Música e Hinologia - Matatias Gomes dos Santos

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Matatias Gomes dos Santos

MĂşsica e Hinologia


Edição 1947 Copyright © 1947 Matatias Gomes dos Santos Reedição eletrônica – novembro/2017 Copyright © 2017 www.hinologia.org Administrado por Robson José dos Santos Júnior direitosautorais@hinologia.org www.hinologia.org Matatias Gomes dos Santos Música e Hinologia

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Projeto gráfico e capa: Marcio Roberto Lisboa Coordenação: Robson José dos Santos Júnior


Sumário

Prefácio...........................................................................5 Sobre o Autor..................................................................7 Uma Palavra...................................................................15 Música e Hinologia........................................................19 Conclusões.....................................................................33 Recomendações..............................................................35



Prefácio

“Em boa hora compreendi que o púlpito e o grupo coral deveriam ser duas fontes de inspiração.” Frase do Rev. Matatias Gomes dos Santos registrada em seu texto “Música e hinologia”, que o site “Hinologia Cristã” reedita 60 anos depois de sua exposição no Congresso de Cultura Religiosa em 1947, no Rio de Janeiro. Era o testemunho do pastor, músico e, provavelmente um talentoso arquiteto, Matatias Gomes dos Santos depois de ter em sua vida construído dois templos ao som de corais por ele inspirados e entusiasmados. Em 1913, quando foi conduzido ao pastorado da Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo, em meio aos sonhos de um novo templo, reuniu os cantores da Igreja sob sua regência, construindo acordes e colunas, afinando vozes e definindo estruturas de um novo edifício. Em 1922 o templo da Igreja Unida na rua Helvetia estava pronto e a atividade musical consolidada pelos anos que se seguiram. Quando foi transferido para a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro em 1926 também assumiu a liderança na construção de um novo templo, ao mesmo tempo em que cuidava da música coral da Igreja ao conduzir como regente o músico leto Arthur Lakchevitz e trabalhar com ele em cinco edições da coleção “Coros Sacros”. 5


O Hinário Evangélico também teve sua colaboração e, assim como os “Coros Sacros”, seguiu sendo editado depois de sua morte. O solene templo da Praça Matatias Gomes dos Santos, no Rio de Janeiro, é testemunha de um pastorado acompanhado de música e edificação baseadas em bom contraponto de vozes em canto coral. “E, à medida que o púlpito desentranhava da Bíblia as doutrinas e os apelos do Senhor à mente e ao coração dos crentes, o coro, por seu turno, através de suaves e maravilhosos acordes, enchia o ambiente de expressões celestiais, de promessas divinas, de imperativos irresistíveis da Fé.” (Matatias Gomes dos Santos in “Música e Hinologia”) Outubro de 2017 Samuel Kerr

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Sobre o Autor

Rev. Matatias Gomes dos Santos (1879-1950) Pioneiro presbiteriano no leste de Minas; pastor em São Paulo e no Rio de Janeiro; autor de hinos

Matatias Gomes dos Santos foi o único ministro que pastoreou as igrejas mais antigas da Igreja Presbiteriana do Brasil nas duas principais cidades do país. Ele nasceu em Campinas no dia 11 de setembro de 1879. Fazia questão de gravar o nome à moda antiga – Matatias. Era filho de Matias Gomes dos Santos e Maria Garcia Marinho dos Santos, tendo ficado órfão de pai aos dois anos. Seu avô materno, o português Antônio Garcia Ferreira, foi um dos primeiros membros da Igreja Presbiteriana de São Paulo e mais tarde se tornou presbítero em Itapira e Mogi-Mirim. O menino recebeu uma formação evangélica desde a infância. Aos onze anos, passou a estudar na Escola Americana, em São Paulo. No dia 4 de agosto de 1895, aos 16 anos, professou a fé na Igreja Presbiteriana de São Paulo, e nes7


sa época ingressou no Seminário Presbiteriano, então localizado na capital paulista. Durante os estudos, trabalhou como criado, tipógrafo e, a partir de 1899, professor de português na Escola Americana. Foi membro fundador da Igreja Presbiteriana Filadelfa e da Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo, esta última organizada em 26 de agosto de 1900. Pouco antes, em 10 de julho daquele ano, casou-se com Florinda Ribeiro de Castro. Foi licenciado pelo Presbitério do Rio de Janeiro, reunido em Nova Friburgo, no dia 30 de junho de 1901, junto com os colegas Baldomero Garcia, Constâncio Omegna e Henrique Louro de Carvalho. Tinha sido convidado pelo Rev. John Merrill Kyle para dar assistência a um novo e promissor campo que se abria – o leste de Minas. Desde a década de 1860, alguns colonos alemães de Nova Friburgo haviam começado a se transferir para a região de Alto Jequitibá por causa das matas e terras férteis ali existentes. Entre os primeiros migrantes estava Guilherme Eller (1808-1872), que tinha chegado ao Brasil em 1824 com os pais e os irmãos mais novos. Muitos desses colonos originalmente luteranos que se transferiram para a Zona da Mata acabaram abandonando a fé protestante. Todavia, Henrique Eller, filho de Guilherme, insistiu em preservar a herança evangélica e saiu em busca de assistência pastoral, contando para isso com o auxílio de Cristiano César. O primeiro pastor que visitou a região a convite deles foi o batista Salomão Luiz Ginsburg, em 1896, que acabou não atraindo a simpatia dos colonos por causa de sua prática imersionista. Foi então que Francisco Eller, filho de Henrique, indo visitar os parentes no Estado do Rio, conheceu o missionário presbiteriano residente em Friburgo, Rev. John Kyle. Este foi a Alto Jequitibá em julho de 1897, pregando nas casas de diversas famílias. Em 15 de outubro daquele ano, por iniciativa de Henrique Eller, foi concluída uma pequena casa de oração para sediar os cultos. Kyle comprometeu-se a obter um pastor para a localidade, convidando para esse fim o licenciado Matatias, que chegou a Alto Jequitibá no dia 4 de julho de 1901, tornando-se assim o primeiro obreiro presbiteriano a residir no leste de Minas. Essa localidade essencialmente rural fazia parte do município de Manhuaçu e só bem mais tarde se tornaria um distrito e posteriormente um município autônomo. Matatias foi ordenado pelo Presbitério do Rio de Janeiro no dia 24 de janeiro de 1902, na antiga capital federal. Um mês e meio depois, em 9 de março, acompanhou o Rev. Álvaro Reis no ato de organização da Igreja Presbiteriana de Alto Jequitibá. Foram arrolados 105 membros comungantes, sendo 60 por transferência da Igreja Presbiteriana de Nova Friburgo, 15 recebidos por 8


profissão de fé pouco antes da organização e 30 transferidos da Igreja Luterana de Friburgo. O número de menores era de aproximadamente 200. Além de diversas famílias brasileiras, havia integrantes das seguintes famílias de origem alemã: Eller, César, Loubach, Sathler, Berbert, Heringer, Breder, Gripp e Emerick. Posteriormente também seriam recebidas pessoas das famílias Stutz, Werner, Stoffel, Heckert e outras. Foram eleitos presbíteros Antônio Pedro de Carvalho e Cristiano César, e diáconos João Leandro de Faria, Manoel Jorge Eller e Aniceto Ferreira Gomes. Em 1º de março de 1903 foram eleitos outros dois presbíteros: Henrique Pedro Eller e João Leandro de Faria. Viajando sempre a cavalo, o Rev. Matatias pregou em muitos locais da região: Jacutinga, Manhumirim, Fazenda Breder, Barra do Jequitibá, Manhuaçu, Lajinha, Caparaó, Carangola, Santa Margarida, Espera Feliz, Córrego do Onça, Córrego Braço do Rio. Permanecia dois domingos em Alto Jequitibá e nos outros dois visitava seu vasto campo. Em 1903, acompanhado pelo presbítero João Leandro de Faria e por Frederico C. Emmerich, o jovem ministro visitou pela primeira vez o Estado do Espírito Santo. No dia 13 de setembro, pregou na fazenda de Joaquim da Silva Santos, nas proximidades de Muniz Freire. Segundo consta, esse foi o primeiro culto presbiteriano no estado capixaba. Dias depois, numa fazenda perto de Alegre, recebeu os primeiros membros: Manoel Soares Teixeira e sua família. Finalmente, em 19 de setembro realizou o primeiro culto em São José do Calçado, na residência do farmacêutico Benjamim Moraes. A igreja presbiteriana dessa pequena cidade, a primeira do estado, seria organizada em 10 de março de 1907 pelo Rev. Constâncio Homero Omegna. Em agosto de 1905, após breve período como pastor auxiliar do Rev. Álvaro Reis e colaborador na redação de O Puritano, Matatias transferiu-se para Salvador, na Bahia, sendo o campo do Espírito Santo entregue aos cuidados do Rev. Constâncio Homero Omegna e o do leste de Minas ao Rev. Manoel Alves de Brito. Nesse mesmo ano, em 5 de junho, foi organizada a igreja de Barra do Jequitibá/Manhuaçu, primeira filha da igreja de Alto Jequitibá. Matatias foi pastor na Bahia por vários anos, tendo sido membro fundador do Presbitério Bahia-Sergipe, organizado em Salvador no dia 7 de janeiro de 1907. Foram seus colegas de presbitério os Revs. José Ozias Gonçalves e Salomão Ferraz. Nesse período, exerceu o magistério, publicou artigos em jornais seculares e fundou o jornal Imprensa Evangélica (1908), com o mesmo formato e a âncora simbólica do periódico desaparecido em 1892. Tornou-se membro do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia e reconstruiu o templo da Igreja Presbiteriana 9


da Mangueira, no qual foi realizada a primeira celebração do Dia das Mães no Brasil (10.10.1909). Em dezembro de 1912, foi chamado para exercer o cargo de diretor da Escola Americana, em São Paulo, no qual permaneceu até 1919, tendo também lecionado no Mackenzie College. Poucos meses após sua chegada, em 12 de junho de 1913, foi eleito pastor da Igreja Presbiteriana Unida, sucedendo o idoso Rev. Modesto Carvalhosa. A obra presbiteriana na capital paulista estava quase paralisada, experimentando muito pouco crescimento, e ele começou a mudar essa situação. Pouco depois de sua posse, deu início à construção do imponente templo da Rua Helvetia, cuja pedra memorial foi lançada em 1º de janeiro de 1914. O edifício começou a ser utilizado no ano seguinte, mas somente foi concluído e inaugurado em 7 de setembro de 1922, dia do centenário da Independência do Brasil. Nesse projeto, contou com o auxílio de muitos colaboradores, em especial o Sr. Gaspar Schlittler. A igreja expressou o seu reconhecimento ao pastor através de uma placa afixada à entrada do templo. Em 1919, participou de um congresso das Associações Cristãs de Moços no Uruguai. Desse congresso nasceu o Conselho Geral das Igrejas Evangélicas da Cidade de São Paulo, do qual foi eleito presidente. Renovou e impulsionou a música na Igreja Unida, bem como criou o seu coral. Prestigiou o trabalho da escola dominical, dirigido de forma brilhante, a partir de 1920, pelo presbítero Eliezer dos Santos Saraiva. Impulsionou a expansão do presbiterianismo na cidade, dando assistência às congregações e pontos de pregação da igreja, e incentivando a abertura de outras (Lapa, Casa Verde, São Caetano, Nipo-Brasileira, Osasco, Imirim, Barra Funda, Perdizes, Higienópolis, Bela Vista, Vila Monte Alegre, Vila Queirós, Tremembé, Bom Retiro). Muitos desses trabalhos começaram como pequenas escolas dominicais e ficaram sob a responsabilidade dos presbíteros e diáconos. Em seu pastorado foram criados o “Pecúlio dos Pobres”, o Instituto de Beneficência Cristã, o Centro de Educação Física, para a mocidade, e o periódico A Mensagem, do qual ele mesmo foi o redator. A Sociedade do Esforço Cristão foi reformulada e passou a se chamar Centro de Discípulos de Cristo. Começaram a ser realizados os retiros no orfanato Blossom Home (Lar das Flores), em Suzano, dirigido pelo casal Carlos e Sara Cooper. Nos conflitos “tenentistas” de 1922 e 1924 a igreja cedeu o templo à Cruz Vermelha, e em 1925 à 1ª Igreja Presbiteriana Independente, que estava construindo o seu templo na Rua Dr. Pestana. 10


Em 22 de agosto de 1926, Matatias assumiu o pastorado da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, a igreja-mãe do presbiterianismo nacional. O Rev. Álvaro Reis havia falecido em junho do ano anterior, sendo sucedido brevemente pelos Revs. Vítor Coelho de Almeida, Laudelino de Oliveira Lima e André Jensen. No atendimento à sede e às congregações, o novo pastor contou com a colaboração de muitos auxiliares: Lisânias de Cerqueira Leite, Reinaldo Malafaia, Silas Sampaio Ferraz, Paulo Lenz César, Tancredo Costa, Benjamim Moraes, Galdino Moreira, João Marques da Mota Sobrinho, Juvenal Vieira Batista e outros. Em seu pastorado, foram organizadas várias igrejas-filhas: Nova Iguaçu (1927), Realengo (1931), Bangu (1932), Turiaçu (1932), Santa Cruz (1933), Anchieta (1936), Parada de Lucas (1946) e Maria da Graça (1946). Outros trabalhos foram iniciados na Ilha do Governador, Campo Grande, Santíssimo, Marechal Hermes, Acari, Vila da Penha, etc. O Rev. Matatias instituiu o uso do cálice individual na Ceia do Senhor ao lado do cálice comum que vinha da época de Álvaro Reis. Em 1931, fundou nas instalações da igreja o Instituto Renascença, para instrução primária, complementar e secundária, que chegou a ter quase 300 alunos. Contava com eficiente equipe de dirigentes e professores. Em 1932, foi criada uma extensão no Rio Comprido, o Colégio Renascença. Reorganizou o coral da igreja, que a partir de 1933 ficou sob a regência do maestro Canuto Roque Régis (1909-1954). Em seu pastorado, foi criada a primeira União de Mocidade Presbiteriana (UMP), em 28 de agosto de 1934, embora a primeira diretoria só tenha sido eleita em 1938. Nesse mesmo ano, o Supremo Concílio, reunido em Fortaleza, criou a Secretaria do Trabalho da Mocidade, nomeando para ocupá-la o Rev. Benjamim Moraes. Em 1º de agosto de 1939, foi aprovado o moto “Alegres na esperança, fortes na fé, dedicados no amor, unidos no trabalho”, proposto por Canuto Régis. A maior realização do Rev. Matatias foi a construção do magnífico templo da igreja-mãe, em substituição ao velho edifício da época do império (1874), que ameaçava desabar. Contou para isso com os esforços entusiásticos de todos os setores da igreja, a partir de 1927. O culto solene de inauguração da parte interna do templo foi realizado em 25 de dezembro de 1942. Emocionado e vibrante, o Rev. Matatias proclamou: “Para honra e glória do trino Deus, para testemunho do evangelho eterno, para o bem e glória do Brasil, declaro inaugurado este templo”. Nessa ocasião professaram a fé, entre outras pessoas, três jovens que iriam abraçar o ministério: Atael Fernando Costa, Reinaldo Corrêa da Silva e Thiago Rodrigues Rocha. Até 1942, recebeu mais de mil pessoas no 11


rol da igreja, entre maiores e menores. Florinda, a primeira esposa do Rev. Matatias, faleceu no dia 15 de fevereiro de 1940, após 40 anos de vida conjugal. Em 6 de março de 1941, ele se casou em segundas núpcias com Ester Gomes dos Santos. Teve vários filhos, todos do primeiro enlace. Encaminhou ao ministério os Revs. Paulo Lenz de Araújo César, Francisco de Paula Severino da Silva, Laudelino de Oliveira Lima Filho, João Pedro de Souza Lobo, Fernando Nani, Paulo Villon e Raul Villaça Filho. Em 1944, indicou como candidato à sua sucessão o Rev. Amantino Adorno Vassão, que no dia 23 de julho foi eleito copastor, assumindo o pastorado efetivo em agosto de 1946. O Rev. Matatias foi o primeiro ministro da IPB a receber o título de “pastor emérito”, em maio de 1946. O operoso ministro faleceu às 17 horas do dia 9 de outubro de 1950, no Hospital Evangélico do Rio de Janeiro, sendo sepultado no dia seguinte no Cemitério de São João Batista, em Botafogo. Suas últimas palavras, testemunhadas pelo Rev. Raul Villaça, foram: “Vale a pena viver e morrer no Senhor”. Na cerimônia de corpo presente realizada na igreja do Rio, falaram os Revs. Benjamim Moraes (presidente do Supremo Concílio), Amantino Vassão, Júlio Nogueira, José Borges dos Santos Júnior e Galdino Moreira. Junto ao túmulo se pronunciaram, entre outros, o bispo César Dacorso Filho (metodista), o arcediago Nemésio de Almeida (episcopal) e o Rev. Antônio Campos Gonçalves (congregacional). No domingo 31 de outubro de 1982, no início do pastorado do Rev. Guilhermino Cunha, foi inaugurada defronte ao templo da Rua Silva Jardim a Praça Rev. Matatias Gomes dos Santos, mediante projeto de lei do vereador evangélico Dirceu Amaro. O Rev. Matatias dirigiu por duas vezes o concílio magno da Igreja Presbiteriana do Brasil: em 1917, como vice-moderador em exercício, e em 1926, como moderador eleito, na reunião da Assembleia Geral em São Sebastião do Paraíso (MG). Foi também moderador do Sínodo Central (1937). Fez parte da comissão revisora do Livro de Ordem da IPB e em anos posteriores defendeu a maior abertura da igreja e as modificações propostas para sua nova constituição. Foi membro permanente do Conselho de Administradores do Hospital Evangélico do Rio de Janeiro. Foi também o primeiro presidente da Confederação Evangélica do Brasil (1934) e o primeiro vice-presidente da Sociedade Bíblica do Brasil (1948). Escreveu amplamente. Ressuscitou por alguns anos a Imprensa Evan12


gélica, na Bahia e em São Paulo. Entre suas publicações conta-se o trabalho Os jesuítas, a propósito das “Emendas Religiosas” de 1925, e Bispos e pastorais ou a conquista do Brasil pelos norte-americanos (1928), reunindo artigos escritos para O Estado de São Paulo em 1921. Quando pastor em São Paulo, redigiu o jornal A Mensagem. No Rio, publicou outro periódico com o mesmo nome (1931-1945), que era o órgão informativo da igreja. Colaborou com o maestro Arthur Lakschevitz na publicação de Coros sacros, destinados aos corais das igrejas evangélicas. Foram lançados cinco volumes, totalizando 110 hinos. Presidiu a Comissão do Hinário da Confederação Evangélica e colaborou na revisão do Hinário Evangélico, lançado após o seu falecimento. Publicou Música e hinologia (Rio, 1948). O Hinário Novo Cântico contém um belo hino de sua autoria – “As grutas, as rochas imensas” (27). Dr. Alderi Matos (Do livro “Os Consolidadores da Obra Presbiteriana no Brasil”, 2014) © Alderi Souza de Matos – Instituto Presbiteriano Mackenzie – Usado com permissão

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Uma Palavra

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pequeno estudo que aí vai nada tem de técnico. De fato, é apenas um ligeiro registro das experiências e observações no decorrer de quase meio século de reiterado esforço para infundir, na alma generosa do povo brasileiro, a essência fecundante do Evangelho. Não se trata propriamente de uma tese, no sentido comum desse termo. Propunha-me a escrever uma tese, mas o que saiu foi antes uma crônica em que se recordam fatos e se focalizam resultados e lucros, atingidos na faina de conquistar o povo e ganhar as almas, arrebatando-as das trevas para a luz e do poder do maligno para o poder de Deus. Há também algumas lições bíblicas muito curiosas, referentes à Música e à Hinódia Israelita. Ficam igualmente fixados alguns dados que bem podem adiantar aos que procuram aprofundar-se nestes interessantíssimos estudos. Sempre que alguém versar a História da Evangelização no Brasil, deverá forçosamente registrar quão grande tem sido a contribuição da música sacra, não só na conquista de indivíduos, como sobretudo na edificação espiritual da Igreja. Depois das minhas observações na formação da Igreja Unida de São Pau15


lo, vieram-me as experiências na Igreja Cristã Presbiteriana do Rio de Janeiro. No decorrer da emocionante história desta Igreja, bem se pode verificar quão grande foi a preocupação dos seus líderes e mestres, no sentido de que não faltasse à obra insipiente o concurso imprescindível da arte musical da arte musical, ao serviço do único e verdadeiro Deus. Era bem jovem a Igreja do Rio de Janeiro, quando apareceu a sua contribuição para a Hinologia Evangélica Brasileira. Foi em 1867. Trazia o nome de CÂNTICOS SAGRADOS e, embora fosse ainda o tempo das coisas pequenas, se dividia em três partes: 1.º Lições elementares da Música; 2.º Hinos com as respectivas músicas; 3.º Uma Coleção de 80 hinos, que, com os já referidos, perfaziam 97. Em 1875, apareceu nova edição com 142 salmos e hinos e mais um suplemento de 50 músicas sacras. Em 1892, apareceu nova edição, já ampliada para 314 páginas. Este hinário presbiteriano deixou de ser reeditado, para dar lugar à conveniência, mais e mais reconhecida, de um hinário interdenominacional. Houve períodos em que o esforço individual deu realce à utilização da Música, como elemento de eficiência na vida espiritual da Igreja. Foram pontos salientes da marcha regular. A Hinologia na Igreja do Rio recebeu inteligente contribuição de homens eminentes como Vieira Ferreira, Andrade, Júlio Ribeiro, Menezes, J. Boyle, Houston e outros; mas teve um ponto culminante em Santos Neves, cujos versos, repassados de fé e de sensibilidade, revivem, através das novas gerações de evangélicos; e é de ver como eles vão ainda desafogando corações, alentando almas fatigadas, suscitando luz em mentes entenebrecidas, balsamizando as chagas, que se abrem com as asperezas, por vezes agudas, dessa penosa jornada de carregar a cruz. De outra forma, porém não menos interessante, foi a contribuição de homens a quem Deus concedeu a intuição dos acordes na suavidade harmônica da música e que determinaram consagrar ao Evangelho e à Igreja a preciosa dádiva de Deus. O raciocínio era breve, mas a lógica, absoluta e irresistível: - Jesus viveu o sofrimento e morreu por eles sobre a cruz; pois bem, como sinal de reconhecimento, eles arrancariam das cordas da lira louvores a Jesus. 16


Foi esse o caso do Fonseca, notável organista e poderoso maestro, que, exercendo aqui no Rio o cargo de Fiel do Tesouro do Estado de Minas, chamou a sim, graciosamente e com inexcedível modéstia, o encargo de dirigir um grande coro de excepcional eficiência. Ao afundar a mão na poeira do passado, cumpre ao investigador fixar a contribuição marcante da família de Porfírio Martins na música evangélica, assim coral como instrumental. Terá sido esse período áureo em que o maravilhoso violino de Dina Martins Ribas vibrava e ressoava e retinia e soluçava, num rendilhado de sons, ascendendo às maiores alturas, para descer de novo à terra, deixando adivinhar vales de lágrimas, planuras, desertos e solidões. Subiria de novo, porque tem nas alturas os seus objetivos. No inesperado contraste parece que vai morrer agora, afinal, no pianíssimo profundo; contudo, ressurge vigoroso, expressivo, invencível, imortal, galgando altas esferas, mergulhado em luz e esplendor. O piano, magistralmente executado pelo Julinho, o harmônio, a harpa, o violoncelo, o contrabaixo, parecem fracassar no reiterado e inútil esforço de seguir as fugas e os saltos daquele estranho e sublime violino, a recorrer variações inconcebíveis do gênio, na exaltação assombrosa da mentalidade humana. Como recordação dessa grande época, lá está ainda o valioso e admiável harmônio que Porfírio Martins importou especialmente para a Igreja do Rio. Havia, contudo, um ponto vulnerável que constituía problema verdadeiramente aflitivo. O grão de desenvolvimento a que chegara o Departamento Coral era de molde a exigir que, à sua frente, estivessem maestros de elite e era evidente que, na louça de casa, não havia vasos de tão alta valia. Vinha daí o caso paradoxal de, por vezes, verem-se maestros profanos a ensinar aos crentes como louvar a Deus. Foi nessa conjuntura que pensei no Canuto Regis. O tipógrafo revelava pendores de musicista. Um dia, disse-me o jovem baiano: - Fui sorteado e vou recolher-me ao 3.º Batalhão de Infantaria, da Praia Vermelha, por um ano. - Muito bem! Respondi-lhe. Olhe! Requeira sua inclusão na Banda de Música e preste bem atenção ao Regente, porque, quando você voltar, vou lhe 17


confiar a regência do Coro. Temos de nos arranjar com a louça de casa... Durante a ausência do Canuto fiz uma organização do Departamento Coral, a fundo; e confiei a sua regência ao grande músico e maestro cristão, membro da Igreja Batista, o prof. Arthur Lakschevitz, que emprestou, ao referido departamento, toda a unção e todo o brilho da sua personalidade cristã e de artista. A passagem deste servo de Deus pelo Coro da Igreja do Rio foi uma grande bênção. Após “cursar” a Banda de Música do 3.º Batalhão de Infantaria, o Canuto fez um programa de estudos na Escola Nacional de Música. Quando voltou, vinha devidamente aparelhado para assumir os encargos que o esperavam na Igreja do Rio, no Instituto Renascença, nas escolas da Prefeitura, no Instituto Nacional de Educação, na Escola da Marinha de Guerra. Foi a Ascenção rápida de quem Deus aprova, pelos caminhos da oração. “Vigiai e orai...” E foi assim que, quando se abriu a oportunidade, a regência do Departamento Coral foi entregue ao novo maestro que se tem conduzido a contento e se tem conservado na altura da situação. Esse consórcio persiste há vários anos. Do apoio mútuo resultou o mútuo proveito: - O coro fez o maestro e o maestro fez o coro. O prof. Canuto tem se revelado compositor notável, em benefício do coro; e este, correspondendo na altura aos esforços do maestro, tem lhe oferecido, sem favor, dias sensacionais de verdadeira glória. Rio, 13/07/1948 Matatias Gomes dos Santos

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Música e Hinologia

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ido perante o Congresso de Cultura Religiosa, reunido no Rio de Janeiro em 1947

Há seguramente trinta anos regia eu com extremo interesse, carinho e profunda sensibilidade, o coro da Igreja Unida de São Paulo. Havia muito que me impressionava o fato inquietante de serem efémeros os grupos corais que esporadicamente se organizavam em nossas igrejas, outrora poucas e desprovidas de aparelhamento eficiente. Sentindo sobre meus ombros o peso de um extenso programa, qual o do levantamento espiritual, social e material de uma igreja que, apesar de pequenina e da sua marcante pobreza, tinha objetivos de grande alcance, aspirando nada menos que um lugar ao sol da primeira linha do Protestantismo Paulistano, compreendi que, entre as medidas a adotar, impunha-se a fundação de um bom departamento coral. Embora fossem precárias as circunstâncias, fraca a igreja, poucos os seus membros, escassos os recursos econômicos, era evidente que, para manter o fogo sagrado, através de anos que se nos antolhavam crivados de dificuldades, certamente grandes e inamovíveis na aparência, impunham-se medidas de alta projeção, que a um tempo assegurassem as condições de solidez espiritual, social e material. Uma das condições imperativas era a própria construção do 19


templo da Rua Helvétia, na Capital de São Paulo. Para atingir a meta desejada, o púlpito devia contribuir com 100/100 das suas possibilidades; mas, admito que, em um templo sempre deve haver algo de arte ao serviço da fé, convinha acentuar no ambiente uma polarização de arte, como um dos meios de que Deus, o Supremo Artista da Natureza, haveria de servir-se para tornar eficientes os esforços cometidos, através das restrições contingentes em que vivíamos. Em boa hora compreendi que o púlpito e o grupo coral deveriam ser duas fontes de inspiração; e que, conjugando as suas possibilidades e agindo com unidade de vistas e de finalidades, certamente viriam a se tornar irresistíveis, no sentido de atingir os objetivos colimados, levando-nos a bom porto, no término da prolongada viagem. A fase áurea dessa cooperação durou três lustros. Foi esse o período mínimo de orar e agir para alcançar a consolidação espiritual da Igreja e o levantamento do seu grande símbolo, o templo, cuja consagração deveria se realizar, sem qualquer ônus financeiro. Além dos temas do programa supra referido, outros novos e notáveis vieram alinhar-se no ambiente, já então torturado pelos anseios pelos anseios espirituais da evangelização. Braz, Lapa, Casa Verde, São Caetano, Canindé, São Bernardo, Bela Vista e outros pontos da cidade de São Paulo, como que clamavam o grito macedônico. Esses assuntos por um lado faziam vibrar o púlpito e o coro; por outro sacudiam o rebanho do Senhor e polarizavam consequentemente a atmosfera da Igreja.

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oje, tantos anos depois, lembro-me daquele grupo coral, com saudades e profunda gratidão. As suas músicas e os seus hinos ainda fazem vibrar o meu espírito. Que grandes derivativos de arte e espiritualidade para o coração fatigado nas reiteradas pugnas dessa arena bendita do Senhor! Que grandes incentivos! Que notáveis estímulos para aqueles que gozavam a ventura de sentir as vibrações da música, a arte dos anjos que tangem as suas liras, as suas cítaras, as suas harpas, fazendo ressoar, pelos céus sem fim, em 20


suavíssimos acordes, os hinos de louvor e glória a Deus, o Todo-Poderoso. O coro era praticamente uma continuação do púlpito, era um grande e constante testemunho da fé e da doutrina, das virtudes e do programa da carreira cristã. E a Igreja toda cantava o testemunho da sua fé e proclamava a graça de Deus no cumprimento das suas promessas. Apareceram músicos de valor artístico e notável consagração. Fixarei aqui, sem prejuízo de muitos outros, os nomes de Gaspar Schlittler, baixo profundo; Taufic Curban, tenor abaritonado; e Assis, notável tenor, armênia de nascimento, colocado, havia anos, no comércio de São Paulo. Ninguém diria ser aquele homem portador de boa bagagem de músicas sacras, de que era profundo conhecedor. De uma feita, fazendo eu comentários quanto à suavidade encantadora dos acordes de uma sonata de Beethoven, notei que o rosto de Assis se transfigurava de estranho brilho, e então me disse: “Ah! Reverendo Matatias. As mais belas músicas que os grandes compositores escreveram são as que eles consagraram à honra e glória de Deus!” A observação fixou-se no meu espírito. De fato, segundo o meu temperamento e modo de ver, as mais belas e inspiradoras músicas sacras nos vêm das eras que se seguiram à Reforma, especialmente os séculos 18 e 19. Os grandes músicos acharam nos costumes do povo motivos de inspiração, para hinos e canções populares, de toda a sorte e procuravam alegrar a alma das ruas e dos campos, na Inglaterra, na França e na Alemanha. Reservaram-se, contudo, para os surtos de grande expressão, quando versaram motivos religiosos. A destruição do mal e a vitória da Fé; A edificação das almas crentes; os santos eflúvios que se elevam da Esperança e da Caridade; a invocação de Deus, do seu poder e da sua graça. Tais parece terem sidos os temas principais de grandes compositores, como Bach, Handel, Beethoven, Mendelssohn e outros dos séculos 18 e 19. Tratando-se do extraordinário violinista Yehudi Menuin, consta que em 1927, em Berlim, aos dez anos de idade, depois de ter executado, em uma só noite, os concertos “Tres-B” – Bach, Beethoven e Brahms, o pequenino músico foi levantado no ar e beijado por um dos seus ouvintes, Albert Einstein, o grande sábio, que lhe disse: “Menino, você acaba de me provar mais uma vez que existe um Deus no céu!” 21


Terminada a guerra o violinista americano, agora em plenilúnio da grande arte, realizou concertos na Ópera de Paris, em Amsterdam e Bruxelas. Nas Seleções de Dezembro de 1946, consta que, ao voltar Yeudi Menuin para os Estados Unidos, “a esposa perguntou-lhe se tinha alguma aventura de pôr os cabelos em pé”. Menuin respondeu: “De pôr os cabelos em pé”, não, mas de erguer o coração no peito, sim”. Mostrou-lhe então a carta que recebera de um capelão militar, após um concerto, dado além do Atlântico. “Caro Sr. Menuin. Meus homens estão se apresentando neste momento para entrarem em combate. Se todos pudessem ter ouvido o Criador do Universo falar-lhe pela voz de Beethoven e Bach, como ontem à noite o Snr. Nos fez ouvir, maior seria hoje a força deles e a sua decisão de dar combate às potências do mal na terra. Aonde quer que eu vá, hei de sentir-me sempre revigorado ao lembrar-me os momentos que passei ouvindo o seu violino. Foi, para mim, como se estivesse orando a Deus em um dos seus grandes templos”.

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inguém pode por limites aos atos da Divina Providência. A grande inspiração tanto pode vir pela instrumentalidade dos chamados músicos, como por meio de compositores considerados pequenos e obscuros. Em muitos casos mais próprio é falar-se de grandes músicas e de grandes hinos do que de grandes autores. Creio bem ser esse o caso do grande hino de Natal e sua respectiva música: - “Noite de Paz”, “noite de Amor”. O Reverendo E. W. Graefe, pastor da Igreja Luterana Unida, Buenos Aires, escreveu a história desse famoso hino e de sua não menos famosa música, trabalho esse que aparece na revista – El Predica dor Evangelico, vol. III, n.º 10, correspondente aos meses de Outubro a Dezembro de 1945. Desse trabalho se verifica que, assim o autor do referido hino, como o compositor da respectiva música, pertencem aos séculos 18 e 19. Aquele nasceu em 1792 e faleceu em 1848 e este nasceu em 1787 e faleceu em 1863. Vale a pena conhecer a pequena história: 22


“Durante a noite de Natal de 1818, o pastor Joseph Mohr, assistente da congregação evangélica de Obersdorf, na Alemanha, foi a uma festa que realizava na escola de Arnsdorf, um povoado próximo, para estar com o seu amigo Franz Gruber, mestre da escola e organista. As senhoritas irmãs Strasser, amigas do grupo, também estavam presentes para celebrar com os mais, a gloriosa vinda de Cristo ao mundo. Durante a festa foi anunciado que haveria uma distribuição de brindes entre todos os amigos, os alunos da escola e demais pessoas presentes. O pastor Mohr, impressionado com o espírito de júbilo e gratidão de todos os assistentes e, envergonhado de não ter trazido nenhum presente, saiu da escola e, ao ar livre, debaixo das estrelas, ouvindo distante ao redor das canções de louvor à glória de Deus, concentrou o seu espírito, meditando profundamente na mensagem do Natal. Teve então a inspiração de escrever uma poesia: e quando mais tarde voltou à festa, levava consigo o fruto daquela inspiração. “Ao chegar o momento em que o chamaram pelo nome, o pastor Mohr se levantou e entregou ao seu amigo Gruber uma folha de papel dobrada. Este abriu e leu em voz alta a poesia, que chegou a ser um dos hinos mais belos e queridos do mundo inteiro. “E dessarte, por um simples ato de benevolência e amor fraterno, durante uma festa de Natal, veio à luz a canção que, em breve, haveria de ser entoada em todo o mundo, por numerosos coros de ricos e pobres, enfermos e sãos, cativos e livres. É o caso de que pouco depois da sua composição, cantores ambulantes tiroleses fizeram conhecer as suas doces e sublimes notas em todos os povoados da Áustria, da Alemanha e da Suíça. “A música do hino – “Noite de Paz” foi composta durante a mesma noite de Natal de 1818, de um modo tão simples e divinamente inspirado, como a letra. Logo após entregar os seus versos ao amigo Franz Gruber, o pastor Joseph Mohr se retirou para o seu quarto com o propósito de descansar; e, quando se aprontava para dormir, ouviu cantar uma linda melodia desconhecida. Grandemente atraído, apressou-se a voltar de novo à festa; e, ao aproximar-se, descobriu que a canção tinha as palavras dos seus versos. Quis agradecer aos seus amigos a gentileza de terem arranjado a música, mas Franz Gruber, o saudou, dizendo: “Então, a tua poesia não tem agora uma bela música bem na altura? Que podíamos fazer senão passar imediatamente a cantar os teus lindos versos? Pois meu amigo, essa música me ocorreu logo que eu li a poesia. Assim que saíste eu a toquei para as senhoritas Strasser, que desde logo me ajudaram a escrevê-la. A seguir o autor e o compositor cantaram juntos: o pastor Mohr 23


cantava a melodia, acompanhando em tenor com a guitarra; Gruber cantava o baixo, acompanhando a música com o harmônio. “Deste modo as palavras e a música do belo hino foram o resultado de inspiração espontânea do ambiente e do espírito amável e acolhedor do Natal. É a única composição musical do organista, compositor e mestre-escola Franzs Gruber, que logrou alcançar classificação nos hinários modernos.

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olocando-nos agora em outro ângulo desta matéria, não nos esqueçamos do que significa para a Inglaterra o “God save the King!” e do que é para os norte-americanos o “Our Countryit is of Thee, sweet land of Liberty”. A música e os hinos podem arrastar as massas até ao pélago dos maiores sacrifícios, ou elevá-las ao píncaro da glória. A “Marselhesa” fez a revolução francesa com todo o seu complexo de miséria e de glórias. Pareceu-me de tal modo excelente o valor da contribuição musical para a edificação do povo, para inspirar a oração e o trabalho no Reino de Deus, que resolvi criar na Igreja Unida de S. Paulo um outro coro, o coro.º 2, de cujos elementos, devidamente instruídos, educados e treinados pudesse eu ir suprindo as vagas que se abrissem no primeiro grupo coral. A este segundo grupo ministrei um curso elementar de música. Entre outros, lembro-me de que lá estavam firmes e atentos alguns rapazes crentes do Mackenzie College, que vieram a ser bons regentes de grupos corais; e que hoje são ministros do Evangelho, como o Reverendo Dr. Laudelino de Oliveira Lima Filho, o Reverendo Professor Antônio Marques, ora residente na cidade de Campinas e outros. Só Deus sabe o bem que esses dois coros fizeram à minha alma e ao meu pobre coração. E sei que grande bem fizeram a muitas outras pessoas. Releva constatar e fixar que foram incalculáveis os serviços espirituais e artísticos prestados por esses grupos corais particularmente à Igreja Unida de São Paulo. A sua contribuição de conforto, inspiração e alegria, que abundantemente dis24


tribuíram, deve ter excedido em muito aquilo que se pode imaginar; devem ter transposto o próprio tempo e se projetado na eternidade. E só Deus pode calcular a extensão e a intensidade desses valores imperecíveis. Estimulada pelos coros, a Igreja cantava com fervor, as diferentes modalidades da vida espiritual e se fortalecia nas diferentes situações da carreira cristã. Tendo a divina Providência encerrado o ciclo das minhas atividades na Capital de São Paulo e me encaminhando para servir na Igreja Cristã Presbiteriana do Rio de Janeiro, as circunstâncias se alinharam de tal forma que mais uma vez pude verificar, com admiração e entusiasmo, os prodigiosos serviços da música e dos hinos dentro dessa esplêndida vastidão que é a Seara de N. S. Jesus Cristo. O atual Departamento Coral da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro atingiu a sua maioridade: tem 21 anos de reiterados e gloriosos serviços. Ao ingressar neste novo posto de trabalho, dando balanço à situação, tudo compreendi: o templo material ameaça desabar sobre a congregação; e o templo espiritual, trabalhado pelo maligno, exigia grande espiritualidade e íntima comunhão com Deus. Dependia de acrisolados valores que só junto à Cruz do Redentor poderiam ser achados. Entretanto, a situação do evangelismo na Capital da República e em todo o Brasil exigia que a célula mater do Presbiterianismo na América Latina fosse um forte reduto e um ponto de referência, por sua beleza intelectual, espiritual e moral; que dos seus elementos sociais transpirasse um espírito de santidade e amor fraternal; que o seu templo viesse a ser uma contribuição valiosa entre os monumentos artísticos da cidade, ao passo que, dentro dele, para realizar o lar espiritual, vivesse uma igreja perfeitamente unida, para o gozo da fé, para a alegria dos redimidos, para o trabalho bendito do Senhor. Como conseguir tudo isso? Mais uma vez como sempre, a oração e a ação. Mais uma vez a música e os hinos vieram em auxílio do púlpito. Dessa maravilhosa cooperação surgiram milagres. E, à medida que o púlpito desentranhava da Bíblia as doutrinas e os apelos do Senhor à mente e ao coração dos crentes, o coro, por seu turno, através de suaves e maravilhosos acordes, enchia o ambiente de expressões celestiais, de promessas divinas, de imperativos irresistíveis da Fé. Dava ao cântico dos hinos pela Igreja toda um novo sentido de realidade espiritual, de atualidade na comunhão com a onipotência divina. 25


Durante o prolongado período em que a Igreja demoliu e reconstruiu o seu templo, sem que tivesse em mãos os avultados capitais indispensáveis para esse fim; sempre à beira do imaginário abismo de possível fracasso, precisando de conforto e animação; sentindo a sede e a fome de justiça, perante o juízo implacável de uma sociedade incrédula e infiel; - enfim, nas alturas ou nas baixadas da vida, com sombra ou luz; debaixo do manto azulado de um céu de anil, ou sob o teto escuro de nuvens plúmbeas, lá se foi a Igreja do Rio, vencendo dia a dia, semana a semana, mês a mês, ano a ano, seguindo a sua estrada, a estrada vitoriosa da sua campanha penosa e abençoada. Esse notável departamento coral tem chegado, por vezes, a sentir-se, não tanto como a expressão de uma igreja particular ou local, de uma simples e feliz realização da harmonia de sentimentos, através da melodia dos sons; e assim, como que um veículo de expressão das próprias massas do evangelismo carioca, como um grande expoente coletivo da cidade evangélica.

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os cânticos corais espalha-se pela Igreja o gosto pelos hinos, expande-se contagiosamente pelas famílias a paixão pela arte musical, como um dos meios da graça; alguma coisa como a escada de Jacó, com os seus pés na terra e seu apoio nos céus, e os anjos que servem a Deus subindo e descendo, na azáfama infinita dos que cumprem o sagrado ministério da Providência Divina. Chega-se, por fim, a compreender que o cântico de hinos torna-se também de algum modo uma instituição particular. Não é raro ouvirem-se referências a o “meu hino” ou “os meus hinos”. Isso constitui até uma das dificuldades nas reformas de hinários, pois o direito de propriedade, que espontaneamente se estabelece, atinge a sensibilidade pessoal e o indivíduo sofre com as modificações ou com o desaparecimento do “seu” hino. O que venho dizendo quanto ao papel da música sacra e dos hinos no trabalho do Senhor na parte que se refere à Igreja Presbiteriana, é apenas o que tem estado sob minha observação mais direta e pessoal. 26


Mas importa dizer que, de modo muito acentuado, a música sacra e respectivos hinos tem auxiliado toda a obra de evangelização e consolidação evangélica em todo o Brasil e isso, seja bem compreendido, através de todas as denominações. O povo gosta de cantar e de ouvir cantar. Ensinar hinos “novos” é um eficiente recursos dos evangelistas de todas as denominações. Seja na cidade ou no campo, no vale ou na serra, o povo gosta de cantar e de ouvir hinos “novos”. E tudo é feito com fervor e alegria. No Brasil os orfeões já vão surgindo, como tentativas felizes de massas corais, para grande efeito. O do Instituto Conceição, regido pela sra. Harper, o dos Adventistas de Santo Amaro e dos Adventistas de Petrópolis, o do Seminário de Campinas, são massas corais que serviços assinalados têm prestado à causa evangélica em nossa Pátria. A contribuição brilhante da mocidade, entre rapazes e moças, nos cultos sistemáticos, nas incursões missionárias; enfim, em todos os aspectos da obra do Reino de Deus, a música e os hinos constituem contribuição de inestimável valor. A custo de usar e repetir nem sempre nos acode ao espírito o mérito de várias contribuições por certo valiosíssimas, e a propósito das quais só temos motivos para dar graças a Deus. Que seria, por exemplo, da obra missionária e da consolidação da Igreja nascente no Brasil, se não houvesse Sociedades Bíblicas, aparelhadas para acudir, com milhares e até milhões de exemplares da Palavra de Deus, aos apelos daqueles que falam em nome do Senhor? Semelhantemente como seria possível atingir os objetivos já alcançados, tanto na obra pedagógica da infância e da juventude, como na liturgia, doutrinação e santificação da Igreja, através de todas as denominações; como seria possível, pergunto, sem essas músicas de profunda inspiração evangélica dos respectivos hinos? Como era de esperar já repontam aqui, ali, além, expoentes dessa inspiração; já surgem compositores nacionais. Além de homens como os Reverendos Antônio Pedro de Cerqueira Leite, Zacarias de Miranda e Constâncio Homero 27


Omegna, chamados para o descanso eterno, outros há contemporâneos e em pleno florescimento, que muito prometem para enriquecer a hinologia nacional. Importa que estes leiam e meditem nas recomendações do Salmo 35, versículo 27 e 28.

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ompulsando a Bíblia Sagrada, é surpreendente e interessante a soma de informações, referentes ao papel da música e dos cânticos, na formação da Igreja de Deus sobre a terra. Mais que quaisquer outros povos tiveram os judeus, a respeito da música, uma concepção verdadeiramente em destaque. Entre os gregos, em cuja brilhante civilização ocupava a música um lugar de notável saliência, dava-se uma acepção mais idealística do que era real. A música e a poesia são irmãs gêmeas, como artes, que expressam toda a gama de harmonias, ou possíveis harmonias da alma humana. No entanto a riqueza ideológica da espiritualidade israelita demonstrava a grandeza da poesia doutrinária que transluz dos salmos de Davi, como se fossem mesmo irradiados da sua harpa, em acordes suavíssimos. A sensibilidade de Israel achava suprema poesia em Deus e suas obras, nos seus preceitos e instruções, na sua proteção e propósitos. Daí resultava que a música e os cânticos estavam relacionados com todos os acontecimentos e atos religiosos. A maravilhosa modulação da voz humana e a harmonia de sons instrumentais constituíam parte notável do cerimonial israelita. Encontram-se na Bíblia referências acerca de vinte instrumentos musicais, entre os quais tornaram-se notáveis o saltério e a cítara, a flauta e a harpa de Davi. Não permitem os limites do presente trabalho que se faça um estudo detalhado de todos os dados bíblicos que versam a música e a hinologia, na vida israelita, especialmente no culto e seus respectivos cerimoniais. Faremos, entretanto, ligeiro comentário a propósito de fatos ou referências que despertam curiosidades, por serem raramente objetos de consideração. 28


Quis o espírito do Senhor que a primeira referência bíblica à música pusesse em destaque um descendente de Caim, o primeiro homicida que houve sobre a terra. Foi Jubal, o “pai de todos os que tocam harpas e órgãos”. Gên. 4.21. O primeiro cântico referido é o de Moisés e dos filhos de Israel, fixando a grandeza dramática do poder e da misericórdia de Deus, concedendo ao seu povo a passagem do Mar Vermelho a pé enxuto. Deus é então o supremo inspirador. “O Senhor é a minha força e o meu cântico”. Ele não só defendeu o seu povo de todos os perigos da tenebrosa travessia, mas vingou a agressão destituindo o exército egípcio; “Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército” e seus escolhidos príncipes afogaram-se no Mar Vermelho”. Nessa ocasião a alma feminina de Israel vibrou plena de entusiasmo, sob iniciativa de Miriam. “Cantai ao Senhor, porque se exaltou e lançou no mar o cavalo e o cavaleiro”. Vem de longe, como se vê, a participação da mulher nos acontecimentos do Reino de Deus, bem ao contrário do que muitos pensam, de um retraimento social tão rigoroso que termina por fazer apagado o papel brilhante da mulher israelita. Êxodo, 15.1-21. Há referências na Bíblia às músicas e cânticos populares em Israel. 1.º Samuel 18.6 e Lucas 15.25. No 1.º livro de Crônicas, o cap. 25 é todo consagrado a uma notável exposição, quanto ao Santo Ministério da Música, ao qual Davi imprimiu notável organização. Assim começa o capítulo; “E Davi, juntamente com os capitães do exército, separou o ministério dos filhos de Asaf e de Heman e de Jeduthum para profetizarem com harpas, com alaúdes e com saltérios.” “Todos estes estavam do lado de seu pai, para o canto da casa do Senhor, com saltérios, alaúdes e harpas, para o ministério da casa de Deus e ao lado do rei...” Os 288 mestres cantores e músicos orientavam 24 turmas de doze figuras, tendo cada uma o seu chefe e mestre. Davi, o grande rei, foi também poeta e músico. A ele se deve não só a organização coral supra referida, mas uma esplêndida seleção de salmos que só por si constituem uma notável expressão de riqueza na hinódia de Israel. O primeiro hino dessa coleção vem registrado no 1.º livro de Crônicas, cap. 16, onde consta ter sido o mesmo entregue ao maestro Asaf, que o executaria com um acompanhamento de alaúdes, harpas e címbalos. Em certos momentos ouviam-se toques de trombetas, perante a arca do concerto de Deus. 29


Este salmo aparece depois, ampliado, no respectivo livro e com o n.º 105. O Livro dos salmos por si dá assunto a longo canto. Nem se pode pensar no prejuízo que a humanidade sofreria, se viesse a ser misteriosa e inopinadamente espoliada dos Salmos Bíblicos. Todas as condições, experiências e situações da alma crente encontram ali sua expressão. Nas alturas ou na baixada, na luz ou nas sombras, na alegria ou na dor, na prosperidade ou na pobreza, na paz ou na guerra, na abundância ou na penúria, na tranquilidade ou na angústia, na mocidade ou na velhice, na vida ou na morte, no tempo e na eternidade, os valores da fé e das relações com Deus encontram ali sua apropriada e cabal expressão. Li algures que, por ocasião da penúltima guerra mundial, em um domingo de manhã, um jovem telegrafista no posto de serviço, a bordo de um navio de guerra, possuído de saudades do seu lar e da sua Escola Dominical, deu o sinal de sentido, e transmitiu o salmo 23: - O Senhor é o meu pastor e nada me faltará... Terminada a transmissão houve durante muito tempo chamadas de todo o quadrante por parte de inúmeros navios, para responderem – Amén! Seria longo transcrever numerosas passagens dos salmos, que sobem muito acima do comum e extasiam a alma crente com a imensa riqueza de inspiração de que são portadores. Não posso, porém, privar-me do prazer de vos lembrar um dos passos mais preciosos da literatura religiosa, o Salmo 137: “Junto aos rios de Babilônia nos assentamos e choramos, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros, que há no meio dela penduramos nossas harpas. Porquanto aqueles que nos levaram cativos, nos pediam uma canção; e o que nos destruíram, que nos alegrássemos, dizendo: “Cantai –nos um dos cânticos de Sião.” Como porém, entoaremos nós o cântico do Senhor, em terra estranha?” De momento a momento encontram-se nos salmos, raptos avulsos de candentes súplicas, que fazem pensar como este: “Vê se há, Senhor, em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.” Sim, senhores...”guia-me pelo caminho eterno...” Salmo 139.24. Nas palavras proféticas de Isaías 51.3, tratando-se da restauração de Israel, Deus promete que “gozo e alegria se achará em Sião, ação de graças e voz de melodia”. Vede, irmãos como promete Deus ao povo restaurar-lhe a felicidade 30


de cantar e de ouvir cantar. Um passo interessante no que se refere ao reconhecimento do valor da música nas cerimônias, está em Daniel, 3.5, na ordem do rei Nabucodonosor: “Quando ouvirdes o som de buzina, do pífaro, da harpa, da sambuca, do saltério, da gaita de foles e de toda a sorte de música, vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro...” Depois, arrependido, triste e aflito, não permitiu festas no seu palácio e eliminou a música, durante a noite em que Daniel esteve na cova dos leões. Dan. 6.18. Compulsando o Novo Testamento, impõem-se como objetos de maior estudo os cânticos de Maria e de Zacarias, em Lucas 1.46-55 e de 68 a 79. E há passos como este: “E perto da meia noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e outros presos os escutavam. E de repente sobreveio um tão grande terremoto, que os alicerces do cárcere se moveram e logo se abriram todas as portas e foram soltas as prisões de todos.” Atos 16.25 e 26. Na intimidade dos sofrimentos das últimas coisas; na angústia da hora da separação que rapidamente chegava, selou o Senhor Jesus como o cântico de um hino, o estabelecimento da Santa Comunhão, cerimônia eucarística que haverá de se perpetuar na sua Igreja. “Fazei isto em memória de mim; porque todas às vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha”. Marcos, 14.26. 1.ª, Coríntios, 11.26. Um pouco mais tarde, ao estabelecer o ritmo e o método das relações na sociedade dos crentes, o Apóstolo Paulo recomenda aos Efésios e aos Colossenses que adotem os hinos como esplêndidos derivativos, na vida cristã, “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos, e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração” Paulo aos Efésios 5.19 e aos Colossenses 3.16. Ao encerrar a Bíblia com o livro da Revelação, quis o Santo Espírito de Deus que tivesse o solitário da Ilha de Patmos uma visão do Cordeiro sobre o Monte de Siãos e, com Ele, grande multidão de redimidos. E aqueles que tinham recebido um nome novo, gravado numa pedrinha branca, recebem agora a dádiva de um novo cântico: “E ouvi uma voz do Céu, como a voz de muitas águas, e como a voz de um grande trovão; e ouvi uma voz de harpistas que 31


tocavam com as suas harpas; e cantavam como que um novo cântico, diante do trono e diante dos quatros animais e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram remidos da terra.” Apocalipse 14.1 a 3. A última referência bíblica à música e aos hinos, traz-nos duas admiráveis surpresas: uma é a referência às Harpas de Deus...verdadeira glorificação da música. Temos por vezes considerado a música a arte dos anjos, os quais temos imaginado a tanger as suas liras ou a dedilhar as suas harpas. Agora, porém, achamo-nos em face de uma inesperada reivindicação: - “A música é arte de Deus. Bem pode acontecer que o homem pecaminoso, que tudo perverte também perverta a música, adaptando-a e usando-a para o pecado. Esse grosseiro atentado, entretanto, não tira à música a nobreza da sua origem: - o Supremo Artista é músico e Ele faz tanger as suas harpas nas melodias dos arcanos celestiais. Ouvimo-las, tanto no fragor das tempestades, como também no ciciar suave e quase silencioso da brisa que sopra entre as flores, prestando-lhes a deliciosa homenagem de espalhar para longe os seus perfumes. Essa referência que está no Apocalipse, cap. 15 e versículo de 1 a 3, sugere que Deus confia, por vezes, aos que vivem no seu serviço, o privilégio de tocar as suas harpas, isto é, as harpas d’Ele, as harpas de Deus. No capítulo 38 do livro de Jó vv. 4-7, Deus se dedigna a consolar pessoalmente o seu servo sofredor e lembra-lhe que, por divina mercê, se reúnem para cantar alegremente em coro com os filhos de Deus, toas as estrelas da alva. A outra surpresa é interessante em sentido diferente: O primeiro hino da Bíblia é o cântico de Moisés, Êxodo, 15. E os últimos hinos verificados na Bíblica são o dito cântico de Moisés e o cântico do Cordeiro. Apoc. 15.3. A lei que nos veio por Moisés e a Graça que nos vem por Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, encontram por fim pela música e pelo hino a sua perfeita expressão, para o tempo para a Eternidade...

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Conclusões

I – A música é uma linguagem de harmonia e ritmos e presta-se admiravelmente para expressar pensamentos, sentimentos, atitudes, situações, propósitos e doutrinas. II – Aliada à linguagem articulada na poesia, forma os hinos, alcançando a maravilha da expressão. III – Tem sido em todos os tempos aproveitada – por um lado, para divertir o povo, e para fins sociais, políticos e militares; e, por outro, com muito maior sentido, para fins religiosos. IV – Foi pelo Espírito de Deus adotada como de excepcional utilidade no serviço do culto e da adoração, tendo sido um dos meios mais eficientes para a formação, desenvolvimento e resistência da cultura espiritual de Israel. V – Foi igualmente adotada por N. S. Jesus Cristo e seus apóstolos, como de utilidade imediata no exercício da religião cristã. VI – Verifica-se através da História da Igreja, que sempre, particularmente nos anos da Reforma e nos séculos que se lhe seguiram, a música e os hinos foram de extrema utilidade na pedagogia cristã; na edificação e cultura da juventude; na instrução fortalecimento, vitalidade, animação e perseverança da Igreja. 33


VII – Na atualidade, entre os bons e os mais belos recursos para conduzir a infância, a juventude, e todo o povo cristão para os seus gloriosos e eternos destinos, a música e os hinos ocupam o seu lugar inalienável e inconfundível.

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Recomendações

I – Na confecção de currículos ou programas, seja sempre reservado para a música e os hinos lugares de destaques. II – Que haja nesta matéria graduação e adaptação à idade, condições étnicas, sociais e regionais, acompanhando o critério adotado na composição dos currículos, levando-se em conta a doutrina, as condições de compreensão e possível aproveitamento. III – Que haja literatura simples e popular nesta matéria para que, em toda a Seara do Senhor, se verifiquem a consolidação e desenvolvimento desta obra, como da mais alta qualidade e importância, para a eficiência da instrução e cultura da Igreja, por meio de hinos cantados pelo povo, tanto no culto público e escolas dominicais, como em uniões da mocidade, associações femininas e cultos em família. IV – Que se estimule e facilite a organização e estabelecimento de grupos corais, fornecendo-lhes a literatura indispensável. V – Que esta matéria seja versada pelos competentes, de modo a sempre se encontrarem, nas lições e livros de pedagogia cristã, referências e instruções a respeito. VI – Sistematizar a obra musical e hinológica, focalizando especialmente 35


por um lado as igrejas e os trabalhos já estabelecidos; e por outro, a obra missionária de conquista e ocupação. VII – Promover periodicamente congressos de diretores de departamentos corais, de maestros evangélicos, de regentes de grupos corais e de outras pessoas especializadas em música e hinologia, para o fim de estudar, melhorar e estimular o avanço desta obra.

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