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Videoperformance casulo processos de reflexão sobre si

Niara Mackert Pascoal, niara.mpascoal@ufpe.br www.lattes.cnpq.br/2640412484393640

RESUMO Casulo é uma videoperformance produzida em 2021 pela artista visual Niara Mackert. A videoarte trata de temas como opressões, autoaceitação, vozes caladas, que a artista identifica em si e na sociedade que a cerca. É uma produção auto narrativa que começou em meio a vários questionamentos e momentos de solidão, principalmente por conta do início do confinamento por conta da pandemia. Desde então, a artista experimenta formas visuais de lidar com suas sensações-entranhas, ora de forma literal, ora de forma subjetiva. Casulo é um expurgo que ela se impõe. Pode significar prisão, mas também liberdade e proteção. Às vezes ela mesmo o constrói. Em alguns momentos ele lhe é dito. São linhas (in)visíveis que moldam. Nesse texto, apresenta-se um relato em primeira pessoa sobre o pensamento por trás da produção artística.

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PALAVRAS-CHAVE Casulo; Videoperformance; Artes Visuais; Auto narrativas.

ABSTRACT Casulo (Cocoon) is a videoperformance produced in 2021 by visual artist Niara Mackert. Video art deals with themes such as oppression, self-acceptance, silent voices, which the artist identifies in herself and in the society that surrounds her. It is a self-narrative production that started amidst several questions and moments of loneliness, mainly due to the beginning of confinement due to the pandemic. Since then, the artist has experimented with visual ways of dealing with her gut sensations, sometimes literally, sometimes subjectively. Cocoon is a purge she imposes on herself. It can mean imprisonment, but also freedom and protection. Sometimes she builds it herself. In a few moments he is told. They are (in)visible lines that shape. In this text, a first-person account of the thinking behind artistic production is presented.

KEY WORDS Cocoon; Video performance; Visual arts; Self narratives.

Somos nossas fases. Construímos nosso ser, adaptamos nosso corpo, tomamos decisões que mudam nossa vida, nosso ambiente. Adotamos uma personalidade, seguimos crescendo e nossos membros aumentam de tamanho, nosso cabelo muda de cor, nossa pele se transforma. O mundo lá fora nos exige algumas coisas, desde pequenos. As vezes nos cobra, inclusive, que sejamos de determinada forma, que nossa aparência seja de algum modo, que nos expressemos conforme a sociedade aceita e preza. Vamos internalizando essas exigências externas e muitas vezes construímos barreiras e obstáculos dentro de nós mesmos, capas, casulos, paredes. A videoperformance Casulo traz o processo de construção e desprendimento das linhas invisíveis que me sufocam, que me cobrem. Como pensamento conceitual, o vídeo é construído em um momento performático e em meio a reflexões sobre meus casulos, meu corpo-casa e como eu me relaciono com os momentos de introspecção e reflexão sobre mim. Trazem angústia, meu sentimento de aprisionamento de mim mesma, da minha voz, das minhas emoções e vontades. Nesse sentido, diferente do que frequentemente vemos na natureza, em que o casulo se configura como um processo de transformação, renascimento e de evolução (da lagarta para a borboleta, por exemplo), na série o casulo torna-se um fardo, algo que me imponho e que me perturba, me tolhe a visão, a fala, o rosto. Apesar de ser construído por mim, ele é fruto da minha relação com o mundo, do meu relacionamento com as pessoas, com os ambientes, com os olhares alheios e até desconhecidos sobre o que eu sou ou devo ser. Em algum momento esse casulo começa a me sufocar e eu decido me livrar dele, escolho desmanchá-lo. Ele passa, então, a ser uma parte de mim, da minha vida, que não está mais fisicamente comigo, mas que simbolicamente e psicologicamente ainda são minha responsabilidade. Esses fios, emaranhados, amarrados, embolados, por conta do processo de desmanche do casulo, precisam ser arrumados dentro de mim. Então começo a enrolá-los novamente, mas o trabalho é cansativo, as vezes meus braços doem, outras acho que preciso cortar esses fios e depois emendá-los novamente. Esse processo não acaba, é algo cíclico. Meus casulos se constroem com minha relação com o mundo. Eu os crio, desmancho, organizo, crio, desmancho, organizo. E esses ciclos constituem quem eu sou. O título Casulo vem de uma relação bem íntima que tenho com os processos de metamorfose, explorados pela primeira vez em minha produção artística em 2016, com a série Transfiguração. 50

Figuras 1-4

Série Casulo (take da videoperformance). Fonte: acervo da autora.

Desde então as borboletas e seus processos foram se tornando um espelho para minha visão de mim mesma e dos processos que vivencio. Minhas produções auto narrativas começaram em meio a vários questionamentos e momentos de solidão, principalmente por conta do início do isolamento social com a pandemia. Desde então, venho experimentando formas visuais de lidar com minhas sensações-entranhas, ora de forma literal, ora de forma subjetiva. O processo psicossomático para a construção desse vídeo ainda caminha comigo, assim como os processos de embolar e desembolar as linhas, ou até construir o casulo novamente.

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