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JORNAL DA FESTA DO LIVRO
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EDITORIAL
JOSÉ ANDRADE Diretor Editorial da Letras Lavadas
EM LOUVOR DOS LIVROS 2017 é um ano importante para o livro nos Açores. Nos 35 anos da Nova Gráfica e no 10º aniversário da sua editora Publiçor com a chancela Letras Lavadas, o grupo gráfico e editorial dirigido por Ernesto Resendes organiza duas iniciativas marcantes de interesse público e participação abrangente. Primeiro, foi o “FÓRUM DO LIVRO DOS AÇORES”. Decorreu em abril na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, valorizando as comemorações do Dia Mundial do Livro. Mereceu a participação interessada de mais de 500 pessoas em três dias de reflexão e debate sobre as potencialidades e os constrangimentos do livro açoriano, com a intervenção de três dezenas de autores em seis diferentes painéis temáticos. Foi organizado em parceria com a Direção Regional da Cultura, a Câmara Municipal de
Ponta Delgada e a RTP/Açores. Incluiu a edição da obra O Livro dos Livros, com retrospetiva dos mais de 1000 títulos impressos na Nova Gráfica, dos quais mais de 200 em edição Publiçor/Letras Lavadas, ao longo da última década. Agora, é a “FESTA DO LIVRO DOS AÇORES”. Decorre em julho na frente litoral da cidade de Ponta Delgada, enriquecendo a animação cultural das Noites de Verão. Visa a divulgação e a comercialização dos livros de autoria e/ou temática açorianas e conta com a participação alargada de diferentes entidades editoras de caráter público e privado, além das próprias edições de autor. Resulta da parceria logística com a Câmara Municipal de Ponta Delgada e a Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada e merece ainda o envolvimento direto dos demais municípios da ilha de São Miguel. O seu programa compreende sessões culturais, lançamentos bibliográficos,
tertúlias literárias, momentos de música e poesia. Inclui a edição deste Jornal da Festa do Livro dos Açores, com importantes entrevistas e interessantes testemunhos em louvor do livro para memória futura. 2017 é um ano importante para o livro nos Açores. Os próximos poderão ser ainda mais…
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JORNAL DA FESTA DO LIVRO
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José Manuel Bolieiro Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada
“Ponta Delgada terá congresso internacional de Poesia” O presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, José Manuel Boleiro, em entrevista exclusiva ao “Jornal da Festa do Livro dos Açores”, pré-anuncia a realização local de um Congresso Internacional de Poesia e disponibiliza-se para impulsionar ou apoiar outros grandes eventos de valorização do livro e de promoção da leitura, honrando a cidade-berço de vultos incontornáveis da literatura portuguesa, como Antero de Quental, Teófilo Braga ou Natália Correia. Ponta Delgada valoriza – e tem sabido potenciar – a condição estratégica de berço nacional de vultos fundamentais da literatura portuguesa como Antero de Quental, Teófilo Braga ou Natália Correia? Ponta Delgada tem orgulho nessa sua história e condição de berço natal de tão relevantes vultos da literatura. Muitas iniciativas e distinções em honra da sua memória e dos seus legados têm sido realizadas por diversas instituições e personalidades…. Mas, é meu entendimento que ainda há muito por fazer e que até muito mais podia ter sido feito, em Ponta Delgada, nos Açores e no País. O futuro está em aberto e o resgate da sua memória e dos seus legados pode e deve ser valorizado. Temos parcerias e ideias que vão surgir no curto e no médio prazo, para concretizar essa justiça que lhes falta fazer. Qual a importância do livro e da leitura no âmbito da política de dinamização cultural desenvolvida pela Câmara Municipal de Ponta Delgada? O livro é referência do saber e do aprender. Referência de cultura e de investigação. Enfim, é um manancial de referências, todas envolvidas com o conhecimento e com a elevação cultural coletiva e individual.
Temos desenvolvido imensas iniciativas com o livro e pelo livro. Temos promovido a leitura e a edição de novos livros e da recuperação de antigos. Temos promovido o resgate de legados de autores consagrados. Temos valorizado a coleção de livros da biblioteca municipal e bibliotecas das escolas de Ponta Delgada. Temos motivado a leitura-lazer no verão, nas praias e em jardins, facilitando o acesso ao livro e aos jornais. Criámos, com inovação, a microbiblioteca. Mas há tanto a fazer ainda. Contributos privados e em parceria com outras entidades públicas, designadamente com as escolas e com a Universidade dos Açores podem ser reforçados no futuro. Ideias como o “Fórum do livro” ou a “Festa do livro”, com todos e para todos, podem ser eventos âncora de promoção do livro e da leitura, quem sabe organizados oficialmente ou pela Região ou pelo Município. O que é que falta fazer para que Ponta Delgada seja efetivamente, como tem defendido, uma Cidade dos Livros? Penso que talvez se possa agregar estas ideias acima citadas a uma futura e grandiosa “Feira do Livro” ou com outro nome, que seja oficialmente promovida pelo Município, com regularidade e data marcada. Anunciada com antecedência,
organizada anualmente com regulamento de participação e envolvimento de todos, em especial com editoras, vendedores, Universidade dos Açores e Escolas, entre outros. Que significado tem, para o Município de Ponta Delgada, acolher e apoiar eventos públicos de caráter literário como o recente “Fórum do Livro” e a atual “Festa do Livro” promovidos pela editora local Publiçor/Letras Lavadas? Tem sobretudo o significado cultural e político de parceria, com iniciativas que promovam a cultura e o acesso ao livro, e, ainda, facilite, com transparência, a participação dos interessados na venda. Haverá espaço e condições para que estes ou outros eventos possam evoluir no sentido de criar em Ponta Delgada um verdadeiro festival literário de âmbito nacional? À pergunta, aliás muito direta e muito motivadora, uma resposta clara. Sim, há. Até temos ideia de concretizar em complemento um congresso internacional da poesia. A seu tempo será divulgado.
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JORNAL DA FESTA DO LIVRO
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Avelino de Freitas de Meneses Secretário Regional da Educação e Cultura
“Devemos fazer a pedagogia da importância dos livros junto de cada aluno”
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JORNAL DA FESTA DO LIVRO
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O Secretário Regional da Educação e Cultura, Avelino de Freitas de Meneses, em entrevista exclusiva ao “Jornal da Festa do Livro dos Açores”, aposta na criação do programa Ler Açores, através da junção do Plano Regional de Leitura, da Rede de Leitura Pública e da Rede Regional de Bibliotecas Escolares “num propósito de unificação que torne a promoção do livro e da leitura em objetivo transversal às políticas públicas”. Porque “num livro pode estar a libertação de um homem” e porque “o gosto pela leitura é o único vício que não faz mal”. Deseja que “a proliferação das publicações tenha tradução numa inequívoca qualidade”, defende que a solução para as dificuldades de distribuição “passa pela promoção das nossas publicações fora de portas” e encara com entusiasmo a organização desta Festa do Livro dos Açores na medida em que “a crescente iniciativa dos privados já dispensa o tradicional e o excessivo amparo do governo”. Qual a sua opinião sobre a situação atual da produção literária nos Açores? Em termos editoriais, neste momento, recordando um dito dos tempos “loucos” da revolução portuguesa de 1974, diria que vencemos a batalha da produção, isto é, da quantidade. Importa, porém, que a proliferação das publicações tenha tradução numa inequívoca qualidade. Historicamente, o destaque de agentes açorianos na cultura portuguesa, mesmo universal, exige um tal cuidado. A missão obriga à vigilância quotidiana e ao empenhamento de todos, do governo, das associações e dos particulares. No âmbito da atividade cultural desenvolvida pelo governo dos Açores, que iniciativas destaca para a promoção do livro e da leitura? Nos últimos anos, mesmo nas últimas décadas, diversas iniciativas fomentaram a promoção do livro e da leitura. Sob o lema de uma literacia para todos, de uma voz para todos, de uma aprendizagem para todos, entre 2003 e 2012, a ONU evocou internacionalmente a valia do livro, para incutir nos homens o gosto pela leitura, por sinal o único vício que verdadeiramente não faz mal. Também no propósito de aumentar os níveis de literacia da população portuguesa, foi criado o Plano Nacional de Leitura. Ainda na intenção de colocar a Região a par dos melhores exemplos europeus, o governo dos Açores publicou em 6 de junho de 2011 o Plano Regional de Leitura, promotor da valorização do livro, através do estímulo à prática da leitura, para alfabetização dos menos conhecedores, para ilustração dos mais sabedores, mas tudo muito centrado no acompanhamento das crianças e dos jovens, porque verdadeiros construtores do futuro, porque verdadeiros construtores de um futuro de maior progresso, já que edificado sobre competências novas e consistentes. No futuro próximo, a aposta recai ainda na criação do programa Ler Açores, através da junção do Plano Regional de Leitura, da Rede de Leitura Pública e da Rede Regional de Bibliotecas Escolares, num propósito de unificação, que torne a promoção do livro e da leitura em objetivo transversal às políticas públicas. Entre outras atividades, o Plano Regional de Leitura promove, entretanto, concursos e comemorações correlacionadas com o livro e a leitura, dispondo igualmente de uma lista de obras recomendadas, que constitui para o leitor uma garantia prévia de qualidade e de adequação.
Historicamente, a experiência aconselha a valorização do livro. De facto, também entre nós, pelo domínio da leitura, muitos homens humildes ganharam reconhecimento público, ameaçando o jugo tradicionalmente arbitrário dos homens poderosos. Quer isto dizer que num livro pode estar a libertação de um homem, de muitos homens. O que ainda falta fazer, designadamente ao nível da educação, para fomentar melhores hábitos de leitura junto das novas gerações açorianas? Nas escolas, a importância do livro e da leitura levou-nos à dinamização da Rede Regional de Bibliotecas Escolares. E, se no passado se entendia por biblioteca um lugar ou um móvel onde se guardavam livros, no presente e no futuro a biblioteca está e estará muito para além dos livros e do recinto, porque já hoje uma biblioteca é essencialmente constituída por uma vasta assembleia de utilizadores, que estimula a circulação do conhecimento, pelo menos da informação. De facto, nas escolas, as bibliotecas são espaços de aprendizagens múltiplas, dado que pela utilidade, oxalá que também pelo prazer, a leitura constitui suporte essencial do percurso pedagógico. Assim, em vez de serviços contemplativos da ação educativa, são serviços cúmplices da ação educativa. Do mesmo modo, em vez de serviços para uso dos professores, como sucedia antigamente, são essencialmente serviços para uso dos estudantes, que devem ser estimulados à sua frequência. São ainda serviços suscetíveis do estabelecimento de correlação com a sociedade. A partir do ano letivo de 2015-16, com a implementação do ProSucesso – Açores pela Educação, Plano Integrado de Promoção do Sucesso Escolar, para nós, o livro e a leitura adquiriram uma premência ainda maior. E porquê? Porque o primeiro eixo de ação do novo ProSucesso é o “Foco na qualidade das aprendizagens dos alunos”, que possui por prioridade a promoção da literacia de leitura, a implicar a reflexão e a compreensão de textos multimodais impressos ou digitais e das mais variadas formas de expressão escrita, oral e multimédia. Numa palavra, nas escolas, junto de cada aluno, importa fazer constantemente a pedagogia da importância dos livros. Um pouco à imagem do padre António Vieira que, no longínquo século XVII, definia magistralmente um livro como “um mudo que fala”, “um surdo que responde”, “um cego que guia” e “um morto que vive”.
Que passos devem ser dados para melhorar os circuitos de distribuição dos livros editados nos Açores, entre as diferentes ilhas e para o exterior da região? A inscrição no programa de governo do incentivo à circulação dos produtos culturais dos Açores dentro e fora do arquipélago ainda comprova a incumprimento deste desiderato, ao cabo de 40 anos de autonomia. De facto, a falta de dimensão, a dispersão da geografia e o custo dos transportes constituem constrangimentos de monta à mobilidade dos nossos livros. Ainda por acréscimo, a globalização da economia livreira penaliza hoje as pequenas editoras e os pequenos distribuidores. Nestas circunstâncias, a solução passa necessariamente pela promoção das nossas publicações fora de portas, tendente ao alargamento dos consumidores da produção cultural açoriana, que suscite um acrescido interesse nos circuitos comerciais da distribuição. Anualmente, a feira do livro de Lisboa constitui montra de excelência nacional dos nossos autores e das nossas editoras. No termo de 2016, o convite para a participação dos Açores na feira do livro de Porto Alegre, uma das mais emblemáticas da América Latina, representou um momento de visibilidade internacional, que demanda por continuidade. Como encara a organização de eventos literários nos Açores, de que são exemplos o recente “Fórum do Livro” e a atual “Festa do Livro” promovidos pela editora Publiçor/Letras Lavadas em parceria com entidades públicas? Com algum entusiasmo, porque constituem a prova inequívoca da adesão das nossas gentes ao apelo da cultura, também porque testemunham a crescente iniciativa dos privados, que já dispensa o tradicional e o excessivo amparo do governo. De resto, estamos a falar de eventos micaelenses, mas nas demais ilhas o fenómeno também possui expressão, por exemplo, no Faial, na feira do livro da Horta, e na Terceira, no festival “Outono Vivo” da Praia da Vitória, em ambos estes casos com muito empenho municipal.
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JORNAL DA FESTA DO LIVRO
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A PAIXÃO PELOS LIVROS
O “Jornal da Festa do Livro dos Açores” convidou quase duas dezenas de autores açorianos – de diferentes vocações, gerações, projeções e localizações (São Miguel, Terceira e Faial, Lisboa, Boston e Florianópolis – para um painel de emoções sobre a nossa comum “Paixão pelos Livros”: Carlos Bessa, Emanuel Jorge Botelho, João de Melo, João Pedro Porto, Lélia Pereira Nunes, Leonor Sampaio da Silva, Luiz Fagundes Duarte, Madalena San-Bento, Nuno Costa Santos, Onésimo Teotónio de Almeida, Paula de Sousa Lima, Santos Narciso, Urbano Bettencourt, Vamberto Freitas, Victor Hugo Forjaz e Victor Rui Dores. Foram desafiados a escrever um testemunho pessoal de dois parágrafos, num exercício de criatividade (que todos tiveram) e de síntese (que poucos cumpriram). Num primeiro parágrafo, uma declaração de amor ao livro em geral. Num segundo parágrafo, uma declaração de amor a um livro em especial. E aceitaram o desafio. Vale a pena ler…
Carlos Bessa Não amo nenhum livro. Os livros são objetos e eu não amo objetos. Alguns livros têm sido importantes para mim. Porque me encantam. Porque me ajudam a perceber quem sou. Porque desvelam facetas e pormenores sobre as pessoas, sobre o que são e fazem. Alguns são poderosas máquinas imaginativas. Outros, retratos impiedosos da alma humana. Sem livros, o mundo seria muito mais aborrecido. Como não amo livros, não tenho nenhum que seja especial. Gosto dos que me surpreendem ou fazem descobrir mais mundo. Não gosto dos das palavras chiclete. Nem dos que tentam piscar-me o olho. Apenas dos que vão mais longe. Tantos. Alguns são enormes, outros muito breves.
Emanuel Jorge Botelho
Onésimo Teotónio de Almeida
IL MESTIERE DI VIVERE O coração tem um bolso, pequenino, cheio de tiras de papel. São pedaços de livros que a memória quis pôr a salvo do morrer do Mundo. Pedaços de paixão. Rútilos. – Um dia, em data de cãs cansadas, pousei os dedos no Diário de Cesare Pavese – Ofício de Viver. Ainda hoje sinto como o meu tacto colocou cada uma das suas palavras dentro do meu olhar. Para sempre.
Uma declaração de amor ao livro? Aos 70 anos isso já não se faz. Mas posso revelar que muitas vezes acordo abraçado a um (a Leonor não tem ciúmes porque não raro faz o mesmo). As mesas de cabeceira de ambos os lados da nossa cama têm pilhas deles. Declarar-me a um livro em especial é mais complicado. Isso geraria ciúmes entre os outros não mencionados. Mas garanto que toda a vida o melhor livro tem sido o próximo, o que vou começar a ler logo.
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João Pedro Porto
JORNAL DA FESTA DO LIVRO
um livro de leitura tão avassaladora como um terramoto de grande intensidade. Não foi só a sua narrativa exuberante que infundiu em mim a descoberta de uma nova realidade literária sobre o mundo; foi a surpresa de ver que esse romance podia comportar outros domínios do imaginário. E verificar o evidente paralelismo de Macondo com a aldeia açoriana da minha infância. Gabriel García Márquez conta uma história em tudo parecida com as da minha avó, narradora tão perfeita quanto impiedosa nos seus ritos narrativos. A voz dela produzia em mim todas as emoções, todos os momentos de pausa interior, numa técnica transida de “suspense”. O genial Gabriel García Márquez roubou-me este livro: devia ter sido eu a escrevê-lo.
Um livro e uma porta terão em comum absolutamente tudo. Ambos são feitos para abrir e fechar, note-se a semelhança no movimento; dão ambos para outra banda; entrada, fuga, refúgio: tudo coisas que oferecem a quem se aventure à passagem. Não há edifício maior, mais onusto de portas e quartos, mínimos ou da forma do salão, que uma biblioteca. Todos os escritores são um. Outrossim, todos os livros são o livro. Ter uma biblioteca de quinze mil exemplares, arrumados nas percalinas, rutilando com sedução em torneadas prateleiras, ou ter um livro na cabeceira, um apenas, a desencaminhar o sono, serão coisas atadas uma à outra, próximas de sentido e peso.
Nuno Costa Santos
João de Melo O livro é o prazer e o jogo das emoções pela leitura. Ele educa: abre nos olhos do leitor não apenas um horizonte cultural, mas o sentido crítico da sociedade, do tempo e da vida. Os jovens deviam saber que a cultura do livro é um meio de defesa, e não uma exigência da escolaridade: se um dia forem grandes leitores, serão homens e mulheres mais competentes, menos explorados em sociedade e mais livres, porque menos dependentes dos outros; terão uma maior visão crítica do mundo: sendo mais sábios, estarão mais defendidos e bem informados. Cada século tem os seus livros (os chamados «livros do século»). Cem Anos de Solidão, romance de Gabriel García Márquez, é uma obra-prima,
Com os livros podemos e devemos ser infiéis. Podemos saltar de um livro para outro sem que haja ofensas e ressentimentos pelo meio. Haverá livros decisivos e canónicos na vida de uma pessoa, mas existem sempre outros que, se não foram determinantes, tiveram o seu papel em certo momento. Portanto, se há uma declaração de amor a fazer, é uma declaração aos livros, aos que nos confrontaram com os nossos medos, aos que nos fizeram rir enquanto os líamos numa esplanada, aos que foram uma recomendação de um amigo, aquele que diz: “Tens de o ler. Este livro é a tua cara!”. Falando em amigos, tiro da estante o livro “Mesa de Amigos”, com versões de poesia por Pedro da Silveira, em edição da Assírio & Alvim, de 2002. Escolho-o não só por trazer versões de bons poemas escritos por vozes de nacionalidades muito distintas, mas porque o título é todo um programa – e só de o pronunciar sinto-me bem, apaziguado. Imagino um grupo de cúmplices à volta da mais essencial e íntima das superfícies. E esses amigos podem ser livros, espalhados, desordenados, em montinhos que juntam géneros diferentes, autores distantes. Ficam à conversa, aqui à minha frente. E continuam, quando me vou deitar.
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Lélia Pereira Nunes Uma declaração de amor ao Livro. Faço com prazer e proclamo sem qualquer pudor: incontáveis as madrugadas e manhãs que eu acordo abraçada em ti. Bem juntinho, sentindo teu corpo firme, tua maciez e teu cheiro inconfundível. Contigo não existe solidão. Apenas um mundo imenso a desvendar vida. A vida que se alonga e que fazes vibrar em infinito dentro de mim. Impossível citar um livro. A infidelidade é absoluta. São tantos! Livros que chegam e ficam. Não partem jamais. Por isso, não faço declaração de preferência. Quero lembrar os 50 anos de “Cem Anos de Solidão” do colombiano Gabriel Garcia Márquez, o autor que mudou o rumo da literatura moderna na América Latina. Um livro onde a ficção e os absurdos da realidade latino-americana se encontram e se cruzam no tempo e no espaço. O realismo mágico e histórico de “Cem Anos de Solidão” marcou toda uma geração.
Paula de Sousa Lima Só um livro guarda com correção o rumor das ondas a debruçarem-se sobre a areia e a fulgência do sol a espraiar-se em inteireza sobre a terra. Só um livro guarda a ternura do sorriso completo de uma criança feliz. Por isso, amo os livros como amo a natureza e as crianças. E porque há livros me permitem deixar de ser “um bicho da terra tão pequeno”, homenageio Os Lusíadas.
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JORNAL DA FESTA DO LIVRO
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Será em papiro vindo da ilha de Stª Maria, formato A4 deitado (o da moda), escrito em gótico com sangue de um gordo dragoeiro do Cais do Mourato, no Pico. Já tem tema: “O que os presentes geólogos da chamada universidade dos Açores deviam já saber… e não sabem”. Haverá um capitulo curricular, ou seja, o que tal gente tem feito desde que tentaram degolar-me, no tempo de Machado Pires bem como no consulado seguinte, garciano, repleto de trolhas e de copistas. Enfim, será uma declaração de amor sem índice e as páginas serão numeradas à romana…XL… CCII…MV…etc. Ficará na lista do Guiness, meu guia de criança. Como escreveu Pessoa, “Somos do tamanho dos nossos sonhos”!
Victor Hugo Forjaz
Leonor Sampaio da Silva
Texto anárquico, caótico, de um sujeito da área das ciências. Declarações de Amor – um pedido estranho… 1º parágrafo, escrito no Cabeço das Cruzes. Declaração de amor ao livro, em geral: Julgo saber que todas as manifestações desse género são parvas …. Contudo, esta não o é. Porque a minha paixão pelos livros, pelo (sim, pelo) escrito, vem da Escola Primária do Prof. Manuel Joaquim Tristão de Brito, mestre-escola da Ladeira de Santo António, no Faial. Era pessoa seca, magra, nervosa, comunicativa. Diziam que era exilado político casado com Senhora da ilha (a filha casou com um Kielberg, da Terceira, sendo nosso colega de liceu – era pequena muito doce, derretendo qualquer coração pelo seu bom trato…). O Professor Tristão tinha um vime de faia do Largo Jaime Melo, vime disciplinador. Tratava todos da mesma maneira, filhos de pobres ou filhos de ricos, ricos à moda do Faial, claro). Nosso inesquecível Mestre tinha uma memória espantosa. E no dia em que um de nós – autêntico bando de endemoniados – fazia anos, Prof Tristão de Brito descia o lindo calçadão da Ladeira, estilo romano, e ia com o aniversariante à Loja do Sr. Cardoso, adiante da botica de meu pai, na rua Conselheiro Medeiros. Perguntava ao Sr. Cardoso, livreiro amável e sabedor, o que havia de novidades, novidades que civilizassem o selvático aniversariante. A sessão demorava o seu tempo, pois Mestre Tristão de Brito folheava cada obra e passava-as ao candidato. Depois o livro selecionado era embrulhado em papel castanho, levava barbante à volta e o aluno levava-o para casa. E mostrava-o e emprestava-o aos colegas da escola da Ladeira de Stº António. …Assim me injetaram o vício de amar os livros de papel. Nunca serão substituídos pelas peças eletrónicas. O gosto do papel, cuspido dedo a dedo, é gourmet sem substituto!!! 2º parágrafo, escrito na falha da Serra Gorda, com rodopiantes parapentistas. Declaração de amor a um livro, em especial: Como sou liberal e anarquista, conforme os tons e os ditames do anticiclone dos Açores, como ensinei 50 anos na universidade, desde gente inteligentíssima ao mais cretino homo dito sapiens (alguns destes em importantérrimos cargos lisboetas e insulares ….) , como fui embora e nenhum dos meus exempregados me disse adeus / uf!!, como fui para casa sem ao menos um baratíssimo e moderníssimo e-mail reitoral ou governamental , declaro o meu amor ao livro que um dia hei-de escrever!
Querido Livro: No dia em que te conheci, o mundo girou à minha volta. Chegaste como enviado dos deuses, tão sábio e belo que receei perder-te para outras paragens. Todas as noites eu saía pela janela para te ver. Acabei ficando retida na tua morada. Hoje já não me encontro contigo em segredo. Puxo-te para a luz. Armas-me e desarmas-me. Tens sempre a palavra certa para a incerteza. Apoio a cabeça nas tuas mãos e reinvento-me sem parar. Nunca dormes. E eu, que pertenço ao lote que chamaste de «ardente confusão de estrela e musgo», um dia não saberei acordar. Nesse dia, outras mãos cravarão os dedos na tua massa, mas eu não me importo: são meus os sublinhados, minhas as dedadas de leitura, minha a assinatura abaixo do teu nome: Ofício Cantante. Com amor, Leonor.
Vamberto Freitas São alguns os livros que me influenciaram decisivamente ao longo do tempo. Mas um será especial na minha vida literária: Lettters on Literature and Politics 1912-1972, de Edmund Wilson, publicado postumamente e selecionado e organizado pela sua esposa Elena Wilson. No tempo em que se escrevia cartas à mão ou numa máquina, alguns dos grandes escritores fariam da sua correspondência com colegas, amigos ou leitores como que um outro género literário, com tudo o que isso implica. Forma, conteúdo e ideias, uma vez tornadas públicas, cartas como as de Wilson não só nos deixavam entrar no seu trabalho do dia-a-dia, como acima de tudo nos permitia ver o seu o mundo mais íntimo, e as razões que os levavam a dedicar-se a certas temáticas ou géneros literários. Harold Bloom, no seu conhecido Cânone Ocidental, “elegeu” Edmund Wilson como sendo o crítico “canónico” norteamericano do século XX. Mais tarde, noutro contexto, diria que “crítica é memória”. Se aceitarmos estes postulados, as cartas de Wilson sobre literatura e política são autênticas peças de arte que documentam toda uma era e várias gerações, fazem parte da memória ou dos arquivos criativos da sua língua e cultura. Influenciou-me de maneira muito forte na minha própria escolha de temas que, entre nós, deveriam também ser estudados, elaborados e divulgados entre a nossa classe culta.
Urbano Bettencourt Várias décadas depois de me cruzar com eles, os livros continuam a desempenhar o papel de sempre: rasgar janelas sobre o mundo, desvendar caminhos na opacidade do tempo, questionar as certezas e a acomodação dos dias. Cada momento tem o(s) seu(s) livro(s) particular(es) e a memória de leitor faz-se da soma de todos os que foram ficando ao longo do caminho. Mesmo quando se tem dois ou três livros que nos amparam a leitura e a escrita, referilos seria injusto para os com outros.
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JORNAL DA FESTA DO LIVRO
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Santos Narciso
Luiz Fagundes Duarte
Madalena San-Bento
O livro – Livro é vida, escola, sonho e repouso. Nele sinto o quebrar de cadeias de solidão, o despertar de personagens adormecidas e torrentes de água fresca em que mergulho sempre em busca do mesmo: um mundo melhor! O meu livro – “O Hino do Universo” de Teilhard Chardin! Li-o muito novo, quando ele me era proibido. Nele aprendi que o Infinito está nas coisas finitas. Nele moldei a minha forma de pensar e olhar o mundo, porque o Universo começa dentro de mim!
Faço minhas as palavras de Terenciano Mauro: Pro captu lectoris habent sua fata libelli – o destino dos livros depende da capacidade dos leitores. O que me leva a desconfiar dos livros que vendem muito – num país que pouco lê. O meu amor pelos livros é um acto de perdição. E daí, de salvação. Minha. Montaigne escreveu numa viga da sua biblioteca esta frase em grego: «Isto tanto pode ser como não ser». E, num ensaio, diz que a única explicação para a sua extrema amizade por La Boétie não podia ser outra que não esta: «Porque era ele, porque era eu». É esta relatividade das coisas e do ego, assim ditas, que fazem dos Ensaios o livro de onde sempre parto e aonde sempre chego. O resto são searas ao vento.
O nosso amor vive da cumplicidade e de emoções intensas. Invadiste-me, com uma imensa tatuagem de palavras, que agora são eternas. Sem exigir nada, fazes com que tudo aconteça. Envolveste-me na música das tuas frases e eu provei o teu corpo de letras e estilo, o teu ritmo de cores e de cheiros… Eça: os teus “Maias” – o começo do meu desvario.
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JORNAL DA FESTA DO LIVRO
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FESTA DO LIVRO DOS AÇORES
AGENDA DE EVENTOS
Ponta Delgada | 14 a 23 de julho de 2017 | 15h00 > 23h00 Tenda instalada na área das Portas da Cidade
Sexta | 14 de julho
15h00 Inauguração oficial da Festa do Livro dos Açores, com o gerente da Nova Gráfica/ Publiçor/ Letras Lavadas, o presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada e o presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada 19h00 Lançamento do livro Álbum Micaelense – Memórias e Factos, de José de Almeida Mello, com prefácio de António Machado Pires e apresentação de Eduardo Ferraz da Rosa (Salão Nobre dos Paços do Concelho) 21h00 Noite de Poesia (Antero de Quental, Natália Correia, Vitorino Nemésio e outros) pela “Academia Sénior de Ponta Delgada”
Domingo | 16 de julho
21h00 Tertúlia Literária, moderada por Vamberto Freitas, com Carlos Tomé, Emanuel Jorge Botelho, Leonor Sampaio da Silva, João Pedro Porto, Paula de Sousa Lima e Sidónio Bettencourt, entre outros
Segunda | 17 de julho
16h00 Prova de degustação dos produtos próprios da empresa açoriana “Lactaçores” 18h00 Sessão de autógrafos com autores de livros das editoras “Companhia das Ilhas” e “Artes & Letras” 21h00 Sessão Anteriana promovida pela “Associação dos Antigos Alunos do Liceu Antero de Quental”
Sábado | 15 de julho
Terça | 18 de julho
21h00 Lançamento dos livros Tavares Carreiro – Uma Família Micaelense e Rodrigues, Moniz Falcão, Cordeiro Neves e outras famílias da Maia, da Relva, de Ponta Delgada e desta aos sertões de Pernambuco e à “Terra da América”, de António Ornelas Mendes, com apresentação de Jorge Forjaz (Salão Nobre dos Paços do Concelho)
18h00 Sessão de autógrafos com autores de livros de Edição de Autor
18h00 Prova de degustação dos produtos próprios da empresa açoriana “Agromariense”
16h00 Prova de degustação dos produtos próprios da empresa açoriana “Pérola da Ilha”
21h00 Sessão dedicada ao Concelho da Povoação, com apresentação de livros de João Cordeiro (A Costa da Povoação e Paraíso da Ilha) e prova de degustação de produtos da Cooperativa Celeiro da Terra
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JORNAL DA FESTA DO LIVRO
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Quarta | 19 de julho
Sexta | 21 de julho
18h00 Sessão de autógrafos com autores de livros de caráter histórico da editora “Publiçor/ Letras Lavadas”, como Conceição Melo Cabral/ Maria Orísia Melo, Ferreira Almeida, José Andrade, José de Almeida Mello, Mário Moura, Salgado Martins, Sérgio Rezendes, Teixeira Dias
18h00 Sessão de autógrafos com autores de livros de caráter infanto-juvenil da editora “Publiçor/ Letras Lavadas”, como Alexandra Castela/Elsa Melo Gouveia, Ana Isabel Ferreira, Célia Barreto Carvalho/ Suzana Nunes Caldeira, Mariana Cymbron/ Rita Bonança, Susana Teles Margarido
21h00 Sessão dedicada ao Concelho de Vila Franca do Campo, com apresentação do livro Ilhéu de Vila Franca: O Vulcão Perfeito, de Victor Hugo Forjaz e António Frias Martins
19h00 Sessão cultural promovida pela Câmara Municipal do Nordeste, com autores e livros nordestenses
16h00 Prova de degustação dos produtos próprios da empresa açoriana “Lima & Quental”
Quinta | 20 de julho
16h00 Prova de degustação dos produtos próprios da empresa açoriana “Azores Bitter” 18h00 Sessão de autógrafos com autores de livros de caráter literário da editora “Publiçor/ Letras Lavadas”, como Almeida Maia, Amélia Meireles, Amélia Sophia, Carolina Cordeiro, Hélder Medeiros, Leonardo Sousa, Maria João Ruivo, Orquídea Abreu, Patrícia Carreiro, Pedro Paulo Câmara, Susana Almeida Rodrigues 21h00 Sessão dedicada ao Concelho da Lagoa, com apresentação dos livros editados pelo Instituto Cultural Padre João José Tavares
16h00 Prova de degustação dos produtos próprios da empresa açoriana “Açoresmel”
21h00 Lançamento do livro Açorianos Ilustres, de Augusto Cymbron, com apresentação de Luís Andrade (Salão Nobre dos Paços do Concelho)
Sábado | 22 de julho
19h00 Lançamento do livro Chá dos Açores, coordenado por Virgílio Vieira, com prova de chás do Porto Formoso 21h00 Sessão cultural promovida pela Câmara Municipal da Ribeira Grande (Biblioteca Municipal Daniel de Sá), com autores e livros ribeiragrandenses
Domingo | 23 de julho
19h00 Sessão cultural promovida pela Câmara Municipal de Ponta Delgada (Biblioteca Municipal Ernesto do Canto e Centro Cultural Natália Correia), com apresentação dos livros Verde Azul Sete Cidades: Lendas Contos e Factos, de Jorge Arruda, e Vulcão das Sete Cidades, História Natural – Um Guia, de Victor Hugo Forjaz 21h00 Lançamento da nova edição do livro O Barco e o Sonho – Conto Açoriano / The Boat and the Dream – An Azorean Short Story, de Manuel Ferreira, com palestra de José Alfredo Ferreira Almeida e atuação musical do grupo “Três Pancadas”
NOVOS LANÇAMENTOS NA FESTA DO LIVRO
> 14 JULHO
ÁLBUM MICAELENSE Álbum Micaelense – Memórias e Factos é a nova obra do historiador José de Almeida Mello que a editora Publiçor/ Letras Lavadas apresenta durante a Festa do Livro dos Açores. O novo livro abre com um prefácio da autoria de António Machado Pires e encerra com um texto de contracapa de Eduardo Ferraz da Rosa, sendo ilustrado pelo arquivo fotográfico de Roberto Paulo Carreiro da Costa. A edição é da Letras Lavadas e a execução da Nova Gráfica.
> 15 JULHO
> 21 JULHO
GENEALOGIAS AÇORIANOS DE SÃO ILUSTRES MIGUEL Uma obra da autoria de Duas obras de genealogia, da autoria de António Ornelas Mendes, são lançadas no decorrer da Festa do Livro dos Açores. Tavares Carreiro – Uma Família Micaelense e Rodrigues, Moniz Falcão, Cordeiro Neves e outras famílias da Maia, da Relva, de Ponta Delgada e desta aos sertões de Pernambuco e à “Terra da América” são os novos livros que assim nascem na ilha de São Miguel. As novas publicações, com capa e paginação de Luís Pamplona, são editadas pela Letras Lavadas e impressas na Nova Gráfica.
Augusto Cymbron, Açorianos Ilustres, é lançada no âmbito da Festa do Livro dos Açores, em Ponta Delgada. Tem prefácio de Luís Andrade e impressão da Nova Gráfica. Este livro reúne notas biográficas de uma centena de açorianos que se notabilizaram como cronistas, artistas, cientistas, desportistas, eclesiásticos, empreendedores, escritores e poetas, exploradores, filósofos, historiadores, industriais, investigadores, jornalistas, médicos, militares, músicos, políticos e vulcanólogos.
> 22 JULHO
> 23 JULHO
CHÁ DOS AÇORES
O BARCO E O SONHO
Chá dos Açores, com coordenação de Virgílio Ferreira, é uma obra editada pela Confraria do Chá Porto Formoso que será lançada no âmbito da Festa do Livro. O livro tem organização de Cidália Ponte, Clara Estrela Rego, Dino Castelo Branco, Guilherme Miranda, Ilda Brás, João Anselmo, José Luís Vicente, Maria da Luz Machado, Ricardo Lima e Teresa Nóbrega. Esta nova publicação tem capa de Tomaz Borba Vieira, a partir da obra Chá Seara de Francisco Álvares Cabral, e foi impressa na Nova Gráfica.
O Barco e o Sonho – Conto Açoriano / The Boat and the Dream – An Azorean Short Story é a reedição da obraprima de Manuel Ferreira (1916-2012) publicamente apresentada na Festa do Livro dos Açores. Agora em português e em inglês, esta obra inaugura a publicação de diversos títulos com a chancela Letras Lavadas em edição de bolso, no âmbito da coleção PedraPomes. Este pequeno/grande livro tem coordenação de José Alfredo Ferreira Almeida, capa de Tomaz Borba Vieira, edição da Letras Lavadas e impressão da Nova Gráfica.