POEMAS ESCOLHIDOS
Guilherme Zarvos
Daqui de cima do Monte Pascoal viu. Neste bosque encantado, nesta floresta que é parque quando tudo era parque – correu morro: trinta quilômetros. Lá de cima havia enxergado. O coração desejava explodir, o pé precisava voar – ar pulmão ar – queria chegar na praia, em Corumbau e conferir: nunca vira Deus tão lindo. Correu por meio de ipê caixeta pinha cupuba gameleira paubrasil sapucaia jacarandá oiti pequi e deixou marcas das solas ligeiros no manto tapete amarelo laranja vermelho marrom preto de folhas caídas na trilha que tantas vezes percorreu e nem sentiu o perfume doce da floresta que ontem chovera. Era manhã e orvalhava e ele não viu os pingos ainda agarrados nas folhas em todos os tons semitons verdes que dependem das mudanças das horas do dia e o do tempo e da Terra e das marcas dos raios de sol. E uma codorna passou mansinha e tentou lhe avisar que não se apressasse e outros bichos tentaram lhe pedir que não fosse, gritando estridentes, uivando, que parasse – ar ar pulmão eu lhe estouro mas quero chegar – e correu como nunca, em nome de todos os seus Deuses, de todas as suas mulheres, não muitas, na sua juventude. O corpo rijo acostumado à caça à derrubada ao sexo às guerras aos jogos correspondia. Porém a Impaciência já havendo lhe tomado exigia mais: passou batido por borboletas brancas amarelas azuis que aspiravam por enfeitar acariciar seu braço guerreiro como só Bela sabia, mas não era a hora. Apenas a praia lhe interessava e num descuido uma raiz traiçoeira passoulhe uma banda e o guerreiro caiu de boca no chão, no tapete de folhas de sêmen de óvulo de adubar terra, e um sapo o encarou: dez centímetros era a distância. Não cuspiu, não era disso. Tinha a
cor das folhas. Caleidoscópio se protegia dos inimigos. O sapo não falou absolutamente nada já que não era um sapo falante mas o encarou preenchido – na completa imobilidade de sapo que encara – e Zinho, por alguns segundos, não pensou na areia que precisava alcançar e lembrou de seu avô, do olhar grava de tuxaua em momentos de decisão. De tomar rumo, de falar que o Tempo lhe ensinou. A cara do sapo esculpida por pai e mãe e pai e mãe e pai e mãe do sapo, dez centímetros de seus olhos, o hipnotizava e ele deitado de bruços, corpo todo no chão tapete de folhas, por um minuto permitiu que maus pressentimentos dominasse sua cabeça. O corpo do forte fraquejou. Foram apenas estes segundos e o corpo de forte já corria e Fantasia e Impaciência eram novamente suas donas e Zinho já avistava a praia e não era só ele ali: toda a aldeia, do mais velho à mais pequenininha se grudava perto da água dentro da água para ver: A FUNDAÇÃO DO BRASIL.
Sim, e se fosse ontem ou hoje Zinho haveria de ter outras moradas e ofícios e de Raízes do Brasil colhi nomes de tendas de ruas de praças e de trabalho: botoeiro esteireiro sapateiro guitarreiro espadeiro ferreiro taberneiro manteiro luveiro e oleiro sem esquecer do barbeiro carpinteiro cozinheiro pedreiro e coveiro. Sempre a serviço do banqueiro e, claro, do eterno fazendeiro. Sim, Zinho nasceu num cacaueiro. Era agosto de 1972. Tempo impiedoso do ditador, general Garrastazu Médici, e Zinho tem agora dezoito anos, não sabe quem foi o presidente da tortura e não entrou no exército por excesso de contingente, por ter se alimentado mal quando guri, virado nanico, mas muito forte nos músculos de carregar arroba. De cacau. Zinho vive em Anori. Terra Bahia Cacau. A mata encobre a planta. Cacau quer sombra e água fresca. Cacau malandro. Cacau quer seu pé limpo. Tem de haver empregado para limpar pé de cacau. Nem samambaia cacau quer. É praga. O rendado verde de samambaia que envolve os pés de cacau é praga. Cacau quer ter seu pé limpo. Sem vassoura-debruxa. O neto lava pé do avô senhorial. Madalena lava pé de Cristo. O cardeal lava pé do preso. O moleque Zinho mal pago nanico risonho limpa pé de cacau. Anori é tão pequena, cercada de mata que cerca cacau. Casas de pau-a-pique. Pobreza. Quem limpa pé de cacau sempre foi pobre. Dono de cacau não. Já foi barão. Já esbanjou dinheiro na capital. Salvador. No Café das Meninas. Ao lado da câmara dos vereadores. Terno branco de linho 120. Carro do ano. Importado. Hoje dono de cacau não tem tanto. Quem limpa pé de cacau então! Mas Anori comemora a Festa do Cacau. Cacau dá mel dá licor dá uma alegria uma vontade
de beijar no mato no meio dos pés de cacau. No rendado das samambaias. Zinho gosta do gosto da Bela. Zinho gosta do rio que corta Anori. Gosta de nadar nu. Ele e Ela. Os moleques que sabem de tudo já viram. Zinho e Bela nadando pelados! Zinho e Bela deitados no mato! No rendado verde claro das samambaias que envolvem pé de cacau. Os moleques que sabem de tudo fizeram igual com a vaca mansinha. Com cabrita mansinha. Com galinha não pode não. Ela morre! Com os amiguinhos não pode. Contar. Mas os moleques que sabem de tudo já viram. Não contaram. E as crianças de Anori, barrigudas de verme, descalças na lama, são tão felizes, brincam de jogar papel para cima. E correr atrás de papel. São tão felizes! Seus pais não. Já limparam muito pé de cacau. Não ganharam nem uma quadra. Para eles só casa de barro. AS crianças os moleques não ligam. Ficam tristes às vezes porque gostariam de ter um brinquedo: já que não tem, esquece. Brincam de jogar papel de correr atrás do vento que leva papel, de pular no rio, brincam principalmente de saber tudo. E Zinho tem 18 anos e sabe muito e já não é moleque. Não está triste. Tem esperança. Está um tiquinho triste. Vai deixar Bela. Por pouco tempo. Ele tem esperança. Ele vai pegar ônibus para Salvador. Arrumar emprego bom. Aí casar com ela. Bela espera. Zinho está só pouco triste. Bela está com seu melhor vestido. O ônibus da São Geraldo estaciona. A mãe e o pai de Zinho sobem com ele até a cadeira 17. Na janela. Zinho colocou uma mala pequena no bagageiro. Na mão tem água biscoito e licor de mel de cacau. É para tia que mora em Salvador. Ele está com sua melhor camisa sua melhor calça seu melhor sapato. A meia tem um furo. Escapou dos olhos
da mãe. Bela tenta não chorar. Chora. Chora ela chora a irmã de Zinho chora a avó. O irmão não. Nem está ali. Está em São Paulo. É pedreiro e dorme na obra. Manda carta todo mês. Traz presentes uma vez por ano. Para todos. Promete que tudo vai melhorar. Aí ele vai casar. Diz e volta para São Paulo: construir prédio dormir na obra ser chamado de paraíba. O São Geraldo vai sair. Pontual. O pai e mãe de Zinho não choram. Dentro do ônibus, têm dignidade. O pai de Zinho tira um dinheiro do bolso. Zinho diz que não aceita. Não pode. Não é direito. Aceita. Já não quer ir embora. Quer pai mãe Bela! O ônibus roda. O pai a mãe a irmã a avó e Bela, principalmente ela, vão ficando pequenininhos. As mãos acenando vão dando tchauzinhos, tchauzinhos, tchauzinhos... Zinho esconde o rosto na cortina do São Geraldo e chora. Zinho tem 18 anos. Nunca saiu de Anori. Sempre limpou pé de cacau. Zinha está indo embora de tudo. Para onde.
Pedais
1 Lá vão os da bicicleta Ele, garboso, pedala, o soberano Ela, com o tecido tear os cabelos Isolda Atrás, vão para seu quarto, liberdade dos pais E pedalam O pálido de Tostes, impecável a cor branca O cabelo também cacheado - devem se entrelaçar No tear, depois, no descanso do encontro Ela, Isolda figura, arfa, com os excessos do jovem macho E continua atrás, folegando, aprecio, dedicado esforço De sua face, creme branco, luva e lua Nascem as rosinhas, tão bem guardadas Ela não sabe que todos que as espiam quando O garanhão não estiver por perto Na maciota, por um reino as tocariam 2 Lá vão os que pedalam O veloz entre ônibus na avenida No fim de tarde atravancado
Anda mais rápido o lépido Voa ziguezague e eu parado. Sobe esforço o que sobe estradas Montanhas trilhas o que já ultrapassou Andes pretendendo a Turquia O filho da amiga querida pedala E foge da exagerada esquizofrenia. Pedalo. Aprendi sozinho. Eu era tão leve Menino que nem sentia que pedalava Não sabia se bicicleta ou eu quem estava Conduzindo. 3 Vai bicicleta mar vai fórmula um Vai cavalo carro de polícia ou bandido Leva no cilindro ou garupa o amigo a Amante a prancha os cadernos as baguetes Com alface e flores. Carrega o mundo inteiro Carrega, ele empresta, o Sentimento do Mundo.
Thiago e dois ou três playboys
O esperar dormir, a manhã que dormi 11:30 Meu amigo teve pneumonia mas aspirava aspirar Acompanhei Como acompanho a insanidade fútil dos jovenzinhos Decadentes, mais decadentes que seus pais que Perderam dinheiro na Bolsa, pai Tu que era poderoso e tudo me prometia Os jovenzinhos heteros na troca do sugar Quando o vampiro está enjoado de sangue pífio Quem sugaria o pênis de porra nova Dos jovenzinhos de arrogância bastarda Seus mamilos delicados poderiam ser alvo de lambidas No outro dia qual é o cheque salvação Os jovenzinhos do Leblon de Santo Agostinho Quem conheceu Agostinho sabe que ele Não tinha vergonha da consciência de sua vergonha Daí a beleza de seu andar de shorts largos Corpo magro crescendo e a obsessão Pela mãe e pela praia e jogos de corpo, bola E vela. Os jovenzinhos da boêmia desesperada São os seguidores do falo paterno. Não realizam Que já possuem os seus. Bem-formados Impotentes. Usados com o cuidado de higiene Pudica. Os jovenzinhos do final da noite, aqueles que Se conheceram no Agostinho, ainda acreditam no
Sucesso falso já que o verdadeiro exige Trabalho ou escolha divina Os jovenzinhos dos que acreditam em dinheiro não poderão ser escolhidos, mesmo que agressivos A bolsa pode ser suas vidas Pequenos. A bolsa da mãe, de onde saíram Só despertam quando o horror desafia suas lindezas inúteis A solidão dos soldadinhos do nada é a solidão dos Soldadores do nada Desejo dormir dormir. Entretanto a poesia chama com Som e fúria do débil que tem o conhecimento da Força de cada palavra. Desculpem-me Thiago e os três playboys Sou tão patético quanto vocês quatro O gentleman, que também está na mesa, me olha e Prevê que fará publicidade publicidade Atônito e sem coragem de abrir a boca frente A tanta vulgaridade um dia me esperará Pegarei o verdadeiro Agostinho e passearemos No meu karmanguia amarelo-claro O sol não atrapalhará nossos olhos Momentaneamente ingênuos.
Amanhã vou ao Fórum (jan 2003) O tempo calmo de um botequim de Del Castilho O xerox 5 centavos faz o livro nascer barato E do carro ganho com o suor do último dinheiro Que meu pai guardava em moedas de ouro num banco Paulista E que herdei do primogênito de uma família cigana De uma família de loucos de gentis e raparigas sacanas Eu também sou do país dos Mourões Também assassinei e dei abrigo a miseráveis O tempo claro de um domingo na Zona Norte Faz-me lembrar dos que foram e dos que virão Eu que acreditei em Deus um dia Que acreditei no mal com alegria Que não me importo com a rima pobre Juntando beleza e nobreza e benfazeja e Alegria: alegria gera alegria E da pobreza das redes das terras dos Mourões Da serra do Sará Grande, e dos engenhos já maiores de Pernambuco Velho dos engenhos Gigantes do açúcar industrial E da sombra da mangueira verde quase musgo
Aonde aprendi que ler era mais importante que viver Que viver é mais importante que morrer e que de viver É que vivem os livros E fui embora. Abandonei o silêncio cheiroso das Mangueiras verdes das mangueiras chamuscadas pela Geada agora cinza e amarela Abandonei meu pai e as mangueiras centenárias eu Que do país dos Mourões abandonei meu pai Mourão E sua brutal macheza. Fui para São Paulo virar veado Fui para o Rio de Janeiro virar veado Fui para Copenhagen Amsterdam Cairo e São Francisco Misturar pau e drogas E nunca mais olhei para o país dos Mourões e fui Abandonando os machos e enrabando os machos Amando e me afastando das mulheres e desprezando o Espetáculo fácil e a fragilidade das paixões Fui descobrindo o amor, a construção da Política e da crença no futuro. Abandonei as Mangueiras cheirosas de verde musgo um dia Invadidas desapropriadas em nome dos Sem-Terra Ainda não sabia que o país dos Mourões desmoronava Apenas senti a tristeza pelo chão vermelho de terra que Perdera. E engoli mais uma perda. Fui para São Paulo
Perder a facilidade do dinheiro. Fui ao Rio de Janeiro Viver sem desejo de posse e de rumo Era a poesia que gritava seus encantos. Nunca achei Que viver valia. Vida tem os outros. Eu tenho ouvido Para a vida que faz poema É domingo de tarde no centro de Del Castilho Nada é castigo sou orgulhoso do homem que me fiz Do canto que faz o mundo do humilde que sabe tanto Eu criador do universo tão forte quanto Deus Eu que criei Deus e distribuí riqueza Eu tantas vezes eu ajudei a diminuir fome e tristezas Sou da família dos Mourões De Ursula, Gonçalo, Léa, Gerardo e do menino Tunga Eu pai de Guilherme, Michel, Ericson, Tarso, Botika, Vitor, Paulo, Rod, pai de tantos guris, pai de Isabella, Joana, Gisah, Tatiana, Francesca Sonia Betina Luciana de tantas raparigas em fogo e flor Eu macho Mourão resolvi viver de vida.
Pivetes Para Roberto Corrêa dos Santos
A infinidade do amor não exclui a Disciplina. O estóico. As drogas pela Manhã quase trazem o desatino Por que os bares tem de fechar quando raia o dia A família dos Coelhos e dos Culhões O vômito O acordar sorrir porque te amo A indisciplina da mentira Clássicos Mocassim preto marrom Engraxar nas cadeiras altas do aeroporto Hoje necessito inteligência Andei me drogando demais Vou às exposições do Centro da Cidade Coloquei uma camisa de flanela de quadrados verde e azul Por baixo uma camiseta marinho Junho azul de um azul de junho Encantador, moro no Rio
Para lá dos 70 Envelhecendo com dignidade, convivendo com as Doenças, seja a diabetes, que deixa minhas pernas Negras, o coração de mudanças de ritmo e de humor, O pulmão com água. Envelhecendo e esperando a Morte. Sem revolta. Comendo de tudo. Tudo é Proibido. Sonhando com viagens que não posso Executar. O médico manda exames, às vezes os Faço, às vezes nem envio de volta: ficam no armário Canetas, relógios, fotos da família, contas já pagas e Várias pílulas, todas as cores, chego a tomar 17 ou Mais por dia. Se estou com raiva não olho a Prescrição. Esqueço. O que mais pode me acontecer Morrer? Já nem sei o que é isto. Estou tão próximo Da morte que ela já nem existe. Estou dentro do Enlace da morte. Eu quero é que se foda. Desculpem-me. Envelheço com dignidade.
Brasília Voando ver sobre as asas de Lúcio seguindo sua coluna vertebral Tocando teclas nódulos e assistindo Para além das asas as irmãs Guará e Tabatinga. Vô vi vi Brasília brincando De amar. Há tantos: o lutador gentil como Um pequeno urso acariciado pela mãe Protegendo e protegido seu amigo Parelha o desavergonhado Fashion Vô vi ver Fashion a estátua do belo Magérrimo levantando seu braço Raio Flach Gordon apontando a estrela E seu corpo manequim Esticando-se pois mais que estrelas Apontava o limite do corpo heróico Já que alguém o afrontava e seu corpo Empinado desafiava como a solidez De obra de Oscar ou de uma pena de Ema todos seres do cerrado Vô e na sala de aula modernosa USP Ou PUC tanto faz fala-se do Moderno autoritário de Brasília Vô a Brasília de Juscelino de Oscar De Lúcio e de Darcy vô pelas Super Quadras no entardecer de um inverno E me sento com o Denílson na UNB e O pequeno urso, o Grosseiro, o inseparável
Fashion e seus mais sete ou nove amigos Que andam soltos flor do cerrado Porém não tão soltos que possam soltar o Celular de cada genitora e vejo a igreja e Vejo os santos e os vitrais, tudo flutua e Sigo para outro caminho Da procura que o dedo determina.
Túlio de Bizâncio A transparência dos cílios marrons de Túlio – posse e protegido de Tibério, deixa que o brilha das pupilas marrons da pele bege de Túlio – amante de Tibério, enfeitice. Fui enfeitiçado. A transparência de seus cílios, asas de borboletas marrons, me perturba: quisera-me pintor para celebrar de maneira mais digna a transparência de seus cílios marrons que evocam um lamento. Não sendo músico – o que trai a alma – nem pontor, escrevo: foi-me dado por deus esta única artimanha de louvor. Utilizo-a procurando a mesma leveza com que a ponta dos meus dedos caminham, evocados nos sonhos, pelo corpo de Túlio e quando toco em seus cílios e eles em reflexo fecham tímidos meu corpo bege ata em seu corpo bege: de leve beijo seus lábios beges de sobressalto. É assim a idade dos dezoito, talhada para o desejo, anunciada por poucos anos. Túlio entrou na vida de Tibério aos quatorze. O velho sábio lhe aprumou os músculos que serão entregues em breve a uma das preferidas. Será um casamento memorável. Ah, Deus, agora único, me possibilite, antes da última aurora bege da celebração anunciada, que Túlio me queira. Não macularei a honra de Tibério, nem a da futura preferida. Guardarei segredo, nas penas, sobre esse amanhecer que fará dois corpos beges iluminados pelo bege da aurora, pelo marrom da transparência dos cílios de Túlio se amarem: dois pares de olhos marrons se tornando cúmplices.
Henrique Ele era branco. A camada de tinta Sobre a tela. A primeira segunda camaDas de tina brancas sobre a tela. Intacta. Ele era branco. O rosto pretensiosamente masculino. Francês pernas finas com músculos de corrida. O short e a camisa brancos. Olhei me olhou. Tantas vezes. O número Que supera desculpe-me, ou você está me Olhando porque. Ele era francês perdido no Vagão do metrô. Eu sou do Rio. Cada um Media a liberdade e o espaço. Foram poucas Palavras. Não era de palavras. Sem retórica. Eu Não falo francês. Seu olhar pretensioso aborrecia-me. O corpo muito belo. Quase todos os machos sabem Que os rapazes atraem certos homens. Poucos São inocentes. As mães nunca são inocentes. Os Pais raramente são inocentes. Os adultos poucas Vezes não sabem que rapazes atraem muitos Homens. Isso é repugnante. Os homens riem dos Homens que deixam transparecer atração por rapazes. O francês era belo. O buço do francês era belo. Os poucos pelos da coxa do francês de per nas finais E musculosas eram belos. Ele me olhava. Olhava ele. Deitou na minha cama sem palavras. Seu Corpo era magro e musculoso. Intumescido o Membro era pequeno. Aparentava fragilidade. En-
Volto em pelos finos como seu cabelo seus ombros Seus músculos. Branco foi a imagem que Restou. O ventre branco espargido de esperma Que escorria ou gotejava aqui acolá – o quadro Final: o silencio do branco e o cheiro de homem Que enjoa ou agrada a muitos homens – quadro Insólito. O francês vestiu a camiseta e o calção Brancos e apertou minha mão. Saiu em silêncio e O cheiro que impregnava foi pela janela. Como são Brancas as nuvens!
Juras de amor 4 Fui volto. Saí. Quatorze horas de janela fechada. Coração abandonado Passos. Na rua de luz de poste. Aprendiz. Passos. Acuidade. Suporte de corpo. Peso da nuca. Desaprumado. Não bebi. Bobeio com amigos. Bar. Estranho. Gente. Mesmo de ontem de anteontem. A praça as lajotas o céu. Cores marinho. Papeamento minguado. Volátil. Estranho. Retorno à casa e leio. Envolvo palavras. Que não há sono nem gente. Remédio. A bala Diz tiro e queda. Hipnótico. Pedra na língua Garganta esôfago até dormir. E no cérebro Atinado de presta atenção o silêncio zoa. O som Da máquina. Contínua. Já tive medo da loucura. O psiquiatra acalmou na fala que não se fica Louco porque quer – experimente parar de beber. Crescerá – parei, força de segurar juízo. Dois dias. A cidade grande, enorme. Rio. E ônibus passando E carro passando. Zum. Som que se mistura Ao silencio metálico. Da noite de casa. Não durmo. Outra pedra dissolvendo na língua. Espelho tacha Testa inchada. Corpo inchada. Década encharcada. Pensava. Que iria morrer e iria parar. E até hoje não Sei se fui tão próximo que não adianta parar. Cipício.
Cantata Constante – Coro A Gerardo de Mello Mourão
1 Os deuses têm ciúmes, ou imagina que da mais poderosa boca seria apenas exalado perfume? Será possível enxergar o desejo? Os humanos, pobres mortais, na empáfia, se permitem acreditar no toque mais leve. Como se entra o dedo e a pele não houvesse um peso de pedra! Crentes no amor, tal carneiros, atravessam riachos. Água que pesa na lã e os torna reféns. Aflição(!) é o destino dos que não preveem. Melhor augúrio para quem se prostrou ao oráculo? A sorte está sempre lançada. Ah! Favorecidos do céu, um de sua prole se tornará o corrompido. 8 De onde – nem mesmo ideia. Enfrentei com fúria histérica Deus lascivo. Meu cérebro sem prumo permitiu que lancinasse o velho de boca de figo. Puni – com o punhal violei a carne, por todos os tempos que licenciaram a boca chupada do velho. Perplexo, purguei, crueldade insana: o mais poderoso insistiu em demonstrar tirania onde só deveria haver piedade – Morte (!) Céu, por quanto tempo recorri evitando a ruptura. O sulcar do sagrado. E de que me vale o lamento se quem me agrava pede por punição: libertando-se. Não felicito a morte, porém que destino mais nobre agradaria (?) em vez de estender minha ira ao justo. Bastardo, ouvir por três vezes e meus dedos enrijeceram. Senti o gosto sem época de romper um ventre. De me tornar algoz.
Ele Para mim
Foi decretada, ontem, a morte do poeta fulano de tal. Os presentes gritaram vivas quando foi decapitado. Seu último desejo, pediu de quatro: - Dar uma chupadinha no peru do Claudinho. – Após deixarem o corpo no canto partiram para cima de uma adivinha. Ela foi morta a facadas gritando: - Eu sei o futuro de cada um. A morte após a minha.
Transparência
A transparência da chuva fininha A que permite enxergar calmamente A enorme mangueira 200m afastada Da janela A chuva é formadora de camadas e na Continuidade é uma cor Camada sobre camada Ela é cinza ela é branca ela é transparente A enorme mangueira verde e amarela Está carregada – transforma-se numa Visão impressionista O realismo da mangueira modificado pelo Difuso da chuva fininha e as centenas de camadas Está carregada – transforma-se numa Visão impressionista O realismo da mangueiro modificando pelo Difuso da chuva fininha e as centenas de camadas
Laranja O bambuzal tem a desenvoltura de um arco-íris. Ambos em mergulho aéreo fogos de artifício, estrela cadente – explosões lúdicas: a bomba de Hiroshima que não matou. Era apenas o esplendor da forma: o Sol Nascente que a bandeira do Japão honra. Cocar laranja e verde de cacique Ninguém suporta passivamente a visão de um bambuzal amarelado que parece vir ao encontro, para tomar num abraço, como fotos sincopadas do movimento de um corpo que se aproxima, ele paralisa O bambuzal abre e fecha como um guarda-sol oriental Como cílios naturalmente longos e sem rímel O bambuzal guarda serpentes a seu serviço
Poeta Quando a morte me levar, suave suave descanso, quando a dita aconchegar, tragédia para uns poucos, lembrança no ar (não há). Quando o cinza, o branco desfocado, o negro do sonho, quando, talvez, morrer e ver tudo colorido, poucas vezes sonhei colorido, quando, como disse a senhora retornando do coma – tudo é tranquilo, a morte é como esquecer para sempre – sorvo mais duas latas e aspiro alguma substância tóxica; só queria ser um velho culto a contar bobagens como o meu primeiro beijo de língua ou mergulho na cachoeira. Nunca menti seu desgraçado. Sempre cumpri as ordens da nação. Ser repetitivo o apaixonado e não espero que muitos me leiam. Tão educado menininho.
Banda 1 – Pai, 47, boêmio da Ipanema antiga com Brahma na mão. Cabelos brancos. Filho moreno, 15 ou 16, magro: - Não fica tímidio. Um travesti de vestido roxo e purpurina passa batom vermelhotravesti no outro travesti par de vestido roxo. Os dois desajeitados se apoiam gargalhando. Balbúrdia roxa de final de tarde e mar. 2 – Do lado uma biba para outra no ouvido: - O bofe te comeu bem? 3 – Perto, muito perto, uma 40 otona com Seu amigo, 18, ou filho: - Você fala demais. Garotão: - É. 4 – Dois jornalistas da Globo cobrem o evento. Uma âncora e o câmera. Ela diz com autoridade de mulher bonita e independente: - Não tem dinheiro? No carnaval tem de ter dinheiro. 5 – O carro de som do Ministério da Saúde que também patrocina a banda tombada vai gritando com voz de Francisco Alves misturado aos foliões aos trocadores de tuba e ao som do caminhão de marchinhas:
- Curta carnaval com segurança! Camisinha, alegria e camisinha! Seja no camarote ou na avenida tem que rolar camisinha! 6 – No posto 9, às 9, Aimberê tira a roupa e corre da Vieira Souto para as ondas. Um barrigudo com cara de cafajeste parte para cima implorando justiça: - Tô com meu filho de 7 anos, porra! A turma do deixa-disso dissuassude. O fim está próximo. Até outra banda.
PANDORA Ele me falou. E é meu mestre. Alguém pode ter um. O meu tem mais de 70. Anos. Estranho. Tanto. Disse: meus cabelos brancos rodaram o planeta. Nunca vi província como esta. Terra mais bonita, só inventada. Amadurei olhando o Brasil em suas veredas. Agora os contornos estão feios. Horríveis. Maga patológica. Onde nascem as crenças. Dançando. E meu candomblé. Cada um com seu. Cada filha e filho. Só vou suportar tempos mais belos. Cabelo solto no ar. Sorriso de morena. Amizades. O que a moldura escancara já sabíamos. Não neste montante. Esta conta alta. Boate de putas & putos de luxo. De jatinho whiskey e carrão. Franquia. Isto não se podia saber. Que o lodo lago era fundo. Mas o mestre já, antes das gengivas escancaradas, roubasse a cena: “É preciso passar o país a limpo”. Que os ricos roubam e odeiam pobres. É a Historia. Sempre fomos ricos. Salvador e Ouro Preto. É apenas real. Sempre um poderoso levou. O caldo mais doce do pato. Só olhar. Sem descansar o olho do verão mais belo. Não é problema. Não suportar tanta sujeira gritar por liberdade. Comer do que tiver e trocar carências. Tranquilidade. Aviso para os comerciais.
Eram três camas, duas de casal, e seis caras Tinha também um colchonete Quarto alugado num motel sem estrelas Na região da Cinelândia Recanto feliz na cidade do Rio de Janeiro. Neno é que É quem lida com o gerente e ambos são felizes Há um enorme sorriso nesta vida comunitária Com TMD vende poesia O truque nem é boa poesia É vender Sobreviver De poesia E a vida sorri para estes dois amantes do giro Felipe e Anderson são banda anarcopunk Dormem de botas faz longo tempo Trampo faz fogo malabares em carros trampo E a vida mais esbórnia dos dois deixa Caras amassadas e Cada hora numa ocupação Tocar nem é questão do agora Defender indígenas Professores Fazer um curso de manobrista E as GIGs E esta cidade imensa e lá vão Os dois para Bangu ouvir Cólera Defender as causas populares
Morar no morro do Alemão No Fallet E tempo junto com suas minas E já são quatro gatos no motel do centro Os outros dois Se aninham os mais velhos estão de conchinha Segura o pau de dia do garboso rapaz Todos estão na paz cansados da manhã virada Seis camaradas do Rio Rindo
COMPOSIÇÃO FINAL Para Facundo Soto
O verde do Vacaria cerrado O futuro 1 quilômetro 1 bolsa com papel higiênico Afastar-se da Sede Decadente de 1 terrateniente Da terra intocada Sobravam Veados Emas Tamanduás-bandeira Seriemas Flainando Saltitando no pasto Um capão de árvores sombreia Ideal para cagar Quando caga-se 1 km da Sede Ninguém pode lhe ver e vc Vê pastagem e o cheiro verde Dá sua cagada e limpa com o Papel e como madame de cidade O plástico para jogar na Sede A bosta
2 No capão de mato Do não utilizado campo Do terrateniente arruinado Sair da Sede e mirar 1 km O prana envolve-te é energia Os escrotos Sorriem Já sabem Um pouco de pressa Já quer Pensa na mina Marina Quase pisa na bosta cheirosa Mãe dos cogumelos de zebu Pensa no mino pablito Veste-se de vulto A Sede está longe Só vê a imaginação Ninguém está perto Prana imaginação E pau quente e gostoso Se agita Se firma Ideia e a porra vai saindo Geleia pelo canal uretral Tubulação de elétrons E porra enche a mão E salpica pelas plantas Todo dia 1 km e
Esta alegria 3 É estranho q além da Mina é no mino q dá + tesão q estranho + não Tem solução gosta de sentir A pica dura A dele a sua Compartidas No colégio Da cidade 100 kms anus atrás 100 kms ontem Visitei-o Masturbamo-nos Corpos que se gostam Semana passada foi ela Bela Marina 2 kms marchava o fedelho 1 cagar manhã 1 gozar antes do almoço Mas era aprendiz de poeta Muita leitura 1 km da Sede O terrateniente achava estranho Tanta leitura Vai vender vaca no lugar de boi 1 km da Sede na sede de ler
Telêmaco seu amado Antínoo seu bem querer Rimbaud esporrou por ele No mesmo campo Fase antropomórfica Tinha uma bananeira Faz 1 furo com a faca E a fodeu 4 Furou melancia Que delícia Furou caqui tomate Primos e irmãos Pensou em furar um bicho Aí não deu… histórias antigas… Égua Porquinha Cabra Macho ou fêmea Todo dia + foi a cenoura Que o transformou Iria viver de cenoura Chupar cenoura Colocar no cu Esfregar na pica Depois comer Parece q quando vc come
Vc está sendo comido É que o caroteno da cenoura É fortíssimo Plantar cenoura Lá perto do mato Colher e vender na cidade 100 kms e descobrir que pau Alugar sua pica Dá mais tutu Que vender cenoura O terrateniente gritava Onde estás onde estás Pensava Nela Pensava Nele 1 km lhe parecia normal Cagando Gozando Lendo Escrevendo Pegando ônibus 100 kms Para a cidade ideal
5 Pablito também era michê Mas no banco fazia linha Carteira assinada e crédito aprovado Na linha do banco lo hijo portava-se
Tinha desejo de ter mucha plata Depositar todos los dias en lo cajero de seu amado Entretanto grana de michê voa falso E tinha que esperar o final do expediente 6 Lo hijo do terrateniente Explicou para Marina que a sua era Pablito Ela entendeu na hora E falou: vou criar em neon amarelo Roubar-lhes o primeiro beijo Pablito e lo hijo casaram-se Foram morar na Patagônia Adotaram um casal de pinguins Já tinham ganho de casamento O neon amarelo Delineando sus cuerpos Ao fundo o verde Ao fundo o bege ao fundo o cinza