Hoje Macau 10 MAR 2020 # 4483

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

RÓMULO SANTOS

hojemacau

CSIRO’S AUSTRALIAN ANIMAL HEALTH LABORATORY

MOP$10

TERÇA-FEIRA 10 DE MARÇO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4483

MÁSCARAS

RONDAS GARANTIDAS PÁGINA 4

SAÚDE

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DORES DE PROVIMENTO PÁGINA 5

AS REGRAS DO JOGO PÁGINA 6

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Clube de combate

RECEITAS

Enquanto os números de novas infecções pelo Covid-19 abrandam na China e sobem no resto do mundo, a comunidade científica trabalha exaustivamente em busca de uma vacina. As previsões não são, contudo, optimistas. Especialistas apontam para o período de um ano a um ano e meio até que um antídoto para o novo coronavírus seja descoberto.

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PÁGINAS 2-3

CONCERTO DA SAPONE MICHEL REIS

STEFAN ZWEIG AMÉLIA VIEIRA

VEDAÇÕES

PAULO JOSÉ MIRANDA


2 coronavírus

10.3.2020 terça-feira

ATRAS DO COVID-19

Enquanto a comunidade científica se multiplica num esforço global para encontrar uma vacina eficaz, multiplicam-se as vozes que consideram provável a hipótese de o novo coronavírus continuar activo em 2021. A própria detecção do Covid-19, cujas falhas são apontadas como facilitadoras da propagação, levam à urgência de testes de despistagem que se podem fazer em casa

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ELOS quatro cantos do mundo, a preocupação com a contenção do surto do novo coronavírus é proporcional aos esforços da comunidade científica na busca por uma vacina que combata o inimigo invisível. Wuhan, o epicentro da epidemia, foi o primeiro campo de batalha contra o Covid-19. Os esforços da comunidade científica na China multiplicam-se por vários caminhos, como anunciou Zheng Zhongwei, director do Centro de

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CORRIDA GLOBAL NA COMUNIDADE CIENTÍFICA EM BUSCA DE VACINA

Pesquisa Científica e Tecnológica da Comissão Nacional de Saúde, ao revelar que estão a ser estudadas cinco abordagens na busca de uma vacina. Apesar das cautelas dos cientistas, que alertam para esperadas dificuldades no caminho da inoculação, Ding Xiangyang, representante do Governo Central responsável pela supervisão das operações na província de Hubei, disse que a partir de Abril vão começar a receber inscrições de vacinas para ensaio clínico.

Em circunstâncias normais, chegar a uma vacina segura e eficaz é uma tarefa que requer tempo, investimento e rigor científico. Um cenário completamente diferente do suscitado pelo Covid-19, que traz desafios que normalmente não seriam obstáculos a contornar. Os próprios oficiais chineses admitem esse cenário, apontando para um prazo entre 12 a 18 meses para completar a fase de testes clínicos. Segundo a legislação chinesa, a pesquisa de vacinas em casos de situações de grandes emergências de saúde pública pode ser acelerada, conforme o grau de urgência e sob determinadas condições específicas. Para isso, é necessário que a Administração Nacional de Produtos Médicos considere que os benefícios do tratamento em muito suplantem os riscos.

CORRIDA AMERICANA

Apesar do ruído provocado por Donald Trump, que não raras vezes desmente informações prestadas pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças, agência do departamento de saúde da sua própria administração, a busca por uma vacina fez arregaçar as mangas em diversos laboratórios norte-americanos. Depois de várias semanas de pesquisa, o Instituto Nacional de Saúde (NIH na sigla em inglês), uma equipa de cientistas debruça-se sobre uma placa de Petri, um recipiente onde se testam reacções químicas, ou para a cultura de microrganismos. Esperam o resultado positivo a uma reacção química, com demonstre que estão no bom caminho para chegar à almejada vacina que fortaleça o sistema imunitário. “São momentos como este que reúnem toda a gente em redor de uma experiência. É absolutamente espantoso”, comenta Kizzmekia Corbett, que lidera a equipa do NIH que procura uma vacina para

combater o Covid-19, citada pela Associated Press (AP). A equipa de Corbett é apenas uma entre várias dezenas de grupos de investigação científica que procuram encontrar vários tipos diferentes de vacinas. Ajudados pelo avanço tecnológico, a

“Compreendo completamente a frustração das pessoas e mesmo a confusão. Podemos fazer tudo o mais depressa possível, mas não podemos contornar estas etapas vitais do processo.” KATE BRODERICK CIENTISTA

investigação científica pode ser mais breve e, ao mesmo tempo, obter uma inoculação mais potente. Há mesmo cientistas a trabalhar apenas em soluções temporárias, que imunizem populações durante um mês ou dois, enquanto não se chega a uma solução definitiva. “Até testarmos as vacinas em humanos não temos qualquer tipo de ideia de qual será a resposta imunológica”, referiu à AP Judith O’Donnell, especialista em vacinas e doenças infeciosas. “Termos disponíveis vários tipos diferentes de vacinas, com teorias científicas distintas a suportar a ciência capaz de gerar imunidade, tudo isto em paralelo, realmente dá-nos as melhores hipóteses de sermos bem-sucedidos”, acrescenta a cientista. Os primeiros testes num grupo reduzido de jovens e saudáveis voluntários está num horizonte


coronavírus 3

terça-feira 10.3.2020

PREJU ZO de resposta ao novo coronavírus da Fundação Bill & Melinda Gates. Ainda não existe data para disponibilizar os kits. Dowell, citado pelo jornal do estado de Washington, confessou que “ainda há muito trabalho pela frente”, mas realça o potencial destes testes para “inverter a maré” na luta contra a epidemia. O projecto teve um orçamento de cinco milhões de dólares americanos.

LONGO ALCANCE

próximo, sem risco de que sejam infectados, uma vez que as vacinas não contêm o Covid-19. O objectivo é verificar a possibilidade de efeitos secundários adversos e preparar o terreno para testes de maior dimensão. Mesmo que os testes iniciais sejam um sucesso, será necessário esperar entre um ano a um ano e meio para se chegar a uma vacina que possa ser usada amplamente. “Compreendo completamente a frustração das pessoas e mesmo a confusão. Podemos fazer tudo o mais depressa possível, mas não podemos contornar estas etapas vitais do processo”, desabafa à AP Kate Broderick, que lidera uma das equipas de pesquisa norte-americana.

TESTE MICRO SUAVE

Um dos factores apontados à propagação do surto é a forma ineficaz

na despistagem de infectados pelo novo coronavírus. O magnata e fundador da Microsoft, Bill Gates, financiou um projecto, através da sua fundação, para a criação de testes caseiros de despistagem ao Covid-19, que

Bill Gates financiou um projecto para a criação de testes de despistagem ao Covid-19 que podem ser feitos em casa. Os kits permitem a qualquer pessoa recolher amostras que são enviadas para análise

serão disponibilizados em primeiro lugar na zona de Seattle, no estado de Washington. Os kits permitem a qualquer pessoa recolher amostras que são enviadas para análise. Os resultados, que se esperam demorar entre um a dois dias, serão depois partilhados com as autoridades de saúde da área de residência da pessoa, que procederá à notificação de quem testou positivo. Os infectados vão ter à sua disposição um portal de internet com questionários sobre os seus movimentos e pessoas com quem contactaram, de forma a facilitar a vida às autoridades na localização de outros indivíduos que que devem ser submetidos a quarentena. O objectivo é conseguir processar milhares de testes diariamente e ir muito além da cidade onde será disponibilizado numa primeira fase, referiu ao The Seattle Times Scott Dowell, que lidera a equipa

Além da inoculação, outra preocupação global prende-se com a duração do surto. O especialista em doenças infeciosas de Hong Kong, Yuen Kwok-yung, participou num painel de discussão, na TVB, sobre o Covid-19 no passado domingo onde afirmou que, sem vacinas ou medicação efectiva, o novo coronavírus pode não ter fim à vista. Em vez disso, as possibilidades apontam na direcção de se tornar como a gripe sazonal, com um período de maior tranquilidade durante o Verão, e ressurgimento no Inverno. A directora do departamento doenças contagiosas do Centro de Protecção de Saúde de Hong Kong, Chuang Shuk-kwan, partilha a opinião de que a epidemia não irá dissipar-se durante os meses do Verão, ao contrário do que aconteceu em 2003 com o surto de SARS. Chuang acrescentou no domingo, em conferência de imprensa, que as autoridades da região vizinha vão fazer os possíveis para adiar a propagação de infecções, enquanto se tenta ganhar tempo até à chegada de uma vacina ou de um método de tratamento. “Compreendemos que existe a possibilidade de a doença ficar entre nós. Seja através de novos medicamentos ou vacinas, do conhecimento quanto às vias de transmissão do vírus, ou por uma maior compreensão em relação à

O especialista em doenças infeciosas de Hong Kong, Yuen Kwok-yung, afirmou que, sem vacinas ou medicação efectiva, o novo coronavírus pode não ter fim à vista e tornar-se como a gripe sazonal, com um período de maior tranquilidade durante o Verão, e ressurgimento no Inverno

natureza da doença, teremos no futuro melhores métodos para responder”, apontou Chuang, citada pelo Hong Kong Free Press. Apesar dos esforços da comunidade científica, não faltam exemplos de casos em que as vacinas chegam tarde demais, quando um surto infeccioso já se encontra em declínio. Anthony Fauci, que preside ao departamento que estuda doenças infecciosas no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, confessou à AP que este processo para se encontrar uma vacina “tem sido o mais rápido de sempre”. Ainda assim, o cientista realça que provável que o Covid-19 possa “ir além de apenas uma estação e que regresse no próximo ano”. Para já, tudo aponta que as futuras vacinas para conter o surto sejam apenas uma arma disponível às autoridades de saúde do mundo inteiro em 2021. João Luz com agências info@hojemacau.com.mo


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RÓMULO SANTOS

10.3.2020 terça-feira

REGRESSADOS DE ITÁLIA EM QUARENTENA

Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença dos SSM, adiantou ontem que há, neste momento, quatro pessoas regressadas de Itália em regime de quarentena. No total, são 71 pessoas nesta situação, regressadas também de países onde o foco do vírus é elevado, como é o caso, além da Itália, da Coreia do Sul e Irão. Um total de 45 pessoas cumprem residência nas suas casas, enquanto que 24 se encontram na Pousada Marina Infante.

TAILÂNDIA VOOS CANCELADOS

Inês Chan, representa da Direcção dos Serviços de Turismo, adiantou ontem na habitual conferência de imprensa diária sobre o novo coronavírus de que não há voos ou excursões para a Tailândia, tendo em conta que as autoridades do país decidiram impor quarentena a todos os turistas oriundos de Macau. “Só verificamos algumas informações nos media, neste momento não há excursões para a Tailândia e não vão haver nos próximos dias. Há alguns voos para Banguecoque, mas para outras cidades da Tailândia já foram cancelados todos os voos”, frisou.

Leong Iek Hou “Podemos acompanhar a evolução da epidemia a nível mundial e achamos que não estamos no momento oportuno para retirar as máscaras”

COVID-19 GOVERNO MANTÉM FORNECIMENTO DE MÁSCARAS PUB

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 40/AI/2020 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor KUAN KAM WENG, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente n.° 14407xx(x), que na sequência do Auto de Notícia n.° 44/DI-AI/2018, levantado pela DST a 01.03.2018, e por despacho da signatária de 28.02.2020, exarado no Relatório n.° 23/DI/2020, de 14.01.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada no Beco dos Ferreiros n.° 6, Edf. Seong Fat, 2.° andar B, Macau onde se prestava alojamento ilegal.-----------------No mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -----------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.----------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 28 de Fevereiro de 2020. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

Para continuar

Apesar de Macau estar há 34 dias sem novos casos de infecção com o Covid-19, o Governo continua a exigir o uso de máscara tendo em conta a rápida propagação da epidemia fora da Ásia. Numa altura em que começam a faltar máscaras na Europa, as autoridades asseguram a continuação da importação e do fornecimento

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RESTES a terminar a quinta ronda de fornecimento de máscaras à população, o Governo promete uma sexta ronda e exige a continuação do uso deste tipo de material, mesmo que o território esteja sem novos casos de infecção há 34 dias. A informação foi avançada ontem por Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), Leong Iek Hou, em conferência de imprensa. “De acordo com o nosso plano vamos lançar a sexta ronda de máscaras, mas só vamos anunciar os detalhes no último dia da quinta ronda. Neste momento continuamos a comprar máscaras e todos os dias há novas máscaras a chegar”, frisou. Os novos detalhes da sexta ronda serão, assim, avançados esta quinta-feira, dia 12. Questionada sobre o facto deste tipo de material começar a escassear na Europa,

onde o número de novos casos de infecção não pára de aumentar, Leong Iek Hou afastou qualquer tipo de preocupação. “É cada vez mais difícil adquirir máscaras e no exterior é proibido a exportação, mas vamos continuar a procurar fontes para adquirir máscaras”, disse a responsável, que deixou claro que a situação em Macau está controlada devido, precisamente, ao uso de protecção facial por parte das pessoas. “Podemos acompanhar a evolução da epidemia a nível mundial e achamos que não estamos no momento oportuno para retirar as máscaras. Os cidadãos devem persistir com as medidas anunciadas. Há 34 dias que não há novos casos de infecção, mas isso deve-se à persistência de toda a população e às medidas tomadas”, acrescentou Leong Iek Hou.

AO SABOR DO TEMPO

A coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença

dos SSM não conseguiu dar uma previsão sobre se o fornecimento de máscaras deverá manter-se até ao final do ano ou se será cancelado antes. “Esta doença é imprevisível e há diversas opiniões. No exterior a situação continua muito grave e, além disso, continuam a existir alterações e mudanças e ninguém consegue assegurar quando é que a epidemia vai terminar.” Alvis Lo, médico infecciologista dos SSM, declarou que as autoridades estão agora focadas no controlo da doença vinda do exterior. “Estamos sempre a preparar-nos para o pior cenário e não sabemos o que vamos encontrar amanhã. Estamos a prevenir a importação de casos não apenas de Hubei mas a nível mundial. Estamos bem preparados e o sistema médico também está preparado.” Além das máscaras fornecidas a quem vive no território, o Governo prepara-se para distribuir máscaras aos alunos que se encontram a frequentar cursos do ensino superior no exterior. Até às 17h00 do dia 12 de Março, estes podem inscrever-se online junto da Direcção dos Serviços do Ensino Superior (DSES). Chan Iok Wai, representante deste organismo público, adiantou que os Correios criaram um balcão especial para a distribuição de máscaras aos familiares destes estudantes junto ao Instituto Politécnico de Macau. Até ao dia de ontem, 1200 estudantes estavam inscritos. Relativamente aos residentes de Macau que regressaram este sábado de Hubei num voo fretado estão em situação estável. Serão realizados testes pela segunda vez esta sexta-feira, sendo ainda feito um terceiro teste no 13º dia depois da viagem. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


política 5

terça-feira 10.3.2020

Casamentos falsos Nova legislação para breve

Em resposta a uma interpelação escrita do deputado Sulu Sou sobre o o “aumento brusco de imigrantes” e o combate aos casamentos falsos em Macau, o Governo revelou ontem que a nova proposta de lei respeitante ao “Regime Jurídico dos controlos de migração e das autorizações de permanência e residência na RAEM” será discutida na Assembleia Legislativa “assim que possível”. Em causa está o facto de os casamentos por conveniência poderem vir a ser considerados crimes, com o objectivo de combater a obtenção ilegal de autorizações de permanência no território. O Governo assegura estar atento à actual situação dos casamentos falsos, afirmando que tem uma equipa dedicada a estes casos e que tem vindo a apostar na divulgação de informação entre a população. Quanto à imigração, em resposta a Sulu Sou, o Executivo garante tratar rigorosamente cada caso e “declarar inválida” qualquer declaração de entrada que contenha irregularidades.

DSAT Veículos “clássicos” em processo legislativo

A Direcção de Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) já finalizou o diploma legal que vai regular os veículos antigos com valor histórico. A proposta vai agora ser analisado por outros departamentos do Governo para depois poder ser aprovada. A revelação foi feita por Lam Hin San, em resposta a uma interpelação de José Pereira Coutinho. O director da DSAT indicou ainda no documento divulgado ontem que a promoção deste tipo de veículos vai ser vinculada através do Museu do Grande Prémio.

PME Governo alarga raio de empréstimos

O Governo alterou o prazo mínimo de exercício de actividade, necessário para as pequenas e médias empresas (PME) pedirem empréstimos de apoio sem juros. O prazo mínimo de exercício de actividade passa assim a ser de um ano, quando antes era de dois. De acordo com um despacho do Chefe do Executivo publicado ontem em Boletim Oficial, a medida deve-se à crise provocada pelo Covid-19 e ao facto de que “todos os sectores e actividades estão a sofrer impacto”, nomeadamente as PME, “que enfrentam situações ainda mais difíceis”. Assim, a cada PME com pelo menos um ano, pode ser concedida uma verba até 600 mil patacas, com um prazo de reembolso de oito anos. A excepção tem como objectivo “dar resposta à ocorrência de situações extraordinárias, imprevistas ou de força maior”, pode ler-se no despacho. No total, entre 1 de Fevereiro e 9 de Março foram recebidas mais de 3.400 candidaturas referentes às diversas medidas de apoio. Destas, 2206 são do plano de apoio às PME, 26 são do plano de garantia de créditos e 1387 são do plano de reembolso.

SAÚDE PEDIDA REDUÇÃO DE COIMAS APLICADAS AOS PROFISSIONAIS

O peso da multa

Alguns legisladores mais ligados à saúde consideram que a aplicação de uma multa máxima de 100 mil patacas é muito elevada e pretendem baixar este valor. A lei que vai regular o sector está a ser discutida na Assembleia Legislativa

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LGUNS deputados estão preocupados com o valor máximo de 100 mil patacas de multa para os profissionais do sector da saúde e pretendem que o Executivo reduza o montante. O tema está a ser debatido no âmbito da lei de qualificação e inscrição para o exercício de actividade dos profissionais de saúde com a posição a ser tomada na reunião de ontem. Segundo o artigo em causa, a multa é aplicável nos casos de “negligência e de má compreensão dos deveres profissionais”, quando não se justifica uma sanção mais pesada como suspensão ou inactividade. No entanto, há legisladores que consideram que o montante máximo é demasiado elevado.

“Alguns deputados mais ligados à área da saúde dizem que mesmo que haja lugar a multa que deve debater-se muito bem se este valor máximo é adequado. Por isso perguntaram se não é possível aplicar um valor mais leve”, revelou Chan Chak Mo, deputado que presidente à 2.ª comissão da AL, que debate a lei na especialidade.

“Mas, e se um médico, por exemplo, foi o pilar financeiro de uma família? Será que 100 mil patacas não é muito?” CHAN CHAK MO DEPUTADO

“A aplicação da multa tem em conta diferentes aspectos como a gravidade, a capacidade económica do infractor ou os antecedentes profissionais e disciplinares [...] Mas, e se um médico, por exemplo, foi o pilar financeiro de uma família? Será que 100 mil patacas não é muito? Vamos questionar o Governo sobre este aspecto”, acrescentou. Ainda de acordo com Chan Chak Mo, o seguro para as situações de erro médico não vai cobrir este tipo de multas, pelo que o pagamento tem de partir dos profissionais de saúde.

SUSPENSÃO E ENCOBRIMENTO

Neste momento, os deputados querem também mais esclarecimentos sobre a aplicação da pena

de suspensão em caso de “encobrimento”. O artigo em causa diz que o “encobrimento ilegal da profissão” é punido com uma pena de suspensão “nunca inferior a dois anos”. Porém, os membros da Assembleia Legislativa não percebem o que se entende por encobrimento. “Temos de perguntar o que é o encobrimento. Trata-se de um médico que está a operar sem ter a licença necessária? E será que o encobrimento também pode abranger profissionais que saibam que há um médico sem licença e não façam uma denúncia da situação”, perguntou Chan. “E as sanções aplicam-se também a clínicas? Queremos perceber melhor este aspecto”, completou. A suspensão dos profissionais pode ainda ocorrer quando estes desobedeçam a determinações da autoridade sanitária ou instruções técnicas dos Serviços de Saúde e do Conselho dos Profissionais de Saúde. O mesmo acontece quando há violação dos deveres profissionais. Também este aspecto preocupa os deputados que querem saber se a suspensão é sempre aplicável ou apenas quando se verifica dolo. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo


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10.3.2020 terça-feira

CONTAS PÚBLICAS RECEITAS CAEM QUATRO MIL MILHÕES DE PATACAS ATÉ FIM DE FEVEREIRO

Jogo de dependências Ao final dos dois primeiros meses de 2020, o Governo arrecadou 18,81 mil milhões de patacas, ou seja, menos quatro mil milhões em termos anuais. A contribuir para a queda estão também as quebras das receitas de jogo na ordem dos 12,2 por cento

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M Janeiro e Fevereiro, a Administração do Governo de Macau arrecadou receitas no valor de 18,81 mil milhões de patacas, traduzindo-se numa redução de quatro mil milhões quando comparado com o ano passado. Os dados, divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Finanças (DSF), reflectem ainda o impacto da performance negativa do sector do jogo no início do ano, em muito condicionada pelo encerramento dos casinos decretado pelo Governo, durante duas semanas. Quanto a despesas, segundo a DSF, nos dois primeiros meses de 2020 a Administração registou gastos de 6,98 mil milhões de

‘CROUPIERS’ SALÁRIO MÉDIO SOBE EM 2019

nimizar o impacto do Covid-19. No entanto, em declarações à TDM-Rádio Macau, o economista Albano Marins considerou a previsão “exagerada”, afirmando que para tal acontecer seria necessário haver “cinco meses a praticamente receita zero”.

QUEDA DE 12,2%

patacas, valor que ficou acima do registado no ano passado em cerca de 800 milhões. De registar ainda que, no final de Fevereiro, o saldo das contas públicas era de 11,83 mil milhões de patacas, o que significa que mais de metade do valor orçamentado para 2020 (56,9 por cento) já foi gasto ao fim dos dois primeiros meses do ano. O total do valor orçamentado para 2020 é de 20,78 mil milhões de patacas. Recorde-se que na estimativa avançada na semana passada pelo secretário para a Economia e Finanças Lei Wai Nong, Macau irá registar um défice orçamental de 40 mil milhões de patacas em 2020. O número foi apontado

0,9%

pelo Governo por ocasião do anúncio de um pacote de medidas económicas de apoio às pequenas e médias empresas no valor 21 mil milhões de patacas para mi-

No final de Fevereiro, o saldo das contas públicas era de 11,83 mil milhões de patacas, o que significa que mais de metade do valor orçamentado para 2020 (56,9 por cento) já foi gasto

O total de receitas de jogo colectadas pelo Governo de Macau nos dois primeiros meses de 2020 foi de 17,2 mil milhões de patacas, ou seja, uma queda de 12,2 por cento por cento em relação ao mesmo período do ano passado, quando as receitas do estado alcançaram 19,63 mil milhões. O resultado vem no seguimento dos dados divulgados no início do Março pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), que apontavam até Fevereiro, uma descida de quase 50 por cento (49.9 por cento) em relação à receita bruta acumulada pelos casinos, comparativamente com o ano passado. Só em Fevereiro deste ano, as receitas brutas dos casinos de Macau registaram uma queda de 87,7 por cento em termos anuais. Segundo os dados divulgados ontem pela DSF, o valor arrecadado até ao momento de 17,27 mil milhões de patacas, representa 17,5 por cento do total anual de receitas de jogo estimadas pelo Governo, fixado em 98,21 mil milhões de patacas. Pedro Arede

info@hojemacau.com.mo

Habitação Preços descem entre Novembro e Janeiro deste ano O índice global de preços da habitação entre Novembro e Janeiro, foi de 265,3, representando um decréscimo de 0,9 por cento, em relação ao período entre Outubro e Dezembro de 2019. Detalhando os dados divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), o índice de preços das habitações da Península de Macau foi de 266,5, um decréscimo de 1,0 por cento e o índice referente à Taipa e Coloane foi de 260,3, uma diminuição de 0,6 por cento. Já o índice de preços das habitações

construídas, foi de 283,7, tendo diminuído 1,1 por cento. Tanto o valor dos imóveis construídos há mais de 20 anos, como até cinco anos diminuíram, respectivamente, 1,5 e 0,5 por cento. Em sentido contrário, de acordo com a DSEC, o índice de preços dos imóveis entre 6 e 10 anos cresceu 1,6 por cento e o das habitações em construção aumentou 0,5 por cento. Analisando por alturas, os edifícios até sete pisos desvalorizaram 2,8 por cento, ao passo que os com mais de sete andares diminuíram 0,6 por cento.

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média salarial dos ‘croupiers’ fixou-se em 21.080 patacas em 2019, valor que representou um aumento de 3,1 por cento em relação ao ano anterior. Os dados, apresentados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) referentes ao último trimestre de 2019, revelaram ainda que em Dezembro existiam em Macau 25.459 destes funcionários, número que reflecte um aumento de 3,0 por cento em relação a 2018. Segundo a DSEC, no final do quarto trimestre de 2019 o sector do jogo contava, no total, com 58.225 trabalhadores, dos quais 57,5 por cento eram do sexo feminino. A remuneração média (excluindo participações nos lucros e prémios) foi de 24.640 patacas, o que corresponde a um aumento de 3,8 por cento em termos anuais. Contudo, a diferença salarial entre residentes e não residentes continua a ser significativa, com a remuneração média dos primeiros a atingir 24.790 patacas, ao passo que os detentores de blue card auferiram, em média, 21.910 patacas. Também ao nível do género são notórias as diferenças salariais. Apesar de as mulheres ocuparem a maioria dos cargos do sector do jogo, ou seja 33.476 postos de trabalho, a sua remuneração média é inferior, tendo-se fixado em 23.670 patacas. O salário médio dos trabalhadores do sexo masculino fixou-se em 25.950 patacas. De notar ainda que no final do ano foi registada uma quebra de 25,5 por cento ao nível do recrutamento, tendo sido recrutados 1294 trabalhadores, quando no último trimestre de 2018 foram recrutados 1737. De acordo com a DSEC, no final de 2019 existiam ainda 443 postos por preencher, sendo que 77 destes eram respeitantes à função de ‘croupier’. P.A.


sociedade 7

terça-feira 10.3.2020

Burlas GIF apela ao cuidado na compra online de máscaras O Gabinete de Informação Financeira (GIF) apelou aos residentes de Macau para não divulgarem dados ou mesmo o número de contas bancárias a terceiros. Isto porque os casos de burlas relacionados com compras de máscaras online continuam a afectar Macau e as regiões vizinhas, de acordo com o jornal Exmoo, que atribui a informação à Polícia Judiciária. Também as autoridades policiais

Livros IC lança concurso para promover leitura

de Hong Kong deram conta de associações criminosas que exigem informações de contas bancárias de pessoas que tentam comprar máscaras online e que acabam a cair em esquemas fraudulentos. Segundo o Exmoo, a polícia da região vizinha encontrou mesmo indícios branqueamento de capitais no fluxo de fundos entre contas usadas para receber dinheiro apurado em burlas.

O Instituto Cultural (IC) vai lançar, por ocasião do Dia Mundial do Livro, o “Concurso Criativo do Dia Mundial do Livro - Província de Guangdong, Hong Kong e Macau” (Macau), tendo como objectivo “a promoção da cultura da leitura junto da sociedade”. De acordo com um comunicado oficial, o tema do concurso é “Crescer com a Leitura” e “visa incentivar as crianças e os jovens a alargarem os seus

horizontes no âmbito da leitura, bem como a promover uma leitura mais aprofundada. Há várias categorias, estando prevista a selecção de três classificados e a atribuição de dez menções honrosas. A lista dos vencedores será anunciada em Abril, além de que os trabalhos galardoados serão divulgados no âmbito de uma exposição itinerante a realizar na Biblioteca Pública de Macau e em escolas locais.

AMBIENTE DEFENDIDAS MULTAS PESADAS PARA QUEM DEIXA MÁSCARAS NOS TRILHOS

CHINA TRAVEL INTERNATIONAL SUBSIDIÁRIA ADQUIRE PARTE DA SHUN TAK

Ir por maus caminhos O Instituto para os Assuntos Municipais declarou, na sexta-feira, que várias máscaras foram deixadas nos trilhos da Taipa e Coloane, alertando para a necessidade de preservar a saúde pública. A activista Annie Lao considera que a lei que decreta multas sobre o lixo ilegal não está a ser devidamente posta em prática e pede o reforço de medidas

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Shun Tak Holdings, empresa de Pansy Ho, anunciou ontem uma parceria com a agência China Travel International. A notícia foi avançada pelo portal Macau News Agency, que explica que esta medida vem no seguimento de um plano de reestruturação que “combina os serviços de ferry e de autocarro existentes com aqueles que são providenciados pela China Travel International, com o objectivo de criar uma ‘nova plataforma de serviços’ na zona do Delta do Rio das Pérolas”. Esta parceria traduz-se na aquisição, por parte da Dalmore, subsidiária da China Travel International, de 21 por cento da Shun Tak - China Travel Shipping Investments Limited por 437 milhões de dólares de Hong Kong. Esta aquisição faz-se à Interdragon, uma subsidiária da Shun Tak. Com esta compra, a China Travel Shipping deixa de estar sob alçada do grupo Shun Tak e será detida, em 50 por cento, pela Interdragon, ficando os restantes 50 por cento da empresa com a Dalmore. A TurboJet, que opera a maior parte dos ferries entre Macau, Hong Kong e a China, está sob alçada da Shun Tak China Travel Shipping. Com a crise do Covid-19 a empresa tem vindo a sofrer uma enorme redução no número de viagens, tendo em conta que não há serviço de transporte marítimo entre os três territórios há várias semanas. Além disso, a empresa está a passar por um processo de reestruturação ao nível dos recursos humanos, tendo proposto reduções salariais aos seus trabalhadores.

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UANDO o surto do Covid-19 disparou, a activista ambiental Annie Lao considerou que a disposição de máscaras nos caixotes do lixo constituía um risco para a saúde pública. Semanas depois, e numa altura em que Macau está há 34 dias sem novas infecções, as máscaras cirúrgicas continuam a ser descartadas, mas desta vez nos trilhos da Taipa e Coloane. O alerta foi dado por um comunicado emitido pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) na última sexta-feita, e citado pelo portal Macau News. O IAM, além de alertar para os riscos deste comportamento, explicou ainda que este acto viola o regulamento dos espaços públicos, estando sujeito

a uma multa que varia entre 300 a 600 patacas. No entanto, a activista ambiental Annie Lao defende que a lei existe, mas não está a ser devidamente posta em prática. “O Governo deveria multar as pessoas

“Sugiro que se crie uma multa para esses casos que seja tão eficiente como aquela que é aplicada a quem estaciona em sítios proibidos nas ruas.” ANNIE LAO ACTIVISTA

por criarem lixo de forma irresponsável, incluindo aquelas que deitam fora máscaras descartáveis que podem transmitir doenças infecciosas ao público. Além disso, deve providenciar mais caixotes do lixo para a recolha dos resíduos nos trilhos”, defendeu.

IGUALAR PENALIZAÇÕES

Para Annie Lao, é necessário equiparar as multas por lixo ilegal aos valores cobrados para quem estaciona em locais proibidos. “Para dizer a verdade nunca vi o Governo a emitir multas para quem faz disposição ilegal de lixo. Sugiro que se crie uma multa para esses casos que seja tão eficiente como aquela que é aplicada a quem estaciona em sítios proibidos nas ruas.”

Contudo, adiantou a activista, “não há estatísticas sobre quantas vezes o Governo penalizou pessoas por deitarem lixo fora indevidamente. A lei já existe, mas o Governo não faz o devido reforço, comparando com as medidas face ao estacionamento ilegal, por exemplo”. No comunicado emitido na sexta-feira, o IAM adiantou que “as pessoas devem ser responsáveis e proteger as zonas de trilhos”, sendo sugerido aos ciclistas e amantes de caminhadas que optem pela zona de lazer à entrada da Taipa ou pelo percurso na Estrada do Dique Oeste, em Coloane. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


8 coronavírus FONTES: • https://gisanddata.maps.arcgis.com/ apps/opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/ emergencies/diseases/novelcoronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019ncov/index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/ geographical-distribution-2019-ncovcases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/ new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/ pneumonia

10.3.2020 terça-feira

111363 Infectados

5980 Em estado crítico

Co novel

421 Casos suspeitos

INFECTADOS POR PAÍS / REGIÃO (À HORA DO FECHO DA EDIÇÃO)

80904 7478 6566 7375 1116 1151 1036 502 556 277 374 265 203 200 169 150 115 104 117 85 76 66 62 60 54 50 50 45 45 39 39 32 37 32 30 25 23 22 30 25 19 19 16 15 15 14 13 13 12 12 12 11 10 10 9 9 7 7 6 6 6 6 6 6 5 5 5 5 4 4 4 3 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Interior da China Coreia do Sul Irão Itália França Alemanha Espanha Japão E.U.A. Reino Unido Suiça Holanda Suécia Bélgica Noruega Singapura Hong Kong Áustria Malásia Bahrain Austrália Grécia Kuwait Canadá Iraque Tailândia Islândia Emiratos Árabes Unidos Taiwan Índia São Marino Líbano Dinamarca Républica Checa PORTUGAL Israel Finlândia Palestina Vietname Brasil Irlanda Algéria Oman Rússia Egipto Ecuador România Geórgia Eslovénia Croácia Qatar Arábia Saudita Macau Estónia Argentina Azerbeijão Chile México Paquistão Perú Indonésia Filipinas Polónia Bielorrússia Guiana Francesa Nova Zelândia Costa Rica Hungria Afghanistão Bulgária Senegal Bósnia Herzegovina São Bartolomeu Macedónia do Norte Bangladesh Eslováquia África do Sul Luxemburgo Malta Cambodja Camarões Maldivas Républica Dominicana Ilhas Feroe Marrocos Martinica Latvia Lituânia Mónaco Togo Arménia Ucrânia Cidade do Vaticano Liechtenstein Andorra Gibraltar Nigéria Moldávia Tunísia Colômbia Butão Nepal Jordânia Paraguai Sérvia Sri Lanka

OUTROS

709

Cruzeiro Diamond Princess países com casos de nCov países sem casos de nCov

Infectados

0 MACAU

Infectados

10 Curados

Macau

115 HONG KONG

Infectados

3

HONG KONG

59 Curados

Hong Kong

Mortos


coronavírus 9

terça-feira 10.3.2020

ovid-19 l coronavírus

3892

62375 Curados

Mortos

1-99 10-99 100-499 500-999 1000-9999 +10000 Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

88,000 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0

20

dias

40

dias

60

dias

Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

80

dias

100

dias

120

dias

REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi

INFECTADOS 67774 1351 1272 1213 1018 990 935 758 631 576 538 480 414 337 318 296 294

MORTOS 2641 7 20 1 4 6 1 6 5 6 3 13 5 3 6 1 2

REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete

INFECTADOS 245 174 168 146 132 136 121 91 91 76 75 71 79 28 18 4 1

MORTOS 2 2 5 2 0 3 1 2 1 2 0 0 2 1 0 0 0


10 china

10.3.2020 terça-feira

COVID-19 SURTO VAI ALASTRAR GLOBALMENTE PELO MENOS ATÉ JUNHO

Previsões sínicas

Z

HONG Nanshan, chefe da equipa de médicos especialistas designados pelo Governo chinês para combater o surto do Covid-19, disse ontem que a doença continuará a alastrar-se pelo mundo até pelo menos Junho próximo. Numa conferência de imprensa em Cantão, sul da China, Zhong disse que o "foco na prevenção e controlo do vírus" passará para a importação de infecções oriundas do exterior, à medida que o surto se alastra por mais de uma centena de países. O pneumologista, de 83 anos, disse ainda que a China prestará assistência a países onde o vírus está a propagar-se rapidamente, incluindo experiência em protecção e tratamento médico. "Estima-se que o desenvolvimento do surto global

especial e devem cumprir quarentena", afirmou.

EM QUEDA

A China voltou ontem a registar uma queda no número de novos casos de infecção.

perdurará até pelo menos Junho próximo", disse Zhong, que desempenhou um papel importante no combate ao surto da Síndrome Respiratória Aguda e Grave (SARS), ou pneumonia atípica, que atingiu o país entre 2002 e 2003. O médico lembrou que a província de Guangdong,

adjacente a Macau, e a segunda mais afectada pelo surto na China, tem fortes ligações ao exterior, o que torna necessário "fortalecer as medidas de inspeção nas fronteiras". "Viajantes oriundos de países gravemente afectados pelo surto merecem atenção PUB

公開招標公告 Open Tender Notice “澳門國際機場客運大樓離境層空側售貨亭區域重整及地毯更換設計及建造工程 (RFQ-269)” 之公開招標 “MIA – Design and Build for Reconfiguration of Departure Airside Kiosk Area and Carpet Replacement in PTB (RFQ-269)” 1. 招標實體: 澳門國際機場專營股份有限公司 Company: Macau International Airport Co. Ltd. (CAM) 2. 招標方式: 公開招標 Tendering method: Open tendering 3. 目的: 選擇富有經驗之承建商於澳門國際機場客運大樓進行離境層空側售貨亭區域重整及 地毯更換之設計及建造工程。 Objective: To seek for a fully experienced Contractor to perform Design and Build for Reconfiguration of Departure Airside Kiosk Area and Carpet Replacement in the Passenger Terminal Building (PTB) of the Macau International Airport (MIA). 4. 招標文件: 至截止投標日止,有意者可瀏覽CAM 官方網站 www.camacau.com 查閱招標文 件及相關資料。 有意參與投標人士應時常留意上述網站以獲取涉及招標文件並得隨時 公佈的最新附加資訊、說明或修改內容。 Release of tender documents: Tender Documents and other pertinent information are available on www.camacau.com until the deadline for submission of Bidders’ proposals. Please always check the website for additional information, clarification or modification, which may be published from time to time, of the Tender Documents. 5. 遞交投標書地點、截止日期及時間: 遞交投標書地點:澳門氹仔偉龍馬路機場專營公司辦公大樓四樓接待處 截止日期及時間:2020年3月27日中午12:00前 (澳門時間) 收件人必須註明為: 執行委員會主席 恕不接納截止時間後所收到之投標書。 Location and deadline for submission of Bidders’ proposals: Reception on 4th Floor, CAM Office Building, Av. Wai Long, Taipa, Macau Before 12:00 noon on 27 March 2020 (Macau Time) The addressee of the proposal shall be Chairman of the Executive Committee. The proposals received after the stipulated deadline will not be accepted. 6. 澳門國際機場專營股份有限公司保留不表明因由而全部或部份拒絕任何投標書之權利。 CAM reserves the right to reject any proposals in full or in part without stating any reasons. -完-END-

Zhong disse que o “foco na prevenção e controlo do vírus” passará para a importação de infecções oriundas do exterior, à medida que o surto se alastra por mais de uma centena de países

XANGAI COMPLEXO DA DISNEY RETOMA OPERAÇÕES

O

complexo da Disneylândia em Xangai, a "capital" económica da China, reabriu ontem parcialmente, depois de mais de um mês encerrado, devido ao surto do Covid-19, que paralisa o gigante asiático desde Janeiro. O parque de diversões permanece fechado, mas um "número limitado" de lojas, restaurantes e um hotel retomaram a actividade, informou o grupo norte-americano em comunicado. A Disney especificou que medidas restritas de higiene vão ser aplicadas a funcionários e visitantes. Devem, em particular, submeter-se ao controlo de temperatura na chegada ao complexo e usar máscara cirúrgica dentro das instalações.

Trata-se do "primeiro passo" para uma "reabertura gradual", lê-se no comunicado, que não especifica quando é que o complexo poderá retornar à normalidade. O parque, inaugurado em 2016, é o sexto da Disney no mundo e o terceiro na Ásia, depois dos de Tóquio e Hong Kong. O complexo, que custou 5,5 mil milhões de dólares, abriga o maior castelo da Disney no mundo, com as suas torres azuis com vista para uma área antes ocupada por quintas e fábricas, nos arredores de Xangai. As instalações foram encerradas em 25 de Janeiro, numa altura em que a China aplicou medidas drásticas de contenção em outras províncias para conter o novo coronavírus.

Fora da província de Hubei, epicentro do surto e onde várias cidades foram colocadas sob quarentena, todos os quatro casos detectados são "importados" do Irão, segundo a Comissão Nacional de Saúde do país asiático. Segundo os dados oficiais mais recentes, o número de mortos e infectados na China fixou-se nos 3.120 e 80.739, respectivamente.

FRANÇA HOMENS DISFARÇADOS DE POLÍCIAS BURLAM ESTUDANTES CHINESES

E

STUDANTES chineses em França foram alvo de fraude por homens que se fizeram passar por polícias e os multaram com base na lei que proíbe o uso do véu completo, denunciou ontem a embaixada chinesa em Paris. "Os estudantes (...) foram multados em 150 euros pela 'polícia' por violarem a lei que proíbe a ocultação do rosto em espaços públicos", apontou a embaixada no seu portal oficial. Em França, o Governo não recomenda o uso de máscaras e são sobretudo os chineses radicados no país ou em turismo que as usam em público. "Após ter averiguado com a

polícia e a Justiça francesas, foi apurado que se trataram de criminosos que se fizeram passar por polícias. Usar máscara por razões de saúde é absolutamente legal", assegurou a embaixada, em comunicado. A França foi o primeiro país europeu a banir o uso do véu em espaços públicos, com uma lei promulgada em Outubro de 2010 pelo ex-

-Presidente Nicolas Sarkozy e aplicada desde Abril de 2011. A legislação pune com multa até 150 euros o uso do 'niqab', véu que mostra apenas os olhos, ou a burca, que os esconde atrás de um tecido de malha. A embaixada da China também denunciou criminosos que se fazem passar por funcionários dos serviços de saúde para invadir e roubar as casas de cidadãos chineses que vivem no país. A diplomacia chinesa pediu aos seus cidadãos que "fiquem atentos" face a pessoas que alegam agir em nome de medidas preventivas contra o coronavírus.


terça-feira 10.3.2020

Minha alma tem o peso da luz

Compositores e Intérpretes através dos Tempos Michel Reis

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Samuel Barber (1910-1981)

O “Concerto da Sapone” Concerto para Violino, Op. 14

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AMUEL Osmond Barber, nascido no dia 9 de Março de 1910 e considerado um menino prodígio, começou a tocar piano aos seis anos e a compor aos sete. Frequentou o Curtis Institute of Music de Filadélfia (1924-1932), onde estudou piano com Isabelle Vengerova, canto com Emilio de Gogorza e composição com Rosario Scalero. Alguns colegas destacados no Curtis foram os compositores Leonard Bernstein e Gian Carlo Menotti, sendo Menotti quem realizou o libreto da ópera mais famosa de Barber, Vanessa, estreada em 1958 no Metropolitan Opera House de Nova Iorque. Em 1935, Barber recebeu o prémio Pulitzer estudantil e o prémio da Academia Americana en Roma. Nesse mesmo ano ingressou na Academia Americana das Artes e das Letras. Durante o Inverno de 1938-1939, Samuel Fels - patrão dos sabonetes Fels-Naptha de Filadélfia, mecenas e administrador do Curtis Institute of Music - e a sua mulher, Jennie, resolvem contratar Barber para compor uma obra para o seu protegido, o violinista-prodígio Iso Briselli. O compositor e os patronos tinham-se conhecido por intermédio de Gama Gilbert, violinista e crítico de música que, pelo seu entusiasmo pela música de Barber e pela sua longa amizade, se tornou o intermediário natural desta encomenda. Em Maio de 1939, Barber, Briselli e os Fels encontraram-se e iniciam as negociações da nova obra, incluindo a duração, número de andamentos e crucialmente, o preço e os direitos de exclusividade para Briselli. Barber pede 1000 dólares mas Fels responde que por esse preço a obra terá que ser mais longa que originalmente discutido, e foi acordado que Barber comporia uma obra em três andamentos que ficaria pronta em Outubro de 1939, para Briselli estrear com a Orquestra de Filadélfia em Janeiro de 1940, ficando o violinista com os direitos exclusivos de execução da obra durante um ano. Barber recebe um adiantamento de 500 dólares e parte para Sils-Maria, na Suíça, no Verão de 39, para começar o trabalho. Os seus planos foram, no entanto, interrompidos em Agosto, quando todos os americanos foram convidados a deixar a Europa, vendo-se obrigado a planear o seu regresso a Filadélfia. Após algumas peripécias ligadas ao seu companheiro Gian Carlo Menotti, Barber deixa a Europa a bordo de um navio

holandês e chega aos Estados Unidos, completando os dois primeiros andamentos no retiro familiar em Pocono Lake Preserve, na Pensilvânia, enviando-os a Briselli em meados de Outubro. É aqui que a versão antiga dos eventos difere do que se sabe agora que aconteceu, graças à nova correspondência desenterrada entre Fels, Barber e o professor de violino e formador de Briselli, Albert Meiff. A versão antiga diz que Briselli achou que os dois primeiros andamentos não eram suficientemente virtuosos, e que os rejeitou por serem fáceis demais, solicitando que o final excepcional fosse mais “brilhante”. Quando Barber concluiu o finale, aparentemente este foi condenado pelo violinista como não executável! Agora sabe-se que esta foi uma abreviação conveniente para

uma série muito mais complicada de conversas, visões e opiniões. Afinal parece que Briselli gostou realmente dos dois primeiros andamentos quando os recebeu, embora tenha encorajado Barber a considerar um finale mais virtuoso, e que foi Albert Meiff que se intrometeu na nova composição, declarando o trabalho de Barber como “longe das exigências de um violinista moderno” e necessitando de uma “operação cirúrgica” por “um especialista”. Além disso, Meiff acreditava que se o violinista prosseguisse com a execução prejudicaria a sua reputação e futura carreira, e que ele próprio deveria reescrever a parte do violino. Também sugeriu que deveria aconselhar Barber sobre o andamento final. Quando Barber concluiu o finale no final de Novembro, Meiff teria já mi-

Quando Barber concluiu o finale no final de Novembro, Meiff teria já minado com sucesso o compositor preante Briselli e Fels. Permanecem questões sobre o que o professor de violino esperava obter com as suas ultrajantes afirmações críticas. No entanto as suas

nado com sucesso o compositor preante Briselli e Fels. Permanecem questões sobre o que o professor de violino esperava obter com as suas ultrajantes afirmações críticas. No entanto as suas sugestões nunca foram consideradas por Barber, mas Meiff conseguiu o que queria, já que Briselli não estreou o concerto como planeado em Janeiro de 1940, embora tenha mantido o acordo original com Fels e não ofereceu o concerto a outro violinista até à cláusula de exclusividade de Briselli expirar, ocorrendo apenas a estreia em 1941, no dia 7 de Fevereiro, pelo violinista Albert Spalding e a Orquestra da Filadélfia dirigida por Eugene Ormandy, sendo posteriormente revisto pelo compositor entre 1948-49 e a versão final estreada em Janeiro de 1949 por Ruth Posselt e a Orquestra Sinfónica de Boston sob a direcção de Serge Koussevitsky e publicada no mesmo ano pelo editor Schirmer. Por seu lado, Fels não pediu a Barber o reembolso dos 500 dólares, e o compositor e Briselli continuaram amigos até ao final das suas vidas. Barber chamava ao concerto “Concerto da Sapone”, o concerto do sabão! A obra está entre as mais tocadas e gravadas do século XX.

sugestões nunca foram consideradas por Barber, mas Meiff conseguiu o que queria, já que Briselli não estreou o concerto como planeado em Janeiro de 1940

SUGESTÃO DE AUDIÇÃO: • Samuel Barber: Violin Concerto No. 1, Op. 14 Gil Shaham, violin, London Symphony Orchestra, André Previn - Deutsche Grammophon, 1993


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Amélia Vieira

«Suavemente paira o decorrer das horas sobre os cabelos já grisalhos Pois que só ao esgotar da taça se torna bem nítido o seu fundo dourado.....»

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EQUENO excerto de um dos últimos poemas de Stefan Zweig um escritor maior que o seu tempo de vida, maior que todas as fugas, e surpreendente, ao terminar os seus dias tal como entrou, pela poesia: o seu primeiro livro “Silbert Saiton” relembra-nos isso. Mas são as suas memoráveis biografias no chamado Romance Histórico onde mais se evidenciou, nunca esquecendo o novelista, o contista, o ensaísta, num ritmo de trabalho constante e fecundo. Stefan foi um homem multicultural, judeu austríaco que se fora diluindo por países onde em crescendo e proporcionalmente também se ia torturando pelo destino das suas gentes. Nasceu em Viena em 1881, ainda capital do antigo Império Austro-Húngaro e muito cedo inicia a sua acção literária num jornal sionista vienense e em 1917 escreve então aquela que será a sua obra mais pungente «Jeremias», poema dramático, peça de teatro, num mergulhar

10.3.2020 terça-feira

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Stefan Zweig

até raízes profundas quando ele mesmo se via já braços com o seu próprio destino. É o começo do seu êxito literário. Mas este autor de biografias escreve a sua própria realidade de vida numa obra densa e de rara qualidade em «O Mundo de Ontem» autobiografasse por assim dizer, mas é bem mais do que isso, ele fala-nos sobretudo de um mundo anterior a 1914 e prossegue até aos anos quarenta enunciando os perigos de um tempo entre duas guerras e refletindo na facilidade que os regimes possuem de gerar monstros. Por isso, tem a matéria justa que serve de reflexão ao tempo presente e se foi de ontem em muitas formas de abordagem bem que podia ser de agora. Enquanto ensaio autobiográfico é de uma riqueza imensa resultado da sua memorável capacidade de limpidez de raciocínio e daquele encanto intraduzível... mas é sobretudo o seu desfiar de situações e inquietações que se formulam em interrogações a este humanista, pacifista, herdeiro dos medos, que ele ganha o contorno urgente de uma releitura. Zweig fora bibliotecário durante a guerra numa repartição de informações militares em 1915, já depois de ter visitado a Índia e a América onde assistiu à abertura do canal do Panamá. Porém, a

sua ida à Polónia numa missão, deve-o ter deixado chocado - soldados do Czar e judeus polacos - tanto, que a peça inaugural onde convergem todos os seus horrores, morte, destruição, fá-lo mergulhar nas ruínas de Jerusalém e no desaparecimento do reino de Samaria - paralelismo traumático - e só quando em 1933 Hitler é nomeado chanceler a sua fuga da Europa se prepara. Naturaliza-se inglês, segue de novo para os Estados Unidos e vai para o Brasil, ele que escrevera já sobre Fernando de Magalhães numa

É sobretudo o seu desfiar de situações e inquietações que se formulam em interrogações a este humanista, pacifista, herdeiro dos medos, que ele ganha o contorno urgente de uma releitura

das suas célebres biografias e apaixonado pelo país acrescenta ainda «Brasil, um País do Futuro» crendo mesmo, nós que daqui o contemplamos, que nunca se sentira tão bem e jamais tivera amor tão grande por outras terras. Tanto que este viajante por destino na sua última viagem arrebata juntamente com a carta de despedida uma iluminura com a estância 106 do Canto I de “Os Lusíadas”. E mesmo este seu amor não o sossegou. Ele, que tinha saudades da sua língua, que impaciente e com o espectro da perseguição fora escondendo de todos o seu drama e aos sessenta anos tivera a noção exacta de que não teria mais forças para encetar novas etapas da vida, estava cansado da perambulação e já não tinha nenhuma pátria - tinha saudades - saudades talvez marcantes da sua espiritual ideia de Europa. Chegado aqui, os seus fantasmas de expropriado, de perseguido, de possíveis e novas tormentas persecutórias mesmo já estando a salvo, foram mais fortes. Corria o ano de 1942, a Guerra, essa durava, e ele sofria pelo destino do seu povo e pelos seus livros terem agora de ser editados na Suécia fora da sua revisão pessoal. Sessenta anos! Ou a vida nos corre bem ou não há de facto mais tempo para recomeços, todas as vitórias ficaram registadas e foi-se feliz nas coisas que porventura se fizeram com talento e amor - que muita força para elas foram despendidas - soltar aí todos os nossos medos antecipará o fim da vida que já não poderá ser reinventada... (que para muitos faz parte intrínseca da sobrevivência) guardou então a dignidade intacta e a consciência de que a liberdade é um bem que se preserva. O resto do poema de despedida: Pressentir o anoitecer a aproximar-se/ não nos perturba, até nos alivia!/ o puro prazer da contemplação do mundo/ só o conhece aquele que já nada ambiciona/ e o que não se interroga sobre o que alcançou/ nem já se lamenta do que não conquistou/ e para o qual o envelhecer é apenas/ o leve começo do adeus. Jamais nos esqueceremos de uma rainha que o tempo condenara e que foi por ele reabilitada sem julgamento moral numa antecâmara de situações em que o turbilhão inflamou a sua imagem, relembrando que existem sempre situações que nos superam, e muito para além de sermos julgados, há o julgamento que se faz à nossa própria circunstância. Ninguém a conhecia. Apenas se sabia quem era. E quando a conhecemos por ele, ficamos graves, reconhecendo também o quão injusto é julgar alguém levianamente. Se foi um dotado, não fora menos delicado. E o «Desenvolvimento Histórico do Pensamento Europeu» devia soar-nos aos ouvidos cansados como uma terapia inteligente para um tempo que aos poucos obscurece. Crónicas como o «Segredo da Criação Artística» também nos dão ainda o tempo de luz antes do ocaso. Ou nele mesmo, ainda nos dão luz.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

terça-feira 10.3.2020

Uma asa no Além Paulo José Miranda

Paisagem com vedação

O

romance da alemã Christine Steinbrenner, «A Narradora» (1977), que tem a acção algures na Baviera de finais do século XIX, na casa de uma abastada família de agricultores, começa assim: «Quando os antepassados de Ulrike circunscreveram os seus terrenos com vedações, o medo da diferença assolava os campos.» É o início da história de Ulrike Rohm, uma menina que no início do romance tem 10 anos e que personifica a história do crescimento do nazismo na Alemanha. Steinbrenner leva-nos a ver o nacional-socialismo não apenas como uma consequência social e política, mas principalmente familiar. E família, aqui, é sempre visto como um ajustar os filhos às nossas convicções, às convicções dos educadores. Escreve, através da narradora – e a esta voltaremos mais tarde –, o que se passava na cabeça da mãe: «Ulrike era um prolongamento da família, por isso era necessário estar sempre a ajustar os seus comportamentos, como os vestidos à medida que ela crescia.» O nacional-socialismo é uma paisagem que se torna visível página a página, logo desde o início em que a narradora conta: «Esta família era como muitas famílias na Baviera, onde aparecia um novo modo de pensar o mundo, uma nova Alemanha, sobre os antigos alicerces dos preconceitos.» O pai de Ulrike, Heinrich, que parece estar em todo o lado sem nunca aparecer corporeamente, é uma espécie de sombra, de crença: «O seu pai não vai gostar nada de ver o seu cabelo desarranjado, Ulrike!» Ou quando a filha irrompe pela sala da casa a queixar-se que o pai tinha sido mau para ela, e a mãe lhe responde: «Não fique triste, filha, seu pai ralhou-lhe por amor. Ele não gosta de a ver a brincar com o filho do caseiro. A menina tem de aprender que as pessoas não são todas iguais. Lembra-se de quando caiu do cavalo e o pai lhe disse que tinha de voltar a montar, para não ter medo, e a menina julgou que ele estava a ser mau? Aqui é o mesmo, filha! Seu pai está apenas a ensinar-lhe como é a vida.» Aquilo que o leitor vai sentindo é que poderíamos fazer de nós outras pessoas, podíamos educar-nos para a aceitação da diferença e não para a negação da mesma. E talvez o momento mais caricato seja o do diálogo entre a mãe de Ulrike e a sua irmã, em que esta diz, a propósito do noivado de uma amiga comum com um judeu abastado de Berlim: «Qualquer dia já não há diferenças!» Outro dos pontos interessantes do livro é o modo como se vai desenvolvendo o papel do narrador ou da narradora. Até ao final do livro não sabemos quem está a narrar a história que estamos a ler. Vamos tendo suspeitas, que também vão mudando à medida que os acontecimentos vão sendo relatados. Quem é

o narrador ou a narradora do livro, que nos conduz com maestria ao longo das 220 páginas, é a pergunta que o leitor vai fazendo a si mesmo como a que Ulrike fará à mãe, muito preocupada, a propósito da nova escola para onde irá: «Mas eu não vou saber quem é quem.» Mais do que o medo ao desconhecido é o medo a ficar desajustado em relação não só às regras, mas ao que é considerado certo pelo grupo a que pertencem. E o leitor também se sente desajustado em relação ao que lhe é habitual: saber quem o conduz pelo tempo de leitura. Ao longo do livro, o querer saber quem narra torna-se tão importante como saber o que está a ser narrado. Em alemão, o género fica indeterminado no título. «Erzähler» tanto pode ser «narrador»

quanto «narradora». Em português, a tradução não teve como não desvendar parte do mistério, se bem que num universo predominantemente feminino dificilmente estivéssemos perante um narrador. Além das personagens de que já aqui se falou, há ainda a avó paterna de Ulrike, a amiga de infância da mãe, Ellen Heizmann, que a visita algumas vezes, e uma prima afastada do pai de Ulrike, que de cada vez que vai a casa dos Rohm causa desconforto no lar, devido ao seu comportamento excêntrico e beato. Esta prima, Johanna Drummer vivia reclusa em sua casa, nunca tendo casado, e devota de Santa Tecla de Icônio, a grande companheira de pregação de São Paulo. O primo, que se esforçava por educar a filha no protestante valor do trabalho,

É um livro difícil, não pela linguagem ou pelas reflexões, mas pelo quanto nos transtorna os nervos. Quase tudo nos melindra, como se a vida à nossa volta – e nós mesmos – o estado de coisas não fosse semelhante ao que nos é relatado (...). Continuamos a ter dificuldade em aceitar a diferença e a educar-nos em grupos mais ou menos fechados

via esse seu ascetismo como um péssimo exemplo para Ulrike, arranjando contínuas desculpas para não a receber ou, não podendo evitar, que as suas visitas não pecassem pela demora. Trata-se de um romance duro, em que Steinebrenner nos leva por descrições, frases, pensamentos que nos incomodam, que tendem a nos fazer parar muitas vezes, como no primeiro exemplo, logo à página 14, em que Ulrike diz à mãe que matar pardais lhe dá muita paz e esta afaga os cabelos da filha com um sorriso terno e diz: «Não vá para longe.» É um livro difícil, não pela linguagem ou pelas reflexões, mas pelo quanto nos transtorna os nervos. Quase tudo nos melindra, como se a vida à nossa volta – e nós mesmos – o estado de coisas não fosse semelhante ao que nos é relatado, mais até do que na altura em Steinebrenner publicou o livro. Continuamos a ter dificuldade em aceitar a diferença e a educar-nos em grupos mais ou menos fechados. Escreve Steinbrenner, à página 147: «Aos 12 anos, Ulrike tinha já feito todas as amigas que seria preciso para atravessar a vida. A mãe sabia-o e isso dava-lhe tranquilidade.» Não apenas a família e o seu território, mas o humano visto como uma paisagem com vedação.


14 (f)utilidades TEMPO

MUITO

10.3.2020 terça-feira

NUBLADO

COM SOMBRA DE PECADO

MIN

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24

HUM

O antigo chefe do governo autónomo escocês Alex Salmond começou ontem a ser julgado em Edimburgo por vários ataques sexuais e tentativas de violação, num processo cujo resultado poderá ter consequências políticas. Salmond, que abandonou a liderança

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do Partido Nacionalista Escocês (SNP) e do governo escocês em 2014, é acusado de 14 crimes, dos quais disse ser inocente. Além de duas tentativas de violação, o político é alvo de nove acusações de agressão sexual, duas de abuso sexual e uma de desordem pública.

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VIDA DE CÃO

GRANDE PODER Nos últimos tempos tem havido um rol de críticas às medidas de controlo e prevenção de países do Ocidente. Acaba por ser compreensível. Qualquer pessoa se sente mais segura em Macau, devido às políticas apresentadas, do que em qualquer país da União Europeia. Contudo, parece-me que a resposta à epidemia foi muito afectada pela inutilidade da Organização Mundial de Saúde. Até certo ponto, a questão foi sempre desvalorizada. Era um assunto da China. Isso fez com que a declaração de epidemia mundial fosse atrasada ao máximo. Já depois do vírus ser conhecido, enquanto a China se concentrava na luta contra a epidemia, a Organização Mundial de Saúde limitava-se a desvalorizar. Foi um triste exemplo dado por uma instituição que tinha a obrigação de fazer muito mais e melhor... Seria interessante perceber até que ponto foram as decisões “políticas” que impediram um esforço mais concertado de luta contra o vírus. No entanto, uma coisa parece muito clara, além das várias vítimas da doença, e o número ainda vai crescer muito, a credibilidade da OMS ficou igualmente extremamente afectada. Urge reformular a instituição e fazer rolar cabeças. Outro aspecto que merece ser questionado são os moldes da globalização. Todos gostamos muito da liberdade de circulação e acesso ao comércio mundial, mas este caso vem mostrar que é necessário um igual acesso à informação. As decisões nacionais, principalmente no caso das grandes potências, têm cada vez mais um impacto mundial. Esta tem de ser a grande lição de todo o caso. Com um grande poder vem uma grande responsabilidade. É bom que isso não fique esquecido. João Santos Filipe

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Cineteatro

C I N E M A

SALA 1

THE INVISIBLE MAN [C] Um filme de: Leigh Whannell Com: Elisabeth Moss, Adis Hodge, Storm Reid 14.00, 20.00

PARASITE [C] FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Bong Joon Ho Com: Song Kang Ho, Lee Sun Kyun, Cho Yeo Jeong, Choi Woo Shik 17.00

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SALA 2

UM FILME HOJE

UMA BATALHA CONTRA A TIRANIA | APPLE DAILY (2020)

CALL OF THE WILD [B] Um filme de: Chris Sanders Com: Harrison Ford, Karen Gillian, Dan Stevens 17.50, 21.45 SALA 3

BIRDS OF PREY [C] Um filme de: Cathy Yan Com: Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollet-Bell 20.15

19 20 7 2 5 3 9 9 7 2 3 8 1 4 5 6 6 9 5 7 1 8 3 Neste filme, que se encontra dis- festantes, como tem sido a linha passar. As conclusões são muito ponível jornal, e é essen- 7 limitadas, 4 9 1 2 6 6 e com 3 legendas 8 2 em5in- 4 editorial 1 7do 9 3 8a análise 2 não 6 é profun4 1 glês no youtube, é feito um resu- cialmente a um relato temporal. da, mas percebe-se que o mito no mo dos é uma3boa oportunidade 1 Ocidente 5 3 7 8 4 5 meses 1 de4protestos 7 6con- 9 Porém, 8 2 2 4de uma 9 China 3 5que se7 tra o Governo de Hong Kong. A para olhar com mais algum dis- queria abrir morreu com Hong abordagem que ainda se está a 4 Kong. 9 5 3 BIRDS 1 OF8PREY 7 8é parcial 5 e4pró-mani3 2 tância 6 para 9 o1 6 1João Santos 8 5Filipe3 9 6 1 2 4 7 3 4 1 5 9 6 2 8 7 3 7 9 4 2 1 6 8 4 Fábrica 6 de9Notícias, 5 Lda Director Carlos2Morais6José Editores 9 1João Luz; 7 José8C. Mendes 5 Redacção 3 4Andreia Sofia Silva; João8Santos5Filipe;2Pedro6Arede9Colaboradores 7 4 Propriedade Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo 1 8 9 5 José3Navarro de Andrade; José1Simões 2 Morais; 7 Luis9Carmelo; 4 Michel 5 Reis; 3 Nuno 6 Miguel 8 Guedes; Paulo José Miranda; 2 4Paulo6Maia 5e Carmo;7 Rita9Taborda8 Cotrim; José Drummond; Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; 3 Chan7Wai4Chi; Paula 6 Bicho; 2 Tânia dos Santos Cartoonista 8 5 Steph3Grafismo 6 Paulo 1 Borges, 7 Rómulo 9 4Santos2Agências Lusa; Xinhua5Fotografia 1 Hoje7 Macau; 3 Lusa; 8 GCS;6Xinhua2 Paul Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada 2 6 8 7 1 4 9 6 8 2 3 7 1 5 9 8 3 1 4 2 5 de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 21

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terça-feira 10.3.2020

macau visto de hong kong

DAVID CHAN

ECENTEMENTE,quem olhar para os jornais de Macau, encontra sobretudo notícias sobre a revitalização da economia e análises sobre os cupões electrónicos. Estas notícias ocupam as páginas dos jornais porque na cidade não aparece nenhum caso de infecção por coronavírus há cerca de um mês. Para já, a saúde da comunidade de Macau está garantida. Isto significa que o perigo da doença já passou e que nos devemos concentrar nas medidas pós-epidémicas? De momento, Hong Kong continua a ter novos casos e na China as infecções continuam a aumentar. O vírus chegou a outros países e a situação está particularmente grave na Coreia do Sul e em Itália. Podemos afirmar que o mundo está infectado com o coronavírus. A actual situação de Macau pode ser descrita como uma reconvalescença em fase inicial. Está na altura de pensar na reactivação das dinâmicas sociais, como é o caso do regresso dos estudantes à escola. Passaram duas semanas sobre o regresso dos funcionários públicos ao trabalho. A comunicação social tem encorajado a retoma da actividade comercial. A vida parece estar a voltar aos poucos ao normal e grupos de pessoas voltam a animar as ruas de Macau. O vírus é transmitido por partículas de secreções. Os infectados podem facilmente transmitir o vírus. Como não surgiu nenhum caso após o regresso ao trabalho, deduz-se que, por enquanto, não existem doentes em Macau. Como é sabido, este vírus tem um período de incubação e por isso as pessoas são postas de quarentena sempre que existem suspeitas de contágio. Como tal, após estas duas semanas de regresso ao trabalho sem registo de novos casos, podemos supor, que o risco de existirem pessoas contaminadas em Macau é baixo; como tal, é possível reabrir as escolas sem grandes preocupações. Embora esta não seja uma das principais prioridades em termos económicos, é importante que os estudantes regressem às suas actividades normais. Claro que nesta situação, todo o cuidado é pouco e os pais têm de estar seguros de que não estão a colocar os filhos em perigo. Com o regresso dos estudantes, as escolas vão ter uma série de problemas para resolver. Enquanto os jovens estiveram em casa, muitas escolas optaram pelo ensino online, seguindo a política de “suspender as aulas, mas não suspender o estudo.” Foi sem dúvida um bom princípio. No entanto, os jovens que não têm computador, ou

DEATH AND THE MISER, FRANSVAN FRANCKEN

R

Regressar ao futuro

acesso à internet, não puderam beneficiar desta possibilidade. Como é que as escolas vão lidar com esta desigualdade? E em relação às férias de Verão, como é que se vão realizar este ano? Quando está na ordem do dia a revitalização da economia, vamos discutir algumas hipóteses que possam ser benéficas para todos. Apoiar os comerciantes a ultrapassar as dificuldades causadas pelo encerramento dos negócios e revitalizar a economia é o primeiro passo, após o perigo de a epidemia ser ultrapassada. Segundo os dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos de Macau, o PIB em 2019 foi de 346.67 mil milhões de patacas, dos quais 25 mil milhões serão usados para revitalizar a economia, numa percentagem de cerca de 17.38%. A aplicação desta

verba irá “sobreaquecer” a economia, ou irá produzir um crescimento moderado? É uma questão para ser colocada aos economistas. Os comerciantes de Macau precisam de saber aplicar os subsídios nos negócios e continuar a geri-los com uma melhor postura, “virada para o futuro”. É esperado que o volume de vendas do comércio local volte aos valores que se registavam antes da epidemia. A ideia dos cupões electrónicos não pode ser implementada em todas as lojas porque algumas não possuem computadores em que o sistema possa ser instalado. Além disso algumas pesssoas não têm smartphones, nem computadores, ou não sabem fazer o registo no website da Autoridade Monetária de Macau, o que implica que esta matéria tem de ser trabalhada com maior profundidade. Os

Cada nova epidemia acarreta uma nova crise para a Humanidade, mas também nos ensina novos métodos de prevenção e faz-nos descobrir novos tratamentos; apenas com a aprendizagem através da experiência e com a evolução constante, podem os seres humanos ultrapassar as doenças e continuar a viver neste planeta

equipamentos têm de ser instalados o mais rapidamente possível e as pessoas precisam de ser ensinadas, caso contrário esta medida está destinada ao fracasso. O vírus já se espalhou a nível global e já se registaram muitas mortes. Embora Macau se encontre no início de uma “reconvalescença”, não sabemos se o vírus não vai regressar. A atitude correcta é continuarmos a ter cuidado. O ideal é que surja uma vacina ou um tratamento mais eficaz. Caso esse cenário não esteja para breve, que medidas podem ser tomadas para já? Por exemplo, Macau deve considerar criar uma linha de produção de máscaras? Deve ser banido o consumo da carne de animais selvagens? Esta doença de ser considerada uma infecção de alto risco, e se for o caso, devemos notificar a China continental e Hong Kong? Todos sabemos que as doenças são inevitáveis. Cada nova epidemia acarreta uma nova crise para a Humanidade, mas também nos ensina novos métodos de prevenção e faz-nos descobrir novos tratamentos; apenas com a aprendizagem através da experiência e com a evolução constante, podem os seres humanos ultrapassar as doenças e continuar a viver neste planeta.

Professor Associado do IPM • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


Um professor ou um médico incompetentes são a mesma coisa. PALAVRA DO DIA

João Lobo Antunes

Covid-19 Espanha com plano de choque face a 1050 casos

As autoridades espanholas elevaram ontem para 1050 o número de casos confirmados de contaminação com o novo coronavírus, no dia em que o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, anunciou que o Governo lançará “o mais breve possível” um plano de choque contra a epidemia. O chefe de Governo pediu “unidade, serenidade e estabilidade” perante o surto do Covid-19. Pedro Sánchez, que presidiu na manhã de ontem à comissão de monitorização do novo coronavírus, exigiu que todos os cidadãos sigam estritamente as indicações, “como já estão a fazer”, e que ouçam atentamente as recomendações de saúde prescritas nas comunidades autónomas. “Essa causa não distingue ideias ou cores”, disse Sanchez, que defendeu a gestão do Governo diante desta crise de saúde, enfatizando que a Espanha tem um sistema de saúde robusto e dotado de profissionais “excelentes”. O Ministério da Saúde da Espanha confirmou ontem 1050 casos do novo coronavírus (Covid-19) no país, a maioria dos quais localizados na Comunidade de Madrid (469) e no País Basco (149).

Japão Economia cai 7,1% no fim de 2019

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A economia do Japão registou uma contração 7,1 por cento entre Outubro e Dezembro de 2019, em comparação a igual período de 2018, aumentando os receios de que a terceira maior economia mundial entre em recessão, foi ontem anunciado. Os dados oficiais agora divulgados apontam para a primeira contração económica no Japão em mais de um ano. Esta é uma revisão da estimativa do mês passado que apontava para um declínio de 6,3 por cento na taxa anual. Os dados não reflectem a forte desaceleração do turismo e outras actividades comerciais devido ao surto do novo coronavírus, detectado na China em Dezembro passado e que se propagou já para grande parte do mundo. Trimestralmente, a economia recuou 1,8 por cento em relação ao trimestre anterior. A estimativa anterior apontava para uma contração de 1,6 por cento entre Julho e Setembro. A procura doméstica, que inclui investimentos e consumo, caiu 2,4 por cento. Uma recessão económica é tecnicamente definida a partir de dois trimestres consecutivos nos quais se registe uma contracção.

terça-feira 10.3.2020

MICRONÉSIA RESTRIÇÕES MAIS DURAS DO MUNDO

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Francisco George, ex-director-geral da Saúde de Portugal “A probabilidade de se morrer da doença é comprovadamente maior para o novo coronavírus do que para outras doenças respiratórias como a gripe.”

Números não enganam Francisco George diz que Covid-19 é mais mortal do que a gripe sazonal

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ex-director-geral da Saúde Francisco George afirmou ontem que o novo coronavírus e a gripe sazonal são vírus distintos, sabendo-se já que a nova epidemia é mais mortal. Apesar de a doença provocada pelo novo coronavírus(Covid-19), ainda não ser totalmente conhecida, “já se identificou o vírus, a forma como se transmite, a sua composição molecular, estão a ser ensaiadas vacinas e um novo medicamento que se administra por via oral para apoiar o controlo da doença”, disse o especialista em saúde pública. Também já se sabe que “a probabilidade de se morrer da doença é comprovadamente maior para o novo coronavírus do que para outras doenças respiratórias como a gripe”, disse o também presidente da Cruz Vermelha Portuguesa. Na semana passada, o director-geral da Organização

Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, já tinha afirmado que o novo coronavírus - família de vírus que pode causar infecções respiratórias como pneumonia - é mais perigoso do que os vírus da gripe, apresentando uma taxa de mortalidade de 3,4% (para a gripe é menos de 1%). Para o especialista em saúde pública Francisco George não se pode comparar o novo coronavírus com a gripe porque são “vírus distintos, doenças distintas, que geram epidemias distintas”. “Provavelmente, terá havido desde o início um processo de comparação, a meu ver indevida, com o vírus da gripe”, mas não se pode comparar um problema com o outro, afirmou.

CUIDADOS INTENSOS

Francisco George salientou ainda que “há avanços que têm sido muito rápidos” e que “este é o momento da ciência que tem de

ser acompanhado por confiança” por parte dos portugueses e pela adopção de medidas de etiqueta respiratória como lavar frequentemente as mãos. “A falta de cuidados que os portugueses sempre demonstram em relação à gripe é inimiga da adopção de medidas para o novo coronavírus”, alertou. Face ao aumento de casos de infecção, o Governo ordenou a suspensão temporária de visitas em hospitais, lares e estabelecimentos prisionais na região Norte e a limitação de visitas às prisões de todo o país. Foram também encerrados temporariamente alguns estabelecimentos de ensino secundário e universitário. Portugal regista 30 casos confirmados de infecção, nenhum deles se encontra nos cuidados intensivos, segundo o boletim mais recente da Direcção-Geral da Saúde, divulgado no domingo.

Micronésia está a aplicar as restrições mais duras do mundo a visitantes devido ao novo coronavírus, proibindo a entrada a quem tenha estado num país onde exista pelo menos um caso confirmado de Covid-19. Os Estados Federados da Micronésia, uma nação composta pelos Estados-ilha de Pohnpei, Kosrae, Cuuk e Yap, no Pacífico, aplicam uma restrição que abrange já mais de uma centena de países onde existem casos confirmados. Quem quiser entrar na Micronésia tem primeiro de demonstrar que esteve pelo menos 14 dias num país livre do vírus. As restrições implicam igualmente os próprios cidadãos que estão proibidos de viajar para países afectados. As restrições são igualmente significativas noutros países do Pacífico Sul, uma das regiões do mundo onde não há ainda casos registados do Covid-19, com excção para os casos detectados na Austrália e na Nova Zelândia. As Ilhas Salomão, Cook, Samoa e Kiribati recusam a entrada de cidadãos que tenham estado em países onde há Covid-19, com várias a cancelar igualmente várias visitas previstas de cruzeiros. Recentemente, o próprio ministro do Comércio da Samoa, que tinha vindo de um país afectado, foi impedido de entrar e deportado para Fiji. Praticamente todos os países têm em vigor alguma forma de restrição, com uma lista a crescer quase diariamente e a ser actualizada pela International Air Transport Association.

Seul Pyongyang dispara projécteis não identificados

A Coreia do Norte disparou ontem três procjéteis não identificados, disseram as forças armadas da Coreia do Sul, dois dias após o regime norte-coreano ter ameaçado tomar medidas «sérias» contra a condenação internacional aos seus exercícios militares. As forças armadas sul-coreanas afirmaram em comunicado que detectaram os três lançamentos feitos a partir da Coreia do Norte, numa cidade costeira no leste da província de Hamgyong, e referiram que estão a monitorizar a possibilidade de se verificarem lançamentos adicionais.


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