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Nunca mais mudo
from Quando escapa
by hns2020
Maiara Mendes
Eu mudo, mudei três mil e mudarei mais três milhões!
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Eu me forcei muito tempo a não mudar e apenas ir acrescentando, durante a vida, novos aprendizados, sem precisar mudar os que tenho de bom, mas não, agora, não mais.
Entendo que a mudança não se trata apenas de trocar o errado pelo certo e nem o certo pelo errado, trata-se também de mudar o certo pelo certo, isso se existir um certo e um errado, um lado e outro, e não só se resumir a me faz bem e me faz mal.
Parar de rotular o que sentimos, o que somos, o que queremos; e, talvez eu rotule mais para frente... E, aí, não será mais o meu eu de agora; aí, já terei mudado. E a cada passo que mudo, que retorno, volto atrás, faço completamente diferente; ou faço o mesmo, só que de outra forma, me pertenço.
Sou cada vez mais eu, estou pouco a pouco me encontrando, não para estar certa e não para os outros, mas sim para me aceitar para mim mesma, para entender que essa sou eu, e eu não poderia estar melhor, e mesmo se eu enxergar que preciso melhorar... calma, que ainda tenho tempo, ainda chego lá.
Parafraseando a linda da Ana Caetano 1 , “se aceitar” faz parte do entender que não existe ninguém no mundo igual a mim. Eu sou única e não existe uma versão melhor ou pior em outro lugar para que eu me compare: essa sou eu, sendo eu. E acredito que é isso que eu entendo da minha vida, uma eterna mudança, uma “metamorfose
1 Compositora e intérprete do duo musical Anavitória, formado em 2014.
ambulante”, com medos de infância, com medos de agora, com sorrisos de infância, com sorrisos do agora.
Eu sou eu, e faz parte de mim a lágrima que eu derramo, a dor que eu sinto (que não é frescura) - ela é minha e só eu sei lidar com ela - e todo o resto que faz eu ser eu.
Não me permito me definir em uma ou duas palavras, não me é certo definir o mar por uma pequena parte de sua água, na verdade nem me sei definir, e se sou, quem sou? Ou melhor, o que sou? Não me parece certo responder a essa pergunta, não ficará completa, ainda faltará quem fui e quem serei, meus trajetos, minhas voltas, quem eu quis ser, quem tentei ser.
Não me é fácil o me definir, como também o não me definir. O não me saber com exatidão; e completude, e este é o frio da barriga: não saber as atitudes que eu tomaria, em cada situação que me possa ser proposta, não saber qual seria minha linha de moralidade, o que sinto, o que quero e o que devo fazer, e estabelecer limites - se estes existirem.
Não sei em que momento iniciei esse pensamento - essa certeza de não ter certeza de nada -; e nem sei se ele um dia irá se findar. Se acontecer, bom também, porque então já terei mudado e começarão outros ou repercutirá o mesmo de outra forma.
Eu achei graça nisso, achei belo não ter todas as respostas; logo eu que sempre as quis tanto! Achei belo construir minha vida, em formular perguntas e não as solucionar. Não tenho definição de amor, não sei resumi-lo e nem dizer como funciona, e funciona? Foi feito para ser funcional ou só belo, só encantador, e se for, ele é? Foi feito? É ele ou ela? Ou é coisa?
Eu tenho orgulho de não entender as minhas fases, e acho-as tão lindas, tão paradoxais, e interdependentes, tão elas e tão eu.
Eu tenho vivido.
O quê, como, por que ou pra que eu não sei, mas eu tenho vivido, um dia de cada vez e vários dias dentro de um só, e só hoje eu já mudei vinte vezes, já reconheci e desconheci, me aproximei e me afastei.
Então eu mudo, de fato. Já mudei três mil e vinte vezes e mudarei mais três milhões.