Hoje Macau 1 NOV 2019 # 4403

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MOP$10

SEXTA-FEIRA 1 DE NOVEMBRO DE 2019 • ANO XIX • Nº4404

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

HONG KONG

DEPOIS DE CARRIE

ENTRE ORIENTE E OCIDENTE

CASAMENTO GAY

GONÇALO M. TAVARES

POSTAL PARA SÓNIA

DIA DE TODOS OS SANTOS ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO

CARGA DE TRABALHOS

PÁGINA 9

VALÉRIO ROMÃO PÁGINA

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hojemacau

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GRANDE PLANO

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Os blues no Delta Macau pode ser palco de um capítulo final da guerra comercial entre China e Estados Unidos. A agência Reuters avançou que Pequim convidou Donald Trump para vir a Macau, depois de o encontro em Santiago do Chile ter sido cancelado devido ao caos em que se encontra o país sul-americano. PÁGINA 5


2 grande plano

1.11.2019 sexta-feira

HONG KONG

A VIDA DEPOIS DE C ANALISTAS TRAÇAM FUTURO DEPOIS DA SAÍDA DE CARRIE LAM

A possibilidade de Carrie Lam deixar o cargo de Chefe do Executivo de Hong Kong é um cenário que deixa no ar várias questões. Poderão os protestos na região vizinha abrandar ou alterar a forma de governar? Analistas ouvidos pelo HM acreditam que pouco ou nada irá mudar no território com um novo rosto à frente do Governo. Em Macau, Ho Iat Seng terá de criar mais medidas sociais para evitar descontentamentos, diz Bruce Kwong


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sexta-feira 1.11.2019

CARRIE C

ARRIE Lam, a má gestora de crises políticas, a governante que ficou do lado da polícia, a Chefe do Executivo que não reagiu no devido tempo aos anseios da população. A pessoa que lhe suceder no cargo de Chefe do Executivo de Hong Kong, terá de assumir a postura exactamente contrária para que o futuro do território se faça pelo caminho da estabilidade social. É esta a conclusão dos analistas políticos contactados pelo HM no que diz respeito ao futuro de Hong Kong caso Carrie Lam deixe o cargo de Chefe do Executivo, conforme foi avançado pelo Financial Times. Ainda assim, são esperadas poucas mudanças de fundo num território com um ambiente político altamente fragilizado. “Não há expectativas, uma vez que o novo Chefe do Executivo vai continuar a ser uma marioneta política”, defendeu Kenneth Chan, professor associado do departamento de governação e estudos internacionais da Universidade Baptista de Hong Kong. “Hong Kong vai continuar na sua luta, com cinco reivindicações, incluindo o sufrágio universal e o fim das brutalidades cometidas pela polícia. A questão é se Pequim e o próximo Chefe do Executivo estão ou não preparados para enfrentar esses pedidos. Não há sinais para me sentir confiante o suficiente e dizer que estão preparados”, apontou. Para Kenneth Chan, uma mudança de rosto é apenas uma repetição de medidas do passado.

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ORGE Tavares da Silva, professor nas universidades de Aveiro e de Coimbra, e especialista nas relações Taiwan-China, não tem dúvidas de que, graças aos protestos de Hong Kong, a integração de Taiwan tornou-se algo praticamente impossível de acontecer. “Está completamente fora de questão. Taiwan, para mim, é quase um caso perdido do ponto de vista político.

Bruce Kwong entende que Ho Iat Seng terá de implementar medidas na área social e oferecer coisas interessantes às pessoas, eliminando qualquer oportunidade de disputas controversas “Há apenas uma janela de oportunidade, mas tivemos situações semelhantes no passado, quando Donald Tsang foi substituído por CY Leung e depois quando Carrie Lam assumiu o poder. Penso que o problema de Hong Kong é sistémico, e está relacionado com problemas profundos de governação. Mudar o Chefe do Executivo e remover alguns governantes não é suficiente.” Opinião semelhante tem Jorge Tavares da Silva, especialista em relações entre China e Taiwan e professor nas universidades de Aveiro e Coimbra. “Com essa substituição pode acontecer talvez uma compreensão para ver se as coisas podem acalmar, mas é um

caso perdido. Porque esta semente dificilmente volta atrás. Hong Kong teve sempre uma componente de reivindicação, foi sempre um espaço de alguma liberdade e Pequim não gosta disso.”

RECUPERAR A CONFIANÇA

Bruce Kwong, professor da Universidade de Macau, defende que, acima de tudo, o próximo Chefe do Executivo de Hong Kong terá de recuperar a confiança perdida junto da população do território vizinho. “Há muitas coisas que o novo Chefe do Executivo terá de fazer, tal como restaurar a confiança do público em relação ao Governo e particularmente em relação às forças policiais. A China gostaria de ver um novo Chefe do Executivo que possa levar a cabo as políticas do Governo Central e fazer o planeamento de Hong Kong sem qualquer tipo de turbulência. Mas depois dos acontecimentos dos últimos meses, as pessoas de Hong Kong gostariam de ter um líder que dê prioridade os seus desejos”, salientou. Sonny Lo, analista político de Hong Kong, defende que o próximo Chefe do Executivo de Hong Kong deve ter “experiência em gestão de crises, uma vez que Carrie Lam falhou ao lidar com a situação actual.

“Não há expectativas, uma vez que o novo Chefe do Executivo vai continuar a ser uma marioneta política.” KENNETH CHAN PROFESSOR DA UNIVERSIDADE BAPTISTA DE HONG KONG

“[O próximo Chefe do Executivo] deve ter experiência em gestão de crises, uma vez que Carrie Lam falhou ao lidar com a situação actual.” SONNY LO Além disso, deverá ser um governante “leal a Pequim, mas que garanta o equilíbrio entre os interesses da população de Hong Kong e Pequim”. “Deve ter em consideração a opinião pública ao invés de ficar do lado de questões burocráticas desde muito cedo, tal como Carrie Lam fez ao lidar com a polícia nos meses de Junho, Julho e Agosto. Deve ser alguém sem problemas de ética e que aceite diferentes opiniões”, acrescentou Sonny Lo, que destaca o facto de a população de Hong Kong esperar, sobretudo, “que o novo Chefe do Executivo democratize o território”. Acima de tudo, Bruce Kwong assegura que “a saída de Carrie Lam não resolve todos os problemas”, pois “a cultura política de Hong Kong tem-se alterado de forma dramática, entrando de forma significativa em conflito com a ideologia chinesa”.

PARA MACAU, QUASE NADA

A mudança do principal rosto político de Hong Kong poderá eventualmente trazer algumas mudanças no ambiente sociopolítico de Macau, dada a sua proximidade, mas os analistas alertam para poucas mudanças. Sonny Lo diz mesmo que não haverá quaisquer consequências para Macau “pois os territórios são bastante diferentes”.

“Não haverá solução” Taiwan, “um caso perdido” por causa de Hong Kong

Não haverá solução. Por todas estas dinâmicas sociais que vão surgindo, os taiwaneses nunca aceitariam (a integração). Eu sei que a maior parte da população prefere manter o status quo, que a situação se mantenha como está, mas uma integração seria completamente impossí-

vel, porque teria sempre resistências como o que está a acontecer agora em Hong Kong.” Para o docente, tanto Hong Kong como Taiwan “são sempre territórios que já tem uma certa identidade política e será muito difícil a China chegar ali com o seu modelo político e

alterar”. Pelo contrário, os protestos de Hong Kong jamais terão reflexo no continente. “Não há problema de contágio, a China está sólida”, frisou Jorge Tavares da Silva. Paulo Duarte defende que Tsai Ing-wen vai tirar proveito político do panorama de Hong Kong

aquando das presidenciais, em 2020. “O que está a acontecer em Hong Kong e Macau também é a introdução de um capitalismo pelo Partido Comunista Chinês e que está a ter repercussões noutros pontos sensíveis, como é o caso de Taiwan. A presidente de Taiwan vai aproveitar este descontentamento para mobilizar o seu eleitorado e as pessoas que estão reticentes nas presidenciais de 2020”, concluiu.

Para Bruce Kwong, o Chefe do Executivo de Macau eleito, Ho Iat Seng, terá obrigatoriamente de “implementar mais medidas na área social e oferecer mais coisas interessantes às pessoas, eliminando qualquer oportunidade de disputas controversas”. “Isto apesar de acreditar que os protestos que ocorreram em Hong Kong não se vão repetir em Macau num futuro próximo”, acrescentou. Neste sentido, Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau (IIM) ex-secretário adjunto de Rocha Vieira, disse recentemente em Lisboa que era premente o Governo da RAEM resolver o problema da habitação, sob pena dos protestos surgirem em força nos próximos anos. “Macau tem de ter habitação para a classe média, pois corremos o risco de, daqui a uns anos, termos milhares de pessoas a marchar nas ruas. Estamos a ser ameaçados por um problema que não está resolvido”, adiantou num colóquio organizado pela Universidade Católica Portuguesa. Kenneth Chan alerta para o facto de conhecer pouco a realidade de Macau, mas assegura que as consequências de uma mudança de líder em Hong Kong serão mínimas “Do ponto de vista de Pequim, Macau é um modelo a seguir no que diz respeito ao cumprimento do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’. Mas isso é algo que a população de Hong Kong considera inaceitável”, considera. De frisar que, desde que os protestos começaram em Hong Kong, dezenas de pessoas do território foram proibidas de entrar em Macau. O deputado Sulu Sou já deixou o alerta de que as autoridades estarão a interrogar na fronteira pessoas de Hong Kong que possuem BIR de Macau. “Recebi casos de pessoas que têm, ao mesmo tempo, bilhetes de identidade de Hong Kong e Macau. Depois, utilizam o bilhete de identidade de Macau para entrar em Macau, vindas de Hong Kong, mas são retidas e questionadas durante meia hora ou mesmo uma hora no terminal do ferry.” Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com


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1.11.2019 sexta-feira

Notificação Edital Chan Weng Hong, Presidente da Autoridade de Aviação Civil, faz saber que, tendo-se esgotado todas as tentativas de notificação pessoal, nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA), aprovado pelo Decreto-Lei n. º 57/99/M de 11 de Outubro, procede-se à notificação edital de (1) Shin Jin, portadora do Passaporte n.º M048xxxxx, emitido pela República da Coreia, residente na República da Coreia, (2) Kim Wonchang, portador do Passaporte n.º M881xxxxx, emitido pela República da Coreia, residente em Pohang City, República da Coreia, (3) Zhang Chunfeng, portador do Salvo-Conduto para deslocação a Hong Kong e Macau n.º C986xxxxx, emitido pela República Popular da China, residente em Shanghai, República Popular da China (4) Paul Elliget Suh, portador do Passaporte n.º 7205xxxxx, emitido pelos USA, residente em Shinpanpo, República da Coreia, (5) James Cook, portador do Passaporte n.º 5093xxxxx, emitido pelo Reino Unido, residente em Scunthorpe, Reino Unido, (6) Kang Yong Chon, portador do Passaporte n.º A526xxxxx, emitido pela Malásia, residente em Jalan Ponderoso, Malásia, (7) Ko Kyungyong, portador do Passaporte n.º M440xxxxx, emitido pela República da Coreia, residente na República da Coreia, (8) Joung Jae Gweon, portador do Passaporte n.º M495xxxxx, emitido pela República da Coreia, residente em Seoul, República da Coreia, nos seguintes termos: (1) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 8 de Janeiro de 2018, foi instaurado procedimento administrativo a Shin Jin, para averiguação dos factos ocorridos no dia 27 de Novembro de 2017, a bordo da aeronave da companhia aérea Air Seoul, com a matrícula RS521, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 2939/2017/DPA, datado de 27 de Novembro de 2017, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 2) do n.º 1 do artigo 4.º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. (2) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 15 de Fevereiro de 2019, foi instaurado procedimento administrativo a Kim Wonchang, para averiguação dos factos ocorridos no dia 21 de Janeiro de 2019, a bordo da aeronave da companhia aérea Air Macau, com a matrícula NX819, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 259/2019/DPA, datado de 21 de Janeiro de 2019, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 2) do n.º 1 do artigo 4.º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. (3) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 21 de Fevereiro de 2019, foi instaurado procedimento administrativo a Zhang Chunfeng, para averiguação dos factos ocorridos no dia 3 de Fevereiro de 2019, a bordo da aeronave da companhia aérea Air Macau, com a matrícula NX007, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 420/2019/DPA, datado de 3 de Fevereiro de 2019, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 4) do n.º 1 do artigo 4.º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. (4) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 14 de Março de 2019, foi instaurado procedimento administrativo a Paul Elliget Suh, para averiguação dos factos ocorridos no dia 26 de Fevereiro de 2019, a bordo da aeronave da companhia aérea Air Jeju, com a matrícula 7C2003, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 669/2019/DPA, datado de 27 de Fevereiro de 2019, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 2) do n.º 1 do artigo 4.º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. (5) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 14 de Março de 2019, foi instaurado procedimento administrativo a James Cook, para averiguação dos factos ocorridos no dia 28 de Fevereiro de 2019, a bordo da aeronave da companhia aérea Air Asia, com a matrícula Z27090, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 713/2019/DPA, datado de 28 de Fevereiro de 2019, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 2) do n.º 1 do artigo 4.º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. (6) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 21 de Maio de 2019, foi instaurado procedimento administrativo a Kang Yong Chon, para averiguação dos factos ocorridos no dia 24 de Abril de 2019, a bordo da aeronave da companhia aérea Air Aisa, com a matrícula AK188, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 1394/2019/DPA, datado de 24 de Abril de 2019, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 2) do n.º 1 do artigo 4.º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. (7) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 5 de Agosto de 2019, foi instaurado procedimento administrativo a Ko Kyungyong, para averiguação dos factos ocorridos no dia 21 de Julho de 2019, a bordo da aeronave da companhia aérea t’way Air, com a matrícula TW107, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 2558/2019/DPA, datado de 21 de Julho de 2019, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 2) do n.º 1 do artigo 4.º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. (8) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 26 de Agosto de 2019, foi instaurado procedimento administrativo a Joung Jae Gweon, para averiguação dos factos ocorridos no dia 1 de Agosto de 2019, a bordo da aeronave da companhia aérea Jin Air, com a matrícula LJ121D, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 2671/2019/DPA, datado de 1 de Agosto de 2019, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 2) do n.º 1 do artigo 4.º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. Nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 8.º do Regulamento Administrativo n.º 31/2003, as infracções administrativas acima mencionadas são sancionáveis com multa de 5.000 até 50.000 patacas. Mais se notifica que os processos podem ser consultados nas instalações da Autoridade de Aviação civil, sitas na Alameda Dr. Carlos D’Assumpção, 336-342, Centro Comercial Cheng Feng, 18º andar, em Macau, durante as horas normais de expediente. Notifica-se ainda, que nos termos do n.º 2 do artigo 87.º e do n.º 1 do artigo 93.º do CPA, o senhor Zhang Chunfeng dispõe de 25 dias, os senhores Shin Jin, Kim Wonchang, Paul Elliget Shu, Kang Yong Chon, Ko Kyungyong e Joung Jae Gweon dispõem de 35 dias e o senhor James Cook dispõe de 45 dias, a contar do dia seguinte ao dia da fixação do presente edital, para juntar documentos e pareceres ou requerer diligências de prova úteis para o esclarecimento dos factos com interesse para a decisão e para se pronunciarem sobre o conteúdo dos respectivos processos em audiência de interessados. E para constar, se lavrou o presente edital que vai se fixado nos lugares de estilo e publicado em dois jornais mais lidos da Região Administrativa Especial de Macau, um em língua chinesa, outro em língua portuguesa. Autoridade de Aviação Civil de Macau, aos 1 de Novembro de 2019 O Presidente, Chan Weng Hong


política 5

sexta-feira 1.11.2019

RENOVAÇÃO URBANA PERCENTAGENS DEBAIXO DE CRÍTICAS

Branca emitiu um comunicado a expressar o desejo de assinar a fase preliminar do acordo com a China em Novembro. “Esperamos poder finalizar a primeira fase deste histórico acordo com a China dentro do mesmo período temporal”, declarou a Administração de Donald Trump, sem adiantar um local. Terá sido Pequim a sugerir Macau, de acordo com a Reuters, que cita uma fonte chinesa envolvida no acordo comercial. Representantes dos dois governos têm hoje marcada mais uma ronda de negociações ao telefone, de acordo com informação do Ministério do Comércio chinês, que não adiantou, no entanto, se será discutido o local para a assinatura do acordo.

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ON Lam, presidente da Associação de Sinergia de Macau, entende que as percentagens do direito de propriedade para efeitos da renovação urbana deviam ser mais claros, criteriosos e apresentados pelo Executivo de forma menos polémica. Em causa está o documento de consulta sobre a renovação urbana, que defende que a reconstrução de um edifício pode avançar com 90 por cento do direito de propriedade, 80 por cento, ou 60 por cento nos casos de ameaça à segurança pública. “As percentagens deveriam ser determinadas de forma rigorosa” salientou o presidente da Associação de Sinergia de Macau, durante um evento para discutir a renovação urbana conduzido pela Associação Aliança de Povo de Instituição de Macau. Ron Lam apontou também que o Governo está a criar uma “confusão” com a consulta pública, que terá de ser resolvida pelo Executivo de Ho Iat Seng. Já o vice-presidente da direcção da Associação Aliança de Povo de Instituição de Macau, Ao Ieong Kuong Kao, considerou que o Governo deve ajustar de forma apropriada as percentagens dos direitos de propriedade para efeitos de reconstrução de edifícios. Segundo Ao, se a proporção necessária para a reconstrução for reduzida para 60 por cento, a capacidade de negociação dos proprietários vai ser fortemente penalizada. O vice-presidente mostrou-se ainda preocupado com litígios que podem surgir no futuro da aplicação e para os quais o documento de consulta sobre o regime jurídico da renovação urbana também não oferece respostas. Esta foi uma abordagem que Ao considerou “imprudente”. I.N.N.

Eleições Campanha arranca a 9 de Novembro

A campanha eleitoral para o acto suplementar que visa substituir Ho Iat Seng na Assembleia Legislativa vai decorrer entre 9 e 22 de Novembro, de acordo com a informação divulgada ontem pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). O sufrágio pela via indirecta está agendado para 24 de Novembro e tem um candidato único, o empresário Wong Sai Man. No comunicado emitido ontem pela comissão liderada pelo juiz Tong Hio Fong a lista existente é recordada que tem de divulgar atempadamente todas as actividades de campanha, assim como qualquer actividade destinada “a atribuir benefícios” em que o candidato esteja presente. Mesmo no caso em que o candidato esteja presente em actividades de associações que faz parte, estas também devem ser reportadas.

OUTRAS POSSIBILIDADES Pequim convidou Donald Trump para vir a Macau formalizar o fim da primeira ronda negocial para pôr termo à guerra comercial entre as duas maiores economias mundiais

GUERRA COMERCIAL TRUMP E XI PODEM VIR A MACAU ASSINAR ACORDO

Tréguas no delta

Depois do cancelamento da cimeira da APEC, que estava marcada para Santiago do Chile, Macau surge como possível palco para a assinatura da primeira fase do acordo comercial entre China e Estados Unidos. A agência Reuters indica que Pequim sugeriu Macau para o encontro entre os chefes de estado das duas maiores economias mundiais

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N QUANTO esperava pelo anúncio da Reserva Federal sobre taxas de juro de referência, um jornalista da Fox News, Edward Lawrence, usou o Twitter para dizer que a China sugeriu Macau como palco para a assinatura da primeira fase do acordo que pretende pôr termo

à guerra comercial entre as duas maiores economias mundiais. Ontem, a Reuters seguiu a pista e noticiou que Pequim convidou Donald Trump para vir a Macau formalizar o fim da primeira ronda negocial. A possibilidade surgiu depois do cancelamento da cimeira da Cooperação Económica Ásia-

-Pacífico (APEC), que estava marcada para o fim-de-semana de 16 e 17 de Novembro no Chile. A decisão de Sebastián Piñera foi justificada com a necessidade de restabelecer a ordem pública devido aos protestos violentos que assolam o país sul-americano. Após a notícia da decisão do Governo chileno, a Casa

A capacidade de Macau para acolher eventos internacionais é destacada pela agência noticiosa como uma vantagem para ser uma alternativa credível a Santiago do Chile. Mas a proposta, apesar de, até ao fecho da edição, ainda não ser oficial, pode ser vista como mais que uma decisão de última hora. Tendo em conta as licenças de concessão de jogo que estão nas mãos de empresas norte-americanas, a escolha de Macau para assinar a primeira fase do acordo pode enviar uma mensagem de Pequim para a Casa Branca através da Las Vegas Sands, Wynn Resorts e MGM Resorts. Com as negociações para as novas concessões à porta, este pode ser um trunfo usado por Pequim, tendo em conta os biliões de dólares que estão em jogo. Neste sentido, importa destacar o papel de Sheldon Adelson, uma vez que o bilionário foi um dos principais “financiadores” da campanha presidencial de Donald Trump, assim como outras campanhas de políticos republicanos. Também o magnata, caído em desgraça, Steve Wynn foi um histórico doador de campanhas de políticos republicanos. João Luz

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DSAMA LANÇADO NOVO CONCURSO PARA SISTEMA DE COMBUSTÍVEIS

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Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA) lançou um novo concurso público para a atribuição dos trabalhos de renovação do sistema de combustíveis no Terminal Marítimo de Passageiros do Porto Exterior, que tem como data limite para a apresentação de propostas o dia 18 de Novembro. O acto público de abertura das eventuais propostas apresentadas decorrerá

a 19 de Novembro pelas 10h00 na sede da DSAMA. Inicialmente, o concurso para a atribuição desta obras foi lançado em Abril, com as propostas a serem abertas em Maio. Porém, o concurso teve de ser cancelado uma vez que a empresa estatal Companhia de Produtos Químicos e Petrolíferos Nam Kwong estava presente em todas as propostas apresentadas, uma

em nome próprio e outras duas como accionista. Este facto levou a que a DSAMA não pudesse fazer outra coisa que não fosse cancelar o concurso público. Isto porque uma decisão anterior do Tribunal de Última Instância tinha considerado ilegal a adjudicação da construção de habitação social e de reconstrução do Pavilhão Desportivo de Mong Há ao consórcio da Companhia

de Construção e Obras Portuárias Zhen Hwa e Companhia de Construção & Engenharia Shing Lung. Em causa estava o facto de Long Kuok Keong, accionista da Shing Lung, ser igualmente accionista da empresa Long Cheong. A Long Cheong tinha participado no mesmo concurso público, numa proposta diferente, em consórcio com a empresa Cheong Kong.


6 sociedade

1.11.2019 sexta-feira

HONG KONG MGM E MELCO CONSIDERAM QUE INSTABILIDADE NÃO TEM IMPACTO

temos de apostar nos nossos aspectos mais valiosos e, infelizmente, promover Macau como um destino separado de Hong Kong, para garantir que os turistas entrem e saiam de Macau sem serem afectados”, indicou. “Até agora, não vemos mesmo nenhum impacto”, frisou.

Fim do mito

MGM AUMENTOU RECEITAS

Macau não é Hong Kong. A frase é frequentemente destacada, principalmente nos dias que correm, e a indústria do jogo parece confirmar esta tese. Pelo menos, é o que defendem Lawrence Ho e Jim Murren

O

S responsáveis das concessionárias de jogo Melco Resorts e Entertainment e MGM afirmaram que a instabilidade social em Hong Kong não está a ter impacto visível na indústria do jogo em Macau. As afirmações foram proferidas ontem na apresentação dos respectivos resultados financeiros do terceiro trimestre do ano. Em relação à Melco, empresa liderada Lawrence Ho, filho de Stanley Ho, é admitida a hipótese de impacto positivo. “Se tivermos em conta todos os nossos hotéis em Macau, não vemos verdadeiramente um impacto ligado aos protestos de

“Se tivermos em conta todos os nossos hotéis em Macau, não vemos verdadeiramente um impacto ligado aos protestos de Hong Kong” LAWRENCE HO

No que diz respeito aos dados apresentados ontem pelas concessionárias, a MGM China apresentou um aumento de 21,5 por cento nas receitas líquidas para os 5,78 mil milhões de dólares de Hong Kong. No terceiro trimestre do ano passado o montante cifrou-se nos 4,75 mil milhões de dólares de Hong Kong. Face aos resultados, Jim Murren reconheceu que o sector VIP está em contracção, mas que o mercado de massas tem compensado a quebra, principalmente pelo facto de já se sentirem os efeitos da abertura do MGM Cotai. “O sector VIP continua a enfrentar alguns desafios, mas também não representa uma proporção significante das nossas receitas em Macau. Neste mercado, ganhámos terreno no sector de massas, que continuar a ser muito resistente”, comentou. Por sua vez, a concessionária Melco apresentou lucros no terceiro trimestre de 152 milhões de dólares de Hong Kong face ao mesmo período do ano passado, quando o lucro tinha sido de 88,6 milhões de dólares de Hong Kong. No entanto, os resultados que incluem os montantes gerados com as operações no Chipre e nas Filipinas. “Os fortes resultados financeiros apresentados foram motivados pelo crescimento robusto de 22 por cento nas receitas das messas do jogo”, explicou Lawrence Ho, na apresentação dos resultados.

Hong Kong”, respondeu o multimilionário, quando questionado sobre o assunto. A explicação de Lawrence foi depois complementada por David Sisk, presidente do Hotel City of Dreams. “Até esta altura, ainda não vimos qualquer efeito. Devo dizer que o que verificámos foi um aumento do número de pessoas nos nossos hotéis vindas de Hong Kong, uma vez que muita gente aproveita para se afastar das manifestações”, acrescentou. Por sua vez, Jim Murren, presidente da MGM Resorts, empresa accionista maioritária da MGM China, admitiu alguma confusão por ainda não se ver nenhum impacto. “Na verdade, a situação de Hong Kong é algo relativamente independente em relação a Macau, o que é óbvio. Pode parecer um bocado confuso, mas, até ver, não sentimos nenhum impacto”, revelou Murren. No entanto, o empresário norte-americano admitiu que mesmo assim talvez sejam necessárias medidas para tornar a RAEM um destino de turismo mais independente de Hong Kong. “Acho que os visitantes vão começar a mudar os seus hábitos de viagem. Portanto,

João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

ECONOMIA IMPORTAÇÕES PARA A LUSOFONIA SUBIRAM 9,2% ATÉ SETEMBRO

M

ACAU importou nos primeiros nove meses do ano mercadorias dos países lusófonos no valor de 637 milhões de patacas, mais 9,2 por cento em comparação a igual período de 2018, divulgaram ontem as autoridades do território. Segundo os dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), Portugal exportou para Macau, entre Janeiro e Setembro, 261 milhões de patacas em

mercadorias, um aumento de 19 milhões de patacas em relação ao período homólogo do ano passado. Por outro lado, Macau enviou a Portugal apenas 350.000 patacas nos três primeiros trimestres do ano, quando no mesmo período em 2018 tinha exportado para Lisboa produtos avaliados em mais de 24 milhões de patacas. De acordo com os dados da DSEC, Macau exportou para os países

de língua portuguesa, até Setembro, um milhão de patacas, menos 95 por cento em termos anuais, aumentando assim o défice da balança comercial com os lusófonos. No total, as exportações do território subiram 3,6 por cento até final de Setembro, para 9,39 mil milhões de patacas e as importações diminuíram 2,5 por cento, para 64,07 mil milhões de patacas. O défice da balança comercial, apesar de

negativo, diminuiu para 54,68 mil milhões de patacas, quando de Janeiro a Setembro de 2019 tinha sido de 56,63 mil milhões de patacas. Nos primeiros nove meses, as exportações para a China continental atingiram 1,19 mil milhões de patacas, uma quebra de 23 por cento face a idêntico período do ano passado. O valor das exportações para as nove províncias do Delta do Rio das Pérolas,

vizinhas de Macau, no sul do país, caiu 24,3 por cento. Porém, as exportações para o vizinho Hong Kong aumentaram 7,9 porcento para 6,07 mil milhões de patacas, no período em análise. O valor total do comércio externo de mercadorias em Macau correspondeu a 73,47 mil milhões de patacas até Setembro menos 1,7 por cento face ao período idêntico de 2018.

AMCM Taxa de juro desce para 2%

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) desceu ontem a taxa de juro em um quarto de ponto percentual, para 2 por cento, sendo esta a terceira descida da taxa de referência neste ano. A decisão, explicou a AMCM em comunicado, foi tomada depois do anúncio da descida desta taxa pela Reserva Federal (Fed) dos Estados Unidos, na quarta-feira. A moeda de Macau, a pataca, encontra-se indexada ao dólar de Hong Kong e, por essa via, ao dólar norte-americano. “Com a finalidade de salvaguardar o funcionamento eficaz do regime de indexação cambial da pataca ao dólar de Hong Kong, justifica-se a uniformidade da evolução das políticas de taxas de juros”, justificou assim a AMCM.


sociedade 7

sexta-feira 1.11.2019

TURISMO VISITANTES EM EXCURSÃO COM QUEBRA DE 35,7% EM SETEMBRO

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número de pessoas que visitou Macau em excursões caiu 35,7 por cento em Setembro, “um decréscimo significativo” em relação a igual período de 2018, indicou ontem a Direcção de Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Em comunicado, a DSEC apontou que 448 mil pessoas visitaram Macau em excursões e sublinhou que “o número de visitantes em excursões de todos os países/territórios diminuiu, excepto provenientes da Malásia (4.300 indivíduos), que aumentou em termos homólogos”. Os excursionistas do interior da China (323 mil), da Coreia do Sul (32 mil), de Hong Kong (6.600) e de Taiwan (58 mil) desceram, respectivamente, 39,8, 37,6, 29,9 e 3 por cento. Em Agosto, as autoridades tinham já apontado para uma redução no número de visitantes em excursões de 18,8 por cento, quando comparado com o valor registado no mesmo mês de 2018. Este decréscimo tem preocupado as autoridades de

Macau, já que muitos excursionistas chegam ao território através de um pacote muito popular entre agências chinesas e que inclui Hong Kong, que vive há cinco meses uma grave crise social e política. Entre Janeiro e Setembro deste ano, o número de visitantes em excursões ascendeu a 6.8 milhões, “registando-se um abrandamento no crescimento (4,5 por cento)”. Já os hotéis e as pensões de Macau receberam, em Setembro, 1,11 milhões de pessoas, uma subida de 2 por cento em relação a igual período do ano anterior, segundo as autoridades. Nos três primeiros trimestres de 2019 alojaram-se 10.545.000 hóspedes em hotéis e pensões, ou seja, mais 1,7 por cento em relação ao período homólogo do ano passado. A taxa de ocupação média dos hotéis e pensões atingiu, em Setembro, 84,6 por cento, menos 2,1 pontos percentuais, em termos anuais. O período médio de permanência foi de 1,5 noites, tal como em Setembro de 2018.

INCÊNDIO EDIFÍCIO NA AREIA PRETA “OFERECE CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE”

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STÁ concluído o relatório de vistoria ao bloco 4 do Edifício Kuong Fok Cheong, na Areia Preta, onde deflagou um incêndio de grande dimensão. De acordo com um comunicado da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), o edifício “oferece condições de estabilidade”, apesar de alguns apartamentos continuarem bastante danificados. “Duas fracções, ou seja, o sexto e o sétimo andares do prédio ficaram reduzidos a cinzas e os tectos (ou seja, as lajes do piso superior) ficaram bastante danificados. Deste modo, visto que ainda não se procedeu às obras de demolição e reconstrução das 4 fracções dos sexto, sétimo e oitavo andares, estas não estão ainda em condições de serem utilizadas e os moradores estão proibidos de aceder às mesmas”, aponta a DSSOPT.

Além disso, “as restantes seis fracções podem ser utilizadas de novo, mas, uma vez que revestimentos e instalações básicas, como água ou electricidade, ficaram danificadas em diferentes graus, terão primeiro de ser reparadas”. O mesmo comunicado dá conta que “os revestimentos dos corredores dos sexto e sétimo andares e algumas instalações públicas ficaram também danificadas em diferentes graus, devendo também ser reparados”. Nesta fase ainda há dez fracções provisoriamente vedadas (incluindo a fracção onde o incêndio deflagrou e as fracções adjacentes), “a fim de se poder efectuar nova inspecção e avaliação”. A vistoria ao edifício foi realizada pelo Laboratório de Engenharia Civil de Macau (LECM). A DSSOPT promete “prestar apoio técnico e auxílio aos moradores das fracções afectadas”. A.S.S.

A DST salienta que, perante a diversificação das ofertas de turismo, o campismo é também uma forma de alojamento a considerar

CAMPISMO EM HAC-SÁ GOVERNO DESCARTA ILEGALIDADES

Tendas para todos

O Governo descarta a existência de guias ilegais nos feriados em que o parque de campismo de Hac-Sá serviu de alojamento a centenas de turistas vindos da China. A Direcção dos Serviços de Turismo e o Instituto para os Assuntos Municipais frisam que o uso do parque de campismo por turistas não infringe a lei

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Direcção dos Serviços de Turismo (DST) e o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) emitiram um comunicado conjunto em língua chinesa, citado pelo jornal Exmoo News, onde descartam a existência de qualquer ilegalidade no uso do parque de campismo de Hac-Sá, em Coloane, por parte de turistas da China durante a Semana Dourada. Centenas de pessoas pernoitaram no espaço, o que aumentou o fluxo de turistas na zona e gerou problemas de es-

paço e higiene, noticiou a imprensa chinesa. A DST salienta que, perante a diversificação das ofertas de turismo, o campismo é também uma forma de alojamento a considerar. As leis em vigor não condicionam o seu uso por parte de grupos de excursionistas, além de que não foi constatada, por parte das autoridades, a presença de guias ilegais ligados a essas pernoitas no parque de campismo. O organismo liderado por Helena de Senna Fernandes assegura que seriam necessárias mais provas para concluir uma

possível ilegalidade dos guias turísticos. A DST frisou também que não foram detectados guias ilegais nas mais de cem inspecções realizadas em vários pontos turísticos e postos fronteiriços de Macau durante os feriados da Semana Dourada.

DEFENDIDA MAIS INTERVENÇÃO

Chan Tak Seng, vice-presidente da associação Aliança de Povo de Instituição de Macau, disse que a resposta dada por estes organismos é “absurda”. O responsável exige a implementação de novas leis que

assegurem o funcionamento do parque de campismo de Hac-Sá e regulação do seu uso por parte de grupos excursionistas. Para Chan Tak Seng, as agências de turismo deveriam assumir a responsabilidade por estes grupos. “Caso haja alguns problemas no parque de campismo, tal como violações, assaltos, afogamentos ou disputas entre turistas, quem é o responsável dessas ocorrências?”, questionou. Nesse sentido, Chan Tak Seng defende a criação de disposições claras e a aquisição de seguro obrigatório para utentes.


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1.11.2019 sexta-feira

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 652/AI/2019 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor LIU XISHENG, portador do passaporte da RPC n.° EA3258xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 12/ DI-AI/2018, levantado pela DST a 17.01.2018, e por despacho da signatária de 07.08.2019, exarado no Relatório n.° 325/DI/2019, de 08.07.2019, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.os 361-B - 361-K, Edf. I On Kok, 9.° andar B, Macau.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010.-------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 16 de Outubro de 2019. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

Anúncio Prestação dos serviços de limpeza do Instituto Politécnico de Macau, incluindo as instalações da sede e fora do campus do Instituto (com a excepção dos dormitórios), pelo período de dois anos (01/01/2020-31/12/2021) CONCURSO PÚBLICO N.º 04/DOA/2019 Faz-se público que, de acordo com o despacho de 17 de Outubro de 2019, do Exm.º Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, se encontra aberto concurso público para a Prestação dos serviços de limpeza do Instituto Politécnico de Macau, incluindo as instalações da sede e fora do campus do Instituto (com a excepção dos dormitórios), pelo período de dois anos (01/01/2020-31/12/2021)”. Entidade adjudicante: Chefe do Executivo. Entidade que põe o serviço a concurso: Instituto Politécnico de Macau. Modalidade de concurso: Concurso Público. Objecto do Concurso: Prestação dos serviços de limpeza do Instituto Politécnico de Macau, incluindo as instalações da sede e fora do campus do Instituto (com a excepção dos dormitórios), pelo período de dois anos (01/01/2020-31/12/2021). 5. Período: 1 de Janeiro de 2020 a 31 de Dezembro de 2021. 6. Prazo de validade das propostas do concurso: As propostas do concurso são válidas até 90 dias contados da data de abertura das mesmas. 7. Garantia provisória: $521 083,20 (quinhentas e vinte e uma mil e oitenta e três patacas e vinte avos), através de depósito no Divisão de Assuntos Financeiros do Instituto Politécnico de Macau ou mediante garantia bancária a favor do Instituto Politécnico de Macau, em Macau. 8. Garantia definitiva: 4% do preço global da adjudicação (para garantia do contrato). 9. Condições de admissão: Entidade com sede ou delegação na RAEM cuja actividade total ou parcial se inscreva na área objecto deste concurso. 10. Local, data e hora de explicação: Local: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luís Gonzaga Gomes, em Macau. Data e Hora: 5 de Novembro de 2019, pelas 10H00. Em caso de encerramento do IPM, devido a tufão ou a outro motivo de força maior, no dia referido, a realização da sessão de esclarecimento será prorrogada para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. 11. Local, data e hora do limite da apresentação das propostas: Local: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luís Gonzaga Gomes, em Macau. Data e Hora: 18 de Novembro de 2019, antes das 17H45. Em caso de encerramento do IPM, devido a tufão ou a outro motivo de força maior, no último dia do prazo da entrega das propostas, o termo do referido prazo será prorrogado para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. 12. Local, data e hora da abertura do concurso: Local: na sala n.º M613 do Edifício Meng Tak do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luís Gonzaga Gomes, em Macau. Data e Hora: 19 de Novembro de 2019, pelas 10H00. Em caso de encerramento do IPM devido a tufão ou a outro motivo de força maior no dia da realização da referida sessão, a realização da sessão será prorrogada para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. 13. Local, preço e hora para exame do processo e obtenção da cópia do processo: - Os concorrentes interessados podem deslocar-se à Divisão de Obras e Aquisições do IPM, sito na Rua de Luís Gonzaga Gomes, para consultar/adquirir o respectivo processo do concurso durante as horas de expediente (de 2ª feira a 5ª feira das 09H00 às 13H00 e das 14H30 às 17H45; 6ª feira das 9H00 às 13H00 e das 14H30 às 17H30) desde a data da publicação do anúncio do presente concurso público no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau até ao dia e hora do prazo de entrega de propostas. Caso queiram obter fotocópia do documento acima referido, devem pagar o montante de $100,00 (cem patacas) relativo ao custo das fotocópias, ou podem proceder ao download gratuito das informações acima referidas na página electrónica do IPM (http://www.ipm.edu.mo). - Informações: 8599 6140, 8599 6153 ou 8599 6279. 14. A avaliação das propostas do concurso será feita de acordo com os seguintes critérios: - Preço Razoável (50%) - Qualidade do Serviço (50%): (a) Propostas pormenorizadas para a execução dos serviços de limpeza ao Instituto Politécnico de Macau (por exemplo: sugestões favoráveis ao mapa de caracterização) (20%); (b) Equipamentos e produtos de limpeza (10%); (c) Curriculum Vitae e competências do concorrente (10%); (d) Experiência e declarações abonatórias (incluindo as informações como o número de pessoal e o serviço de duração não inferior a seis meses ou/e a lista dos clientes de eventos de grande escala) prestadas pelas entidades utilizadoras dos serviços de limpeza do concorrente (só dados dos anos 2017 até ao presente) (5%); (e) Esclarecimentos na reunião (as questões profissionais levantadas por Instituto Politécnico de Macau sobre a prestação do serviço da limpeza) (5%). 1. 2. 3. 4.

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 666/AI/2019 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora LIU CHUNXIA, portadora do Salvo Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C60216xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 4/DI-AI/2018, levantado pela DST a 04.01.2018, e por despacho da signatária de 19.08.2019, exarado no Relatório n.° 382/DI/2019, de 06.08.2019, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 405, Edf. Seng Vo , 14.° andar A, Macau onde se prestava alojamento ilegal.----------------------No mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ---------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 16 de Outubro de 2019. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 667/AI/2019 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor GAO GUANGKAI,portador do passaporte da RPC n.° EA0177xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 4.1/DI-AI/2018, levantado pela DST a 04.01.2018, e por despacho da signatária de 19.08.2019, exarado no Relatório n.° 383/ DI/2019, de 06.08.2019, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 405, Edf. Seng Vo, 14.° andar A, Macau.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010.-----------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 16 de Outubro de 2019. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

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Macau, aos 29 de Outubro de 2019 A Presidente em exercício, Lei Ngan Lin


sociedade 9

sexta-feira 1.11.2019

Meteorologia Macau e Zhuhai partilham radares de previsão

DIREITOS JOVEM DEFENDE LEGALIZAÇÃO DE CASAMENTO GAY

Cartas de amor Guzifer, jovem que está a tentar casar com o parceiro em Taiwan, enviou uma carta a Sónia Chan onde defende a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Recentemente, a secretária negou esta possibilidade por considerar a sociedade de Macau muito tradicional

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UZIFER Leong, jovem local impedido de se casar em Taiwan com o parceiro, escreveu uma carta aberta à secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, a contestar o argumento de que Macau não deve legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo por ser uma

sociedade tradicional. O residente, radicado na Ilha Formosa, defende ainda que o território deve actualizar as tradições e reconhecer os direitos humanos básicos. No documento que começou a circular na noite de quarta-feira, Guzifer Leong começa por rebater o argumento de que Taiwan é uma sociedade menos tradicional do que Macau, fazendo a ligação entre a população e as instituições religiosas. Na sua argumentação o jovem apresenta as médias de templos e igrejas em Taiwan e Macau por cada 10 mil habitantes. No caso da Formosa diz haver 6,5 templos por cada 10 mil habitantes, um número superior a Macau que tem 0,5 templos pelo mesmo número de habitantes. A mesma lógica é utilizada para as igrejas, em Taiwan existe uma média de 1,5 igrejas por cada 10 mil habitantes, enquanto em Macau são 0,3 igrejas por 10 mil habitantes. “Parece que Macau não é assim tão tradicional como a secretária pensava. Nem Taiwan é assim uma sociedade ‘tão pouco tradicional’”, considera face aos dados apresentados. Guzifer Leong vai igualmente à história das duas regiões de uma perspectiva legal e indica que Macau caminhou primeiro no sentido de terminar com a monogamia, quando em 1966 adoptou

a definição do código civil para o casamento. Já em Taiwan. esta mudança apenas foi registada em 1985. “Do ponto de vista jurídico, podemos ver que Taiwan é mais tradicional do que Macau”, sublinha.

EXEMPLO PORTUGUÊS

Por outro lado, o residente dá ainda o exemplo da legislação em Portugal, que serve de inspiração para o Direito local. “Quando falamos da ‘tradição jurídica’ estamos a falar das leis de Portugal que teoricamente são aplicadas em Macau”, apontou. “Porém, a ‘nossa tradição jurídica’, Portugal, aprovou a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo em Fevereiro de 2010. Será que não faz sentido mudar, até

“Tal como a Organização das Nações Unidas defende, os juízes de Taiwan consideraram que se trata de um direito humano e os direitos humanos têm mais peso do que a tradição.” GUZIFER LEONG RESIDENTE LOCAL

quando a nossa ‘tradição jurídica’ já mudou?”, questiona. Finalmente, Guzifer Leong insiste na questão dos Direitos Humanos e nas críticas que Macau tem recebido por não oferecer garantias aos casais do mesmo sexo. “Nos relatórios internacionais sobre os direitos humanos de 2014 e 2015, a questão da falta de protecção e garantias à comunidade homossexual foi diversas vezes mencionada”, indicou. “Se Taiwan é uma sociedade mais tradicional do que Macau, porque é que acha que eles conseguiram legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo? Porque tal como a Organização das Nações Unidas defende, os juízes de Taiwan consideraram que se trata de um direito humano e os direitos humanos têm mais peso do que a tradição”, apontou. O jovem defende assim a necessidade de se reconhecer o casamento entre pessoas do mesmo sexo e diz que a tradição de Macau só pode parar essa realidade, caso a tradição vigente seja a de “oposição à mudança”. Guzifer Leong e o parceiro, Chen Shin Chi, natural de Taiwan, estão actualmente numa batalha legal na Ilha da Formosa para que o casamento entre os dois possa ser reconhecido. A legislação de Taiwan admite o matrimónio homossexual. Porém, quando a ligação é entre cidadãos de Taiwan e pessoas de fora, o contrato só é reconhecido se a jurisdição da pessoa do exterior admitir essa possibilidade. Como Macau não reconhece o casamento entre casais do mesmo sexo, os dois estão num impasse. João Santos Filipe In Nam Ng

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Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) anunciaram ontem a assinatura de um acordo de cooperação com as entidades homólogas de Zhuhai com vista à partilha de uma rede de radares de vigilância e previsão meteorológica. O plano envolve a instalação de quatro radares e a construção de uma rede de radares para monitorizar desastres meteorológicos de curto prazo, como chuva intensa, granizo e tornados nas proximidades do território. O comunicado dos SMG sublinha que “nos últimos anos, foi construída a ‘Rede de Detecção Meteorológica Integrada no Estuário do Rio das Pérolas’”, que incluiu a instalação de radares, radiómetros, ‘wind-profiler’ para melhorar a capacidade de exploração meteorológica integrada do território e da costa oeste do Rio das Pérolas”.

Tradução Macau e Pequim premeiam vencedores de concurso

A Universidade de Macau (UM) e a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (BFSU) entregaram os prémios do 1.º Concurso de Tradução Chinês-Português para instituições de ensino superior da China, anunciou ontem a instituição em comunicado. A cerimónia teve lugar nas instalações da UM na quarta-feira. Duas alunas, uma da BFSU e outra da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, venceram a prova, disputada a 28 de Outubro. Segundo a organização, “acredita-se que o concurso aumentou o entusiasmo dos alunos de português e descobriu potenciais tradutores de chinês-português”. No comunicado, sublinha-se ainda o facto de actualmente existirem na China “mais de 40 instituições de ensino superior que possuem cursos de licenciatura em português”.


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1.11.2019 sexta-feira

Harmonia e O arquitecto Carlos Marreiros volta a protagonizar uma nova mostra, na Galeria do Tap Seac, onde também revela ao público o seu mais recente trabalho artístico, intitulado “Red December”, bem como outras obras que tem realizado em cadernos pessoais. “Red December” representa a “utopia do artista” em prol da inclusão de todas as culturas num só espaço

HOJE MACAU

TAP SEAC “RED DECEMBER”, NOVA OBRA DE CARLOS MARREIROS, EM EXPOSIÇÃO

PINTURA DESCOBERTOS FENÓMENOS DA FÍSICA NA TÉCNICA DE JACKSON POLLOCK

INSTITUTO CULTURAL “FICÇÃO E NÃO FICÇÃO” NA CINEMATECA PAIXÃO

O

C

artista norte-americano Jackson Pollock (1912-1956) terá usado conhecimentos da física nas suas pinturas, consideradas muitas delas ícones da arte do século XX, revela o estudo de uma equipa de cientistas ontem divulgado. De acordo com o estudo publicado no jornal científico norte-americano “Plos One”, foram analisadas as telas que o artista pintava deitadas no chão, não com pincel, mas usando uma técnica de atirar tinta, que deixava filamentos sinuosos. A equipa de investigadores, que também envolveu a Universidade

Nacional Autónoma do México, analisou a forma de pintar de Pollock e descobriu que o artista - conscientemente ou não - usou conhecimentos de fenómenos da física, nomeadamente um fenómeno clássico da dinâmica de fluidos. A técnica do pintor parece - segundo os cientistas - ter conseguido evitar intencionalmente um fenómeno conhecido por “instabilidade de enrolamento”, que é a tendência de um fluido viscoso frisar, criar ondas sobre si mesmo, em vez de se expandir, quando deitado para cima de uma superfície. Os cientistas fizeram

a experiência de medir a distância e velocidade a que o artista lançava a tinta, reproduzindo as suas técnicas, e eram esses factores - conjugados com a tinta viscosa - que davam o efeito final ao seu trabalho. “Tal como a maioria dos pintores, Jackson Pollock fez um longo caminho de experimentação para aperfeiçoar a sua técnica”, afirma Roberto Zenit, professor na Brown School of Engineering, e principal autor do estudo. Estas descobertas poderão ajudar os peritos a verificar as obras originais do autor, e a detectar cópias.

HAMA-SE “Ficção e Não Ficção - Montando 24 fotogramas da realidade através de filmes não narrativos” e é a mais recente mostra patente no espaço da Cinemateca Paixão. Trata-se de uma “exposição destinada a apresentar a vídeo arte e a promover diversos tipos de vídeos junto de residentes e turistas”, descreve em comunicado o Instituto Cultural (IC). O objectivo desta iniciativa é o de “elevar a atmosfera artística da cidade” e tem no cartaz a exibição de produções de cinco artistas: Lao Keng U (Macau), Liao Jiekai (Singapura), Yosep Anggi Noen (Indonésia), Tu-

lapop Saenjaroen (Tailândia) e Raya Martin (Filipinas). Tratam-se de “filmes não narrativos na forma de vídeo arte, filmes experimentais e de vanguarda”. Para o IC, “os filmes experimentais criados por estes cinco artistas, independentemente da sua duração, constituem uma tentativa de dar ao público um olhar mais atento ao absurdo, à qualidade e à reflexão para além de meras imagens, e sondar a compreensão e a construção da realidade sob uma nova perspectiva”. Esta mostra fica patente até dia 31 de Dezembro e poderá ser visitada de terça-feira a domingo entre as 10h00 e 20h00.


eventos 11

e utopia R

ED December – Exposição de Carlos Marreiros” é o nome da nova mostra do arquitecto de Macau que decidiu embrenhar-se novamente no mundo da arte. O público poderá ver, na Galeria do Tap Seac, entre os dias 8 de Novembro e 13 de Fevereiro de 2020, a nova obra do arquitecto. Além disso, e de acordo com uma nota oficial difundida pelo Instituto Cultural (IC), a mostra será também composta por uma série de pinturas que Carlos Marreiros tem feito nos em cadernos de esboços. A nova obra de Carlos Marreiros constitui “uma grande composição repleta de pequenos detalhes”, retratando “uma cena em que figuras históricas chinesas e ocidentais de diferentes épocas se reúnem e se envolvem numa aprazível conversa”. “Red December” representa, assim, “a visão utópica do artista, onde diferentes culturas coexistem harmo-

niosamente no seio de uma sociedade inclusiva”. O IC acrescenta ainda que “as pinturas dos seus cadernos de esboços espelham o processo criativo e reflectivo diário do artista ao longo dos anos, permitindo ao público conhecer

A nova obra de Carlos Marreiros constitui “uma grande composição repleta de pequenos detalhes”, retratando “uma cena em que figuras históricas chinesas e ocidentais de diferentes épocas se reúnem e se envolvem numa aprazível conversa”

de perto as suas fontes de inspiração e percorrer o seu mundo criativo, no qual se fundem elementos das culturas chinesa e ocidental”.

DENTRO DA “ART MACAO”

Esta mostra de Carlos Marreiros está inserida na iniciativa governamental “Art Macao”, que visa mostrar ao público exposições e outras actividades do foro artístico em estreita colaboração entre o IC, espaços públicos de exposição e operadoras de jogo. Além de artista, Carlos Marreiros tem estado ligado a inúmeros projectos de arquitectura em Macau, em destaque o novo projecto de ampliação da Escola Portuguesa de Macau e o projecto de edificação da nova Biblioteca Central de Macau. “Red December – Exposição de Carlos Marreiros” pode ser visitada, de forma gratuita, todos os dias entre as 10h00 e as 21h00 horas, incluindo nos dias feriados. A.S.S.

OKINAWA INCÊNDIO ATINGE CASTELO HISTÓRICO EM

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M incêndio deflagrou ontem de madrugada no histórico Castelo de Shuri, em Okinawa, no Japão, tendo as chamas já destruído o salão prinicipal e outras estruturas deste monumento que é património da UNESCO, anunciaram as autoridades. O alerta para o incêndio foi dado às 02:40 e o combate às chamas ainda mobilizava à hora do fecho desta edição vários operacionais. O fogo, que teve início no salão principal, Seiden, já consumiu 4.200 metros quadrados do complexo, de acor-

do com a emissora NHK. Não há, até ao momento, registo de feridos, mas 30 pessoas foram retiradas das suas casas e transferidas para locais mais seguros, disse o porta-voz da polícia de Okinawa, Ryo Kochi.As causas do incêndio ainda estão a ser apuradas. Além do salão principal, as chamas já consumiram o salão norte (Hokuden) e uma terceira estrutura, Nanden, está quase destruída. O castelo é um símbolo da herança cultural de Okinawa desde a época do Reino de Ryukyu, que se estendeu por cerca de 450 anos, de 1429

até 1879, quando a ilha foi anexada pelo Japão. O monumento é também um símbolo da luta e do esforço de Okinawa para se recuperar da Segunda Guerra Mundial. O palácio foi destruído durante a Batalha de Okinawa, em 1945, mas foi amplamente restaurado em 1992 e abriu depois como um parque nacional. Em 2000, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) declarou o castelo como Património Mundial da Humanidade.

VITORINO CORAGEM

sexta-feira 1.11.2019

Escritor em trânsito

Zhuhai e Hong Kong nos planos de Valério Romão

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ALÉRIO Romão viaja hoje para Macau onde vai residir durante um mês no âmbito de uma residência artística organizada pela agência literária Capítulo Oriental e com o apoio da Fundação Oriente e Casa de Portugal em Macau. Em entrevista ao HM, o autor revelou a vontade de explorar não apenas a singularidade do território, mas também das cidades vizinhas, como é o caso de Hong Kong e Zhuhai. “Queria ir também a Hong Kong, por todos os motivos, sobretudo pelo que se está a viver lá. Talvez vá também a Zhuhai. Ainda não fiz muitos planos, acho que vou deixar a coisa fluir”, confessou. Questionado sobre a possibilidade de vir a usar os protestos de Hong Kong como pano de fundo para um novo romance, o escritor português, que também colabora com o HM, não negou essa hipótese. “Escrever sobre os protestos é sempre uma possibilidade, a dúvida é que eu tenha tempo suficiente em Hong Kong para perceber o que se está a passar com a profundidade necessária”, disse o escritor. A viagem a Oriente marca uma nova etapa em termos de produção literária. Depois de ter escrito uma trilogia de romances sobre as temáticas da família e do autismo, intitulada “paternidades falhadas” e composta pelos livros “Autismo”, “O da Joana” e “Cair para Dentro”, recentemente lançado, o autor anseia por escrever sobre outras coisas.

“A minha vontade não é voltar ao tema da família, é ir para outro sítio e explorar outras perspectivas. Quero escrever sobre coisas completamente diferentes do que tenho escrito até aqui.”

NO PRINCÍPIO ERA PESSANHA A primeira vez que Valério Romão pisou o Oriente foi em 2017, aquando da iniciativa “Camilo Pessanha – 150 Anos”, organizada pelo HM. Foi aí que surgiu a vontade de viver por um período no território para escrever algo de novo. Daí aos contactos com Hélder Beja, director da Capítulo Oriental, foi um passo. Esta viagem fica marcada por presenças do escritor na Escola Portuguesa de Macau, Instituto Politécnico de Macau e departamento de português da Universidade de Macau (UM), sem esquecer a participação, como moderador e orador, na conferência internacional Asia Pacific Writers & Translators (APWT), a decorrer na UM entre 5 e 7 de Novembro. Valério Romão, que já tem ideias para um novo romance, não sabe ainda sobre o que vai escrever, mas tem a certeza que pretende explorar a diversidade de culturas existente num só território. “Quero sobretudo aproveitar o tempo para absorver o que Macau tem para dar. Eventualmente alguma coisa surgirá, dentro do âmbito do romance que estou a pensar escrever ou noutro âmbito que tenha mais a ver com Macau e com todas as culturas lá existentes”, rematou. A.S.S.


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1.11.2019 sexta-feira

ECONOMIA INDÚSTRIA MANUFACTUREIRA RECUA PELO SEXTO MÊS CONSECUTIVO

As folhas de Outono

A actividade da indústria manufactureira da China contraiu em Outubro, pelo sexto mês consecutivo, informou ontem o Gabinete Nacional de Estatísticas chinês, numa altura de tensões comerciais entre Pequim e Washington

P

ELO sexto mês consecutivo, a indústria manufactureira da China registou quebras, de acordo com o Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês. O índice de gestão de compras (PMI, na sigla em inglês) caiu cinco décimas, face ao mês anterior, e fixou-se nos 49,3 pontos, detalhou a mesma fonte.

Quando se encontra acima dos 50 pontos, o indicador de actividade da indústria manufactureira sugere uma expansão do sector, pelo que abaixo dessa barreira pressupõe uma contracção. Em 2019, o PMI expandiu-se apenas em Março e Abril, 50,5 e 50,1 pontos, respectivamente. No mês passado registou sinais de recuperação ao

subir três décimas, em relação a Agosto, para 49,8 pontos. Este índice é tido como um importante indicador mensal do desenvolvimento da segunda maior economia do mundo. O sub-índice que calcula a procura por trabalhadores pelas empresas manufactureiras recuperou 0,3 por cento, para 47,3 pontos, enquanto os de novos pedidos e reservas de matérias-primas caíram. O GNE avançou ainda os dados da indústria não

manufactureira, cujo índice de gerente de compras atingiu os 52,8 pontos, em Outubro, uma queda de quase um ponto, em comparação com os 53,7 pontos de Setembro, o valor mais baixo daquele indicador nos últimos três anos. O sub-índice que mede a actividade dos serviços caiu para 51,4 pontos, depois de se ter fixado nos 53 pontos, em Setembro, enquanto as expectativas de negócios naquele sector aumentaram para 59,3 pontos, em relação

Para a consultora Capital Economics, os dados são piores do que o esperado, o que revela que “a melhoria registada no final do terceiro trimestre não marcou o início de uma recuperação sustentada”

aos 59,3 pontos do mês anterior.

ÁGUA NA FERVURA

O analista do GNE Zhao Qinghe observou que houve uma "rápida expansão" em sectores como o transporte aéreo e ferroviário, empresas bancárias e de seguros, todos com índices acima dos 65 pontos. O indicador para o sector da construção fixou-se nos 60,4 pontos, em relação aos 57,6 de Setembro, retornando a um "nível relativamente alto de expansão". Para a consultora Capital Economics, os dados são piores do que o esperado, o que revela que "a melhoria registada no final do terceiro trimestre não marcou o início de uma recuperação sustentada". "O declínio nos novos pedidos para exportação indica uma desaceleração adicional", afirmou a consultora, em comunicado. A economia chinesa cresceu 6 por cento, no último trimestre, o ritmo mais lento em quase 30 anos, mas quase o dobro do crescimento médio mundial.

TELECOMUNICAÇÕES OPERADORAS CHINESAS LANÇAM HOJE SERVIÇOS 5G

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S três principais operadoras de telecomunicações na China vão começar hoje a comercializar serviços de internet de quinta geração (5G), num momento em que o país procura expandir a sua tecnologia globalmente, num cenário de rivalidade com Washington. A China Mobile, a maior operadora do mundo em termos de número de assinantes, disse que a quinta geração de internet móvel

estará disponível a partir de hoje e cobrirá 50 cidades em todo o país, incluindo Pequim e Xangai. As concorrentes China Telecom e China Unicom também oferecem serviços 5G nas principais cidades, segundo os seus portais. A internet 5G, que é 100 vezes mais rápida do que as redes 4G existentes, poderá transmitir grandes quantidades de dados a grande velocidade – transferir um filme levará apenas alguns segundos.

As redes sem fio 5G destinam-se a conectar carros autónomos, fábricas automatizadas, equipamento médico e centrais eléctricas, pelo que vários governos passaram a olhar para as redes de telecomunicações como activos estratégicos para a segurança nacional. Austrália e Nova Zelândia baniram as redes 5G da Huawei, por motivos de segurança nacional, após os Estados Unidos e Taiwan,

que mantém restrições mais amplas à empresa, terem adoptado a mesma medida. Também o Japão, cuja agência de cibersegurança classificou a firma como sendo de "alto risco", baniu as compras à Huawei por departamentos governamentais. Agigante das telecomunicações disse em Outubro que assinou cerca de 60 contratos em todo o mundo com operadoras para implantar a sua tecnologia 5G.

BÉLGICA PEQUIM CONDENA DECISÃO DE EXPULSAR ACADÉMICO POR ESPIONAGEM

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China condenou ontem a decisão da Bélgica de expulsar um dirigente do Instituto Confúcio e proibi-lo de voltar a entrar nos 26 países do espaço Schengen, pelos próximos oito anos, por suspeitas de espionagem. Um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros disse que a China se opõe "fortemente" àquela decisão, que "dificulta o intercâmbio regular e a cooperação académica". Os jornais belgas De Morgen e De Standaard referiram suspeitas de "espionagem" ao serviço do Governo chinês, mas sem avançar detalhes. "A imprensa belga afirmou recentemente que o professor Song Xinning estava a recrutar espiões nos círculos empresariais e académicos locais na China", afirmou o porta-voz, Geng Shuang. "Isso é completamente falso e revela segundas intenções", disse. Song Xinning residia na Bélgica desde 2007 e a renovação do seu visto foi recusada, em Novembro, pelo serviço de estrangeiros e fronteiras, "por atentar contra a segurança nacional".Na Austrália, Canadá ou Estados Unidos, os Institutos Confúcio são regularmente acusados de interferir com a actividade académica das universidades onde estão instalados, em defesa do regime chinês. O contrato de Song com a Universidade Libre de Bruxelas, onde trabalhava desde 2016, foi também suspenso. Na Bélgica, o lançamento do Instituto Confúcio mereceu uma cerimónia oficial, em 2015, que reuniu o primeiro-ministro belga Charles Michel e o seu homólogo chinês, Li Keqiang. Existem mais de 500 Institutos Confúcio em todo o mundo. Em Portugal, estão em cinco universidades portuguesas - Aveiro, Coimbra, Lisboa, Minho e Porto. No seu site, o Instituto Chinês destaca o Instituto Confúcio em Bruxelas, por permitir o contacto com "funcionários da UE, diplomatas e representantes de organizações internacionais" estabelecidos na capital belga.


sexta-feira 1.11.2019

Compro um livro, entro no amor como em casa.

E entre Oriente e Ocidente

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FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO

Gonçalo M. Tavares

Estão prontas dez mil coisas, só falta o vento Leste Provérbio chinês

2. Poemas do Oriente, Mistério Um cofre no meio da floresta. Que necessidades desconhecidas terão as árvores e as cigarras para no meio delas se colocar uma caixa, um cofre? Alguém fala de um outro animal que por aqui também anda e que quer tudo o que pode mudar de sítio, tudo o que portátil: o homem, é por causa do homem que se fecham as coisas. Mas alguém diz ainda: o cofre está vazio, completamente vazio, mas mesmo assim, nenhum instrumento humano será capaz um dia de o abrir. Não consegues abrir um cofre que está vazio e já aberto – ele é sempre mais forte. Não tens força, inteligência, destreza para mudar algo que não pode ser mudado.

1. Picada Parece que foi Donald Richie, escritor americano que viveu grande parte da sua vida no oriente, a afirmar que se fica contagiado por essa parte do mundo como se fosse uma picada de insecto. Não é contágio lento, é algo súbito. E que depois fica. Eu diria, uma picada que nunca mais deixará de fazer um som. Um som sem som, um som mudo, mas que é um chamamento: não sais daqui. Ou: não te esqueças de mim. Como uma picada. Ou seja: de um momento para o outro. Picada ou iluminação, dois termos que atiram para o instantâneo. De um momento para o outro, o escuro fica claro (iluminação) e de um momento para o outro a pequena dor que se sente, numa mínima parte da pele, muda por completo o nosso foco, o nosso caminho; no limite: a nossa biografia. Pensar numa picada que ilumina, uma picada que ilumina antes da electricidade: uma luz natural.

ILUSTRAÇÕES ANA JACINTO NUNES


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1.11.2019 sexta-feira

Dia de Todos os Santos

tonalidades António de Castro Caeiro

Georg Trakl Oh! como parecem existir aqui, cheios de angústia e humildade, Como sombras de pé, atrás de negros arbustos. No vento de outono, lamenta-se o choro dos não nascituros, Também se vêem luzes perderem-se na loucura.

É

difícil de perceber como cada pessoa não se esgota nem no seu semblante, nem na sua aparência, nem no seu corpo, mas como é portadora de uma multidão de gente contemporânea, antepassada, posterior. É assim que se passa conosco e podemos adivinhar que se passa com os outros por quem passamos, com quem está à nossa frente, desconhecidos, mas também conhecidos. Cada pessoa é uma atmosfera. Cada pessoa existe não apenas nesse interior contemporâneo à situação em que se encontra, mas está determinada a existir com as influências que os outros têm sobre si próprio. Acontecemo-nos uns aos outros, deixamos os outros

ficar bem ou mal, damo-nos alegrias e tristezas. Cada pessoa é o mundo complexo de que é portadora. Leva a sua vida, carrega-a. Todos nós somos as nossas pessoas e estamos implicados em todos os outros por mais abstracto que seja o círculo dos círculos: a humanidade. Levamos conosco todas as pessoas das nossas vidas. Quando duas pessoas se encontram estão multifacetadas por toda a gente que existe no seu interior. Este interior é tão exterior que somos com as impressões que os outros deixaram. As vidas passadas dos outros existem ainda, mesmo que tenham desaparecido, não estejam entre nós, como dizemos. Lembro-me de como antepassados me pediram para levar cravos à sua sepultura futura, de como era importante que soubessem que ficariam a viver em mim, como se isso os isentasse à morte e não os deixasse

Coisa estranha. À medida que o tempo passa, temos mais gente morta viva em nós do que pessoas vivas que nos digam alguma coisa

enterrados numa sepultura não visitada. Ia sempre no dia de todos os santos visitar os parentes mortos, as avós e o avô e aquele amigo de infância desde toda a hora que teve uma vida tão breve quanto violenta e triste. Quando passava de carro com o meu pai pelo cemitério onde estava enterrado, levava-o comigo até à praia. Era só com a voz que eu convivia. Durante anos lembrava-me de como era a sua voz, mas depois acabei por esquecer, para só de quando em vez me lembrar dela. Era miúdo quando passava de carro em frente ao cemitério. Depois despedia-me dele, invisível, como quem deixa um amigo em casa e seguia a minha vida, como todos os que ficaram vivos seguem. Não é quem morre que fica. É quem permanece na vida que fica, pelo menos ainda, para morrer. Todos os nossos mortos estão já isentos, saíram de cena, não estão em jogo. E não desapareceram. Coisa estranha. À medida que o tempo passa, temos mais gente morta viva em nós do que pessoas vivas que nos digam alguma coisa. Somos determinados pelas atmosferas passadas dos outros e que criam ainda agora atmosferas presentes e futuras. Mesmo com o aumento da população mundial, sobrevivemos a todos, somos o resto, sou o resto, como se estivesse com o feixe na mão a alumiar a noite escura. As labaredas da chama têm ainda iluminado o passado presente dos outros todos que se foram. Há cemitérios cheios de gente que lá foi em romaria no dia de todos os santos, famílias inteiras que se reúnem sentadas a falar dos mortos e com os mortos. Outrora ficava perplexo com as imagens cinematográficas em filmes de personagens norte-americanas que visitavam campas relvadas em cemitérios e falavam verdadeiramente com os seus mortos. Todos falamos com os nossos mortos. Eles falam conosco, quando menos se espera, mas perguntamo-nos e se soubessem como nos encontramos agora, o que fizemos das nossas vidas. Talvez não precisemos de ir aos cemitérios nem que sejam em campos relvados ou tenhamos os nossos mortos em casa como a tradição japonesa. Se os nossos mortos não fazem sentir a sua presença podemos pensar neles, com aquela forma preciosa de conjuramento em que eles aparecem como se fosse véspera de Natal, dia de aniversário, ou então só um dia bom em que eles estavam bem e se sentiam felizes. E nós com eles.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

sexta-feira 1.11.2019

ofício dos ossos Valério Romão

L

OGAN, de 2017, é certamente um dos filmes de super-heróis mais conseguidos de sempre. Chamar-lhe filme de super-heróis é já em si reduzir o âmbito do seu alcance e impacto; aliás, quem entrou para a sala de cinema convencido de que Logan era apenas mais uma sequência inofensiva de pirotecnias e lamechices telenovelescas a somar à longa fileira de filmes de super-heróis que têm temperado os baldes industriais de pipocas que se vêem agora nos cinemas deve ter, no mínimo, apanhado uma surpresa. O filme retrata um Logan envelhecido e praticamente desprovido do factor de cura que lhe permitia enfrentar ferimentos, doenças e idade com a mesma displicência. Para ganhar a vida, Logan conduz limousines. A Jessica Jones da série da Marvel (que conseguiu, depois de uma excelente primeira temporada, esfrangalhar personagem, percurso narrativo e interesse em pouco mais de uma dúzia de episódios subsequentes) versa uma jovem super-heroína “para adultos”, i.e., apresenta uma personagem complexa, a braços com uma carreira de herói que nunca consegue assumir completamente e com problemas resultantes do seu alcoolismo. Jessica Jones trabalha como detective para pagar as contas e comprar whiskey manhoso. Clark Kent, alter-ego do Super-homem que todos conhecemos e celebri-

Carga de trabalhos zado no cinema pelo malogrado Christopher Reeve, é jornalista. Matt Murdock, a outra face do super-herói Demolidor, é advogado. A imensa maioria dos super-heróis tem um alter-ego e um emprego. Dir-se-á que assim estão integrados na comunidade e que, simultaneamente, protegem as suas verdadeiras identidades (no caso de Clark Kent e do Super-homem, bastam uns óculos de massa para converter o super-herói mais poderoso do universo DC num repórter pusilânime e introvertido). Mas para que precisam eles de um trabalho além do trabalho específico de super-herói? Ou de uma identidade se-

creta na pele de um anónimo proletário do dia-a-dia? A resposta não advém de uma qualquer especificidade da trama narrativa. A resposta tem que ver com um dos aspectos mais fundamentais da cultura americana, berço de todas estas criaturas sobre-humanas: o trabalho enquanto ponto arquimédico do valor do indivíduo na sociedade. Por muito irracional que nos pareça, deste lado de cá do Atlântico, que salvar o mundo não confira ao sujeito valor moral suficiente para não precisar de fazer outras coisas, a realidade é que o capitalismo americano, de braço dado com um protestantismo absolutamente desprovido da associação

Só assim se compreende que o homem mais poderoso do mundo seja obrigado a dividir o seu tempo e a amputar a sua produtividade salva-vídica assumindo a profissão de jornalista. Dou de barato que, com os seus poderes, ele possa trocar de identidade em átomos de segundos, mas, ainda assim, encanta-me pensar que aquela criatura passe metade do seu dia num exercício de miserável modéstia ontológica em vez de estar a carregar contentores de cereais para África ou a reflorestar a Amazónia

da culpa ao dinheiro, concebe o sujeito trabalhador como o grau zero de humanidade possível. Crer em Deus e pagar os impostos devidos são os dois pilares genéticos do Americanus Vulgaris. Só assim se compreende que o homem mais poderoso do mundo seja obrigado a dividir o seu tempo e a amputar a sua produtividade salva-vídica assumindo a profissão de jornalista. Dou de barato que, com os seus poderes, ele possa trocar de identidade em átomos de segundos, mas, ainda assim, encanta-me pensar que aquela criatura passe metade do seu dia num exercício de miserável modéstia ontológica em vez de estar a carregar contentores de cereais para África ou a reflorestar a Amazónia. Isto bem planeado e escalonado, não lhe devia faltar coisinhas mais importantes que fazer do que escrever sobre a greve de comboios em Metropolis. Este arvoramento do trabalho em condição sine qua non de humanidade é bem visível no modo como a maioria dos americanos vê o acesso a cuidados de saúde. Mais do que uma escolha resultante de uma cultura de liberalização económica, está em causa uma noção de merecimento do acesso aos cuidados de saúde que, nos Estados Unidos, é tão oneroso que só com um seguro de saúde (proporcionado pelo empregador) se torna possível. Só merece ser tratado quem ocupa as mãos de forma produtiva, diz o espartanismo americano.


4 3 3 4 5 8 0 9 6 1 7 2 7 6 3 5 2 4 1 9 8 0 9 2 0 6 1 8 4 7 3 5 TE 1 M7P O9 4M U 3 I T6O2 N5 U0B L8A D O 4 5 7 2 8 1 0 3 6 9 0 8 6 3 9 7 5 2 1 4 3 1 0FAZER 5 2 8 4 9 7 O6 QUE 5 1 8SEMANA 9 4 3 7 0 2 6 ESTA 2 9 4 7 6 0 3 8 5 1

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Hoje INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO “YINGMEI CURIOUS MACAU” 51 Armazém do Boi | 18h30 1 0 9 6 8 2 7 3 5 4 Amanhã 5 3 8 0 9 7 4 2 1 6 MACAO-LATIN COFFEE AND TEA FESTIVAL-MAPEAL 4 2 1 9 6 5 3 7 8 0 Torre de Macau | Entre as 15h00 e 17h30 7 4 5 3 1 0 8 6 2 9 8 6 2 7 3 4 9 1 0 5 Segunda-feira IV CICLO DE CINEMA 9 8 6 2DE MOÇAMBIQUE 4 1 0 5 3 7 Fundação Rui Cunha | Até 7 de Novembro 3 7 0 5 2 8 6 9 4 1 0 5 3 4 7 6 1 8 9 2 Diariamente EXPOSIÇÃO 6 9 | “LÍNGUA 4 1FRANCA 5 –32ª EXPOSIÇÃO 2 0 ANUAL 7 8 DE ARTES ENTRE A CHINA E OS PAÍSES DE LÍNGUA 2 1 7 8 0 9 5 4 6 3 PORTUGUESA” Vivendas Verdes e Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino | Até 8 de Dezembro

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2 1 | “QUIETUDE 4 3 E8CLARIDADE: 5 7OBRAS 6 DE0CHEN9ZHIFO EXPOSIÇÃO DA COLECÇÃO DO MUSEU 5 6 9 7 2DE NANJING” 3 0 8 1 4 MAM | Até 17 /11

0 7 1 6 9 4 8 2 5 3 8 5 | “WE 0 ART9SPACE 6 - DOCUMENTARY 7 3 1 EXHIBITION” 4 2 EXPOSIÇÃO Armazém do Boi | Até 8/12 3 4 2 8 0 1 9 7 6 5 6 9 8 2 1 0 5 4 3 7 4 0 3 5 7 2 1 9 8 6 1 3 7 4 5 6 2 0 9 8 Cineteatro 7 8 5 1 4 9 6 3 2 0 9 2 6 0 3 8 4 5 7 1

C I N E M A

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7 1 4 0 9 2 1 7 5 8 0 6 4M3A X8 6 2 9 5 4 3 9 5 1 3 8 0 2 6 7

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EM CHAMAS 54 4 2 5 8 3 1 9 6 0 7

7 1 9 4 6 0 5 3 8 2

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3 5 8 1 0 6 2 9 7 4

5 0 3 2 9 7 4 1 6 8

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 54

1 8 6 7 4 2 0 5 3 9

8 2 3 6 6 8 7 4 258 0 0 5 9 1 4 7 2 9 1 3 8 2 0 9 3 5 4 1 6 7 8 9 7 3 5 4 6 0 2 1

5 9 1 7 4 0 9 3 H2U 1 M 3 8 6 2 0 6 7 4 8 5

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9 6 7 2 0 4 5 7 5 5 - 9 03%8 6 1 4 9 8 3 1 0 2 5

3 8 1 2 •5 0 7 4 9 6

1 0 5 6 3 4 9 2 6 0 8 9 E U1R O 4 7 2 4 8 3 6 0 5 7 2 8 5 3 7 9 1

7 8 2 5 9 0 8 7 5 1 4 3 98 . 29 96 3 5 9 2 1 8 6 0 1 4 6 7 0 3 4

balanço elevou de 62 para 71 o número de mortos no comboio, que se encontra actualmente parado numa zona rural do distrito de Rahim Yar Khan, na província de Punjab, centro do Paquistão.

6 7 4 0 2 5 1 8 9 3

9 4 1 6 8 3 7 2 5 0

2 3 0 5 1 9 8 7 4 6

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7 0 5 3 6 4 8 1

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62 34 18 05 57 79 86 20 1 7 1 3 4 6 8 0 2 15 6 19 1 2 5 0 73 8 37 0 7 06 89 91 13 2 5 64 8 0 45 3 4 92 7 9 06 5 3 24 7 9 36 8 1 70 1 2 39 68 00 24 5 7 53 9 48 0 1 3 7 04 6 92 4 5 7 6 2 1 9 3 28 53 66 72 90 18 05 31 44 9

PROBLEMA 55

57

2

6 7

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4 7 1

TERMINATOR: DARK FATE TERMINATOR: DARK FATE [C] Um filme de: Tim Miller Com: Linda Hamilton, Arnold Schwarzenegger, Mackenzie Davis 14.15, 16.45, 19.15, 21.45

SALA 3

SALA 2

THE FORTUNA’S EYE [B]

FALADO EM INGLÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Conrad Vernon, Grerg Tierman Com: Charlize Theron, Chloe Grace Moretz, Allison Janney, Oscar Isaac 14.30, 21.30

JOKER [C]

THE ADDAMS FAMILY [B]

THE ADDAMS FAMILY [B] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Takahiro Miki Com: Tyunosuke Kamiki, Kasumi Arimura 14.30, 16.30, 21.30

Um filme de: Todd Phillips Com: Joaquin Phoenix, Robert de Niro, Zazie Beetz 19.15

www. hojemacau. com.mo

8 9 0 0 5 2 6 0 3 7 1 4 Y2U4A N6 4 2 7 3 7 1 5 8 9 1 6 8 9 3 5

CAMPANHA A SOLO

1 0 5 2 1 6 4 0 9 8 7 3 5 7 4 9 5 9 7 0 6 8 3 2 4 1 4 6 2 8 3 4 5 2 7 9 1 6 0 5 1 3 0 7 1 8 3 4 5 6 2 9 6 7 8 6 2 9 3 1 5 4 8 0 7 9 8 7 4 0 8 1 5 2 6 9 7 3 0 3 6 3 5 2 9 7 0 1 4 8 6 2 9 0 7 4 3 6 8 1 0 5 9 2 3 5 1 9 6 5 7 4 3 2 0 1 8 Pelo menos 71 pessoas, incluindo vários peregrinos, morreram num incêndio que deflagrou ontem 1 8após0a explosão 2 9 6 de7botijas3de gás. 5 Um4novo 8 comboio 2 4de passageiros no Paquistão, num acidental 3 9 4 8 1 2 6 5 0 7

1 3 6 9 7 4 8 4 2 5 9 8 71 . 104 5 6 5 9 2 6 0 3 1 7 0 2 3 4 8 1

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Dentro de uma semana, inicia-se mais um processo que só terá como efeito 9 mais 4 3 0 8 2de 5 afastar 7ainda os residentes Macau da política local. Dia 9 de No5 a0“campanha 7 3 eleitoral” 2 1 8 vembro6arranca para eleger 1 o8lugar3de 9deputado 4 6deixado 5 2 vago depois da saída da Assembleia Le2de Ho 1 Iat5Seng. 8 O9futuro 7 Chefe 4 0 gislativa do Executivo foi “eleito” numa votação 0 2 6 4 5 1 9 3 onde era a única escolha, e o mesmo 8 3 com 9 o 0deputado 6 4que7irá 1 vai acontecer ocupar o lugar que deixou vazio. Duas 5 onde 4 o 2povo1não7é chamado 3 6 a9 eleições, pronunciar-se, em que 9 0 e7 6 os2“boletins 5 8de 4 voto” só têm um nome. Dá-se início a 4 dança-solo 7 8 num 5 1 0 3 a6 mais uma espectáculo que ninguém 3 6assiste, 1 excepto 2 8 a CAEAL, 9 0 7 esse quase organismo que oficializa o onanismo eleitoral de coroação de Wong Sai Man. Prevejo que nenhuma 56 irregularidade será detectada por este sempre4 atento watchdog, dirigido 8 0 8 1 3 7 4 6pelo 5 22 brilhantismo jurídico do juiz Tong Hio 3 6 7 peso 5 pesado 4 26 na99averiguação 0 2 83 Fong, um de minudências que não interessam ao 2 Enfim, 8 acontecem 1 6Jesus. 03 1coisas 45 9 7 menino no plano eleitoral sem que haja eleitora9 74 5 42 53 6 88 1 do ou eleições. Espectáculo! Não quero 9 coluna 88 esta 47 60que71 02 4 16 dizer com a democracia está de1 boa saúde no panorama 3 1 28 74 62 57interna0 39 cional, porque não está. Mas, na minha 6 17 2 1 03 8 opinião,4estes a5formalidade 30 processos, com que são tratados, descredibilizam as 9 seria 0 preferível 4 5 6Às82 13 1 4 instituições. vezes, que 3 fossem 9 85à cão, 8 7 90 7 as52coisas 06 honrando o nome desta coluna. Como foi, por 7 0 de8posse4de 9 6Hoi75 01 a 9 exemplo, tomada Kou1 In. Siga para bingo! João Luz

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5 8 (2018) 5 LAI0YONG, BERNARDO E OUTROS POEMAS | ANTÓNIO4GRAÇA 0 DE ABREU

8 3 2 7 6 0 Autor e tradutor, António Graça de Abreu tem uma longa ligação à China que se espelha agora num novo livro de poemas, de nome “Lai Yong, Bernardo e Outros 7 Poemas” 8 editado 4 pela 5 Lua de Marfim. Mas nesta obra há poemas sobre outros lugares, como Veneza ou Grécia. Destaque ainda para um 9 3já falecido. 1 5 Andreia 8 Sofia 7 poema dedicado a Macau e à figura do Monsenhor Manuel2Teixeira, Silva 4 8 5 2 6 9 7 9 7 1 8 7 4 8 1 7 4 0 1 6 3 4

Um filme de: Conrad Vernon, Grerg Tierman Com: Charlize Theron, Chloe Grace Moretz, Allison Janney, Oscar Isaac 16.30, 19.30

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UM LIVRO HOJE

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Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

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confeitaria

JOÃO ROMÃO

N

ÃO é costume, mas regresso ao tema que me ocupou na crónica anterior, que para isso estão os tempos: de fracas participações em atos eleitorais vai-se passando com cada vez maior frequência a ações e manifestações de protesto ou reivindicação pública. Falava há 15 dias da Catalunha, onde as iniciativas independentistas se vão tratando como crime e dão origem a longas penas de prisão para quem promove referendos. Também falava de Hong Kong, onde - sabe-se agora - a candidatura às eleições locais de um dos mais destacados dirigentes pró-autonomia não foi aceite. Curiosa - e esclarecedora sobre a fabricação de consensos que se vai operando na imprensa livre contemporânea - é a forma como a maior parte da imprensa trata um caso e outro: na Catalunha criticam-se os raros protestos violentos ou a utilização de máscaras e justifica-se a ação repressiva das polícias; em Hong Kong critica-se a ação repressiva das polícias e justificam-se os ocasionais protestos violentos e a utilização de máscaras. Tem uma vantagem, esta manifesta dualidade de critérios: o obscurantismo contemporâneo é transparente. Num caso e noutro, os conflitos parecem estar para durar, que isto das fronteiras e da integridade das nações tende a ser assunto de discussão demorada, acesa e pouco pacífica. Na realidade, raramente se resolve por vias legais, diplomáticas ou políticas: mostra-nos a larga maioria dos exemplos históricos que tende a prevalecer a força das armas e que quase nunca é suficiente a perseverança dos povos. Não faltam exemplos - nem dessa violência aparentemente necessária nem, mais uma vez, dessas dualidades com que se manufacturam os grandes consensos da sociedade contemporânea - pode ser mesmo muito ténue a fronteira entre ser-se terrorista internacional ou herói da pátria: tudo depende de se estar do lado certo das maiorias consensuais. Ainda assim, registe-se com agrado a persistência do humor e da criatividade na Catalunha: em tempos de pesada criminalização dos dirigentes políticos que praticam atos que põem em causa a integridade e unicidade do estado espanhol, foram largos os milhares de pessoas que se deslocaram aos estabelecimentos competentes para se auto-denunciarem como instigadores do independentismo - um crime, já sabe, de gravidade suprema. Surpreendidos, os tribunais tiveram que cancelar a possibilidade de registar mais auto-denúncias e manifestamente não sabem como tratar do assunto. Há 15 dias era também assunto a magnífica mobilização das comunidades indígenas do Equador, que ocuparam Quito até impôr a rejeição do acordo que o governo se preparava

Ainda nas ruas

para assinar com o FMI e que, a troco de um generoso mas oneroso empréstimo, impunha a privatização de grande parte dos recursos e setores económicos tidos como estratégicos no país. Na realidade, não é mais que a tradicional cartilha neoliberal que desde os anos 80 se propagou pelo mundo, a partir das violentas experiências da América Latina, onde

Muito mais violenta tem sido a repressão sobre os já longos protestos que foram ocorrendo durante todo o mês de Outubro em várias cidades do Iraque, um país destruído pela guerra, com uma população muito jovem e com os horizontes limitados pela escassez de recursos e infraestruturas. A herança das intervenções militares com que a Europa e os EUA supostamente ajudaram a restaurar “democracias”

o empobrecimento generalizado inspirado pela chamada Escola de Chicago e promovido pelo FMI era suportado pela repressão violenta praticada por figuras como o general Allende. Desta vez é mesmo no Chile que as ruas da capital estão massivamente ocupadas por mais de um milhão de pessoas cansadas de 40 anos de saque neoliberal: “aqui nasceu e aqui vai morrer o neoliberalismo”, garantia o poster de uma manifestante, enquanto se celebrava a história de resistência do país com multidões em coro a cantar o direito a viver em paz que há décadas tinha cantado Victor Jara. Sintomática foi também a reivindicação da herança ancestral dos índios mapuche, com os seus símbolos, a sua bandeira e a sua língua pré-latina, o Mapudungun, já falada antes da chegada dos colonizadores. O desenlace é, em todo o caso, pouco claro: o primeiro-ministro demitiu todo o resto do governo e governa com as forças militares, num sintomático regresso ao passado. Entretanto outras ruas foram sendo ocupadas, desta vez no Médio Oriente. Dezenas de mobilizações pacíficas em Beirute, com grupos de pessoas a sentar-se - ou a acampar para cortar o trânsito, bloquearam as estradas e paralisaram escolas dos vários níveis de ensino, incluindo universidades, e vários tipos de serviços, como os bancários. Houve ataques sobre estas manifestações, aparentemente

vindos de grupos historicamente organizados, como o Hezbollah, mas foi sempre vencendo a perseverança dos manifestantes, que incluíam gente de religiões diversas e colocavam na agenda questões económicas e sociais em vez de assuntos religiosos. O primeiro-ministro havia de abdicar em resposta a estes protestos generalizados e está por ver se é só início de uma transformação de larga escala no país. Como no Chile, há décadas de problemas acumulados que viriam à superfície em resultado de medidas aparentemente menores: um ligeiro aumento de preços nos transportes públicos chilenos e a cobrança de chamadas por whatsapp no Líbano. Num caso e noutro, tornaram-se problemas políticos gigantescos e trariam à rua grande parte da população. Muito mais violenta tem sido a repressão sobre os já longos protestos que foram ocorrendo durante todo o mês de Outubro em várias cidades do Iraque, um país destruído pela guerra, com uma população muito jovem e com os horizontes limitados pela escassez de recursos e infraestruturas. A herança das intervenções militares com que a Europa e os EUA supostamente ajudaram a restaurar “democracias”. Neste caso, o regime reagiu com inusitada violência e há mais de 100 pessoas mortas. Nem todas as ruas são espaços de reivindicações pacíficas e de confrontos políticos.


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1.11.2019 sexta-feira

A opressão

O

“When there is oppression and dictatorship, by not speaking out, we lose our dignity”. Asma Jahangir

S Estados globalmente preeminentes tendem a moldar o mundo de várias formas. Obviamente, fazem de maneira bastante directa através das suas actividades geoestratégicas, mas o fenómeno vai muito além e de propósito ou por acidente, tais Estados exportam os seus acordos internos para todo o sistema internacional. Os efeitos políticos, económicos, sociais, culturais e legais globais desse processo são profundos. A preeminência global britânica e depois a americana é responsável pelo facto de que é a língua inglesa ter acabado por ser a língua internacional do planeta, não o francês ou o alemão. O comércio de escravos teve um golpe fatal em 1807, quando desenvolvimentos políticos e filosóficos na Grã-Bretanha resultaram na sua proibição, e porque era a Grã-Bretanha que tinha a força naval para efectivamente fazer cumprir a proibição, apesar de Portugal ter sido o primeiro país a abolir a escravatura em 1761. Actualmente existem no mundo entre vinte e um milhões a quarenta e seis milhões de pessoas que vivem em estado de escravatura. A vitória ocidental na I Guerra Mundial instalou a forma democrática de governo na vanguarda da moda política mundial, onde permanece até hoje. As implicações do potencial sucesso dos regimes totalitários na sua procura por hegemonia durante a II Guerra Mundial ou a Guerra Fria são tão claras quanto desagradáveis. Desde a primeira metade do século XX, os Estados Unidos deixaram uma marca enorme no mundo globalizado, que vai muito além da geopolítica e um fluxo incessante de valores políticos, actividades financeiras e cultura que flui da América e tem efeitos incalculáveis. A soma total de várias manifestações de influência americana desempenhou um papel crucial na formação do mundo moderno. A preeminência americana é desafiada pela China e os dois países esforçam-se para não deixar a sua concorrência sair de controlo e são economicamente interdependentes. A essência do que está a acontecer, é de que a China se tornou a segunda potência mundial e quer ocupar o primeiro lugar destronando os Estados Unidos. Os Estados Unidos não estão dispostos a ser substituídos na sua posição de liderança e nada há de incomum nessa situação. A luta pela preeminência vem acontecendo, com apenas breves pausas, desde a Idade Moderna. Durante os períodos posteriores do Renascimento e das

guerras religiosas, foi a Espanha contra a França. Desde o final do século XVII até o final das guerras napoleónicas, foi a França contra a Inglaterra e depois a Grã-Bretanha. Durante grande parte do século XIX, foi a Grã-Bretanha contra a Rússia. No início do século XX foi a Grã-Bretanha contra a Alemanha. Na II Guerra Mundial foram os Estados Unidos contra a Alemanha e o Japão. Durante a Guerra Fria, foram os Estados Unidos contra a União Soviética. Hoje são os Estados Unidos contra a China. Tal luta não está necessariamente destinada a ser uma guerra directa (embora possa) que nunca será um tipo de Guerra Fria, mas quaisquer que sejam as formas que a competição sino-americana irá assumir, as apostas são incrivelmente altas, e não apenas para as duas potências concorrentes. Se a China substituir os Estados Unidos no papel de líder global, a sua realidade interna moldará o mundo exterior, assim como o da Grã-Bretanha e o da América ainda o fazem. A realidade interna em questão não é totalmente agradável pois a China está em processo de transferência de um autoritarismo relativamente moderado (bem, “moderado” em comparação com o tempo de Mao) e que teve desde Deng Xiaoping para um novo modelo que se afasta da definição de totalitarismo. A característica fundamental que difere um modelo totalitário de um autoritário é que, sob o totalitarismo, não é suficiente que os cidadãos apenas cuidem da sua vida e evitem a oposição política ao regime. Em vez de ficar satisfeito com a sua complacência política, um regime totalitário exige uma estrita adesão às suas regras e ideias no quotidiano das pessoas, inclusive nos assuntos que nada têm a ver com política. Assim, com efeito, procura controlar a vida de todos. O regime chinês não está a trabalhar para atingir tal desiderato. As modernas tecnologias digitais oferecem a possibilidade de construir uma distopia real no sentido até agora descrito apenas na ficção científica, algo que os regimes totalitários do passado não podiam fazer por razões práticas. O sistema chinês, que depende da vigilância total e do “big data” para observar e avaliar as acções quotidianas dos cidadãos, não deverá entrar em operação em 2020 como muitos analistas afirmam. No entanto, está funcionar com outros propósitos o sistema de vigilância existente e é errado admitir que apenas em alguma das suas manifestações, vinte e três milhões de cidadãos chineses foram proibidos de comprar passagens para levar a cabo várias actividades das suas vidas e que o sistema desaprovou. O novo totalitarismo digital pode ser mais suave em comparação com os regimes tecnologicamente mais primitivos do passado e tem limites legais. Todas as técnicas de estatística não são realmente algo que alguém gostaria de ver mais difundido no mundo e tal aconteceria em relação à China em todos os domínios se vier a tornar-se a grande potência preeminente do mundo. O Camboja, por exemplo, capacita a supressão da democracia pelo regime autoritário local.As práticas de vigilância estão a espalhar-

-se além das suas fronteiras. Entre os exemplos desse processo, está a decisão do Zimbabué de instalar um sistema de reconhecimento e monitorização em todo o país. A Tanzânia adoptou legislação de segurança cibernética que restringe a liberdade de conteúdo da Internet. O mesmo acontece com o Uganda. No Paquistão, um sistema de vigilância foi estabelecido ao longo da rota do “Corredor Económico China-Paquistão”. O relatório de 2018 da “Freedom on the Net”, que não parece totalmente imparcial, revelou que as empresas chinesas forneceram ferramentas de vigilância de alta tecnologia a governos que não respeitam os direitos humanos. A “A Freedom on the Net” tem sede nos Estados Unidos e é um projecto da “Freedom House” que consiste na análise de ponta, defesa baseada em factos e capacitação no local. A característica principal da análise é o relatório anual que apresenta uma avaliação classificada por país da liberdade “on-line”, uma visão geral dos últimos desenvolvimentos e também relatórios aprofundados

por país. Além disso, lançou recentemente um monitor para a liberdade na Internet com o fim de estimar o risco de restrições à liberdade na Internet durante as eleições. As principais tendências e ameaças emergentes destacadas nos relatórios são usadas nas campanhas de defesa nacionais e internacionais. As suas descobertas também são usadas por activistas em todo o mundo no trabalho pela mudança local, por agências internacionais de desenvolvimento na criação de programas e na determinação de beneficiários de ajuda, por empresas de tecnologia para negócios e avaliação de riscos, por jornalistas que cobrem os direitos da Internet e por estudiosos e especialistas. O projecto cria a capacidade de uma rede de pesquisadores, como os que escrevem em “blogs”, académicos, jornalistas e especialistas em tecnologia escolhidos pela sua experiência, fornecendo as ferramentas analíticas para servir como a futura geração de defensores da liberdade da Internet em todo o mundo. O projecto “Freedom on the Net” é


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perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

digital

apresentado como um recurso indispensável para quem se preocupa com a liberdade na era digital. O relatório fornece uma análise das restrições existentes à transmissão de informação “on-line” e destaca as ameaças emergentes que se combate nos próximos meses e anos e conta com a ajuda financeira do “Bureau de Democracia, Direitos Humanos e Assuntos Laborais (DRL)” que é um departamento dentro do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Google, The New York Community Trust e Yahoo. O projecto da “ Freedom House” contou dezoito países em que as empresas chinesas estão a combinar avanços em inteligência artificial e facial como reconhecimento para criar sistemas capazes de identificar ameaças à “ordem pública” o que parece ser algo aceitável. Os representantes de trinta e seis países participaram de seminários em que autoridades chinesas partilharam o seu conhecimento sobre a gestão de informações. A noção do modelo tecno-distópico chinês, que se espalha internacionalmente, mencionado

no relatório, está agora a entrar no discurso público mais amplo. Se a China liderasse o mundo, a democracia seria pressionada a permanecer a forma principal de regime político que tem sido no último século. As normas e práticas políticas e legais da China moderna seguiriam de perto a expansão global do domínio geopolítico e económico chinês. É por isso que a concorrência contínua entre os Estados Unidos e a China decidirá muito mais do que apenas as carreiras das duas grandes potências. Essa competição

A internet está a ficar menos livre em todo o mundo, e a democracia está a definhar sob a sua influência. A desinformação e a propaganda disseminada “on-line” envenenaram a esfera pública

é, de facto, uma luta sobre em que tipo de mundo todos nós vamos viver. A internet está a ficar menos livre em todo o mundo, e a democracia está a definhar sob a sua influência. A desinformação e a propaganda disseminada “on-line” envenenaram a esfera pública. A colecta desenfreada de dados pessoais quebrou as noções tradicionais de privacidade e um conjunto de países está a mover-se em direcção ao autoritarismo digital, usando extensos sistemas de censura e vigilância automatizada e como resultado dessas tendências, a liberdade global da Internet diminuiu pelo oitavo ano consecutivo em 2018. Os eventos desse ano confirmaram que a Internet pode ser usada para perturbar democracias com tanta certeza quanto pode desestabilizar ditaduras. Em Abril de 2018, o fundador, presidente e director executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, testemunhou nas duas audiências no Congresso sobre o papel da sua empresa no escândalo da “Cambridge Analytica” que é uma empresa de consultoria política britânica que combina mineração, corretagem e análise de dados com comunicação estratégica durante os processos eleitorais, no qual foi revelado que o Facebook havia exposto os dados de oitenta e sete milhões de usuários à exploração política. O caso foi uma chamada de atenção de como as informações pessoais estão a ser cada vez mais usadas para influenciar os resultados eleitorais. Os piratas informáticos russos miraram a lista de eleitores dos Estados Unidos em vários Estados como parte dos esforços mais amplos da Rússia para corroer a integridade das eleições de 2016 e, desde então, pesquisadores de segurança descobriram novas violações de dados que afectaram cento e noventa e oito milhões de americanos, noventa e três milhões de mexicanos, cinquenta e cinco milhões de filipinos, e cinquenta milhões de eleitores turcos, e com ou sem intenção maligna, a Internet e as médias sociais, em particular, podem empurrar os cidadãos para as câmaras de eco polarizadas e atrair a estrutura social de um país, alimentando a hostilidade entre diferentes comunidades. Nos últimos dois anos no Bangladesh, Índia, Sri Lanka e Myanmar, boatos falsos e propaganda odiosa que foram espalhadas “on-line” incitaram surtos de violência contra minorias étnicas e religiosas. Tais brechas costumam servir aos interesses das forças antidemocráticas na sociedade, no governo ou em países estrangeiros hostis, que os incentivaram activamente através da manipulação de conteúdo. Enquanto as sociedades democráticas lutam com os desafios de uma esfera “on-line” mais perigosa e contestada, alguns países intensificam os esforços para usar a média digital para aumentar o seu poder, tanto a nível interno quanto externo. O autoritarismo digital está a ser promovido como uma forma de os governos controlarem os seus cidadãos através da tecnologia. Os países autoritários e não só têm usado alegações de “notícias falsas” e escândalos de dados e governos de países como o Egipto e Irão reescreveram leis restritivas da média para aplicar a usuários

de médias sociais, prenderam críticos sob medidas projectadas para conter notícias falsas e bloquearam serviços de comunicação e média social estrangeiras. Alguns estados autoritários e outros repressivos também estão a exigir que as empresas armazenem os dados dos seus cidadãos dentro das suas fronteiras, onde as agências de segurança podem ter acesso às informações. As democracias são lentas em responder a crises e os seus sistemas de freios e contrapesos e deliberação aberta e participação do público não são propícios para a tomada rápida de decisões. Mas essa cautela interna ajudou alguns países semidemocráticos a defenderem-se dos controlos autoritários da Internet no ano passado. Os escritores de “blogs” quenianos em Maio de 2018, contestaram a constitucionalidade de disposições criminais contra a disseminação de notícias falsas, ganhando a suspensão de regras enquanto aguardavam uma sentença judicial final. No mesmo mês, os malaios votaram por um primeiro-ministro que prometeu rescindir uma lei recentemente adoptada contra notícias falsas que foram usadas pelo seu antecessor em uma tentativa fracassada de influenciar as eleições. Alguns países não estão apenas a resistir a reveses, mas a fazer progressos reais na liberdade da Internet dando um passo significativo e por vezes imperfeito para garantir a privacidade do usuário. É de acreditar que proteger a liberdade da Internet contra o surgimento do autoritarismo digital é fundamental para proteger a democracia como um todo. A tecnologia deve capacitar os cidadãos a fazer as suas escolhas sociais, económicas e políticas sem coerção ou manipulação oculta. A internet tornou-se a esfera pública moderna, e as médias sociais e os mecanismos de pesquisa têm um poder extraordinário e a responsabilidade pesada de garantir que as suas plataformas atendam ao bem público. Se as entidades antidemocráticas efectivamente capturarem a Internet, será negado aos cidadãos um fórum para articular valores compartilhados, debater questões políticas e resolver pacificamente disputas intra-sociais. A democracia também requer uma esfera privada protegida. A colecta irrestrita e amplamente não examinada de dados pessoais inibe os mais elementares direitos e para que a democracia sobreviva à era digital, empresas de tecnologia, governos e sociedade civil devem trabalhar juntos para encontrar soluções reais para os problemas de manipulação da média social e colecta abusiva de dados. É necessária uma coordenação multilateral e intersectorial para promover a alfabetização digital, identificar actores mal-intencionados e negar-lhes as ferramentas para amplificar fraudulentamente as suas vozes. Quando se trata de proteger dados, os usuários devem ter o poder de impedir invasões indevidas nas suas vidas pessoais, tanto pelo governo quanto pelas empresas. A liberdade global da Internet pode e deve ser o antídoto para o autoritarismo digital. A saúde das democracias do mundo depende da garantia desse direito.


Deus ao criar o rato disse: já fiz asneira! e tratou de criar o gato, logo o gato é uma errata do rato. PALAVRA DO DIA

Pearl Buck

Expresso da morte

sexta-feira 1.11.2019

PAQUISTÃO INCÊNDIO NUM COMBOIO FAZ, PELO MENOS, 71 MORTOS E 44 FERIDOS

P

ELO menos 71 pessoas, incluindo vários peregrinos, morreram num incêndio que deflagrou ontem num comboio de passageiros no Paquistão, após a explosão acidental de botijas de gás. Um novo balanço elevou de 62 para 71 o número de mortos no comboio, que se encontrava ontem à noite parado numa zona rural do distrito de Rahim Yar Khan, na província de Punjab, centro do Paquistão. O incêndio foi declarado extinto no final da manhã, enquanto socorristas e bombeiros lidavam com as carruagens carbonizadas, segundo os jornalistas da agência de notícias France-Presse (AFP) no local. Algumas vítimas morreram ou ficaram feridas na cabeça ao saltar do comboio em chamas, enquanto ainda estava em andamento, explicou Muhammad Nadeem Zia, director do hospital Liaquatpur, à AFP. Nadeem Zia apontou para 71 mortos e 44 feridos. Já Adnan Shabir, porta-voz dos serviços de socorro locais, referiu 73 mortos e mais de 40 feridos que foram levados para os hospitais de Rahim Yar Khan e de Bahawalpur. Três carruagens, duas de classe económica e uma executiva, incendiaram-se na sequência de uma explosão de duas botijas de gás usadas pelos passageiros para cozinhar, explicou Ali Nawaz, um alto responsável das ferrovias do Paquistão, à AFP, salientando que

Coreia do Norte Pyongyang lança dois projécteis no mar do Japão

As forças armadas norte-coreanas lançaram ontem dois projécteis não identificados no mar do Japão, indicou o exército sul-coreano, numa altura em que as negociações nucleares entre Pyongyang e Washington continuam num impasse. A informação foi avançada em comunicado pelo Estado-Maior da Coreia do Sul, acrescentando que os projécteis foram disparados a partir da província norte-coreana de Pyongan Sul. “Estamos prontos e vigilantes em relação a quaisquer lançamentos futuros”, refere a mesma nota. No último ensaio balístico, a 2 de Outubro, Pyongyang testou um míssil desenhado para ser lançado a partir de um submarino.

Energia CNIC reduz participação na EDP para menos de 2%

Três carruagens, duas de classe económica e uma executiva, incendiaram-se na sequência de uma explosão de duas botijas de gás usadas pelos passageiros para cozinhar

o transporte de materiais inflamáveis é proibido nos comboios. Cada carruagem pode acomodar cerca de 88 pessoas, explicou a mesma fonte. De acordo com Ali Nawaz, a maioria das vítimas são peregrinos do sul do país, que

se deslocavam para um encontro religioso anual, o Tablighi Ijtema, em Raiwind, perto de Lahore (leste) que começou ontem. Até 500.000 participantes de todo o país são esperados este ano para três dias de orações e

A chinesa CNIC Co., Ltd reduziu a participação na EDP dos 4,34 por cento para os 1,89 por cento, de acordo com a informação divulgada ontem à Comissão do Mercado e Valores Mobiliários (CMVM). “No dia 30 de Outubro de 2019, a CNIC Co., Ltd. comunicou à EDP, nos termos do artigo 20.º do Código dos Valores Mobiliários, que a sua participação na EDP baixou do patamar mínimo de 2 por cento das participações qualificadas a 29 de Outubro de 2019, para 1,8898 por cento do capital social e direitos de voto da EDP”, lê-se na informação divulgada. Segundo a EDP, a CNIC vendeu um total de 4,761 milhões de acções da empresa liderada por António Mexia, passando a deter actualmente 69,100 milhões de acções.

conferências, disse um dos organizadores à AFP. Orações especiais serão feitas em homenagem às vítimas do incêndio do comboio, segundo um outro responsável de um centro religioso em Raiwind.

HRW FORÇAS APOIADAS PELA CIA COMETERAM ATROCIDADES NO AFEGANISTÃO

A

PUB

organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) denunciou ontem que a Agência Central de Informações dos Estados Unidos (CIA) apoiou as forças militares afegãs a cometer execuções sumárias e outros abusos graves sem que tenha sido questionada. No relatório “‘Eles mataram muitos assim’: ataques nocturnos

abusivos das forças militares afegãs apoiadas pela CIA”, ontem divulgado, a HRW revela que esses efectivos mataram ilegalmente civis durante operações nocturnas, levaram à força detidos e atacaram instalações de saúde por alegadamente tratar combatentes rebeldes. Segundo a HRW, as vítimas civis desses ataques

e operações aéreas “aumentaram dramaticamente nos últimos dois anos”. O relatório, de 50 páginas, documenta 14 casos, do final de 2017 e meados de 2019, em que as forças de ataque afegãs apoiadas pela CIA cometeram abusos graves, alguns equivalentes a crimes de guerra. Para a HRW, os Estados Unidos devem trabalhar

com o Governo afegão para “desmantelar e desarmar imediatamente todas as forças paramilitares que operam fora da cadeira de comando militar comum” e “cooperar com investigações independentes de todas as alegações de crimes de guerra e outros abusos dos direitos humanos”. “Ao intensificar as operações contra os talibãs, a

CIA permitiu que forças afegãs abusivas cometessem atrocidades, incluindo execuções extrajudiciais e desaparecimentos”, alertou Patricia Gossman, directora associada da Human Rights Watch na Ásia e autora do relatório. “Caso após caso, essas forças simplesmente mataram pessoas sob custódia e entregaram comunidades

inteiras ao terror de ataques nocturnos abusivos e ataques aéreos indiscriminados”, acrescentou Gossman. O relatório baseia-se em entrevistas com 39 residentes locais e outras testemunhas de ataques nas províncias de Ghazni, Helmand, Cabul, Kandahar, Nangarhar, Paktia, Uruzgan, Wardak e Zabul.


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