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custoMização: transforMar ou rEciclar
Por ana Beatriz Ferreira e Jussara Custodio
Já se deparou com roupas no armário que estão fazendo aniversário por falta de uso? Caso a resposta seja sim e você pretenda reaproveitar essas peças ou modernizá-las, aqui temos uma sugestão perfeita para você: a customização! Ela tem sido um assunto muito popular ultimamente, trazendo um leque de possibilidades para o seu vestuário, principalmente para usar no seu dia a dia. E, o melhor de tudo, serão trajes únicos, com uma mistura inédita de sua personalidade e seu estilo. Para compreender o surgimento da prática da customização, precisamos voltar um pouco ao nosso passado histórico: foi entre os séculos 18 e 19 que a Revolução Industrial teve início e se concretizou, junto a ela também passou a ocorrer a produção exagerada de vestuários, facilitada pela substituição da manufatura pela maquinofatura. Além disso, durante a Revolução, verdadeiras engenhocas foram inventadas, uma delas foi a lançadeira volante, criada em 1733, por John Kay. Tal invenção proporcionou uma maior rapidez durante a realização das atividades manuais nas fábricas têxteis. A partir disso, é possível imaginar que a confecção exacerbada de roupas não parou por aí, afinal, conforme a população mundial ampliava-se, sua produção também aumentava. Dessa forma, a quantidade de roupas descartadas eleva-se proporcionalmente, gerando desperdícios e prejuízos ao meio ambiente, tanto devido aos gases poluentes quanto ao desperdício e contaminação da água por meio de resíduos, que são consequência da falta de preocupação das grandes indústrias com o assunto.
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Assim, surgiu a personalização de roupas, prática que teve destaque em meados de 1960, a partir do movimento hippie, onde buscavam acrescentar personalidade às peças que vestiam e, consequentemente, demonstrar certa atitude e linha de pensamento, em uma luta pacífica pelos seus ideais. Uma tendência muito comum nesse período foi o tie-dye, que perdura até os dias de hoje, após ter aumentado sua popularidade entre aqueles fascinados por moda ou pessoas que precisavam de um hobbie para se ocupar durante a quarentena. Para mais, a customização de roupas conquistou toda essa fama por ser uma alternativa sustentável para o uso de peças velhas que já não se encaixam na moda atual ou trajes que simplesmente deixaram de servir. Fazer essa transformação é a porta de entrada para implementar maior estilo nas vestes, causando bem estar e realização. Além de torná-las mais atuais e inovadoras, ajuda a evitar o alto consumo de roupas, uma vez que, entre 2000 e 2014, tivemos o número de sua produção dobrando, segundo pesquisa da ONU em 2019. O que é extremamente prejudicial ao meio ambiente devido a todos os impactos negativos que ela provoca na natureza, como já citado anteriormente.
Já para Huda de Jesus Nunes (35), dona de casa e mãe, a personalização de roupas tomou parte especial de sua vida, principalmente através do seu canal no YouTube e do seu Instagram, onde compartilha suas criações. Em suas palavras “Costurar era só um hobbie, sempre tive paixão por customizações e upcycling quando nem conhecia esses nomes”. Ela também acrescenta que personaliza suas roupas tanto com a intenção de modernizá-las, quanto para reutilizá-las e evitar consumo exagerado: “Quando canso de uma roupa vou lá e modifico de acordo com a moda ou meu peso do momento”. Agora vamos para a parte divertida dessa matéria: a prática! Primeiramente, é necessário decidir qual roupa será modificada, pois é pensando nela que você decidirá a customização que mais se encaixa e também terá a ideia geral do que será feito. Ainda, se não for possível arranjar determinados materiais, utilize o que você encontrar em casa, como tintas para tecido, tesoura, pincéis, canetas, cola para pano ou artesanato, pérolas, missangas, fitas, rendas e retalhos de tecidos. De acordo com Huda, aviamentos – parte do acabamento da peça, como botões, zíperes, ganchos e colchetes – geralmente custam mais caro, portanto, para economizar, ela reutiliza-se de peças modificadas que já não servem mais. Quanto a isso, ela reitera: “Eu prefiro usar roupas usadas, doadas ou compradas em brechós, mas, como sempre me pediram dicas para reaproveitar retalhos, tenho usado eles também. Porém, infelizmente, não tenho contato com fábricas que me repassem as sobras e, nesse caso, preciso comprá-las”. Então se, mesmo depois de todas essas informações, você ainda estiver com dificuldades para decidir de que forma gostaria de customizar suas roupas, vamos falar sobre alguns dos principais métodos utilizados para esse tipo de mudança. Para começar, acreditamos que tingimentos, pinturas e desenhos são o primeiro tópico que surge ao citarmos maneiras de personalizar roupas. Afinal, são métodos acessíveis e de simples realização, sendo necessários pincéis, tintas para tecido, corantes reativos, água e muita imaginação! Esse tipo de customização é bem abrangente e traz inúmeras possibilidades, por isso é tão conhecido.


Foto por: Huda Nunes
Algo que também se popularizou bastante foi a realização de cortes simples e de rasgos em peças jeans, já que a tendência de roupas destroyed só cresceu e as pessoas quiseram reaproveitar os jeans que já tinham em casa. Parece complicado, mas rasgar tecidos é uma prática realmente simples: basta fazer as marcações necessárias com lápis ou caneta, então pegar uma tesoura – afiada se for desejado um corte mais limpo ou cega se quiser um corte irregular e desfiado – e, por fim, rasgar! Além dos cortes, é possível incluir pedraria, pérolas e lantejoulas nas peças, trazendo à elas, respectivamente, um ar de sofisticação, delicadeza e euforia. O processo para embutir esses objetos no tecido, como as demais formas de personalização, não é difícil. Pode ser usada cola quente, cola de artesanato ou agulha e linha de costura.
Fotos por: Huda Nunes

Caso tenha dificuldade em soltar a imaginação, apenas pense nas coisas que você gosta: filmes, séries, livros, músicas ou até mesmo uma certa estética que te agrade o suficiente para criar peças baseadas nela. Para obter inspiração, Huda observa muito o mundo à sua volta: como as pessoas se vestem, as vitrines das lojas, a TV, blogueiras e o Pinterest, que é recheado de inspirações para todos os bolsos. Ela ainda acrescenta: ““Um adulto criativo é uma criança que sobreviveu”. Toda criança é criativa, e isso fica adormecido quando crescemos se a gente não colocar em prática no dia a dia”. Em vista disso, é essencial treinar para chegar ao seu próprio estilo. A partir dos seus erros e acertos você pode ir se aperfeiçoando. Portanto, não tenha medo, siga seus instintos e do it yourself! Quanto aos tipos de personalização, Huda acredita que faz mais upcycling – que é transformar uma peça em outra totalmente diferente – e também afirma que um pedido recorrente de seus seguidores é o de alargar roupas, acrescentando que o vídeo mais visto do seu canal fala sobre como subir o cós de uma calça jeans mexendo só em seu fundo.


No entanto, é preciso colocar a mão na massa! Ter técnica ou algum conhecimento prévio mais aprofundado não é uma necessidade, basta experimentar e fazer o que der na telha. Sobre isso, Huda comenta: “Eu não sou uma costureira profissional, sei o básico da costura e não sou modelista. Qualquer pessoa consegue fazer essas coisas e não precisa ter uma máquina de costura. Muitos seguidores dizem que costuram a mão, é só ir colocando em prática o pouco que sabe e se desafiar que a criatividade vai aflorando”.
Transformação de calça jeans em salopete.

