Hoje Macau 10 MAI 2017 #3808

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Obsessão pela transparência

JOÃO PAULO COUTRIM

frases sobre a China

hojemacau VISITA ZHANG DEJIANG ELOGIA FORÇAS PATRIÓTICAS DE MACAU

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MOP$10

QUARTA-FEIRA 10 DE MAIO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3808

Ditosa pátria minha amada

No segundo dia da visita do número três do regime chinês, Zhang Dejiang deixou rasgados elogios à governação local. Amor à pátria e pragmatismo no acompanhamento do

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JULIE O’YANG

CONCURSO

IMAGENS DA MINHA TERRA EVENTOS

SUICÍDIO JUVENIL

Prevenir é viver PÁGINA 9

Fricção científica

desenvolvimento do país foram alguns dos louvores deixados pelo membro do Politburo do PCC. Neste mesmo dia, dois activistas de Hong Kong foram expulsos de Macau.

OPINIÃO TÂNIA DOS SANTOS

PÁGINA 5 E ÚLTIMA

FMI

Minha rica Ásia PÁGINA 13

FRONTEIRA

ACTIVISTAS EXPULSOS ÚLTIMA

A idade da razão GRANDE PLANO

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

UNIÃO EUROPEIA

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ


2 GRANDE PLANO

Seis décadas depois da assinatura do Tratado de Roma, o documento fundador da Comunidade Europeia, as instituições que unificam o Velho Continente passam por uma crise existencial. Entre fenómenos nacionalistas adversos à integração, o Brexit, as questões de segurança, as vagas migratórias e a distância em relação aos cidadãos colocaram a União Europeia numa encruzilhada de difícil resolução

ANÁLISE 60 ANOS DEPOIS DA FUNDAÇÃO, OS DESAFIOS EXISTENCIAIS DA UNIÃO EUROPEIA

E AGORA, EUROPA? M ACRON venceu a corrida ao Eliseu e Bruxelas respirou um pouco de alívio. Mas o fantasma da desintegração continua a pairar sobre as instituições que conseguiram criar a atmosfera política que obteve o maior período de paz na Europa Central. No mês que vem, a França voltará às urnas para as eleições legislativas e o contexto partidário não é favorável às aspirações europeias, com a Frente Nacional como partido cimeiro. É de referir que o Presidente eleito escolheu o anterior primeiro-ministro, Manuel Valls, para ser o seu candidato. Uma cartada política que pode ser demasiado arriscada, uma vez que representa uma ligação ao muitíssimo impopular consulado de Hollande. A verdade é que, um pouco por toda a Europa, focos nacionalistas ganham terreno e ameaçam a frágil coesão supraestatal. Sten Verhoeven, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Macau, mostra preocupação com a “posição da Hungria e da Polónia, que não se encontram em consonância com os princípios europeus”. O Governo polaco foi mesmo admoestado por Bruxelas devido às tentativas de terminar com a independência do Tribunal Constitucional. Em pleno espaço europeu surge um membro que não parece ter grande interesse em respeitar o Estado de direito e a independência dos tribunais.

Outro mau sinal vindo do Executivo de Jaroslaw Kaczynski foi a vontade de purgar do espaço público os seus críticos nos meios de comunicação social, assim como corpos diplomáticos que não se revejam na sua visão política. Apesar destas posições serem “diametralmente opostas às da União Europeia”, como diz Sten Verhoeven. Porém, além das críticas, pouco foi feito por Bruxelas em termos práticos. Já no caso da Hungria, a União Europeia tomou acções legais contra o Governo de Victor Orbán no caso do encerramento de uma universidade privada, sendo que este caso é apenas a ponta do icebergue no que toca às relações difíceis entre Bruxelas e Budapeste. O projecto europeu sempre viveu da gestão de tensões entre

diferentes ambições e contextos socioeconómicos entre os diversos Estados-membros. José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estados Europeus de Macau, acha que é necessário “um reequilíbrio e um entendimento diferente do espaço europeu para que se consiga ultrapassar certos tipos de nacionalismos”. O académico acrescenta ainda que estas “são equações a longo prazo, porque cada país, sozinho, é relativamente pequeno do


Tal e qual como na altura da assinatura do Tratado de Roma em 1957, passados 60 anos, na celebração do momento fundador da União Europeia, o Reino Unido não esteve presente

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ponto de vista mundial e a Europa vale pelo facto de aparecer junta no plano global”. No fundo, é preciso uma visão alargada, fazer um “zoom out” e olhar também para os interesses europeus, abrindo o foco dos interesses nacionais.

IMBRÓGLIO INTERNACIONAL

Tal e qual como na altura da assinatura do Tratado de Roma em 1957, passados 60 anos, na celebração do momento fundador da União Europeia, o Reino Unido não esteve presente. Este é um dos desafios que promete ensombrar Bruxelas durante os próximos anos, até Março de 2019, data em que se concluirá o processo do Brexit. De momento, “as condições de saída propostas por Theresa May e as posições da União Europeia não estão alinhadas”, comenta Sten Verhoeven. À saída da reunião que marcou o 60.º aniversário, a chanceler Angela Merkel rematou que “há coisas que não estão à venda”, rejeitando concessões à saída do Reino Unido da União Europeia que minem o livre movimento de pessoas, bens, serviços e capitais dentro do mercado comum, princípios basilares da comunidade europeia. Entretanto, no plano internacional, os desafios multiplicam-se. A crise dos refugiados continua por resolver, as questões de segurança e luta contra o terrorismo permanecem uma ameaça à estabilidade do espaço europeu. Na Turquia adensa-se um regime em tudo contraditório com os valores que fundaram a União Europeia, a Rússia imiscui-se sub-repticiamente em eleições europeias com “hacks e leaks”, e as antigas alianças parecem tremidas. Sten Verhoeven aponta que as instituições europeias têm avançado quase sempre movidas por necessidade de resposta a crises mas, hoje em dia, existe um problema em Washington. “Donald Trump apoiou Marine Le Pen nas eleições francesas”, recorda. Para o professor, as relações entre Estados Unidos e Europa precisam de ser rectificadas, assim como é necessário procurar manter a estabilidade dentro da NATO. Numa altura em que os Estados Unidos apostam ainda mais no fortalecimento das suas forças armadas, assim como a China e a Rússia, a Europa fica numa posição fragilizada. Principalmente no cenário geopolítico de fragilização

Assinatura do Tratado de Roma

da coesão da NATO. Porém, Sten Verhoeven considera que “esta não é a altura para dar prioridade às questões de uma política europeia militar e de segurança”. O académico é da opinião de que esta seria uma política difícil de vender aos europeus, numa altura em que as maiores preocupações são de cariz económico.

RAZÃO DE EXISTIR

Roma foi de onde partiu um império que unificou a Europa através da conquista militar e cultural. A assinatura do tratado que fundou a comunidade europeia nesta cidade marcou uma viragem de filosofia diplomática num continente que vinha sendo devastado por sucessivas guerras, que se ligou pela via da unidade política. Nos dias de hoje, a génese da União Europeia afastou-se dos cidadãos. O próprio presidente

“São equações a longo prazo, porque cada país, sozinho, é relativamente pequeno do ponto de vista mundial e a Europa vale pelo facto de aparecer no plano global junta.” JOSÉ LUÍS SALES MARQUES PRESIDENTE DO INSTITUTO DE ESTUDOS EUROPEUS DE MACAU

do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, confessou que as instituições precisam de se aproximar dos europeus. A união “cometeu demasiados erros, não está completa e está, demasiadas vezes, afastada dos assuntos reais, dividida, sem poder e demasiado burocrática”. Em declarações à margem do aniversário da assinatura do Tratado de Roma, Tajani confessou que se encontra “preocupado com o crescimento do descontentamento entre os cidadãos”, acrescentando que “a Europa não poderá progredir sem se aproximar dos europeus”. Não é novidade que a abstenção nas eleições europeias é um fenómeno periódico que grassa um pouco por toda a união, com particular destaque em Portugal. Para José Luís Sales Marques, este afastamento dos eleitorados “reflecte uma desconexão que surge do facto de o projecto europeu ter sido muito um processo de cima para baixo”, isto é, “não apela muito à participação dos cidadãos de uma forma decisiva”. A Comissão Europeia, por exemplo, “continua a não ser eleita, embora haja já um processo de envolvência muito maior na eleição do presidente através do Parlamento Europeu”, comenta. Também o crescimento do investimento das empresas de lobby junto das instituições europeias afastou o comum cidadão dos centros de decisão. “A concentração do poder é algo muito atraente”, reflecte Sales Marques. O professor acrescenta ainda que “é mais simples ter um gabinete de lobby instalado em Bruxelas do que ter 30 gabinetes, algo que, provavelmente, nem sequer funcionaria”.

José Luís Sales Marques acha que é necessário “um reequilíbrio e um entendimento diferente do espaço europeu para que se consiga ultrapassar certos tipos de nacionalismos” José Luís Sales Marques explica que se deveria dar atenção a uma mudança de paradigma que urge implementar. Tem-se dado demasiado foco ao controlo da inflação e dos défices, e pouco ao crescimento económico. Esta é a Europa que gasta rios de dinheiro a exigir resgates a bancos e que deixa a economia real nas ruas da amargura. Nesse aspecto de afastamento da população, os dirigentes europeus deviam olhar para a diferença da Europa que celebrou os 60 anos da assinatura do Tratado de Roma e a data em 1957. Há seis décadas, uma multidão de gente celebrava à chuva o documento que fundava a Comunidade Europeia. Nos dias de hoje, as pessoas ficaram à distância, separadas por um perímetro de segurança, apenas com alguns operadores de câmara a filmarem a chegada dos líderes europeus ao palácio em Roma onde tudo começou. João Luz

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4 POLÍTICA

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Veículos abandonados DEPUTADO EXIGE MAIS MEDIDAS PARA RESOLVER SITUAÇÃO

Sucata em cada esquina O deputado Ho Ion Sang exige que o Governo reforce as medidas para a remoção dos veículos abandonados nas ruas. Numa interpelação escrita, o deputado lembra que muitas das matrículas acabam por não ser canceladas conforme diz a lei

não têm, portanto, as matrículas canceladas. O deputado considera ainda que o Governo tem vindo a ignorar o dossier relativo aos veículos abandonados nas vias, além de existir pouca adesão por parte da população em termos de cooperação.

CALENDÁRIO PRECISA-SE

Para Ho Ion Sang, o Executivo ainda não adoptou soluções efectivas para resolver o problema, apesar da legislação em vigor

H

Á várias zonas de Macau com veículos deixados ao abandono, ocupando lugares de estacionamento que poderiam ser utilizados por outros condutores. A pensar nesta problemática, o deputado Ho Ion Sang enviou uma interpelação es-

crita ao Governo, onde exige um reforço de medidas. Para o deputado, com ligações à União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM), o Executivo ainda não adoptou soluções efectivas para resolver o problema, apesar da legislação em vigor. Ho Ion Sang acredita que a exis-

tência de veículos abandonados está associada ao facto de os condutores não terem cancelado as matrículas de acordo com a lei. Tal faz com que os veículos acabem por ficar estacionados por longos períodos de tempo em vários locais. Na sua interpelação, o deputado cita dados oficiais

referentes ao ano passado. A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), em conjunto com o Corpo de Polícia de Segurança Pública, removeu mais de 1400 automóveis que não tinham imposto de circulação pago, sendo que 80 por cento desses veículos nunca foram reclamados, e

Ho Ion Sang deseja saber se o Governo tem um calendário para remover todos os veículos abandonados ou que estejam estacionados num mesmo local de forma permanente. O deputado acredita ainda que cabe à DSAT a realização de campanhas que promovam o aumento da consciência dos donos dos veículos, para que respeitem a lei caso queiram trocar de automóvel. Na visão do deputado, os veículos abandonados ocupam infra-estruturas públicas, sobretudo lugares para estacionar, acabando por dificultar o acesso de outros veículos e dos próprios peões. Apesar das medidas adoptadas nos parques de estacionamento públicos, Ho Ion Sang destaca a gravidade do problema na zona de Hac-Sá, em Coloane, ou em diversas ruas estreitas do território. Vítor Ng (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo

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Multas e mais multas Concurso Público n.º 4/2017 da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública para a prestação dos serviços de condomínio do Edifício Administração Pública

Concurso Público n.º 5/2017 da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública para a prestação dos serviços de segurança do Edifício Administração Pública

Nos termos previstos no artigo 13.º do Decreto-Lei n.º 63/85/M, de 6 de Julho, e em conformidade com o despacho da Secretária para a Administração e Justiça, de 25 de Abril de 2017, a Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública vem proceder, em representação do adjudicante, à abertura do concurso público para a aquisição dos serviços de condomínio do Edifício Administração Pública. A partir da data da publicação do presente anúncio, os interessados poderão dirigir-se ao balcão de atendimento do SAFP, sito na Rua do Campo, n.º 162, Edifício Administração Pública, R/C, nos dias úteis, das 9,00 às 17,30 horas, para a obtenção da cópia do programa do concurso e do caderno de encargos, mediante o pagamento da importância de MOP100,00 (cem patacas) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica: www.safp.gov.mo. A sessão de esclarecimento deste concurso terá lugar no próximo dia 19 de Maio de 2017, pelas 11,00 horas, no auditório do Edifício Administração Pública, sito na cave 1. Caso os interessados tenham dúvidas sobre o programa do concurso e o caderno de encargos deste concurso, devem apresentá-las até às 17,30 horas do dia 16 de Maio de 2017, de acordo com a forma estabelecida no respectivo programa do concurso, para que as dúvidas sejam esclarecidas na sessão de esclarecimento. O prazo para a apresentação das propostas termina às 17,30 horas do dia 29 de Maio de 2017, não sendo aquelas admitidas fora do prazo. Os concorrentes devem apresentar a sua proposta dentro do prazo estabelecido no balcão de atendimento do SAFP, sito no Edifício Administração Pública, entregando um depósito no valor de MOP150 000,00 (cento e cinquenta mil patacas), em garantia bancária, a favor da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública ou efectuar um depósito em dinheiro no banco indicado, para efeitos de pagamento da caução provisória deste concurso. O acto público de abertura das propostas do concurso terá lugar no dia 31 de Maio de 2017, pelas 10,00 horas, no auditório do Edifício Administração Pública acima referido.

Nos termos previstos no artigo 13.º do Decreto-Lei n.º 63/85/M, de 6 de Julho, e em conformidade com o despacho da Secretária para a Administração e Justiça, de 25 de Abril de 2017, a Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública vem proceder, em representação do adjudicante, à abertura do concurso público para a aquisição dos serviços de segurança do Edifício Administração Pública. A partir da data da publicação do presente anúncio, os interessados poderão dirigir-se ao balcão de atendimento do SAFP, sito na Rua do Campo, n.º 162, Edifício Administração Pública, R/C, nos dias úteis, das 9,00 às 17,30 horas, para a obtenção da cópia do programa do concurso e do caderno de encargos, mediante o pagamento da importância de MOP100,00 (cem patacas) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica: www.safp.gov.mo. A sessão de esclarecimento deste concurso terá lugar no próximo dia 18 de Maio de 2017, pelas 11,00 horas, no auditório do Edifício Administração Pública, sito na cave 1. Caso os interessados tenham dúvidas sobre o programa do concurso e o caderno de encargos deste concurso, devem apresentá-las até às 17,30 horas do dia 16 de Maio de 2017, de acordo com a forma estabelecida no respectivo programa do concurso, para que as dúvidas sejam esclarecidas na sessão de esclarecimento. O prazo para a apresentação das propostas termina às 17,30 horas do dia 26 de Maio de 2017, não sendo aquelas admitidas fora do prazo. Os concorrentes devem apresentar a sua proposta dentro do prazo estabelecido no balcão de atendimento do SAFP, sito no Edifício Administração Pública, entregando um depósito no valor de MOP100 000,00 (cem mil patacas), em garantia bancária, a favor da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública ou efectuar um depósito em dinheiro no banco indicado, para efeitos de pagamento da caução provisória deste concurso. O acto público de abertura das propostas do concurso terá lugar no dia 29 de Maio de 2017, pelas 10,00 horas, no auditório do Edifício Administração Pública acima referido.

Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública, aos 28 de Abril de 2017.

Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública, aos 28 de Abril de 2017.

A Directora, Substa Joana Maria Noronha

A Directora, Substa Joana Maria Noronha

Criticada excessiva fiscalização dos restaurantes

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deputado Chan Meng Kam interpelou o Governo sobre o que considera ser uma excessiva fiscalização dos restaurantes, além de considerar que existem diferentes padrões na aplicação da lei. Na sua interpelação escrita, o deputado entende que o centro de segurança alimentar, sob alçada do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), acaba por levar a cabo acções de fiscalização excessivas. Alguns profissionais do sector da restauração queixaram-se ao deputado que a forma de actuação do centro de segurança alimentar causa várias dúvidas aos proprietários dos estabelecimentos, que se vêem obrigados a cumprir diferentes requisitos para elementos que consideram de menor importância, tal como as formas dos aparelhos para matar mosquitos ou as cores a

utilizar nas placas que indicam a saída dos restaurantes. Para Chan Meng Kam, o IACM deve prestar mais atenção à segurança alimentar do que aos equipamentos dos restaurantes. O deputado relata ainda um caso em que os fiscais do IACM pediram todos os recibos sobre as encomendas do restaurante no período da manhã, mas os responsáveis do estabelecimento não conseguiram cumprir o pedido, pois a entrega das encomendas acabou por sofrer um atraso. O deputado lembra que o Governo tem procurado simplificar os processos administrativos nesta área mas, na prática, continua a não existir regras unificadas. Chan Meng Kam questiona ainda porque é que só os restaurantes é que são alvo de uma fiscalização excessiva e exigente, ao invés de outros estabelecimentos de menor dimensão.


5 POLÍTICA

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E ´

já amanhã, dia 11, que a Assembleia Legislativa (AL) vota mais um pedido de debate apresentado pela deputada Ella Lei, que versa sobre a abertura de concursos para a atribuição de casas sociais. Na sua proposta, a deputada considera que “o Governo deve iniciar imediatamente os concursos para as habitações sociais, bem como implementar um mecanismo permanente de candidatura para esse tipo de habitação”. Ella Lei, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau, considera que a não abertura de concursos cria condicionantes negativas a muitas famílias.

Pequim ZHANG DEJIANG ELOGIA “FORÇAS PATRIÓTICAS” DE MACAU

Por aqui tudo bem Os residentes de Macau sabem o que querem, são pragmáticos e souberam aproveitar o desenvolvimento da China Continental. Depois de, à chegada, ter deixado alguns avisos à navegação, ontem foi dia de elogios pelo líder da Assembleia Popular Nacional curado oportunidades ao associarem as vantagens do território às tendências de desenvolvimento do país.

Zhang Dejiang disse que as “forças patrióticas” em Macau têm mantido uma posição de liderança na

sociedade e devem ensinar as gerações futuras a amar o país. Também disse que esses grupos patrióticos

GCS

presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN) disse ontem que Macau deu um bom exemplo ao aprovar a lei anti-subversão e que a região tem sido bem-sucedida porque o patriotismo prevalece na sociedade. Zhang Dejiang – que além de presidente da APN é membro do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC), a cúpula do poder, falava numa palestra ontem de manhã em Macau, cuja cobertura jornalística foi reservada a apenas alguns órgãos de comunicação social, salienta a Agência Lusa. Conhecida também como a regulação do Artigo 23.º da Lei Básica, a lei anti-subversão, que entrou em vigor em Macau em 2009, prevê e pune os crimes contra o Estado. O Governo de Hong Kong tentou em 2003 implementar o Artigo 23.º da Lei Básica, mas o plano foi abortado depois da oposição de deputados pró-democracia e activistas, e de meio milhão de pessoas ter saído à rua em protesto, por receios de que Pequim usasse esta lei para reprimir a dissidência na região. Segundo a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong, no segundo dia da visita oficial à cidade, Zhang Dejiang disse que a população de Macau não pode dar-se ao luxo de ter agitação, sublinhando que as pessoas não desperdiçam energia e esforços em discussões que não levam a lado algum. Para o “número três” da hierarquia chinesa, os residentes de Macau têm sido pragmáticos e pro-

entenderam correctamente a implementação do princípio “Um país, dois sistemas”.

Zhang Dejiang termina hoje a visita oficial de três dias. Não deverá voltar a Macau na qualidade de enviado de Pequim, uma vez que, devido à regra (não escrita) dos 68 anos de idade, deverá abandonar a política activa no próximo Outono, aquando da reunião magna do Partido Comunista Chinês.

MENSAGEM PARA O LADO

Antes do seminário, Zhang fez uma visita à Assembleia Legislativa (AL), durante a qual disse aos deputados para não desperdiçarem tempo em bloqueios ou a envolverem-se em actos de violência. O deputado pró-democrata Au Kam San disse mais tarde aos jornalistas que isso não acontece em Macau, pelo que depreende que Zhang Dejiang deve ter pretendido passar essa mensagem aos deputados de Hong Kong. Au Kam San entregou uma petição ao presidente do Comité Permanente da APN a pedir o sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo e dos deputados à AL.

A VISITA À CULTURA DA TERRA O

presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional esteve ontem nas Casas-Museu da Taipa para ver, na “Galeria de Exposições”, as fotografias e produtos relacionados com a cultura e a comunidade macaense. Zhang Dejiang esteve ainda no “Museu Vivo Macaense”. A apresentação da história cultural, dialecto, estilo de vida e elementos decorativos nas casas, diz nota oficial, esteve a cargo do presidente do Instituto Cultural, Leung Hio Ming, e do representante da comunidade Macaense, Leonel Alves.

PUB HM • 1ª VEZ • 10-5-17

ANÚNCIO Acção Ordinária

Zhang Dejiang disse que as “forças patrióticas” em Macau têm mantido uma posição de liderança na sociedade e devem ensinar as gerações futuras a amar o país

Diplomas mil

de Extinção”. Este último diploma esteve longos meses a ser discutido em sede Debate sobre habitação social vai amanhã a votos de especialidade, tendo sido aprovado, na generalidade, “Se o Governo continuar Chai, já foram aprovadas em Abril do ano passado. a não abrir concursos para pelo hemiciclo, estando a Os deputados vão tamos residentes se candidata- aguardar uma data para a bém votar na especialidade rem a habitações sociais, as realização do debate. o articulado que altera as leis famílias com dificuldades de combate aos crimes de económicas não só não po- MUDANÇAS EM CURSO branqueamento de capitais dem candidatar-se e viver O plenário de amanhã vai e terrorismo. A análise na numa dessas habitações, também servir para votar na especialidade chegou ao fim como também vão ficar sem especialidade as alterações na semana passada, tendo a o referido abono”, escreveu ao regime das carreiras dos AL considerado, no parecer a deputada. trabalhadores dos serviços jurídico, que o Governo deve Este é o terceiro pedido públicos, bem como a al- promover mais a recolha de de debate que dá entrada na teração à “Lei de execução dados nestas áreas, para que AL no espaço de um mês. As da Convenção sobre o se possa dar uma melhor anteriores propostas, apre- Comércio Internacional resposta ao baixo número sentadas pelos deputados das Espécies da Fauna e da de casos em tribunal que Mak Soi Kun e Leong Veng Flora Selvagens Ameaçadas resultam em condenações.

n.º CV1-16-0051-CAO

1.º Juízo Cível

Autora: HE SHUXIAN, divorciada, de nacionalidade chinesa, titular do passaporte da República Popular da China e residente em Macau, na Avenida do Nordeste, Lote V, Villa de Mer, Bloco II, 4ºandar D------------------------------------Réus : Chan Wong Ben, divorciado, com última residência conhecida, na Rua de Aveiro,132, Edifício Mei Keng Garden, 13º andar AA, Taipa e outro.-----------*** -----FAZ-SE SABER que pelo 1.º Juízo do Tribunal Judicial de Base de Macau, correm éditos de TRINTA DIAS contados a partir da 2ª e última publicação deste anúncio, citando o Réu, para o prazo de TRINTA DIAS, findo o dos éditos, querendo contestar a acção acima indicada, apresentada pela autora na qual pede em suma que a presente acção seja julgada procedente, por provada e, em consequência se declarar a autora como legitima e única proprietária da fracção autónoma designada por “IID4” para habitação , do prédio denominado “Villa de Mer” sito em Macau, na Avenida Nordeste com entrada S/N, Zona da Areia Preta, descrito na Conservatória do Registo Predial sob o n. 23195 e inscrito a favor da autora sob o n. 253573G, por a ter adquirido no estado de divorciada ou como legítima e única proprietária da referida fracção por a ter adquirido no estado de casada mas como bem próprio, tudo como melhor consta da petição inicial, cujos duplicados se encontram nesta Secretaria à sua disposição.-------------------------------- O(s) citando(s) fica(m) advertido(s) de que a falta de contestação não importa a confissão dos factos articulado pelos autores, caso os mesmos permaneçam na situação de revelia absoluta, sendo obrigatória a constituição de advogado, nos termos do artigo 74.ºdo C. P. C., caso contestem. .---------------------------------------R.A.E.M., aos 20 de Abril de 2017 ***


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ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.º 16/P/17 FORNECIMENTO E INSTALAÇÃO DE UM SISTEMA DE TOMOGRAFIA AXIAL COMPUTARIZADA, INCLUINDO O PROJECTO DE CONCEPÇÃO E A RESPECTIVA EMPREITADA DE REMODELAÇÃO 1. 2. 3. 4.

Entidade que põe a obra a concurso: Serviços de Saúde. Modalidade de concurso: Concurso Público. Local de execução da obra: Centro Hospitalar Conde de São Januário. Objecto da Empreitada: Fornecimento e instalação de um sistema de tomografia axial computarizada, incluindo o projecto de concepção e a respectiva empreitada de remodelação. 5. Prazo máximo de execução: 120 (cento e vinte ) dias. 6. Prazo de validade das propostas: O prazo de validade das propostas é de 90 (noventa) dias, a contar da data do Acto Público do Concurso, prorrogável, nos termos previstos no Programa de Concurso. 7. Tipo de empreitada: Por preço global. 8. Caução provisória: MOP 536 000,00 (quinhentas e trinta e seis mil patacas), a prestar mediante depósito em numerário, garantia bancária ou seguro-caução nos termos legais. 9. Caução definitiva: 5% do preço total da adjudicação (das importâncias que o empreiteiro tiver a receber, em cada um dos pagamentos parciais são deduzidos 5% para garantia do contrato, para reforço da caução definitiva a prestar). 10. Preço Base: Não há. 11. Condições de admissão: Serão admitidos como concorrentes as entidades inscritas na Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes para execução de obras, bem como as que à data do concurso, tenham requerido a sua inscrição ou renovação, neste último caso a admissão é condicionada ao deferimento do pedido de inscrição ou renovação.. 12. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Local: Secção de Expediente Geral dos Serviços de Saúde, que se situa no r/c do Edifício do Centro Hospitalar Conde de São Januário; Dia e hora limite: Dia 15 de Junho de 2017 (Quinta-feira), até às 17:45 horas. Em caso de encerramento dos Serviços Públicos da Região Administrativa Especial de Macau, em virtude de tempestade ou motivo de força maior, a data e a hora estabelecidas para a entrega de propostas, serão adiadas para o primeiro dia útil seguinte, à mesma hora. 13. Local, dia e hora do acto público: Local: Estrada de S. Francisco, n.º 5, r/c - «Sala Multifuncional», Macau. Dia e hora: Dia 16 de Junho de 2017 (Sexta-feira), pelas 10:00 horas. Em caso de encerramento dos Serviços Públicos da Região Administrativa Especial de Macau, em virtude de tempestade ou motivo de força maior, a data e a hora estabelecidas para o acto público de abertura das propostas do concurso público, serão adiadas para a mesma hora do dia útil seguinte. Os concorrentes ou seus representantes deverão estar presentes ao acto público de abertura de propostas para os efeitos previstos no artigo 27. º do Decreto-Lei n. º 63/85/M, de 6 de Julho e no artigo 80.º do Decreto-Lei n.º 74/99/M, de 8 de Novembro, e para esclarecer as eventuais dúvidas relativas aos documentos apresentados no concurso. 14. Visita às instalações: Os concorrentes deverão comparecer no Departamento de Instalações e Equipamentos do Centro Hospitalar Conde de São Januário, no dia 15 de Maio de 2017 (Segunda-feira), às 15:00 horas, para visita ao local da obra a que se destina o objecto deste concurso. 15. Local, hora e preço para consulta do processo e obtenção da cópia: Local: Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita no 1. º andar, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau. Hora: Horário de expediente (das 9:00 às 13:00 horas e das 14:30 às 17:30 horas). Preço: MOP 122,00 (cento e vinte e duas patacas), local de pagamento: Secção de Tesouraria destes Serviços de Saúde. 16 Critérios de apreciação de propostas e respectivos factores de ponderação: A Equipamento A1 Preço total do ciclo de vida do equipamento A1-1 Equipamento Preço【Preço de equipamentos e custos de instalação (se tiver)】 A1-2 Despesas de serviços sobre a reparação e manutenção do ciclo de vida dos equipamentos A1-2-1 Os custos de manutenção, tipo A (7.5%) A1-2-2 Os custos de manutenção, tipo B (7.5%) A2 Qualidade do equipamento e Funções A2-1 Funções do equipamento A2-2 Avaliação completa do equipamento A2-3 Compatibilidade com as instalações, equipamentos e sistemas que existem nestes Serviços A3 Manual de operação e manutenção de equipamentos e formação do pessoal dos Serviços de Saúde A3-1 Manuais de operação A3-2 Formação técnica de operação A3-3 Manuais de manutenção A3-4 Formação técnica de manutenção A4 Serviço pós-venda do concorrente A5 Prazo de entrega B Obras + Projecto B1 Valor total da empreitada B2 Qualidade de materiais utilizados B3 Experiência de trabalhos de construção B4 Programa de concepção B5 Cronograma de construção e prazo de execução da obra 17.

20%

35%

80%

15%

15% 20%

45%

10% 5% 1% 1% 1% 2%

10% 5% 60% 20% 10% 5% 5%

20%

Junção de esclarecimentos: Os concorrentes poderão comparecer na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita no 1. º andar, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau, a partir de 10 de Maio de 2017 (Quarta-feira) até à data limite para a entrega das propostas, para tomar conhecimento de eventuais esclarecimentos adicionais. Serviços de Saúde, aos 4 de Maio de 2017 O Director Lei Chin Ion


7 SOCIEDADE

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Creches JÁ SÃO CONHECIDOS OS RESULTADOS DAS CANDIDATURAS

Entra um ou entra outro

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RÊS tentativas, todas elas sem sucesso. Liliana Santos Leong vive e trabalha na zona do NAPE e tentou matricular a sua filha em três creches, dada a proximidade e a facilidade nas deslocações. Agora, a inscrição numa creche mais cara é a opção provável para esta mãe. “Ela tem um ano, não é obrigatório que entre já [no próximo ano lectivo]. Estamos a ponderar uma creche privada [não subsidiada], mas aí iremos começar mais tarde, depois de Setembro”, contou ao HM. No dia em que foram divulgados os resultados da colocação das crianças menores de três anos nas creches, que estão sob a alçada do Instituto de Acção Social (IAS), muitos pais não conseguiram qualquer vaga. Ficar com as crianças em casa, com a ajuda de uma empregada doméstica, ou recorrer a centros bastante mais dispendiosos são as opções, sobretudo para quem não tem família por perto ou com disponibilidade para ajudar a tomar conta das crianças. No caso de Amélie Lam, ainda há uma hipótese. “Vou ver mais tarde se consigo essa vaga”, apontou. Também esta mãe pondera tentar uma candidatura aos centros que acolhem crianças até aos três anos, com um regime diferente do das creches e com propinas mais altas. Tentou a sorte em quatro creches. Apesar de não ter garantido ainda um lugar, Amélie Lam assegura que não é urgente a ida da sua filha para uma creche, por ter algum apoio. “Trabalho e o meu filho mais velho tem estado com a avó. Tenho uma empregada doméstica e, por isso, posso esperar

SOFIA MARGARIDA MOTA

Foram ontem divulgadas as listas de admissão das creches do território. No caso da Santa Casa da Misericórdia, havia mais de duas mil candidaturas para pouco mais de uma centena de vagas. A inscrição em creches não subsidiadas acaba por ser uma das alternativas. Mas só para quem pode

SCMM CONTINUA À ESPERA DO IC

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Santa Casa da Misericórdia está há quase um ano à espera que o Instituto Cultural (IC) dê o seu parecer relativo ao edifício Lara dos Reis, que foi ocupado pela Cruz Vermelha. É lá que a instituição de cariz social quer criar mais uma creche, sendo que a intenção seria a abertura ainda este ano. Contudo, Isabel Marreiros adiantou ao HM que ainda estão à aguardar para poderem avançar com as obras. “Estamos à espera há cerca de um ano pelo parecer do IC e das Obras Públicas, por se tratar de uma casa com traços históricos, embora não seja um edifício classificado. O projecto está feito.” Para a directora, a abertura de mais uma creche “seria bom, porque queremos também fazer novas experiências, para dar mais uma oportunidade aos pais”, concluiu.

até ao próximo ano para ver se consigo uma nova vaga.” Ainda assim, Amélie Lam defende que “o sistema tem de mudar”. “São precisas mais vagas. O Governo deveria abrir mais creches e garantir que todas as crianças têm acesso a uma vaga.”

EM LISTA DE ESPERA

Isabel Marreiros, directora da creche da Santa Misericórdia de Macau (SCM), contou ao HM que se candidataram 2230 crianças

para preencher um total de 123 vagas. Actualmente, a creche da SCM tem 50 candidatos em lista de espera, no caso de desistência de algumas crianças. Apesar de muitos pais não conseguirem lugar na escola que escolheram, a directora assegura que “a procura é equilibrada”, já que, “segundo informações do IAS, há vagas suficientes nas escolas subsidiadas”, apontou. “Para as crianças nascidas em 2015, há vagas

CONTABILIDADE LICENCIATURA DO IPM RECONHECIDA INTERNACIONALMENTE

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licenciatura em Contabilidade do Instituto Politécnico de Macau (IPM) foi reconhecida pelo Conselho para Acreditação de Qualificações Académicas e Vocacionais de Hong Kong (HKCAAVQ, na sigla inglesa). Em nota à imprensa, o IPM destaca que se trata do primeiro curso ministrado em Macau na área da contabilidade a ser acreditado por uma entidade internacional. Ainda segundo o mesmo comunicado, o painel que analisou a licenciatura fez uma avaliação “muito positiva” no que toca ao modo como o curso é dado, o desenvolvimento académico e as capacidades de pesquisa. A licenciatura em causa já tinha obtido o reconhecimento por parte de entidades australianas e britânicas, pelo que “esta avaliação internacional sublinha a elevada qualidade do ensino superior de Macau e é mais uma demonstração da excelência do IPM”, congratula-se a instituição de ensino superior.

O Instituto Politécnico de Macau refere ainda que a licenciatura em Contabilidade adopta uma abordagem prática e tem sido sempre muito popular entre os estudantes locais e os de regiões vizinhas. A avaliação que agora foi concluída pelo HKCAAVQ começou em Novembro do ano passado e teve como objectivo assegurar que os padrões académicos do curso estão de acordo com as exigências internacionais. O painel de avaliação era constituído por seis elementos – além de membros de Hong Kong, incluiu académicos de Singapura e da Austrália.

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de certeza. Pode é não ser na creche que os pais preferem, ao lado de casa, por exemplo”, acrescentou Isabel Marreiros, que considera que a questão da língua portuguesa é cada vez menos um factor importante para muitas famílias portuguesas e macaenses que estão à procura de creche. “Somos a única creche com educadoras de infância que falam português. Mas nem todos os pais querem optar por uma educadora que fala português. Conheço pais que até preferem uma educadora chinesa, pois querem que a criança cresça nesse ambiente desde pequena”, rematou Isabel Marreiros. O HM tentou ainda apurar mais dados relativos às candidaturas junto de outras creches, mas até ao fecho desta edição não foi possível. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

EDITAL

Edital n.º : 48/E-BC/2017 Processo n.º : 437/BC/2016/F Assunto :Início de audiência pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) Local : Rua do Brandão n.º 3, Edf. Kam Fai, parte do terraço sobrejacente à fracção do 4.º andar A, em Macau. Rua do Brandão n.º 3, Edf. Kam Fai, parte do terraço sobrejacente à fracção do 4.º andar B, em Macau. Cheong Ion Man, subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 38, II Série, de 23 de Setembro de 2015, faz saber que ficam notificados os donos das obras ou seus mandatários e os utentes dos locais acima indicados, cujas identidades se desconhecem, do seguinte: 1. Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado realizaram-se as seguintes obras não autorizadas: Local Na parte do terraço 1.1 sobrejacente à fracção do 4.º andar A Na parte do terraço 1.2 sobrejacente à fracção do 4.º andar B

Obra Construção de um compartimento composto por paredes em alvenaria de tijolo e cobertura metálica na parte do terraço sobrejacente à fracção do 4.º andar A Construção de um compartimento composto por paredes em alvenaria de tijolo e cobertura metálica na parte do terraço sobrejacente à fracção do 4.º andar B

Infracção ao RSCI e motivo da demolição Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação. Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação.

2. Sendo as escadas, corredores comuns e terraço do edifício considerados caminho de evacuação, devem os mesmos conservar-se permanentemente desobstruídos e desimpedidos, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M, de 9 de Junho. As alterações introduzidas pelos infractores nos referidos espaços, descritas no ponto 1 do presente edital, contrariam a função desses espaços enquanto caminhos de evacuação e comprometem a segurança de pessoas e bens em caso de incêndio. Assim, a obra executada não é susceptível de legalização pelo que a DSSOPT terá necessariamente de determinar a sua demolição a fim de ser reintegrada a legalidade urbanística violada. 3. Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração ou de segurança do edifício. 4. Considerando a matéria referida nos pontos 2 e 3 do presente edital, podem os interessados, querendo, pronunciar-se por escrito sobre a mesma e demais questões objecto do procedimento, no prazo de 5 (cinco) dias contados a partir da data da publicação do presente edital, podendo requerer diligências complementares e oferecer os respectivos meios de prova, em conformidade com o disposto no n.º 1 do artigo 95.º do RSCI. 5. O processo pode ser consultado durante as horas de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 15.º andar, em Macau (telefones n.os 85977154 e 85977227). RAEM, 04 de Maio de 2017

Pelo Director dos Serviços O Subdirector Cheong Ion Man


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hoje macau quarta-feira 10.5.2017

ANÚNCIO Concurso Público n.o 002/FSS/2017 Prestação de Serviços de Limpeza das Instalações e Equipamentos do Fundo de Segurança Social

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Concurso Público para Prestação de Serviços de Coordenação e Fiscalização da Obra de Construção dos Edifícios Escolares e Instalações Educativas, no Lote CN6a, em Seac Pai Van, Coloane

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1. Entidade adjudicante: Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). 2. Modalidade do concurso: Concurso público. 3. Objecto do concurso: Prestação de Serviços de Coordenação e Fiscalização da Obra de Construção dos Edifícios Escolares e Instalações Educativas, no Lote CN6a, em Seac Pai Van, Coloane. 4. Período da prestação dos serviços: Prevê-se que o período da prestação destes serviços seja de 24 meses, podendo o mesmo ser reduzido ou prolongado, de forma adequada, em articulação com o andamento real da Obra. 5. Prazo de validade das propostas: É de 90 dias, a contar da data de encerramento do acto público do concurso, prorrogável, nos termos previstos no programa do concurso. 6. Caução provisória: MOP90.000,00 (noventa mil patacas), a prestar mediante garantia bancária aprovada nos termos legais ou depósito em dinheiro. 7. Caução definitiva: 4% do preço total da adjudicação. 8. Preço base: Não há. 9. Condições de admissão: São admitidos como concorrentes, os técnicos ou empresas de elaboração de projectos, inscritos na Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes da Região Administrativa Especial de Macau e que apresentem provas do cumprimento das obrigações fiscais. 10. Língua da proposta: Deve ser redigida numa das línguas oficiais da Região Administrativa Especial de Macau. 11. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Local: Secção de Arquivo e Expediente Geral da DSEJ, Avenida D. João IV, n.os 7-9, 1.º andar; Dia e hora limite(Nota 1): às 12h00 do dia 9 de Junho de 2017. (Nota 1): Em caso de encerramento da DSEJ por motivos de tufão ou de força maior, o dia e a hora originalmente determinados para a entrega das propostas serão adiados para o primeiro dia útil seguinte à mesma hora. O dia e a hora do acto público do concurso, estabelecidos no número 12, serão adiados para o primeiro dia útil seguinte ao dia limite para entrega das propostas, à mesma hora. 12. Local, dia e hora do acto público do concurso: Local: Sala de reuniões, na sede da DSEJ, Avenida D. João IV, n.os 7-9, 1.º andar; Dia e hora(Nota 2): às 10h00 do dia 12 de Junho de 2017. (Nota 2): Em caso de encerramento da DSEJ por motivos de tufão ou de força maior, o dia e a hora originalmente determinados para o acto público do concurso serão adiados para o primeiro dia útil seguinte à mesma hora. Em conformidade com o disposto no artigo 27.o, do Decreto-Lei n.o 63/85/M, de 6 de Julho, os concorrentes ou os seus legítimos representantes devem estar presentes no acto público da abertura das propostas para esclarecer as dúvidas que, eventualmente, surjam em relação aos documentos constantes nas suas propostas. 13. Local, dia e hora para exame do processo e obtenção da cópia: Local: Secção de Arquivo e Expediente Geral da DSEJ, Avenida D. João IV, n.os 7-9, 1.º andar; Dia: A partir da data de publicação do presente anúncio até ao dia do acto público do concurso; Hora: Dentro das horas de expediente; Outras observações: A obtenção da cópia do processo só é permitida com a apresentação de uma das formas seguintes: cópia do modelo M/8 (Contribuição Industrial - Conhecimento de Cobrança), cópia do modelo M/1 (Contribuição Industrial - Declaração de Início de Actividade/ Alterações) ou carimbo da empresa, e após o respectivo registo. 14. Critérios de apreciação das propostas e respectivos factores de ponderação: ﹣ Preço - 50% ﹣ Currículo da equipa técnica - 35% ﹣ Currículo do concorrente - 10% ﹣ Conteúdo do plano de trabalho - 5% 15. Junção de esclarecimentos: Os concorrentes devem comparecer na sede da DSEJ, na Avenida D. João IV, n.os 7-9, 1.º andar, a partir da data de publicação do presente anúncio até à data limite para entrega das propostas do concurso público, bem como para tomarem conhecimento de eventuais esclarecimentos adicionais. Aos 4 de Maio de 2017. A Directora, Leong Lai

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Entidade que põe o serviço a concurso: Fundo de Segurança Social (FSS). Modalidade do procedimento: Concurso público. Objectivo: Prestação de Serviços de Limpeza das Instalações e Equipamentos do FSS nos anos 2018 e 2019. Local, dia e hora limite para a obtenção do processo de concurso e o preço para a obtenção da sua cópia: Local: Recepção das instalações do FSS no 18.o andar do Edifício China Civil Plaza, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 249-263, Macau. Data: Desde a data da publicação do anúncio no Boletim Oficial da RAEM até ao termo do prazo para a entrega de propostas. Hora: Horário de expediente (Segunda-feira a Sexta-feira, das 9:00 às 13:00 horas e das 14:30 às 17:30 horas). Os interessados devem pagar a quantia de MOP$100,00 (cem patacas), em numerário, equivalente ao custo da respectiva reprodução para a obtenção da cópia destes documentos, ou fazer a transferência gratuita destes documentos pela Internet na página electrónica do FSS (http://www.fss.gov.mo). Critérios de apreciação: 5.1 Preço proposto: 50% 5.2 Experiência, nos últimos 5 anos, na prestação de serviços de limpeza: 20% 5.3 Certificação da qualidade do serviço de limpeza prestado pelo concorrente: 10% 5.4 Tempo de exercício da actividade de limpeza: 10% 5.5 Percentagem de trabalhadores residentes: 10% Prazo de validade das propostas: O prazo de validade das propostas é de noventa dias, a contar da data do acto público do concurso. Caução provisória: MOP$25.000,00 (vinte e cinco mil patacas), a prestar mediante pagamento em dinheiro ou mediante garantia bancária aprovada nos termos legais. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Local: Recepção das instalações do FSS no 18.o andar do Edifício China Civil Plaza, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 249-263, Macau. Dia e hora limite: 31 de Maio de 2017 (Quarta-feira), até às 12:00 horas. Local, dia e hora do acto público do concurso: Local: Sala de reuniões das instalações do FSS no 18.o andar do Edifício China Civil Plaza, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 249-263, Macau. Dia e hora: 1 de Junho de 2017 (Quinta-feira), pelas 09:30 horas. Os concorrentes poderão fazer-se representar no acto público de abertura das propostas para apresentação de eventuais reclamações e/ou esclarecimento de dúvidas acerca da documentação integrante da proposta. Documentos adicionais de esclarecimento: Os concorrentes deverão consultar a página electrónica do FSS (http://www. fss.gov.mo), a partir de 10 de Maio de 2017 (Quarta-feira) até à data limite para a entrega das propostas, para tomar conhecimento de eventuais esclarecimentos adicionais. Aos 2 de Maio de 2017, Fundo de Segurança Social. O Presidente do Conselho de Administração Iong Kong Io

ANÚNCIO Concurso Público n.o 003/FSS/2017 Prestação de Serviços de Segurança das Instalações e Equipamentos do Fundo de Segurança Social 1. 2. 3. 4.

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Entidade que põe o serviço a concurso: Fundo de Segurança Social (FSS). Modalidade do procedimento: Concurso público. Objectivo: Prestação de Serviços de Segurança das Instalações e Equipamentos do FSS nos anos 2018 e 2019. Local, dia e hora limite para a obtenção do processo de concurso e o preço para a obtenção da sua cópia: Local: Recepção das instalações do FSS no 18.º andar do Edifício China Civil Plaza, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 249-263, Macau. Data: Desde a data da publicação do anúncio no Boletim Oficial da RAEM até ao termo do prazo para a entrega de propostas. Hora: Horário de expediente (Segunda-feira a Sexta-feira, das 9:00 às 13:00 horas e das 14:30 às 17:30 horas) Os interessados devem pagar a quantia de MOP$100,00 (cem patacas), em numerário, equivalente ao custo da respectiva reprodução para a obtenção da cópia destes documentos, ou fazer a transferência gratuita destes documentos pela Internet na página electrónica do FSS (http://www.fss.gov.mo). Critérios de apreciação: 5.1 Preço proposto: 50% 5.2 Experiência, nos últimos 5 anos, na prestação de serviços de segurança e vigilância: 20% 5.3 Certificação da qualidade do serviço de segurança prestado pelo concorrente: 10% 5.4 Proporção entre número de trabalhadores com 3 anos de experiência de serviços de segurança e toda a equipa de trabalho: 10% 5.5 Percentagem de trabalhadores residentes: 10% Prazo de validade das propostas: O prazo de validade das propostas é de noventa dias, a contar da data do acto público do concurso. Caução provisória: MOP$55.000,00 (cinquenta e cinco mil patacas), a prestar mediante pagamento em dinheiro ou mediante garantia bancária aprovada nos termos legais. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Local: Recepção das instalações do FSS no 18.º andar do Edifício China Civil Plaza, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 249-263, Macau. Dia e hora limite: 2 de Junho de 2017 (Sexta-feira), até às 12:00 horas. Local, dia e hora do acto público do concurso: Local: Sala de reuniões das instalações do FSS no 18.º andar do Edifício China Civil Plaza, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 249-263, Macau. Dia e hora: 5 de Junho de 2017 (Segunda-feira), pelas 09:30 horas. Os concorrentes poderão fazer-se representar no acto público de abertura das propostas para apresentação de eventuais reclamações e/ou esclarecimento de dúvidas acerca da documentação integrante da proposta. Documentos adicionais de esclarecimento: Os concorrentes deverão consultar a página electrónica do FSS (http://www. fss.gov.mo), a partir de 10 de Maio de 2017 (Quarta-feira) até à data limite para a entrega das propostas, para tomar conhecimento de eventuais esclarecimentos adicionais. Aos 2 de Maio de 2017, Fundo de Segurança Social. O Presidente do Conselho de Administração Iong Kong Io


9 hoje macau quarta-feira 10.5.2017

MELCO RESORTS JAMES PACKER DIZ MESMO ADEUS

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Crown Resorts, do australiano James Packer, vendeu toda a participação na Melco Resorts, com casinos em Macau e nas Filipinas, anunciou a empresa. A companhia australiana vendeu os 11,2 por cento que detinha, depois de ter reduzido a participação em Maio do ano passado, de 34,3 por cento para 27,4 por cento. Uma segunda redução na participação aconteceu em Dezembro, para 11,2 por cento. A Melco Resorts vai comprar as acções por 1,16 mil milhões de dólares e o procedimento deverá estar terminado no próximo dia 15. Em Outubro do ano passado, 18 funcionários da Crown Resorts foram detidos na China por crimes relacionados com o jogo. Na altura, o magnata James Packer disse que as detenções terão ocorrido no âmbito de uma investigação sobre os esforços do grupo para convencer chineses endinheirados a gastar as suas fortunas em casinos no estrangeiro. A publicidade a jogos de azar na China Continental está proibida. O anúncio da saída da Crown de Macau ocorreu depois de as receitas de jogo terem voltado a subir, consecutivamente, em Agosto do ano passado, após 26 meses de quedas.

PORTUGAL RITA SANTOS REUNIU COM CAIXA GERAL DE APOSENTAÇÕES

A presidente do Conselho Regional da Ásia e da Oceânia do Conselho das Comunidades Portuguesas, Rita Santos, esteve reunida com Margarida Viegas, uma das coordenadoras da Caixa Geral de Aposentações (CGA). Segundo um comunicado, o encontro serviu para abordar os “procedimentos a adoptar no corrente ano para a isenção de IRS e apresentação das respectivas provas de vida”. Rita Santos pediu que “os subsídios de férias sejam enviados aos aposentados e pensionistas no mês de Julho, e que o subsídio de Natal não seja repartido por duodécimos, divididos por 12 meses, mas sim pago na totalidade no mês de Novembro de 2018”. Margarida Viegas disse apenas que “irá transmitir superiormente a pretensão dos aposentados e pensionistas”, tendo ainda garantido “que iria fazer o possível para dar uma resposta favorável”. Actualmente, existem cerca de 11 mil reformados que recebem pensões da CGA, sendo que quase 2500 vivem em Macau.

SOCIEDADE

Suicídio juvenil PROBLEMA EXIGE INTERVENÇÃO ALARGADA

Sensibilizar para prevenir As linhas de apoio e prevenção do suicídio dirigidas a jovens não funcionam eficazmente. A ideia foi deixada pelo director dos serviços comunitários de aconselhamento psicológico dos Kaifong, Chan Lap Man. A psicóloga Filipa Freire considera que o problema é multidisciplinar. A sensibilização de pais e educadores é fundamental

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director dos serviços comunitários de aconselhamento psicológico dos Kaifong, Chan Lap Man, alerta para a ineficácia das linhas de apoio e prevenção do suicídio juvenil. As declarações surgem em reacção aos vários casos que, diz o responsável, tiveram lugar nos últimos dias em Macau, entre eles o suicídio de uma aluna do ensino secundário de 16 anos de idade. Chan Lap Man refere ainda que apesar de a equipa em que trabalha não registar muitos casos de pedido de apoio, isso não significa que a ajuda não seja necessária. Em causa está o facto de os adolescentes lidarem com os problemas emocionais recorrendo a colegas, pais e professores. Ao HM, a psicóloga Filipa Freire é peremptória: é necessário que pais e educadores estejam atentos aos sinais que vão sendo dados pelos adolescentes. “Pais e professores devem estar alerta a todos os sinais que possam identificar como comunicação de um problema”, afirma. Da sua experiência, as pessoas dão sempre sinais quando não estão bem. Neste sentido, a formação e sensibilização têm um papel fundamental para que “as dicas” possam ser detectadas e as acções prevenidas. Por outro lado, “com esta atenção haveria uma maior tomada de consciência dos próprios pais acerca das suas posturas face aos filhos”. A psicóloga acrescenta que, desta forma, “seria mais fácil conseguir ter uma percepção do que é necessário mudar e procurar então ajuda profissional”.

DA CRÍTICA AO ENTENDIMENTO

De acordo com Chan Lap Man, tem existido uma responsabili-

o jovem interiorize que não tem competências. O conselho que deixa é o de dar atenção à forma como as críticas são feitas. “Somos todos sensíveis e, muitas vezes, os pais não têm consciência do que é que a crítica poderá fazer”, diz. Por outro lado, “os pais podem também ter sofrido o mesmo tipo de educação e comparam-se aos filhos, na mesma situação, salientando que não se deixaram ir abaixo”.

“Pais e professores devem estar alerta a todos os sinais que possam identificar como comunicação de um problema.” FILIPA FREIRE PSICÓLOGA

zação de determinadas atitudes dos pais que podem levar ao isolamento e doença mental dos adolescentes, e que estão entranhados na vida quotidiana. A título de exemplo, o responsável pelo aconselhamento dos Kaifong refere a educação através da crítica e do castigo como factores capazes de despoletar vários problemas nos mais jovens, podendo mesmo levar ao seu isolamento e à repressão das emoções.

Filipa Freire considera a situação “bastante pertinente”. “Não posso especificar, mas do conhecimento que tenho e há muitas publicações sobre isso, a crítica em que o jovem se possa sentir ameaçado não faz qualquer efeito”, explica. No seu entendimento, este tipo de abordagem pode mesmo ser fonte de mazelas nas auto-representações que podem levar a que, mais tarde, a criança ou

O médico Cheong Chi Hong, subdirector da Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau, defendeu, em declarações ao jornal Ou Mun, que a ajuda para os problemas dos mais jovens deve ser dada através da criação de um plano de futuro capaz de ser cumprido e que não seja promotor de stress. “Um plano a longo prazo significa uma motivação em que são designados objectivos e deve ser capaz de permitir que, ao longo da carreira escolar, os adolescentes se possam conhecer a si próprios”, diz. De acordo com o médico, “através deste tipo plano os jovens podem ter mais consciência sobre o seu papel e valor na sociedade”.


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IIM INSCRIÇÕES ABERTAS PARA CONCURSO DE FOTOGRAFIA

EVENTOS

Chegar com vontade de estar Mostra de cinema lusófono estreia-se no fim-de-semana

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Lusophone Film Fest, uma mostra de cinema lusófono que teve a primeira edição em 2014 no Quénia, estreia-se em Macau no próximo fim-de-semana, com cinco filmes e o desejo de manter presença permanente na cidade. A mostra acontece nos dias 13 e 14, com curtas e longas-metragens, de Cabo Verde, Macau, Moçambique, Portugal e Timor-Leste. O moçambicano Inusso Jamal, co-fundador e coorganizador do evento, disse à Agência Lusa que a ideia nasceu quando ele e o amigo português Pedro Matos viviam em Nairobi, no Quénia, onde trabalhavam em ajuda humanitária. Inicialmente pensaram em exibir os filmes no jardim de uma das suas casas, mas recearam que acabasse por só chegar a “expatriados, pessoal privilegiado”, e acabaram por fazer uma parceria com o Instituto Goethe, que cedeu a sala. “Aí demos início à primeira mostra de cinema

lusófono”, contou. Na altura, o objectivo de “cativar a audiência queniana” foi bem-sucedido. “Era essa a ideia, queríamos que um queniano soubesse o que se faz em Maputo, em Luanda, queríamos criar essa ponte”, explicou. Depois de Nairobi seguiu-se Zanzibar (Tanzânia), Banguecoque (Tailândia), Sydney (Austrália) e Phnom Penh (Camboja). Agora é a vez de a mostra chegar a Macau. “Estando aqui na Ásia, era uma das prioridades, pela língua, pela cultura. Por isso apostámos em Macau”, disse. A mostra quer continuar a expandir-se e chegar também aos “países de origem”, ou seja, aos países lusófonos, com o desejo de uma passagem por Lisboa em Julho. Inusso Jamal frisou que a ideia é estabelecer em cada um dos locais uma mostra permanente, regular, onde filmes de toda a geografia lusófona sejam exibidos. Numa próxima sessão em Macau, a organização gostaria de mostrar produções

– curtas e longas-metragens, documentários e animação – de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe.

O CARTAZ

No sábado, a Casa Garden da Fundação Oriente vai exibir o filme “Feral”, de Daniel Sousa (Cabo Verde), “Macau sâm Assi”, de Sérgio Perez (Macau) e “A Ilha dos Espíritos”, de Licínio Azevedo (Moçambique). No domingo será a vez de “Dodu, O Rapaz de Cartão”, de José Miguel Ribeiro (Portugal) e “A Guerra da Beatriz”, de Luigi Acquisto e Bety Reis (Timor-Leste). “A ideia é fazer da mostra algo permanente, ter um Lusophone Film Fest Macau. Em Nairobi continua a decorrer, em Banguecoque continua a decorrer, em Sydney continua a decorrer. Cada mostra, dependendo dos acordos que temos com os parceiros, pode ser numa base mensal, ou trimestral – que é o que a gente vai ver se consegue fazer em Macau”, explicou.

Mostrar o q O Instituto Internacional de Macau já abriu as inscrições para mais uma edição do concurso de fotografia dedicado ao território, “A Macau que eu mais amo”. Este ano há novidades: a organização quer imagens capazes de registar uma cidade além dos edifícios

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MA Macau além do cimento e dos monumentos. Um território além do visível à primeira vista e mesmo do palpável é o desafio que o Instituto Internacional de Macau (IIM) faz na edição deste ano do concurso de fotografia. “Ao contrário das edições anteriores desta iniciativa, este ano, o IIM pretende aproximar os concorrentes dos valores

culturais e tradicionais do território”, explicou António Monteiro ao HM. Aideia é alargar os motivos de interesse dos participantes e convidar à exploração de características do território capazes de ir além do interesse comum pelos edifícios ligados ao património local. “Queremos aproximar os jovens e, de forma geral, os residentes, a participar num concurso em que registem

“Queremos aproximar os jovens e, de forma geral, os residentes, a participar num concurso em que registem imagens que não se resumam ao património físico e em que espelhem também os valores tradicionais da comunidade local.” ANTÓNIO MONTEIRO ORGANIZADOR

Feral

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA O BOM INVERNO • João Tordo

Quando o narrador, um escritor prematuramente frustrado e hipocondríaco, viaja até Budapeste para um encontro literário, está longe de imaginar até onde a literatura o pode levar. Coxo, portador de uma bengala, e planeando uma viagem rápida e sem contratempos, acaba por conhecer Vincenzo Gentile, um escritor italiano mais jovem, mais enérgico, e muito pouco sensato, que o convence a ir da Hungria até Itália, onde um famoso produtor de cinema tem uma casa de província no meio de um bosque, escondida de olhares curiosos, e onde passa a temporada de Verão à qual chama, enigmaticamente, de O Bom Inverno.

imagens que não se resumam ao património físico e em que espelhem também os valores tradicionais da comunidade local”, refere o responsável. O objectivo é preservar a dinâmica social e cultural do território de modo a que sejam registadas características “que possam estar em risco de desaparecer ou de serem esquecidas”. Como exemplo, António Monteiro sugere que seja dada mais atenção a situações que envolvam pessoas, gastronomia, lojas ou letreiros que caracterizem Macau, “visto serem também elementos inerentes à cultura local”, diz. “É preciso ver mais do que as Ruínas de S. Paulo e o Farol da Guia. As pessoas geralmente tendem muito a fotografar o património físico, mas não focam aspectos que tenham que ver com festividades, por exemplo, com as culturas tradicionais, e é isso que estamos a querer fazer nesta edição”, esclarece. O próprio nome, sublinha António Monteiro, remete para este objectivo, ou seja, para a procura de situações que envolvam também a emoção. “A Macau que eu mais amo” pretende que “as pessoas se dirijam a assuntos que as façam sentir mais o lugar onde vivem, sendo que é uma

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

ANATOMIA DOS MÁRTIRES • João Tordo

Um jornalista insensato e ambicioso quer provar ao seu editor - um comunista irascível, alcoólico e com bastante desprezo pelos jovens - que não é só mais um na redacção. Escolhido para ir a Berlim entrevistar o biógrafo de um mártir religioso, aproveita a deixa para fazer, no seu artigo, uma analogia com a história de Catarina Eufémia, a camponesa que se tornou um ícone do Partido Comunista, mas de quem, na verdade, pouco ou nada sabe. Quando, porém, o artigo é publicado, as reacções de indignação por parte dos leitores não se fazem esperar, algumas das quais bastante ameaçadoras; e, na noite em que o editor é encontrado na rua em coma, aparentemente brutalizado, o jornalista pergunta-se se não terá sido por defender publicamente o seu artigo e começa a suspeitar de que existe muito mais em jogo do que a simples memória de uma camponesa assassinada pela GNR durante a ditadura. É então que decide investigar obsessivamente a vida de Catarina, desbravando por entre o nevoeiro que paira sobre os mártires e os transforma em mitos de que sempre alguém se apodera. E encontra realidades bem distintas - e mais tenebrosas - do que podia esperar.


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A LOCAL

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EVENTOS

que não se vê forma de colocar a população a olhar para a Macau invisível”.

IMAGENS DE TODOS

O concurso é dirigido a dois tipos de participantes, tendo uma componente geral e uma outra orientada para os mais jovens. “O evento foi sempre mais aberto para a vertente jovem, não só crianças, mas principalmente estudantes universitários”, refere o responsável. O foco nos estudantes tem também como objectivo chegar a pessoas que tenham na sua formação a componente de imagem e da fotogra-

fia, de modo “a usarem esse conhecimento e poderem com ele, fazer os seus registos de Macau”. Os prémios dividem-se entre montantes em dinheiro e certificados de participação. Para as três melhores imagens há prémios de cinco mil, três mil e duas mil patacas. Há também uma menção honrosa que é composta por um certificado e a oferta do montante de 500 patacas,

“o que é uma novidade”. Há ainda o prémio especial para o melhor trabalho apresentado pelo sócio da Associação de Fotografia Digital de Macau, que co-organiza a iniciativa com o Instituto Internacional, com o valor de mil patacas. As candidaturas estão abertas a todos os residentes até 31 de Agosto. António Monteiro não deixa de referir o crescente número de participações, principalmente da

faixa mais jovem da população. A razão, aponta, é o investimento na divulgação tendo em conta este tipo de público. “Temos tentado fazer uma maior promoção junto das escolas, tanto do ensino secundário, como nas universidades”, explica. “Além disso, tentamos promover a iniciativa de modo a abranger um público mais geral e temos investido, por exemplo, na divulgação via Facebook, onde conseguimos chegar a mais pessoas”, remata. Sofia Margarida Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

VENEZA JOSÉ PEDRO CROFT APRESENTA SEIS ESCULTURAS

O

projecto de Portugal para a Bienal de Arte de Veneza 2017, com seis esculturas criadas pelo artista José Pedro Croft, teve ontem a pré-inauguração naquela que é uma das maiores montras internacionais de arte contemporânea. A representação oficial portuguesa é feita através do projecto “Medida Incerta”, instalado na Villa Hériot, na Ilha de Giudecca, que abriu ao público especializado esta quarta-feira e ao público em geral no sábado, dia em que a organização anuncia os prémios da Bienal de Arte de Veneza. Nesta 57.ª Exposição Internacional de Arte - Bienal de Veneza, o projecto de Croft, com curadoria do historiador de arte João Pinharanda, consiste em seis esculturas de grandes dimensões, em vidro, espelho e ferro, que evocam a obra do arquitecto Álvaro Siza Vieira em Veneza. José Pedro Croft disse à agência Lusa que todo o processo de trabalho e preparação deste projecto foi documentado e será também objecto

da exposição apresentada no interior da Villa Hériot, com maquetas, projecção de vídeos e fotografias. A obra de José Pedro Croft está representada em diversas colecções públicas e privadas, nomeadamente no Banco Central Europeu, em Frankfurt (Alemanha), no Museu Rainha Sofia, em Madrid (Espanha), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Brasil) e na Colecção Albertina, em Viena (Áustria). Em Portugal, está presente nas colecções da Caixa Geral de Depósitos, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Museu Berardo, em Lisboa, na colecçãoAntónio Cachola, no Museu deArte Contemporânea de Elvas, e na Fundação de Serralves, no Porto, entre outras. Ontem na Villa Hériot, Ilha de Giudecca, em Veneza, o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, e o secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, estiveram presentes na pré-abertura do Pavilhão de Portugal na 57.ª Exposição Internacional de Arte.

PALESTRA ORIENTE NO BRASIL EM ANÁLISE NA USJ

A Universidade de São José organiza, na próxima segunda-feira, a palestra “Circularidades culturais do Império português: a presença do Oriente no Brasil”, com Maria de Deus Manso. Em comunicado, explica-se que, partindo da ideia de que o império português era uma “rede” – onde homens, mercadorias, culturas e outros recursos provenientes de distintos locais do mundo giravam –, se vai abordar alguns elementos e influências orientais na sociedade colonial do Brasil, particularmente na região da Baía. Maria de Deus Manso é docente no Departamento de História da Universidade de Évora e colabora regularmente com universidades brasileiras. É autora de várias publicações, em especial sobre os Jesuítas. A sessão tem início marcado para as 18h30.


12 CHINA

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“BALEIA AZUL” JOGO CHEGA AO PAÍS, SEM VÍTIMAS ATÉ AO MOMENTO

O

jogo virtual “Baleia Azul”, que incita os jogadores à auto-mutilação e até ao suicídio, chegou já às redes sociais da China, onde as autoridades começaram a tomar medidas para evitar que se registem vítimas, segundo a imprensa local. O gigante tecnológico Tencent, propriedade de algumas das redes sociais mais populares do país, encontrou pelo menos 12

grupos, relacionados com o jogo, no serviço de mensagens QQ, e avisou que o número está a aumentar, escreve o China News Service. A empresa bloqueou já aqueles grupos e as pesquisas relacionadas com “Baleia Azul”, para evitar a sua difusão. A Tencent preveniu ainda os usuários de que este tipo de jogo é “ilegal” no país e

UE QUER VER PEQUIM A APLICAR NO PAÍS O QUE ADVOGA A NÍVEL GLOBAL

pediu-lhes que denunciem qualquer caso às autoridades. No QQ, uma pesquisa pelos termos “Baleia Azul” não dá qualquer resultado, enquanto no Weibo, o Twitter chinês, ainda se podem encontrar alguns comentários. A maioria dos comentários, no entanto, adverte para os perigos do jogo, avisando que muitos dos usuários cometeram auto-mutilação, um dos desafios do “BaleiaAzul”.

O jogo “BaleiaAzul”, que terá começado numa rede social da Rússia, está envolto em polémico, suspeitando-se que o suicídio de mais de uma centena de jovens estará relacionado com o jogo. Em Portugal, o Ministério Público tem em curso três inquéritos, nas comarcas de Setúbal, Portalegre e Faro, relacionados com este jogo, que estimula a auto-mutilação e o suicídio.

ACIDENTE EM TÚNEL FAZ DOZE MORTOS

Um acidente rodoviário no leste da China deixou doze mortos, sobretudo crianças, e um ferido grave, depois de um veículo ter começado a arder no interior do túnel de uma auto-estrada, informou ontem o governo local. A causa do acidente, ocorrido ontem de manhã, está sob investigação, segundo as autoridades de Weihai, cidade costeira da província de Shandong. A agência de notícias da Coreia do Sul Yonhap avançou que 10 dos mortos são crianças naturais do país, que frequentavam um infantário destinado a coreanos a residir na China. Outra das crianças que morreu era chinesa, enquanto o professor sofreu ferimentos graves. O outro morto era o motorista do autocarro. Em 2015, mais de 180 mil acidentes de trânsito em estradas da China causaram 58 mil mortos, segundo dados das autoridades, que culpam o pouco reforço da aplicação da lei. Um relatório da Organização Mundial de Saúde, difundido no ano passado, afirma que as estatísticas chinesas sub-representam “seriamente” o número real de mortos nas estradas.

MULHER DE XIE YANG DIZ QUE JULGAMENTO DO MARIDO FOI UMA FARSA

Uma tragédia de enganos

O

embaixador da União Europeia (UE) na China, Hans-Dietmar Schweisgut, apelou ontem a Pequim para que cumpra a nível interno “aquilo que advoga globalmente”, em matéria de abertura económica e comercial. Schweisgut, que falava durante a cerimónia de comemoração do Dia da Europa, assegurou que algumas consequências da globalização constituem “uma preocupação, não só para a Europa, mas também para a China”. O embaixador da UE afirmou que a postura pró-globalização assumida pelo Presidente chinês, Xi Jinping, gerou expectativas de que a “China aplicará a nível doméstico aquilo que defende globalmente”, no sentido de uma maior abertura dos mercados ao investimento e comércio exterior. Schweisgut afirmou que a cimeira UE-China, cuja próxima edição se realiza em Bruxelas no início de Junho, “será este ano particularmente importante”, tanto por questões internacionais (como a posição do Governo dos Estados Unidos a respeito do acordo de Paris sobre as alterações climáticas), como bilaterais, especialmente económicas. E afirmou que a UE espera que esta cimeira “impulsione” a negociação de um tratado bilateral de investimento, que ambas as partes discutem há vários anos. A delegação da UE na China aproveitou as celebrações do Dia da Europa para lançar uma campanha nas principais redes sociais chinesas, o Weibo e o Wechat. Durante os próximos anos, a campanha #ExperienceEurope informará a audiência chinesa sobre a vida nos países comunitários com um tema diferente a cada mês, e incluirá também actividades culturais, fóruns e conferências.

A

mulher do advogado chinês dos direitos humanos Xie Yang, Chen Guiqiu, disse que o julgamento do marido, realizado na segunda-feira, foi uma farsa, depois de o marido ter confessado que incitou à subversão. “A vossa peça foi lindamente representada”, disse Chen, que fugiu para os Estados Unidos, com as duas filhas do casal, no início deste ano, num comunicado em reacção ao julgamento. “Tribunal Popular Intermediário de Changsha: a história vai lembrar-se do vosso fantástico julgamento. Todas as pessoas que participaram no julgamento de Xie Yang: a história vai lembrar-se de vocês”, afirmou. Xie confessou na segunda-feira ser culpado de incitar a subversão e perturbar processos judiciais, e apelou ao tribunal por uma sentença leve, com base no seu arrependimento. “Toda a gente deve encarar-me como uma lição: deves comportar-te dentro dos limites da lei, evitar ser usado por forças ocidentais anti-China”, disse Xie em tribunal, ao ler um comunicado preparado com antecedência. O julgamento, que decorreu na cidade de Changsha, centro da China, foi concluído ao meio-dia e sem a participação de qualquer

testemunha. Xie disse em tribunal que não foi torturado ou forçado a confessar, depois de ter sido detido em Julho de 2015, durante uma campanha lançada por Pequim contra advogados e activistas dos direitos humanos.

A OUTRA VERDADE

Em Janeiro passado, porém, Xie escreveu numa carta entregue ao seu advogado que foi agredido, privado de sono e forçado a manter-se em posições dolorosas.

“Tribunal Popular Intermediário de Changsha: a história vai lembrar-se do vosso fantástico julgamento. Todas as pessoas que participaram no julgamento de Xie Yang: a história vai lembrar-se de vocês.” CHEN GUIQIU MULHER DO ADVOGADO XIE YANG

A carta diz que qualquer futura confissão sua seria devido a tortura prolongada. O Departamento de Estado dos Estados Unidos disse na segunda-feira que continua profundamente preocupado com o bem-estar de Xie e apelou à sua libertação e à de outros advogados detidos na China. E afirma que a confissão de Xie “parece ter sido feita sob coacção” e que o advogado contratado pela família de Xie, Chen Jiangang, desapareceu na semana passada, alegadamente colocado sob custódia pelas autoridades chinesas. Os procuradores afirmaram em tribunal que Xie usou mensagens criptografadas através do aplicativo de mensagens instantâneas Telegram, para conspirar com pessoas dentro e fora da China, visando distorcer incidentes de brutalidade policial, para subverter o poder do Estado, derrubar o sistema socialista e danificar a segurança nacional e a estabilidade social. Xie testemunhou que participou de um curso de formação para advogados em Hong Kong e na Coreia do Sul. Os procuradores afirmaram que isso é indicativo de que ele tinha “vínculos obscuros” com elementos estrangeiros. As acusações contra Xie são comuns a outros advogados e activistas detidos durante a campanha de 2015.


13 REGIÃO

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O

Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou ontem que a Ásia Pacífico vai continuar a liderar o crescimento mundial apesar alertar para o risco que representam, a médio prazo, o proteccionismo, o rápido envelhecimento e a queda de produtividade. Segundo a instituição financeira, a região conserva uma perspectiva económica robusta e irá manter o impulso no seu crescimento com uma previsão de 5,5% em 2017 – acima dos 5,3% do ano passado. Os resultados melhoram a média global, cujo crescimento se calcula em 3,5% em 2017 e em 3,6% em 2018, contra 3,1% do ano passado, afirmou o FMI na apresentação do relatório anual para a Ásia Pacífico. No documento, a instituição destaca a robustez demonstrada nos últimos anos pelos mercados financeiros da Ásia, mas instou os países da região a tomar medidas face a futuros riscos. A curto prazo, o FMI advertiu para o risco “substancial” que representa uma eventual mudança em direcção ao proteccionismo relativamente ao qual a região é particularmente vulnerável por causa do grau de abertura comercial das suas

Linha da frente Ásia continua a liderar crescimento global, diz FMI

economias e de participação na cadeia de abastecimento a nível global. Também alertou para a incerteza relativamente à política fiscal que os Estados Unidos vão promover e às medidas reguladoras e comerciais que a nova administração norte-americana liderada por Donald Trump pretende impulsionar.

OUTRAS AMEAÇAS

A médio prazo, o FMI assinalou as implicações que o fim do “dividen-

do demográfico” terá para vários países da Ásia Oriental à medida que a população envelhece. A instituição indicou que o ritmo de envelhecimento na região é superior ao que experimentaram a Europa e os Estados Unidos, advertindo que várias partes da Ásia correm o risco de “se tornarem velhas antes de se tornarem ricas”. Para isso, o FMI instou a região a proteger a terceira idade com o fortalecimento dos sistemas de

pensões, e a favorecer a incorporação ao mercado laboral de mulheres e imigrantes para atenuar o impacto do envelhecimento. O outro risco na Ásia Pacífico prende-se com o abrandamento da produtividade de que padecem sobretudo as suas economias mais desenvolvidas desde o estalar da crise financeira global em 2008.

A região conserva uma perspectiva económica robusta e irá manter o impulso no seu crescimento com uma previsão de 5,5% em 2017

COREIA DO NORTE FELICITA MACRON

A Coreia do Norte felicitou ontem Emmanuel Macron pela vitória na eleição presidencial de França, expressando a esperança de que o novo Presidente francês promova “o desenvolvimento e a prosperidade”. Segundo a agência de notícias norte-coreana KCNA, na mensagem dirigida a Macron por Kim Jong-Un, o Presidente da Coreia do Norte, desejou ao recém-eleito “sucesso no seu trabalho de progresso e prosperidade da França”, sublinhando que o desenvolvimento das relações bilaterais iria beneficiar os povos dos dois países. A França, juntamente com a Estónia, não mantém relações diplomáticas formais com a Coreia do Norte. O centrista Emmanuel Macron foi eleito Presidente de França no passado dia 7 de Maio, vencendo a candidata de extrema-direita Marine Le Pen.

O FMI advertiu que a falta de melhoria da produtividade tem repercussões no progresso do bem-estar e das condições de vida, exortando os países da região a tomar medidas como potenciar a liberalização e integração comercial.

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ANÚNCIO Concurso Público n.° 007/SZVJ/2017 “Prestação de Serviços de Manutenção das Zonas Verdes das Zonas Periféricas da Avenida do Oceano” Faz-se público que, por deliberação do Conselho de Administração do IACM, tomada em sessão de 24 de Março de 2017, se acha aberto o concurso público para a “Prestação de Serviços de Manutenção das Zonas Verdes das Zonas Periféricas da Avenida do Oceano”. O Programa de Concurso e o Caderno de Encargos podem ser obtidos, durante os dias úteis e dentro do horário normal de expediente, no Núcleo de Expediente e Arquivo do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), sito na Avenida de Almeida Ribeiro n.º 163, r/c, Macau. O prazo para a entrega das propostas termina às 17:00 horas do dia 24 de Maio de 2017. Os concorrentes devem entregar as propostas e os documentos no Núcleo de Expediente e Arquivo do IACM e prestar uma caução provisória de MOP30.000,00 (trinta mil patacas) correspondente ao concurso em que participa. A caução provisória deve ser entregue na Tesouraria da Divisão de Contabilidade e Assuntos Financeiros do IACM, sita no rés-do-chão do Edifício do IACM, por depósito em numerário, cheque, garantia bancária ou garantia em seguro, em nome do «Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais». O acto público do concurso realizar-se-á no Centro de Formação do IACM, sito na Avenida da Praia Grande, Edifício China Plaza, 6.º andar, pelas 10:30 horas do dia 25 de Maio de 2017. O IACM realizará uma sessão de esclarecimento que terá lugar às 10:30 horas do dia 15 de Maio de 2017 no Centro de Formação do IACM.

COMISSÃO DE REGISTO DOS AUDITORES E DOS CONTABILISTAS Aviso Torna-se público, de acordo com o n.º 1 do ponto 6.º dos Regulamentos para a prestação de provas para inscrição inicial ou revalidação de registo como auditor de contas, contabilista registado e técnico de contas, elaborados nos termos do artigo 18.º do Estatuto dos Auditores de Contas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 71/99/M, de 1 de Novembro, do artigo 13.º do Estatuto dos Contabilistas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 72/99/M, de 1 de Novembro, e da alínea 3) do artigo 1.º do Regulamento da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 2/2005, de 17 de Janeiro, que se encontra afixada, na sobreloja da Direcção dos Serviços de Finanças, sito na Avenida da Praia Grande nºs 575, 579 e 585, e colocado no respectivo “Web-site”, no local relativo à CRAC e para efeitos de consulta, a lista definitiva dos candidatos à prestação de provas para inscrição inicial ou revalidação de registo como Auditor de Contas, Contabilista Registado e Técnico de Contas no ano 2017, elaborada e homologada por deliberação do Júri designado para o efeito. Mais se informa que a prestação de provas foi pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude reconhecida como um dos itens subsidiáveis no âmbito do “Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo”. Os candidatos poderão pois optar por liquidar as taxas devidas deduzindo o respectivo montante da sua conta do “Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo” (adverte-se, no entanto, para o facto de que apenas se aceitará o pagamento integral do valor em causa). Em caso de dúvidas, agradecemos que contacte a CRAC, durante as horas de expediente, através dos números de telefone 85995343 ou 85995344. Direcção dos Serviços de Finanças, aos 28 de Abril de 2017 O Presidente da CRAC Iong Kong Leong

Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo

www.hojemacau.com.mo

Aos 26 de Abril de 2017. O Presidente do Conselho de Administração José Tavares WWW. IACM.GOV.MO


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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WANG CHONG

王充

OS DISCURSOS PONDERADOS DE WANG CHONG

O raro não nasce do raro.

Fragmentos de “Autobiografia” – 21 & 22

S

OU de origem modesta e, por isso, fazem pouco de mim: quando os nossos antepassados não realizaram qualquer feito, nem deixaram qualquer livro escrito, de nada nos vale compor incontáveis obras, às quais faltaria sempre a força de uma tradição e, feitas as contas, nunca seriam nada de especial... O qi que se acumulasse sem transição seria uma anomalia; um ser que crescesse sem pertencer a qualquer espécie seria um prodígio; uma coisa que não existe habitualmente e se manifesta de súbito é feitiçaria; um fenómeno que sai do normal e se produz bruscamente é uma bizarria. Mas então falem-me dos vossos antepassados... Nenhum traço do menor feito, nem um adepto menor de Mozi ou de Confúcio na vossa ascendência? E, no entanto, eis-vos aqui a escrever capítulo após capítulo: como não nos espantarmos ante tal prodígio? E, não deveríamos, além disso, louvar as qualidades da vossa obra e tratá-la como um tesouro? * * * As fénixes não se reproduzem de geração em geração, os licornes não se engendram uns aos outros, os sábios não descendem de outros sábios, o raro não nasce do raro. Quando um talento é rebaixado, é por falta de sorte. O sábio é, necessariamente, uma excepção e as coisas preciosas são únicas. Acreditar que o sucesso literário é sempre

uma imitação dos Antigos é como acreditar que uma fonte de água mágica brota de uma antiga fonte, ou que os frutos do bom augúrio crescem de velhas raízes. Um talento extraordinário, uma obra sem paralelo, ultrapassam o comum e escapam à sua apreciação. É por essa razão que se confiam à escrita acontecimentos excepcionais; é por essa razão que se inscrevem em vasos. Os Cinco Imperadores não surgiram na mesma geração. Yi Yin e Taigong não nasceram sob o mesmo tecto. A mil li de distância, os nossos feitos não seriam os mesmos; a cem anos de distância, a nossa produção não seria a mesma. Elogiamos os letrados dotados e as carreiras honestas, não se promovem as pessoas simplesmente por serem de nobre extracção. Quando se sacrifica um veado, não nos preocupamos com a pelagem da sua mãe. Antepassados corruptos podem ter uma descendência imaculada e gerar homens notáveis. Gun, um inútil, e Gu Sou, um verdadeiro imbecil, geraram, respectivamente, o sábio Yun e o divino imperador Shun. Ao adoecer, Boniu não conseguia deixar o leito, mas o seu filho, Zhonggong, encontrava-se de perfeita saúde. Yan Lu não passava de um homem desastrado e medíocre, mas seu filho, Yan Hui, destacava-se entre todos os seus pares. Confúcio e Mozi tiveram antepassados medíocres, mas foram eles próprios sábios. Yang Xiong e Huan Tan, ambos brilhantes, nasceram em famílias sem brilho. O facto de, apesar disso, terem sido dotados para a escrita deve-se a terem recebido um bom qi. Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho

Wang Chong (王充), nasceu em Shangyu (actual Shaoxing, província de Zhejiang) no ano 27 da Era Comum e terá falecido por volta do ano 100, tendo vivido no período correspondente à Dinastia Han do Leste. A sua obra principal, Lùnhéng (論衡), ou Discursos Ponderados, oferece uma visão racional, secular e naturalista do mundo e do homem, constituindo uma reacção crítica àquilo que Wang entendia ser uma época dominada pela superstição e ritualismo. Segundo a sinóloga Anne Cheng, Wang terá sido “um espírito crítico particularmente audacioso”, um pensador independente situado nas margens do poder central. A versão portuguesa aqui apresentada baseia-se na tradução francesa em Wang Chong, Discussions Critiques, Gallimard: Paris, 1997.


15 hoje macau quarta-feira 10.5.2017

diário de um editor

João Paulo Cotrim

Obsessão pela transparência

REALIZAR:POESIA, 23 ABRIL Ontem houve conversa sobre música e poesia com devido apontar de raízes aos gregos, a que se seguiu estroina devidamente acompanhada à viola e sarcasmo pelo irrequieto Manuel João [Vieira] e muito mais do que foi parecendo solto, do que nos vai parecendo fragmento perdido de quotidiano, ganha sentido lendo os clássicos. Por exemplo, a Jessica Augusto acaba de ganhar a maratona de Hamburgo, minutos antes da apresentação desta tradução ágil e elegante do mano António [Caeiro], das «Odes Olímpicas», de Píndaro. A María José Velasco não lhe fica atrás no enquadramento justo e completíssimo, com a ligeireza de uma brisa. A poesia, dizem, resulta de Píndaro e os deuses a percutirem as cordas do tempo. A nós resta-nos saltar. Ou correr. Tornarmo-nos heróis. «Em ocasiões diferentes,/correntes de prazer de canseiras/atingem os homens.» Logo depois chega-se à frente João Rios, companheiro de íntimas viagens neste festival, para nos puxar ao terra-a-terra de «Os Heróis Transformados em Floreiras» (ed. Douda Correria), em jogo de parada e resposta. «manda o poema/à guerra e às feras/não lhes prometas caldos/e opíparos despojos// se à potência do veneno/sobreviver/força-lo de novo a cair/até perder a mania/de quem guarda o mistério/de um Deus maior». REALIZAR:POESIA, 24 ABRIL Neste festival, ideia forte do Isaque [Ferreira], que doou o corpo à ciência,

quer dizer, a voz ao verso, a vida à poesia, as mesas viram-se, de facto, em conversas. O fulcro, nesta moderada pela Ana Cristina Leonardo, foi a filosofia. O Fernando Echevarría colocou-se em modo teatral e definitivo, o Fernando Guimarães atirou para a frente as suas lições, a Leonor Barata dançou e o mano António [de Castro Caeiro] iluminou ao deixar claro que a filosofia se faz istmo, itinerário por onde passar quando tudo está contra. Ressoa ainda a sua contra-definição do conceito: filosofia enquanto obsessão pela transparência. REALIZAR:POESIA, 25 ABRIL Não encontro melhor maneira de celebrar Abril. Gargalhadas e ideias trocadas ao longo do dia, sobre sol, silêncio e importâncias, tão natural como sombra de respeitável pinheiro na Senhora da Pena. O riacho desagua ao fim da tarde na apresentação do tocante trabalho do André da Loba e da Dulce Cruz interpretando em imagens e livro o disco-concerto inaugural como estas manhãs de «No Precipício Era O Verbo» (projecto que visitará Macau no início de Junho). O livro, sobretudo aqui em Coura, seu primeiro palco, encerra e relança ciclo de múltiplos caminhos, criativos, mas não apenas. Voltaremos ao livro, que apuro destes merece leituras e releituras. Até para sublinhar o que tende a ser esquecido, pois este filho de urgências não estaria aqui sem o esforço do Vasco Malheiro, da Rainho & Neves. Ouvir agora o mano [José] Anjos contar das cronologias, o André [da Loba] expor as suas minuciosas atenções, a vibração do

Carlos [Barretto] com os encontros ou os comentários do António [Caeiro] que penduram sempre o banal no panorama de um destino, tudo me grita que o risco compensa. Momento píndaro? O concerto arrepiou-me, inquietou-me, comoveu-me, disse-me. Antes, à laia de primeira parte, algo que só podia acontecer em Coura. Conversa de peito aberto sobre as poesias de cada um, moderada pelo Isaque, com Vitor Paulo Ferreira, o sempre imprevisível e já querido Presidente da Câmara, e Tiago Brandão Rodrigues, Ministro da Educação, que tinha no colo o «Sérgio Godinho e as 40 ilustrações». Após com intensa leitura do «Poema do Menino Jesus», do Caeiro-Pessoa, a propósito de fronteiras dos géneros e dos sotaques, e portanto de territórios, notável foi o ministro ter posto a sala a dizer trava-línguas: o rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia. O logótipo do REALIZAR:poesia, que arrisca tornar-se dos mais interessantes festivais, faz de um serrote o poiso de um pássaro (de António Pinto, na ilustração). Esta conciliação de improváveis traz-me estranho consolo. HORTA SECA, 27 ABRIL Talvez seja apenas mais uma história de marinheiros e sereias. Talvez, mas para a Arranha-céus, este «Desenhar em Cima da Conserva» será registo memorável de viagem ímpar, tida e a ter. Por ser o primeiro título em banda desenhada, de qualidade superior e toque surrealista, mas sobretudo por nascer da amizade. Durante um ano, a convite do mano Tiago [Cabral Ferreira], da Conserveira de Lisboa, artistas como Pierre Pratt, Cristina Sampaio ou João Maio Pinto desenharam ao vivo na loja do Mercado da Ribeira, no que se tornou festa mensal. Em paralelo, cada

autor contribuía para o cadáver esquisito, reunido agora em volume, e cuja edição especial conterá ainda duas latas das incríveis conservas deste lugar clássico que sabe embalar o mar com mil cuidados. A delirante narrativa, desde o Nuno Saraiva, que a lançou como rede ao mar, ao André Carrilho, que a fechou com gráfica espectacularidade, narra os avanços e recuos, as possibilidades desdobradas de amor impossível e contudo sempre renovado. Nesta história de corpos que se reinventam, alguns detalhes interpelam-me: a passagem do Pedro Lourenço para o Alberto Faria, de homem que grita para baleia que desliza. Conseguirei ainda atravessar a vida com a naturalidade de uma qualquer natureza? HORTA SECA, 30 ABRIL Estou com os gatos: uma porta, qualquer que seja, tem na sua matéria, além do alumínio ou da madeira, do ferro ou do papelão, a surpresa. Vencia as duas, de bela e velha madeira, que me separam do lugar de desarrumo onde cultivo estas palavras, quando um estardalhaço de fuga me pôs em guarda. Ainda fui a tempo de ver dois pés a escapulirem-se pelo alçapão. Não consegui marcar emergência nenhuma no telemóvel, limitei-me a trazer a desorientação para a rua. Esqueci mesmo que podia dar-se o caso de haver mais pés. Abriu-se então uma das guardas da galeria e vi o meliante de luvas amarelo gritante a expor-se à janela, tosca instalação, mas vivíssima no esforço de fuga. Terá sido mais a impossibilidade física de abrir para si a janela do que os meus gritos e fúria a afugentarem-no pela mesma escapatória do parceiro. Depois foi polícia e indícios e formalidades. Ficou o estranho cheiro da devassa, deveras organizada em montes de utilidades e putativos valores, que a surpresa da minha rotina impediu que desaparecessem. Escusado será dizer que não iam levar livros.


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na ordem do dia 热风

Julie O’yang

Dez frases sobre a China 随时翻翻《红楼梦》(第一部分)

S

ONHO da Câmara Vermelha foi sempre ao longo de todas as épocas um dos livros que mais vendeu. Escrito no séc. XVIII, é considerado uma obra-prima e um dos pontos mais altos da ficção chinesa. A “Vermelhologia” é um campo de estudo dedicado exclusivamente a esta obra. Para dar um exemplo, o Presidente Mao, tinha consigo um vermelhologista de renome. No entanto, eu não sou uma vermelhologista, vou apenas desfolhando este clássico só para preservar no meu ADN a marca da língua chinesa, eu que me tornei uma escritora de língua inglesa. Recentemente, coleccionei dez frases para partilhar com os meus leitores. Trata-se de literatura, mas também de política (chinesa). Pode servir igualmente como uma Bíblia dos negócios. Sê um louco no meio dos loucos 入乡随俗

A história: Quando a nossa jovem heroína Daiyu chega ao palácio dinástico da família Jia, é recebida pela matriarca que lhe pergunta se sabe ler. Daiyu responde-lhe que aprendeu a ler com os Quatro Clássicos de Confúcio. Quis saber se as raparigas da família Jia também tinham aprendido. A matriarca respondeu que as suas raparigas poderiam não ser tão avançadas na leitura, mas que sabiam o suficiente para não serem cegas! Na cena seguinte, o nosso jovem herói Baoyu entra e quer saber quais foram os clássicos que Daiyu leu. Daiyu aceita o desafio e responde prontamente: “Eu não sei ler. Só sei reconhecer algumas palavras.” O Poder é algo que não deve (não queres) mudar. Por isso esconde os teus talentos. Que sejas um excelente situacionista 伺机而动 Um situacionista é basicamente um oportunista, embora no contexto chinês tenha uma conotação menos negativa. A história: A poderosa Dama Wang Xifeng acena do alto da colina a uma serviçal, de seu nome Hongyu. Hongyu abandona prontamente a multidão e corre ao encontro de Wang Xifeng. Toda

ela é obediência e sorrisos. A Dama diz: “Hoje a minha criada não me acompanhou. Preciso de alguém que me faça um serviço. Mas como posso saber se estás à altura da missão?” Hongyu responde: “Senhora, estou completamente à sua disposição. Se a desiludir, castigue-me como bem entender!” As oportunidades são raras. Agarra todas as hipóteses que se te apresentam com prontidão E, com toda a tua alma e as tuas garras. Quando mentir é uma qualidade desejável 避实就虚 A história: A concubina Zhao está a fazer os preparativos para o funeral do irmão e apercebe-se que uma das criadas não tem as roupas apropriadas. Além disso, a rua onde ela queria ir comprar o fato está toda suja. Então pede a Xueyan, uma serviçal com um cargo elevado, que lhe empres-

te os trajes adequados. Xueyan recusa-se com estas palavras: “Claro que era óptimo que as suas criadas usassem as minhas roupas, Tia Zhao! Mas as minhas roupas são guardadas por Zijuan (o meu superior), que também precisa da autorização da minha patroa. Não é que eu receie vir a ter problemas. É que a minha patroa está de cama, doente, e não é altura para a preocupar com esse tipo de coisas. Além disso, tenho medo que, se for andar para a frente e para trás para pedir autorização, a vá atrasar quando tem tanta pressa.” Aprender a recusar é uma via sinuosa. Aparentemente, os chineses apreciam quem sabe contar uma boa mentira. Fica para sempre junto à cerca (e evita as colisões) 不偏不倚 A poderosa Dama Wang Xifeng está doente. Uma jovem senhora ficou a dirigir a morada dinástica em seu lugar e

quer fazer algumas mudanças. Ping Er, a criada de Wang, ficou numa posição desagradável, porque não quer ofender a jovem senhora, mas também não quer ser desleal à sua poderosa patroa. A estratégia que adoptou foi a de louvar a jovem senhora pelas suas iniciativas. No entanto, ao mesmo tempo foi-lhe dizendo que a sua patroa também já em tempos as queria ter realizado, mas que ficou com dúvidas por razões de muito peso. Desta forma, elogiava a jovem senhora e louvava a sua dama. Voilá, já está bem lançada para a próxima promoção. Quando um dia chegar a chefe, ninguém espere dela uma opinião, porque ela conseguiu lá chegar precisamente por nunca expressou nenhuma. (continua)


17 hoje macau quarta-feira 10.5.2017

sexanálise

Fricção científica

ALEX GARLAND, EX MACHINA (2014)

TÂNIA DOS SANTOS

E

STAMOS mais perto do futuro do que julgamos. O mundo do sexo, que já é pouco complexo, terá formas de inteligência artificial em corpos robóticos de silicone já no final deste ano, pela singela quantia de 15.000 dólares americanos. Quais serão as consequências do crescente realismo irreal, do desenvolvimento tecnológico cada vez mais fiel à forma humana? Ninguém sabe. Há opiniões mais optimistas e outras mais pessimistas, com argumentos sensatos para ambos os lados. Claro que este debate não teve o seu início agora, i. e., agora que querem incluir InteligênciaArtificial (IA) nas famosas bonecas de borracha. Toda a discussão sobre a objectificação sexual começou assim que se começaram a criar estes objectos que pretendem ser substitutos ao sexo com um outro ser humano. Por exemplo, as bonecas de borracha são desenhadas de forma a agradar o público consumidor e por isso têm corpos atípicos para a normalidade feminina. Um pouco como o problema da Barbie, se estas bonecas de facto andassem teriam proporções que as incapacitariam de andar de todo. Rabos grandes, mamas gigantes, lábios carnudos, mamilos como vocês preferissem. Estas bonecas que são desenhadas à luz dos desejos do seu comprador reflectem que as escolhas sexuais actuais estão muito enviesadas para reflectir o mundo da pornografia – e não o mundo que consideramos real. O que o desenvolvimento tecnológico agora permite é adicionar um discurso

coerente e dialógico para dar vida a estes objectos. Confesso: assim que vi um vídeo de uma boneca de silicone a interagir com um ser humano, a explicar-lhe as suas preferências sexuais (diz ela que gosta de homens e mulheres por igual) e que fará de tudo para se tornar na melhor companhia possível (diz ela que quer satisfazer os desejos do seu dono), fiquei um tanto ou quanto incomodada. Por mais que os criadores reforçassem a ideia de que este tipo de produto está a ser desenvolvido porque (1) há procura e (2) vai fazer muita gente muito feliz, fiquei presa em conversas comigo própria sobre ética, em particular, a ética dos robots. Estão a ser criados objectos à imagem do corpo humano que falam como humanos mas que não têm livre arbítrio. Estas são ‘coisas’ que supostamente irão substituir certas relações humanas - de alguém que não existe e nunca existirá. Todos temos vontades, apetites, preferências e desejos que quando duas pessoas se encontram poderão entrar em

Os medos e os anseios são reais e estão associados ao desenvolvimento tecnológico em geral. Se ficamos ansiosos porque não sabemos exactamente como os smartphones andam a influenciar as nossas vidas, o mesmo acontecerá com estes robots que vêm do mundo do sexo

conflito. Com um robot que fala (ainda por cima) poderemos moldá-lo exactamente como o quisermos e não teremos que nos dar ao trabalho de ceder ao que quer que seja. Estes robots (e outros) representarão a escravatura do séc. XXI, mas não há problema, porque o robot não sente absolutamente nada! Não sente dor nem injustiça! Não estaremos a maltratar ninguém porque o robot é desprovido de consciência ou de humanidade ( mas que em breve poderá sentir... os engenheiros que se debruçam no projecto querem desenvolver mecanismos sensoriais para que o robot possa chegar a atingir um orgasmo... um robogasm). Há campanhas que querem banir o desenvolvimento destas tecnologias para tais fins, mas há quem entenda que isto até pode ser um passo importante para a forma como percebemos o sexo e as relações humanas. Todo o desenvolvimento tecnológico em redor da indústria do sexo tem permitido que uma diversidade de pessoas tivesse direito a uma vida sexual mais digna. Das opiniões que li, há relatos acerca do uso de tecnologia para o desenvolvimento de ferramentas ao auxílio de quem já não pode ter sexo. Os robots do sexo seriam um passo ainda mais adiante capaz de, por exemplo, satisfazer adultos com dificuldades de aprendizagem e que não são capazes de levar a cabo a sua sexualidade nas formas que nós melhor conhecemos. Os medos e os anseios são reais e estão associados ao desenvolvimento tecnológico em geral. Se ficamos ansiosos porque não sabemos exactamente como os smartphones andam a influenciar as nossas vidas, o mesmo acontecerá com estes robots que vêm do mundo do sexo. Esse mundo polémico e complicado... mas que traz felicidade a muitos.

OPINIÃO


18 (F)UTILIDADES TEMPO

MUITO

hoje macau quarta-feira 10.5.2017

?

NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

MIN

24

MAX

30

HUM

70-95%

EURO

8.72

BAHT

CONCERTO | “UMA NOITE COM PIANO NA GALERIA” Fundação Rui Cunha | Das 18h00 às 21h00 CONCERTO | TETÉ ALHINHO, MORNAS AO PIANO Teatro D.Pedo V | 20h00 às 22h00

Sábado

CINEMA | “TRAINSPORTING”, DE DANNY BOYLE 17h30 | Cinemateca Paixão | Até 17/5 CINEMA | LUSOPHONE FILM FEST 19h | Casa Garden

O CARTOON STEPH

SUDOKU

DE

Domingo

CONCERTO | JAZZ SUNDAY SESSIONS Live Music Association | A partir das 21h00 CINEMA | LUSOPHONE FILM FEST 19h | Casa Garden

Diariamente

EXPOSIÇÃO DE AGUARELAS DE CHU JIAN & HERMAN PEKEL Fundação Rui Cunha | Até 25/5 EXPOSIÇÃO “AMOR POR MACAU” DE LEE KUNG KIM Museu de Arte de Macau | Até 9/7 SOLUÇÃO DO PROBLEMA 32

EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)

Cineteatro

PROBLEMA 33

UM FILME HOJE

EXPOSIÇÃO “VIAGEM SEM TÍTULO” Museu de Arte de Macau | Até 14/5

C I N E M A

1.16

DOMÍNIO GLOBAL

Sexta-feira

EXPOSIÇÃO “I AM 038: UMA EXPOSIÇÃO DE UM ARTISTA AUTISTA” Torre de Macau | Até 14/5

YUAN

AQUI HÁ GATO

PALESTRA “THE EUROPEAN UNION’S COMMON COMMERCIAL POLICY AFTER LISBON” Fundação Rui Cunha | 18h30

EXPOSIÇÃO | “TENTATIVE NOTEBOOK - WORKS BY RUI RASQUINHO” Art for All Society, Jardim das Artes | 16h00

0.23

Com pequenos passos vamos tomando conta disto tudo. Há uns meses, jornais do mundo inteiro publicaram artigos sobre as lojas de Hong Kong com gatos no leme dos negócios. Bem, para já observamos e dormimos em cima das operações comerciais, dos balcões, da mercadoria, do rebuliço terciário da troca. Essa sorrateira soberania foi fotografada por um holandês que não conseguiu ver além da ternura felina.Ainda bem, esse é o nosso disfarce. Em Macau existe um café com gatos, onde reinamos sobre o território, ocupando o espaço indiferentes ao consumo. Deixamos que os humanos pensem que detêm o poder destes locais, eles gostam dessa ilusão de controlo, enquanto serpenteamos pelas arestas, coçando-nos nos objectos, mobília e nos clientes. Primeiro comércio e restauração, mais tarde assembleias legislativas e administrações de empresas multinacionais. Mais tarde, num futuro que se aproxima, representatividade terrestre num concílio interplanetário. Está em curso a mais doce captura de poder que a Terra já viu, sem guerras, sem chacina, apenas com bocejos e bolas de pêlo por todo o lado. Vaticino que seremos mais humanos que os próprios humanos. A pena de morte será abolida no mundo inteiro e a escravidão será uma memória dos tempos bárbaros dos humanos. Teremos, no entanto, de perceber o que fazer com o problema dos cães, uma solução definitiva para limpar o mundo da ignomínia canina. Mas isso fica para depois da consolidação do poder. Pu Yi

“O SAL DA TERRA” | WIM WENDERS E JULIANO RIBEIRO SALGADO

“O Sal da Terra” é mais do que um documentário sobre fotografia e mais do que um filme de Wim Wenders. “O Sal da Terra” é uma história que nos aproxima do mundo da imagem de Sebastião Salgado, de um planeta que só ele consegue ver e retratar, num filme que conta, claro, com o sempre minucioso trabalho do realizador alemão e de Juliano Ribeiro Salgado, filho do fotógrafo brasileiro. “O Sal da Terra” é ainda um filme humano e um alerta para o lugar em que vivemos, num misto de beleza e crueldade. A ver e rever. Sofia Margarida Mota

The Shack SALA 1

GIFTED [B]

THE SHACK [B]

Fime de: Marc Webb Com: Chris Evans, Octavia Spencer, Mckenna Grace 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

FALADO EM CANTONENSE Fime de: Stuart Hazeldine 14.15, 16.45, 21.15 SALA 3

SALA 2

THIS IS NOT WHAT I EXPECTED! [B]

FALADO EM CANTONENSE Fime de: Tom McGrath Com: Sam Worthington, Octavia Spencer, Radha Mitchell 14.15, 16.45, 21.15

FALADO EM MANDARIM LEGENDADO EM INGLÊS E CHINÊS Filme de: Derek Hui Com: Takeshi Kaneshiro, Zhou Dongyu 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

THE BOSS BABY [B]

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; Anabela Canas; Amélia Vieira; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; João Paulo Cotrim; João Maria Pegado; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Manuel Afonso Costa; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fa Seong; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


19 hoje macau quarta-feira 10.5.2017

ÓCIOSNEGÓCIOS

CAT CAVE CAFE IVY LEI, PROPRIETÁRIA

Bebe um chá, leva um gato Cafe veio provar que, nalguns aspectos, Macau não foge à regra. Com dois anos de trabalho, Ivy Lei confessa que é mais difícil cuidar dos animais do que tratar do funcionamento normal de um café. A principal dificuldade vem do custo que os gatos implicam: além da alimentação e dos brinquedos, há as vacinas e a medicação. “As despesas podem chegar às 800 patacas por gato”, contabiliza. Apesar de o Cat Cave Cafe ser um sucesso no que diz respeito aos gatos que já saíram das ruas, as finanças ditam outra realidade. Ivy Lei explica que, ao fim-de-semana, o estabelecimento tem bastante movimento mas, durante a semana, “está mais vazio”.

CAT CAVE

Há um espaço comercial em Macau que pretende ser mais do que um negócio. De portas abertas há dois anos, o Cat Cave Cafe recebe gatos abandonados e tenta encontrar-lhes um novo dono

N

ÃO é um café temático, que tenha apostado em felinos como elemento decorativo ou de atracção. Os gatos estiveram na origem do café e Ivy Lei, proprietária do espaço, reconhece que os animais até podem funcionar como um chamariz, mas a ideia é bem diferente. “O meu objectivo era fazer com que as pessoas percebessem que é fácil conviver com gatos. O café funciona como um canal para a adopção”, conta ao HM. Foi a pensar nos animais abandonados – sobretudo nas crias que andam pelas ruas – que Ivy Lei abriu, em 2015, o Cat Cave Cafe, na zona do Lilau. A maioria dos gatos chega ao espaço com poucos dias de vida. “São trazidos por clientes e por pessoas que sabem que nós os acolhemos. Pedem-nos ajuda. E aqui ficam até serem adoptados.” A dona do estabelecimento não entra em números, mas acredita que, por causa do seu projecto, há hoje menos felinos nas ruas de Macau. E porque proporcionou um espaço onde humanos e gatos podem ter contacto, acabou com mitos e receios. “Há clientes que não tinham experiência com gatos em casa e, depois de terem passado pelo café, decidiram adoptar um”, conta. “Depois, tenho também clientes que perderam o medo. Foram lá com amigos e ficaram a gostar deles de gatos.” Os animais que não são adoptados recebem dos clientes festas e uma atenção que não teriam se estivessem na rua. O espaço, composto por duas salas diferentes, convida a estar – não é um local para um café ou um chá a correr. A maioria dos clientes gosta de gatos, claro está. “Vêm aqui sobretudo famílias com crianças, idosos e casais”, descreve a proprietária. A jovem empresária garante que o facto de haver felinos que se espreguiçam em sofás e pedem mimos aos clientes não é um problema. Ainda assim, já presenciou um ou outro episódio menos agradável. “De vez em quando, acontece haver pessoas

“Há clientes que não tinham experiência com gatos em casa e, depois de terem passado pelo café, decidiram adoptar um.”

que se assustam e gritam, o que é desconfortável para os outros clientes”, diz.

POUCA GENTE, POUCO DINHEIRO

Além de bebidas, o Cat Cave Cafe serve refeições: do menu fazem parte pizzas, pastas, saladas e sobremesas. Ivy Lei assume que não há um prato especial –

os clientes que lá vão com frequência, “duas ou três vezes por semana”, gostam sobretudo de brincar com os animais que dão vida ao espaço. Agora com 31 anos, a empresária decidiu abrir o café depois de ter levado um gato para casa. Os cafés com felinos entraram na moda nas cidades e o Cat Cave

CAT CAVE CAFE • Rua de Inácio Baptista Edifício Hou King (bloco I), r/c A Macau

Os gatos são um motivo de atracção para quem gosta de felinos mas, continua a proprietária, “há muita concorrência entre cafés em Macau”. De cada vez que abre um espaço novo, o facto reflecte-se no dinheiro que entra em caixa. O Festival de Gastronomia, organizado anualmente na rotunda junto à Torre de Macau, também significa uma quebra no negócio. Ivy Lei depara-se ainda com outra dificuldade, partilhada pela grande maioria dos pequenos e médios empresários do território: a falta de recursos humanos. “É muito difícil recrutar pessoal por causa das quotas”, desabafa. O sistema de protecção à mão-de-obra local limita a importação de trabalhadores e não é fácil encontrar, entre os residentes de Macau, quem queira um emprego num café. “Estabelecimentos como este não conseguem garantir o número suficiente de trabalhadores. Por isso, é difícil manter as portas abertas.” Os problemas que vão surgindo não fazem com que Ivy Lei pense em desistir. “Vou lutar para continuar a ter o café, não tenho qualquer outro projecto em mente”, explica. Feitas as contas, o balanço é positivo: “Tudo isto contribui para que haja cada vez mais pessoas a adoptar animais”. Mais gatos em casa, menos gatos abandonados. Vítor Ng (com Isabel Castro) info@hojemacau.com.mo


“ A cor da fé

Divisão entre católicos chineses trava aproximação a Santa Sé

C

HINAeVaticano podem estar próximos de “normalizar as relações”, mas a divisão da comunidade católica chinesa e a falta de um clero bem formado no país “preocupam Roma” e travam a aproximação, defende um investigador italiano. “AChina está agora mais aberta a ter laços com o Vaticano, à medida que se converte numa superpotência mundial, e vê que é importante ter relações com a principal fonte de poder de persuasão do mundo”, assinalou o académico Francesco Sisci, especialista nas relações entre a República Popular da China e a Santa Sé, que romperam laços diplomáticos em 1951. O italiano diz que algo está a mudar no diálogo entre Pequim e o Vaticano, mas que é difícil prever o desfecho. O Papa Francisco mostrou já uma maior vontade do que os seus predecessores para “projectar a Santa Sé no resto do mundo”, de que é exemplo a sua recente viagem ao Egipto ou a aproximação aos ortodoxos gregos e russos. A aproximação à China, no entanto, continua a ser difícil, nomeadamente devido à situação do clero chinês, em que há casos de sacerdotes casados e com filhos, e comunidades divididas. “Inclusive em Pequim, a diocese mais próxima do Governo e mais controlada, chegaram a existir três facções, e foi preciso um grande esforço para as unir”, sublinhou Sisci. Roma “está preocupada com a qualidade do clero” chinês, explicou. Sisci negou que exista uma “igreja clandestina” católica na China, oposta à oficial, regida pelo Partido Comunista e independente do Vaticano, mas admitiu diferenças e, por vezes, animosidades entre os católicos mais veteranos e os que acabaram de chegar à igreja, formados pelo regime comunista.

EM CONSTRUÇÃO

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O especialista sublinhou que a “normalização das relações” vai demorar e poderá não significar necessariamente o estabelecimento de laços diplomáticos, recusando que o Papa Francisco possa visitar a China a curto prazo. “Seria um evento extraordinário, a China está consciente disso”, mas ambos os lados são “muito cautelosos”. Sisci destacou ainda a importância da reunião que o Papa terá em 24 de Maio, em Roma, com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em que a China fará parte da agenda pela primeira vez nas reuniões de máximo nível entre Washington e a Santa Sé. O académico assegurou que o Papa é também cauteloso na sua aproximação a Pequim, já que esta “pode atrair críticas” entre os sectores do Vaticano que se opõem à abertura de Francisco.

roga a Deus/que teus anos encurtou/que tão cedo de cá me leve a ver-te/ quão cedo de meus olhos te levou” Luiz Vaz de Camões

quarta-feira 10.5.2017

ACTIVISTAS DE HONG KONG EXPULSOS DE MACAU DURANTE VISITA DE ZHANG DEJIANG

De volta à casa da partida

D

OIS activistas pró-democracia de Hong Kong foram expulsos de Macau, horas depois de terem entrado na cidade, quando está a decorrer a visita do presidente da Assembleia Popular Nacional da China (APN), foi ontem anunciado. O “número três” do regime chinês, Zhang Dejiang, responsável pelos assuntos de Macau e Hong Kong, chegou a Macau na segunda-feira e termina a visita esta quarta-feira. De acordo com o portal Hong Kong Free Press (HKFP), Wong Tan-ching, coordenador do grupo Tuen Mun Community Network, foi autorizado a entrar em Macau pelas 13:00 de segunda-feira. Ao fim da tarde, numa das principais avenidas da cidade, Wong foi mandado parar pela polícia e levado para a esquadra para ser identificado, tendo sido encaminhado para a divisão de crime organizado. Questionado sobre se estava em contacto com a Associação Novo Macau, Wong negou. Ontem, às 13:00, Wong foi enviado de volta para Hong Kong, sob a justificação de que representa uma ameaça à segurança interna de Macau, acrescentou o portal. O HKFPindicou que a viagem do activista a Macau foi planeada há mais de um mês, quando ainda não tinha sido anunciada a visita do presidente do comité permanente da APN ao território. “O [Tuen Mun Community] Network está profundamente

“O [Tuen Mun Community] Network está profundamente desiludido com os actos irrazoáveis das autoridades de Macau. Esperamos que o Governo de Macau acabe com a supressão política sob a forma de deportação irrazoável.”

desiludido com os actos irrazoáveis das autoridades de Macau. Esperamos que o Governo de Macau acabe com a supressão política sob a forma de deportação irrazoável”, disse o grupo, em comunicado. O grupo pró-democracia foi formado em Janeiro do ano passado com o intuito de se focar nas questões da comunidade de Tuen Mun (Novos Territórios). Wong candidatou-se também a um lugar no colégio que elege o chefe do executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK), mas sem êxito.

SÓ MAIS UM

Um segundo activista pró-democracia de Hong Kong, Hui Lap-san, assistente de um conselheiro distrital, entrou

no domingo em Macau, como turista, tendo sido detido no terminal de ‘ferry’ da Taipa, na segunda-feira, quando se preparava para regressar à antiga colónia britânica. Depois de ser detido pelos Serviços de Migração de Macau, no terminal da Taipa, Hui foi levado para a sede da polícia e questionado sobre se estava em contacto com os activistas de Macau. O HKFP indicou que a polícia disse ao activista que a documentação mostrava que Hui participou nos protestos pró-democracia de 2014, em Hong Kong. Hui negou ter estado na RAEHK naquela altura. O activista foi detido por duas horas e depois expulso do território, sendo-lhe apresentada a mesma justificação de Wong. “Não compreendo como é que gero ameaças à segurança interna de Macau”, disse, citado pelo mesmo portal. Contactada pela Lusa, a PSP escusou-se a fazer qualquer comentário sobre estes casos. Estes incidentes acontecem depois de vários deputados de Hong Kong, conselheiros distritais e outras figuras pró-democracia terem sido impedidas de entrar em Macau antes da visita de Zhang. Muitos disseram que se deslocaram a Macau como turistas, sem intenção de realizarem actividades políticas. No entanto, todos foram impedidos de entrar, após serem interrogados, por motivos de segurança interna.

COREIA DO SUL MOON JAE-IN VENCEU PRESIDENCIAIS

Moon Jae-In, antigo advogado especializado na defesa dos direitos humanos, venceu confortavelmente as eleições presidenciais de ontem na Coreia do Sul, indica uma sondagem à boca das urnas. Grande favorito nas sondagens, Moon, candidato do Partido Democrático, obteve 41,4% dos votos, segundo a sondagem realizada por três cadeias televisivas. O conservador Hong Joon-Pyo, do Partido da Liberdade (da ex-presidente Park Geun-hye), ficou a uma considerável distância com 23,3% dos votos, seguido do centrista Ahn Cheol-Soo, do Partido Popular, com 21,8%. Cerca de 42,4 milhões de sul-coreanos foram chamados às urnas para escolher entre 13 candidatos o futuro Presidente da República para um mandato de cinco anos.


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