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Editorial
Esse trecho do poema Reinvenção, com autoria de Cecília Meireles, uma das maiores poetas da história do Brasil, descreve de forma efêmera a necessidade de transformações para que a vida tome seu curso.
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É muito comum ouvir que é durante as crises que surgem as oportunidades de reinvenção e que devemos agarrá-las a qualquer custo. Apesar de ser senso comum que transformações venham da necessidade, o ato de se reinventar é inerente ao ser humano e é o que manteve a humanidade evoluindo com o passar dos milênios.
Reinventar-se não precisa ser devido a uma necessidade externa ou interna. Podemos — e devemos — nos reinventar constantemente para evoluirmos e vivermos uma vida plena, pois, como dito por Cecília Meireles, a vida só é possível reinventada. E, por isso, a equipe da revista TRENDD buscou histórias de reinvenção no universo da moda presente no dia a dia das pessoas.
Uma das áreas em que mais precisamos nos reinventar como sociedade são nossos hábitos de consumo. A produção em massa de roupas é uma das principais causas de poluição do meio ambiente, entretanto mudar esse sistema está fora de nosso alcance como consumidores. O que pode ser feito por nós como indivíduos é mudar alguns hábitos para contribuir positivamente para nosso planeta. Comprar em brechós é um exemplo de consumo sustentável e, nos dias de hoje, tem se tornado cada vez mais comum e popularizado. Em nossa primeira reportagem, investigamos esse fato através de forma minuciosa.
Outra forma de reinventar seu estilo é pela customização de roupas que você já tem. Personalizar uma peça de roupa não só a transforma em uma nova peça, mas também deixa seu guarda-roupa mais a sua cara. A blogueira Verônica Leão explica como a customização pode transformar uma peça em algo completamente diferente e original. Para aqueles que já customizam as próprias roupas e querem dar um passo além, a reportagem sobre a criação de croquis é perfeita para que suas ideias sejam colocadas no papel! O processo de criação não é tão simples, mas, com as nossas dicas, você pode se desafiar e tentar criar uma peça exclusiva e original.
Para se reinventar, entretanto, é necessário conhecerse o suficiente para saber o que agrega ou não ao seu estilo. Uma ferramenta útil é a análise de coloração pessoal, tema da nossa reportagem de beleza. A consultora Patrícia Drummond, do Studio Immagine, conta como a coloração pessoal auxilia as pessoas a refinar seu estilo, tanto em roupas quanto em maquiagens.
Uma das marcas de vestuário que reformulou o mercado da moda casual foi a Shein, marca de vendas online. Durante a pandemia, suas vendas aumentaram exponencialmente assim como sua popularidade no Brasil, o que traz discussões sobre as vantagens e os malefícios do fastfashion. Reformular a moda em seu segmento é algo que o movimento hip-hop tem feito desde seu início no Brasil. No começo para a resistência do movimento, entretanto, nos dias de hoje, as tendências do hip-hop nascem da expressão individual de um artista e seus ideais, mantendo as raízes da moda dentro dos princípios do movimento.
Como mulher, mãe e empresária, reinventar-se é algo quase corriqueiro para Lívia Vieira. Em seu perfil, ela conta os desafios que enfrenta com sua marca, Odessa, no mercado de jóias de luxo e como se faz presente nas diferentes áreas de sua vida, sem desrespeitar seus próprios limites.
Nas próximas páginas, mostramos um pouco como essas reinvenções de si mesmo e da moda fazem a vida acontecer, pois, assim como disse Cecília Meireles, a vida só é possível reinventada.
Que roupas antigas são estilosas, todo mundo já sabe, mas você conhece a origem da moda vintage? Aposto que não! É por isso que, nessa matéria, vamos te contar tudo o que você precisa saber. Mas antes, é preciso saber que moda vintage e moda retrô são conceitos diferentes. O vintage é a peça produzida até a década de 90, ou seja, realmente antiga, levando em consideração o ano em que estamos, e o retrô é a roupa fabricada atualmente, que imita as vestes antigas. Agora que você já sabe diferenciar esses dois pontos, podemos explorar a história dos trajes vintage! Tudo começou com o fechamento das fábricas têxteis por causa da Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), uma vez que os operários foram obrigados a irem para o campo de batalha. Nesse contexto, o uso de roupas antigas não era conhecido como moda vintage, já que as roupas eram produzidas naquele momento. Diante desse cenário, a sociedade europeia estava sofrendo com a escassez de tecidos e como consequência as famílias começaram a remendar, adaptar e consertar roupas antigas para reutilizá-las. Além disso, as peças começaram a ser fabricadas em tamanhos menores, com cores e estilos limitados.
Já na década de 1960, a utilização de vestuários antigos foi nomeada como estilo vintage e se deu a partir da revolta dos jovens em relação a períodos conturbados do passado e às normas conservadoras da sociedade. Nessa época, roupas como uniformes de guerra e peças feitas à mão tornaram-se uma grande tendência, sendo comercializadas em lojas de caridade, como ocorre com os atuais brechós. foram alguns dos precursores desse modelo de vestuário, influenciando os jovens da época. No que se refere aos anos 2000, as pessoas na faixa etária entre os 20 e 30 anos rejeitaram as tendências vigentes e passaram a utilizar roupas antigas. Isso foi visto como uma forma de rebelião, uma declaração anti-moda, uma vez que as roupas não tinham o objetivo de parecer caras, novas ou sofisticadas.
Atualmente, as pessoas que se identificam com peças vintage, as vestem pelo motivo de serem muito estilosas, terem um caimento que se adequa melhor ao corpo e detalhes delicados, feitos à mão, que não são facilmente encontrados nas roupas de hoje. Além de todas essas vantagens, esses vestuários podem ser encontrados por um preço acessível em brechós, que são estabelecimentos diferentes de bazares.
Moda Vintage: Só pela eStética ou pelo planeta?
texto ana Beatriz Ferreira e Karine Glinn FotoGraFia GaBrielle caStro

materiais de papelaria, produtos de limpeza, roupas, brinquedos e quinquilharias em geral. Normalmente, esses itens são peças usadas, antiguidades e artigos vintage, que tem a finalidade de servirem como decoração, fazerem parte de coleções ou simplesmente para uso pessoal cotidiano. Para mais, as vendas são realizadas com o intuito de ajudar causas sociais, então, instituições beneficentes, como ONGs, igrejas, comunidades e hospitais organizam esse tipo de evento. Em virtude dos produtos serem fruto de doações, e majoritariamente usados, os preços são baixíssimos, estando na faixa de R$1,00 a R$5,00.
Em contraste, os brechós funcionam como lojas de compra e venda de produtos usados, principalmente, voltados ao setor de vestimentas, tanto feminimino quanto masculino e infantil, sendo uma atividade comercial muito antiga, que se originou, em meados de 1900, nos arredores da capital francesa Saint Quen, em que aconteciam feiras de trocas, o famigerado “mercado de pulgas”. Já no Brasil, esse tipo de comércio teve início em 1899, através do vendedor ambulante Belchior, homem português que revendia artefatos e vestuários de segunda mão no Rio de Janeiro. Devido à pronúncia complicada de seu nome, ele passou a ser conhecido como Brechó, que, mais tarde, se tornou o nome dessa categoria de negócio. Hoje em dia, a imagem dos brechós ainda carrega um lado negativo, de que são vendidas roupas velhas, feias e de má qualidade, porém, na realidade, apesar de mais antigas e usadas, essas peças são revendidas por um preço menor e passam por um processo de avaliação e, se preciso, por uma restauração com o intuito de ficarem como novas. Nesse sentido, a precificação é realizada seguindo alguns critérios, como o estado da peça: se ela é nova ou usada, se está manchada ou com defeitos, se tem todos os botões e se os zíperes se encontram em bom estado. Além disso, é levado em consideração se os trajes são originais ou sofreram alguma alteração, se eles são de marcas conhecidas e qual foi o seu valor inicial. Em consequência da restauração de peças antigas, as pessoas têm olhado cada vez mais para a moda das décadas passadas e se identificado com o estilo, afinal, todos sabemos que as roupas antigas possuem muito requinte, elegância e sofisticação. A maior prova disso são os desfiles baseados na moda vintage, como o de Luisa Via Roma, que aconteceu dia 13 de junho de 2019, inspirado na moda dos anos 1990.
Tendo em vista a popularização das roupas antigas, os brechós se tornaram mais conhecidos. Eles se destacam por ter uma grande variedade de vestes que contam com a sigla CGC na etiqueta, o antigo Cadastro Geral de Contribuintes, que em 1998 se transformou no atual CNPJ. Sendo assim, uma comprovação de que a peça é verdadeiramente vintage. Além disso, a disseminação do estilo vintage é vista como uma saída sustentável, pois, como em qualquer outro tipo de produção em larga escala, existe o uso exacerbado de recursos naturais. Na fabricação de roupas, há o consumo exagerado de água para a produção, acabamento e tingimento de tecidos, além de ocorrer a poluição do solo devido aos agrotóxicos utilizados nas plantações de algodão. Dessa maneira, fica claro que o consumo de vestuários produzidos nos dias de hoje é algo prejudicial ao bem-estar ecológico. Segundo os dados da Organização das Nações Unidas, as fábricas de roupas despejam cerca de 500 mil toneladas de resíduos por ano nos oceanos. Desse modo, a reutilização de roupas é vista como uma opção sustentável, pois evita que tecidos sejam despejados de forma prejudicial à natureza. O aumento da fama da moda sustentável foi ocasionado pela maior conscientização por parte dos consumidores, que se viram reféns do fast fashion. O conceito de fast ficou conhecido em 1999, em razão das enormes lojas de departamento, que, no campo da moda, ficaram conhecidas por venderem uma ampla variedade de peças. Nesse contexto, o termo fast se refere ao curto espaço de tempo entre a criação, produção, comercialização e utilização das roupas. Sendo assim, o estilo vintage e a moda consciente estão entrelaçados e ambos podem se concretizar através dos brechós, estabelecimentos que comercializam vestuários produzidos nas décadas passadas e estão sendo reutilizados.

