
3 minute read
Dois componentes
from Quando escapa
by hns2020
Fernanda Taniz
Acordei de um sonho em que estava no meu quarto com minha avó materna, que, em um lapso de tempo segurou forte meus braços e apertou com tanta força que eu pude sentir como se fosse real. Ela olhava para mim e se esforçava ao tentar falar meu nome, mas nada saia. Então começou a bater com as mãos na parede do quarto todo, em movimentos e sons irreconhecíveis. Como uma dança bem ensaiada ela ordenava os passos e, por último, apontou seu dedo para a vidraça da janela indicando planetas, estrelas e galáxias, que são ofertadas todos os dias para nossa contemplação num aglomerado. Depois ela saiu pela porta e eu acordei. Não consegui compreender o significado daquilo, parecia real demais para ser apenas um sonho.
Advertisement
Pensei muito e tentei afirmar que era algo simples, um sonho trivial até. Porém meu coração bateu forte, minhas mãos e meu corpo todo tremeram como um forte terremoto e eu lembrei que essas sensações eram plausíveis, visto que nunca conheci minha avó pessoalmente, já que ela faleceu antes de eu nascer.
Continuo fixa em minha cama nessa madrugada amena de outono, com a janela fechada. A escuridão e o silêncio absoluto permeiam a totalidade de coisas nesse exato momento. Minha cabeça dói e decido ir ao banheiro molhar o rosto e esquecer por hora. Percebo meus braços doloridos e quando olho reparo em marcas roxas onde no sonho minha avó os segurou com tanta força. Meus olhos ficaram paralisados assim como todo o resto.
Não conseguia sair do lugar e, de tão assustada, pequenas gotas de suor extremamente frias escorreram pela minha nuca. Tento raciocinar e explicar tal coincidência. Será que eu mesma apertei meus braços num reflexo humano inconsciente de tamanha imaginação? Ou, por algum motivo inexplicável, consegui estabelecer uma conexão em uma realidade alternativa com a minha avó?
Voltei para minha cama, fechei os olhos e tentei lembrar de todo movimento e som que ela fez. Horas se passaram até que percebi raios solares entrando por uma fresta da janela, tal iluminação veio como uma lâmpada que acendeu numa ideia genial. Eu entendi! Os sinais eram código Morse e comecei a decifrar e anotar. Por ventura eu possuía um dicionário velho feito por mim e minha irmã para conversar na frente de todos sem eles descobrirem o que falávamos.
Terminei de anotar e fiquei observando: -- .- -.-- .- --..-- / .. ... ... --- / -. --- / / ..- -- / ... --- -. .... --- / . ..- / .-. . .- .-.. -- . -. - . / . ... - --- ..- / .- --.- ..- .. / -. --- / ... . ..- / --.- ..- .- .-. - --- / . -- / --- ..- - .-. --- / .--. .-.. .- -. --- --..-- / - --- -.. .- ... / .- ... / .--. . ... ... --- .- ... / -. --- / -- ..- -. -.. --- / ...- .. ...- . -- / . -- / -- ..- .-.. - .. ...- . .-. ... --- ... .-.-.- / .- - .-. .- ...- ... / -.. . / ..- -- .- / ..-. . -. -.. .- / . ..- / -.-. --- -. ... . --. ..- .. / -- . / -.-. --- -- ..- -. .. -.-. .- .-. / -.-. --- -- / ...- --- -.-. .-.-.-
Levei algumas horas para decodificar e quando terminei, arrepiei-me dos pés à cabeça. Contudo li outra vez:
“Maya, isso não é um sonho eu realmente estou aqui no seu quarto em outro plano, todas as pessoas no mundo vivem em multiuniversos. Através de uma fenda eu consegui me comunicar com você”.
Com essas informações alojadas no meu ser eu nunca mais fui a mesma pessoa. Se o mundo soubesse dessa grandeza, ele seria melhor ou,
talvez, as pessoas sofreriam menos. Surgiram muitos questionamentos em mim.
Rasguei a frase codificada e descodificada, não comentei com ninguém sobre, mas todos os dias na mesma hora do sonho, bato com as mãos na janela dessa forma: - . / . -. -.-. --- -. - .-. --- / .-.. --- --. --- / -- .- .. ... 1
1 Te encontro logo mais.