Revista
Keyboard ANO 4 :: 2017 :: nº 50 ::
:: Seu canal de comunicação com a boa música!
Brasil
FA B I O RIBEIRO
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Eu prefiro encarar a música como uma expressão da alma!
ESPAÇO GOSPEL:
ORIENTE-SE
A música do ponto de vista evangélico
As escalas e a tonalidade de Blues
LANÇAMENTO:
ACONTECEU:
Banda Tomada lança‘Hoje’
Semana Internacional de Piano
Editorial Ouça música! Boa música! O tipo que sua alma precisa! Salve músico e apreciador da boa música! Há quase cinco anos, quando resolvemos por em prática as ideias que rondavam nossas cabeças, sabíamos que o caminho seria longo. Tamanha dedicação e a busca incessante para oferecer sempre o melhor abriu caminhos para grandes conquistas: uma equipe de grandes colaboradores dos mais variados estilos, reconhecimento a nível mundial e grandes projetos musicais a caminho. Por isso a Revista Keyboard Brasil usa, como slogan, ''seu canal de comunicação com a boa música'', porque é um canal onde a boa música - feita por bons profissionais - é tratada com dignidade. Dessa maneira convido o leitor a educar os ouvidos para a boa música, abrindo nossa edição com uma grande matéria sobre um dos melhores tecladistas de Rock do país, Fabio Ribeiro - grande conhecedor de tecnologia musical. Para os estudantes ou aqueles que buscam conhecimento como forma de enriquecimento cultural, temos as dicas de estudos com Amyr Cantusio Jr e Jeff Gardner. Assuntos sobre o mercado da música em parceria com Anafima e grandes marcas como a Shure também se encontram este mês. Também temos a preciosa colaboração de Luiz Carlos Rigo Uhlik, maestro Osvaldo
04 / Revista Keyboard Brasil
Heloísa Godoy Fagundes - Publisher
Colarusso, Hamilton de Oliveira, Sergio Ferraz, Rafael Sanit, Bruno Freitas e a primeira matéria de Evaristo Fernandes para o Espaço Gospel. Aliás, é essa enriquecedora colaboração que faz da Revista Keyboard Brasil uma publicação séria e de qualidade. Por isso, digo e repito: aproveite cada página porque a música, para nossa equipe, é a inspiração para a vida! Também não deixo de finalizar a você músico: aproveite! Peça a tabela com valores promocionais para divulgação em nossas publicações através do email contato@keyboard.art.br. Clique, curta, compartilhe e faça seu comentário! Excelente leitura e fique com Deus!
Leiam a nova Keyboard! O amigo Amyr Cantusio Jr. escreveu uma matéria sobre o meu trabalho na página 79. Muito obrigado pelo espaço Amyr e Editora Keyboard. Abraços. Fabiano Negri— via Facebook Mais uma bela revista!! Amyr Cantusio Jr. — via Facebook É com grande satisfação que compartilho com vocês a parceria que fechei com a revista Keyboard Brasil, onde estarei a partir deste mês de Agosto, assinando a coluna Gospel da revista junto com Rafael Sanit e Zeca Quintanilha. Nesta edição inaugural tem a nossa apresentação. Lançada no dia 21/08, até este momento já atingiu mais de 60.000 downloads. BAIXE A REVISTA VOCÊ TAMBÉM. É GRATUITO! Evaristo Fernandes — via Facebook Esse mês tive a felicidade de participar em uma das edições da Revista Keyboard Brasil. Agradeço de coração ao Bruno Freitas e a Editora Keyboard. (Na seção PAPO DE TECLADISTA, com o artigo Estética e organização do tecladista, escrito por Bruno Freitas). Alex Sachi — via Facebook Helô minha amiga, parabéns mais uma vez pelo brilhante trabalho! Você é incrível! Samuel Quinto Feitosa— via Facebook Ebaaa! Luciel Rodrigues — via Facebook
Espaço do Leitor Obrigado minha amiga Helô por mais uma edição. Muito feliz em fazer parte desse time!! Hamilton de Oliveira — via Facebook Que presentão de aniversário adiantado da Revista Keyboard Brasil. Matéria de capa onde falo do meu trabalho com os Big Chiefs e das minhas andanças pelo mundo. Luciano Leães — via Facebook Baita matéria linda com um grande do piano blues - Luciano Leães - músico incrível e pessoa mega bacana!!!! Catarina Domenici — via Facebook Olha ae pessoal!! Nosso produtor musical Luciano Leães, nesta semana foi capa da Revista Keyboard Brasil, uma das revistas mais importante do meio musical!!! Para nós foi um grande orgulho contar com um profissional deste nível na produção do nosso CD. Parabéns Luciano Leães, mais que merecido!!! Se você é fã de piano, aproveita e conhece o trabalho dele também!!! Paola e Gabriel - Piano e Voz — via Facebook Bom amigos. Se era aniversário, se era a despedida para a turnê pela Europa e EUA, agora temos a consagração nacional com a reportagem de capa com o Luciano Leaes, da maior revista de piano e teclados do Brasil, a Revista Keyboard Brasil. O Show já prometia, agora é imperdível. Não é o pai coruja falando. Abraços. Paulo Leaes — via Facebook Revista Keyboard Brasil / 05
Setembro / 2017
Expediente Revista Keyboard Brasil é uma publicação mensal digital gratuita da Keyboard Editora Musical. Diretor: maestro Marcelo D. Fagundes Publisher: Heloísa C. Godoy Capa: Anderson Dorneles Caricaturas: André Luiz Marketing e Publicidade: Keyboard Editora Musical Correspondências /Envio de material: Rua Rangel Pestana, 1044 - centro - Jundiaí / S.P. CEP: 13.201-000 Central de Atendimento da Revista Keyboard Brasil: contato@keyboard.art.br
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Capa: Duca M
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Anuncie na Revista Keyboard Brasil: contato@keyboard.art.br Colaboradores da Revista Keyboard Brasil: Mateus Schanoski / maestro Osvaldo Colarusso Amyr Cantusio Jr. / Murilo Muraah Luiz Carlos Rigo Uhlik / Daniel Baaran Joêzer Mendonça / Marina Ribeiro Hamilton de Oliveira / Patrícia Santos / Rafael Sanit Sergio Ferraz / Bruno de Freitas / Antonio Carlos da Fonseca Barbosa As matérias desta edição podem ser utilizadas em outras mídias ou veículos desde que citada a fonte. Matérias assinadas não expressam obrigatoriamente a opinião da Keyboard Editora Musical.
06 / Revista Keyboard Brasil
Índice
10
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34 ACONTECEU: Semana Internacional de Piano - por Joca Vidal
MATÉRIA DE CAPA: DICA TÉCNICA: Fabio Ribeiro - por Heloísa Godoy Conexão Brasil-Holanda - por Amyr Cantusio Jr.
36 LANÇAMENTO: Hoje, da Banda Tomada Redação
PAPO DE TECLADISTA: Espaço Gospel - por Bruno Freitas
50 OUTROS SONS: John Coltrane - Sergio Ferraz
76 EXPERIÊNCIAS: Meu amigo, o piano por Rafael Sanit
48
42
AGENDA MUSICAL: O Fantasma da Ópera por Virtuosi
56 CRÍTICA MUSICAL: Trio Paineiras - por Sergio Ferraz
78 PERFIL:
Fabiano Negri - por Jeff Gardner
80 ENFOQUE: Brasil de Tuhu - por Osvaldo Colarusso
60 A VISTA DO MEU PONTO:
Piano, o rei dos instrumentos / final - por Luiz Carlos Uhlik
80
64 ESPAÇO GOSPEL: Jeff Gardner por Evaristo Fernandes
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MERCADO: ENFOQUE: Shure participa da Brasil de Tuhu - por Amyr Cantusio Jr. - por Hamilton de Oliveira
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MERCADO: Shure participa da Set Expo 2017 - Redação Revista Keyboard Brasil / 07
MatĂŠria de Capa
08 / Revista Keyboard Brasil
Foto: Arquivo pessoal
FABIO RIBEIRO REFERÊNCIA EM TECLADOS NO ROCK
PRODUTOR MUSICAL, COMPOSITOR E TECLADISTA. FORMADO EM PIANO ERUDITO, COM PASSAGENS POR BANDAS COMO ANNUBIS, DESEQUILÍBRIOS, A CHAVE DO SOL, VIOLETA DE OUTONO E SHAMAN. INGRESSOU COMO TECLADISTA NA PRIMEIRA FORMAÇÃO DA BANDA ANGRA, REALIZANDO OS PRIMEIROS CONCERTOS DE SUA HISTÓRIA. INICIOU AINDA MUITO JOVEM SEUS TRABALHOS COMO CONSULTOR DE TECNOLOGIA MUSICAL, TORNANDO-SE GRANDE CONHECEDOR NO ASSUNTO. POR MAIS DE DUAS DÉCADAS, TEM SIDO RESPONSÁVEL PELAS VERSÕES EM PORTUGUÊS DOS MANUAIS DE OPERAÇÃO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS E DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS DE VÁRIAS EMPRESAS COMO KORG, VOX, CLAVIA (NORD), SHURE, ZOOM, KAWAI, MACKIE, MARSHALL, FENDER, ENTRE OUTRAS. ATUALMENTE, FABIO É TECLADISTA DA BANDA REMOVE SILENCE, COM A QUAL FOI INDICADO AO GRAMMY E É UM DOS ARTISTAS KORG NO BRASIL. EM 2002, INAUGUROU THE BRAINLESS BROTHERS, SEU ESTÚDIO DE PRODUÇÃO E GRAVAÇÃO, ONDE RECENTEMENTE PASSOU A FUNCIONAR TAMBÉM SUA PRODUTORA, A ADDICTIVE WAVE. PERIODICAMENTE, TAMBÉM ORGANIZA AULAS E WORKSHOPS SOBRE TECNOLOGIA MUSICAL E PROGRAMAÇÃO DE SINTETIZADORES. CONHEÇA A BRILHANTE TRAJETÓRIA DO MÚSICO, ACOMPANHADA DE UMA ENTREVISTA EXCLUSIVA. *Por Heloísa Godoy Revista Keyboard Brasil / 09
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ascido em São Paulo, Fabio Ribeiro mostrou interesse musical desde uma idade muito precoce. Encorajado por seus pais, ambos músicos, passou a ter aulas de piano clássico em 1975, formando-se em 1986. No início da década de oitenta, motivado a tocar com outros músicos, Fabio montou sua primeira banda, o quarteto progressivo instrumental Annubis. Ironicamente, o instrumento com o qual ingressou na banda foi uma guitarra elétrica. Em 1985, começou a tocar teclados eletrônicos. Neste mesmo ano, iniciou seus estudos em música eletrônica, programação de sintetizadores e tecnologia musical. No início de 1986, Fabio deixou seu primeiro grupo e, juntamente com outros músicos, fundou a banda de fusion-progmetal Desequilíbrios, com a qual continuou a tocar até o início dos anos noventa e gravou um álbum de mesmo nome. Durante esse mesmo período, envolveu-se com muitos projetos musicais, gravando e tocando ao vivo com bandas como A Chave do Sol, Overdose, Clavion, III Milênio e Anjos da Noite. Logo em seguida, também começou a ensinar tecnologia musical. Seu primeiro projeto solo, o álbum ”Blezqi Zatsaz - Rise And Fall Of Passional Sanity", foi lançado em 1991. Em 1993, o tecladista juntou-se à primeira formação da banda de heavy metal Angra, apresentando-se no primeiro show do grupo. Ao mesmo tempo, começou a trabalhar como consultor, especialista em produtos e programador
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para empresas como Korg e posteriormente Kawai, Gulbransen, Music Systems Research, PianoDisc e Clavia (Nord). Durante muitos anos, escreveu artigos sobre música e tecnologia para diversas revistas especializadas. Entre 1997 e 1999, o músico também participou de diversos concertos e álbuns do grupo psicodélico-progressivo Violeta de Outono. Fabio Ribeiro voltou a tocar com a banda Angra em 1999, para a Fireworks Tour. A banda percorreu o Brasil, América Latina, Europa, entre outros territórios. Em 2000, o selo francês Musea reeditou o álbum ”Blezqi Zatsaz - Rise and Fall Of Passional Sanity" com material extra. Outros álbuns anteriores com o tecladista foram relançados em CD durante esse período também. Em 2001, ingressou na banda Shaman, um grupo de metal pesado formado por ex-membros do Angra. Fabio participou como tecladista da turnê de estréia da banda no Brasil e no mundo e da gravação do primeiro álbum - "Ritual". O álbum foi lançado em 16 países e figurou em diversas das melhores listas da mídia especializada em todo o mundo. Entre 2002 e 2004, a banda percorreu diversos países, com mais de 200 concertos, culminando com a gravação do CD/DVD ao vivo ''Shaman - RituAlive'' no Credicard Hall em São Paulo, lançado pela Universal Music. Em 2002, o tecladista lançou seu segundo álbum solo, "Blezqi Zatsaz - The Tide Turns". O álbum foi lançado no Brasil, EUA e Europa.
Também em 2002, o sonho de ter um estúdio de produção e gravação se realizou com a inauguração do The Brainless Brothers. Muitos projetos foram desenvolvidos no estúdio desde então, como Shaman, Henceforth, Violeta de Outono, Hedgear e, mais recentemente, Andre Matos, REMOVE SILENCE e Motorguts. Em 2005, Fabio gravou com Shaman seu segundo álbum de estúdio - Reason - e posteriormente participou da turnê mundial, que estendeu-se até maio de 2006. De 2006 a 2010, Fabio Ribeiro foi tecladista da banda do vocalista Andre Matos, juntamente com os ex-integrantes de Shaman - Andre Matos, Hugo e Luis Mariutti, além do guitarrista Andre 'Zaza' Hernandes e do baterista Eloy Casagrande (Sepultura). O primeiro álbum da banda "Time To Be Free", produzido por Roy Z e Sascha Paeth, foi lançado no Brasil, Europa, Japão, Taiwan, Coreia, Tailândia e Rússia. O segundo álbum - "Mentalize" - foi lançado em 2009, no Japão, Europa e Brasil. Em 2007, Fabio formou uma nova banda - REMOVE SILENCE - sendo seus integrantes: Ale Souza (Blezqi Zatsaz) - baixista/vocalista; Hugo Mariutti (Shaman, Andre Matos) - guitarrista/ vocalista; e Edu Cominato (Jeff Scott Soto) baterista/vocalista. O álbum de estreia "Fade" - foi lançado no Brasil pelo selo Dynamo Records e também nos EUA, Canadá e México (pelo selo Metaledge Records), acompanhado de um single/ videoclip - "Fade" - e do curta-metragem em vídeo "Bats In The Belfry". Em 2010, REMOVE SILENCE foi
indicado ao GRAMMY nas categorias "BEST ROCK ALBUM" com "Fade" e "BEST HARD ROCK PERFORMANCE" com a música "Pressure". Em 2012, REMOVE SILENCE lançou seu segundo álbum - "Stupid Human Atrocity" - e um videoclip "Wormstation". Também em 2012, "Seven" o álbum de estreia da banda Motorguts foi lançado. Produzido por Fabio Ribeiro e Ale Souza, com Luis Mariutti (Baixo - Angra, Shaman, Andre Matos), Rafael Rosa (Bateria - Andre Matos), Fabio Colombini (Vocais) e Marcelo Araujo (Guitarras). Em 2013, REMOVE SILENCE lançou o EP "Little Piece Of Heaven", com mais sete faixas, incluindo remixes e novas versões de músicas de "S.H.A.", assim como material totalmente novo. Além disso, uma série de vídeos foi lançada, com a banda tocando músicas do álbum "S.H.A." no estúdio de ensaio. Em 2015, REMOVE SILENCE lançou outro EP chamado "Irreversible", com seis novas faixas e nova formação: Fabio Ribeiro (Teclados, Sintetizadores), Ale Souza (Baixo/Vocais/Sintetizadores), Danilo Carpigiani (Guitarras/Vocais) e Leão Baeta (Bateria). Um videoclip para a faixa título foi lançado logo em seguida. Em 2017, a banda gravou todas as trilhas e vinhetas para o cultuado programa de rádio RAMONA 89 (89FM, São Paulo). Um novo single e videoclipe - "Raw" - foi lançado em junho de 2017. Agora, a banda está gravando o próximo EP, que será lançado em breve. Leia, a seguir, a entrevista exclusiva. Revista Keyboard Brasil / 11
Revista Keyboard Brasil – Seus pais eram músicos. O que se ouvia na sua infância? Fabio Ribeiro: Meu pai lecionava violão erudito e minha mãe tocava piano. Desde muito pequeno, a música sempre foi uma constante aqui em casa. Lembro-me dos ensaios do meu pai com seu grupo de chorinho até altas horas da madrugada. Eu acompanhava até o final, diversas vezes por semana. Então, comecei a apreciar música muito cedo mesmo, principalmente música clássica e chorinho. Hoje, observando os rumos culturais duvidosos que nosso país tem tomado nos últimos anos, certifico-me ainda mais que muito do que a gente é vem de nossos pais. Nada como a influência e a boa educação deles para nos tornarmos pessoas melhores para a vida que vem a seguir. Revista Keyboard Brasil – Você iniciou seus estudos de piano aos 5 anos de idade. O que te fez chamar a atenção para este instrumento? Conte-nos como foi esse início. Fabio Ribeiro: Quando eu nasci, meu pai disse para minha mãe que eu iria tocar um instrumento musical, não importando quando e qual, mas era o que ele mais queria. Por volta dos meus cinco anos de idade, um amiguinho ganhou um piano de brinquedo e eu fiquei obcecado. Obviamente, como toda criança, pedi incessantemente aos meus pais para que 12 / Revista Keyboard Brasil
Foto: Luka Salomão
Entrevista
Fabio Ribeiro é tecladista da banda REMOVE SILENCE, produtor musical e especialista em instrumentos e equipamentos musicais de importantes marcas.
me dessem um também. Foi a oportunidade de ouro para o meu pai, que ao invés de comprar o tal pianinho foi mais além. Lembro-me muito bem do dia da surpresa, quando um caminhão descarregou aqui em casa um piano de verdade. No mesmo momento me colocaram na escola e no final do ano fiz meu primeiro "concerto ao vivo", participando do recital anual dos alunos, junto com minha mãe, que foi oradora e tocou também. Ela estava super nervosa, talvez por minha causa. E eu, todo tranquilão como disseram, fiz minha parte numa boa. Acho que desde cedo nunca tive medo do público, tudo foi muito natural e acabei descobrindo rápido o que eu queria fazer da vida. Revista Keyboard Brasil – Em muitas entrevistas aqui realizadas percebemos muitos casos de músicos que concluíram uma formação erudita em piano e depois seguiram outro caminho. Li que você foi até guitarrista durante um certo tempo. Fale sobre isso. Fabio Ribeiro: Minha primeira experiência com música eletrônica foi por volta dos nove anos de idade, com a trilha sonora do filme A Laranja Mecânica de Stanley Kubrick, executada com maestria por um dos maiores ícones na área - Wendy (na época Walter) Carlos. Como sempre gostei da parte técnica do som também, sempre brincado com os amigos de "programa de rádio" e experimentando com os gravadores do meu pai, eu era o responsável pelas trilhas sonoras das peças de teatro da escola. Certa vez, uma peça precisava da tal "William Tell Overture" de Rossini, a famosa música da cavalaria como chamam por aí. Fui com minha mãe procurar a faixa nas lojas de discos e o vendedor veio com este LP. Usamos na peça e tudo encaixou direitinho. Mas eu, que já estava estudando música clássica mais a fundo e ouvindo com mais profundidade o som das orquestras, fiquei muito intrigado com a sonoridade das peças de Beethoven e Rossini que constavam no álbum, tentando descobrir de onde vinham aqueles sons tão diferentes. Descobri somente mais tarde. Certamente minha paixão por Revista Keyboard Brasil / 13
teclados eletrônicos veio desta experiência, mesmo entrando na área somente anos depois. Já o rock veio no final da infância. Sou filho único, mas sempre cercado de amigos. E sempre tem aquele amigo com um irmão mais velho que ouve coisas diferentes. Um amigo da escola tinha duas irmãs mais velhas que eram piradas em Queen, Pink Floyd e Alan Parsons, a gente ficava ouvindo os discos o dia inteiro. Outro daqui da rua também tinha um irmão viciado em Led Zeppelin e Deep Purple. De lá vieram as primeiras cópias em fita cassette e o início do mergulho nesta área. Saí comprando um disco atrás do outro e enquanto não tivesse completado a coleção de álbuns de uma banda, não passava para outra. Iron Maiden, Van Halen, Black Sabbath, os clássicos da época. A guitarra veio por acaso, talvez pela influência do meu pai nas seis cordas também. Mas o que me levou a me interessar e querer aprender foram os primeiros anúncios do Rock'n'Rio de 1985, que veiculavam na TV meses antes do festival. Nesta época, eu já era fã de carteirinha do Iron Maiden, influenciado por outro amigo mais velho. Resolvi que queria experimentar. Meu pai me ajudou a tocar algumas coisas de Randy Rhoads e Yngwie Malmsteen depois que mostrei estes sons e ele curtiu muito, devido às influências clássicas destes guitarristas. Então, entrei na minha primeira banda - Annubis - tentando tocar guitarra. Mas, além da banda já ter outro guitarrista, não demorou muito para todos perceberem que talvez eu devesse me dedicar ao teclado, observando meus 14 / Revista Keyboard Brasil
dotes em um instrumento e no outro. Na verdade me obrigaram, eu era muito ruim na guitarra. Foi aí que comprei meu primeiro teclado eletrônico. Revista Keyboard Brasil – Quais são suas influências musicais? Fabio Ribeiro: Desde o começo, eu nunca me prendi a estilos musicais específicos. Obviamente, a música clássica pesa bastante, mas sempre tive um gosto muito variado. Com quinze anos, o Heavy Metal foi muito influente, mas com dezessete já ouvia Frank Zappa sem parar. Foi um gênio, um dos meus artistas preferidos até hoje. Parte da minha ironia musical e pessoal deve ter vindo dele. Ouvi bastante coisa de Rock Progressivo, certamente por causa do uso massivo dos teclados - Yes, Gentle Giant, ELP, Genesis, os clássicos. Ouvi muito Marillion também, curto muito o estilo do tecladista Mark Kelly. Nunca fui muito chegado ao Jazz, embora admire imensamente o estilo e quem o pratica. Prefiro a energia do Rock. Além de Beethoven e Bach, acho que os músicos que mais me influenciaram como tecladista e compositor foram Wendy Carlos, Keith Emerson, Rick Wakeman e Jon Lord. Não me impressiono com os tecladistas mais "atuais" que elevam a técnica acima da composição, da atitude ou da sonoridade de seus instrumentos, prefiro encarar a música como uma expressão da alma, algo que deve tocar as pessoas em seus sentimentos através do uso sensato das ondas sonoras. Revista Keyboard Brasil – Você tem
passagens importantes em bandas de grande expressão. Como é para você ser considerado uma referência quando se fala em tecladista de rock no Brasil? Fabio Ribeiro: Fico imensamente lisonjeado! Não temos uma quantidade muito grande de tecladistas de rock de expressão no Brasil, é algo muito diferente da enxurrada de "guitar heroes" que brota a cada esquina. Destacar-se nesta área é algo muito gratificante e recompensador, devido às óbvias dificuldades de exposição geradas por certas "manias" do mercado de rock e também aos problemas de recursos financeiros. Teclado não é um instrumento barato e seus recursos, por serem infinitos, não são de administração tão fácil. Entendo também que a guitarra é um instrumento mais "sexy" e que os jovens iniciantes se inclinem para esta área, como eu também fiz. Mas, de longe, o arsenal de ferramentas de composição e geração de som chamado atualmente de "teclado" é, de longe, algo muito mais divertido e proveitoso! Então, tratando-se principalmente de Brasil, acho que tive muita sorte e agradeço muito a todos que me trouxeram até aqui. Os músicos e bandas com os quais toquei que me projetaram e, principalmente, aos admiradores, sem os quais nada teria acontecido. Revista Keyboard Brasil – Você começou no rock progressivo instrumental com a banda Annubis. Como foi a transição para o Heavy Metal? Fabio Ribeiro: O salto para o estilo ocorreu com A Chave do Sol. Minha namorada na época estudava com um dos
roadies da banda e soube que estavam procurando um tecladista. Enviei o material e me chamaram. E a coisa não parou mais (risos). Como éramos mais raros ainda naquela época, toquei e gravei com um monte de gente a partir de então. Mas, o Heavy Metal parece ser um carma. É engraçado para mim ser notado e evidenciado frequentemente como tecladista de Heavy Metal, embora o motivo pareça ser óbvio. Sim, eu gosto de Heavy Metal até hoje e pratiquei muito o estilo nas bandas pelas quais passei, mas faz muito tempo que o estilo deixou de ser tão atraente ao meu gosto, talvez desde o final da adolescência, quando comecei a procurar mais diversidade musical. O trabalho me lançou mais para esta área do que a minha admiração pelo estilo. Minhas duas primeiras bandas flertavam com o Heavy Metal, mas moderadamente, tendendo mais para o Progressivo (o Clássico, não o do termo Prog-Metal, que sequer existia) e o Fusion. Mas foi a partir de A Chave do Sol que as pessoas me conheceram. Mais ainda, após o Angra e o Shaman. Na verdade, o estilo como é tratado pela maioria das bandas e fãs atualmente é limitante para mim, não existe espaço suficiente para a riqueza de sons do instrumento e para a criatividade. E não estou criticando na maioria dos casos, seria também estranho inserir com total liberdade instrumentos e técnicas tradicionais do Metal em diversos outros estilos musicais. A única coisa que me incomoda de verdade é o abuso de uso de teclados em determinadas bandas, sem a presença de um músico realmente Revista Keyboard Brasil / 15
Foto: Amanda Lousada
Os integrantes da banda Remove Silence: Leo Baeta, Danilo Carpigiani, Fabio Ribeiro e Ale Souza.
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Revista Keyboard Brasil / 17
conhecedor do assunto em sua formação oficial, compondo e opinando sobre o som. Isto compromete a sonoridade final, a menos que o outro instrumentista que se arrisca nesta área tenha plena experiência, tanto quanto em seu instrumento de origem. Eu não sou vocalista, nem baterista, por exemplo, então se minha banda precisa de bons vocais e bateria de qualidade, contará com estes músicos em sua formação, mesmo que já tenha dez outros integrantes diferentes. Além disso, não contar com um tecladista no palco, em meio a uma saraivada de sons do instrumento reproduzidos por backing tracks, é um desrespeito com o músico e uma falta de consideração com os admiradores que procuram por um som sincero e verdadeiro. Cada um tem sua história, mas a minha com o Heavy Metal terminou com causas amplamente fundadas nestes aspectos, principalmente a falta de liberdade artística e musical. Pode até parecer um caso isolado, mas várias coisas sempre me deixaram com a pulga atrás da orelha. Desde que o Ozzy colocou o Don Airey vestido de frade escondidinho numa torre de castelo, a coisa começou a ficar meio engraçada. O anãozinho enforcado com o mesmo traje de frade tinha mais destaque no show que o cara (risos)! Revista Keyboard Brasil – Conte um pouco sobre sua trajetória musical e as bandas das quais você participou. Fabio Ribeiro: Me diverti muito em todas elas, cada uma teve seu papel importante para que eu pudesse chegar até aqui. As primeiras são sempre as mais nostálgicas, 18 / Revista Keyboard Brasil
responsáveis pelas experiências mais intensas. No Annubis éramos todos muito novos, entre 15 e 18 anos. Então, embora o som fosse sério, a diversão obviamente se misturava o tempo todo. E misturou-se de forma trágica também, pois me dispensaram da banda quando me relacionei com a menina que era a paixão platônica do baterista (risos). Nos encontramos recentemente e estamos planejando um retorno fonográfico com material da época trazido para os dias atuais. O baterista citou o caso e rachamos de rir. A banda Desequilíbrios foi o início da liberdade de expressão musical, o estilo era tão variado que acabou sendo muito importante para minha formação como compositor e tecladista. E era uma "banda de protesto" também, já naquela época, tratando de assuntos passionais, políticos e existenciais de uma forma rara para músicos da nossa idade. A capa do nosso único disco foi avassaladora para a gravadora, especializada em rock progressivo e acostumada com borboletas e cogumelos bonitinhos. Hoje teria grande expressão no país ou seria perseguida até a extinção devido ao teor das letras. O REMOVE SILENCE tem um pouco desta alma ainda, embora com menos agressividade e intolerância. A Chave do Sol e Anjos da Noite marcaram minha entrada no Heavy Metal/Hard Rock. Foram de extrema importância, pois me projetaram inicialmente no mercado e trouxeram muitos frutos paralelos dos quais usufruo até hoje. Angra e Shaman foram ainda mais importantes, não somente para a projeção, mas também para um melhor
entendimento do mercado de música profissional. Aprendi muito nestes mais de vinte e cinco anos e alguns dos músicos se tornaram grandes amigos que considero demais, como é o caso do baixista Luis Mariutti e do baterista Rafael Rosa. Muito mais que parceiros de profissão, são amigos para a vida toda. Minha passagem pelo Violeta de Outono foi curta, porém intensa. Em pouco mais de dois anos gravamos cerca de cinco registros fonográficos, incluindo um álbum ao vivo, e fizemos muitos shows juntos. São pessoas muito boas de convívio e adoro o som que fazem, sem pretensões e com muita margem para a criatividade. REMOVE SILENCE é minha válvula de escape desde que a banda foi formada. Certamente, entre todas, esta é a banda na qual tenho mais liberdade musical, pois não respeitamos rótulos ou mercados, fazemos o que gostamos com sinceridade e no momento isso é tudo o que importa para mim. Nunca me senti tão bem em um projeto musical como agora. Revista Keyboard Brasil – Enumere os maiores shows dos quais você participou até hoje. Fabio Ribeiro: Um show que me lembro muito bem e que certamente me gerou o maior frio na barriga de todos os tempos foi o meu primeiro na turnê Fireworks com o Angra, no festival EuRock eenneS de Belfort, na França. Eu havia acabado de voltar para a banda, em caso de emergência, pois o tecladista anterior havia saído de uma hora para a outra.
Tinha feito apenas um show uma semana antes, em Belo Horizonte. Ainda estava lendo partituras, pois não me lembrava das músicas antigas que tinham mudado de arranjo e também não tinha tido tempo de memorizar as inúmeras músicas novas. As partituras de algumas foram escritas horas antes, no camarim. Não há sensação pior que ouvir milhares de pessoas gritando "Angrrrrra! Angrrrrra!" e você na escada para o palco tentando lembrar se tal som é de tal jeito ou não. Se tal nota é mesmo tal nota ou pior, se tal timbre está certo na hora de trocar de um teclado para o outro no palco. Eu assumo que sou um cara de "laboratório", jamais fui um "session musician" de improviso. Prefiro me preparar e dar o meu melhor com a máxima qualidade possível, de técnica musical e de som. Então a situação foi angustiante. Mas correu tudo bem e no final foi um dos shows mais legais que já fiz. O show no famoso festival Wacken Open Air na Alemanha, pouco tempo depois, me causou sensações similares, mas eu já estava mais seguro com a complexidade toda em que havia me metido. Outro que vai ficar na memória para sempre foi a gravação do DVD "RituAlive" com o Shaman no Credicard Hall em São Paulo. Terceiro maior público da casa até então, mais de oito mil pessoas, fãs da banda, não o público variado dos festivais. Tudo foi detalhadamente preparado, com grandes profissionais e muito apoio de diversas fontes. Foi o maior show de uma banda de Heavy Metal brasileira realizado no Brasil. Embora crítico, pois foi a única gravação Revista Keyboard Brasil / 19
para o DVD, foi um show relaxante e muito divertido, com participações especiais de pessoas muito legais também. Tudo correu impecavelmente bem e a sensação de dever cumprido foi uma das maiores que já tive. Revista Keyboard Brasil – Muito se tem comentado atualmente sobre as tecnologias utilizadas na música. Você já faz uso de iPad há algum tempo também em sua banda REMOVE SILENCE. Em que momento isso surgiu como ferramenta musical para você? Jordan Rudess foi nossa matéria da capa de julho. Assim como você, é um dos pouquíssimos tecladistas que investem em inovações tecnológicas. Falando sobre isso, quais dicas você pode dar sobre as novidades tecnológicas para nossos leitores tecladistas? Fabio Ribeiro: Estamos em uma era na qual se você não se atualizar rapidamente, fica para trás com muito mais velocidade que antes. Conheci o Jordan em um de seus workshops no Brasil, no qual fui responsável pela tradução simultânea para o público no teatro. Ele me mostrou alguns dos seus apps personalizados durante a passagem de som. Já tinha conhecimento sobre os aplicativos musicais para iOS e estava começando a usar. Quem me sugeriu foi meu sócio no estúdio, o baixista/vocalista do REMOVE SILENCE Ale Souza. Eu estava para comprar mais alguns equipamentos dedicados e ele veio com esta ideia, que já vinha passando despercebida, tanto que meu primeiro iPad foi o de terceira 20 / Revista Keyboard Brasil
geração. A coisa pegou de tal jeito que acabou se tornando quase um vício, o que de certa forma é perigoso financeiramente quando se trata de produtos Apple, geralmente caros aqui na terrinha do imposto e dos abusos descarados contra o desenvolvimento de cultura. No início acabei comprando um modelo atrás do outro, mas hoje tenho a consciência de que é legal deixar passar uma geração ou outra antes de atualizar. Hoje tenho cerca de 250 apps instalados em meus dispositivos. Os aparelhos são extremamente duráveis e confiáveis, uso os mesmos iPads 3 e 4 nos shows até hoje. Os outros mais recentes ficam no estúdio, possuem mais processamento para gravações e trabalhos mais pesados com muitos apps simultâneos, DAWs, processadores de efeito, etc. Para o serviço ao vivo, os modelos anteriores dão muito bem conta do recado. Este é realmente um universo maravilhoso, prático e de excelente custo-benefício. Fazia muito tempo que eu não me empolgava tanto com o uso de um equipamento musical. Atualmente, a diversidade e a quantidade de aplicativos realmente permitem seu uso como único dispositivo musical para compor, arranjar e tocar com muita qualidade em qualquer estilo. Outra grande vantagem que inspira a criatividade é o uso da tela multi-touch, que possibilita articulações simplesmente impossíveis de serem realizadas em teclados convencionais, como o glide polifônico. O mesmo recurso pode ser usado para outras finalidades muito interessantes. Um grande atrativo também, principalmente para o tipo de
som que faço, é a variedade de instrumentos e processadores inovadores e muito diferentes do que é apresentado na maioria dos teclados, com métodos de síntese surpreendentes. Através de combinações destes, é realmente possível tirar sons que não são possíveis em nenhum outro instrumento. Se eu fosse você, tecladista "convencional", cairia para esta praia imediatamente! É uma porta aberta para o futuro da música. Revista Keyboard Brasil – Fale sobre o Fabio Ribeiro produtor. É um caminho para se tornar auto-suficiente? Fabio Ribeiro: Absolutamente. Trabalho como produtor musical desde os anos noventa. Produzimos aqui todos os álbuns do REMOVE SILENCE e muitos trabalhos de outras bandas, incluindo Violeta de Outono, Shaman, os álbuns da carreira solo do vocalista Andre Matos e o álbum de estreia da banda Motorguts do baixista Luis Mariutti. Fazemos muita coisa para publicidade, trilhas sonoras, locução, dublagem e diversos outros trabalhos. Eu sempre tive interesse nesta área, desde que gravei minha primeira Demo Tape com a banda Desequilíbrios em 1986. O estúdio de gravação parecia ser minha segunda casa. E hoje literalmente é, passo mais tempo dentro do meu estúdio do que em qualquer outro lugar. Foi o melhor investimento que já fiz, pois além da economia com as produções da minha banda, foi a melhor ferramenta para que eu me desenvolvesse com muita rapidez neste caminho. É muito melhor ter total liberdade e tempo em seu próprio
estúdio do que produzir em outros locais. Não me sinto muito confortável gravando ou produzindo fora daqui, a menos que o orçamento permita bastante tempo. Quando me convidam para gravar teclados para trabalhos externos, obviamente faço tudo aqui e mando o material já lapidado e finalizado. O resultado é sempre muito melhor. Quando você tem todo o tempo do mundo para trabalhar, aprende melhor e mais rápido, pode experimentar a vontade com os recursos, não existe a pressão do relógio contando. Então, é daí que saem os melhores resultados, através de experiências, tentativas e erros. Todos os músicos, não importando o instrumento, deveriam ter um estúdio em casa. Isso é muito mais fácil de se obter hoje do que antes, quinze ou vinte anos atrás. A tecnologia evoluiu de tal forma que o custo é absurdamente mais baixo. E não é mais preciso ter tanto equipamento como antes. As versões virtuais de instrumentos e processadores estão em um nível de qualidade altíssimo. Um pequeno home studio bem estruturado com meia dúzia de equipamentos e um cantinho com boa acústica e isolamento é suficiente quando você tem um pouco de conhecimento técnico, bons ouvidos e bom gosto. Para falar a verdade, hoje se você tem um iPad, uma boa interface de áudio e um bom par de fones de ouvido, você pode gravar um álbum com boa qualidade. Não estou brincando. Se tiver bons olhos, você faz isso até no iPhone. Como tudo na música, a criatividade é o fator principal.
Revista Keyboard Brasil / 21
Foto: Luka SalomĂŁo 22 / Revista Keyboard Brasil
Revista Keyboard Brasil / 23
Revista Keyboard Brasil – Há algum tempo você lançou 2 álbuns solo com a banda 'Blezqi Zatsaz'. Pensa em retomar esse projeto? Fabio Ribeiro: Foram experiências muito legais, que realizei ao lado do também produtor Pedro Eleftheriou e de músicos altamente capacitados. Foram minhas primeiras investidas como produtor musical. Nunca os considerei como álbuns "solo", pois tiveram muita gente envolvida. Apenas compus as músicas e cuidei da gravação. Cada um arranjou seu instrumento e eu direcionei a coisa, como uma banda. O primeiro foi feito quando eu tinha vinte anos, foi minha primeira experiência com total liberdade no estúdio e o Pedro, assim como eu, adora experimentar. Foi na época das fitas de rolo e mixagens manuais, um desafio. Gosto bastante do álbum, que exibe as imperfeições da época e apresenta sons de sintetizadores icônicos que já não tenho mais. O disco é recheado de passagens de Minimoog, por exemplo, um dos que mais tenho saudades. O segundo disco teve um atraso muito grande entre as etapas de gravação, trocas de gravadora, etc. Entre as primeiras tomadas e a mixagem foram sete anos. Então, apesar de eu achar as músicas mais bem elaboradas, a finalização foi feita quando eu já estava com outras ideias e meio que às pressas. Acho o disco bom, mas meio plastificado demais, poderia soar mais orgânico como o primeiro. No momento, não pretendo ressuscitar o projeto, mas tenho algumas coisas guardadas aqui. Quem sabe um dia... 24 / Revista Keyboard Brasil
Revista Keyboard Brasil – Como iniciou seus trabalhos como consultor de tecnologia musical? Fabio Ribeiro: Meu primeiro trabalho na área foi com a Korg, fui o primeiro consultor deles no Brasil, entre 1993 e 1995. Não me lembro como me encontraram ou quem indicou, o telefone tocou e era o cara da Music Power, o distribuidor na época. Naquele tempo, as importadoras estavam começando a agir por aqui, consultoria era algo raro. Eu escrevia artigos sobre tecnologia musical para revistas especializadas, deve ter sido através deste material que o convite aconteceu. Em seguida, trabalhei com a Kawai, entre 1997 e 2001 e depois com a Clavia (Nord) entre 2002 e 2007. É um trabalho legal de fazer, pois adoro a área, mas é desgastante quando se trata de Brasil. A desinformação aqui sempre foi grande e isso só tem melhorado de alguns anos para cá. Naqueles tempos era bem complicado tratar com clientes e revendedores sobre equipamentos complexos, inovadores e diferentes como instrumentos de síntese aditiva e teclados unicamente direcionados a simulação de instrumentos eletromecânicos e sintetizadores analógicos. As pessoas só queriam saber de ritmo automático e som de sanfona (risos). Hoje já não sei se aguentaria o tranco. Revista Keyboard Brasil – Os teclados consolidaram sua presença no Heavy Metal durante as últimas décadas. Antigamente existia um preconceito aí. Fale sobre isso.
Fabio Ribeiro: Embora o preconceito esteja diminuindo aos poucos, não acredito que tenhamos consolidado nossa presença o quanto nós tecladistas gostaríamos. Salvo Jordan Rudess e poucos outros, o teclado ainda é negligenciado no estilo. E o Dream Theater é uma banda de Prog-Metal, não Heavy Metal em estilo tradicional, portanto tem mais margem para a inserção de teclados com variedade. É um cenário muito diferente da época do glorioso Jon Lord e seu órgão Hammond com Ring Modulator plugado em um amp Marshall ou Leslie com os falantes pulando para fora. O tecladista de hoje é comportado demais. E tem gente também que pensa mais no visual do que no som. Falta atitude natural e falta timbragem. Tantos sons disponíveis e você vai fazer um solo com aquele timbre de imitação de guitarra que fica parecendo uma máquina de escrever com distorção? Boa parte dos tecladistas de Metal está focada sobre a técnica do instrumento ao tocar, raramente estão prestando atenção na parte mais importante que é a sonoridade, os timbres, as inúmeras maneiras de causar sensações fortes através dos recursos presentes no instrumento. Geralmente agem como um segundo guitarrista e dispensam a versatilidade do que tem nas mãos, ou simplesmente servem como arrumadeiras de hotel fazendo a cama para os hóspedes. A técnica é importantíssima, principalmente no início, mas deve ser usada com prudência para não se tornar algo extremamente chato. O estilo impõe regras? Sim, muitas, mas se você
tem a sorte de estar em uma banda de Heavy Metal na qual te deixam fazer o que quer, mostre a que veio. Tudo bem, nem todo mundo pode meter facas nas teclas ou sair girando em um piano de cauda de cabeça para baixo, mas gente, vocês estão tocando rock. Cadê a energia? E neste caso, energia não significa apelar para peripécias descabidas de performance, mas sim apresentar um som com presença que realmente mexa com os ouvidos do seu público. Revista Keyboard Brasil – Se tivesse que fazer uma lista dos melhores tecladistas da história (rock, prog e metal), quais seriam na sua opinião? Fabio Ribeiro: Até o início dos anos noventa, foram muitos! Na minha opinião, Keith Emerson foi o maior de todos, tecnicamente e artisticamente, como instrumentista, compositor e performer. Dificilmente alguém vai tomar seu lugar como maior tecladista de rock de todos os tempos. Ainda sobre garra e personalidade, o também saudoso Jon Lord, igualmente icônico nos mesmos aspectos. Rick Wakeman também, embora menos agressivo, criou sonoridades únicas que influenciaram inúmeros tecladistas, timbres personalizados e arranjos fantásticos. E a lista segue... Don Airey, David Rosenthal, Kerry Minnear, Tony Banks, Richard Wright, Patrick Moraz, Jan Hammer, Eddie Jobson e vários outros. Revista Keyboard Brasil – Qual álbum da história do Rock você considera uma Revista Keyboard Brasil / 25
obra prima? Fabio Ribeiro: É difícil citar um só. No Progressivo - "Welcome Back My Friends To The Show That Never Ends" (ELP). No Heavy Metal - Rising (Rainbow). No Rock em geral - Ok Computer (Radiohead) e The Suburbs (Arcade Fire). Revista Keyboard Brasil – No geral, que bandas da atualidade você gosta de ouvir? Fabio Ribeiro: Minha banda preferida neste momento, apesar de não ser atual, mas estar na ativa até hoje e na melhor fase de sua carreira - Depeche Mode. O tecladista Martin Gore é uma influência enorme para mim, principalmente na parte de timbragem dos sintetizadores. Ouço muito também Arcade Fire, Radiohead e Nine Inch Nails. Revista Keyboard Brasil – Sentiu dificuldades em sua trajetória profissional? Que lições você tira de cada banda pela qual que passou? Fabio Ribeiro: E no Brasil, quem não sente dificuldades nesta área? Principalmente nos últimos quinze anos, quem não percebeu o boicote explícito ao Rock e outros estilos musicais de qualidade em favor de uma deterioração da educação e da cultura com propósitos premeditados e ardilosos? Um projeto de poder perigosíssimo! Espero que isto ainda tenha cura e que nossa imensa e maravilhosa cultura tenha chances de se reestruturar e voltar a crescer. Deixando de lado estes fatores, acredito que cada uma das bandas pelas quais passei foi 26 / Revista Keyboard Brasil
uma experiência única e importante para o meu crescimento como artista. Comecei a tocar com bandas que tiveram um certo destaque desde muito cedo, isso me ajudou precocemente a entender os mecanismos de mercado, as artimanhas, os truques e direcionamentos. Muitas alegrias e muitas decepções. Muitas vezes, foram sensações misturadas em um único momento da carreira, como aconteceu durante meus últimos anos no mercado de Heavy Metal. Mas prefiro visualizar a coisa como um todo, então penso o seguinte: Na época do underground, em bandas como Desequilíbrios, A Chave do Sol e no início da carreira do Angra, tive a oportunidade de perceber a união sincera entre fãs e artistas que era muito evidente naquela época, quando tudo era bem mais difícil de acontecer, sem meios de promoção que não contassem com dinheiro ou influências de pessoas importantes, sem internet, sem nada. Tudo era muito sincero e inocente e isto acabava gerando uma força muito boa para continuarmos no caminho. Fãs e artistas eram muito ligados e o respeito mútuo era evidente, um tentando agradar o outro o quanto possível. O fã mantinha o artista em pé através da aquisição do trabalho e da presença em shows, financiando a coisa toda. O artista procurava respeitar o fã entregando o que gostam de ouvir, sem muita preocupação com opiniões de gravadoras, emissoras de rádio, pseudo-críticos de música, pseudoprodutores, etc. Não nos preocupávamos muito com dinheiro, então os trabalhos eram bem mais sinceros. Isso é o que tento
resgatar hoje com o REMOVE SILENCE. Mas aí vieram a Internet, o Napster, o YouTube, o Smartphone, gerando uma crise imensa no mercado fonográfico e de certa forma idiotizando o público e o deixando muito preguiçoso. Com tantas opções em casa e de graça, a oferta é muito maior que a demanda e, como grande parte desta oferta é de qualidade duvidosa, criamos uma geração de alienados que não se preocupam mais com a essência da música. O visual se tornou mais importante que o som, a celebridade vazia é mais cultuada que o artista de verdade e todo o valor se perdeu. Hoje ninguém mais "ouve" música, preferem "ver" música. Isto é muito triste para aqueles que passaram a vida toda apostando em um sonho, o de transmitir para as pessoas suas idéias, seus sentimentos, sua essência. Por isso, neste momento, faço unicamente o que quero e o que realmente gosto. Não me dobro por migalhas, não topo qualquer trabalho apenas para fechar as contas do mês e, principalmente, não uso meu tempo para engrandecer a carreira de pessoas que possivelmente não me recompensarão com alegria e tranquilidade. Estou no melhor momento da minha carreira como músico, no meu momento mais sincero e estou muito feliz assim. Revista Keyboard Brasil – Qual seu set atual? Fabio Ribeiro: Com o passar dos anos, troquei muito de aparelhagem de teclados, geralmente adquirindo instru-
mentos dedicados para as bandas nas quais trabalhei, dependendo do tipo de sonoridade requerido. Teclados são instrumentos muito singulares, cada um é capaz de fazer coisas específicas e não existe o "teclado completo definitivo". Então, acabei acumulando uma coleção que satisfaz minhas necessidades, embora tenha já vendido muitos, alguns dos quais me arrependo. No momento, meu set para shows ao vivo do REMOVE SILENCE é composto por um Korg Kronos e um KingKorg, além de um mixer 1402 VLZ Pro da Mackie e de dois iPads. É o setup de melhor qualidade que já montei e é também o mais simples, devido a imensa versatilidade do Kronos que, na minha opinião, é o melhor teclado já lançado. A capacidade do instrumento é tanta que a quantidade de teclados e periféricos no palco caiu para menos da metade. No estúdio, uso os seguintes modelos além destes: Korg MS-20 Kit, Korg MS-20 mini, Korg ARP Odyssey, Korg Minilogue, Korg MS-2000B, Korg Volca (Beats, Bass, Keys), Korg Monotron (Classic, Duo, Delay), Korg Monotribe, Korg M3R, Kawai K5000W, Kawai K3m, Kawai K1m, Nord Stage, Nord Electro, Nord Modular G2X, Nord Lead 3, Roland Alpha Juno e Oberheim Matrix 1000. Revista Keyboard Brasil – Como se deu a formação da sua banda REMOVE SILENCE? Fabio Ribeiro: Em 2006 o Shaman sofreu sua extinção, na metade de uma turnê que poderia ter se estendido por mais um ano. A pausa nas atividades liberou um tempo Revista Keyboard Brasil / 27
Revista Keyboard Brasil – Tem trabalho novo do REMOVE SILENCE chegando. Pode nos adiantar um pouco? 28 / Revista Keyboard Brasil
Foto: Arquivo pessoal
para que eu pudesse me dedicar mais aos meus próprios projetos. Eu e o Ale Souza tínhamos na gaveta um projeto chamado The Brainless Brothers, o mesmo nome do estúdio, que misturava Rock e Música Eletrônica. Este material estava na gaveta desde os anos noventa. Foi então que o guitarrista Hugo Mariutti trouxe algumas composições dele que se encaixaram perfeitamente e decidimos montar uma banda. O Hugo indicou então o baterista Edu Cominato. A primeira experiência que fizemos juntos foi uma adaptação da faixa Dream Brother de Jeff Buckley. Logo em seguida, começamos a trabalhar no primeiro álbum - Fade. Desde o início, o propósito desta banda tem sido o de não respeitar regras, fórmulas ou tendências de mercado. Decidimos que faríamos apenas o que a imaginação mandasse, unindo as influências musicais de cada um e nossos gostos pessoais. Foi meio complicado no início apresentar um trabalho deste tipo, principalmente para um público que estava acostumado a nos ouvir tocando apenas Heavy Metal. Mas o tempo passou, a banda cresceu e nossa sonoridade distinta foi o que nos trouxe os melhores benefícios. É muito difícil ser original na música hoje em dia e me sinto muito feliz quando o pessoal da mídia aponta frequentemente a banda como uma das mais inovadoras do país. Isso é muito gratificante. Após nosso terceiro trabalho, tivemos uma alteração na formação com a entrada de Danilo Carpigiani nas guitarras e Leo Baeta na bateria. Ambos se encaixaram perfeitamente e, através de suas influências mais variadas, acabaram direcionando a banda para uma sonoridade ainda mais variada e distante do Heavy Metal. REMOVE SILENCE não tem rótulo e isso é o que mais me agrada na banda - a liberdade musical.
Dois feras: Jordan Rudess e Fabio Ribeiro.
Fabio Ribeiro: Lançamos recentemente o single e o videoclip para a faixa Raw, como uma prévia do próximo trabalho que terá o mesmo nome. Estamos gravando desde Janeiro e o EP já está bastante adiantado, restando apenas algumas partes de voz e a mixagem final. O single, assim como no EP anterior - Irreversible - não retrata o som que vem por aí, apesar de dar uma dica sobre a sonoridade um pouco mais crua que tentamos atingir desta vez. Como temos tempo para trabalhar, as músicas de certa forma acabaram ficando com a tradicional sonoridade rebuscada do REMOVE SILENCE, isso é inevitável (risos). Estamos preparando a capa e o material promocional e acredito que o lançamento seja antes do final do ano. Revista Keyboard Brasil – O foco da Revista Keyboard Brasil é o mundo das teclas, pioneira no mercado digital brasileiro. Poderia nos dar sua opinião a respeito do nosso trabalho? Fabio Ribeiro: Depois desta crise enorme no mercado musical e consequentemente no universo das publicações dedicadas e especializadas, posso somente considerar vocês como heróis. Sei que é extremamente difícil manter uma publicação como esta e que isto é possível somente com muito amor, carinho e dedicação. A qualidade e a diversidade presente nas edições, sempre procurando inovação e assuntos interessantes, engrandecem ainda mais o que vocês fazem. Meus mais sinceros parabéns! Revista Keyboard Brasil – Muito obrigada Fabio! Fabio Ribeiro: Eu que agradeço pela oportunidade desta matéria de destaque, pela entrevista e pela atenção constante com os tecladistas! Muito obrigado!
* Heloísa Godoy é pesquisadora, ghost writer e esportista. Está há 20 anos no mercado musical através da Keyboard Editora e, há 10 no mercado de revistas, tendo trabalhado na extinta Revista Weril. Atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil - publicação digital pioneira no Brasil e gratuita voltada à música e aos instrumentos de teclas. Revista Keyboard Brasil / 29
Dica Técnica
PIANO SOLO
ON INCANTATIONS THEME A DICA TÉCNICA DO MÊS VEM DO ÁLBUM ACOUSTIC PIANO SOLO DE MIKE OLDFIELD. BONS ESTUDOS!! * Por Amyr Cantusio Jr.
E
Amyr Cantusio Jr. é músico premiado no exterior e colaborador da Revista Keyboard Brasil. 30 / Revista Keyboard Brasil
sta música tem como base “minimalista” um Ciclo de Intervalos de Quinta dos estudos do mestre Steve Reich. Ou seja, a
mão esquerda vai da Tônica para a Dominante direta em Oitavas, e o grupo de acordes MENORES aqui começando com C sus menor vai direto para G sus menor. Na sequência imediata para o TOM seguinte, D sus menor e A sus menor, e vai seguindo a escala ascendente Fm/Gm/Am/Bm/C sus menor, novamente da oitava seguinte. Esta é a BASE. Depois há um grupo de MELODIAS. Eu postarei um ARRANJO completo num outro video com a base no Sintetizador e a melodia por cima! Este vídeo é um compêndio de estudo para o Ciclo de publicações da Revista Keyboard Brasil. Bons estudos!
PIANO SOLO ON INCANTATIONS THEME Mike Oldfield
Progressão infinita Em Intervalos de QUINTA ASCENDENTE Acordes menores *Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
www.jeffgardner.com.br Revista Keyboard Brasil / 31
Fotos: Thaisa Mezzavila + Jasmina Elbouamraoui
Aconteceu
O Rio de Jane
Semana Internac
O FESTIVAL QUE COLOCOU A CIDADE E O PAÍS NO MAPA INTERNACIO ONDE O PIANO É O PROTAGONISTA ACONTECEU NO INÍCIO DESTE M *Por Joca Vidal
34 / Revista Keyboard Brasil
Lorena Murray, Helena de Serpa, Maria Almeida, Oleg Marshev, Mayer Goldenberg, Angela Passos, Miguel Proença, Antonello D'Onofrio, Claudio Soviero, Simon Graichy e Maja Matijanec
eiro musical –
cional de Piano
ONAL DE REFERÊNCIAS DOS FESTIVAIS DE MÚSICA CLÁSSICA MÊS. UM EVENTO DE ALTO NÍVEL, INÉDITO NA CIDADE.
Revista Keyboard Brasil / 35
O
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aja Matijan
pianista M
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Rio de Janeiro recebeu a segunda edição da Semana Internacional de Piano,
entre os dias 03 e 09 de setembro na Cidade das Artes e Sala Cecília Meireles. Inspirado nos grandes festivais europeus, o festival contou com recitais e master classes e colocou a cidade e o país no mapa internacional de referências dos festivais de música clássica onde o piano é o protagonista. Pianistas de renome internacional do Brasil (Duo Ama), Croácia (Maja Matijanec), França (Simon Ghraichy), Itália (Duo Miroirs) e Rússia (Oleg Marshev) proporcionaram ao público uma jornada de recitais de música clássica num panorama que abrange da música barroca à música contemporânea. Ações sociais, como formação de plateia e master classes gratuitas e abertas ao público, foi um dos diferenciais dessa edição.
O evento foi um sucesso de público e tivemos um bom suporte de mídia. A Sala Cecília Meireles, no Concerto de Gala, ficou cheia como há muito tempo não se via. O Rio de Janeiro pôde presenciar um evento de alto nível, inédito na cidade. Fiquei muito contente com a repercussão e espero poder repetir mais vezes.
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Abaixo: Sim on Graichy, M aja Matijanec, Goldenberg, Mayer Tatiana Aleks eeva, Oleg M Angela Passos arshev, , Antonello D 'Onofrio e C laudio So
Mayer Goldenberg, músico, idealizador e diretor artístico da SIP.
* Joca Vidal é agitador cultural e pesquisador musical. Atua na área de comunicação e conteúdo digital. Créditos da filmagem sobre o evento: Direção, Montagem, e Finalização: Heitor Peralles. Câmeras: Ariana Assumpção, Lara Monnerat, Lucas Gonçalves, Nina Benchimol, Raíssa Miranda 36 / Revista Keyboard Brasil
Lanรงamento
38 / Revista Keyboard Brasil
“HOJE” É O NOVO TRABALHO DOS PAULISTANOS DO TOMADA, BANDA QUE VEM PRATICANDO SEU SOM AUTORAL EM LÍNGUA PÁTRIA E DEIXANDO SUA MARCA INDELÉVEL EM NOSSO ROCK BRASUCA DESDE SUA FORMAÇÃO, EM 2000. O DISCO ESTÁ EM TODAS AS PLATAFORMAS DIGITAIS. * Redação
A
pós os álbuns ”Tudo Em Nome Do Rock'n'Roll” (2003), “Volts” (2005) e “O Inevitável” (2011), além do DVD biográ-
Fotos: Divulgação
fico “XII” (2013), do EP homônimo virtual (2016) e trocas de integrantes ao longo do caminho, o Tomada chega a “Hoje” com seus membros originais Ricardo Alpendre (voz) e Pepe Bueno (baixo) acompanhados por Vagner Nascimento (guitarra), Mateus Schanoski (teclados) e Fábio Galio (bateria e percussão). O novo time também assina a produção do álbum, fator preponderante para o entrosamento e nova identidade audíveis no Tomada de “Hoje”. As gravações foram realizadas no estúdio Orra Meu e o álbum foi mixado e Novo trabalho da banda Tomada “Hoje”. Assina a produção, o time composto por Ricardo Alpendre (voz) e Pepe Bueno (baixo) acompanhados por Vagner Nascimento (guitarra), Mateus Schanoski (teclados) e Fábio Galio (bateria e percussão). As gravações foram realizadas no estúdio Orra Meu e mixado e masterizado no estúdio Moloko por Cláudio “Moko” Costa (Flying Chair), sendo que a mixagem também foi co-assinada por Pepe Bueno e Martin Mendonça (Pitty, Agridoce). Revista Keyboard Brasil / 39
masterizado no estúdio Moloko por Cláudio “Moko” Costa (Flying Chair), sendo que a mixagem também foi co-assinada por Pepe Bueno e Martin Mendonça (Pitty, Agridoce). Mesmo ainda mantendo a essência roqueira enraizada em Stones, Rita Lee e Barão Vermelho e videntes nas faixas “Terno Branco” e “Sensação”, nosrefrãos grudentos de “No Turning Back”, “Só com a Solidão”, “Trouxe Flores” e também na faixa título – esta com participação do guitarrista Marcelo Gross (Cachorro Grande) - o Tomada dá um passo à frente mergulhando mais fundo na brasilidade, algo explícito em faixas como “Terra Batida”, “5 am” e “Carnaval”, querem e tem dos Novos Baianos ao BRock anos 80. Para enfatizar ainda mais essa intenção brasileira que o Tomada segue em “Hoje”, a banda traz versões de duas pérolas do cancioneiro popular nacional; um Blues lento para a clássica “Como 2 e 2” (Caetano Veloso) e um Rock cadenciado para “Ama Teu Vizinho Como A Ti Mesmo” (Sá, Rodrix & Guarabyra). Essa capacidade de transitar sobre diversos ritmos e timbres de forma independente e sem rótulos nos deixa claro que o Tomada encontra-se em sua melhor e mais promissora fase. Tudo a partir de “Hoje”. 40 / Revista Keyboard Brasil
Revista Keyboard Brasil / 41
Papo de tecladista
O TECLADISTA E A BUSCA DE SUA IDENTIDADE
MUSICAL Estudo sistemático, mente aberta e inquietude no aprender sempre mais é o assunto deste mês. NO PAPO DE TECLADISTA DESTE MÊS VAMOS ABORDAR SOBRE UM TEMA RECORRENTE E IMPORTANTÍSSIMO NO MUNDO DO MÚSICO DAS TECLAS: O CAMINHO TRAÇADO PELO TECLADISTA ATÉ CRIAR A SUA IDENTIDADE MUSICAL, A SUA ORIGINALIDADE. * Por Bruno de Freitas
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N
O americano Dotan Negrin e sua paixão pela música e pelo piano o fizeram percorrer até agora mais de 300 cidades em 21 países.
ão é a toa que constantemente voltamos à história da arte da música, considerando que é a partir do que percebemos na
“evolução” da música, aos poucos a nossa compreensão do fazer artístico musical se crie, e começamos a entender toda a mistura que somos, a influência que recebemos, mesmo que sem perceber, vá gerando a nossa identidade como tecladista. E, falando em história da música, jamais poderemos esquecer os mentores verdadeiros dos tecladistas: o órgão e o piano. Não vamos abordar aqui a história de cada um, deixaremos para uma próxima, entretanto aproveito para convidar você, caro leitor, para dar uma passada nas últimas edições da Revista Keyboard Brasil, e ler a história do piano – “Piano, o Rei dos Instrumentos” – por Luiz Carlos Uhlik – matéria ímpar. Sem minimizar a história do órgão e do piano, pelo contrário, supervalorizando cada uma, os verdadeiros mentores da técnica do tecladista são esses dois instrumentos. Vou arriscar a dizer – sem preconceito, nem mente fechada – mas, “nem todo tecladista é organista” e “nem todo tecladista é pianista” porém, arrisco a dizer – mais uma vez, sem querer criar polêmica – entretanto, “todo organista pode ser um tecladista” e “todo pianista é um tecladista em potencial”. Para ambos casos organista e pianista, bastariam alguns ajustes e familiarização para que os mesmos se tornem exímios tecladistas. Mas por que estou entrando nesse assunto? Simples! A resposta é: técnica, estudo! Quer ser um baita tecladista? Estude piano! Quer ser um baita tecladista com independência em todos os membros, raciocínio rápido, reflexo etc? Estude Revista Keyboard Brasil / 43
órgão ou “encoste” em um professor organista! Sei que hoje é raro, entretanto é possível. O estudo sistemático e a passagem por repertório erudito, por exemplo, prepara incrivelmente o músico das teclas. Exagero aqui inclusive em comparar com o método científico: estudar piano passa por aí. Houve uma crescente incrível na técnica pianística, se considerarmos do final do período Barroco até pouco antes do século XX. No meu ponto de vista, foi no Romantismo que a técnica e a beleza artística se entrelaçaram e atingiram juntas seu auge. É claro, não vamos aqui esquecer que Shumann, por exemplo, estudou seus antecessores Bach, Mozart e assim por diante. Como na natureza, a música não é diferente, nada se cria, tudo se transforma. Nós tecladistas somos um emaranhado de junções, percepções, concepções e entendimento particular e
compartilhado de música. Uma audição em um teatro, um concerto, um show, um comercial de TV, o rádio ligado no carro, a observação do toque do colega... está tudo entrando na nossa “cachola”. Tudo isso junto forma o nosso eu musical. Além disso, temos à disposição a tecnologia. Tablets, PCs, Notebooks, sintetizadores, Instrumetos virtuais, tudo à disposição. Isso realmente é incrível. Antigamente precisávamos (exclusivamente) dar aulas e tocar aqui e ali para vivermos da música. Hoje, graças ao desenvolvimento tecnológico, podemos ter a nossa própria renda sem sair de casa, vendendo a nossa própria composição pela internet. Demais! Sigamos conscientes do inacabado, da necessidade da influência do estudo sistemático, e sobretudo da humildade de quem quer aprender sempre mais, seja com o grande compositor ou com o músico de rua, da praça quinze.
* Bruno de Freitas é Tecladista, professor, produtor, demonstrador de produtos da Yamaha, endorser da Stay Music e colaborador da Revista Keyboard Brasil. 44 / Revista Keyboard Brasil
Agenda musical
CONEXÃO SUÍÇA-BRASIL
DUO FORMADO PELA MEZZO SOPRANO STEPHANIE BOLLER E PELO PIANISTA RAFAEL RUTTI FAZ TURNÊ NO BRASIL Por Virtuosi Produções
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o mês de outubro, o duo suiço formado pela mezzo-soprano Stephanie Boller e pelo pia-
nista Rafael Rutti estará no Brasil para uma turnê, que passará por 5 cidades: Rio de Janeiro (Espaço Guiomar Novaes 04/10), Curitiba (Sesc Paço da Liberdade 06/10), Ouro Preto (Casa da Ópera -
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09/10), Belo Horizonte (Sala Juvenal Dias - 10/10) e Cabo Frio (Série Jovens Músicos - 14/10). O programa apresenta obras de compositores suíços e latino-americanos, com canções escritas entre os séculos XIX e XXI. Segundo o pianista Ederson Urias, diretor da Virtuosi Produções,
empresa responsável pela turnê brasileira do duo, “o concerto é uma rara oportunidade para o público brasileiro de um repertório pouco tocado no país. Não falo apenas de Joachim Raff, compositor do Romantismo suíço, ou de compositores contemporâneos, como o paraguaio Diego Sanchez Haase, mas sobretudo de Lorenzo Fernandez. Embora este compositor seja brasileiro, tenha vivido na primeira metade do século XX e obtido grande sucesso com suas peças para piano solo, suas canções são raramente executadas.” Stephanie Boller é uma das mais ativas mezzo-sopranos suíças. Formada pela Schola Cantorum de Basiliensis e pela Universidade de Artes de Zurique, já se apresentou como solista de óperas de Monteverdi, Mozart, Rossini e de compositores suíços, como Paul Burkhard e Carl Rütti. É uma das criadora do “Lamaraviglia”, grupo dedicado à Música Antiga, e vem se especializando também no repertório de Lied, com foco na obras de Debussy, Schumann e Schubert, e dos compositores Othmar Schoeck (Suíça) e Hanns Eisler (Alemanha). O pianista Rafael Rütti é professor de piano no Conservatório de Zurique e, além do repertório tradicional, interessa-se muito pela música contemporânea, tendo participado do Festival de Lucerne com Pierre Boulez e estreado inúmeras obras de vários compositores. É formado pela Universidade das Artes de Zurich, onde
concluiu os diplomas de Mestrado e de Licenciatura. Já realizou várias gravações para rádio e tv se apresentou como solista de importantes orquestras do seu país, como a Aargaauer Sinfonieorchester, Musikkollegium Winterthur, Jugend Sinfonieorchester Zürich, Neumünster Orchester Zürich. Agenda: 04/10 - Rio de Janeiro - RJ - Espaço Guiomar Novaes Horário: 20:00 Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia) Endereço: R. Largo da Lapa, 47- Centro. Informações:http://salaceciliameireles.rj.gov.br/ 06/10 - Curitiba - PR - Sesc paço da Liberdade Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia) Horário: 20:00 Endereço: Praça Generoso Marques, 189 - Centro. Informações:http://www.sescpr.com.br/unidades/s esc-paco-da-liberdade/ 09/10 - Ouro Preto - MG - Série “Concertos Virtuosi” - Casa da ópera Horário: 20:00 Ingressos: Gratuito Endereço: R. Brg. Musqueira, 104. Informações:https://www.facebook.com/teatrocas adaopera/?rf=167461179990327 10/10 - Belo Horizonte - MG -Série “Concertos Virtuosi” - Sala Juvenal Dias Horário: 20:30 Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia) Endereço: Av. Afonso Pena, 1537 - Centro. Informações:http://fcs.mg.gov.br/index.php?optio n=com_gmg&view=page&id=2619&controlle r=page&Itemid=1270 14/10 - Cabo Frio - RJ - Série “Jovens Músicos” Charitas - Casa de Cultura José de Dome Horário: 19:00 Ingressos: Gratuito Endereço: Av. Assunção, 855 - Marlin. Informações:http://mapadecultura.rj.gov.br/manc hete/casa-de-cultura-charitas
Revista Keyboard Brasil / 47
O SAX SUPREMO DE
JOHN COLTRANE
Outros sons
48 / Revista Keyboard Brasil
HÁ 50 ANOS, O MUNDO PERDIA UM DOS MÚSICOS QUE MAIS INFLUENCIOU GERAÇÕES, INDO ALÉM DO JAZZ E DO BLUES. COM UMA VASTÍSSIMA OBRA LANÇADA EM VIDA E TAMBÉM PÓS-MORTE, JOHN COLTRANE MOSTROU AO MUNDO SUA MENSAGEM DE TRANSFORMAÇÃO E ELEVAÇÃO E SPIRITUAL ATRAVÉS DA MÚSICA. * Por Sergio Ferraz
N
o dia 23 de setembro deste ano John Coltrane estaria fazendo 91 anos, caso estivesse vivo. Lembro do impacto que senti quando o ouvi pela primeira vez, aos 15 anos, quando meu professor de música me apresentou o álbum "Sun Ship". Fiquei impressionado com aquela sonoridade agressiva que lembrava uma banda de rock, a força da bateria, o sax agressivo gritando nos agudos e saltando rapida-
mente de notas agudas para o grave... Era algo novo para mim e, ao mesmo tempo, de músicos de "tanto tempo atrás" na visão de um jovem que começava a dar os primeiros passos no vasto mundo da música. Ouvi este álbum ainda inúmeras vezes e fui atrás de outros. Considerando a imensa dificuldade em achar discos de jazz na cidade do Recife dos anos 80, consegui ainda o álbum "Coltrane plays Revista Keyboard Brasil / 49
the Blues". Fui surpreendido pela Blue", principal obra de Miles e que marca elegância com que ele tocava blues e o a fase do jazz modal. Antes disso, Coltrane virtuosismo de seu sax, tocando arpejos já se interessava por composições mais rápidos e usando notas de aproximação complexas, com muitas mudanças de cromática aplicada às escalas mixólidia, acordes. Mas é a partir da participação na dórica e a penta-blues. Isso acabou banda de Miles Davis que ele se torna um influenciando (e ainda influencia) muitos músico conhecido no mundo do jazz, músicos de jazz. Era como inclusive no cenário internase, a partir dali, eu tivesse cional. percebido que era ineviO segundo momento de Como se rezasse tável um solista de jazz ter através do sax, ele Coltrane foi marcado pela como referência a forma jogava na música formação do Quarteto, com que Coltrane tocava. uma forte energia quando teve a sorte de ter Nascido numa de transformação. encontrado os músicos família de classe média da perfeitos para que ele Carolina do Norte, EUA, pudesse produzir sua obra – Sergio Ferraz Coltrane cresceu numa com grandiosidade. O Quarforte atmosfera religiosa e teto era formado pelo musical (seu pai tocava violino e ukulele e virtuosismo de seu sax, o piano de McCoy sua mãe cantava no coral da igreja). Aos 13 Tyner (que trouxe elementos de sua anos, com a morte súbita do pai e uma formação erudita como acordes quartais e drástica mudança de vida, o tímido harmonias impressionistas vindas de Coltrane passou a se dedicar intensa- Debussy e Ravel), a bateria agressiva, mente aos estudos do saxofone depois de inovadora cheia de polirritimia de Elvin passar rapidamente pelo clarinete. De Jones, e o baixo seguro e marcante de
natureza obsessiva, tornou-se um músico que sempre buscou o virtuosismo e a integração espiritual com seu instrumento e sua música. Sua carreira teve três momentos marcantes. O primeiro momento apresentava um sax arrojado, seguindo a tradição jazzística de Charles Parker, criador do bebop.. Ainda neste período foi convidado a tocar com Miles Davis, que já era então bastante conhecido na época. Em 1959 participou do álbum "Kind of 50 / Revista Keyboard Brasil
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Jimmy Garrison, que também incorporou na banda uma forma inovadora de tocar baixo, deixando de ser apenas um instrumento que toca as notas graves da harmonia, trazendo-o para frente e assumindo uma posição de solista. Ouso dizer que esta foi a formação mais intensa da história do jazz e que influencia músicos até hoje. O terceiro e último momento (entre 1965 e 67) foi marcado por experiências sonoras inovadoras e ousadas, que não foram compreendidas
Nenhum outro jazzista conseguiu causar tamanho impacto em seus ouvintes. O sax de Coltrane parecia diretamente conectado com os sentimentos mais profundos e obscuros. Ao lado: discografia indicada.
pelo grande público ou mesmo por seus companheiros de banda. Coltrane montou formações inusitadas para o jazz, com trompetes, percussão, um segundo sax e dois baixos... Explorou regiões extremamente agudas do sax e também indo do grave ao agudo rapidamente, numa forma musical livre e sem curso ou harmonia definida. Marca o início desse período o álbum Ascension (1966). Esse álbum causou grande impacto no público tanto positivamente como de forma negativa. Confesso que, mesmo para mim, ouvir Ascension não é uma tarefa fácil.
Os anos em que Coltrane se desenvolveu como músico de vanguarda também foram marcados por importantes movimentos de inovação da música erudita na Europa. Enquanto no velho continente músicos como Karheinz Stockhausen e Pierre Boulez faziam profundas inovações na música erudita, Coltrane seguia pelo mesmo caminho na América do Norte, buscando uma forma completamente diferente de tocar e compor jazz. Neste período, a cultura ocidental, incluindo a música, recebia fortes influências das religiões e filosofias do OrienRevista Keyboard Brasil / 51
te. Coltrane foi bastante influenciado por este movimento, assumindo uma posição de alcançar o que ele buscava como uma profunda espiritualidade através de sua música. Em 1965 John Coltrane lança "A Love Supreme", seu álbum mais marcante e que apresenta de forma clara sua relação com a espiritualidade através da música. Como se rezasse através do sax, ele jogava na música uma forte energia de transformação. A música de Coltrane influenciou também outras referências importantes na minha formação musical, como o violinista Jean Luc Ponty (que chegou a ser chamado de "o Coltrane do violino" no seu início de carreira no final dos anos 60) e John McLaughlin, que no início dos anos 70 gravou um álbum com Carlos Santana em homenagem a Coltrane, chamado "Love Devotion Surrender”. Lamentavelmente, Coltrane veio a falecer aos 40 anos, vítima de um câncer no fígado. Mas foi um dos músicos que
mais influenciou as gerações seguintes, indo além do jazz e do blues, deixando uma vastíssima obra lançada em vida e também após sua morte. John Coltrane era como um avatar, um espírito que veio para mostrar ao mundo sua mensagem de transformação e elevação espiritual através da música. Um Amor Supremo!
* Sergio Ferraz é violinista, tecladista e compositor. Bacharel em música pela UFPE, possui seis discos lançados até o momento.Também se dedica a composição de músicas Eletroacústica, Concreta e peças para orquestra, além de colaborador da Revista Keyboard Brasil. 52 / Revista Keyboard Brasil
Mercado
*Como ter uma experiên excepcional de comunica em salas de videoconferên
QUANDO COMUNICAMOS UMA MENSAGEM, ESTAMOS TRANSMITINDO UMA INFORMAÇÃO. NEM SEMPRE ESSA INFORMAÇÃO É COMPREENDIDA CONFORME GOSTARÍAMOS.
* Redação
54 / Revista Keyboard Brasil
ência ação ência
P
ara que a nossa comunicação seja eficaz e surta o efeito desejado não basta comunicar. É fundamental que os destinatários entendam aquilo que dizemos e compreendam aquilo que queremos dizer de forma simples e clara. Para que esse objetivo seja atingido, e para conseguirmos ter uma experiência excepcional de comunicação nos ambientes de videoconferência criei uma lista que nos dará um norte de como chegar lá. E tudo começa com o comportamento e postura do usuário.
Dicas de etiqueta em reuniões via conferência de AV Dentro da sala: - Respeitar e manter silêncio quando outra pessoa estiver falando. - Discussões entre mais de 2 pessoas são difíceis de ser compreendidas pelo outro lado. Espere sua vez para falar. - Fale em tom normal, claro e com pausas, procure articular bem as palavras e falar de forma a facilitar a compreensão. - Não gerar ruídos ambientes como cliques de caneta ou batidas na mesa. - Café é bom, mas as batidas da colher na xícara, ou da xícara no pires, podem ser extremamente incômodas para o outro lado da videoconferência. - Não embaralhe papéis ou outras atividades de distração que sejam barulhentas. - Evite abrir embalagens de balas, bombons, barra de cereal e afins durante a videoconferência, estas geram um ruído Revista Keyboard Brasil / 55
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Estaremos perante uma comunicação perfeita quando os destinatários da nossa mensagem c ompre e nde re m exatamente aquilo que dizemos e queremos dizer.
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muito desconfortável. - Desligue, ou coloque o celular no silencioso Remotamente em dispositivo móvel? - Sempre colocar o microfone em mudo quando não estiver falando. - Procure lugares silenciosos e com boa acústica. - Procure estar em lugar com bom sinal de celular ou Wi-Fi para evitar drop outs. Evite: - Entrar em reuniões remotas em ambientes muito barulhentos, será ruim de ouvir e de ser ouvido. - Lugares muito reverberantes. - Usar o modo alto-falante do celular se possível, este pode interferir com a qualidade da chamada. E se possível: - Escolha equipamentos de áudio com funções avançadas de mixagem automática e auto-gating, como o microfone de teto MXA910 da Shure por exemplo. - Procure testar os equipamentos antes de entrar na chamada de VC. Teste seu lado e o oposto também. Cada chamada poderá ser diferente pois cada far-end pode trazer surpresas inesperadas. Em conclusão, estaremos perante uma comunicação perfeita quando os destinatários da nossa mensagem compreenderem exatamente aquilo que dizemos e aquilo que queremos dizer. Certamente, seguindo essas recomendações teremos uma experiência mais qualificada de nossas reuniões.
– Didiê Cunha, Especialista em Desenvolvimento de Mercado, Som Instalado, da SHURE DO BRASIL
Sobre a Shure Incorporated * Fundada em 1925, a Shure Incorporated (www.shure.com) é reconhecida como a maior fabricante mundial de microfones e produtos eletrônicos de áudio. Sua linha diversificada de produtos inclui microfones com fio, sistemas de microfone sem fio, sistemas de monitoramento pessoal intraauricular, sistemas de conferência e discussão, sistemas de áudio em rede, premiados earphones e headphones, além de cartuchos fonográficos da mais alta qualidade. Sediada em Niles, Illinois (EUA), possui sedes regionais de vendas e marketing em Eppingen (Alemanha) e Hong Kong (China) e 30 outras unidades de fabricação e escritórios regionais de vendas nas Américas, Europa, Oriente Médio, África e Ásia.
*Por Didiê Cunha, Especialista em Desenvolvimento de Mercado, Som Instalado, da SHURE DO BRASIL 56 / Revista Keyboard Brasil
A vista do meu ponto
O DIREITO AUTORAL E AS MUITAS EMOCOES UMA NOVA QUESTÃO ESTÁ LANÇADA: NA NATUREZA NADA SE PERDE, NADA SE CRIA; TUDO SE TRANSFORMA. SE A CIÊNCIA APROVA COMO VERDADEIRA ESTA LEI, POR QUE NAS MÚSICAS NÃO ACONTECE O MESMO? * Por Luiz Carlos Rigo Uhlik
58 / Revista Keyboard Brasil
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a natureza nada se perde, nada se cria; tudo se transforma. Você já ouviu isso antes, não
ouviu? Lei de Lavoisier. O interessante é
que esta lei diz que na natureza nunca se cria ou se elimina alguma coisa; apenas é possível transformá-la em outra coisa.
Se você parar para pensar e inserir esta lei no conceito do “Direito Autoral” provavelmente você ficará impressionado. Não com a lei em si, mas com o que pode representar a condição de “autor”, “criador” de alguma coisa. Esta lei é conhecida como sendo de autoria de Lavoisier. No entanto, a sua publicação está vinculada a um ensaio de Mikhail Lomonosov. Como o “seu” Lomonosov não tinha tanta repercussão no meio, Lavoisier ficou com a fama. Pense comigo: Sábado, à tarde, muito dinheiro no bolso, fama, amigos para todos os lados e um cidadão, sentadinho num canto, com um violão que mal sabe tocar, compondo as seguintes frases. “Não adianta nem tentar, me esquecer....” Depois do incidente envolvendo o single de Michael Jackson (post mortem), onde Paul Anka aparece como verdadeiro autor da façanha, fico a me perguntar o que se passa na autoria e na composição da grande maioria das músicas famosas. Será que esse pessoal tem capacidade, tempo, disposição, para desenvolver obras tão fantásticas como essas? Sozinhos? Lembram do Maurício Alberto Kaiserman, ou melhor Morris Albert? Autor de Feelings? Não, não, não! Ele ficou famoso Revista Keyboard Brasil / 59
com esta música, mas a composição
Na verdade desenvolvi esta “iden-
original é de Loulou Gasté. O próprio
tidade”, extremamente interessante e
Paulo Anka sofreu muito para declarar
profunda, da mensagem que o meu
“sua” a música My way. Será?
compadre, José Maçaneiro, utilizava
Na natureza nada se perde, nada se cria; tudo se transforma. Se a ciência aprova como verdadeira esta lei, por que nas músicas não acontece o mesmo? Vai me dizer que o
quando apresentava as propagandas do
cidadão não utiliza as frases do dia a dia, corriqueiras, para compor? Ou ele recebe influência dos deuses, como a grande maioria dos artistas se sentem? Iludimos e somos iludidos diariamente com a “criação” de fatos e coisas. Mas sabemos que tudo é fruto de uma transformação, que vem se desenvolvendo com você desde o momento da concepção. Outro exemplo: Sempre assino as minhas mensagens com “Muitas Emoções”! A grande maioria das pessoas relaciona “Muitas Emoções” como a música de Roberto e Erasmo. Besteira!
Motel Labirynthe. Ele dizia: “Suas Emoções são mais no Motel Labirynthe!” Na época percebi que isso era bastante interessante... Emoções... São
mais... Então aperfeiçoei: Muitas Emoções! Viu? A coisa foi se transformando. ... e não tem nada a ver com a música “Emoções” de Roberto e Erasmo. Então, pelo amor de Deus! É claro que a sociedade sempre está em busca do autor de alguma coisa. Mas, dizer que esta letra, aquela música, é de autoria de alguém, acho que deveríamos pensar um pouco mais profundamente. Ou você não concorda com isso? Está lançada a inquirição: Os autores são ou não os verdadeiros criadores das obras artísticas? Muitas Emoções!
*Amante da música desde o dia da sua no ano de 1961, Luiz Carlos Rigo Uhlik é especialista de produtos, Consultor em Trade Marketing da Yamaha do Brasil e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
60 / Revista Keyboard Brasil
! ! o t n e m Lanรงa
Espaço Gospel
A MÚSICA DO PONTO DE VISTA
EVANGÉLICO
A MÚSICA RELIGIOSA INICIA-SE NA INTENÇÃO DE SUA EXISTÊNCIA. O PROPÓSITO PARA O QUAL ESTÁ SENDO COMPOSTA E MUITO MAIS À QUEM SERÁ OFERECIDA. ESTÁ DENTRO DO CAMPO DO “POR QUE?” DO “PARA QUE?” E “ PA R A Q U E M ? ” . É D E S S A MANEIRA QUE SE DIFERE A MÚSICA DENOMINADA SECULAR DA MÚSICA RELIGIOSA. NESTA EDIÇÃO, VAMOS ENTENDER MAIS AFUNDO SOBRE ESSE TEMA TÃO ATUAL. *Por Evaristo Fernandes
62 / Revista Keyboard Brasil
É
uma grande satisfação participar deste espaço para falar sobre música do ponto de vista
Evangélico. Importante esclarecer que a
música executada em quaisquer que sejam as religiões e crenças professadas é composta pelos mesmos elementos, a saber: “harmonia”, “melodia” e “ritmo” e o som que esta produz contém os mesmos ingredientes:“intensidade”, “duração”, “altura” e “timbre”, ou seja “música é música em qualquer lugar”. O Samba, o Pop, o Rock, o Rap, o Clássico, enfim, os mais variados estilos se repetem tanto nas casas de show, quanto nos templos. As construções harmônicas e melódicas se assemelham e se repetem. Não seria exagero dizer que muitas vezes se tornam “mais do mesmo”.
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mensagem esta que vem antes da letra. A música emociona, alegra, produz as mais variadas sensações e não é incomum que associemos nossas lembranças a música do momento. Quantas músicas não temos em nossa memória que nos remetem apenas nas primeiras notas que ouvimos às mais diferentes situações? Logo,a música religiosa começa antes da parte A, onde o cantor inicia sua participação. Aliás, a diferença da música religiosa para a música secular inicia-se antes mesmo do audível, ou seja, antes do instrumental; Antes da contagem do compasso; A música religiosa inicia-se na intenção de sua existência. O propósito para o qual está sendo composta e muito mais à quem será oferecida. Está dentro do campo do “Por que?”do “Para que?” e “Para quem?”. Durante estes mais de 30 anos como músico atuando no evangelho percebi muitos equívocos pelo simples fato do não atentar destas questões. E é sobre este pano de fundo que proponho conversarmos neste espaço. Acredito que será muito interessante, por este motivo, convido a todos que acompanhem esta coluna e divulguem aos seus amigos. E enviem seus e-mails com questionamentos, críticas, etc. Terei imenso prazer em interagir com todos vocês. É isso! Deus continue abençoando a todos vocês e até já!
O que muda então? O que difere a música denominada secular da música religiosa? – Evaristo Fernandes
Uma resposta óbvia e provável seria: “A LETRA”, ou seja, o conteúdo. De fato, esta resposta é bastante coerente, no entanto, gostaria de pedir um pouco mais de atenção! Ainda estamos falando de “música” e não de poesia. A música possui uma mensagem em sua estrutura,
* Evaristo Fernandes é Auto-didata, multi-instrumentista, compositor, produtor e escritor. O músico também ministra o workshop “Talento, Técnica e Unção”, por todo o país. Tecladista da Banda Voz da Verdade há mais de 30 anos, atualmente é artista das marcas: Roland, Power Stomp Pedals, Power Play Fontes e Key Pro Stand e, juntamente com Zeca Quintanilha e Rafael Sanit é colaborador da Revista Keyboard Brasil na seção Espaço Gospel. Revista Keyboard Brasil / 63
Perfil
JOSUÉ GODOI Destaque entre os melhores produtores musicais do Brasil 64 / Revista Keyboard Brasil
MÚSICO, PRODUTOR, ARRANJADOR, COMPOSITOR E TECLADISTA. HÁ QUASE TRÊS DÉCADAS JOSUÉ GODOI - PIVÔ DE GRANDES SUCESSOS MUSICAIS - FAZ DA MÚSICA SEU MEIO DE VIDA E SUA GRANDE PAIXÃO! * Por Rafael Sanit
V
ocê certamente conhece a canção "Faz um Milagre em Mim" de Régis Danese! Ela rendeu diversas premiações, um
disco de diamante triplo (álbum Compromisso), atingiu recorde de execuções nas rádios tornandose um hit popular em todo país, fazendo sucesso entre todas as classes sociais, religiões e programas de TV. A canção se transformou em um standard tanto na música evangélica quanto secular.
O que você talvez não conheça é o talentoso produtor musical por trás desta linda canção! Destacado entre os melhores produtores musicais do Brasil, Josué Godoi tem sido o pivô de sucesso de muitos artistas que se destacam nesta geração! Músico, produtor, arranjador e compositor com uma carreira impressionante construída ao longo de 25 anos, ele tem em seu casting de artistas, além de Régis Danese, grandes nomes como Mara Maravilha, Sula Miranda, Peninha, Pastor Lucas, André Paganelli, As Mineirinhas e duplas como Bruno & Marrone, Guilherme & Santiago, Mato Grosso & Mathias, Luiz Claudio & Giuliano. E a lista não para por aí! Revista Keyboard Brasil / 65
Multi músico instrumentista, entre tantas funções, Josué Godoi ocupa-se como arranjador junto com o hit-man e compositor Michael Sullivan, já realizando projetos musicais e gravações com Padre Fábio de Melo, Fagner, Elba Ramalho, Maurício Manieri, entre outros.
66 / Revista Keyboard Brasil
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Josué já produziu Luiz Claudio, Brunna Martins (Graça Music), Willy Gregory, Ministério Nova Jerusalém (MK Music), Maury Lima, Charlys da Rocinha, Emílio Guimarães, Danielle Rizutti (Graça Music), Felipe Colácio, Pedro Paulo, Lucas Robles, Tivas, Geizibel, Gean Erick, Rafael Bitencourt (MK Music), Mariane (SBT), entre outros. Multi-músico instrumentista com um talento indiscutível, Godoi começou sua carreira profissional como tecladista na Banda Gerd, uma das principais bandas gospel dos anos 90, atuando entre os anos de 1992 a 1999. Trabalhou com o cantor Alex Conti (ex Polegar) e logo em seguida foi para estrada com a famosa dupla sertaneja Luiz Claudio & Giuliano onde fez shows e gravações. A sua parceria com Régis Danese foi além da canção Faz Um Milagre em Mim. Josué Godói produziu entre Cds e Dvds outros cinco projetos de sucesso como Família, Compromisso, Tú Podes e Profetizo. Alem de produtor musical, Josué Godoi também tem se destacado como compositor. Suas canções foram gravadas por vários artistas, entre eles Aline Barros (Casa do Pai, Poder da Cruz, Depois da Cruz, Paulo e Silas) e o próprio Régis Danese nas canções Profetizo, e Tu Podes. No segmento secular Josué Godói produziu e tocou músicas de sucesso como Por Te Amar Demais e Meu Presente é
Talento, musicalidade, sensibilidade e excelência no serviço são as marcas registradas deste profissional . – Rafael Sanit
Você de Bruno & Marrone, Quem Disse Adeus Foi Você de Guilherme & Santiago, Amor Sem Fim e Irmã de Matogrosso & Mathias. Godói participou dos Dvds de Luiz Claudio & Giuliano, destaque Eu Sou Peão, tema da novela América) e Luiz Claudio (feat, Alexandre Pires, Eduardo Costa, Regis Danese) . Atualmente Godói faz as produções e acompanha em eventos o cantor Pastor Lucas (MK Music), um dos principais nomes do cenário Gospel na atualidade. Sucessos como Deus de Detalhes, O Chamado, O Lugar e Pintor do Mundo do cantor estão na lista das grandes produções de Josué Godói. Além disso Josué ocupa-se como arranjador junto com o hit-man e compositor Michael Sullivan, já realizando projetos musicais e gravações com Padre Fábio de Melo, Fagner, Elba Ramalho, Maurício Manieri, entre outros. Talento, musicalidade, sensibilidade e excelência no serviço são as marcas registradas deste profissional que a quase três décadas faz da música não só o seu meio de vida, mas a expressão sua paixão e arte!
* Rafael Sanit é tecladista, Dj e produtor musical. Demonstrador de produtos Roland e Stay Music, realiza treinamentos para consultores de lojas através de workshops e mantém uma coluna na Revista Keyboard Brasil. É endorsee das marcas Roland, Stay Music, Mac Cabos, First Audio, Mogami Cables e Jones Jeans. Revista Keyboard Brasil / 67
Oriente-se
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B L U E S WORKSHOP 1 - as escalas e a Tonalidade de
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GOSTARIA DE COMEÇAR ESTA SÉRIE DE MATÉRIAS BLUES WORKSHOP COM UMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A TONALIDADE DE BLUES, DEVIDO A CONFUSÃO GENERALIZADA SOBRE A ESCALA DE BLUES.
*Por Jeff Gardner
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tonalidade do blues é baseada
quase exclusivamente em acordes de sétima de dominante na tônica, subdominante e dominante. A escala de blues completa (1b3-3-4-b5-5-b7), que defina uma área tônica de sétima dominante, também inclui a terça maior, a terça menor, a quinta diminuta e a quinta perfeita. Subsequentemente, a escala de blues deve ser considerada como uma área tonal simultaneamente maior e menor. Não podemos transcrever nem anotar a magia das construções melódicas do blues com a escala de blues como está apresentada na maioria esmagadora de livros sobre blues e jazz, ou seja: (1b3-4-b5-5-b7). Esta escala, sendo menor, define um acorde tônica de menor com sétima, o que não reflete a cor do acorde de sétima de dominante - a essência da harmonia do blues. Esta escala, que chamo de "escala de blues sem terça maior", serve para improvisar sobre um blues menor (com tônica de acorde menor com sétima). E serve como uma maneira sutil e convincente de marcar a passagem da tônica para a
subdominante, transformando frases melódicas e acordes com a terça maior (ou terça maior e menor juntas) sobre a tônica para frases e acordes similares com só a terça menor sobre a subdominante. O uso da escala (1-b3-4-b5-5-b7) sobre a subdominante evita um conflito harmônico potencial entre a terça maior da tônica e a sétima dominante do quarto grau (por exemplo, Mi natural em cima do acorde de F7 na tonalidade de C blues). Este Mi natural pode ser utilizado como nota de passagem entre a quarta e a terça menor da tônica em cima de IV7, mais não como nota melódica principal. A escala de blues incompleta pode ser misturada com a escala completa em cima do primeiro e do quinto grau, mas limitar a sua improvisação a escala de blues sem terça maior dá uma ideia bastante pobre do campo melódico do blues. A escala pentatônica blues possui apenas 5 notas ("penta" em grego é 5). Esta escala formada da tônica, terça menor, quarta perfeita, quinta perfeita e sétima menor (que chamo de sétima dominante) ou seja (1 - b3 - 4 - 5 - b7). A escala pentatônica de blues tem várias versões, porém a nossa corresponde melhor a essa cor tão comum nas melodias de blues. Esta escala, evidência da herança africana no blues, serve como um excelente ponto de partida para músicos começando a improvisar no blues básico, porque nenhuma das notas cria conflito com os três acordes de sétima de dominante I, IV e V. Muitos clássicos do repertório de blues utilizam apenas estas 5 notas. Tente criar suas próprias melodias e improvisações utilizando esta escala.
A seguir, alguns exemplos de escala Pentatônica Blues, escala Blues (Completa) e uma escala Blues sem terça maior, todas na mesma tonalidade. Dicas de pianistas de blues para ouvir: Jimmy Yancey, Otis Spann e Professor Longhair.
Contato para shows e workshops: jeffgardnerjazz@gmail.com
Editado p e Blues Wo las Edições Irmãos V itale o livro rkshop est do autor e á nas melho disponível no site res lojas d e música.
Revista Keyboard Brasil / 69
01 / Revista Keyboard Brasil 70
Até a próxima Revista Keyboard Brasil!!
* Jeff Gardner é pianista, compositor, educador, com 18 CDs gravados e escritor de diversos livros nascido em Nova York e radicado no Brasil desde 2002. Suas influências passam pelo clássico, jazz e, principalmente, pela música brasileira. Estudou com nomes lendários do universo jazzístico, entre eles, John Lewis, Don Friedman, Jaki Byard e Charlie Banacos e tomou aulas de harmonia com Nadia Boulanger. Jeff foi professor na New York University e ministra workshops e masterclass em muitos países. Jeff Gardner é o mais novo ilustre colaborador a entrar para o time da Revista Keyboard Brasil. Revista Keyboard Brasil / 71
Sobre os sons
PROJETO QUE CONSIDERO UM DOS MELHORES DA ATUALIDADE, OUSADO, CHEIO DE PESO E ATMOSFERAS DE SINTETIZADORES E VOCAIS PSICODÉLICOS. CONHEÇA A BANDA BRITÂNICA PORCUPINE TREE. * Por Amyr Cantusio Jr.
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iderados pela genialidade do músico Steve Wilson, sua música pode ser considerada como rock
progressivo, rock psicadélico, experimentalismo avant garde e heavy metal, com uma tendência mais “dark” e gótica. Aliada também aos elementos da música eletrônica e space rock, o som do Porcupine Tree lembra, de leve, o Pink Floyd e o Hawkwind em alguns momentos. Mas Steve tem sua própria marca registrada. A entrada do baterista fenomenal (um dos melhores do mundo) Gavin Harrison no álbum “In Absentia” trás uma carga de artilharia mais técnica e pesada ao som. O Porcupine Tree conta já com mais de uma dezena de álbuns maravilhosos, e ainda com projetos “solo” de Steve Wilson. Steve participou de álbuns do vocalista do Marillion, Mr.Fish em várias ocasiões e foi um reeditor/remaster dos álbuns do King Crimson contratado diretamente pelo mestre Robert Fripp. Ou seja, Steve Wilson hoje já é uma marca registrada dentro da música/rock de vanguarda mundial. Atualmente, a banda se encontra parada já que seu líder Steven Wilson está focado em sua carreira solo. Porém, atente
em ouvir os álbuns, que considero a obra prima do rock atual. Outras similaridades vão para o grupo inglês Ozric Tentacles. Mas são só algumas por se tratar de space rock recheado com sintetizadores, sitars, guitarras pesadas e flutuantes. As temáticas rebatem a física nuclear, a ficção científica, a metafísica e o ocultismo, por isso é mais que indicadíssimo! Integrantes: Steven Wilson – voz, guitarra, piano, teclado e baixo Richard Barbieri – sintetizador e teclado Colin Edwin – baixo Gavin Harrison – bateria e percussão John Wesley (concertos somente) – voz e guitarra Discografia básica: On the Sunday of Life... - 1991 Up the Downstair - 1993 The Sky Moves Sideways - 1995 Signify - 1996 Stupid Dream - 1999 Lightbulb Sun - 2000 In Absentia - set 2002 Deadwing - 2005 Fear of a Blank Planet - 2007 The Incident - 2009
*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil. Revista Keyboard Brasil / 73
Profissão
A MÚSICA COMO
PROFISSÃO PARA SER MÚSICO NÃO BASTA SOMENTE TER TALENTO. TAMBÉM NÃO É NECESSÁRIO TER DIPLOMA, PORÉM ENVOLVE
INÚMEROS FATORES COMO DEDICAÇÃO,
ESTUDO E PESQUISA.
* Por Hamilton de Oliveira
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música é uma das artes mais
antigas e respeitadas na antiguidade. Na Grécia antiga ela música é uma das artes mais antigas e respeitadas na antiguidade. Na Grécia antiga ela fazia parte do “quadrivium”, que era o nome dado ao conjunto de quatro matérias (aritmética, geometria, astronomia e música) ensinadas nas universidades helênicas na fase inicial do percurso educativo. Passou por diversas transformações ao longo do tempo e chegou ao nosso cotidiano recheada de influências de todos os cantos do mundo. Com o avanço da tecnologia, a iniciação musical está mais acessível à todas as camadas da população brasileira.
Hoje em dia, para ser músico não basta somente ter talento e dedicação. É preciso também ter um bom marketing pessoal para entrar no mercado de trabalho. Alem desses fatores, o músico ainda precisa ter bom ouvido, habilidade manual, ser perfeccionista, gostar de pesquisar e trabalhar em equipe, e ter disposição para estudar e praticar bastante. Para seguir carreira, não é necessário ter diploma. Pode-se cursar um conservatório, frequentar escolas de música ou ter um instrutor particular. Mas para quem quer se aprofundar nos estudos, a universidade é de grande importância para que o músico aprimore suas habilidades no instrumento.
A área de atuação musical no Brasil é bem extensa. Vai desde arranjador, regente, solista e músico de Revista Keyboard Brasil / 75
orquestras sinfônicas, de jazz ou bandas militares, até professor, historiador musical, coralista, preparador vocal, produtor musical, produtor de jingles publicitários, músico de estúdio, entre outros.
Com tudo isso, será que é possível viver de música no Brasil? Com uma boa dose de dedicação e muito estudo, eu diria que sim, é possível viver de música, mesmo com uma crise mundial que assola em cheio nosso país. Para aqueles que se propõem a dar aulas, a graduação leva de três a quatro anos e oferece duas habilitações: o universitário, que pode optar pela licenciatura em música, permitindo que ele ensine, ou o bacharelado em instrumentos (sopro, corda, teclado e percussão), que vai possibilitar ao graduado atuar no canto, compor partituras e reger orquestras. Tem também a pósgraduação em docência no ensino superior, onde ministrará aulas em universidades e faculdades em todo Brasil na sua disciplina específica. Pesquisas recentes mostram que o músico tem carreira muito longa, que começa, em média, aos 18 anos e pode ir além dos 70 anos. Portanto, se você pensa em ser um músico profissional e ganhar dinheiro com isso, não espere a oportunidade chegar sem que você esteja preparado. Até breve.
* Hamilton de Oliveira estudou MPB/Jazz no Conservatório de Tatuí. Formou-se em Licenciatura em Música pela UNISO e Pós-graduou-se pelo SENAC em Docência no Ensino Superior. É maestro, tecladista, pianista, acordeonista, arranjador, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil. 76 / Revista Keyboard Brasil
Enfoque
MÚSICA CLÁSSICA E TOLERÂNCIA: “NAZISTAS ENTRE NÓS”
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MUITOS
NÃO
FAZEM
A
IDEIA
DA
ENORME QUANTIDADE DE MÚSICOS ERUDITOS QUE FORAM EXTREMAMENTE BENEFICIADOS POR SUAS RELAÇÕES FORTES COM O REGIME DE HITLER E QUE PERSEGUIRAM JUDEUS E OUTRAS MINORIAS E DISSIDENTES. ** Por Maestro Osvaldo Colarusso
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o ouvirmos a soberba execução das “Quatro últimas canções” de Richard Strauss com Elizabeth
Schwartzkopf (1915-2006) é interessante saber que por traz de toda a espiritualidade da execução da artista se esconde o fato de que a cantora foi uma ativa participante do Regime Nazista. Tinha a carteirinha do partido e para dar uma turbinada em sua carreira fez parte da “Organização nacional de socialismo do bem-estar social” (Nationalsozialistische Volkswohlfahrt - NSV), um monstruoso braço que pregava a exclusão dos dissidentes em prol dos “arianos”. Ouvirmos sua interpretação é um ato de tolerância? No excelente livro “Nazistas entre nós” do jornalista Marcos Guterman (Editora Contexto) tomamos conhecimento de vários criminosos de guerra que viveram placidamente no Brasil e na
América Latina por muitas décadas. Mas esta tolerância não se passou apenas há cinco ou seis décadas: os recentes acontecimentos em Charlottesville, no Estado americano da Virginia, mostram que esta tolerância é mesmo endossada pelo atual presidente americano e por uma substancial quantidade de pessoas de excelente formação intelectual. Muito propícia a colocação de Marcos Guterman: “como houve um julgamento em Nuremberg depois da queda do regime nazista, muitas pessoas sentiram uma espécie de sensação de que a punição havia sido realizada e a justiça tinha sido feita. Isso talvez tenha provocado este tipo especial de tolerância que fez Revista Keyboard Brasil / 79
com que assassinos como Adolf Eichmann e Joseph Mengele continuassem vivendo tranquilamente na América do Sul muitos anos depois deste julgamento de Nuremberg. Eichmann foi descoberto e raptado pelo serviço secreto de Israel, onde foi julgado e condenado, mas Mengele, o monstruoso médico que usava judeus em suas experiências inócuas, viveu perto de São Paulo uma existência tranquila.”
Tolerância tropical… Músicos clássicos e o nazismo: o estranho caso de Anton Webern Mesmo sem serem assassinos como Eichmann é interessante vermos a enorme quantidade de músicos eruditos que foram extremamente beneficiados por suas relações fortes com o regime de Hitler: Karajan, Karl Böhm, Alfred Cortot e muitos outros, apesar de sua genialidade musical, perseguiram judeus e outras minorias e dissidentes. Não creio que deveríamos agir de forma a censurar este ou aquele artista, deixar de ouvir este ou aquele cantor, este ou aquele maestro, mas creio ser importante sabermos que toleramos artistas que foram coniventes e entusiastas frente a um regime monstruoso. Muito conhecido é o fato dos compositores Richard Strauss e Carl Orff terem se imiscuído até o pescoço com os nazistas, mas pouca gente sabe que o importante 80 / Revista Keyboard Brasil
A cantora Elizabeth Schwar kopf: espiritualidade nas interpretações junto a um passado nazista.
compositor austríaco Anton Webern (1883-1945), um dos mais influentes compositores do século XX, e que escrevia num estilo de original e ousada modernidade, foi um simpatizante do partido e um entusiasmado favorável à anexação da Áustria pela Alemanha nazista. Não só votou favorável ao “Anschluss” em 1938 (anexação que teve aprovação de 95% da população do “país de Mozart”) mas fez propaganda pela aprovação do mesmo. Mesmo sabendo que sua obra seria proibida de ser executada por estar afastada dos ideais estéticos do regime, acreditava que sua amada Áustria teria um futuro melhor sendo dirigida por Hitler. Curiosamente Webern morreu por um disparo acidental, perto de sua casa, por um soldado americano bêbado depois do fim da segunda guerra mundial. Regimes despóticos fascinam, seduzem, mesmo que nos destruam. Neste sentido o caso de Webern é emblemático.
O compositor austríaco Anton Webern: fascinação masoquista
* Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Esteve à frente de grandes orquestras, além de ter atuado com solistas do nível de Mikhail Rudi, Nelson Freire, Vadim Rudenko, Arnaldo Cohen, Arthur Moreira Lima, Gilberto Tinetti, David Garret, Cristian Budu, entre outros. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver atividades como professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil. ** Texto retirado do Blog Falando de Música, do jornal paranaense Gazeta do Povo. 03 / Revista Keyboard Brasil
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Foto: Divulgação
Notícias
ANAFIMA reúne lojistas e fornecedores para discutir varejo
online e físico EMPRESÁRIOS DISCUTIRAM MÉTODOS E BOAS PRÁTICAS PARA A SUSTENTAÇÃO DOS VAREJOS FÍSICO E ON-LINE * Redação
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Anafima – Associação Nacional da Indústria da Música convidou lojistas,
fabricantes e importadores para uma reunião acontecida dia 11 de setembro onde se discutiu: 1) capacitação setorial por meio do Sebrae e Ciesp, compreendendo todos os atores do mercado da música; 2) padronização do conteúdo e formato das tabelas XML ou planilhas Excel, incluindo código EAN, a fim de facilitar a importação para os sistemas utilizados pelo varejo e boas práticas entre fornecedores e lojas físicas e on-line que preservem o futuro do negócio. Empresas como Roland, Casio, Harman do Brasil, Michael, Vogga, a distribuidora Musical Express, loja X5, Mega Disconildo, Made in Brazil, Rozini, Habro Music, Sennheiser, Equipo, Oxedio Rode e IK Multimedia debruçaram sobre as tendências globais da coexistência entre os mercados on-line e físico e como as boas práticas podem ser benéficas ao setor.
O gerador de conflitos Se o comércio on-line amplia a facilidade para a venda de contrabando, produtos falsificados etc., os marketplaces 'legalizam' o produto ao olhar do consumidor. Da mesma forma, a falta de uma estrutura política e comercial dos fornecedores leva o varejo ao canibalismo e à desestruturação do mercado. Nesse
caso, é justo a responsabilidade ser generalizada para todas as lojas virtuais? Claro que não. Paolo Guilherme, do Ovelha Negra, reforça: “Existem os contrabandistas, os fraudadores que trabalham com carga roubada, o grey market (contrabando), entre outros ilícitos e que 'se plugaram' em marketplaces grandes, vendendo produtos abaixo do meu preço de custo”. Para o comprador Evandro Guilherme, da loja Mega Disconildo, do Rio de Janeiro, o fornecedor que não possui política específica para os comércios on-line e físico acaba sendo preterido. “Fornecedores que não dão margem (de lucro) acabam sendo banidos na hora das compras”, explicou o comprador. Essa mesma solução foi comumente citada em uma enquete realizada pela Música & Mercado com lojistas de todo o Brasil. Pela natureza do negócio, lojas virtuais têm seus preços comparados instantaneamente por meios eletrônicos. Logo, competitividade em preço é parte essencial da estratégia. Mas engana-se quem pensa que o custo do varejo on-line é baixo. “Existe ainda o investimento do lado do e-commerce em trazer tráfego, manutenção do site, produção de conteúdo, entre outros custos e esforços para a experiência do cliente on-line”, comenta Paolo Guilherme, gerente de marketing da loja ovelhanegramusical.com.br. Isso sem contar o custo de logística, taxa de cartão de crédito, custo de devoluções etc.
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O varejo físico sobreviverá ao digital? Para as empresas participantes da reunião da Anafima, foram apontadas ideias para preservar a competitividade do varejo físico, sem detrimento do virtual. Como exemplo, políticas de venda diversificadas para cada eixo do varejo podem trazer equilíbrio aos preços para ambos os pontos de venda. Outras ideias citadas foram as ações que atendam e promovam a experimentação nas lojas físicas ou linhas de produtos específicas para magazines on-line e físicos. Soluções corretivas por parte dos fornecedores também entraram na pauta da discussão, entre elas, o corte do fornecimento para as lojas que descumprirem a política preestabelecida e o
trabalho em conjunto para identificar revendedores (on-line ou não) de produtos contrabandeados e falsificados.
Próximos passos Após o compartilhamento de experiências, foi unânime o entendimento sobre as consequências danosas que o
amadorismo e a falta de políticas de venda e compra têm causado ao negócio do áudio e instrumentos musicais no País. O comprometimento da Anafima, suas empresas representadas, Sebrae e Ciesp para trabalhar neste processo é claro. Um grupo foi formado para trabalhar nesses temas e pré-acordada uma reunião após o período de feiras, em outubro.
Saiba mais da ANAFIMA: http://www.anafima.com.br/site/
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