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Meus olhos, seus ohos: diálogos entre arte, tecnologia e afetividade
by L. Hansen
Sema, artistasema@gmail.com www.lattes.cnpq.br/9021203726422002
RESUMO texto é referente ao trabalho em vídeo “Meus olhos, seus olhos”, no qual pedi a 6 amigues artistas (Dhi Monte, bIO, Mateus A. Krustx, Cacau, Thiago Saraiva e José Lucas Dutra) que filmassem alguns segundos da vista de suas janelas de casa e assisti o que me enviaram em minha televisão. A obra expressa a sensação de solidão e isolamento que temos passado nos últimos tempos, e como usamos a tecnologia como uma janela para o mundo exterior. Trago o elemento da janela como um forte símbolo da maneira como conseguimos lidar com a conjuntura atual ao procurar formas alternativas de nos conectarmos com o outro.
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PALAVRAS-CHAVE tecnologia; coletividade; isolamento.
ABSTRACT The text refers to the work “My eyes, your eyes”, in which I asked 6 artist friends (Dhi Monte, bIO, Mateus A. Krustx, Cacau, Thiago Saraiva and José Lucas Dutra) to film a few seconds of the view of their windows at home and then I watched what they sent me on my television. The work expresses the feeling of loneliness and isolation that we have been experiencing in recent times, and how we use technology as a window to the outside world. I bring the window element as a strong symbol of the way we manage to deal with the current situation by looking for alternative ways to connect with each other.
KEY WORDS technology; collectivity; isolation.
O período de isolamento alterou a maneira como nos relacionamos com o outro e como lidamos com a tecnologia. Vivemos atualmente uma realidade onde as telas eletrônicas atuam cada vez mais como mediadoras de nossas interações sociais. Em meio a esse contexto, procurei realizar um trabalho artístico que fosse construído 65
com a colaboração de outres artistas, em que pudéssemos utilizar a tecnologia como uma ponte de encontros e trocas. Pedi a seis amigues artistas (Dhi Monte, Mateus A. Krustx, bIO, Cacau, Thiago Saraiva e José Lucas Dutra) que filmassem alguns segundos da vista da janela de suas casas, e, a partir da junção desse material, pretendi realizar um trabalho de videoarte para discutir tais questões. Podemos enxergar a janela como um elemento importante da arquitetura para contemplação do mundo exterior e também para a circulação de ar, funções essenciais no momento atual. A janela nos permite tomar sol, conversar com vizinhos, iluminar e arejar nossas casas, admirar um dia bonito, etc. E se pudéssemos, de alguma maneira, mudar a paisagem que vemos como quem troca um canal de televisão? E se pudéssemos ter acesso à janela de outras pessoas e enxergar com os olhos delas? Minha pesquisa acadêmica se concentra na perspectiva da videoarte como não somente uma ferramenta de trabalho, mas também como um objeto de estudo. Me interessam os vídeos que tratam sobre o próprio gesto de filmar, editar ou assistir algo, em que eu pudesse trazer à discussão a forma como essa mídia está cada vez presente em nosso cotidiano e afeta nossas relações sociais. Não procuro, no entanto, retomar um movimento modernista de um vídeo “puro”, em um sentido estritamente formal; mas sim pensar trabalhos que trazem, em seu conteúdo, uma metalinguagem: o vídeo dentro do vídeo. Obras audiovisuais que pensam criticamente a forma como lidamos hoje com a tecnologia videográfica e como a usamos para nos relacionar com o outro. Em relação a pensar um trabalho com colaboração coletiva, tive como referência alguns grupos de artistas da História da Arte brasileira que tinham o costume de discutir em conjunto suas produções e influenciarem o trabalho uns do outros, como por exemplo os modernistas de São Paulo, o Grupo Frente e os pioneiros da videoarte no Rio de Janeiro. Este último grupo, em especial, realizou um trabalho colaborativo marcante chamado Telefone sem fio (1976), em que os artistas são filmados praticando a brincadeira de mesmo nome. Em meu trabalho, escolhi pessoas com quem eu tinha uma relação de muita proximidade e que também fossem artistas com quem eu gostaria de trabalhar. Deixei que todes tivessem a liberdade de escolher a forma como filmariam suas janelas, seja no enquadramento ou no movimento da câmera. Os vídeos enviados foram reunidos e filmei a mim mesme assistindo-os na televisão de minha casa. O trabalho refletiu nossa conjuntura atual, em que tivemos de nos isolar em nossas casas 66
pelo bem do coletivo, ao mesmo tempo que reinventamos nossas interações por meio de aplicativos de mensagens e reuniões virtuais. Aparelhos como a televisão, o computador e o celular se tornaram a nossa nova janela para acessarmos o mundo exterior, além de uma maneira alternativa de produzir arte em conjunto apesar das distâncias físicas.