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Agência Comercial Pico • 28721006
hojemacau Mop$10
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Director carlos morais josé • sexta-feira 1 de abril de 2011 • ANO X • Nº 2342
tempo com abertas min 17 max 24 humidade 45-80% • câmbios euro 11.4 baht 0.26 yuan 1.23
Domésticas são forçadas à ilegalidade com lei de trabalhadores não residentes
Mulheres mal empregadas
opinião
Não podem continuar em Macau, mas também não podem partir. Passado quase um ano da entrada em vigor da lei de trabalhadores não residentes, empregadas domésticas, especialmente indonésias, ainda se queixam de serem exploradas pelos patrões e empurradas para a clandestinidade.Especialistas reclamam da falta de aconselhamento. > Páginas 6 e 7
Carlos Morais José
Paul Chan Wai Chi
• página 22
• página 23
MACAU EM CÉU AZUL SEM LÁGRIMAS VIAS DE EXTINÇÃO
Entrevista
embaixador de Cabo verde em pequim realça papel de macau • CENTRAIS
Que livraria vai ser esta? Hoje inicia-se uma nova fase na Livraria Portuguesa. O nosso jornal entrevista os concessionários, Ricardo Pinto e Rui Simões, que explicam detalhadamente quais os seus planos para um dos espaços mais importantes para a comunidade lusa de Macau. >Páginas 2 e 3
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actual
Praia Grande Edições assume hoje concessão da Livraria Portuguesa
Ricardo Pinto e Rui Simões são as novas caras da Livraria Portuguesa. O lançamento de um livro de Henrique de Senna Fernandes e o reforço da actividade cultural são algumas das novidades na calha da nova gestão do espaço Filipa Queiroz
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filipa.queiroz@hojemacau.com.mo
ão duas pessoas com bastantes anos de território em comum, o Rui como estudante e agora advogado, e o Ricardo como jornalista e empresário do sector da comunicação. Como é que surgiu a vossa sociedade para este projecto de assumir a concessão da Livraria Portuguesa? Ricardo Pinto: A ideia de fazer a livraria já existia quando o Rui se juntou ao projecto, que esteve para envolver cinco ou seis pessoas mas acabou por se reduzir a nós os dois. Resultou do facto de sermos amigos, da vontade de fazer coisas e de acharmos que um negócio como o da livraria, a livraria como nós a entendemos, fazia todo o sentido. Vai ser algo de muito estimulante para ambos. A sociedade acontece apesar de nenhum dos dois ter experiência no sector livreiro, certo? RP: Há uns anos houve uma altura em que o jornal Ponto Final teve as instalações numa loja do NAPE e nessa loja chegou a pensar-se manter a redacção do jornal no primeiro andar, aproveitar a loja para fazer um café e criar uma pequena livraria no andar intermédio. Por várias razões esse projecto acabou por não ir para a frente. Nessa altura surgiu a possibilidade de se lançar uma publicação em inglês portanto isso ficou um pouco para trás e a certa altura tornou-se mesmo completamente inviável, até porque entretanto a renda desse estabelecimento acabou por duplicar. Digamos que do ponto de vista pessoal é daquele tipo de coisas que sempre achei que teria imensa piada, meter-me num projecto destes. Quando apareceu o anúncio de que iria
ser feito um concurso público para a concessão da Livraria Portuguesa eu confesso que não foi num primeiro momento, nem num segundo, nem mesmo num terceiro momento que me passou pela cabeça concorrer. A decisão de avançar para o concurso foi algo fortuita, é uma ideia do momento que surge, achámos que aquilo que queríamos para a livraria fazia sentido e podia ser útil para a comunidade e decidimos ir em frente porque as pessoas não podem estar sempre à espera que sejam as outras a fazer as coisas. E pelos vistos em boa hora o fizemos porque acho que teria sido muito estranho e desagradável haver o concurso público e não aparecer ninguém. Até por isso fiquei muito satisfeito por termos avançado com esta iniciativa. Surpreendeu-vos não ter havido concorrência? RP: Muito, muito, muito. Houve momentos em outras pessoas manifestaram o interesse em concorrer mas não sei até que ponto é que o facto de, a certa altura, ter sido anunciado que o grupo Leya poderia estar interessado, não terá desencorajado as pessoas. A nós não nos desencorajou. É óbvio que de forma nenhuma nos podemos comparar com o grupo Leya, eles têm muitas pessoas a trabalhar com eles e com muita experiência neste negócio das livrarias. Ora, eu acho que nós temos a vantagem de vivermos em Macau há muitos anos, conhecemos muito bem as pessoas, a comunidade, os gostos das pessoas, etc. Depois há o jornal [Ponto Final] e a revista [Macau Closer], há uma série de estruturas de suporte que, se forem bem utilizadas, poderão contribuir para uma dinamização de tudo isto. Creio
filipa queiroz
“Vamos potenciar o espaço da Livraria”
que independentemente de outros concorrentes poderem ter aparecido, nós tínhamos condições para avançar com o projecto e torná-lo vencedor. Agora, se íamos ganhar ou não, não fazia a mínima ideia. Mas a partir do momento em que fomos os únicos a aparecer, era difícil perder.
Queremos usar melhor a galeria e o primeiro andar. Aliás achamos que a galeria pode servir de alavanca para a livraria, a ideia é usá-la para diversas actividades, desde o lançamento de livros à projecção de filmes. Então a ideia é coordenar o funcionamento da Livraria Portuguesa com as duas outras publicações que detém? RP: Vou procurar que todas as iniciativas que a Livraria tenha no futuro, do ponto de vista da divulgação e tudo isso, tenham um tratamento igual em todas as publicações locais, mas não posso obviamente exigir ou esperar de jornais que não me pertencem que façam a divulgação toda que eu gostaria que fizessem da Livraria. Nesse aspecto o Ponto Final, sendo um jornal que me pertence,
embora obviamente tenha todo o respeito pela autonomia editorial da directora, Isabel Castro, faz sentido que dê a atenção devida à Livraria e às suas actividades, juntamente com a Macau Closer. Que ajudem a promover o projecto. Que mudanças é que se poderão sentir na Livraria a partir de amanhã? Rui Simões: Num primeiro momento as mudanças a vão verificar-se sobretudo ao nível dos títulos disponíveis. Vamos procurar dar maior destaque às publicações mais recentes e vamos tentar dar algum destaque à literatura infanto-juvenil. Também vamos dinamizar a galeria, em colaboração com o IPOR. Há um calendário definido previamente para os próximos dois ou três meses, que vai incluir já em meados de Abril iniciativas ligadas aos Colóquios da Lusofonia, em conjunto com o Instituto Politécnico de Macau. Vamos também procurar associar a Livraria a todo o tipo de iniciativas culturais que aconteçam em Macau, vamos contactar as entidades que promovem esses eventos nesse sentido. Também estão previstas actividades para os dias nacionais de cada um dos países da lusofonia, onde basicamente as associações podem ir à Livraria e propor actividades de divulgação
das suas culturas e tradições. RP: Umas das primeiras iniciativas que vamos organizar também, apesar de ainda não termos uma data definida mas que será muito proximamente, é o lançamento do último livro de Henrique de Senna Fernandes “A noite desceu em Dezembro”. O livro foi publicado em fascículos no Ponto Final em 2004 e depois não teve publicação imediata em formato de livro porque havia a possibilidade de se fazer um segundo volume. Ficámos na expectativa do que ia acontecer mas como entretanto infelizmente o escritor faleceu nós resolvemos avançar para a publicação da obra. Nos Colóquios da Lusofonia irá haver uma homenagem a Senna Fernandes, portanto vamos tentar que o livro já esteja cá fora nessa altura. A Livraria inclui o roteiro de visita aos locais descritos nos livros de Henrique de Senna Fernandes? RP: Sim, vamos ser visitados pelos participantes nos Colóquios, desde escritores a editores e outras pessoas ligadas à organização e à Academia de Letras do Brasil, por exemplo. Inclusivamente, três escritores que vêm a Macau vão lançar as suas obras mais recentes e falar sobre Macau. Entretanto, o General Garcia Leandro também está a chegar a Macau, vai estar no Clube Militar numa iniciativa do
Viver em Macau é uma aventura calma, uma viagem constante, uma emoção única e irrepetível em qualquer outro lugar. Tenho saudades do meu futuro aqui, neste novo mundo brilhante e abundante. Isto enquanto, lá de longe, nos chega o estertor baço de um país que teima em não se encontrar em si próprio e só despontar quando o seu povo se livra das amarras e parte para outros lugares. Por lá, de facto, o paraíso não está à vista. Carlos Morais José P.22
Instituto Internacional de Macau. Vamos procurar que ele também visite a Livraria Portuguesa e eventualmente destine algumas cópias do novo livro ["Macau nos Anos da Revolução Portuguesa 1974-1979"] que já está à venda em Macau, mas que vamos tentar fazer chegar em maior número. Na calha têm apenas publicações em língua portuguesa? RP: Não. Obviamente que sendo uma livraria portuguesa virada para as comunidades lusófonas o grosso das publicações que estarão à venda serão em português. Mas julgo que é bastante importante, de forma a divulgar a cultura portuguesa e as culturas lusófonas, termos autores portugueses e temas lusófonos tratados noutras línguas, para que possam chegar ao maior número de pessoas. Pessoas da comunidade chinesa residente em Macau e pessoas que nos visitem, das mais diferentes nacionalidades. Há uma preocupação, mesmo do próprio IPOR, Instituto Camões e Fundação Oriente, de que a Livraria possa funcionar como um veículo de promoção da cultura portuguesa, o mais abrangente possível. Por isso vamos ter livros em inglês, de autores portugueses; vamos ter livros em inglês sobre Portugal e sobre os países lusófonos, sobre a sua gastronomia, os vinhos. Enfim, vamos procurar ter uma oferta bastante diversificada a esse nível, inclusive em chinês. Temas relacionados com Macau, com a presença portuguesa no Oriente. Também vamos ter livros em japonês e, por que não, em francês. Ou seja, vamos ter uns cantinhos da Livraria que possam servir todo o enorme leque de comunidades que existem em Macau, queremos ir muito além deste nicho que é a comunidade portuguesa. Mas as pessoas obviamente perceberão que, sendo uma Livraria Portuguesa, tem esse nome e existe aqui justamente para, em primeira linha, servir a comunidade falante de português aqui em Macau, terá de continuar a ter o grosso das publicações em português. Mas os livros em línguas estrangeiras, serão apenas traduções ou haverão mesmo publicações de autores estrangeiros? RP: A ideia é termos autores lusófonos, ou obras sobre países lusófonos, sobre Macau e esta região , escritos em inglês. É que as pessoas possam encontrar com
maior frequência livros sobre Macau, sobre Hong Kong ou sobre a China, que acontecem a todo o momento, também em inglês. Cabe-nos essa missão de manter informada a população sobre aquilo que a rodeia. Já têm noção de onde ir buscar essas publicações? RP: Esse é um trabalho que não vai acabar nunca, a todo o momento vão aparecendo novas editoras com excelentes trabalhos e obviamente que não se conhece tudo de uma vez. Ontem, por exemplo, estive em Hong Kong a contactar uma distribuidora de lá que representa dezenas de editoras americanas, britânicas, australianas, que têm livros de muita qualidade e das mais diversas áreas, desde as Artes, à Gastronomia, à literatura, ilustração, etc. Hoje em dia há uma oferta riquíssima que nos importa conhecer cada vez melhor. Este é um trabalho que começou há relativamente pouco tempo para nós, desta forma sistematizada, e que não vai acabar seguramente nos próximos cinco anos. Vão ser cinco anos em que vamos procurar estar atentos àquilo que vai sendo publicado, às novas editoras que vão aparecendo, às novas publicações, para que a oferta da Livraria Portuguesa seja de facto bastante rica. Pensam ter algum consultor para vos apoiar nesta fase? RP: Para já não pensámos nisso, estamos é abertos a todo o tipo de ideias e sugestões por parte das pessoas. Uma das coisas que queremos fazer é, muito brevemente, termos um blogue a funcionar e mais tarde uma página mesmo, um site, e fazermos vendas online. A ideia é disponibilizar os livros sobre Macau para todas as pessoas que não vivem aqui mas que possam estar a região, em Hong Kong ou um pouco por toda a China, e também nas comunidades de emigrantes na diáspora. É fazer chegar com frequência informação sobre os títulos existentes e os novos lançamentos. Ao fazer isso estaremos a prestar um serviço à divulgação de Macau e manter uma grande proximidade e uma ligação afectiva com as pessoas que continuam a amar Macau mas que estão longe do território. Vamos fazer chegar esta informação às Casas de Macau por todo o mundo assim que a livraria online estiver montada. Julgo que é uma novidade importante que, a funcionar, nos encherá de alegria.
A livraria tem sido acusada de praticar preços demasiado elevados. Vai haver alguma mudança nesse aspecto? RP: Nós entendemos que se há a percepção de que os livros são demasiado caros, obviamente que vamos procurar que sejam mais baratos. Para isso é preciso que se encontrem soluções ao nível do transporte, da própria aquisição dos livros com os descontos que possam ser encontrados, os mais vantajosos possível, para que depois isso se possa repercutir no preço final. Mas as pessoas têm de entender uma coisa, que por vezes não é atendida e fazem-se comparações com realidades que não são comparáveis. Isto é, uma livraria em Portugal funciona normalmente com vendas à consignação, portanto os livreiros têm os livros e os que vendem, muito bem. Os que não vendem são devolvidos. Portanto, do ponto de vista do risco, ele é bastante reduzido. Aqui não só
os livros não serem vendidos e haver prejuízos significativos. Para além de que é um stock que fica aí e não será fácil de escoar. O que nós vamos querer que aconteça daqui para a frente, que eventualmente não aconteceu nos últimos anos pelo facto do concessionário não estar radicado aqui em Macau, é que vai haver uma maior proximidade entre a livraria, quem a gere, e os seus clientes. Para isso vou apelar às pessoas para que nos próximos dias ou semanas deixem os seus cartões de visita na livraria com os seus contactos, nomeadamente os emails, para que se possa criar uma base de dados sobre os nossos clientes. O objectivo é que todas as semanas as pessoas sejam informadas dos livros que vão ser encomendados em Portugal e até em Hong Kong, para que elas imediatamente nos possam dar uma noção do interesse que tenham relativamente aos vários títulos e façam eventuais encomendas que sejam um pouco mais próximas da realidade. Queremos evitar que, por um lado hajam muitos exemplares a vir e ficarem por vender. Ou então que venham em número reduzido e as pessoas tenham de estar sempre à espera de mais dias para terem as obras. Julgo que se esta ligação se estabelecer será útil para ambas as partes e as pessoas terão cá os livros que querem. E não terão de se cingir a responder às nossas solicitações, também podem sugerir outros títulos e até encomendar. Nessa
temos de comprar os livros, sem possibilidade de devolução, como temos de arcar com os custos dos transportes. Portanto, o modelo de negócio tem de ser completamente diferente e uma das coisas que as pessoas têm de perceber é que não se pode fazer encomendas de um número imenso de exemplares sem se perceber que tipo de resposta é que vai haver da parte dos clientes, sob pena de depois
altura estaremos lá para prestar esse tipo de serviço. Vamos ter encomendas semanais de jornais, revistas e livros. Pontualmente, sempre que haja alguma urgência da parte de instituições de ensino por exemplo, far-se-á o transporte fora dos dias normais. Mas a ideia é que todos os sábados parta uma encomenda de Portugal para Macau, à semelhança do que já vem acontecendo.
Também vamos ter livros em japonês e, por que não, em francês. Ou seja, vamos ter uns cantinhos da Livraria que possam servir todo o enorme leque de comunidades que existem em Macau, queremos ir muito além deste nicho que é a comunidade portuguesa.
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3 Vão haver alterações ao nível do pessoal e do espaço físico da livraria? RS: O pessoal por enquanto não vai ter qualquer alteração, em princípio não é preciso, a equipa continuará a ser a mesma. Em relação ao espaço, queremos que hajam alterações, mesmo ao nível do próprio funcionamento. Queremos usar melhor a galeria e o primeiro andar. Aliás achamos que a galeria pode servir de alavanca para a livraria, a ideia é usá-la para diversas actividades, desde o lançamento de livros à projecção de filmes. Para mostrar artistas de Macau ou de fora que tenham alguma relação com a cultura da lusofonia ou com o território e, através disso, queremos potenciar o espaço da Livraria. Mas para isso tudo vamos ter de fazer algumas obras, mesmo de conservação que já está a precisar. Será necessário alterar um pouco a própria mobília também. Mas nós não vamos fazer isso para já porque estamos em Abril, a meio do ano lectivo e do período normal de actividade laboral das pessoas. Em princípio apontamos para em Agosto fecharmos a livraria durante duas ou três semanas para concentrar as obras todas e em Setembro abrirmos as portas com a cara lavada. Qual é a prioridade a curto prazo? RP: Houve um período de alguma indefinição, durante três meses a Livraria esteve sem concessionário, por isso é natural que tenha havido uma fase em que vieram poucos títulos. Queremos recuperar e atacar esse problema, garantindo uma oferta diversa e de qualidade. Entretanto já no sábado vamos assinalar o Dia Internacional do Livro Infantil. Não vai ser ainda possível contar com uma série de títulos que já foram encomendados, devido a alguma lentidão das editoras devem chegar no princípio da próxima semana. Mas irão ser feitos preços especiais para alguns títulos já existentes. Teremos títulos sugestivos que julgo que vão agradar às crianças e aos pais. E em Setembro, podemos contar com uma festa de inauguração? RP: Sim, haverá uma festa de inauguração das novas instalações depois de terem sido feitas as obras de renovação, que esperamos que agradem às pessoas e tornem a livraria um lugar mais atractivo para toda a gente.
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política
Pensão de invalidez e velhice aumentada em 300 patacas
Concretizadas as promessas dos aumentos Joana Freitas
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joana.freitas@hojemacau.com.mo
uem lançou a promessa foi Iong Kong Io, presidente do Instituto de Acção Social (IAS), no segundo dia de plenário da Assembleia Legislativa, no mês passado. Agora, as pensões sociais para os idosos e de invalidez vão sofrer aumentos que rondam os 17%. Depois da primeira reunião plenária deste ano do Conselho Permanente para a Concertação Social (CPCS), Francis Tam, secretário para a Economia e Finanças, anunciou aos jornalistas que foram aprovadas as propostas de lei para aumentar os subsídios sociais. Os idosos vão passar, assim, a receber 2000 patacas ao invés das 1700 distribuídas actualmente, um aumento de 17,64%. Apesar da subida nas despesas orçamentais da RAEM, mais 170 milhões de patacas, este valor continua a ser muito inferior ao estabelecido como índice mínimo de subsistência, actualmente localizado nas 2640 patacas. Na altura do plenário
Virginia Leung
virginia.leung@hojemacau.com.mo
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romover o desenvolvimento científico, reforçar o sistema jurídico e mobilizar o entusiasmo da população foram algumas das sugestões para o futuro de Macau deixadas por Chan Kai Ming, director interino do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, no âmbito de um simpósio sobre o papel de Macau no 12º. Plano Quinquenal da China, apresentado recentemente. Vários especialistas e académicos participaram num encontro em que foram apresentados projectos, teses, propostas e estratégias para o desenvolvimento. Organizado e presidido por Chui Sai Cheong, presidente da Associação de Divulgação da Lei Básica de Macau (ADLBM), o simpósio contou com a participação de Chui Sai On, Chan Kai Ming e Ho Teng Iat, como orado-
da AL, o deputado Ng Kuok Cheong tinha apontado esta questão, salientando a importância de equilibrar estes valores, mas Iong Kong Io referiu que, devido ao aumento do número de idosos beneficiários da pensão, que passa de 38 mil para 59 mil este ano, há influência na actualização do montante. Aumento semelhante foi ainda atribuído ao montante da pensão de invalidez, que sobe também
para as duas mil patacas. Já a pensão de apoio social sobe ligeiramente menos, 17,48%, e passa de 1115 patacas para 1310 patacas. No entanto, Shuen Ka Hung, director dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), referiu que este mês “as pensões vão ser distribuídas de igual forma”, já que a entrada em vigor da lei ainda espera aprovação e despacho do Chefe do Executivo. “Não é
possível ajuste imediato, talvez em Maio ou posteriormente”, referiu o responsável, acrescentando, no entanto, que vai haver retroactividade a este mês. No total, são 61.119 os beneficiários destes aumentos.
Actualizações de ordenados
Os funcionários das áreas de limpeza e segurança passam agora a receber 23 patacas por hora, mais
duas do que o valor actual, passando o ordenado mínimo mensal de 4368 patacas para 4448 patacas. O último aumento neste sentido foi feito em 2008 e, para Shuen Ka Hung, “este surge de acordo com a inflação sentida no território, originada pela crise financeira mundial, e corresponde às necessidades”. Após a entrada em vigor da lei, a entidade patronal tem três meses para assinar novos contratos com os funcionários, onde estejam actualizados os montantes. Shuen Ka Hung afirma que esta foi uma iniciativa que partiu da Administração e que obteve concordância de ambas as partes – patronal e trabalhadora. Aprovado em plenário foi ainda o Fundo de Garantia Social, mas o responsável da DSAL salienta que há ainda “ajustes técnicos a fazer”, situação semelhante para o Fundo de Previdência Central, que não alcançou ainda qualquer conclusão. Estes temas têm sido alvo de críticas dos deputados da Assembleia Legislativa e o CPCS já tinha reunido mais de cinco vezes para analisar as propostas de lei.
Especialistas dão conselhos para o desenvolvimento futuro de Macau
‘Bitaites’ Quinquenais res, num evento em que 21 especialistas apresentaram teses e interagiram com as pessoas na ADLBM, focando os temas do Plano Quinquenal e desenvolvimento de Macau; “Um País, Dois Sistemas” implementado juntamente com a Lei Básica; e a construção das questões de direito na RAEM. Chan Kai Ming indicou ao jornal “Ou Mun” que, após a transferência, com apoio do Governo Central, Macau alcançou o desenvolvimento contínuo em várias indústrias, provando a eficácia do “Um País, Dois Sistemas”. A Lei Básica é a lei fundamental, que mantém a prosperidade e estabilidade de Macau. O Plano Quinquenal pretende inserir Macau nas estratégias de
desenvolvimento nacional e define claramente o estatuto e papel a desempenhar no desenvolvimento global. Seja como for, Chan Kai Ming considera que Macau tem em mãos uma rara oportunidade para se
desenvolver, devendo, para tal, apostar em três áreas. Primeiro, dando total apoio ao desenvolvimento científico, elaborando planos mais transparentes e cumprindo a sua parte no plano quinquenal e no “Acordo-quadro
de Cooperação GuangdongMacau”. Em segundo lugar, reforçando continuamente o sistema jurídico, para acelerar a resolução dos arranjos de interface com a China Continental de forma a aumentar os níveis de
cooperação. E por último, mobilizando o entusiasmo e criatividade dos residentes de Macau, a fim de prestar um total apoio ao Chefe do Executivo e ao Governo da RAEM no cumprimento das leis, políticas científicas e promover o desenvolvimento económico e vários empreendimentos sociais. “O Plano Quinquenal é na verdade o conceito de planeamento integrado”, considera Matthew Liu, professor assistente de Gestão de Empresas, na Universidade de Macau. “No entanto, o plano combina ideias de vários especialistas da China Continental e espera ajudar Macau com a situação da falta de recursos e trabalhadores. Por outro lado, Macau está a concentrar-se sobretudo no desenvolvimento da indústria do turismo e serviços, e com o Plano Quinquenal irá potenciar as vantagens de Macau, levando a uma maior prosperidade.”
Cooperação entre Macau e Fujian é para continuar
O Chefe de Executivo Fernando Chui Sai On recebeu ontem a secretária do Comité de Fujian do PCC, Sun Chun lan, que se encontra em Macau à frente de uma delegação oficial. O líder da RAEM reafirmou que no futuro Macau irá continuar a desempenhar o papel de plataforma de comércio e de serviços, no reforço da cooperação regional, e na promoção de um desenvolvimento com benefícios mútuos e de complementaridade. Na sua primeira visita a Macau, Chun lan disse estar impressionada com a prosperidade e estabilidade social do território. Afirmou ainda que desde a tomada de posse do actual Chefe do Executivo, o Governo da RAEM tem demonstrado empenho em “servir a população”, e atenção à vida quotidiana, permitindo assim um melhor desenvolvimento local.
Virginia Leung
Virginia.leung@hojemacau.com.mo
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ários funcionários foram transferidos entre departamentos da Secretaria para a Administração e Justiça (SAJ), Secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura (SASC) e Secretaria para os Transportes e Obras Públicas (STOP). Tou Chi Man, ex-subdirectora da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), foi nomeada administradora da Imprensa Oficial (IO), deixando livre um lugar que foi ocupado com a promoção de Kou Peng Kuan, administrativa do Departamento de Modernização. Iong Kong Io, antes ao serviço do presidente do Instituto de Acção Social (IAC), passou a ocupar esse cargo. Kuok Sio Lai, que estava às ordens do coordenador do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), foi nomeada subdirectora da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), ocupando assim o lugar que era de Sílvia Ribeiro Osório Ho, que irá seguir Sou Chio Fai, antiga directora da DSEJ pub
Transferência de pessoal entre gabinetes do Governo
O troca-troca das cadeiras e actual coordenadora do GAES, passando a coordenadora-adjunta do GAES. A tomada de posse de Tou Chi Man,Alberto Ferreira Leão, administrador-adjunto do IO, e de Kou Peng Kuan, novo subdirector da DSAFP, teve lugar no Centro Cultural de Macau. Asecretária da SAJ, Florinda Chan, presidiu a cerimónia de juramento, em que estiveram presentes vários outros altos funcionários e chefes de departamento. De acordo com o discurso proferido por Florinda Chan na ocasião, estas trocas de pessoal acontecem em resposta às novas oportunidades e desafios trazidos pelo contínuo desenvolvimento da sociedade em Macau. O Governo pretende assim implementar um conceito de governação orientada para as pessoas, para promover as políticas de “tomada de decisão científica” e “governação de trans-
parência”, bem como impulsionar reformas na administração pública. Assim, a SAFP irá reforçar a coordenação da gestão central de pessoal, investigação e funções específicas dos assuntos relacionados com a promoção de reformas.
A IO irá continuar a desenvolver os serviços electrónicos para colaborar com a futura direcção de políticas do Governo e o desenvolvimento e reformas da administração pública. A secretária elogiou o trabalho dos três funcionários
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5 apresentados pela sua vasta experiência e antiguidade em postos importantes. Reafirmou a confiança do Governo no seu trabalho e disse acreditar que iriam mostrar o seu profissionalismo e competência de forma a implementar os objectivos e deveres do Governo. Entretanto, a cooperação total com outros departamentos relevantes tem vindo a melhorar continuamente a efectividade das reformas da administração pública, de forma a mais bem servir a RAEM. Além destas alterações, as várias áreas da SASC vão ter vários funcionários de peso a assumir funções em Abril. Iong Kong Io, antigo assistente do presidente do Instituto de Acção Social (IAS), e Wong Yim Mui, antigo auxiliar do vice-presidente do IAS, foram nomeados presidente e vice-presidente, respectivamente. Kuok Sio Lai, antiga ajudante do coordenador do GAES, foi nomeada subdirectora da DSEJ. Sílvia Ribeiro Osório Ho, antiga subdirectora da DSEJ, foi designada para ser a coordenadora-adjunta do GAES.
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6 Quase um ano depois da nova lei laboral sobre a contratação de não residentes, inúmeras trabalhadoras continuam a viver na incerteza e a optar pela ilegalidade para não perderem o sustento e a vida que Macau lhes proporciona
sociedade Migração | Trabalhadoras querem estatuto próprio e mais direitos
Dilemas domésticos
nho aqui numa semana equivale ao salário de um mês inteiro lá”, conta a jovem, que também começou por trabalhar durante alguns meses na casa de uma família chinesa. “Foi a pior experiência da minha vida. Dormia quatro horas por dia, tinha de passar as noites a trocar fraldas de bebé e recebia 2500 patacas por mês”. O resultado? “Desapareci e nunca mais lá pus os pés”, explica Kimi, que já tem um novo trabalho mas está, como Desi, com a sua situação irregular. A recente lei sobre a contratação de trabalhadores residentes, em vigor desde Abril do ano passado, não permite que as jovens mudem oficialmente de emprego e se forem dispensadas têm de deixar o território durante seis meses. “Eu vou deixar-me estar para ver o que me acontece, ver se um dia a lei muda e haja alguma amnistia para quem esteve cá ilegalmente”, desabafa Kimi. “Uma coisa eu aprendi, jamais volto a trabalhar para patrões chineses. Agora só trabalho para ocidentais, têm mais sensibilidade para perceber que os empregados não são bichos nem escravos e pagam melhor, tratamnos melhor.”
filipa queiroz
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Filipa Queiroz
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esi (nome fictício) tem 24 anos. Trabalhava como empregada doméstica em Hong Kong quando, há um ano, decidiu visitar Macau. Bastaram alguns dias no território para ter vontade de ficar. “Quis apostar em arranjar um emprego num casino ou num hotel, estive um mês à procura mas como não tinha o ‘blue card’ [autorização de permanência] não podia concorrer às vagas, até que umas amigas disseram-me que uma família chinesa estava a precisar de uma empregada.” Dito e feito, pouco tempo depois Desi estava a assinar um contrato para trabalhar oito horas por dia, em troca de um salário de 2800 patacas por mês e o tão desejado ‘blue card’. Só que, pouco tempo depois, Desi deu-se conta que as coisas não seriam bem como lhe tinham sido pintadas. “Era um inferno. Era suposto apenas limpar a casa e ajudar os dois filhos do casal, mas na prática eu tinha de fazer isso durante 14 horas por dia e ainda cozinhar.” O frigorífico ficava sempre fechado à chave, para que a empregada doméstica não cedesse à tentação de comer o que quer que fosse durante as horas de trabalho. Inconformada, Desi confrontou os patrões e disse que para trabalhar 14 horas por dia teria de ser aumentada. “Eles responderam que não me iam aumentar e que eu tinha era de agradecer por ter um emprego”, conta a jovem. No dia seguinte, deixou a casa dos patrões para não voltar mais. Desde então trabalha em casa de outras famílias, sem um salário fixo por mês, nem vontade de deixar o território. “Apesar de tudo gosto de Macau, não me quero ir embora, mas
Soluções?
actualmente nem poderia mesmo que quisesse. Não sei se os meus patrões avisaram à imigração de que eu já não trabalho para eles.” Se o fizeram, Desi deixou de ter ‘blue card’ válido, o que faz com que esteja numa situação ilegal há vários meses tendo de, por lei, pagar 200 patacas por cada dia que passou clandestina em Macau. Se não o fizeram está tudo bem, mas indo à polícia confirmar, as autoridades contactarão
os ex-patrões e Desi seria detida e expulsa de Macau por, pelo menos, seis meses. “Mesmo que o cartão ainda seja válido, as autoridades vão perguntar-me o porquê da minha dúvida”, explica. A hipótese de tentar saber alguma informação por telefone também não se coloca. O Hoje Macau tentou e nem a polícia nem os serviços de migração prestam qualquer informação por essa via.
“Sinto-me prisioneira. Não posso sair de Macau e vivo com medo todos os dias. Se sou apanhada não tenho as mínimas condições de pagar a multa”, confessa Kimi (nome fictício), 23 anos, está na mesma situação. Só que a jovem aterrou na RAEM em Janeiro do ano passado, atrás de uma dica de uma prima, deixando na Indonésia dois filhos e o trabalho como empregada de balcão. “O que ga-
Cindry Poernasari, da associação Peduli Indonesian Migrant Workers Concern Group, diz que “quando as trabalhadoras deixam uma residência devem ir directamente à Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) para cortar o ‘blue card’ juntamente com o empregador”. Com este acordo, a trabalhadora garante a sua situação laboral, explica Cindry, apesar de ser obrigada a deixar na mesma Macau. De acordo com a lei laboral para não residentes, em vigor desde 26 de Abril, depois de um imigrante não residente ser despedido ou se despedir para procurar um emprego melhor, tem de sair imediatamente do território e só pode voltar após meio ano. “Seis meses para nós pode ser um pesadelo mas e para os empregadores?”, atira a responsável. De acordo com dados fornecidos pela Polícia de Segurança Pública (PSP), há 944 trabalhadores não residentes a cumprir neste momento essa ordem, sendo que cerca de 20% dos 77.900 trabalhadores migrantes de Macau são
Seac Pai Van já no próximo mês
As obras da primeira fase do projecto de habitação pública de Seac Pai Van, que engloba o projecto de construção de 19 mil fracções de habitação pública, vão começar no próximo mês, garantiu ontem o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Lau Si Io. O concurso público para a segunda e terceira fases de construção está a ser lançado, cuja conclusão será mais um avanço no projecto do plano de habitação pública. Lau Si Io falou ainda sobre questões relacionadas com a concessão de terrenos por hasta pública, revelando que a hasta pública para os dois terrenos já se encontra em processo final, assim como já estão terminados os trabalhos relativos.
empregadas domésticas. A maioria é oriunda das Filipinas, Vietname e Indonésia, mas são as últimas as que têm encontrado mais dificuldades para lidar com a lei. A responsável do Peduli Indonesian Migrant Workers Concern Group explica que o problema reside em grande parte na língua. “Recebemos muitos telefonemas de trabalhadoras indonésias a fazerem perguntas sobre a legislação e a queixarem-se de não compreenderem os documentos escritos em português, chinês e inglês”, disse. A maioria das trabalhadoras indonésias em Macau só domina o chinês mas apenas oralmente. “O problema é que elas chegam ao território vindas de pequenas aldeias na Indonésia, sem qualquer formação, e sem saberem nada sobre a lei, sobre os seus direitos ou sequer onde se devem dirigir para se esclarecerem. Geralmente contam com as agências de recrutamento que as enviaram e que são, não raras vezes, as primeiras a enganá-las, nomeadamente através da exigência do pagamento de
comissões no valor de oito a dez vezes os salários das trabalhadoras, confiscando muitas vezes os documentos das mulheres para garantirem o pagamento. De acordo com Cindry, há mulheres que abdicam das folgas aos domingos para conseguirem juntar dinheiro para saldar a dívida. “Eu sei que o Governo quer um futuro melhor para Macau mas esse futuro tem de incluir os imigrantes. Somos uma grande parte da sociedade”, reclama. A responsável defende que devia haver uma maior fiscalização às agências de recrutamento e que a lei devia ser mais severa com os empregadores que, muitas vezes, exigem às mulheres serviços 24 sobre 24 horas. Catalina Yamat, da associação Migrante International em Macau, recorda outro problema que é o da falta de provas sobre as condições de trabalho a que as empregadas são submetidas. “Elas trabalham em casas particulares, ninguém sabe o que lá se passa, portanto é impossível provar o que quer que seja.” Catalina garante que recebe dezenas de telefonemas de trabalhadoras não residentes a pedirem-lhe conselhos sobre como lidar com os patrões ou resolver a sua situação laboral. “O problema é que poucas querem registar oficialmente os casos porque têm medo”, conta. Se quiserem mudar de emprego, mesmo com a permissão dos empregadores que lhes concederam o ‘blue card’, também não podem. Uma vez empregadas domésticas, sempre empregadas domésticas. “Não podem mudar de categoria e no prazo de dez dias que o Governo dá para encontrarem emprego é muito difícil encontrar uma alternativa.”
Limitações
Cecília Ho diz que é preciso reforçar o aconselhamento às trabalhadoras não residentes de Macau. Há dois anos, a professora de Assuntos
Cecília Ho
Sociais no Instituto Politécnico de Macau (IPM) e presidente da Live Net Association, chamou a atenção para a situação das mulheres imigrantes da Indonésia através do documentário “Jeritan – A sua história”, galardoado com o prémio do público e o prémio do júri no Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau em 2009. “O problema é a continuidade. Na altura até houve meios de comunicação a dar bastante atenção ao problema, excepto os chineses que se preocupam mais com os trabalhadores da construção civil”, assume a académica. “Não se pode esquecer que estamos a falar de pessoas que têm as famílias longe, que são mulheres afastadas dos filhos por uma questão de sobrevivência e que, por isso, precisam de bastante apoio emocional também”, continua. O tempo livre é outra das questões abordadas pela docente. Quem já foi a Hong Kong num domingo percebe que o dia é aproveitado pelas domésticas não residentes para conviverem, mesmo que tenha de ser sentadas no meio da rua. Em Macau, apesar de algumas já se juntarem regularmente debaixo das arcadas da Santa Casa da Misericórdia, no Largo do Senado, isso
A nova “Bíblia” das empregadas domésticas A Confederação Sindical Internacional (ITUC, na sigla inglesa) publicou, em Novembro do ano passado, o Guia de Acção “Trabalho digno, vida digna para os trabalhadores domésticos”. Com a contribuição de investigadores do movimento trabalhista e analistas políticos, o resultou da recolha de publicações e links sobre o trabalho doméstico em todo o mundo, inspirados por histórias pessoais e depoimentos de mulheres e homens que trabalham com os sindicatos e organizações de defesa dos direitos trabalhistas e da dignidade humana. Na introdução lê-se que “apesar de ser uma das profissões mais antigas e importantes para milhões de mulheres do mundo, o trabalho doméstico é desvalorizado e, em muitos países, está fora do âmbito da legislação trabalhista”, que inclui a garantia de um salário mínimo, protecção social e o direito de formar e aderir a um
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7 Lá em casa tudo bem
vanessa amaro
De acordo com dados fornecidos pela Polícia de Segurança Pública (PSP), há 944 trabalhadores não residentes a cumprir neste momento essa ordem, sendo que cerca de 20% dos 77.900 trabalhadores migrantes de Macau são empregadas domésticas. A maioria é oriunda das Filipinas, Vietname e Indonésia, mas são as últimas as que têm encontrado mais dificuldades para lidar com a lei
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sindicato e negociar de forma colectiva. “Como resultado muitos dos trabalhadoras são sobrecarregados, mal pagos, e os casos de maus-tratos e abuso são incontáveis”. De acordo com o documento - que não faz referência a Macau ou à China, mas refere Hong Kong como local de “longa tradição de organizações de trabalhadoras doméstica que colaboram em conjunto com os sindicatos” - foram iniciadas negociações para a criação de uma norma internacional sobre o trabalho digno para os trabalhadores domésticos. O ITUC foi criado em 2006 e representa os interesses da classe trabalhadora um pouco por todo o mundo, com 301 organizações membros filiadas em 151 países e territórios e uma adesão total de 176 milhões de trabalhadores. O guia está disponível online em inglês aqui: http://www.ituc-csi.org/IMG/pdf/ ITUC_dwd_AnglaisWEB.pdf.
não acontece porque geralmente no território as trabalhadoras não vivem em casa dos patrões. “Vivem, por exemplo, na chamada zona dos Três Candeeiros, perto do Mercado Vermelho. Lá muitas conseguem alugar um apartamento por 5000 patacas que dividem entre várias”. As condições não serão ideais, mas pelo menos impedem que as trabalhadoras tenham de estar disponíveis dia e noite para trabalhar. Cecília Ho estima que haja entre 3000 a 4000 trabalhadoras indonésias no território e sustenta que a lei é muitas vezes contornada pelos empregadores. A académica defende que o Governo devia apostar mais na educação, não só de empregadores e trabalhadores, como de toda a comunidade. De resto, as cidadãs de nacionalidade indonésia deviam “unir-se mais”, na óptica de Ho. “As trabalhadoras filipinas têm uma união bastante mais forte, eu acho que elas até poderiam cooperar todas porque têm um ‘background’ semelhante. O único obstáculo é a língua.” A professora sugere que o Governo acompanhe o que tem sido feito em países como Hong Kong, Singapura e Taiwan, onde já existem departamentos para tratar deste tipo de assuntos e onde, por exemplo, “são distribuídas brochuras informativas às trabalhadoras imigrantes na sua língua materna”. Um abrigo que recebesse as mulheres indonésias é outra sugestão de Cecilia Ho, que aliás já está na calha do Peduli Indonesian Migrant Workers Concern Group - um espaço onde as trabalhadoras possam partilhar experiências e receber formação, apoio e acompanhamento adequado. Direitos que, aliados à vontade de ter um estatuto próprio, vão levar a comunidade a “sair à rua” e manifestar-se de cabeça erguida no próximo Dia do Trabalhador, a 1 de Maio.
As mulheres filipinas foram as primeiras a chegar a Macau para a trabalharem como empregadas domésticas. Hoje ainda são uma maioria no sector e têm uma grande vantagem a seu favor, o domínio da língua inglesa. Mary e Suri (nomes fictícios), 47 e 40 anos, são filipinas e estão em Macau há dois. Mary já tinha vivido durante uma década no território mas, depois de voltar à terra natal por um curto espaço do tempo, decidiu voltar. “Por causa do dinheiro, foi por isso que vim e é para isso que trabalho arduamente”, disse Mary. Na época o marido acompanhou-a, mas entretanto o casal separou-se. Hoje, divide o quarto alugado na zona do Porto Interior com Suri e outras duas amigas. Pagam 450 patacas por mês. Ambas têm ‘blue card’ e trabalham na casa de portugueses, onde tratam da limpeza e cuidam das crianças. Não se queixam do salário, até porque “se o patrão é português é bom e paga mais”. Mesmo assim, admitem que “não é suficiente”. Por isso é que durante a semana de trabalho as amigas trabalham juntas na residência de outros patrões, dividindo os lucros. “Enquanto ela cozinha eu trato da roupa, depois uma limpa e outra faz as camas, é mais rápido e assim fazemos tudo em quatro horas”, conta Suri. A depender do trabalho destas mulheres estão os três filhos de uma (com seis, cinco e três anos) e a mãe e irmã de outra. Suri envia mensalmente 5000 patacas ao marido que ficou na Indonésia a tratar dos infantes e a trabalhar na pequena quinta de ambos. “Vir para aqui é um sacrifício que faço por eles, pela educação deles. Enquanto puder vou continuar a fazê-lo”, admite, lamentando que o marido não consiga mudar-se também para a RAEM. “Aqui é difícil para os homens virem trabalhar, eles não fazem trabalhos domésticos, normalmente só conseguem arranjar emprego como seguranças e para isso não há tantas oportunidades”, explica Suri. Quando não estão a trabalhar, Mary e Suri aproveitam o único dia livre, o domingo, para ir à igreja e passear por Macau. “E dormir!”, atiram quase em coro. Apesar da vida dura, as duas gostam de viver no território. “Aqui somos livres de fazermos o que queremos e é mais pacífico”, responde Mary, que se queixa da violência no seu país de origem, onde regressa uma vez por ano para ver a família. “É difícil ir a casa porque é muito caro”, explica Suri. A trabalhadora filipina fala com os filhos regularmente através da Internet. “Às vezes duas vezes por semana ou até todos os dias vou a algum estabelecimento com Internet falar com eles e vê-los através da câmara do computador”, conta, com os olhos agridoces que de repente caem no relógio de pulso. “Temos de ir”, dizem. É hora de voltar ao trabalho.
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virginia.leung@hojemacau.com.mo
altam canais para aceder à participação no desenvolvimento da Ilha da Montanha, queixam-se os pequenos empresários de Macau. O desabafo foi feito durante a apresentação do “Acordo-quadro de Cooperação Guangdong-Macau” organizada pela Associação Comercial de Macau (ACM) para introduzir e explicar o seu conteúdo à comunidade empresarial local, que espera agora que o Governo crie essas vias de participação, nomeadamente através da criação de empresas semi-públicas. O acordo-quadro cobre os campos económico, social, cultural
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spera-se que, após a construção do lote TN27, mais de quatro milhares de pessoas venham a mudar-se para os grandes empreendimentos habitacionais. A par da densidade populacional da zona, a pressão do trânsito irá aumentar proporcionalmente. A Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) planeia abrir uma estrada temporária e aumentar as opções de transporte para optimizar a circulação e acesso ao complexo urbano e à área circundante à rede viária. O projecto inclui construir ligações das CasasMuseu da Taipa e do Parque
O secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, afirmou, ontem, que relativamente às noticias das alegadas investigações por práticas ilícitas ao Sands China, levada a cabo pelas autoridades do Estados Unidos da América e Hong Kong, o governo de RAEM já solicitou o relatório da mesma e iniciou os respectivos trabalhos de investigação. O secretário complementou acrescentando que o respectivo trabalho de investigação consiste em apreciar o relatório entregue pela Sands China e efectuar a análise da respectiva situação. O governo da RAEM também solicitou à empresa citada para complementar os dados conforme o desenrolar da situação.
PMEs querem canais para participação no desenvolvimento
Virginia Leung
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Macau quer saber o que se passa com a Sands China
Ilha da Montanha fechada e outros, observou Kou Hoi In, presidente da ACM. Em concreto, estabelece a nova situação e orientação, princípios, objectivos, e um desenvolvimento cooperativo na Ilha da Montanha, o desenvolvimento conjunto da indústria, infra-estruturas, formas mais práticas de transpor a fronteira, serviços públicos, planeamento da cooperação regional e outras áreas-chave de cooperação entre Guangdong e Macau.
Além disso, o acordo propõe a construção do parque industrial e uma série de iniciativas concretas de cooperação. Acredita-se que o acordo irá ajudar Macau a promover a diversificação industrial até ao nível desejável, proporcionando o espaço para que os sectores industrial e comercial possam expandir os seus negócios. As empresas precisam dominar a fase em que se encontra o acordo e operações específicas
para que possam aproveitar a oportunidade. O Chefe do Executivo, Chui Sai On, disse considerar que o 12º. Plano Quinquenal e o “Acordo-quadro de Cooperação Guangdong-Macau” proporcionavam uma oportunidade imperdível para Macau. Para aproveitar as oportunidades e promover o desenvolvimento e melhoramento da qualidade de vida, a chave é ter confiança e um compromisso firme de implemen-
tar o acordo activamente. A prioridade actual é tirar partido do “Um País, Dois Sistemas”, seguindo rigorosamente a Lei Básica, com foco nas políticas deste ano: fazer um bom trabalho no planeamento científico, estabelecer um mecanismo de acompanhamento, promover o negócio vigorosamente, incentivar a participação pública, diversificar a economia e construir um centro de turismo de lazer de nível mundial.
Grandes empreendimentos na Taipa exigem melhorias na rede rodoviária
TN27 quer estradas Natural da Taipa Grande à comunidade habitacional. O actual percurso entre a Rotunda Ouvidor Arriaga e os projectos habitacionais e zonas urbanas do TN27 já é muito utilizado pelos veículos. Quando os empreendimentos estiverem concluídos e prontos a habitar, a alta densidade de pessoas e viaturas irá certamente aumentar os congestionamentos. Leung Yiu Hung, arquitecto do
Departamento de Planeamento Urbanístico (DPU) da DSSOPT referiu ao jornal “Ou Mun” que a direcção iria actuar em coordenação com os projectos habitacionais do TN27 para optimizar a rede viária e instalações públicas circundantes, incluindo planos para abrir uma estrada provisória a oeste, ligada directamente à habitação económica com a Rotunda Dr. Sun Yat Sen. Esta estrada terá metade do
comprimento das existentes vias para o TN27. Além disso, para optimizar as infra-estruturas viárias em torno dos empreendimentos de habitação económica, sobretudo para a conveniência dos moradores e para aliviar a pressão do trânsito na Avenida do Coronel Mesquita, os projectos incluem planos para construir uma pista de três níveis através da Rotunda Ouvidor Arriaga, ligando com a Ave-
nida do Coronel Mesquita e a Avenida Olímpica. Leung Yiu Hung referiu ainda que a pista podia materializar-se numa ponte ou num túnel, mas não está ainda finalizada. Com a conclusão da construção da habitação económica e o aumento do fluxo de pessoas, as estações de autocarros vão ser as principais ferramentas nas deslocações para a Taipa. Numa primeira fase, será construída uma ponte
pedonal através da Avenida do Coronel Mesquita. Entretanto, há também planos para optimizar a Estrada Padre Estevão Eusébio Situ para facilitar a deslocação dos moradores até ao Parque Natural da Taipa Grande. A construção da ligação para os peões do Parque Natural da Taipa Grande às CasasMuseu da Taipa será feita numa fase posterior. Quando todas as infra-estruturas para pedestres estiverem construídas, moradores e visitantes poderão deslocarse a pé entre o parque de estacionamento público do TN27 e as zonas urbanas da Taipa. - V.L.
Oportunidades de negócio verde assinadas
Num total de 243 sessões de negociações, o primeiro dia do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental (MIECF), valeu 14 assinaturas de contratos relacionados com as industrias verdes. A maioria dos contractos assinados estão relacionados com a poupança de energia e redução de emissões de gases poluentes, logística, investimentos em unidades hoteleiras verdes, representações e financiamento de automóveis amigos do ambiente, produtos electrónicos e mecânicos, entre outros. Dos países e regiões envolvidos a maioria são de Macau e da China Interior, com Hong Kong, Portugal e Holanda a também usarem da caneta.
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MIECF | Tudo pelo veículo eléctrico e nada pela energia nuclear
Energias renováveis são caminho a seguir
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stá aí mais uma edição do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental (MIECF) 2011, cujo tema este ano é “Desenvolvimento Urbano de Baixo Carbono”. Os mais de 13 mil metros quadrados de exposição abriram ontem as suas portas com novidades em matéria de tecnologias amigas do ambiente como principal destaque para os projectos da indústria verde, incluindo energia solar, biomassa, energia eólica, sistemas híbridos de energia, carros eléctricos e veículos híbridos. No discurso de boas-vindas proferido na ocasião, Fernando Chui Sai On referiu que a poluição ambiental, as alterações climáticas, a poupança energética e a redução de emissões são hoje em dia grandes pontos de agenda em todo o mundo e um leque alargado de grandes desafios que todos têm de enfrentar, assumindo em conjunto as responsabilidades. Para driblar tais problemas, o Governo da RAEM promete que tudo fará para aperfeiçoar os trabalhos de protecção ambiental, incluindo o primeiro plano de protecção ambiental de Macau até 2020, já em fase de preparação, sob a premissa de “Macau de baixo carbono, uma vida mais verde para todos”. Por outro lado, o antigo chefe da diplomacia alemã Joschka Fischer defendeu a necessidade de um avanço político e tecnológico a favor das energias renováveis em detrimento da nuclear ao considerar a crise de Fukushima um “alerta”. “Achamos que o futuro será baseado nas energias renováveis e na eficiência energética. Depois do que aconteceu no Japão, ninguém pode dizer que ainda acredita na ilusão de que [a energia nuclear] é segura e barata, não podemos viver com isso. É um desastre nacional [a crise de Fukushima] e eu acredito que será pior do que hoje se pensa, e infelizmente, porque é uma enorme tragédia para o povo japonês”, disse Joschka Fischer à agência Lusa. O dia de ontem do MIECF foi dedicado apenas a profissionais e houve ainda tempo para palestras sobre oportunidades de mercado
“Deve desenvolver-se um esforço de cooperação entre Macau e Portugal no sentido de melhorar a cooperação nestas áreas e ver-mos espaços de investimento, espaços de iniciativas empresariais e, dentro desse sentido, estabelecer bases de negócios que possam dinamizar o nosso país e a RAEM, um esforço por uma sociedade mais verde. Investimentos mútuos” Júlio Miranda Calha
gonçalo lobo pinheiro
Gonçalo Lobo Pinheiro
para negócios verdes bem como a mobilidade eléctrica.
O exemplo lusitano
No capítulo das energias renováveis, Portugal tem sido um pioneiro e Júlio Miranda Calha disse ao Hoje Macau que o país tem feito um grande esforço neste sector. E tem
sido um esforço que é considerado exemplar nas diversas áreas onde se tem actuado e espera que hajam “investimentos mútuos” entre lusos e Macau. “Foi desenvolvida uma estratégia nacional em termos de energia que contempla um conjunto de componentes, quer o reforço de
acção do desenvolvimento da energia eólica como também ao nível de energia hídrica. Está em decurso um projecto de construção de barragens e por outro lado também, ao nível da energia solar, e estão-se a fazer experiências ao nível das energia das ondas como também noutro sector como é a
biomassa”, referiu, afirmando em seguida em que é que a experiência de Portugal pode servir os intuitos de Macau. “Deve desenvolver-se um esforço de cooperação entre Macau e Portugal no sentido de melhorar a cooperação nestas áreas e vermos espaços de investimento, espaços de iniciativas empresariais e, dentro desse sentido, estabelecer bases de negócios que possam dinamizar o nosso país e a RAEM, um esforço por uma sociedade mais verde. Investimentos mútuos.” Miranda Calha explicou que todo este esforço, que está integrado num plano global e que tem um conjunto de medidas que apontam para o desenvolvimento destas áreas, tem tido bons resultados e isso tem apontado Portugal como um dos países que mais tem desenvolvido estas tipologias de energia. “Este é um sector que também origina muitas empresas, origina criação de postos de trabalho e é uma componente no desenvolvimento económico do país”, revelou. O MIECF realiza-se até dia amanhã no Venetian, sendo que as principais autoridades, especialistas e académicos mundiais irão debater as questões mais recentes relacionadas com a protecção ambiental. A feira conta ainda com a participação de empresas de renome mundial, provenientes da China Interior e do estrangeiro, numa mostra de produtos e serviços dedicados ao ambiente. O Dia de Descanso Verde terá lugar amanhã, estando o público convidado a participar neste certame.
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Vanessa Amaro
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vanessa.amaro@hojemacau.com
té os advogados já perderam as contas do número de processos que Winnie Ho, de 88 anos, abriu contra o irmão, Stanley Ho, de 89 anos. “Devem ser cerca de 40”, afirmou ontem a defesa da empresária, durante uma conferência de imprensa convocada para anunciar que, mais uma vez, a representante de Winnie foi impedida de participar na assembleia geral da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM). Para engrossar a lista, vem aí mais uma queixa em tribunal. Além dos inúmeros processos ainda por julgar, outros arquivados e poucos concluídos, as sociedades de advogados Pedro Redinha, de Macau, e Ho, Tse, Wai & Partners, de Hong Kong, prometem avançar com mais um, tendo por base o mesmo: querem que Stanley Ho reconheça de uma vez por todas as acções que supostamente pertencem à irmã mais nova e que pague os dividendos dos lucros, suspensos desde 2007, estimados em mais de 30 mil milhões de dólares de Hong Kong. De acordo com Albert Ho, advogado de Winnie e deputado democrata do Conselho Legislativo da região vizinha, a octogenária nomeou Donna Yau, relações públicas, sua procuradora nas reuniões da STDM. Depois de receber a notificação da assembleia geral na semana passada, a empresária mandou Donna Yau entregar uma procuração na empresa e pedir para consultar os documentos que estariam sobre a mesa na reunião de ontem.
Ajuda a Sichuan chega finda com saldo de 4966 milhões
A 4.ª reunião plenária da Comissão Coordenadora da RAEM para o Apoio à Reconstrução das Zonas Afectadas Pós Terramoto em Sichuan reuniu-se ontem. Na ocasião, o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong U, manifestou o seu contentamento pela utilização pelo povo afectado de todas as instalações, na sequência do acabamento sucessivo de projectos de apoio. A pedido do Governo Central, devem basicamente acabar-se, em 2011, os projectos com patrocínio de Macau. Assim, a última atribuição das quatro fases de apoio, no valor de 165 milhões de renmimbis, já foi, de acordo com o pedido de Sichuan, transferida numa única vez para a sua conta específica em 22 de Março último. Até ao presente, o montante acordado para todo este projecto já foi pago, no valor global de 4966 milhões de patacas.
Polémica | Irmã avança mais uma vez para tribunal contra Stanley
Não há descanso no clã Ho
Duas semanas depois do magnata do jogo ter anunciado um acordo de paz com as três mulheres e os 16 filhos no caso da divisão das suas acções, a irmã mais nova de Stanley Ho, Winnie, vai avançar mais uma vez para tribunal contra a STDM. A empresária alega que deixou de receber os dividendos e que tem sido impedida de participar nas assembleias-gerais da empresa A procuradora foi alegadamente impedida de consultar quaisquer papéis. Uma queixa-crime foi feita no mesmo dia. “Hoje [ontem] nem sequer deixaram a Donna entrar na sala de reuniões. Encontrei-me com o conselheiro legal da STDM, o senhor Nuno Riquito, que me informou que a empresa da Winnie, a Moon Valley, não tem nenhuma posição dentro da STDM. Como não pudemos forçar a nossa entrada, a alternativa é avançar para tribunal”, explicou Albert Ho.
Novela rocambolesca
Os processos entre irmãos, que fundaram juntos a STDM, não vêm de agora e nunca conheceu um desfecho para nenhuma das partes. Winnie Ho fez parte do conselho de administração da STDM por 25 anos, até ser dispensada em Dezembro de 2001. Nessa altura, Winnie Ho colocou-se ao lado de um filho, que concorria a uma licença de jogo, posição que degeneraria num desentendimento com Stanley e no afastamento entre os dois. Mas ainda antes isso, em 1983, a empresária transferiu a sua quota
na empresa, o equivalente a 7,33% ou a 6263 acções, para a companhia que criou, Moon Valley Inc., mas a transacção não terá sido aceite por Stanley Ho e Henry Fok. Contudo, no mesmo ano, o magnata do jogo entregou parte das suas acções à Lanceford – a empresa da recente discórdia familiar no clã Ho -, obtendo reconhecimento. A defesa de Winnie alega “dualidade de critérios e uma violação grave da lei”. A principal discórdia centrase no livro de registos de acções, que esteve até 1993 à guarda do secretário-geral da empresa. Desde a sua morte, ninguém terá posto os olhos sobre o documento, o que faz com que não haja meios de se provar que a empresa de Winnie seja accionista da STDM. “Só em 2001 é que Stanley Ho anunciou que o livro se tinha extraviado e avançou para tribunal para pedir a sua suposição. A sentença foi favorável, mas já se passaram cinco anos sem que tenha sido movida uma palha para se tentar refazer o livro”, apontou Albert Ho. A STDM não explica quando
Capítulo a capítulo 18 de Abril de 1980 A STDM emite um registo de que Winnie é accionista de 200 acções, no valor nominal de 200 mil patacas 15 de Março de 1983 Winnie transfere as suas acções para a empresa Moon Valley Inc., da qual é proprietária Março de 1993 Morre José Inocêncio Santos Ferreira, secretário-geral da STDM, que tinha em sua posse o livro do registo de acções da companhia. Winnie alega que desde essa altura o livro desapareceu misteriosamente Meados de 2001 Os dois filhos de Winnie, Mak Ka Hing
e Anita Mak, avançaram para tribunal para anular a transferência de acções da empresária para a empresa Moon Valley, alegando danos ao direito de herança Finais de 2001 Stanley anuncia que o livro de registo de acções da STDM foi extraviado e instaura nos tribunais o processo especial de reforma do livro Fevereiro de 2002 Winnie acusa Stanley de sequestro e ameaças 2003 O advogado de Winnie, Chiu Cheun Mok, foi violentamente espancado à luz do dia em Hong Kong por três homens
encapuzados e armadas com paus. Após recuperar-se, demitiu-se 2005 Stanley terá feito uma oferta para comprar as acções da irmã
13 de Outubro de 2005 Winnie exige que Stanley explique publicamente as alegações de que o banco que controla em Macau tem ligações com redes de branqueamento de capitais na Coreia do Norte
8 de Abril de 2005 O Governo português aceita o pedido de renúncia da nacionalidade portuguesa por parte de Winni. Antes, a empresária já havia visto ser aceite o pedido de renúncia de residente de Macau 27 de Junho de 2005 Winnie envia uma carta à STDM a comunicar a transferência de 6000 das suas 6263 acções para a Fundação Moon Valley
Março de 2006 O advogado de Winnie, Albert Ho, também deputado do Conselho Legislativo de Hong Kong, foi duramente agredido num McDonald’s da zona
de Central. Albert considerou Stanley suspeito de mandar fazer o ataque. Antes, vários defensores da octogenária foram vítimas de ataques violentos 6 de Outubro de 2006 O Tribunal de Última Instância deu razão a Winnie, sentenciando que a empresária e a Moon Valley Inc. têm a faculdade de comprovar a sua qualidade de accionistas legais da STDM Janeiro de 2007 Winnie alega que deixou de receber os dividendos da STDM Agosto de 2007 Winnie ganha um processo em Hong Kong, após acusar o irmão de intimidação
Pereira Coutinho contra aumentos do IACM
Depois de ter recebido um grupo de cidadãos representantes da Comissão da Associação dos Condóminos do prédio da Avenida Sidónio Pais, n.º 30, o deputado da Assembleia Legislativa (AL) José Pereira Coutinho, interpelou o Governo da RAEM no sentido de saber quais as razões para o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) ter procedido ao aumento, em cerca de 50%, do valor actual das rendas dos parques de estacionamento, não obstante a recente taxa de inflação rondar os cerca de 4,7%. O deputado alegou que não houve qualquer tipo de consulta aos moradores e questiona o Executivo sobre o IACM vai proceder à auscultação dos moradores antes de impor novos tarifários.
estará concluído o processo de reforma do livro e Winnie Ho afirma ter dúvidas da “qualidade de alguns accionistas”, nomeando, por exemplo, a empresa Many Town, que o Tribunal de Última Instância considera ser accionista ilegal, além da sobrinha Pansy Ho, e das segunda e quarta mulheres de Stanley, Angela Leong e Ina Chan. A guerra não tem dado tréguas (ver caixa), com os últimos dez anos marcados por processos judiciais de parte a parte. Em 2002, a octogenária acusou Stanley de sequestro e ameaças físicas, mas perdeu na justiça uma acção movida pelo magnata de difamação e calúnia. Desde essa altura, Winnie recusase a “pôr os pés em Macau, porque tem muito medo de cá vir”, frisou o advogado Alberto Ho. Mais tarde, a empresária decidiu renunciar ao seu bilhete de identidade de residente de Macau e também à nacionalidade portuguesa. Numa carta ontem entregue aos participantes do encontro anual da STDM, a defesa de Winnie frisa que a companhia “suspendeu, a partir de 2007, o pagamento dos dividendos correspondente aos anos de 2007, 2008, 2009 e 2009 (...). Entendemos e confirmamos que a suspensão de pagamento de dividendos é feita sem fundamentos legais. Trata-se de um acto ilegal”.
Tréguas
A 11 de Março, Stanley Ho anunciou ter chegado a um acordo com a família sobre a distribuição da sua fortuna e decidiu retirar a segunda acção legal interposta contra as filhas Pansy e Daisy e a empresa da terceira mulher, Ina Chan. Segundo um comunicado divulgado pelo escritório do
A principal discórdia centra-se no livro de registos de acções, que esteve até 1993 à guarda do secretário-geral da empresa. Desde a sua morte, ninguém terá posto os olhos sobre o documento, o que faz com que não haja meios de se provar que a empresa de Winnie seja accionista da STDM magnata, a providência cautelar interposta a 16 de Fevereiro no Tribunal de Última Instância de Hong Kong já tinha sido retirada a 21 de Fevereiro. A disputa foi resolvida “amigavelmente” e todos os membros da família Ho “chegaram a um acordo total e definitivo baseado no princípio de compreensão mútua e adaptação mútua”, salientaram os advogados do magnata, sem especificar os termos do acordo. Stanley Ho acusou as filhas Pansy e Daisy de transferência “ilegal” da sua participação pessoal de 4,8% na STDM para a Lanceford, que controla grande parte da sua fortuna e passou, assim, a deter 31,6% da empresa-mãe da SJM, que controla mais de 30% do mercado de jogo de Macau, sendo o maior accionista individual da empresa. O magnata reclamava a devolução das acções e da participação que detinha na Lanceford que foi, no final de 2010, reduzida de 100% para 0,02% a favor das empresas Ranillo Investments e Action Winner, controladas pelos cinco filhos com a segunda mulher – incluindo Daisy e Pansy - e pela terceira mulher, Ina Chan.
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CCAC | suspeito de corrupção no Instituto Cultural
Prendas à família F
oi ontem encaminhado para o Ministério Público um caso de suspeita de abuso de poder por parte de uma chefia do Instituto Cultural. Segundo um comunicado do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), o suspeito terá adjudicado um contrato de prestação de serviços de manutenção a um elemento da família. Após investigação, e depois de ter obtido provas, o suspeito foi ouvido nas instalações do CCAC. O homem, para adjudicar o contrato de prestação de serviços de manutenção do Instituto Cultural a um familiar, terá disponibilizado dados das propostas de candidatura de outros concorrentes. Além destas acusações, o suspeito
terá “repetidamente” violado as normas do regime de impedimentos, participando várias vezes em processos de adjudicação de contratos concedidos a familiares, sendo assim suspeito de abuso de poder e violação grave dos deveres de isenção e de sigilo inerentes às suas funções e consagrados no Estatuto dos
Trabalhadores da Administração Pública de Macau. O caso continua a ser acompanhado pelo CCAC e a Direcção do Instituto Cultural também foi notificada para que fossem tomadas medidas no sentido de suprir as lacunas existentes nos procedimentos de aquisição de bens e serviços.
Lucros de 3,7 mil milhões de dólares em 2010 29 de Novembro de 2007 O Tribunal de Segunda Instância de Macau determinou que a STDM respeite os direitos da Moon Valley Inc. como accionista, sem discriminações
8 de Setembro de 2008 Winnie perde um processo para Stanley, em que pedia o reconhecimento da situação ilegal da STDM, a fim de pedir a sua entrada na Bolsa de Valores da região vizinha
Fevereiro de 2008 Winnie foi condenada a um ano e dois meses de prisão, com dois anos de pena suspensa, por calúnia e difamação num processo movido pelo irmão depois de ter acusado Stanley de sequestro e ameaças físicas
18 de Março de 2011 Winnie recebe a convocatória para a reunião ordinária da assembleia geral
7 de Julho de 2008 Winnie avança com um processo em Hong Kong a pedir uma revisão judicial da situação da STDM, na mesma altura em que Stanley faz uma oferta pública inicial
24 de Março Winnie manda a sua procuradora entregar a documentação sobre a sua participação na reunião. A defesa de Winnie alega que foi-lhe negado acesso aos documentos e faz uma queixa-crime 31 de Março A procuradora de Winnie é impedida de entrar na assembleia geral da STDM
A
SJM a triplicar
Sociedade de Jogos de Macau anunciou hoje lucros líquidos de 3,7 mil milhões de dólares de Hong Kong, um valor três vezes superior ao de 2009, referiu Ambrose So, director executivo da empresa. Concessionária de uma licença de jogo no território, a Sociedade de Jogos de Macau S.A., é detida em 90% pela SJM Holdings, empresa cotada na bolsa de Hong Kong e em 10% pela administradora delegada e quarta mulher de Stanley Ho, Angela Leong. Além dos lucros, que permitirão atribuir 2,8 mil milhões de dólares de Hong Kong em dividendos aos accionistas, Ambrose So revelou, sem especificar, que as receitas da empresa tinham subido 86% e que os impostos, taxas e contribuições pagas ao Executivo
de Macau ao longo do ano passado atingiu 22,8 mil milhões de dólares de Hong Kong. Ambrose So considerou o resultado da companhia “muito bom”, salientou que as alterações na estrutura accionista da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau – empresa mãe da SJM de forma indirecta e antiga concessionária exclusiva do jogo em Macau – “não afectou minimamente a operação da SJM S.A.” e referiu que o ‘turnover’ (recuperação do investimento) da companhia nos primeiros três meses está a subir cerca de 40%. A assembleia geral da Sociedade de Jogos de Macau S.A. esteve integrada numa maratona de nove reuniões plenárias de empresas ligadas ao universo de Stanley Ho.
entrevista
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Júlio Morais, embaixador de Cabo Verde em Pequim
O
uvidos vários diplomatas presentes esta semana na 6ª reunião ordinária do Secretariado Permanente do Fórum Macau, que sucedeu à 3ª reunião Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, em Novembro passado, também aqui na região, se ganha a convicção de que, do encontro, saíram boas conclusões e melhores perspectivas de acção. Júlio Morais, o embaixador de Cabo Verde na capital chinesa - sempre optimista e no seu jeito naturalmente afectivo -, é dos mais entusiasmados com a forma como decorreram os trabalhos: "Vivemos um momento de viragem, sabemos o que fazer, os meios que dispomos, agora é realizar!" Este representante diplomático destaca bastante ter sido acordada a organização de visitas de líderes políticos de Macau aos países africanos de língua portuguesa e a Timor-Leste. Facto que nunca aconteceu. Que aspectos mais importantes terão saído desta reunião? Sem dúvida muito importante esta 6ª reunião do Secretariado Permanente do Fórum Macau. De certo modo, um balanço da implementação das decisões da Conferência Ministerial de Novembro. Quanto aos aspectos mais importantes, posso mencionar, da parte institucional, a tomada de posse de dois novos secretários-gerais adjuntos, um nomeado por Macau e outro pelos países de língua portuguesa; a tomada de posse de três novos delegados junto do Secretariado Permanente, os delegados do Brasil, de Cabo Verde e de Portugal; e também a tomada de posse da nova coordenadora do gabinete de Administração do Secretariado na pessoa de um quadro do Ministério do Comércio Chinês. Em termos práticos, o que pode destacar? Especial destaque para
António Falcão | bloomland.cn
“Altamente positiva a decisão de visitas de lídere
o preenchimento das condições prévias à operacionalização do Fundo de Desenvolvimento, que foi anunciado pelo PrimeiroMinistro Wen Jiabao na 3ª Conferência Ministerial. Realço ainda um dos pontos que foram acordados nesta reunião, que é a oportunidade e a preemência na organização de visitas de líderes de Macau, sobretudo no campo político, aos países
africanos e asiáticos de língua portuguesa. Isso nunca houve e é extraordinariamente importante essa matéria ter sido acordada e da forma como foi. Posso dizer que obtivemos o eco de que na agenda deste Chefe do Executivo da RAEM, isso está a ser organizado ou pelo menos em curso. Congratulamo-nos [com isso], é uma página muito importante que se abre.
“Uma comunidade que a todos enche de orgulho, que bem representa Cabo Verde. Por outro lado, são agentes do desenvolvimento de Macau”
De quanto é esse Fundo e a que se destina? O Fundo é de cerca de 1 bilião de dólares destinado a projectos empresariais e de investimento nos países de língua portuguesa, sobretudo os países africanos e TimorLeste. O Brasil já disse prescindir, digamos assim, e Portugal não se pronunciou até agora. A directora geral do Departamento para os Assuntos de Taiwan, Hong Kong e Macau, que pertence ao Ministério do Comércio da China, fez-nos o ponto da situação sobre os estudos prévios que já estão praticamente realizados, bem como a arquitectura de gestão, havendo instituições financeiras da China e do Governo de Macau - O Banco de Desenvolvimento da China e um organismo oficial do Governo da RAEM - que irão constituir os dois principais parceiros na gestão desse fundo, embora exista abertura no sentido da participação de instituições financeiras dos países de língua portuguesa. Falta ainda ultimar os aspectos mais operacionais, mas temos o engajamento do governo chinês para que toda a fase preparatória termine no próximo ano. Até lá, cabe-nos identificar os projectos próprios para serem financiados no quadro desse Fundo. Por outro lado, aprovamos o programa de actividades de 2011. Plano de actividades já no sentido de dar consequência aos pontos acordados... É importante sublinhar que o plano corporiza bem o momento que estamos a viver no Fórum, um momento de viragem. Em vez do predomínio de acções de formação e capacitação profissional, que até agora foi um ponto forte do Fórum, este programa de actividades já marca a diferença. São agora, claramente, acções de promoção de actividade económica e empresarial entre os países. Portanto, realização de feiras,
operacionalização do Fundo, operacionalização e dinamização do grupo de trabalho de investimentos, um suporte para a identificação dos projectos, seminários, etc., mas todos na área económico-empresarial. O objectivo é dinamizar, criar pontes entre os agentes económicos destes países que fazer parte do Fórum. Esta é a pista certa, não é por acaso que se chama Fórum para a Cooperação Económica e Empresarial! Estivemos oito anos a montar a estrutura deste bebé que agora começa realmente a andar, sabendo nós onde vamos realmente focalizar as nossas atenções, com que meios podemos contar, estamos ligados por objectivos comuns, agora é fazer, realizar. Este programa de actividades já corporiza esse espírito de pragmatismo, essa filosofia de fazer para andar para a frente pois temos de prestar contas. Foram essas as tarefas que os ministros nos deram. Especificamente para Cabo Verde, em que sectores pode ser mais importante a consequência prática do acordado nesta reunião? Cabo Verde sempre apostou seriamente neste Fórum Macau, designou um secretário-geral adjunto que é um embaixador sénior de carreira, essa circunstância é de grande significado. O embaixador Manuel Amante da Rosa, regressa agora a Cabo Verde, no regime de rotação. Aproveito e torno público o meu apreço e o muito que valorizo a actividade do secretáriogeral adjunto do Fórum, Manuel Amante da Rosa, bem como do delegado Francisco Mendes. Ambos se integraram muito bem nos trabalhos do Fórum e contribuíram também para que se acelerasse e consolidasse este momento de viragem. Quando falo de viragem não me refiro apenas a aspectos substantivos, mas também a aspectos institucionais, de trabalho
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com Helder Fernando
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es de Macau aos países de língua portuguesa”
“Realço ainda um dos pontos que foram acordados nesta reunião, que é a oportunidade e a preemência na organização de visitas de líderes de Macau, sobretudo no campo político, aos países africanos e asiáticos de língua portuguesa. Isso nunca houve e é extraordinariamente importante essa matéria ter sido acordada e da forma como foi” interno do Fórum, de regras. Como embaixador de cabo Verde na capital deste grande país, orgulho-me disso e certamente que irei informar disso o meu governo, depois de o ter feito, com justiça, em plenário dos nossos trabalhos nesta reunião. De enorme justiça e também muito orgulho para mim, ao ver que os dois foram condecorados com o Diploma de Honra e Mérito pelo Secretário-Geral do Fórum na cerimónia de encerramento desta 6ª reunião. Ficámos todos com um sentimento do dever cumprido. Nesta fase de lançamento das bases do Fórum foi importante esses dois diplomatas estarem cá. Também o facto de Francisco Mendes dominar o mandarim contribuiu para uma melhoria do ambiente interno do Fórum, no estabelecimento de pontes entre quem fala mandarim e quem fala português. Por isso, este realce que faço, faço-o com toda a justiça.
Salientado esse aspecto, em que áreas, então, Cabo Verde pode beneficiar? Em relação aos investimentos oriundos do mencionado Fundo, estamos a identificar projectos para apresentar, mas com a China estamos a construir uma parceria cujo objectivo a longo prazo é sermos um parceiro estratégico da China no Atlântico Médio. Estamos a avançar e também num momento de viragem nas relações Cabo Verde-China. Muito marcante a realização, no ano passado, da primeira Comissão Conjunta de Cooperação, um mecanismo de diálogo que nos permite acordar medidas de política imediatas e ainda estabelecer plano de acções, projectos, intenções de médio prazo. Isso está feito, temos hoje um quadro de programação e actuação com os chineses. Falando nos sectores, são os que se enquadram no desenvolvimento do nosso país. Cabo Verde é uma
plataforma de serviços, tem essa vocação e está a investir fortemente nessa área. Com a China queremos sobretudo individualizar alguns sectores sempre na área dos serviços. Em primeiro lugar, o sector das pescas, acumulado à logística de transportes. Neste ponto as negociações com um agente económico chinês estão avançadas no sentido de edificarmos um centro de logística de pescas na Ilha de São Vicente, no quadro de um projecto mais abrangente que é uma zona económica de desenvolvimento das pescas. Estamos agora a montar as condições, o primeiro passo será a participação de uma empresa chinesa para dar sequência a uma empresa cabo-verdiana de reparação naval. Depois, actividades de pesca, não apenas de captura, mas sobretudo de acondicionamento, transformação e reexportação. Para além disto, o turismo e infra-estruturas ligados a este sector, como
imobiliária turística. Também transportes marítimos e aéreos, porque a ideia também é criar um "cluster do mar" e aproveitar a situação geo-estratégica de outra ilha, a do Sal, com um aeroporto internacional e um "hub" subregional de transportes aéreos. Um grande desafio será o turismo, atrair turistas chineses, já que o nosso turismo é de perfil balnear, o que não se adapta muito à demanda chinesa. Mas estamos a trabalhar em alguns nichos, como o "diving", desportos marítimos, pesca, "windsurf". Já temos um acordo com a China na área do turismo, que autoriza os agentes turísticos a terem relações directas, falta implementar esse acordo e caminharmos de forma ascendente. São sectores, pescas e turismo que se complementam de forma variada, aproveitando os mecanismos chineses de financiamento agora criados. Sem esquecer as indústrias culturais e criativas, questões do património, com que também queremos avançar, sobretudo através de Macau, com quem já temos assinado um protocolo no sector do turismo. Tentar estabelecer sinergias entre estes mecanismos promotores de actividades. Desafio maior é fazer negócios directamente com Macau. Em breve devo rodar como embaixador, pois estou há quase seis anos na China e tenho mágoa de ainda não ter assinado um projecto de negócios entre Macau e Cabo Verde. Mas continuo até ao fim a ter essa esperança. As distâncias são enormes, não há ligações directas, as culturas empresariais e administrativas também são diferentes. Cabo Verde tem há vários anos um cônsul honorário em Macau. É verdade, o Dr. David Chow tem tido alguma actividade nessa matéria, embora eu pense que não é fácil porque Macau tem é
pequenas e médias empresas. Continuamos a negociar com ele um projecto antigo, esperando que com o novo governo, a nova legislatura de Cabo Verde avance mais rapidamente. Quer dizer um terceiro mandato do governo. Sim, pela primeira vez, neste caso um governo do PAICV que merece dar continuidade à grande obra que tem vindo a desenvolver. Alguma mensagem directamente para a comunidade cabo-verdiana residente em Macau? O que sempre digo, como sabe: uma comunidade que a todos enche de orgulho, que bem representa Cabo Verde. Por outro lado, são agentes do desenvolvimento de Macau. Posso destacar com particular relevância, o facto de pela primeira vez, este ano, a comunidade cabo-verdiana radicada
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em Macau ter participado activamente nas nossas eleições em Fevereiro, tendo valorizado ainda mais esse acontecimento político nacional. Também por isso nos sentimos orgulhosos com esta participação dos nossos compatriotas nos destinos políticos de Cabo Verde. Posso prometer a esta comunidade que continuaremos a investir na maximização da sua presença em Macau. Continuaremos a estar em permanente diálogo com a Associação de Amizade Macau-Cabo Verde, com todos os nossos concidadãos aqui residentes, na certeza de que eles continuarão a elevar o nome das Ilhas neste recôndito canto asiático onde muito bem representam o pequeno país que somos, mas a nação global que Cabo Verde também é.
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cultura
Cinco candidatos na lista para Património Cultural Imaterial
Para que não fiquem esquecidos
Deusa A-Má, “deusa do Céu” e dos pescadores
Joana Freitas
O
joana.freitas@hojmacau.com.mo
Museu de Macau recebeu ontem as candidaturas dos itens a Património Cultural Imaterial. Para este ano, foram seis as associações a tentar a sorte de preservar as culturas e tradições da comunidade macaense. A Associação de Ópera Chinesa dos moradores da Barra submeteu a candidatura da “Crença a A-Má”. Se o templo da deusa, na zona sul da cidade, construído no século XV pelos pescadores chineses do território e parte da lista dos monumentos históricos da UNESCO, existia antes da própria cidade de Macau, já a própria crença que reside na homenagem a A-Má
“Wuji-Qigong”, a ginástica de manutenção
Templo do deus Na Cha, construído em 1888
A Crença à Deusa A-Má. O nascimento de Na Cha. A gastronomia macaense. O teatro macaísta e o Wuji QiGong. São estas as potenciais tradições de Macau que podem tornar-se Património Imaterial vai ser agora candidata a herança inesquecível de Macau. Também o “Nascimento de Na Cha”, o deus-criança “irreverente,” durante algum tempo honrado como deus das lotarias e do jogo, foi apresentado pelo Templo de Na Cha de Macau. Segundo a lenda, Na Cha apareceu na Calçada das Verdades foi o suporte à moral da população quando, no início do séc. XX, Macau sofreu tumultos políti-
cos e epidemias devastadoras. O primeiro templo em sua honra foi erigido em 1676, na Calçada das Verdades. O segundo, bem no coração de Macau, ergueu-se em 1888 e actualmente continua a ser ponto turístico e de peregrinação. Agora, é o nascimento do deus-criança que os seus crenteS querem tornar património imaterial. Para a Confraria da Gastronomia Macaense também os
tradicionais pratos do território, cozinhados ao sabor de Portugal e temperados pelo Oriente, devem ser arte preservada. A arte da boa mesa macaense vai tentar agora com que o Minchi (carne de porco picada com batatas fritas) e a Pou Kok Kai (Galinha à Macaense) não percam o sabor, levando a Gastronomia Macaense a fazer parte da cultura do território. O Dóci Papiaçam di Macau, o
grupo de teatro em patuá do território, levou a cabo a promessa de ontem, publicada pelo Hoje Macau, e apresentou a candidatura do teatro macaísta para património imaterial – forma estratégica de evidenciar a importância de um dialecto crioulo, do território e dos macaenses, que, por motivos de regulamento, foi impossibilitado de fazer parte da lista. “Wuji Qigong”, a ginástica milenar que junta os princípios da medicina tradicional chinesa aos movimentos do QiGong, submetida pela Associação da Promoção de Ginástica Tradicional Mou Kek, foi outro dos itens candidatos àquela que é a lista que torna inesquecível as tradições e culturas desta pequena região do Delta do Rio das Pérolas. O Museu de Macau vai proceder à avaliação dos candidatos, através de um grupo de juízes especializados, e recorda que haverá ainda mais uma possibilidade de entrega de itens para todas as associações que, por qualquer motivo, não tenham tido possibilidade de entregar a candidatura. Para os candidatos, esta pode ser uma forma de ser património cultural imaterial muito para além do Oriente. A integração nesta lista pode ser a rampa de lançamento para a Lista do Património Mundial da Humanidade da UNESCO.
Rádio Macau reforça grelha, com regresso de “Contraponto”
Comentários na tarde de sábado O
“Contraponto”, programa de análise da Rádio Macau, regressa amanhã. A partir das 15h30, o painel de comentadores da estação em português vai analisar os temas que marcam a actualidade. Na edição desta semana vão estar presentes os jornalistas Isabel Castro, Carlos Morais José e Sérgio Terra. Além destes, o painel do “Contraponto” será constituído por Beltrão Coelho e Emanuel Graça.
O regresso do programa insere-se na política de renovação da grelha da Rádio Macau, que estreou no início de Março com o “Paralelo 22”, o magazine de informação
que vai para o ar aos domingos ao meio-dia, com repetição terça-feira às 10h30. Esta semana, em destaque estão o último dia do restaurante Long Kei, a vida difícil das pequenas e médias empresas e os desafios do Fórum Macau depois da reunião ministerial de Novembro, analisados pelo delegado da agência Lusa em Macau, José Costa Santos. Na linha de renovação insere-se também a nova página da Rádio
Macau na Internet, que inclui agora notícias em texto e a habitual audição dos programas, entrevistas e o noticiário das 19h00, além da emissão em directo. Em preparação estão ainda outros programas e espaços radiofónicos, a estrear nos próximos meses. À quarta-feira, a partir das 10h30 pode ser ouvida a repetição do “Contraponto” na página da Internet da Rádio Macau, logo após a primeira edição.
Dóci Papiaçam, o grupo de teatro macaense, em palco
“Minchi”, prato típico da gastronomia macaense
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Exposição de postais antigos sobre o Oriente português
Influência lusa em papel O
Oriente, que em meados de 1500 começou a ser percorrido por navegadores, militares, comerciantes e missionários lusitanos, teve a sua matriz na mítica Ilha de Moçambique, por onde passaram, entre tantos outros vultos, Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque, Camões e São Francisco Xavier. Desde então e até ao último ano do século XX, quando ocorreu a transferência da administração de Macau para a China, decorreram cerca de cinco séculos em que a língua e a influência cultural portuguesa chegaram a terras distantes do Índico e do Pacífico. É esta herança cultural lusitana no Oriente e os variados aspectos da paisagem geográfica, urbanística, arquitectónica, social e humana dos territórios por ela impactados, que João Loureiro, possuidor de uma
vasta e importante colecção de postais que originaram já a edição de mais de uma dezena de álbuns, oferece temporariamente para exposição no Instituto Internacional de Macau (IIM). Depois de, em Março de 2010, parte da colecção de João Loureiro, contemplando os cinco países africanos de língua oficial portuguesa – Cabo Verde, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe, Angola
e Moçambique –, ter estado exposta, é agora a vez de serem divulgadas mais uma parte relevante dos seus bilhetes postais antigos, agora respeitantes aos territórios do Oriente. No total podem ser vistos 170 postais fotográficos datados dos finais do século XIX até aos anos sessenta do século passado, que se referem ao Estado da Índia (Goa, Damão e Diu), Macau e Timor.
Saramago antecipou acontecimentos nos países árabes
O profeta José P
ara Pilar del Río, viúva de José Saramago, a obra do escritor português “Ensaio sobre a lucidez”, de 2004, antecipa o que está a acontecer em alguns países árabes. “Saramago disse sempre que o poder da cidadania é único poder legítimo. Foi antecipatório de muitas coisas que estão a acontecer agora nos países árabes”, disse Pilar aos jornalistas durante a sua participação no Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, que exibe o documentário “José e Pilar” fora da competição. Em “Ensaio sobre a lucidez”, José Saramago escreveu a história de um povo que nas eleições do seu país optou por votar em branco, surpreendentemente e sem ter dado qualquer sinal prévio de que isso fosse acontecer. Não satisfeito com os resultados, o poder político convoca novas eleições e os votos em branco repetem-se, levantando assim as suspeitas do governo que decide desencadear uma vasta operação policial para descobrir de onde surgiu o movimento. São questões sobre a democracia e as ditaduras que Saramago levanta e que Pilar del Río acredita serem reflexões da realidade dos dias de hoje. Jornalista e tradutora da obra de Saramago, Pilar defendeu em Guadalajara que o escritor não foi um visionário, mas sim um
intelectual que, à custa de muita reflexão e observação, conhecia muito bem as falhas do mundo. “Era um homem que pensava, que via o mundo e sabia onde estavam as suas falhas, ele sabia que não havia uma crise económica mas sim moral e que por isso vamos demorar muito tempo a conseguir sair dela”, contou Pilar sobre o Prémio Nobel da Literatura. Pilar del Rio esteve a promover o documentário que retrata a vida do escritor e da relação de amor e trabalho que tinha consigo, acompanhando o casal na escrita e na divulgação do livro “Viagem do Elefante”.
AVISO DE RECRUTAMENTO Categorias: Três vagas para Docentes do ensino secundário de nível 1, 1.º escalão (Ensino Especial) - Ref. DS01 Uma vaga para Docente do ensino secundário de nível 1, 1.º escalão (Ensino Especial *) - Ref. DS02 Uma vaga para Docente do ensino secundário de nível 1, 1.º escalão (Língua Chinesa **) - Ref. DS03 Uma vaga para Docente do ensino secundário de nível 1, 1.º escalão (Matemática **) Ref. DS04 Uma vaga para Docente do ensino secundário de nível 1, 1.º escalão (Língua Portuguesa **) - Ref. DS05 Uma vaga para Docente do ensino secundário de nível 1, 1.º escalão (Língua Portuguesa/ Tradução e Interpretação na Área Luso-Chinesa) - Ref. DS06 Uma vaga para Docente do ensino secundário de nível 1, 1.º escalão (Educação Cívica) - Ref. DS07 Uma vaga para Docente do ensino secundário de nível 1, 1.º escalão (História) - Ref. DS08 Uma vaga para Docente do ensino secundário de nível 1, 1.º escalão (Educação Física) - Ref. DS09 Uma vaga para Docente do ensino secundário de nível 1, 1.º escalão (Tecnologias) - Ref. DS10 Uma vaga para Docente do ensino secundário de nível 1, 1.º escalão (Matemática) - Ref. DS11 * Os destinatários são alunos com língua materna portuguesa. ** Desempenhar funções na Inspecção Escolar. Condições de candidatura: - Ser residente permanente da Região Administrativa Especial de Macau; - Reunir as condições estipuladas na Secção I, Capítulo I, Título II, do Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau, em vigor; bem como os requisitos especiais, do artigo 6.º, da Lei n.º 12/2010, Regime das carreiras dos docentes e auxiliares de ensino das escolas oficiais do ensino não superior; - Licenciatura nas áreas relacionadas e formação pedagógica. Forma de contratação e remunerações: Docentes do ensino secundário de nível 1, 1.º escalão, índice 440, na tabela de vencimentos da função pública, com remuneração correspondente ao índice 420, no período experimental. Período experimental de 6 meses, em regime de contrato de assalariamento. Depois de terminado este período experimental, poderão continuar a ser contratados sob as formas de contratos de assalariamento ou de além do quadro, que estão previstas no Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau, em vigor. Além disso, todos os cargos, acima referidos, gozam dos direitos e as regalias definidas no Regime Jurídico da Função Pública. Nota importante para inscrição: Os interessados devem consultar, antes da apresentação das candidatura, a página electrónica www.dsej.gov.mo para conhecerem, em pormenor, os respectivos conteúdos funcionais, os requisitos das candidaturas, preferências, tipos de contratos e remunerações, método de selecção, a composição dos Júris e programa das provas de conhecimentos. Forma e prazo das candidaturas: Os candidatos devem entregar, obrigatoriamente, os seguintes elementos: - Boletim de candidatura do posto de trabalho, a que se candidatam, devidamente, preenchido (pode ser obtido, pessoalmente, na Direcção dos Serviços de Educação e Juventude ou através de download no portal desta Direcção de Serviços em: www.dsej. gov.mo); - Cópia do documento de identificação (é necessário apresentar o original no acto da entrega dos documentos); - Nota curricular (em chinês ou em português); - Cópias dos documentos comprovativos das habilitações académicas e das respectivas classificações (é necessário apresentar os originais no acto da entrega dos documentos). Os candidatos devem entregar os referidos documentos, durante as horas normais de expediente, na DSEJ, Avenida D. João IV, n.os 7-9, 1º andar, Macau. Prazo das candidatura: de 31 de Março a 12 de Abril de 2011.
Macau, aos 31 de Março de 2011.
A Directora,
Leong Lai
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J
oão Moutinho é o jogador com mais jogos já disputados esta temporada entre os que vão estar no domingo no duelo da Luz que poderá entregar o título aos portistas. O médio do FC Porto já participou em 38 partidas, logo seguido pelo seu companheiro de equipa Hulk, que entrou em campo por 37 vezes. Máxi Pereira e Gaitán, com 36 jogos, são os nomes em quem Jorge Jesus mais apostou esta temporada. Uma época desgastante para estes clubes, com um número de jogos semelhante ao dos colossos europeus como Barcelona (47) ou Manchester United (46). O FC Porto já soma 45 jogos nas pernas e os homens da Luz têm apenas menos um. Mas este número de partidas, que resulta, sobretudo, de uma boa temporada dos clubes portugueses a nível internacional, com os três emblemas envolvidos ainda nos quartos-de-final da Liga Europa (a portistas e a benfiquistas juntase o Sp. Braga), não convence aqueles que defendem a necessidade de aumentar o número de jogos em Portugal. Nem mesmo sabendo-se que os atletas, aos 50 a 60 encontros por temporada, atingem a linha a partir da qual
desporto Futebol | Benfica e FC Porto disputam clássico no domingo
Mais de 40 jogos nas pernas
o risco de lesões pode subir consideravelmente. “O aumento da fadiga e do stress começa a ser particularmente preocupante a partir dos 60 jogos.
O risco de lesões aumenta, mas não existe capacidade científica para provar esta teoria”, conta José Soares, especialista em Fisiologia de Esforço da Universidade do Porto, adiantando que o mais importante de tudo é que seja cumprido o período de recuperação recomendado. “Se tudo for feito da melhor forma, 72 horas são valores aceitáveis para os jogadores recuperarem o máximo da sua recuperação física. Mas é preciso que exista mesmo um programa rigoroso de recuperação”, sublinha. Este foi, de resto, um dos aspectos que o treinador do Benfica sublinhou no final do desafio com o Paços de Ferreira, ao garantir que não é o número de jogos que o preocupava. “Quando se fala nessa sobrecarga, há duas formas de a analisar. Não tem a ver com a quantidade de jogos, mas sim com o tempo de recuperação. Quando se joga quinta e domingo, não há
problema; quando é quinta e sábado, há problema”, explicou. “Não há nenhum problema em jogar ao domingo e à quarta-feira, desde que sejam preservadas as 72 horas que está provado ser o tempo necessário para recuperar do ponto de vista físico e mental”, acrescentou o treinador do Paços, Rui Vitória. Mas há quem defenda a necessidade de mais jogos em Portugal. Há equipas que disputam pouco mais que as 30 partidas da Liga. O Marítimo, que está no meio da tabela, ficará pelos 35, longe dos 40 do Toulouse, que também ocupa o 10.º lugar em França, ou do Stoke City (10.º classificado em Inglaterra), que chegará aos 46 ou 47. O Osasuna, em Espanha, sem conseguir nada de notável, realiza 40 partidas. “Basta olhar para os campeonatos bem-sucedidos, ver o volume competitivo que esses países têm, quando comparados com o nosso. Nós fazemos uma
média de 30 a 35 jogos por época. Nos outros países, fazem-se mais 15 ou 20 jogos”, refere o treinador do V. Guimarães, Manuel Machado, que diz haver jogadores em Portugal que nem chegam a jogar. O especialista em marketing Daniel Sá também considera que poderia existir mais jogos, mas defende que os clubes têm de imitar o trabalho de marketing desenvolvido pelos três “grandes”, Sp. Braga e V. Guimarães. “Mas a Taça da Liga já veio colmatar algum vazio competitivo que existia em Portugal e está bem construída, despertando interesse, apesar de ser uma prova jovem”, refere este especialista. Uma opinião partilhada pelos responsáveis da Liga, que defendem que esta prova “respondeu a essa necessidade, provocando um aumento significativo no número de jogos por época” e criou receitas suplementares. Consideram ainda que o calendário está já muito carregado.
carta de despedimento de queiroz contraria Madaíl
Mentira tem perna curta G
ilberto Madaíl, presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), disse, na última segundafeira, que Carlos Queiroz foi despedido “por violação dos seus deveres para com a instituição” e não “devido à situação com a Autoridade Antidopagem de Portugal (Adop)”. Mas a carta de despedimento enviada ao ex-seleccionador aponta os insultos aos médicos da brigada antidoping e a suspensão de seis meses como
dois dos quatro “motivos justificativos” para a rescisão de contrato. No documento enviado em Setembro ao ex-seleccionador - a que o jornal Público teve acesso - os responsáveis da federação comunicaram o despedimento a Carlos Queiroz, apontando como motivos de justa causa não só o facto de ter posto em causa a estrutura da FPF e ter feito acusações a Amândio de Carvalho (a tal quebra de deveres, de que falou Madaíl), mas também as palavras proferidas contra os médicos da brigada antidoping e a suspensão de seis meses daí resultante. “Tais afirmações [de Madaíl] só podem explicar-se por falta de memória ou falta de informação”, reagiu Rui Patrício, advogado de Queiroz. Os motivos do despedimento de Queiroz
ganharam nova relevância, depois de o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) ter decidido anular a suspensão de seis meses aplicada pela Autoridade Antidopagem de Portugal. O peso desta suspensão de seis meses na decisão de despedir Queiroz será determinante para o Tribunal do Trabalho apurar se a FPF tinha motivos para despedir Queiroz. Neste processo, o ex-seleccionador exige uma indemnização superior a três milhões de euros, tendo a seu favor a decisão do TAD. Mas, por outro lado, na mesma carta de despedimento a FPF acusa o ex-seleccionador de pôr em causa a estrutura da federação e revelar factos ocorridos durante o seu exercício de funções, considerando que as expressões proferidas na Covilhã e a atitude em relação aos médicos foram “um ilícito contratual e ético grave”.
361 mil pessoas querem ver um único jogo de futebol
Desespero pelo Dortmund A
hipótese do Borussia Dortmund sagrar-se campeão da Alemanha no dia 14 de Maio está a originar uma onda de euforia junto dos seus adeptos. Para já, há quase 361 mil desejosos de estarem presentes na partida de consagração. O Borussia Dortmund lidera a Bundesliga com sete pontos de avanço sobre o Bayer Leverkusen, antes de disputada a 28.ª jornada do campeonato. Uma vantagem que os adeptos consideram suficiente para garantir a
conquista do título. Por isso, a procura de ingressos para a derradeira partida da Liga é avassaladora, embora ainda falte mais de um mês para o jogo. Os responsáveis do Borussia Dortmund já anunciaram que todos aqueles que desejarem um bilhete têm até ao dia 10 de Abril para fazerem um pré-registo. Depois, será realizado um sorteio. Por enquanto, 301 mil adeptos já se registaram. Além destes há ainda 51.200 sócios que já têm o seu lugar garantido, pois possuem um bilhete de época,
e 8000 ingressos destinados aos adeptos do Eintracht Franckfurt, adversário do Dortmund na 34.ª jornada. O Signal-Iduna-Park, antigo Westfalenstadion, é o maior estádio da Alemanha, com uma lotação de 80.720 lugares. A “saladeira”, como é conhecido o troféu entregue ao campeão alemão, é tradicionalmente entregue na última jornada do campeonato, mesmo que o campeão já seja conhecido antes. O Dortmund não conquista o título germânico desde 2002.
Filipa Queiroz
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Gil Raposo | Cozinheiro e dono do restaurante Porto de Macau
Um desafio à moda do Oriente Filipa Queiroz
filipa.queiroz@hojemacau.com.mo
Quando há três anos se viu aterrar de
pára-quedas no recém-inaugurado Four Seasons, no Cotai, Gil Raposo percebeu que tinha um grande desafio pela frente. A começar pela equipa que ia liderar. “Eram todos chineses, pouco ou nada sabiam sobre a comida portuguesa, pouco ou nada falavam inglês e depois tinham aquela coisa de dizerem sempre ‘O.K., O.K., O.K.’ a tudo e depois olhamos para o lado e estão a olhar para nós porque não perceberam nada.” Mas o lisboeta, com costela alentejana, abraçou o desafio. Recorda-se de um rapaz, muito jovem, que “mal sabia descascar uma batata ou uma cebola” e que depois acabou por não só aprender a confeccionar comida portuguesa como a falar inglês e um pouco de português. “Hoje está a trabalhar numa cozinha e gosta do que faz, o que para mim é gratificante, porque se calhar outra pessoa teria posto o rapaz de parte porque só estava ali para fazer número”, conta o agora proprietário do restaurante Porto de Macau. “Eu preferi lutar por ele e ensinar-lhe um pouco do que sabe agora. Ainda hoje ele passa cá de vez em quando e agradece-me.” Gil Raposo saiu do Four Seasons em Dezembro para em Fevereiro abrir o
seu negócio próprio juntamente com a mulher, Mariana, que recebe de sorriso rasgado todos os clientes do restaurante da Taipa. Casaram-se cá, há um ano e meio, e agora esperam o primeiro filho e um ano que se adivinha de grande desafios. “Vai ser complicado mas muito importante.” O projecto de ter um espaço “seu” era um sonho antigo. A paixão pela comida, essa recorda que nasceu na cozinha dos pais, em Alcácer do Sal, pleno Alentejo. “Era para fugir aos estudos, ajudava a minha mãe a cozinhar.” Começou pelo arroz simples. “A minha mãe deixava arroz feito de um dia para o outro, e eu dizia que gostava mais dele acabado de fazer, então ela ensinou-me e eu comecei a fazê-lo eu mesmo”, explica. A partir daí, os estudo enveredaram pelo mesmo ramo. Estudou na Escola Profissional de Hotelaria e Turismo de Lisboa e em 2000 fez parte da equipa portuguesa que participou nas Olimpíadas de Culinária, na Alemanha. A um ritmo diário, durante um ano Gil Raposo praticou para o desafio onde acabou por conquistar a prata e uma das provas mais marcantes da sua vida. “É uma experiência que se vive intensamente, éramos um grupo pequeno
que se tornou uma família durante um ano”, recorda. E quanto mais caminhava, mais gostava de desenvolver o seu talento. “Todos os dias aparecem coisas e técnicas novas. Às vezes não é só aquela receita básica do leite-creme, ele pode ter várias variantes e é nisso que gosto de trabalhar.” Depois das Olimpíadas, Gil Raposo passou por vários hotéis, inclusive o Sheraton do Porto, e aquele que foi o seu maior desafio, o Ritz Four Seasons de Lisboa. “Eu era um jovem com 20 anos, para mim tudo era novo, era tudo como víamos apenas nas revistas, fascinante.” Esteve lá quatro anos. Entretanto ainda passou pelo CS Hotéis, onde se estreou como chef, mas o Ritz chamou-o de volta para um ano depois o enviar para Macau. São os ensinamentos de todos esses anos de trabalho e esforço que hoje serve às mesas do seu espaço próprio na RAEM, onde garante que já se movimenta com facilidade, inclusive no mercado que visita diariamente para comprar legumes e peixe fresco. “Tive de aprender como dizer os ingredientes em chinês, para que a minha equipa soubesse do que é que eu precisava, e fui conseguindo a pouco e pouco.” Alterar “aquele sabor português” para ficar mais ao gosto
da maioria chinesa dos clientes foi o segundo passo. “Tive de adaptar as nossas receitas, sobretudo no que toca ao sal e ao azeite”, diz. “Se os clientes chineses virem um prato de bacalhau com azeite, por exemplo, não gostam”, acrescenta. No Porto de Macau servem-se “os sabores portugueses” mas com “um visual diferente”. “Sei que aqui é quase impossível fazer uma caldeirada à moda de Sesimbra, porque isso só se come em Sesimbra. Ou uma feijoada à transmontana porque isso só se come em Trás-os-Montes. Mas tento fazer o mais parecido possível.” Gil Raposo gosta de lembrar os tempos de juventude em que nas folgas ia a Sesimbra e Setúbal comer peixe grelhado. Depois de três anos a viver do outro lado do globo, o português diz que “está mais ambientado” e vê-se a passar o futuro próximo por estas bandas. Só não sabe por quanto tempo. “O nosso investimento está feito cá, o que não quer dizer que vá ficar cá até aos 60 ou 70 anos. Penso continuar por mais alguns anos e ver, até porque com negócio nunca se sabe.” Até lá saboreia o caminho à boa moda portuguesa com uma pitada de Oriente à mistura.
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ideias l u z d e i n ver n o Boi Luxo
Wim Wenders
Falsche Bewegung, 1975
“Wilhelm não penetrará na floresta, como havia feito o Wilhelm Meister de Goethe, porque esta não é a Alemanha florestal mas uma Alemanha vagamente industrial e fluvial (o Reno aparece em todos os filmes) onde o sol nunca brilha.”
Ver este filme agora, passados todos estes anos, é operar um regresso quase impossível. Não porque ele tenha envelhecido, mas porque pertence a uma época que parece mais longínqua do que verdadeiramente é. Se este também é um filme de estrada (com outros dois tem sido apresentado como parte de uma trilogia de estrada) este, que o é menos que os outros dois, é o que se instalou numa distância fechada mais hermeticamente. É aquele de entre os três que se refugiou num lugar menos nostálgico. Este filme, desde as suas imagens iniciais, impiedosas, mantém-nos reféns de uma coisa que fomos e que já não é fácil de identificar, uma coisa entre o rural e o industrial e de um tempo igualmente difícil de determinar. No início deste filme, que é uma vista aérea que é um filme em si mesma e que quase dispensa o resto, tomamos uma posição aérea em relação à sua figura principal, Wilhelm. Este despede-se da mãe e da pequena cidade de província onde ambos vivem. São duas vidas que se bifurcam num desentendimento geracional. A vida da mãe, que vende a casa onde existia um velho cinema que será um pequeno supermercado de província. A vida da mãe, que começa uma independência que terá a exibição de cigarros e martinis como bandeira visível, e a vida do filho a quem ela compra um bilhete para Bona e a quem um bloqueio semelhante ao bloqueio do protagonista de Alice in den Städten o levará à divagação que caracteriza estes filmes. Wilhelm não penetrará na floresta, como havia feito o Wilhelm Meister de Goethe, porque esta não é a Alemanha florestal mas uma Alemanha vagamente industrial e fluvial (o
Reno aparece em todos os filmes) onde o sol nunca brilha. O mesmo acontece em Alice in den Städten e em Im Lauf der Zeit, filmes onde encontramos também homens soltos numa deriva onde a melancolia que se desprende dos seus percursos dificilmente esconde a angústia pessoal e nacional. O actor é também o mesmo, Rüdiger Vogler. O que é diferente é que este filme é mais solto nas suas intenções, não existindo uma orientação narrativa precisa (que nos outros, mesmo que tenham sido construídos do mesmo modo, sem um argumento rígido pré-existente, existe de um modo mais claro). É essa ausência que o torna mais pessoal e mais inesquecível. Também é o filme em que há mais gente. Neste, são vários os deserdados existenciais que se vão juntando, como afluentes de um rio desta estória fluvial, à viagem de Wilhelm - desde um velho nazi acompanhado da sua sobrinha, a um poeta austríaco falhado gordo e ao rosto e à voz por excelência de um cinema, o alemão, que a dada altura era isso mesmo, um cinema nacional: Hanna Schygulla. É igualmente aquele que tem menos referências à América, sendo nesse sentido o mais alemão, o mais fechado, o mais labiríntico e o mais desgarrado a nível do conjunto das suas imagens. É também, e este aspecto fá-lo muito diferente, o único dos três que é a cores, e a existência da cor torna-o muito mais violento por o tornar mais real. Ou talvez por outra razão qualquer, talvez por a cor se aliar a um contorno de viagem menos distinto, muito menos distinto. Somos agredidos com a cor logo de início quando,
no genérico, vemos o nome do filme num vermelho forte, em fundo negro. Depois são as imagens a que já aqui foi feita referência, as imagens aéreas que nos mostram o tom de todo o filme e do incómodo necessário que esta estória produz. Encontrados os caminhos deste improvável grupo de 5 pessoas, este dirige-se a casa de um tio de Bernhard Landau, o austríaco gordo. A ambulação do grupo, que havia sido feita de comboio e a pé (muito mais do que em qualquer dos outros dois filmes) faz-se agora de carro, no carro de Schygulla. Em casa de um homem que se ia suicidar quando o grupo aparece (e que, afinal, não é o tio de Bernhard) vão-se lentamente desvendando as figuras, os seus labirintos pessoais e as suas opiniões sobre o mundo: a escrita ou a solidão. Nós acompanhamos as figuras de modo solto, sem uma finalidade definida, e parece que é mesmo isto que o filme nos pede, uma disposição peripatética e distanciada e a mim parece-me também, subitamente, de uma maneira aguda e desconfortavelmente nítida, que é melhor ver este filme agora do que há 35 anos. O desespero e a alienação não são nada de novo no cinema nem o eram em 1975. O que não se estava à espera é que ganhassem, com o passar dos anos, uma carga poética tão eficaz. Nem a resolução do “caso” de Wilhelm tem, hoje, a mínima relevância. Depois da sua parte deambulatória chegamos à parte estática do filme, que é, ironicamente, a parte mais desnorteante. É na cidade de Taunus, numa zona sub-urbana, presumo que perto de Bona. Este é um bocado de filme
que rivaliza com alguns planos de Antonioni ou de Wakamatsu Koji no retrato de blocos residenciais e do aspecto demente e absurdo que deles se desprende. Este é um bocado de filme em que quatro das personagens do filme (Bernhard, entretanto, desapareceu) regressam às suas actividades normais. Schygulla decora textos (é actriz), Wilhelm tenta escrever (quer ser escritor), Mignon e o antigo nazi pedem dinheiro na rua. Na sala da casa de Schygulla, Wenders filma uma disposição que é exactamente a mesma disposição que filma em muitos hotéis em muitos dos seus outros filmes. Seria fastidioso enumerar estes planos. Que este olhar sobre o mundo, que parte do interior para um exterior que é invariavelmente nocturno e desconhecido, seja mais assustador num apartamento do que num hotel, o lugar por excelência do deslocamento, é a marca máxima da angústia urbana. Voltamos, além disso, a um olhar de cima para baixo e sempre distante, a um olhar que recusa a aproximação e que revela a incompreensão. Este é o outro lado da pequena cidade alemã, a cidade moderna – por oposição à pequena cidade de província onde Wilhelm vivera com a mãe. Nas duas paira um silêncio que é o mesmo silêncio mas que é um silêncio diferente. Na primeira um silêncio antigo e um silêncio que é da história, e na segunda um silêncio que é o silêncio moderno (ou era-o na altura), talvez inspirador de maior medo porque é um silêncio (e um desespero) que é mais difícil de ultrapassar uma vez que se trata de um silêncio que ainda não está testado pela história. É um silêncio da categoria do silêncio urbano de Tati - sem o humor.
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19 文子 Wen Zi A COMPREENSÃO DOS MISTÉRIOS
Capítulo 143 A melhor defesa não é a resistência e a melhor arte da guerra nada tem a ver com a batalha.
Lao Tzu disse: Um vasto território e grandes populações não bastam para constituir poder; fortes armaduras e armas aguçadas não garantem a vitória; altos bastiões e fossos profundos não bastam para garantir segurança; castigos duros e leis inflexíveis não bastam para constituir autoridade. Aqueles que praticam políticas de sobrevivência seguramente sobreviverão, mesmo que sejam pequenos; aqueles que praticam políticas de destruição serão decerto destruídos, mesmo que sejam grandes. Por isso, a melhor defesa não é a resistência e a melhor arte da guerra nada tem a ver com a batalha. Se confiares no impulso do tempo e te alinhares com os desejos do povo, o mundo seguirá. Aqueles que sabem governar desenvolvem a sua benevolência, aqueles que sabem conduzir operações militares desenvolvem a sua ira. Quando a benevolência se desenvolve, o povo concorda em ser empregue, quando a
ira se desenvolve, o poder pode ser estabelecido. Assim, quando a cultura se encontra profundamente entranhada, a autoridade goza de grande influência; quando a benevolência é partilhada generosamente, o poder dispõe de grande controle. Como tal, torna-te forte enquanto os teus inimigos se vão enfraquecendo. Aqueles que sabem conduzir operações militares tratam primeiro de enfraquecer seus inimigos e, só depois, se dão à luta. Por este motivo, as suas despesas são grandemente reduzidas, enquanto a sua eficiência se multiplica tremendamente. Se um pequeno país for culto e benevolente, prevalecerá; se um grande país for militarista, perecerá. Enquanto que um exército poderoso ganha antes de partir para a batalha, um exército derrotado parte para a batalha antes de procurar vencer; isto acontece por falta de compreensão da Via.
Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho O texto conhecido por Wen Tzu, ou Wen Zi, tem por subtítulo a expressão “A Compreensão dos Mistérios”. Este subtítulo honorífico teve origem na renascença taoista da Dinastia Tang, embora o texto fosse conhecido e estudado desde pelo menos quatro a três séculos antes da era comum. O Wen Tzu terá sido compilado por um discípulo de Lao Tzu, sendo muito do seu conteúdo atribuído ao próprio Lao Tzu. O historiador Su Ma Qian (14590 a.C.) dá nota destes factos nos seus “Registos do Grande Historiador” compostos durante a predominantemente confucionista Dinastia Han. A obra parece consistir de um destilar do corpus central da sabedoria Taoista constituído pelo Tao Te Qing, pelo Chuang Tzu e pelo Huainanzi. Para esta versão portuguesa foi utilizada a primeira e, até à data, única tradução inglesa do texto, da autoria do Professor Thomas Cleary, publicada em Taoist Classics, Volume I, Shambala, Boston 2003. Foi ainda utilizada uma versão do texto chinês editada por Shiung Duen Sheng e publicada online.
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ideias
20 p er sp ect i va s Jorge Rodrigues Simão
Eco-urbanismo “How might a city look and its life be lived if it satisfied the requirements for sustainable development? A city, in other words, whose residents used no more than their share of the earth’s resources than what our globe can reasonably endure.” Images of the Future City - Time and Space For Sustainable Development Mattias Höjer, Anders Gullberg and Ronny Pettersson
O
Fórum de Cooperação e Exposição Ambiental Internacional de Macau (MIECF na sigla inglesa) foi inaugurado ontem e prolonga-se até 2 de Abril, tendo por objectivo encontrar soluções para um futuro de baixo carbono e desenvolvimento urbano sustentável. O desenvolvimento urbano sustentável, ou eco-urbanismo, é a aplicação a um urbanismo sustentável num contexto urbano, que revela a necessidade de repensar uma nova ordem ecológica urbana, pelo respeito ao direito de uma cidade mais compacta, diversa e acessível a todos. É um domínio do pensamento que o urbanista pode adoptar nos projectos urbanos e que deve ser considerada a sua integração nas políticas governamentais. A grande questão que se coloca é a de qual o âmbito que actualmente pode orientar a proposta de eco-urbanismo? Pode consolidar três áreas de acção complexas do desenvolvimento urbano. Proposta que altera, no tempo, a dinâmica social, económica e política, associada a um conjunto sistémico complexo que é o ambiente. Complexidade que nutre o ecossistema urbano com acontecimentos de desenvolvimento urbano, que elevem a entropia informativa do sistema, para que este, por sua vez, possa reorganizar o metabolismo em termos de consumo de resíduos, água, energia e preservar os serviços da cidade. Espaços sustentáveis, acessíveis à diversidade da comunidade, próximos para o aproveitamento de resíduos urbanos locais e utilização de energias, com infra-estruturas eficientes, adaptáveis às necessidades imprescindíveis dos cidadãos. Tendo em consideração tal perspectiva, o eco-urbanismo propõe uma sucessão urbana (transformação), capaz de estimular pontualmente a complexidade do ecossistema urbano de uma cidade, bairro ou indústria, actuando directamente nas suas mazelas sócio-económicas, apoiando a sustentabilidade do ambiente urbano. Este pensamento pode dar ideia do desenho de uma cidade teórica, não obstante, pese o facto de que a proposta da ecologia urbana não peca de ilusão, senão de possibilidade. A proposta pode sintetizar-se como diversa, compacta e acessível. Estes três princípios
estratégicos do ordenamento urbano e territorial, podem ser tomados como um pensamento eco-sistémico. O urbanismo difuso da cidade actual, condena à segregação de usos e funções, quer as encontre homogéneas ou não. Como consequência, vai-se perdendo a complexidade da vida urbana, sustentada na afirmação da diversidade, do próximo e do acessível. Nesse entendimento é de reconhecer a relação dos termos complexidade e sustentabilidade. Essas dimensões dão coerência às ideias estratégicas, que possam viabilizar propostas que sirvam para avaliar as diferentes alternativas de planeamento territorial, de um processo de planeamento urbano, e que possa incorporar os critérios ecológicos nos procedimentos de decisão. Estas estratégias organizam-se em três grandes princípios de forma lógica.
dos a energias alternativas. A construção da linha do metro ligeiro de superfície no caso de Macau, vem beneficiar a contenção do uso de veículos privados e o uso do transporte público colectivo. Os objectivos ambientais do eco-urbanismo, vinculam o sistema de infra-estruturas de mobilidade a um modelo que permita uma melhor eficiência energética e à redução de emissões de poluentes. Evita os riscos associados às características do local de implantação de empreendimentos, e ao uso que é atribuído ao solo diminuindo riscos e impactos ambientais negativos. As ligações com objectivos ambientais do eco-urbanismo, ou metabolismo urbano, passam pela racionalização do ciclo do água, contribuindo para o uso e gestão eficientes deste recurso, tanto no que respeita à disponibilidade, poupança e reutilização, como na sua qualidade, prevenção de riscos e protecção dos aquíferos; pela eficiência energética, garantindo um uso e gestão mais eficientes destes recursos; pela redução de resíduos, permitindo condições de proximidade para uma gestão integral da sua produção, dadas as características e equipamentos existentes no marco de uma política dirigida à minimização.
O urbanismo difuso da cidade actual, condena à segregação de usos e funções, quer as encontre homogéneas ou não. Como consequência, vai-se perdendo a complexidade da vida urbana, sustentada na afirmação da diversidade, do próximo e do acessível. O primeiro, é o da diversidade na organização urbana, que tem por estratégia, revitalizar os centros tradicionais e garantir acesso aos novos centros, promovendo a união dos seus usos, favorecendo os tecidos com tipologias mistas, noutros com tipologias especializadas onde a separação de usos é aconselhável. O segundo, é a heterogeneidade tipológica e social do sistema urbano. É importante a apresentação de propostas que facilitem a união social, isto é, garantir um grau de diversidade, compacidade e continuidade dos tecidos resultantes ao favorecimento da coesão social. Integrar as tipologias especializadas nos tecidos urbanos, proporcionando a mistura de usos nos novos desenvolvimentos, que se terão que concentrar em zonas onde actualmente há uma excessiva especialização dos tecidos. O terceiro, tratará de melhorar a eficiência dos transportes públicos, favorecendo a mudança de modalidade, mediante a sua melhoria com a utilização de veículos movi-
O uso do transporte público depende da sua velocidade e regularidade, mas sobretudo da sua competitividade em relação ao transporte privado, seu concorrente. As redes de transporte público mais eficientes são aquelas que dão uma velocidade e regularidade mais alta em comparação com o veículo privado, e menos poluente numa política de protecção ambiental estrita a seguir pelo governo. É necessário favorecer a transferência modal dos deslocamentos em automóvel para os meios de transporte público. Torna-se necessário e imediato, reduzir os impactos negativos sobre o ambiente como são a poluição atmosférica e acústica, e o aumento de ocupação e de fragmentação do solo derivado das ampliações das redes que dão suporte a esta mobilidade e avançar na alteração do modelo energético actual do transporte, que trás redução de consumo e de emissões, e é em definitivo um aspecto fundamental para avaliar a sua eficiência,
como instrumento de planeamento, tendo em vista formar um sistema de mobilidade mais sustentável. O eco-urbanismo é sempre um dilema no que diz respeito às características que tem de apresentar o crescimento. Se predomina a expansão, de acordo com as actuais características do mercado de solos, aprofundarse-á o “sprawl”, aumentando o uso do solo na construção de edifícios habitacionais destinados à faixa média-alta e alta, ficando na mãos do governo o desenvolvimento de grandes programas habitacionais, destinados a cobrir a procura da totalidade dos sectores excluídos do crédito por força das suas restrições. Em alternativa, pode-se impedir a construção de novos edifícios habitacionais, aconselhando a ocupação dos edifícios construídos e promover a densificação do tecido que conta com infra-estruturas. Porém, ambas opções apresentam debilidades. A primeira, porque tende à deterioração de amplas áreas do tecido consolidado da cidade, que em concorrência com os empreendimentos imobiliários de última geração, apresentase como um tecido danificado, com poucas possibilidades de reabilitação. A segunda, porque aprofundaria as dificuldades dos sectores mais carenciados para aceder a uma habitação, sumamente custosa em relação ao valor do salário, impondo a necessidade de resolver com alta densidade a construção de conjuntos de habitação social. O grande desafio é de conter a área urbanizável, o que obriga a considerar que o crescimento da população tem de ser absorvido, aumentando a densidade do tecido existente, conseguindo uma maior compacidade urbana. A procura de uma proporção entre os processos de verticalização, densificação do tecido consolidado e expansão de novas edificações habitacionais passa a ser a questão central do futuro crescimento. Este crescimento deveria promover a implantação de novos bairros residenciais, que concebam o espaço público como uma forma de integração social, favorecendo a habilitação de empreendimentos que permitam que as faixas de população mais carenciada a aumentar com as sucessivas vagas especulativas, tenham acesso a uma habitação digna. Não existe cidade, mas sim densidade. A garantia da qualidade de vida é necessária através de um determinado nível de densidade das habitações. É possível oferecer serviços de qualidade a um custo razoável. A mistura de grupos de diferentes rendimentos e cultura é garantia da coesão social. Esse fomento dá-se na medida em que se ofereça uma maior diversidade tipológica de habitações repartidas de forma homogénea, em função de cada área da cidade, com a reserva de habitações de interesse social, com uma rede de espaços livres e equipamentos públicos bem repartida e acessível.
[f]utilidades Cineteatro | PUB
[ ] Cinema
Sala 1
127 hours [c]
Um filme de: Zack Snyder Com: Emily Browning, Abbie Cornish, Vanessa Hudgens 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
Um filme de: Danny Boyle Com: James Franco, Amber Tamblyn, Kate Mara 21.30
Sala 2
SALA 3
Falado em cantonense Um filme de: Kelly Asbury 14.30, 16.00, 17.45, 19.30
Um filme de: Mikael Hafstrom Com: Anthony Hopkins, Colin O’Donoghue, 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
sucker punch [c]
gnomeo and juliet [a]
Soluções do problema HORIZONTAIS: 1-DUAS. TACHAR. 2-OLIMPO. DEBO. 3-IMO. TRE. MEL. 4-RO. PANDA. BA. 5-A. ARRAIGAR. 6- REDEM. TIÇAO. 7-PUGILATO. P. 8-PA. ACAÇA. RA. 9-OCO. OBA. DUC. 10-ETNA. OOCINO. 11-RUASAR. LOAS. VERTICAIS: 1-DOIRAR. POER. 2-ULMO. EPACTA. 3-AIO. ADU. ONU. 4-SM. PREGA. AS. 5-PTRARMICO. A. 6-TORNA. LABOR. 7-A. EDITAÇAO. 8-DC. AGITA. CL. 9-HEM. AÇO. DIO. 10-ABEBRA. RUNA. 11-ROLA. OPACOS.
solução do problema do dia anterior
Su doku [ ] Cruzadas
VERTICAIS: 1-Revestir com camada de oiro em folha. Pôr. 2-O mesmo que, olmo. Dias lunares. 3-Preceptor de crianças ilustres. Antig., para onde. Nações unidas. 4-Samário. Dobra que se faz num estofo. Pessoa exímia na sua especialidade. 5-Que provoca o espirro e a secreção do muco nasal. 6-Espécie de páliio indiano. Lavor. 7-Acto ou efeito de editar. 8-Símbolo químico de cádmio. Move. Símbolo de cloro. 9-Interrogativa, como? que diz? Lâmina de arma branca. Deus, em italiano. 10-Figo grande e preto. Seiva de pinheiro. 11-Criada que chegou da província à cidade. Que nã
Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição
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the rite [c]
HORIZONTAIS: 1-Fem. de dois. Notar defeito em. 2-Habitação das divindades do Paganismo. Casta de uva preta. 3-Que está no lugar mais fundo. Tecido antigo. Elemento de origem grega que significa melodia. 4-Letra do alfabeto grego. Ave pernalta. Bário. 5-Arreigar. 6-Redanho. Pedaço de lenha acesa. 7-Acto de lutar com os punhos. 8-Parte mais larga e carnuda de perna das reses. Bolo de milho moído. Batráquio sem cauda. 9-Esvaziado. Cada uma das sais divisões de cada antiga tribo Ateniense. Duque. 10-Vulcão. Género de insectos. 11-Esfregar. Elogios.
REGRAS |
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opinião ed i t or i a l Carlos Morais José
Uma semana alegre As condecorações impostas pelo Presidente de Portugal a Edmund Ho e Rita Santos não foram merecidas. Foram muito merecidas. Comecemos pelo ex-Chefe do Executivo. O embaixador de Portugal em Pequim traçou alguns encómios para justificar a atribuição da condecoração mas, nem de perto nem de longe, roçou pelos verdadeiros motivos que, na minha opinião, fazem com que Edmund Ho mereça indubitavelmente esta distinção do Estado Português. Queria lembrar unicamente alguns momentos que vivi. Nos primeiros anos da RAEM, enquanto Chefe do Executivo, nunca faltou a um 10 de Junho e na ocasião discursou sempre sobre o papel da nossa comunidade. Ora nesse tempo, ainda antes de Pequim ter definido Macau como ponte entre a China e os Países Lusófonos, pululavam por aqui os “fundamentalistas” cuja pretensão passava tão somente pelo apagamento da História e pela desbunda na destruição de tudo quanto cheirasse a português. E foi precisamente quando a nossa comunidade se achava sob o fogo cerrado destes “talibãs” (não esquecer que os ditos democratas navegavam então nesse barco), que Edmund Ho surgiu dizendo que fazíamos parte integrante desta região administrativa especial, que éramos muito
ca r t o o n por Steff
A visão esclarecida de Edmund Ho refreou os ânimos dos “fundamentalistas” e permitiu-nos, sem dúvida, criar confiança no futuro e a crença de que fazemos de facto parte desta terra. Para mim, estes discursos, pontilhados por atitudes condizentes, foram de uma importância decisiva e extraordinária para a comunidade portuguesa. bem vindos e que a nossa existência dava a Macau uma parte fundamental da sua identidade. Estes discursos foram muitíssimo importantes para nós todos. Deram-nos confiança e fizeram-nos sentir que éramos desejados, apreciados e necessários ao Macau que então começava a despontar. A visão esclarecida de Edmund Ho refreou os ânimos dos “fundamentalistas” e permitiunos, sem dúvida, criar confiança no futuro e a crença de que fazemos de facto parte desta terra. Para mim, estes discursos, pontilhados por atitudes condizentes, foram de
uma importância decisiva e extraordinária para a comunidade portuguesa. Só por isto – por ter estado do nosso lado quando mais foi preciso – mereceria Edmund Ho esta e outras condecorações de Portugal. Mas, é claro, como sempre os nossos representantes preferem ignorar a comunidade portuguesa de Macau e centrar o discurso noutros tópicos. O embaixador José Tadeu Soares não foi uma excepção. Por seu lado, Rita Santos tem demonstrado uma extraordinária dinâmica na sua acção no Fórum Macau, contribuindo com esse dinamismo e a sua natural simpatia para fortalecer as ligações históricas entre Macau, a China e os Países Lusófonos. É certo que existe ainda muito para fazer, por exemplo na área cultural porque nem só de patacas vivem os homens e a ligação entre pessoas é muitas vezes mais importante para o futuro do que os negócios. Mas para isso é preciso que a China compreenda de que modo poderá utilizar a sua cultura milenar para não surgir no Ocidente unicamente como um parceiro económico, fábrica do mundo, e outros epítetos que por si só limitam demasiado a compreensão desta poderosa civilização. O Hoje Macau dá os parabéns aos dois condecorados, esperando que no futuro Por-
fora de controlo
tugal se lembre de outras personalidades de Macau que também merecem distinção. * O jornal Tribuna de Macau inaugurou esta semana um espaço na sua página na internet a que chamou Tribuna TV. É muitíssimo bem vindo, na medida em que demonstra a vitalidade da comunicação social em português aqui na RAEM. O Hoje Macau deseja ao jornal dirigido por José Rocha Dinis as maiores felicidades nesta nova iniciativa. * Hoje mesmo a Livraria Portuguesa inicia uma nova fase, com novo concessionário. Ricardo Pinto e Rui Simões (ver entrevista nas páginas 2 e 3) são as novas faces do projecto. É muito positivo que sejam pessoas locais ao contrário do anterior concessionário que não vivia em Macau, o que se reflectia no próprio funcionamento do espaço e, sobretudo, se tornava irritante não existir um interlocutor presente com quem dialogar sobre um espaço que, no fundo, pertence a toda a comunidade. O anterior responsável, Aloísio Fonseca, acumulava a inconveniência de ter sido presidente do IPOR, a instituição responsável pela livraria, o que em termos éticos levantava alguns engulhos, como é fácil de compreender. Pelo que conhecemos dos dois novos responsáveis, cremos que se trata de uma mudança muito positiva. São pessoas que conhecem bem Macau e as nossas necessidades em termos de leituras e dinamização cultural. Situada num espaço central da cidade, hoje a Livraria Portuguesa pode muito bem ser o espelho da força cultural da nossa comunidade e da nossa capacidade de integração de outras comunidades e de outras culturas. Mais importante que qualquer outro espaço luso na cidade e, de algum modo, a nossa face para quem nos visita. * Ontem, finalmente, as nuvens dissiparam-se pudemos ver o céu azul. Sensação extraordinária. É assim como quando uma dor desaparece e nos sentimos invadidos de uma felicidade que quase ronda a euforia. Viver em Macau é uma aventura calma, uma viagem constante, uma emoção única e irrepetível em qualquer outro lugar. Tenho saudades do meu futuro aqui, neste novo mundo brilhante e abundante. Isto enquanto, lá de longe, nos chega o estertor baço de um país que teima em não se encontrar em si próprio e só despontar quando o seu povo se livra das amarras e parte para outros lugares. Por lá, de facto, o paraíso não está à vista.
vida
sexta-feira 1.4.2011
Todos se queixam das misérias da ; mas todos se apegam a ela com unhas e dentes.
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Padre Manuel Teixeira [1912-2003]
u m g r i t o n o d eser t o Paul Chan Wai Chi*
Macau vai desaparecer rapidamente Parte II
D
epois do Congresso Nacional Popular e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês terem terminado, Bai Zhijian, director do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, levantou a questão de que Macau teria de incorporar o 12.º Plano Quinquenal e do AcordoQuadro de Cooperação Guangdong-Macau, de forma a manter uma estreita cooperação com a província de Cantão e a realizar pesquisas que visem a formulação de um plano claro e concreto orientado para esses fins. De facto, desde que o jogo foi legalizado em Macau, complementado com um cenário em que o Governo Central permitiu o visto individual, o Governo da RAEM limita-se a sentar e a desfrutar os frutos desta indústria. Os oficiais do Governo e os empresários fazem dinheiro e esquecem o desenvolvimento a longo prazo do território. Depois do escândalo Ao Man Long, o Governo Central mudou a sua estratégia “não-interventiva”, que anteriormente permitia a Macau. Primeiramente, posicionou o território como “cidade de turismo e lazer”. Depois, apercebendo-se que o Governo da RAEM não tem feito nada de substancial para manter e completar esta posição, que não é capaz de elaborar um plano para o desenvolvimento da região tanto num futuro próximo como a longo prazo, o Governo Central reformulou o modo de agir e avançou com o “Estudo de um Plano de Acção Conjunta para a Zona do Estuário do Delta do Rio das Pérolas” e com o “Acordo-
Quadro de Cooperação Guangdong-MacauHong Kong”. Além disso, os líderes do Governo Central pediram que Macau cooperasse de perto com Guangdong através da introdução deste acordo e do 12.º Plano Quinquenal no âmbito geral do território. É que neste aspecto, Macau está a ser completamente planeado. É uma pena que ainda existam académicos em Macau que continuem a discordar disto. Eles pensam que a razão pela qual o Governo de Macau não avançou nenhuma acção até agora se prende no facto de ele querer tomar as suas decisões passo a passo, de forma a que exista um entendimento claro nas necessidades da população e das pequenas e médias empresas. Isto é somente um acto de respeito e uma forma de coleccionar opinião pública. Macau tem de agir de uma forma que complemente as suas políticas nacionais e de que elas sejam estabelecidas. E eles acreditam que, no futuro, Macau se vai deparar com inúmeras oportunidades para apoiar os cidadãos. Tendo em consideração estes pontos de vista dos académicos e a qualidade da Administração da RAEM, é de prever que Macau siga o mesmo caminho que o Governo Central. Seguindo os passos da Administração do continente, Macau poupa trabalho e ganha benefícios. O único defeito é que as características únicas do território se vão perder e Macau tornar-se-á mais uma das muitas cidades na região do Delta do Rio das Pérolas.
Enquanto Macau for administrado por empresários, o objectivo e a prioridade será fazer dinheiro e seguir o Governo Central é a única escolha. Como ninguém de Macau está directamente envolvido nas decisões do Governo Central, de certeza absoluta que Macau perderá as suas próprias características no futuro e tornar-se apenas mais uma banal cidade entre todas as outras que incorporam a região do Delta do Rio das Pérolas Na sessão de esclarecimento do Plano de Acção Conjunta para a Zona do Estuário do Delta do Rio das Pérolas, que teve lugar em Macau, um arquitecto português questionouse porque não tinha sido convidado para participar na consulta do processo e levantou mesmo suspeitas da eventualidade deste plano conjunto poder pôr em causa as características naturais do território. Na verdade, o processo de consulta é conduzido pelo Governo de Macau e foi apresentado apenas a um reduzido número seleccionado de pessoas. O ponto em comum
partilhado pela Administração e por essas pessoas é que ambos têm a mesma mentalidade. Assim, os resultados da consulta estão sempre a favor do Governo, sem que sejam de facto perceptíveis as verdadeiras funções da consulta. Durante o processo, o Governo Central olha sempre para os benefícios que poderão chegar. Tomemos o exemplo do projecto de reconstrução dos Hutong (becos velhos), lançado em Pequim. Este é operado como um negócio sem qualquer importância para o legado cultural do Hutong. O projecto foi duramente criticado pelos que realmente se preocupam. Olhando para Macau, todas estas conversas acaloradas sobre a criatividade cultural como uma indústria, vê-se que isto é nada mais do que apenas mais um negócio! Enquanto Macau for administrado por empresários, o objectivo e a prioridade será fazer dinheiro e seguir o Governo Central é a única escolha. Como ninguém de Macau está directamente envolvido nas decisões do Governo Central, de certeza absoluta que Macau perderá as suas próprias características no futuro e tornar-se apenas mais uma banal cidade entre todas as outras que incorporam a região do Delta do Rio das Pérolas. Desta forma, talvez as paisagens culturais que Macau tem para oferecer desaparecerão para sempre da história da civilização humana! *Deputado e presidente da Associação Novo Macau Democrático
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Vanessa Amaro Redacção Filipa Queiroz; Gonçalo Lobo Pinheiro; Joana Freitas; Rodrigo de Matos; Virginia Leung Colaboradores António Falcão; Carlos Picassinos; José Manuel Simões; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas Arnaldo Gonçalves; Boi Luxo; Correia Marques; Gilberto Lopes; Hélder Fernando; João Miguel Barros, Jorge Rodrigues Simão; José I. Duarte, José Pereira Coutinho, Luís Sá Cunha, Marinho de Bastos; Paul Chan Wai Chi; Pedro Correia Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão, Gonçalo Lobo Pinheiro; António Mil-Homens; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Laurentina Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Av. Dr. Rodrigo Rodrigues nº 600 E, Centro Comercial First Nacional, 14º andar, Sala 1407 – Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
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Vou. Chama-se o...
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China não procura hegemonia
O livro branco do exército Maria João Belchior info@hojemacau.com.mo
A
China quer investir na defesa e para sua própria defesa. O livro branco sobre a situação das forças armadas chinesas foi tornado público ontem com o objectivo de mostrar a transparência do investimento chinês na defesa. A modernização do Exército Popular de Libertação e das políticas de defesa recebem há anos os maiores aumentos no orçamento nacional chinês. Anunciado em Março, o orçamento para a defesa este ano cresceu em 12,7 por cento. Seguindo o princípio do desenvolvimento pacífico, o livro branco sobre a defesa nacional chinesa agora publicado explica que a China não pretende desenvolver ataques, mas apenas prevenir-se contra ameaças exteriores. A nível regional há cada vez mais focos de tensão sobre os quais é urgente estar atento. Com referências específicas aos Estados Unidos, o documento analisa a presença crescente de Washington em questões regionais na Ásia-Pacífico. O ponto fraco de Taiwan volta a ser referido como uma questão da soberania nacional da China, em que os Estados Unidos interferem através da venda de armas.
sexta-feira 1.4.2011
Canal dos Patos
Para a China, a importância da modernização do Exército passa também pela resposta a situações de catástrofe como o terramoto em Qinghai no ano passado ou em Sichuan há dois anos. O compromisso de nunca usar armas nucleares em primeiro lugar é dado no documento, que sugere também que os Estados que dispõem de armas nucleares deveriam assumir em conjunto a promessa de não utilizar essas armas como ameaça contra outros que não dispõem do mesmo tipo de armas. Além disto é referida também a possibilidade de um acordo entre os Estados com armas nucleares sobre a não utilização em primeiro lugar. A China é um dos países que segue o Tratado de Não Proliferação Nuclear e reafirmou a intenção de ter uma política nuclear transparente. Sobre as críticas ao aumento do orçamento da defesa, o livro responde que as despesas correspondem a pessoal, treino e equipamento, sendo que cada parte representa um terço. O orçamento de 2011 está previsto para 91 mil milhões de dólares. Este é o sétimo documento do género a ser publicado desde 1998. O último tinha sido publicado em 2009.
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