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ESTUDOS DE CASO

O primeiro grupo de referências possui como principal ênfase o estudo do rio e o tratamento adquirido por este após a realização dos projetos. Já o segundo priorizou espaços educacionais que atuam no mesmo sentido em que se pretende levar o objeto arquitetônico. Esses estudos de caso foram analisados a fim de melhor fundamentar o trabalho até aqui apresentado. São os seguintes projetos:

GRUPO 01

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- Projeto Beira Rio, localizado em Piracicaba/SP (2001-em desenvolvimento). Projeto desenvolvido por ampla equipe que inclui arquitetos, engenheiros e biólogos, citados mais adiante;

- Projeto Urbano e Paisagístico do Rio Los Angeles/EUA (20052007, em implantação). Projeto geral desenvolvido pelo escritório Mia Lehrer Ana Associates;

- Projeto Urbano e Paisagístico do Rio Don, Toronto/Canadá (1990-em desenvolvimento). Projeto geral desenvolvido pelo escritório Michael Van Valkenburgh Associates; cípio em questão;

- Projeto Urbano e Paisagístico do Rio Manzanares, Madri/Espanha (2005-2011). Projeto urbano e paisagístico desenvolvidos pelos escritórios Mrío Arquitectos e West 8 Urban Design and Landscape Architecture.

- Catavento Cultural, localizado em São Paulo. Adaptação do Palácio das Indústrias e projeto pedagógico da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.

- Academia de Ciências e Artes da California, em São Francisco/ EUA (1995-2008). Projeto arquitetônico de Renzo Piano.

5.1. Projeto Beira Rio, Piracicaba/SP

O projeto Beira Rio, no município paulista de Piracicaba, faz menção principalmente à relação histórica e cultural da população local com o Rio Piracicaba. Esse mesmo rio mantém ainda hoje importância econômica para a cidade, tanto no que diz respeito à pesca, como no que se refere ao turismo. Considerando o rio como um sistema único de relação com Piracicaba, inicia-se uma busca por uma cidade sustentável – na qual a preservação de recursos naturais não se dissocia do avanço econômico.

GRUPO 02

- Sabina (Parque Escola Arte e Ciência), localizado em Santo André/SP (2003). Projeto arquitetônico de Paulo Mendes da Rocha e projeto pedagógico da Secretaria da Educação do muni-

O projeto se iniciou em 2001 e, até o momento, algumas fases foram concluídas. Após um diagnóstico geral da área determinada para estudo, foi realizado um Plano de Ação Estruturador (PAE), justamente para fragmentar a proposta geral em etapas menores de desenvolvimento. As bases para a elaboração do PAE são principalmente uma Agenda 21 local (“Piracicaba 2010), o Planejamento e Desenho Ambiental, além do diagnóstico “A cara de Piracicaba”. O eixo do rio tomado para projeto possui cerca de 800 metros de extensão.

A primeira mudança ocorreu na chamada Rua do Porto, aquela com mais memória local – já que nela ficava justamente o porto do rio para a cidade de Piracicaba. Nessa etapa foi realizado um novo desenho para as vias e praças nas proximidades da rua em destaque, com a implantação de uma nova trilha para a passagem de pedestres em área alagável (pelo regime de cheias do rio) e com a construção de decks nesse trecho para uso da população geral e dos restaurantes que ficam à beira do rio. Foi realizada também uma reconstituição da mata ciliar em alguns trechos, com remissões à antiga paisagem da cidade e também para restituir a paisagem do próprio leito de água. Quanto às obras de infraestrutura urbana, podem ser citadas as melhorias nos sistemas de drenagem e tratamento de águas pluviais, a criação de bolsões de estacionamento em piso permeável ao longo da Rua do Porto e o projeto de dois núcleos de sanitários públicos para uso geral da população.

A segunda etapa inclui as intervenções realizadas ao longo do Largo dos Pescadores, com a reconstrução das calçadas para pedestres e o novo tratamento paisagístico das margens do rio com a recuperação do patrimônio natural.

A terceira e última etapa de projeto está ainda em concretização. São previstos alargamentos das calçadas entre as duas mais importantes pontes da cidade (Mirante e Morato), o replantio de espécies nativas, a criação de um novo largo de permanência pública, além da melhoria da conexão com o antigo engenho da cidade.

Ficha Técnica:

Arquitetura e Urbanismo: Renata Toledo Leme, Eduardo Martini, Mo- nica Salim, Thomas A. J. Burtscher e Melissa de Angelis

Coordenação Geral do Plano de Ação: Renata Leme

Coordenação de Arquitetura e Urbanismo: Eduardo Martini

Colaboração: Ricardo Hofer e Vicente Ramalho

ÁREAS VERDES A INTEGRAR

ÁREAS VERDES PARTICULARES

ÁREAS VERDES MUNICIPAIS

VÁRZEA A RESTAURAR

Fig. 44 - Esquema de massas para as áreas verdes existentes na cidade. (Disponível em: <http://www.ipplap.com. br/>. Acesso em 22 ou. 2012)

5.1.1. Relatório de visita

Em visita realizada em março de 2012, as etapas já concluídas do projeto foram conhecidas, no entanto com algumas ressalvas, já que partes da área ao longo do rio Piracicaba e da Rua do Porto estão interditadas para a conclusão da terceira e última etapa.

Pode-se notar que os decks e vias projetados ao longo da várzea são bastante utilizados pela população, ainda que o dia em que ocorreu a visita estivesse um pouco chuvoso. Pelas vias ao lado do rio, jovens e adultos pescam ao longo de todo o dia – alguns inclusive para própria subsistência.

Em finais de semana em que o sol aparece, segundo frequentadores, a feira de artesanato e as exposições que acontecem no engenho atraem grande parte da população em busca de lazer e entretenimento.

(Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1514230&page=3> Acesso em 25 mai. 2012)

<http:// www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1514230&page=3> Acesso em 25 mai. 2012)

5.1.2. Conclusão

Após a visita à Piracicaba, pode-se entender a relação que os munícipes possuem com seu rio e, ao andar um pouco mais pela área urbana, é perceptível que a área histórica e mais antiga está ligada à Rua do Porto.

Ainda que no dia da visita, pelas condições meteorológicas, a população não estivesse em grande número ao longo do rio, foi possível notar que as atividades turísticas foram impulsionadas pelo projeto realizado. Nos restaurantes na várzea, grande parte dos consumidores era de outras cidades.

Apesar de o projeto estar praticamente em sua totalidade concluído, ainda não é possível concluir como a população irá lidar com o Beira

Rio finalizado. Um bom trecho da várzea está interditado e a população está impedida de frequentar, o que pode inibir a presença de usuários. De qualquer maneira, é clara a relação dos piracicabanos com seu rio, principalmente também pelo Museu da Água que existe na Rua do Porto (que também se encontrava fechado na data da visita).

5.2. Los Angeles River, Los Angeles/EUA

No ano de 2002 uma comissão foi formada no intuito de discutir a desarticulação do rio de Los Angeles no tecido urbano e sua crescente poluição.

Assim sendo, o projeto foi elaborado entre os anos de 2005 e 2007, com o principal objetivo de revitalizar a orla e seu entorno que realizariam a conexão da comunidade próxima ao Los Angeles. Além dessas questões, eram de fundamental importância para o plano a qualida- de de vida proposta para a população, com um programa que mescla áreas institucionais e de lazer, em prol de uma educação ambiental, inclusive com a recuperação de solos contaminados por indústrias (brownfields).

O projeto paisagístico foi elaborado em grande parte pelo escritório estadunidense Mia Lehrer + Associates, entretanto cabe citar que os principais líderes locais participaram ativamente de algumas decisões e eventuais discussões a cerca do plano final.

A organização das principais diretrizes e ações projetuais se deu a partir do entendimento do rio Los Angeles em seus diversos contextos, considerando que o eixo total de intervenção beira os sessenta quilômetros. Também se buscou atingir o equilíbrio entre as diferentes redes de transportes, adequando-as às dimensões dos bairros e centralidades ao longo da várzea e realizando as conexões necessárias entre as diferentes áreas percorridas pelo rio.

A seguir serão expostas imagens ilustrativas do projeto que segue em execução. A primeira etapa, que consiste basicamente em implantar a vegetação, segue em desenvolvimento simultaneamente com a despoluição das águas – fator fundamental para a inserção da população.

- Perspectiva do uso esperado da várzea dos canais do rio. (Disponível em: <http://mlagreen.com/projects/la-river#>. Acesso em: 29 mai. 2012)

Fig. 55 - Perspectiva do rio Los Angeles e da wetland criada para filtragem e tratamento das águas poluídas. (Disponível em: <http://mlagreen.com/projects/la-river#>. Acesso em: 29 mai. 2012)

Fig. 56, 57, 58 e 59 - Comparativos entre imagens dos locais de intervenção (acima) e sua perpectiva de resultado pós-término de projeto (abaixo). (Disponível em: <http://mlagreen.com/projects/la-river#>. Acesso em: 29 mai. 2012)

5.3. Don River, Toronto/Canadá

Após pressões da população de Toronto, em 1990 teve início o processo de recuperação do rio Don. Além de requalificar o leito propriamente dito, a proposta incluía a revitalização de uma área portuária abandonada na época e das margens ocupadas pelo sistema viário de alto fluxo.

Os principais objetivos do plano ambiental foram referentes à proteção do patrimônio ambiental existente, promovendo a integração ao tecido urbano, regenerando as áreas degradadas, com a requalificação do patrimônio histórico e cultural da cidade de Toronto – o rio passaria a ter papel social a partir de sua nova abrangência.

Dessa forma, procurou-se restaurar os possíveis antigos meandros do Don, em uma maneira de recuperar a área de várzea, além de proporcionar a reinstalação do microclima aquático, tanto em suas características vegetais como animais. Quanto à integração social, foram propostas áreas de uso recreativo, de pedestres e ciclistas, com o desenvolvimento de atividades educacionais referentes à função hidrológica do rio, inserida na dinâmica urbana.

Para a execução do projeto, foram determinadas três grandes áreas de intervenção, o alto Don, constituído em maior parte por meandros originais; a área central, canalizada e a Portlands Delta, região portuária que atinge o lago Ontário.Assim como o plano de Los Angeles, uma organização foi criada por agentes públicos e interlocutores da sociedade a fim de melhor realizar as propostas do plano.

rio foi eliminada, já existem áreas de recreação e a população passou a utilizar mais os espaços. Outros planos em bacias e regiões próximas foram pensados e aos poucos vem sendo desenvolvidos. Há o monitoramento das ações realizadas em torno do Don e hoje existem perfis em redes sociais na internet que realizam a atualização de obras realizadas, eventos e outras questões ligadas ao projeto. Através desses perfis a sociedade também se manifesta apontado questões a serem aprimoradas e mostrando os benefícios do que já foi feito.

O projeto segue em implementação, apesar de que algumas mudanças já podem ser constatadas: parte dos resíduos presentes hoje no

<http://www.blogto.com/>.

Perspectiva da vista para os lagos artificiais do parque criado em um dos projetos complementares para o Don, o WaterFront Toronto. (Disponível em: <http://www.waterfrontoronto.ca/image_galleries/don_river_park/>. Acesso em: 29 mai. 2012)

Projeto em realização, destaque para a vegetação de várzea e para a transposição por pontes sobre o rio, também para o WaterFront (Disponível em: <http://www.waterfrontoronto.ca/image_gal- leries/don_river_park/>. Acesso em: 29 mai. 2012)

Fig. 63 - Um dos futuros equipamentos de permanência do futuro parque, para o WaterFront (Disponível em: http://www.waterfrontoronto.ca/image_galleries/don_river_park/. Acesso em: 29 mai. 2012)

5.4. Rio Manzanares, Madri/Espanha

O Rio Manzanares, em Madri, antes da execução do projeto era percorrido por vias expressas para veículos e permanecia como uma barreira na cidade, após um plano de vias não concluído. Associando assim, mobilidade e qualidade ambiental, surge em 2003 a idéia de intervir ao longo do curso d’água.

O tráfego da via expressa (M-30) foi modificado, ampliando sua capacidade de suporte e melhorando os fluxos desnecessários – o que garantiu um melhor acesso também para pedestres ao longo das ruas. Especificamente no trecho de maior expressão do rio, a opção foi pelo soterramento da M-30, em prol de um parque linear (concurso de 2005).

As equipes vencedoras do concurso, por sua vez, consideraram a importância de conexão das áreas norte e sul de Madri, por meio do rio, em uma forma de reintegrá-lo no contexto urbano. O que ocorreu foi ligação de equipamentos antes isolados, a partir do desenho paisagístico (alta densidade de plantio e pisos predominantemente em granito permeável) e pontes estrategicamente localizadas. As conexões estabelecidas nos mais diversos níveis entre o parque, o rio e suas transposições atingem a malha urbana e suas redes de transporte, como linhas de metro e ônibus.

No trecho do parque em que a M-30 tornou-se um túnel, a questão ad drenagem foi fundamental para o escoamento adequado da água. Todo o perímetro recebeu canaletas de condução e absorção das chuvas, a fim de não sobrecarregar o leito do rio Manzanares em dias de precipitações intensas. Quanto aos usos dos espaços, foram projetadas desde áreas contemplativas para a água, com jatos e lagos que podem ser utilizados pela população em dias mais quentes, até pistas de skate onde podem ser realizadas pequenas competições. Ao longo de todo o parque também são encontrados espaços para estar e lazer pontuais, com a possibilidade de travessia com bicicletas ou a pé.

Em um sistema macro, Madri modificou parte de seu sistema de saneamento, possibilitando a redução dos níveis de poluição do Manzanares e seus rios afluentes, com uma nova rede que atingiu 36 quilômetros de coletores, além de reservatórios próximos aos leitos de água para a realização de tratamentos prévios à chegada das águas ao rio principal. (BARROS, 2012) http://www.west8.nl/projects/madrid_rio/pdf/. Acesso em: 22 out. 2012) http://www.west8.nl/projects/madrid_rio/pdf/. Acesso em: 22 out. 2012) http://www.west8.nl/projects/madrid_rio/pdf/. Acesso em: 22 out. 2012)

Como referência de projeto, pretende-se considerar à atenção ao território ao longo da várzea de um leito d’água. Uma vez que o terreno de projeto é cortado por um córrego, pretende-se estudar o estabelecimento de conexões entre as duas porções e inclusive com o meio urbano em que se insere, em especial, com o Terminal Intermodal Prefeito Saladino.

Acima, o plano geral do projeto e abaixo as atividades inclusas no trajeto do parque linear, que inclui pistas para caminhada, corrida, ciclovia, áreas para prática de esportes e espaços para estar. Aos poucos a vegetação cresce e irá naturalmente proteger os usuários nos horários de calor mais intenso. (Disponível em: http://www. west8.nl/projects/madrid_rio/pdf/. Acesso em: 22 out. 2012)

Fig. 70 - Desenho que setoriza as intervenções sofridas em cada área de projeto. (Disponível em: http://www.west8.nl/projects/madrid_rio/ pdf/. Acesso em: 22 out. 2012) incorporação dos espaços pré-existentes ao projeto (Ponte de Segovia, do século XVI) e projetos contemporâneos, como a Ponte de Arganzuela, uma das maiores do mundo, com 250 metros, projetada pelo escritório do arquiteto Dominique Perrault. (Disponível em: http://www.west8.nl/ projects/madrid_rio/pdf/. Acesso em: 22 out. 2012)

Área total aproximada: 15.000 m².

Inicialmente a encomenda da Prefeitura Municipal de Santo André viria a ser um Museu de Ciências inserido em um Parque – o Parque Central. Após mudanças no projeto, o pavilhão de Paulo Mendes da Rocha passou a agregar mais funções e o uso foi modificado: alunos da rede municipal de ensino poderiam visitar o local para aulas extras, de apoio interativo às aulas formais. O sucesso do espaço foi tamanho que, em seguida, a Sabina, como ficou conhecido, passou a funcionar aberto ao público geral durante os finais de semana.

No espaço são apresentados às crianças princípios da física, da matemática e a evolução da história natural (com réplicas de dinossauros e busca por fósseis). Há uma sala para exposições temporárias (organizadas pela Secretaria Municipal da Educação), em geral de foco artístico; um pinguinário (um dos maiores do país), salas de aula para crianças menores de sete anos, um simulador 4D de passeio pela mata atlântica e pelo Porto de Santos; além de brinquedos que exploram questões referentes à lógica, ótica, eletromagnetismo e fluidos com a interatividade das crianças.

Projeto Arquitetônico: Paulo Mendes da Rocha e MMBB

Período: 2003-2007

Programa público: cantina; bilheteria; pátio; salões de exposição; oficina; salas de aula; anfiteatro; sala de projeções; biblioteca; sanitários e estacionamento.

Programa de acesso restrito: administração; depósito; ambulatório; copa; sanitários/vestiários.

5.5.1. Relatório de visita

O único acesso aos pedestres é realizado por uma rampa, a partir da qual é visualizada a bilheteria. Em seguida, ao entrar no pavilhão, nos deparamos com um robô, o Bit, que recepciona e interage com os visitantes desejando as boas vindas. As atrações encantaram pela diversidade de entretenimento, além da possibilidade de aprendizado, com a compreensão de fenômenos cotidianos explicados pela física em protótipos espalhados de diversas maneiras pelo centro.

A primeira atração visitada foi uma instalação que demonstra a criação do universo e o Big Bang através de luzes com efeitos que, junto à imaginação, tornam-se bastante explicativos e divertidos. Saindo dele, há a boneca Nina, que nos permite um passeio para conhecer o seu sistema digestivo: um monitor orienta os visitantes a imaginar que são uma comida, e iniciava a caminhada entrando pela sua boca. Toda caminhada dentro da boneca é interrompida a cada órgão há uma explicação sobre o que acontece com o alimento naquele estágio. Para sair, é necessário cair no intestino grosso por um pequeno escorregador. Em seguida há um simulador que levou as crianças a uma viagem aérea, partindo do Sabina até a laje de Santos, passando na volta por Paranapiacaba. A seguir o mundo dos Dinossauros é desvendado, com réplicas em tamanho real, além de aquários, um menor onde estavam alguns peixes e tubarões e um pinguinário.

Continuando o passeio, é possível passar, ainda no pavimento térreo, por um espaço de exposições temporárias. No dia da visita, a exposi- ção tratava do folclore, com músicas, teatro e desenhos para as crianças, tudo sob uma tenda e com espaços de permanência. No térreo existem, além dessas áreas, um espaço de copa pública, possibilitando aos visitantes que realizem pequenas refeições e, como ocorria no dia da visita, uma família estava comemorando um aniversário. Ao lado, um simulador que permite sensações de frio, calor, chuva, seca, em um vídeo sobre os fenômenos naturais. No exterior, brinquedos infantis tradicionais reforçam questões sobre física mostrando como funcionam os mesmos. No segundo pavimento (acessado por uma rampa) encontram-se diversos experimentos físicos, jogos e charadas matemáticas sobre tecnologia e alguns fenômenos que nos cercam dia a dia.

5.5.2. Conclusão

De maneira geral, as áreas para cada um dos equipamentos da Sabina são bastante generosas, o que permite uma boa circulação dos espaços e um melhor proveito por parte dos usuários. Quanto aos monitores, há um preparo para que os mesmos possam exercer corretamente suas atividades – sempre atentos às necessidades dos visitantes.

Depois dessa visita foram pesquisadas mais obras de Paulo Mendes da Rocha (PMR) e também dele em parceria com o MMBB14. A conclusão a que se chega é de que a arquitetura de Paulo Mendes da Rocha pode ser resumida e entendida como uma compreensão do espaço e da apreensão de suas necessidades, resultando em uma cidade mais funcional, e além disso, incentivadora do convívio humano. O arquiteto expressa sua paixão pelo espaço público, dizendo que “a virtude mais bela das cidades é a possibilidade da conversa” (PIÑON, 2002). Paulo Mendes estuda muito a geografia do local, pois sabe que o projeto modifica a paisagem natural, criando uma harmonia entre sua obra e o entorno, sendo que, uma vez estabelecida essa conversa, os projetos se abrem para a cidade.

14 O MMBB arquitetos teve início em 1990 e atualmente é constituído pelos arquitetos Fernando de Mello Franco, Marta Moreira e Milton Braga, que atuam como colaboradores em algumas obras de PMR, inclusive no Sabina.

Detentor de uma apurada noção espacial e geométrica, o arquiteto acerta as proporções com elegância, onde estrutura e forma de confundem. Sua arquitetura, mesmo que sintética, destaca-se pelos detalhes construtivos – o concreto aparente, os grandes vãos, arquitetura formalista e funcional e os espaços que incentivam o convívio social (PIÑON, 2002).

Sendo assim, quando se observa a Sabina pela primeira vez, nos ocorre a suspeita de que o projeto é de PMR:

Paulo Mendes da Rocha é um dos grandes arquitetos que desenvolvem uma linguagem personalizada, independente de tipologia ou escala de intervenção. Sua obra é de imediato reconhecimento, capaz de arquiteturas com impressionante inserção na paisagem, de maneira provocativa e provocadora. (SEGAWA, 2010)15

15 Trecho do texto de homenagem ao Professor Paulo Mendes da Rocha por ocasião do recebimento do título de professor emérito da USP (29/06/2010). Este texto foi apresentado oralmente e uma cópia escrita foi, gentilmente, cedida pelo Prof. Dr. Hugo Segawa ao arquiteto Rafael Per- chão, mas sim um edifício que vence a gravidade e se eleva facilmente.

Tanto ao observar esta, quanto outras obras de Paulo Mendes, se pode notar a racionalidade presente em seu trabalho. Em uma arquitetura purista, de influências das vertentes racionalistas do século XX, nota-se a forma heroica com que surge sua obra (MONTANER, 2008). A Sabina se instala como um “tóten” em relação ao parque e ao mesmo tempo em que age de maneira ditatorial, na medida em que se impõe em sua totalidade, propõe-se a ser um objeto arquitetônico democrático. Tal fato é perceptível não somente pelo seu uso, mas também quando se estudam elementos do todo, como a rampa que, apesar de relativamente escondida, se abre a todo e qualquer visitante.

As obras de [...] Paulo Mendes da Rocha mostram a vontade da geometria de equivaler-se à estrutura e, ao mesmo tempo, referir-se às formas arquetípicas dos lugares elementares, dos espaços sagrados ou das instituições públicas. (MONTANER, 2002).

Seguindo ainda como base as análises de Montaner, a obra de PMR pode ser entendida como uma arquitetura formal – inserida em um idealismo, de base formal geométrica elementar, com uma busca da perfeição. A Sabina é simétrica, sua forma se confunde com sua estrutura – a concepção estrutural resulta no objeto arquitetônico. Além de resposta às necessidades estéticas, o arquiteto estabelece relações com o local, mostrando, além disso, a sua linguagem característica, sua expressão. A arquitetura de PMR é sua própria teoria. (PIÑON, 2002). Em comparação com outras obras de PMR, o que observamos é uma constante elevação do edifício em relação ao solo.

Através dessa elevação, no caso do Sabina, de 60 centímetros, traz a sutileza ao edifício que não mais parece um objeto pesado sobre o rone.

Fig. 80 - Planta do nível térreo que indica a simetria do projeto. (Disponível em: <http://www.mmbb.com.br/projects/fullscreen/41/2/791>.

Acesso em: 10 jun. 1012) as ventilações naturais do edifício - em ver melho, os locais de saída de ar quente; em azul, esquadrias para entrada de ar fresco. (Disponível em: <http://www.mmbb.com.br/projects/ fullscreen/41/2/791>. Acesso em: 10 jun. 1012)

Um detalhe do projeto que chamou a atenção no início do estudo desta obra de PMR foi o importante papel da ventilação natural. A partir da análise de desenhos técnicos, croquis e dos próprios textos a respeito do Sabina, conseguimos notar a clara preocupação do arquiteto com a aeração no interior do edifício, principalmente em vista do reduzido número de aberturas na fachada de concreto. O que se percebe em visita, entretanto, é uma certa ineficiência do sistema, que por muitos usuários (funcionários e visitantes) fora criticado. Após discutir e pesquisar mais sobre essa questão e em face do problema enfrentado, em especial no Brasil, de mão de obra pouco qualificada, pode ter ocorrido algum problema quanto à execução ideal do sistema de PMR, ocasionando em uma mudança em relação ao projeto original. Infelizmente, não foram obtidas respostas objetivas para este problema.

5.6. Catavento Cultural, São Paulo/SP

Inserido em um edifício construído nas primeiras décadas do século XX (Palácio das Indústrias), o Governo do Estado de São Paulo implantou o Catavento Cultural, espaço destinado à cultura e à educação, principalmente de jovens. Dentro do programa, que em alguns aspectos se entrelaçam com o do Sabina, as principais ênfases de ensino são referentes à ciência e aos problemas sociais. Os monitores são em geral alunos da Universidade de São Paulo e auxiliam os visitantes durante o passeio, que pode ocorrer de terça à domingo, com agendamento prévio ou não. É importante ressaltar que houve uma adaptação do edifício já existente para o uso atual, sem que se desrespeitasse o tombamento do palácio.

Programa público: recepção e bilheteria; espaço Universo (Planeta

Terra, Homem na Lua, Sistema Solar e Céu, Além do Sistema Solar, Biomas); espaço Vida (Biodiversidade, Evolução, Aves do Brasil, Corpo Humano, Mundo Microscópico, Genoma); espaço Engenho (Sala das Ilusões, Mecânica, Som, Eletromagnetismo, Calor, Fluidos, Óptica); auditório; estúdio de TV; espaço Sociedade (Ecologia, Maravilhas da Terra, Jogos do Poder, Passeio Digital, Nanotecnologia, Educação para Resultado, Alertas, Arte Cinética, Matéria, Laboratório de Química, Prevenindo a Gravidez); sala dos pequeninos e sanitários públicos.

Área total aproximada: 9.000m²

5.6.1. Relatório de visita

A visita se inicia pelo entorno do Palácio (Fig. X.X), em seu jardim, onde algumas estruturas são exibidas, como um antigo avião e um antigo trem, que podem ser conhecidos de perto pelos visitantes. Entrando no edifício, há uma bilheteria onde, além de comprar o ticket de entrada, podem ser feitas inscrições em palestras específicas, algumas temporárias, de caráter educativo. luzes dos planetas no setor Universo. (fotos arquivo pessoal) leão Bonaparte, as quais narram suas respectivas histórias. No mesmo espaço existem jogos interativos, relacionados ao poder no mundo, um cinema 3D com uma viagem ao Rio de Janeiro.

A primeira sala é do ambiente “Universo”, com explicações e simulações do sistema solar, há ainda um meteorito real e crianças e adultos podem interagir com um pequeno planetário, que mostra as constelações de estrelas. No setor Universo, há destaque especial para o planeta Terra, explorado melhor nas outras seções, que tratam exclusivamente de fenômenos terrestres.

Na área denominada “Vida”, as atrações trazem informações sobre animais, vegetação e geografia terrestre, com ênfase no Brasil. Há um aquário marinho, um quadro com mais de 500 borboletas amazônicas, além de jogos interativs com os cantos dos pássaros, uma réplica do sistema digestivo humano em tamanho gigante e vídeos sobre Charles Darwin e a evolução.

No espaço do “Engenho”, as crianças podem fazer brincadeiras com os equipamentos que trazem princípios da física e matemática, semelhantes ao que acontece no Sabina. Nessa área também é onde fica o auditório (180 pessoas) e um estúdio de TV, para gravações com os próprios visitantes.

Ao concluir a visita, podemos perceber o quanto o espaço foi pensado não apenas como espaço de entretenimento, mas também como um suporte aos estudantes. Cabe citar que as atividades são dirigidas especialmente à crianças com mais de 7 anos de idade e que para as menores, existe um espaço com monitores que desenvolvem outras específicas para os “pequeninos”.

Subindo a escada do palácio, no andar superior, há a área “Sociedade”. Os temas se relacionam com a história da humanidade, ecologia, química e conscientização. Sobre as grandes personalidades da história, há uma parede de escalada, na qual o objetivo é atingir figuras como Isaac Newton, Winston Churchill, Cristóvão da Gama e Napo- revestimento em tijolos aparentes. Destaque para a tubulação de ar condicionado aparente e para a “caixa isolada” de experimentação de áudio e vídeo. (foto arquivo pessoal)

Quanto à distribuição das atividades, ocorre no Catavento Cultural o oposto do que acontece na Sabina. Aparentemente por ser a adaptação de um edifício já existente, os equipamentos sofreram um pouco em sua distribuição, o que acarretou em áreas de circulação reduzidas e que, muitas vezes se misturam com as áreas de permanência. Não existem também tantos monitores quanto observado na Sabina, o que prejudica de alguma maneira a visita e principalmente, os momentos nos quais surgem dúvidas nos usuários de como lidar com os equipamentos.

Entretanto, quando as instalações do Catavento são observadas para sua eficiência em conforto térmico/sonoro, pode-se dizer que há uma melhor solução. As instalações de ar condicionado e elétricas são em sua maioria aparentes. Os painéis expositivos, muitas vezes não foram fixados na estrutura existente do Palácio, o que preservou em parte o original.

Pode-se notar também que a luminosidade dos espaços muda conforme o tema – quando a intenção é explorar as luzes artificiais (como no “Universo” e nas experiências de Ótica), os ambientes são mais escuros e fechados. O contrário pode ser dito para os ambientes em que existem muitos painéis escritos e em que a luz artificial não ganha muito espaço – nesses, ganha vez a iluminação natural.

5.7. Academia de Ciências e Artes da California, São Francisco/EUA (1995-2008)

O primeiro museu a receber o selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), projetado por Renzo Piano, é um anexo à Academia de Ciências da Califórnia, em São Francisco, Estados Unidos. Agregando áreas de exposição, de pesquisa e educação, o programa é uma referência para o projeto proposto neste trabalho (Parque Escola Ambiental), com a diferença de que o projeto do arquiteto italiano é destinado ao público adulto e jovem. Cabe ressaltar que o projeto também pode ser analisado a partir dos materiais utilizados, que possuem características interessantes em um contexto contemporâneo. Aço e concreto são utilizados para a estrutura, o que garante certa leveza ao pavilhão. Entretanto, os elementos que mais chamam a atenção são, certamente, a cobertura e o fechamento em células fotovoltaicas.

A cobertura, de desenho peculiar, remete, segundo o arquiteto, à própria topografia de São Francisco. A vegetação escolhida para compor a cobertura é em totalidade típica da região do projeto e demanda cuidados e manutenção mínimos. O arquiteto aproveitou ainda para criar clarabóias basculantes de iluminação interna, permitindo a luz natural e, ao mesmo tempo elaborando um sistema de ventilação cruzada que usa as mesmas clarabóias. Quanto às placas fotovoltaicas, o projeto trouxe um grande beiral ao redor de todo o edifício que é capaz de fornecer cerca de 10% da energia consumida em seu interior.

Programa: salas de pesquisas; acervo; laboratórios públicos; Hall África; loja; auditório; restaurante; praça interna; Áreas temáticas (Floresta Tropical; Planetário; Aquário; Ala Crocodilos e Jacarés e Mudanças Climáticas na Califórnia). Área total: 38.000 m².

Fig.

- Detalhe para os nichos na cobertura, responsáveis por parte da ventilação natural; vista para o bioma vegetal; beiral em placas votovoltaicas e vista frontal do edifício (imagens de cima para baixo, da esquerda para a direita). (Disponível em: < http://www. rpbw.com>.Acesso em: 25 abr. 2012)

Fig. 105, 106 e 107 - Esquema de ventilação; representação da insolação e um dos cortes longitudinais do edifício (imagens de cima para baixo, da esquerda para a direita). (Disponível em: <http://www.rpbw.com>.Acesso em: 25 abr. 2012) rpbw.com.

6.1. Estudos sobre o território

Inserida ao sudeste da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP)16, Santo André foi a cidade escolhida para a implantação do projeto.

O município possui cerca de 660 mil habitantes em seus 175km², o que resulta em uma densidade bruta de 3.900 habitantes/hectare17. A renda do município provém principalmente dos serviços (65% do PIB municipal) e da indústria (34% do PIB municipal)18. Para efeito da pesquisa, cabe ressaltar também que mais de 60% dos estudantes do município estudam em escolas públicas – estaduais ou municipais19.

Geograficamente, Santo André possui seus terrenos mais planos ao longo da várzea do Rio Tamanduateí e de seus afluentes; nas demais áreas, prevalecem morros inclinados20. As áreas verdes do município se restringem aos parques municipais e, em especial, ao Parque do Pedroso e à Serra do Mar (nas proximidades do distrito de Paranapiacaba) – vestígios de Mata Atlântica originais.

Fig. 112 - Mapa do Estado de São Paulo (sem escala). Região Metropolitana de São Paulo em destaque.

16 A porção sudeste da RMSP compreende também os municípios de São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

17 Dados referentes ao último CENSO (2010), realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

18 Dados referentes à pesquisa realizada pelo IBGE no ano de 2009.

19 Dados referentes à pesquisa realizada pelo INEP no ano de 2009.

20 Diagnóstico de Uso e Ocupação do Solo em Santo André – janeiro/98 / PMSA.

LEGENDA

Fig. 113 (abaixo) - Mapa de Santo André, seguindo o zoneamento vigente (sem escala).

PROJETO DE INTERVENÇÃO EIXO TAMANDUATEHY

ÁREA URBANA

ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (SERRA DO MAR)

REPRESA BILLINGS

DISTRITO DE PARANAPIACABA

ÁREA DE ESTUDO

6.1.1. História e Evolução urbana de Santo André

Fundada em 8 de abril 1553, a então Santo André da Borda do Campo, era na época uma vila, sem atividades econômicas significativas. Em meados do século XX, com a instalação da linha férrea São Paulo Railway, Santo André passa rapidamente de uma vila de padres beneditinos à cidade – em 1867 surgia o atual centro da cidade, nas proximidades dos trilhos do trem e com o limite ao sul do Rio Tamanduateí.

Anos à frente, a partir da crescente industrialização brasileira que se deu, especialmente após a segunda metade do século XX, com Juscelino Kubistchek à presidência do Brasil, Santo André tornou-se sede de uma série de indústrias, na grande maioria produtoras de autopeças, enquanto a cidade vizinha, São Bernardo do Campo abrigou as sedes automobilísticas. No caso específico andreense, a indústria passou a se desenvolver ao longo do eixo ferroviário – e que, posteriormente, passaria a ser também o autoviário – com a Avenida dos Estados, às margens do Rio Tamanduateí.

Ainda que hoje existam algumas indústrias de importância notável em Santo André – caso da Pirelli e da Rhodia – a partir da década de 1990, a decadência da atividade industrial trouxe uma nova questão urbana: o esvaziamento dos grandes lotes e o consequente abandono dos mesmos. Dessa forma, Avenida dos Estados, Avenida Industrial e os arredores das estações ferroviárias encontram-se em crescente abandono e degradação. Estas áreas, por sua vez, em decorrência da baixa permeabilidade das construções, baixa capacidade de drenagem do sistema urbano municipal e assoreamento do rio é influenciada por um microclima urbano de altas temperaturas, em uma média que por ano ultrapassa os 25ºC (CEPAGRI – Centro de Pesquisas Meteorológi-

cas e Climáticas Aplicadas a Agricultura).

6.1.2. O Projeto Eixo Tamanduatehy

Por outro lado, houve em meados da década de 90 a idealização e elaboração de um projeto urbano para o município de Santo André –“Eixo Tamanduatehy” (1998). A iniciativa, que partiu em especial da administração municipal, com auxilio dos consultores Rachel Rolnik21 e Jordi Borja22, considerou o eixo de atividade predominantemente industrial, às várzeas do Rio Tamanduateí, uma área passível de um projeto urbano bastante elaborado, que priorizasse o desenvolvimento diversificado dessas remanescências urbanas (JENNY, 2005). Cabe citar ainda que, em modo geral, o projeto estaria diretamente ligado a auxílios da iniciativa privada adicionados às ações do poder público municipal.

Assim, após a discussão de interesses locais com diversas entidades e com a população, foi publicado, em 1998, o Projeto Eixo Tamanduatehy, o qual abrangeria uma área inicial de 13 quilômetros quadrados. Para a elaboração do projeto, quatro equipes mistas (nacionais e internacionais), lideradas pelos arquitetos Christian de Portzamparc (França), Joan Busquets (Espanha), Cândido Malta (Brasil) e Eduardo Leira (Espanha). A importância da escolha de equipes mistas se deveu

21 Rachel Rolnik é urbanista e atua como professora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) e como relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o direito à moradia adequada (Disponível em: < http://raquelrolnik.wordpress.com/ author/raquelrolnik/>. Acesso em 12 set. 2012.)

22 Jordi Borja é geógrafo, urbanista e professor na Universitat Oberta de Catalunya (UOC), atuando principalmente em Barcelona. (Disponível em: < http://jordiborja.blogspot.com.br/>. Acesso em: 12 set. 2012) especialmente ao fato de os arquitetos europeus estarem a mais tempo projetando e também implantando seus projetos; se comparados aos profissionais brasileiros de modo geral.

A equipe de Joan Busquets23, foi responsável pelo projeto do parque linear ao longo das margens do Tamanduateí. Para isso, partiram principalmente da conexão rio + via férrea + Avenida dos Estados, articulando intervenções pontuais de transporte intermodal, articulação viária, atividades culturais e atividades econômicas específicas. Busquets esbarrou ainda em uma questão histórica para o município: como integrar os dois lados da cidade, divididos pelo eixo do rio e pela linha férrea, a partir de pontos de interação da população. Abaixo segue a imagem do parque proposto pela equipe.

A proposta de quadra aberta, realizada pelo grupo de Christian de Portzamparc24, foi direcionada para os antigos lotes industriais que se encontram principalmente ao longo da Avenida Industrial. Essas glebas seriam redivididas em tamanhos menores a fim de mesclar usos públicos e propriedades particulares, reorganizando o sistema viário existente e direcionando as indústrias remanescentes a novas áreas mais adequadas para os novos padrões industriais. As novas quadras projetadas seriam abertas aos pedestres, no intuito de que estes pudessem circular de maneira livre por entre os edifícios, os quais, por sua vez, atenderiam questões de salubridade, conforto térmico, acústico e as necessidades de iluminação natural. A principal relação estabelecida pelo projeto de Portzamparc é entre o homem e a arquitetura propriamente dita. (JENNY, 2005)

Fig. 114 (Disponível em <http://www.bau-barcelona.com>. Acesso em: 15 set. 2012).

23 Equipe formada por Joan Busquets e pelos brasileiros Jorge Wilheim, José Francisco Xavier Magalhães, José Magalhães Junior, Maristela Faccioli, Luciana Machado e Hector Vigliecca.

Fig. 115 - A quadra aberta de Portzamparc. (Disponível em <http:// www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/03.011/3341?page=4>. Acesso em: 15 set. 2012).

24 Equipe formada por Christian de Portzamparc, pelos estrangeiros

François Barberot, Jaques Suchodolski e Pierre Emanuel, e pelos brasileiros

Bruno Padovano, Dora Cerruti José Paulo de Bem, Otávio Leonídio Ribeiro, Roberto Righi e Suzana Jardim.

As ideias apresentadas por Eduardo Leira – i3 Consultores A.S.25 foram principalmente voltadas à mobilidade urbana de Santo André. A partir da consideração da metrópole como um todo, a equipe entende que os acessos ao município são muito restritos e precisariam passar por ampliações e reestruturações. Como uma das propostas, Leira trás a Diagonal ABC, uma grande avenida (praticamente rodovia) de 25 quilômetros que ligaria desde a Rodovia dos Imigrantes (Diadema), a Rodovia Anchieta (São Bernardo do Campo), a Avenida dos Estados (Mauá), a Estrada do Pêssego (Zona Leste de São Paulo) e o Aeroporto Internacional de Guarulhos, todos os pontos na RMSP e que seria utilizado especialmente para a transição de veículos leves – ao contrário do Rodoanel Metropolitano26, contando com vias paralelas de transporte público – como o metrô de superfície.

Já a equipe brasileira de Candido Malta27 realizou a proposta chamada de “corredor metropolitano”. Após a divisão do município em zonas de vocação urbana – Norte (Utinga); do Craisa à Estação Prefeito Saladino/Rodoviária; Centro histórico e Sul (Pirelli e Global Shopping), foram propostos edifícios pontes para cada uma delas, no intuito de conectar espaços – em especial transpondo o rio Tamanduateí. Malta também ressalta o uso do transporte público como determinante no sucesso do projeto – a partir de metrôs de superfície.

25 Equipe formada pelos espanhóis Eduardo Leira, Susana Jelenem e Manuel Herce, o português Nuno Portas e os brasileiros Jorge Bonfim, Francisco Prado, Luciano Fiaschi e André Bonfim.

26 O Rodoanel Metropolitano (SP-21) é um projeto do Governo do Estado de São Paulo iniciado ao fim da década de 1990. Sua principal característica é dar apoio ao transporte de carga para que o mesmo não circulasse por entre as cidades da RMSP, a partir da conexão das principais rodovias paulistas.

27 Equipe dos arquitetos Cândido Malta, Cláudia Bitran, Luciane Shouama, Luiz Carlos Costa, Priscila Izar, Vera Santana Luz e Viviane Lanfranchi Vaz.

Fig. 115 e 116 - As propostas das equipes de Leira e Candido Malta, as ligações com a metrópole e os edifícios ponte, respectivamente. (Disponível em <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo. php?pid=S1518-95542009000100012&script=sci_arttext>. Acesso em: 15 set. 2012).

O projeto sofreu várias críticas – internas e externas, especialmente no sentido da propaganda e do marketing existentes nas propostas para que empresários e investidores viessem a Santo André. (ALVAREZ, 2008) Foi nesse momento que, ao assumir a coordenação do Eixo Tamanduatehy, Ênio Moro propôs uma socialização do projeto, trazendo questões pertinentes à população, trazendo discussões entre gestores e associações de bairro.

A partir daí, em 2001, foi redigido o documento “Projeto Eixo Tamanduatehy: urbanismo includente e participativo”, que trouxe como prioridade a promoção da habitação social; a participação popular nas decisões municipais; a manutenção de atividades atrativas ao emprego e renda; além da requalificação urbana. Abaixo segue quadro explicativo da situação das operações urbanas naquele momento.

Fonte: Prefeitura Municipal de Santo André – Projeto Eixo Tamanduatehy: urbanismo includente e participativo.

A seguir, o rumo do Eixo Tamanduatehy mudaria significativamente. Após a morte do prefeito Celso Daniel, idealizador do projeto, a gestão passou ao seu vice, João Avamileno. O foco de governo passaria a não ser mais o projeto do Eixo, que ficou afastado da lista de prioridades municipais. Também houve a necessidade de revisão no Plano Diretor municipal, que foi pela primeira vez modificado no ano de 2002, incorporando algumas questões abordadas pelo antigo projeto. Embora algumas mudanças tenham ocorrido desde então, as gestões municipais seguem trazendo ideais do Eixo para Santo André, sem que as intervenções sejam percebidas como uma unidade em todo na área do projeto.

[...] as estratégias se efetivam de modo descontínuo no tempo e no espaço, aproveitando-se de particularidades e conteúdos pré-existentes que possam tornar o processo mais rentável e solidificar objetivos que não são apenas imediatos, uma vez que visam a continuidade em longo prazo. Nesse sentido, as desigualdades sócio-espaciais reafirmam-se e se acentuam, num movimento que ora reforça os lugares centrais e periféricos já existente, ora cria novas centralidades e aponta para a expansão ou constituição de novas periferias. (ALVAREZ, 2008, p. 243)

Fig. 117 (ao lado) - Mapa das intervenções após três anos e meio de operação do projeto. Fonte: Prefeitura Municipal de Santo André –Projeto Eixo Tamanduatehy: urbanismo includente e participativo.

Propostas originais do Eixo Tamanduatehy. Fonte: Prefeitura Municipal de Santo André –Projeto Eixo Tamanduatehy: urbanismo includente e participativo.

6.1.3. O sítio de projeto

Dessa forma, insere-se nesse contexto o objeto de projeto proposto. O sítio estudado encontra-se à Avenida Industrial (número 1740) em um terreno anteriormente ocupado por uma indústria do grupo Burge. Há alguns anos a área seguia em abandono, até que no ano de 2011 surgiu a ideia de um empreendimento residencial no lote. Todavia, mesmo com a demolição dos antigos edifícios, devido a problemas na regularização da compra do terreno, o empreendimento não foi iniciado.

Com uma área de aproximadamente 55.000m², as antigas edificações dão espaço hoje a uma vegetação rasteira, lembrando ainda que praticamente no eixo do terreno há a presença de um córrego, o Beraldo. Este córrego, canalizado e tamponado abaixo da Avenida Prestes Maia no início dos anos de 1960, encontra-se no terreno retificado e a céu aberto, com alguma vegetação a suas margens. Registros afirmam ainda a existência de um lago ao redor do córrego, remanescente de um aterro realizado na década de 1920 (JENNY, 2005 e RUIZ, 2003).

Fig. 119 - Imagem da antiga indústria que foi demolida no terreno de estudo. Ao fundo, o Moinho São Jorge, atualmente desativado. (Imagem cedida pelo Acervo Burge).

Fig. 120 - Desenho de 1965, quando foi implantado o Viaduto Presidente Roosevelt. (Imagem acervo Prefeitura Municipal de Santo André).

Quanto à legislação vigente na área, o sítio encontra-se em uma Zona de Reestruturação Urbana, de influência do projeto Eixo Tamanduatehy. Segundo o Plano Diretor do município (lei nº 9.394, de 5 de janeiro de 2012), são objetivos de atuação nessa zona:

- Reconverter e implantar novos usos e atividades, inclusive o habitacional;

- Requalificar a paisagem;

- Recuperar as áreas ambientalmente sensíveis;

- Valorizar e proteger o patrimônio cultural;

- Promover a reparação da área que esteja contaminada de forma a permitir o uso ou a ocupação do solo compatível com o grau de reversão obtido;

- Integrar a zona a planos regionais de macrodrenagem e recuperação do Rio Tamanduateí;

- Valorizar o Rio Tamanduateí;

- Mapear as áreas contaminadas e com potencial de contaminação;

- Recuperar as áreas de proteção ambiental de córregos e nascentes;

- Preservar o conforto ambiental visando proporcionar mais saúde e qualidade de vida;

- Promover o monitoramento e o controle ambiental.

Já a Lei de Uso, Ocupação e Parcelamento do Solo (lei nº8.836, de 11 de maio de 2006) prevê:

- Coeficiente de aproveitamento (CA):

Mínimo: 0,4;

Básico: 1,5;

Máximo: 3,0;

- Taxa de Ocupação: 75%;

- Recuo frontal mínimo: 5,00 metros;

- Recuos laterais: não obrigatórios;

- Recuo de fundo: não obrigatório;

- Número máximo de pavimentos: 4 (sem restrição de gabarito);

- Reserva e doação de áreas públicas obrigatória (terreno acima de 5.000 m²);

- 15 metros de faixa não edificável ao longo do curso de água.

O local de projeto encontra-se também ao lado de um dos terminais metropolitanos do município, Prefeito Saladino, que na realidade é um conjunto intermodal. Abriga também uma estação da CPTM (Linha 10 – Turquesa), o terminal rodoviário intermunicipal; contando com o serviço de escala municipal do CIRETRAN (Circunscrição Regional de Trânsito), e com algumas pequenas lojas.

Atualmente o uso predominante nos arredores do terreno escolhido é o industrial, que, todavia, vem sofrendo alterações desde a implementação parcial do projeto Eixo Tamanduatehy. Aos poucos o uso residencial surge nas antigas grandes glebas fabris – com alguns empreendimentos de data de entrega ao final de 2012. O Grand Plaza Shopping, no antigo terreno ocupado pela Black & Decker, foi recen- temente reformado para melhor atender o público que frequenta os hotéis próximos. Pode-se citar ainda a Universidade Federal do ABC, que aos poucos, conforme aumenta a abrangência do campus, estabelece novas dinâmicas para a cidade e ainda traz novos munícipes para a região.

Quanto ao sistema viário, o sítio localiza-se próximo a vias de importante tráfego, que realizam conexões com outras cidades da RMSP; são estas: Avenida Prestes Maia (ligação principalmente com São Bernardo do Campo e Diadema, ligando também à Via Anchieta; por consequência, a São Paulo e à Baixada Santista), Avenida Industrial (sentido São Caetano do Sul) e a Avenida dos Estados (conecta a São Caetano, São Paulo e Mauá).

A sequência de imagens abaixo mostra um pouco mais sobre o entorno do terreno estudado, desde o centro do município, até a Universidade Federal do ABC, no intuito de formar uma visão seriada do local de atuação.

Ao lado, a imagem de satélite indica alguns elementos urbanos importantes e também a sequência percorrida para as fotos, considerando-se que a visita teve início passando pelo Grand Plaza Shopping chegando à Universidade Federal do ABC e posteriormente se realizou o caminho de volta. Foram realizadas duas visitas para o levantamento fotográfico; uma em 30 de janeiro de 2012 e outra em 3 de novembro de 2012 (cada foto segue com sua respectiva data).

Imagens da esquerda para a direita, de cima para baixo:

Fig. 121 (nov/2012)Início da Avenida Industrial, por onde se chega ao Terminal Leste, de ônibus municipais, e à Estação Prefeito Celso Daniel (Fig. 122nov/2012).

Fig. 123 (nov/2012)Grand Plaza Shopping, onde antes ficavam as instalações da Black and Decker.

Fig. 124 (nov/2012)Futuro empreendimento residencial ao lado do shopping para início das obras previsto para dezembro de 2012.

Imagens da esquerda para a direita, de cima para baixo:

Fig. 125 (jan/2012)À esquerda, hoteis e edifícios residenciais realizados após o projeto Eixo Tamanduatehy.

Fig. 126 (nov/2012)Condomínio residencial recém finalizado ao lado do terreno de estudo.

Fig. 127 e 128 (jan/2012 e nov/2012 respectivamente)fotos do terreno que, ao início do ano ainda encontrava-se com grades abertas que permitiam a visão do interior do lote. Hoje o local foi fechado com tapumes azuis e não é mais possível ter a mesma visão.

Imagens da esquerda para a direita, de cima para baixo:

Imagens da esquerda para a direita, de cima para baixo: na Avenida dos Estados.

Rio Tamanduateí, que recentemente passou por reformas em seu sistema de drenagem de águas pluviais no trecho de Santo André.

-

(nov/2012)Uma das realizaçõs do projeto do Eixo, a praça Carrefour, cedida pelo grupo do hipermercado.

Terminal Prefeito Saladino visto da Avenida dos Estados.

Imagens da esquerda para a direita, de cima para baixo:

(nov/2012)Praça car, sem visitantes e com resíduos em todo seu perímetro. Fig. 139 (nov/2012)Parque Prefeito Celso Daniel, revitalizado após o Eixo, visto da Avenida Industrial.

Fig.

(jan/2012)Sesi na Avenida dos Estados.

140 (nov/2012)Estação Ferroviária de Santo André que recentemente recebeu o mesmo nome do parque anterior, em homagem ao prefeito falecido.

Esta é uma sequência de imagens tiradas do interior do trem da Linha 10 (Turquesa), sentido Santo AndréBrás, que passa nos limites do terreno, em 19 de julho de 2012.

Imagens da esquerda para a direita, de cima para baixo:

Fig. 141 e 142As fotos mostram como é a situação do entorno da ferrovia após períodos de chuvao terreno não consegue absorver toda a água, ocasionando em alagamanetos que persistem por dias. Fig. 143Trem abandonado.

Fig. 144Como se encontra o terreno de projeto (pode-se notar também os edifícios da fig. 126 em construção).

6.2. Uso e programa do edifício

Levando em consideração os elementos já citados, a ideia de um projeto nessa área de estudo admite como estruturadoras as questões ambientais e urbanas, relacionando-as diretamente com a população do município. O projeto trabalharia diretamente a questão do rio –devida sua importância ambiental, em um contexto urbano e com um caráter educativo.

Considerando-se as situações apontadas pelos estudos de Focaccia (1996), os itens de exposição e educação a serem apresentados no Parque Escola são:

- estudos da paisagem e presença humana: clima, águas, vegetação, fauna, adaptação ao meio e transformação da paisagem;

- fenômenos atmosféricos, ar e ciclo da água;

- entorno próximo e seu entendimento;

- efeito estufa, reciclagem e despoluição de rios.

Em síntese, pode-se dizer que o objeto de projeto é um parque escola ciência ambiental.

6.2.1. Diretrizes gerais

A Sabina localiza-se em uma região mais afastada desta que foi tomada como foco de projeto (cerca de 7 quilômetros). Atualmente esse espaço municipal existente é utilizado pela rede pública de ensino, como apoio às aulas formais, em aulas extras durante a semana e, aos fins de semana, o espaço é aberto população geral.

Associado à Sabina, o objeto de projeto proposto teria como ideia principal envolver e aproximar das crianças, de maneira especial, a importância do rio para a cidade – como ele funciona, surge, vive. Como reciclar, como limpar o rio, como ele é importante vivo para uma cidade melhor, em vista também do fato de que Santo André possui um dos melhores programas de reciclagem e tratamento de resíduos do Brasil. Outras questões abordadas seriam de drenagem e combate às enchentes existentes na área.

Em caráter urbano, além do que já foi citado, pretendeu-se relacionar o projeto com o Terminal Intermodal Prefeito Saladino, com uma ampliação de seu papel nas dinâmicas da cidade. O projeto proposto localiza-se nas proximidades dessa estação, do Parque Municipal Prefeito Celso Daniel e da estação ferroviária de mesmo nome – dessa forma, é esperada uma ciclovia ao longo da Avenida Industrial que realize a conexão desses importantes elementos urbanos e que possa ser amplamente utilizada pela população tanto em dias úteis como nos finais de semana. Cabe citar ainda que o terreno escolhido, de aproximadamente 60.000 metros quadrados, se enquadra em uma área de proteção de manancial, em vista do córrego Santa Teresinha que passa pelo perímetro e é afluente do Rio Tamanduateí.

6.2.2. Objetivos

Situam-se, como objetivos os seguintes aspectos:

- Resgate histórico do processo de ocupação urbana no município de Santo André, em especial da malha ferroviária e da várzea do Rio Tamanduateí, situando o papel dos espaços ambientais na configuração de uma identidade local;

- Análise dos dispositivos das legislações estaduais e municipais e seus respectivos parâmetros urbanísticos de uso e ocupação do solo na área;

- Levantamento espacial da apropriação urbana atual e dos usos formais e informais nas bordas do rio. Inserem-se nestes reconhecimentos de campo, informações sobre os parâmetros de adequação atual da qualidade das águas para usos recreativos e turísticos e, ou, programas voltados para este objetivo;

- Avaliação de projetos e programas desenvolvidos ou em elaboração de desenvolvimento ambiental e urbano em Santo André, de modo a avaliar o grau de interesse e ações do Poder Público Municipal em relação ao Rio Tamanduateí, inserido nas perspectivas de desenvolvimento urbano;

- Implantar um projeto de caráter educativo em uma área de preservação ambiental a fim de realizar, ao mesclá-los, uma instituição de apoio à rede de ensino formal;

- A partir dos estudos para este objeto, espera-se construir um material de referência para a realização de uma rede de parques escola, em diferentes eixos temáticos, para melhor embasar a formação de crianças e adolescentes para uma vida adulta consciente e socialmente ativa.

6.2.3. Programa de necessidades

1. Administração:

∙ direção (30m²);

∙ secretaria + coordenação (30m²);

∙ sala de reunião para 10 pessoas (30m²);

∙ vestiários funcionários (25m² cada);

∙ sanitários funcionários (20m² cada)

∙ armários funcionários (15m²);

∙ copa (15m²);

∙ estar (25m²);

∙ depósito de materiais (20m²);

∙ almoxarifado (20m²);

∙ sala veterinário (20m²);

∙ laboratório animal (30m²);

∙ atendimento veterinário (20m²);

∙ sala biólogo (20m²);

∙ laboratório vegetal (30m²);

∙ atendimento biólogo (20m²);

∙ 3 salas preparatórias/aula para 20 pessoas (40m² cada);

∙ 2 salas para palestras para 40 pessoas (60m²cada).

2. Apoio geral:

∙ sanitários (vários núcleos em função da necessidade);

∙ recepção (núcleos em função das entradas - 15m²);

∙ copa para “picnic” (500m²);

∙ lanchonete (20m²);

∙ auditório (250 pessoas - 400m²);

∙ foyer auditório (200m²);

∙ espaço dos pequeninos (crianças de 3 a 7 anos), aberto aos sábados, domingos e feriados (50m²);

∙ laboratório audiovisual (250m²);

∙ simulador 4D viagens na natureza (150m²);

∙ áreas para exposições temporárias (1500m² - núcleos diversos);

∙ ambulatório (30m²);

∙ biblioteca (1500m²);

∙ centro de estudos e pesquisas digitais (350m²);

∙ estacionamento (baias para ônibus/vans escolares e 100 vagas para veículos aproximadamente).

3. Biologia (1000m² - os espaços deverão dispor de computadores e TV›s sensíveis ao toque para interatividade com as crianças e espaços de permanência):

∙ ciclo da água;

∙ história de Santo André + ferrovia + Rio Tamanduatehy;

∙ Google Earth “gigante”;

∙ espécies aquáticas: painéis + aquário + “pescaria quiz”;

∙ espécies vegetais: painéis + parque + jogos;

∙ biodiversidade + bioma.

4. Ecologia (800m² - os espaços deverão dispor de computadores e TV›s sensíveis ao toque para interatividade com as crianças e espaços de permanência):

∙ o rio hoje;

∙ lixo e reciclagem;

∙ reciclagem em Santo André;

∙ como separar os resíduos;

∙ ateliê de sucata;

∙ sucatário e sucatoteca;

∙ horta + pomar;

5. Física (800m² - os espaços deverão dispor de computadores e TV›s sensíveis ao toque para interatividade com as crianças e espaços de permanência):

∙ fluidos: água + submarino + navios/barcos transporte;

∙ jogo interativo: afunda ou não afunda;

∙ como a água chega às casas e volta aos rios;

∙ óptica e luz: espelho d›água, cores, chuva, arco-íris;

∙ como a energia elétrica chega aos rios;

∙ fontes de energia e meio ambiente;

∙ laboratório público para visitação guiada.

6.3. O projeto

A partir da experiência bem sucedida da Sabina em Santo André, entende-se o município em questão como pioneiro e incentivador à educação “extra-classe”. Dessa maneira, realiza-se a proposta da implantação de uma rede de parques escola com diferentes enfoques temáticos, considerando que a Sabina tem por principais eixos física, matemática e história natural.

6.3.1. Memorial de projeto

Em vista da importância histórica e cultural que o Rio Tamanduatehy exerce na cidade associada à questão ambiental que contemporaneamente se discute, o parque escola criado possui o eixo temático da educação ambiental e a relação dos rios em espaços urbanos. Considerando que alguns elementos de projeto deveriam estar presentes em todos os parques da rede, o elemento de conexão seria a imagem de satélite do município (que existe na Sabina), com a diferença de que, em cada um dos equipamentos seria chamada a atenção para algum objeto da paisagem. No caso do projeto realizado, estariam indicados no mapa os principais rios e córregos da cidade, para que em especial as crianças pudessem localizá-los junto a suas casas.

O público que se espera atender com o projeto é em especial de crianças e adolescentes com idade entre 8 e 14 anos (3º e 9º anos do ensino fundamental). Conforme os estudos realizados apontaram, crianças com idade inferior aos 8 anos ainda não possuem a interatividade completamente desenvolvida – por isso também para eles foram criadas salas com atividades específicas, mais individuais. O público recebido durante os dias de semana seriam estritamente alunos da rede pública de ensino – uma vez que este seria de iniciativa pública, como a Sabina. Aos finais de semana, o espaço seria aberto ao público geral com a cobrança de uma taxa significativa para gastos de manutenção da área.

Para a orientação dos usuários ao longo das atividades do programa, há a necessidade de profissionais qualificados para exercer tal função. No intuito de vincular a instituição criada também à Universidade Federal do ABC (UFABC – com um campus a cerca de dois quilômetros da área de estudo), seriam capacitados alunos universitários para a realização do trabalho de monitoria. No parque escola ambiental seriam ministradas aulas e palestras específicas para esses monitores, com a disposição de uma biblioteca e um centro de pesquisas digitais para monitores e alunos da universidade. O espaço de apoio atenderia cursos específicos também para professores da rede pública de ensino. gem, parte da vegetação escolhida é típica da região; complementada por herbáceas e arbustos (estes específicos para o jardim sensorial e para a horta), além de árvores frutíferas. Todo o conjunto procura dar continuidade à sequência educacional proposta no edifício, sendo aberta à população local e também por aqueles que eventualmente passarem pela região.

Quanto aos aspectos urbanos, pretende-se criar uma ciclovia de conexão entre a área projetada, o Parque Prefeito Celso Daniel e as estações ferroviárias e terminais de ônibus metropolitanos Prefeito Saladino e Prefeito Celso Daniel (antigo Duque de Caxias). A ciclovia faria o trajeto desde o centro de Santo André até as imediações do Parque Escola e o terminal intermodal, com cerca de dois quilômetros. Esse trajeto, que passaria em maioria pela Avenida Industrial atenderia em especial a população que atualmente reside na área e visa àqueles que em breve irá se instalar nas imediações do Parque Prefeito Celso Daniel, com os empreendimentos residenciais que estão sendo finalizados.

Para o córrego Beraldo, algumas intervenções foram realizadas. A primeira delas foi o alargamento de seu leito, que atualmente passa por um canal no trecho que permeia o sítio de projeto. Além do alargamento, foi constituído um meandro, alagável e com vegetação própria de várzeas, a fim de auxiliar a drenagem urbana, em especial na época de chuvas mais intensas, considerando que aumentando a área de permeio do leito, reduz-se a velocidade com que as águas atingem o Rio Tamanduateí e, por consequência, reduz-se a intensidade das inundações frequentes na Avenida dos Estados.

No intuito de garantir uma reestruturação do leito do rio e da paisa-

Propõe-se ainda a reforma da atual Praça Pão de Açúcar, à frente do terreno (pela Avenida Industrial). Hoje, a praça, que foi resultado de uma das parcerias público-privadas parcialmente realizadas, através do Grupo Pão de Açúcar, após o Eixo Tamanduateí, encontra-se em abandono e muito pouco utilizada pela população. Além dessas questões, outro fator que agrava a situação do local é a possibilidade de alagamentos no trecho, principalmente decorrente da baixa permeabilidade do solo. A proposta prevê a criação de uma wetland artificial – uma área alagável com presença de vegetação específica a fim de propiciar parte da filtragem de impurezas presentes nas águas, controle da drenagem em dias de chuva intensa, espaços para animais aquáticos e aves, área de recreação e contemplação, além de possibilitar seu estudo, com aplicações em áreas similares do município de Santo André.

Determinando o eixo do córrego como fundamental no estabelecimento do partido arquitetônico, iniciou-se o estudo da implantação. Os croquis iniciais mostram que na maior parte das vezes, o programa do parque escola foi dividido em mais de um edifício; embora um fator fosse sempre presente: a conexão das massas edificadas simultaneamente à contemplação das águas.

Por fim, o partido adotado se define pela implantação de quatro edifí- cios, alinhados pelo eixo do Beraldo, distanciados a no mínimo trinta metros de suas margens. Foram determinados dois acessos ao programa educacional, nos edifícios 01 e 02, ambos localizados na porção do terreno mais próxima à linha férrea. É importante mencionar nesse momento a criação de uma via interna para a circulação de veículos no sítio de projeto. Os intensos fluxos no sistema viário existente e a necessidade da criação de áreas específicas para embarque e desembarque dos estudantes ocasionaram na solução da via interna. Essa via, permeável, é acompanhada por jardins de chuva, que possuem um sistema de drenagem independente, garantindo o controle da coleta das chuvas – considerando que a absorção de água somente pelo solo do terreno não é suficiente.

A interligação entre os quatro edifícios se dá ao nível do primeiro pavimento, com o deck contemplativo. Mais do que uma passagem propriamente dita, o intuito de realizar essa praça elevada com o vazio central é justamente trazer aos visitantes a oportunidade de, ao longo do passeio, aproveitar a paisagem, que também inclui a visual da linha férrea e de parte do rio Tamanduateí. No pavimento seguinte, as ligações entre os edifícios ocorrem duas a duas – uma passarela entre os blocos 01 e 03 e outra entre os blocos 02 e 04; ambas mantendo as visuais externas para o Beraldo.

A estrutura dos edifícios é em maioria metálica, com pilares em perfil “H”, vigas em perfil “I” e lajes em steel deck, preenchidas em concreto. Os vãos entre os pilares são de 14.40 e 21.60 metros, nos quais vigas secundárias foram locadas a cada 3.60 metros. A interligação entre os edifícios possui pilaretes pré-fabricados em concreto armado a cada três metros nos níveis superiores, apoiados sobre uma viga de transição e sustentados por pilares atirantados.

Para possibilitar que ventilação e iluminação naturais atingissem todo o interior dos edifícios, foram criados átrios centrais que, com uma cobertura em vidros reflexivos permite a melhoria do conforto ambiental (verificar detalhe abaixo). Ainda assim, para dias de maior fluxo de pessoas e com picos de temperaturas, foram estimadas áreas técnicas para um sistema de ar-condicionado.

A um primeiro momento, haviam sido escolhidos perfis metálicos nos sentidos horizontal e vertical para composição da fachada. Porém, ao desenvolver o projeto, viu-se a possibilidade de desenhar painéis, também metálicos, mas que formassem um desenho diferenciado nas vistas externas e também nos efeitos da iluminação e sombra nos espaços expositivos. Foram escolhidas duas peças metálicas que ao fundo possuem uma película em fibra de vidro, ofuscando parcialmente a luz solar intensa, mas permitindo boas quantidades de iluminação e ventilação.

A circulação principal no interior dos edifícios acontece primordialmente nos átrios centrais ou muito próxima deles. A ideia reforça a questão do passeio do visitante a contemplação do espaço – possibilitando uma melhor compreensão, pelas crianças, de como é o funcionamento do prédio e de como o mesmo se estrutura – justamente por essa razão nota-se a importância que as escadas helicoidais e a rampa (edifício 03) ganham no projeto de arquitetura. No tópico seguinte serão apresentados os desenhos desenvolvidos para o projeto (os desenhos completos encontram-se no envelope em anexo).

6.3.2. Desenhos

Croquis iniciais previstos dois principais blocos, desta vez, não simétricos em planta. As ligações entre os edifícios se dariam através de diversas passarelas em níveis diferentes. As coberturas seriam espaços de contemplação da paisagem.

Fig. 145 - Primeiro estudo de partido arquitetônico, através do qual eram previstos dois blocos principais, conectados através de um deck central. O eixo de projeto era o rio.

Fig. 147 - Terceiro estudo de partido arquitetônico. Neste já estão dispostos quatro blocos simétricos em planta, os quais se interligam a partir de um deck no primeiro pavimento. Quanto ao rio, previu-se a possibilidade de criar novos meandros, a fim de qualificar a drenagem em dias de chuva mais intensa. Em todos os estudos de partido foram idealizados acessos internos ao terreno, desviando esses fluxos das avenidas periféricas ao lote, já sobrecarregadas com o trânsito local.

Fig.

- que já se aproxima da implantação final de projeto. Quatro blocos livres no pavimento térreo, interligados ao parque que se liga ao leito do rio. No nível do primeiro pavimento os quatro pavimentos se unem a partir de um deck elevado e coberto. Os desenhos a seguir mostram a composição final do objeto.

Fig. 149 - Implantação, escala 1:2500, mostrando as alterações no entorno próximo ao terreno de estudo.

IMAGEM N. BOTÂNICO N. POPULAR ALTURA

Eichhornia crassipes

Aguapéde 20 a 50 cm

Ocimum basilicum Manjericãode 0,5 a 1 m

IMAGEM N. BOTÂNICO N. POPULAR ALTURA

Lavandula dentata Lavandade 60 a 90 cm

Pistia stratiotes Alface d'águade 15 a 20 cm

Dianthus caryophyllus Cravode 60 a 90 cm

Nymphaea rubra

Ninféia vermelha até de 15 cm

Justicia brandegeana Camarão vermelho de 0,8 a 1 m

Limnocharis flava

Mureréde 30 a 40 cm

Portulaca

Grandiflora

Portulacade 15 a 20 cm

AmendoimArachis repens rasteiro de 10 a 20 cm

Kalanchoe blossfeldiana

Calanchoêde 20 a 30 cm

Axonopus compressus

Grama-sãocarlos de 15 a 20 cm

Saintpaulia ionantha Violetade 15 a 20 cm

Cymbopogon citratus

Capim-limãode 0,9 a 1,2 m

Agapanthus africanus Agapantode 30 a 60 cm

Ocimum basilicum Manjericãode 0,5 a 1 m

Alcantarea imperialis Broméliaimperial de 1 a 1,5 m

Lavandula dentata

Lavandade 60 a 90 cm

Cattleya sp Catléiacerca de 35 cm

N. BOTÂNICO N. POPULAR ALTURA

Alcantarea imperialis Broméliaimperial de 1 a 1,5 m

Heliconia rostrata Heliconiade 2 a 3 m

N. BOTÂNICO N. POPULAR ALTURA

Pachystachys Camarão

Cattleya sp Catléiacerca de 35 cm

Ipomoea alba Boa-noitede 5 a 30 m lutea amarelo de 0,5 a 1 m

Hibiscus rosasinensis Hibiscode 3 a 5 m

Thunbergia fragrans Tumbérgiabranca de 4 a 6 m

Typhonodorum lindleyanum

Banana-d'águade 1,5 m a 3 m

Eugenia uniflora Pitangueirade 2 a 4 m

Catharanthus roseus Vincade 30 a 50 cm

Cestrum nocturnum Dama da noitede 1,5 a 3 m

Rosmarinus officinalis Alecrimaté 1,5 m

Grevillea Banksii Grevílea-anãde 4 a 6 m

Codiaeum variegatum

Crótonde 2 a 3 m

Tibouchina granulosa Quaresmeirade 8 a 12 m

Chorisia speciosa Paineira-rosaaté 20 m

Heliconia rostrata Heliconiade 2 a 3 m

Pachystachys Camarão lutea amarelo de 0,5 a 1 m

Jacaranda mimosaefolia

Jacarandámimoso cerca de 15 m

Tabebuia impetiginosa

Ipê-roxocerca de 12 m

Jacaranda mimosaefolia

Jacarandámimoso cerca de 15 m

IMAGEM N. BOTÂNICO N. POPULAR ALTURA

Tabebuia impetiginosa

Ipê-roxocerca de 12 m

Morus nigra Amoreiranegra de 4 a 12 m

Myrciaria Jabuticabeira até 15 m cauliflora

Calophyllum brasiliense Guanandiaté 20 m

Anadenanthera macrocarpa

Angicocerca de 20 m

Caesalpinia echinata Pau brasilaté 30 m

Cariniana estrellensis

Jequitibáde 30 a 40 m

Archontophoeni Palmeira-real de 15 a 20 m

Archontophoeni x cunninghamii de 15 a 20 m

Euterpe edulis Palmito-juçarade 5 a 10 m

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