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Lista de desejos

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A águia

A águia

Bruna Scorsi

A brisa soprava suave, fazendo as folhas dançarem uma música que só elas ouviam. Sons flutuavam vindo de algum lugar ao redor e, acompanhando-os, havia o vento que brincava com dois balões vermelhos, que bailavam felizes, contrastando com o azul do céu.

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As garotas se escondiam próximo ao salão de festas, rindo com seus pratinhos cor-de-rosa, cobertos de um delicioso bolo de brigadeiro roubado.

Era o penúltimo item da lista: ser penetra em uma festa chique. Lívia recuperava o fôlego, enquanto tirava de sua bolsa uma caderneta colorida, já bem desgastada pelo tempo; abriu-a e, com sua canetinha azul, fez um “check” naquele tópico. As meninas pareciam orgulhosas do feito.

Emily limpava sua boca toda suja de chocolate com a manga de sua blusa, como uma criança desajeitada; seus olhos já marejados não conseguiam esconder os sentimentos tão profundos dentro de si: ela sentia muita falta dele e queria o trio reunido de novo, como nos velhos tempos. Pensar em todos novamente reunidos, iluminou seu sorriso e, ao mesmo tempo, uma lágrima escorreu por sua bochecha, sem a sua permissão.

Lívia jogou no lixo os pratinhos sujos do que um dia fora um delicioso bolo infantil e as garotas seguiram para a praia abraçadas para tentar encobrir aquele tempo gélido e aquela saudade aguda em seus peitos. Emily tremia um pouco, enquanto observava em seu dedo a sua aliança prateada, cravejada com uma linda pedra brilhante.

— Você sabe, Emy, ele estaria radiante e orgulhoso da gente. Vamos fazer isso por ele. — Insistiu Lívia, enquanto segurava a mão da amiga e a viu assentir com a cabeça.

As garotas avançaram na areia com seus pés agora descalços, indo de encontro ao píer. O vento se intensificou, e Emily sentiu um cheiro suave e doce, - como cheiro dele -, e entendeu como um sinal. Confiante, pediu a bolsa da amiga e de lá retirou a velha caderneta. Após folheá-la, encarou com ansiedade o último item da lista: ser o mar. As meninas fizeram força para não desabar ali mesmo; saudade batera forte, mas sabiam que o garoto estava em um lugar melhor, e isso confortava-as um pouco. Lívia segurou forte a mão de sua melhor amiga e logo após pegou em sua bolsa o outro objeto: aquela linda urna leve carregava o mundo em cinzas, - carregava o sorriso dele, seu jeito doce e o olhar alegre de quem um dia foi um irmão e um namorado implicante e teimoso, mas que não seria trocado por ninguém. Abriram o conteúdo da louça e lançaram aquelas cinzas ao mar - tão azul e agitado; conseguiram sentir a aura do garoto, e as águas pareciam festejar com aquela chegada, formando ondas intensas e límpidas.

Em um instante, o garoto e o mar se tornaram um só; outro “check”, o último e mais doloroso. Emily sorriu, olhando para a bela cena diante dela e refletiu: — Ele queria ser o mar, mas acabou sendo meu universo inteiro.

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