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EDITORIAL
O lado humano é sempre mais cativante!
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Edmilson Jr. Caparelli CEO e Publisher
Em outubro, realizamos no Sofitel Jequitimar, no Guarujá (SP), um encontro que ficará marcado para sempre na história do Grupo Mídia. Lá, reunimos mais de 150 gestores convidados e seus acompanhantes para um final de semana de lazer, trocas de conhecimento e network. As brilhantes palestras de Leandro Karnal e Alexandre Slivnik mostraram para nós a importância da ética, transparência e o papel do líder na condução desses elementos na gestão. Mas além dos negócios, o que mais me marcou foi a oportunidade de poder conhecer a pessoa que está por trás daquele gestor que todos conhecem. Sempre soube da pessoa humana de Mario Vrandecic, mas lá pude conhecer sua esposa, Dona Heloisa, que falou com tanto carinho de seus filhos e netos. Lá também pude conhecer melhor Luiz Márcio Araújo Ramos, diretor executivo da Fundação São Francisco Xavier, junto também de sua esposa e seu filhinho que se divertiu pelas praias de Guarujá. Conversa vai, conversa vem e acabei descobrindo um amigo em comum com Roberto Sá Menezes, provedor da Santa Casa da Bahia. É um jogador lá no time do Vitória da Bahia. Foi uma ocasião que o Grupo Mídia conseguiu romper as barreiras geográficas e colocar em um só lugar gestores de todos os cantos do Brasil. Pudemos contar com a presença de Wilson Niwa, presidente da Unimed Belém; Alceu Alves da Silva, do Hospital de Mãe de Deus (RS); Ir. Marinete Tibério, do Hospital São Vicente de Paulo (RJ), e tantos outros. Também não vou me esquecer de nossa noite de Karaokê. Não arrisquei cantar nenhuma música, mas conferimos de perto as vozes e talento do setor. É justamente esse o nosso propósito: unir a comunidade da saúde, levando conhecimento e, ao mesmo tempo, contribuir para uma relação mais humana entre esses importantes nomes do setor. E no ano que vem completaremos 10 anos de Grupo Mídia. A festa já está programada e, com certeza, terei mais histórias para contar.
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NESTA EDIÇÃO
SETEMBRO - OUTUBRO Código de Cores A HealthCare Management organiza suas editorias pelo código de cores abaixo: Líderes e Práticas Sustentabilidade Health-IT Mercado Gente e Gestão Ideias e Tendências Estratégia Health Innovation
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Custos sociais da perda auditiva No Brasil e no mundo, a deficiência auditiva traz impactos psicossociais e financeiros que poderiam ser minimizados pelo uso de aparelhos auditivos implantes cocleares esistemas de FM, evidencia EHIMA
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Um investimento, vários acertos Ricardo Santoro, diretor de Tecnologia da Informação do Albert Einstein, fala sobre o uso de TIC no setor, a adesão do corpo clínico frente às novas tecnologias e as tecnologias emergentes mais promissoras para a Saúde
Articulistas:
40 José Branco | 48 Carlos Goulart
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Eficiência operacional Outsourcing de impressão no Hospital Sírio-Libanês gera economia de 80%
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A Excelência Disney aplicada na Saúde O valor do engajamento, da empatia e da conexão emocional nos serviços que o hospital entrega para seus pacientes
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Aprimoramento Auditores em contas médico-hospitalares se reúnem no XI CONBRASS
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A bola da vez é Rio Grande do Sul Instalação do cluster no Rio Grande do Sul avançam. Crescentes investimentos na Saúde despontam o Estado como referência na Saúde brasileira
Márcia Mariani
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68 Evaristo Araújo
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Renovando ideias GESTI Soluções promove evento em Ribeirão Preto com discussões e debates a respeito da gestão hospitalar e empresarial
Gestão como prioridade A importante contribuição da FBAH para a profissionalização da administração hospitalar no Brasil
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Gestão laboratorial de excelência Com duas acreditações CAP de qualidade, laboratórios o Hospital Albert Einstein compõem o seleto grupo de instituições com excelência na gestão
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Logística eficiente Centralização dos processos de transporte e armazenamento de medicamentos e vacinas traz segurança às entregas de ponta a ponta e favorece a redução de custos
“A crise separa o amador do profissional” Em palestra para mais de 100 executivos da Saúde, Leandro Karnal fala sobre ética, crise e liderança na gestão
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SAÚDE
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pontuando a gestão
Jocelmo Mews, Diretor de Operações da Pró-Saúde no Brasil
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III Fórum Healthcare Business e Prêmio Excelência da Saúde 2016 Grupo Mídia promove evento para mais de 150 executivos do setor da Saúde no Sofitel Jequitimar
PERFIL
Luiz Sérgio Pires Santana, Superintendente Executivo do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo
78 PONTO FINAL O problema da saúde não é o subfinanciamento
Confira mais vídeos no HCM TV http://goo.gl/j3zuWh
Online Líderes da Saúde 2016 chega a sua quarta edição No dia 6 de dezembro, em São Paulo, o Grupo Mídia realizará a quarta edição do prêmio “Líderes da Saúde 2016” A escolha dos eleitos baseou-se em votos pelo site healthcaremanagement.com. br, além da análise de mercado. Serão 23 categorias com três homenageados em cada uma. Entre as categorias estão Associação, indústria de Equipamentos, de Materiais, Farmacêutica, entre outros. O objetivo é homenagear as empresas e instituições de saúde que mais se destacaram neste último ano.
Grupo Mídia lança sua primeira revista internacional O Grupo Mídia estará presente na Feira Medica, em Düsseldorf, Alemanha, onde lançará sua nova revista voltada para o mercado internacional: a Healthcare Management International. Está é a primeira publicação internacional do grupo e circulará em diversos eventos do setor. A revista traz uma diagramação diferenciada e totalmente em inglês, com assuntos sobre a gestão de saúde e inovações, mostrando o potencial do mercado brasileiro para o mundo.
Abimed e Anvisa firmam parceria técnica e operacional A Abimed e a Anvisa firmaram um acordo de cooperação técnica e operacional com o objetivo de trocar experiências, desenvolver trabalhos e atividades científicas e aprimorar processos e práticas de Vigilância Sanitária que contribuam para a promoção e proteção da saúde no país. A parceria terá duração de quatro anos. O acordo prevê a realização conjunta de eventos para disseminação de conhecimento, – em especial em relação a novas tecnologias; atividades de fomento às Boas Práticas Regulatórias; entre outros.
SIGA, CURTA E COMENTE
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Palavra da editora
DA ÉTICA À TECNOLOGIA
Carla de Paula Pinto, Editora da Revista Healthcare Management
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“A crise separa o amador do profissional. É o momento em que a estratégia se torna mais forte, principalmente no momento que nós vivemos.” Essas foram as palavras de Leandro Karnal em sua palestra durante o III Fórum Healthcare Business, realizado em outubro pelo Grupo Mídia. Em entrevista exclusiva para a Healthcare Management, Karnal ressalta a importância da vida ética. “Um projeto baseado na falta de ética não se susten-
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ta. Não há uma maneira correta de fazer a coisa errada.” Também nesta edição trouxemos uma matéria com Alexandre Slivnik, autor do best seller “O Poder da Atitude”. Slivnik explica como a excelência Disney pode ensinar a gestão e o atendimento humanizado na Saúde. Neste contexto, Slivnik ressalta a importância do papel do colaborador e afirma que quanto maior a valorização deles, maior é o resultado e melhor é a entrega para o paciente. Esta edição também traz uma entrevista com Jocelmo Mews, diretor de Operações da Pró-Saúde, Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar. Mews, que visitou a sede do Grupo Mídia, em Ribeirão Preto, falou sobre sua atuação na Pró-Saúde, os desafios e a transparência na gestão de pessoas na entidade. Ricardo Santoro, Diretor de Tecnologia e Informação do Hospital Israelita Albert Einstein, também está nesta edição. O executivo dá a sua opinião sobre a adesão da tecnologia na área da Saúde, o avanço da TI no país, e os investimentos do Albert Einstein em modernização de sua infraestrutura e arquitetura de TI.
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SAÚDE
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Formado em Comércio Exterior e Administração de Empresas, Jocelmo Mews chegou à Pró-Saúde para administrar um hospital no Paraná. Após três anos, o executivo foi transferido para o cargo de diretor regional no Rio de Janeiro e, atualmente, responde pela diretoria de operações da entidade no Brasil.
Gestão diferenciada 16
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Há quase 50 anos no mercado, a Pró-Saúde tem a gestão apoiada na transparência e qualidade do serviço prestado, sendo destaque nas regiões onde atua
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Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, Pró-Saúde, está presente em 11 estados na área de administração hospitalar. A entidade tornou-se amplamente reconhecida no setor, principalmente na assistência aos usuários ligados diretamente ao SUS, proporcionando com qualidade serviço de assessoria e consultoria, planejamento estratégico, capacitação profissional, diagnósticos hospitalares, entre outros. Diretor de Operações da Pró-Saúde no Brasil, Jocelmo Mews fala à Healthcare Management sobre o modelo de gestão e a caminhada da entidade ao longo dos seus 50 anos, que serão comemorados em 2017.
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Em 2017, a Pró-Saúde completará 50 anos. Quais são os destaques da entidade ao longo desses anos? A Pró-Saúde completará 50 anos de existência focada num trabalho realmente dedicado à gestão hospitalar e à assistência social. Vejo que, cada vez mais, o grupo tem se consolidado. Atualmente, estamos presentes em 11 estados, 28 municípios e 42 projetos. São 22 mil funcionários que trabalham diretamente com a Pró-Saúde e, graças a Deus, a instituição é reconhecida hoje pelo trabalho que tem prestado, principalmente na assistência aos usuários ligados diretamente ao SUS nos contratos de gestão, sempre prestando um serviço humanizado e de qualidade.
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Como a Pró-Saúde atua junto com a secretaria de saúde dos estados a fim de ter sustentabilidade financeira e levar qualidade na assistência ao paciente? Essa pergunta é muito importante. Nós temos realmente uma diversidade muito grande com relação aos projetos firmados, sendo eles com clientes desde a região sul ao norte do Brasil. Para isso, contamos com uma equipe bem preparada composta por diretores regionais que são responsáveis por fazer approach com secretários municipais, prefeitos e governadores. Sem falar da própria sede, que se movimenta para fazer todo esse trabalho.
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Qual é o retorno do trabalho de qualidade apresentado pela entidade? Com o trabalho de qualidade que apresentamos, temos uma redução de custo quando é tocado pelo poder público de 30% e uma produtividade 20% maior. São números que realmente chamam a atenção e que são demonstrados através da produção. Trabalhamos muito focados na qualidade e, como resultado, temos hoje cinco hospitais acreditados: três deles ONA I e dois acreditados ONA III. No Pará, há dez hospitais públicos acreditados Gestão Plena e nós administramos dois, um em Altamira e outro em Santarém.
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Como a transparência acontece na gestão da Pró-Saúde? Esse elemento tem um peso muito grande. Nós capacitamos, primeiramente, as lideranças. É preciso ter as lideranças con-
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SAÚDE
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pontuando a gestão
vencidas do trabalho que você quer realizar, da capacidade da humanização, daquilo que a entidade precisa prestar. Temos mais de 120 gestores administradores hospitalares distribuídos pelo país afora, que são preparados e treinados para que possam desenvolver localmente a metodologia da Pró-Saúde. A partir do momento que eles se sentem responsáveis por isso, eles começam a ser multiplicadores dentro dos projetos nos quais estão trabalhando. E claro que são culturas diferentes, então, nós temos algumas dificuldades maiores em determinadas regiões onde é preciso trabalhar muito mais com isso, desenvolvendo cursos e atividades para treinar todos os profissionais.
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Por mais diferente que seja as pessoas a transparência é um norte que deve ser seguido por todos. Como vocês adotam essa cultura? Levamos isso muito a sério dentro da instituição, porque o recurso que administramos não é um recurso próprio. Os contratos que temos de gestão com organização social e com os governos representam mais de 95% daquilo que é a Pró-Saúde hoje, os recursos são do poder público e nós administramos. Prestamos contas de tudo aquilo que a gente faz, seja nas questões de produção ou financeira. Prestamos contas mensalmente, com comprovação de pagamentos, nota fiscal e etc. Isso inclusive está dentro do portal da Pró-Saúde para que todos possam ver quanto custa cada projeto, com o que ele é gasto, funcionários, valores de material, contratação de médicos, entre outros. As contas são abertas para dar uma transparência em tudo que a gente faz realmente.
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O Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, que inclusive ganhou o Prêmio Excelência na Saúde 2016 – categoria Atenção ao Paciente, é uma das instituições administradas por vocês e que tem como destaque a atenção à criança com microcefalia com suspeitas por Zika Vírus. Qual o diferencial desse trabalho? Esse trabalho que surgiu do tratamento das crianças com microcefalia em função do Zika Vírus foi em conjunto com a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, que viu essa necessidade por estar sofrendo, praticamente, uma epidemia. Prontamente, com a equipe médica, compramos essa ideia e começamos a desenvolver um trabalho com essas mães desde a descoberta da doença até o nascimento das crianças, e o tratamento que pode ser oferecido para elas. É um trabalho muito bonito que já está servindo de estudo para ser implantado em vários outros lugares do Brasil.
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Vamos conhecer um pouco sobre a história do Jocelmo Mews. Como foi a sua chegada à Pró-Saúde? Tenho formação em Comércio Exterior e Administração de Empresas. Trabalhei 14 anos na área de gestão, mas no setor de educação, até que fui convidado por um amigo a administrar um hospital em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Deixei Itaquara, no Rio Grande do Sul, para assumir a minha primeira experiência na área da saúde. Após sete anos no hospital particular, eu me apaixonei por essa área e me especializei em gestão hospitalar, com pósgraduação e depois gestão financeira, ambas pela FGV. Eu costumo dizer que quem entra na área da saúde não quer mais sair. E foi depois desses sete anos que eu tive a oportunidade de conhecer e trabalhar na Pró-Saúde. Aqui, o
meu primeiro projeto foi administrar um hospital em Foz do Iguaçu (PR). Após pouco mais de três anos, a unidade se tornou referência na região e eu fui transferido para ser diretor regional no Rio de Janeiro, coordenando todos os projetos locais – considerados até hoje como os maiores da entidade. Hoje, estou alocado em São Paulo e à frente da diretoria de Operações no Brasil.
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Quais as missões que a saúde lhe ensinou? A saúde me ensinou, primeiro, a respeitar a vida, porque a gente trabalha diretamente com a vida humana. São pessoas que nos procuram não porque elas querem, mas porque elas estão precisando naquele momento de uma assistência especializada. É preciso conscientizar as pessoas que trabalham na área da saúde, desde a equipe da limpeza ao médico, de que estão lidando com a vida humana, que se a limpeza não é feita direito, ela pode proporcionar risco de infecção hospitalar aos pacientes, por exemplo. Todos têm que estar conscientes de que tudo que eles fazem coloca diretamente a vida de outra pessoa em risco ou não.
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Em meio a tantos fatos como a PEC 241, crise econômica e turbulências políticas, o que esperar de 2017? A saúde tem que se modernizar não só na questão de equipamentos, porque isso acontece constantemente. Normalmente, quando se moderniza equipamentos, aumenta-se o custo de operação. E o que se busca hoje é justamente o contrário: fazer mais com menos. Não existe fórmula mágica, realmente tem que conhecer bem a operação para saber o que pode ser feito para oferecer uma produtividade maior.
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É preciso ter as lideranças convencidas do trabalho que você quer realizar, da capacidade da humanização e daquilo que a entidade precisa prestar
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Como colocar essa estratégia em prática? Temos trabalhado muito com a questão da central de custos compartilhados, em que determinadas áreas são unificadas para que eu não tenha essas atividades na ponta. Então, sobram mais recursos para produzir na assistência. Além disso, temos uma central de compra na matriz que compra para todos os projetos e faz com que tenhamos poder de barganha e consigamos comprar mais barato. Desenvolvemos uma ferramenta que é chamada de Requisitos de Apoio à Gestão, chamamos internamente de RAG, em que nós fazemos um relatório, uma auditoria, de todas as áreas do hospital. Mais de cinco mil itens são avaliados para saber se eles estão nos conformes ou não. Caso não estejam, a ferramenta nos aponta qual o plano de ação para resolver o problema, quem é o responsável e qual o prazo para o mesmo ser solucionado. Isso tudo diminui o custo, aumenta a efetividade e possibilita o controle orçamentário. Nossa meta é ter o hospital com 80% de conformidade após um ano de gestão. H
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Health Innovation
Custos sociais da perda auditiva 20
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No Brasil e no mundo, a deficiência auditiva traz impactos psicossociais e financeiros que poderiam ser minimizados pelo uso de aparelhos auditivos implantes cocleares e sistemas de FM, evidencia EHIMA
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deficiência auditiva acomete aproximadamente 9,7 milhões de brasileiros, o equivalente a 5,1% da população do país, segundo Censo do IBGE de 2010. Desse total, cerca de 2 milhões possuem grau severo da doença, o que pode comprometer a realização de atividades habituais como trabalhar e estudar. A perda auditiva configura-se, neste sentido, como um problema que não só interfere na qualidade de vida das pessoas como representa uma série de custos sociais. É o que argumenta a EHIMA – entidade que representa os seis principais fabricantes europeus de aparelhos auditivos –, com base na compilação de pesquisas realizadas em diferentes partes do mundo. Estudo do SFI (Danish National Centre for Social Research) de 2006, por exemplo, aponta que a perda auditiva custou ao país cerca de 360 milhões de euros, tendo como referência uma população de aproximadamente 5,5 milhões de habitantes. Embora não existam dados oficiais para o cenário brasileiro, a estimativa é de que os gastos seriam de aproximadamente 12, 7 bilhões de euros, mais de R$ 30 bilhões. Variáveis As razões pelas quais a deficiência representa altos custos são múltiplas. Segundo o SFI, os deficientes auditivos com frequência se aposentam mais cedo, inclusive por invalidez. A instituição também destaca que eles comumente se sentem fisicamente e mentalmente cansados depois do trabalho e chegam, inclusive, a trabalhar em carga horária reduzida. Também por esses motivos, a taxa de desemprego entre essa população é maior e, mesmo quando trabalham, eles acabam ganhando menos. Para se ter uma ideia, um levantamento do RNID (Royal National Institute of the Deaf), de 2008, aponta que a taxa de desemprego no Reino Unido é quatro vezes maior entre os deficientes auditivos. Já o BHI (Better Hearing Institute) mostra que a renda familiar nos Estados Unidos é de 12 mil dólares anuais a menos nas casas de deficientes auditivos na comparação com as casas onde as pessoas têm a audição normal. Se os aparelhos auditivos fossem usados, essa diferença cairia pela metade, seria de 6 mil dólares anuais. HEALTHCARE Management | edição 44 | healthcaremanagement.com.br
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Health Innovation
Os gráficos a seguir, levantados nos Estados Unidos, revelam como a intensidade da perda auditiva interfere na ren-
da anual (Gráfico 1) e como o uso de aparelho auditivo pode amenizar essa questão financeira (Gráfico 2).
Gráfico 1 Título: Estados Unidos – Quanto maior a perda auditiva, menor a renda familiar Vertical: Renda familiar anual Horizontal: Severidade da perda auditiva em decibéis
Relatório da OMS de 2005 também ressalta que a perda auditiva reduz o número de “anos saudáveis” de um indivíduo, o que também se traduz em mais custos governamentais, segundo a Comissão Europeia, “um ano de qualidade de vida” vale o equivalente a 44 mil euros. A University Medical Center, por sua vez, aponta – em estudo de 2011 – que a perda auditiva representa para a Holanda um gasto anual de 950 milhões de euros, sendo a sexta condição de saúde mais cara ao país, e o quadro piora com o envelhecimento da população. Cenário brasileiro
Gráfico 2 Título: Estados Unidos – Quando os aparelhos auditivos são utilizados Vertical: Renda familiar anual Horizontal: Severidade da perda auditiva em decibéis
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De acordo com Pedro Stern, diretor financeiro do conselho de administração da ABIMED (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde), os custos diretos do SUS (Sistema Único de Saúde) com aparelhos auditivos, implantes cocleares e os respectivos procedimentos médicos – como diagnóstico, adaptação de aparelhos auditivos, cirurgia para realização de implantes cocleares e reabilitação – superam os R$ 500 milhões por ano. O diretor ressalta o fato de que a solicitação de exames auditivos para pessoas acima dos 65 anos e crianças em idade escolar ainda não é rotina no país. Além disso, os sintomas da perda auditiva não são conhecidos pela população brasileira. “Hoje, temos uma consciência maior sobre os problemas visuais e seus prejuízos. Na questão da audição, é necessário o mesmo tipo de educação”, frisa. A redução de gastos públicos com a perda auditiva está diretamente ligada à conscientização da população. De acordo com o Stern, na Europa, os pacientes que buscam solução para os seus problemas auditivos geram um custo 50% menor do que aqueles que não o fazem.
“Apesar de não termos estes números oficiais no Brasil, podemos estimar que essa também seria a realidade brasileira”. Stern ainda acrescenta que o diagnóstico e o tratamento precoce são fundamentais para manter o profissional adulto no mercado de trabalho e prevenir o aparecimento de outras doenças, como a depressão e a demência. “Com o aumento da idade média dos brasileiros, a população está apta a trabalhar até a terceira idade. Desta forma, é necessário que o sistema de saúde esteja atento a doenças como a perda auditiva”, afirma.
“Hoje, temos uma consciência maior sobre os problemas visuais e seus prejuízos. Na questão da audição, é necessário o mesmo tipo de educação” Pedro Stern
inovadora voltada aos inúmeros tipos de deficiência auditiva, provendo treinamento aos profissionais de Saúde Auditiva para utilização adequada desta tecnologia e assistência técnica em âmbito nacional. Ainda segundo Pedro Stern, a parceria entre os setores industrial e público traz boas perspectivas. “A indústria está colaborando com o Ministério da Saúde, por meio da ABIMED, no aperfeiçoamento dos processos do Programa Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. O resultado das reuniões da Associação com o Ministério tem sido motivador”, finaliza. H
O potencial da tecnologia O argumento da EHIMA é que melhoria da qualidade de vida dos deficientes auditivos e redução dos custos sociais com a doença demandam investimentos nos aparelhos auditivos e tecnologias relacionadas, além de esforços para a detecção e a intervenção precoce. Com os aparelhos e implantes cocleares, os deficientes auditivos teriam condições de viver mais e melhor. Além disso, seriam reduzidas as taxas de desemprego e aposentadoria entre essa população. Já o aparecimento de doenças como a depressão e a demência poderia ser evitado em muitos casos. Consequentemente, os gastos governamentais com a perda auditiva, de modo geral, seriam minimizados. Na visão de Pedro Stern, o papel da indústria nacional é oferecer tecnologia adequada e
Política pública Para reduzir os impactos da doença, o Brasil conta com um Programa Nacional de Atenção à Saúde Auditiva, que prevê a doação de aparelhos auditivos, implantes cocleares e sistemas de comunicação sem fio. “O Programa de Saúde Auditiva do SUS é muito avançado, tem trazido benefícios extraordinários à população e deve não só ser mantido, mas expandido. O nível técnico de Audiologia praticado no país também está equiparado aos países mais avançados. O desafio está na gestão destes recursos financeiros, estratégicos e técnicos. A gestão do Programa junto às instituições credenciadas precisa ser aperfeiçoada para otimizar a utilização dos recursos financeiros aplicados pelo governo”, comenta Stern. O diretor salienta, no entanto, que a política pública ainda é desconhecida por grande parte da população e não tem musculatura para atender a demanda. “Apesar de ser um programa de grande alcance, nos últimos dois anos, há uma percepção de que as filas de espera aumentaram nas clínicas e instituições que trabalham com o Programa, eventualmente reflexo da atual crise econômica”, destaca.
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Um investimento, vários acertos Ricardo Santoro, diretor de Tecnologia da Informação do Albert Einstein, fala sobre o uso de TIC no setor, a adesão do corpo clínico frente às novas tecnologias e as tecnologias emergentes mais promissoras para a Saúde
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A Tecnologia da Informação permeia cada vez mais o cotidiano das instituições de saúde em todo o Brasil. O emprego de novos sistemas e dispositivos não trazem apenas benefícios para a operação dos hospitais ou aumentam sua produtividade e, consequentemente, o lucro, mas também melhoram a segurança do paciente e reduzem o risco de incidência de eventos adversos. Todos esses benefícios não estão limitados apenas ao universo das unidades de saúde. Outra beneficiária dessa crescente dependência da TI no setor é a própria indústria de software e dispositivos, que vem aumentando sua receita com o crescente investimento. Um estudo divulgado pelo GVcia – Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EAESP) – em março desse ano, apontou que, em média, os investimentos em TI em Saúde por parte dos hospitais gira em torno de 7,6% do faturamento. Em 2011, essa porcentagem era de 7%. Segundo dados de 2010 da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil ocupa a 8ª posição no ranking global da saúde, em relação do PIB. No ano da divulgação do estudo pela OMS, os hospitais privados, em geral, aplicaram 4,9% de sua receita em TI e os públicos 4,1% de um PIB total de US$ 4,4 trilhões. Seguindo essa realidade, o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, anunciou, em 2014, um pesado aporte de R$ 180 milhões que serão destinados à adoção de uma nova solução para gerenciar os dados dos pacientes hospitalares e ambulatoriais da entidade. A Healthcare Management conversou com o diretor de tecnologia e informação do Hospital Israelita Albert Einstein, Ricardo Santoro, sobre este e outros assuntos. HEALTHCARE Management | edição 44 | healthcaremanagement.com.br
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Health-IT
A demanda por excelência tem impulsionado as organizações de saúde a investirem cada vez mais em soluções de TI. Como você avalia o atual cenário e o uso de TIC no setor de saúde brasileiro? Eu acredito que o uso de TI na área de saúde no Brasil vem aumentando rapidamente, porém ainda encontramos muita diferença em termos de investimento e adoção de tecnologia entre as organizações. Também é possível identificar uma indústria de TI madura focada no segmento de saúde no Brasil. Já temos mais profissionais especializados neste segmento do que no passado, porém os gestores de saúde ainda não conseguem justificar os ganhos reais que podem ser obtidos através do uso mais intenso de tecnologia. Isto acontece em parte porque o custo da tecnologia no Brasil é proporcionalmente mais caro do que no exterior ao passo que a mão de obra é mais barata. De qualquer maneira eu acredito que será inevitável intensificar o uso de TI no segmento de saúde. De que forma o HIAE vem trabalhando no sentido de trazer melhorar os processos e decisão clínica através da tecnologia? Ainda nesse sentido, como é trabalhada a questão da segurança? O Einstein tem investido muito na modernização de sua infraestrutura e arquitetura de TI, particularmente em soluções que irão melhorar a segurança de nossos pacientes e ajudar no suporte a decisão dos profissionais de saúde. O novo sistema de prontuário eletrônico consegue cruzar várias informações dos pacientes e enviar alertas e sugestões para os profissionais de saúde. A decisão será sempre do profissional, mas o sistema consegue avisar sobre doses erradas de medicamentos, pedidos de exames duplicados, alergias, interações indevidas entre medicamentos, resultados de exames fora dos intervalos de segurança, etc. Não só indicar como sugerir a adoção de protocolos de tratamento e acompanhar a execução das atividades nos horários e prazos necessários. Como é a adesão do corpo clínico frente à essas tecnologias? A adesão pela tecnologia na área de saúde é 26
sempre algo complicado. Por um lado, os profissionais deste segmento possuem um interesse natural pelo novo, pela inovação tecnológica. Por outro, o uso de tecnologia sempre será mais demorado e complexo do que o papel. Este é o ponto da discussão: quanto tempo adicional o profissional vai precisar dedicar para usar a tecnologia e o que ele e seu paciente ganham e perdem com isso. Nós estamos investindo muito para explicar para nossos profissionais de saúde os benefícios do uso destas novas tecnologias de maneira que eles possam entender que vale a pena ter um pouco mais de trabalho para inserir as informações no sistema. Qual é o papel da tecnologia na redução de custos? Voltamos à questão de provar o retorno de investimento da tecnologia. Não tenho dúvida “O uso de TI na área de saúde no Brasil vem aumentando rapidamente, porém ainda encontramos muita diferença em termos de investimento e adoção de tecnologia entre as organizações. Também é possível identificar uma indústria de TI madura focada no segmento de saúde no Brasil.” Ricardo Santoro
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que existem grandes processos nas organizações de saúde que permitem provar diretamente que a tecnologia pode aportar redução de custos, fluxo de paciente, logística de medicamentos, portais de autosserviço, automação de processos diversos, etc. Em outros casos a justificativa é pela segurança do processo e, consequentemente, do paciente. Neste último caso, se as organizações conseguirem mapear claramente o custo de eventos adversos, também vai conseguir provar que o uso de tecnologia para melhorar a segurança do paciente pode ter um retorno grande ao ajudar evitar tais eventos. Qual o potencial do mercado brasileiro para tecnologia de informação em healthcare? Acho o potencial do mercado muito grande, mas a médio e longo prazo. Também acredito que os fornecedores irão trabalhar para rever o custo total da tecnologia para este setor. O setor de saúde não consegue suportar os mesmos níveis de preço dos setores de telecomunicações e financeiros, por exemplo. Pensando em tecnologias emergentes e nas “megatendências” em ehealth, o que você citaria como a mais promissora em médio/longo prazos para as instituições de saúde do país? Eu acho que as grandes tendências estão em soluções de suporte à decisão, IoT e Big Data focado em gestão de saúde da população. H
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EFICIÊNCIA OPERACIONAL
Outsourcing de impressão no Hospital Sírio-Libanês gera economia de 80%
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Diante dos elevados custos no setor de saúde e a busca cada vez maior por eficiência operacional, a gestão de recursos clínicos e administrativos tornou-se uma ferramenta fundamental na busca por um bom desempenho e sustentabilidade financeira das instituições de saúde. Baseado nessa premissa, o Hospital Sírio-Libanês (HSL), em São Paulo, procurou a Xerox para gerenciar todo o seu parque de im-
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pressão e suprir as demandas da entidade em todas as suas unidades – Bela Vista, Itaim e Brasília –, gerenciando mais de 700 equipamentos. Em 2014, a multinacional assumiu integralmente o parque de impressão do hospital de excelência do Ministério da Saúde, e implantou solu-
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ções que reduziram em até 80% os custos de impressão por meio da tecnologia de cera sólida e sendo responsável por uma demanda de cerca de 2,5 milhões de páginas por mês em todos os departamentos e setores assistênciais do hospital. De acordo com o gerente
Os equipamentos Xerox com tecnologia de cera sólida proporcionam uma redução em 90% na quantidade de resíduos sólidos descartados em comparação aos equipamentos a laser, além da redução do consumo de energia elétrica e pegada de carbono. No caso das impressões coloridas, o hospital possuía diversos formulários e documentos com texto em P&B contendo somente o logotipo colorido, desta forma pagava-se o custo de uma impressão colorida que é, em média, 10 vezes maior que o de uma impressão em preto e branco. “Com a implantação dos equipamentos Xerox com
de contas corporativas de global document outsourcing (GDO) da Xerox, Alexandre Munaro, a primeira etapa do projeto de outsourcing de impressão no HSL foi composta pelo mapeamento do parque de equipamentos e dos processos visando identificar quais documentos poderiam ser automatizados, evitando a impressão. “Por meio desse levantamento fizemos uma proposta de otimização em aproximadamente 30% do parque de equipamentos composto por multifuncionais e impressoras P&B e coloridas com recurso de impressão protegida, possibilitando a redução do desperdício em 10% do volume de impressão.”
Alexandre Munaro, gerente de Contas Corporativas de Global Document Outsourcing (GDO) da Xerox
tecnologia de cera sólida foi possível cobrar conforme a quantidade de cor impressa no papel, possibilitando a redução em aproximadamente 80% nos custos de impressão colorida do hospital”, acrescenta Munaro. Até 2019 o Hospital Sírio-Libanês inaugurará gradativamente novas torres, aumentando a demanda por impressões e elevando o número de equipamentos para 800 unidades. Inicialmente 500 equipamentos Xerox foram implantados desde o segundo semestre de 2014, proporcionando otimização do parque atual em aproximadamente 30%. H
Gente e Gestão
A Excelência Disney aplicada na Saúde O valor do engajamento, da empatia e da conexão emocional nos serviços que o hospital entrega para seus pacientes
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“Dê ao público tudo o que você puder dar.” Mais do que excelência no atendimento, essas palavras de Walt Disney refletem a cultura de exceder as expectativas do consumidor. Não por acaso, a organização tem uma reputação mundial e sucesso constante em seus negócios. Mas o que a Saúde pode aprender com a Disney? “Absolutamente tudo, porque a Disney é uma empresa humana”, segundo Alexandre Slivnik, autor do best seller “O Poder da Atitude” e também referência em Excelência Disney no Brasil. Em palestra durante o III Fórum Healthcare Business, Slivnik falou sobre esta cultura de qualidade no atendimento e a importância do líder neste contexto. Segundo o especialista, o papel do colaborador é ponto de partida para obter a excelência como resultado. “Quanto maior a valorização dos nossos colaboradores, maior é o resultado e melhor é a entrega que ele vai dar para nosso paciente. É exatamente essa a estratégia da Disney. Por isso que o Walt Disney, esse grande gênio, investia em pessoas e, até hoje, mesmo depois de 50 anos de sua morte, a Disney continua investindo em pessoas.” Contudo, a valorização do colaborador por si só não basta. É necessário, segundo Slivnik, a liderança transparente e ética. “Líderes excelentes geram colaboradores excelentes, que
geram clientes satisfeitos e resultados. Os resultados que temos dependem muito da nossa liderança. As empresas de sucesso não têm clientes, empresas de sucesso têm fãs.” Conforme explica Slivnik, a Disney trabalha importantes pilares a fim de transformar os clientes em fãs e que podem ser aplicados na Saúde. O primeiro deles é o Engajamento. “Se nós não tivermos um time engajado na causa, no real propósito, não conseguimos transformar pacientes em fãs. Temos que encorajar a equipe para que
ela assuma responsabilidade para o problema.” Outra competência é a Empatia. “Na Saúde, o paciente confia a sua vida em nossas mãos. Se nós não tivermos empatia, vamos oferecer um atendimento frio.” Destaca-se também a Conexão Emocional. “Isso porque quando o paciente coloca a sua vida nas mãos do médico e o profissional consegue criar uma empatia e resolver o problema, esse paciente lembrará para o resto de sua vida desta sua experiência”, ressalta Slivnik.
Alexandre Slivnik, autor do best seller “O Poder da Atitude” e também referência em Excelência Disney no Brasil
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Gente e Gestão
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Não importa o preço que nós cobramos do paciente, o que importa é o valor que nós entregamos.”
Confiança “Será que só o paciente usa os serviços dos hospitais que são os clientes?” Slivnik responde que não: “cliente é qualquer pessoa com a qual nós tenhamos contato, não importa se é o paciente, ou o cliente interno, o colaborador e toda a equipe.” Na Disney, a filosofia é que o encantamento do cliente externo é uma consequência do encantamento do cliente interno. Ou seja, não existe encantamento se a equipe não estiver engajada e encantada com o trabalho que faz. Essa humanização no atendimento só acontece a partir de quando os líderes humanizarem a relação com os colaboradores. “Às vezes exigimos que a nossa equipe trate muito bem 34
o paciente, só que em algum momento o nosso colaborador vem falar conosco e lá estamos no nosso computador, no nosso smartphone, e fala ‘pode falar que eu estou te ouvindo’, o que na verdade estamos em um universo paralelo. Trate o seu colaborador da mesma forma que gostaria que ele tratasse o seu paciente”, explica Slivnik. Pilares para a Excelência Segundo Alexandre Slivnik, há importantes elementos para trabalhar a excelência no atendimento ao paciente. A Liderança é o ponto central, uma vez que é dela a responsabilidade de desenvolver novos líderes. Se eu quero o engajamento da minha equipe, eu te-
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nho que fazer com que alguém seja líder. A Disney, por exemplo, tem 170 mil colaboradores. Se você perguntar quantos líderes eles têm, eles vão dizer 170 mil líderes. Porque o líder não é só de pessoas, também é líder de situações.” A comunicação também desempenha importante papel neste contexto, uma vez que ela seja efetiva e afetiva. Slivnik também pontua a importância do trabalho em equipe para que todo o atendimento humanizado seja realizado com sucesso. “Cada departamento no hospital é responsável pela experiência do paciente. Não importa qual seja a área, absolutamente todos tem que trabalhar com a mesma missão.”
“Além do engajamento, precisamos olhar o problema do outro como se fosse nosso. Quanto mais nós anteciparmos o problema, menor ele ficará.” Alexandre Slivnik
Ubuntu “Eu sou porque nós somos” Estudando os costumes da tribo Ubuntu, na África, um antropólogo propôs, então, uma brincadeira para as crianças. Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, colocou tudo num cesto debaixo de uma árvore. Chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse “já!”, elas deveriam sair correndo até o cesto e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro. As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse “Já!” instantaneamente todas as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto. Chegando lá, colocaram as mãos ao mesmo tempo. O antropólogo perguntou por que elas colocaram as mãos todas juntas se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesta. A resposta foi surpreendente: “Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?” Este é um exemplo de liderança baseada em valores. “Quando falamos de liderança ética e transparente, temos que ser um líder exemplo, não só um líder, mas um excelente líder. Por quê? Porque bons líderes são aquelas que fazem com que a equipe acredite nele enquanto líder”, ressalta Slivnik.
Liderança x turnover O especialista afirma que a liderança exerce papel fundamental na diminuição do turnover. “Como disse Walt Disney, não adianta nada ser luz se não iluminar o caminho dos demais. Um líder ético é aquele que ilumina para que as pessoas da equipe brilhem. Muitos líderes nas organizações, principalmente os líderes médios, têm medo que a sua equipe roube o seu lugar e por isso eles não
desenvolvem as competências da sua equipe com medo de perder o posto de liderança, sendo que mais cedo ou mais tarde isso vai acontecer, porque um líder tem que ter o papel de desenvolver novos líderes.” O exemplo sempre gera resultados, por isso a importância do exemplo que os líderes dão para seus colaboradores. “A liderança só acontece por que nós somos o exemplo.” H
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Ideias e Tendências
Aprimoramento 36
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Auditores participam do XI CONBRASS
Auditores em contas médicohospitalares reúnem-se no XI CONBRASS
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Profissionais da Saúde Suplementar participaram do XI CONBRASS (Congresso Brasileiro de Auditoria em Sistemas de Saúde), evento realizado na cidade de São Paulo em outubro, com uma programação científica que incluiu palestras, simpósios e apresentações de trabalhos. No primeiro dia do Congresso, 20 de outubro, um dos temas abordados foi “Auditoria de qualidade”, durante palestra da enfermeira Nilza Yamanaka, docente de cursos de pós-graduação da Faculdade Oswaldo Cruz e Albert Einstein e da graduação
em Enfermagem da UNIP (Universidade Paulista). Na data, também foram discutidos temas como “Auditoria em OPME (Órteses, Próteses e Materiais Especiais)”, “Tecnologia da Informação e Prontuário Eletrônico X Auditoria” e “Auditória em Home Care”. No dia 21 de outubro, entre outras atividades, o público assistiu a uma palestra sobre o “Novo rol da ANS e judicialização”, ministrada pelo advogado e professor Sérgio Parra Miguel, com a participação de Marcelo Palmer (Prolar), Claudio Taf la
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Ideias e Tendências
Congresso reúne público de diferentes regiões do Brasil
(Mapfre Saúde) e Fabrina Beluci. Antes disso, os presentes acompanharam debates sobre “A importância do alinhamento da auditoria com o faturamento”, “Quimioterápicos – Custo e benefício de drogas de alto e baixo valor” e a “Regulação na Saúde Suplementar”. Durante o evento, também foram expostos seis trabalhos em temas livres e inéditos, dentre eles o dos autores Marcos Detomi, Juliana Dibai e Jordhana da Silva, in38
titulado “A importância da auditoria de enfermagem na redução e controle dos custos assistenciais”, resultante de um estudo realizado em uma operadora de saúde de São João Del Rei (MG) e em uma instituição hospitalar de Belo Horizonte (MG). Os seis trabalhos expostos foram premiados ao final do XI CONBRASS. O Congresso também sediou, no dia 22 de outubro, um curso extra, sobre cuidados paliativos. Destinado
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a enfermeiros, fisioterapeutas e auditores, o curso foi coordenado pelo médico oncologista clínico Ricardo Caponero. “A presença de um numeroso contingente de congressistas, oriundos de todas as partes do Brasil, dá o testemunho do caráter deste Congresso e revela o crescente respeito que a auditoria em contas médico hospitalares adquiriu”, ressalta Lia Bernardo, coordenadora executiva do XI CONBRASS. H
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ARTIGO
COMO O DIREITO SE RELACIONA COM AS QUESTÕES DE SEGURANÇA DO PACIENTE?
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ouve um evento com dano grave, no hospital em que trabalho, importante para o aprendizado dos profissionais de saúde, da autogestão e o do departamento jurídico. O evento adverso aconteceu com uma paciente de 72 anos, com antecedente de hipertensão arterial, doença coronariana, diabetes tipo II. A senhora deu entrada no pronto socorro com história de tosse seca, dispneia e queda do estado geral. Identificada pela triagem, pela classificação de risco Manscheter como amarela, foi encaminhada para consulta com geriatria no próprio PS, que avaliou e, de imediato, solicitou a internação na Unidade de Terapia Intensiva com hipótese de Diabetes mellitus descompensada e infecção respiratória, sendo iniciada antibioticoterapia, controle metabólico e do processo infeccioso, acompanhamento médico da infectologia e da endocrinologia. A paciente permaneceu por três dias na UTI, com melhora clínica muito discreta, sendo encaminhada para enfermaria, onde evoluía com dispneia persistente. A infectologia solicitou avaliação da cardiologia, que solicitou eletrocardiograma e enzimas cardíacas, que se mostraram elevadas e, com isso, concluiu-se o diagnóstico de Infarto Agudo do Miocárdio. Imediatamente, a investigação foi aprofundada com um cateterismo, necessário devido à gravidade do caso. A família da paciente foi contatada e orientada. O cateterismo foi agendado para o dia seguinte às 10h, porém a paciente teve na manhã do dia do exame, às 7h, uma parada cardiorrespiratória (PCR) na enfermaria, a qual não respondeu às manobras de ressuscitação.
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A análise do evento pelo protocolo de Londres mostrou que houve um atraso de diagnóstico e de tratamento, violação do protocolo de IAM, pois a paciente deveria ter voltado para UTI. A família fez vários questionamentos após o óbito. Em discussão na comissão de gerenciamento de risco e com o departamento jurídico, não restavam dúvidas da necessidade de fazer o disclosure com a família. O mesmo foi feito com total transparência, oferendo uma cópia do prontuário para a família, reconhecendo as falhas de que não foi fornecido tratamento adequado para a paciente além do pedido de desculpas. A família, em suas considerações, reconheceu a transparência como um fator positivo e solicitou ações para que esse tipo de evento não voltasse a ocorrer com outras famílias. Erros preveníveis O setor saúde, devido à sua enorme complexidade, pode ter inúmeras falhas na prestação de serviço durante a jornada do paciente no sistema. Entre essas falhas temos o quase erro, o incidente com dano
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José Branco Diretor-executivo do IBSP, médico infectologista, MBA em Gestão em Saúde pela FGV e especialista em Segurança do Paciente pelo IHI
prevenível e o incidente com dano que não é prevenível. Temos três tipos de comportamentos dentro das instituições: erro humano, comportamento de risco e o comportamento negligente ou “malpractice”. O erro humano é o não intencional, relacionado às fraquezas no sistema. Uma cultura justa trabalha diretamente no sistema e no redesenho dos processos para reduzir o risco de erros. Os comportamentos de risco são diferentes daqueles do erro humano. As pessoas trabalham na crença de que o risco pode ser justificado. Suas decisões são baseadas no desejo do resultado imediato e não avaliam as consequências tardias e incertas. No comportamento negligente, há conhecimento dos riscos que se esta correndo e a sua importância. Na cultura justa, ele é condenável. O caso acima relatado mostra uma série de violações, ou seja, um comportamento de risco, apesar de ser um hospital de certificação internacional e nacional. Isto denuncia a fragilidade do sistema, pois não se consegue prestar uma assistência segura para todos 100% das vezes.
Relação com Direito Dentro do Direito legal, houve um dano com nexo causal, como em muitos dos incidentes com danos que ocorrem. Muitos deles são violações, erro de omissão, ou seja, os guidelines não foram observados. O comportamento negligente é raro, mas quando ocorre, há necessidade de tratamento dentro do Direito legal. Quando falamos do erro humano e do comportamento de risco, necessita-se mudar radicalmente o sistema de saúde, tornando-o mais seguro. Precisa-se redesenhá-lo, melhorar os processos e trabalhar com foco no resultado. O sistema de saúde trabalha a segurança do paciente com o olhar no dano que já ocorreu, sempre reativo. As indústrias de alta confiabilidade, como aviação, indústria nuclear e química, trabalham proativamente, isto é, gerenciando o risco, mitigando-o e antecipando-o
ao incidente. Estas indústrias mudaram o foco do dano para segurança, introduziram uma transformação no gerenciamento de riscos e na diminuição nos incidentes com dano. As instituições de saúde trabalham com foco no financeiro e na produtividade sem preocupação com a segurança do paciente. As organizações de saúde têm enorme dificuldade de trabalhar dentro de uma cultura justa. O maior desafio do setor é manter a segurança sempre como um valor primário e a eficiência e a produtividade como secundários. A autogestão deve ser clara junto aos trabalhadores de que a
segurança não deve ser sacrificada em nome da produtividade. Os líderes e gerentes devem demonstrar um comportamento em que a segurança vem em primeiro lugar, encorajando e dando suporte similar as decisões do staff. Isso só prova que é preciso avançar muito ainda nas questões referentes à segurança do paciente, mas os pilares de sustentação estão na mudança para um sistema com foco na segurança e não no dano, transparência e novo modelo jurídico legal adaptado à complexidade e aos novos desafios do sistema de saúde. H
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Mercado
A BOLA DA VEZ É O RIO GRANDE DO SUL Instalação do cluster no Rio Grande do Sul avança. Crescentes investimentos na Saúde despontam o Estado como referência na Saúde brasileira 42
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O Rio Grande do Sul é o segundo parque industrial do país em termos de complexidade e diversificação. Conta com uma infraestrutura em Saúde muito diferenciada, o que chega a ser melhor que os outros Estados da federação. Não é de hoje que este vem sendo o destino de instalação de indústrias e empresas do setor. E justamente por esse potencial que, há cerca de um ano, o governo estadual vem realizando acordos para instalação do Medical Valley, cluster gaúcho na área de tecnologias para a Saúde. O objetivo é reunir indústrias, universidades, centro de pesquisas, hospitais e o Estado
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por meio de suas secretarias relacionadas e autarquias. “O Rio Grande do Sul vem buscando uma nova matriz de desenvolvimento. Mesmo com a crise, temos uma infraestrutura muito diferenciada em termos de Brasil e América Latina no que diz respeito ao parque industrial, com universidades que sempre figuram entre as melhores do Brasil em todos os tipos de avaliações de desempenho, dispõe de Parques Tecnológicos maduros e ativos e uma rede de hospitais que torna o SUS e a Saúde Privada raros exemplos de boa gestão e desempenho. Em suma, para ter um Cluster de
Cais do Porto, Porto Alegre RS
Tecnologias em Saúde só o RS dispõe de uma base de lançamento adequada”, afirma Fabio Leite Gastal, Superintendente de Estratégia, Governança, Riscos, Produtos e Novos Negócios da Seguros Unimed. Gastal considera ainda que, finalmente, a indústria descobriu a Saúde como indústria e não apenas como um setor social relevante e politicamente problemático. “As entidades representativas da indústria revisaram a sua percepção do setor de saúde e do ativo social que existe inexplorado no Estado como uma oportunidade de desenvolvimento econômico e social.” Tobias Zobel, diretor-executivo do Medical Valley, na Alemanha, também acredita que o Rio Grande do Sul é onde está o melhor potencial no Brasil para
a bem-sucedida internacionalização do Medical Valley Brasil. “Os argumentos mais importantes que iniciaram nossa negociação nesta região específica foi a combinação de vários fatores, como infraestrutura que oferecesse alta
qualidade de hospitais, universidades, companhias com foco em tecnologia médica e o dinamismo de parques tecnológicos bem organizados.” Segundo Zobel, já foi concluída a etapa que consiste na parceria governamental
“O maior desafio é tornar o ambiente empresarial menos inóspito para os empreendimentos inovadores e para as micro e pequenas empresas.”, Fábio Leite Gastal
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Mercado
dos parceiros. “Provavelmente, este será o primeiro case no Brasil que conectará indústria com esses tipos de serviços do cluster dentro de uma cadeia internacional de valor. O secretário Fábio Branco (Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do RS) trouxe a CAPES para este projeto como acelerador desta ação no estado, sendo assim um protótipo e exemplo das novas estratégias do cluster no país.” Agora, as atividades estão concentradas em preparar todos os parceiros para introduzir suas informações no cluster, como expertise, tipos de produtos ou serviços e seus objetivos como parceiros do cluster. “Com essas informações vamos encontrar outras companhias e hospitais do Medical Valley da Alemanha para desenvolver novos projetos e, assim, aumentar a visibilidade do cluster.” Questionado sobre a atual recessão econômica brasileira e como isso poderá interferir nos avanços do cluster, Zobel confessa que o cenário desacelerou o progresso até então previstos. “O Brasil está sendo avaliado, segundo a mídia internacional, como um país de alto risco para investimentos. Mesmo assim, nós do Medical Valley da Alemanha ainda estamos sendo procurados por várias companhias interessadas em novas oportunidades no Brasil. Por isso, estamos muito otimistas que, mesmo com esses atrasos, o cluster no Rio Grande do Sul será um sucesso na história do Estado.” 44
Nascimento do Medical Valley Em 2015, o governador José Ivo Sartori esteve em Erlangen, na Alemanha, para assinar o protocolo com o presidente do Medical Valley, Erich Reinhardt, e assim conseguir apoio na instalação do cluster no RS, reunindo indústrias, universidades, centro de pesquisas, hospitais e o governo do Estado, através de suas secretarias relacionadas e autarquias. Na Alemanha, o Medical Valley reúne mais de 500 empresas, entre companhias de grande porte e startups, 16 universidades e mais de 40 instituições de saúde. A intenção é que este modelo se reproduza no Estado. O cluster que nasce no RS envolve 44 entidades. Após a missão in-
“Estou muito feliz com a participação do governo nesta iniciativa. Sem isso, não seria possível expandirmos em certas questões para a implementação de joint ventures, novas companhias e P&D.” - Tobias Zobel, diretorexecutivo do Medical Valley
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ternacional, o grupo formado por organizações públicas e privadas ligadas à área da saúde trabalhou na elaboração de propostas e ações de curto, médio e longo prazos, na adoção de modelo de gestão e de indicadores e metas. A internacionalização do Medical Valley está sendo desenvolvida e implementada pelo governo alemão em três países: Brasil; China e Estados Unidos. Assim, o Rio Grande do Sul, como estado escolhido para esta parceria, irá se juntar a Boston e Xangai como regiões que estarão atuando em estreita cooperação, fomentando a indústria e a pesquisa de saúde, e criando uma rede de colaboração internacional. H
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ARTIGO
AS NOVAS POLÍTICAS INDUSTRIAIS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE E SEUS IMPACTOS NO SETOR DE PRODUTOS MÉDICO-HOSPITALARES
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Ministério da Saúde, através da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, lançou, na última reunião do GECEIS – Grupo Executivo do Complexo Econômico Industrial da Saúde as novas bases de suas políticas industriais, que trazem uma bem-vinda mudança de postura e conceitos que deve impactar positivamente o mercado de equipamentos e produtos para a saúde. O princípio básico destas novas políticas é fortalecer e executar estratégias de fomento à produção industrial brasileira, buscando soluções tecnológicas que promovam o acesso integral à saúde e reduzam a vulnerabilidade do sistema, suportando sua sustentabilidade e produtividade e o desenvolvimento socioeconômico do país. O programa é abrangente e inclui oito plataformas tecnológicas definidas pelo Ministério da Saúde: biotecnologia, fitoterápicos, doenças negligenciadas, hemoderivados, doenças raras, medicina nuclear, síntese química e produtos para a saúde. O objetivo do GECEIS é garantir a atualização tecnológica em cada uma destas plataformas que integram o programa. A indústria de produtos para a saúde se relaciona diretamente com cinco delas. Para implementar as novas políticas industriais o Ministério da Saúde estabeleceu três ferramentas principais: Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), Compensação Tecnológica (off-set) e Encomendas Tecnológicas. Uma das principais mudanças de conceito está relacionada às PDPs. Em vez de focar na identificação de produtos estratégicos para o SUS, como vinha ocorrendo, o Ministério da Saúde 48
se concentrará nas plataformas tecnológicas, elevando as possibilidades de o país superar os desafios da saúde, gerar tecnologia nacional, promover crescimento econômico e desenvolver a indústria da saúde. Na política de Compensação Tecnológica, já há o exemplo bem-sucedido da implantação de uma fábrica de aceleradores nucleares para radioterapia, colocando o Brasil entre os maiores detentores desta tecnologia. Com a nova política, espera-se abrir alternativas para a inclusão de outros segmentos tecnológicos. As Encomendas Tecnológicas, por sua vez, serão executadas por meio de entidades como FINEP e EMBRAPII e devem abarcar projetos de pesquisa, inovação e desenvolvimento, tanto nacional como em cooperação internacional. Estas novas bases da política industrial também já identificam os laboratórios e parceiros públicos em suas diversas fases, bem como os investimentos que o Ministério da Saúde pretende fazer e as ações que desenvolverá. Isso além das articulações necessárias com outros ministérios, cooperações com agen-
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Carlos Goulart Presidente Executivo da ABIMED – Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde.
tes de fomento e financiamento e o trabalho de capacitação que o programa requer. As ações práticas para implementação da política incluem a divulgação da Lista de Tecnologias Estratégicas pelo Ministério da Saúde, a criação de um Grupo de Trabalho para revisão do arcabouço regulatório, esclarecimentos sobre benefícios tributários, o uso de poder de compra do Governo e a definição de estratégias para a cooperação internacional. A indústria de produtos para saúde acredita que esta nova abordagem das políticas industriais representa uma evolução que vem fortificar, consolidar e tornar mais factível sua adoção, contemplando as expectativas do Ministério de garantir evolução tecnológica e economia nas aquisições. O setor vê as mudanças com bons olhos e deseja colaborar com o Ministério da Saúde para que o Brasil alcance o tão desejado protagonismo tecnológico nacional, além de nutrir a expectativa de que estas novas diretrizes sejam sacramentadas não como uma política de governo, mas sim como uma política de estado. H
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Gente e Gestão
RENOVANDO IDEIAS 50
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GESTI Soluções promove evento em Ribeirão Preto com discussões e debates a respeito da gestão hospitalar e empresarial
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Ribeirão Preto (SP) se transformou, mais uma vez, em um grande palco de discussões e debates a respeito da gestão hospitalar e empresarial. A cidade recebeu, no mês de outubro, o Workshop GESTI 2016 – VI Workshop GESTI de Gestão Hospitalar e o III Workshop GESTI de Gestão Empresarial, evento que reuniu profissionais da área de saúde, principalmente administradores de hospitais, assim como personalidades do segmento de gestão e negócios. Foram sete conferências e palestras realizadas, dentre as quais a do jornalista e colunista Demétrio Magnoli, que analisou a conjuntura política e econômica do Brasil e suas perspectivas futuras. Voltado para as áreas de saúde e negócios, o evento também teve em sua programação Carlos Alberto Julio, um dos maiores palestrantes do país na atualidade, que falou sobre o desafio de reinventar o próprio negócio. O público pôde, ainda, assistir
Rodrigo de Freitas Nóbrega sócio diretor da GESTI
a uma palestra sobre economia criativa, ministrada por Victor Mirshawka, ex-jogador de basquete, campeão mundial e medalhista olímpico com a seleção brasileira. Já na área de gestão hospitalar, vale ressaltar as apresentações de Yussif Ali Mere Júnior, presidente do Sindhosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo), e de Luiz Sergio Santana, atual superintendente executivo do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo e ex-diretor corporativo da Rede D´Or de Hospitais. “Os recursos para a saúde estão cada vez mais escassos e o custo cada vez maior. O problema de financiamento não se reflete apenas aqui em nosso país. Evidentemente que aqui no Brasil, como nós somos um país de recursos escassos, o problema se torna ainda maior e aí cresce a importância da gente discutir o que podemos fazer com o que nós temos”, analisa Yussif. A programação de gestão em-
presarial trouxe, além da palestra com Victor Mirshawka, apresentação de José Luiz Bichuetti, consultor e engenheiro que discutiu a governança corporativa em tempos de crise. “Trouxemos temas atuais e de grande interesse para profissionais que precisam tomar decisões importantes no seu cotidiano na gestão hospitalar e dos negócios em geral”, afirma Rodrigo Nóbrega, diretor da GESTI. “A qualidade dos conferencistas e palestrantes da programação garantiu informações, discussões e debates de alto nível para todos os participantes do Workshop”, completa Ana Beatriz Moreira, médica e diretora da GESTI. Uma das novidades da edição foi a mudança do local e da data de realização do evento. Os workshops, que em 2015 foram realizados no mês de dezembro em um hotel da cidade, neste ano, aconteceram no mês de outubro, no Centro de Eventos RibeirãoShopping. H
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Estratégia
GESTÃO COMO PRIORIDADE
A importante contribuição da FBAH para a profissionalização da administração hospitalar no Brasil
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O sonho de implantar no Brasil a formação superior do administrador hospitalar foi o primeiro passo que deu origem à Federação Brasileira de Administradores Hospitalares – FBAH, em 1971. Já nos primeiros dois anos de atividades, a federação viabilizou a primeira faculdade de administração hospitalar da América do Sul. Desde então, a FBAH atua em prol da atividade profissional e da educação do administrador hospitalar. Em entrevista a Healthcare Management International, Paulo Roberto Segatelli Camara, vice-presidente da FBAH, fala sobre a atuação da entidade no Brasil e as perspectivas para 2017. 1- Como é a atuação da FBAH no Brasil? A FBAH tem o mesmo objetivo de elaborar projetos que tenham a contribuir para a profissionalização da administração hospitalar e gestão de saúde. Deste modo, no segundo semestre de 2016, lançamos um projeto piloto que instituiu algumas sucursais estaduais para difundir a Federação e aproximá-la do público-alvo: gestores e administradores hospitalares. 2- De que forma a FBAH fomenta no se-
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tor a profissionalização na gestão? Temos o apoio de grandes parceiros no campo da educação continuada e qualificação profissional. Para isso, firmamos parcerias com renomadas instituições, como Hospital Sírio-Libanês e Fundação Getúlio Vargas/PROHASA, entre outras, que, por intermédio do apoio da FBAH na divulgação de seus cursos de qualificação e graduação, possibilitam aprimoramento de nossos associados. A Federação participa, não apenas da divulgação, como também com ações que viabilizam a entrada de associados nestes cursos. Tudo isso, sempre com o objetivo de levar aprimoramento e qualificação aos profissionais da saúde. 3- Como o sr. avalia a Saúde atualmente no Brasil? O sistema de Saúde no país está quebrado. A situação econômico-financeira que enfrentamos ocasionou na migração de mais de 1,9 milhões de pessoas para o sistema público e essa situação é insustentável, não há como oferecer qualidade. O Brasil investe 4,7% do PIB em Saúde Pú-
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blica, o que é insuficiente. Há de se rever todo o sistema, principalmente a legislação. Um novo modelo, integrado em todos os âmbitos e em todos os níveis: primário, secundário e terciário, se faz necessário! A saúde brasileira grita por socorro! 4- Quais são as perspectivas para 2017? Esperamos que, com a inevitável aprovação da PEC 241, o governo sustente suas declarações de que Saúde será tratada com prioridade. Vamos torcer para que sejam responsáveis e eficiente no controle dos gastos. 5- Quais são os planos da FBAH para 2017? A respeito da FBAH, demos início aos preparativos do 40º Congresso Brasileiro de Administração Hospitalar e Gestão em Saúde, que acontecerá de 15 a 19 de maio de 2017, em cooperação com a Hospitalar Feira + Fórum. É um projeto grandioso que conta com o apoio de grandes instituições na sua preparação, principalmente no conteúdo científico. Nesse contexto, temos parceria firmada com 5 promotores. São eles: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, Hospital Sírio-Libanês, MHA Engenharia e Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, entre outras. H
Grupo Mídia e FBAH Durante a premiação Excelência da Saúde 2016, a FBAH, que foi a homenageada da noite, anunciou a parceria entre a entidade e o Grupo Mídia. Agora, o Grupo Mídia será responsável pela produção da revista da FBAH, bem como o organizador dos congressos que serão realizados na Hospitalar 2017 e demais eventos da Federação.
Líderes e Práticas
“A crise separa o amador do profissional” Em palestra para mais de 100 executivos da Saúde, Leandro Karnal fala sobre ética, crise e liderança na gestão 54
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“Quando eu tenho mais de uma opção, mais de uma perspectiva, eu sou testado em minha competência. A crise separa o amador do profissional. É o momento em que a estratégia se torna mais forte, principalmente no momento que nós vivemos.” Com essas palavras Leandro Karnal abriu sua palestra durante o III Fórum Healthcare Business, realizado em outubro pelo Grupo Mídia. Segundo ele, a crise é um elemento importante para quebrar a inércia e tirar o cidadão de sua zona de conforto, uma vez que esta é a oportunidade de dialogar com o erro diretamente. “Estou aqui hoje porque já errei bastante, estou aqui tanto pelas decisões corretas, mas eu estou aqui também pelas correções que fiz. Errar é humano.” Karnal exemplificou o fato de o homem começar a andar por volta dos primeiro meses de vida e, mesmo com seus 70 anos, tropeçar. Ou seja, errar mesmo naquilo que é treinado diariamente há anos. “A partir do erro eu aprendo, eu reestabeleço metas, levando em conta que tudo está em mutação.” Diante das situações de erro e crise dispontam dois caminhos: deixar a mudança atropelar a situação ou conduzir esta mudança. “O momento em que uma empresa, um consultório, um profissional diz ‘estamos bem, temos uma boa lista de clientes, os nossos clientes es-
tão satisfeitos, vamos manter a máquina funcionando’ significa que esta é a decisão que os levará ao fim nos próximos 5 ou 10 anos.” Isto é, no momento em que não há inovação, não há a aplicação de novas estratégias, a instituição começa a perder o lugar no mercado. “Mudar com a mudança é difícil, porém não mudar é fatal. São duas opções, ou você opta pela dificuldade ou pela fatalidade.” Então, como mudar para assumir um posicionamento? Como mudar para o ano que se apresenta logo à frente? Neste contexto, Karnal cita a zona de conforto como um grande desafio a ser vencido. “Nosso maior inimigo é nos-
sa zona de conforto. A etapa da vida que transcorre entre 35 e 65 anos, para maioria das pessoas, é a estabilização da carreira. Raramente alguém chega aos 55 anos sem ter estabelecido os princípios da sua vida. Essa é a zona de conforto. Quando você está estudando, quando está crescendo, se desafiando, sua vida tem outro recorte. Aqui, aplica-se o princípio físico da entropia, ou seja, tudo o que não está aumentando de energia está perdendo, tudo o que não está crescendo está diminuindo, tudo o que não está acrescentando está se esvaziando. Toda vez que eu não estou estudando, estou começando a esquecer.”
Leandro karnal, em sua palestra durante o III Fórum Healthcare Business, realizado em outubro pelo Grupo Mídia
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Líderes e Práticas
O futuro é estratégico “Quem ouve tem uma vantagem brutal sobre os outros”, diz Karnal sobre todos darem opinião para tudo, o tempo todo, não ouvindo o próximo. “O individualismo impede o diálogo. No campo político, por exemplo, as pessoas se insultam: você é petralha; você é coxinha. Pronto, acabou o diálogo. Você está colocado numa gaveta para sempre e eu não vou ouvir mais nada.” O historiador acredita que nunca vivemos um momento de tanto individualismo. “O nosso orgulho nos cega e, hoje, a humildade, mais do que uma virtude, é uma estratégia”, ressalta. Além do diálogo, Karnal ressalta que a imprevisibilidade não supera a estratégia do preparo, da capacidade. Assim, tudo o que se está fazendo hoje é fruto da experiência do passado, e tudo que ocorrerá no futuro é fruto da estratégia nascida da ação de hoje. “Nada irá garantir que eu esteja bem daqui a 10 anos, mas, matematicamente, vai ser melhor se eu levar o esforço e uma estratégia bem centrada nos meus valores.” Além da estratégia, o esforço também é uma chave da transformação. “O esforço é fundamental. As pessoas olham o resultado e não olham o custo desse resultado. O líder é protagonista e para isso ele tem que ter uma virtude que é a consciência e disso surgir uma ação. Líder é quem tem 56
consciência e tem ação a partir disso. Líder vê além do que as outras pessoas veem e tem mais responsabilidade do que as outras. Líder é uma função essencial para que conduza as outras pessoas.” A visão antiga de liderança é aquela em que o líder é servido por todos. Contudo, Karnal salienta que líder é aquele que tem a maior responsabilidade sobre os outros. “O diretor de um hospital é aquele que tem a maior responsabilidade na instituição e a serve por completo. Um professor é aquele que tem mais responsabilidade pela turma do que um aluno. É por isso que eu sirvo a mais gente, eu trabalho para mais pessoas mesmo que eu dê ordens e estabeleça diretrizes.” Um bom líder está a serviço de uma comunidade. É muito importante que, como protagonista e líder ético, o gestor veja além do horizonte porque as funções mais simples costumam ver apenas o imediato, o aqui e agora. Ética e liderança Para o historiador, a dúvida entre resultados e valores não existe. Se o resultado ignorar valores éticos, será um resultado ruim. “Este é o resultado das empresas que apostaram décadas no desequilíbrio, na propina, no ilegal e agora sofrem.” Logo, o ganho deve ser de acordo com o projeto ético. Karnal diz que toda carreira tem que ser um pódio, por isso
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a importância de enfatizar o crescimento sustentável. “O caminho é assumir que toda escolha implica perda. Toda vez que eu opto por uma coisa eu estou deixando de lado outras. Acontece que as pessoas querem uma escolha e não querem uma perda.” “Eu lutei pela minha carreira com empenho e força. A consequência da minha escolha ética e profissional é receber dinheiro em troca, e não o dinheiro ser o centro da minha escolha”, explica Karnal. Contudo, na maior parte das vezes o dinheiro torna-se a meta, e quando isso acontece ele será sempre insuficiente, afirma. “Vou passar boa parte da minha vida trabalhando e se meu valor não está de acordo com o trabalho, há um problema. O trabalho tem que ser um compromisso ético, sem ética não existe carreira.” H
As pessoas sem ética são pessoas que não têm amigos, têm cúmplices, e o cúmplice parte para a delação premiada. No momento que eu estabeleço uma associação criminosa, necessariamente ela é com criminosos, e criminosos vão te trair
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ARTIGO
SER HUMANO, UM DIFERENCIAL COMPETITIVO
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cho que todos concordam que os dias têm passado muito rápido. Temos a sensação de que 24 horas já não são suficientes para nossas atividades. A semana passa num piscar de olhos, o mês de igual forma. Esta rapidez faz com que busquemos mais ferozmente a perfeição dos sistemas, protocolos enfim, de tudo o que nos cerca. Nos hospitais, estamos sempre no caminho de melhorar, crescer, sistematizar, otimizar com o propósito de fazer melhor, mais rápido, mais barato, mais incorporado às necessidades contemporâneas. Evoluímos consideravelmente neste quesito, mas fico me perguntando sobre as relações humanas. Relações humanas entre colaboradores, entre pares, entre líder e liderado e entre todos estes e o paciente. Quase que indistintamente todos os profissionais que sentarão nos bancos de cursos técnicos, profissionalizantes, superiores, ou similares aprenderam e aprendem que devem ser muito eficientes, mas sem envolvimento com as pessoas participantes da história. Aquela expressão “vestir a camisa” deve ter saído de moda. Parecemos, muitas vezes, corporações de robôs multiprofissionais. Robôs atendendo ao paciente. Robôs fazendo triagem, exames diagnósticos. Robôs fazendo projetos, protocolos. Em uma corporação de robôs, não existe espaço para empatia, para enxergar a pessoa que existe no processo. 58
Somos incentivados a deixar a emoção de lado e embalamos nossas atitudes no conceito: preciso ser profissional. Pergunto como ser completo sem estar envolvido, sem demonstrar o essencial dos seres humanos: sentimentos. Sim, sentimentos que percorrem uma escala extensa de tristezas a alegrias em graus e intensidades diferentes. Nossa essência é humana, não pode ser encarcerada em estereótipos fabricados em série por um modelo já ultrapassado. Estes comportamentos minam o entusiasmo dos profissionais, desprezam sentimentos e necessidades alheias, nos tornam doentes de corpo, de alma. Olhar no olho é comunicação em alto grau, muitas vezes, dispensa até palavras. Ter coragem de dizer eu não sei, é uma demonstração de grandeza. Elaboramos protocolos perfeitos do ponto de vista do processo, mas perguntamos o efeito que ele causará na pessoa que vai recebê-lo? Isto importa ou somente importa o processo?
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Márcia Mariani Administradora, pósgraduada em Meio Ambiente e Liderança. Diretora da SIAServiço de Inteligência Ambiental
Em todas as organizações, existem pessoas interagindo com pessoas. Precisamos internalizar esta verdade. Pouco depois da revolução industrial, somente os famosos “tempos e movimentos” faziam sentido corporativo. As organizações hoje, para seguirem em frente, precisam ter “alma”, sem isto não temos uma organização, temos uma fábrica de robôs. Robôs não vencem crise, não enfrentam desafios, não se importam com o sonho alheio. A sociedade está ávida por pessoas que tenham coração e sangue nas veias. Pode parecer extremamente estranho, mas somente pessoas podem ser o diferencial competitivo que todos os gestores almejam. O melhor processo precisa, para atingir sua plenitude, de uma pessoa humanizada, com o perdão da redundância. A empatia é uma excelente ferramenta para o ápice organizacional, principalmente na área de saúde. Acredite, no cenário atual, ser humano é um diferencial competitivo. H
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Gente e Gestão
GESTÃO LABORATORIAL DE EXCELÊNCIA 60
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Com duas acreditações CAP de qualidade, laboratórios do Hospital Albert Einstein compõem o seleto grupo de instituições com excelência na gestão
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Via de regra, os profissionais de saúde têm consciência da importância do seu papel para que os desfechos da assistência possam alcançar os objetivos desejados em benefício dos pacientes. Esses, por sua vez, criam expectativas de receberem serviços qualificados, que representem soluções para seus problemas. Neste contexto, um exame corretamente indicado, realizado e entregue no tempo necessário exerce um grande diferencial, uma vez que este é o norte na orientação de diagnóstico. No Hospital Israelita Albert Einstein a gestão laboratorial preza por uma cultura de qualidade. A primeira acreditação CAP (Programa de Acreditação de Laboratório), de 2009, foi conquistada pelo Laboratório Clínico da instituição. Dois anos mais tarde, o escopo da acreditação se ampliou para incluir também o Laboratório de Anatomia Patológica, quando os serviços foram unificados em um mesmo departamento (Departamento de Patologia Clínica e Anatomia Patológica). Em 2010, o Departamento de Hemoterapia também ganhou o selo CAP de qualidade. “Para os laboratórios do Einstein, que já tinham uma cultura
de qualidade mantida por décadas, não houve uma mudança processual ou cultural muito grande. Foi uma evolução. Nós já participávamos dos Programas de Proficiência do CAP há mais de dez anos, já éramos certificados pela Joint Commission International e pelas normas ISO 9000, por exemplo”, afirma Cristóvão Luis P. Mangueira, gerente do laboratório clínico do HIAE. O desafio foi adaptar alguns pontos dos processos que eventualmente se chocavam com itens da norma americana, que faziam menos sentido, ainda de acordo com Mangueira. “De resto, na primeira auditoria CAP já verificamos que tínhamos processos muito bem controlados e aderentes à norma, o que tornou tudo muito mais fácil.” O CAP é o principal organismo certificador de laboratórios diagnósticos do mundo e poucos serviços têm essa distinção no Brasil. Mangueira considera o processo de certificação do CAP muito mais controlado, com visitas técnicas a cada dois anos com
profissionais especialistas que auditam através de um olhar crítico e construtivo. “Isso nos faz melhorar a cada ciclo. E o padrão de exigência também aumenta. O que fazíamos bem há dois anos, pode ser melhorado agora. Depois do CAP, passamos a medir e perseguir melhorias em vários indicadores, como a satisfação do cliente com a coleta, por exemplo. É sempre um processo de melhoria contínua.” Acerca do envolvimento da equipe para a manutenção das melhorias implementadas, Mangueira ressalta o trabalho constante e foco no paciente como os principais ingredientes. Para tanto, é necessário envolver todo o time do laboratório a fim de manter tudo funcionando no mais alto nível de qualidade possível. “A manutenção dos selos de acreditação é apenas uma consequência. A qualidade não custa caro, pelo contrário, economiza. Se os processos estão desenhados para trabalhar com qualidade, no final, todo o serviço de saúde se beneficia, inclusive economicamente.” H
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Mercado
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LOGÍSTICA EFICIENTE
Centralização dos processos de transporte e armazenamento de medicamentos e vacinas traz segurança às entregas de ponta a ponta e favorece a redução de custos
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No primeiro semestre deste ano, foram registradas 1.121 mortes no Brasil em decorrência do vírus H1N1, de acordo com informe epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde. Os números dão a dimensão da importância da operação logística eficiente e segura de vacinas e medicamentos para as diferentes regiões do país, determinante no combate a uma série de doenças. “Neste tipo de operação logística, há uma série de regulamentações que devem ser seguidas, como o controle de temperatura e umidade, que garante a qualidade de produtos tão sensíveis como medicamentos e vacinas. Além disso, o preparo da equipe – desde o escritório que recebe o pedido até o entregador que o leva ao destino final – é essencial para que o produto mantenha suas características durante todo o processo de transporte e armazenagem”, salienta João Paulo da Fonseca,
gerente de logística da UPS Brasil. Conforme lembra Fonseca, os produtos do setor de Saúde precisam de um tratamento especial em virtude do tempo restrito que podem ficar em trânsito. “Cada segundo conta para manter a qualidade do produto e tornar a operação mais eficiente, mitigando riscos e desperdícios”, diz. Neste sentido, a centralização do processo em um único parceiro logístico garante não só a qualidade do serviço de ponta a ponta como contribui para a redução de custos. “O atendimento de forma única elimina a dificuldade de gerenciar vários provedores, pois há um único ponto de contato. Nossa operação, por exemplo, cobre toda a cadeia, desde pessoas especializadas, escritórios especializados, centros logísticos especializados até soluções específicas para a cadeia fria, que garantem a qualidade dos produtos durante todo o transporte e armazenagem, no mesmo nível das
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Mercado
indústrias farmacêuticas”, comenta Fonseca. O trabalho com um único parceiro também favorece, segundo o gerente de logística, a troca de experiências e a compreensão aprofundada dos gargalos na operação de cada cliente, o que possibilita o desenvolvimento de soluções customizadas para cada cenário. “Além do atendimento personalizado, investimos em soluções que forneçam dados que são transformados em inteligência de mercado. As soluções integradas de rastreamento, background logístico e controle de carga, combinadas a um portfólio completo – passando por remessas expressas, frete aéreo e marítimo, desembaraço aduaneiro até armazenagem e distribuição – trazem segurança aos processos”, frisa. De acordo com o Fonseca, os investimentos em logística também se convertem na otimização de áreas e em ganhos de produtividade. “Um espaço utilizado para armazenar medicamentos, equipamentos e utensílios médicos pode ser convertido em uma sala de espera ou até mesmo em um espaço de atendimento. Ou seja, um estoque pode se transformar em uma área útil e, consequentemente, rentável. Isto porque o parceiro logístico se torna o ponto de acesso entre a indústria e o hospital, armazenando produtos e equipamentos médicos entregues conforme a demanda”, exemplifica. H 64
Inovações para a Saúde O UPS Temperature True oferece vários níveis de serviço e requisitos como controle de temperatura e velocidade de transporte, por meio da combinação de capacidades de frete aéreo, marítimo e rodoviário, que garantem os cuidados necessários para proteger cargas sensíveis, como vacinas. Já o Pharma Port 360 é um container desenvolvido especialmente para a UPS com um equipamento que mantém a temperatura em 5°C – exigência da indústria farmacêutica.
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ARTIGO
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE: O POSICIONAMENTO DO SUPREMO E A GESTÃO DA ANVISA
O
Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu o julgamento que decidiria sobre o fornecimento de medicamentos de alto custo pelo Estado e sem o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – uma das principais causas da judicialização na Saúde. Três ministros votaram sobre o tema – Marco Aurélio Melo, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin. O ministro Marco Aurélio, relator do caso, manteve o entendimento de que o fornecimento deve ser garantido pelo Estado como previsto pela Constituição Federal. Na sequência, o ministro Luís Roberto Barroso divergiu de Melo, entendendo que o Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos sem registro na Anvisa e, por fim, o ministro Edson Fachin defendeu que fossem observados alguns parâmetros para medicamentos não incluídos na lista do SUS, para a garantia da segurança, qualidade e eficácia dos mesmos. Vale observar que o Supremo, no início do ano, ao analisar a constitucionalidade da Lei 13.269/2016 (que trata do uso da fosfoetanolamina sintética para pacientes diagnosticados com neoplasia maligna), já havia sinalizado que a independência e a ação reguladora da Anvisa deviam ser preservadas. Naquela oportunidade, o Supremo restringiu de maneira significativa a iniciativa jurisprudencial até então aplicada e determinou que o acesso a respectivo medicamento pela população deveria seguir e observar as regras regulatórias impostas a todos os medicamentos e insumos em uso no país. Neste sentido, chancelou o Poder de Polícia da autoridade pública a fim de impedir o fornecimento de medicamentos e tecnologias em saúde não registradas. Assim, modulou o direito de acesso da população a determinado medicamento ou tecnologia à comprovação de sua segurança e eficácia, também entendida como aprovação por parte da Anvisa. Portanto, para o STF o fornecimento de tecnologias destituídas de segurança, de eficácia e de qualidade
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terapêutica não está incluído no conteúdo do direito à saúde previsto no art. 196 da Constituição. Além de ser requisito legal, previsto na legislação sanitária brasileira, a Suprema Corte entende que se deve investigar a aplicação e evidência científica, sendo que, para tanto, deve passar pelo crivo da Agência Reguladora, sob pena de violação ao art. 2ª da Constituição, que trata da separação dos Poderes, pois, como fora criado órgão específico para esta atividade, não poderia o Judiciário ou o Legislativo interferir nesta relação. Infere-se que, independente da fase do julgamento que se encontra suspenso, é muito provável que, seguindo a linha da decisão anterior, o Supremo deverá consolidar o entendimento da necessidade de autorização da Anvisa. Por essa razão, muitos medicamentos inovadores e para doenças raras, que são objeto das ações, poderão vir a ser negados. Novamente, a Anvisa volta ao centro do debate acerca da judicialização, no que se refere à sua atuação (notoriamente sua histórica letargia para a análise de registros e inspeções), geradora de uma alta demanda de processos judiciais e, agora, com a perspectiva de que o STF ratifique a necessidade de registro para o fornecimento de medicamentos e tecnologias inovadoras, o que deverá gerar ainda mais
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Evaristo Araújo diretor-administrativo da Abec Saúde (Associação Brasileira das Empresas Certificadas em Saúde)
preocupações quanto ao acesso da população. Assim, exsurge um grande desafio a ser enfrentado pelos gestores da saúde. Como compatibilizar a necessidade da população e dos doentes com a morosidade e a burocracia da Agência? Como prover celeridade na avaliação de novos medicamentos e tecnologias com a total ausência de padrão nas análises dos técnicos? É imperativo que se entenda que a autonomia e a independência da Anvisa não correspondem a um cheque em branco para que se faça o que quiser, como e quando bem entender. O novo Ministério da Saúde tem dado provas, mesmo neste curto espaço de tempo, de ser extremamente atuante na aplicação da gestão. Desta forma, deve colocar luz na atuação da Anvisa, cobrar resultados e atuar na observação de seu contrato de gestão. Apenas com rigor na cobrança de uma atuação eficaz e transparente as demandas represadas serão cumpridas e a sociedade civil terá acesso com maior celeridade às novas tecnologias existentes pelo mundo. A aplicação de uma gestão eficiente e desburocratizada nos processos da Anvisa é um fator decisivo para a diminuição da judicialização da saúde e, consequentemente, para o benefício da população. H
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Líderes e Práticas
III Fórum Healthcare Business e Prêmio Excelência da Saúde 2016 Grupo Mídia promove evento para mais de 150 executivos do setor da Saúde no Sofitel Jequitimar
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Ética, compliance, transparência e excelência na gestão. Esses foram os temas debatidos durante o III Fórum Healthcare Business, realizado pelo Grupo Mídia, no Sofitel Jequitimar, em Guarujá, no mês de outubro. O evento reuniu mais de 150 gestores convidados e seus acompanhantes. O professor Doutor na Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, Leandro Karnal, abordou a Ética na Saúde. O historiador explorou sobre a transparência tanto na gestão como na vida pessoal. “A vida ética é a que
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dá menos trabalho, que permite uma vida bem-sucedida. A vida ética é o melhor caminho tanto para a vida pessoal como para a profissional.” Alexandre Slivnik, autor do best seller “O Poder da Atitude”, um dos maiores especialistas em excelência na gestão Disney e engajamento de equipe, também palestrou para os gestores. Slivnik falou sobre a importância da humanização do atendimento e o papel da liderança neste quesito. “O papel do líder é fundamental para que a missão da empresa seja colo-
cada em prática com excelência.” O tema central das mesas redondas foi Compliance e Ética na gestão. “Diante do atual cenário político que o país atravessa, com escândalos de corrupção sendo def lagrados todos os dias, pensamos em proporcionar para os gestores debates acerca da importância da ética e transparência na administração”, explica Edmilson Jr. Caparelli, CEO do Grupo Mídia. A primeira mesa do dia trouxe o tema “O compliance e seu impacto financeiro na gestão” e contou com a participação de Sandra Franco, presidente da comissão de Direito
da Saúde e Responsabilidade Civil Médico-Hospitalar da OAB de São José dos Campos; Vivian Nicele Andrade, da coordenação de compliance da Unimed-BH; Adriano Flávio de Lima, diretor de operações do Instituto Nacional do Desenvolvimento Social e Humano; Francisco Balestrin, presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados; e Eduardo de Oliveira, vice-presidente da FBH. O debate foi mediado por Lauro Miquelin, CEO da L+M.
No período da tarde, a discussão abordou sobre “Perspectivas e Tendências do Compliance na Saúde”. Participaram do debate Felipe Kietzmann, diretor do Grupo de Compliance da ABIMED; Claudia Scarpim, diretora Executiva na ABRAIDI e do Instituto Ética Saúde; Matheus Sabbag, responsável pela gestão das áreas de Riscos e Compliance do Grupo Fleury; José Roberto Ferro, presidente do Lean Institute; Juliana Oliveira Nascimento, advogada e consultora da
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Líderes e Práticas
Confira como foi o evento Unimed Curitiba. O debate foi mediado pela editora do Grupo Mídia, Carla de Paula Pinto. O diretor executivo da Fundação São Francisco Xavier, Luiz Márcio Araújo, também concedeu uma palestra aos convidados sobre compliance na relação entres hospitais e operadoras de saúde. Por fim, David Oliveira, da Decida Consultoria, encerrou o evento com a palestra “Rumo ao hospital digital”.
Excelência da Saúde 2016 Além das palestras e debates, o Grupo Mídia também realizou no mesmo local a premiação “Excelência da Saúde 2016”, na qual foram homenageadas instituições de saúde que mais se destacaram no setor no último ano. No total, foram 13 categorias com três homenageados em cada em diversas vertentes da gestão como Governança Corporativa, Gente e Gestão, Responsabilidade Socioambiental, Tecnologia, entre outras. A homenageada da noite pelo Grupo Mídia foi a Federação Brasileira dos Administradores Hospitalares (FBAH). Na ocasião, Paulo Câmara, presidente da FBAH, falou sobre a parceria entre a entidade e o Grupo Mídia. “É com muita felicidade que anuncio que, a partir de agora, o Grupo Mídia será responsável pela publicação da revista Administradores Hospitalares, bem como o organizador dos fóruns e congressos que vamos realizar na Hospitalar 2017.” 72
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PERFIL
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Luiz Sérgio Pires Santana “Não é que a Beneficência Portuguesa está diferente do cenário, mas sim que vínhamos numa curva de elevação de melhoria e, apesar da crise, conseguimos seguir em frente”
E
xecutivo com formação em Engenharia e Administração de Empresas, com grande experiência e consistentes resultados obtidos no setor da saúde, Luiz Sérgio Santana está à frente da Superintendência Executiva do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo desde fevereiro de 2016. Após passar por empresas como Rede D’Or São Luiz, Intermédica, Grupo VITA e Hospital Aliança, o executivo chega ao time de Denise Santos, CEO da instituição, com o objetivo de agregar conhecimento com foco em resultado. “A Beneficência Portuguesa vem num processo de turnaround com a chegada da Denise Santos, em 2013, que remodelou e reestruturou todas as superintendências. Comigo tem 840 leitos, um número bem significante, e vim para
ajudar nesse processo de virada”, diz Santana. De acordo com o executivo, o grande segredo é rentabilizar o máximo do privado para que ajude a sustentar o atendimento público. “Esse é o foco. Somos filantrópicos e atendemos 60% público e 40% privado, e o que ganhamos nesses 40% ajuda a bancar o atendimento SUS. Sabemos como fazer isso indistintamente.” No Hospital Beneficência Portuguesa o cliente do Sistema Único de Saúde tem o mesmo serviço que o paciente do privado. “Esse é o nosso trabalho. A gente contagia todos os funcionários com esse serviço e com a proposta da instituição, que é estar próximo ao cliente, entendendo o que ele quer e trazendo isso para dentro do seu modelo de assistência”, conclui.
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PERFIL
O ano de 2016 na Saúde foi... Sem dúvida muito difícil e isso foi para a economia como um todo. A Saúde Suplementar teve uma perda de quase 1,2 milhão de vidas, reduzindo a população que é coberta por planos de saúde. Sem contar que houve um downgrade, muitas empresas ao tentar enxugar custos optaram por mudar os planos de saúde dos funcionários por um de menor abrangência. Na saúde pública o dia a dia das notícias já demonstra a situação atual. Nos últimos 12 meses, o Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo... Andou na contramão. Foi um ano sensacional, a instituição teve um crescimento muito importante e um dos melhores resultados, com uma gestão extremamente profissionalizada trabalhando dentro de perspectivas de encantamento do cliente. A Beneficência Portuguesa busca entender cada vez mais o que o cliente quer, tentando adequar o desejo do paciente com o nosso modelo de gestão dentro de um custo adequado, podendo gerar um resultado melhor para o hospital. Maturação é poder colher... Frutos de um trabalho árduo. Não tenho dúvidas que o resultado da Beneficência Portuguesa em 2016 é fruto de um crescimento que vem se consolidando nos últimos 76
quatro anos e, finalmente, chegou a uma maturação. Acredito que se não fosse a crise estaríamos colhendo frutos melhores. Não é que estamos diferente do cenário, mas sim que vínhamos numa curva de elevação de melhoria, que, apesar da crise, conseguimos seguir em frente. Após comemorar bons resultados eu pleiteio para o futuro... Uma certificação internacional, quem sabe a canadense. O Hospital São José, que é premium, é certificado pela JCI e a Beneficência Portuguesa pela ONA nível III. Vamos trabalhar forte para que isso aconteça. Atualmente vivo um momento cheio de... Mudanças. Estamos no tudo ao mesmo tempo, aquela sensação de vivenciar um turbilhão de transformações. O hospital está no processo de implantação do projeto Conecta, que implica na implantação de um novo sistema informatizado. Nas instituições São José e Santo Antônio foi implantado o Tasy, e a Beneficência Portuguesa passa pelo mesmo processo, com previsão de conclusão para junho de 2017. Ainda em dezembro deste ano, terá a virada de toda a parte de administração e internação, deixando apenas o Prontuário Eletrônico que vai ser feito por fases, primeiro a UTI, depois
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as unidades de internação e, logo após, o Pronto Socorro. Para 2017, uma grande revolução seria se a Saúde passasse por uma... Remuneração por eficiência. O modelo de financiamento da saúde está sob cheque, o molde de Fee for Servisse, de pagar pelo serviço e de forma fatiada como, por exemplo, conta de material, medicamentos, taxas, honorário e isso está com os dias contatos. Vamos trabalhar para remunerar a eficiência e o sérvio como um todo, e a resolutividade que ele causou. Para isso, os três lados vão ter que repensar - tanto os planos de saúde, laboratórios e clínicas quanto à indústria farmacêutica e de equipamentos, o simples incremento de tecnologia dentro da assistência. Nos próximos dois anos essa grande revolução não acontecerá, mas os primeiros passos já serão dados. Já começo a ver planos de saúde com essa intenção e alguns hospitais, como a própria Beneficência Portuguesa, já se aproximando com uma proposta diferenciada. É sabido que a economia precisa de mudanças, mas... A saúde também precisa. O setor ainda vai passar por uma grande dificuldade, não dá pra falar que vai ser diferente. Sem dúvidas, as perspectivas são de anos difíceis. H
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PONTO
FINAL
O problema da saúde não é o subfinanciamento
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É cada vez mais comum entidades de classe, como associações médicas e de hospitais, levantarem bandeiras contra o subfinanciamento da saúde, principalmente dentro da esfera pública que, além das tabelas defasadas, ainda sofrem com as novas medidas de austeridade recém aprovadas pelo governo. É comum encontrar também executivos e médicos que defendam uma melhor gestão de recursos para que o pouco dinheiro dos hospitais possam ser melhor utilizados. Para isso, os exímios por-vozes defendem uma gestão profissionalizada, com TI aplicada à avaliação de desempenho e gerenciamento de insumos. No entanto, a luta por financiamento e acesso limita-se, aparentemente, em sangrar os cofres das fontes pagadoras, sejam elas pública ou privada, dando as costas para políticas públicas que vão além do segmento de saúde. É importante entender que este setor não é uma ilha, e que políticas públicas aplicadas a outros segmentos ou à sociedade podem afetar diretamente todo o sistema de saúde. Em uma visão mais aberta sobre esse problema é possível enxergar o impacto de políticas públicas que afetam diretamente o segmento
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de saúde. Um exemplo que se pode usar é a obrigatoriedade e fiscalização rigorosa do uso de equipamentos de proteção individual em trabalhadores ou até mesmo nas novas legislações que reduzem os limites de velocidade na cidade de São Paulo, por exemplo. Um estudo recente, divulgado pela Prefeitura de São Paulo, apontou que a redução no limite de velocidade nas ruas e avenidas da cidade ocasionou uma economia no atendimento hospitalar que supera a casa dos R$ 143,5 milhões, reduzindo também em 257 o número de mortes e 8.980 feridos. Desde 2013, internações por acidentes caíram 27,6% na cidade, enquanto cresceram no Brasil e no estado de SP. Além dos milhões poupados, os resultados ainda liberaram 147 leitos hospitalares por dia no município.
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Ao extrapolar para todo o país os custos da saúde relacionados aos acidentes de trânsito é possível avaliar que, em 2013, no Brasil, foram registrados mais de 42 mil óbitos causados por acidentes, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), em relação às internações hospitalares foram aproximadamente 170 mil internações no Sistema Único de Saúde (SUS), gerando um custo de R$ 230 milhões. É importante que bandeiras sobre um melhor financiamento para a saúde sejam levantadas, porém, o impacto de políticas públicas no setor podem influenciar significativamente para que os recursos existentes sejam melhor direcionados, não havendo a necessidade de uma luta que já dura décadas por mais dinheiro e que dificilmente será vencida. H
HCM Eventos 2016 Novembro Evento: 48º CBOT - Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia Local: Expominas - Centro de Feiras de Minas Gerais George Norman Kutova Data: 17 a 19 de novembro Informação: cbot@sbot.org.br Evento: Fórum Medicina do Amanhã Local: Auditório Moise Safra – São Paulo Data: 24 e 25 de novembro Informação: http://apps.einstein.br/medicina-do-amanha Evento: II Fórum de Cuidados Paliativos Local: Tivoli Hotel, em São Paulo Data: 30 de novembro Informação: http://portal.cfm.org.br/
Dezembro Evento: Líderes da Saúde 2016 Local: Espaço Apas – São Paulo Data: 6 de dezembro Informação: eventos@grupomidia.com
EXPEDIENTE CEO E Publisher: Edmilson Jr. Caparelli Diretora-administrativa: Lúcia Rodrigues Diretora-financeira: Janaiana Marques Diretora de Arte: Erica Almeida Alves Diretor de Marketing: Jailson Rainer Diretor Executivo: Marcelo Caparelli Diretora Comercial: Giovana Teixeira Diretor de Projetos Especiais e Customizados: Márcio Ribeiro Editora da Healthcare Management: Carla de Paula Pinto Redação: Fernanda Testa, Guilherme Batimarchi Colaboração: Thaia Duó e Maísa Oliveira Estagiários: Juliana Ijanc’ e Kahel Ferreira Produtora de Arte: Valéria Vilas Bôas Coordenação de Pesquisa: Janaína Novais Executivos de Contas: Rafaela Rizzuto e Maurício Fagundes
A revista HealthCare Management é uma publicação bimestral do Grupo Mídia. Sua distribuição é controlada e ocorre em todo o território nacional. O conteúdo dos artigos é de responsabilidade dos autores, e não refletem, necessariamente, a opinião do Grupo Mídia. A reprodução das matérias e dos artigos somente será permitida se previamente autorizada por escrito pelo Grupo Mídia, com crédito da fonte.
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