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Esboço-paisagem: um ato de recriação de possíveis paisagens
by L. Hansen
Samir Dams, samir.dams@gmail www.lattes.cnpq.br/46185592524755061
RESUMO A presente pesquisa visa apresentar o processo poético que parte da produção fotográfica que depois se desdobra em uma nova paisagem que surge a partir de elementos signo do cenário do Comércio. A ideia do “Esboço-paisagem” nasce do insight, a partir de uma análise fenomenológica estrutural provocada por meio da leitura do livro de Anne Cauquelin (2007) em “A Invenção da Paisagem”, percebemos que a “paisagem do centro comercial, o Comércio”, e como de todo lugar existente é uma paisagem inventada. É um estudo em Arte no qual tem como objeto a ação em que @ própri@ pesquisador@ está atuando.
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PALAVRAS-CHAVE Experimentação; Paisagem; Processos Poéticos; Comércio.
ABSTRACT The present research aims to present the poetic process that starts from the photographic production that then unfolds in a new landscape that arises from sign elements of the Commerce scenario. The idea of “Landscape Sketch” is born from insight, from a structural phenomenological analysis provoked by reading Anne Cauquelin’s book (2007) in “The Invention of Landscape”, we realize that the “landscape of the shopping center, the Commerce”, and as in every existing place, it is an invented landscape. It is a study in Art whose object is the action in which the @ researcher @ is working.
KEYWORDS Experimentation; Landscape; Poetic Processes; Business.
1 Artista, graduado em Artes Visuais e Tecnologia da Imagem pela Universidade da Amazônia – UNAMA, Agente Cultural, pesquisador, conservador de acervos fotográficos, colaborador da Associação Fotoativa, graduando de Museologia pela Universidade Federal do Pará – UFPA. 380
O antigo centro comercial de Belém do Pará, o “Comércio”, fica localizado no bairro da Campina, que é um local histórico e que foi se estabelecendo desde a fundação da cidade. O mesmo passou por várias mudanças ao longo de sua existência e até sua própria co-relação com a sociedade paraense. Ernesto Cruz em sua obra “Ruas de Belém : significado histórico de suas denominações” (1970) descreve claramente todos processos de mudança de nomes que este lugar teve no decorrer do tempo. Hoje, o Comércio possui as suas ruas principais (Rua Conselheiro João Alfredo à Santo Antônio, 7 de setembro, Campus Sales e Frutuoso Guimarães) ocupadas pelos seus fazedores locais, os comerciantes/camelôs/ambulantes, que dão a este cenário um outro sentido, o sentido de resistência social de busca por melhores condições de vida para si e para sua família. Dentro deste território desenvolvemos caminhadas fotográficas individualmente. Transitar pelo antigo centro comercial exige de nós um momento para parar, para ver, para observar, para perceber a macro paisagem que este espaço a céu aberto apresenta para nós e as suas micro paisagens existenciais presentes que também vem a provocar o nosso olhar. E, estar presente cotidianamente por ali desde de nossa infância nos faz ter a sensação de privilégio e ter um olhar de observador mais contemplador não apenas da estética dinâmica que este lugar possui, mas, também de tessituras sociais que ali existe e estão em constante manifestação de seu jeito único de ser. A nossa caminhada fotográfica visava apenas ser um exercício do olhar sobre este espaço sem pretensões para além disso. Era registrar o que já observamos antes de termos uma câmera digital, a beleza particular que este cenário possui, os seus resquícios histórico presente nos casarões, predios, chão de paralepipedos com camadas de asfaltos sobrepostos, as estátuas no alto dos casarões abandonadas, esquecidas de um passado, a ocupação das barracas de ferro no meio disso tudo configurando uma nova dinâmica espacial e cultural com esta paisagem, uma série de sobreposições de informações presentes neste lugar. Que nos deixa sempre eu eufóricos para falar dele. Pois, nós, somos parte desse lugar como personagem. Personagem orador que vivencia no cotidiano deste lugar o estar-presente e falar-presente desta paisagem. Esta pesquisa vem sendo desenvolvida desde 2016, quando reconhecemos que este estar-na-feira como nosso lugar de fala, pois, nós somos um dos agentes fazedores deste lugar, também. 381
As nossas fotografias foram apresentadas como nosso resultado poiético em “Ação Curatorial II2”, para obtermos nosso título de bacharel em Artes Visuais. No qual visamos discutir o tema paisagem em artes visuais, por meio da fotografia. Ao invés de nós realizarmos uma fala/escrita descritiva da imagem paisagem do Comércio, preferimos que você tenha uma experiência mais próxima através das imagens a seguir. O tema paisagem, no universo das artes, começa a ser abordado por meio das pinturas de gênero paisagem, no qual foi amplamente trabalhado em vários movimentos artísticos, como observamos na história da arte. E na fotografia, a transição da paisagem pictórica para a imagem técnica, passa após o experimento de Joséph Nicéphore Niepce e Claude Niépce. Que foram os primeiros a ter sucesso em obter a imagem do meio natural em novo suporte, a qual não precise de pigmentos coloridos para criar imagens. Este experimento nasce quando os irmãos Niépces resolvem gravar a imagem em uma câmara escura, tendo como material de suporte ácido nítrico, uma placa de estanho e betume branco da Judeia. Este foi um grande avanço para o surgimento da fotografia. Segundo Boris Kossoy (2001, p. 25) a sua criação “[...] teria um papel fundamental enquanto possibilidade inovadora de informação e conhecimento, instrumento de apoio à pesquisa nos diferentes campos da ciência e também como forma de expressão artística”. Mas, para este presente trabalho buscamos apresentar a imagem paisagem em um nova forma material para além do desenho, pintura e fotografia, um esboço feito diretamente a partir de colagem experimentais. Falaremos disto mais adiante no tópico “Esboço-paisagem”.
Experimentos
Após esse primeiro momento da pesquisa que se inicia pensar a imagem paisagem dentro da fotografia e seus desdobramentos. Começamos a pensar essa imagem paisagem para além do ato fotográfico, isso após e a através de provocações feitas por meio de conversas com os nossos próximos, acompanhadas de pequenas leituras ímpares, assim dando continuidade por meio de um novo processo poético. Deslocando este
2 É uma disciplina de caráter trabalho de conclusão de curso, no qual o aluno deveria apresentar uma obra e um artigo como resultado final para obtenção do título. 382


Figura 1
DAMS, Samir, Sem título, Belém/PA, ano 2014, Série| Estética do caos, fot. dig. col. sobre lona. Fonte: Acervo do artista. Obra em acervo do Centro Cultural da Justiça Eleitoral do Pará – TRE-PA.
Figura 2
DAMS, Samir, Sem título, Belém/PA, ano 2015, Série| Estética do caos, fot. dig. col. sobre lona.
Figura 3
DAMS, Samir, Sem título, Belém/PA, fot. digital, ano 2015. Fonte: Acervo do artista.
lugar na qual a imagem residia em outros objetos, assim, desenvolvendo ‘uma visão construtiva da paisagem’ (CAUQUELIN, 2009, p. 12). Começamos a experimentar a construção da imagem por meio dos elementos sígnicos deste espaço – são todos os objetos presentes no pelo território do Comércio, desta forma, para nós eles possuem um certo valor que está estritamente ligado a este lugar comercial. Ou seja, ‘signos que representam o nosso ambiente visual’ (SANTAELLA;WINFRIED, 1997, p. 13). E, é por meio da conjugação, junção, combinação destes elementos que, nós começamos a criar outras possíveis imagens paisagens. Como você poderão ver nas imagens a seguir: O nosso processo nasce do observar o cotidiano que nos cerca, como diz John Dewey (2010, p. 61) – “compreender o estético – em sua forma bruta”. Que Conceição Evaristo chama de “escrevivência”, que para nós seria escrever por meio de imagens não utópica, mas, sim, imagens que nascem de nossas experiências pessoais. E Bourriaud diz que:
[...] o artista habita as circunstâncias dadas pelo presente para transformar o contexto de sua vida (sua relação com o mundo sensível ou conceitual) num universo duradouro. Ele toma o mundo em andamento: é um locatário da cultura [...]. 2009, p. 18-19.
Esboço-paisagem
O projeto “Esboço-paisagem: um ato de reCriação de possíveis paisagens” pretende articular produção artística e reflexão teórica tendo como delimitação o entrelaçamento dos elementos signos da paisagem do Centro Comercial de Belém, o “Comércio”, atravessando este lugar como flâneur com aspectos da arte e cultura contemporânea. Os signos que chamamos de “elementos sígnicos” deste são sacolas plástica a qual vem as roupas, sacolas de fardo, a fita adesiva colorida que está indiretamente ligado a este lugar. O esboço-paisagem objetiva construir novas possíveis imagens paisagens deste cenário. A ideia do nome de “Esboço-paisagem” nasce do insight, a partir de uma análise fenomenológica estrutural provocada por meio da leitura do livro de Anne Cauquelin (2007) em “A Invenção da Paisagem”, mais especificamente dapalavra “Cidade-esboço”. Ficamos muito eufóricos! E, no mesmo instante pensamos na ideia de “Esboço-paisagem” co-relacionando com todo processo que estamos 384



Figura 4
DAMS, Samir, Sem título, Ananindeua/ PA, ano 2020, Série| Esboço-paisagem 01, desenho com caneta nankin sobre saco fardo, dimensões 120 x 109,5 cm. Fonte: Acervo do artista.
Figura 5
DAMS, Samir, Sem título, Ananindeua/ PA, ano 2020, Série| Esboço-paisagem 01, desenho com caneta nankin sobre saco fardo, dimensões diversas. Fonte: Acervo do artista.
Figura 6
DAMS, Samir, Sem título, Ananindeua/ PA, ano 2020, Série| Esboço-paisagem 01, desenho com caneta nankin sobre saco fardo, dimensões diversas. Fonte: Acervo do artista.
desenvolvendo em nosso processo criativo, repensando essa imagem paisagem deste lugar que tanto nos provoca. E dentro desta leitura, percebemos que a “paisagem do centro comercial, o Comércio”, e como de todo lugar existente é uma paisagem inventada. E a percepção, à esta natureza construtiva, ou reinvenção da paisagem fica mais clara quando lemos o livro “Ruas de Belém: significado histórico de suas denominações”, de Ernesto Cruz (1992), quando ele vai descrevendo o desenvolvimento do núcleo urbano de Belém e a etimologia do nome do lugar e de cada região do processo de ocupação deste local que outrora era já era habitado pelos povos indígenas. Carlos Delphim (2008, p. 88) em seu artigo “Paisagem” diz que “a paisagem é o produto material, a síntese de todos elementos e processos naturais e culturais possíveis de ocorrerem em um espaço físico delimitado”. Além disso, diz que “toda paisagem é cultural”, porque o homem tem ciência do que seja paisagem por conta da sua relação com o meio. E, este processo também é possível ver e observar em artes visuais, os “n” processos poéticos que visam discutir construir paisagens possíveis a partir dos elementos que os provocam, os excitam a experimentar os elementos presentes em suas mãos naquele momento do insight.
Conclusão
Percebemos também dentro desta ação poética, um pouco de ecologia da imagem por buscarmos recriar possíveis paisagem de um lugar que cotidianamente transitamos revendo e vendo as novas configuração do espaço/cenária; e reciclagem a partir da reutilização dos elementos que comumente são descartáveis pelos comerciantes e, assim, formando lixo constante por meio do desuso. Acreditamos que conseguimos apresentar um pouco da nossa investigação e processo criativo, visando também, aproximar a todos, a todas e todes do Comércio, uma parte de um todo complexo, a sua dinâmica é tão constante que suas imagem paisagem de hoje só existiam hoje, amanhã teremos um nova possível paisagem deste lugar.


Figura 7
DAMS, Samir, Sem título, Ananindeua/PA, ano 2020-2021, Série| Esboço-paisagem 02, fitas adesivas col. e adesivo de plotagem s/ sacola plástica tamanho 30. Fonte: Acervo do artista.
Figura 8
DAMS, Samir, Sem título, Ananindeua/PA, ano 2020-2021, Série| Esboço-paisagem 02, fitas adesivas col. e adesivo de plotagem s/ sacola plástica, 42 x 32,7 cm. Fonte: Acervo do artista.
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