do petróleo perderam receitas. Cabo Frio, Rio das Ostras e Casemiro de Abreu, por exemplo, receberam, no ano passado, cerca de 50% menos de receitas com royalties de petróleo. Para Camargo, a crise no Rio de Janeiro e a do petróleo tem ligação direta. “É uma crise seríssima, que afeta todos e vemos que as medidas que foram tomadas não foram boas. Foram, na verdade, um tiro no pé do estado e um tiro no peito das indústrias

edição 19 | FULL Energy

35


estratégia

porque são impostos que vem em um momento de petróleo muito baixo, onde as empresas não têm a menor condição de arcar. O que pode ser feito são novos investimentos, isso pode trazer esperança, tributos e a recuperação das economias dos estados dependentes do petróleo.” Os governantes que aumentaram gastos públicos na aposta de que os preços se manteriam altos ficaram sem dinheiro para pagar serviços básicos como saúde. Não é a primeira vez que se aposta errado no Brasil. Na década de 70, o regime militar achava que o petróleo iria ficar eternamente a US$ 3 o barril. O erro deixou o Brasil despreparado para os choques de preços de 1973 e 1979. Foi o início da deteriorização da economia que mais adiante provocou a crise da dívida externa e a hiperinflação. A única consequência positiva foi o programa do álcool combustível, um sucesso tecnológico e comercial, mas que vez ou outra entra em crise por causa das alterações do preço internacional do petróleo e pela manipulação do preço dos combustíveis no controle da inflação. Goldemberg destaca que a ênfase que o governo federal e a Petrobras deram à exploração do petróleo no pré-sal acabou fazendo com que o programa do etanol fosse colocado de lado. Além disso, essa ampla concentração de força dissolveu, hoje, boa parte da indústria canavieira no Brasil. Em 2010, a festa de lançamento de ações da Petrobras na Bolsa de Valores de São Paulo marcou outra aposta errada, mas agora na manutenção de um preço alto. Na euforia, o governo incentivou uma farra de investimentos que se mostraram desastrosos. “Em termos de projeto energético, a queda do petróleo, que acredito ser duradoura, não vai desaparecer dentro de alguns meses. O que deve ser feito imediatamente é reduzir os enormes investimentos em petróleo caro, que é o petróleo do présal, e que eventualmente vai se tornar antieconômico. Outro ponto é estimular alternativas ao uso do petróleo”, vislumbra Goldemberg. Ele ainda comenta que o pré-sal não deveria ser deixado de lado. “Mas, na realidade, não existe pré-sal, e sim uma quantidade grande de poços e alguns deles produtivos. Há uma enorme quantidade de despesas em novos empreendimentos

36

FULL Energy | edição 19

e novas tentativas de descobrir mais reservas. Acho que isso realmente deveria ser colocado em compasse de espera. É o que está acontecendo com a produção de petróleo nos EUA. O petróleo barato que é produzido através do xisto está se tornando estático, ficando como reserva. O que eu acho que vai acontecer, globalmente, é que há uma quantidade grande de petróleo no mundo que é mais problemático, mais caro, deixará de ser explorado.” “Investiram no pré-sal em um cenário de baixo preço do petróleo. Não tenha dúvida, o pré-sal é uma província extraordinária, capaz de gerar riqueza, energia, empregos, tributos que podem ser aplicados em educação e saúde, mesmo em um cenário de baixo preço de petróleo. Na verdade o Brasil não precisa investir no pré-sal, basta retirar os obstáculos que impeçam os investimentos nesta modalidade. Com isso, não tenho dúvidas de que teremos uma fila de investidores. O pré-sal possui capacidade de produção dez vezes maior do que um reservatório convencional. O pré-sal é robusto mesmo a US$ 40, US$ 45, US$ 50 o barril, como dizem os operadores do pré-sal”, elenca Camargo. Lição de casa É preciso mudar algumas coisas na política de combustíveis e na indústria de petróleo no Brasil. “Precisa deixar de basear o desenvolvimento brasileiro na procura de petróleo. A busca

do petróleo poderia fazer sentido há 20 anos, mas acabou sendo uma oportunidade perdida porque demorou tanto para que tentassem produção em grande escala que, agora que o Brasil está produzindo um pouco de petróleo no pré-sal, não há mercado para ele simplesmente porque há excesso de mercado no mundo. O que o Brasil precisaria, nesse caso, é desenvolver outras formas de energia que fossem renováveis porque elas serão o futuro de qualquer forma”, salienta Goldemberg. Segundo Camargo, o Brasil é um país abençoado e capaz de produzir energia das mais variadas maneiras: biocombustível, solar, eólica, óleo e gás. “O mundo precisa de todas. Temos que criar as condições para que os investimentos aconteçam. Queremos menos CO2 na atmosfera, temos que dar os sinais para que menos CO2 seja produzido, temos que taxar o CO2 e de certa forma tornar os biocombustíveis, as energias mais limpas, mais competitivas. Acho que o mundo precisa e o Brasil é capaz de fornecer todo tipo de energia e, quanto mais limpa, melhor”, acrescenta. Bremmer afirma que há muitos lugares, hoje em dia, para os investidores em potencial explorarem e produzirem. “Se o Brasil quer atraí-los, precisa ter um ambiente regulatório em ordem”, conclui. *Com informações extraídas do programa Sem Fronteiras, canal GloboNews.


edição 19 | FULL Energy

37




especial | Os caminhos tortuosos do setor energético por Adriano Pires

Para Adriano Pires, cabe ao governo realizar um adequado planejamento de longo prazo para cada segmento do setor energético, definindo o papel de cada fonte na matriz energética e elétrica, reduzindo o intervencionismo e atribuindo segurança regulatória aos setores energéticos

Foto: Adam Tavares - Sindienergia

Os tortuosos rumos do setor energético nacional

Adriano Pires

40

FULL Energy | edição 19


O

setor energético nacional vive os seus percalços. Para falar mais sobre eles, conversamos com Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie). Pires atua há mais de 30 anos na área de energia. Sua última experiência no governo foi na Agência Nacional de Petróleo – ANP, onde atuou como Assessor do Diretor-Geral, Superintendente de Importação e Exportação de petróleo, seus derivados e gás natural e Superintendente de Abastecimento. Desenvolveu atividades de pesquisa e ensino nas áreas de economia da regulação; economia da infraestrutura; aspectos legais e institucionais da concessão dos serviços públicos e tarifas públicas. Diante de sua vasta experiência, Pires analisa que a matriz energética brasileira difere consideravelmente da mundial, apresentando aproximadamente 61% de energia não renovável e 39% de energia renovável, contra uma média internacional de cerca de 81% fóssil e 14% renovável, respectivamente. “Ou seja, embora ainda haja dependência do petróleo como fonte de energia, o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais renováveis em termos globais”, afirma. Os dados da matriz energética brasileira são referentes a 2014, presentes no Balanço Energético Nacional 2015, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Assim sendo, do total de não renováveis, o maior percentual é de petróleo e derivados (39%) seguida do gás natural (13,5%). Nas fontes renováveis, a maior participação é dos derivados da cana (16%), seguida da fonte hídrica (12%). Apesar de o Brasil estar à frente da média internacional, no que diz respeito às fontes renováveis ainda há muito a ser feito para que o país possa aproveitar de forma adequada suas vantagens comparativas. “Para o Brasil definir sua matriz energética e consolidar a natureza limpa, renovável e diversificada das fontes utilizadas no país, ainda faltam políticas públicas adequadas”, diz. Ele afirma que sem a interferência de crise

econômica ou política, diante do grande potencial energético do país, grande parcela das fontes existentes no Brasil pode vir a ser atrativas para um potencial investimento. No entanto, cabe ao governo realizar um adequado planejamento de longo prazo para cada segmento do setor energético, definindo o papel de cada fonte na matriz energética e elétrica, reduzindo o intervencionismo e atribuindo segurança regulatória aos setores energéticos. Com atenção especial ao setor de petróleo e gás natural, que são dominados pela Petrobras, e o setor elétrico.

Regulação do setor energético A regulação do setor energético precisa de aperfeiçoamento o quanto antes, na opinião de Pires. Para ele, no setor elétrico, a regulação passa por um período conturbado, desde a edição da Medida Provisória (MP) nº 579/2012, convertida na Lei nº 12.783/2013, com o governo insistindo na política de remendos para corrigir a referida lei e conferir alívio provisório ao setor. “O conturbado contexto do setor ao longo dos últimos anos (20122015) deixou reflexos tanto do

edição 19 | FULL Energy

41


especial | os caminhos tortuosos do setor energético por Adriano Pires

lado da oferta quanto da demanda. O que vem amenizando e mascarando os reais problemas do setor é o fraco desempenho da economia e o tarifaço de 2015, que provocaram uma significativa redução do consumo de eletricidade.” Ainda no campo da regulação do setor elétrico, a agência reguladora do setor, Aneel, vem apresentando uma postura distanciada de um diálogo mais aberto com os diversos agentes do mercado. “A Aneel continua a confundir o papel de uma agência reguladora com as funções de um Procon. Essa postura vem levando a uma enorme judicialização, o que acarretou problemas graves como a questão do risco hidrológico e do elevado percentual de inadimplência na liquidação financeira do mercado de curto prazo. A demorada solução para a repactuação do risco hidrológico veio com a aprovação da MP nº 688, que acendeu a expectativa de grande adesão das empresas, condicionada à suspensão das liminares e ações judiciais. Contudo, a proposta só atraiu a adesão do mercado regulado”, analisa Pires. 42

FULL Energy | edição 19

“A falta de sensibilidade e uma posição mais política da agência, onde a preocupação sempre foi mais com a questão da modicidade e muito pouco com o aumento da oferta de energia, fez com que a Aneel não conseguisse estabelecer um trade-off entre a questão das tarifas, a regulação e a segurança no suprimento de energia”, pontua o diretor do Cbie ao dizer que desde a publicação da fatídica MP 579, em 2012, já foram apresentados ao mercado várias novas MPs e Decretos. As mudanças aleatórias e constantes na legislação não colaboram para o aumento da oferta de energia elétrica e só faz crescer a instabilidade regulatória e a insegurança jurídica, afastan-

do novos investimentos. Dessa forma, fica evidente que o setor vem se estruturando por meio de ações instantâneas. O setor ainda precisa da consolidação de regras, que sejam concisas, eficientes e capazes de garantir estabilidade regulatória e econômica e segurança na oferta de energia elétrica no longo prazo. “Portanto, o governo deve se conscientizar de que o bom funcionamento do setor elétrico passa, necessariamente, por um relacionamento mais aberto com o mercado e, ao mesmo tempo, exige o reconhecimento dos erros da política energética dos últimos anos. Nesse momento de crise econômica, o setor precisa de iniciativas efetivas e não


paliativas. É preciso aproveitar a atual queda no consumo de energia e criar condições para atrair investimentos, que permitam a expansão da oferta de forma sustentada, e não vender a ilusão de que os problemas estão superados. Quando sabemos que estão mascarados pelo tarifaço e pela crise econômica. Para tanto, é importante que o Governo convoque as empresas e associações apresentando propostas baseadas no entendimento das regras de mercado e num planejamento de longo prazo”, argumenta Pires. Já o setor de petróleo e gás está estagnado no Brasil e não vai crescer enquanto não houver regulamentações consistentes que permitam a ampliação da oferta e a queda dos preços internamente. “O setor petrolífero brasileiro segue sem calendário de leilões, sem política de conteúdo local, sem previsibilidade de preços, sem solução para dívida da Petrobras. Por conta da regulação atual do setor, o país perde grandes oportunidades e o governo prefere privilegiar a política de conteúdo local em detrimento do aumento da produção de petróleo”, avalia. Por meio da regulação, o país pode atribuir maior atratividade ao setor petrolífero e, consequentemente, ao pré-sal. O primeiro passo será a alteração da legislação na exploração do pré-sal, por meio da possível sanção ao substitutivo do Senador Romero Jucá ao

Necessidade de regulamentações consistentes

Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 131/2015, de autoria do Senador José Serra. O PSL nº 131 revoga a participação obrigatória da Petrobras no modelo de partilha de produção de petróleo da camada pré-sal, alterando a Lei nº 12.351/2010, que estabelece a participação mínima de 30% da Petrobras no consórcio de exploração do pré-sal. Além disso, como operadora, a Petrobras deixaria de ter a obrigatoriedade da condução e execução, direta ou indireta, de todas as atividades de exploração, avaliação, desenvolvimento e produção. Essa é uma forma de fomentar investimentos no pré-sal, fazendo com que a indústria petrolífera brasileira se recupere e os governos recuperem a arrecadação com royalties do petróleo, que podem servir para subsidiar outras fontes energéticas para complementar a matriz energética doméstica. A tendência é de alta do preço do barril de petróleo, no médio prazo, portanto, a região do pré-sal é extremamente atrativa para exploração de uma fonte energética confiável e rentável. No que se refere ao gás, Pires salienta que o preço alto afasta os investimentos do setor privado, exceto os da Petrobras, que mantém uma grande fatia do segmento. O certo “monopólio” exercido pela Petrobras, que detém uma grande fatia do setor petrolífero brasileiro, faz com que as decisões como um todo, sejam norteadas pelo

o que beneficia a companhia ou seu acionista majoritário, o governo. Nesse sentido, as ações, não necessariamente são pensadas para o bem dos consumidores, das empresas e de outros agentes. A falta de concorrentes do mesmo nível impede o desenvolvimento do mercado. Com o setor nas mãos de uma única empresa, o mercado de petróleo e gás não se desenvolve de forma eficiente e estruturada, como desejável. “Com o gás não é diferente. O mundo está vivendo uma revolução, com a exploração e produção de shale gas nos Estados Unidos, um gás não convencional, e o Brasil não acompanha isso. Não vemos por parte do governo uma decisão de fazer uma legislação particular para esse tipo de petróleo”, comenta. Além disso, a regulamentação da lei do gás e da construção de novos gasodutos foi criada para incentivar a construção de novos gasodutos de transporte até por outros agentes, mas não é o que vem ocorrendo. Outra questão é o gás para o setor elétrico: é preciso garantir que o gás entre de maneira firme na geração de energia elétrica. Essa falta de visão estratégica e adequada regulação para a questão energética brasileira faz com que a energia, que deveria ser barata graças à nossa variedade enorme de fontes primárias, deixe de ser uma vantagem.

edição 19 | FULL Energy

43


especial | os caminhos tortuosos do setor energético por Adriano Pires

Produção de energia Segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia 2024 (PDE 2024), documento que representa o instrumento de planejamento utilizado pelo Governo Federal para o setor energético nacional no período entre 2015 e 2024 ao fim do período decenal o Brasil contará com uma oferta interna de energia de, aproximadamente, 400 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep), um crescimento médio anual de 2,7%. A oferta interna de eletricidade estimada para o fim de 2024 é de 940,8 TWh, um crescimento médio de 4,2% ao ano. Determinante para a evolução da oferta interna, o consumo final energético estimado é de 353,5 milhões de tep ao final de 2024, com uma taxa média de crescimento de 2,9% a.a. Na composição da oferta interna total de energia entre 2015 e 2024, destaca-se a redução da participação do petróleo e seus derivados na oferta interna total de energia, de 38% em 2015 para 35% em 2024. Segundo o PDE, apesar do incremento na produção de petróleo bruto, as perspectivas de substituição da gasolina por etanol e do óleo combustível por gás natural são os principais determinantes da diminuição da participação. “O estudo prevê que, no período decenal, o Brasil terá um papel mais relevante no mercado mundial de petróleo, atuando como exportador líquido deste produto, em função da produção em campos já delimitados e do desenvolvimento da produção das acumulações descobertas na área do pré-sal”, destaca Pires. O PDE ainda estima que o mercado nacional continue deficitário em relação aos principais derivados de petróleo (leves e médios), durante todo o horizonte decenal. Consequentemente, o Brasil permanecerá como importador líquido de quase todos os principais derivados, com destaque para grandes volumes importados de óleo diesel, nafta e gasolina. Por conta do cancelamento dos projetos das refinarias Premium no Nordeste, o país, que seria um potencial exportador de óleo diesel, permanecerá como importador líquido até 2024. A importação de gasolina, também, continuará por todo o período, dada a ausência de investimentos expressivos para aumento de sua produção.

44

FULL Energy | edição 19

No que se refere à oferta de gás natural, o PDE estima que a curva de oferta atenderá toda a demanda de gás projetada, considerando-se a manutenção da importação de gás natural boliviano, nos níveis atuais, e de GNL, através dos terminais já existentes (Rio de Janeiro, Ceará e Bahia) e da interconexão à malha integrada do terminal projetado para o porto de Rio Grande (RS). A maior proporção do gás natural a ser produzido no país é associada, portanto, a tendência de crescimento é coerente com a de produção de petróleo. Com relação aos biocombustíveis, o estudo considera que o biodiesel terá a sua capacidade instalada de produção voltada apenas para atendimento à mistura mandatória do diesel. Para o PDE, o mercado brasileiro de etanol continuará em trajetória de expansão, em função do aumento da frota de veículos flex-fuel. No que concerne ao setor elétrico, o PDE considera que a capacidade instalada de geração de energia elétrica crescerá 55%, entre 2015 e 2024, ao passar de 132,9 GW para 206,4 GW, acrescentando 73,6 GW ao SIN. No plano, o perfil renovável da matriz elétrica é mantido, com as fontes renováveis representando 84% da capacidade de geração em 2024. Observa-se que apesar do crescimento da capacidade de geração por usinas hidroelétricas de grande porte (32,8% no período, passando de 82,8 para 109,9 GW), sua participação no total se reduz, em virtude da expansão de outras fontes renováveis, o que inclui a biomassa, pequenas centrais hidroelétricas, eólica e solar. A participação das fontes não renováveis na matriz elétrica fica praticamente inalterada, indo de 15,6% para 16%, de 2015 para 2024. O plano considera a expansão do parque gerador também com usinas termoelétricas, responsáveis por agregar cerca de 10.500 MW até 2024. Para o PDE, a concretização da expansão termoelétrica planejada está ligada à disponibilidade e competitividade dos projetos, preferencialmente de usinas movidas a gás natural, nos futuros leilões para compra de energia nova. Em caso de inviabilidade, outras fontes constituem alternativas para o atendimento à demanda, entre elas as UTEs a carvão.


Investimentos e estratégias Na visão de Pires, o governo federal não tem uma visão estratégica da nossa matriz energética. “O curioso e ao mesmo tempo preocupante é que vivemos um momento em que o que diferencia o Brasil de outros países, em particular, entre os BRIC’s (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), é a nossa independência energética. Portanto, o mais difícil a natureza nos deu, basta que elaboremos políticas públicas para que a energia passe a ser, de fato, uma vantagem comparativa. Hoje, estamos perdendo essa oportunidade e com isso comprometendo a competitividade da indústria brasileira.” No setor elétrico chama a atenção a insistência do governo em manter os leilões de energia com caráter nacional e englobando todas as fontes. A atual metodologia dos leilões teve importância no passado, assegurando a oferta de energia, uma vez que naquele momento a prioridade era evitar um novo racionamento. A ideia, defendida pelo governo, de que é necessário manter a atual me-

“No contexto atual, enquanto a Petrobras não tiver condições econômicas e financeiras de expandir sua carteira, o país fica impedido de realizar Leilões de Pré-Sal. Perde a industrial petrolífera brasileira, a arrecadação com royalties do petróleo do pré-sal e perde a Petrobras, que poderia se associar a novos sócios no pré-sal em consórcios sem as obrigações da lei atual. ”

todologia dos leilões em função da modicidade tarifária não é uma verdade e, mesmo que fosse, o argumento não é suficiente. Além disso, o país não pode abandonar as fontes térmicas, após esse período em que estas deram segurança ao fornecimento de energia elétrica. “Esse é um grave erro estratégico. O Brasil não pode e não deve abrir mão do gás natural e do carvão, até porque serão essas fontes que vão regularizar a energia produzida pelas usinas a fio de água e demais fontes intermitentes que ganham espaço na matriz. A visão estratégica seria partirmos para leilões por fonte e regionais, implantando uma matriz hidrotérmica, rediscutir os reservatórios a fio de água, reduzir tributos e encargos setoriais”, sugere. No setor de gás natural, o desafio é aumentar a oferta, promover a concorrência, reduzir o preço e, com isso, contestar o monopólio da Petrobras. A estratégia para alcançar esses objetivos seria os Estados, que possuem o monopólio da comercialização e distribuição, proporem políticas que incentivem, em particular, as distribuidoras de gás e as geradoras de energia elétrica a construir, por meio de consórcios, terminais de gás natural liquefeito para atender aos seus respectivos mercados. Além disso, os Estados que não promoveram licitações das áreas de concessão de distribuição de gás canalizado deveriam seguir o

edição 19 | FULL Energy

45


especial | os caminhos tortuosos do setor energético por Adriano Pires

exemplo do Rio de Janeiro e de São Paulo, lançando programas de privatização. No curto prazo, a Petrobras deveria passar a cobrar pelo gás natural associado a um valor menor, dado que é um subproduto do petróleo. No setor de petróleo, a estratégia é a retomada de um calendário para a realização dos leilões, mudar o rumo da política de conteúdo local, modificar o marco regulatório do pré-sal (com a aprovação e sanção do Projeto de Lei do Senado nº 131 (PLS 131/2015), já aprovado no Senado Federal) e a política de preços dos combustíveis. No conteúdo local, a estratégia seria voltar a adotar um arcabouço não mandatório, em que os objetivos principais são garantir a igualdade de condições de tratamento de empresas fornecedoras locais competitivas, incentivar o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e a transferência de tecnologia; retirar da lei da partilha o monopólio da Petrobras na operação dos campos e os 30% mínimos nos leilões do pré-sal; e a política de preços dos combustíveis ter como meta a paridade com o mercado internacional. “No contexto atual, enquanto a Petrobras não tiver condições econômicas e financeiras de expandir sua carteira, o país fica impedido de realizar Leilões de Pré-Sal. Perde a industrial petrolífera brasileira, a arrecadação com royalties do petróleo do pré-sal e perde a Petrobras, que poderia se associar a novos sócios no pré-sal em consórcios sem as obrigações da lei atual. Portanto, é economicamente interessante um calendário de Leilões para ativar a indústria petrolífera doméstica o quanto antes. Um ambiente regulatório favorável possibilitaria o arcabouço legal para realização de leilões de petróleo, inclusive do pré-sal, impulsionando a cadeia de fornecedores”, explica Pires. No setor de etanol, a estratégia seria o governo, no curto prazo, permitir que a Petrobras aumente o preço da gasolina. No médio e no longo prazos, promover uma desoneração tributária, acompanhada de melhores condições de financiamento. Em contrapartida, cobrar das empresas redução de custos, aumento de produtividade e investimentos em novas tecnologias. 46

FULL Energy | edição 19

“A construção de usinas hidroelétricas e de nucleares, a exploração de novos poços de petróleo e a operação de gasodutos podem demorar anos” Adriano Pires

Preços de energia no Brasil Na opinião de Pires, o governo vem se apoiando em políticas de controle de preço para assegurar a sua popularidade e o controle da inflação. Os subsídios aos combustíveis, como a gasolina e o diesel, vendidos no mercado doméstico a preços inferiores aos do mercado internacional, geraram grandes perdas para a Petrobras e seus acionistas, sobretudo entre 2011 e 2014. Até 2010, o desalinhamento dos preços de refinaria nacional da gasolina e diesel com relação ao internacional, para mais ou para menos, não duravam grandes períodos de tempo. Tal fato corroborava o discurso da Petrobras que se pautava em um alinhamento de preços no longo prazo. A partir de 2011, os preços nacionais dos combustíveis (gasolina e diesel) iniciam um longo período de defasagem com relação aos preços internacionais. Entre 2011 e outubro de 2014, os preços

internacionais do diesel e da gasolina ultrapassaram os preços praticados pela Petrobras, mantidos pela política de convergência de preços no mercado interno, evidenciando a ruptura com a política de alinhamento no longo prazo. Nesse período, a Petrobras acumulou perdas ao vender combustíveis no mercado doméstico mais barato do que no mercado internacional, por conta de uma política de incentivo artificial ao consumo e da preocupação com o controle da inflação, por meio do controle dos preços. A partir de novembro de 2014, os preços dos combustíveis no mercado internacional começaram a cair significativamente por conta da conjuntura do mercado petrolífero. Além disso, os preços de refinaria nacionais foram reajustados, ficando superior, na contramão do mercado internacional. Dessa forma, a Petrobras vem recompondo


parte da perda de receita relativa ao período em que a situação era inversa. O elevado preço dos combustíveis no mercado doméstico acontece quando o mundo se beneficia da queda do preço do petróleo que, após um grande período na casa dos US$ 100 por barril, teve o seu preço reduzido abaixo dos US$ 30 por barril. Dessa forma, o país continua mantendo a sua política de preços de combustíveis totalmente desconectada do que ocorre no mercado internacional, seguindo na contramão. “Assim, nos últimos anos, o governo, como acionista majoritário da Petrobras, se aproveitou da posição monopolista da empresa para fixar os preços dos derivados. Dentro desse contexto, o mais correto seria que, enquanto permanecer o monopólio na produção de derivados e as restrições de acesso à infraestrutura, os preços dos derivados sejam calculados por meio de fórmulas paramétricas. O correto seria a política de preços da Petrobras ter ligação com o mercado internacional e clareza na fórmula dos reajustes. Tal ação certamente iria conferir maior confiança do mercado na Petrobras”, argumenta. O gás natural ainda carece de uma política de preços que garanta competição em igualdade de condições com os demais energéticos. Atualmente, o gás natural é o único energético que não conta com benesses do Governo, provocan-

do uma estagnação no mercado de distribuição de gás. A partir de 2013, o governo incluiu o setor elétrico na lista de beneficiados pelos subsídios para cobrir as perdas, iniciadas com o processo de renovação das concessões. No entanto, o montante necessário para manter as tarifas de energia elétrica baixas foi significativo, dados que a estiagem somada ao aumento da demanda fez o preço da energia disparar no mercado livre. Essas ações, associados à condição de baixa hidrologia, ampliaram o custo da energia elétrica, sobretudo em 2014 e 2015. Em 2014, os reajustes tarifários concedidos refletiram, em sua maior parte, o custo da necessidade de acionamento térmico e a exposição involuntária das distribuidoras no mercado de curto prazo. Consequentemente, a magnitude do reajuste médio na tarifa de energia elétrica aos consumidores finais foi, na maio-

ria, de dois dígitos e superou em muitos casos os descontos concedidos por meio da Lei nº 12.783/2013. Em 2015, além das bandeiras tarifárias e do reajuste ordinário, que ocorre todo ano, a energia elétrica sofreu um reajuste extraordinário. Segundo a Aneel, tal medida objetivou reposicionar os dois itens que apresentavam maior distanciamento entre os custos efetivos e a cobertura tarifária: a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e os custos com compra de energia. Por conta de todos os reajustes, a energia elétrica foi o item que mais pressionou a inflação em 2015 (1,5 %), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cuja variação média nacional do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 10,67%. As tarifas residenciais de energia elétrica aumentaram, em média, 51%, no acumulado de 2015.

edição 19 | FULL Energy

47


especial | os caminhos tortuosos do setor energético por Adriano Pires

Mercado nacional e internacional Na visão de Pires, nas próximas décadas, os combustíveis continuarão a ter um papel importante na matriz energética mundial. Isso porque o setor energético tem como uma de suas principais características a lentidão, dado que as projeções de mudança ou mesmo simples obras costumam ser grandes e caras. “A construção de usinas hidroelétricas e de nucleares, a exploração de novos poços de petróleo e a operação de gasodutos podem demorar anos”, cita. Diante desta imprescindível consideração, pode-se dizer que a tendência é que a importância dos combustíveis fósseis se reduza no longo prazo. O primeiro a perder importância será o carvão e posteriormente o petróleo, neste caso de forma mais lenta. Dentre os combustíveis fósseis, o gás natural se destacará por conquistar uma importância crescente. Apesar do justificado entusiasmo pelas fontes renováveis, o grande destaque do cenário energético global nos próximos anos deverá ser o gás natural. Essa posição deve-se ao fato do gás natural ser o mais limpo entre os fósseis, sendo ideal para a transição a uma economia de baixo carbono. Além disso, sua oferta é crescente, dada a trajetória do gás como commodity. Somente no início da década de 80, a tecnologia para que o gás natural pudesse ser liquefeito e, assim, transportado sem o uso de gasodutos começou a ser economicamente viável. Agora, há a expectativa de grande oferta de gás natural nas reservas russas; do gás de xisto, ou shale gas, nos Estados Unidos, e da camada pré-sal brasileira. Sendo assim, no período de transição o gás natural será essencial para a geração de energia elétrica, para indústria e para o transporte. Após o período de transição, o gás natural manterá sua importância como backup das fontes renováveis de energia. Segundo o World Energy Outlook 2015, elaborado pela Agência Internacional de Energia (IAE), no que cabe aos combustíveis fósseis, 48

FULL Energy | edição 19

“Nos últimos anos, o governo, como acionista majoritário da Petrobras, se aproveitou da posição monopolista da empresa para fixar os preços dos derivados. Dentro desse contexto, o mais correto seria que, enquanto permanecer o monopólio na produção de derivados e as restrições de acesso à infraestrutura, os preços dos derivados sejam calculados por meio de fórmulas paramétricas.”

o crescimento no consumo de carvão, o maior nas últimas décadas entre os combustíveis, deve diminuir à medida que a demanda chinesa por carvão se estabilizar em nível similar ao atual. A demanda por petróleo ainda deve crescer até 2040, porém diminuindo o ritmo com o passar dos anos. Para 2040, estima-se uma demanda total de 103 milhões de barris por dia (b/d), 13 milhões de b/d a mais do que 2014. Até lá, o consumo de petróleo nos países pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) deve reduzir em 11 milhões de b/d em relação aos níveis atuais, porém esse número é anulado pelo aumento do consumo na Índia e China de 6 e 5 milhões de b/d, respectivamente. Os Estados Unidos, atual maior consumidor de petróleo, deve reduzir seu consumo no período de análise, assim como a União Europeia. Nos EUA, é esperada uma redução na demanda de cerca de 4 milhões de b/d, retornando aos níveis da década de 1960. Dentre os combustíveis fósseis, o gás natural deverá continuar sua trajetória de crescimento no consumo, com um aumento 47% no final do período, puxado pelo consumo na China e no Oriente Médio. Sobre o carvão, o relatório aponta que sua demanda deve continuar a crescer, porém em um ritmo menor do que


Às escuras

o observado na última década, à medida que a demanda chinesa por carvão se estabiliza em nível similar ao atual. O combustível, que foi responsável por 45% do aumento total na demanda mundial de energia durante a última década, será responsável por apenas 10% desse crescimento até 2040. O crescimento na demanda por carvão é puxado pela Índia e o Sudeste Asiático. Já o consumo nos países da OCDE é projetado para cair em 40% até 2040. Na União Europeia, o consumo diminui para cerca de um terço dos níveis atuais. Além disso, para geração elétrica, as fontes renováveis ultrapassarão o carvão no início dos anos de 2030 e, em 2040, tem a maior participação na matriz elétrica mundial. Pires ressalta, no entanto, que o Brasil está na vanguarda da produção de energia renovável e poderá contribuir para que outros países tornem suas matrizes energéticas mais limpas, diminuindo a participação de energéticos

fósseis mais poluentes. “Dessa forma, o setor de energia brasileiro poderá contribuir para que o país se transforme em uma superpotência energética mundial por meio do exercício de um soft power. Em um mundo onde os países estão cada vez mais dependentes uns dos outros em relação à garantia do suprimento energético, o enorme potencial brasileiro coloca o país em posição privilegiada para se desenvolver e obter maior influência no cenário internacional. Entretanto, a ausência de um planejamento estratégico no setor de energia poderá comprometer esta oportunidade”, sinaliza.

Para o curto e médio prazo não há um cenário otimista para o setor energético, de acordo com o executivo da Cbie. A falta de otimismo decorre da instabilidade regulatória, sobretudo no setor elétrico, da ausência de políticas e ações definidas e de longo prazo para o setor energético como um todo. A situação atual do setor petrolífero, estagnado por conta da crise na Petrobras, e a instabilidade regulatória do setor elétrico estão afastando investimentos e comprometendo o futuro do setor energético. A crise atual complica o quadro do Brasil, a instabilidade econômica e política cria um ambiente ainda mais obscuro para o futuro do setor energético. “A falta de uma definição política coloca em dúvida qual serão as próximas atitudes do governo para o setor. A situação econômica também contribui para afastar investimento, uma vez que empresas optam por investir em países com uma perspectiva de crescimento e que possuem um arcabouço regulatório e político mais estável e confiável. Além disso, a desvalorização do Real prejudica a importação de novas tecnologias, fundamental para o desenvolvimento de algumas fontes, inclusive as renováveis”, finaliza Pires. edição 19 | FULL Energy

49


artigo de

Beatriz Resende

O nobre e polêmico exercício da liderança: mais erros do que acertos A grande questão ao aceitar o desafio de liderar pessoas não é buscar um estilo, mas o envolvimento a fundo nesse propósito

A

h, o tema liderança! Parece tão desgastado, já que falamos nele há tanto tempo, mas ainda tão pouco abraçado e assumido pelas organizações, que tanto precisam amadurecer a forma de fazer gestão através das pessoas e suas contribuições, mas que muitas vezes não têm a humildade de aceitar suas fraquezas ou, no mínimo, suas carências ou necessidades de melhoria e crescimento. Empresas reagem como os seres humanos, já que são também orgânicas e vivas: não gostam que lhes apontem o dedo, que mostrem os buracos, que falem das limitações, que lhes façam nem mesmo críticas construtivas. Mas é preciso ouvir com a escuta necessária e com a paciência devida, a mesma que disponibilizam para outros assuntos, aparentemente mais importantes. Parto do princípio, para escrever sobre esse tema, que muitas vezes as empresas gastam tanto tempo buscando soluções para maximizar resultados e reverter quadros de baixa produtividade, eficiência e qualidade, e não olham para o que está visível e comprovado: que a redução do que é necessário e a otimização de tudo, no negócio, está na mão das lideranças: o capitalchave do negócio. Antes de tomar qualquer decisão mais radical, as empresas precisam avaliar se os representantes de área e pessoas destacados por ela estão jogando o jogo do negócio, mas não somente a parte que foca no resultado operacional, ou estão ocupando uma posição por status, conveniência, interesse

50

FULL Energy | edição 19

próprio ou acomodação frente ao status quo. A cada vez que me proponho a falar desse assunto, constato, especialmente nos últimos tempos, que se trata de algo muito mais simples do que as tábuas de salvação as quais o mercado, e eu mesma, confesso, impúnhamos à nossa atuação como especialistas no assunto Gestão de Pessoas. Não simplório ou simplista, mas definitivamente simples. Algo no sentido de se fazer o que naturalmente viria a nós como habilidade ou competência ao longo da vida, com a maturidade: vamos evoluindo e tendo condição de liderar e conduzir pessoas e objetivos, já que a vida nos ensinou no dia a dia essa tarefa. Infelizmente a realidade mostra que as pessoas têm dificuldade de lidar com outras pessoas, porque na maioria das vezes ainda não conseguiram negociar muita coisa consigo mesmas. Voltando à questão da simplicidade de entendimento do tema, embora eu também acredite que exista sim uma com-

Beatriz Resende, Consultora, Palestrante e Conselheira de Carreiras da Coerhênciaintegrando Negócios & Pessoas

plexidade no ato de liderar pelo fato de que as pessoas hoje são muito mais difíceis de serem engajadas e comandadas, assim como está, fazendo uma associação, a educação dos nossos filhos, e na linha de que o ser humano se desenvolvendo e amadurecendo estaria em plenas condições de conduzir os mais difíceis desafios à sua frente, porque a página vira quando adentramos no mundo organizacional e dos negócios? O que muda de fato? Ou melhor: será que muda alguma coisa? Pessoas são pessoas em todos os lugares e situações. A origem dessa dissociação, dentre outras causas, está no fato de que as pessoas sempre separaram o trabalho da vida pessoal e isto agora está diferente. Então, no momento que as pessoas não se entendiam como seres unos e únicos e com uma vida integrada inclusive em termos de sonhos e realizações, o sentido de tudo muda. Somos aprendizes na vida, que nos forma para nossos papéis nas diversas instâncias que transitamos: famí-


lia, escola, comunidade, grupos e associações que integramos e empresas ou outras instituições que exercemos nossa vida profissional. Evoluindo no entendimento sobre o exercício da liderança nas empresas, estudiosos e profissionais que trabalham diretamente com esse público têm tentado por anos analisar onde esteve e está o problema da crise da liderança e vários pontos foram colocados como possíveis causas: falta de aptidão (isso já foi quebrado há anos); falta de formação; promoções erradas; perfis destoantes; cultura; modelo mental; falta de modelos e vários outros relacionados a esses fatores. Não que tudo isso não seja importante e faça parte do contexto, mas talvez a nossa busca não tenha sido direcionada para o aspecto que quero aqui tratar: de que as pessoas em cargos de liderança nas organizações e demais instituições com ou sem fins lucrativos são o reflexo do equilíbrio ou desequilíbrio que demonstram ter na sua vida em geral. Não é um problema isolado e estratificado. É muito maior do que pensar, de forma simplista, que falta treinamento, formação acadêmica e avanço das empresas para que as habilidades de liderança aflorem como num passe de mágica. Volto a dizer: tudo isso faz parte de um coquetel de ações que apoiam e contribuem para a manutenção continuada de visões, informações, métodos, ferramentas, etc, que facilitam o trabalho de quem já exerce a liderança e não no sentido de transformar pessoas comuns em líderes-modelo e de alta performance. Isso não tem sido uma verdade, tanto que estamos em 2016 e os problemas continuam, a despeito de todo investimento feito nessa área. Tudo evolui de forma conjunta, tanto o bom como o ruim. Não existem fábricas e fôrmas para formar bons líderes e mesmo que as habilidades e competências sejam indicações comuns, as características dos profissionais, das empresas, do contexto e das equipes são diferentes. Você aplicar a competência de assertividade não garante sucesso em todos os ambientes. Se bem feito, na maioria sim, mas não em todos. A assertividade de forma isolada aplicada como técnica, por exemplo, não simboliza que o profissional que a aplicou seja um modelo

de outras competências e que a aplique sempre. As posturas demonstradas têm que caber num histórico e ser continuadamente certificadas e recertificadas por várias pessoas e em várias instâncias. Estou dizendo com isso que o exercício da liderança não é feito em fatias, em momentos, em circunstâncias específicas e para dar visibilidade no mercado. Ele faz parte, é integrante de um jeito de ser, de uma opção de vida, de um caminhar estabelecido para si e de uma reavaliação corajosa e transparente. E vem de dentro, e não de fora. Complexo? Talvez. Difícil de comprovar cientificamente, não sei. Plausível, muito. E dentro de uma ideia essencial muito simples, límpida e coerente. E acredito nesse pensar. De uma forma ou outra, fui a grande observadora de mim mesma e do que o entorno me deu de material nos anos de vida que tenho: família, valores, professores, colegas e amigos, gestores, mestres em algum aspecto, marido, filha, etc..e quando olho para o universo que conheci e conheço me permito fazer uma conclusão nesse primeiro momento de que pessoas que evoluem e mostram algo diferente em suas atuações profissionais, dentro do tema da competência de liderança e gestão, são pessoas que conseguiram evoluir de forma continuada em sua caminhada. A grande questão quando pensamos em aceitar um desafio de liderar pessoas não é buscar descobrir

em que estilo me encaixo, mas com certeza se me envolverei à fundo nesse propósito, dedicando-me, em altas doses de persistência, disciplina, propósito, humildade, paciência, muito diálogo, autorreflexão constante, disponibilidade, resiliência e automotivação. Especialmente esta última, pois não há como eu olhar para o outro com fé e disposição para ajudá-lo a amadurecer, se não me encontro automotivado para a vida, para a causa, para a mudança, para fazer diferente a cada dia, se preciso abrindo mão de algumas verdades, máximas e maus hábitos. E as empresas ainda não trabalham o assunto nesse foco: o de melhorar o ser humano que existe em cada um. É mais fácil investir e dedicar o pouco tempo que têm em aprovar modelos que são implementados de forma standard. Só que não podemos esquecer-nos de uma coisa: as pessoas continuam chegando ao mercado de trabalho e terão que ser conduzidas, orientadas, estimuladas, aconselhadas ou intuídas por alguém. E se este alguém não estiver preparado na vida para representar as pessoas nessa complexidade cada dia mais assustadora, as empresas, daqui a uns 20 anos, continuarão a se perguntar por que esse assunto incômodo ainda os rodeia. E a resposta será ainda a mesma: “porque é muito difícil lidar com gente”. Isso é coisa de RH. Só eles aguentam essa missão.

edição 19 | FULL Energy

51


52

FULL Energy | edição 19


edição 19 | FULL Energy

53


gente e gestão

Desejos energéticos

O que você mudaria no setor de energia do país? 54

FULL Energy | edição 19


A

FGV Energia publicou no mês de março de 2016, um artigo intitulado “Seu pedido para o Gênio da Lâmpada”. Nele, vários especialistas da área de energia revelam qual desejo gostariam de ver atendido se pudessem fazer uma mudança no setor de energia no país. Confira, nas páginas a seguir, qual o desejo energético de cada um! De modo geral, as dificuldades enfrentadas na área econômica em 2015 permanecem presentes em 2016. Além disso, as turbulências no cenário político sinalizam que a aprovação de medidas necessárias para melhorar os fundamentos econômicos continuará sendo um desafio. No setor de energia, o cenário atual também não é animador. No âmbito global, os preços de petróleo permanecem baixos e as estimativas continuam sendo revisadas para baixo. Os patamares atuais de preço refletem estoques altos, perspectiva de oferta adicional do Irã e redução de demanda por petróleo da China. Para além do curto prazo, o acordo de Paris sinaliza para as empresas de petróleo a importante tarefa de repensar suas estratégias e posicionamento de longo prazo em um mundo que buscará ser cada vez menos intensivo em carbono.

edição 19 | FULL Energy

55


gente e gestão

No Brasil, os problemas enfrentados pelo setor de energia atingem os segmentos de petróleo, gás, elétrico e de biocombustíveis de diferentes maneiras e em várias dimensões – entre as mais debatidas estão questões regulatórias, de governança, de estrutura de mercado, de investimentos e de planejamento. De modo geral, elas têm em comum o fato de que se tratam de questões não técnicas ou tecnológicas – o que no setor de petróleo chamaríamos “above the ground risks” -, e envolvem decisões estratégicas, regulatórias ou de política pública implementadas no passado que resultaram na complexa situação atual do setor. Diante de tantas questões importantes e urgentes, e dentro das limitações de ações impostas pelo contexto conjuntural, o exercício de priorização das reformas desejadas para

o setor é fundamental. Com esse objetivo, a FGV Energia convidou executivos, acadêmicos e especialistas em energia para responderem à seguinte pergunta, em um texto sucinto, de até 250 palavras: “O gênio da lâmpada lhe concedeu um desejo a ser atendido imediatamente: você tem o poder de promover uma, e apenas uma, mudança no setor de energia no país – seja na política pública, regulação, ou mesmo na estrutura do mercado. Qual seria a sua escolha e por quê?”

Lavinia Hollanda - Coordenadora de Pesquisa da FGV Energia “Eu pediria que reduzíssemos drasticamente os inúmeros comitês, conselhos, comissões e afins que hoje existem no setor de energia. A premissa por trás do excesso dessas instâncias é a de que os agentes não devem, ou não são capazes, de decidir por si só suas estratégias e ações. Assim, criam-se grupos de notáveis que acabam por tomar decisões que deveriam caber única e exclusivamente aos agentes – onde e como aplicar recursos de 56

FULL Energy | edição 19

pesquisa e desenvolvimento, de quem contratar serviços e equipamentos, para quem vender sua energia gerada e assim por diante. Nesse ambiente, há enorme desconfiança e consequente paralisia por parte dos agentes, que se acostumam a conviver com intervenções e

No setor de energia, o cenário atual também não é animador. No âmbito global, os preços de petróleo permanecem baixos e estimativas continuam sendo revisadas para baixo. mudanças de regras e passam a agir conforme o incentivo colocado, buscando conseguir junto ao governo ajustes nas regras que resolvam suas dificuldades mais imediatas. Criam-se, então, enormes ineficiências e perde-se a visão do longo prazo. Entendo que alguma regulação é necessária e benéfica, e que é complexo encontrar a medida certa. Mas estamos pecando pelo excesso e regulando o que não é preciso e, com isso, gerando distorções indesejáveis e difíceis de consertar. Assim, meu pedido é por mais parcimônia nas intervenções que vêm sendo feitas no setor, e que confiemos mais na capacidade de ajuste do mercado.”


Jorge Camargo - Presidente do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis) “Eu pediria ao gênio que trouxesse maior diversidade ao setor de petróleo brasileiro. Multiplicidade de atores e operadores no pré-sal, como temos no pós-sal. Pluralidade não só no upstream, mas também no refino, no gás, na logística. Quanto maior a diversidade e competição entre investidores – com diferentes competências e estratégias, distintas percepções de custos, riscos e prêmios –, maior a valorização dos recursos naturais de um país. A beleza de um ambiente aberto e competitivo está em os ativos migrarem naturalmente para os investidores, para o bem do verdadeiro dono dos ativos, o Brasil.” Suzana Kahn - Professora do PET Suzana Kahn - Professora do PET (Programa de Engenharia de Transportes) da Coppe, UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro) “Se pudesse fazer uma alteração no setor de energia no Brasil seria através de política pública. Um país da dimensão do nosso, e com os variados recursos naturais que possui, como biomassa, sol, vento e rios, deveria promover a geração distribuída onde cada região usasse a fonte mais adequada e próxima ao seu mercado consumidor, reduzindo assim custos e perdas na transmissão e distribuição. Já que política pública engloba mais do que uma única decisão e envolve várias ações visando um determinado objetivo, vejo esta opção como a mais adequada para uma mudança no setor energético, uma vez que, para termos um aumento da geração distribuída com uso de renováveis, seria necessário termos diferentes ações relativas à facilitação

a geração distribuída sozinha não irá suprir a expansão da demanda por energia no País, mas seguramente tem uma importante contribuição a dar e tem sido negligenciada. A fonte energética que é mais apropriada, a solar, não possui apoio governamental, o que deixa o Brasil tropical atrás de inúmeros países nórdicos tanto em termos de investimentos como em termos tecnológicos, evidenciando assim nossa estranha política energética.” Suzana Kahn

de linhas de financiamento para consumidores de energia, nova regulamentação, sobretudo no que se refere a tributos, e ainda incentivo à implementação de uma cadeia produtiva local com vistas a baratear o custo e gerar empregos. Neste último caso, destaca-se a necessidade de investimento em capacitação profissional não apenas para produção e instalação, mas também para a manutenção. Evidentemente, a geração

distribuída sozinha não irá suprir a expansão da demanda por energia no país, mas seguramente tem uma importante contribuição a dar e tem sido negligenciada. A fonte energética que é mais apropriada, a solar, não possui apoio governamental, o que deixa o Brasil tropical atrás de inúmeros países nórdicos tanto em termos de investimentos como em termos tecnológicos, evidenciando assim nossa estranha política energética.”

edição 19 | FULL Energy

57


gente e gestão

Wilson Ferreira Jr. - Presidente da CPFL Energia “Um ambiente mais estimulante à energia renovável e à implantação de redes inteligentes de distribuição de eletricidade será decisivo para o aumento da eficiência do sistema energético, a melhoria da qualidade de vida e a sustentabilidade do planeta.” Helder Queiroz - Grupo de Economia da Energia, professor do Instituto de Economia/UFRJ “Senhor Gênio, gostaria de lhe manifestar meu grande desejo para o setor de energia no Brasil. Gostaria que doravante o país tivesse sempre um documento, apenas um, com suas ‘Diretrizes e Instrumentos de Política Energética de Curto, Médio e Longo Prazos’. Pode parecer singelo meu desejo, mas esta mudança é mais que necessária aqui no Brasil, dado que os governos FHC, Lula e Dilma nunca se dedicaram formalmente. Tal medida ajudaria em muito o exercício das tarefas de planejamento, regulação e, a reboque, conferiria mais previsibilidade aos processos de tomada de decisão de todos os agentes econômicos.”

58

FULL Energy | edição 19

“Pode parecer singelo meu desejo, mas esta mudança é mais que necessária aqui no Brasil, dado que os governos FHC, Lula e Dilma nunca se dedicaram formalmente. Tal medida ajudaria em muito o exercício das tarefas de planejamento, regulação e, a reboque, conferiria mais previsibilidade aos processos de tomada de decisão de todos os agentes econômicos ” Helder Queiroz

Cláudio Andrade Sócio da Polo Capital Management “Minha sugestão seria a criação de uma clearing do mercado livre. Por quê? Porque daria mais segurança ao sistema e impulsionaria o desenvolvimento desse segmento com segurança. Dado o diferencial de preço (muito mais baixo que no regulado, o que incentiva a migração dos agentes), temos nesse momento uma condição única de desenvolver esse mercado. E no longo prazo esse pode ser um caminho de desenvolvimento da geração distribuída. Ou ao menos uma referência de preço.”

Luciano Irineu de Castro - Professor da Tippie College of Business – Universidade de Iowa “Correndo o risco de extrapolar os poderes do gênio da lâmpada, eu pediria que extirpasse das mentes de todos os agentes do setor, principalmente no setor público, a ilusão de que o governo tem de permanecer como agente primordial no dia a dia do setor. As mazelas que o setor elétrico padece foram geradas e amamentadas na inépcia do governo, e o fato de não padecer outra calamidade, como o apagão, devemos à inépcia do governo em nos entregar a recessão corrente.


Se fosse suficientemente poderoso, o gênio da lâmpada faria compreender que o talento empresarial, posto a serviço do lucro e operando dentro de regras estáveis, inteligentes e justas, é a melhor garantia de qualidade e baixo custo no setor. Não é na boa vontade de burocratas que está a garantia de um bom funcionamento setor, muito menos na esperteza dos que lutam por influenciá-los. Concentrar o poder no Ministério, nas agências reguladoras e nos inúmeros órgãos governamentais auxiliares, como EPE, ONS etc, é favorecer a burocracia versus a eficácia, os objetivos políticos versus a eficiência econômica, o bem-estar de uns poucos versus o bem-estar de todo o país. Não duvido que haja boa-fé e boas intenções nos que querem, fortalecendo a presença do governo no setor, beneficiar o país. Mas são exatamente essas boas intenções que estão nos destruindo! Oxalá houvesse mesmo o gênio da lâmpada!”

Paulo Mayon - Diretor Sênior e sócio da Compass Comercializadora de Energia “A escolha seria determinar para 2017 em diante o fim da penalidade daquele que falta com o lastro de energia e de potência. A regra vigente não penaliza aquele que, com sobras de lastro de energia e potência, opta por não as comercializar. Ela só se aplica àquele que não ‘encontrou’ o tal lastro. Essa proposta significa, na prática, a desvinculação de lastro e energia, o que é praxe em mercados de energia mais maduros que o brasileiro. É fácil de explicar esse ‘desejo’. O mercado físico de energia já funciona, de fato, como um mercado financeiro, dado que a entrega física ocorre por meio do despacho do ONS, sem qualquer vínculo com o que foi negociado bilateralmente entre as partes. O que os agentes buscam ao comprar ou vender contratos é se proteger da oscilação de preço. A penalidade por falta de lastro contratual foi

criada para estimular a contratação de longo prazo dos consumidores, visto que, naquela ocasião, saindo de um pós-racionamento, com excesso de oferta de energia, o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) permanecia extremamente baixo por longos períodos de tempo, sendo incapaz de fornecer sinal econômico para a expansão. Porém, considerando o histórico da inflação brasileira, o comportamento errático do PIB e todas as incertezas envolvidas, os consumidores livres dificilmente contratam por prazo maior do que cinco anos, independentemente do valor do preço de curto prazo. Em resumo, a penalidade existe

para um fim que não se concretiza desde sua criação. A regra assimétrica da penalidade acaba gerando um ágio ou deságio que distorce, na prática, o índice de liquidação dos contratos financeiros de energia, PLD. Em resumo, os contratos financeiros conseguem oferecer a proteção contra as oscilações dos preços, mas se o contratante do hedge for um agente da CCEE, terá que adicionar o ágio/deságio para evitar a penalidade por falta de lastro. Tal assimetria distorce o custo, compromete a eficácia dos mecanismos financeiros como instrumentos de proteção e não atinge o objetivo original de estimular a contratação a longo prazo.”

edição 19 | FULL Energy

59


gente e gestão

Adriano Pires - Sócio-fundador e Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) “O setor de energia está tão bagunçado e foram cometidas tantas barbeiragens nos governos do PT, que fica difícil fazer somente um pedido ao gênio da lâmpada. O ideal era manter a tradição e, da mesma forma que o gênio concedeu três desejos ao Aladim, poderia me dar a mesma chance. Mas já que o gênio, provavelmente, com a crise ficou com receio de conceder muitos desejos, para melhorar a situação de um governo sem praticamente nenhuma credibilidade e que mentiu o tempo todo, vou formular o meu que é bem simples. O meu desejo e que fosse aprovado o Projeto de Lei do Senador Serra que altera o modelo da Partilha, desobrigando a Petrobras de ter 30% dos blocos do pré-sal e o monopólio da operação desses blocos.” Paulo Cunha - Consultor da FGV Energia “Proponho mudar a sistemática de cotas associada à renovação das concessões que foi introduzida pela MP 579/12. A proposta visa à sua eliminação, já que seus efeitos desor60

FULL Energy | edição 19

ganizaram o setor elétrico e provocaram extraordinária destruição de valor nessa indústria. Os contratos de cotas transferiram o risco hidrológico dos geradores para os consumidores finais. Ocorre que, diferentemente dos geradores, que têm instrumentos para gerir o risco, os consumidores somente suportam seus efeitos de forma passiva. Essa equivocada alocação traz ao sistema elevada ineficiência econômica e onera desnecessariamente seus custos. A sistemática fratura a coerência interna do modelo institucional quando retira do mercado parte de energia existente, convertida em cotas, ao tempo em que continua expandindo a oferta através de contratos de venda de energia. Ao arbitrar a distribuição das cotas entre as

distribuidoras, portanto ao ACR, distorce a alocação dos benefícios da renda oriunda dos empreendimentos amortizados, uma vez que desconsidera o ACL, que também foi responsável pela referida amortização. Em decorrência das concessões já renovadas sob esse instituto, não se desconhecem as dificuldades para revertê-lo. No entanto, sua manutenção inibe e desvaloriza o parque elétrico, além de consolidar a ineficiência na gestão dos riscos hidrológicos. No limite, quando a necessidade de expansão estiver arrefecida e quase toda a energia cotizada, teremos um sistema sem nenhum estímulo à eficiência. Dessa forma, é urgente a suspensão do instituto, para o que será necessária a adoção de mecanismos de transição e coragem para corrigir o erro.”


Clarissa Lins - Sócia-fundadora da Catavento Consultoria “Os resultados da COP 21, ocorrida em Paris em dezembro de 2015, apontam para um desejo inequívoco de atuar pro-ativamente na redução das emissões de gases de efeito estufa, no sentido de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C / 2°C. Em termos práticos, isso representa uma mudança de paradigma global na produção e no padrão de consumo de energia, a caminho da redução da intensidade de carbono. O planejamento energético brasileiro, ao estabelecer suas diretrizes de longo prazo, precisa acompanhar o que está na vanguarda mundial. Neste sentido, não é mais suficiente repousar no potencial hidrelétrico de nosso país, duramente afetado pelas condições hídricas adversas, agravadas pelas mudanças climáticas. A perversidade desta atitude está claramente refletida no aumento do custo da energia ocorrido em 2015, em função da utilização da energia termelétrica, com consequências nefastas também sobre as emissões de gases de efeito estufa do país. Assim, meu desejo é que as políticas públicas na área de energia sejam revistas no sentido de voltar-se à racionalidade econômica, levando em conta os impactos climáticos por meio da precificação de carbono.

Com isso, haverá estímulo à geração de energia a partir de diversas fontes - sobretudo daquelas menos intensivas em carbono, à eficiência energética e à inovação. Um setor energético revigorado é condição sine qua non para a retomada segura do crescimento do país, capaz de atrair recursos financeiros, tecnológicos e humanos de classe mundial.”

“O planejamento energético brasileiro, ao estabelecer suas diretrizes de longo prazo, precisa acompanhar o que está na vanguarda mundial”. Clarissa Lins

Renato Bertani CEO da Barra Energia “Eu introduziria modificações regulatórias que estimulassem ao máximo possível a competição e dessem acesso ao maior número possível de agentes econômicos para atuarem no setor de petróleo brasileiro. A saída da crise passa por um choque de eficiência e inovação, e a melhor maneira de se conseguir isto é através da diversificação de atores, o que requer a remoção de barreiras que dificultam a alocação de capital, qualquer que seja sua origem.” Ieda Gomes Consultora Associada da FGV Energia “A existência de monopólios pouco regulados na infraestrutura de gás é um fator inibidor ao desenvolvimento de um mercado competitivo para o edição 19 | FULL Energy

61


gente e gestão

gás natural no Brasil, porque desestimula investimentos de novos produtores e importadores de gás, devido à falta de visibilidade quanto ao acesso ao mercado consumidor. Uma medida fundamental para alavancar esse mercado seria a desverticalização total da cadeia de valor, à semelhança do que foi implementado em diferentes aspectos no Reino Unido, Espanha e Estados Unidos. Além da separação entre o suprimento e transporte de gás e ainda da regaseificação de GNL, os agentes produtores/supridores não poderiam deter o controle acionário de gasodutos e terminais de GNL, em particular aqueles que têm dominância no suprimento de gás ao mercado brasileiro. Idealmente, o Brasil deveria ter um único operador dos gasodutos de transporte no âmbito nacional, e esse operador deveria ser neutro e interessado no uso otimizado do sistema, com acesso regulado de terceiros. As tarifas e capacidade ociosa deveriam ser publicadas e estar disponíveis para consulta por todos os agentes interessados.”

Roberto Castello Branco Diretor da FGV Crescimento & Desenvolvimento “Escolho a abolição da exigência de conteúdo nacional. Ela reduz - via aumento de custos, atrasos e equipamentos de qualidade discutível - a taxa de retorno esperada de projetos de petróleo, desestimulando assim investimentos onde possuímos claras vantagens comparativas. Trata-se de transferência forçada de renda dos produtores de petróleo para uma indústria que se expande com baixa produtividade pois, não sendo exposta à competição, não tem estímulos para inovar e aumentar a eficiência. Finalmente, as complexas regras estabelecidas pela ANP implicam em grande desperdício de recursos escassos da sociedade. A ausência de crescimento da produtividade é a principal causa da lenta expansão da economia do Brasil nos últimos 35 anos. A adoção de res62

FULL Energy | edição 19

trições à competição, como foi a lei de reserva de mercado para a informática de 1984 e, desde 1997, a exigência de conteúdo nacional nos investimentos no petróleo, são exemplos típicos de barreiras à prosperidade da sociedade brasileira, dado o forte impacto negativo sobre a produtividade.” Luigi Parisi Responsável pela Enel Green Power no Brasil “Investimentos. Acredito que essa seja a chave. O setor elétrico brasileiro requer investimentos em todos os segmentos. As energias renováveis, especialmente a eólica e a solar, devem ser pensadas como uma solução para mitigar os custos de geração de energia no país. A expectativa da capacidade instalada indicada pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) para os próximos 10 anos indica um aumento de cerca de 70 GW – metade em energias renováveis. Portanto, para atender à crescente demanda de energia e para apoiar a expansão da capacidade instalada do país, serão necessários investimentos. As energias renováveis podem garantir a segurança do abastecimento de energia, por causa da histórica complementaridade, por exemplo, entre a geração eólica e a hídrica. O período de vento no Nordeste do Brasil (onde estão concen-

As energias renováveis, especialmente a eólica e a solar, devem ser pensadas como uma solução para mitigar os custos de geração de energia no país.” Luigi Parisi

trados os parques eólicos) é complementar as épocas chuvosas do Norte, Centro-Oeste e Sudeste (onde estão concentradas as hidroelétricas). O período com menos chuva é o mesmo com mais vento e vice-versa. Isso permite a otimização da operação do sistema entre as duas fontes. O Brasil é um país relevante para qualquer empresa que possui interesse em se expandir em energias renováveis. Um grande mercado, com mecanismos de leilão que permitem a expansão através de uma forma transparente e justa; recursos hídricos, ventos, e irradiação solar disponíveis e abundantes. Portanto, a Enel Green Power, como líder global em energias renováveis, mantém o seu interesse em seguir investindo no país.”


Lincoln Rume Guardado Diretor-Presidente da QGEP

Luis Henrique Guimarães - Comgas

“Dentre as opções elencadas pelo ‘gênio’, cremos que o Brasil necessita de diferentes políticas públicas, considerando as diferentes fontes de energia que se pretende desenvolver de forma viável. Nesse sentido, um denominador comum se refere à agilização das permissões (ambientais/agências reguladoras) para a implantação de projetos, que têm sido vetor da postergação de investimentos. Outro fator limitante está na inadequação das redes de transporte e distribuição, sobretudo para o gás, que poderá ser a solução das demandas locais e regionais. Ainda que o governo tenha um papel preponderante nessas ações, observa-se em determinados setores uma excessiva intervenção do Estado, como ocorrido recentemente com a precificação da energia elétrica, bem como na cadeia de óleo e gás, onde a fiscalização e regulação preponderaram em relação ao fomento ao investimento, gerando insegurança jurídica e a consequente incerteza quanto aos resultados econômicos. A segurança energética no Brasil depende da promoção das diferentes formas de geração de energia, respeitando as suas dimensões continentais e as condições sociais e geográficas para soluções locais e regionais. Assim, cabe ao governo ter a agilidade regulatória com vistas a reduzir riscos e incentivar o investimento no setor e estimular o mercado a ter uma participação mais ativa nessa regulação. Algo é certo nesse contexto: não haverá crescimento econômico sustentável sem a certeza da disponibilidade energética, mesmo com os ganhos de eficiência energética.”

“O meu pedido ao gênio é bem simples, mas nem sempre fácil de todos entenderem o seu enorme poder. Seria que os agentes do mercado, reguladores, e stakeholders deixassem as leis de oferta e demanda (mercado) atuarem nos vários segmentos do setor de energia e que, de fato, tivéssemos no Brasil a precificação a mercado. Apesar de não ser perfeito, o mercado ainda é o melhor mecanismo para refletir o que está acontecendo no mundo físico e de opções e as várias experiências de intervenção no Brasil e no mundo mostraram que mecanismos artificiais não funcionam!!!” Zevi Kann Diretor da Zenergas Consultoria “Competição é o pedido! Temos uma estrutura de mercado perversa. A produção de gás ocorre principalmente em áreas de E&P offshore onde, em grande parte, o gás é associado - ou seja, dependente da produção do óleo e, sem dúvida, com custos elevados de infraestrutura para o transporte e processamento até chegar ao mercado de distribuição e ao usuário final. E a infraestrutura de transporte do gás é totalmente concentrada, sem qualquer

transparência quanto à movimentação efetiva, real capacidade e tarifas. Nos mercados de distribuição de gás canalizado, tivemos a oportunidade de estabelecer ainda em 1999, no estado de São Paulo, modelo de concessão com prazos de 12 anos para o advento do mercado livre e a comercialização de gás por novos agentes. Esta regulamentação foi completada em 2009 e 2011. Outros estados caminham nesta direção. Resultado: nenhum usuário livre até hoje. Não existe competição na oferta, a regulamentação evoluiu lentamente no transporte e a concentração de mercado persiste. Talvez um ‘gênio’ poderoso, associado ao pragmatismo responsável decorrente de um barril de U$ 30 poderia voltar a direcionar totalmente os leilões de E&P aos campos terrestres, com uma legislação simplificada e campanhas sísmicas intensas. E que os modelos do setor elétrico se aproximassem do setor de gás para que termoelétricas fossem as âncoras e pudessem ser implantadas onde realmente necessárias, e não onde ofertadas, dentro de uma visão de país, que necessita de infraestrutura de transporte de gás atendendo a todos os estados. Seria um sonho desenvolvermos múltiplos produtores comercializando o gás a inúmeros usuários em ambiente de competição e atendendo todo o país. Bom dia, vamos despertar?”

edição 19 | FULL Energy

63


tecnologia e inovação

Colheita otimizada Nova colhedora de cana desenvolvida pela Case IH proporciona maior disponibilidade, menor custo operacional e melhor tecnologia de gestão

Nova colhedora de cana Case IH A8800 modelo 2016 evoluiu em mais de 40 pontos

A

Case IH apresentou no final do mês de março, no Espaço Golf, em Ribeirão Preto (SP), a nova colhedora de cana A8800 – modelo 2016. A máquina evoluiu em mais de 40 pontos que proporcionam maior disponibilidade e menor custo operacional, além de chegar ao mercado com a melhor tecnologia de gestão. A marca trabalha constantemente para aperfeiçoar os seus produtos e serviços. Christian Gonzalez, diretor de Marketing, ressalta que a inovação e a tecnologia estão entre os principais pilares do projeto e que, além disso, a participação dos clientes no desenvolvimento da máquina foi fundamental. “Sinto orgulho em dizer que estamos entregando uma máquina 100% projetada em parceria com nossos clientes. Todo o processo de desenvolvimento foi validado por eles próprios antes do lançamento da máquina”, comenta o executivo. 64

FULL Energy | edição 19

Os clientes que participaram do processo de desenvolvimento do modelo 2016 da colhedora A8800 representam 25% do mercado de cana produzido no Brasil. A parceria entre fábrica e clientes, norteou o foco no desenvolvimento da máquina para toda a equipe da engenharia e, como resultado, a Case IH apresenta uma colhedora com maior disponibilidade, menor custo operacional e melhor tecnologia de gestão.


Confira a entrevista http://goo.gl/TQTtwH

Ganho em disponibilidade e custo de manutenção Fábio Balaban, especialista de Marketing de Produto da Case IH, explica que a colhedora de cana A8800 modelo 2016 nasceu da integração das necessidades de manutenção e operação, do ganho de tempo e da facilidade de manutenção e operação nos momentos improdutivos do equipamento. Durante a apresentação da máquina, Gonzalez ressaltou que as colhedoras de cana no Brasil possuem um regime de trabalho de 24 horas durante 180 dias de safra. “Qualquer minuto de máquina parada, é cana que deixa de ir para a usina. Paralelo a isso, o setor tem o desafio de aumentar a produtividade da lavoura e o equipamento, com todo o seu desenvolvimento, contribui para isso. O setor colhe, em média,

entre 500 e 600 toneladas de cana/máquina/dia”, disse. A expectativa da empresa é de que a colhedora possa contribuir com até 210 horas a mais de disponibilidade mecânica por safra. “O custo de manutenção é um ponto muito importante para a usina. A estimativa de

redução de custo com o uso da nova colhedora é de 15%. Obviamente que varia muito de máquina para máquina, mas na média, o custo de manutenção por colhedora de cana é de R$ 200 mil por safra. A nossa estimativa, com as modificações, é uma redução de R$ 30 mil por máquina/safra”, contabiliza Gonzalez. O sistema de gestão é outro destaque. A colhedora A8800 modelo 2016 é a única capaz de realizar o mapeamento da área, entendendo como é a produção agrícola do canavial.

Parceria com clientes No final de 2014, a Case IH iniciou um processo de forte diálogo e parceria com as usinas. “Isso não é algo novo, pois no setor canavieiro as empresas têm um contato muito próximo com os clientes”, afirma o diretor de Marketing. Ele explica que foram realizadas entrevistas e conversas com os clientes para saber o que eles esperavam da Case e quais eram as suas principais expectativas. “Fizemos uma lista, que foi a base para o desenvolvimento de um novo produto. O modelo 2016 da colhedora A8800 é a primeira etapa de um plano de desenvolvimento de longo prazo, definido até 2018. Num momento complicado em que muitos estão tirando os pés dos investimentos, nós continuamos”, diz Gonzalez ao ressaltar que os clientes deram inputs muito precisos de quais melhorias são necessárias nas colhedoras de cana para reduzir o custo operacional, melhorar a produtividade e, no final, dar resultado para as usinas.

edição 19 | FULL Energy

65


tecnologia e inovação

Os inputs foram transformados em soluções de produto, melhorias e novidades e depois apresentados novamente aos clientes para que os mesmos validassem as mudanças e tivessem a certeza de que as soluções respondiam às suas reais necessidades. Como exemplo, Gonzalez cita o redesenho do sistema hidráulico, principalmente no sistema de filtragem, com o intuito de aumentar o intervalo de troca e diminuir o número de filtros. “Em uma safra conseguimos a redução da utilização de 46 filtros para 6 filtros. São praticamente oito vezes menos filtros. Isso tem impacto brutal na redução de custo de manutenção da máquina por safra, gerando economia para o cliente e menor quantidade de paradas do equipamento, o que implica em maior eficiência”, resume. Outro pedido dos clientes era em relação aos rolos transportadores, um item também de manutenção da máquina. No método antigo, a manutenção desses rolos demorava 15 horas, pois era necessário retirar toda a parte frontal da máquina. “Mudamos o desenho e agora isso é realizado em duas horas e meia, e pelo lado de fora”, explica o gerente de Marketing. “Toda colhedora tem um regime de manutenção que exige um grande esforço por parte dos nossos clientes. Nossa proposta, já que temos que parar a máquina em algum momento para fazer a manutenção, é que esse tempo seja o mais rápido possível”, acrescentou Balaban.

66

FULL Energy | edição 19

Presença na Agrishow A Agrishow é a feira agrícola mais importante do Brasil e também para a Case IH. O setor canavieiro foi onde a Case começou fortemente no Brasil. “A Agrishow é onde realmente fazemos grandes investimentos”, frisa Gonzalez. Na feira deste ano a colhedora A8800 modelo 2016, será uma das estrelas do estande da Case IH. O produto será apresentado aos clientes através de um tour, onde serão mostrados todos os 42 pontos de melhorias. Mirco Romagnoli, vice-presidente da Case IH América Latina, salienta que o lançamento da nova colhedora de cana é muito importante para a empresa. “O setor canavieiro, felizmente, no último período, deu uma revigorada. Está com um ânimo muito melhor se comparado com alguns meses atrás. Nossa máquina é fruto de grandes investimentos. Tudo para reduzir os altos custos de colheita. Estamos comprometidos com o sucesso de nossos clientes.” Vilmar Fistariol, presidente da CNH Industrial América Latina, destaca que estamos em um ano de sobrevivência importante, onde todos estão focados na redução de custos. “Para nós, o setor sucroenergético tem uma importância enorme. O que é diferente hoje em relação há um ano é que as pessoas ligadas a este segmento tinham um humor diferente e hoje está muito melhor e esperamos que continue assim. Para nós, é importante que o setor continue crescendo e investindo”, pontua. De acordo com Fistariol, as projeções para os próximos anos são positivas desde a produção ao consumo de etanol. “Embora o setor de produção de energia elétrica não passe por seu melhor momento, do ponto de vista estratégico acreditamos que será um setor interessante se olharmos mais à frente. Se os preços caíram, as tarifas, em geral, também caíram por uma razão muito simples: não existe consumo. A indústria, como o maior consumidor de energia, pelo segundo ano consecutivo terá um PIB negativo entre 6% e 7%”, observa. Para 2017 as projeções poderão ser menos piores, mas ainda negativas. Por outro lado, ao analisar a quantidade de investimentos no setor de produção de energia hidrelétrica e em outras fontes, o aproveitamento energético no setor sucroalcooleiro tem uma importância bastante significativa. “Temos orgulho de participar do desenvolvimento do setor. Os clientes podem ver, na máquina, o domínio da tecnologia e de toda a inovação que aportamos nos modelo 2016”, afirma Fistariol ao ressaltar a quantidade de investimentos já realizados. São algo da ordem de R$ 170 milhões em pesquisa e desenvolvimento. Parte desse investimento é dedicado à marca Case IH e parte às máquinas e equipamentos voltados ao setor da cana-de-açúcar.


edição 19 | FULL Energy

67


mercado | bioeletricidade

Falta de clareza e olhar dedicado Incertezas políticas e de preços ainda rondam a bioeletricidade

E

m 2014, das 355 usinas sucroenergéticas existentes e autossuficientes em energia, 177 exportavam energia elétrica para a rede. Atualmente, no Brasil, a fonte biomassa representa quase 10% da potência outorgada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na matriz elétrica do país. Quando se estratifica a fonte fóssil, a bioeletricidade assume a segunda posição na matriz elétrica brasileira, pois a mais importante contribuição da fonte fóssil é o gás natural, que detém 13.135.997 kW, inferior à capacidade instalada pela fonte biomassa. Com referência somente à bioeletricidade da cana, o setor sucroenergético detém hoje 7,5% da potência outorgada no Brasil e quase 79% da fonte biomassa, sendo a terceira fonte de geração mais importante da nossa matriz elétrica em termos de capacidade instalada, atrás somente da fonte hídrica e das termelétricas com gás natural. Em termos de evolução anual de capacidade instalada, a fonte biomassa teve seu recorde no ano de 2010, com 1.750 MW (equivalente a 12,5% de uma Usina Itaipu), resultado de decisões de investimentos antes de 2008, quando o cenário era estimulante à expansão do setor sucroenergético. A fonte biomassa, que já chegou a representar 32% do crescimento da capacidade instalada no país, tem previsão de participar em 2016 com apenas 7% da expansão anual da capacidade instalada no Brasil, índice que poderá cair para apenas 4% em 2020. “Temos um histórico de exportação de ener-

68

FULL Energy | edição 19

gia. Em 2014 foram 19,4 TWh. Em 2015, foram 20,2 TWh, um acréscimo de 0,4%. Também é importante destacar que, desde 2013, somos a média setorial que mais produz energia para a rede do que para o auto consumo”, salienta Zilmar de Souza, gerente de Bioeletricidade da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar).

Investimentos Sobre os investimentos, Souza diz aguardar uma política mais robusta e arrojada voltada para a bioeletricidade. “Não temos clareza sobre a bioeletricidade na matriz energética do país”, sintetiza. Ele conta que o que foi vendido nos últimos anos e nos leilões é muito pouco diante do potencial existente. “No ano passado foram vendidos apenas três projetos nos leilões de energia nova, totalizando 52 MW médios, o que é muito pouco. Em 2008, vendemos 31 projetos e 541 MW médios, ou seja, 10 vezes mais

o que vendemos em 2015”, compara Souza. O executivo explica que a bioeletricidade tem um papel importante devido o formato do modelo do setor elétrico. “Esses leilões oferecem contratos de 20 ou 25 anos (A-3 ou A-5) e todos são ajustados pelo IPCA. Então, conseguir um contrato acaba ajudando muito, não só o projeto de bioeletricidade, mas o projeto como um todo: de expansão dos canaviais, da produção de etanol. Além disso, por ter o reajuste de acordo com o IPCA, acaba diminuindo bastante a volatilidade do mix de receita de uma usina sucroenergética. Se não há regularidade na contratação desses leilões, a expansão da fonte é prejudicada.” Atualmente, grande parte dos investimentos em energia tem ido para a fonte eólica. Trata-se de um fenômeno mundial devido a questão do avanço tecnológico e diminuição dos custos dessa fonte. Contudo, o governo brasileiro teve uma prática seme-


Zilmar de Souza, gerente de Bioeletricidade da Unica

lhante para a biomassa em 2007 e 2008, quando foram vendidos 31 projetos no leilão. A bioeletricidade já teve seu lado mais dedicado, assim como ocorreu com as Pequenas Centrais Hidrelétricas em 2005 e 2006. “É importante que, para as fontes renováveis, tenhamos uma continuidade e previsibilidade em uma política que estimule a formação da cadeia produtiva. Isso é o que está faltando para a bioeletricidade retornar, de forma mais robusta, para a matriz de energia elétrica”, argumenta Souza. Ele salienta ainda que há espaço para todas as fontes. “Óbvio que estamos vivendo um momento de transição, com queda de consumo devido a recessão econômica. Normalmente o que ocorre todo ano é o crescimento do consumo de energia elétrica. A cada dois ou três anos temos que acrescentar uma Itaipu em energia nova na matriz de energia elétrica do país. É um desafio continental, colossal e é fácil para a eólica, solar, biomassa e Pequenas Centrais Hidrelétricas. É necessário apenas ter o cuidado de olhar para cada fonte, respeitando as suas particularidades”, pontua Souza.

Novas tecnologias A biomassa tem aumentado a sua produtividade e buscado o avanço tecnológico. A cana energia, o sorgo, as outras biomassas e, até mesmo o próprio aproveitamento da palha, têm um caminho a ser percorrido. Tudo isso contribui para o aumento da geração de energia, elevando a produtividade ao longo do ano, o que é fundamental para a biomassa ganhar competitividade no setor elétrico. Souza comenta que a cana energia é imaterial por ainda estar em estudo. Acredita que o sorgo também seja imaterial diante de seu total de geração. “Essas alternativas tecnológicas são muito bemvindas para aumentar a produtividade. As principais fontes e insumos hoje são bagaço e palha”, afirma. Ele lembra quando, no mercado, em 2014, em curto

prazo ou em sinal de grande escassez, o preço do MWh foi parar nas alturas: mais de R$ 800/MWh e hoje, no mercado de curto prazo, está cotado a R$ 47,00. Naquele momento, o setor buscava aumentar a produtividade e a curva de aprendizado com a palha. Um dos avanços ocorridos em 2014 foi o incentivo, através dos novos investimentos, do uso da caldeira de leito fluidizado que permite a queima de outras biomassas como bagaço, palha e casca de arroz. “Isso foi um investimento inovador, embora na indústria de papel e celulose seja comum. Para nós ainda é novidade”, alega Souza. Outro passo importante em tecnologia são as turbinas de condensação. A Unica, a pedido do governo, em 2014, fez um estudo demonstrando que, naquela época, o país tinha em torno de 10 mil MW instalados. Desses, quase 2 mil MW

Em 2015 a geração de energia elétrica através da biomassa da cana-de-açúcar correspondeu a 4,3% do consumo de energia elétrica no Brasil. Isso equivale a abastecer 10,4 milhões de residências em um ano. É uma fonte estratégica, renovável, sustentável e muito bem-vinda para o sistema elétrico nacional. O que o setor sucroenergético exportou para a rede em 2015 foi suficiente para poupar 14% de água dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-oeste do país. Se hoje, os reservatórios das hidrelétricas melhoraram, boa parte é por contribuição da biomassa. A bioeletricidade evitou, em 2015, a emissão de 8,6 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera.

edição 19 | FULL Energy

69


mercado | bioeletricidade

eram gerados em turbinas de condensação que são um pouco mais caras, mas permitem gerar energia durante o ano inteiro, independente do processo. “Foi muito interessante verificar a possibilidade de, havendo rentabilidade de preço, o setor sucroenergético responder de forma mais eficaz, gerando energia durante 11 meses e funcionando quase como uma térmica convencional, mas de energia renovável. Foi bom mostrar essa possibilidade para o governo”, destaca o executivo. Cenário até 2020 O gráfico abaixo mostra, segundo dados da Aneel, a potência já instalada no setor de biomassa entre 2002 e 2015 e a previsão para 2016 até 2020. “Quando olhamos para 2020, é muito pouco. O setor instalou 1700 MW novos em 2010, um recorde, e em 2016 a previsão é de instalar apenas 677 MW. Se nada for feito, em 2020, a instalação será de 65 MW. Isso mostra a falta de uma política pública clara, estimulante e com preços remuneradores que reconheçam o benefício da bioeletricidade nos leilões regulados”, aponta Souza. No entanto, ainda há tempo pra reverter isso porque a biomassa é uma das poucas fontes com rapidez de resposta muito grande: em 18, 24 ou 30 meses é possível colocar uma térmica a biomassa em funcionamento. 70

FULL Energy | edição 19

“Se houvesse agora uma startup, uma política bem delineada e estruturada para a biomassa, o quadro para 2020 poderia ser revertido, pois temos tecnologia e parque fabril. Falta apenas o olhar dedicado”, sentencia o gerente de Bioeletricidade da Unica.

Por enquanto não há nenhuma sinalização por parte do governo para tal. No final de 2013, por exemplo, ocorreram alguns leilões regulados onde houve a separação da competição direta entre a fonte biomassa e a fonte eólica. No entanto, a biomassa competiu com carvão e gás natural nesses leilões. Naquele momento o governo mostrou um avanço importante, mas não houve uma continuidade nessa política capaz de estimular o investimento no setor. Outro sinal importante que ainda pode ser traduzido em uma política mais arrojada para a biomassa foram os compromissos que o governo federal assumiu na Cop 21, onde as fontes biomassa, eólica e solar foram elencadas como cruciais para que o país cumpra as metas que assumiu perante a ONU (Organização das Nações Unidas). Preços condizentes e atrativos Souza enfatiza que é necessária a melhoria contínua do preço da biomassa como um todo, considerando as externalidades positivas da fonte. “O que não pode acontecer é a política do stop and go. Tivemos um leilão de fontes alternativas que teve o preço teto para a biomassa em R$ 215. Em 2015 tivemos o leilão A-5 onde o preço foi para R$ 281 e depois o A-3 com o preço de R$ 218. Causou muita estranheza a falta de clareza com relação a política de preço para a biomassa, o que é muito ruim. Teremos um leilão no dia 29 de abril, o A-5. Há uma insegurança muito grande para o investidor. Se o preço foi R$ 281 no A-5 de 2015, não pode regredir, tem que incorporar o benefício que essa fonte traz e melhorar o preço para que haja estímulo de forma consolidada ao investimento”, destaca Souza.


Ponto Final

Safra 2015/2016 no CentroSul atinge 617,65 milhões de toneladas

S

egundo informações da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar), os dados finais da safra 2015/2016 da região Centro-Sul do Brasil indicam uma moagem de 617,65 milhões de toneladas de cana-de-açúcar entre 1 de abril de 2015 e 31 de março de 2016. Este resultado é recorde para a região e representa um crescimento de quase 8% sobre as 573,14 milhões de toneladas processadas no ciclo 2014/2015 entre 01/04/2014 e 31/03/2015. A produção final de etanol totalizou 28,22 bilhões de litros do renovável, quase 2 bilhões de litros acima da marca histórica anterior (26,23 bilhões de litros computados na safra 2014/2015). Deste volume total de etanol produzido, 10,64 bilhões de litros foram de etanol anidro e 17,58 bilhões de litros de etanol hidratado – este último, com expressiva alta de 13,47% em relação aos 15,49 bilhões de litros registrados no ano safra anterior. A produção de açúcar, em contrapartida,

somou 31,22 milhões de toneladas na safra 2015/2016, com queda de 2,48% sobre as 32,01 milhões de toneladas contabilizadas em 2014/2015. Para o diretor Técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, a condição climática favorável ao desenvolvimento da planta ampliou a disponibilidade de matéria-prima, permitindo um crescimento expressivo da moagem na safra 2015/2016 e, ainda, uma sobra de cana-de-açúcar no campo. “Todo este aumento da quantidade processada foi direcionado à produção de etanol, contribuindo decisivamente para o abastecimento doméstico”, acrescentou o executivo.

edição 19 | FULL Energy

71


Eventos 2016 Maio Feimec - Feira Internacional de Máquinas e Equipamentos Eventos paralelos: Seminário de Eficiência Energética ISO 50001 – Gestão da Energia; Workshop Eolic Day e Seminário Oil & Gas Day Local: São Paulo Expo (Antigo Imigrantes)

Data: 03 a 07 de maio Informações: www.feimec.com.br

EnerSolar + Brasil - Feira Internacional de Tecnologias para Energia Solar Local: São Paulo Expo – Exhibition & Convention Center

Data: 10 a 12 de maio Informações: www.enersolarbrasil.com.br/16/ Santos Offshore Industrial Local: Anhembi – São Paulo

Data: 17 a 21 de maio Informações: www.santosoffshore.com.br

Junho Gas Summit Latin America 2016

Local: Windsor Atlântica – Rio de Janeiro

Data: 23 e 24 de junho Informações: www.informagroup.com.br/gas-summit/pt Brasil Solar Power

Local: Cento de Convenções SulAmérica – Rio de Janeiro

Data: 30 de junho e 1° de julho Informações: www.brasilsolarpower.com.br EXPEDIENTE CEO/Publisher: Edmilson Jr. Caparelli Diretora-administrativa: Lúcia Rodrigues Diretora-financeira: Janaiana Marques Diretora de Arte: Erica Almeida Alves Diretor de Marketing: Jailson Rainer Diretor Executivo: Marco Baldan Diretora Comercial: Giovana Teixeira Diretor de Projetos Especiais e Customizados: Márcio Ribeiro Diretora Editoral: Carla de Paula Pinto Editora da Revista Full Energy: Diana Nascimento Redação: Thiago Cruz Estagiária: Juliana Ijanc’ Produtora de Arte: Valéria Vilas Bôas Gerente de TI e Digital: Wagner Pereira Coordenação de Pesquisa: Janaína Novais Executiva de Contas: Érica Porto Assinaturas e Circulação: assinatura@grupomidia.com Atendimento ao Leitor: atendimento@grupomidia.com Projetos Editoriais: projetoseditoriais@grupomidia.com

Contatos: Matriz: (16) 3629-3010 | Sucursal: (11) 3014-2499 contato@grupomidia.com | redacao@grupomidia.com | comercial@grupomidia.com Matriz: Rua Aureliano Garcia de Oliveira, 256 - Ribeirão Preto - SP Filial: Av. Paulista, 1471 - 11º Andar - São Paulo - SP

A revista Full Energy é uma publicação bimestral do Grupo Mídia. Sua distribuição é controlada e ocorre em todo o território nacional. O conteúdo dos artigos é de responsabilidade dos autores, e não refletem, necessariamente, a opinião do Grupo Mídia. A reprodução das matérias e dos artigos somente será permitida se previamente autorizada por escrito pelo Grupo Mídia, com crédito da fonte. Atenção: pessoas não mencionadas em nosso expediente não têm autorização para fazer reportagens, vender anúncios ou, sequer, pronunciar-se em nome do Grupo Mídia.

A Full Energy é uma publicação do:


como você tem se atualizado ultimamente?

Opção 1

10% de desconto Opção 2

25% de desconto

Assine por 1 ano a Revista FullEnergy

por R$ 162,00

Assine por 2 anos a Revista FullEnergy

por R$ 270,00

Boleto Bancário (você recebe no seu endereço e quita em qualquer agência bancária) Pagamento à vista - mais 5% de desconto.

Opção 1

Pagamento em 2 vezes sem juros.

Opção 2

Empresa: Nome: Endereço: Bairro:

Cidade:

Cep:

CNPJ ou CPF:

Fone: (

)

Fax: (

Ramo de Atividade:

UF:

País:

) e-mail:

Assinatura

Data

/

/

Solicite pelo FAX (16) 3617-0331 ou e-mail assinatura@grupomidia.com formulário para assinatura internacional Ask by FAX +55-16- 3617-0331 or e-mail assinatura@grupomidia.com for your international subscription form Para outras opções de assinatura, entre em contato conosco pelo telefone (16) 3629-3010 ou e-mail assinatura@grupomidia.com


carta-resposta

não é necessário selar O selo será pago por Grupo Mídia Comunicação e Participações Ltda AC - Rua Aureliano Garcia de Oliveira, 256 - Ribeirânia 14096-750 Ribeirão Preto/ SP

Informação certa para o público certo

Cole aqui Dobre aqui


edição 19 | FULL Energy

75


76

FULL Energy | edição 19


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.