O despontar da Hinódia Cristã - Hinódia Grega - Rev. João Wilson Faustini

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I. Hinテウdia Grega

ツゥ JOテグ WILSON FAUSTINI


I.

Introdução ao estudo de hinos

II.

Hinos da Era Apostólica

III.

Movimento Oxford John Mason Neale e outros eruditos

IV.

Hinodia Grega Odes de Salomão (Ode 10 e 36) O Didaché O Papiro Oxyrhynchus Clemente de Alexandria Anônimos Efraim, o Siríaco Sinésio de Cirene Santo Anatólio Liturgia de São Tiago Estevão, o Sabaíta André de Creta João Damasceno


I. Introdução ao estudo de hinologia Hinologia é o estudo dos hinos. Hinódia normalmente se refere ao acervo de hinos de um determinado povo, denominação ou grupo. Os hinos Gregos são os mais antigos da era apostólica. Não é de se estranhar que os primeiros hinos fossem escritos na língua grega, uma vez que essa língua era falada na Antioquia, onde pela primeira vez os discípulos de Cristo foram chamados de cristãos. Por que devemos valorizar os hinos do passado? Os hinos gregos da era apostólica e os hinos latinos da era medieval? Em primeiro lugar, não saberemos enfrentar o futuro sem as lições do passado. É verdadeira loucura ignorar as grandes conquistas do passado, quer elas sejam religiosas, literárias, cientificas ou sociais. Nem o presente teria sido possível sem o passado. Ruth Ellis Messenger, ex-presidente da Sociedade Hinológica dos Estados Unidos e Canada sintetizou isto muito bem em uma das conferencias anuais da Hymn Society of America há alguns anos atrás, quando disse: “Nenhuma expressão de confiança ou de verdade eterna é antiquada, ultrapassada ou fora de moda. Nós ainda cantamos os antiquíssimos salmos em versões moderna poéticas ou em prosa. Os hinos antigos também nos pertencem. Eles constituem um autentico cânon hinológico em um padrão de beleza e de reverencia poéticas inigualáveis. Eles cristalizaram os pensamentos humanos a respeito de Deus e dos deveres diários dos cristãos. Neles se acham aperfeiçoados os ideais comuns do cristão que louva a Deus por intermédio da musica”. Quando examinamos estes hinos do passado, verificamos que em geral eles possuem uma teologia sólida e bíblica, muito acima dos hinos do grande dilúvio de outros cânticos surgidos nos séculos subseqüentes. Devemos ser gratos aos monges e àqueles que se retiraram para os mosteiros durante as grandes confusões da idade media, chamada de a idade das trevas, e zelaram pela preservação de importantes papiros da literatura do passado. Eles preservaram as Escrituras, bem como os manuscritos dos primeiros escritores e pais da Igreja, dos autores de hinos e obras de muitos poetas e músicos, religiosos ou não. Atualmente, o estudo de hinologia focaliza em primeiro plano os autores, considerando como pano de fundo, a época em que viveram e as influencias que possam transparecer no conteúdo dos seus hinos. Ela avalia também o valor litúrgico, espiritual, teológico e histórico dos hinos. A hinologia entende que a música também é importante, e que pode haver musicas de estilos diferentes para cada texto, de acordo com as tendências de cada época, e zela para que o espírito da letra combine com o espírito da musica e o espírito de reverencia e adoração. Há hinos que foram escritos em prosa, outros em poesia métrica. Normalmente o texto de um hino é identificado pela sua primeira linha, e não pelo titulo. Assim, Noite Feliz seria o nome correto deste hino, e não Natal. Isto porque pode haver inúmeros hinos com o titulo de Natal, ao passo que a primeira linha identifica imediatamente o hino. A melodia também é identificada por um nome. A nome da melodia do hino Noite Feliz é Stille


Nacht, que é também a primeira linha do original alemão. Naturalmente essa melodia pode ser cantada com muitos textos diferentes, que tenham a mesma métrica (ou o mesmo número de sílabas e a mesma acentuação em cada verso), e estejam dentro do mesma atmosfera ou espírito.. Os bons hinários trazem todas as informações referentes à musica e à letra, como por exemplor, os nomes dos autores, ou fontes. Quando o hino foi escrito em outra língua, a primeira linha do texto original deve aparecer. Incluem também. Os nomes e datas de autores, tradutores e compositores são historicamente muito importantes. Em muitos hinários as informações da musica encontram-se no topo da página, do lado direito, e as informações do texto, sejam fontes ou autores, no topo da pagina, do lado esquerdo. Os bons hinários incluem também todos os índices, de autores, compositores, tradutores, datas, nomes de melodias, primeiras linhas dos hinos e dos coros, índices dos assuntos, de passagens bíblicas, hinos próprios para as datas do Calendário Litúrgico, informações sobre as edições anteriores com suas respectivas datas, etc. Há bons hinários que trazem estas informações só nos índices, ou com uma disposição diferente na pagina, como por exemplo, no roda-pé da pagina, onde geralmente também deve constar as informações de copyright, (que são direitos reservados, para que não se faça copias piratas e sem a devida autorização dos proprietários do texto ou da musica.) Há hinos ou textos que são de domínio publico, principalmente os mais antigos, e estes não precisariam de licença especial para serem transcritos ou gravados, mas é sempre importante verificar isso com muito cuidado, para não se expor a processo judicial ou multas. Os hinos e os Salmos em prosa têm a vantagem de não precisarem do número exato de silabas em cada verso, além de não conter rima, como os hinos estróficos, e dão maior liberdade ao poeta de expressar seu pensamento. Muitos dos hinos primitivos foram escritos em prosa. Do século XVI ao século XX nós nos tornamos escravos do hino métrico, cativados pela beleza estética e poética. A rígida forma métrica é artística e bela, mas podem correr o risco de forçar os poetas a distorcerem as verdades bíblicas para sustentar a forma métrica e a rima. O hino em poesia métrica porem, tem a grande vantagem de facilitar a memorização, pela cadencia rítmica e por conta da rima, e conseqüentemente, torna-se um excelente meio para doutrinar o povo. Sabemos que o cântico de salmos acompanhados de instrumentos musicais eram praticas comuns usadas no Velho Testamento. É natural também que imaginemos que as tradições musicais do Velho Testamento, como o uso de salmos, devam ter sido passadas para a igreja primitiva dos primeiros séculos. Paulo confirma isto quando menciona tanto os salmos, como hinos e cânticos espirituais em suas cartas. (Ef. 5:18,19; Col 3:16). Não existem hinários, nem partituras das musicas que foram usadas, tanto no Velho como no Novo Testamento. Mesmo porque a própria escrita musical começou a se desenvolver somente por volta do ano 900 DC. Os textos mais completos, naturalmente, são os que encontramos no livro dos Salmos. Os salmos formaram um hinário, que foi usado pelos judeus no segundo templo de Jerusalém. Na Bíblia, particularmente no Velho Testamento, há muitas referencias a respeito de instrumentos, hinos e cânticos e particularmente os salmos, que eram cantados pelo povo hebreu. Alem dos salmos, e fora da


Biblia existem apenas uns poucos fragmentos de papiros de hinos que chegaram até nós, muitos deles com datas incertas e autores imprecisos, mas assim mesmo os estudiosos do assunto conseguiram, através dos anos, fazer um impressionante levantamento, de autores e de hinos, desde a época da igreja primitiva nos primeiros séculos da era cristã até os nossos dias.

II. Hinos da Era Apostólica O Novo Testamento menciona no relato da última ceia, que havendo eles cantado um hino, Jesus se retirou para o monte das Oliveiras. (Marcos 14:26) Estudando-se o ritual judaico para a celebração da páscoa, sabe-se que esse hino era parte do Hallel (Salmos 115 a 118), usado normalmente nessa liturgia. Fragmentos poéticos Há diversos trechos nas cartas de Paulo que são poéticos, e possivelmente poderiam ter sido trechos de hinos conhecidos pelos primeiros cristãos, que foram incorporados em suas epístolas. Acredita-se, por exemplo, que as seguintes citações possam ter sido trechos de hinos conhecidos dos primeiros discípulos. Este, por exemplo, deve ter sido tirado de um hino batismal que a igreja primitiva cantava: Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará." (Ef. 5.14) Outros exemplos de possíveis hinos: A vinda de Cristo, no tempo próprio, manifestará o bem-aventurado e único soberano, Rei dos reis e Senhor dos senhores; aquele que possui, ele só, a imortalidade, e habita em luz inacessível; a quem nenhum dos homens tem visto nem pode ver; ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém (I Tim 6:15-16) Fiel é esta palavra: Se, pois, já morremos com ele, também com ele viveremos; se perseveramos, com ele também reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; se somos infiéis, ele permanece fiel; porque não pode negar-se a si mesmo. ( II Tim 2:11-13) (Cristo Jesus) o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhouse a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. (Filipenses 2:6-11)


E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-Poderoso; justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos séculos. Quem não te temerá, Senhor, e não glorificará o teu nome? Pois só tu és santo; por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de ti, porque os teus juízos são manifestos. (Apoc. 15:3-4) Nas diversas referências de Paulo a respeito de se cantar hinos, ele relaciona o valor do cântico para se “encher do Espírito” e também para “aprender as Escrituras”: ...mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor, com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo... (Ef. 5:18,19 e 20) Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão em vosso coração. (Col 3:16) Cânticos bíblicos: Os cânticos bíblicos contidos no evangelho de Lucas se popularizaram após o nascimento de Cristo, e passaram a ser usados na igreja, incorporados na liturgia, a partir dessa época e durante os tempos apostólicos. Todos eles ainda fazem parte de nossas liturgias modernas: Maria: Magnificat (1:46-55) Zacarias: Benedictus (1:67-79) Anjos: Gloria in excelsis (2:14) Simeão: Nunc Dimitis (2:29-32) O Gloria in excelsis, que foi o canto dos anjos, era chamado de Doxologia Maior. Havia também a Doxologia Menor, chamada de Gloria Patri, (Glória ao Pai) presente até hoje em muitos hinários, e cantada mundialmente pelos cristãos: O Gloria Patri e Outros cânticos: 1. Gloria Patri (Século II) Anônimo (Doxologia Latina dos Cristãos que rebatia a teologia unitariana Ariana) Gloria ao Pai seja dada Ao Filho e ao Santo Deus Consolador Como era no princípio, é hoje e para sempre. Séculos sem fim, Amem. A linguagem trinitária do Gloria Patri é derivada da grande comissão, em Mateus 28:19. O trecho “como era no princípio” foi adicionado mais tarde, quando os heréticos arianos, que criam em um Deus uno, começaram a duvidar da


divindade de Cristo e divulgaram a sua teologia. Os cristãos os refutavam, cantando a doutrina da trindade, que anuncia o Deus Pai, o Filho e o Espírito Santo. 2. Sanctus ou Ter Sanctus Este hino antigo é baseado em Isaias 6:3 Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda esta cheia da sua gloria. Ele tem sido usado por todos os povos, em todas as línguas e está incorporado na liturgia e em muitos hinos e peças corais religiosas. 3. Te Deum laudamus A origem deste hino é muito obscura, e nenhum erudito tem conseguido localizar quando foi escrito e por quem. Ha diversas lendas a respeito de como ele surgiu, mas é bem provável que ele tenha fluido de século em século, recebendo acréscimos e melodias novas ao longo dos anos. O Te Deum é um dos maiores hinos de todos os tempos. A hinologia cristã perde muito quando não inclui o Te Deum em seus hinários. – Há um relato histórico importante, fora da bíblia, que nos mostra que de fato a igreja primitiva cantava hinos. É o relato de Plínio – 103 AD. Plínio era um jovem cidadão romano, governador do Ponto, cidade no norte da Ásia menor. Era um naturalista famoso que foi morto na erupção do Vesúvio, vulcão que destruiu a cidade de Pompéia. Era um homem culto, que escreveu muitas cartas e as preservou. Dez livros de suas cartas subsistiram. Uma delas, escrita no ano 103 ao seu mestre e Imperador Trajano, pedia conselho para um problema que não sabia como resolver. Este era o conteúdo de sua carta: Em sua nova província ele havia encontrado um grupo de pessoas que pareciam diferentes das demais, e que eram chamadas de “cristãos”. Eles eram inúmeros e teimosos. A superstição desse povo se espalhou para pessoas de todas as idades e sexos, não só nas grandes cidades, mas também nas vilas e campos. O que deveria ele fazer com essa gente? Ele havia punido alguns, mas eles eram muito numerosos! O problema maior, porem, é que ele não achava nenhuma falta realmente grave neles. Procurando examiná-los melhor, descobriu que eles faziam aliança para não fazer mal a ninguém, e também que era costumes deles se reunirem num certo dia antes do amanhecer e cantar juntos, alternadamente e antifonalmente, hinos a Cristo, como Deus; eles se dividiam em grupos e depois se juntavam para comer uma refeição comum simples. Este é o primeiro relato de um culto cristão, quando os ouvidos pagãos ouviram pela primeira vez um hino a Cristo, como Deus.

III. O Movimento Oxford Foi um movimento ocorrido com pessoas da igreja Anglicana, ligadas à Universidade Oxford, na Inglaterra, na primeira parte do século XIX, quando diversos estudiosos descobriram a grande riqueza dos hinos antigos, gregos e latinos, e se propuseram a traduzi-los e adaptá-los à métrica, para que nós também, junto com outros cristãos do mundo, os pudéssemos cantar. Entre esses eruditos autores e tradutores os mais importantes foram John Mason Neale, Robert Bridges, John Keeble, John Chandler, Edward Caswall e muitos outros.


John Mason Neale (1918-1866) John M. Neale foi um pastor inglês, escritor e o mais importante dos tradutores dos hinos antigos da Igreja. Ele publicou três livros a respeito da hinologia Latina e depois se dedicou a traduzir para o inglês os hinos da Igreja Grega Oriental Ortodoxa, portadora de toda a vasta hinologia da Igreja primitiva grega, até então desconhecida das igrejas ocidentais. Ele encontrou muitas dificuldades porque os hinos eram geralmente em prosa, muito longos, conforme a liturgia ocidental, e cortes foram necessários. Depois de Neale, outros tradutores continuaram sua obra, e hoje há pelo menos 27 hinos de origem grega que fazem dos hinários de muitas denominações diferentes. Os hinos gregos são pouquíssimos em Português, e muitos de nós ainda não reconhecemos o papel importante deles na hinologia cristã universal.

IV. A Hinódia Grega Os primeiros hinos gregos vieram dos cristãos que moravam na Síria, Mesopotâmia e Pérsia. Este povo estava perto do berço do cristianismo, e seus hinos inicialmente eram em prosa, isto é, não metrificados como poesias. Quando se descobriu que os hinos eram um meio efetivo de ensinar doutrina, a prática de cantá-los se tornou uma arma positiva contra a heresia. Os heréticos já haviam descoberto isso e os cristãos ortodoxos se viram obrigados a derrotá-los com a mesma arma. A hinódia grega floresceu abundantemente, mas sua duração foi relativamente curta. As odes de Salomão1 Em 1909, J. Rendel Harris, da Inglaterra, descobriu nas margens do Rio Tigre certos manuscritos que reconheceu serem as “Odes de Salomão”, perdidas ha muito tempo. Muitos livros e teorias têm sido escritas sobre este livro de poesias devocionais, mas ha ainda muitos mistérios sobre sua autoria e qual a sua posição na hinódia cristã. “Odes de Salomão” tem este nome porque é o nome que tem sido usado em referencia a elas em outros escritos antigos, mas não há nenhuma relação delas com o antigo rei de Israel, Salomão. Essa coleção reúne salmos, 1 Ode é uma composição poética do gênero lírico, em que se exaltam atributos de Deus, de homens ilustres, do

amor ou de outros sentimentos. Inicialmente as odes eram cantadas. Há diferentes tipos de odes, e algumas com estrofes, sacras ou profanas, com recitativos, coros, e até uma orquestra, que desenvolve importante papel.


hinos e odes, que possivelmente formaram um hinário cristão muito antigo, e fora do livro dos Salmos. Provavelmente estas odes tenham sido compiladas antes do ano 100 DC, e elas foram reconstituídas de manuscritos do J Rendel Harris Museu Britânico, Bibliothèque Bodmer e da biblioteca particular de John Rylands. Os originais foram escritos na língua aramaica, mas os autores, sem dúvida, eram judeus cristãos. Esse papiro devocional contem 42 odes. Todas elas terminam com um “aleluia” e não com um “amem”. As odes contêm um contraponto interessante entre o odista, como interlocutor, e Cristo. Provavelmente estas odes eram cantadas a capella, isto é, sem acompanhamento instrumental. Ode 10 (O odista fala) 1. O Senhor dirigiu a minha boca pela Sua Palavra. Ele abriu o meu coração pela Sua Luz. 2. Ele fez habitar em mim a Sua vida imortal, e permitiu que eu proclamasse o fruto da Sua paz. 3. Para converter as vidas daqueles que desejam vir a Ele, e capturar um bom cativeiro para a liberdade. (Cristo fala) 4. Eu me encorajei, fiquei forte e capturei o mundo, e ele se tornou meu para a gloria do Altíssimo, e de Deus meu Pai. 5. E os gentios, que estavam dispersos, se ajuntaram, mas eu não contaminei o meu amor (por eles), porque eles haviam me exaltado nas alturas. 6. E raios de luz surgiram em seus corações, e eles andaram conforme a minha vida e foram salvos, e se tornaram meu povo para todo o sempre. Aleluia!

Ode 36 (O odista fala) 1. Eu descansei no Espírito do Senhor, e Ela(*) me elevou aos céus; 2. E me colocou sobre os meus pés no lugar alto do Senhor, antes de sua perfeição e gloria, onde eu continuei a glorificá-lo pela composição destas suas odes. (Cristo fala) 3. (O Espírito) me colocou diante da face do Senhor, e porque sou Filho do Homem, fui chamado de Luz, o Filho de Deus.; 4. Porque fui glorificado entre os gloriosos, e o maior de todos entre os maiores. 5. Pois conforme a grandeza do Altíssimo, assim Ela1 me fez; e conforme a sua qualidade de novo, Ele me renovou. 1 Na língua portuguesa convencionalmente nos referimos ao Espírito Santo como “Ele”, porque a palavra

Latina “spiritus” é masculina. No hebraico e aramaico, “Espírito” é “ruach”, que é feminino. A tradução é correta ao traduzir por “Ela”. Na tradução inglesa como na portuguesa aparece: “Ela me elevou, e “Ela me fez”, mas em seguida diz: “Ele me renovou”, o que reflete claramente a perspectiva do Novo Testamento a respeito do Espírito, como o poder e a mente de Deus.


6. E me ungiu com sua perfeição; e eu me tornei um daqueles que estão ao seu lado. 7. E minha boca se abriu como uma nuvem de orvalho, e do meu coração jorrou um jato de justiça, e meu abordar foi pacífico, e eu fui colocado no Espírito de Providência. Aleluia! (Trad inglesa de James H. Charlesworth) 8. O DIDACHÉ

O Didaché (c. 40-120 DC) O Didaché é o documento mais antigo sobrevivente da literatura cristã judaica messiânica, não canônica, escrito em grego. Não se pode precisar exatamente quando este documento surgiu. Ele deve ter sido escrito entre os anos 40 e 120 DC e é uma espécie de manual de orientação, com os ensinos dos apóstolos. O Didaché foi compilado com a finalidade de ensinar os novos convertidos, com instruções provenientes dos ensinos de Jesus transmitidos pelos apóstolos, e adequados à cultura da época. Embora o Didaché não tenha a mesma autoridade da Bíblia, ele é


um documento valiosíssimo. Nele há instruções diversas, inclusive de como realizar

os cultos, ensinos sobre o batismo, jejum, comunhão, etc e nele encontramos também o texto de um hino em prosa, que foi traduzido e metrificado:


ร Pai, Mil Graรงas (cont.)

Papiro Oxyrhynchus


O fragmento de um papiro chamado Oxyrhynchus foi descoberto em 1786, datado do final do século III. Ele é importante porque: 1. É a ultima composição que usa a notação grega antiga, e por conta disso, marca o fim de uma era. 2. É possível que seja o exemplo mais antigo da hinódia cristã

Clemente de Alexandria (c.170- 215 AD) O único hino de Clemente, escrito principalmente para jovens, mostra Cristo como Rei. Ele é parte de uma obra maior em prosa, intitulada o Pedagogo. O foco de sua fé estava no Logos, o Revelador da Verdade. No fim dessa obra, escrita para instruir novos convertidos do paganismo, Clemente anexou uma poesia de ação de graças para louvar o Instrutor (o Logos). Terno e Gentil Pastor é extraído dessa poesia. Terno e gentil pastor (Στόμιον πώλων ἀων) Etomión pólon àon –(Shepherd of Tender Youth)



Hino Anônimo do Século III Brilho cheio de alegria (Phos Hilaron)

Fôs Hilaron era cantado pelos cristãos primitivos quando acendiam os castiçais ao entardecer. O original grego foi traduzido para o inglês por Robert S. Bridges (18441930)


EFRAIM, O SIRÍACO

(307-373 AD)

Efraim, chamado de “O Siríaco”, conta que se lembra de quando era criança, e estando no colo da mãe, teve uma visão. Da sua boca saia um videira com cachos de uva sem fim, e muitas folhas. Os cachos seriam sermões, e as folhas, hinos, dados por Deus. Sua vida provou que isto realmente aconteceu. No século III, Bardesanes, um poeta herético gnóstico2 que morava em Edessa e seu filho, escreveram muitos cânticos heréticos em grego, que eram cantados com melodias seculares da época. Eles desviaram muitos cristão sírios porque crianças e jovens brincavam cantando suas heresias, que se tornaram muito populares. Eles passaram a crer no que cantavam. No século IV Efraim veio a Edessa, e ele estava determinado a lutar contra os heréticos que moravam ali . Escreveu então muito hinos ortodoxos para uso em casa ou em publico, usando a própria arma de Bardesanes - as mesmas melodias seculares, mas com sã doutrina bíblica. Ele também treinou corais de jovens e teve muito sucesso. A cidade inteira se reunia para ouvi-los. Com o poder dos hinos de boa doutrina, Efraim conseguiu aniquilar as doutrinas heréticas de Bardesanes! 2 Gnosticismo [1] - (do grego Γνωστικισμóς (gnostikismós); de Γνωσις (gnosis): 'conhecimento') é um conjunto de correntes filosófico-religiosas sincréticas que chegaram a mimetizar-se com o cristianismo nos primeiros séculos de nossa era, vindo a ser declarado como um pensamento herético após uma etapa em que conheceu prestígio entre os intelectuais cristãos. O movimento originou-se provavelmente na Ásia Menor, difundindo-se da região do Irã à Gália, exercendo a sua maior influência sobre o cristianismo entre os anos de 135 e 200. Tem como base elementos das filosofias pagãs que floresciam na Babilônia, Antigo Egito, Síria e Grécia Antiga, combinando elementos da Astrologia e mistérios das religiões gregas como os do Elêusis, do Zoroastrismo, do Hermetismo, do Sufismo, do Judaísmo e do Cristianismo.


Efraim, o Siríaco: Hino extraído da Parênese LV intitulada “Para a Igreja”


Arius, bispo de Alexandria, no Egito – Século IV Um herege que muito influenciou a doutrina cristã através do cântico de hinos heréticos e populares foi Ario. Os arianos cresceram muito e foram uma grande ameaça à sã doutrina do evangelho. Entre outras coisas, negavam a divindade de Cristo e refutavam a Trindade. Mas essa doutrina herética foi condenada no Concilio de NICEIA, no ano 325 AD. João Crisóstomo percebeu que essas musicas populares ainda atraiam muitos incultos facilmente, então ele organizou procissões para cantar hinos de boa doutrina. Houve luta e até derramamento de sangue! Finalmente os arianos foram proibidos de cantar seus hinos heréticos em público.

Sinésio de Cirene (378-430) Sinésio de Cirene foi bispo em Ptolemais, na África do norte, por volta de 410 AD. Há pelo menos 10 hinos atribuídos a ele.


De mim te lembres, 贸 Senhor Sin茅sio de Cirene (c. 430 D


Santo Anatólio (c. 4580) ANATÓLIO foi filosofo, cientista e bispo em Alexandria no Egito. Escreveu 10 livros de matemática. Foi um grande pacificador nas tensões entre os Romanos e Egipcios, conseguindo manter a paz em seu país. Viajou para a Laodicea, na Siria, e foi aclamado Bispo de Laodicea pelo povo. Seu hino mais conhecido foi: Na Escura noite, o vento agita o mar (Fierce Was the Wild Billow)



Liturgia de São Tiago Essa liturgia é uma das mais antigas do mundo, e foi compilada para ser usada na igreja de Jerusalém, e por isso é também chamada de liturgia de Jerusalém. Pensava-se que ela tinha sido elaborada por Tiago, irmão de Jesus, primeiro bispo de Jerusalém, mas depois descobriu-se que já era usada, em uma forma mais primitiva, por Cirilo de Jerusalém, no ano 347 DC, e que depois foi modificada e ampliada. Ela foi originalmente escrita em grego, mas algumas igrejas da Síria usavam uma versão na língua síria. Esta liturgia é usada como preparo para a celebração da Ceia do Senhor. No prefácio dela o texto diz. “Nós nos lembramos do serafim, visto em espírito por Isaias, ao redor do trono de Deus, que com duas azas cobriam os seus rostos, com duas os seus pés e com duas voavam; e diziam: Santo, Santo, Santo, Senhor dos exércitos. Nós também dizemos estas palavras divinas do serafim, para juntos participarmos dos hinos das hostes celestiais.” Isto nos ajuda a entender a seqüencia das palavras do hino:

Em silencio toda a carne, com temor e devoção, abandone reverente, todo pensamento vão. Nosso Deus à terra desce: tributai-lhe adoração.

Em silencio toda a carne (Let All mortal Flesh keep silence) Anônimo, possivelmente do Sec V encontrado na Liturgia Grega de São Tiago.



Estevão, o Sabaíta (c. 725-815)

O hino Triste estás, cansado, aflito, escrito por Estêvão, o Sabaíta, revela bem o espírito monástico daqueles que buscavam uma vida santa. Em 611 Chosroes, da Pérsia, havia invadido a Palestina e destruído todos os lugares santos. Em 628 o imperador Bizantino a reconquistou. Em 634 os Árabes invadiram Jerusalém, e sucessivas rivalidades e assassínios deixaram o pais em ruína e pobreza. Os camponeses não tinham esperança, e muitos procuravam refugio na vida religiosa nos mosteiros. Estevão foi um destes. Ele tinha somente 10 anos de idade quando veio para a região do mar Saba, e por 5 anos perambulou a região do mar Morto, usando uma veste feita de pelo de camelo, imitando João Batista. Depois disto entrou para a vida monástica, e em 790 tornou-se o abade. Viveu até os 90 anos. Triste estás é um hino que nos convoca a uma vida de santidade. É um excelente hino antifonal, com perguntas e respostas, que podem ser cantadas por grupos ou solistas diferentes.

Triste estás, cansado, aflito? Estevão, o Sabaita


André de Creta (Sec. VII) Crente, podes vê-los no sagrado chão? (Christian, Dost Thou See Them?




André de Creta (Século VII)

André de Creta (c.650-712?) Nasceu em Damasco. A tradição diz que não fala até aos 7 anos de idade. Aos 14 iniciou sua carreira eclesiástica. Participou do VI Concilio Ecumêncio dem Constantinopla (680-681) A partir de uma experiência religiosa dedicou-se a pregar e a escrever hinos. Tornou-se Bispo em Creta. Foi famoso em sua época por ter sido um dos oradores mais importantes da época Bizantina. João de Damasco (ou Damasceno) Sem dúvida João Damasceno foi o maior escritor de hinos gregos. A lenda diz que por razões políticas o imperador Leo Isauriano mandou que suas mãos fossem cortadas, mas milagrosamente elas teriam sido restauradas. Desgostoso, a certa altura ele vendeu tudo o que possuía, deu aos pobres e entrou para o mosteiro do Mar Saba. Nasceu em c. 676 e morreu em c.780, com mais de 100 anos.

João Damasceno (Século VIII)



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