Revista Keyboard Brasil 2017 número 43

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Revista

Keyboard ANO 4 :: 2017 :: nº 43 ::

:: Seu canal de comunicação com a boa música!

Brasil

THIAGO POSPICHIL M A R Q U E S Trilhando uma carreira d e sucesso

PROJETO CIBERPAJÉ:

BATIDAS BINAURAIS:

Mergulhe na atmosfera dos aforismos musicados

Você sabe o que é? Maestro Marcelo Fagundes responde!

PIANO DIGITAL A polêmica do mestre Luiz Carlos Rigo Uhlik




Editorial

Boa vontade, coragem e perseverança!!

Salve músicos e apreciadores da boa música!! O estado de satisfação plena é resultado da aplicação de três coisas: boa vontade, coragem e perseverança. Esses ingredientes juntos são o elixir da realização pessoal. Em qualquer proposta ou objetivo estabelecido para si, devemos aplicá-lo de maneira decidida. A demora no percurso em busca da plenitude não deve ser entendida como insucesso nem tão pouco como fracasso, mas como etapa de preparação para uma grande conquista. É com esse pensamento que entregamos mais uma edição da Revista Keyboard Brasil. Nunca perca a coragem necessária para vencer as grandes batalhas que a vida de músico lhe oferecerá; e jamais, JAMAIS abra mão dos seus projetos de vida! Boa vontade, coragem e perseverança são os sentimentos que marcam a história de nossa publicação, e que tornou-se referência para aqueles que desejam obter informação de qualidade sobre essa arte tão importante que é a música. Nossa equipe preparou a edição deste mês desejando que o seu nível de satisfação esteja em escalas elevadas para que sua vida se torne mais saborosa. Por isso, aprecie a leitura sem moderação! Este mês, apresentamos uma matéria de capa e entrevista exclusivas com um músico que está trilhando uma brilhante carreira, com muito profissionalismo. Seu nome? Thiago Pospichil Marques. Também apresentamos trabalhos incríveis que merecem destaque. Entre eles: o projeto Ciberpajé, de Edgar Franco, os músicos Lee Oliveira, ex-tecladista da banda progressiva Recordando o Vale das Maçãs e o produtor, diretor musical e multiinstrumentista Daniel Silveira. Homenagens para as grandes perdas da música mundial: Al Jerreau e Geoff Nicholls. A segunda dica técnica por Amyr Cantusio Jr. e mais uma reflexão vinda de Luiz Carlos Rigo Uhlik, este mês falando sobre Piano Digital. Marcelo Fagundes traz uma matéria sobre Batidas Binaurais, sons que podem modificar nossas vidas e

Elly Capa: Allan

Expediente

Fevereiro / 2017

Heloísa Godoy Fagundes - Publisher

combater diversos problemas psicológicos e físicos! Comprovados cientificamente! Novidade do mês!!! Apresentamos nosso mais novo colaborador, o músico vindo do Sul do país, Bruno de Freitas! São mais de 100 páginas de muita informação, escritas por uma equipe composta de grandes colaboradores! Por isso cliquem, curtam, compartilhem, comentem e fiquem com Deus! Revista

Keyboard Brasil

Editora Musical

Revista Keyboard Brasil é uma publicação mensal digital gratuita da Keyboard Editora Musical. Diretor: maestro Marcelo D. Fagundes / Publisher: Heloísa C. G. Fagundes Capa: Allan Elly / Caricaturas: André Luiz / Marketing e Publicidade: Keyboard Editora Musical Correspondências / Envio de material: Rua Rangel Pestana, 1044 - centro - Jundiaí / S.P. CEP: 13.201-000 / Central de Atendimento da Revista Keyboard Brasil: contato@keyboard.art.br As matérias desta edição podem ser utilizadas em outras mídias ou veículos desde que citada a fonte. Matérias assinadas não expressam obrigatoriamente a opinião da Keyboard Editora Musical.

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Espaço do Leitor Matéria da Revista Keyboard sobre o integrante Thiago Lima do Quarteto Tesla acerca do seu recém lançado livro! Quarteto Tesla — via Facebook Meus amigos, acaba de sair a edição de janeiro da Revista Keyboard com meu artigo sobre JeanLuc Ponty ! Sergio Ferraz — via Facebook Well Done! Mais fortes do que nunca, esse é o titulo da entrevista que dei para a Revista Keyboard desse mês. Para quem nos segue nas redes sociais mas não nos conhece mais a fundo, segue aqui um pouco da nossa vida pessoal e profissional. Obrigado Helô pela matéria linda! William Rodrigues Callaghan — via Facebook É disso que eu estou falando! Saiu a edição de número 42 ! Amigos, deem uma olhada. Eu particularmente estava carente de uma revista assim, que fala nossa língua, e com conteúdos maravilhosos, e melhor ainda em versão digital, nem precisa sair de casa para adquirir!! Parabéns @rafaelsanit e @revistakeyboardbrasil pela iniciativa e belíssimo trabalho muito top!! Barol — via instagram Matéria sobre o cd Sonar - Adriano Grineberg & Edu Gomes. By Heloisa Godoy - Revista Keyboard. Adriano Grineberg — via Facebook Muito obrigado pela matéria Revista Keyboard! Thiago Lima — via Facebook E nesse mês meu artigo da revista Editora Keyboard fala sobre o lendário Dx7 yamaha, que por sinal eu tenho no meu set. Leiam, curtam, compartilhem!! Hamilton de Oliveira — via Facebook

Muito obrigado pelo lindo trabalho que estão fazendo!! Obra muito rica!!! José Amando— via G+ Bom dia! Tô Felizão. Sou CAPA E MATÉRIA DE CAPA na edição de Janeiro da revista especializada Keyboard Brasil / Editora Keyboard. Sobre novo disco "Oi, tudo bem?", conceito e parceria com Edu Capello / Foto maravilha: Gui Urban. Obrigado equipe e Heloísa Godoy Fagundes. Maravilha!!! João Leopoldo — via Facebook Matéria muito bacana sobre o último CD lançado pela parceria de Edu Gomes (meu maridão) e Adriano Grineberg. Que os sons dos golfinhos ecoem e se somem à beleza da música desses dois, nos fortalecendo os bons sentimentos para fazer de 2017 um ano lindo e leve. Sheila Oliveira — via Facebook Está tudo bastante complicado... (Referente à matéria sobre as instituições musicais brasileiras, por Osvaldo Colarusso, edição número 42). Renato Moser — via G+ Sempre uma alegria ler cada edição da Revista Keyboard Brasil!! Valeu!! Abigail Morais — via e-mail

A Revista Keyboard Brasil agradece a todos os comentários e lança uma pergunta: o que desejam que a Revista publique? Deixem sua opinião em nossa página do facebook, no site da editora Keyboard, no blog da Revista, no instagram ou mande um e-mail para contato@keyboard.art.br

Revista Keyboard Brasil nas redes sociais!!

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Índice

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CONTAGEM REGRESSIVA: Lollapaloosa 2017 - Redação

REVOLUÇÃO MUSICAL: Bryan Eno - por Amyr Cantusio Jr.

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MATÉRIA DE CAPA: Thiago Pospichil Marques - por Heloísa Godoy

LANÇAMENTO: Projeto Ciberpajé - Redação

46

50

A VISTA DO MEU PONTO:

NOVIDADE: Bruno de Freitas, novo colaborador - Redação

Piano digital - por Luiz Carlos Uhlik

DICA TÉCNICA: Minueto em GM - por Amyr Cantusio Jr.

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70

66

ESPECIAL: Al Jarreau - por Heloísa Godoy

78 PIONEIRISMO: Lee Oliveira por Rogerio Utrila

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56 POR DENTRO: Batidas Binaurais por Marcelo Fagundes

OPINIÃO: Vida de tecladista por Hamilton de Oliveira

88 PONTO DE VISTA: Brasil, um país sem autoestima, possui seu compositor nacional? por Osvaldo Colarusso

67 PERFIL: Daniel Silveira - por Rafael Sanit

76 NOTÍCIAS: Liane Hentschke e a ANAFIMA - Redação

92 OUTROS SONS: Jean-Luc Ponty - parte 2 - por Sergio Ferraz

96 HOMENAGEM: Geoff Nicholls por Amyr Cantusio Jr.



Matéria de Capa

THIAGO POSPICHIL MARQUES Trilhando uma carreira de

sucesso INTENSO. ESSA É A DEFINIÇÃO DE THIAGO POSPICHIL MARQUES PARA EXPLICAR SEU ESTILO. COM UMA RICA EXPERIÊNCIA NA MÚSICA ELETRÔNICA, ATUANDO TAMBÉM EM DIFERENTES GÊNEROS, THIAGO VEM CONQUISTANDO CADA VEZ MAIS SEU ESPAÇO TRILHANDO UMA CARREIRA DE SUCESSO. * Por Heloísa Godoy

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Foto: Allan Elly

N

atural de Porto Alegre,

Thiago Pospichil Marques é tecladista, com-

positor, professor e produtor musical, formado em Música pelo Centro Universitário Metodista - IPA. O interesse pelas teclas surgiu com um pequeno pianinho de brinquedo, que o levou ao estudo do órgão elétrico aos 5 anos de idade. Como toda criança curiosa, começou a testar timbres e acompanhamentos um resultado que surpreendeu até mesmo sua professora. Aos 13 anos, já dava os primeiros passos ao formar uma banda com os amigos. Desde lá já entendia que queria fazer daquilo, um dia, sua profissão. A partir de então, Thiago dedicou-se ao aprimoramento de seu talento, realizando aulas com Nilson Ferreira e Alexandre Massena, dois grandes pianistas. Seu currículo ainda conta com cursos ligados à teclados, sintetizadores, produção e teoria musical, dentre eles o “Música e Tecnologia”, curso de extensão universitária ministrado pelo Departamento de Música Eletrônica da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e o “Introduction to Music Production” Berklee College of Music/Cousera. Sua primeira experiência em estúdio e gravando um álbum, foi aos 16 anos com a banda P49, que estava preparando seu disco de estreia chamado “O Verbo”.

Seu talento chamou a atenção de Michael Polchowicz (Hangar, Venus Attack, OSPA), que o convidou para fazer parte de um projeto chamado “Journey Night” - covers de grandes sucessos da banda Journey. Na época, Thiago e Michael iniciaram uma parceria, que lhes renderam composições marcantes, gravadas em seus projetos individuais. Na linha do heavy metal, Thiago Marques fez parte de uma banda emergente do estilo chamada “Katana” e junto com o grupo recebeu prêmios de escolha popular e escolha da crítica especializada na categoria "Banda Revelação" do website HeavyRS. Com a Katana, Thiago gravou o single “Eyes in the Dark” e fez uma turnê de divulgação. Na mesma época, Thiago fez parte da banda “Castelo Forte” - um dos expoentes do rock cristão no Rio Grande do Sul - gravando o EP "Recomeçar" e, em um momento seguinte, criando arranjos acústicos de músicas da banda para uma mini tour. Thiago Marques também seguiu os estudos da música em sua carreira acadêmica, formando-se em 2009 no curso de Licenciatura em Música, no Centro Universitário Metodista - IPA. Diversas vezes foi convidado para acompanhar músicos de talento, como Luciano Manga (Oficina G3, Vineyard, solo) em 2008. Revista Keyboard Brasil / 09


Iniciou sua carreira como professor ministrando aulas particulares e, em 2006, foi convidado a dar aulas em uma das maiores escolas de música do Estado, Tio Zequinha, conhecida por ter sido fundada por um dos membros da Família Lima. A escola de música proporcionou a Thiago ainda a possibilidade de participar de apresentações anuais no Theatro São Pedro e no conhecido “Natal Luz” da cidade de Gramado. Thiago também tem uma rica experiência na música eletrônica, fazendo parte do projeto Sax & Phone in Concert, inclusive compondo e produzindo a música “Smile on Your Face”, que contou com a participação da cantora Nalanda. Com o Sax & Phone in Concert, Thiago tocou em algumas das maiores casas noturnas do Estado, recebendo a oportunidade de fazer parte da apresentação da cantora norte-americana Julie Mcknight. Outro momento marcante de Thiago neste projeto foi a realização do show de abertura da banda Tears for Fears, no Pepsi On Stage em Porto Alegre. Merece destaque também, a composição de Thiago Marques para homenagear o Sport Club Internacional em seu centenário - a música “Século de Vitórias”, que se aproxima da marca dos 50.000 acessos no YouTube. Thiago ainda segue carreira de músico em eventos diversos com um trabalho voltado para a “Lounge Music”. Neste formato, tocou para um público bastante seleto em restaurantes de alta gastronomia, hotéis de luxo da serra

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Foto: Shaiala Marques Uma das apresentações no espaço da Santo Angelo durante a NAMM SHOW 2017.

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Foto: Tiago Trindade

gaúcha, desfiles de moda, lojas de grife, jantares particulares e corporativos, com destaque para as recepções realizadas pela Fundação Bienal do Mercosul, Associação dos médicos da PUC-RS, Grêmio Náutico União e Grupo Austral Agency durante o Festival de Cinema de Gramado-RS. No começo de 2013, após sua experiência com o “Sax&Phone In Concert”, o músico imaginou um projeto somente com bateria e teclado. Assim surgiu o duo instrumental “GranDense” com composições que exploram o jazz, rock, heavy metal e música eletrônica, formado em parceria com o amigo e baterista Ébano Santos. Em 2015 o músico organizou e ministrou o curso: TECLADO - Uma ferramenta para composição, gravação, produção e performance e em maio de 2016 o curso: Produção Musical e Teclado, juntamente com o tecladista e produtor Fábio Laguna (Hangar, Freakeys). Em 2016, foi consagrado vencedor do concurso GSD (Games, séries e desenhos) da Santo Angelo, tornando-se endorser da marca. Recentemente, a convite da Santo Angelo, Thiago participou da NAMM Show - uma das maiores feiras da indústria de produtos musicais no mundo, nos EUA. Incansável, o músico prepara seu primeiro curso ON-LINE através de seu canal no YouTube, além de trabalhar no novo álbum do “GranDense”. Thiago usa Santo Angelo, Lyco e Urbann Boards. Leia, a seguir, a entrevista exclusiva.


Entrevista Revista Keyboard Brasil – Sempre se interessou pelas teclas? Thiago Pospichil Marques – Posso dizer que sempre tive interesse sim, pois um dos meus brinquedos preferidos quando pequeno era um pianinho vermelho, infantil, que guardo até hoje. Ainda criança, ganhei meu primeiro “tecladinho” eletrônico, com teclas compactas e vários acompanhamentos, “estilos”, o que já me rendia horas de diversão. Gostava também de assistir a parte musical na igreja, pois o teclado sempre estava presente. Revista Keyboard Brasil – Quando iniciou seus estudos musicais? Fale um pouco sobre isso... Thiago Pospichil Marques – Iniciei com 6 anos. Minha mãe marcou aulas para mim com uma prima dela, professora de órgão elétrico, a “Tia Nice”. Nesta época comecei a realmente aprender o que um instrumento de teclas faz, tive meu primeiro contato com um caderno de música, com partituras e com um estudo musical, aprendendo elementos musicais e levando temas de casa para praticar. Eu fazia as lições direitinho, mas sempre tentava fuçar nos sons diferentes e acompanhamentos também. Revista Keyboard Brasil – Qual foi seu primeiro teclado? Thiago Pospichil Marques – Bem, depois do “pianinho”, ganhei um Casio “PortaTone” com teclas compactas, não lembro exatamente o modelo desse, mas parecia um pouco a linha “SA” da marca. Algum tempo depois tive o Casio CA-110, 49 teclas no tamanho “padrão”, esse talvez já possa ser considerado um pouco mais como um teclado de estudo e não somente como brinquedo e me acompanhou até o início da adolescência, quando comecei com as primeiras bandas. Revista Keyboard Brasil / 13


Revista Keyboard Brasil – Quais suas referências musicais? Thiago Pospichil Marques – Essa pergunta é difícil! Bem, eu gosto muito de rock em geral e músicas com sonoridade bem intensa. Quando comecei a me “entender”como tecladista, passei a prestar atenção e procurar referências de bandas e artistas que tivessem esse tipo de sonoridade mais pesada com teclados, que eu pudesse ter alguma identificação. Então, logo me deparei com nomes como Faith no More (RoddyBottum), Journey (Jonathan Cain), DeepPurple (Jon Lord), Oficina G3 (Jean Carllos), Dream Theater (ainda na época do Derek Sherinian), Hangar (Fábio Laguna). Estas bandas e tecladistas foram bem importantes para mim como referências iniciais, influências. Depois segui me interessando por diversas coisas diferentes. Hoje, tenho inúmeras referências musicais e sempre que encontro algo interessante e bem feito já incluo nesta lista. Claro que atuando profissionalmente, dependendo da situação vou buscar referências nos mais diversos estilos de música, como no caso da produção do “GranDense”, onde pesquisei desde “Soilwork” que é uma banda sueca de metal, até “Gaúcho da Fronteira” que é um músico tradicionalista do Rio Grande do Sul e ainda passando por jazz, house music entre outras coisas. Revista Keyboard Brasil – O que você ouve atualmente? Thiago Pospichil Marques – Gosto de

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novidades, pesquisar produções novas, ouvir o que os amigos e parceiros músicos estão fazendo. Revista Keyboard Brasil – Conte-nos sobre sua primeira experiência em estúdio e quantos CDs você tem lançados até o momento? Thiago Pospichil Marques – Minha primeira experiência em estúdio foi com 16 anos gravando com a banda P49, da qual eu fazia parte. Foi algo bem interessante, pois ao mesmo tempo em que foi minha primeira gravação em um estúdio, foi o primeiro trabalho deste estúdio totalmente “digital”, usando ProTools, interface e tudo mais. Então, o técnico responsável de lá ainda estava se familiarizando com várias ferramentas e etapas do processo, o que acabou sendo uma grande oportunidade para que eu pudesse aprender sobre gravação multipista, edição e também tirou bastante do meu nervosismo ao encarar uma gravação pela primeira vez, pois as sessões acabavam sendo cheias de novidades para todos. Este CD foi “O Verbo” da “P49”, além deste, gravei o “Recomeçar” com a banda “Castelo Forte” e o “GranDense”, meu trabalho instrumental. Revista Keyboard Brasil – Você possui forte base no Rock. Contudo, atua em diferentes gêneros musicais como pop, gospel, heavy metal, blues, jazz, eletrônico entre tantos outros. A pergunta é: como define seu estilo musical?


Thiago Pospichil Marques – Defino como “Intenso”. Para mim, ser eclético é uma coisa bem natural para um tecladista, acho que o nosso instrumento favorece muito isso. Eu me interesso por gêneros diferentes, estudo, toco, pesquiso, entendo os conceitos, mas não tenho tanto a preocupação de ser “purista” em determinadas coisas, eu tento deixar o meu jeito, a minha abordagem e a minha “voz”, quando estou tocando. Mesmo em estilos bem definidos eu acabo tocando um pouco do meu jeito, gosto de soar “intenso” e isso acaba sendo uma coisa natural para mim. É como “falar”, dependendo da situação, ambiente ou com quem nós estamos, acabamos falando de formas diferentes. Às vezes mais formal e escolhendo bem as palavras, outras vezes mais largado sem se preocupar com o tom de voz. Só não gosto de ser genérico, prefiro soar estranho mas com atitude, talvez essa seja a minha maior influência roqueira, a atitude. Revista Keyboard Brasil – Em sua rica experiência na música eletrônica, você fez parte do projeto Sax&Phone in Concert. Pode nos contar sobre isso? Thiago Pospichil Marques – Sim, este momento foi bem importante na minha carreira. Eu já gostava de ouvir música eletrônica, principalmente na adolescência. A presença constante de sintetizadores neste estilo sempre me chamou a atenção, pois as músicas geralmente são campos bem vastos para teclados e mais

teclados. No final de 2010 tive a oportunidade de conhecer o DJ Lê Araújo, responsável pelo projeto “Sax&Phone” (Duo em parceria com o saxofonista Vini Netto, que continua até hoje) e também dono da agência Moving DJs. Nesta época o Lê já tinha ideia de acrescentar elementos a este projeto e torna-lo uma banda de música eletrônica, então tive o prazer de ser um dos tecladistas, juntamente com Silvinho Erne (tecladista) e Kiko Garcia (baixista) completando o time. Essa experiência foi muito rica porque tive a oportunidade de trabalhar em uma cena diferente da qual já tinha feito até então, pude aprender muito vivenciando a “vida musical” de outra forma, onde a abordagem musical é diferente, a forma de pensar o repertório e os elementos dentro dos arranjos. Pude conhecer outros DJs, produtores de música eletrônica, o público deste gênero e entender melhor a forma de “pensar” este estilo. Para mim, um dos maiores legados deste momento, foi a oportunidade de me deparar com produções muito pesadas, pesadas mesmo, utilizando somente sintetizadores e sequenciamento de bateras eletrônicas, etc. Tocar em festas onde a pressão sonora nos “P.A.s” era tão intensa, ou em algumas, mais intensa do que os shows mais pesados de metal que eu já tinha frequentado. Isso me permitiu repensar minha forma de tocar e timbrar meu teclado e também me ajudou a redefinir meu estilo e imaginar novas possibilidades para o meu trabalho e o que eu viria a fazer a seguir.

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Foto: Shaiala Marques

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Revista Keyboard Brasil – Como é sua rotina de estudos? Thiago Pospichil Marques – Toco diariamente. Mas sempre que monto um novo material ou preciso preparar repertório para algum show, workshop ou evento, organizo uma agenda de um mês de estudo contínuo, ou algumas semanas, dependendo do tamanho e da complexidade do repertório, até preparalo adequadamente. Revista Keyboard Brasil – Quais cantores e bandas você já acompanhou como tecladista? Thiago Pospichil Marques – Minha primeira banda se chamava “Ramo Novo”, depois toquei com a "P49”, “Castelo Forte”, “Katana”. Tive dois projetos com um grande amigo, o cantor “Michael Polchowicz”, o “Journey Night” e “Artheria”. Toquei algumas vezes com o “Luciano Manga” (Ex-Oficina G3 / Vineyard Music Brasil), com a cantora “Nalanda”, “Sax&Phone In Concert”, acompanhei a cantora americana “Julie McKnight”, “Banda Dublê”. E claro, o “GranDense”. Revista Keyboard Brasil – Conte-nos sobre sua participação no concurso GSD (Games, Séries e Desenhos) promovido pela empresa Santo Angelo onde você sagrou-se vencedor. Thiago Pospichil Marques – Foi muito interessante. Na época eu estava preparando material novo para meu workshop, então estava produzindo

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algumas trilhas e já pensando em captar novos vídeos para meu canal no YouTube, pois tinha poucos publicados por lá naquele momento. Alguns dias antes do evento vi a divulgação do concurso na página da Santo Angelo e, na hora, já pensei em participar, não apenas pelo concurso propriamente dito, mas porque tinha realmente a intenção de produzir mais material para o meu canal e meu trabalho. Me dediquei bastante e o resultado foi sensacional, antes mesmo de divulgarem os finalistas, o meu vídeo já havia sido bastante compartilhado e assistido, principalmente no facebook. Fiquei muito feliz em vencer o concurso e tudo mais que isso me proporcionou, pude tocar no stand da Santo Angelo juntamente com o guitarrista Ozielzinho durante a ExpoMusic 2016 em São Paulo, pude conhecer toda a equipe da marca que me recebeu realmente muito bem. Também tive a oportunidade de conhecer o trabalho de excelentes músicos durante o concurso e isso foi muito legal, conhecer outros colegas de trabalho muito talentosos. Posso citar aqui os guitarristas que foram finalistas comigo, Sandrinho Higino e Edilson Ribeiro e também o tecladista John David que desenvolvem materiais muito legais. Revista Keyboard Brasil – Sabemos que você também atua como produtor musical. Fale sobre isso. Thiago Pospichil Marques – Há vários anos tenho atuado como produtor musical, trabalhando com cantores,


cantoras e algumas bandas. Preparando trilhas, gravando e montando o material. Gosto muito do trabalho de estúdio, mas também de toda a parte de pré-produção. Meus projetos preferidos são os que posso começar desde o “rascunho” juntamente com o artista. Minha principal produção com certeza foi o álbum “GranDense”, onde além de ser o tecladista e compositor das músicas juntamente com o Ébano, fiquei à frente de todas às etapas da produção. Foi bastante trabalhoso, mas bem satisfatório. Revista Keyboard Brasil – Emendando na pergunta anterior, “GranDense” é um projeto instrumental de caráter único, onde existe a integração de dois instrumentos: teclado e bateria. Como surgiu essa ideia e a parceria com o baterista Ébano Santos? Thiago Pospichil Marques – O Ébano e eu nos conhecemos há bastante tempo. Na época que eu tocava com a “P49” (2003 – 2005) ele tinha a banda “Êxodo”, que fazia parte da mesma “cena” musical aqui no Rio Grande do Sul, eram duas bandas cristãs de rock e, por isso, participávamos dos mesmos eventos. Por várias vezes comentamos em fazer alguma coisa juntos, eu tinha bastante vontade de atuar mais profundamente na música instrumental e, para minha sorte, ele também. Tentamos arranjar outros parceiros por algum tempo, montar uma formação mais “tradicional” incluindo guitarra e baixo, mas essa procura dificultou bastante o início dos nossos trabalhos. No começo de

2013, após minha experiência com o “Sax&Phone In Concert”, comecei a imaginar a possibilidade de encarar um projeto assim, somente com bateria e teclado, nessa época nos encontramos para conversar sobre isso e decidimos iniciar o duo, sem ter certeza de como funcionaria tudo, foi um desafio, um grande desafio, pois nunca tínhamos feito algo assim antes. Revista Keyboard Brasil – E a respeito dessa parceria, como é o processo de criação para as composições? Thiago Pospichil Marques – O processo é muito legal! Para mim, fazemos da melhor forma possível, temos ensaios regulares e utilizamos este espaço para compor, ficamos basicamente “rolando som”, fazendo “jams”. Quando identificamos algo interessante, legal ou promissor, gravamos imediatamente, em áudio e vídeo. Quase tudo fica registrado e a partir daí seguimos elaborando juntos. Se o Ébano ou eu trazemos alguma ideia nova, já começamos a ensaiar o trecho que geralmente acaba se modificando, pois sempre um dos dois tem alguma ideia para acrescentar na proposta do outro e a melhor parte é que temos liberdade para interferir nas composições de ambos. Bolamos tudo juntos e temos bastante respeito pelo trabalho e musicalidade um do outro, então eu sei que sempre que o Ébano altera ou sugere algo sobre uma frase, um ritmo, um trecho que eu elaborei, ele me devolverá melhor ainda e vice versa.

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Uma trajetĂłria sendo construĂ­da com muito trabalho e profissionalismo.

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Revista Keyboard Brasil – Qual seu set atual? Thiago Pospichil Marques – Utilizo um controlador (Behringer UMX610). Ableton Live com muitos instrumentos virtuais. Atualmente, meus preferidos são o Massive, Virtual Grand Piano e o Sylenth. Cabos Santo Angelo (Premium Vintage P10xP10 e Ninja LW), Direct Boxes Santo Angelo (DBP1). Fones LYCO (DJ-1000MK2) e Sistema de Ponto Eletrônico LYCO (PE-640PRO) para monitoração sem fio. Utilizo também os tênis da URBANN BOARDS, que já fazem parte do meu set porque sempre toco com eles. E para as apresentações na NAMM show, pude utilizar a nova linha de suportes da Stay Music, gentilmente cedidos por eles para essa minha participação por lá. Revista Keyboard Brasil – Se você pudesse levar o que quisesse para o palco, quais instrumentos acústicos ou eletrônicos você levaria? Thiago Pospichil Marques – Bem, não gosto de carregar muito equipamento, então se EU mesmo tivesse que levar, não levaria muita coisa de qualquer forma! (risos...) Eu me adaptei muito bem ao “mundo dos controladores”, então hoje em dia creio que o tipo de equipamento que me chamaria mais a atenção para o palco seria um bom laptop, com uma configuração bem potente, uma boa placa de som, de preferência com bastante saídas. Gosto também de sintetizadores compactos, como os da Novation ou Arturia por exemplo, seria um bom 22 / Revista Keyboard Brasil

instrumento de apoio. Também aprecio instrumentos de 88 teclas, geralmente utilizo para gravar, principalmente pianos, mas também seria uma boa opção para o palco. Revista Keyboard Brasil – Como foi participar pela primeira vez da NAMM Show (uma das maiores feiras da indústria de produtos musicais no mundo), nos ESTADOS UNIDOS, tocando no espaço da Santo Angelo? Thiago Pospichil Marques – Foi sensacional e realmente uma experiência muito interessante. Grande privilégio poder tocar em um evento internacional deste porte e conhecer vários artistas e profissionais do mercado. Pude conferir as novidades das marcas, estar em contato com muitas pessoas do meio musical e vivenciar um pouco melhor como é a realidade do mercado da música no exterior. Esta foi a primeira vez que pude mostrar meu trabalho tocando fora do país e sou muito grato à Santo Angelo pelo convite e espaço. Fiquei muito feliz em poder fazer parte disso, vi o mestre Stevie Wonder tocando piano elétrico bem na minha frente, (risos), levei minha música, fiz novas amizades e acho que fiz bem minha parte, creio que pude deixar uma boa impressão, não apenas do meu trabalho, mas também como um tecladista brasileiro, tentei representar bem nossa família das teclas “brazucas” por lá! Revista Keyboard Brasil – Fale sobre a nova fase de canal no YouTube e sobre seu primeiro curso ON-LINE.


Thiago Pospichil Marques – O conteúdo do canal está começando a expandir, além dos vídeos de algumas músicas, trechos de apresentações, comecei a publicar mais material com dicas e também iniciei uma série tipo VLOG, mostrando coisas diversas relacionadas com música, teclado e com meu dia a dia no trabalho de músico/produtor/professor/tecladista. Parte deste material está sendo produzido pelo Allan Elly e o Cris Derois que são os responsáveis pelo meu primeiro curso online, o “Teclado para Produção Musical”. O conteúdo é todo baseado nos cursos presenciais com este tema que ministrei nos dois últimos anos, sobre como utilizar o teclado como uma ferramenta de trabalho, dentro e fora do estúdio. A ideia é mostrar de forma simples como utilizar o teclado para poder gravar suas próprias criações musicais, trilhas, etc. Do início da produção de uma música até sua finalização. Todo o material do curso já está pronto e ele será lançado no meu site (www.thiagomarques.net) e também pela plataforma de cursos Udemy. Revista Keyboard Brasil – Ainda há vagas para as aulas de teclado em seu novo estúdio? Deixe o contato e o local para os interessados da região Sul! Thiago Pospichil Marques – SIM! O estúdio (MrqsRoom) está abrindo as portas neste mês e há vagas para novos alunos de teclado. Ele fica localizado em um novo complexo cultural aqui em Porto Alegre onde também há estúdios particulares de bandas e a sede de um novo selo musical. Interessados podem entrar em

c o n t a t o p e l o e - m a i l thiago@thiagomarques.net será um grande prazer receber à todos! Revista Keyboard Brasil – Podemos dizer que Thiago Pospichil é um músico realizado profissionalmente? Thiago Pospichil Marques – Sim, sou realizado profissionalmente. Graças a Deus, de passo em passo tenho conseguido fazer coisas diferentes, ir a lugares diferentes, conhecer pessoas diferentes e levar minha música a outros espaços que ela ainda não havia ocupado. Acho que o maior objetivo do músico é “ser ouvido” e, aos poucos, vejo que isso está acontecendo cada vez mais com o meu trabalho. Recebo muito apoio dos amigos e principalmente da minha esposa Shaiala que praticamente sempre está comigo, auxiliando, opinando, pensando e planejando junto, isso faz toda a diferença. Tudo isso faz parte de um esforço muito grande, que é quase um “pré-requisito” para todo músico brasileiro, muito esforço. Mas é gratificante, é satisfatório, vivemos num país onde ser um profissional da música não é uma tarefa fácil e, às vezes, não muito justa. Mas acho que isso também nos dá um diferencial e nos faz mais fortes. Com certeza não nos mata. Realmente não tenho do que reclamar na minha jornada até aqui. Ter a oportunidade e o espaço de estar nessa revista com certeza prova isso, muito obrigado! Revista Keyboard Brasil – Tem em vista projetos futuros? Thiago Pospichil Marques – Sim, já Revista Keyboard Brasil / 23


Foto: Gustavo Cunha

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estamos trabalhando no novo álbum do “GranDense”. E bem, agora conheço um pouco mais de perto o mercado musical americano e tenho grande interesse de seguir em contato para levar meu trabalho a outros lugares por lá. Revista Keyboard Brasil – Gostaria de deixar uma mensagem aos leitores da Revista Keyboard Brasil? Thiago Pospichil Marques – Bem, ultimamente eu tenho visto tantas críticas e tanto espaço mal utilizado na internet que me faz pensar que este é um ponto que nós, como músicos, precisamos repensar. Hoje é tão fácil detonar o trabalho de alguém sem nem ao menos avaliar apropriadamente, só que um músico que faz isso com outro colega não se dá conta que, na maior parte das vezes, está jogando contra o próprio time, prejudicando o nosso próprio meio. Acho que é muito importante ter uma compreensão melhor da nossa coletividade, apoiar, dar suporte, incentivar, aproveitar melhor os espaços para fortalecer o nosso meio musical e ter consciência de quem

faz a nossa profissão ser valorizada perante a sociedade somos nós mesmos. Em relação aos tecladistas propriamente, é a mesma coisa. Seria muito bom se cada vez mais nos apoiássemos como colegas e desta forma fortalecêssemos os trabalhos uns dos outros, com certeza assim teríamos mais espaços, mais trabalhos, mais destaque, mais oportunidades, mais atenção das empresas, mais valor e mais música, que é o principal! Revista Keyboard Brasil – Muito obrigada pela entrevista e sucesso! Thiago Pospichil Marques – Eu que agradeço por estar por aqui, realmente é uma grande honra para mim. Acompanho a revista e sempre vejo matérias com músicos extraordinários, me juntar a este grupo é uma alegria imensa. Sucesso e vida longa à Revista Keyboard Brasil. Muito obrigado pela oportunidade e pelo belíssimo trabalho de vocês que valoriza e apoia tanto a nós, os tecladistas brasileiros. Deus abençoe. Contatos: thiagomrqs@gmail.com (51) 9-9858-8603

* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost Writer e esportista. Amante da boa música, está há 10 anos no mercado musical de revistas. Já trabalhou na extinta Revista Weril e atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil.

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Fotos: Daniel Rizoto & Anésio Neto

Lançamento

O PROJETO

Ciberpajé O ARTISTA TRANSMÍDIA EDGAR FRANCO É CONHECIDO NACIONAL E INTERNACIONALMENTE NO MEIO UNDERGROUND. POSSUI OBRAS PREMIADAS NAS ÁREAS DE ARTE E TECNOLOGIA, PERFORMANCE E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, ALÉM DE ÁLBUNS LANÇADOS POR GRAVADORAS EUROPEIAS. ESTE MÊS, A REVISTA KEYBOARD BRASIL APRESENTA AOS LEITORES, SEU PROJETO MUSICAL CIBERPAJÉ REALIZADO EM PARCERIAS COM MUSICISTAS DO EXTERIOR E DAS CINCO REGIÕES DO BRASIL. * Redação 26 / Revista Keyboard Brasil


O

projeto musical Ciberpajé nasceu no mês de setembro de 2014, próximo da data em que

Edgar Franco completaria o aniversário de sua declaração como Ciberpajé. O artista transmídia e pós-doutor em artes Edgar Franco é conhecido no Brasil e exterior por sua banda performática Posthuman Tantra, que em suas performances tem o grupo formado por Ciberpajé Edgar Franco (musicista e performer), I Sacerdotisa Rose Franco (musicista e performer), Luiz Fers (Performer e Figurinista) e Lucas Dal Berto (VJ). A Posthuman Tantra já lançou CDs na Suíça, França, Inglaterra, Japão e Brasil, e já realizou suas performances multimídia em 4 regiões do país. Em 2014, Edgar Franco, o Ciberpajé, recebeu um convite inusitado do músico Genilson Alves, mentor da banda Each Second (SP) e da gravadora Lunare Music, ele sugeriu a criação de um projeto musical que musicasse os aforismos iconoclastas do Ciberpajé - escritos por ele quase diariamente e publicados em página no Facebook com cerca de 3 mil seguidores também propôs que o nome do projeto fosse simplesmente "Ciberpajé". Ao pensar no projeto, Genilson lembrou-se do escritor de ficção científica cyberpunk japonês Kenji Siratori - que inclusive participou do primeiro disco do Posthuman Tantra. Siratori grava recitações de seus textos viscerais e intrigantes e

envia para bandas de industrial e darkwave musicarem, tendo participado de inúmeros álbuns pelo mundo afora. A ideia foi fazer algo parecido, mas dessa feita com os aforismos criados e recitados pelo Ciberpajé. Assim, ele gravaria os aforismos com sua voz dando as impostações e emoções que sentia ao escrevê-los e as bandas e musicistas convidados criariam uma atmosfera musical para o aforismo. A partir dessa concepção inicial foi gravado e lançado o primeiro EP do projeto Ciberpajé, "A Invocação da Serpente", com vozes e aforismos do Ciberpajé e música criada por Genilson Alves com seu projeto Each Second, importante representante da cena dark ambiente nacional. Ciberpajé também ficou a cargo da arte do EP, criando um padrão para o projeto com desenhos simples e simbólicos desenhados em branco sobre fundo negro. O EP foi lançado pelo selo brasileiro *Lunare Music, dedicado à música darkwave e experi-mental. E, assim, a Lunare tornouse a casa do projeto Ciberpajé. Todos os EPs são disponibilizados para streaming e download gratuito. Desde então, já foram lançados 7 EPs do projeto Ciberpajé, um CD reunindo 21 bandas de 5 países, uma performancevídeo e 2 videoclipes. Confira, a seguir, uma breve descrição de cada um deles.

*O selo paulistano Lunare Music é dedicado ao dark ambient, industrial, noise e outras alternativas do gênero. Clique nos links: https://www.facebook.com/LunareMusic https://lunarelabel.bandcamp.com/ Revista Keyboard Brasil / 27


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1. “CIBERPAJÉ – A Invocação da Serpente” Parceria com Each Second/SP. (Lunare Music, 2014). EP que abre a série, realizado em parceria com o projeto musical Each Second, do musicista Genilson Alves. O EP teve também uma tiragem numerada em versão CD, já esgotada. O trabalho criou ambiências ritualísticas densas para os aforismos propostos.

2. “CIBERPAJÉ – Lua Divinal” Parceria com Gorium/MT. (Lunare Music, 2015). O segundo EP do projeto, "Lua Divinal", dessa vez em parceria com o vigoroso Gorium, veterana banda da cena Dark Ambient brasileira, radicada em Cuiabá (MT).

3. “CIBERPAJÉ – Heresia Cósmica” Parceria com Léo da Heresia/ Brasília. (Lunare Music, 2016). A obra foi gestada a partir do encontro do Ciberpajé com o artista ancestro-rebelde Léo da Heresia, figura lendária da cena underground de Brasilia, zineiro e músico experimental com extensa lista de lançamentos e apresentações ao vivo. O EP reuniu 4 aforismos do Ciberpajé

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recitados por ele e musicados por Léo da Heresia com o seu projeto (a)musical pUNk[A]I-sUIUk. Além das 4 faixasaforismos o EP inclui uma intro especial ao som do berimbau elétrico de Heresia. Ciberpajé, além das vozes e aforismos também ficou responsável pela arte completa do EP, criando a arte da capa em sintonia com o som e proposta da obra. O EP gerou desdobramentos criativos como uma vídeo-performance do Ciberpajé recitando os aforismos com Heresia tocando-os e o projeto Inglês Mentufacturer remixando-os. Além de versões físicas em mini CD do EP original e da sua hackermixagem produzidos por Léo da Heresia.

4. “CIBERPAJÉ – O Estratagema da Aranha” Parceria com Quando os Céus e os Oceanos Colidem/SP-PR. (Lunare Music, 2016). Nesse EP a parceria aconteceu com duas personalidades da cena darkwave brasileira, Genilson Alves e Gabriel Kalb que assinam a obra com o épico nome de seu novo projeto musical "Quando o Céu e os Oceanos Colidem". Dessa vez o trabalho inclui além de uma intro e de dois aforismos musicados, uma densa e Revista Keyboard Brasil / 29


obscura versão para a faixa Dawn in Blood, da banda portuguesa Wolfskin. A arte da capa ficou a cargo do Ciberpajé, mantendo a tradição dos EPs anteriores e retrata de forma mítica e metafórica a sua gata Ariel criando uma consonância com o clima e a proposta lírica da obra.

5. “CIBERPAJÉ – Verdades Voláteis” Parceria com Sérgio Ferraz/PE. (Lunare Music, 2016). O EP foi lançado no dia 20 de setembro de 2016, dia do quinto aniversário da transmutação de Edgar Franco em Ciberpajé. A obra sonora, intitulada "Verdades Voláteis", celebra a parceria com o lendário musicista pernambucano Sérgio Ferraz. Ferraz está entre os pioneiros no uso do violino elétrico na música brasileira. Já gravou 4 álbuns solo e outros com os grupos Sonoris Fábrica e Quarteto Romançal. Paralelamente à carreira solo, participou das aulasespetáculos ministradas por Ariano Suassuna. A música nordestina, o jazz, os sons da Índia e os elementos minimalistas e eletroacústicos influenciam a sua obra. Para o EP "Verdades Voláteis", Sergio Ferraz trabalhou em uma nova concepção sonora criando o que ele chamou de "aforismos-eletroacústicos-concretos". 30 / Revista Keyboard Brasil

7 Foto: Chico Porto

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6. “CIBERPAJÉ – Cura Cósmica” – Ficha técnica Ciberpajé Ve r d a d e s Vo l á t e i s : E d g a r Fanco (Ciberpajé) Aforismos e voz Sergio Ferraz – Sintetizadores Moog Little Phatty Stage II, Roland SH 01, Roland Juno Di. Corte, Edição e mixagem.

Músicas de Posthuman Tantra/GO & vozes do Granciberpajé Dimas Franco/MG. (Lunare Music, 2017). O tema do EP é o nosso poder interior de autocura através da reconexão com nossa dimensão natural e Cósmica, ou seja, a reintegração com a natureza e nossa pura essência univérsica. A obra também é uma homenagem do Ciberpajé ao seu pai, o Granciberpajé Dimas Franco, demonstrando a força do amor e da conexão entre ambos. Dimas é o convidado especial do EP, recitando os aforismos nas 3 faixas criadas pelo Posthuman Tantra. O EP teve um videoclipe produzido a partir da faixa Aforismo I com direção de Anésio Neto e do Ciberpajé, e edição e fotografia de Daniel Rizoto e Diogo Vilela.

7. “CIBERPAJÉ – Entranhas do Sol” Parceria com Alan Flexa/AP. (Lunare Music, 2017). O EP "Entranhas do Sol" surgiu da parceria com o notório musicista da região norte do país, Alan Flexa, e teve toda sua parte instrumental analógica criada por Flexa com forte influência das culturas ancestrais amazônicas. O Ciberpajé Edgar Franco selecionou 3 aforismos com forte conexão com a natureza e o Cosmos para a concretização do EP e gravou as vozes. Alan Flexa optou por um set de instrumentos acústicos para gerar as atmosferas imaginadas para as faixas. As vozes foram gravadas pelo Ciberpajé no estúdio Oca, em Goiânia; e as músicas foram gravadas, mixadas e masterizadas no Estúdio Zarolho Records, de Macapá, contando com o esmero e cuidado dos produtores Alan e João Flexa. O EP também teve um videoclipe produzido para a faixa Aforismo II, com direção e edição do Ciberpajé. Revista Keyboard Brasil / 31


8. “CIBERPAJÉ – Egrégora” CD reunindo 21 bandas de 5 países musicando os aforismos do Ciberpajé. (Revista Gatos & Alfaces, 2015). O CD "Ciberpajé - Egrégora", foi encartado na revista "Gatos & Alfaces # 6". Sendo um projeto organizado pelo Ciberpajé e pelo editor da revista, o poeta e ativista underground Luiz Carlos Barata Cichetto. O álbum tornou-se uma verdadeira egrégora, somando forças de músicos de várias partes do país e do mundo musicando com total liberdade os aforismos pré-gravados com a voz do Ciberpajé. A variedade de estilos, riqueza de melodias e antimelodias que surgiu surpreende. No CD temos desde o blues, passando pelo rock progressivo, pelo heavy metal e chegando a estilos como o dark ambient, o industrial e o noise. Uma viagem sonora pautada pela iconoclastia dos aforismos de Franco. As 21 bandas convidadas que integram o CD são: Posthuman Tantra & Luiz Carlos Barata Cichetto (Brasil); Muqueta Na Oreia (Brasil); Zemlya (Brasil); Blues Riders (Brasil); TransZendenZ (Suíça); Alpha III Project (Brasil); Poolsar (Brasil); Each Second (Brasil), Gorium (Brasil); Blakr (Inglaterra); Gabriel Fox (Brasil); Hidden in Plain Sight (Brasil); God Pussy (Brasil); Nix's Eyes (Brasil); Emme Ya (Colômbia); Vento Motivo (Brasil); Iamí (Brasil); 18 - ANT[ISM] (Brasil); Melek-tha (França); Kamboja (Brasil); Dimitri Brandi de Abreu (Brasil). A arte de capa ficou também nas mãos do Ciberpajé que optou por um estilo diferente do adotado na série de EPs. Adquira o CD + revista nesse link: https://www.elo7.com.br/revista-gatos-alfacescom-cd-egregora/dp/5C4534

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Contagem regressiva

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O LOLLAPALOOZA 2017 ACONTECE NO AUTÓDROMO DE INTERLAGOS EM 25 E 26 DE MARÇO: PROGRAMAÇÃO TEM, ENTRE TANTOS NOMES, METALLICA, STROKES, DURAN DURAN, RANCID, TWO DOOR CINEMA CLUB E FLUME.

* Redação

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ste ano, na sexta edição brasileira do festival, o público não receberá um ingresso físico para participar do festival, mas uma pulseira com tecnologia RFID, que também será usada para compra de alimentos e bebidas, entre outros serviços. Elas serão distribuídas a partir do dia 25 de fevereiro de 2017. O Lollapalooza 2017 vai ter o primeiro headliner de heavy metal dos seis anos de festival no Brasil, o Metallica. A volta do peso para o rock na dupla de atrações principais, completa pelos Strokes, é uma das marcas deste ano. É um passo atrás no destaque ao rap em 2016, com Eminem, e ao pop em 2015, com Pharrell. Mas o Lolla segue antenado em vários estilos - sua diferença entre megaeventos no país. Há nomes recentes em alta no R&B (The Weeknd), eletrônica (The xx, Flume), indie rock (Two Door Cinema Club, Catfish and the Bottleman,

The 1975) e rap (G-Eazy). Tem a campeã de streaming do ano passado (MØ, de "Lean on") e do atual (Chainsmokers, de "Closer). Se em 2016 Florence fechou uma noite, agora as mulheres estão em segundo plano. Mesmo sem destaque no line-up, há várias cantoras para ficar de olho. A paulistana Céu, destaque local junto com Criolo, tem o disco mais elogiado pela crítica deste ano no país, "Tropix". MØ, (Dinamarca), Tove Lo (Suécia), e Melanie Martinez (EUA) reforçam a seleção feminina. Também há os destaques já manjados dentro ou fora do Lolla. O Cage the Elephant vai bater o recorde de três visitas em seis edições do festival. Já o Rancid estreará no Brasil, mas vai representar a nostalgia do punk rock dos anos 90. O oitentista Duran Duran completa o pequeno baile da saudade.

FONTE: g1.globo.com 36 / Revista Keyboard Brasil


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Revolução Musical

MISTER BRIAN ENO & O ROCK DE VANGUARDA A CONTRIBUIÇÃO QUE BRIAN ENO TRAZ PARA A MÚSICA É DIFÍCIL DE SER MENSURADA. SUAS PARCERIAS VÃO DE DAVID BOWIE A COLDPLAY. O LENDÁRIO PRODUTOR B R I TÂ N I C O É U M D O S P R I N C I PA I S N O M E S D A MÚSICA EXPERIMENTAL E LANÇOU, RECENTEMENTE, SEU NOVO ÁLBUM AMBIENTAL INTITULADO REFLECTIONS – UM TRABALHO COM MÚSICA INFINITA. LITERALMENTE. * Por Amyr Cantusio Jr.

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ascido em 1948, na cidade de Woodbridge, na Inglaterra, o músico, compositor e produtor

musical Brian Peter George St. Jean le Baptiste de la Salle Eno ou, simplesmente, Brian Eno é um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento da música de vanguarda atmosférica/world music, new age e da ampliação dos horizontes eletrônicos dentro do rock vintage. Guru musical na linha de

Fotos: divulgação

Stockhausen, deu diretrizes às bandas como Genesis e Van Der Graaf Generator. Eno é famoso pelo uso de sintetizadores, utilizados em seus diversos trabalhos, como nos dois primeiros álbuns do grupo Roxy Music: Roxy Music (1972) e For Your Pleasure (1973). E, em a sua parceria com o guitarrista Robert Fripp, com quem produziu o álbum No Pussyfooting (1973) e, posteriormente, outros grandes álbuns em parceria com Mr. King Crimson. Em 1977 e 1978, produziu dois álbuns com a dupla alemã de Kraut Rock Cluster, Cluster & Eno e After the Heat. Também em 1978 produziu o álbum Q: Are We Not Men? A: We Are Devo!, primeiro da banda DEVO, que misturava acordes punk com sintetizadores - por sugestão de Eno. No final dos anos 1970, Eno produziu os três álbuns da chamada "Trilogia de Berlim" ou "Trilogia eletrônica" de David Bowie: Low, Heroes e Lodger. Em 1978, foi o curador da coletânea No New York , uma compilação com vários artistas da cena underground de NY da época, considerada por muitos o registro definitivo do movimento No Wave¹.

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Bryan Eno realizou parcerias como produtor musical para grandes músicos como Grace Jones, David Bowie, Laurie Anderson, Coldplay, Paul Simon, Slowdive, entre tantos outros. Acima, com David Byrne (ex-Talking Heads) e a banda U2.

Eno também foi produtor de diversos álbuns do U2. Seu primeiro trabalho com o grupo foi The Unforgettable Fire de 1984. Em seguida, participou da produção dos álbuns: The Joshua Tree (1987), Achtung Baby (1991), Zooropa (1993), All That You Can't Leave Behind (2000), e No Line on the Horizon (2009). Em 1981, produziu, com David Byrne (ex-Talking Heads) um álbum experimental de Art Rock chamado My Life in the Bush of Ghosts ,sendo este álbum um de meus prediletos. Eno foi a campo no Oriente Médio, África onde gravou sons de lamentos fúnebres de mães chorando pela morte de seus filhos, cantos folclóricos, declamações em dialetos orientais, tribais, etc... Depois levou ao estúdio e compôs em cima uma das primeiras trilhas sonoras denominadas

World Music. Também trabalhou como produtor musical com Laurie Anderson, Coldplay, Paul Simon, Grace Jones, Talking Heads, Slowdive, entre outros. Brian Eno também é o criador das chamadas estratégias oblíquas, um conjunto de cartas que guiam o criador em momentos de impasse ou bloqueio criativo. Estas são frases de “iluminação” a exemplo dos Choans Zen Budistas ou Axiomas Místicos, da qual Stockhausen e John Cage se utilizavam amplamente. Obviamente que a música medíocre de massas não tem nem ideia do que isto signifique! Finalmente é um mestre em Loops/Tratamentos Eletrônicos em estúdio, que é sua arte maior.

¹No Wave foi uma curta, mas influente cena de música underground, filmes, performances artísticas, vídeos, e arte contemporânea que teve seu início durante a metade da década de 1970 em New York City. O termo No Wave é, em parte, um jogo de palavras satírico rejeitando os elementos comerciais do gênero musical então popular New Wave ("new", em inglês, significa "novo" e "no" é traduzido como "não"). Algumas vezes a cena é relacionada com o início do movimento punk. O No Wave busca inspiração em gêneros musicais fora do mainstream, como punk underground, rock gótico, noise rock, música industrial entre outros. Revista Keyboard Brasil / 43


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BRIAN ENO - REFLECTION Um álbum com música infinita. Literalmente!

C o m

o á l b u m Reflections, Eno realiza a música infinita através de um aplicativo, que gera os acordes e sons diferentes por quanto tempo o usuário desejar, demonstrando que sua maré para criatividade está como há muito não se via. Puramente conceitual. Além do aplicativo, Eno também lançou a versão física com algumas das músicas que poderão ser geradas no programa. Também declarou que Reflection o reconecta com vários outros momentos de sua carreira, especialmente com quatro

Ano: 2017 Selo: Warp Records Produção: Brian Eno Estilo: Ambient, Eletrônica, Minimalista Duração: 54 minutos

outros álbuns que gravou com características bem semelhantes: Discreet Music (1975), Music For Airports (1978), Thursday Afternoon (1985) e Neroli (1993), sendo que, este último ostenta o subtítulo Thinking Music, Part IV, conceito específico que Eno tenta retomar por aqui. Segundo ele, mais que "música ambiente", o poder dos 54 minutos de Reflection, a faixa-título do novo lançamento, é "regenerativo" e "estimulante do pensamento". Em suma, é um conjunto de

impressões sonoras que vão além do formato da música popular, mas que também não se insere nos preceitos eruditos. A indicação é que você possa sentir um pouco da magnitude de sua arte.

*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.

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Fotos: Mauricio JelĂŞ

A vista do meu ponto

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PIANO DIGITAL QUER CONHECER A CLASSIFICAÇÃO QUE IMPUS AOS PIANOS DIGITAIS DISPONÍVEIS NO BRASIL? ME ESCREVA E FIQUE SURPRESO! * Por Luiz Carlos Rigo Uhlik

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uem nunca errou que atire a primeira pedra! Pof! Bem na testa de Maria Madalena.

- Você nunca errou? - pergunta o Mestre, desconsolado! - Desta distância, não! Percebeu? Até para sacanagem tem “Ponto de Vista”. Isto significa que falar de Piano Digital depende disso: “Ponto de Vista”. Portanto, tenha bons argumentos se você, realmente, quiser falar sobre Pianos Digitais! Mas, vamos lá, direto ao assunto. Quando falo em Piano Digital preciso, é claro, levar em conta o Piano Acústico!

Piano Acústico? Lógico! Para você ter noção sobre o Piano Digital você precisa ter, como referência, o Piano Acústico. Aí é que a questão do “Ponto de Vista”, do cidadão que acertou a testa da Maria Madalena, prevalece: - Que Piano Acústico você tem como referência para falar sobre a qualidade do Piano Digital? Pof! Mais uma pedrada certeira! Isso, mesmo! Certeira! Dos cem bons pianistas populares que conheço, duzentos nunca tocaram em bons pianos acústicos. Pof! Mais uma Pedrada! Então como esse pessoal pode falar de Piano Digital? Como podem argumentar se este, ou Revista Keyboard Brasil / 47


aquele piano é bom ou ruim? Quais referências? Bem, meus amigos. Desta distância acerto todas! Já ouvi o seguinte: - Baixei o “sample” do Steinway que é “matador ”, impressionante. Nunca toquei num piano assim! Pof! Mais uma pedrada! Como o Piano que você “baixou” é bom se você nunca tocou num Steinway? O que dizer de um Bösendorfer, um Yamaha CFX, um S6, um C7, um Blüthner, um Estônia, um Mason & Hamlin? Pof! Pedrada certeira e mais pedrada certeira. Desde que entrei para o mundo do Piano Digital tenho estudado estes maravilhosos equipamentos. Adoro o Piano, e a condição de Piano Digital é espetacularmente vantajosa. Senão, vejamos: - Sensibilidade de toque das teclas (condição "sine qua non" para que o Piano Digital abrace o nome Piano). - Quantidade de teclas que você usa normalmente, que pode variar de 76 até as 88 do piano acústico (número de teclas que você usa normalmente). - Polifonia - quanto maior a polifonia melhor para o desempenho, principalmente dos arpejos e das notas sob a ação do pedal. - Bons sons de piano; igualmente, alguns timbres dos consagrados EPs e dos sons de instrumentos que mais estão ligados às teclas, como órgãos, strings, pads, etc... - Tamanho e peso do instrumento, principalmente se você precisa levar para lá e para cá 48 / Revista Keyboard Brasil

- Metrônomo. Se este metrônomo for convertido em ritmos, melhor ainda! - Alto-falantes, com capacidade para reproduzir, verdadeiramente, o som do piano - Qualidade e reputação do fabricante - Custo X Benefício! Mas, para classificar o que é bom e o que não é tão bom (porque não tem Piano Digital ruim demais) é preciso conhecer, a fundo, o fabricante. Pois percorri boa parte das fábricas dos bons pianos acústicos e digitais pelo mundo. Posso, com absoluta tranquilidade, descrever, avaliar e indicar, corretamente, o que é bom e o que é "falsidade" em termos de Piano Digital. Ainda mais quando o Marketing sabe maquiar, de forma arrasadora, a apresentação do produto. Agora, vem a ousadia: Piano Híbrido! Meu amigo, só tem uma fabricante que consegue, realmente, simular, de forma híbrida, o piano acústico: a Yamaha. (Que bom que trabalho com ela!) Mas, é claro, não posso me esquecer dos pianos de Koichi Kawai (que foi parceiro de Torakusu Yamaha), mas que, infelizmente, não são negociados no nosso país. O restante é um conjunto exantemático, misógino, estratosférico, batiscáfico, de falsidade. Onde já se viu imaginar que uma tecla de madeira torna um piano digital híbrido? Onde já se viu imaginar que um espelho sobre o martelo possa indicar que


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Po s s o, c o m ab s o l u t a tranquilidade, descrever, avaliar e indicar, corretamente, o que é bom e o que é "falsidade" em termos de Piano Digital. – Luiz Carlos Rigo Uhlik

André Luiz

o piano digital é híbrido? Só com Marketing (e a Marketaria) isso é possível! Com a realidade, com a referência da realidade, não, não, não, não, e não! Vou jogar mais uma pedra: Pof! Se tivesse que produzir um Piano Digital Brasileiro faria o seguinte: Samplearia um Fritz, misturaria com o Brasil e arremataria com um Essenfelder. Mas, para que o piano adquirisse “corpo”, porque todos estes modelos não tem o “corpo” do som do piano, colocaria a verdadeira pimenta para criar um Super Piano Natural: Acrescentaria “Síntese FM” ao sample. Pof! Que pedrada. (Não espalhe a ideia porque senão vamos ter um enxurrada de Pianos Digitais no mercado). Na década de 80, quando produzia trilhas, não havia uma solução econômica para gravar um naipe de violinos. Era difícil - e caro - reunir bons violinistas que tocassem afinados! Então, gravava UM violino e "dobrava" este violino com o Polysix, da Korg. Pof! Que conjunto espetacular de cordas. Mas, só “Ponto de Vista”. Na verdade, o naipe era falso! Simples, assim! Se você quiser conhecer a classificação que impus aos Pianos Digitais disponíveis no Brasil, é só me escrever e você vai ficar surpreso com o que você vai apreciar. E mais: se alguém quiser falar comigo sobre Piano Digital, que tenha, pelo menos, a experiência de ter tocado

em bons pianos acústicos. Fora isso, meu amigo, só plástica, maquiagem, Marketing, e o seu Ponto de Vista! Avante!

*Amante da música desde o dia da sua concepção, no ano de 1961, Luiz Carlos Rigo Uhlik é especialista de produtos, Consultor em Trade Marketing da Yamaha do Brasil e colaborador da Revista Keyboard Brasil. Revista Keyboard Brasil / 49


Novidade

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Bruno de Freitas

E SUA HISTÓRIA COM A

MÚSICA O ENCANTAMENTO PELO UNIVERSO MUSICAL FEZ COM QUE O MÚSICO BRUNO FREITAS TIVESSE UMA GRANDE E INTENSA VIVÊNCIA SOBRE PRATICAMENTE TODOS OS ASPECTOS DA MÚSICA, RENDENDO GRANDES FRUTOS. TECLADISTA, PROFESSOR, PRODUTOR, DEMONSTRADOR DE PRODUTOS DA YAMAHA, E N D O R S E R D A S TA Y MUSIC E AGORA COLUNISTA DA REVISTA KEYBOARD BRASIL. CONHEÇA NOSSO MAIS NOVO COLABORADOR A ENTRAR PARA O TIME.

* Redação Revista Keyboard Brasil / 51


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udo começou em 1994, aos doze anos de idade com um pequeno teclado, especificamente o PSR 110, da Yamaha. Desde então Bruno de Freitas iniciou de forma intensa os estudos da música, nos dois primeiros anos, de maneira autodidata. Com ajuda de algumas revistas e o próprio manual do teclado deduziu a leitura inicial da partitura. Foi na igreja seu primeiro contato com o público, propriamente. Em 1996, na oitava série, uma professora o flagrou desenhando uma partitura durante a aula de ciências – surpresa! A professora tocava saxofone. Notando sua paixão pela música, imediatamente o incentivou a ingressar na Escola Livre de Música da Universidade Estadual de Santa Catarina. Já na Escola Livre de Música da universidade teve quatro anos de excessivos estudos de teoria musical, harmonia e contraponto, percepção, apreciação musical e piano. Lá, o encantamento pela música cresceu e a seriedade quanto às decisões futuras se solidificaram. Desde então, seu passatempo favorito era ler sobre a história dos grandes compositores, transcrever partituras à mão, escrever (tentativas de) composições, sempre como base os Minuetos, 52 / Revista Keyboard Brasil


B o u r é e s , To c a t a s , F u g a s e Sonatinas, aos quais Bruno estudava ao piano. Como resultado, mais de duzentas pequenas, médias e algumas arriscadas grandes (em tamanho) composições guardadas até hoje em uma pasta. Resumindo aquela época: uma grande e

intensa vivência sobre praticamente todos os aspectos da música, que hoje nota – rendeu grandes frutos na concepção e abrangência de sua produção atual. Depois do ensino médio, veio a faculdade de Licenciatura em Música, a qual estudou durante cinco anos, com praticamente os mesmos professores da anterior Escola Livre de Música. Esse período foi uma continuidade daquilo que o músico havia iniciado, e uma observação: as tão esperadas cadeiras de Música e Mídia eram um prelúdio do que faz hoje. Estudou, anotou, rabiscou e colocou em prática as primeiras noções de produção musical, gravação, mixagem... E valeu a pena! Em meio a esse contexto, iniciou os trabalhos em programação MIDI, sequencer, produção de ritmos e programação de synths; tecladista de uma importante banda da região (shows na Grande Florianópolis) e lecionava Artes na Rede Estadual e Municipal. Revista Keyboard Brasil / 53


Bruno de Freitas: Tecladista, professor, produtor, demonstrador de produtos da Yamaha, endorser da Stay Music e agora colaborador da Revista Keyboard Brasil. Acima com a cantora Elba Ramalho e o EP do cantor de Jazz francês , Tony Vitti, produzido em 2014 e disponível no iTunes. 54 / Revista Keyboard Brasil

Como atuante de forma séria na música, as oportunidades foram aparecendo e a carreira se solidificando. Após a atuação no Ensino Público, desde 2008 Bruno é o responsável pela Arte Musical em uma renomada instituição de ensino da Grande Florianópolis – o Colégio Paulo Freire. Lá, o músico leciona Flauta Doce, Piano, Teclado, Técnica Vocal, Musicalização e Coral Infanto-juvenil, além de desenvolver projetos internos de música com os educandos do fundamental II e Ensino Médio. Em 2010, foi convidado a reger um coral sacro no município de São José/SC, o qual esteve à frente até ano passado. Em meio a todas as atuações, há quatro anos produz trilhas sonoras corporativas para cinema, TV, web e rádio, alimentando o mercado de conteúdo e marketing digital, especialmente na Austrália e EUA, distribuídos em todo o planeta. Em 2014, produziu o EP do cantor de Jazz, Tony Vitti, francês, atualmente em Nova York. O EP está disponível no iTunes. Há três anos o músico trabalha como Demonstrador de Teclas – Pianos Digitais, Teclados Arranjadores e Sintetizadores da Yamaha Musical do Brasil, tendo contato com diversos artistas nacionais e internacionais, bem como estudando e contribuindo com o desenvolvimento tecnológico e de marketing da música, com a equipe Brasil, Japão e de outras partes do mundo. Também é endorser da Stay Music desde 2015. Incansável, Bruno começa o ano de 2017 como o mais novo colaborador da Revista Keyboard Brasil. Seja muito bem vindo!



Por dentro

BATIDAS (OU SONS)

BINAURAIS Você sabe o que é? Parte 1

* Por Maestro Marcelo Fagundes

UMA ENORME DESCOBERTA QUE PODE MODIFICAR NOSSAS VIDAS VERDADEIRAMENTE E COMBATER DIVERSOS PROBLEMAS PSICOLÓGICOS E TAMBÉM FÍSICOS. ESTAMOS FALANDO SOBRE AS BATIDAS (OU SONS) BINAURAIS. 56 / Revista Keyboard Brasil


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A

s batidas Binaurais são batimentos sonoros numa determinada frequência que conseguem modificar o nosso cérebro tornando-o, por exemplo, mais calmo, mais consciente, mais produtivo, mais atento, mais inteligente, criativo... Tudo de acordo com a frequência com que é usada. Embora a criação de Batidas Binaurais só tenha sido possível através do avanço tecnológico nos últimos 100 anos ou mais, as culturas antigas estavam conscientes de como as frequências decorrentes de padrões de batidas repetitivas afetam o cérebro bem antes de a ciência moderna ser capaz de provar seus benefícios. Naturalmente, nos séculos passados, as

tribos não estavam cientes da ciência de como alterar as ondas cerebrais. O que sabiam era que o som consistente e rítmico tinha poderosos benefícios curativos e espirituais. A ciência por detrás das Batidas Binaurais tem desempenhado um papel importante na interação social e desenvolvimento da maioria das culturas antigas, como mostrou a cientista Melinda Maxfield, PhD, ao conduzir uma pesquisa sobre os tambores usados durante rituais de culturas antigas. Com essa pesquisa, descobriu-se que, em média, as batidas eram produzidas a uma taxa constante de 4,5 batimentos por segundo. Comprovou-se que esse padrão de batida consistente induz um estado de transe para o ouvinte porque o cérebro segue e produz ondas cerebrais a 4,5 Hz, que é um estado de ondas cerebrais de Theta, como você entenderá mais adiante. Usando tambores repetitivos e cantando, monges tibetanos, xamãs nativos americanos, 58 / Revista Keyboard Brasil


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curandeiros hindus e mestres Yogis foram capazes de induzir estados de ondas cerebrais específicas para transcender a consciência, a cura, a concentração e o crescimento espiritual. Esta ciência foi descoberta pela primeira vez em 1839 por um físico prussiano e meteorologista chamado Heinrich Wilhelm Dove. Foi só em 1973, que um biofísico chamado Gerald Oster trouxe a ciência para a comunidade científica através de um artigo acadêmico chamado "Auditive Beats In The Brain" (Scientific American, 1973). Em seu artigo, Oster concluiu:

"É possível que alterações de comportamento fisiológico induzidas hormonalmente possam ser tornadas aparentes através da medição das Batidas Binaurais". A pesquisa de Oster levou-o a acreditar que as Batidas Binaurais pode-

60 / Revista Keyboard Brasil

riam ser usadas para alterar o cérebro para estados específicos conducentes ao bem-estar. Vale à pena notar que, ao contrário da crença popular, Oster não inventou as batidas Binaurais. O fenômeno Batido Binaural é uma ciência natural que ocorre no cérebro, como Heinrich Wilhelm Dove descobriu 100 anos antes. Somente nos últimos 40 anos os engenheiros de som e os cientistas conseguiram provar os pressupostos de Oster e demonstrar os benefícios de

usar batidas binaurais em diferentes aspectos do desenvolvimento pessoal e bem-estar. Os sons binaurais também foram estudados pela NASA por ser uma tecnologia eficaz e comprovada. Contudo, é uma técnica muito pouco divulgada no Brasil e com muito conteúdo para explorar.


Como agem? Os sons ou batidas binaurais funcionam com sons transmitidos aos nossos ouvidos. Para que isto funcione, é necessário ouvi-los com uns headphones, uma vez que para haver eficácia cada ouvido receberá sons com diferentes Hertzs. Vamos supor o seguinte exemplo: O ouvido esquerdo ouve um som de 100hz, enquanto que o ouvido direito ouve o mesmo som com 107hz. Isto significa que se criou uma batida binaural de 7hz. Como consequência, as ondas cerebrais irão seguir essas batidas. Sabendo que cada batida corresponde a um

determinado estado cerebral, podemos manipular assim a nossa forma de estar. Por exemplo, se estamos agitados e com stress, podemos ouvir um som binaural com uma frequência baixa, para que as nossas ondas cerebrais correspondentes ao stress (ondas gama) diminuam a frequência para um estado de calma (ex: ondas alfa). Por outro lado, se estamos demasiado calmos e necessitamos uma maior concentração, podemos aumentar as ondas cerebrais e otimiza-las para o estado que queremos por via dos sons binaurais.

Para que servem? Você pode obter inúmeras utilidades, como o combate a depressão, redução do stress, aumento do hormônio do crescimento, aumentar a concentração, melhorar a memória e habilidades de aprendizagem, uma consciência mais aberta sobre a vida, controle do sono, controle de dores, vícios, e muitas outras doenças do homem moderno.

Estes sons são também muito interessantes para quem pratica meditação, pois com o seu auxílio, podemos atingir estados mais profundos, mais conscientes, e mais reparadores, como as poderosas ondas delta. [...] Continua na próxima edição. * Marcelo Dantas Fagundes é músico, maestro, arranjador, compositor, pesquisador musical, escritor, professor, editor e membro da ABEMÚSICA (associação Brasileira de Música). Revista Keyboard Brasil / 61


Perfil

AS CONQUISTAS DO MINEIRO

DANIEL SILVEIRA

62 / Revista Keyboard Brasil


PRODUTOR, DIRETOR MUSICAL E MULTIINSTRUMENTISTA. CONHEÇA A TRAJETÓRIA DE SUCESSO DO MÚSICO NASCIDO NAS MINAS GERAIS.

* Por Rafael Sanit

D

aniel Weston da Silveira,

mentista, já na sua adolescência teve

nasceu em Belo Horizonte (Minas

algumas influências como Jay Oliver,

Gerais). Aos cinco anos de idade

Robbie Buchanan, Take 6, Chick Korea,

encantou-se por todos os instrumentos

Dave Weckl, Luis Miguel, Ivan Lins,

musicais, mais aos dez, escolheu o piano

Toninho Horta, João Alexandre, Cesar

sendo hoje o seu principal instrumento. Músico autodidata e multiinstru-

Camargo Mariano, Elis Regina e por aí vai... Revista Keyboard Brasil / 63


Daniel Silveira possui um trabalho instrumental chamado “Trifase” em parceria com Beethoven Junior e Binho Carvalho.

Tem um trabalho paralelo instru-

Lado Da Moeda”gravou 2 clipes de

mental formado com Beethoven Junior e

maiores sucessos do cantor “Diz Pra

Binho Carvalho chamado “Trifase” o

Mim” e “Fui Fiel”realizando três turnês

qual lançaram em fevereiro de 2014 o

nos Estados Unidos incluindo o maior

segundo DVD do trio “Trifase Deluxe”.

evento brasileiro realizado nos EUA e no

Daniel Silveira teve a honra de acom-

Canadá o “Brazilian Day” e um na

panhar o guitarrista Toninho Horta em

Europa. Daniel Silveira é endorse da Nord juntamente com a Quanta Music e da Casio, Tokai e Harmonia Musical. Em 2016, lançou seu primeiro disco instrumental solo cujo o título é “Daniel Silveira - Bem Brasileiro”com algumas participações super especiais de alguns músicos e cantores consagrados da música brasileira como Toninho Horta, Ivan Lins,Thalles Roberto, Leonardo Amuedo, Ebinho Cardoso,Trifase dentre outros!! Atualmente, Daniel Silveira é produtor musical da dupla Matheus e Kauan, produziu o DVD na praia 1 “O Nosso Santo Bateu”, “Decide aí” e Matheus e Kauan na Praia 2 “Te Assumi Pro Brasil”, “Oitava Dose”.

alguns projetos e festivais da música instrumental pelo Brasil e alguns outros músicos mineiros consagrados. Produziu 2 faixas para o último DVD do cantor gospel Thalles Roberto, fez parte da banda do cantor Eduardo Costa durante cinco anos como diretor musical e maestro, produzindo algumas faixas dos álbuns “Tudo Aver ” e “Pecado De Amor ” e o DVD “De Pele Alma e Coração”gravado em 2010, realizando cinco turnês com o cantor nos Estados Unidos e um na Europa. Logo em seguida, foi tecladista e diretor musical do cantor Gusttavo Lima durante dois anos e meio o qual produziu os 2 últimos CDs de carreira do cantor o Espanhol e o último em 2014 “Do Outro

* Rafael Sanit é tecladista, Dj e produtor musical, endorsee das marcas Roland, Stay Music, Mac Cabos e Jones Jeans. Também trabalha como demonstrador de produtos Roland onde realiza treinamentos para consultores de lojas através de workshops e mantém uma coluna na Revista Keyboard Brasil. 64 / Revista Keyboard Brasil



Dica Técnica

Minueto

em

Gm (Sol Menor) DANDO CONTINUIDADE AO ESTUDO DO PIANO E TECLADOS, AQUI UM DOS INÚMEROS MINUETOS DE BACH. * Por Amyr Cantusio Jr. Amyr Cantusio Jr. é músico premiado no exterior e colaborador da Revista Keyboard Brasil.

A

ntes de iniciarmos nossa aula do mês, vamos falar um pouco sobre a música, seu surgimento e

organização. Sem sombras de dúvidas, a música organizada e catalogada nasceu na Itália, na Idade Média. Assim como 80% dos instrumentos musicais de orquestração, contidos nas Orquestras Sinfônicas, quartetos e sextetos, entre outros... Incluise aqui ainda os gêneros como a música “cantada” (Ópera) e instrumental. Toda terminologia é itálica, valendo atualmente para a música erudita em todo mundo. Nomes como: Allegro, Allegroma non Troppo, Alegretto, Andante, Fermata, cadenza, piccolo, pìu, etc., são terminologias de condução, andamento e leitura musical. A priori, criada por Guido D'Arezzo na Itália (séc. X) as notas (UT,RE, MI, FA, SOL, LA, SI, 66 / Revista Keyboard Brasil

DO = UT) e a pauta ou Pentagrama onde se escrevem as notas musicais. Antes disto, havia o NEUMA medieval. Posteriormente no século XV, outro italiano trocou o UT (latim) por DÓ. Que era a inicial de seu nome, Giovanni Battista Doni (para facilitar a leitura musical). Não há o que se contestar. A Itália deu ao mundo a “urbis” organizada da música e os maiores compositores do planeta, entre os séculos XI e finais do XIX. Isto no terreno da música “ocidental”. Mais tarde, a Alemanha no século XIX seria a detentora de grandes gênios na área, exceto pela Ópera Italiana que ainda lidera, de longe, a produção de 1000 anos de música!! E, assim, depois de um pouco mais de conhecimento, partiremos para nossa aula do mês.


Ao estudarmos um dos inúmeros minuetos de Bach, note que a cadência musical deve ser rígida e matemática. A métrica da música barroca (séculos XVII e XVIII) é extremamente pontilhada, cheia

de acentos e enfeites musicais (staccatos, pzzicatos trinados e apogiaturas) e foi feita para execução de clavicórdio ou harpsichord (cravo) posteriormente transcritas para o “piano”.

Minueto

em

Gm (Sol Menor)

Revista Keyboard Brasil / 67


Até a próxima dica técnica. Hare! *Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.

Revista Keyboard Brasil / 08



Especial

O ADEUS AO ÍCONE DO JAZZ FUSION

Al Jarreau VENCEDOR DE SETE GRAMMY O CANTOR HAVIA SE APOSENTADO DAS TURNÊS NO COMEÇO DESTE MÊS. MORREU AOS 76 ANOS, APÓS SER INTERNADO COM UMA PNEUMONIA. * Por Heloísa Godoy Fagundes

70 / Revista Keyboard Brasil


(Wisconsin) em 1940 e começou a cantar quando integrou o grupo de sua família mas apresentações em igrejas e concertos. Só depois de se

formar em Psicologia e trabalhar num centro de reabilitação em San Francisco, Jarreau voltou à música. Tinha cerca de trinta anos. E não fazia o tipo de cantor de jazz, se é que isso existe. Depois de uma fase na Cientologia, tornou-se um cristão discreto. Tinha estudado a obra de Lambert, Hendricks & Ross, juntos e separados, vocalistas surgidos depois da eclosão do be-bop, que usavam imaginativamente o scat e o vocalese. Apesar de amar Ella Fi gerald e Anita O'Day, pertencia à onda do soul. Simpatizava igualmente com os instrumentistas eletrificados, que estavam definindo a nova categoria do jazz fusion. Já habitué nas casas noturnas de Los Angeles, a Warner Bros. se deu conta de seu talento e carisma em 1975. Sua carreira decolou em 1980, quando se associou ao produtor e compositor Jay Graydon. Sua voz cálida veio a definir a vertente mais jazzística do som de Los Angeles, com gravações de alto nível, marcadas pelo brilho dos sintetizadores. Era música que parecia pensada para ficções cinematográficas e

ficções cinematográficas e televisivas. De fato, um de seus grandes sucessos foi o tema de abertura da série Moonlightning (1985-1989), conhecida no Brasil como A gata e o rato.

Pertencia à categoria de artistas de qualité, essas figuras bem vistas pela indústria e seus colegas. Inclusive teve um espaço na multitudinária gravação de “We are the world” (1985), o hino de Michael Jackson e Lionel Ritchie. Também levou para casa sete prêmios Grammy. Um certo cansaço estético o levou a experimentar rupturas sonoras sob a direção de Nile Rodgers, o homem de Chic (L is for lover, 1986) e Narada Michael Walden (Heaven and Earth, 1992). Já no fim dos anos noventa, se afastou das gravações e trabalhou com orquestras sinfônicas.

‘ ‘

Passei muitos anos na igreja. Para mim, era como uma grande escola. Meu pai era um pregador e minha m ã e, p i a n i s t a d a congregação. Então, eu sempre sentava no banco do piano ao seu lado enquanto ela tocava.

‘ ‘

A

lwin Lopez Jarreau, ou simplesmente Al Jarreau, nasceu em Milwaukee

– Al Jarreau

Revista Keyboard Brasil / 71


Amigos: Bob McFerrin e Al Jarreau.

Também foi parte integrante do circuito europeu de festivais de jazz, onde sempre teve muita presença, como testemunham vários discos ao vivo.

Sentiu-se rejuvenescido com a assimilação de técnicas vocais derivadas da música africana e oriental. Competia de forma amistosa com outro cantor de jazz inclassificável, Bobby McFerrin. A partir do ano 2000, gravou para o selo Verve. Para essa empreitada, protagonizou discos atraentes com o guitarrista George Benson e com o tecladista George Duke, colega de seus primeiros tempos de Los Angeles. Em 2004, gravou ‘‘Accentuate the positive’’, uma coleção de antigas canções rejuvenescidas pelo produtor Tommy LiPuma; quatro anos depois, fez o obrigatório disco de canções natalinas.

Raro vencedor dos prêmios Grammy em categorias diferentes de jazz, pop e R&B, o americano acumulou ao longo de 50 anos sete

estatuetas no prêmio; o último foi em 2007. Os vínculos com o Brasil estavam nas referências — ele começou a apreciar a música brasileira em 1963, com Tom Jobim, Baden Powell, Sergio Mendes, Milton Nascimento e Ivan Lins — e em várias apresentações, como o Rock in Rio de 1985 e a Heineken Concerts, em 1997, quando fez dueto com Djavan. “A música brasileira mudou a minha vida, colocando novos ritmos, emoções e sentimentos dentro do meu coração e da alma jazzista. O Brasil mudou minha vida e me sinto muito melhor por causa disso”, declarou, em 2014, durante turnê pelo país. No ano seguinte, voltou ao Rock in Rio, onde se apresentou no Palco Sunset, com Marcos Valle. A inclusão da canção Mas que nada, composta por Jorge Ben Jor, no álbum ‘‘Tenderness’’ ilustra essa paixão. Casado com a modelo Susan Elaine Player, tinham um filho. Jarreau dedicava muita energia à promoção da educação e da leitura entre os jovens.

FONTES: h p://brasil.elpais.com/ h p://www.correiobraziliense.com.br 72 / Revista Keyboard Brasil



Opinião

Foto: Vivi Arts Fotografia

VIDA

DE

Tecladista NO BRASIL, A VIDA DE MÚSICO NÃO TEM SIDO FÁCIL PARA NINGUÉM, MAS COM PROFISSIONALISMO E ALGUMAS DICAS PODEMOS CONTORNAR ESSA SITUAÇÃO. * Por Hamilton de Oliveira

74 / Revista Keyboard Brasil


H

oje vou falar um pouco sobre a vida de tecladistas que já tocam profissionalmente e os que estão iniciando no mercado de trabalho. Ser músico profissional, como o nome bem diz, exige uma dedicação intensa no estudo da técnica do instrumento, qualidade sonora desejada, programação prévia dos timbres a serem usados nas músicas do repertório a ser tocado, bem como outros fatores não menos importantes, como rigor com horários, roupa bem arrumada, gentileza e educação com os contratantes e com o público e, assim por diante. Ser tecladista exige, além de tudo isso escrito acima, um instrumento de qualidade que tenha recursos de programação e edição de timbres, sampler (quando necessário) e outros recursos característicos dependendo da música a ser tocada. No Brasil, a vida de músico não tem sido fácil para ninguém. No entanto, podemos encontrar alguns casos de sucesso profissional entre aqueles que vivem da música em meio à toda essa crise. No caso dos tecladistas, a primeira barreira a ser encontrada, na minha opinião, é em relação ao preço dos teclados, um absurdo se compararmos com o mesmo teclado vendido lá fora por um preço bem mais acessível, tudo por conta das altas taxas de importação do país. Devido a isso, o músico torna-se

obrigado a usar um teclado bem mais simples de recursos, o que pode comprometer seu trabalho profissional. Outro fator desestimulante é o cachê pago para a maioria dos músicos, que hoje está bem abaixo do mercado, deixando-o sem vontade de investir em novos instrumentos. Por outro lado, o músico que estuda, investe, se dedica e mostra um serviço de qualidade está sempre à frente do seu tempo e é constantemente chamado para qualquer tipo de evento, pois sabem que podem contar com seu profissionalismo. Tem surgido ultimamente uma safra boa de bons músicos, e junto a esses surgem aqueles tecladistas que não tem o mínimo interesse de se aperfeiçoar ou mesmo se atualizar nos seus estudos de repertório e técnica, isso torna o trabalho comprometido, pois a vontade de fazer sempre o melhor depende de cada músico. Uma dica de estímulo interessante seria ouvir atentamente trabalhos de músicos experientes e tentar absorver o que eles estão transmitindo, e assim criar a sua própria identidade. Se comprometer a estudar diariamente, não só a técnica do instrumento, mas também músicas de estilos diversos, eu diria “brincar” com o teclado criando sonoridades diferentes. O sucesso será sua satisfação e felicidade em tocar num lugar que te faça feliz. Até breve.

* Hamilton de Oliveira estudou MPB/Jazz no Conservatório de Tatuí. Formou-se em Licenciatura em Música pela UNISO e Pós-graduou-se pelo SENAC em Docência no Ensino Superior. É maestro, tecladista, pianista, acordeonista, arranjador, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil. Revista Keyboard Brasil / 75


Notícias

Liane Hentschke assume a diretoria de Educação Musical da

Anafima

SAIBA UM POUCO MAIS SOBRE A PROF ª. DRª. LIANE HENTSCHKE - A NOVA DIRETORA DE EDUCAÇÃO MUSICAL DA ANAFIMA.

* Redação 76 / Revista Keyboard Brasil


‘ ‘

L

‘ ‘

iane Hentschke é Prof ª. Drª. e

considerada uma das mais respeitadas autoridades em

educação musical no Brasil e se junta à

Anafima (Associação Nacional dos Fabricantes de Instrumentos Musicais e Áudio) para desenvolver

É um grande ganho para o mercado a presença da Drª. Liane Hentschke na ANAFIMA. – Daniel A. Neves, presidente da entidade.

projetos em parceria com o Governo e empresas do setor como Diretora de

(conceirto 7 pela CAPES). Desde 2006,

Educação Musical da entidade. “É um

desenvolve pesquisas na área de moti-

grande ganho para o mercado a presença da

vação para ensinar e aprender música

Drª. Liane Hentschke na ANAFIMA”,

(Psicologia Cognitiva), bem como em

explica Daniel A Neves, presidente da

tecnologias digitais para educação

entidade. Para a nova Diretora “É um grande prazer participar da Diretoria da ANAFIMA uma vez que a Associação está comprometida com ações que envolvem o desenvolvimento da educação musical através da hélice tríplice: empresa, academia e governo”, finaliza Hentschke.

musical. É autora e coautora de 16 livros, sendo 8 de tecnologias digitais em educação musical. Ministrou palestras, conferências e publicou artigos científicos, capítulos de livros e prefácios, no Brasil, Alemanha, Áustria, Austrália, Argentina, Chile, China, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, Hong Kong, Tailândia e Venezuela. Tem atuado como membro de Conselhos Editoriais da Revista Eufonia (Espanha); Research Studies in Music Education (Inglaterra), e British Journal of Music Education (Inglaterra). É sóciadiretora da empresa Conexão Sonora, consultora internacional da OiiD Educacional e atua como consultora e palestrante na área de educação, educação musical, tecnologias digitais em música e internacionalização de instituições e grupos educacionais.

SOBRE LIANE HENTSCHKE... Doutora em Educação Musical pelo Institute of Education, University of London (hoje UCL), Inglaterra, com PósDoutorado na mesma instituição. Atua como Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Música do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Pesquisadora Nivel 1 do CNPq, coordena o grupo de Pesquisa FAPROM (Formação e Atuação de Profissionais em Música), do PPG-Música UFRGS

FONTE: http://www.anafima.com.br Revista Keyboard Brasil / 77


Foto: Marcos Vinicius Troyan Streithorst

Pioneirismo

LEE OLIVEIRA Um dos pioneiros do Rock Progressivo brasileiro 78 / Revista Keyboard Brasil


Foto: André Cotrim

O EX-TECLADISTA DA BANDA SANTISTA DE ROCK PROGRESSIVO RECORDANDO O VALE DAS MAÇAS (RVM) LEE OLIVEIRA É UM DOS PIONEIROS DO ROCK PROGRESSIVO BRASILEIRO. SEU PROJETO, INTITULADO LEE RECORDA FOI FORMADO PARA RESGATAR AS MÚSICAS CANTADAS QUE PERMANECERAM INÉDITAS OU FORAM GRAVADAS EM CONDIÇÕES PRECÁRIAS DEVIDO ÀS LIMITAÇÕES DA ÉPOCA.

PSICODELIA FOLK À

BRASILEIRA!! * Por Rogerio Utrila

L

ee Oliveira é tecladista, pianista,

a banda mostra um trabalho diversificado

violonista, vocalista e compositor.

com arranjos trabalhados em torno da

Estudou Composição e Regência na

sutileza e muita criatividade melódica e

instituição de ensino FIAM-FAAM. Foi

harmônica. As letras falam de natureza,

tecladista e um dos vocalistas da banda de

pureza, prazeres simples e belezas

rock progressivo, Recordando o Vale das

naturais. A banda é formada por Lee Oliveira (teclados e voz), Xima (bateria), Fabio Ferreira (baixo), Adilson Oliveira (guitarra e violão) e Lara Lima (voz). O próximo show será no teatro UMC no festival de rock progressivo TOTEM. Estão todos convidados! Leia a seguir, a entrevista:

Maçãs, nos anos 70, 80, 90 participando de quase todos os álbuns da banda, vinis e CDs. Líder da banda Lee Recorda apresenta o rock progressivo brasileiro no formato popular. Com influência do rock rural de Zé Rodrigues e do progressivo de Rick Wakeman, Yes, Genesis entre outros,

Revista Keyboard Brasil / 79


Entrevista Revista Keyboard Brasil – Fale-nos sobre seu interesse pela música e, dentre vários instrumentos, por que optou pelos teclados? Lee Oliveira – Meu primeiro contato na música foi cantando em família, quando primos e tios tocavam violão e acordeom. Com 4 anos de idade me apresentei em um programa da TV Record chamado Seção ZIGZAG. Com os instrumentos, o primeiro contato foi com o acordeom da minha irmã, quando brincava tocando algumas melodias. Nessa época, minha irmã estudava piano clássico, e como tínhamos um piano em casa, eu observava os movimentos das mãos e a técnica de estudo dela. Aos poucos fui descobrindo acordes e como fazer melodias. Com o passar do tempo, estudei piano em vários conservatórios e aulas com professores particulares. Com o violão foi semelhante. Ficava encantado vendo e ouvindo pianistas e organistas tocando em festas. Com o avanço da tecnologia surgiram os teclados com variados timbres que me deixaram fascinado pelo instrumento. Através do teclado crio arranjos e músicas com facilidade por ser o instrumento mais completo, na minha opinião.

Lee Oliveira – Em 1975 fui convidado por um amigo (Pavitra) a participar de uma banda que ele cantava e que tinha um estilo diferente de música, meio erudito, meio rock, meio alegre e triste…

que

tinha como destaque a flauta e o violino. Apresentei uma música de minha autoria Rancho, Filhos e Mulher e a galera gostou. Esta música acabou sendo o carro chefe do LP As Crianças da Nova Floresta gravado pela GTA, da extinta TV Tupi. A gravação do LP foi resultado de um contato que fiz, quando morava em São Paulo, em um estúdio onde trabalhava. Na época, levei uma fita de rolo com as nossas músicas aos produtores da gravadora. Uma semana depois, recebi a confirmação que gravaríamos o LP As Crianças da Nova Floresta… Neste período, mantinha contato com as TVs Tupi, Cultura e Bandeirantes, onde nos apresentamos algumas vezes. Em 1978 eu me afastei temporariamente do RVM, pois casei e fui morar no interior de São Paulo, mas meu sonho de Rancho, Filhos e Mulher ainda não havia se concretizado… Dois anos depois, a convite do RVM, retornei à banda para a gravação de um segundo álbum. Na época, o produtor Arnaldo Sacomani pediu à banda uma música romântica, bonita e comercial, no padrão do RVM.

Revista Keyboard Brasil – Você fez parte do Recordando o Vale das Maçãs, um dos pioneiros do Rock Progressivo brasileiro. Conte-nos sobre sua trajetória na banda. 80 / Revista Keyboard Brasil

Foi aí que compus Sorriso de Verão, gravada no Compacto simples, em 1982. Esta música permaneceu em primeiro lugar nas rádios por vários anos, principalmente da baixada santista e do


interior de São Paulo. Em um show que

Floresta, reza a lenda que não teve uma

produzi no Teatro Municipal de Santos,

boa vendagem porque devido à arte da

em comemoração aos 20 anos do RVM,

capa foi confundida com disco infantil.

fomos convidados a gravar um CD, que

Isso é verídico? Lee Oliveira – Li esse depoimento em um artigo de um site que apresentou as 10 capas de vinis mais criativas e loucas dos anos 70. Uma delas era a capa do LP As Crianças da Nova Floresta, então deve ser verídico… Um grande problema que tivemos foi a prensagem errada do LP com músicas brega no lado B, justamente o lado progressivo. Isso fez com que a gravadora retirasse o álbum do mercado. Pouco depois, a gravadora faliu…

era novidade na época, por um produtor com inserção internacional. Em 1993, foi gravado um CD instrumental, exportado e muito elogiado pela crítica internacional. Neste CD foi gravada a música Water, de minha autoria, regravada no CD Lee Recorda. Após a gravação do CD e alguns shows, desliguei-me do RVM e ingressei em outras bandas. Revista Keyboard Brasil – A cidade de Santos pode ser considerada um celeiro musical, pois surgiram bandas de várias tendências como o RVM, Vulcano Harry e até mesmo o Charlie Brown Jr, mas como é a cena Rock'N Roll na cidade? Lee Oliveira – Santos é um palco de muitos talentos na música. Infelizmente, muitos chamam a cidade de cemitério da arte, pois dificilmente as boas bandas da baixada se destacam no cenário nacional do Rock'N Roll ou de outros estilos musicais. Na vida noturna da cidade rola muito Rock'N Roll, principalmente nos bares tradicionais da boa música e no Centro Histórico de Santos. No entanto, não há um local específico para o Rock'N Roll, pois existe mais a fusão pop-rock, na maioria dos bares. Revista Keyboard Brasil – Na época do lançamento do LP As Crianças da Nova

Revista Keyboard Brasil – A música Sorriso de Verão é considerada o maior Hit da banda. Nos dê detalhes dessa canção. Lee Oliveira – Como já disse, essa é uma música feita a pedido de Arnaldo Sacomani ao RVM. A compus quando retornei ao RVN e estava em Camburi, começando uma nova etapa da minha vida pessoal. Nesta época, para mim, tudo era sorriso naquele verão de 1980… Gravamos uma fita demo em Curitiba e retornando à Santos, a mesma foi levada às rádios locais. Tocada algumas vezes, os pedidos pelo telefone não cessavam… Nesse momento, resolvemos gravar o compacto simples Sorriso de Verão. Essa música até hoje é tocada em algumas rádios da baixada santista. Revista Keyboard Brasil – Em 2015 você

Revista Keyboard Brasil / 81


82 / Revista Keyboard Brasil


Foto: Marcos Trojan

A banda Lee Recorda é formada por Lee Oliveira (teclados e voz), Xima (bateria), Fabio Ferreira (baixo), Adilson Oliveira (guitarra e violão) e Lara Lima (voz). Aqui, o lançamento do CD Lee Recorda no teatro Guarani, em Santos, em 17 de dezembro de 2015.

Revista Keyboard Brasil / 83


lançou o CD intitulado Lee Recorda. Fale sobre esse material e sobre o projeto. Lee Oliveira – Devido à má qualidade de gravação do LP em 1976, sempre quis regravar as melhores músicas originais do álbum As Crianças da Nova Floresta. Juntamente com Eliza Bernardes, desenvolvemos um projeto para homenagear o autor da música a qual deu o título ao LP (Milton Bernardes - in memória), regravando essas músicas e outras inéditas. Com a colaboração de amigos, excelentes músicos, formamos a banda Lee Recorda - Xima (bateria), Fabio Ferreira (baixo), Rogerio Pelosi (guitarra e violão), Lee Oliveira (teclados e voz). Esse CD conta com a participação de dois dos três fundadores do RVN - Fernando Motta (violão) e Domingos Mariotto (flauta); também conta-se com a cantora original do RVM - Cristina Lobão. Regravamos as músicas: A Luz da Natureza (Milton Bernardes), As Crianças da Nova Floresta ( Milton Bernardes), Rancho, Filhos e Mulher (Lee Oliveira), Besteira (Domingos Mariotti e Fernando Pacheco), Água/Water (Lee Oliveira). As músicas inéditas são: Ferreiro do Céu e O Mundo de Davi, ambas composições de Milton Bernardes. As ilustrações do encarte são fotografias das telas pintadas por Milton Bernardes. A arte do CD foi produzida por Leonardo Motta (Limão); foto da capa - André Cotrin. Atualmente, os shows contam com a participação de Adilson Oliveira (guitarra e violão) e Lara Lima (voz). O CD está à venda na página Lee Recorda (facebook) e em algumas lojas 84 / Revista Keyboard Brasil

do ramo. Revista Keyboard Brasil – O que você acha da cena musical brasileira hoje em dia. Lee Oliveira – Em termos de mídia… Lamentável! Mas acredito que fora dela muita coisa boa ainda está acontecendo, pois o show não pode parar… Revista Keyboard Brasil – Vi algumas perfomances no Youtube, mas não cheguei a encontrar um video clip oficial. Você tem a intenção de faze-lo? Lee Oliveira – Temos um projeto em andamento com o Coral Cênico da USP LESTE que prevê a produção de alguns videos. Esse trabalho conta com o apoio do LEDEP - Laboratório de Educação e Desenvolvimento Psicológico, coordenado por Maria Eliza Mattosinho Bernardes. Já estamos trabalhando a música Rosa dos Deuses (Pavitra) que abria os shows do RVM nos anos 70 e 80, cantada por mim. Revista Keyboard Brasil – Qual a receptividade dos fãs nos shows ou até mesmo quando os encontram na rua? Lee Oliveira – Fico muito feliz quando jovens veem mostrar interesse e emoção pelo nosso trabalho. Geralmente, os shows são muito aplaudidos e há o reconhecimento da qualidade de nossa música. Nas ruas, até hoje me perguntam… Você é o Lee que fez a música Recordando o Vale das Maçãs..? E respondo: Sim, sou o Lee que fez a música Sorriso de


Verão, gravado por mim juntamente com a

de me isolar, nem que seja no banheiro… e

banda Recordando o Vale das Maças… E

deixo fluir a melodia que me induz a criá-

às vezes até tiram fotos… (risos).

la; posteriormente, enriqueço o arranjo instrumental.

Revista Keyboard Brasil – Ao invés de perguntar sobre as influências, gostaria de saber do Lee Oliveira o que atrapalha na criatividade ou na inspirarão da banda na hora de compor alguma música ou fazer algum show. Lee Oliveira – Na época que fiz parte do RVM, levávamos as músicas praticamente prontas e pouco a pouco cada um acrescentava um detalhe em seu instrumento. Isso enriquecia nossos arranjos e composições. Atualmente, os músicos convidados contribuem com suas características instrumentais. No movimento de composição pessoal, gosto

Na realidade, acho que

nada atrapalha, exceto quando algum músico atrasa nos ensaios, ou shows… (risos). Revista Keyboard Brasil – Deixe suas considerações finais aos leitores da revista Keyboard. Lee Oliveira – O trabalho que venho desenvolvendo na minha carreira solo, com a colaboração dos amigos que compõe a Banda Lee Recorda, é a síntese de mais 40 anos de vida profissional artística que me proporcionou a maturidade musical que hoje tenho muita honra em apresentar ao público… Na minha historiografia, tenho a oportunidade de mesclar o rock progressivo com a rock rural, o que traz uma certa originalidade ao meu trabalho. Venho contando com amigos que vem colaborando com a difusão e divulgação do trabalho, a quem sou muito grato… Agradeço também à Revista Keyboard pela possibilidade de falar sobre o trabalho que temos realizado e ao Rogério Utrila pelo convite à esta entrevista… Muito obrigado a todos e fica o convite para que conheçam nosso trabalho! *Rogerio Utrila é apresentador e programador da web rádio Stay Rock Brazil Revista Keyboard Brasil / 85



30


Ponto de Vista

Monumento a Carlos Gomes em São Paulo pichado

BRASIL, UM PAÍS SEM AUTOESTIMA, POSSUI O SEU “COMPOSITOR N A C I O N A L” ? 88 / Revista Keyboard Brasil


ENTENDA PORQUE A IDEIA DE EXISTIR UM “COMPOSITOR NACIONAL” EM UMA SOCIEDADE COMO A NOSSA PARECE SOAR ESTRANHA. ** Por Maestro Osvaldo Colarusso

“Compositor nacional”: muitas nações possuem um

A

o chegar de trem em Praga, capital da República Tcheca, me chamou a atenção de que os avisos sobre

saídas e chegadas dos trens são sempre prefaciados pelas quatro primeiras notas do poema sinfônico “Vyšehrad” do compositor Bedřich Smetana (1824-1884).

Smetana foi o primeiro compositor nacionalista tcheco e sua luta pela independência de seu país, que na época fazia parte do Império Austríaco, lhe custou alguns anos de exílio na Suécia. “Vyšehrad” é o primeiro poema sinfônico do ciclo de seis poemas sinfônicos “Minha pátria”. “Vyšehrad” é um penhasco mítico para os tchecos (bem perto do centro de Praga), e acredita-se que lá está a essência do povo tcheco. Os notáveis tchecos estão todos enterrados lá, inclusive os maiores músicos do país como Smetana, Dvořák e Rafael Kubelik. A lógica da escolha da vinheta foi mesmo genial e deixa pouco espaço de dúvida: Bedřich Smetana é o compositor nacional tcheco.

Outro claro exemplo de um compositor nacional amado por seu povo é o finlandês Jean Sibelius (1865-1957). Ele foi um intelectual ativo para a independência da Finlândia que só aconteceu em 1917 (fazia parte do Império Russo) e utilizou em diversas de suas obras a inspiração da Kalevala, a epopeia nacional de seu país. Até que a Finlândia aderisse ao Euro em 2002, sua figura aparecia nas cédulas de 100 marcos finlandeses e, em 2015, quando se comemorou os 150 anos de seu nascimento, uma multidão de milhares de pessoas foi ao centro de Helsinque, mesmo com um frio congelante, cantar a melodia central do poema sinfônico “Finlândia”, composto por Sibelius nos anos de luta pela independência. Não há dúvida: Sibelius é o compositor nacional finlandês. Sem ser exaustivo no assunto encontramos exemplos similares (mesmo que não tão explícitos), na Noruega (Grieg), na Itália (Verdi), na Romênia (Enescu), na Dinamarca (Nielsen) e na Espanha (de Falla). Em certos países fica difícil definir apenas um compositor Revista Keyboard Brasil / 89


nia, e que não resolve problemas básicos de educação e cultura, parece soar estranha a ideia de existir um “compositor nacio-nal”. Até mesmo, do jeito que o brasileiro pensa e age, dar o título de compositor nacional a alguém pode fazer com que este criador seja mesmo visto como suspeito (ganhou propina para ocupar este “cargo”?). Chegamos à pergunta básica: como termos

um sentimento cívico frente a um compositor se o civismo é enxergado com estranheza? Na

Smetana foi o primeiro compositor nacionalista tcheco.

nacional, como na Rússia, que tem pelo menos três candidatos fortes para ser seu compositor nacional: Glinka, Mussorgsky ou Tchaikovsky. A pergunta

primeira metade do século XX, havia um “compositor nacional brasileiro”: Antônio Carlos Gomes (18361896). Motivos não faltavam: um compositor de família humilde nascido no interior de São Paulo (Campinas) conseguiu fama e respeito em importantes centros musicais europeus, e sua obra mais famosa, O Guarany, retratava um nativo brasileiro. Não é à toa que quando Getúlio Vargas instituiu, em 1938, a “A voz do Brasil” (aquela tradicional rede radiofônica diária das 19 horas, lembram?) a vinheta era, e permanece, a abertura da famosa ópera de Carlos Gomes. Ele teria sido destronado por Villa-Lobos? Talvez sim. Mas a

reverência que se vê em diversos países relevante para nós brasidecididamente não existe aqui. Sinal disso é que leiros sobre o assunto é: nem Carlos Gomes e nem Villa-Lobos estiveram existe nosso “compositor presentes na abertura da Olimpíada do Rio em 2016, e nacional”? O Brasil tem um “compositor nacional”? Em uma sociedade como a nossa que, em geral, vive e convive com hábitos que nos afastam de uma plena cidada-

numa sondagem feita por um telejornal, a maioria das pessoas nem tem ideia de que Carlos Gomes foi um compositor. Num país corrupto e sem autoestima creio mesmo que a questão de existir um “Compositor nacional” soa, para a maioria, tão aborrecida e distante quanto o programa “A voz do Brasil”.

* Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Esteve à frente de grandes orquestras, além de ter atuado com solistas do nível de Mikhail Rudi, Nelson Freire, Vadim Rudenko, Arnaldo Cohen, Arthur Moreira Lima, Gilberto Tinetti, David Garret, Cristian Budu, entre outros. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver atividades como professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil. ** Texto retirado do Blog Falando de Música, do jornal paranaense Gazeta do Povo. 90 / Revista Keyboard Brasil



Foto: Cathy Miller

Outros sons

Jean-Luc Ponty PARTE 2

O HOMEM QUE REINVENTOU O VIOLINO NA EDIÇÃO ANTERIOR, CONTEI UM POUCO SOBRE A TRAJETÓRIA DE JEAN LUC-PONTY DESDE O INÍCIO DE SUA CARREIRA AINDA NOS ANOS DE 1960, CHEGANDO ATÉ O FINAL DOS ANOS DE 1970. FALAREMOS AQUI COMO FOI A MÚSICA DE PONTY NOS ANOS 80, SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O VIOLINO E SUAS PARCERIAS ATÉ OS TEMPOS ATUAIS. * Por Sergio Ferraz

92 / Revista Keyboard Brasil


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década de 80 foi notadamente uso de ostinatos minimalistas marcada por um grande avanço criados por sequencers, acordes tecnológico na área musical. Os impressionistas fora de uma lógica

sintetizadores analógicos começavam a se despedir dando lugar aos teclados digitais. A música pop ganhava uma nova cara revestida por essa nova tecnologia e por uma mistura maior de influências. O

mundo da música tinha mudado. Jean Luc-Ponty foi sensível a essas mudanças. Seu som havia também mudado. Um exemplo disso é seu LP Mystical Adventures (Atlantic Records 1982), com destaque para as músicas “Rhythms of hope” com uma forte influência de reggae, e também a versão instrumental de “As”, de Steve Wonder. A percussão nesse álbum foi bastante valorizada com a participação do percussionista brasileiro Paulinho da Costa. Em 1985, Ponty lança o álbum Fables. Neste trabalho, ele toca pela primeira vez com seu violino MIDI feito pela ZETA. Na época ainda um protótipo, este instrumento acabou sendo desenvolvido com a participação direta de Ponty em seu projeto. Destacam-se as faixas “Infinite Pursuite”, “Radioactive Legacy”, “Perpetual Rondo” e a meditativa e impressionista “In the Kingdon of Peace”. Nessa época, Ponty aproxima o

som do seu violino e também seu fraseado a um trumpete através dos recursos MIDI. Outros elementos musicais que se tornaram material de trabalho nas composições de Ponty nos anos 80 foram o

tonal, influência de outros estilos de música popular como o reggae, a bossa nova, entre outros. Em 1987, Ponty lança o álbum The Gift Of Time, um trabalho com forte influência de reggae e bossa nova, além de uma sonoridade super tecnológica com muito sintetizadores synclavier. Esse LP é um ótimo exemplo dos elementos que mencionei acima. Destaque para as músicas: “New Resolutions”, “No More Doubts”, “Between Sea and Sky” e“Metamophosis”. No início dos anos de 1990, Jean Luc-Ponty surpreende mais uma vez com o album Tchokola (1991). Gravado todo com músicos africanos, esse trabalho traz uma sonoridade mais acústica deixando espaço para que a banda se destaque em seus instrumentos. Tchokola é um disco leve, de músicas claras belamente trabalhadas valorizando o ritmo e a sonoridade africana. O destaque aqui vai para as músicas: “Mam'mai”, “Tchokola”, “Mouna Bowa”, “Bamako”, “Cono” e “Battle Bop”. Jean Luc-Ponty, sempre atento a trabalhos em parcerias com grandes músicos, nos presenteou em 1995 com The Rite of Strings, uma parceria inédita com os virtuosos Stanley Clark (baixista fundador do Return to Forever) e Al Di Meola (guitarrista que teve sua origem no Return to Forever, além de trabalhos com John McLauglhin e Paco de Lucia). Esse Revista Keyboard Brasil / 93


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Sem dúvida, a trajetória de Jean Luc-Ponty escreve um novo capítulo na história do violino, seja pela sua contribuição musical ou pela sua colaboração no que diz respeito a tecnologia musical – Sergio Ferraz

belo trabalho traz Jean Luc mais para perto da sonoridade acústica, onde seu violino trabalha em conjunto com o violão de Di Meola e o baixo acústico de Stanley Clark. Sem dúvida, um disco que merece ser ouvido da primeira à última faixa. Jean Luc-Ponty deu continuidade a seus trabalhos em parceria com os mais diversos grupos, além do seu trabalho solo. Depois de The Rite of Strings, Ponty tocou com o pianista Chick Corea em uma edição especial do Grupo Return to Forever, com Stanley Clark e o baterista Lenny White. Em 2015, Ponty lançou mais um projeto especial, desta vez com Jon Anderson, vocalista da banda de rock progressivo YES. O álbum chama-se Better Late Than Never e reúne músicas de Jean Luc-Ponty com letras de Jon Anderson e músicas do Yes com novos arranjos e solos com o violino de Ponty. Sem dúvida, a trajetória de Jean Luc-Ponty escreve um novo capítulo na história do violino, seja pela sua contribuição musical ou pela sua colaboração no que diz respeito a tecnologia musical, Ponty colocou o violino

em um outro universo musical antes não explorado, abrindo as portas para que gerações seguintes possam desfrutar dessas conquistas musicais que dão provas mais uma vez do incrível e belo potencial deste instrumento e sua capacidade de se adaptar a novos tempos.

* Sergio Ferraz é violinista, tecladista e compositor. Bacharel em música pela UFPE, possui seis discos lançados até o momento.Também se dedica a composição de músicas Eletroacústica, Concreta e peças para orquestra, além de colaborador da Revista Keyboard Brasil. 94 / Revista Keyboard Brasil


Paulinho da Costa

Um dos músicos mais requisitados do cenário musical nacional e internacional. Poucos sabem que o hit “La Isla Bonita”, de Madonna, recebeu esse nome de um mecânico mexicano especializado em carros Mercedes Benz. Ou que a gravação original da música “Wanna Be Startin' Somethin'”, de Michael Jackson, tem uma cuíca no meio (aliás, o músico participou de todos os discos de Michael Jackson). Ou, ainda, que a batida que serve como base da faixa “Brazilian Rhyme", do Earth, Wind & Fire, foi feita com duas colheres de cozinha. O responsável por essas sutis presenças latinas em alguns dos principais sucessos da música pop mundial é o percussionista Paulinho da Costa, carioca do Irajá que gravou com mais de 900 músicos diferentes, como Lionel Ritchie, Aretha Franklin, Ella Fitzgerald, Elton John, Eric Clapton, Sting, Diana Krall e Bob Dylan, entre muitos outros. Muito famoso entre os músicos de todo o mundo, Paulinho, no entanto, é praticamente desconhecido entre o público brasileiro. Entre as canções mundialmente famosas em que Paulinho participou, está nada menos que "We Are the World", o hino composto por Michael Jackson e Lionel Ritchie que reuniu as principais estrelas do pop em uma campanha de combate à fome na África na década de 1980. O percussionista, aliás, foi o único brasileiro a participar do projeto. Outra canção mundialment conhecida é a trilha sonora do filme Dirty Dancing "(I've Had) The Time of My Life", gravada por Bill Medley e Jennifer Warnes. O músico viajou pela primeira vez para Los Angeles a convite de outro brasileiro famoso no exterior, o pianista Sergio Mendes, em 1972. Em 1976, fez sua primeira gravação, "Love Machine", do grupo The Miracles, com a lenda do soul Smokey Robinson. Mais tarde, Paulinho foi trabalhar com o trompetista Dizzy Gillespie, um dos maiores ícones do jazz, e depois com o produtor Norman Granz, um dos principais empresários ligados ao jazz nos EUA. Há mais de 40 anos Paulinho vive nos Estados Unidos. Revista Keyboard Brasil / 95


Homenagem

GEOFF NICHOLLS O GIGANTE VICKING E MEMBRO OBSCURO DO BLACK SABBATH

96 / Revista Keyboard Brasil


Uma grande e dolorosa perda na história do rock 80. Geoff Nicholls, tecladista do Black Sabbath e que acompanhou a banda por duas décadas e meia, morreu aos 68 anos. Nicholls estava lutando contra um câncer de pulmão. * Por Amyr Cantusio Jr.

O

tecladista Geoff Nicholls teve uma carreira de quatro décadas no rock, em gêneros que iam do pop psicodélico ao heavy metal - sendo mais conhecido neste último campo, como o tecladista de longa data da banda Black Sabbath (1979-2004). Nascido em Birmingham, Inglaterra, no ano de 1948, Nicholls tocou em várias bandas locais, durante sua adolescência, em meados dos anos 60. Começou como guitarrista e os seus ídolos incluíam Chuck Berry e Buddy Holly. Geoff também estudou piano e órgão, contudo jamais abandonou inteiramente a

guitarra, tornando-se um admirador de Jimi Hendrix. Em 1968, Nicholls foi recrutado para a segunda linha de curta duração da banda de pop psicodélico World of Oz, sucedendo David Kubinec nos teclados, bem como a adição de uma segunda guitarra ao seu som em algumas músicas. Em 1969, se juntou a Johnny Neal & the Starliners mas seu soft pop/rock não era aquilo que Geoff tinha em mente para sua carreira. Esse problema foi resolvido com a formação de um grupo de heavy metal originalmente conhecido como Bandylegs, que posteriormente mudaria seu nome Revista Keyboard Brasil / 97


98 / Revista Keyboard Brasil

Foto: Richard E. Aaron / Getty image

para Quartz. Em ambas as bandas, Geoff tocava teclado e guitarra. Da Quartz, o músico tornou-se membro oficial em 1974. Em 1976, a banda assinou um contrato com a Jet Records, lançando no ano seguinte seu primeiro álbum "Quartz", produzido por ninguém menos que Tony Iommi, que tocou flauta na musica "Purple Rain". Em 1979, Geoff deixou a banda a convite do Tony Iommi, para se juntar ao Black Sabbath como um segundo guitarrista para tocar baixo, no lugar de Geezer Butler, que havia saído. Neste ano, Ronnie James Dio, exRainbow, entrou na banda a convite do Iommi. Algum tempo depois, Geezer Butler retornou para comandar as quatro cordas do baixo, no lugar de Geoff Nicholls, que passou a tocar teclado. Nicholls então mudou para baixo quando Geezer Butler saiu brevemente, e então tornou-se o tecladista da banda após o retorno de Butler e a decisão de manter o nome do grupo. A primeira aparição de Nicholls em um álbum de Black Sabbath foi em "Heaven and Hell" (1980), e assim, foi creditado como tecladista em cada lançamento do Sabbath a partir de então até 2013, embora não fosse um membro oficial até 1986. Embora seu papel principal com Sabbath fosse no teclado, Nicholls também tocou guitarra algumas vezes na base. Por exemplo, durante o solo de Iommi em " Snowblind " e algumas faixas durante as turnês Headless Cross (1989) e Forbidden (1995). Além de nem sempre ser creditado como um membro completo da banda, Nicholls raramente aparecia no palco


Somente para constar, o Black Sabbath foi um banda decisiva no surgimento do heavy metal, no começo dos anos 1970, com suas guitarras graves e obscuras, acompanhadas de letras sobre ocultismo). Aqui, Geoff Nicholls (primeiro à direita), tecladista de longa data de Black Sabbath.

Revista Keyboard Brasil / 99


propriamente dito durante os shows. Em vez disso, costumava ficar nos bastidores. Uma dessas raras exceções foi na turnê em apoio ao álbum Seventh Star (1986), onde tocou no palco.

Geoff também realizou parcerias com o vocalista Tony Martin e o baterista Cozy Powell em seus respectivos projetos solo. Descanse em paz!

*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.

05 / Revista Keyboard Brasil



https://soundcloud.com/vigans https://www.youtube.com/user/VigansOficial


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