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Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6609-4
9 788538 766094
RODRIGO VINÍCIUS SARTORI
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NOVOS CAMINHOS PARA PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
Há algo em comum entre professores experientes e novatos, concursados com carreira estável em instituições públicas e ocasionais prestadores de serviço em instituições privadas, líderes acadêmicos e empreendedores educacionais: neste momento vivenciado, todos, em absoluto, são demandados a serem menos especialistas e mais generalistas. O cenário atual impõe cada vez mais funções agregadas ao papel de professor, que vê sua profissão passar por uma rápida e firme transformação. Diante dessa turbulência no campo profissional, abrem-se, ao mesmo tempo, diversas novas possibilidades de atuação do educador na sociedade atual, tema que é exaustivamente debatido neste livro. Novos caminhos esses que têm potencial de resultar em grande sucesso profissional se bem aproveitados. A expectativa é que essa obra possa contribuir com a formação de professores diferenciados, ainda mais competentes e que aproveitem todas as melhores oportunidades ao seu alcance.
Novos caminhos para profissionais da educação Rodrigo Vinícius Sartori
IESDE BRASIL 2020
© 2018 – 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A.
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S26n Sartori, Rodrigo Vinícius Novos caminhos para profissionais da educação / Rodrigo Vinícius Sartori. - [2. ed.]. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 192 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6609-4 1. Professores - Formação. 2. Prática do ensino. I. Título. CDD: 370.71 20-62817 CDU: 37.026
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Rodrigo Vinícius Sartori
Doutor em Administração pela Universidade Positivo (UP). Mestre em Engenharia da Produção, especialista em Gestão do Conhecimento nas Organizações e engenheiro industrial elétrico pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Professor, pesquisador e consultor sênior de gestão nas áreas de qualidade e inovação, com vivência internacional (EUA e Espanha). Desenvolve trabalhos acadêmicos e empresariais em todo o Brasil. É autor de livros para o ensino superior.
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SUMÁRIO 1 Ser professor no século XXI 9 1.1 Os desafios do mundo contemporâneo 9 1.2 Ser professor na atualidade 13 1.3 Múltiplas competências para o novo educador 18
2 Repensando a formação docente 24 2.1 A formação continuada 24 2.2 O pesquisador autodidata 29 2.3 O professor aluno 34
3 Novas possibilidades de atuação docente 41 3.1 Planejando a carreira 41 3.2 O professor empreendedor 46 3.3 Marketing pessoal e network 53
4 A contribuição das TIC para a educação 60 4.1 A nova comunicação professor-aluno 60 4.2 A internet na sala de aula 66 4.3 Tecnologia como recurso didático 71
5 Novidades tecnológicas na sala de aula 80 5.1 EaD e Mooc 80 5.2 Realidade virtual 85 5.3 Realidade aumentada 92
6 Inovações na educação 100 6.1 Jogos educacionais 100 6.2 Aula invertida e ensino híbrido 107 6.3 Convivência com dispositivos móveis 112
7 Novas competências comportamentais 119 7.1 Liderança 119 7.2 Relacionamento interpessoal 125 7.3 Motivação 130
8 Noções de gestão para o professor 137 8.1 Qualidade e produtividade 137 8.2 Gestão de projetos 142 8.3 Gestão de conflitos 147
9 Tópicos especiais para o professor 156 9.1 A carreira internacional do professor 156 9.2 O papel do professor nos ecossistemas de inovação 163 9.3 O professor como agente político 168
10 A excelência docente 174 10.1 Leitura crítica 174 10.2 Maestria na escrita 181 10.3 Domínio da oratória 185
APRESENTAÇÃO Há algo em comum entre professores experientes e novatos, concursados com carreira estável em instituições públicas e ocasionais prestadores de serviço em instituições privadas, líderes acadêmicos e empreendedores educacionais: neste momento vivenciado, todos, em absoluto, são demandados a serem menos especialistas e mais generalistas. O cenário atual impõe cada vez mais funções agregadas ao papel de professor, que vê sua profissão passar por uma rápida e firme transformação. Diante dessa turbulência no campo profissional, abrem-se, ao mesmo tempo, diversas novas possibilidades de atuação do educador na sociedade atual, tema que é exaustivamente debatido neste livro. Novos caminhos esses que têm potencial de resultar em grande sucesso profissional se bem aproveitados – o primeiro passo, naturalmente, é compreender o que ocorre com o mundo e com o trabalho do professor. É nesse sentido que o Capítulo 1 introduz essa reflexão sobre o que é ser professor no novo milênio: os desafios do mundo contemporâneo, ser professor na atualidade e as múltiplas competências para o novo educador. O objetivo do Capítulo 2 é repensar a formação docente. Por isso, uma análise crítica é realizada a respeito da formação continuada, do pesquisador autodidata e do professor aluno. Com um teor bastante prático, o Capítulo 3 descreve as novas possibilidades de atuação docente em termos de planejamento de carreira, de empreendedorismo, de marketing pessoal e networking. No Capítulo 4, analisando-se a nova comunicação professor aluno, a internet na sala de aula e a tecnologia como recurso didático, realiza-se, enfim, uma avaliação do grau de contribuição das tecnologias de informação e comunicação (TIC) para a educação. As novidades tecnológicas na sala de aula são o foco do Capítulo 5, que apresenta aspectos como EaD, Mooc, realidade virtual e realidade aumentada. O Capítulo 6 se ocupa de algumas inovações específicas no campo da educação, como os jogos educacionais, a aula invertida, o ensino híbrido e a convivência com dispositivos móveis. O propósito do Capítulo 7 é explorar as novas competências comportamentais necessárias ao educador da atualidade: liderança, relacionamento interpessoal e motivação.
No Capítulo 8, são apresentadas as noções essenciais de gestão para o professor, com foco nos elementos de qualidade, produtividade, gerenciamento de projetos e gerenciamento de conflitos. Reserva-se, no Capítulo 9, espaço para alguns tópicos especiais, que podem conduzir a carreira do professor à elevada distinção: a carreira internacional do professor, o papel do educador nos ecossistemas de inovação e a agência política desse profissional. Por fim, no Capítulo 10, descrevem-se atributos primordiais para o atingimento da excelência docente: a capacidade avançada na leitura, escrita e oratória. A expectativa é que essa obra possa contribuir com a formação de professores diferenciados, ainda mais competentes e que aproveitem todas as melhores oportunidades ao seu alcance. Bons estudos!
1 Ser professor no século XXI Por que algumas pessoas se tornam professores? Ou, ainda mais importante, por que alguns profissionais resolvem de maneira resoluta continuar sendo professores? Afinal, definitivamente essa não é uma ocupação para qualquer um, sobretudo no panorama atual (seja no Brasil ou mundo afora). A vocação para a educação é examinada pelas lentes das oportunidades que se apresentam atualmente, carregadas, todavia, de desafios à altura. Uma das mais formidáveis carreiras profissionais é cuidadosamente analisada nesta obra, em conjunto com as múltiplas competências a ela associadas. Afinal, uma sociedade em acelerado processo de transformação, em todas as instâncias, exige, mais do que nunca, uma geração de educadores de classe mundial.
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Os desafios do mundo contemporâneo De que forma mais desoladora um livro como este poderia iniciar, senão suscitando que máquinas inteligentes podem substituir, de maneira completa, os professores em sala de aula? Ao menos, esse é o cenário anunciado por Anthony Seldon, um dos dirigentes da Universidade de Buckingham, historiador que escreveu biografias de grandes nomes (como David Cameron e Tony Blair), além de ser um grande estudioso da educação. Para ele, esse movimento é irreversível e se iniciará até 2030 como parte de um novo paradigma de modelo educacional “um para um”: o máximo grau de personalização ou individualização do processo de aprendizagem, com base no impressionante avanço da tecnologia de inteligência artificial. Seldon (2018), que se diz “desesperadamente triste por isso”, mas receoso de estar certo, acredita que se vive o momento por ele de-
Ser professor no século XXI
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ao entrar em contato com as falas de seus pares, a criança, na idade certa, aciona o conhecimento linguístico prévio, herdado geneticamente; há, portanto, em cada indivíduo, um dispositivo exclusivo para a linguagem que é muito criativo; o uso criativo da linguagem mostra a capacidade dos falantes de usarem a língua diariamente com coerência e de modo adequado a cada contexto; a aquisição da linguagem se dá de maneira uniforme, na medida em que crianças de um mesmo país, mas que têm distintas realidades sociais, aprendem a falar a mesma língua, mesmo recebendo inputs diferentes. Grolla e Silva (2014) defendem uma abordagem racionalista de linguagem, conhecida como Teoria da Gramática Universal, que dialoga com a concepção gerativista apresentada por Chomsky, por negar as teorias de cunho empirista, cujo conceito parte do princípio de que a linguagem é adquirida apenas por meio da experiência com o ambiente. Assim, as autoras apresentam estágios de aquisição de linguagem – com base em pesquisas que foram feitas com crianças –, pelos quais todas as crianças passam, independentemente de sua língua materna. A figura a seguir apresenta esses estágios. Figura 5 Estágios de aquisição da linguagem
Em torno de 10 meses Em torno de 6 meses Primeiros meses de vida
A criança emite sons sem significados (balbucios). Estudos mostram que os bebês conseguem distinguir sua língua nativa de uma língua estrangeira, desde que tenham diferentes ritmos.
A criança balbucia maior número de sons. Produz sílabas, como “ba, ba, ba”, “bi, bi, bi”, e repete-as muitas vezes. O mesmo tipo de som é produzido por bebês adquirindo diferentes línguas. Até bebês surdos fazem esses barulhos, mostrando que isso não corresponde a uma resposta a estímulos externos.
A criança balbucia somente os sons que ouve, usando a entonação da língua falada que está adquirindo: pronúncia, entonação, regularidades e restrições dos sons da língua (em português, por exemplo, não há palavra que comece com os sons “vre”, “nha”, “lha”, embora essas sílabas existam em outras posições nas palavras). (Continua)
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Metodologia do ensino de Língua Portuguesa
Mais de 3 anos Tem um vocabulário em torno de 1200 palavras. Começa a usar sentenças com mais de uma oração (mais de um verbo), como “fui para a escola e chorei”. Depois, já com um vocabulário aproximado de 1900 palavras, começa a usar sentenças subordinadas e com ideias temporais, como “depois, se eu ficar na escola, vou chorar”. Em torno dos 5 anos, demonstra que aprendeu as regras da sua língua materna, podendo criar enunciados nunca ouvidos antes.
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Entre 2 e 3 anos Produz sentenças simples com mais de duas palavras. Tem um vocabulário de 400 palavras, aproximadamente. No início, não usa artigos (o, a, uma etc.) e preposições (de, para, em etc.), mas assim que o vocabulário aumenta (cerca de 700 palavras), passa a usá-los. Nessa fase, costuma apresentar construções como “eu fazi”, mostrando que se baseia em regularidades da língua (como “eu comi”) e aplica a outras situações, pois ainda desconhece que há verbos irregulares.
Ao redor de 1 ano e 6 meses Começa a combinar duas palavras, inicialmente, sem valor de sentença (água... au-au) e, depois, com valor de sentença (quero mamar).
Ao redor de 1 ano A habilidade de distinguir sons de línguas estrangeiras diminui. Inicia a produção das primeiras palavras (que nomeiam pessoas ou objetos comuns a ela, como mamãe, papai, au-au). Os enunciados são compostos de uma palavra, mas têm valor de frases. Combina gestos com palavras (aponta para um pássaro e diz “piu-piu”) e entende ordens, como “bate palminha”.
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Fonte: Elaborada pela autora com base em Grolla e Silva, 2014, p. 64-69.
Aquisição da linguagem pela criança
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Saiba mais
As redes sociais digitais favorecem sobremaneira essa tarefa. O que
Um blog é um tipo de site com atualizações constantes. Geralmente, sua organização é cronológica inversa e seu tema é definido pelo organizador e mantido por todo seu conteúdo. Um blog pode ter suas postagens escritas por mais de uma pessoa.
elas promovem é um salto em termos de exposição e interatividade se comparadas aos blogs pessoais clássicos, possíveis de serem criados com ferramentas como Wordpress e Webnode. O que acabou ocorrendo foi uma natural integração das principais redes sociais, tais como Facebook, YouTube, Twitter, LinkedIn e Instagram, às páginas dos blogs. Grande parte da audiência acompanha as novidades dos blogs não pelo acesso direto à sua página, mas por links reproduzidos nas redes sociais. A propósito, o YouTube é o que se costuma denominar de vlog (abreviação de videoblog), ou seja, um tipo de blog em que os conteúdos predominantes são os vídeos. Muitos docentes, na verdade, abdicam de ter uma página de blog como conteúdo central, dedicando-se a manter as próprias páginas nas redes sociais como principais canais de divulgação de suas postagens. Há quem adote uma política de separar as coisas, usando Facebook para postagens pessoais e LinkedIn para as profissionais; outros reproduzem
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conteúdo técnico em todas as suas mídias sociais. Como a quantidade
Plataforma disponível em: hootsuite.com/pt/. Acesso em: 21 fev. 2020.
de redes sociais é grande e ficar manualmente gerenciando as publica-
rvlsoft/Shutterstock
ções de uma em uma demanda muito tempo, os professores podem considerar soluções interessantes do mercado, como o Hootsuite
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e
similares, sistemas capazes de reproduzir automaticamente uma única postagem em todas as redes sociais, deixando o trabalho de marketing do professor muito mais produtivo. Fora do ambiente digital, algumas iniciativas simples são altamente eficientes para manter uma boa imagem do professor perante seu mercado de atuação (sejam clientes atuais ou potenciais). Visitas de cortesia e lembranças em datas comemorativas (como aniversário e Natal) são algumas dessas medidas. Fundamentalmente, boa parte das práticas de marketing pessoal é amparada no network do profissional, ou seja, na rede de relacionamentos profissionais que ele mantém. Esse círculo de contatos corresponde a um ativo importante e precisa ser devidamente gerenciado para que cresça em quantidade e qualidade – o resultado natural é uma maior demanda de trabalhos para o professor, pois muitas decisões corpo-
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Novos caminhos para profissionais da educação
Ainda, segundo Bailenson et al. (2008), um aspecto bastante interessante dessa tecnologia diz respeito aos colegas de um estudante em um ambiente virtual: eles podem ser totalmente virtuais, ou seja, não necessariamente outros colegas humanos reais (emulados por avatares no meio digital), mas, sim, colegas diretamente simulados pelo computador, com comportamento tal que passa despercebido ao estudante – que não sabe se está de fato interagindo com um companheiro de estudos ou com mais uma simulação digital daquele ambiente. Essa função é importante porque, em geral, as pessoas aprendem melhor em condições de estudo coletivo do que individualmente. Assim, percebe-se o quanto as tecnologias de realidade virtual e inteligência artificial tendem a convergir. Uma das vantagens dos ambientes virtuais digitais é que cada uma das ações captadas pelo sistema precisa ser registrada para fornecer a devida resposta ao usuário. Então, todas as ações desempenhadas pelos estudantes e pelo professor – desde um nível micro, como gestos não verbais, até um nível macro, como um desempenho em um teste – são permanentemente armazenadas. Com a assimilação e o processamento desses dados pela computação envolvida, os ambientes virtuais tendem a ser continuamente aprimorados pela criação de perfis comportamentais e roteiros aprendidos em uma escala que não se compara à experiência do ensino presencial. Algumas disciplinas parecem ser mais favoráveis ao uso de realidade virtual como prática didática, como a Biologia.
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A capacidade de visualizar, criar, alterar e rotacionar em tempo real uma estrutura química em três dimensões pode facilitar a compreensão de conceitos abstratos.
Novidades tecnológicas na sala de aula
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de professores, de alunos e, especialmente, do conteúdo ministrado. De fato, a habilidade dos professores e alunos de usar tecnologia para alterar suas representações e seus contextos on-line, visando melhorar a aprendizagem, é uma interação social transformada. Há evidências, originadas de uma série de estudos empíricos, que demonstram que a quebra do ambiente convencional de ensino e aprendizagem pode melhorar o desempenho de professores e de alunos – embora a realidade virtual não seja ainda uma tecnologia tão facilmente adquirida pelas instituições de ensino em geral. De qualquer modo, a tendência é de grande proliferação de tecnologia educacional de realidade virtual ao longo dos próximos anos, principalmente dado o gradativo barateamento de custos que sempre ocorre concomitante à maior difusão de uma nova tecnologia. Isso torna o tema estratégico para qualquer docente da atualidade – quer o profissional já utilize essa tecnologia no seu dia a dia ou não. Afinal, se ainda não teve essa experiência no seu trabalho, é bastante provável que terá, mais cedo ou mais tarde (BAILENSON et al., 2008; CHEN; CALINGER; HOWARD, 2010). O uso da realidade virtual para a prática educacional encontra resEstudante experimentando óculos de realidade virtual.
paldo tanto na convencional pedagogia, do consumo do conhecimento já estabelecido, quanto na construção do conhecimento sob demanda.
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Novos caminhos para profissionais da educação
Ao incorporar a realidade aumentada, o processo de ensino e aprendizagem é beneficiado com alguns importantes ganhos, especialmente sob a perspectiva do trabalho conduzido pelo professor. Um dos mais óbvios é de que os professores não precisam mais se debater com a tarefa de usar quadros bidimensionais para ilustrar estruturas em 3D. E, inquestionavelmente, uma melhor visualização conduz a um melhor entendimento pelos alunos, contribuindo com a retenção de conhecimento. O aspecto lúdico também não deve ser negligenciado. Uma vez que as tecnologias de realidade mesclada são bastante recentes, elas soam como novidades que despertam interesse, especialmente nas mentes jovens. Assim, os alunos tendem a ficar mais inclinados a usar e a experimentar essas tecnologias, e a prerrogativa de ter de aprender algo novo é uma das boas justificavas para fazê-lo. Do mesmo modo que ocorre na realidade virtual, a aumentada ganha um espaço privilegiado de aplicação no ensino de conteúdos mais complexos, como as áreas técnicas de conhecimento. Por isso, ela é tão apreciada na formação de engenheiros e médicos, por exemplo. Na educação básica, a tecnologia de realidade aumentada pode ser implementada, em tese, em qualquer conteúdo de qualquer disciplina, por meio da criatividade que o professor empregue para a exploração. Afinal, ao trazer para o mundo real imagens e animações que permitam aos alunos brincar com objetos, como números,
Estudante utilizando a tecnologia de realidade aumentada.
cores, formas geométricas ou mesmo um sistema solar completo orbitando em meio aos estudantes em sala de aula, é dada uma maior ênfase lúdica aos conteúdos, o que poderá estimular as pessoas a aprenderem mais e melhor. Apesar disso, a tecnologia também sofre críticas. Há quem sinalize para o perigo da deterioração das relações humanas, uma vez que a realidade virtual e a aumentada tenderiam a isolar a pessoa em um mundo virtual, desfavorecendo, assim, as relações pessoais, que são, desde sempre, um com-
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petência a ser desenvolvida para a docência na atualidade, que é o planejamento para a utilização dos jogos educativos. Por meio do correto planejamento, garantem-se experiências mais proveitosas desse tipo de recurso nas aulas, aumentando a participação dos alunos em classe e a maior interação destes com os colegas – algo que todo professor espera proporcionar a cada aula ministrada. Os jogos oferecem, ainda, o complemento pedagógico para melhor atender àquela parcela da turma que, devido a características cognitivas específicas, tem mais dificuldade em compreender o conteúdo quando este é exposto apenas na forma de aulas tradicionais. Por ser o ato de brincar associado imediatamente ao público infantil, foi inevitável que se concretizasse a tendência de incluir jogos no currículo dos cursos de nível fundamental, um movimento percebido com mais ênfase nas instituições particulares de ensino. Tem-se percebido um movimento no sentido de aproveitar os jogos educativos como estratégias de ensino em disciplinas centrais, como é o caso da Matemática, da Língua Inglesa e da Língua Portuguesa (BEAVIS; MUSPRATT; THOMPSON, 2015; DICHEVA et al., 2015; WATSON; YANG, 2016). A educação infantil, potencializada pelos jogos educativos, faz com que as crianças mal percebam que as atividades em que estão ocupadas têm cunho de aprendizado; não raro, ao se perguntar como foi o dia para uma delas, a resposta é algo como “Ah, foi legal! Muitas brincadeiras o dia todo”. E isso ocorre mesmo em meio aos cálculos executados, às iniciativas de planejamento e controle, à negociação entre Os mais variados jogos digitais convivem com os clássicos jogos off-line, como o tradicional xadrez.
tivos permitem aprender sem perceber que se está aprendendo. Contudo, o uso do lúdico, mesclado a atividades mais tradicio-
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colegas e aos demais processos cognitivos de alto nível: os jogos educa-
nais, é algo passível de ser explorado em todas as faixas etárias, que, usualmente, respondem bem à proposta. Entre jovens e adultos, é evidente que esse tipo de abordagem metodológica, eventualmente adotada pelo professor, vai ser inequivocamente compreendida pelos estudantes como uma forma de promover a mediação
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No caso da educação infantil, o uso de tecnologias dessa natureza precisa ser muito bem ponderado. Afinal, principalmente no caso de crianças na primeira infância (até os seis anos de idade), existe a incapacidade de separar realidade da fantasia. Uma vez que a realidade virtual e a aumentada oferecem uma imersão completa, a experiência pode ser tão intensa para esse público que as crianças podem confundi-la com situações da vida real. Certamente, conteúdos que remetam à violência ou ao medo acabam sendo especialmente danosos. Perigos podem surgir das mais insuspeitas situações; por exemplo, manusear uma aranha ou qualquer outro animal peçonhento em ambiente virtual e fazê-lo no ambiente real levam a consequências drasticamente diferentes.
Atividade 3 Quais são alguns cuidados que precisam ser tomados quanto às tecnologias digitais de realidade mesclada no campo da educação infantil?
Por isso, o acompanhamento e o monitoramento de responsáveis precisa ser muito bem executado. Ainda, o componente motivacional pode ser muito bem explorado por essas novas tecnologias. Afinal, é a motivação associada ao interesse: se, tradicionalmente, muitos estudantes lutam com a tentação de procrastinar seus deveres por serem demandas que lhes parecem tediosas, árduas e/ou desnecessárias, a realidade virtual e a realidade aumentada garantem um meio mais estimulante
Crianças observando borboletas com óculos de realidade aumentada.
de fazer os alunos terem mais interesse em aprender e se tornar profissionais bem-sucedidos.
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Novidades tecnológicas na sala de aula
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do conteúdo, promover discussões em grupo e estimular ações de significar o aprendido; enfim, uma mentoria que explora o máximo do potencial do profissional de educação. A aula invertida aposta no esgotamento do modelo clássico de instrução, conhecido por colocar o professor como foco de atenção. Na aula expositiva convencional, o conteúdo é essencialmente transmitido pelo docente, sendo o final da aula destinado a esclarecer eventuais dúvidas. A desvantagem é que, normalmente, há pouco espaço para atividades mais elaboradas no encontro presencial, uma vez que a prioridade é aproveitar o tempo disponível para repassar o conteúdo da disciplina; para alunos que não tiveram, até então, contato com o objeto do conhecimento, praticamente a totalidade da aula é consumida nessa atividade de instrução básica. Por outro lado, a aula invertida não significa a condenação absoluta do modelo tradicional que imperou ao longo das últimas décadas. É fato que muitas pessoas de grande sucesso foram educadas segundo a forma convencional de ensino. Não existem modelos absolutamente perfeitos e, em resposta a críticas associadas a uma maior passividade dos alunos na aula tradicional, a aula invertida se propõe a, deliberadamente, deslocar a instrução para uma alternativa mais centrada no estudante, o que é importante, sem abrir mão da função do professor. Essa nova abordagem pedagógica se destaca justamente pelo aproveitamento do tempo em sala de aula para uma exploração mais aprofundada e de maneira contextualizada do conteúdo disciplinar (KING, 1993; ROEHLING et al., 2017). Na aula invertida, o estudante estabelece seu primeiro contato com um novo conhecimento e, em seguida, dentro da sala, esse conhecimento é melhor trabalhado em discussões e atividades de mais alto nível.
Artigo http://periodicos.pucminas.br/index.php/arquivobrasileiroeducacao/article/view/P.2318-7344.2015v3n6p65/10170 No artigo Contributo das tecnologias digitais para o desenvolvimento de competências do século XXI em uma aula invertida, da autora Adelina Silva, publicado na revista Arquivo Brasileiro de Educação, em 2015, a transformação digital do ensino e da aprendizagem é avaliada pela perspectiva da aula invertida, revelando importantes pontos de atenção para o educador contemporâneo. Acesso em: 14 fev. 2020.
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Novos caminhos para profissionais da educação
a adoção de recursos didáticos e o esforço por despertar o interesse do aluno. Por isso, saber o que e como dizer algo aos alunos é uma atribuição essencial da comunicação do professor. No que se refere à voz, ela deve ser empregada de modo saudável, fluindo de maneira eficiente e sem esforço exagerado. Um tom de voz alto e claro é suficiente para garantir a atenção da maior parte dos alunos. Contudo, é preciso lembrar que os movimentos do corpo, incluindo posição das mãos, direcionamento do olhar e circulação em sala de aula, também transmitem importantes informações, complementando a mensagem principal. A postura do corpo como um todo, mas principalmente da cabeça, reflete na aceitação visual dos interlocutores e no correto funcionamento da musculatura da laringe.
Gestos complementam a mensagem transmitida, sendo importante também estar atento à expressão facial durante a interlocução e mantendo contato visual com os estudantes. De fato, a forma de usar os gestos e o contato visual reflete a personalidade própria de um professor – algo que talvez seja apreendido de modo inconsciente e imediato pelos alunos. É importante que os movimentos corporais sejam fluidos e estejam em consonância com a comunicação oral, favorecendo a transmissão correta da mensagem.
Os movimentos aliados à voz do professor fazem com que a aula se torne mais interessante e que os riscos à saúde sejam menores.
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Enganam-se, porém, aqueles que pensam que apenas os professores gestores são efetivamente líderes. Diferentes atributos levam um professor a ser verdadeiramente um líder, qualquer que seja sua frente mais destacada de atuação entre ensino, pesquisa, gestão e extensão. Em todos os campos profissionais, é sabido que nem todos os perfis de indivíduos são compatíveis com posições de gestão; isso não é diferente no ramo da educação. Então, o que acontece é que muitos professores conseguem ser muito bem-sucedidos em seu trabalho, mesmo que não tenham atribuições de gestor. Essa liderança mais ampla, que excede as atribuições meramente administrativas, é a que merece ser analisada. Segundo Donaldson Jr. (2007), talvez poucos profissionais tenham uma oportunidade tão clara de desenvolvimento de liderança no seu dia a dia quanto o professor no exercício de suas atividades em sala de aula. Diante da turma de alunos, o seu papel de conduzir as atividades em classe naturalmente determina que ele é a maior autoridade naquele ambiente. Algumas autoridades se impõem pelo medo que os alunos têm de serem repreendidos ou penalizados; outras são conquistadas por meio do sentimento de respeito genuíno transmitido Líderes são seguidos espontaneamente por seus liderados, que entendem que faz sentido escolher seguir alguém que lhes inspira algo positivo.
pela conduta adotada em classe. Esse é um bom indicativo preliminar de liderança para o professor: quanto mais ele precisa impor seu poder disciplinar para controlar uma turma, pedindo silêncio, repreendendo e penalizando, menor parece ser seu poder de liderança efetiva.
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Há algo em comum entre professores experientes e novatos, concursados com carreira estável em instituições públicas e ocasionais prestadores de serviço em instituições privadas, líderes acadêmicos e empreendedores educacionais: neste momento vivenciado, todos, em absoluto, são demandados a serem menos especialistas e mais generalistas. O cenário atual impõe cada vez mais funções agregadas ao papel de professor, que vê sua profissão passar por uma rápida e firme transformação. Diante dessa turbulência no campo profissional, abrem-se, ao mesmo tempo, diversas novas possibilidades de atuação do educador na sociedade atual, tema que é exaustivamente debatido neste livro. Novos caminhos esses que têm potencial de resultar em grande sucesso profissional se bem aproveitados. A expectativa é que essa obra possa contribuir com a formação de professores diferenciados, ainda mais competentes e que aproveitem todas as melhores oportunidades ao seu alcance.