Health-IT - 4ª edição

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Editorial

Edmilson Jr. Caparelli, Publisher

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Inovação e renovação em Health-it

m 2015, o Grupo Mídia continuou acreditando no mercado de Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde (TICSs). Com a Revista Health-IT, acompanhamos o crescimento e a evolução das empresas fornecedoras e consumidoras de eHealth. Hospitais, operadoras, instituições de saúde e provedoras de tecnologia estão, mais do que nunca, atentas à inovação. Os gestores do setor buscam nas soluções de eHealth um forte aliado para ampliar produtividade, diminuir custos, e, principalmente, ganhar competitividade e excelência para atuarem em nível global. É com este viés que entregamos a quarta edição da Health-IT. Para compor este cenário de novas tecnologias e atuação global, apresentamos um panorama das principais tendências e ferramentas tecnológicas utilizadas por instituições de saúde no mundo. Computação em Nuvem, UberHealth, Telemedicina, mHealth, Redes Sociais, estão na pauta da edição. A Health-IT, edição especial HIMMS, também antecipa parte do conteúdo que será abordado durante a segunda edição do HIMSS Latin America Conference and Exhibition. O evento que ocorre em novembro, no Brasil, reunirá as principais lideranças e especialistas em TICSs do setor. Em 2016, o Grupo Mídia continuará investindo nas Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde, em mais um ano repleto de novidades. Além das quatro edições da revista, que será reformulada para agregar cada vez mais valor ao mercado provedor e consumidor de eHealth, apresentaremos ao mercado o Prêmio e Fórum Health-IT. O objetivo é nos aproximarmos ainda mais da cadeia produtiva e manter esse elo de comunicação cada vez mais forte. Já a revista passará a contar com articulistas renomados e ampla cobertura nacional e internacional, trazendo estudos de caso, tendências e oportunidades em eHealth. A Health-IT é uma revista de ideias e negócios e é direcionada aos tomadores de decisão do setor de saúde. Sejam os CIOS, CEOS, CFOS, bem como os diretores e gestores de tecnologias da informação que atuam nos setores público e privado. A unidade de TI em saúde do Grupo Mídia continuará focada em levar informação de qualidade, ideias inovadoras e forte networking entre os players do setor. Boa Leitura.


Sumário

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Planejamento em tempos de crise

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Adesão médica às transformações tecnológicas

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Hospitais Inovadores

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Uberização médica


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Artigo Tiago D. Felipe

Computação em nuvem

42 62 mHealth e o poder das redes sociais

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Artigo Paulo Magnus

O impacto da telemedicina na gestão clínica


.net

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A saúde em tempo real

Venture capital em eHealth

Dados da empresa de funding Rock Health mostram que até agosto de 2015 os investimentos de risco (Venture Capital) no setor de eHealth dos EUA foram superiores a US$ 3,3 bilhões, já ultrapassando no terceiro trimestre o melhor ano da história (2014). A dimensão média das operações de investimento nos EUA em Digital Healthcare foi de US$ 15,8 milhões até agosto deste ano. Os investimentos totais em venture capital no mercado norte-americano de eHealth em 2014 foram superiores a US$ 4,3 bilhões. As seis principais categorias a receber investimentos foram: (1) Healthcare Consumer Engagement (B2B e B2C); (2) Wearables and Biosensing ; (3) Personal Health Tools and Tracking; (4) Analytics and Big Data; (5) Telemedicine; (6) Payer Administration.

Como é a nova geração de profissionais da Saúde? O futuro do tratamento de doenças crônicas, a acessibilidade aos dados na hora certa, com agilidade e segurança. Estes foram alguns temas debatidos durante do SAP Personalized Medicine Symposium, evento promovido pela SAP em seu escritório de Palo Alto, California. O Saúde Online foi até lá e conferiu de perto o que especialistas pensam a respeito do poder da tecnologia em melhorar o tratamento do câncer, e também como algumas ferramentas auxiliam na prevenção de doenças infecciosas, como o caso do ebola, na África. O evento contou com a presença de Bill Mcdermott, CEO da SAP, que falou sobre a importância da tecnologia em aproximar pacientes e médicos. Mais informações e vídeos sobre o evento você confere na seção Saúde Online TV.

Confira o vídeo no Saúde Online TV http://goo.gl/eZRlW7

Telemedicina e telehealth Já o setor global de Telemedicina e TeleHealth deve sair dos US$ 17,8 bilhões de 2014 para US$ 28,9 bilhões em 2019, segundo a consultoria Mordor Intellingence, publicado em outubro no relatório “Global Telemedicine Market (2015-2019)”. Trata-se de um crescimento de 18,6% no período, sendo que as verticais que mais alavancam esse crescimento são as áreas de telepatologia, telerradiologia, teledermatologia e telepsicologia. As inúmeras possibilidades de teleconsulta, com acesso remoto entre médicos e pacientes, também tem turbinado o setor, provocando uma enxurrada de startups nessa direção (software, hardware e serviços). Entre os fatores sociais que injetam força ao crescimento da telemedicina está o envelhecimento da população e o aumento da demanda por tratamentos residenciais, principalmente nos países da Europa. Também na Ásia é crescente o uso do Telemonitoramento remoto.

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Papo de CIO

Planejamento em tempos de crise


Os executivos de TI David Oliveira e Valter Ferreira da Silva falam sobre como o planejamento e avanços tecnológicos podem salvar instituições da crise Que estamos vivendo tempos difíceis, todo mundo já sabe. A turbulência econômica bateu na porta de todos os setores e na Saúde não está sendo diferente. Diante disso, fazemos a seguinte pergunta: como o planejamento e avanços tecnológicos em TI podem ajudar as instituições a superar a desaceleração econômica? Quem responde a essa questão é o Gerente Corporativo de TI do Sepaco, David Oliveira; e o Coordenador de Gestão da Tecnologia da Informação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Valter Ferreira da Silva.

or todo lado só se fala em desaceleração econômica. Mas, de fato, qual seu impacto ou como poderia ter sido evitado? Há muitos especialistas para explicar isso, então, vou apenas me aventurar em dizer como os avanços em TI podem ajudar essas empresas a enfrentar essa fase da economia. A provocação que fica no atual cenário econômico é de perguntar como deixamos chegar a esse ponto. A reposta é óbvia: falta de controle. Outro dia ouvi de um colega financeiro que, o que mede a saúde de uma empresa é o caixa. Se você olhar simplesmente o balanço econômico poderá errar feio. Por isso investidores sempre querem saber da saúde financeira da empresa antes de realizar qualquer investimento e quem diz se a saúde está boa ou não é o caixa. Quando olhamos para administração de uma empresa, vemos o “Board” sendo bombardeado por informações de todas as áreas ou filiais o tempo todo, isso acontece constantemente. Agora imagine se toda essa informação chega desencontrada e de

diferentes fontes, em seguida sendo preciso conciliar toda essa informação. Ao final você percebe que poderia ter tomado decisões diferentes se esta mesma informação chegasse organizada por um sistema de inteligência de negócio ou até mesmo um sistema analítico de informações. Não é difícil encontrar nos dias de hoje executivos tomando decisões baseado no que eles chamam de “feeling”, ou em português “sentimento”. O que dita se você está no caminho errado é o tempo que você leva para observar o fato. Essa velocidade de informação para tomada de decisão não vem fácil, é preciso ter uma área de Tecnologia de Informação madura e atenta ao negócio. Observe as grandes indústrias financeiras transformando milissegundos em dinheiro, isso é o que define uma TI madura. Quanto tempo seu “Board” leva para saber o que se passa na operação? Essa resposta deve acontecer em menos de um minuto. Quem detém informação, detém a estratégia.

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David Oliveira, Gerente Corporativo de TI do SEPACO

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Papo de CIO

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documentos que anteriormente era necessário imprimir, assinar, guardar e circular fisicamente pelo hospital integrados ao prontuário em papel. No final de 2013, decidimos pela migração total de nosso Office Automation para a nuvem pública. Em parceria com a Ilegra, executamos um projeto extremamente desafiador de transição das soluções locais, para solução 100% cloud. Atualmente e-mails, editores de texto, planilhas, armazenamento de dados corporativos, mensagens instantâneas e rede social corporativa, sítios departamentais, formulários, fóruns de discussão, webconferências etc., são disponibilizados exclusivamente em nuvem, tendo reduzido significativamente os custos com infraestrutura e gerenciamento. Estamos também investindo em conceitos como Plataforma e Infraestrutura como Serviço (Paas e IaaS), com previsão de, ainda em 2015, passar a rodar na nuvem os ambientes de Desenvolvimento, Homologação e Pré-Produção (Stage). Dessa forma, equilibrando planejamento, ousadia e inovação, temos buscado o fortalecimento necessário para transpor os desafios econômicos, mantendo a TI alinhada, necessária e contributiva com a estratégia corporativa.

“A

evolução da TI tem sido gigantesca, atingindo todos os setores, inclusive o da saúde, possibilitando a organização dos processos e tornando os serviços prestados aos clientes mais humanos, integrais e individualizados. No HCPA (Hospital das Clínicas de Porto Alegre) não é diferente. Toda a história de construção do modelo de gestão HCPA, baseado em seu sistema informatizado, cruzou várias das últimas décadas, permeada por momentos altos e baixos da economia nacional. Para fazer frente aos muitos desafios já transpostos, a exemplo do atual momento de desaceleração econômica que estamos vivenciando, fez-se necessário buscar permanentemente o equilíbrio entre o planejamento de médio e longo prazo e a ousadia em investir em tecnologias inovadoras. Algumas iniciativas adotadas ao longo do tempo, juntando inovação, redução de custos, otimização de processos e resultados estratégicos foram possíveis. Por exemplo, o BYOD/BYOT que estão em alta. Desde a década passada, época em que ainda não se falava nisso, já adotávamos no HCPA o “traga seu próprio dispositivo”. No ano de 2005 lançamos a primeira versão de nosso prontuário eletrônico móvel multiplataforma, sob o nome de AGH-MOBILE. O aplicativo, compatível com os principais “handhelds” e “palmtops” disponíveis à época, possibilitava aos profissionais de saúde trazerem seus próprios dispositivos pessoais e interagirem com as informações de seus pacientes, à beira do leito. Em 2012 lançamos um novo aplicativo, com roupagem atualizada e novo nome: PEP-MÓVEL, disponível nas lojas eletrônicas Apple e Android, possibilitando consultar e registrar informações no Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), no âmbito da rede sem fio do HCPA, reduzindo custos, agilizando processos e, principalmente, aumentando a segurança do paciente. Também utilizamos assinatura digital nos documentos do prontuário. Todos os profissionais médicos, no momento da contratação, recebem do Hospital um Certificado Digital e-CPF ICP-BRASIL A3, e com ele passam a assinar digitalmente os

Valter Ferreira da Silva, Coordenador de Gestão da Tecnologia da Informação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre



eDOCTOR

Adesão médica às transformações tecnológicas Fatores culturais e custos ainda são obstáculos à inovação em saúde. Entretanto, a resistência de profissionais à adesão das TICSs tem diminuído 12 12


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m 2010, mais de 105 médicos de cuidados primários dos EUA, alocados em três diferentes instituições médicas, começaram a compartilhar suas anotações clínicas com seus pacientes. Apoiado pela Fundação Robert Wood Johnson e outras instituições, o OpenNotes foi criado como um estudo para avaliar a aceitabilidade dessa nova forma de relacionamento, no qual médicos e pacientes compartilham os dados clínicos. Perto de 19 mil pacientes participaram do programa, tendo as organizações hospitalares Beth Israel Deaconess Medical Center (Boston), Geisinger Health System (Pensilvânia) e Harborview Medical Center (Seattle), como guardiões dos objetivos do projeto. A maioria dos pacientes do estudo escolheu ler suas anotações através de um Portal com altos níveis de segurança e privacidade, relatando os benefícios dessa nova proposta. Depois de uma consulta, o médico assinava eletronicamente uma mensagem notificando o paciente que as suas anotações estavam disponíveis no portal. Após fazer o login, o usuário entrava no site e lia os dados anotados pelo médico. Antes da consulta seguinte, outra mensagem do médico incentivava o paciente a rever suas anotações de modo a ser preparar para o encontro. Após 12 meses, 99% dos pacientes queriam continuar a ter acesso às anotações clínicas (on-line) e nenhum dos médicos decidiu interromper a prática. Alguns resultados do projeto são interessantes para rastrear a efetividade do programa: (1) 80% dos pacientes abriram pelo menos uma vez as anotações; (2) mais de 2/3 relataram compreender melhor a sua saúde

e as suas condições médicas, cuidar melhor de si, ingerir seus medicamentos com maior rigor, ou sentir-se mais no controle de sua Saúde; (3) de 1 a 8% ficaram confusos, preocupados ou ofendidos com o que leram; (4) cerca de 20% compartilharam uma anotação com outra pessoa; (5) mais de 85% relataram que as anotações do médico iria influenciar a escolha de novos fornecedores. Por parte dos médicos, apenas 3% relataram passar mais tempo respondendo as perguntas dos pacientes fora do ambiente de consulta, sendo que 11% gastaram mais tempo escrevendo ou editando anotações. Cerca de 20% relataram que o programa os ajudou a mudar a maneira como escrevem sobre o câncer, saúde mental, abuso de substâncias, ou obesidade. Com base nesses resultados, as instituições participantes decidiram expandir os serviços do OpenNotes para todos os seus ambulatórios, bem como para toda a rede de cuidados de primary care. No Beth Israel Deaconess Medical Center, um grande hospital de ensino, 85 mil pacientes agora podem ver as anotações de seus médicos (on -line). No Geisinger, um sistema rural integrado de saúde, 220 mil pacientes já acessam suas anotações e no Harborview Medical Center mais de 128 mil têm acesso a seus registros. Outras instituições nos EUA seguiram a mesma direção, tais como: Mayo e Cleveland Clinics, Dartmouth-Hitchcock Medical Center, MD Anderson Cancer Hospital, Kaiser Permanente Northwest e o Group Health Cooperative. Resultado: até dezembro de 2014, quase 5 milhões de pacientes nos EUA já tinham acesso on-line às suas anotações médicas. Um sucesso, sem dúvida. 13 13


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Adesão médica Ocorre que dos quase 300 médicos convidados a participar do projeto original, 143 rejeitaram a ideia, sendo que só 105 aceitaram ser voluntários. Se a boa notícia é que uma parcela dos médicos já entende a necessidade de aderir às novas tecnologias, não tão bom é o recado de que ainda existe muita rejeição. Há pouca coisa a fazer diante dessa forma de pensar. Médicos utilizam as tecnologias de acordo com sua conveniência e desde que isso não coloque em risco seu modelo funcional de lidar com os pacientes. Todos estão prontos a solicitar exames de última geração, por exemplo, realizados em equipamentos cuja tecnologia eles enaltecem e utilizam. Todavia, quando são convidados a empregar o Registro Eletrônico de Saúde (RES) em suas atividades diárias, a rejeição é sistêmica. Um esforço para que médicos e demais profissionais de Saúde utilizassem o RES (EHR-Electronic Health Records) nos EUA foi feito pelo Congresso, quando aprovou em 2009 a Health Information Technology for Economic and Clinical Health Act (HITECH). A lei previa tanto incentivos como sanções para incentivar a adoção generalizada dos EHRs. Embora médicos e corporações tenham avançado no uso, ainda existem resistências colossais. Em dezembro de 2014, os Centers for Medicare and Medicaid Services (CMS), uma autarquia ligada à Secretaria de Saúde do Governo norte -americano, anunciou que 257 mil médicos não conseguiram alcançar o chamado “meaningful use” (uso significativo) dos EHRs e, portanto, teriam suas remunerações por serviços prestados ao Medicare (sistema gerido pelo governo, destinado às pessoas de idade igual ou superior a 65 anos) reduzidas em 1%, em Janeiro de 2015. Segundo a Associação Médica Americana, essa quantidade de profissionais é mais do que a metade de todos os médicos cobertos pela lei HITECH. No início, o programa HITECH forneceu fundos públicos para que os prestadores de servi14

ços médicos pudessem investir em soluções de EHR, apoiando financeiramente a adoção do prontuário médico digital. Essa carga de incentivos permanecerá até 2016, mas as sanções não deixarão de ser aplicadas: redução de 1% em 2015, subindo para 5% ao longo de cinco anos. Trata-se de uma “dentada” poderosa na receita dos médicos que não aderem ao programa. Por outro lado, muitos profissionais reclamam de várias inconsistências do HITECH, como também vociferam contra as ferramentas de EHR, as quais são “convidados” a utilizar. Reclamam da sua praticidade, do tempo que lhes toma para inserir os dados, da lentidão de alguns sistemas, da falta de funcionalidade de certas aplicações, das exigências protocolares de segurança e privacidade (senhas de acesso, certificação digital, etc.) e reclamam, acima de tudo, que a prática médica está sendo preterida em função do controle digital dos dados do paciente. Sem falar das reclamações não declaradas, como, por exemplo, que os EHRs expõem sua habilidade profissional, audita


sua tomada de decisão clínica e abre uma porta para avaliação de sua competência médica. O presidente da Associação Médica Americana, dr. Stephen Pilha, expressou consternação com a notícia de que 257 mil médicos seriam penalizados em 2015. “O programa se destinava a aumentar o uso da tecnologia por parte dos médicos, e também para ajudar a melhorar o atendimento e a eficiência. Infelizmente, o rigoroso conjunto de one-size-fits-all (solução única para todos) falha para médicos e para os pacientes”, explicou Pilha em um comunicado oficial. Para a AMA, os requisitos cobrados “estão impedindo a maior participação no programa, forçando os médicos a adquirir e usar EHRs caros, com má usabilidade e que interrompem o seu fluxo de trabalho, criando frustrações significativas que interferem na assistência ao paciente, além de impor um fardo administrativo adicional”. Por outro lado, Twila Brase, presidente do Citizens’ Council for Health Freedom (organização independente que protege os interesses dos cidadãos com relação à Saúde), entende os requisitos de “meaningful use” como uma forma do governo desempenhar um papel mais atuante no controle direto dos cuidados médicos prestados no país. “Se você necessita controlar o Sistema de Saúde em sua interidade, do que você precisa?”, perguntou Brase. Ela responde: “Você precisa saber o que os médicos estão fazendo, precisa decidir em cima do que eles fazem, e precisa, portanto, de um sistema eletrônico de registros para tomar as decisões”. A história do HITECH está apenas começando, com desdobramentos complexos para os próximos anos. Algumas empresas de TICSs (provedores de EHRs) e prestadores de serviços médicos aproveitaram os incentivos e desenvolveram aplicações absurdamente complicadas, erráticas e sem o mínimo de consulta aos médicos que as iriam utilizar. Mas, com o tempo, passaram a ser uma minoria, sendo que boa parte do mercado já avança na direção de utilizar cada vez mais o EHR, com a qualidade das aplicações em uma espiral crescente.

Cultura obsoleta

Mas, afinal, porque os médicos rejeitam o prontuário eletrônico? Por que os profissionais de Saúde são resistentes em utilizar as soluções de eHealth no seu dia a dia? Por que a inovação chega tão lentamente ao cotidiano da prática médica? Não faltam explicações, nem contornos que balizam o corolário de justificativas para essa rejeição. Muitas delas são perfeitamente aceitáveis, outras estão perdendo força a partir da própria prática diária dos médicos com a inovação. Mas a maioria ainda é absurda. Defender o uso do prontuário em papel com argumentos como é “mais fácil e prático de utilizar”, “não exige horas de treinamento em computação” e outras bizarrices dessa natureza não se justificam em pleno Século XXI. Um dos graves problemas para adoção do RES e de outras tecnologias inovadoras é a interoperabilidade. Sistemas não conversam com outros sistemas como deveria conversar. Esse é um impedimento real: se um médico atua em três ou mais hospitais, com diferentes modelos de RES (desenvolvidos por fornecedores diferentes), é ilusório pensar que ele possa aprender a todas as funcionalidades de todas as aplicações. O mesmo ocorre com a prescrição médica eletrônica, com cada hospital utilizando a sua e não abrindo mão de integrar seus dados com seus competidores. Embora já existam padrões seguros e claros de integração sistêmica (padrões de interoperabilidade), que cada software deveria seguir quando no desenvolvimento da solução, na prática as coisas não funcionam bem assim. Cada fornecedor (ou hospitais que desenvolvem suas próprias aplicações) não se sente confortável em “abrir as portas” de sua aplicação aos seus concorrentes, provendo integração. O mesmo se dá com os aplicativos em mHealth. Centenas deles surgem a todo instante, mas seu grau de data exchange é difícil e raro. Assim, o usuário tem um app para controle nutricional, que não “fala” com o seu aplicativo de dietoterapia, que não se comuni15


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ca com o app de gestão de diabetes, que, por sua vez, não possui qualquer troca de dados como o PHR (Personal Health Records) utilizado pelo usuário. O que dizer então dos apps para os médicos, que lidam com dezenas de disciplinas clínicas simultaneamente? Uma babel, que vem sendo mitigada a medida que um mesmo fornecedor passa a disponibilizar inúmeros tipos de aplicativos em mHealth, o que ocorre, em geral, pela fusão ou aquisição de pequenos fornecedores. É pouco provável que com o advento da computação em nuvem esses problemas de interoperabilidade não sejam reduzidos. Afinal, com um mercado consumidor gigantesco fica difícil imaginar que fornecedores, consumidores, financiadores, Estado e demais players da Cadeia de Saúde deixem de se entender. Em pleno Século XXI, a medicina ainda é uma prática fortemente vigiada, sendo que em alguns ambientes mais parece uma sociedade secreta, com juramento, rígidos protocolos, diretrizes legalistas, códigos de bioética, níveis filtrados de comunicação entre médicos e pacientes, etc. Médicos são informados sobre as atualidades clínicas através de seminários, medical journals, revistas especializadas, reuniões intrapares e outras formas fechadas de troca de informações. Cada nova abordagem proposta é avaliada e reavaliada em relação a algum método comprovado, passando por vários conselhos (parecidos com o “conselho de anciãos” do Século XIX) que aprova ou não a sua utilização. Só depois de uma longa e exaustiva peregrinação alguma inovação clínica-médica recebe o apoio da comunidade. Certamente existe uma fundamentação lógica para esse rigor e não poderia ser diferente. Afinal, a ciência médica é hoje (muito mais do que no passado) a ancora central da Saúde e do bem-estar da civilização. Contrastando com esse ambiente, o universo da tecnologia é uma equação totalmente liberal, com pouquíssimas restrições, que caminha 16

a uma velocidade não limitada, cujo desenvolvimento não segue regras ou protocolos. A única regulação é dada pelo usuário, que pode explodir o seu consumo ou decretar a sua obsolescência. A partir da segunda metade do século passado o universo tecnológico foi se aproximando da medicina, sendo que hoje ambas caminham quase na mesma velocidade. Tecnologia e Ciência Médica criaram um pacto informal que sempre nos parece ensaiado. O sincronismo passou a ser tão natural, que talvez já não saibamos separar uma da outra, sendo que em alguns ambientes passaram a ser sinônimos. Como é possível desassociar, por exemplo, a tecnologia móvel da prática médica?


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Houve um tempo em que a Ciência Médica “puxava” as tecnologias de informação e comunicação, hoje acontece ao contrário. Cada vez mais as TICSs abrem espaços para novas práticas médicas, novos modelos de tratamento, formas de diagnóstico à distância, modelos e procedimentos hospitalares que melhoram a qualidade do atendimento e reduzem os custos, melhores possibilidades de desenvolver predição, prevenção e promoção da Saúde,

e muitos outros vetores assistenciais turbinados pelo arsenal eHealth. O chamado eDoctor, aquele profissional que incorporou em sua prática médica as TICSs, ainda é visto com desconfiança pelo próprio Conselho Federal de Medicina, que em sua Resolução nº 1974/2011 desaconselha (ou proíbe) que médicos realizem consultas à distância (se quer por telefonia fixa). Mas não há forma de impedir essa aderência. Os exemplos de adição de valor no trabalho médico são claros, e se tornam cada vez mais notáveis. Outro fator inibidor é a pressão que os financiadores da Saúde Suplementar (Seguradoras, Planos de Saúde, Cooperativas, etc.) exercem sobre os médicos no sentido de reduzir as práticas médicas que utilizam a tecnologia como sustentação. Essa é uma daquelas meias-verdades que dançam na mente de muitos gestores da Saúde. Jonathan S. Skinner, economista e professor da Dartmouth College e da Geisel School of Medicine, publicou artigo na MIT Technology Review (“The Costly Paradox of Health-Care Technology”), explicando que existem vários tipos de tecnologia, e que algumas encarecem mais os tratamentos do que outras. Mas, quando queremos quantificar a utilização tecnológica para produzir relatórios de relação custo/benefício usamos as tecnologias mais caras. Para Skinner, existem três “gavetas” para tratamentos clínicos, classificadas de acordo com o seu benefício para a saúde por dólar gasto. A primeira categoria de tecnologias inclui, por

CUSTO X BENEFÍCIO Não é somente a “tecnologia” que está dirigindo os crescentes custos em Saúde, mas sim o tipo de tecnologia que é desenvolvido, adotado, e, em seguida, difundido através de hospitais e consultórios médicos. Quem acaba ficando com a pecha de “gastadora” é a tecnologia como um todo, sendo a inovação a grande vilã dos altos custos do setor. Cresce o consenso de que a inovação em Saúde será também uma forma para se ter o equilíbrio entre custo x benefício.

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eDOCTOR exemplo, antibióticos para infecção bacteriana, ou um elenco de procedimentos simples para vários tipos de fratura, ou a utilização de aspirina e betabloqueadores para pacientes com ataque cardíaco. Nem todos esses tratamentos são baratos (medicamentos antirretrovirais, para pessoas com HIV, podem custar US$ 20.000 ao ano), mas eles fazem parte da “corrida tecnológica” e mantêm os pacientes vivos, ano após ano, não produzindo impacto significativo no crescimento das curvas de custeio. A segunda categoria de tecnologias inclui procedimentos cujos benefícios são substanciais para alguns pacientes, mas não para todos. A angioplastia, por exemplo, utilizada para aliviar os vasos sanguíneos bloqueados no coração, é dirigida a pacientes tratados por ataques cardíacos nas primeiras 12 horas, sendo eficazes em termos de custos. Todavia, muitos pacientes (aconselhados por médicos, é claro) utilizam o procedimento de imediato, mesmo quando a situação para seu uso é pouca clara. Sistemas de Saúde, notadamente nos EUA, compensam generosamente a angioplastia, sendo ela utilizada corretamente ou não. O valor médio dessa inovação como benefício para a saúde por dólar gasto caminha em direção a zero. Para o economista, a terceira categoria tecnológica inclui tratamentos cujos benefícios são pequenos ou são apoiados por pouca evidência científica. Nessa categoria, estão os tratamentos cirúrgicos de alto custo, como a fusão espinhal para dor nas costas, ou os aceleradores de prótons para tratar câncer de próstata, ou tratamentos agressivos para pacientes com 85 anos ou mais que sofrem de insuficiência cardíaca, etc. As evidências sugerem que o valor desses tratamentos dificilmente poderá ser comparado com as alternativas mais baratas. Na dúvida eles são utilizados, sendo que muitas vezes para conforto do médico (que não está disposto a arriscar em alternativas mais baratas). “No entanto, se um hospital constrói um acelerador de prótons de 150 milhões de dólares ele terá todos os incentivos para usá-lo tão frequentemente quanto possível. E os hospitais estão se carregando cada vez mais com essas tecnologias; o número de aceleradores de prótons nos Estados Unidos está aumentando rapidamente”, explica Skinner. 18

Panorama nacional No Brasil, a pressão para que médicos contenham sua caneta na direção de tecnologias caras é brutal. Diferente dos EUA, nossos Sistemas Público (SUS) e Privado (Suplementar) têm enormes dificuldades para repassar custos ao consumidor final. Sobra para o médico a tarefa de filtrar a inovação tecnológica, e isso acaba fazendo parte de seu “DNA funcional”. Só os pacientes que se beneficiam de planos de Saúde alocados no topo da pirâmide têm “alvará” para utilizar qualquer tecnologia médica. Os demais, como os pacientes do SUS, por exemplo, são espremidos entre o “necessário e o possível”. Esse entrave, causado pela pressão das fontes pagadoras, inibe que médicos utilizem as tecnologias de informação e comunicação em Saúde, e quando não inibe, para conveniência individual ou da comunidade médica, formam um formidável álibi para procrastinar o uso tecnológico na prática médica. Estamos, portanto, diante de dois mundos: (1) os médicos que querem usar e acreditam que as TICSs melhoram o seu trabalho, mas que são pressionados a não fazê-lo; e (2) aqueles (maioria) que não acreditam no potencial tecnológico, ou que se sentem ameaçados por ele, ou mesmo que não tem paciência para aplicar em seu cotidiano um Registro Eletrônico de Saúde, por exemplo, e que se escamoteiam atrás de discursos sobre segurança, privacidade e bioética. O que importa é que não existe qualquer tipo de saída para melhorar a prática médica fora do universo das Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde. As alternativas já se demonstraram impraticáveis (como repasse de preços). A gestão da Saúde depende do médico, e este dependerá cada dia mais das TICSs.


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UP-TO-DATE

Hospitais Inovadores

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Da incorporação tecnológica à melhoria de processos. As parcerias, resultados e experiências bem-sucedidas dos hospitais mais inovadores do mundo

O

s custos com a Saúde e o avançado ritmo das novas tecnologias têm colocado os hospitais à frente da demanda. Em muitos casos são eles que promovem o desenvolvimento das inovações motivando o mercado fornecedor, principalmente através das empresas empreendedoras (startups), a resolver os problemas que atrapalham sua missão e seu gerenciamento. Na prática, impõem a demanda e esperam as ofertas do mercado. O resultado é a proliferação de milhares de pequenas e médias empresas desenvolvendo soluções para um ávido mercado hospitalar consumidor. No mundo, não faltam parcerias e experiências bem-sucedidas. Um exemplo é o da NXT Health, empresa sediada em Nova York, que atendendo a uma demanda do Departamento de Defesa dos EUA foi incumbida de descobrir como será o quarto hospitalar do futuro. Junto com a Clemson University’s, eles cunharam o projeto “Patient Room 2020”. O principal desafio é incorporar avanços tecnológicos de uma maneira que a experiência de médicos, pacientes e assistentes possa ser melhorada, facilitando o trabalho dos cuidadores e oferecendo, ao mesmo tempo, conforto e segurança aos pacientes. Uma das soluções apresentadas foi uma pia controlada por sensores que incentivam os profissionais de Saúde a lavarem as mãos. Quando uma enfermeira, por exemplo, entra no quarto a pia fica vermelha, lembrando aos profissionais que as mãos devem ser higienizadas. Depois da lavagem a luz (pia) volta a ficar verde. Todo esse conjunto é controlado por um sistema que afere os “infratores”. Os funcionários podem também utilizar um multitask, um tablet dentro do quarto que mostra a programação de cuidados de cada paciente (passada e futura).

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Da mesma forma, atendendo uma solicitação de um grupo de hospitais preocupados com a melhoria do atendimento 24x7 (em geral só utilizados em pacientes em estado crítico), a Hoana Medical, sediada no Havaí, desenvolveu o Lifebed. Trata-se de uma cama que conta com inúmeros sensores ativos (sem qualquer fio, cabeamento ou eletrodo) que acompanha os sinais vitais do paciente (respiração, batimento, pressão, etc.). Quando ocorre um sinal fora dos padrões de conformidade, o sistema emite um sinal de alerta, que imediatamente avisa várias unidades que controlam a assistência. O “leito inteligente” é capaz de monitorar também a mobilidade do paciente quando ele se levanta e sai do leito. Imediatamente o sistema alerta a enfermagem, evitando os inúmeros eventos de quedas, uma ocorrência que não só prejudica o paciente como também o custeio do hospital. 22

TECNOLOGIA PARA SEGURANÇA DO PACIENTE Um grande esforço tecnológico está sendo feito para reduzir as quedas de pacientes internados. De acordo com a Agency for Healthcare Research and Quality, que investiga os problemas de segurança na assistência à saúde, entre 700 mil a 1 milhão de pacientes sofrem quedas nos hospitais norte-americanos. Esses incidentes resultam geralmente em fraturas, lacerações ou hemorragia interna, levando a inúmeras complicações posteriores. Relatório da Joint Commission Center for Transforming Healthcare mostra que, em média, essas quedas podem adicionar 6,3 dias ao custo de internação hospitalar. Ocorre que nem sempre a solução do problema passa só pela “educação” do paciente durante a sua internação. Outra pesquisa, desta vez da University of Texas Medical School, descobriu que os programas tradicionais de prevenção de tombos (incluindo a educação do paciente, utilização de andadores, etc.) podem não reduzir as taxas desse tipo de acidente.


Número 1 em inovação Um exemplo importante e inovador para mitigar o problema da queda de pacientes internados foi implantado pelo El Camino Hospital, localizado em Mountain View, Califórnia (EUA). Como um dos mais inovadores hospitais do mundo (número 1 no ranking Top Master’s In Healthcare Administration, que classifica os hospitais tecnologicamente mais avançados do planeta), ele embarcou em dezembro de 2014 em uma missão desafiadora e voltada à segurança do paciente: o desafio de zero quedas. Utilizando um sistema de análise prescritiva (analyticsMD), que obrigou o hospital a se reinventar em termos de comunicação, educação, fluxo operacional e tecnologias inovadoras de controle, eles reduziram em 39% o número das quedas de pacientes, atingindo esse percentual em apenas seis meses. A plataforma antiquedas utilizada (Patient Falls Prevention Plataform) introduziu um novo método proativo de prevenção. Sistemas sofisticados avaliam em tempo real dados de várias fontes (por exemplo, sensores que controlam o botão de chamada da enfermagem no quarto, o movimento cama, etc.). Algoritmos avançados preveem exatamente quais pacientes estão em risco iminente, sendo que as equipes de cuidados são alertadas através de dispositivos de comunicação sem fio (Vocera). Medidas imediatas são tomadas evitando as quedas, produzindo uma prevenção pontual. Ou seja, feita no paciente certo e na hora certa. Outra demanda comum em qualquer hospital é a punção venosa do paciente, efetuada em geral pela enfermagem. Muitas vezes (não importando muito o quão competente é o profissional) essa operação fica prejudicada pela dificuldade dos enfermeiros em estabelecer um bom acesso venoso. Não importa se ele está instalando uma linha EV, ou fazendo coletas de sangue, “estourar” uma veia é um problema comum, indesejável e desconfortável para o paciente, sem falar nos problemas colaterais que podem surgir (transfixação da veia, por exemplo). A Evena Medical, outro exemplo de pequena empresa, foi atrás da

solução. Trata-se de uma companhia do Vale do Silício, fundada a menos de quarto anos, que inventou o Eyes-On Glasses, um óculos movido a bateria que permite aos profissionais de Saúde verem através da pele do paciente. Essa visão vascular facilita a inserção da agulha no local correto (veia) evitando os incidentes danosos. Não faltam ideias, inovações e empresas dispostas a ocupar espaço no fértil terreno hospitalar. É sempre bom lembrar que inovações não são necessariamente técnicas ou tecnológicas. Muitas transformações e novos modelos de gestão estão alicerçados em conceitos culturais, comportamentais e operacionais (fluxo de processos, por exemplo) que requerem uma visão inovadora das soluções. Não poucas vezes, a tecnologia aportada pode fracassar se essa engenharia organizacional não estiver convergente com boas práticas gerenciais. É necessário diferenciar um (1) hospital inovador de um (2) centro inovador de medicina. O primeiro produz valor através da gestão do paciente, utilizando mecanismos organizacionais e plataformas tecnológicas capazes de atender as demandas do paciente. Sua visão inovadora vai desde suas instalações físicas, passando por seu modelo de atenção patient-centered, incorporando elementos digitais de comunicação interna e externa, até chegar a prover ao corpo clínico um arsenal tecnológico-logístico-digital capaz de melhorar a assertividade dos diagnósticos e tratamentos. No Século XXI, um Hospital Inovador concentra-se fortemente na conectividade, em seus sistemas de controle administrativos (ERP, Business Intelligence, etc.), em sua engenharia de processos (flexível e capaz de se ajustar rapidamente as demandas operacionais) e no conjunto de ferramentas eletrônicas que viabilizam a gestão clínica do paciente (Registro Eletrônico de Saúde, Prescrição Eletrônica, Gestão Digital de Medicamentos, Sistemas de Suporte a Decisão, etc.). Junte-se a essa cesta de elementos operacionais a nevrálgica e indispensável infraestrutura, que hoje é tão ou mais importante que um leito hospitalar. 23


UP-TO-DATE Já um Centro Inovador de Medicina está centrado na pesquisa e no desenvolvimento das ciências médicas. Seu núcleo de atenção é promover ensaios, projetos de controle epidêmico, estudos acadêmicos e outras pesquisas que possam sustentar grandes saltos científicos. Seu foco são as orientações e análises de efeito-causa na área farmacológica e em inúmeras outras verticais da pesquisa médica. Sua inovação é científica e patológica, seu eixo de promoção é viabilizar meios, investimentos e instalações à comunidade médica centrada na pesquisa clínica. Seu embasamento será quase sempre nuclearizado nas funções acadêmicas. Não à toa, grande parte dos hospitais inovadores na área médica está direta ou indiretamente ligada às Universidades. Nos grandes centros hospitalares das nações do G20 existem muitos ambientes que acumulam as duas linhas de inovação (1 e 2), onde Hospitais Inovadores são ao mesmo tempo grandes Centros de Inovação Médica. A Mayo Clinic (EUA), por exemplo, com 150 anos de atuação hospitalar, possui um avançado centro de investigação médica dividindo espaço com uma das mais modernas instituições hospitalares do mundo. Ao mesmo tempo em que produz pesquisa médica no tratamento do câncer, por exemplo, possui uma arquitetura tecnológica de atenção ao paciente invejável. Enquanto sua pesquisa genômica é reconhecida mundialmente, seu modelo de medicina personalizada é inspirador para vários países. Richard S. Zimmerman, professor de neurocirurgia da Mayo, explica essa simbiose: “As necessidades dos pacientes conduzem a nossa pesquisa. Como os 24

médicos tratam os pacientes e percebem oportunidades para o avanço assistencial, eles trabalham em conjunto com os cientistas da Mayo para desenvolver ferramentas de diagnóstico, medicamentos, dispositivos, novos protocolos e outras inovações”. O Wooridul Spine Hospital, em Seul, Coreia, por exemplo, é um dos mais inovadores do mundo. Fundado em 1982, seu eixo clínico é o tratamento das patologias centradas na coluna vertebral. O Wooridul administra uma rede de mais de 10 unidades em todo o país, sendo elas equipadas com sistemas de navegação cirúrgica, que são assistidos por computador. Possui um dos mais altos níveis de informatização hospitalar do país, sendo pioneiro em utilizar o Spinal Micro Therapy, que combina o raio X e a ressonância magnética, permitindo ao médico observar vistas seccionadas da coluna vertebral. Essa observação apoia a decisão médica sobre uma intervenção cirúrgica de forma rápida e com alta segurança. O hospital segue a filosofia MIST (minimally invasive surgery and technique), esforçando-se para destruir o mínimo possível do tecido saudável. O Wooridul International Patient Center, fundado em 2006, possui uma estrutura tecnológica de cuidados one-stop, que através de um sistema de Medical Call Center (24 hs – on-line) permite aos potenciais pacientes fazer contato remotamente como um centro de diagnóstico (teleconsulta), onde expõem seus problemas, suas dores, desconfortos, histórico clínico, incluindo discussões detalhadas sobre procedimentos, custos e hospitalização. A organização é acreditada pela Joint Commission International.


Diagnóstico high-tech Em todo o mundo, mais 13 milhões de pessoas são diagnosticadas com câncer a cada ano. Dessas, 8,2 milhões morrerão devido a doença. A projeção é de que os casos de câncer aumentem 70% nos próximos vinte anos. Todavia, o câncer hoje já possui uma cesta com mais de 100 tipos de estratégias de prevenção. Infelizmente nem todos os países e poucos hospitais estão equipados para lidar com tantos casos de câncer. Nesse sentido, é cada vez mais comum e crescente o número de pacientes que optam por viajar em busca de hospitais com melhores e inovadores tratamentos. Percebendo essa oferta, muitas organizações estão se especializando no tratamento do câncer. Em agosto de 2013, por exemplo, o Leeds Cancer Centre, em West Yorkshire, Inglaterra, tornou-se o hospital mais importante da Grã-Bretanha. Também é um dos mais importantes do mundo, e o segundo a oferecer o inovador tratamento radioterápico Elekta Versa HD. Além de ser apoiado pela St. James’ University (do renomado St. James’ Institute of Oncology), possui uma inovadora plataforma tecnológica de imagiologia para detecção oncologia que já é reconhecida internacionalmente. A empresa Cyrcadia Health, sediada no Estado de Nevada (EUA) iniciou um ensaio clínico para detecção precoce de câncer de mama através de um sutiã sensorizado (wearable). A avaliação do produto está sendo feita desde julho de 2015 no El Camino Hospital. As primeiras participantes do ensaio já estão utilizando o dispositivo, e o acompanhamento é feito por uma equipe de especialistas do hospital. Variações de temperatura nos seios são sensivelmente aferidas pelos devices, que identificam anormalidades que podem indicar o estágio inicial da doença. Sem a participação do hospital ensaios como este teriam custos astronômicos e prazos de conclusão sem qualquer previsão.

PARCERIAS Algo pouco usual ainda no Brasil é trazer para dentro das organizações hospitalares parcerias com empresas desenvolvedoras de inovações tecnológicas. Essa coalizão de forças promove e agiliza o processo de inovação. As empresas podem testar seus produtos dentro de um ambiente hospitalar real, com risco controlado e análises de custo x benefício tangíveis.

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UP-TO-DATE Na Índia, o Fortis Memorial Research Institute, localizado em Gurgaon, foi chamado recentemente de a “próxima geração de hospitais”. É o primeiro do mundo a oferecer banda larga digital para ressonância magnética por imagem, sendo que o mesmo ranking Top Master’s In Healthcare Administration classificou-o em segundo lugar entre os 30 hospitais mais avançados do mundo. Não fica atrás o recém-inaugurado (outubro 2013) Bristol Hospital - The Chesterfield, em Bristol (UK). Trata-se do primeiro hospital totalmente digital da região, acomodando três salas cirúrgicas altamente informatizadas, alem de um centro avançado de diagnóstico. O centro cirúrgico (CC) possui um equipamento inovador, utilizado nas salas digitais de cinema, que permite aos cirurgiões ter total controle sobre todos os aspectos da cirurgia. Uma de suas inovações foi eliminar as salas de anestesia, sendo esse procedimento feito diretamente no centro cirúrgico através de inúmeros monitores digitais. Duas salas anexas permitem que outros médicos e profissionais de Saúde assistam a operação e acompanhem através de um iPod exatamente o que os médicos estão conversando (efeito educacional). Outro exemplo de informatização-inovação é o Ramkhamhaeng Hospital, em Bangkok (Tailândia). Fundado em 1988, nunca deixou de evoluir tecnologicamente. Quando chegam, os pacientes recebem um cartão magnético (guide card) com código de barras. Os médicos inserem um pin e acessam o histórico eletrônico do paciente em tempo real, podendo se comunicar com outros médicos para discutir cada caso. Depois de identificar o diagnóstico, inserem as conclusões no prontuário eletrônico, transmitindo para uma central de medicamentos a prescrição eletrônica do paciente. Para pacientes internados, o Ramkhamhaeng utiliza um drug-allocating 26

robot (mecanismo robótico para localização e dispensação de medicamentos) e vários outros aplicativos para controle da ingestão de drogas. O mesmo ocorre com o The Upper River Valley Hospital, em New Brunswick, Canadá, que foi projetado para ser um hospital totalmente sem papel. Seus médicos gerenciam todos os registros dos pacientes digitalmente, acessando instantaneamente os dados clínicos e os compartilhando com o corpo clínico do hospital, bem como com especialistas fora do hospital. Sua rede de compartilhamento de dados é mundial, exibindo padrões de segurança entre os mais avançados do mundo. O médico pode estar em qualquer lugar, a qualquer hora, e tem acesso aos dados do paciente internado. O Asklepios Klinik Barmbek, em Hamburgo, Alemanha, é o chamado “hospital verde”. Quase tudo do que é ecologicamente correto é utilizado em sua operação, desde os aspectos enérgicos, passando pela alimentação e chegando até a higienização “limpa”. Tudo dentro dos padrões internacionais de bioconservação ambiental. Existem muitas instituições de prestígio internacional que poderiam ser citadas, e que possuem uma longa trajetória de inovações, como os tradicionais Johns Hopkins Hospital (Maryland, EUA); Houston Methodist Hospital (Texas, EUA); MD Anderson Cancer Center (Texas, EUA); Guy’s and St. Thomas (Londres, UK); o célebre UCLA Medical Center (Califórnia, EUA); a hiperconhecida Cleveland Clinic (Ohio, EUA); o valorizado e respeitado Gleneagles Medical Center (Singapura); etc. No entanto, grandes inovações hospitalares estão ocorrendo em instituições menores. É sempre bom posicioná-las para enfatizar que a adoção de um modelo organizacional voltado à inovação independente do porte e região.


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ARTIGO

Tiago Damasceno Felipe, Gerente de Tecnologia da Informação do Hospital Bandeirantes

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A Gestão Estratégica em uma instituição hospitalar fortalecida pela implantação do Balanced Scorecard (BSC)

s avanços tecnológicos crescentes e dinâmicos ocorridos nas últimas décadas estão aumentando a competitividade entre as organizações empresariais modernas, trazendo aspectos importantes para a definição de estratégias e políticas para o cumprimento de metas. As instituições hospitalares estão inseridas nesse cenário, no setor da saúde estas unidades de negócio representam um segmento substancial e de intensa concorrência. Nesse contexto a necessidade por um diferencial competitivo é latente, os hospitais devem estruturar e fomentar a gestão estratégica, a fim de fortalecer o processo de tomada de decisão com informações confiáveis e seguras, estabelecendo métodos de medição e avaliação do desempenho organizacional através de indicadores bem definidos. Esse processo que o segmento hospitalar passa de convergência para uma gestão fortemente voltada a resultados, aumenta a necessidade da gestão de informação com uso de recursos tecnológicos e sendo fundamental a utilização de ferramentas que facilitem a gestão das estratégias de forma eficiente. Este artigo explora a possibilidade da gestão de desempenho através do Balanced Scorecard (BSC), bem como a sugestão de método para implantação de sistema informatizado dessa ferramenta. A utilização do Balanced Scorecard pelos executivos é importante para esclarecer, comunicar e gerenciar a estratégia (KAPLAN; NORTON, 1997).

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1. A Gestão Estratégica e o Balanced Scorecard (BSC) A Gestão Estratégica é responsável por introduzir nas organizações um pensamento de ações sistêmicas e contínuas que fortalecem o processo de tomada de decisão da alta administração; para Porter, perante uma competição mais agressiva entre as empresas em um mercado com mudanças frequentes, as organizações desenvolveram flexibilidade para com estratégias responderem com maior rapidez a competição e mudanças nos negócios. O entendimento da empresa quanto aos benefícios de se ter objetivos bem definidos e buscar gerar mais valor do que os concorrentes se torna essencial para o desenvolvimento de uma estratégia adequada. As ações da gestão estratégica em uma unidade hospitalar visam também corroborar para adaptações em um cenário que exige diferencial competitivo e a adequada utilização da informação gerada no negócio. Para Kaplan e Norton (1997), o impacto da informação é ainda mais revolucionário nas empresas de serviço, principalmente em empresas de setores como o da assistência médica, que conviveram por muitas décadas com um confortável ambiente não competitivo. Para Kaplan e Norton o Balanced Scorecard (BSC) mensura o desempenho da organização com base em indicadores que traduzem a estratégia e a missão em objetivos e medidas tangíveis, além de, se constituir em um sistema de gestão estratégica que viabiliza processos gerenciais críticos, deve ser utiliza-


do como um sistema de comunicação, informação e aprendizado, não somente como um sistema de controle. O BSC é representado em quatro perspectivas, sendo elas: financeira, dos clientes, dos

processos e, aprendizado e crescimento. Além disso, é considerado mais do que um sistema de medidas táticas e operacionais, sendo utilizado para administrar táticas a longo prazo e como estrutura para ação estratégica.

AS PERSPECTIVAS DO BALANCED SCORECARD Fonte: Kaplan e Norton (1997)

O BALANCED SCORECARD COM ESTRUTURA PARA AÇÃO ESTRATÉGICA Fonte: Kaplan e Norton (p.12 1997) 29


ARTIGO

Com as perspectivas do Balanced Scorecard definidas é possível desenvolver o mapa estratégico com as relações de causa e efeito entre os objetivos, sendo uma maneira de traduzir a estratégia de empresa de forma visual e auxi-

liando na implantação do BSC como metodologia e sistema informatizado. Um Mapa Estratégico útil é aquele que está orientado totalmente para a estratégia e desenvolvido do geral para o particular (top-down).

RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO Fonte: Kaplan e Norton (p.31 1997) apud Hikage et al. (2006)

Mapa Estratégico – Direcionados pela missão, visão e valores da instituição e utilizando-se de informações geradas nas etapas anteriores do desenvolvimento do planejamento estratégico

é possível desenvolver o Mapa Estratégico da unidade de negócio, traduzindo a estratégia e a missão em objetivos e medidas tangíveis nas quatro perspectivas do BSC.

2. A implantação Balanced Scorecard (BSC) Nesse artigo exploramos o tema para as empresas que buscam a implantação e/ou consolidação conceitual e de sistemas automatizados para Balanced Scorecard, para facilitar o entendimento esse processo está 30

divido em três níveis (Hikage, 2006). • Nível I - Conceituação do BSC Esse nível é constituído pelas informações necessárias para a montagem do Balanced Scorecard, desde o processo de aprendizado


dos conceitos do método, análise de casos de sucesso até o conhecimento da estrutura institucional com mecanismos de análise forças competitivas, do poder de lucratividade e do ambiente em que a empresa compete. Indico nessa etapa a utilização da ferramenta SWOT, objetivando a definição de es-

tratégias para manter pontos fortes, reduzir a intensidade de pontos fracos, aproveitar oportunidades e protegendo-se de ameaças. Diante da predominância de um desses aspectos, pode-se adotar estratégias que busquem a sobrevivência, manutenção, crescimento ou desenvolvimento da organização.

MATRIZ DE ANÁLISE SWOT. Fonte: Adaptado de Carvalho e Laurindo (2010) apud Mizutani (2011).

• O nível II - Implantação do BSC; O nível II é composto pelo desenvolvimento do Planejamento Estratégico, podendo sua construção basear-se em: A. Resultados de análise de SWOT; B. Definição de ações estratégicas; C. Elaboração de plano de ação no modelo OGSM; D. Construção de matriz de complexidade por resultado; E. Elaboração do Mapa Estratégico de BSC.

O modelo OGSM (Objetivos, Metas, Estratégias e Medidas) forma a base para o planejamento estratégico e sua execução traz visibilidade e responsabilidade para os objetivos centrais da organização, assegurando que as atividades estejam alinhadas com as metas financeiras. Este modelo é considerado uma ferramenta para a construção do planejamento estratégico que passa por todos os níveis da organização. (LAZARUS; PEELE, 2012) 31


ARTIGO

MODEL OGSM. Fonte: LAZARUS; PEELE, 2012.

• Nível III - Implantação de software de BSC. O segmento da área da saúde, em que estão inseridos os hospitais, tem diversas particularidades e um alto grau de complexidade, que tornam mais desafiadoras as implantações de sistemas informatizados de Balanced Scorecard. Essa complexidade é reforçada por autores como Mirshawka (1994) citando que “De todas as empresas

modernas, nenhuma é mais complexa do que o hospital”. Um projeto de implantação de sistema informatizado de BSC pode ser considerado uma oportunidade para favorecer a administração e gestão estratégica de um hospital, com a transformação de oportunidades organizacionais em ações estratégicas, análise de viabilidade e implementação de projetos para a geração de resultados.

TRANSFORMAÇÃO DE OPORTUNIDADES EM PROJETOS. Fonte: PROMON (2008) apud FELIPE (2010). 32


A implantação de um sistema informatizado de Balanced Scorecard fortalece a gestão estratégica nas instituições hospitalares por propiciar aos executivos uma ferramenta que possibilite o esclarecimento, comunicação e acompanhamento da estratégia. Além disso, favorece o controle das informações geradas pela organização

e o acompanhamento e controle de desempenho do planejamento estratégico. Para o nível III, implantação de software de BSC é proposto um roteiro que consiste em quatro fases, sendo elas: I - Planejamento, II - Desenho, III – Construção e IV - Testes e Implantação.

FASES DE IMPLANTAÇÃO DE SOFTWARE BSC Fonte: Hikage et al. (2006)

Fase I – Planejamento – Na primeira fase ressalto duas principais atividades que compõem a etapa de Planejamento, sendo elas, a identificação das características e requistos técnicos seguidos pela elaboração da RFP. A Request for Pupose (RFP) ou Requisição de Proposta Comercial, consiste nas especificações que devem ser enviadas aos fornecedores, composta pelo conjunto de funcionalidades desejadas pelos usuários e somada às funcionalidades consideradas úteis e interessantes oferecidas pelas soluções dadas pelos fornecedores. Fase II – Desenho – Definição dos responsáveis técnicos de TI e gerenciais das informações, identifica-se as origens dos dados nos sistemas legados, quantifica-se os esforços para extração, análise e sumarização dos da-

dos, desenvolvimento das interfaces (scripts de integração) e configuração do software. Fase III – Construção – Fase de preparação dos ambientes tecnológicos para aplicação de provas de conceito e os testes de aceitação do software. A Prova de Conceito é composta de quatro etapas, sendo elas: Preparação da Infraestrutura, Implantação, Operação Assistida e Avaliação. (BATISTA Jr.; MISSAO, 2003) Fase IV – Testes e Implantação – Nessa fase são aplicados os treinamentos de todos os usuários da ferramenta, divulga-se o lançamento do software, aplica-se a lista de verificações de modo a garantir que o sistema de informação esteja testado e pronto para ser utilizado e por fim efetuar o processo de operação assistida.

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Tendências

Uberização médica Digitalizar para não desaparecer Por Guilherme S. Hummel

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rofissionais de saúde vivem um grande dilema: o que fazer quando os serviços médicos se digitalizam a passos largos, e muitos médicos que prestam esses serviços dão passos de tartaruga nessa direção? Não é mais uma questão de resistência à tecnologia digital, ou falta de tempo para se informatizar. O que vem pela frente anula esse contexto. O que ocorre agora na função médica é uma das maiores metamorfoses competitivas da história contemporânea da prática médica. Estamos entrando em um novo aguerrido teatro da concorrência médica, onde os profissionais rápidos (que se preparam com ligeireza para usar as tecnologias digitais) se cruzam com os lerdos (que sempre deixam para depois ou nunca valorizam a digitalização como um instrumento de vantagem competitiva). Sensores, biossensores, aplicativos, devices, nanosistemas e uma extensa manta de conectividade correm com grande velocidade na direção da função médica. Ou seja, quem desejar continuar na profissão na próxima década, e quiser manter as conquistas adquiridas, entre elas, claro, seus pacientes, prepare-se. Sua opção não é somente ser o mais competente, como sempre foi até o Século XX, seu desafio agora é ser também mais rápido, mais solícito, mais diligente e, acima de tudo, mais profícuo. As pessoas terão cada vez menos paciência para esperar por espaço na agenda dos profissionais de saúde, e serão menos fiéis a eles quando a indisponibilidade de atendimento se tornar dia a dia mais habitual. Nesse sentido, um dos grandes instrumentos para reduzir esses espaços e o seu desconforto são as tecnologias digitais. Ou seja, a mensagem para a comunidade médica está clara: digitalizese, ou pegue a senha e vá para o final da fila. Darren Gold, feliz proprietário de uma fábrica de caixas de papelão em Beverly Hills (EUA), sentiu um desconforto estomacal virótico. Utilizando pela primeira vez um aplicativo (Heal) chamou um médico residencial. Segundo o periódico The Wall Street Journal (WSJ), que descreveu o

fato em agosto de 2015, Gold gostou tanto do atendimento que utilizou o aplicativo novamente quando seu filho de 2 anos teve febre. A empresa de atendimento Heal, que só opera através do App (mHealth), lhe cobrou US$ 99 por cada uma das duas primeiras visitas (US$ 200, se fosse para toda a família). O serviço não estava coberto por seu seguro de Saúde, mas Gold explicou que foi uma grande pechincha em comparação com o tempo que deixaria de trabalhar para se deslocar até o médico. “Agora, sempre que meu filho tem qualquer problema, ele é o primeiro a dizer: ‘pai, precisamos chamar aquele médico’”, explica Gold. Os usuários baixam o aplicativo, digitam alguns dados e informam o motivo da visita. Adicionam um cartão de crédito, e solicitam um médico de família (ou pediatra, por exemplo). Este chega entre 20 a 60 minutos. Outra empresa, a Pager, em Nova York, disponibiliza médicos ou profissionais de enfermagem por US$ 200, no mesmo modelo utilizado pelo serviço da Uber (aplicativo que provê motoristas para “caronas cobradas”). Já é responsável pelo atendimento domiciliar de mais de 5 mil pacientes desde 2014, tendo como perfil de usuário a jovem mãe, geralmente com mais de um filho. Quando um deles apresenta algum desconforto ela apela à chamada+atendimento do Pager, evitando os custos de deslocamento e os riscos de levar os demais filhos juntos a um consultório. Trata-se de um serviço primo-irmão do Uber, que aqui chamaremos de “uberHealth”. A Heal, com escritórios em Los Angeles, São Francisco e Orange County, na Califórnia, informa que “coloca um médico na sua casa em menos de uma hora por US$ 99”. A RetraceHealth, em Minneapolis, oferece serviços de enfermaria através de videoconferência por US$ 50, se deslocando para a residência do solicitante caso seja necessário (US$ 150). A MedZed, em Atlanta, envia uma técnica de enfermagem à casa do paciente para um exame preliminar. Após essa primeira análise, ela se conecta com um médico de plantão (através de seu laptop), e este

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Tendências lhe fornece, remotamente, um plano de procedimentos. Obviamente que os serviços residenciais são limitados, sendo que os médicos avaliam ou não a necessidade de internação do paciente. O acesso à prestação de serviços médicos através da tecnologia digital está revolucionando a relação médico-paciente nos EUA. E não será diferente no resto do mundo. Na década de 30, 40% de todas as consultas médicas na América eram feitas com o profissional se dirigindo à residência do paciente. Meio século depois, a medicina residencial praticamente desapareceu (em 1980 não passava de 1%). Ficava claro para a comunidade médica que era muito mais produtivo

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“convidar” os pacientes a se dirigem aos consultórios médicos ou ambulatórios hospitalares, quando poderiam atender muito mais clientes por dia, sem falar na qualidade do atendimento. Todavia, no Século XXI, as coisas estão mudando novamente, principalmente para aqueles pacientes com um pouco mais de poder aquisitivo. São três fatores que detonam a mudança: (1) as tecnologias digitais; (2) os custos operacionais; e (3) a conveniência do usuário. O jornal WSJ também relata o caso de um executivo, Kunal Merchant, de 34 anos, que também utilizou os serviços do aplicativo Pager. Com um novo filho a caminho, Merchant queria ter certeza de que ele seria um pai-saudável, embora sua curiosidade não fosse maior do que os eventuais problemas que teria ao se ausentar por horas do trabalho. Reservou uma sala no próprio escritório e agendou uma consulta via Pager. Uma enfermeira logo foi ao seu encontro com um kit para exames de glicose, pressão arterial, colesterol, IMC, etc. Em 15 minutos, ela não só fez os exames como lhe mostrou o laudo: “Você está muito saudável, bom trabalho”. Na realidade, estamos entrando em um novo modelo de atendimento, algo como um “uber para cuidados de saúde”. No fundo, são redes de profissionais de saúde (enfermagem e médicos profissionais liberais) que operam através de sistemas aplicativos (Apps), compartilhando atendimento sempre que uma central de sharing lhe enderece um caso. São profissionais com experiência em casos emergenciais (primary care) que utilizam o seu tempo livre para ganhar uma remuneração adicional (ficam com metade da taxa de chamada dos provedores). “Eu amo minhas chamadas (Pager shifts), porque elas me trazem de volta a medicina real, quando era apenas eu e o paciente em sua residência”, explica Kimberly Henderson, médica de emergência do Hospital Beth Israel (NY), que trabalha para a Pager um ou dois dias por semana. Os médicos participam da chamada economia partilhada, tal como ocorre com o Uber, no qual um sistema digital conecta passageiros a mo-


toristas particulares, compartilhando “corridas tarifadas”. O uberHealth funciona de maneira semelhante: suporta os usuários que precisam de assistência e desejam encontrar rapidamente um profissional disponível para atendimento residencial ou remoto. Essa rede de médicos não tem qualquer vínculo empregatício com os provedores, nem qualquer relação de trabalho formal. A confiança é construída através de um cadastramento bem feito e do histórico de serviços prestados. Os médicos ficam com parte da taxa que o paciente remunera ao provedor (não podendo cobrar qualquer adicional), sendo totalmente responsáveis pelo cuidado clínico. A tecnologia digital interfere com muito mais intensidade no trabalho dos profissionais do uberHealth, que sempre levam consigo nas visitas domiciliares analisadores portáteis para exames bioquímicos, devices para ultrassonografia, laptops e smatphones para comunicação com outros profissionais, estações móveis de videoconferência, sistemas de suporte à decisão clínica, etc. Não se trata de um “furgão” repleto de equipamentos acoplados, ou de uma ambulância de servi-

ços emergenciais. Estamos falando de mini, micro e nano dispositivos que cabem em uma maleta comum. Esse arsenal digital está cada vez mais avançado para fazer toda a diferença na prática da medicina, principalmente no primary care. Sensores residenciais, por exemplo, serão capazes de avisar ao filho que seu pai de 80 anos não abriu a geladeira hoje e não ingeriu os seus medicamentos. Biossensores poderão identificar que um indivíduo que mora sozinho está urinando menos do que o normal, ou que está febril, ou que sua tosse aumentou, ou que a taxa de açúcar em seu sangue está alta, ou que oxigênio no sangue está baixo, etc. Esses dados serão registrados através de um ambiente computacional em nuvem, onde algoritmos de alta performance fornecerão uma amálgama de informações clínicas que podem ser definitivas para cada indivíduo. O mesmo rastreamento poderá chamar uma ambulância, alertar uma unidade hospitalar, informar o médico pessoal do paciente, ou, simplesmente, enviar à residência do paciente uma equipe de emergência, ou um cuidador especializado. 37


Tendências Alguém se esforçou demais no futebol do fim de semana, e acordou com o joelho inchado. Seu app uberHealth poderá localizar um ortopedista mais próximo de sua residência, ou simplesmente sugerir uma videoconsulta com um especialista em joelho que se encontra do outro lado do país. Poderá também enviar uma equipe de emergência ou sugerir que o indivíduo entre no portal X, abra a tela Y e procure “joelho inchado”. O portal lhe fará uma série de perguntas, recomendando, por exemplo, que passe por um exame de raio X. E se nada disso for conveniente para o usuário, ele poderá tão somente acessar seu médico particular através de uma videoconsulta e receber as recomendações que lhe deem mais segurança. Qual a diferença em relação a todos os serviços de medical call center disponíveis hoje? Várias, entre elas a rapidez, a solicitude e a proficuidade do atendimento. Todavia, o mais importante benefício é que um serviço uberHealth estará a todo momento buscando para o usuário a melhor relação custo-benefício. Como o preço pelo atendimento uberizado (entre o provedor e os profissionais médicos) é fechado, não cabe qualquer tipo de leilão ou pechincha na escolha do profissional que será indicado. O modelo de economia partilhada multiplica o poder de decisão do usuário, assim como a responsabilidade vertical por sua Saúde. No final do Século XX, esse tipo de serviço era conhecido pelo neologismo “on demand”, hoje recebe inúmeras outras nomenclaturas, como, por exemplo, uberservice. Assim como o Uber, que recebe um tsunami de reclamações dos taxistas, associações de classe, prefeituras, parlamentos, etc., as “redes de partilhamento de serviços médicos” também estão sendo atacadas por todos os flancos, e não existe qualquer possibilidade de que essa resistência seja reduzida. Até porque Saúde é algo muito sério, e envolve uma enorme cadeia de responsabilidades, sujeitas a regulações, legislações e punições nas três esferas de poder. Sem falar, é claro, das associações médicas, como o Conselho Federal de Medicina, que não deixarão passar em brancas nuvens essa monumental revolução. 38

O modelo de economia partilhada multiplica o poder de decisão do usuário, assim como a responsabilidade vertical por sua Saúde.

Guilherme S. Hummel


Não está sendo diferente nos EUA. A Urgent Care Association of America, por exemplo, que responde pelas empresas provedoras de cuidados de urgência, já se posicionou informando que suas empresas associadas são perfeitamente capazes de fornecer esse serviço domiciliar, e ainda questiona: “O controle de qualidade deles é mais bem feito do que o nosso?”. A comunidade médica tão pouco fica indiferente, já se manifestando que esse modelo de serviço fragmenta os cuidados de Saúde, interfere na relação médico-paciente e empobrece a avaliação clínica. “Por que alguém precisaria ser visto por um médico três vezes por semana com um quadro de constipação? Não seria talvez um quadro de insuficiência cardíaca que estaria ocorrendo?”, explica Robert Wergin, presidente da Academia Americana de Médicos de Família (American Academy of Family Physicians). Uma coisa já está clara, se haverá resistência (e deve haver) também haverá um enorme poder de demanda, fazendo com que cada médico deva preparar desde já sua plataforma de economia partilhada. Da mesma forma que um indivíduo recebe hoje os resultados de seu teste diagnóstico-laboratorial em seu computador (antes do médico), o que seria uma heresia há duas décadas, os pacientes utilizarão cada vez mais as tecnologias digitais para orquestrar a sua Saúde. Caren Misky, enfermeira da rede True North, de Denver, explicou ao WSJ que recentemente respondeu a uma chamada partilhada, em que um doente com Alzheimer havia caído e cortado a cabeça. Ela foi capaz de suturar seu ferimento na mesa da cozinha do casal. “Sua esposa disse que a última vez que isso ocorreu, eles passaram oito horas na sala de emergência e tiveram de pagar US$ 10 mil”, explica Misky. Outro médico, que se engajou no modelo uberHealth, o Dr. Janani Krishnaswami, vai mais além, como explicou ao jornal The New York Times: “Saú-

de realmente começa em casa”, explicou ele. Depois de ser chamado em seu iPhone para um caso, relatou como o atendimento domiciliar é importante: “Ao visitar alguém, e perceber onde vive, eu posso identificar o seu cotidiano, o que está comendo e como sua família está vivendo. Eu posso ficar o tempo necessário com ele, que é uma coisa cada vez mais difícil de fazer em nosso atual sistema médico”. Aqueles que desejam uma consulta, mas não necessariamente precisam de um médico ou enfermeiro em sua casa, já possuem uma série de novos serviços capazes de realizar um teleatendimento virtual (teleconsulta). A American Telemedicine Association estima que quase um milhão de pessoas já estejam “vendo” um médico via webcam em 2015 (uma das maiores seguradoras dos EUA, a United HealthCare, anunciou este ano planos para cobrir visitas médicas baseadas em videoconferência). Outra organização, a Doctor on Demand, um dos aplicativos mais populares nessa área (apoiado pelo Google), oferece acesso a 1.400 médicos (board-certified physicians). Por US$ 40 um médico pode ser consultado através de videoconsulta, sendo que o aplicativo já foi baixado mais de um milhão de vezes desde que foi introduzido no final de 2013 (a empresa recentemente disponibilizou consultas com psicólogos via webcam - US$ 50 por 25 minutos ou US$ 95 por 50 minutos). Como no caso do Uber, a ineficiência do setor (serviços de transporte público e ou de táxis) alavanca os serviços digitais. O tempo médio de espera por uma consulta nos EUA é de 20 dias, sem falar nos custos. O Doctor on Demand jura que consegue diagnosticar e tratar 95% das pessoas que os chamam, sendo que os demais 5% são encaminhados para especialistas. O serviço American Well oferece consultas médicas on-line por US$ 49, e o aplicativo Spruce se 39


Tendências

diferencia oferecendo videoconsultas para problemas dermatológicos, como picadas de insetos ou erupções cutâneas. O HealthTap, outro aplicativo, permite que os usuários façam perguntas aos médicos em seu site (chat-video on-line) por US$ 99 ao mês, sendo que o aplicativo Maven foca a saúde das mulheres, incluindo questões relacionadas à fertilidade, gravidez e pós-parto. Todos os contatos são feitos através de webcam, com valor de consulta a partir de US$ 18. Como sempre, tudo é muito novo nesse mercado. Ainda existem lacunas a serem preenchidas, falhas em alguns modelos de negócio, soluções de segurança e privacidade ainda inconsistentes, regulações absolutamente necessárias e, principalmente, uma enorme barreira cultural a ser transposta. No caso da comunidade médica, as resistências culturais e corporativas são colossais. Mas, como já está ocorrendo com o serviço Uber de transporte particular remunerado, o mesmo acontecerá com o uberHealth. As mesmas reações contrárias se multiplicaram com a entrada do Netflix no mercado, que, simultaneamente, vem desestruturando o negócio de três ícones do entretenimento televisivo: (1) as redes abertas de TV, (2) as redes de cable tv, e (3) as locadoras de DVD, sendo que essa revolução está ocorrendo a menos de três anos. Entre acusações e embates judiciais, o resultado é que os mercados atingidos estão sendo obrigados a se reinventar. 40

Não é diferente com o WhatsApp, que saiu como um aplicativo para troca de mensagens e passou a realizar chamadas de voz sem custo, concorrendo diretamente (e pesadamente) com as Operadoras de Telecom. Muitas das tecnologias digitais são disruptivas, com lastro em inovações não menos disruptivas. Não se trata somente de inovações evolucionárias ou revolucionárias. Estamos diante de inovações que irrompem o mercado, desarticulam o status natural (orgânico) de comando e governança, transformam crenças e culturas, alteram modelos de remuneração e, não poucas vezes, transgridem e subvertem setores inteiros de negócios. Ou será diferente do que ocorre entre o varejo de livros e a Amazon (eBook)? Ao contrário do que se pensa, o poder disruptivo das tecnologias não é meramente destruidor, mas, acima de tudo, revitalizador. As tecnologias utilitaristas do Século XXI, principalmente na área da Saúde, são regeneradoras e estão impulsionando a prática médica a níveis nunca antes imaginados. É isso que a comunidade médica precisará entender, aceitar e praticar. Guilherme S. Hummel

É consultor, pesquisador e Head Mentor do eHealth Mentor Institute (EMI). Autor dos livros: “eHealth – O Iluminismo Digital chega a Saúde”; “ePatient – A Odisséia Digital do Paciente em Busca da Saúde”, “eDoctor – A Divina Comédia do Médico e a Tecnologia” e “SUS encontra o NHS”. www.ehealthmentorinstitute.com.br


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Mobilidade digital

mHealth e o poder das redes sociais

A

Era Digital multiplicou nossa mobilidade a níveis inimagináveis, sendo que seu eixo de comunicação, a Telefonia Móvel, empoderou o ser humano de tal forma que hoje já podemos dividi-lo em cabeça, tronco, membros e smartphone. Se há reclamações de um lado, existe quase um consenso de que ganhamos autonomia, produtividade e certo aumento de nosso grau de liberdade social. Na área de Saúde, esse poder tem nome: mHealth (mobile health), e está legitimamente

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Mercado global de mHealth expande-se e deve superar os US$ 49 bilhões em 2020, com uma taxa anual de crescimento de 49% entre 2014 e 2020

representado na sociedade do Século XXI por mais de 130 mil aplicativos (apps) voltados a prover informação, utilitarismo, facilidades, conhecimento e, acima de tudo, “musculatura intelectual” para decidirmos melhor sobre as questões que envolvem a nossa Saúde e o nosso Bem-Estar. Nem todos os apps são inteligentes, é verdade. Também é correto afirmar que poucos são aqueles que tratam a privacidade dos dados com segurança. Mas, do ponto de vista funcional e utilitarista, mHealth é hoje um dos mais impor-


tantes instrumentos de melhoria para os Sistemas de Saúde, bem como para a promoção, prevenção e predição sanitária. Estamos diante de um caminho sem volta. A mobilidade digital na Saúde será (sendo que em alguns casos já é) uma dessas sapatas de sustentação, também conhecidas na engenharia civil como estruturas de apoio, da prática médica. O alicerce sanitário dependerá cada vez mais dos aplicativos em mHealth capazes de prover informações, aferir sinais vitais, compartilhar decisões médicas, sustentar orientações clínicas (alertas e alarmes), agendar eventos no ambiente da saúde pessoal, armazenar registros clínicos, gerenciar protocolos emergenciais, ensinar os usuários a condicionamentos físicos salutares, monitorar pacientes remotamente e uma infinidade de outras funcionalidades de grande impacto não só para a Cadeia de Saúde como para cada usuário. Da mesma forma, empresas e instituições do Setor de Saúde estão fazendo uso das soluções de mHealth para reduzir custos, melhorar a qualidade do atendimento e fidelizar os clientes. A mobilidade digital já é apontada como um divisor de águas para países e empresas, com capacidade de equacionar alguns de seus inúmeros e históricos problemas assistenciais. Não faltam desafios para que essa vertical avance, tais como (1) tecnologias capazes de assegurar a confidencialidade das informações, (2) instrumentos e protocolos que protejam a privacidade do paciente e (3) um rol de boas práticas em bioética que protejam a comunidade médica e os interesses dos usuários. A mobilidade digital na saúde extrapolou a telefonia móvel, adentrando em

um universo de devices, equipamentos e sensores médicos que apoiam e monitoram a Saúde dos pacientes. Graças à nanotecnologia, a engenharia genética, a biossensores de alta efetividade e a muitas outras tecnologias, as ofertas para a Cadeia de Saúde crescem, os preços baixam e as possibilidades de conectar e integrar esse sofisticado maquinário a centros de decisão e monitoramento tornam-se cada vez mais imprescindíveis. Dispositivos móveis não invasivos (BrainScope) já ajudam médicos a avaliar uma lesão cerebral traumática (TBI), enquanto dispositivos digitais vestíveis (wearables), como um relógio de pulso, são capazes de analisar os sinais vitais do paciente em tempo real e enviar os dados a uma central de monitoramento. As ofertas surgem de todos os lados, vindo de todas as direções e não só da tradicional indústria manufatureira de equipamentos médicos.

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Mobilidade digital

Mercado promissor Novas opções surgem todos os dias gerando grande euforia no setor de Digital Healthcare. O myEarlySense, por exemplo, anunciado em setembro de 2015 pela empresa israelense EarlySense, é um dispositivo móvel para monitoramento do sono. É composto por um sensor inserido sob o colchão do usuário, que detecta a sua pulsação, a frequência respiratória, os estágios do sono, etc. O device não tem fios ou cabos e os dados são transferidos em tempo real para um app-smartphone. Embora a EarlySense já tenha produtos similares para leitos hospitalares, essa versão pode ser utilizada na residência de qualquer pessoa. Já o Eko Core, da empresa californiana Eko Devices, é um estetoscópio totalmente desenvolvido para funcionar em conjunto com um smartphone. A empresa levantou fundos de US$ 2,8 milhões para o projeto, que já recebeu aprovação do FDA (órgão que certifica insumos para a saúde nos EUA). O equipamento grava os sons captados, envia-os ao médico, que pode compartilhar o áudio com outros médicos. Captura também o fonocardiograma do paciente que pode ser analisado em tempo real. O Salesforce Health Cloud, por outro lado, é um aplicativo da gigante Salesforce.com voltado ao engajamento e gerenciamento do paciente. Opera em conjunto com o Registro Eletrônico de Saúde (EHR) e outras fontes de dados (sistemas laboratoriais, aplicativos de imagens, etc.) integrando todas as informações e gerando um controle refinado da Saúde do paciente. Na família dos aplicativos e devices voltados para doenças específicas está o glicosímetro Dario, que atua na vertical de pacientes portadores de diabetes mellitus (o mercado de glicosímetros deve crescer, entre 2014 e 2019, quase 11%). Conectado ao smartphone, ele propicia uma medição segura da taxa de glicemia ao longo do dia. O app que o acompanha possui guia de nutrição, “diário de bordo” e um sistema de monitoramento com todos os registros em ordem cronológica e de forma gráfica, que 44

Números crescentes O Mercado global de mHealth deve superar os US$ 49 bilhões em 2020, de acordo com a empresa de pesquisas de mercado Grand View Research, com uma taxa anual de crescimento de 49% entre 2014 e 2020. Com a crescente taxa de envelhecimento da população e o aumento dos níveis de patologias crônicas (câncer, doenças cardíacas, diabetes, etc.), o mercado de mHealth só tende a crescer.


acompanha o desenvolvimento da cronicidade ao longo do tempo. Aliás, o mercado de automonitoramento, centrado em dispositivos e equipamentos para controle individual de telemetria, tem crescido de forma ininterrupta. Pesquisa do IDC mostra que o setor de wearable, por exemplo, cresceu 223% ao longo de 2014, principalmente em produtos voltados a fitness. Só o Fitbit, líder do mercado de smartwatch, já colocou no mercado quase 4,5 milhões de seus devices. A produção nacional de dispositivos de self-monitoring também tem crescido nos últimos anos na área de apps, mas sempre esbarra nos problemas de financiamento, nos custos de produção local e no emaranhado regulatório da ANVISA. As câmeras e demais itens de multimídia dos smartphone possuem resolução cada vez melhor e têm ajudado no desenvolvimento de soluções de apoio, que antes só eram possíveis em ficção científica. Já é viável, por exemplo, tirar uma foto da pele com o celular e enviá-la ao dermatologista, que pode estabelecer algum tipo de diagnóstico em um curto período de tempo. O aplicativo Photoskin, por exemplo, desenvolvido pelo Ramón y Cajal Hospital, em Madri, foi criado para detectar precocemente o melanoma (a forma mais agressiva de câncer de pele). “O paciente pode realizar o autoexame (autoimagem) das manchas em sua pele e mostrar as imagens ao seu médico”, afirma Rosa Taberner, dermatologista do Son Llàtzer Hospital (Palma de Mallorca). “Quando vemos a imagem de um paciente com uma lesão pigmentada, o que avaliamos não é tanto a foto, mas como ela evolui e se altera ao longo de um período de tempo”, explica ela. Outro aplicativo mHealth dermatológico é o First Derm, desenvolvido pela Universidade da Califórnia, já “baixado” por mais de 9 mil pessoas em todo o mundo. O app iRash, com foco nas coceiras dermatológicas, oferece imagens de 40 manchas de pele mais comuns para que o paciente possa realizar um primeiro autodiagnóstico. Centenas de soluções surgem todos os dias, embora poucas realmente cumpram o que prometem. Ao longo do tempo, mercado e usuários vão separando as opções duvidosas fazendo emergir os melhores produtos.

Apps para hospital Hospitais também têm implementado uma ampla gama de aplicações móveis de saúde. São soluções que lidam com diferentes partes do fluxo de informação, que têm como origem os pacientes, médicos, enfermeiros e registros de saúde. Partindo do conceito de que quanto melhor é o modelo interno de comunicação, melhor será o atendimento ao paciente, os hospitais têm adotado inúmeras soluções de mHealth para melhorar o gerenciamento clínico e as funções operacionais. O Palomar Health, por exemplo, é um complexo hospitalar público localizado na California com três unidades, que presta atendimento a mais de meio milhão de pacientes por ano. Benjamin Kanter, diretor de informação do hospital explica: “A comunicação feita através de papel é a pior maneira de se comunicar. Para que médicos tomem a decisão certa no momento certo precisam de uma comunicação clara e dentro do contexto”. Nesse sentido, o hospital iniciou o desenvolvimento em 2007 do projeto Medical Information Anytime Anywhere (MIAA), uma aplicação voltada a integrar as comunicações entre todos os profissionais de saúde da entidade. O sistema extrai as informações do Electronic Health Record (EHR) e as transfere aos médicos através de seus smartphones ou tablets. “Nenhum de nossos médicos é funcionário do hospital, assim, para que sejamos bem-sucedidos, temos que fazer do hospital um lugar atraente e efetivo para a prática médica, trazendo um sistema que informa aos médicos, por exemplo, que seu paciente já foi admitido, disponibilizando também através do aplicativo, relatórios, resultados de exames, laudos de imagens e outros inputs que facilitam e agilizam o seu trabalho”, explica Kanter. 45


Mobilidade digital

Compartilhando informações O termo “mídia social” surgiu no final do Século XX (pelos anos 2000), mas em 2001, Barry Wellman introduziu a ideia de redes individualizadas (em sua obra “Networked Individualism”) mostrando que estávamos diante de um fenômeno muito mais amplo do que se supunha inicialmente. Ou seja, estávamos desenvolvendo redes individuais que se conectavam a outras redes formando uma enorme árvore de comunicação e conhecimento social. Outros conceitos foram se somando, como a hiperconectividade, a virtualidade local e a localidade virtual reproduzindo ideias, modelos, características, sensibilidades e pluralismo, fazendo com que uma criança, por exemplo, que nasça nos dias de hoje já incorpore em seu modelo de vida um componente das redes sociais. É como pensar que em seu DNA já se incorpora uma linha íntima voltada a partilhar seus problemas e ansiedades através de redes distribuídas. Na área de Saúde esse movimento não foi diferente. Embora com códigos específicos, a indústria de serviços médicos está aprendendo cada vez mais a utilizar as Redes Sociais para adicionar valor aos seus objetivos corporativos e assistenciais. Muitas ferramentas de mídia social foram se integrando ao universo da Saúde, como as plataformas comunitárias ad hoc, blogs, microblogs, wikis, redes de portadores de patologias específicas que criam seus próprios núcleos de comunicação distribuída, etc. Essas ferramentas podem apoiar vários vetores que compõem a Cadeia de Saúde, como a educação, a promoção, a prevenção, as plataformas de suporte a emergências, a comunicação orientativa dos Sistemas de Saúde, bem como todos os mecanismos digitais que de alguma forma apoiam o indivíduo no autocuidado e na autogestão de sua Saúde. Como em tudo, existem riscos, problemas, variáveis não controláveis e uma séria de inputs que podem assustar os players da Cadeia de Saúde. Mas, de uma maneira ou de outra, eles estão sabendo orquestrar essas dificuldades e tirar proveito do poder das mídias sociais. 46

Redes sociais No contexto da mobilidade digital se incorporam as Redes Sociais, sem sabermos ao certo quem pega carona em quem nessa corrida global. Se os apps empoderam os indivíduos e as corporações, as mídias sociais espalham seu poder pela sociedade com incrível velocidade e consistência. Não importa se as mensagens navegam com 140 caracteres, ou se as imagens e fotos digitais tomaram a dianteira da integração, ou mesmo se os grupos e comunidades são a verdadeira razão desse gigantesco network, o fato é que a árvore de relacionamentos promovida pelas redes sociais introduziu uma nova realidade na conceituação humana.


Impacto no negócio Outro aspecto do seu poder refere-se ao seu envolvimento no dia a dia das corporações. Ficou muito fácil criticar um médico, ou um hospital, ou um atendimento, ou mesmo um paciente pelas redes. Independente de saber quem tem ou não razão, a crítica temperada ou destemperada é hoje motivo de vigilância das grandes instituições que compõem a Cadeia de Saúde. O neurocirurgião Rilton Morais, por exemplo, do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), criticou nas redes sociais as condições de trabalho do hospital. “A angústia me levou a ir até uma rede social e expor tudo o que sinto. Estou cansado de ver isso sozinho, sou atacado pelas redes sociais por defensores do governo, mas eu não estou atacando o governo. Seja qualquer governo, eu preciso de condições de trabalho”, desabafou o médico que, aliás, foi apoiado pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Pediátrica (SBNPed). O Hospital Alemão Oswaldo Cruz, por outro lado, utiliza as redes sociais para apoiar campanhas de conscientização, como o programa de suporte a pacientes com câncer (“Um minuto do seu tempo para fazer alguém feliz”). O faz através de vídeos motivacionais e informações de aconselhamento através de seu hot site em conjunto com várias redes sociais. Outro exemplo voltado ao setor hospitalar foi desenvolvido por empresa especializada (Taisei), em parceria com a Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo (Fehosp). Intitulada Rede Social de Saúde (RSS), o canal objetiva garantir a capacitação de instituições, e integrar através dos mecanismos digitais os profissionais do setor. Lançado em 2014, o projeto recebeu apoio da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e já conta com mil hospitais cadastrados e dois mil profissionais de saúde. A RSS também apoia

a integração das equipes de uma instituição, além de ser um espaço para troca de experiências entre os usuários. Também é utilizada como ferramenta de gestão interna, em que os administradores de determinados hospitais podem visualizar, gerenciar e concluir tarefas com suas equipes através do compartilhamento de informações, documentos e conteúdos. As mídias sociais e os aplicativos mHealth se integram cada vez mais através do ambiente em nuvem (cloud computing), construindo elos de ligação formidáveis com os prestadores de serviço e a comunidade. Quando as pessoas adoecem elas querem agilidade e respostas rápidas. Só em 2012, 75 milhões de pessoas usaram seus smartphones para acessar informações de saúde. Não são poucos os hospitais, por exemplo, que criam recursos móveis sofisticados para os pacientes encontrarem informações valiosas sobre Saúde. Essas instituições buscam fontes confiáveis e constroem redes distribuídas de informações e conhecimento a serviço dos pacientes. A Universidade da Califórnia (UCLA), um dos cinco melhores prestadores de serviços médicos dos EUA (dados do US News and World Report), criou o app UCLA Health para seus pacientes. O aplicativo, entre muitas funcionalidades, permite aos usuários pesquisar sintomas, condições e tratamentos para muitos problemas de saúde, possibilitando também que os usuários agendem uma consulta, se necessário. O UCLA Health está conectado às mídias sociais, trocando informações assistenciais com milhões de usuários. Redes Sociais e os aplicativos de mHealth são instrumentos importantes para empoderar pacientes e instituições de Saúde. Crescem em volume e importância. Ignorá-los é estacionar num caminho que não para de seguir adiante. 47


Especial Himss

Melhorando a saúde por meio da tecnologia da informação

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ocada em melhorar a saúde por meio da tecnologia da informação (TI), a HIMSS - organização global sem fins lucrativos -, traz a segunda edição de seu evento anual na América Latina. O HIMSS Latin America Conference and Exhibition 2015, em associação com a ABCIS, apresenta as melhores práticas aos profissionais da área de Saúde e possibilita networking e conteúdo ao mercado. A revista Health-IT adianta parte do conteúdo que será abordado no evento.

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Benefícios clínicos da ti em saúde

Dr. Martin Harris, Diretor de Informática, Cleveland Clinic, EUA Você pode compartilhar conosco um ponto de vista interno sobre as estratégias que permeiam a adoção da tecnologia da informação de saúde na Cleveland Clinic? Dr. Martin Harris: Na Cleveland Clinic, nossa principal filosofia e nosso foco comum é o fornecimento de cuidados de saúde da mais alta qualidade a todos os pacientes que confiam sua saúde, ou a saúde de um ente querido, aos nossos cuidados. Dessa forma, todas as estratégias clínicas e de negócios que desenvolvemos devem nos ajudar a atingir esse objetivo da melhor forma possível. Nos últimos anos, temos focado cada vez mais não apenas em aumentar a qualidade dos cuidados que fornecemos, mas também em maximizar o valor que os pacientes e clientes recebem, garantindo que nossos cuidados sejam mais acessíveis e mais econômicos com o passar do tempo. Devido à habilidade de os sistemas de tecnologia de informação analisarem grandes quantidades de dados relacionados ao contato, bem como de conectarem, de maneira segura, as equipes de cuidados clínicos e seus pacientes, a TI desempenha um importante papel em nossa capacidade de definir e, por fim, atingir os objetivos que definimos para nós mesmos. Dentro de nosso hospital, a Cleveland Clinic vem aumentando sua eficácia e diminuindo as despesas utilizando sistemas de pedido de suprimentos e de rastreamento automatizados, incluindo robôs totalmente autônomos que recebem e preenchem pedidos de suprimentos médicos 24 horas por dia. Estes sistemas diminuem nosso tempo de execução de serviço e liberam nossos provedores de cuidados para dedicar mais tempo a seus pacientes, e menos tempo realizando tarefas administrativas.

O que você irá abranger durante sua apresentação na Conferência Latino-Americana da HIMSS? Na primeira parte da minha apresentação, irei compartilhar algumas de minhas observações sobre o real valor da tecnologia da informação integrada na área da saúde como um sistema por meio do qual os provedores de cuidados podem oferecer cuidados de alta qualidade por um custo eficaz. a) Em segundo lugar, irei discutir a abrangência das ferramentas de TI saúde que serão necessárias para realizar nossa promessa de cuidados acessíveis, econômicos e de alta qualidade para todos os pacientes. b) E por fim, unirei essas ideias por meio do acompanhamento real de um paciente por um ciclo de cuidados possibilitado pela TI saúde. De que formas podemos melhorar os cuidados de saúde nas áreas rurais da América Latina? A tecnologia da informação tem um grande potencial de conectar as pessoas que vivem em zonas rurais com o tipo de serviços de cuidados de saúde de que elas necessitam. Mas, para fornecer a promessa da TI para servir tais áreas, primeiro é preciso estabelecer algum nível de infraestrutura. 49


Especial Himss

Usabilidade de hit: os pacientes estão correndo riscos?

Dr. Robert Schumacher, vice-presidente executivo de experiência do usuário na GFK, EUA, fala sobre usabilidade na área de TI aplicada aos cuidados de saúde (Health Information Technology, HIT)

Como a experiência do usuário (user experience, UX) está evoluindo na HIT? Dr. Robert Schumacher: as forças de mercado fazem com que os fornecedores de HIT se concentrem na entrega de funcionalidade, frequentemente em detrimento da usabilidade. O maior perigo é que muitos fornecedores de HIT acreditam que realmente estão fazendo um ótimo trabalho quanto à experiência dos usuários. Muitos fornecedores associam o aprimoramento de UX com a realização de portabilidade do sistema de registro eletrônico de saúde (electronic health record, EHR) para um iPad, por exemplo. Se aplicarmos ferramentas como o Modelo de maturidade de usabilidade da HIMSS como medida da situação atual das coisas, creio que descobriríamos que temos um longo caminho pela frente. Com algumas exceções, os fornecedores de HIT não abraçaram verdadeiramente uma cultura de experiência do usuário. Quais são alguns dos problemas que impactam a usabilidade do EHR? EHRs são sistemas inerentemente complexos e repletos de recursos. Projetar sistemas que tentem reduzir essa complexidade inerente é muito difícil. É necessário haver uma combinação de recursos organizacionais (isto é, dinheiro), além de design thinking. Outros fatores importantes, para além da complexidade do domínio, são: um grande número de grupos de usuários; importantes requisitos técnicos, de segurança, regulatórios e de privacidade. Sendo assim, ainda precisamos compreender 50

corretamente os fundamentos de design de interface do usuário (User Interface, UI) e de UX. Não há desculpas para alguns dos designs desleixados (e perigosos) que vemos atualmente. O senhor pode compartilhar algumas percepções sobre como escolher um sistema de EHR que os profissionais de saúde possam usar? Um aspecto frequentemente ignorado é que um dos componentes mais caros de qualquer aplicativo corporativo (como um EHR) é o custo do capital humano. Ou seja, as pessoas levam tempo para inserir dados e processá-los. Tornar esse esforço o mais eficiente e eficaz possível deveria ser um objetivo equivalente a garantir segurança, privacidade, interoperabilidade e conformidade regulatória. Há maneiras sistemáticas de medir o desempenho humano, e esses métodos deveriam ser empregados na escolha de um EHR. Outro custo oculto que merece ser levado em consideração durante a escolha é a segurança do aplicativo. Qual é o custo do erro humano? Ao avaliar a segurança em dispositivos médicos, por exemplo, é empregada a Análise dos modos de falha e seus efeitos (Failure Mode Effects Analysis, FMEA) para compreender os riscos. Por que não realizar a FMEA ao considerar EHRs? Os perfis de risco de diferentes sistemas podem variar consideravelmente. O verdadeiro paradoxo aqui é que, na maior parte das pesquisas que avaliam a satisfação dos médicos, a usabilidade aparece como um


dos pontos mais delicados. Entretanto, quando averiguamos se a usabilidade está entre os critérios de seleção para adquirir um EHR, ela frequentemente não está. Assim, a não ser que levemos a usabilidade a sério durante a escolha, não devemos nos surpreender que ela esteja faltando no aplicativo. O senhor pode compartilhar algumas percepções em termos do quanto uma usabilidade insatisfatória pode impactar negativamente pacientes e provedores? Há muitos exemplos de problemas de pacientes que resultam de uma usabilidade insatisfatória. Coisas simples como fazer os usuários informarem unidades de medida (p. ex., kg ou lb) ao mencionarem o peso para dosagem pediátrica provocaram verdadeiras tragédias quando não havia segurança suficiente. E tais casos não são isolados. É difícil saber a verdadeira incidência de importantes erros de usuários induzidos por sistemas. As pessoas não relatam problemas. Há outras implicações da usabilidade insatisfatória que afetam provedores e instituições. A usabilidade insatisfatória resulta em mais trabalho, mais esforço por parte de todos. Muitos

médicos contam que dedicam uma hora extra todos os dias para manter os registros atualizados e abranger a mesma carga de pacientes. Evidentemente, nem tudo é ruim. Também há benefícios significativos. Precisamos ter em mente que nosso objetivo é tornar os sistemas seguros e eficientes. Isso demanda esforços não apenas dos fornecedores; os usuários também precisam se responsabilizar pelo aprendizado. Um EHR não é um caixa automático. Para dominar o sistema, não necessários verdadeiros esforços. Dito isso, tudo deveria ser feito para proporcionar uma melhor experiência do usuário com uma curva de aprendizado o mais suave possível. Do que o senhor vai tratar durante sua apresentação na Conferência Latino-Americana da HIMSS 2015? Minha apresentação irá ao cerne do que define experiência do usuário e usabilidade. Eu também pretendo destacar o fato de que prestar atenção na experiência do usuário é fundamental para o sucesso. Finalmente, falarei sobre algumas ações que integrantes da plateia poderão realizar para exercer um impacto positivo sobre seus usuários.

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Especial Himss

Colaborar. Inovar. Crescer. Dr. Donald Kosiak, diretor médico executivo da Avera Health, EUA, fala sobre telemedicina. O senhor pode compartilhar conosco algumas percepções sobre os avanços tecnológicos e as inovações mais recentes em assistência à saúde domiciliar da Avera Health? Dr. Donald Kosiak (DK): A Avera eCARE se concentrou largamente nas práticas clínicas e hospitalares da medicina no espaço da telemedicina nas duas primeiras décadas de existência. Começamos a articular domicílios e locais não tradicionais nos últimos anos. Um exemplo é o coaching em saúde, que utiliza aplicativos móveis para atingir as metas de saúde para obesidade e diabetes. Outro exemplo é o uso de aplicativos diretos ao consumidor para necessidades de atendimento de urgência a partir de qualquer dispositivo com base na Web ou aplicativo móvel. Além disso, começamos a prestar assistência em ambientes não tradicionais, como visitas de enfermagem nas escolas por meio de telemedicina para ajudar a apoiar a administração local. Começamos também a desenvolver uma equipe de transição para nos concentrarmos nos membros mais vulneráveis da nossa população, os idosos. Criamos uma equipe de geriatras, farmacêuticos, clínicos e enfermeiros para facilitar a transição do hospital para o domicílio, especialmente quando o domicílio é uma unidade de enfermagem qualificada ou unidade de assistência de longo prazo. Isso nos permite administrar mais estreitamente suas necessidades imediatas com uma equipe de assistência especializada para mantê -los saudáveis e fora do hospital. Chama52

mos o programa de eLTC. O eLTC conecta os residentes de assistência de longo prazo aos prestadores de serviços do hospital virtual Avera eCARE usando uma tecnologia de telemedicina audiovisual e bidirecional. Com a ajuda do pessoal da unidade, o eLTC pode avaliar com precisão as condições dos residentes a centenas de quilômetros de distância. O senhor pode compartilhar conosco alguns dos principais desafios encontrados? A telemedicina tem sido uma ótima ferramenta para o cuidado dos pacientes. A Avera está envolvida nesse espaço desde o início da década de 1990. Isso nos possibilitou encontrar muitas “melhores práticas” desde os anos de teste. O maior desafio, surpreendentemente, não é a tecnologia. Hoje, nós nos conectamos com pessoas do mundo todo sem muito pensar. O maior desafio é a gestão da mudança, ou seja, ajudar os pacientes e profissionais de saúde a aprender a fazer coisas de maneiras novas e inovadoras. O segundo maior desafio é o licenciamento e credenciamento dos profissionais da área médica quando eles começam a atravessar as fronteiras. O processo de enfrentar os desafios regulatórios da prática médica enquanto amplia-se a plataforma de telemedicina certamente limitou sua adaptação e seus casos de uso.


Reconhecendo a proporção elevada de áreas rurais na América Latina, quais são algumas das estratégias de TI comprovadas que o senhor acredita podem ajudar a América Latina a prestar assistência à saúde de alta qualidade para todos? A Avera começou na telemedicina muitos anos atrás por causa dos desafios de cuidar dos nossos pacientes rurais. As grandes distâncias entre os hospitais e especialistas começaram a afetar a qualidade do atendimento que poderia ser oferecido. A Avera decidiu que a geografia não deveria ditar a qualidade do atendimento ou o acesso aos profissionais da área médica. A telemedicina foi uma das ferramentas a apoiar essa meta. A Avera presta serviços de telemedicina para uma área de quase 900 mil quilômetros quadrados atualmente, com planos de dobrar a área de cobertura ao longo dos próximos 24 meses. Isso nos impõe vários desafios para alcançar as áreas rurais e fronteiriças. Prestamos serviços para alguns dos pacientes mais graves de UTI e pronto atendimento nessa grande área. Apoiamos o profissional da área médica local com planos de assistência e planejamento logístico. Fazemos isso por meio de unidades fixas e móveis localizadas nos estabelecimentos médicos. Apoiamos ainda muitas clínicas rurais, proporcionando consultas com médicos especialistas na comunidade em que os pacientes residem, visando eliminar algumas das viagens necessárias para prestar assistência especializada e avançada. Finalmente, temos ofertas diretas ao consumidor que permitem a qualquer paciente com um navegador de Internet ou smartphone acessar um profissional da área médica “sob demanda” para questões de menor urgência. Do que o senhor vai tratar durante sua apresentação na Conferência Latino-Americana da HIMSS? Vou discutir os vários casos de uso e as melhores práticas da telemedicina que desenvolvemos em todo o mundo. Vou compartilhar algumas armadilhas e sucessos comuns que podem ser enfrentados no início e no desenvolvimento de um programa de telemedicina. Vou falar sobre o impacto financeiro e clínico desses programas. Finalmente, vou falar sobre os usos futuros da telemedicina que estão logo além do horizonte. 53


Big data

Computação em nuvem

O impacto na redução do custeio 54


A

s organizações globais da indústria de serviços de Saúde vão aumentar seus gastos em cloud computing em 20% ao ano até 2020, quando o valor dos investimentos totais deve superar os US$ 12 bilhões, segundo relatório de empresa Persistent Market Research. Embora o setor tenha pouca experiência e habilidade em transacionar com redes distribuídas centradas na Internet, essa é uma tendência para os próximos anos, principalmente em nações emergentes como o Brasil. O número de contratos entre os provedores de serviços de nuvem e as empresas do setor de Saúde cresce, principalmente na direção da infraestrutura e dos softwares baseados em serviço. As vendas incluem registros médicos eletrônicos, sistemas de arquivamento de imagens, sistemas de controle farmacológico, softwares de gestão radiológica, sistemas de controle de análise clínica laboratorial, ERPs, etc. Tudo sendo fornecido como serviço, em contratos de SaaS e IaaS, com as aplicações flutuando nas nuvens de dezenas de grandes fornecedores. Cloud computing ajuda a armazenar, gerenciar e processar dados de locais diferentes, fornecendo serviços hospedados através da Internet. A redução de custos ainda é o maior apelo para as indústrias de serviços. Nessa caravana digital não faltam outras vantagens para o mercado de Saúde, como a possibilidade de compartilhar informações do paciente entre os profissionais de saúde, ou o aumento da velocidade e flexibilidade dos serviços, ou a gestão em tempo real de imagens médicas, que serão cada vez mais disponibilizadas em nuvem (PACS). Do mesmo modo, os dispositivos móveis ganham cada vez mais popularidade na área médica, com milhares de aplicações (mHealth) apoiando os profissionais de Saúde e os pacientes. Essa integração tende a ser feita em ambientes de nuvem, onde os custos operacionais são menores e as restrições ficam mais contidas no vetor conectividade. Se “tiver banda boa, tem boa nuvem”. Pesquisa publicada em 2014 pelo HIMMS

(Healthcare Information and Management Systems Society) constatou que mais de 80% das organizações de Saúde já utilizam hoje alguma forma de serviços em nuvem nos EUA. A computação em nuvem também aproxima o setor de Saúde das aplicações de Analytics, que combinam massas de dados através de raciocínio sistemático, gerando análises para um processo de tomada de decisão mais eficiente. Utilizar a inteligência analítica significa melhorar o desempenho em domínios fundamentais da informação clínica, usando para isso sólidos instrumentos de análise de dados. Uma unidade hospitalar obstétrica, por exemplo, pode utilizar analytics para cuidar de bebês prematuros. Ela produz análises em tempo real com base na gravação da respiração e do batimento cardíaco da cada um dos recém-nascidos da unidade. Com sofisticados algoritmos consegue identificar padrões, que permitem prever infecções 24 horas antes de o bebê apresentar sintomas visíveis. Essa predição de eventos permite intervenções precoces e ações emergenciais variadas, mas pré-estabelecidas. Da mesma forma, as aplicações analytics permitem utilizar modelos preditivos para decodificar, por exemplo, o DNA humano, fazendo-o em uma fração do tempo cada vez menor. Prevendo as probabilidades de certas doenças estarem presentes no código genético do paciente é possível ações preventivas. Embora seja tudo muito novo, já está claro que esse é o caminho, e para se chegar nele a computação em nuvem é de fundamental importância. Some-se a isso o conceito de Big Data Analytics, que possibilita trabalhar com grandes volumes de dados estruturados e não estruturados, e que, uma vez coletados, armazenados e interpretados por softwares de altíssimo desempenho, podem apoiar sobremaneira grandes avanços científicos. Esse “cruzamento inteligente” também serve como bússola gerencial aos tomadores de decisão dentro da Cadeia de Saúde. 55


Big data

Google Desde 2014, o Google está oferecendo a hospitais e universidades espaço em nuvem para armazenar genomas. O Google Genomics permite análise dos genomas armazenados e a comparação entre eles. Apesar de não divulgar dados, a empresa afirma que o programa já tem pelo menos 3.500 genomas armazenados, tendo um custo US$ 25 anual para guardar um genoma. No futuro os médicos serão capazes de indicar tratamentos e medicamentos específicos (medicina personalizada) que funcionarão melhor para cada paciente, sendo que essa informação será extraída exatamente da sequência genômica de cada indivíduo. O armazenamento de dados em massa (Big Data) abriu uma nova porteira na ciência e na gestão médica. A informação contida em vários tipos de sensores, devices, equipamentos de monitoramento clínico, smartphones, etc., utilizados de maneira generalizada ao redor do mundo devido ao seu baixo custo, contém dados de valor inestimável para a pesquisa e para a medicina personalizada. Setenta e duas horas de vídeo são baixados do YouTube a cada minuto, sendo que em um único ano 50 mil estudos de neurociência são publicados. Como armazenar, gerenciar, analisar e assimilar tanto conteúdo? John E. Kelly, vice-presidente de pesquisas da IBM, em seu livro “Smart Machines”, publicado em 2013, dá pistas: “As mudanças que virão nas próximas duas décadas transformarão a forma como vivemos e trabalhamos da mesma maneira pela qual a computação transformou a paisagem humana nos últimos 50 anos. Com sistemas cognitivos será possível entender melhor o que está por trás das toneladas de dados que já temos, ou que filões de ouro de conhecimento e de novas realidades estão escondidos neles. A partir daí, podemos gerenciar melhor situações complexas, fazer previsões mais precisas e, portanto, nos antecipar melhor aos efeitos inesperados de nossas ações”. Sem sólidas estruturas de computação em nuvem, não teremos acesso a ferramentas de Big Data, ou Analytics, ou mesmo sistemas cognitivos. Tudo passará necessariamente pela nuvem. Seus custos de armazenamento, acesso e análise não deixam opção para verticalizar a informação médica gerada em grande escala. 56


IBM Players do mercado de tecnologia vêm se preparando para ocupar espaços na área de Saúde oferecendo serviços de hospedagem em nuvem. A IBM, por exemplo, informou em agosto de 2015 que está em processo de aquisição da empresa de imagens médicas Merge Healthcare (um negócio de 1 bilhão de dólares) para mixar sua operação com a unidade de análises da própria IBM. A empresa planeja combinar dados e imagens da plataforma de gerenciamento de imagens médicas da Merge Healthcare com o seu sistema de saúde em nuvem. O software analisa grandes volumes de dados, entende questões complexas colocadas em linguagem natural e propõe respostas baseadas em evidências. Essa iniciativa ajudará médicos e pesquisadores a tomar decisões em função de macro e micro análises, que levam em consideração o histórico clínico do paciente, de sua família e dados de outras fontes de informação que analisam sintomas similares.

Modelos A maioria das organizações de Saúde não tem capacidade (nem recursos) para o desenvolvimento de modelos analíticos avançados, ou mesmo a infraestrutura necessária à integração de dados estruturados que chegam através de inúmeras fontes. Soluções baseadas em nuvem podem oferecer uma opção fácil e rentável para tratamento analítico dos dados, deixando para o hospital, por exemplo, focar sua atuação na melhoria da assistência ao paciente. Grande parte dos serviços de computação em nuvem é oferecida em três tipos de contratos: (1) SaaS - “software como serviço”, inclui na hospedagem todos os sistemas e aplicativos para serem rodados online, como as ferramentas de ERP e CRM, administração de estoque e finanças, etc., sendo que o cliente tem direito a suporte técnico remoto e atualizações automáticas; (2) IaaS –“infraestrutura como serviço”, onde a empresa contrata o poder de processamento de computadores de última geração, que, embora estejam localizados em provedor de nuvem (Amazon, Google, Microsoft, etc.), são reservados exclusivamente para aquele negócio/cliente; e o (3) PaaS – “plataforma como Serviço”, um modelo que fica entre o SaaS e IaaS, proporcionando uma plataforma mais robusta e flexível para a utilização de muitos recursos 57


Big data e onde é possível utilizar softwares de maneira mais flexível (sendo possível desenvolver suas próprias aplicações). A contratação de serviços em nuvem está ancorada em contratos de SLA (service level agreement), que possuem garantias adicionais que um contrato comum de serviços não tem. Um SLA, por exemplo, estabelece um tempo máximo para que o provedor de nuvem recoloque o serviço no ar em caso de pane.

Privacidade A maior preocupação continua sendo a segurança da informação. Já existem casos de violação de dados e as organizações de Saúde relutam em hospedar suas informações (um de seus maiores ativos) nas plataformas em nuvem. Os aspectos de segurança não envolvem somente o provedor da hospedagem em nuvem, mas todo o ecossistema que inclui o provedor de soluções de análise, a plataforma de integração de dados e uma série de outros players que precisam demonstrar robustez para garantir a privacidade e o sigilo das informações. Da mesma forma, preocupam os aspectos ligados à interoperabilidade e portabilidade de aplicativos. A ‘portabilidade de dados de um serviço de nuvem para outro serviço de nuvem’ também é uma questão de grande complexidade, e que exige níveis compartilhados de garantia (o que nem sempre é fácil). Os países têm elegido ou criado agências reguladoras locais, cabendo a elas exigir que os padrões, normas e leis internacionais sejam aplicados no país. No Brasil essa normatização está sendo feita pela ABNT junto ao subcomite da ISO/IEC - JTC 1/SC 38. De qualquer forma, grandes esforços estão sendo feitos para reduzir os riscos e novas formas de lidar com a segurança de dados surgem todos os dias. Modelos baseados em nuvem oferecem várias vantagens sobre os modelos tradicionais de software local, sendo as principais: (1) a redução nos ciclos de implementação e o (2) menor custo total de propriedade (TCO), sem contar que os serviços de cloud computing geralmente são baseados em contratos de serviço que eliminam a necessidade de altos investimentos iniciais em hardware e software. Além disso, a solução é “escalável”, ou seja, à medida que a 58

Utilização Segundo dados da Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação), em 2015 o crescimento de utilização da computação em nuvem deve crescer 10% em relação a 2014, sendo que quase a metade dos empreendimentos nacionais já utiliza este tipo de recurso. Outro estudo global, publicado pela GfK, mostra que o armazenamento de conteúdos em nuvem é considerado essencial para quase um terço (31%) da população mundial que está on-line. A pesquisa, que envolveu 26 mil entrevistas em 22 países, mostrou que os países latino -americanos são aqueles que registram o maior número de adeptos da computação em nuvem, sendo que o México e o Brasil lideram a pesquisa.


organização cresce (ou decresce) o provimento de serviços pode ser aumentado ou reduzido sem impactos operacionais para a empresa. A tecnologia de cloud computing está disponível em três formatos básicos: Nuvem Pública, quando as empresas partilham servidores e onde o fornecedor do serviço se responsabiliza pela hospedagem, manutenção e segurança dos dados do cliente (que paga apenas pelo que utilizar); Nuvem Privada, quando a empresa tem exclusividade no uso do servidor e dispõe de total controle sobre os recursos da nuvem; e Nuvem Híbrida, que mescla o que há de melhor nos dois formatos anteriores. No Brasil, por exemplo, a Telefonica Vivo já está capacitada a oferecer computação em nuvem híbrida.

Ampliando a adoção da nuvem Um estudo do IDC (“InfoBrief – Não fique para trás: como ampliar a adoção da nuvem”), publicado em 2015 e que envolveu executivos de 3.400 empresas em 17 países, identificou cinco estágios de maturidade de adoção da nuvem: ad hoc (temporária, provisória), oportunista, repetível, gerenciada e otimizada. O estudo revelou que as empresas que utilizam ambiente em nuvem, e que aumentam sua maturidade do nível mais baixo (ad hoc) para os mais altos, obtiveram os seguintes resultados: (1) 10,4% de aumento nas receitas; (2) 77% de redução dos custos de TI; (3) 99% de diminuição no tempo de prestação de serviços e aplicações de TI; (4) 72% maior capacidade do departamento de TI 59


Big data em atender ao nível de serviço (SLAs); e (5) capacidade duplicada de investimento em novos projetos para impulsionar a inovação. O estudo, que analisou empresas que utilizam nuvens públicas, privadas e híbridas, revelou também que os benefícios econômicos (quantitativos) identificados pelas empresas que adotaram nuvens mais “maduras” foram, em média, de US$ 1,6 milhão em receitas adicionais por aplicação em nuvem privada ou pública. Essas empresas também registraram redução de custos de US$ 1,2 milhão por aplicação baseada em nuvem. Segundo a pesquisa, globalmente o setor de manufatura tem a maior porcentagem de empresas que adotam ambientes em nuvem (com 33%), seguido de TI (30%), finanças (29%) e Saúde (28%). Nos Estados Unidos, uma em cada cinco pessoas já utiliza aplicativos de mHealth em seus smartphones (em nuvem), sendo que o processo de nuverização na área de Saúde cresce de forma exponencial. A American Academy of Family Physicians, por exemplo, entidade que congrega médicos de família, fechou acordo em agosto de 2015 com a HealthFusion para oferecer um sistema integrado de EHR (Electronic Health Record), denominado MediTouch, aos seus 121 mil membros-médicos. O sistema funciona em nuvem e foi desenvolvido especificamente para médicos de família, com características peculiares de gestão clínica e protocolos de atendimento personalizado. Hospitais, por exemplo, podem obter excelentes ganhos utilizando uma arquitetura de cloud computing para hospedar seus dados. Célebre por gerar massas de dados diários, geralmente armazenadas em papel, é muito fácil perder esses da60

dos ao longo do caminho. A nuvem torna muito mais fácil acessar essas informações, tornando mais simples e flexível a gestão clínica do paciente e a gestão administrativa do hospital. No Brasil, por exemplo, é raro um hospital não gastar de três a quatro horas (no mínimo) para dar alta médica e fechar uma conta de internação. A coleta de dados e registros espalhados por várias áreas, armazenados em diversos computadores, com inúmeros funcionários coordenando as informações, cria um natural gigantismo operacional que deságua nos custos da entidade. Sem falar nos valores consumidos anualmente em manutenção, upgrade de sistemas, armazenamento vertical de dados, retrabalho, etc. Da mesma forma, a informação centralizada em nuvem ajuda a detectar erros, avaliar diagnósticos equivocados, acompanhar o progresso do paciente e, acima de tudo, tomar decisões com mais rapidez a assertividade. Serviços em nuvem já possuem aplicativos capazes de identificar muitos dos erros que ocorrem dentro dos hospitais, como, por exemplo, o lançamento errado de faturas ou falhas em handling de medicamentos. Da mesma forma, médicos podem acessar os dados clínicos do paciente (através de um Registro Eletrônico de Saúde em nuvem) de qualquer lugar e compartilhá -los com seus pares a qualquer momento. Ganha o hospital (redução de custos), ganha o médico (produtividade) e certamente ganha o paciente, que recebe um atendimento mais ágil e seguro. Os ganhos da redução de custeio, na praticidade gerencial e na flexibilidade organizacional estão direcionando os players da Cadeia de Saúde para o ambiente de cloud computing. Em ambiente de crise e instabilidade econômica, mas rápida será essa migração.


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Telehealth

O impacto da telemedicina na gestĂŁo clĂ­nica 62


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ão são poucos os que acham que a Telemedicina veio salvar os Sistemas de Saúde. Se nossa história contemporânea pode ser separada em ciclos, como a Era da navegação, ou a Era da borracha, ou mesmo a Era da Informação, é provável que nossos sucessores vão rotular nosso tempo como a Era da Remotelização. O termo remotelization é mais um neologismo dos muitos que nascem todos os dias na mídia, mas seu significado já é bastante percebido pela sociedade do Século XXI: acesso remoto (ou acesso à distância). Healthcare Remotelization, por exemplo, passou a ser uma realidade que transpassa o radar de qualquer nação minimamente estruturada. Sem parâmetros que abrigam o acesso remoto não existiria a Telemedicina. Healthcare Remotelization nada mais é do que a prestação de um serviço médico sendo realizada de forma remota, sem que o provedor do serviço (médicos) e os pacientes tenham que estar necessariamente no mesmo espaço físico. A Telemedicina provou ser possível um imenso universo de relações à distância, seja entre médicos e pacientes, ou entre médicos e seus colegas, ou entre qualquer profissional de Saúde e a Cadeia de Atenção à Saúde (sistema) que lhe governa, ou entre pacientes e outros pacientes, ou entre estes e seus familiares, ou entre máquinas, ou entre sensores, ou, até mesmo, entre indivíduos sem qualquer doença se relacionando com dispositivos eletrônicos que possam monitorar, prevenir e alertar sobre possíveis patologias. A remotelização elimina a distância entre o provedor e o consumidor do serviço. A telemedicina convencional, cercada por imagens médicas, transferência de arquivos, compartilhamento de telemetria, feita em geral entre médicos, ou entre centros de pesquisas, chegou aos baixios da realidade sanitária mundial. Esse novo viés, também denominado de telemedicina aplicada, ou simplesmente de Telehealth, desenvolveu uma cesta de subdisciplinas, de novos núcleos de teleassistência médica, que explodem em múltiplas e infindáveis soluções para acompanhamento remoto dos pacientes. Estamos diante de uma revolução promovida pelas tecnologias de informação e comunicação, e promulgada pela premência de resolver alguns dos mais antigos e “insolúveis” problemas dos Sistemas de Saúde. Telehealth difere da Telemedicina em seu âmbito de serviços, que ficou mais alargado, mais informativo, menos conceitual e mais efetivo para os pacientes. Enquanto a telemedicina foca os serviços clínicos remotos, as plataformas de telehealth podem atuar também em serviços remotos não clínicos, como prover formação e educação médica continuada, disponibilizar alertas sobre a Saúde individual do paciente, identificar sinais vitais à 63


Telehealth distância, apoiar o paciente na busca de informações sobre seu bem-estar, prover comunicação síncrona entre médicos e pacientes, e muitas outras utilities. Para muitos a diferença entre Telemedicina e Telehealth é meramente semântica, mas isso não importa. O que vale pensar é o novo mundo que essas disciplinas estão abrindo no contexto da Saúde universal. A Era da Remotelização confunde-se também com o início de grandes acontecimentos tecnológicos que estão impulsionando várias indústrias de serviços, e que no Século XXI aportaram definitivamente no setor de Saúde. Tempos novos em que a conectividade (global connectivity) ganhou músculos e alcance, em que a computação em nuvem (cloud computing) está reinventando os sistemas distribuídos, e no qual a telefonia móvel (mobile telecom) encolheu os espaços e turbinou as relações interpessoais. Acontecimentos tecnológicos como as redes sociais (social network), que já integram mais de um bilhão de indivíduos no planeta, ou àquelas transformações que fazem com que as coisas da internet se transformem em internet das coisas (IoT - internet of things). Tecnologias novas que circulam pelos poros da sociedade com íntima agilidade, como, por exemplo, as ferramentas de Big Data que pela primeira vez nos abrem uma porta para fazermos algo útil com os bilhões de dados que a civilização cria a cada minuto. Seremos capazes de tomar decisões mais assertivas, de forma mais rápida e de modo mais preventivo quando passamos a compreender melhor as demandas de uma sociedade imersa em informação e transformação. A telemedicina aplicada pega carona em todos esses acontecimentos tecnoculturais e produz valor através de sua imensa plataforma de subprodutos, tais como: TeleConsulta (consultas médicas à distância), Telecare (cuidado residencial), Remote Patient Monitoring (monitoramento remoto do paciente), 64

Crescimento acelerado O IDC Health Insights, importante vetor de projeções na área de Saúde, informou recentemente que a estimativa é de que 65% de todas as transações das organizações de Saúde em 2018 sejam realizadas remotamente e através de telecomunicação móvel.


TelePatologia (interpretação diagnóstica de imagens patológicas), Telerradiologia (interpretação de imagens radiológicas), TeleDermatologia, TeleOftalmologia, TeleCirurgia, TeleCardiologia, TeleDiabetes, TeleNefrologia, TeleOncologia, e inúmeras outras disciplinas que gravitam em torno da mesma proposta: utilizar as tecnologias de informação e comunicação para apoiar o diagnóstico, a intervenção médica e as demandas individuais dos pacientes à distância. Segundo dados da empresa de pesquisa Kalorama Information, divulgados em agosto de 2015, vem ocorrendo uma explosão no setor de Telemedicina&TeleHealth na última década. A empresa estima que até o final de 2015 o setor chegará a uma receita de US$ 33,7 bilhões. As fusões entre grandes players do setor estão crescendo, assim como as relações de parceria entre empresas de outros setores, que se juntam para alcançar mercado, como, por exemplo, os desenvolvedores de apps (mHealth) com as companhias do setor de telemedicina. Em 2001, uma equipe de médicos franceses e americanos já fazia história ao conduzir remotamente a cirurgia em um paciente em Estrasburgo (França), contando com transmissão de banda larga e de um robô cirúrgico chamado Zeus. Esse evento cirúrgico (chamado de operação Lindbergh) foi um marco que catapultou a telemedicina do reino da ficção científica para o mundo real. Na realidade, uma simples conversa telefônica entre o médico e um paciente já pode ser considerado um evento de telemedicina. Todavia, a engenharia por detrás desse evento remoto evoluiu, sendo que

hoje é comum separar a telemedicina em dois formatos de comunicação: (1) os eventos que ocorrem em tempo real, chamados de síncronos (como consultar um especialista remotamente ou a realização de educação médica continuada); e (2) store-and-forward, também conhecida como a comunicação assíncrona, onde dados digitais são enviados a um profissional (ou mesmo para um paciente) que posteriormente atua em cima deles. Os avanços nesses dois formatos não tem paralelo na história da ciência médica.

Assimetria assistencial Ainda existe muita assimetria no atendimento clínico: muitos médicos passam tempo demasiado com pacientes que não precisariam desse slot de atendimento, enquanto gastam pouco tempo com pacientes cuja gravidade é crítica. Um retorno para a entrega de um exame solicitado, por exemplo, em que muitas vezes o paciente (idosos em especial) precisa de horas de traslado, tendo de utilizar vários meios de transporte, sendo que o médico pode simplesmente concluir que o resultado deu negativo (sem mais qualquer exame adicional), poderia ser perfeitamente realizado através de uma teleconsulta (sendo menos desgastante, menos custoso e muito mais efetivo). Eventuais prejuízos se diluem nos ganhos de mitigar o desconforto, os custos para o Sistema e a relação assimétrica de atenção (outros pacientes talvez precisassem mais desse tempo médico). A gigante Envision Healthcare, com sede no Colorado (EUA) e atuante na prestação de ser65


Telehealth viços emergenciais, anunciou em julho de 2015 uma parceria estratégica com a InTouch Health, uma provedora de tecnologia Telehealth. O projeto envolve disponibilizar conectividade para suporte de voz, imagem e dados a mais de 27 mil médicos. O crescimento da telemedicina aplicada deve-se em grande parte as inúmeras possibilidades criadas a partir das estações de videoconferência, que ficaram cada vez mais baratas, sofisticadas e passaram a fazer parte de qualquer equipamento computacional. O Virtual Wellness Telemedicina Portal, por exemplo, aproveita essa tecnologia emergente e leva o contato do paciente com o Sistema de Saúde (não importa se público ou privado) onde as possibilidades de acesso aos profissionais de Saúde são insuficientes, ou quando os pacientes têm dificuldade de locomoção. As chamadas visitas virtuais (eVisits) são o alvo do Virtual Wellness, que foi totalmente desenvolvido para monitorar o paciente remotamente. Pessoas, principalmente idosas, que carecem de constante monitoramento acessam o portal e através de um canal de videoconferência são capazes de tirar suas dúvidas, ou “descarregar” os dados de seus dispositivos de aferição de sinais vitais (medical devices) que são avaliados pelos médicos que acompanham suas atividades. Também proliferam os quiosques médicos (espaços físicos fechados, dentro de logradouros públicos), que contam com vários instrumentos de medição. O usuário entra no quiosque e conversa com o médico (através de videoconferência), ajudando-o na identificação de seus sinais vitais. 66

Panorama global Embora a América do Norte ocupe a maior fatia do mercado mundial de Telehealth, a Ásia (Pacífico) é a região que mais cresce globalmente. Um exemplo de avanço da telemedicina fora do eixo Ocidental ocorre na China. Uma pesquisa de mercado realizada pela companhia RnRMarketResearch, publicada em agosto de 2015 e tendo como alvo o mercado chinês (“Global and Chinese Market Scenario”), mostrou que desde o final de 2014 a China vem investindo pesadamente nesse setor, sendo que 50% dos hospitais provinciais e 42% dos hospitais primários estão construindo centros internos de telemedicina. Na Alemanha, a Associação Federal de Dermatologistas (BVDD) iniciou em setembro de 2015 os testes do Techniker Krankenkasse (TK), um projeto de atendimento clínico através de videoconsulta (on-line) que é realizado em conjunto com a seguradora de Saúde Krankenkasse. O paciente entra no sistema através de uma sala de espera digital, em seguida o médico o chama através de seu consultório virtual (que pode ser em sua residência, num hospital, ou mesmo a beira da praia). O acesso é feito através de uma webcam instalada em qualquer tipo de computador, ou tablet, ou mesmo em um simples smartphone. Inúmeras controvérsias surgiram depois do lançamento do projeto, assim como ocorre em todos os países que adotam soluções remotas de telemedicina. Mas, as iniciativas avançam. Na França mais de 350 projetos de telemedicina estão em curso em 2015. Em uma nação com um grande déficit de médicos, as soluções de telehealth ganham espaço e velocidade. Na Índia, o avanço vem sendo apoiado pelo Estado. O ministro de Tecnologias de Informação, Ravi Shankar Prasad, lançou em agosto de 2015 o programa SEHAT, uma iniciativa para impulsionar a telemedicina nas zonas rurais do país. Cerca de 60 mil unidades de atendimento primário (CSC - Common Service Centres) serão conectadas através de uma rede digital que irá ajudar nos cuidados da saúde. O eixo do programa é acesso a teleconsulta pelos habitantes das zonas rurais, que têm poucas (ou nenhuma) opções de atendimento. O projeto conta com o apoio de várias instituições privadas, que sustentam as tecnologias e ajudam na dissemina-


ção das ações de teleconsulta. Um aspecto que fica evidente na sociedade contemporânea é a importância que a imagem passou a ter na medicina a partir da segunda metade do Século XX. A imagiologia médica contagiou cientistas, médicos, pesquisadores, a indústria de equipamentos e até o paciente, que já utiliza seu smartphone para, por exemplo, mostrar a ultrassonografia de um novo membro da família. O processamento da imagem passou a ser uma febre na indústria médica-tecnológica, sempre atenta à melhoria da qualidade da imagem, mas, principalmente, na capacidade de compressão de arquivos. Algoritmos e softwares de 2ª e 3ª gerações sofisticaram a tal ponto o processamento que algumas ferramentas (Imaging 3.0) já estão formatadas para absorver o Registro Eletrônico do Paciente, podendo armazenar e compartilhar as imagens através de uma Nuvem, coletar e processar a imagem em ambientes físicos distantes (países diferentes, por exemplo), disponibilizando o arquivo no celular de um médico. Detalhe: boa parte dessas imagens já é visualizada em 3D. Trata-se de um ciclo de transmissão e interpretação que pode fazer a diferença no custeio do setor, bem como na condução do tratamento do paciente. As vantagens das novas plataformas de PACS

(Picture and Archive Communication System) são inúmeras: (1) melhoria sensível na resolução das imagens. (2) velocidade de localização e disponibilização (quase instantânea); (3) capacidade de acesso ao legado de imagens do paciente, permitindo a comparação e o estudo de pertinência dos tratamentos; (4) inúmeras facilidades e funcionalidades dos algoritmos embarcados nos sistemas, capazes de realçar detalhes, demarcar regiões sensíveis, inserir contornos, contrates e emular modelos inteligentes de multicoloração; (5) possuem ferramentas complexas e criptografadas para garantir a segurança e a privacidade dos dados; etc. Mais do que qualquer coisa, o PACS passou a ser uma filosofia, um drive de produção de valor e, acima de tudo, uma prática médica cotidiana em todo o mundo. Outro fator decisivo na utilização das ferramentas de imagiologia é a sua interoperabilidade, um desafio gigantesco que “por mais que avance sempre parece não avançar”. Essa integração sistêmica requer padrões, protocolos e regras de segurança que já são de domínio mercadológico, mas que ainda recebem resistências culturais. Da mesma forma ocorre com os parâmetros de acessibilidade, que podem avançar tecnologicamente, mas ainda patinam feio quando as soluções são de fornecedores 67


Telehealth diferentes, com múltiplos formatos de acesso, matrizes de segurança e privacidade em níveis desiguais, e diferentes tecnologias proprietárias, de diferentes fornecedores que só costumam se “encontrar” nos tribunais quando os projetos ganham espaço jurídico. No entanto, por qualquer lado que se analisem os problemas, eles são insignificantes comparado com os ganhos que a telemedicina traz aos Sistemas de Saúde e, principalmente, a prática médica. Pesquisadores da Universidade de Maryland, por exemplo, já conduzem ensaios clínicos utilizando um Magnetic Resonance Imaging (MRI) com foco em ultrassonografia capaz de atingir uma estrutura dentro do cérebro de um paciente com doença de Parkinson. Os médicos são capazes de ver as imagens em tempo real da área a ser tratada, o que significa um monumental salto neurológico, permitindo soluções terapêuticas não invasivas para controlar a doença, sem falar na redução dos efeitos colaterais. Com quase um milhão de indivíduos nos EUA com o mal de Parkinson (segundo distúrbio de movimento mais comum) e ainda sem previsão de cura, as possibilidades que a imagiologia pode aportar no problema são animadoras. Outra área em que a telemedicina aplicada vai deixando sua marca é a que envolve pacientes com DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica). Quem utilizou um aplicativo baseado em telemedicina para relatar seus sintomas diários, recebendo recomendações no mesmo dia de seu provedor, experimentaram menos sintomas graves de exacerbação do DPOC. Mais que isso: houve uma sensível melhoria na função pulmonar. Essa é a conclusão de um estudo clínico realizado ao longo de dois anos pela Temple University Health Systems’ Lung Center, sediada na Filadélfia, e publicado no Telemedicine and e-Health Journal em 2014. O estudo revela que os pacientes podem relatar seus sintomas através de um app, sendo os dados avaliados por um algoritmo que compara com os valores anteriores. O aplicativo utilizado pelos usuários (HealthKit) é um framework que recebe informações de vários dispositivos médicos que 68

monitoram os sinais vitais do paciente (batimento cardíaco, pressão arterial, etc.). Ao invés de cada device (muitas vezes de fornecedores diferentes) enviar seus dados às centrais de dados, o HealthKit rastreia a informação, coleta, transforma em gráficos e imagens e envia a uma única central de controle, que repassa os dados aos médicos coligados. Mais de 23 hospitais na Filadélfia estão realizando testes com esse app, sendo que 86 pacientes foram selecionados para o estudo da Temple University. O resultado da pesquisa foi explicado pelo pesquisador Gerard Criner, diretor da universidade: “Pesquisas anteriores, em outros locais, têm questionado a eficácia de várias soluções de telemedicina em pacientes com DPOC, mas esse estudo nos permitiu ver o efeito de uma solução que no mesmo dia informa o agravamento dos sintomas do paciente”. A Telemedicina ainda está dando seus primeiros passos. Não deixam de serem passos largos, mas ainda existem muitas áreas de aplicação que ela pode e deve avançar com muito maior empenho. Como na pediatria, por exemplo. O Dr. Patrick K. FitzGerald, vice-presidente do Children’s Hospital of Philadelphia, ressaltou em setembro de 2015, no congresso MedCity CONVERGE: “A maior necessidade não atendida na pediatria é aquela que envolve a telemedicina”. FitzGerald fazia menção ao fato de que quase todas as grandes inovações em telehealth têm como alvo o público adulto. Ou seja, os testes da validação das novas aplicações nunca privilegiam primeiro o público infantil/juvenil, sendo este deixado por último. Ainda que sejam lembrados, na maioria das vezes as empresas, os pesquisadores e fornecedores sequer consultam a Cadeia de Serviços pediátricos, que inclui seus profissionais, hospitais, clínicas, etc. Há muito que fazer, mas a velocidade dos avanços não deixa dúvida sobre o que vem pela frente. Será preciso uma revolução cultural dentro da comunidade médica, mas ela já está acontecendo. Dia a dia mais médicos se envolvem com a teleimagem e com o seu poder de teleguiar a pratica médica.


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ARTIGO

Paulo Magnus, Presidente da MV

Business Intelligence: atuação estratégica também na saúde

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m muitas organizações, os responsáveis pela tomada de decisões na maioria das vezes não conhecem suas reais necessidades de informações. Na verdade, não têm ciência do que existe e do que pode estar à disposição para auxiliá-los a ter visão ampla, dinâmica e sistêmica do negócio. Por isso, ferramentas de Business Intelligence (BI) são cada vez mais apontadas como itens obrigatórios à gestão corporativa. Na área da saúde, segmento pressionado a oferecer serviços de qualidade geralmente com recursos escassos, o uso do BI ainda é pouco difundido. No entanto, já existem hospitais, clínicas e outras instituições que descobriram suas vantagens. A partir da consolidação de vários dados em um único repositório para busca e interpretação de informações armazenadas em tempo real, o BI garante acesso amplo e detalhado a questões operacionais, como o quadro clínico dos pacientes para que a equipe médica realize estudos sobre situações de risco e responda com ações que possam evitar futuros problemas. Outro ponto fundamental, mais um exemplo da possibilidade de uso da inteligência de dados na saúde, é o fato do gestor ter pleno controle do que acontece em todos os setores de uma instituição, desde as questões financeiras até o cuidado com o pacien-

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te. Isso facilita a abertura de planos de ação para resolução de problemas e a gestão de resultados de maneira organizada. Uma vez que o executivo de um hospital deixa de conduzir o futuro organizacional pelo método “tentativas/erros” e passa a planejar o negócio a partir de conhecimentos reais, aumenta-se a chance de sucesso. Na saúde pública, além de proporcionar aos gestores municipais uma visão administrativa de unidades e serviços prestados, o BI pode ter grande utilidade na definição de ações preventivas e corretivas. A capacidade de memorizar, cruzar e compartilhar dados provenientes de diferentes instituições que atendem diariamente a população possibilita investigação e controle epidemiológico por localização ou tipo de doença, redução de custos pela identificação de problemas e desperdícios, melhor distribuição da oferta de serviços, aumento na qualidade do atendimento a pacientes, dentre muitos outros fatores, como até uma atuação governamental mais proativa em vez de reativa. Capazes de transformar inúmeros dados em informações inteligentes, as ferramentas de BI apontam para fatores críticos e oportunidades, identificam padrões e tendências, apresentam análises estatística e histórica para criação de metas e, dessa forma, guiam gestores e viabilizam a elaboração de planejamentos estratégicos com segurança.


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Eventos 2015 Novembro Evento: HIMSS Latin America Local: Grand Hyatt – São Paulo/SP Data: 04 a 05 de Novembro Evento: Feira Medica Local: Dusseldorf - Alemanha Data: 16 a 19 de Novembro

2016 Evento: Fórum + Prêmio Health-IT Local: São Paulo Data: 2016

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