Editorial
Reta final para votar nos melhores da Energia
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elo tapete vermelho do Prêmio 100 Mais Influentes da Energia 2018, passarão as personalidades que mais se destacaram ao longo do último ano no setor energético brasileiro. A votação para a escolha das personalidades que mais se destacaram no segmento se iniciou em junho e segue até o final de agosto. E a edição deste ano tem uma novidade. Diferente de 2017, quando os premiados foram escolhidos em vinte categorias, a partir da edição 2018 a premiação terá dez categorias: Tecnologia e Inovação, Gestão, Personalidades Púbicas, Geração e Produção, Entidade Setorial, Indústria, Mercado e Negócios, Qualidade e Sustentabilidade, Referência, e Eficiência Energética. Com esta mudança, a premiação será mais concorrida. Conseguiremos melhorar o processo de definição das personalidades que mais se destacaram no setor energético ao longo de 2018.
Além da votação pela Internet, a metodologia para a definição dos 100 homenageados inclui pesquisa de mercado e análise do conselho editorial da Revista Full Energy e do Grupo Mídia, no início de setembro. A escolha dos vencedores é muito criteriosa, uma vez que o objetivo do 100 Mais Influentes da Energia é mostrar a importância e prestar um tributo àqueles que se destacam nas várias áreas do setor energético brasileiro no decorrer do último ano. E é muito gratificante perceber que esta premiação se tornou tradicional para o setor, já sendo reconhecida como o “Oscar da Energia”. O prêmio se consolidou como um dos grandes momentos do calendário do setor energético brasileiro. Oportunidade de reconhecermos o trabalho daqueles que constroem um dos segmentos mais importantes da economia brasileira e de fechar o ano com chave de ouro.
Edmilson Jr. Caparelli CEO | Publisher
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NESTA EDIÇÃO
JUN | JUL 2018 Código de Cores A Full Energy organiza suas editorias pelo código de cores abaixo: Líderes e Práticas Sustentabilidade Tecnologia e Inovação Mercado Gente e Gestão Ideias e Tendências Estratégia Bioenergia
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Trator a biometano O conceito simboliza a transformação energética nas propriedades rurais do Brasil, com a possibilidade de o produtor buscar sua independência de combustível Energia solar: um mercado de oportunidades Crescimento da energia solar fotovoltaica no país atrai empresas interessadas no potencial deste segmento, como a 3C Services
Programa Indústria Solar impulsiona geração distribuída no País A fonte solar fotovoltaica passa a se tornar uma ferramenta concreta e efetiva para aliviar os gastos recorrentes das indústrias e contribuir para o aumento de sua competitividade
Articulista:
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Energia solar impulsiona revolução no setor elétrico brasileiro Energia Solar Fotovoltaica vem se estacando como a fonte mais procurada pelos consumidores interessados em produzir a própria energia que consomem
Energia solar no campo Em junho deste ano, a utilização operacional da energia solar fotovoltaica no meio rural atingiu 15,8 MW
Mensurar resultados de treinamento é tão importante quanto investir em qualificação Consultoria afirma que apenas 13% das empresas mensuram essas ações Novas tecnologias tendem a impulsionar a energia solar fotovoltaica Com o crescimento exponencial da energia solar fotovoltaica em todo o mundo, muitas empresas - tanto consolidadas, quanto startups -, têm investido fortemente em pesquisa e inovação
Os ventos não param Em alta no Brasil, a energia eólica está ligada a uma indústria que está em constante evolução
28 Eduardo Soares, especialista em Mídias digitais e Branded Content
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DOSSIÊ
PCHs: desenvolvimento com respeito ambiental Geração de energia limpa por meio de PCHs e CGHs se baseia em sustentabilidade social, econômica e ambiental
A descarbonização da matriz de combustíveis e o RenovaBio descarbonização da 70 Amatriz de combustíveis e o
Lacunas no planejamento Apesar da previsão de a energia solar fotovoltaica atingir 10% da matriz elétrica brasileira em 2030, equívocos do governo podem prejudicar o desenvolvimento do setor
RenovaBio
nova era para os 76 Uma biocombustíveis modelo de 80 RenovaBio: regulação para o setor de Energia no Brasil
69 “Oscar da Energia” homenageará personalidades em dez diferentes categorias Promovido pelo Grupo Mídia e pela Revista Full Energy, evento chega à terceira edição
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Perguntas para...
Reginaldo Medeiros, presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel)
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Perfil
Alessandro V. Arco Gardemann, fundador da ABiogás e da GEO Energética
88 Ponto
Final
Consumidor ativo
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ALTA TENSÃO
Revolução à vista Uma empresa internacional e pesquisadores vinculados à Unicamp conseguiram dar origem a um novo material bidimensional, com espessura de um átomo até poucos nanômetros. Tecnologia que pode ser fundamental no desenvolvimento de nanotecnologia e nanoengenharia. Os pesquisadores conseguiram obter a inovação a partir de um minério de ferro comum, um material chamado hemateno, que tem três átomos de espessura e propriedades fotocatalíticas incomuns. “O material que sintetizamos pode atuar como fotocatalisador – para dividir a água em hidrogênio e oxigênio – e permitir a geração de energia elétrica a partir de hidrogênio, por exemplo, além de ter diversas outras aplicações”, disse Douglas Soares Galvão, pesquisador do CECC e um dos autores do estudo, à Agência FAPESP.
Biogás em Santa Catarina Foi sancionada a Lei 17.542, de 12/07/2018, que institui a Política Estadual do Biogás em Santa Catarina. O Marco Legal reúne um conjunto de princípios que apontarão as diretrizes para a exploração, o gerenciamento e a comercialização de toda cadeia produtiva do biogás. O objetivo é a geração de energia a partir de resíduos orgânicos e dejetos de animais procedentes das atividades agropecuárias, frutícolas e agroindustriais. “Avançamos mais uma etapa e, agora, mais um Estado contribui para a evolução e consolidação do biogás/biometano”, destaca Alessandro Gardemann, presidente da Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABiogás).
ENERGIA EM NÚMEROS
10%
Indústria teve papel decisivo no aumento de 10,7% do consumo de gás no Estado de São Paulo em 2017, atingindo a marca de 5 bilhões de m³.
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R$ 1,4 bi
Proposta de revisão no orçamento da Conta de Desenvolvimento Energético de 2018 prevê aumento no fundo de R$ 1,45 bilhão, valor que será repassado aos consumidores.
Usina Nuclear Angra 3 O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) instituiu um grupo de trabalho para realizar estudos e analisar a viabilidade da Usina Nuclear Angra 3. O grupo é formado pelos Ministérios de Minas e Energia, Fazenda e Planejamento, além do Gabinete de Segurança Institucional e Secretaria Especial do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), vinculados à Presidência da República. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a Eletrobras e a Eletronuclear também participam do GT. O colegiado terá o prazo de 60 dias para concluir suas atividades, com possibilidade de prorrogação. A projeção é que a Usina entre em operação comercial em janeiro de 2026, caso as questões que hoje impedem o desenvolvimento do projeto sejam solucionadas.
Implantação da Usina Porto do Açu III O Ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, assinou a autorização para a implantação da Usina Termelétrica GNA Porto do Açu III, no município de São João da Barra (RJ). O empreendimento contará com 1.673 MW de capacidade instalada por meio de quatro unidades geradoras a gás e uma linha de transmissão de 150 quilômetros de extensão. O investimento total do projeto está estimado em R$ 4,1 bilhões e prevê a geração de 9 mil empregos diretos e indiretos em sua fase de implantação. A usina se conectará ao Sistema Interligado Nacional (SIN) na subestação Rio Novo do Sul, no Espírito Santo (ES), por meio de uma linha de transmissão de 150 km. A capacidade instalada é suficiente para abastecer o equivalente a 7 milhões de domicílios.
35%
Volume de etanol vendido pelas produtoras do Centro-Sul bateu recorde na 2ª quinzena de julho, ao atingir 1,5 bi de litros, quase 35% superior ao mesmo período de 2017.
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Concessionárias de distribuição de gás natural canalizado que atuam no Centro-Sul do Brasil vão comprar diretamente 10 milhões de m³ de gás da Bolívia.
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Palavra do Editor
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A bioeletricidade é muito bem-vinda
participação sólida da bioeletricidade na matriz elétrica brasileira é uma das boas notícias do setor. Em 2017, a oferta deste tipo de geração de energia para a rede elétrica atingiu 26 mil GWh, representando um crescimento de 7% em relação ao ano anterior. Um volume que inclui a geração de bioeletricidade por diversos tipos de biomassa. No entanto, cabe à biomassa da cana-de-açúcar a maior participação: estima-se que cerca de 85% do montante de geração pela biomassa à rede no ano passado tenha advindo do bagaço de cana. E é grande a expectativa do crescimento desta alternativa energética na matriz energética brasileira. Inclusive, a perspectiva é de que o Programa RenovaBio, que está em fase acelerada de construção para que possa ser implementado, poderá contribuir substancialmente para o desenvolvimento desta fonte no país. Modelo limpo e renovável de geração de energia, a bioeletricidade já tem grande protagonismo na matriz elétrica de São Paulo, estado responsável pela maior produção sucroenergética do país. Em julho de 2018, a fonte biomassa atingiu uma produção de 3.556 GWh para a rede, equivalente a 8,1% do consumo total do país de energia elétrica
Clivonei Roberto
no mês ou a 30% do consumo total de energia elétrica do Estado de São Paulo. De longe o maior consumidor no país, respondendo sozinho por 26% do consumo de energia elétrica no Brasil em julho passado. No acumulado, de janeiro a julho de 2018, a fonte biomassa já gerou para o Sistema Interligado Nacional (SIN) o total de 14.048 GWh, equivalente a 4,5% do consumo total do SIN no período. Já a geração acumulada de energia pela biomassa para o SIN, de janeiro a julho de 2018, representou um aumento de 13%, se comparada ao mesmo período do ano passado. Como o Brasil tem uma matriz com predominância da hidroeletricidade, vale destacar que é justamente no período seco e crítico do setor elétrico que a bioeletricidade advinda da cana-de-açúcar costuma entregar mais de 80% de sua geração anual para o Sistema. Considerando que todas as usinas sucroenergéticas têm um potencial extra de biomassa que pode ser transformado em energia – como pela palha da cana que fica na lavoura durante o processo de colheita – mas que ainda não é aproveitado, a participação da bioeletricidade para a matriz poderia ser ainda maior. Por isso, toda política de incentivo que viabilize e estimule o crescimento desta fonte é muito bem-vinda.
Editor da Revista Full Energy
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Perguntas para...
O caminho é a liberdade do consumidor 16
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Mercado livre de energia completa 20 anos no Brasil com perspectiva de faturamento de R$ 120 bilhões em 2018
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m agosto de 2018, o mercado livre de energia completou 20 anos no Brasil. Foi nesse período que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) forneceu a primeira concessão para que uma empresa privada comercializasse energia no Ambiente de Contratação Livre (ACL). De lá pra cá o mercado cresceu muito. Só no ano passado faturou R$ 100 bilhões, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), Reginaldo Medeiros. Ele explica ainda que, em 2017, somente as comercializadoras associadas faturaram R$ 62 bilhões. O mercado de energia livre tem grande impacto para o preço de energia consumida no país. Medeiros afirma que 78% do consumo industrial brasileiro está no mercado livre. “Esse movimento, fruto da nossa atuação, permitiu que conseguíssemos reduzir o preço da energia elétrica em média 23% para os grandes consumidores nos últimos 15 anos”, diz. Desde 2015, o Projeto de Lei N° 1917, que dispõe sobre a portabilidade da conta de luz, concessões sobre geração de energia elétrica e comercialização de energia elétrica, tramita na Câmara dos Deputados. A regulamentação da lei é um importante passo para a expansão do setor, segundo Medeiros. Formado em economia e mestre em planejamento energético e ambiental, Reginaldo Medeiros tem grande experiência no setor de Energia. No currículo traz experiências com grandes empresas, como Eletrobras, CER – Roraima, Eletropaulo, Sabesp, Comgás, CPFL e CESP, além de coordenar o Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE). Em 2011, assumiu o cargo de presidente-executivo da Abraceel. A associação defende transparência e um mercado de energia aberto no Brasil, que siga como exemplo a tendência de grandes players do cenário mundial. Nesta edição da Revista Full Energy, o presidente da Abraceel fala sobre o mercado de energia livre no Brasil, os maiores desafios e as perspectivas para o futuro.
“ASSIM COMO NOS PAÍSES DE PRIMEIRO MUNDO, BEM COMO NOS NOSSOS VIZINHOS LATINO-AMERICANOS, NOSSA PRINCIPAL BANDEIRA É ASSEGURAR QUE O CONSUMIDOR DE ENERGIA SEJA TOMADOR DE DECISÕES. ELE TERÁ LIBERDADE PARA ESCOLHER O TIPO DE ENERGIA QUE CHEGA NA SUA CASA”
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FULL ENERGY: Qual é o panorama atual do setor de comercialização de energia no Brasil? REGINALDO MEDEIROS: Atualmente, a participação do mercado livre é de 30% do consumo de energia elétrica do País. Parte desse resultado se deu devido ao rápido crescimento do número de consumidores que optaram por trocar seu fornecedor, exercendo o direito da livre escolha, principalmente em razão da alta das tarifas do setor regulado e da competitividade de preços do mercado livre nos últimos anos. Vale destacar, por exemplo, que nos últimos anos o mercado livre gerou mais de R$ 38 bilhões de benefício para os grandes consumidores que optaram pela livre comercialização. Hoje são mais de 230 comercializadores e 5.400 consumidores livres e especiais. Além disso, mais de 78% do consumo industrial do país está no mercado livre.
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FULL: Qual é o potencial do mercado livre? MEDEIROS: O mercado livre tem potencial para atingir toda a classe residencial do Brasil. A perspectiva é que, com a abertura de mercado, com todos os consumidores de energia elétrica exercendo seu poder de escolha, o mercado livre deixe de ser um segmento do setor elétrico e se torne o próprio futuro do setor. No curto prazo, a perspectiva de faturamento é de R$ 120 bilhões em 2018, afetado pela alta dos preços da energia e do aumento do consumo no mercado livre.
FULL: Qual comparativo se pode fazer entre este setor no Brasil e o resto do mundo? MEDEIROS: A Abraceel faz um levantamento anual que é um estudo comparativo que mede a possibilidade de os consumidores em cada país poderem escolher seus fornecedores de eletricidade. O “Ranking Internacional de Liberdade no Setor Elétrico” de 2018 analisou no total 56 países, considerando as economias da América Latina e do G20. O Brasil ocupa a 55ª posição, atrás apenas da China, que ainda não liberalizou o mercado de energia. Dentre os países com algum nível de poder de escolha no setor elétrico, o Brasil é aquele que impõe o maior requisito de consumo para se tornar um consumidor livre. O ranking mostra claramente como o Brasil está na contramão das grandes economias mundiais.
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FULL: Quais são as grandes conquistas obtidas nos últimos anos neste segmento e quais são os desafios ainda a serem superados? MEDEIROS: Uma das grandes conquistas recentes foi, sem dúvida, a agenda de reformas amplamente discutida com o setor na gestão do ministro Fernando Coelho Filho, no âmbito da Consulta Pública nº 33 do MME. Muito do que foi discutido foi incorporado ao Projeto de Lei nº 1.917/2015, da Câmara dos Deputados, que hoje está aguardando votação na Comissão Especial criada para anali-
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sá-lo. A expectativa é que durante o esforço concentrado da Câmara, o projeto seja deliberado na comissão. Sem dúvida, o principal desafio a ser superado é a assimilação dos conceitos de eficiência e competição no setor elétrico.
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FULL: Por que a Energia do futuro é livre? MEDEIROS: O nome da nossa campanha faz referência àquilo que acreditamos ser o caminho para o setor elétrico brasileiro: a liberdade do consumidor. Assim como nos países de primeiro mundo, bem como nos nossos vizinhos latino-americanos, nossa principal bandeira é assegurar que o consumidor de energia seja tomador de decisões. Ele terá liberdade para escolher o tipo de energia que chega na sua casa, a empresa que prestará esse serviço, exigindo algo que já é realidade em tantos outros países. Mas para o Brasil, infelizmente, isso ainda está como cenário futuro. Baseado na experiência de diversos países, nós entendemos que não existe futuro no setor elétrico sem liberdade de escolha para o consumidor.
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FULL: O direito de escolha do consumidor sobre a energia que vai consumir traz qual revolução a este mercado? O brasileiro está pronto para este novo conceito? MEDEIROS: O direito de escolha traz uma mudança de grande impacto para o setor elétrico, que é a participação ativa do consumidor. Hoje não percebemos, mas todas as decisões relacionadas à energia são tomadas pelo governo em nosso nome. O consumidor, ao escolher de quem comprar sua energia, pode decidir pelas fontes que quer apoiar, pelo preço que poderá negociar, pelo tempo que quer contratar, e tudo isso estimula a competição e a eficiência do setor elétrico. Acreditamos que o próprio consumidor toma melhores decisões sobre a sua energia, ao invés de deixar decisões para terceiros.
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FULL: Quais serão as mudanças que as novas tecnologias trarão para o setor? MEDEIROS: A transformação digital e a adoção de novas tecnologias de geração de energia limpa, armazenamento de energia e redes inteligentes permitem o desenvolvimento de novos modelos de negócios e irão possibilitar que o consumidor de energia elétrica tenha uma participação ativa na gestão do seu consumo.
FULL: Quais as novidades tecnológicas que já estão ocorrendo ou estão por vir? Quando se tornarão realidade? MEDEIROS: A adoção de fontes de energia cada vez mais sustentáveis já é uma mudança que está ocorrendo na matriz elétrica. A energia eólica já chegou a representar 10% da geração de energia do País, por exemplo. Além disso, já estão sendo feitos avanços no âmbito de carros elétricos e armazenamento de energia. A Aneel regulamentou recentemente as regras de veículos elétricos. A micro e a minigeração distribuída, em que o consumidor gera energia na sua própria casa, também ganham, a cada dia, mais espaço. Por isso, a Abraceel apoia que esse consumidor, que é gerador de energia, poderá vender seu excedente de geração para o mercado.
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FULL: Quais são as grandes demandas que o setor elétrico brasileiro apresentou por meio de uma carta aberta aos presidenciáveis? MEDEIROS: A Abraceel não tem demanda específica por subsídios, privilégios, tratamentos especiais ou quaisquer repasses de custos aos consumidores ou contribuintes. Acreditamos que a implantação de um mercado energético aberto, sem subsídios ou privilégios, é a melhor forma de reduzir o preço da energia no país e melhorar a competitividade da economia brasileira frente aos nossos adversários no comércio mundial. Não escrevemos documentos rebuscados, cheios de eu-
“O MERCADO LIVRE TEM POTENCIAL PARA ATINGIR TODA A CLASSE RESIDENCIAL DO BRASIL. A PERSPECTIVA É QUE O MERCADO LIVRE DEIXE DE SER UM SEGMENTO DO SETOR ELÉTRICO E SE TORNE O PRÓPRIO FUTURO DO SETOR”, Reginaldo Medeiros, presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (ABRACEEL)
femismos que, em última instância, só escondem propostas para repassar custos aos consumidores e ônus aos contribuintes. Nossas propostas são simples, como: (a) dar o direito de escolha a todos os consumidores, como ocorre na maioria dos países do mundo; (b) expansão da oferta e financiamento por meio da separação de lastro e energia; (c) formação de preços por oferta e definição de preços em bases horárias. Não podemos mais continuar com um modelo intervencionista. Deve-se estimular a competição e a inovação.
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FULL: Qual o papel das energias renováveis e não renováveis dentro da nova configuração do setor no país e no mundo? MEDEIROS: Tanto as energias renováveis quanto as não renováveis são fundamentais para a diversificação de uma matriz energética. As energias renováveis vêm tomando importância por serem opções mais limpas e inesgotáveis, como o vento, além de serem impulsionadoras de novas tecnologias. Mas uma matriz que entrega confiabilidade e segurança para o sistema elétrico também deve ter fontes além das renováveis, pois são complementares.
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Trator a biometano
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O conceito simboliza a transformação energética nas propriedades rurais do Brasil, com a possibilidade de o produtor buscar sua independência de combustível
O
mais avançado trator movido a biometano do mundo foi lançado recentemente na Agrishow, maior feira de tecnologia agrícola da América Latina, em Ribeirão Preto. Desenvolvido pela New Holland Agriculture, o conceito simboliza a transformação energética nas propriedades rurais do Brasil, com a possibilidade de o produtor buscar sua independência de combustível. O desenho inovador e arrojado do protótipo complementa o motor FPT Industrial, que apresenta o mesmo desempenho da versão a diesel, com 30% de redução dos custos. “Esse protótipo é o ápice do trabalho da New Holland com Energia Limpa. Há dez anos investimos no desenvolvimento de tecnologia para a produção de alimentos de forma sustentável. Além disso, projetamos que o produtor rural possa ser o criador do seu combustível”, destaca Rafael Miotto, vice-presidente da New Holland Agriculture para a América Latina.
O novo trator conceito movido a metano oficializa o fechamento de um ciclo virtuoso que fornece uma produção neutra de CO2, em que a própria fazenda produz a energia que precisa para realizar suas operações, aquecer instalações agrícolas e fazer seus equipamentos funcionarem – conceito de Fazenda Independente de Energia. O biometano, como combustível sustentável, é particularmente adequado para fazendas, pois elas têm as matérias-primas e o espaço para abrigar um biodigestor para produzir o gás. Em condições reais de campo, o novo conceito movido a biometano produz, pelo menos, 10% menos emissões de CO2 e reduz o total de emissões em 80% em comparação com um motor padrão a diesel. Seu desempenho ambiental melhora ainda mais quando alimentado por biometano produzido a partir de restos de colheitas e resíduos de culturas energéticas de origem agrícola, o que resulta em emissões de CO2 próximas a zero.
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“HÁ DEZ ANOS INVESTIMOS NO DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA PARA A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS DE FORMA SUSTENTÁVEL” Rafael Miotto, vicepresidente da New Holland Agriculture
Carro a biometano No primeiro semestre deste ano também foi lançado um carro com tecnologia semelhante. O Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás (CiBiogás), associação de instituições públicas e privadas fundada dentro do parque tecnológico da hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, apresentou um veículo movido a biometano inédito no Brasil. Trata-se de um utilitário para movimentar insumos e materiais, que reduz até 50% dos custos e diminui - em até 70% - a emissão de gás carbônico na atmosfera, em comparação com outros combustíveis. O nome do equipamento é CH4PA, utilitário desenvolvido pelo CIBiogás, em parceria com a empresa austríaca Spirit Design, para atender especialmente às necessidades do agronegócio brasileiro. O fato de ser movido a biometano - produto do biogás, gerado por meio da transformação de dejetos diversos e resíduos industrias - é um diferencial que cai como uma luva às demandas do agronegó22
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cio brasileiro. O novo veículo recebe esse nome ao fazer referência à fórmula química do metano: o CH4, principal componente do biogás, e é totalmente adaptável às necessidades de cada local em que atua. Ao adquirir o CH4PA, o produtor pode observar um processo de reaproveitamento de toda cadeia orgânica gerada em sua unidade rural. Reutiliza-se os dejetos animais e agrícolas para produzir energia térmica, elétrica, biofertilizante e o proprio biometano, que movimentará o veículo. Tudo sendo gerado e aplicado dentro da propriedade, sendo que seu excedente pode ser vendido, gerando renda ao produtor.
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