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Macau | Os que vêm, os que ficam e os que partem. O refazer do eterno ciclo página 8

tempo possibilidade de trovoadas min 24 max 29 humidade 70-95% câmbios euro 10.2 baht 0.25 yuan 1.19

hojemacau Mop$10 Director carlos morais josé • sexta-feira 10 de setembro de 2010 • ANO X • Nº 2207

TDM | Kwan Tsui Hang fala de “abuso de poder”

Relatório a ferver

Kwan Tsui Hang, responsável do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento Estratégico da TDM, acusou Manuel Gonçalves de “abuso de poder” e revelou que o relatório do grupo irá fazer recomendações quanto à estrutura administrativa para prevenir o problema no futuro. Kwan mostrou-se também preocupada com a alegada tentativa da emissora em fazer pressão sobre uma jornalista. >Página 4 pub

Lei das manifestações

Governo não proporá alterações este ano • P.4

Centro de Ciência a cair

Fiscalização na mira de Au Kam San • P.5

Ponte Zhuhai-HK-Macau

Economist questiona viabilidade do projecto • P.7

Agência Comercial Pico • 28721006 pub


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2 A Administração da Aviação Civil da China (CAAC) garantiu que desde 2008, quando foi constatado que 192 pilotos mentiram sobre a sua experiência acumulada de voo, não houve nenhum outro caso registrado de falsificação de currículos. "Até o momento não encontrámos nos nossos controles de segurança nenhum novo caso de pilotos que tenham falsificado os seus currículos", afirmou um portavoz da CAAC à imprensa local. As declarações foram feitas depois de a imprensa chinesa ter revelado, esta semana, que, em reunião interna da CCAA, um funcionário não identificado revelou que mais de 200 pilotos da aviação comercial tinham falsificado os seus curriculuns durante inspecções efectuadas entre 2008 e 2009. A notícia foi revelada após o acidente do último dia 24 de Agosto, quando um avião Embraer E-190 da

actual Quase duas centenas de pilotos chineses “apanhados”

Currículos falsos companhia chinesa Henan Airlines se despenhou no aeroporto de Yichun, noroeste do país, matando 42 pessoas e deixando 54 feridos. Segundo essas notícias, metade dos pilotos que mentiram nos seus currículos trabalhavam para a companhia aérea Shenzhen Airlines, proprietária da Henan Airlines, à qual pertencia o avião acidentado. O porta-voz afirmou que a CAAC realizou, em 2008, um controle a nível nacional sobre os curriculuns dos pilotos, e em Abril do mesmo ano, descobriu que 192 deles tinham mentido, mas a informação não foi tornada pública.

Além disso, o mesmo porta-voz acrescentou que a CAAC tomou, na altura, as medidas necessárias, e cancelou a autorização de voo daqueles pilotos. A CAAC acusou, na passada quarta-feira, o piloto do avião pela responsabilidade no acidente de Agosto. Segundo Li Jiaxiang, director de Aviação Civil da China, o piloto Qi Quanjun cometeu um erro "muito básico" na aterragem. Quanjun, de 40 anos, tinha 4.250 horas em voos comerciais e anteriormente fez parte das forças aéreas do Exército de Libertação Popular (ELP) chinês. Os relatórios revelam que o piloto deixou o ELP para passar à aviação civil e fez testes para ser piloto de modelos Boeing 737, mas não completou a qualificação. Mais tarde, recebeu permissão para pilotar os Embraer E-190, de menor envergadura.

Boneca tem “casa” de seis andares em Xangai

Quatro anos de prisão por “interromper” o trânsito

Ao fim de 50 anos, a boneca mais popular do mundo encontrou finalmente uma casa à sua medida: um edifício de seis andares, no coração comercial de Xangai. E para a “Ba bi” (“Barbie”, em chinês) não se sentir só criaram-lhe uma amiga chamada Ling, de cabelos e olhos escuros, mas anatomicamente igual à original. A “Barbie” da Huaihai Lu – avenida de Xangai onde a Cartier, Louis Vuitton, Tiffany, Zegna e outras marcas de luxo estão implantadas – é a maior loja mundial do género, com 3500 metros quadrados. Lá dentro predomina o cor-de-rosa, permitindo aos clientes “sentir a derradeira fantasia Barbie”. Das minissaias aos folhos usadas pelas empregadas até ao menu do café, no último andar, é quase tudo cor-derosa. O próprio café chamase “Sala Cor de Rosa”. A “Barbie-Xangai”, inaugurada em 2009, é também uma espécie de museu, com centenas de bonecas expostas ao longo da escada em caracol que liga o 2.º ao 3.º andar.

O advogado cego Chen Guangcheng, preso após denunciar abortos forçados na sua província e nomeado como candidato ao prémio Nobel da Paz, foi libertado ontem da prisão de Linyi após cumprir quatro anos de pena, mas permanecerá sob prisão domiciliar, informaram diversas ONGs. Chen, de 38 anos, é um advogado autodidacta que denunciou os sete mil abortos forçados pelas autoridades de planeamento familiar na localidade de Shandong no leste da China, e foi preso em 2006 depois de um julgamento cheio de irregularidades e acusações insólitas, como "interromper o trânsito e destruir propriedades". "Não mudei, e quero agradecer a todos

Barbie em versão chinesa Uma outra vitrina mostra as “encarnações” internacionais da Barbie, vestidas com trajes típicos de diferentes países, da África do Sul à Rússia, e as versões em alta costura, como a “Barbie Christian Dior” ou a “Barbie Versace”. Esta semana, entre os mais de 1500 produtos à venda sobressaía uma Barbie vestida de sereia, numa caixa que incluía um golfinho, um par de hawaianas (cor de rosa) e uma escova para o cabelo – tudo por 199 yuan (23 euros). Uma “Ba bi” ao volante de um Fiat descapotável branco (com bancos cor de rosa, claro) custa 399 yuan (46 euros) e a histórica “Barbie rockers”, com minissaia branca, collants cor-de-rosa e botas altas, criada em 1986, chega aos 499 yuan (58 euros). Nada que se compare, no entanto, ao relógio de brilhantes com a esfinge da Barbie, que custa 19 998 yuan (2325 euros) – o triplo do que um professor ganha por mês. Também há mochilas, sapatos, camas, almofadas, lençóis e vestidos de noiva –

tudo “made in China”, como grande parte dos brinquedos vendidos pelo mundo fora. A “Barbie Xangai” vende igualmente festas de aniversário, com um bolo cor-derosa e uma encenação que fará da aniversariante “uma estrela Barbie”. Segundo a publicidade, a fantasia é garantida: “Podes ser uma supermodelo, estilista ou até ‘chefe’ de cozinha – diz os teus sonhos aos Panificadores de Festas Barbie e faz com eles se tornem realidade”. A mensagem parece apropriada para Xangai, “capital económica” de um país onde os casais urbanos só podem ter um filho e qualquer criança é, desde o nascimento, o centro das atenções dos pais e avôs (4-2-1, como dizem os chineses). A Barbie foi apresentada pela primeira vez em 1959, numa feira de brinquedos em Nova Iorque. Na altura, a China estava em pleno “Grande Salto em Frente”, nome de uma campanha de coletivização da economia para acelerar a transição para “uma sociedade sem classes”.

Activista cego libertado

os amigos que expressaram a sua preocupação ", disse Chen ao sair do centro penitenciário, em declarações recolhidas pela ONG humanitária Chinese Human Rights Defenders (CHRD). A ONG revela, em comunicado, que embora Chen mostre estar animado, o seu estado de saúde é frágil, e perdeu muito peso devido a uma gastrenterite crónica que não foi tratada durante a sua reclusão, período em que sofreu maus-tratos físicos e psicológicos. A esposa de Chen, Yuan Weijing, foi vigiada por policiais à paisana nos últimos anos, e as forças de segurança informaram que o advogado permanecerá em prisão domiciliar após deixar a penitenciária.


As campas da TDM em língua chinesa e de O Clarim acabaram por sair pela culatra como, aliás, era normal acontecer. As campanhas para destruir a imagem de alguém terminam muitas vezes por se voltar contra si próprias, sobretudo quando o rato persegue o gato. O tema era delicado, tendo em conta a terra em que estamos e mesmo o substrato cultural deste povo. Carlos Morais José P.23

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Cidade de Wuxi interessada no pavilhão de Portugal

Presença portuguesa reforçada Uma histórica cidade chinesa, Wuxi, manifestou-se interessada em integrar o pavilhão de Portugal na Expo2010 num parque sobre património mundial, confirmando o sucesso do projecto português apresentado em Xangai. “Claro que ficámos lisonjeados com a proposta, mas temos de estudar melhor as suas implicações logísticas”, disse à agência Lusa o comissário geral de Portugal para a Expo 2010, Rolando Borges Martins. A inclusão do pavilhão português no referido parque temático ilustraria “as amigáveis relações históricas” entre os dois países, diz a proposta das autoridades de Wuxi. Situada junto ao famoso Lago Tai, na província de Jiangsu, leste da China, Wuxi é uma das mais antigas cidades chinesas e uma grande atracção turística. O pavilhão português na Expo 2010 – um edifício de 2000 metros quadrados, integralmente revestido de cortiça – evidencia os 500 anos de contactos entre Portugal e a China e “a actual aposta portuguesa nas energias renováveis”. Para Rolando Borges Martins, a proposta de Wuxi “confirma o

sucesso do pavilhão português”, que já foi visitado por mais de três milhões de pessoas, “um recorde na história da participação portuguesa em exposições universais”. “Com

este ritmo [de afluência] estamos confiantes que vamos ultrapassar mesmo os quatro milhões”, disse Rolando Borges Martins. Habitualmente, os pavilhões são desmonta-

Teixeira dos Santos em Macau de olho em África

A plataforma de sempre Macau tem um grande potencial para ser uma plataforma decisiva de cooperação e parcerias entre Portugal e a China na Ásia e noutros pontos do planeta, disse hoje no território o ministro português das Finanças, Teixeira do Santos. “Pelo estatuto especial que tem na relação de Portugal com a China, Macau tem um grande potencial de ser uma plataforma decisiva de cooperação e parcerias entre Portugal e a China”, disse o ministro. Para Teixeira dos Santos, que ontem foi recebido por Fernando Chui Sai On, a cooperação entre Portugal, a China e Macau não tem que apenas ser centrada na Ásia, mas “eventualmente noutras áreas do mundo onde Portugal também tem conhecimento e experiência e pode ajudar também a China a desenvolver as suas relações com essas partes do mundo”.

“Além de nós constatarmos que temos um longo passado comum, temos consciência de que temos ainda um futuro mais longo e

promissor pela nossa frente”, considerou Teixeira dos Santos, que salientou que a presença portuguesa em Macau “não se sobrepõe a uma realidade já existente, faz parte dessa realidade, é uma presença que está enraizada em Macau, faz parte de Macau”. Portugal, continuou o ministro, está empenhado em “aprofundar, desenvolver nos mais variados domínios económicos, financeiros, políticos, culturais” as relações com a atual Região Administrativa Especial da China e Teixeira dos Santos destacou o “empenhamento do Executivo de Macau em aprofundar essa relação, aliás no seguimento daquilo que já foi a experiência destes 11 anos que tivemos de administração chinesa”. Teixeira dos Santos, que esteve ontem no Clube Militar de Macau a apresentar Portugal aos membros da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, vai hoje a Hong Kong, onde participa numa promoção das potencialidades de Portugal para investidores estrangeiros.

dos no final do certame e enviados para os respectivos países. O revestimento do pavilhão português, cedido pela Corticeira Amorim, deverá ficar na China, onde

a empresa já tem negócios, e depois será reciclado, mas o resto, “em princípio”, seguirá para Portugal. A Expo 2010, dedicada ao tema “Better City, Better Life” (Melhores Cidades, Maior Qualidade de Vida), aberta no dia 01 de maio passado, decorre durante seis meses numa área de 528 hectares (dez vezes a Expo 98, em Lisboa), ao longo das duas margens do rio de atravessa Xangai. É a maior exposição universal de sempre, com a participação de cerca de 240 países e organizações internacionais, e pretende ser também a mais concorrida. O número de visitantes atingiu na quarta feira passada os 49,4 milhões e até ao final do certame os organizadores esperaram chegar ao prometido recorde de 70 milhões – mais seis milhões que a Expo de Osaka, Japão, em 1974. Portugal apresenta-se em Xangai como “uma praça para o mundo” e “um mundo de energias”, conceitos que procuram valorizar a posição geoestratégica do país (“porta atlântica da Europa”) e “promover o espírito de inovação dos portugueses”.

Explosão mata mineiros Sete trabalhadores morreram e 12 ficaram feridos ontem numa explosão de gás numa mina de carvão na província chinesa de Yunnan, de acordo com a agência Xinhua. O acidente ocorreu às 9h40 (hora local) quando 29 homens trabalhavam na mina. Dez mineiros conseguiram sair ilesos. Mais tarde, equipes de socorro conseguiram resgatar com vida outros 12 operários, que, por enquanto, recebem atendimento médico em um hospital local. As autoridades revelaram que as mortes foram causadas por asfixia, devido à falta de oxigínio. As causas do acidente ainda estão a ser investigadas. A exploração em excesso e a fragilidade das medidas de segurança nas minas de carvão chinesas, as mais perigosas do mundo, causaram mais de 2,6 mil mortos no ano passado. O carvão representa 70% do consumo energético da China, a segunda potência económica do mundo.


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Deputada acusa director da TDM de abuso de poder

Kahon Chan

hojemacau@yahoo.com

A deputada Kwan Tsui Hang, responsável do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento Estratégico da TDM, acusou o directorexecutivo da estação de “abuso de poder” e avançou que o relatório do grupo irá fazer recomendações quanto à estrutura administrativa para prevenir o problema no futuro. Kwan mostrou-se também preocupada com a alegada tentativa da emissora em fazer pressão sobre uma jornalista sem papas na língua, mas reiterou que o grupo não está autorizado a influenciar as operações da TDM directamente. Por sua vez, o deputado da Assembleia Legislativa (AL) Paul Chan Wai Chi apresentou uma interpelação escrita ontem em que revelava que uma jornalista do departamento de informação televisiva em chinês da TDM tinha sido afastado do noticiário diário na sequência de uma queixa apresentada por um entrevistado. A jornalista em causa criticou abertamente o seu supervisor, acusando-o de auto-censura e intervenção despropositada sobre o juizo próprio dos jornalistas, durante as reuniões organizadas pelo Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento Estratégico da TDM no início de Junho. Nada aconteceu desde então, apesar das duras críticas, mas a cobertura feita pela jornalista à recente polémica em torno do altar montado por uma associação taoista resultou num tiro pela culatra. De acordo com a inquirição de Paul Chan, o encarregado da associação terá tido um problema com a revelação do seu “background” no telejornal e fez uma queixa à TDM. Paul Chan disse que a repórter terá sido afastada do noticiário diário por três meses, alegadamente para se concentrar em questões

O Governo da RAEM não vai apresentar nenhuma proposta de lei sobre as manifestações, pelo menos até ao fim deste ano. É verdade que, depois dos acontecimentos do 1º de Maio, existiu da parte do executivo a intenção de modificar a legislação mas, depois de algumas consultas internas, a opinião generalizada dos assessores foi no sentido de não avançar. Assim, não será este ano que a Assembleia Legislativa debaterá o problema porque as

POLítica Kwan de guarda mas de fundo, relacionadas com a comunidade local. O departamento de informação em chinês da TDM TV emitiu ontem à noite um comunicado em que esclarecia que a jornalista continuava a trabalhar na redacção, sublinhando que as reportagens eram cruciais para o departamento de notícias e que trabalhar nelas era bom para os jornalistas. Em entrevista por telefone, Lorman Lo, editora-chefe do departamento de informação em chinês, acrescentou que os jornalistas no departamento não trabalhavam em todos os aspec-

tos da operação diária de forma igualitariamente repartida. Por exemplo, há jornalistas que preferem apresentar programas de informação em vez de cobrirem as notícias diárias. Mas Lorman Lo não respondeu se era norma no departamento colocar um jornalista a fazer reportagem exclusivamente durante três meses. Questionado sobre o seu papel na alegada intervenção sobre o trabalho da jornalista, a responsável admitiu que enquanto editora-chefe tudo passava pelas suas mãos, mas recusou-se a fa-

zer mais comentários para além da interpelação apresentada por Paul Chan. Esperança

Tendo em conta que não há uma agência do Governo a supervisionar directamente a TDM, Paul Chan espera que o grupo de avaliação, com os seus seis membros, possa tomar medidas e levar a administração a explicar se a “concentração” de jornalistas em reportagem é uma prática normal. Kwan Tsui Hang, colega de Chan na AL, e a voz do grupo,

disse que por ela concentrar-se-ia pessoalmente na acusação, mas reiterou que o grupo não estava autorizado a influenciar directamente as operações da TDM de nenhuma forma, pelo que o grupo não iria fazer nada a respeito desse caso concreto. A expressão franca de opinião nas reuniões na câmara, acredita Kwan, pode ter deixado os funcionários e o público com excessivas expectativas em relação à autoridade do grupo. A deputada notou também que a acusação de pressão sobre a liberdade de imprensa é sempre difícil de ser confirmada com provas concretas, pelo que havia sempre pouca matéria de prova para um jornalista apresentar queixas sobre quem quer que fosse a esse respeito. Apesar de o grupo não ter capacidade para centrar-se em pequenos problemas, Kwan concluiu que um “indivíduo imprestável” no topo devia ser a fonte de muitos problemas na TDM. “O abuso de poder do director-executivo da TDM resultou em problemas para toda a empresa”, afirmou. “O Governo não tem processos para supervisionar a TDM, uma vez que se trata de uma companhia privada, e o conselho de administração da TDM é disfuncional, de modo que o homem pode cometer abusos de poder. Iremos focar-nos nesse problema em particular e propor uma reforma estrutural na administração e gestão.” O grupo começou a elaborar o seu relatório final sobre o posicionamento futuro e modos de funcionamento da TDM, que será submetido ao chefe do Executivo para a sua própria consideração. Entretanto, a conclusão da sondagem de opinião pública sobre a TDM foi alcançada e submetida ao chefe do Executivo, de acordo com uma entrevista anterior com a porta-voz do grupo, Kwan Tsui Hang.

Governo não apresentará nenhuma alteração à lei das manifestações

Ambiente pouco propício propostas de alterações à lei não baixarão ao hemiciclo . O Hoje Macau está em condições de afirmar que chegaram a ser preparadas algumas modificações à actual legislação mas que incidiam, sobretudo, sobre a competência do Instituto para os Assuntos Cívicos

e Municipais (IACM) para determinar quais os locais da cidade por onde as manifestações poderiam passar. Segundo apurámos, foi considerado que seria entregue à Polícia de Segurança Pública (PSP) o que até aqui era uma responsabilidade do IACM. Assim, as forças de seguran-

ça teriam a função não apenas de manter a ordem no dia das manifestações mas também de definir por onde poderiam ou não desfilar os manifestantes. Por outro lado, as instalações militares, que não são consideradas na legislação existente, talvez porque não

existiam antes da transferência de soberania, passariam também a fazer parte dos edifícios “classificados”, face aos quais os manifestantes têm de respeitar uma distância mínima de 30 metros, como acontece agora, por exemplo, em relação aos edifícios do governo.

Contudo, estas intenções não passaram do papel e, finalmente, o governo decidiu não avançar este ano com a proposta de lei. A base desta decisão prende-se com vários aspectos, entre os quais ter sido considerado, pela generalidade dos membros do governo consultados, não existir o ambiente político necessário para mexer neste tipo de diploma. Na verdade, existiu um largo consenso nesta matéria, segundo apurou o Hoje Macau. - C.M.J.


Ar na Taipa insalubre durante três dias de Agosto

sexta-feira 10.9.2010

A qualidade do ar na Taipa voltou a receber a classificação de insalubre nos dias 6, 30 e 31 de Agosto, o que significa complicações às pessoas que sofrem de doenças respiratórias. Em Macau, a qualidade do ar na maioria dos dias do mês passado recebeu um “bom”, tendo, entretanto, alguns picos de “moderado”, segundo dados da Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos que foram divulgados ontem.

Centro de Ciência junta-se ao Macau Dome na lista de projectos problemáticos

Kahon Chan

hojemacau@yahoo.com

O deputado da Assembleia Legislativa (AL) Au Kam San pediu explicações sobre o tecto danificado, barras de aço expostas e rachaduras nas paredes no interior do Centro de Ciência, que foi criticado por Mak Soi Kun pela qualidade inferior. Au mostrou-se particularmente preocupado com o papel das empresas de consultoria em todos os projectos problemáticos de construção pública, e defendeu que regras de responsabilização evitariam efectivamente o aparecimento dos problemas. As questões foram levantadas pelo legislador numa interpelação escrita apresenpub

tada a 30 de Agosto, quando tomou conhecimento através da imprensa dos sintomas de má construção visíveis no edifício do Centro de Ciência – tecto embolorado, paredes rachadas, barras de ferro expostas – além do problema com os ladrilhos do piso de granito da avenida. Au exige que o Governo pressione o construtor a corrigir as falhas e peça uma compensação pelo mau trabalho. O deputado Mak Soi Kun, proprietário de uma empresa de construção que foi convidado a visitar o Centro de Ciência antes da abertura ao público, foi citado na interpelação por criticar a fraca qualidade de obra em vários aspectos dentro do emblemático edifício. Contactado

rodrigo matos

Construção pública a cair aos bocados

ontem pelo Hoje Macau, Mak não negou as alegações do colega, mas sublinhou que a inspecção foi feita antes da conclusão dos acabamentos do interior que não visitou o centro desde então.

O verdadeiro problema, assinala Au, é que a obra-prima do arquitecto IM Pei que custou mais de 330 milhões de patacas é apenas mais um numa lista de projectos de construção pública con-

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cluídos com significativos problemas estruturais. A lista inclui o terminal de autocarros das Portas do Cerco, desenhado para ser mal ventilado, assim como o Macau Dome, em que se esqueceram de impermeabilizar a brilhante cobertura. “Não estou a visar só o Centro de Ciência, mas também cada grande projecto de construção pública em Macau. O Wynn Macau é também um grande projecto, mas não há infiltração de água comparável à do Macau Dome. Então porque é que todos esses problemas apenas acontecem com projectos do Governo? Penso que se trata se uma questão de supervisão”, explicou ao Hoje Macau, numa entrevista por telefone. Au acredita que é a falta de um conjunto de regras que especifiquem a prestação de contas de cada participante num projecto de construção do Governo que leva a que

todos aceitem ou permitam uma qualidade inferior. Embora o construtor seja o principal responsável por assegurar a qualidade de um edifício, Au questiona o que têm feio as empresas de consultoria para desempenhar o seu papel de supervisão e se há regras para punir esses consultores pela sua negligência em relação a óbvios problemas de controlo de qualidade. “Apenos vemos essas empresas a recolher dinheiro e a aprovar aumentos de orçamento, mas não sabemos se elas controlaram de todo a qualidade. O facto inquestionável, contudo, é que, se o fizeram, falharam.” Na conversa com o Hoje Macau, Au disse também querer saber se os funcionários eram também responsáveis pela supervisão, uma vez que o Governo é o principal regulador de todos os construtores e consultores envolvidos num projecto.


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sociedade

Governo quer que cada cidadão denuncie as estruturas ilegais

a severidade das estruturas não autorizadas – infracções comuns, infracções graves e outras infracções muito graves. Por exemplo, a modificação e reforço das varandas foi classificada como uma das infracções “comuns”; a instalação de gaiola no exterior com cinco metros ou menos, foi listada entre as “graves”; e a escavação em terreno montanhoso or demolição de todo o edifício sem licenção estão entre as “muito graves”. As coimas para os delitos listados como comuns variam entre as cinco mil e as oito mil patacas, enquanto as graves são punidas com coima de 10 a 20 mil patacas, e as muito graves de 50 a 200 mil patacas. Quando a DSSOPT agir contra a construção ilegal e o infractor negar acesso aos inspectores, isso passa a

ser crime de desobediência qualificada. E se a estrutura ilegal causar o colapso do edifício e o proprietário não acatar a ordem de deixar os inspectores entrarem, o director da DSSOPT pode solicitar um mandado judicial ao tribunal. A desobediência do proprietário do condomínio em remover estruturas ilegais num dado período de tempo implica também o registo da ofensa na Conservatória do Registo Predial. A DSSOPT, no entanto, admitiu que há apenas 14 inspectores a tempo inteiro para aplicar a lei e Chan Weng Hei acredita não haver razão para preocupação, uma vez que “cada residente de Macau é um inspector, com a maior parte dos seus relatórios a terem origem em queixas prévias apresentadas pelo público. Uma revisão da equipa será considerada, ainda que Chan acrescente que a expansão dos funcionários públicos tenha sido criticada pelos legisladores. As estruturas ilegais, com as gaiolas como as mais evidentes, são uma das marcas na paisagem urbana de Macau. Chan reiterou a sua prioridade em travar as queixas relativas a estruturas recém-acrescentadas, ameaças à segurança pública e estrutural, ou que afectem o acesso a outras instalações da construção. Chan acredita que o recém-introduzido crime de desobediência irá gerar uma ameaça suficiente para prevenir o acréscimo ou modificação de estruturas ilegais, mas não especificou como seriam eliminadas a longo prazo as estruturas existentes.

suntos políticos” se limita ao conteúdo editorial do jornal e que as escolas não devem partilhar da mesma orientação. Entretanto, Agnes So disse à rádio TDM que a maior parte dos directores de escolas católicas tinha ficado chocada com a acusação da DSEJ de que as escolas privadas não gastavam o suficiente em salários de professores. “Desde o 'boom' do jogo que acredito que as escolas iriam

enfrentar dificuldades para recrutar novos professores se apenas gastarem 70 por cento do financiamento governamental no recrutamento. Os professores não podem receber um salário baixo, actualmente.” Agnes So acredita que o Governo terá chegado à mesma conclusão com a sua própria fórmula de auditoria e disse esperar que a DSEJ divulgue os seus critérios de auditoria, de forma fiscalizar melhor a sua gestão . - K.C.

Nova lei pouco demolidora Kahon Chan

hojemacau@yahoo.com

Está lançada a consulta pública final para a revisão da lei para regular a construção, acabamentos de interiores, manutenção regular dos edifícios e estruturas não autorizadas, anunciou a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). Sem planos para aumentar a equipa de inspectores (14 no total), o Governo afirmou que cada cidadão de Macau tinha um papel de inspector a desempenhar para denunciar estruturas ilegais, considerando ao mesmo tempo que a nova introdução do crime de desobediência qualificada pode representar uma ameaça suficiente para dissuadir os infractores. As novas regras fazem parte do “Texto para Recolha de Comentários” para o “Regime Jurídico da Construção Urbana” e “Normas de Natureza Administrativa do Regime Jurídico da Construção Urbana”, que irá começar hoje a consultar a opinião pública até 9 de Outubro. A revisão cobre uma grande variedade de aspectos que afectam profundamente o interesse público, desde o licenciamento para construções, passando pela isenção de licenciamento para arranjos interiores, e pela obrigação dos proprietários em manter

As escolas devem educar os alunos para os direitos humanos e “corrigir” a percepção das medidas do Governo independentemente da formação religiosa, considera Agnes So Ying Suen, directora-geral da Associação das Escolas Católicas de Macau. A responsável acrescentou que os directores ficaram surpreendidos quando a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) acusou as escolas

e reparar as áreas comuns do edifício, assim como os castigos impostos aos infractores responsáveis por estruturas ou construções ilegais. A revisão legal, contudo, não promete uma mudança dramática no panorama das estruturas ilegais em Macau, aparentemente uma das mais preocupantes secções ao longo das 57 páginas do texto de consulta. Principais mudanças

O texto estabelece: “os proprietários das edificações já construídas ou das suas fracções autónomas são obrigados a proceder à conservação e reparação das respectivas edificações, oito anos depois da emissão da licença de utilização e em cada cinco anos subsequentes”. Se qualquer dos proprietários de um condomí-

nio tiver de levar a cabo a empreitada sem o apoio de quaisquer conselhos de proprietários, o que torna impossível avisar a todos os outros proprietários sobre a proposta para levar a cabo trabalhos de manutenção, um ou mais dos senhorios interessados podem afixar um anúncio na entrada principal do edifício e publicar o mesmo aviso em cada um dos jornais chineses e portugueses mais lidos. A lei não impõe um limite mínimo específico a todos os proprietários de condomínio para aprovar um projecto de manutenção. Se os donos que publicaram o aviso não receberem qualquer objecção em 30 dias, passarão a ser considerados legalmente autorizados pelos outros co-proprietários a continuar com o seu

projecto de manutenção proposto, com todos os outros proprietários a terem de pagar por isso. O chefe do Departmento de Urbanização da DSSOPT, Chan Weng Hei, acredita que outros coproprietários iriam marchar em protesto até à DSSOPT e outras agências do Governo, caso a minoria de proprietários forçar a implementação de um projecto de manutenção apesar da clara objecção dos vizinhos, enquanto o actual limite de 50 por cento fixado pelo Governo deveria ser suficiente para resolver o problema. Soluções

Novas medidas propostas para prevenir e eliminar estruturas não autorizadas no texto incluem uma categorização em três níveis para

Escolas católicas precisa de ensinar direitos humanos

O milagre da educação de não pagarem salários suficientes ao seu pessoal docente. Com os Media locais a continuarem a cobertura da alegada redução da Igreja Católica nos conteúdos no seu jornal, é a vez agora de as escolas sob a alçada da Igreja Católica foram questionadas

pela TDM, em matéria da sua orientação quanto a questões políticas. Agnes So, que também é directora do Colégio de escola Coração de Jesus, disse que as escolas tinham outras missões além das religiosas. “Se quisermos que os estudantes de tornem cidadãos

bons e patriotas, devemos educá-los sobre os direitos humanos e dar-lhes uma percepção correcta das decisões tomadas pelo Governo, orientando-os passo a passo no bom caminho”, disse. A responsável acredita que a opção da Igreja Católica em se “distanciar dos as-


Xangai 2010 | António Costa tenta atrair investimento chinês para Lisboa O presidente da câmara de Lisboa, António Costa, vai encontrar-se na terça feira em Xangai com empresários chineses, para tentar atrair o crescente investimento da China no estrangeiro. Este é o primeiro de três encontros programados pela Invest Lisboa na China e decorrerá no Centro de Negócios do pavilhão português na Expo 2010, com a presença de cerca de 50 empresários. Depois de Xangai, António Costa participará em idênticas “ações de promoção e captação de investimentos” em Hong Kong (dia 15) e em Macau (dia 16). “Lisboa é o seu caminho para a Europa, África e América”, asseguram os promotores da iniciativa. António Costa viaja com o presidente da Associação Comercial de Lisboa (ACL), Bruno Bobone, e o director executivo da InvestLisboa, Rui Coelho.

Economia de Macau deverá crescer 20,6% este ano e 10,1% em 2011

Economist questiona viabilidade da ponte A economia de Macau deverá crescer este ano 20,6% e 10,1% em 2011, de acordo com o mais recente relatório sobre Macau do ‘think tank’ britânico Economist Intelligence Unit (EIU). O documento antecipa para este ano ainda uma quebra no investimento de 6,4%, mesmo assim muito inferior à quebra de 35,6% registada em 2009, mas prevê que a formação bruta de capital fixo venha a crescer 8,5% em 2011. A taxa de inflação, que este ano se deverá situar em 2,7%, aumentará marginalmente para 2,8% em 2011, de acordo com o documento, depois de em 2009 se ter situado em 1,1%. A balança comercial do território manterá a tendência para registar défices cada vez maiores, à medida que a capacidade industrial continuará a ser transferida para a China em busca de custos pub

mais baixos, mas a balança corrente continuará a ser largamente positiva devido aos imensos saldos da balança de serviços. Em termos fiscais, adianta o relatório, a posição de Macau mantém-se muito forte, com o governo a continuar a registar grandes excedentes orçamentais, embora contenha uma advertência contra a dependência cada vez maior do sector do jogo das receitas fiscais que, nos primeiros cinco meses do ano, atingiram 89,1% do total. Ponte para quê?

O relatório do EIU questiona ainda a construção da ponte ZhuhaiMacau-Hong Kong argumentando com documentos recentemente publicados que questionam a sua viabilidade económica, nomeadamente com o facto de o governo de Hong Kong limitar drasticamente o número de veículos com volante

à esquerda que podem entrar no seu território. Macau vai ser responsável por 14,7% do financiamento para a construção da ponte ou 1,98 mil milhões de yuans (cerca de 2,2 mil milhões de patacas). É ainda mencionado o facto do modelo da ponte, com três faixas de cada lado, representar um desperdício económico, nomeadamente devido ao facto da sua amortização demorar 48,6 anos contra apenas

17,4 anos para uma ponte exclusivamente ferroviária e 19,1 anos para uma ponte mista ferroviária/ rodoviária. A Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento (CNRD), principal órgão de planificação da China que coordena o grupo de trabalho para a nova ponte, reavaliou o investimento total em 60 mil milhões de yuans, oito mil milhões a mais do que nas últimas estimativas. A CNRD justificou o agravamento de custos com a subida da inflação e da taxa de juro no país. As primeiras propostas para a construção da ponte datam de 1983 por sugestão do empresário Gordon Wu, mas só passados 20 anos é que o governo chinês aprovou o projecto. O período de exploração da ponte será no mínimo de 30 a 50 anos, de forma a assegurar que o investimento governamental é

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7 recuperado, garantindo ao mesmo tempo receitas razoáveis para um eventual grupo financeiro. Neste momento, o principal factor dissuasor à entrada de investimento privado é o limite que Hong Kong quer impor à entrada de veículos no seu território para travar a poluição atmosférica. Um estudo recente da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento (CNRD) concluiu que Macau retirará apenas 10% dos ganhos económicos, com Hong Kong a ficar com 64% dos benefícios e a província de Guangdong com os restantes 26%. Concorrência

O relatório sobre Macau do Economist Intelligence Unit traz ainda um alerta sobre a concorrência regional no sector do jogo antecipando que os casinos em outros países da região, casos de Singapura, Cambodja e um planeado para a cidade de Ho Chi Minh, Vietname, a ser inaugurado em 2013, vão procurar atrair os grandes jogadores que actualmente frequentam as mesas de Macau.


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sociedade

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Chui Sai On debate LAG com representantes de Macau na APN Chui Sai On teve ontem um encontro com representantes de Macau à Assembleia Popular Nacional e membros da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, onde estes últimos expressaram opiniões e sugestões sobre a elaboração das Linhas de Acção Governativa para o próximo ano. O Chefe do Executivo referiu que se irá iniciar uma auscultação mais ampla dos sectores de Macau e efectuar com seriedade o trabalho de elaboração das LAG de 2011. No encontro, vários representantes da APN e membros da CCPC abordaram questões relacionadas com a habitação, terrenos, educação, desenvolvimento das pequenas e médias empresas, sector laboral, mecanismo de porta-voz de imprensa, regime de auscultação pública, simplificação dos procedimentos administrativos, articulação das LAG’s com o 12º Plano Quinquenal.

Macau | um terreno de experiências demográficas

Dos que vêm e dos que vão

Uma mistura de pontos cardeais, Macau é uma porta aberta onde o mundo se entende. Todos os meses a população triplica com turistas que vão e que vêm, desfrutando das ambivalências do território. Parte deles fica e adopta este lugar como a sua terra. António Falcão

hojemacau@yahoo.com

Macau vive de ciclos, das coisas que se repetem com o tempo. Uns são exactos, como os festivais e os acontecimentos anuais disciplinados no calendário. Mas a maioria não tem particularmente uma época como os tufões, não deixando de ser, no entanto, factores que moldam a malha urbana da cidade um pouco ao jeito da meteorologia. Dessa etiqueta de sentimentos e realidades formam-se alguns dos índices que caracterizam a satisfação dos habitantes que aqui passam os seus dias. Debitam-se por períodos casuais que descrevem vontades, repartindo-se na confiança, no modo como se constrói um conto de fadas, na disputa da felicidade, mas que também pesam no espírito e que dão pontapés no vento transformando-o numa depressão que pode derrubar tudo o que surge à sua frente. De uma maneira geral “acaba por ser um sentimento comum dos que querem ir embora, a falta de algumas coisas por cá”, explica Maria, que já leva cinco anos de Macau. “Coisas materiais e sentimentais no sentido em que se quer fazer mais, realizar sonhos que não têm

lugar aqui porque não há estruturas que o permitam.” Um dos exemplos é estudar. “A escolha é muito limitada e a qualidade do pouco que há é muito questionável”, confessa. “Depois também é a questão espacial”, continua, “a vida de terra pequena é confortável e tal, mas também é muito claustrofóbica.” A ideia séria de abandonar o barco já a assolou várias vezes, mas por enquanto vai ficando, esse facto define o espírito do momento, marcando um pouco o sentido das coisas, caso contrário “já teria ido há algum tempo.” Espera-se, afinal, por uma vida à frente. O território sempre foi um porto de abrigo. Aqui chega gente de todos os cantos do mundo à descoberta, vêm à procura do metal brilhante da fortuna ou de um paraíso imaginário que não existe nos lugares que abandonam. Muitos chegam de férias por duas semanas e acabam por ficar décadas, outros vêm com o plano bem traçado, um contrato no bolso e os objectivos definidos nas intenções de poupança, de viajar, de ser feliz, e sempre com a certeza de qual será o trecho seguinte. Uma minoria é iludida nas

suas expectativas e não chega sequer a aquecer o lugar, abandonando o posto antes que o terreno lhes queime as pestanas. Afinal o pote era outro

Nos últimos anos, num curto espaço de tempo assistimos a dois períodos distintos de atracção e decepção. Deu-se no final de 2007 com o aceno dos primeiros grandes casinos que abriram no COTAI, onde se destaca o cartaz de 3000 suites elaborado pelo Venetian com o seu interior onde o sol brilha todo o dia. Nas perspectivas de expansão os pedidos de residência sucederam-se a um ritmo alvoroçado e o remoinho deu-se num espaço de poucos meses. O ponto alto foi o 2º trimestre de 2008 com um aumento populacional acentuado, só nesse período 20 mil trabalhadores não residentes (TBN) foram autorizados a permanecer no território e mais de 2300 indivíduos foram autorizados a residir aqui, com uma grande percentagem de australianos e americanos a chegarem ao território com armas e bagagens. Três meses depois Macau atingia

o seu ponto mais alto da sua demografia, com 557,3 mil habitantes. A seguir todo o sonho ruía, explicado por alguns, no tsunami financeiro que assolou não só Macau mas o mundo inteiro. Foi um passo maior do que a perna. Daqui resultou uma faixa de carcaças por construir que agora decoram o saudoso istmo, uma linha que ligava dois espaços distintos mas que há muito perdeu os braços de rio das suas margens. Dizer que o território macaense é composto por duas ilhas é hoje uma hipérbole. Os “não residentes” foram à frente, de um mês para o outro 24 mil trabalhadores abandonavam Macau. Projectos como o afamado City Studio, que prometia o estrelato, nem chegou a ver uma estaca erguida no rasto do que mais parece uma cidade fantasma. As luzes do estúdio nunca se irão acender. O primeiro trimestre de 2009 trazia a confirmação, com um saldo positivo de apenas 266 pessoas a terem a permissão de residir no território, o valor mais baixo em oito anos. Os dramas sucederam-se. Histórias de vidas que se largavam de um lado, com casa vendida e móveis empaco-

tados, acabando por atracar num pesadelo, quando deste lado se recebia a encomenda com uma ordem de “sete dias para abandonar o território.” Este é apenas o exemplo de um fluxo demográfico e que se espreme por entre os ciclos temporais. No entretanto, a população estabilizou nas 54 dezenas de milhar. Mais mil menos mil, Macau continua a piscar. De espírito livre

Marta chegou há menos de um mês à procura de um estágio e da subsistência financeira que lhe permita prolongar a sua estadia. Ainda está na “fase de descoberta”. Não tem planos concretos se será por um ou mais anos, “venho por uns tempos”, afirma. Chegou “a apalpar terreno” pelo desejo de voltar a um território que visitou quando era adolescente, construído na memória dos cheiros que reconhecia em Portugal. “Cheira-me a Macau”, dizia de vez em quando aos amigos ao passar numa ruela em Lisboa. O que a atrai aqui é a grande China, a sua cultura, a ideia do Oriente, a vontade de descobrir a língua. Aqui recobra o mundo fechado que

deixou, que já não lhe trazia muitas surpresas, “sabia com o que posso contar.” Agora a recepção é outra, “à luz, às pessoas, ao desconhecido.” A disponibilidade também sofreu a sua mutação, “estou mais atenta”, assegura com a mais natural das descontracções, assim mantém o espírito aberto a tudo aquilo que possa surgir, não abrindo espaço para a desilusão: “eu é que vim à procura!”, por isso nada de fazer grandes filmes, é preciso “dar um passinho de cada vez”, a atitude e o diploma na mão em Arquitectura tratam do resto. Macau, a bem ou a mal, continua a ser um terreno de sonho, todos os dias chegam e partem figuras de todas as cores e feitios. De Portugal, o fluxo tem um processo sentimental e toca-nos mais forte. Há sempre a comparação, o risco da mudança que segue o desejo determinado de regressar. Aqui encontra-se o conforto financeiro, um pequeno idílio que tem sempre uma ponta de ficção quando se olha para o mundo real. É na verdade um “circo de sol” e um “grande prémio”. Neste momento o casal Afonso está a empacotar a vida que preencheu neste ponto do Delta, o passado já começa a ganhar espaço na memória: Macau já era. Os filhos já estão na escola, espalhados por uma cidade maior e mais demorada. Percorreram o território em várias fases das suas vidas, chegando agora ao fim da linha, como eles há muitos que mais tarde ao mais cedo lhes seguirão o exemplo. Essa é a ordem natural das coisas. Uma faixa da população portuguesa de Macau prima pelo desassossego e pelo anseio de partir, vivem nessa eminência de quem fica por períodos contínuos de dois anos, nunca cinco, nunca dez. São dois mais dois mais dois... No final os cabelos brancos acabam por conquistar a sua indecisão. Por outro lado, com o mesmo tom aguerrido, há quem corra por gosto e fique no deleite da noite macaense e de uma vida onde os dias passam sem problemas. Mas talvez façam como a Marta, que vem também para ter “saudades da sua terra”.


Trabalhadores não residentes atingem número recorde desde 2008 O número de trabalhadores importados em Junho aumentou pela primeira vez desde Setembro de 2008. Nesse mês, a quantidade de não residentes a trabalhar em Macau ascendeu aos 72142, um acréscimo de 50% em comparação ao mês anterior. Em Setembro de 2008, foram registados 104.281 trabalhadores “importados”, mas desde essa data o número reduziu-se drasticamente. Recentemente, várias empresas, como a Sands China, queixaram-se das dificuldades em contratar empregados locais e das restrições da nova lei de contratação de estrangeiros.

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sociedade

Prédio encerrado sob suspeita de ser pensão ilegal. Turistas queixam-se

Como saber se é ilegal?

A DST reconhece que ainda há muito trabalho a fazer apesar do fecho de 54 locais suspeitos durante um mês da nova lei de combate às pensões ilegais

Vanessa Amaro

hojemacau@yahoo.com

Foi essa a pergunta que um casal de turistas de Pequim fez quando uma equipa da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) irrompeu-lhe pelo quarto numa pensão, na zona do Nape, e pediu-lhe para deixar o quarto porque estava numa pensão ilegal. “Jamais diria que este hotel não tinha licença. Tem um ar decente e não é nossa culpa que o Governo de Macau não disponibilize informação dos locais ilegais onde não devemos ficar”, queixou-se a mulher, de apelido Chen. Ontem, o grupo de trabalho inter-serviços criada para o combate da acomodação ilegal encerrou um prédio inteiro de três andares, onde os turistas chineses estavam alojados, sob a suspeita de ser um hotel sem licença. O explorador foi detido e confirmou-se que utilizava a Internet para fazer a publicidade dos quartos, efectuar reservas e dar explicações a clientes. O casal chinês foi levado para uma esquadra da PSP, foi interrogado e mais tarde libertado. Os inspectores da DST em con-

junto com a PSP entraram às 10h00 de ontem no prédio suspeito para investigações. Durante a operação descobriram sete quartos que funcionavam pelos três andares como pensão. O casal contou à polícia que fez a reserva do quarto pela Internet, não pagou nada antes e tinha

apenas de “fingir” que fazia parte de uma excursão para ter acesso a um preço mais em conta. Antes da investida, os inspectores já tinham recolhido material e preparado a operação. O local já tinha sido alvo de rondas e buscas de provas, até haver a oportunida-

Circulação monetária sobe 1,3% durante o mês de Julho

Mais dinheiro a circular Houve mais dinheiro à solta em Macau durante o mês de Julho. De acordo com estatísticas da Autoridade Monetária ontem divulgadas, houve um aumento de 1,3% na circulação monetária, enquanto que os depósitos à ordem sofreram uma ligeira retracção de 0,2%. As responsabilidades quase monetárias registaram aumento de 3,2%, atingindo 228,3 mil milhões de patacas. Em relação à estrutura por moedas, a pataca registou um “peso” de 28,1%, cresceu 0,6 pp em relação ao Junho de 2010 e de 0,3 pp verificados em Julho de 2009. Por outro lado, o dólar de Hong Kong registou um “peso” maior de 54,5%. Os depósitos de residentes cresceram 2,8%, passando para 223,2 mil milhões de patacas. Os depósitos em patacas aumentaram 5,4% e os de dólar de Hong Kong 2,1% Os depósitos dos não residentes também elevaram-se 2%, ascendendo a 72,2 mil milhões de patacas. Os depósitos do sector público da actividade bancária

de Macau ascenderam 25,6%, equivale a 18,9 mil milhões de patacas. O total dos depósitos da actividade bancária registou crescimento de 3,7%, atingindo 314,3 mil milhões de patacas comparativamente ao mês anterior. A proporção da pataca e do dólar de Hong Kong nos depósitos em total foi 23,5% e 46,6%, respectivamente. Os empréstimos internos ao sector privado registaram um acréscimo de 4,3%, comparativamente ao mês anterior, atingindo 116,8 mil milhões. Os empréstimos ao exterior diminuíram 3,2% relativamente ao mês anterior, atingindo 108,1 mil milhões de patacas. Como os empréstimos internos ao sector privado aumentaram ao mesmo nível dos depósitos na área bancária de residentes (incluindo os depósitos do sector público), o rácio empréstimo/depósitos de residentes não registou enormes alterações relativamente ao mês anterior, atingindo 48,2%. Já o volume que inclui o rácio empréstimo/ depósitos de não residentes decresceu-se de 2,3 pp, atingindo 71,5%.

de de entrar na manhã de ontem no prédio, para investigações in loco. Após entrarem no local, os inspectores deram conta que o ambiente estava repleto de equipamento hoteleiro. A água e a electricidade foram imediatamente cortadas. A DST reconhece que ainda há muito trabalho a fazer – apesar do fecho de 54 locais suspeitos durante um mês da nova lei de combate às pensões ilegais -, mas reconhece que é difícil divulgar informação prévia dos locais a operar sem licença. Pedidos de licença continuam a entrar e o Governo diz que está a seguir os trâmites normais para aprová-los. No entanto, não havia nenhum registo de pedido do prédio de três andares ontem encerrado.

Golpe de 2 milhões acaba mal

Dois coreanos, que foram apanhados em Hong Kong após roubarem mais de dois milhões de patacas a um cambista em Macau, estão detidos sob a suspeita de lavagem de dinheiro num esquema ambiciosa que passava pela REAM. Park Sunil, de 27 anos, agente imobiliário, e Shin Yuksong, também de 27, desempregado, foram já considerados culpados e vão passar dois anos e oito meses na prisão. An Sin Feng recebeu um telefonema de um terceiro elemento, Park Jinsung, em Macau, a dizer-lhe que gostava de trocar dois milhões de dólares de Hong Kong por moeda coreana. O cambista levou então o equivalente em wons a um quarto de hotel onde estavam Sunil, Junsung e Yuksong. An foi então amarrado, teve os olhos vendados e ficou amordaçado. Numa tentativa de fuga, foi esfaqueado na perna pelo trio. Quando o cambista conseguiu soltar-se, contactou um amigo, Cho Kokheum, que apanhou um helicóptero para Hong Kong e esperou pelos golpistas no terminal marítimo da região vizinha. Assim que avistou Sunil e Yuksong, Cho chamou a polícia. As autoridades encontraram 1,35 milhões de dólares de Hong Kong na maleta que a dupla carregava e deteve-os para inquérito. O terceiro elemento do grupo, Jinsung, foi detido mais tarde, quando tentava passar pela imigração de Macau.

Acidente mortal com motociclista em tribunal

Um condutor, de apelido Chou, vai ter de sentar-se em tribunal para explicar o porquê de não ter respeitado a sinalização e provocado a morte de um motociclista na madrugada do dia 31 de Agosto. O Ministério Público investigou o caso e decidiu avançar para um processo penal, em que o arguido é acusado do crime de homicídio por negligência. Chou conduzia o seu carro no cruzamento da rua Coelho do Amaral com a estrada do Repouso, quando não parou no semáforo vermelho e embateu contra um motociclista que estava a passar. O condutor da moto teve ferimentos graves e acabou por morrer no hospital horas mais tarde. A PSP solicitou a abertura de um inquérito e vem agora o MP concluir que a conduta de Chou terá constituído crime.


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desporto

Vukcevic regressa aos treinos

O Sporting recebe o Olhanense amanhã, em encontro da 4ª jornada do campeonato nacional de futebol, e foi com vista a esse jogo que Paulo Sérgio orientou o treino de ontem. Os trabalhos começaram com cerca de 20 minutos de atraso, após palestra do técnico leonino ainda no balneário. Depois de reunido o plantel no relvado, Paulo Sérgio voltou a falar com os jogadores durante cerca de cinco minutos. Vukcevic, que regressou já do compromisso internacional com a selecção de Montenegro, foi a grande novidade no treino do Sporting esta manhã. Quem regressou também foram os internacionais Rui Patrício, Daniel Carriço, Nuno André Coelho, André Santos, Liedson e Yannick Djaló. Pedro Mendes e Izmailov continuam de fora das opções de Paulo Sérgio devido a lesão.

Capello deixa selecção inglesa

Fabio Capello, seleccionador inglês de futebol, deixará o comando da equipa depois da fase final do Campeonato da Europa de 2012. A confirmação foi dada pelo próprio Capello, dizendo que será “demasiado velho” para continuar a trabalhar. O treinador italiano, de 64 anos, pretende “desfrutar” a vida como reformado. Após o afastamento da Inglaterra nos oitavos de final do Mundial da África do Sul, a continuidade de Fábio Capello foi questionada, mas depois das recentes vitórias perante a Bulgária e a Suíça as dúvidas foram dissipadas.

Carlos Queiroz pisou o risco

Um advogado da área do Desporto diz que Carlos Queiroz cometeu uma infracção ao intervir na convocatória para os jogos de arranque para o Euro 2012, de acordo com a TSF. O advogado Alexandre Mestre entende que Carlos Queiroz não poderia influenciar a convocatória da selecção nacional para os encontros de arranque do apuramento para o Euro 2012, uma vez que já estava suspenso de toda a actividade desportiva a essa altura. Este advogado da área do Desporto considera que houve, por isso, uma infracção por parte do seleccionador nacional, isto se forem tidas em conta as declarações de Agostinho Oliveira que admitiu que a convocatória é da “responsabilidade comum entre o Carlos e eu”.

Jorge Jesus quer Benfica igual ao da época passada

“Somos os melhores!”

O treinador do Benfica, Jorge Jesus, considerou ontem que o Benfica é a melhor equipa da Liga e quer pôr “a máquina” a funcionar como no início da última temporada. Em declarações à Benfica TV, o técnico mostrou-se pouco preocupado com o ciclo que se aproxima, em que vai defrontar o Vitória de Guimarães, o Sporting e o Sporting de Braga, para a Liga, e o Hapoel Telavive e o Schalke 04, para a Liga

dos Campeões. “Não é importante o nome dos adversários. A responsabilidade no Benfica é sempre grande, o Benfica tem sempre de ganhar. Não trabalhamos pelo nome do adversário. Sabemos que somos os melhores, queremos pôr esta máquina a trabalhar como estava do início do ano passado”, afirmou. Em relação ao jogo de hoje com o Vitória de Guimarães, Jorge Jesus espera “um jogo difícil”, frente a

uma equipa que “ambiciona aos cinco primeiros lugares” e que “tem bons jogadores”. “Está a fazer um campeonato dentro da normalidade. Conheço bem o ambiente de Guimarães e sei que vamos encontrar um adversário que nos quer vencer. Temos capacidade para estarmos melhor do que nos últimos jogos e isso dá-nos confiança. O Guimarães vai estar determinado e forte, mas queremos estar mais fortes”, afirmou.

Na terça-feira, o Benfica estreia-se na Liga dos Campeões, frente ao Hapoel Telavive no Estádio da Luz, mas Jorge Jesus diz que “cada competição tem a sua responsabilidade”. “Estamos focalizados e concentrados no jogo com o Guimarães. O grande objectivo é sermos novamente campeões. Estamos concentrados no adversário, sabemos que vamos encontrar muitas dificuldades”, disse.

FIFA quer acabar com os prolongamentos

Ronaldo quer Caso Queiroz resolvido depressa

A FIFA está a ponderar acabar com os prolongamentos, já para o Mundial 2014, e talvez reintroduzir o golo de ouro. Joseph Blatter, presidente do organismo, pediu a dois comités que analisem a questão, com o objectivo de incentivar o jogo ofensivo. “Podíamos ir directamente para os penalties a seguir ao tempo regulamentar, ou reintroduzir a regra do golo de ouro. Vamos ver o que resulta das reuniões dos Comités", afirmou Blatter ao site da FIFA. O dirigente mostrou-se igualmente preocupado com o jogo demasiado defensivo a que se assistiu no início da primeira

Cristiano Ronaldo tentou não comentar o assunto selecção, especialmente a questão do seleccionador, num encontro com jornalistas, mas sempre disse que Paulo Bento tem competência para assumir o cargo. Ele ou outro qualquer. " "Porque não? Não vejo porque não. Ele ou outro qualquer". O avançado do Real Madrid recordou que teve oportunidade de conviver com Paulo Bento quando o agora técnico era jogador do Sporting. De qualquer modo, Ronaldo referiu que falar de um eventual substituto de Carlos Queiroz não é importante. "Espero é que [o caso Queiroz] se resolva o mais rápido possível, porque é uma situação complicada, para os jogadores e para a selecção", disse em Madrid, citado pelo jornal "O Jogo". O jogador português falou ainda do mau início na campanha de qualificação para o Euro 2012. "Começámos mal a qualificação, com um empate e uma derrota, o que é frustrante para o que tínhamos planeado.Aqualificação vai ser mais difícil, mas é possível. Agora temos de ganhar quase todos os jogos, ou todos, para nos qualificarmos. Está mais complicado, mas é possível".

Golo de ouro pode estar de regresso

fase do Mundial 2010 e pretende estudar formas de incentivar o jogo mais positivo. “Nos primeiros jogos da fase de grupos, na África do Sul, vimos algumas equipas que só queriam evitar a derrota, que jogavam para um empate desde o início. Temos de encontrar formas de encorajar futebol aberto em torneios como o Mundial, com as equipas a jogar para ganhar", defende. Serão o Comité de Futebol e o Comité Técnico e de Desenvolvimento a analisar a situação, em reuniões a 18 de Outubro, devendo apresentar as conclusões durante a reunião do Comité Executivo da FIFA a 28 e 29 de Outubro.

Paulo Bento é uma solução entre muitas


António Simões ataca Laurentino Dias António Simões, consultor técnico nacional, foi uma das testemunhas ouvidas pelo Conselho de Disciplina da FPF no âmbito do processo que foi instaurado a Carlos Queiroz, na sequência de declarações prestadas ao “Expresso”. O antigo jogador diz que “chegou o momento de as pessoas do futebol tomarem conta do futebol” e atribui responsabilidades: “Alguém começou isto e esse alguém foi o secretário de Estado. Nunca vi o poder político envolver-se tanto no futebol como hoje.“ Será que a Federação sai ferida de morte deste processo? “Para falar na FPF é preciso falar no secretário de Estado. Estamos a desvirtuar a origem do processo. Quando se pergunta se Queiroz tem condições para continuar temos é de perguntar se o secretário de Estado tem condições para continuar. Eu acho que não tem. Porque o caso Queiroz é o caso Laurentino Dias.“

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Encarnados ofereceram cargo no clube ao avançado angolano

Mantorras pendura as botas Hoje, Pedro Mantorras deverá confirmar o adeus ao futebol profissional. Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, confirmou na quarta-feira, em entrevista à SIC, que haverá uma reunião com o avançado de 28 anos para decidir o seu futuro. De acordo com o Diário de Notícias, os encarnados já lhe ofereceram um cargo para continuar ligado ao clube. “O Pedro é o exemplo de sofrimento, de dedicação, de querer, um exemplo para todos. Agora cabe ao Benfica zelar por ele. Sexta-feira [hoje] vai haver uma reunião para decidir o seu futuro. É um activo importante do clube e o Benfica saberá respeitá-lo. Pelo que temos falado o Pedro poderá abandonar o futebol”, disse. Ao que o DN apurou, contudo, o angolano ainda

não tem uma decisão tomada sobre a oferta que Luís Filipe Vieira já lhe fez, até porque admite regressar a Angola, o que é o desejo da sua família. Amanhã, contudo, deverá pendurar as chuteiras, após anos a lutar contra um problema no joelho. Questão de Mantorras à parte, Vieira falou também do início de temporada, recusando atribuir culpas às exibições de Roberto. “Estão a ser injustos com ele. Ainda ontem se viu o que aconteceu com o guarda-redes da selecção. Um dia são bons e no outro dia não. Se esteve para sair? De certeza que não conhecem o Jorge Jesus. Ele nunca faria isso. As pessoas andam a brincar, não sabem quem é o Roberto. É criticado pelos milhões que custou”, referiu, respondendo depois “àqueles que torcem o nariz”

aos 8,5 milhões gastos na sua contratação: “O Benfica não tem offshores, não paga por cheques, paga por transferência bancária, podem ver para onde o dinheiro foi.”. Apito marado

Vieira preferiu apontar o dedos às arbitragens. “Se os critérios fossem iguais

para todos tínhamos mais pontos. Contra a Académica perdemos por causa da arbitragem”, disse. Sobre FC Porto e Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira não quis falar - “não quero baixar de nível”- confirmando, contudo, que almoçou com o seu homólogo do Sporting, José Eduardo Bettencourt, para

falar sobre “orçamentos das modalidades, não falámos sobre futebol profissional”. Luís Filipe Vieira acusou Laurentino Dias de pretender afastar Carlos Queiroz do cargo de seleccionador nacional e voltou a colocarse ao lado do treinador na polémica em curso. Luís Filipe Vieira, presi-

dente do Benfica, afirmou ontem, quarta-feira, em entrevista à SIC, que Laurentino Dias tem o nítido objectivo de afastar Carlos Queiroz do cargo de seleccionador nacional, acrescentando que o secretário de Estado da Juventude e Desporto deve responder perante o país, caso Portugal falhe o apuramento para o Europeu. “Se não formos ao Euro 2012, certas pessoas têm de ser responsabilizadas. Laurentino Dias é que inventou e traçou este caminho. Ele que assuma as responsabilidades”, referiu o dirigente do clube da Luz, acrescentando: “Os objectivos eram, nitidamente, afastar Carlos Queiroz. Foi tudo programado e, se Portugal tivesse ido à final do Mundial 2010, nada disto acontecia. É evidente que foi o secretário de Estado”. Vieira repetiu o apoio a Queiroz no caso da Covilhã. “Às sete ou oito horas, não se podem fazer controlos antidoping. Se fosse comigo, teria feito os possíveis para que nem entrassem”.

Equipa não vai perder pontos

Butragueno pede mais tempo para treinador português

A Federação Internacional do Automóvel (FIA) poupou a Ferrari a nova condenação no caso das ordens da equipa, confirmando a multa de 100 mil dólares à equipa italiana. Reunida na quarta-feira em Conselho Mundial, a FIA optou por não aplicar qualquer penalização pontual aos pilotos ou à equipa nas classificações. O organismo presidido pelo francês Jean Todt confirmou a multa de 100 mil dólares americanos, aplicada logo após o caso pelos comissários. Esta informação está a ser avançada pelo diário desportivo italiano “Gazzetta dello Sport”, que cita o delegado italiano à FIA Angelo Sticchi Damiani. O responsável disse que a decisão da FIA foi tomada por unanimidade. Segundo vários meios, a FIA estará inclusivamente a considerar a erradicação da regra que proíbe as ordens de equipa. Em causa está a ordem, dada pela Ferrari via rádio, para que Felipe Massa deixasse o companheiro de equipa Fernando Alonso ultrapassá-lo durante o Grande Prémio da Alemanha. O piloto espanhol acabaria por vencer a corrida, seguido pelo brasileiro.

O director de Relações Internacionais do Real Madrid, Emílio Butragueno, pediu ontem aos adeptos para terem “calma” e darem “algum tempo” ao português José Mourinho, porque “é um excelente treinador”. “Mourinho apenas teve poucos dias seguidos para trabalhar, apesar de estar há 100 dias como técnico do Real Madrid”, comentou Butragueno, durante a inauguração de um centro de formação de jovens futebolistas “merengue”. A antiga estrela do Real Madrid explicou que Mourinho apenas contou com todo o plantel em “sete dias”. “Não pode ter uma continuidade no trabalho devido às lesões e ao calendário e é preciso dar-lhe algum tempo, com calma. É um excelente treinador e de certeza que surgirão resultados”, explicou. Butragueno lembrou que Mourinho não perde em casa

Fia perdoa à Ferrari Com esta decisão da FIA, a Ferrari consegue uma primeira vitória no fimde-semana do Grande Prémio de Itália, em Monza, a corrida que a Ferrari corre em casa. A Ferrari é actualmente terceira classificada no Mundial de construtores, com 250 pontos, menos 80 que a líder Red Bull. Fernando Alonso é quinto no Mundial de pilotos, seguido pelo companheiro de equipa Felipe Massa.

Mourinho é o maior

há oito anos e sustentou: “Vieram muitos jogadores novos, um novo treinador e é normal que a equipa precise de tempo para adaptar-se”. Os elogios não se ficaram por aqui e Butragueno aproveitou para pedir “tempo” aos adeptos. “Não é preocupante. É uma realidade e é preciso viver com as realidades. Estamos tranquilos porque

conhecemos a capacidade de trabalho de Mourinho e seu potencial em retirar o máximo do grupo de trabalho. A única coisa que precisa é de tempo”, acrescentou. José Mourinho estreou-se na Liga espanhola ao comando do Real Madrid com um empate sem golos no terreno do Real Maiorca. No sábado, recebe no Estádio Santiago Bernabéu o Osassuna.


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cultura

Museu do Oriente de Lisboa mostra tradições despor

O Museu do Oriente vai dar a conhecer de 17 de Setembro até 30 de Janeiro do próximo ano várias m ténis e o hóquei em campo. Intitulada “Desporto em Macau, 1930-1970″, a exposição tem entrada liv integra o acervo fotográfico do Centro de Documentação António Alçada Baptista. As fotografias são bem viva, ainda hoje, sobretudo no Grande Prémio de Macau, nos Jogos da Ásia Oriental, nos Jogos d atletas atingiram a glória”, pode ler-se, numa nota divulgada.

Pavilhão do México

O suave declive do terreno

Tiago Quadros* hojemacau@yahoo.com

Com uma área de 4.000 m2, o pavilhão do México, da autoria do atelier de arquitectura SLOT, surge enquanto elemento gerador de espaço público, convidando as pessoas a perderem-se num bosque de papagaios de papel. O espaço físico do pavilhão está dividido em três níveis, representando desse modo três momentos distintos nas vidas das cidades mexicanas. O passado está representado na cave do pavilhão, o México actual no piso de entrada e, finalmente, o futuro da nação sul-americana surge representado sobre a plataforma da encosta. Todavia, o pavilhão do México gira em torno da grande praça. E este é o momento a partir do qual a proposta se transcende enquanto representação de um país, passando a constituir-se como espaço público global. Ao parecer tocar na terra mais do que ter fundações e no subtil acerto construtivo entre planos que “jogam”, o pavilhão do México quer ser daquele sítio, quer pertencer. Ao criar uma praça, espaço de eventuais ressonâncias nostálgicas – assentamento de um chão – a representa-

ção mexicana ganha carácter humanista. O pavilhão do México não só não ocupa o centro como é uma imagem desviada de si mesma: tem centro no ar, desencosta-se. Haverá um certo sentido simbólico nesta elevação – evocação de um amor à natureza – mas a motivação do colectivo SLOT é a permanente experimentação sobre o “tipo” tradicional, contra uma lógica “pavilhonar” de edifícios paralelos. O sistema compositivo no pavilhão do México corresponde a peças compostas em série mas constituídas por mudanças ou variações regulamentadas. Os papagaios policromáticos são as partes de um todo que suscitam a variabilidade na composição. É uma espécie de divisão, ou subdivisão das partes que assim participam de uma totalidade, ou de um conjunto. O sistema compositivo no pavilhão do México faz-se permanecer do princípio ao fim. Nesse sentido, o sistema compositivo mais não é do que uma espécie de quadrícula ou de retícula. Um conjunto de quadrados configura uma disciplina de organização, relacional, que em muito facilita a procura de uma ordem objectiva. Desse modo, será possível a trans-

lação, ou metamorfose, entre o plano de rampa – enquanto suporte – e os papagaios de papel – enquanto composição propriamente dita ou imagem escultórica. O colectivo SLOT parece fazer a síntese perfeita entre arquitectura e escultura. Não é a arquitectura em função da escultura, nem a escultura

em função da arquitectura. É a arquitectura e a escultura em função recíproca, de um objecto novo. O atelier de arquitectura SLOT está sedeado na cidade do México e é composto por Juan Carlos Vidals, Moritz Melchert, Israel Alvarez, Mariano Tello e Edgar Ramirez. Este grupo recusa a identi-

ficação com uma qualquer corrente ou ideologia que possa limitar o seu campo de intervenção. O colectivo SLOT procura soluções para problemas de desenho, tendo sempre em conta o contexto social e histórico da intervenção, bem como aspectos funcionais e estéticos. O atelier SLOT realizou uma série de

projectos internacionais que incluem propostas como a Casa Comemorativa de João Paulo II em Cracóvia, na Polónia e o edifício do Tribunal de Polícia em Madrid, Espanha. O atelier mexicano tem propostas em locais como a Alemanha, o Médio Oriente e o México. O elemento que melhor identifica o pavilhão do México na Exposição Universal de Xangai é o seu volume, definido a partir de um plano de rampa – gesto que pretende homenagear os espaços públicos urbanos – e, ao mesmo tempo, a profusão de papagaios – elemento simbólico que reúne as culturas mexicana e chinesa. O pavilhão do México lembra uma arquitectura motivada pelos “lugares”, pelas “convenções”, pela “sociabilidade”. Isto é, a proposta do colectivo Slot reinscreve a história dos “traçados”, da “rua”, dos “quarteirões”. Esta perspectiva “culturista” não se reconhece na “mediatização” e “objectualização” da arquitectura patente no recinto da Exposição Universal de Xangai. Na verdade, dir-se-ia que aquilo que está inscrito no discurso do pavilhão do México, quando alude ao “espaço público” ou defende o “projecto do chão”, é o modelo da “cidade-quarteirão”. A sua presença é contra os edifícios em altura, em defesa da “malha” e do “traçado”. Todos os nomes que invoca para garantir a “sociabilidade” do projecto, confluem no modelo da “cidade-quarteirão”, criam uma amenidade contextual. É também o desejo de “pertencer” – ao recinto, às pessoas – que motiva esta arquitectura. Num olhar mais aproximado, a edificação é o talude, o suave declive do terreno. *Arquitecto. Mestre em Cor na Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa


rtivas de Macau

modalidades desportivas tradicionais em Macau, entre elas, o futebol, o vre e é composta por um conjunto de fotografias, a preto e branco, que o representativas de “uma memória desportiva de Macau, que continua da Lusofonia e nos Jogos Asiáticos em recinto Coberto, em que tantos

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Fotógrafos da China continental ofuscam Hong Kong

De partida da realidade É uma exposição que abre mesmo aqui ao lado em Hong Kong e para a qual vale a pena apanhar o jetfoil par uma observação pormenorizada. Intitulada “A Departure from Reality III: The Tender Truth”, a mostra apresenta trinta peças de arte fotográfica, em grande formato, a partir de dez séries distintas por dois dos fotógrafos mais renomados da China continental, são eles Maleonn e Jiang Pengyi. As obras vão estar patentes nas galerias Blindspot em Hong Kong Maleonn é um dos artistas mais famosos da China na fotografia conceptual. As suas imagens são como que inseridas no cenário de um filme, construindo um enredo que mistura ambientes urbanos com elementos recriados em estúdio, o seu trabalho anterior como realizador de anúncios comerciais incutiulhe essa fibra cinematográfica, de qualidade rara, que se encena tanto em espaços interiores como exteriores. Desse modo a sua figura participa frequentemente na sua arte, incorporando o uso de máscaras faciais e partes do corpo, • Maleonn | Nascido em Xangai, recebeu uma formação em arte na Universidade de Xangai e na Huashan Shanghai Art School. As suas obras foram expostas exaustivamente em todo o mundo. Vive e trabalha em Xangai. • Jiang Pengyi | Nascido na província de Hunan, formou-se em Pequim, no Institute of Art & Design. Tem participado em diversas exposições e ganhou especial atenção do público com a sua série “All Back to Dust”. Está actualmente sediado em Pequim.

Mais informações em: www.blindspotgallery.com

formando imagens que se organizam em cena representando um mundo caprichoso, com a manipulação total do espaço e da matéria. Numa das séries, “What Love Is”, os objectos dessa fantasia incluem chamas, de fogo, borboletas, flores, luzes decorativas e figuras recortadas em papel num palco em miniatura com cortinas vermelhas, tentando formular nessa amalgama sem sentido uma explicação para o “Amor”, como se a sua essência fosse apenas um sonho ou um jogo. Jiang Pengyi mudou-se da sua cidade natal, menos desenvolvida, para a rápida evolução de Pequim, quando ainda era um adolescente. O choque cultural produziu um profundo sentimento de

alienação em Jiang, no meio da movimentada cidade com a sua urbanização excessiva. Daí nasceu grande parte da sua inspiração, com as demolições e reconstruções a tornarem-se os temas recorrentes na sua arte. Na série “Unregistered City” utiliza a manipulação digital para colocar novos arranha-céus na vida real entre pequenos nichos demolidos durante a expansão da cidade. Jiang tem a intenção pragmática de diminuir a presença do ser humano nas suas obras, mas a maioria das imagens estão cheias de vestígios de actividade humana. É uma exposição a não perder. A Blindspot encontrase na Aberdeen Street mesmo no coração da cidade de Hong Kong, em Central.

Raquel Tavares promove o fado na China A fadista Raquel Tavares vai actuar hoje na Expo 2010, em Xangai, no primeiro de três espectáculos para promover a candidatura do fado a património imaterial da humanidade. O espectáculo - o primeiro da fadista na Ásia - decorrerá na Praça Europa, um espaço com capacidade para cerca de 1200 espectadores, onde já actuou o grupo Amália Hoje. Raquel Tavares voltará ao mesmo palco no dia seguinte e no domingo actuará no pavilhão de Portugal, um edifício de 2000 metros quadrados, revestido de cortiça. Mais de três milhões de pessoas já visitaram o pavilhão, um recorde na história da participação portuguesa em exposições universais. Mariza e António Chainho também já actuaram na Expo 2010, em Junho passado. A candidatura do fado a património imaterial da Humanidade foi formalizada junto da UNESCO há cerca de três meses.

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ideias l u z de i n ver n o Boi Luxo

Barbet Schroeder

General Idi Amin Dada. Autoportrait, 1974

As a minister, governor, high-ranking peoples, and the people of the country, they must love their lider. This is the point number one. Uma voz longa e escura emerge das pro-

fundezas deste filme, algo que não vemos e porventura muitos não sentirão, algo que está para lá das intenções do retratista e do retratado e que vem da terra e do sol e do chão que escalda e dos animais - os elefantes, os crocodilos e os hipopótamos. Ao longo do rio e ao longo dos anos e ao longo da história, uma história lenta e incompreensível, a história de um olhar diferente do nosso, absurdo e ruidoso, de línguas diferentes, múltiplas. Assistimos à exposição pessoal de um presidente de uma república africana, excolónia britânica, independente desde 1962, o Uganda. Assistimos à exposição da sua visão do mundo, uma visão longínqua e composta de cores berrantes e de ruídos estranhos à nossa sensibilidade, um quadro composto de peças sonhadas. Depois de um sonho do Senhor Amin inicia-se a Guerra Económica, uma reafricanização do país que começa com a expulsão dos cerca de 80.000 asiáticos que dominavam a economia do país. Ao tempo da realização do filme, cerca de dois anos após o sonho do general, a guerra económica estava longe de ter sido ganha. Expulsões de asiáticos e judeus e assassinatos marcam o início da Era Dada, um gordo louco com um uso próprio da língua do ex-colonizador. The whole worlds are looking at General Amin. Este é um daqueles documentários em que a equipa de filmagem pouco interfere

no produto final, antes permitindo a discorrência do Senhor Presidente, exímio (nas suas palavras) pugilista, corredor de sprint, jogador de râguebi, atirador e nadador. É um documentário de discurso, o discurso do retratado, com pequenos acrescentos da autoria de Schroeder. Não sei bem porquê mas o Uganda do General Amin, nos anos 70, faz-me lembrar as Festas do Colete Encarnado, em Vila Franca de Xira, na província portuguesa do Ribatejo. Também há fardas e cavalos e muitas coisas que eu não entendo. Também há fanfarras e uma sensação geral de absurdo, calor e muito pó. Em Vila Franca de Xira não havia crocodilos mas pode também não passar tudo de uma impressão minha. You see, lion,… lion, if you don’t disturb lion it can’t do any harm. And also I like very much elephants because it is a sign of liberty, freedom, and it moves freely, it wants a big space, this is elephant, explicanos Amin num passeio pela natureza antes de nos elucidar sobre o seu magno papel enquanto líder revolucionário africano. O mundo árabe não escapa ao seu sonho pacifista e unificador: I came so close to the Arab…because Arab found that I am most influencing lider in Africa. O General não especifica quem é o árabe mas eu acho que é um que vi várias vezes, mais uma vez, nas Festas do Colete Encarnado, em Vila Franca de Xira, sentado num café. A sua influência estende-se a outras zonas do globo e, tal como

nas festas ribatejanas, há um sabor universal por trás de cada gesto. Numa conferência na Argélia, o General, adoentado mas muito medalhado, vê-se obrigado a discursar perante uma multidão que o reclama: I gave very good speech, including Castro (Fidel) broke relationship with Israel after my speech. Fortemente anti Israel, expulsador de judeus do país, não deixa de lembrar que tem um relacionamento íntimo com Dayan (Moshe) : He has been giving me dinner, lunch in his house. If I go to Israel, I used to stay with Dayan. He brings air force, band playing for me. Às tantas somos informados, decerto com a parcimónia necessária a um assunto que requer algum sigilo de Estado, que forças militares ugandesas se estão a preparar para atacar Israel, uma força militar a que a presença de soldados franceses, japoneses e vietnamitas vem trazer um aspecto internacional. Surpreendentemente parece haver também Marinha (O Uganda não tem costa, é um país totalmente interior) : Marine. Frogmen I think is very good - diz o gordo a rir. De seguida é feita uma simulação no terreno da tomada dos Montes Golan, em Israel. O regimento mecanizado, 2 tanques (Shermans da segunda grande guerra ?), dois jipes e uns homenzinhos dispersos a disparar para o ar estão prestes a tomar os cobiçados montes. Chamados pelo comandante do regimento mecanizado (os dois Shermans e

os dois jipes) aparecem as forças aéreas. Não se vêem os pára-quedistas, talvez por razões de segredo militar, mas vê-se um helicóptero. Passam dois aviões (Mig’s ?). Esta é a parte que se parece mais com as Festas do Colete Encarnado. A parte dedicada a um Conselho de Ministros é mais sombria. O Presidente expõe vários pontos de vista e não parece satisfeito, particulamente com o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros que, incidentalmente, é encontrado morto no Rio Nilo duas semanas depois da realização do conselho - somos informados pelos autores do documentário em um de vários esclarecimentos que estes fazem ao longo da sua realização. Um dos pontos tem de ver com a educação e a posição das mulheres na sociedade ugandesa: You must not make the womens of Uganda very weak. They must get up quickly in the morning, at about 5.00. (…) we are think we are the first in our country, in Africa today, who have got many woman managers than other countries. We have got how many ? Manager woman ? - 4 responde alguém do conselho a medo. Depois, tudo o que lhe diz respeito deixa de interessar, os 18 filhos, as 3 mulheres repudiadas por não serem suficientemente revolucionárias, a inferioridade de Kissinger, etc. Dá-se neste filme uma perda, um imenso cansaço, entrase num vácuo e há uma incredibilidade aflita. Idi Amin esteve no poder durante quase uma década.


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15 Guia-te pela grande luz do alto, usa a sua iluminação em baixo.

Capítulo 116 Lao Tzu disse: o puro vazio é a claridade do céu, a simplicidade é a norma de governo. Desfaz-te do sabor, abandona a sabedoria, exclui a habilidade, rejeita o dever humano, elimina a racionalização, deita fora a sofisticação e proíbe o artifício; então, os inteligentes e os grosseiros serão iguais na Via. Sê calmo e serás equânime; sê vazio e o caminho se abrirá. A virtude perfeita é simples e para tudo tem espaço. O caminho do vazio e da calma é eterno como o céu e a terra; a sua subtileza espiritual preenche todos os lugares, mas sem nada controlar. Os doze meses atravessam seu ciclo e depois recomeçam. Os poderes dos elementos suplantam-se uns aos outros, mas o seu curso é interdependente. O frio extremo magoa os seres, mas não pode não haver frio; o calor extremo magoa os seres, mas não pode não haver calor. Assim, o aceitável e o inaceitável são ambos aceitáveis; por esse motivo nada há de inaceitável para a Grande Via. A aceitabilidade é uma questão de lógica: se não persegues o que é aceitável quando o vês e não foges do inaceitável quando o vês, a aceitabilidade e a inaceitabilidade são uma para a outra como esquerda e direita, como exterior e interior. Aquilo que é essencial em todos os eventos deve começar do um; o tempo é a sua ordem. Sem nunca ter mudado desde a antiguidade ao presente, a isto se chama princípio natural. Guia-te pela grande luz do alto, usa a sua iluminação em baixo. A Via produz miríades de coisas, governa o yin e yang, os transforma nas quatro estações, os divide em cinco elementos, cada um encontrando seu lugar. Indo e vindo com o tempo, as leis têm constantes. Quando chega ao impotente em baixo, o caminho do alto não destrói – e todos os cidadãos pensam em uníssono. A Via do céu e da terra cumpre-se em simplicidade, é atingida sem busca. É por isso que a sabemos livre de artificialidade e benéfica.

Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho

O texto conhecido por Wen Tzu, ou Wen Zi, tem por subtítulo a expressão “A Compreensão dos Mistérios”. Este subtítulo honorífico teve origem na renascença taoista da Dinastia Tang, embora o texto fosse conhecido e estudado desde pelo menos quatro a três séculos antes da era comum. O Wen Tzu terá sido compilado por um discípulo de Lao Tzu, sendo muito do seu conteúdo atribuído ao próprio Lao Tzu. O historiador Su Ma Qian (145-90 a.C.) dá nota destes factos nos seus “Registos do Grande Historiador” compostos durante a predominantemente confucionista Dinastia Han. A obra parece consistir de um destilar do corpus central da sabedoria Taoista constituído pelo Tao Te Qing, pelo Chuang Tzu e pelo Huainanzi. Para esta versão portuguesa foi utilizada a primeira e, até à data, única tradução inglesa do texto, da autoria do Professor Thomas Cleary, publicada em Taoist Classics, Volume I, Shambala, Boston 2003. Foi ainda utilizada uma versão do texto chinês editada por Shiung Duen Sheng e publicada online em www.gutenberg.org.


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Ideias

16 per s pecti va s Jorge Rodrigues Simão

Alterações climáticas (2)

“Planet Earth has become the concern of everyone. The activities of conservation biologists are now of interest to economists and political scientists who wish to find out whether certain environmental problems are best solved by regulations or market forces. Business people, government officials, and politicians have become involved in science”.

A

Encyclopedia of Global Warming and Climate Change (Vol.1 – 3) S. George Philander

Cimeira de Copenhaga levou as empresas a fazerem uma profunda reflexão, porque mais que uma conferência sob os auspícios da ONU deveria ter sido definido o quadro político de actuação para os próximos anos, no combate às alterações climáticas. Os países deviam ter assumido as suas obrigações, porque não se tratava de distribuição de fatias de poder na hegemonia do mundo, nem de porções de mercados que satisfizessem outras procuras, mas da salvação do planeta. Se dessa forma fosse entendido, ter-se-ia chegado a um acordo, assente no princípio das responsabilidades partilhadas, mas distintas em função das características económicas e sociais de cada país, mesmo na consideração de uma perspectiva de cooperação mundial, o mais alargada possível, entre todos os países, no respeito pelo princípio da equidade. A Cimeira de Copenhaga, não deve ser apenas recordada por uma agenda, onde constavam actividades de suavização das alterações climáticas, mas também por aspectos como o ajustamento ao fenómeno, ou os escoadouros de carbono, que deviam ter sido co-promotores das decisões, dado o desafio que o mundo enfrenta. A COP15, pretendia ser um ponto de retorno, na actuação contra as alterações climáticas, situando as emissões de dióxido de carbono (CO2), em pelo menos 20 por cento, abaixo das do sector eléctrico europeu até 2020, e as empresas independentemente, de quais fossem as conclusões da cimeira, deveriam continuar a eleger tecnologias limpas de produção de energia. Estabelecer-se-ia, assim, um alvo real. Para conseguir este desiderato, as empresas deviam alicerçar os seus investimentos futuros, na promoção de energias não emissoras de gases de efeito de estufa, nas tecnologias de captura e sequestro de carbono, o que significa estarem completamente alinhadas, com o pensamento evolutivo, na criação e desenvolvimento de um novo modelo energético global, assente nas baixas emissões de carbono, e apoiado em fontes limpas e eficazes. A Cimeira de Copenhaga poderia ter constituído uma oportunidade única para que

os governos estabelecessem os alicerces de uma nova economia verde, estimulassem os investimentos ambientais e transformassem o modelo energético num robusto instrumento de recuperação económica, reactivação do investimento e criação de emprego. Apesar de serem muitas e complexas as dificuldades que se sabia, antecipadamente, que a cimeira teria de vencer, para criar objectivos vinculantes, que passariam por alcançar um acordo político, que não conseguido, não paralisa todavia, a ideia da transformação profunda e irreversível do modelo energético mundial. As alterações climáticas têm efeitos de dimensão global, como inundações em algumas regiões do planeta, períodos de seca em outras, escassez de alimentos, poluição e perda de recursos e património de toda a natureza, incluindo as catástrofes humanas, que afectam a totalidade da população mundial.

serem entidades comprometidas com a responsabilidade social, devem seguir de perto as negociações e, em qualquer caso, devemos todos empenharmos na redução de emissões de CO2. A luta contra as alterações climáticas é um compromisso que deve ser assumido de forma global, por todos os países, sem exclusões, para se realizar efectivamente uma redução real, das emissões de gases de efeito de estufa, a nível mundial. É necessário que, pelo menos, os países e bloco regional mais desenvolvidos, como os Estados Unidos, Japão e União Europeia (UE), bem como os grandes países emergentes, como a China, Índia e Brasil, ratifiquem um acordo, por forma a evitar que os investimentos necessários que as empresas terão de realizar, se transformem numa desvantagem competitiva para os países que respeitem o tratado, e numa vantagem para os que não o cumpram.

A Cimeira de Copenhaga poderia ter constituído uma oportunidade única para que os governos estabelecessem os alicerces de uma nova economia verde, estimulassem os investimentos ambientais e transformassem o modelo energético num robusto instrumento de recuperação económica, reactivação do investimento e criação de emprego. Por tal razão, é necessário alcançar urgentemente um acordo internacional, que neutralize ou diminua as causas que as originam. A expectativa, era que da cimeira, nascesse esse comprometimento sólido de redução dos níveis de CO2, emitidos para a atmosfera, principalmente, dos países desenvolvidos, por serem responsáveis por cerca de 80 por cento das emissões da era industrial; dos Estados Unidos no concernente ao consumismo, e da China como segunda economia mundial e emergente, por serem os países que lideram as emissões mundiais do gás de efeito de estufa. Esperava-se que os líderes mundiais assumissem as suas responsabilidades, no combate contra as alterações climáticas, e alcançassem o referido compromisso ambicioso, imparcial e vinculante para salvar o planeta que implicava a criação de limites de emissões de gases de efeito de estufa, num prazo curto, seguido do correspondente plano de acção. Face a um tema tão sério, as palavras não chegam, mas são a única esperança, para se começar a acreditar nos líderes políticos dos principais países emissores, após os sucessivos fracassos. Não é de crer que os acordos existentes e futuros, tenham um impacto directo sobre a maioria das empresas, mas pelo facto de

As empresa no quadro do seu compromisso para com a cimeira, deviam ter-se adaptado à prestação de informação ambiental nas suas páginas electrónicas, podendo os usuários conhecer as suas principais iniciativas, face às alterações climáticas, incluindo espaços relacionados com a celebração da próxima cimeira, conselhos ambientais, respostas a perguntas frequentes sobre o problema das alterações climáticas, ou informação sobre as energias limpas. Os departamentos nacionais de protecção ambiental, têm um vasto campo de actuação de cooperação com as empresas, no sentido de pôr em execução tais práticas relevantes, em termos de sensibilização e educação ambiental, bem como de protecção ao consumidor e de prevenção de saúde pública. A Cimeira de Copenhaga, foi precedida por um congresso científico organizado pela Universidade de Copenhaga, intitulado de “Climate Change: Global Risks, Challenges and Decisions”, em Março de 2009. Estiveram representados cento e noventa e três países, sendo a maior conferência da ONU, sobre alterações climáticas. A reunião foi presidida pela ex-ministra dinamarquesa do clima e energia, e actual comissária europeia para o clima, até 16 de De-

zembro, quando se demitiu, sendo substituída pelo primeiro-ministro dinamarquês. A Cimeira de Copenhaga, considerada de polémica, não atingiu minimamente os planos da agenda proposta. O presidente brasileiro destacou-se, assumindo uma posição crítica e confessou a sua irritação perante os temas debatidos. Considerada por unanimidade como um decepcionante fracasso, pois todas as matérias que tinham vindo a ser negociadas desde a Conferência de Bali, em 2007, tinham por objectivo, levar os Estados Unidos a firmar um acordo vinculante, bem como os restantes países emergentes. Tratou-se de total desacordo, sendo encerrada, pelos representantes dos países, sem terem alcançado unanimidade, em qualquer matéria. O texto do documento pré-aprovado de conclusão da cimeira, por cerca de trinta países desenvolvidos, apresentado pelo presidente americano, foi dado como deficiente, por países como a Venezuela, Bolívia, Cuba, Sudão e o reino de Tuvalu, o quarto mais pequeno país do mundo, reconhecido pela ONU, em virtude de constar o limite de aumento de temperatura global a 2.ºC, e a criação de um fundo, contendo 100 mil milhões de dólares, destinados anualmente, a partir de 2020, ao combate às alterações climáticas, mas não definindo limites sobre as reduções de emissões de gases de efeito estufa. O documento indica metas apresentadas voluntariamente pela UE de redução de emissão de gases de efeito de estufa, de 20 por cento, e pelos Estados Unidos, de 17 por cento. Os Estados Unidos foram o principal obstáculo a um acordo na Cimeira de Copenhaga. Sabia-se antecipadamente pela trajectória feita, quão difícil ou impossível, seria chegar a um acordo global, detalhado, que estabelecesse o máximo de aumento da temperatura e da redução de emissões. Foi um grande desperdício de tempo, pois os negociadores discutiram muito, sem se concentrarem num acordo sólido, sendo tudo realizado à última hora, ao invés de terem negociado, com maior antecedência as matérias mais complexas. A maior lição que se retira da Cimeira de Copenhaga é a necessidade de maior liderança entre os Chefes de Estado. O que irá acontecer na décima sexta Conferência das Partes (COP 16) da Convenção da ONU sobreAlterações Climáticas, que se realizará, entre 29 de Novembro e 10 de Dezembro, em Cancún, dependerá do tipo de pressão exercida pela opinião pública sobre os governantes, no sentido de serem mais activos, para não se assistir a novo desacordo e à sua vergonhosa saída, antes de ter havido uma decisão final, comprometendo a sobrevivência do planeta e do ser humano.


António Falcão | bloomland.cn

perfil

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José Moura Pinto | pasteleiro

O outro lado doce da vida Vanessa Amaro

hojemacau@yahoo.com

De pequeno, ajudava a mãe a fazer os bolos para os quatro irmãos. Quando cresceu e quis deixar a sua Loriga natal, na zona da Serra da Estrela, em Portugal, rumo a Lisboa pensou que poderia fazer do seu passatempo de infância pela pastelaria profissão. E assim foi. José Moura Pinto, de 40 anos, chegou a Macau há ano e meio sem nunca ter imaginado antes pôr cá os pés, e pensou logo em ir-se embora por não falar uma palavra de inglês e não conseguir emprego a fazer os seus pães e pastéis. A sua aventura em Macau – e a sua primeira saída para o estrangeiro - começou três meses antes da partida. A mulher, professora de Geografia, estava a ler os jornais no café, quando passou os olhos por um anúncio a pedir docentes portugueses para leccionarem cá. Comentou com José o que tinha visto e a primeira reacção foi: “Por que não? Manda já o currículo”, lembra o pasteleiro. A candidatura foi feita, a resposta positiva surgiu um mês depois, mas plantaramse dúvidas: “O que vamos fazer para Macau?”, questionava a mulher, a ponderar se valeria a pena uma mudança tão brusca com uma criança de sete meses ao colo. José Moura Pinto insistia que sim e imaginava que chegaria e encontraria um emprego na primeira semana. Nada disso aconteceu. Não sabia que era preciso “um tal de BIR” para existir cá e teve de casar à pressa para conseguir uma autorização de residência por conta da mulher. As burocracias prolongaram-se por cinco meses, tempo suficiente para José repensar na mudança e preparar as malas para partir. “Estava num sítio completamente estranho, não conhecia ninguém, não falava inglês, não arranjava emprego. Ficava o dia trancado em casa a cuidar da minha filha e já não aguentava estar sem fazer nada. Disse à minha mulher que ia embora.” No entanto, as suas tentativas para arranjar trabalho começaram a render frutos, por receber telefonemas dos restaurantes dos hotéis Wynn e Grand Lisboa. “O pro-

blema é que nem sequer conseguia entender o que me falavam ao telefone. O meu inglês era uma desgraça e eles desligaram e nunca mais voltaram a ligar.” Um amigo da mulher tinha ouvido dizer que o hotel Hyatt estava a recrutar pasteleiros e José Moura Pinto candidatou-se, já como último recurso. Estava decidido, ou arranjava empregou ou voltava a Lisboa. O chef francês que o entrevistou por sorte tinha passado uma temporada no México e falava espanhol. “Ele perguntava em espanhol e eu respondia em português. Em inglês não me safava.” Conseguiu a oportunidade e lá voltou a fazer os seus bolos. “Senti-me, na verdade, um principiante. Tive de reaprender tudo, a não usar açúcar, a limitar o sal, a usar novos ingredientes... E, ainda por cima, todos os colegas são chineses e a nossa comunicação era basicamente por mímica. Foram tempos difíceis.” A adaptação desde então seguiu à velocidade de cruzeiro, o seu paladar acabou por moldar-se a menos gulodices – “até já emagreci uns quilinhos por não comer bolos tão açucarados”, diz a rir-se – e redescobriu a sua profissão. “Em Portugal, trabalhava num hipermercado e a minha especialidade era a decoração dos bolos. Aqui, faço de tudo, especialmente pastelaria francesa, e trabalho com massas que nunca tinha visto. Estava habituado a usar massa pronta, os recheios de ovos, por exemplo, vinham em latas. Agora tenho de fazer tudo à mão. É uma grande trabalheira, mas confesso que o resultado é bem melhor.” O inglês deu alguns avanços – “já consigo entender o que as pessoas dizem, embora responder... está quieto” -, os colegas chineses viraram amigos e os planos de ficar em Macau estão cada vez mais certos. “Portugal está muito mal e eu adoro a vida cá. Voltar para quê? Sinto saudades da família, é verdade, mas estou a convencê-la a mudar para cá. Tenho feito grande publicidade de Macau. Eu daqui já não saio.”


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entrevista

Sajjad, filho de Sakineh Mohammadi Ashtiani

“O verdadeiro assassino está Durante vários dias – desde 15 de Agosto, o dia em que foi lançada uma petição em vários jornais de todo o mundo – a revista francesa “La Règle du Jeu” tentou contactar Sajjad, filho de Sakineh Mohammadi Ashtiani, a iraniana que se encontra no corredor da morte após ter sido condenada à pena capital no Irão pelo crime de adultério. Com a mãe presa e incontactável, ninguém melhor do que ele pode falar sobre a acusação de cumplicidade no assassinato do homem que era, afinal de contas, o seu próprio pai. Graças à rede de bloggers iranianos e activistas humanitários foi possível encontrar Sajjad. Aconversa que se segue foi realizada ao telefone, entre Tabriz (Irão) e Paris. Do lado de cá Bernard-Henry Lévy, o escritor e filósofo francês, uma das personalidades por trás da petição que tenta libertar Sakineh. Este é um documento excepcional e uma história extremamente comovente, publicada no “Libération”, na “Elle”, no “La Règle du Jeu”, no “The Huffington Post” e outros jornais europeus. Antes de mais, onde é que se encontra? Em Tabriz, a cidade onde a minha mãe está

encarcerada. Estou na rua, a falar consigo a partir de um telemóvel. Acha que podemos falar sem sermos incomodados? Sim, penso que sim. Mudo de número com muita frequência, para tentar evitar que o telefone esteja sob escuta. Vamos tentar. Veremos como corre. Como é que as autoridades o estão a tratar? Sente-se pressionado? Há tentativas de intimidação? Sim, claro. Recebi chamadas dos serviços de inteligência. Duas convocações, na verdade. Mas recusei-me a ir. Até ver, ainda não fui preso. Não sabemos nada sobre si, Sajjad. Quem é e o que faz? Tenho 22 anos. Sou o mais velho dos filhos de Sakineh. Trabalho das 6h da manhã às 23h como colector de bilhetes nos autocarros da cidade. Quanto ao resto, todos os meus pensamentos, cada pedaço dos meus desejos, estão centrados num único propósito: salvar a minha mãe. Exactamente. Em que ponto

“Em qualquer caso, vocês são tudo o que temos. Não há mais ninguém a dar-nos uma mão. Por exemplo, sei que o advogado escreveu uma carta às autoridades a solicitar um debate com alguém no poder. Não importa quem. Se ele receber uma resposta, será graças a vocês.”

estamos? Como vê a situação actualmente? Tive os meus momentos de desespero. Escrevi às autoridades. Muitas vezes. Mas a resposta foi sempre o silêncio total. Nos últimos dias, com a campanha que vocês lançaram, fiquei um pouco mais esperançoso. A sua mãe está informada, na sua cela, desta onda mundial de solidariedade e preocupação? Sim. Ela foi informada durante as raras visitas que lhe concederam. Ela ficou grata por isso. E agradeceu-vos. Está a falar no pretérito. Porquê? Quando foi que a visitou pela última vez? Pouco antes da sua alegada “confissão” televisiva. Até então, víamo-nos uma vez por semana, a cada quinta-feira. Desde então, nunca mais. Nem a minha irmã, nem eu, nem os advogados dela. Esta manhã,

como é quinta-feira, fui à prisão outra vez. Mas o guarda disseme: “De acordo com a decisão das autoridades, a senhora Mohammadi Ashtiani foi proibida de ter qualquer contacto.” O que pode dizer-nos das condições de detenção? São muito duras. Ela é submetida a interrogatórios sem fim pela inteligência iraniana. Eles perguntam-lhe, por exemplo, como é que o retrato dela está a ser exibido em todo o mundo e quem, na opinião dela, terá lançado essa campanha internacional. Em que tipo de estado psicológico é que ela se encontra? Ela toma uma série de medicamentos. Anti-depressivos. E reza. Está numa cela individual ou com outras mulheres? Todas as mulheres condenadas na cidade de Tabriz estão no mesmo sector da prisão. São pequenas celas, algumas a abarrotar com 15 ou 20 mulheres. Mas pode ser que, desde essa aparição na televisão, eles a tenham transferido para uma cela individual. Repito: não sei mais nada, não tenho mais notícias. Essa aparição na televisão teve uma grande repercussão aqui. Era mesmo ela? Sim, claro que era ela. Mas... Mas? Mas ela foi torturada previa-

mente. Houtan Kian, o advogado, foi quem ouviu isso das suas colegas de cela. As autoridades precisavam da sua confissão para poderem reabrir o caso do assassinato do meu pai. As autoridade dizem que o caso nunca chegou a estar encerrado. Isso não é verdade. Eles alegam isso para que seja mais fácil matá-la. Na verdade, o ficheiro sobre o caso – estranha coincidência – acaba de ser extraviado. Que quer dizer? Anteontem, quando fui ao tribunal pedir uma cópia, disseram-me que já não o tinham. Mandaram-me para outro piso, onde também não o conseguiram encontrar. Discuti isso com o advogado, Houtan Kian, que tem andado a pesquisar por conta própria e que me disse que também não estava em Oskou, a cidade da província de onde vieram os meus pais. Tudo isso é mau. Pode ser parte de um plano da República Islâmica para mu-

• Esta é uma luta que continua até ao fim, pela qual o Hoje Macau também clama. Por pouco que possa parecer assine a petição, esta poderá ser a sua última esperança: freesakineh.org


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com Bernard-Henry Lévy *

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em liberdade”

dar o ficheiro do caso e acrescentar acusações que justificariam a execução. Pelo segundo caso, então. Não por adultério, mas por homicídio. Exacto. Tanto mais porque há ainda mais duas coisas. Uma semana antes de o ficheiro se ter

ele acabou de apresentar um ficheiro de 35 páginas ao Conselho Supremo do país. Como o nosso advogado anterior, Mostafaei, que teve de exilar-se num país estrangeiro, ele tem feito um bom trabalho. Está a par das coisas que Mostafaei disse, citado pela revista alemã “Der Spiegel”, esta semana, que parecem deixar algumas dúvidas sobre a possível cumplicidade da sua mãe no assassinato do seu pai? Sim, claro. Mas Mostafaei não teve acesso ao ficheiro da morte do meu pai. Por isso a sua opinião é irrelevante, as suas declarações não devem ser tidas em conta. Então porque foi que ele as fez? Por causa da pressão que o governo iraniano está a fazer sobre a sua família. Ele é um bom advogado. Deixe-me fazer uma pergunta mais directa. Você é, afinal de contas, filho de um (o seu pai, que foi assassinado) e do outro (a sua mãe, que é acusada de cumplicidade nesse homicídio).

“O juiz da sexta secção confirmou a sentença do apedrejamento, sem razão, sem provas, e por isso, ilegalmente. A República Islâmica tem medo de ser ridicularizada se o dossiê do caso for parar às mãos de um estrangeiro.” perdido, a casa de Houtan Kian foi saqueada e, nessa invasão, o seu computador portátil e a pasta com o resumo do ficheiro foram roubados. E ontem, de novo, os serviços de inteligência invadiram a sua casa e levaram um esboço do processo relativo ao assassinato do meu pai, o último que estava na nossa posse. Foi o próprio Houtan Kian quem me acabou de informar, por SMS. Houtan Kian, vocês escolheram-no ou foi indigitado pelo tribunal? Foi o tribunal. Mas eu encontrome com ele. Falo com ele ao telefone. Sei, por exemplo, que

Com toda a honestidade, tem a certeza de que a acusação é infundada? Com toda a honestidade, sim. Mil vezes sim. É uma mentira descarada. Somada a uma incrível injustiça. A minha mãe, que não fez nada, nada, arrisca-se a ser lapidada. Enquanto o verdadeiro assassino, Taheri, sai em liberdade. Porque vocês o perdoaram. Sim. Ele é pai de uma menina de três anos, que chorou muitas lágrimas à nossa frente. Nós, a minha irmã e eu, não quisemos ser a causa da sua execução. É verdade que estava lá quando

as 99 chicotadas foram infligidas à sua mãe? É totalmente verdade. Isso aconteceu em Oskou, na província de Tabriz, numa câmara do tribunal. Eu estava devastado pelas minhas emoções. Senti um grande ódio e chorei muito. Eu tinha apenas 16 anos. Voltemos à campanha de mobilização. Acha que ela pode mexer com as autoridades? Não sei. Mas em qualquer caso, vocês são tudo o que temos. Não há mais ninguém a dar-nos uma mão. Por exemplo, sei que o advogado, Houtan Kian, escreveu uma carta às autoridades a solicitar um debate com alguém no poder. Não importa quem. Se ele receber uma resposta, será graças a vocês. Então não concorda com os que dizem que esta campanha irrita as autoridades e pode ser contraproducente? Claro que não. É verdade que o Irão está irritado. Mas o Irão é obrigado a ouvir as nossas queixas. As autoridades não responderam a nenhuma das nossas cartas. Se a nossa voz tiver uma oportunidade de ser ouvida, será, repito, graças a vocês. Que mais podemos fazer? Ponham o dobro da pressão sobre a República Islâmica. Sim, mas como? Apelando, por exemplo, ao Brasil e à Turquia, que têm privilegiado as relações com a República Islâmica. Está a par da declaração do Presidente da República Francesa, dizendo que a sua mãe é responsabilidade da França? Claro. É extraordinário. Mas tem de continuar. Porque, senão, se vocês aliviarem a pressão, a minha mãe será executada. Há grandes advogados franceses e internacionais prontos para ir em auxílio do senhor Kian. Será inútil esses advogados virem para o Irão. Mina Ahadi, que como vocês não tem poupado esforços para salvar a minha mãe, pediu à ONU que fornecesse advogados. Mas o Irão recusou categoricamente. Ahmadinejad

sabe que se esses advogados viessem para o Irão, os juízes e o país perderiam a face. O juiz da sexta secção confirmou a sentença do apedrejamento, sem razão, sem provas, e por isso, ilegalmente. A República Islâmica tem medo de ser ridicularizada se o dossiê do caso for parar às mãos de um estrangeiro. Apesar dessa emoção global, pode a sua mãe ainda vir a ser realmente apedrejada até à morte? Naturalmente. Mesmo assim, as autoridades iranianas suspenderam a execução da sentença. Suspensa não quer dizer cancelada. É verdade que uma das autoridades prisionais veio, no sábado à noite, dizer à sua mãe que o fim estava próximo e que era tempo de ela começar a pensar nos seus últimos desejos? Sim, é verdade. Ele disse-lhe que a execução estava marcada para a manhã seguinte, domingo, às 6h. Houtan Kian soube disso

graças às colegas de cela de Sakineh. Tratava-se do conselheiro de todos os prisioneiros condenados a lapidação. Então, enquanto estamos a falar, tudo é possível, tudo deve ser temido? Sim. De um lado, temos pessoas que não desejam por nada perder a face e que querem apedrejar a minha mãe. E do outro estão pessoas como o senhor Nobkaht, assistente do Judiciário na região de Tabriz, que pediu a Teerão para mudar a sentença de lapidação para enforcamento. Mas será que isso é muito melhor? Não, claro que não. Eu imploro-vos: não desistam! É em vocês, uma vez mais, que encontramos apoio. Se não estivessem aí, a minha mãe já estaria morta. * Para além de filósofo e escritor, BHL é director de teatro e cineasta, empresário e editorialista de revistas e jornais e uma personalidade conhecida na cena pública francesa e internacional


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o Hoje [r]ecomenda

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[f]utilidades Su doku [ ] Cruzadas

HORIZONTAIS: 1 – Avançam sobre o inimigo com o objectivo de o destruir; espécie de cegonha pequena. 2 – Que goza de saúde; composição poética de assunto elevado e destinada ao canto. 3 – Fluido gasoso, transparente e invisível que constitui a atmosfera; esteiro de rio ou braço de mar, geralmente navegável e que se ramifica pela terra; insípida. 4 – Entoação, canto; que ou aquele que dá. 5 – Diploma emanado de entidade competente em que se fazem concessões e nomeações, se deferem pretensões e mercês ou se aprovam estatutos, e que tem por fundamento disposições legais existentes; porção de remédio que se toma de cada vez. 6 – Tanto; grande caixa com tampa plana. 7 – Contr. da prep. a com o art. def. o; pequeno barco de recreio ou de formas finas e adelgaçadas. 8 – Sumo fervido de alguns frutos para conserva; coloração da face. 9 – Que não contém nada ou só contém ar; sólido de base circular ou elíptica, terminando em ponta. 10 – Desprezível, gracejo (pop.). 11 – Encolerizar, tornar pior. VERTICAIS: 1 – Dar a forma de batata a; assuma expressão alegre, 2 – Parte mais grossa da farinha; conhecer ou perceber pelo sentido da vista. 3 – Aquelas; insignificância; corda de esparto para alar ou arrastar certas redes, fixadas nos calções. 4 – Instrumento provido de puas com que se carda; ócio, descanso. 5 – Transferira para outro dia; o mesmo que lírio. 6 – Geme (gír.); seco, estéril. 7 – Faz passar por um filtro; nome da letra grega que corresponde ao P latino. 8 – Que se não pode evitar; apetite sexual dos animais em determinados períodos. 9 – Árvore do tipo das acecáceas; repercutir. 10 – Linguagem de um povo, considerada nos seus caracteres especiais; porção de água no mar ou de um rio que se eleva e se desloca. 11 – Campo de cereais; cobrir de areia.

Soluções do problema HORIZONTAIS: ATACAM. IBIS. 2-SADIO. ODE. 3-AR. RIA. FRIA. 4-TOADA. DADOR. 5-ALVARA. TOMA. 6-TÃO. ARCA. 7-AO IOLE. 8-CALDA. COR. 9-VAZIO. CONE. 10-RELES. PIADA. 11-IRAR. PIORAR. VERTICAIS: 1-ABATATAR. RI. 2-ROLÃO. VER. 3-AS. AVO. CALA. 4-CARDA. LAZER. 5-ADIAR. LIS. 6-MIA. ARIDO. 7-COA. PI. 8-FATAL. CIO. 9-BORDO. COAR. 10-IDIOMA. ONDA. 11-SEARA. AREAR.

REGRAS |

Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição solução do problema do dia anterior

«Surfing The Void», Klaxons

Enquanto figuras tutelares de um movimento que não durou mais do que uma estação, o nu-rave, aos Klaxons colocou-se o desafio de abandonar esse nicho estilístico e procurar outras paragens. Talvez por aí se explique o parto demorado de «Surfing The Void». À imagem de nomes tão díspares como os Happy Mondays ou os Guns N`Roses, que levaram séculos a concluir álbuns pouco ou nada amados, também nos Klaxons se nota um desejo de ruptura.

[ Te l e ] v i s ã o

MGM CHANNEL 43 12:00 Home is Where the Hart Is 13:30 Electric Dreams 15:15 Charlie Chan and the Curse of the Dragon Queen 17:00 Hackers 18:45 For a Few Dollars More 21:00 Triumph of the Spirit 23:15 Lambada

TDM 13:00 TDM News - Repetição 13:30 Jornal das 24h 14:30 RTPi DIRECTO 19:30 Olhos de Água 20:28 Acontecimentos Históricos 20:35 Telejornal 21:00 Jornal da Tarde da RTPi 22:00 Novela: O Clone 22:58 Acontecimentos Históricos 23:00 TDM News 23:30 10 Things I Hate About You (10 Coisas que Odeio em Ti) 01:10 Telejornal (Repetição) 01:40 RTPi DIRECTO INFORMAÇÃO TDM

DISCOVERY CHANNEL 50 13:00 Mythbusters - Alaska Special 14:00 Fight Quest- Usa 15:00 Howe & Howe Tech - Subterranean Rover Blues 16:00 Mad About English 17:00 Dirty Jobs Vomit Island Workers 18:00 Factory Made 19:00 Everything You Need To Know - Volcanoes 20:00 Mythbusters 21:00 Inside 22:00 I Almost Got Away With It - Got A Gun Made Of Toilet Paper 23:00 Crimes That Shook The World 00:00 Inside

RTPi 82 14:00 Telejornal Madeira 14:30 Eurotwitt 15:00 Magazine Venezuela Contacto 15:30 Concelhos de Portugal 16:00 Notícias 17:00 As Ilhas De Darwin 17:30 Aquele Querido Mês De Agosto 20:00 Jornal Da Tarde 21:15 Nobre Povo 21:45 Magazine Venezuela Contacto 22:15 Verão Total TVB PEARL 83 06:00 Bloomberg Rewind 07:30 NBC Nightly News 08:00 CCTV News – LIVE 08:30 ETV 10:30 Inside the Stock Exchange 11:00 Market Update 11:30 Inside the Stock Exchange 11:32 Market Update 12:00 Inside the Stock Exchange 12:02 Market Update 12:30 Inside the Stock Exchange 12:35 Market Update 13:00 CCTV News - LIVE 14:00 Market Update 14:40 Inside the Stock Exchange 14:43 Market Update 15:58 Inside the Stock Exchange 16:00 What’s Your News? 16:30 Dennis and Gnasher 17:00 Escape From Scorpion Island 17:30 Ben 10 Alien Force 18:00 Putonghua News 18:10 Putonghua Financial Bulletin 18:15 Putonghua Weather Report 18:20 Financial Report 18:30 Transworld Sport 19:00 Football Asia 19:30 News At Seven-Thirty 19:50 Weather Report 19:55 Earth Live 20:00 Money Magazine 20:30 Feasts 21:30 Weekend Blockbuster: Alfie 22:30 Marketplace 22:35 Weekend Blockbuster: Alfie 23:45 World Market Update 23:50 News Roundup 00:05 Earth Live 00:10 Dolce Vita 00:35 Top Gear 01:35 A House Of Consumers 02:00 Bloomberg Television 05:00 TVBS News 05:30 CCTV News ESPN 30 13:00 PGA Europro Tour 15:00 MLB Regular Season 2010 Los Angeles Dodgers vs. Houston Astros 18:00 WNBA Action 2010 18:30 (Delay) Baseball Tonight International 19:00 The Immortals 19:30 (LIVE) Sportscenter Asia 20:00 Football Asia 20:30 16 Nations - Road To Qatar 21:00 Simply The Best 21:30 The Immortals 22:00 Sportscenter Asia 22:30 Football Asia 23:00 16 Nations - Road To Qatar 23:30 Sportscenter Asia STAR SPORTS 31 13:00 Ace 2010 13:30 Game 14:00 Guinness World Series Of Pool 2010 H/L 15:00 FIM Mx3 Motocross World C’ship 2010 - Highlights 15:30 FIA Wtcc 2010 - Highlights 16:00 Hot Water 2010/11 17:00 Le Mans Series 2010 18:00 Ace 2010

www.macaucabletv.com

NATIONAL GEOGRAPHIC CHANNEL 51 13:00 Secrets Of The Tang Treasure Ship 14:00 Busted In Bali 15:00 Monster Fish - Sawfish 16:00 Super Carrier: Airport At Sea 17:00 Hooked: Monsters of The Deep 18:00 Super Factories - BMW 19:00 Miami Mystery 20:00 Secrets Of The Tang Treasure Ship 21:00 Nat Geo Amazing! 22:00 Mystery 360 - Bigfoot 23:00 Hooked: Monsters of The Deep 00:00 Miami Mystery

(MCTV 63) Star World 16.00 ugly betty

18:30 World Sport 2010 19:00 AFC Champions League 2010 Seongnam Ilhwa vs. Gamba Osaka 21:00 Football Asia 21:30 (LIVE) Score Tonight 22:00 Sbk Superbike World Championship 2010 - Highlights 22:30 Intercontinental Rally Challenge 2010 - Magazine 23:00 MotoGP World Championship 2010 - Highlights GP Premio Di San Marino

HISTORY CHANNEL 54 13:00 The Chimp’s Politics 14:00 Animal Planet Showcase 15:00 In Search Of The Man-Eating Python 16:00 Equator - Battles For The Light 17:00 Animal Battlegrounds 18:00 Escape to Chimp Eden 19:00 The Most Extreme - Dieters 20:00 The Sardines Run 21:00 Borneo’s Pygmy Elephants 22:00 Equator - Rivers Of The Sun 23:00 Animal Battlegrounds 00:00 The Sardines Run STAR WORLD 63 13:00 Everybody Loves Raymond 13:30 Scrubs 14:00 Canada’s Next Top Model 15:00 90210 16:00 Ugly Betty 17:00 Canada’s Next Top Model 18:00 How I Met Your Mother 18:30 American Idol 19:30 Rules Of Engagement 20:00 Cougar Town 20:30 Accidentally On Purpose 21:00 Stylista 22:00 How I Met Your Mother 22:30 American Idol 23:30 Cougar Town 00:00 America’s Next Top Model

STAR MOVIES 40 12:00 A Walk In The Clouds 13:50 Ninja 15:30 Behind Enemy Lines: Colombia 17:10 The Secret Life Of Bees 19:10 Home Alone 21:00 Slumdog Millionaire 23:10 Night At The Museum HBO 41 13:00 Step Brothers 14:35 Cannonball Run Ii 16:20 3 Ninjas: High Noon At Mega Mountain 17:50 The Story Of Us 19:25 I Spy 21:00 Rush Hour 2 22:30 Crocodile Hunter: Collision Course 00:00 No.1 Ladies’ Detective Agency 00:55 Deep Blue Sea CINEMAX 42 12:00 Bulletproof 13:45 Chameleon 15:45 Krull 18:00 Play Misty For Me 20:00 Double Impact 21:45 Epad On Max 76 22:00 Single White Female 2 23:25 Tmz 319 23:45 Force 10 From Navarone

Informação Macau Cable TV


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[O]bjectiva ISRAEL LEAL

21 Raio [X]

No tempo dos olhares com pérolas dentro Sofia Pinto Correia Melo

O jardim aquático de Jason de Caíres que vai ser submergido no mar junto a Cancun, no México

Para[ ]comer • Pérola 3/F, Sands, Largo de Monte Carlo, no.203 8983 82222888 3352 http://www.sands.com.mo • VINHA Alm Dr. Carlos d' Assumpção 393 r/c AC 2875 2599vinha@macau.ctm.net http://www.vinha.com.mo • FAT SIU LAU (SINCE 1903) Av.Dr.Sun Yat-Sen,Edf.Vista Magnifica Court Rua de Felicidade No.64, R/C Macau 2857 3585fsl1903@macau.ctm.net http://www.fatsiulau.com.mo

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Aquamarine Thai Café (Taipa) Jardim Nova Taipa Bl. 21 Tel. 2883 0010

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• Sawasdee Thai Av Sid Pais 43AE 2857 1963 • Aquamarine Thai Café (Tp) Jardm Nova Taipa bl 21 2883 0010 • Bangkok Pochana Ferrª Amaral 31 2856 1419 • Kruatheque Henrique Macedo 11-13 2835 3555 • Restaurante Thai Abreu Nunes 27E 2855 2255

• Afonso III Central 11A 2858 6272

• LA COMEDIE CHEZ VOUS Ed Zhu Kuan S/N G (Oppsite Cultural Centre) 2875 2021

• Bar Oporto Tv Praia 17 2859 4643 • Maria’s Comida Portuguesa Patane 8A 2823 3221

• LE BISTROT (Tp) Nova Taipa Garden Block 27, G/F 2884 37392884 3994

• Restaurante Pinocchio (Tp) Regedor 181-185 2882 7128 • Canal dos Patos Parque Municipal Sun Yat Seng 2822 8166

• CHURRASCÃO Nova Taipa Garden, Block 27 G/F, Taipa 2884 37392884 3994 • Yin Alª Dr Carlos d’Assumpção 33 2872 2735

shanghai Cineteatro | PUB

Sala 1 shanghai [C] Um filme de: Mikael Håfström Com: John Cusack, Chow Yun-fat, Gong Li 14.30, 16.30, 21.30 SALA 2 The stool pigeon [C] Um filme de: Dante Lam Com: Nick Cheun, Nicholas Tse, Lun-mei Guey 19.15

• Fogo Samba VENETIAN-Grand Canal Shoppes Apt 2412 2882 8499

[ ] Cinema going the distance [c] Um filme de: Nanette Burstein Com: Justin Long, Drew Barrymore 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 Sala 3 Step Up 3 [b] Um filme de: Jon Chu, Com: Rick Malambri, Adam G. Sevani, Sharni Vinson 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Tirou a luva e estendeu-me a mão. Por um momento, pela primeira vez, a sua hesitação antes de o fazer. Até à vista. Quando levantei o meu olhar e o cruzei com o do vulto na minha frente, pareceume ver pérolas. Mas não. Foi mesmo o reflexo do dia que acabava. Da espada. Nas sombras que desciam nas árvores em redor. No céu de nuvens que avançavam respeitosas. Nos animais que emudeciam por um momento, pela primeira vez. Mais à frente no caminho que bifurcava. Ou no caminho que bifurcava mais à frente, não saberia dizer bem. Na noite que chegava breve. No semicerrar dos olhos. Na mão ainda estendida. De costas direitas, sobre o cavalo, parecia frágil, apesar de o saber corajoso na jornada e nas lutas que travara a seu lado. Habituara-me à sua companhia, na mesa das refeições, no fossado, nos cantos menos sóbrios, nas veladas e nas violentas investidas. Apesar de nada ou muito pouco saber das palavras e dos contornos que o construiam. Seguro e silencioso. Um bravo. Com a mesma brusquidão que ma estendera, já a enluvava novamente e segurava as rédeas. Até à vista, disse também. Ainda levantou os dedos da outra mão ao chapéu de abas largas à laia de cumprimento. E novamente pérolas. Dentes brancos nas sombras das árvores em redor. Vira-o sangrar das suas feridas mais do que uma vez e ele das minhas. Vira-o levantar a espada para parar uma outra a mim dirigida, mais de uma vez. O rosto duro, a destreza no gesto. Tinham-se lido muito de perto, tinha havido zangas, intolerâncias, mas o seu rosto mantinha a altivez muda que lhe conhecera desde sempre. O olhar pleno de confiança e sabedoria. O passo preciso. E já só o via a afastar-se, sem se voltar. Mais poeira na estrada, o céu a esvoaçar na capa. De pérolas. No reflexo da espada. Até à vista. Até sempre. Até um dia no caminho que bifurca. A minha mão vazia continuava posada na sela sem luva. Lá mais à frente. A outra mão guardava-a ainda fantasma. Uma mão longa, expressiva, forte. No som dos cascos que se afastavam no reflexo da poeira. Na capa que esvoaçava no céu. Uma mão imensa e esguia.

[Sofia terá sido arqueogenealogista no tempo dos olhares com pérolas dentro]

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22

n

opinião

Superfalência, superfrugalidade, superpotência?

Thomas Friedman in i

os últimos anos tenho dito muitas vezes aos meus amigos europeus: “Com que então não gostavam de um mundo com excesso de poderio dos EUA? Vejam se gostam de um com falta de poder dos EUA. É que, não tarda, está aí.” Os EUA passaram da situação de supremos vencedores da Segunda Guerra Mundial, com armas e manteiga para todos, para a de serem uma das duas superpotências da Guerra Fria, depois para a de país indispensável quando ganharam a Guerra Fria, e, finalmente, para a de superpotência frugal de hoje. É essa a nossa nova alcunha. Os pacifistas dos EUA já não têm de se preocupar com guerras discricionárias. Já não nos podemos dar ao luxo de invadir a ilha de Granada. Desde o dealbar da Grande Recessão de 2008, ficou claro que a natureza da liderança, política ou empresarial, estava a mudar nos EUA. Durante a maior parte do pós-Segunda Guerra Mundial, ser um dirigente significava, essencialmente, dar coisas às pessoas. Hoje, e

ca r t o o n por Steff

pelo menos durante a próxima década, ser um dirigente nos EUA vai traduzir-se essencialmente em tirar coisas às pessoas. É incontornável que os dirigentes, forçados que serão a tirar mais coisas aos eleitores, procurem poupar dinheiro em política e guerras estrangeiras. As políticas externa e de defesa há muito que são disso indicadores. Muitas outras coisas vão sofrer cortes primeiro, mas eles já vêm aí: já se ouvem os avisos do secretário da Defesa, Robert Gates. E um estatuto de EUA superpotência frugal não deixará de ter repercussões em todo o mundo. “The Frugal Superpower:America’’s Global Leadership in a Cash-Strapped Era” é, aliás, o título de um livro de grande actualidade escrito pelo meu tutor e amigo Michael Mandelbaum, perito de política da Universidade Johns Hopkins. “Em 2008”, sublinha, “todas as formas de subsídios governamentais, como pensões de reforma e cuidados de saúde (incluindo o Medicaid), representavam cerca de 4% do produto total dos EUA.” Aos níveis actuais, e dado que a geração do baby boom vai começar em breve a receber pensões da Segurança Social e do Medicare, em 2050 “esses subsídios representarão 18% de toda a produção dos EUA”. Isso, a somar aos custos decorrentes das tábuas de salvação para nos safarmos desta recessão,

“vai transformar profundamente a vida pública nos EUA e, consequentemente, a política externa do país”. Durante as últimas sete décadas, tanto nos negócios estrangeiros como na política

Nenhum país está pronto a substituir os EUA, pelo que a paz e a prosperidade internacionais têm mais a perder do que quando a GrãBretanha deixou de poder assegurar a governança mundial interna, a pedra-de-toque era “mais”, afirma Mandelbaum. “O mote que vai reger a política estrangeira na segunda década do século xxi e seguintes vai ser ‘’menos’’.” Quando a única superpotência do mundo fica soterrada numa dívida desta dimensão - consigo própria e para com outros países toda a gente lhe vai sentir os efeitos. Como? É

aniversário do 11 de setembro

difícil prever. O que sei é que a característica mais importante distintiva da política externa dos EUA ao longo do último século foi a escala com que as acções diplomática, naval, aérea e terrestre dos EUAforneceram serviços públicos globais -liberdade nos mares, comércio livre, contenção de riscos e contraterrorismo - que beneficiaram muitos outros além de nós próprios. O poderio dos EUA tem sido a força-chave na manutenção da estabilidade mundial nos últimos 70 anos. Esse papel não vai desaparecer já, mas irá quase de certeza diminuir. Outras grandes potências já se retraíram antes: o Reino Unido, por exemplo. Mas, como Mandelbaum nota, “Quando a Grã-Bretanha deixou de poder assegurar a governança mundial, os EUA avançaram. Não há nenhum país pronto a substituir os EUA, pelo que a paz e a prosperidade internacionais têm mais a perder agora.” Afinal a Europa é rica, mas timorata. A República Popular da China é rica em termos nacionais, mas ainda é miserável numa perspectiva per capita e por isso sentir-se-á forçada a manter-se voltada para dentro ou, quando muito, para a sua região do globo. A Rússia, embriagada com o petróleo, pode provocar sarilhos, mas não projectar poder. “Consequentemente, o mundo será um lugar mais desordeiro e perigoso”, prevê Mandelbaum. Como minimizar esta tendência? Mandelbaum propõe três coisas: em primeiro lugar, precisamos de voltar a um caminho sustentável de crescimento económico e industrialização, quaisquer que sejam os inerentes sacrifícios, trabalho árduo e consenso político; em segundo lugar, precisamos de definir prioridades. Desfrutámos de um século em que poderíamos ter tido, em termos de política externa, tanto o que é vital como o que é desejável. Por exemplo, com níveis infinitos de homens e de dinheiro, poderíamos alcançar êxito no Afeganistão. Mas será isso vital? Por último, precisamos de escorar a nossa balança de pagamentos e de enfraquecer a dos inimigos, e a melhor maneira de o fazermos de uma assentada é instaurar um imposto muito mais alto sobre a gasolina. Os EUA estão prestes a aprender uma lição muito dura: é possível contrair empréstimos para sustentar a prosperidade a curto prazo, mas não para sustentar o poderio geopolítico a longo prazo. Isso exige um motor económico verdadeiro, tangível e em crescimento. E para nós o curto prazo esgotou-se. Houve tempos em que reflectir seriamente sobre a política externa dos EUA não implicava reflectir seriamente sobre política económica. Esses tempos já passaram. Uns EUA empenhados até às orelhas não poderão empenhar-se a nível planetário, pelo menos de maneira a que alguém os leve a sério.


acredita

Há gente que não crendo nos dogmas da Igreja nos jornais como se fossem a Bíblia. Padre Manuel teixeira [1912-2003]

sexta-feira 10.9.2010 www.hojemacau.com

23 edi tor i a l Carlos Morais José

O ministro, o comissário e a tristeza O número 2 do governo português, Teixeira dos Santos, passou por Macau. Ao que parece, veio ao Oriente “mostrar Portugal” no sentido de arranjar investidores e compradores da dívida pública. Espero que tenha conseguido. Pelo meio falou-se da presença portuguesa na RAEM, tendo Chui Sai On garantido ao ministro luso que a comunidade lusa está enraizada na sociedade local, dela faz parte integrante e é fundamental para caracterizar este território. Boa, dr. Chui. E obrigado porque apesar de sabermos isto nunca é demais ouvi-lo da boca do dirigente máximo desta terra. Já o dr. Teixeira dos Santos não teve uma palavrinha que fosse para essa mesma comunidade. Nada de novo. Estamos habituados a esta indiferença pela parte dos governantes da República, demasiado preocupados com o presente para ter em conta o passado e o futuro. Vistas curtas que não são novas. Radicam-se na ignorância que sempre demonstraram sobre a inusitada presença portuguesa na Ásia, nomeadamente na China, e no desprezo que votam a quem escolhe o mundo para viver e aí ser português, longe do miserando rectângulo. E pronto, nada mais a dizer sobre o assunto. Só uma pequena nota para acrescentar que me agradou a atitude do ministro: parece ser um homem agradável e normal, sem poses nem vaidades, seguro do que é e do que sabe. Provavelmente, também do que não sabe. * Esta semana o comissário Vasco Fong veio claramente a terreiro pedir “clareza” sobre a posição do CCAC. Pedrada num charco bem necessária para que o organismo que dirige não seja apenas uma espécie de maquilhador que dá bom aspecto ao sistema mas que, na realidade, se debate para exercer as investigações necessárias. O ex-juiz vai mais longe. Fala mesmo na necessidade de uma reforma estrutural do serviço para que este seja dotado dos meios fundamentais para cumprir a sua missão. Já anteriormente Fong tinha referido que supervisão dos privados implicava mais meios e parece que não está totalmente satisfeito com as 210 sessões de esclarecimento a funcionários públicos

O dr. Teixeira dos Santos não teve uma palavrinha que fosse para essa mesma comunidade. Nada de novo. Estamos habituados a esta indiferença pela parte dos governantes da República, demasiado preocupados com o presente para ter em conta o passado e o futuro sobre o tema da corrupção e da ilegalidade administrativa. É verdade que a presença/proximidade do CCAC é, em si mesma, dissuasora. Mas, se Vasco Fong entende que não chega, ele lá deve ter as suas razões. Do lado do governo, para já, não existiu qualquer resposta. A ver vamos o que decidirá Chui Sai On sobre este assunto delicado, tendo em conta o passado recente da RAEM. Ao assumir o assunto com esta frontalidade, Vasco Fong está, portanto, de parabéns. * As campas da TDM em língua chinesa e de O Clarim acabaram por sair pela culatra como, aliás, era normal acontecer. As campanhas para destruir a imagem de alguém terminam muitas vezes por se voltar contra si próprias, sobretudo quando o rato persegue o gato. O tema era delicado, tendo em conta a terra em que estamos e mesmo o substrato cultural deste povo. Como alguns sabem, em Macau não se deve incomodar os mortos e perturbar o seu repouso. O governador Ferreira do Amaral perdeu a cabeça por causa disso. Quem aqui importa cegamente valores, hábitos e comportamentos alienígenos, sem ter o mínimo cuidado pelas crenças predominantes arrisca-se a escorregar na casca da banana que comeu sem interrogações. Portanto, a coisa continuou. É raro ser bom sinal quando um jornal é notícia. E a polémica que se instalou a propósito de uma conversa do bispo D. José Lai com um trabalhador de O Clarim não é excepção. Assumo ter sido eu que, no Hoje Macau, decidi ignorar o assunto por dois motivos: primeiro, não gosto de me meter na vida interna dos outros jornais; segundo, por temer que dar eco à questão pudesse motivar um

despedimento por óbvia falta de lealdade para com a entidade patronal. Se uma discussão interna sobre a linha editorial deste jornal fosse revelada a um deputado que depois a publicita para a restante imprensa, imediatamente despediria essa pessoa, por motivos que nem vale a pena explicar. Finalmente, parece-me inútil encetar uma discussão sobre a liberdade de imprensa na RAEM porque tal não constitui, nem nunca constituiu para mim um problema. Como o meu colega Paulo Reis escreveu ontem, não é certo que haja lobo nem que este tenha os dentes assim tão grandes. É verdade que a partir do momento em que um deputado aborda o problema, este deixa de ser unicamente interno e ganha foros de coisa pública. No entanto, tendo em conta os vários contornos da questão, passados e presentes, pesando os prós e os contras, decidi que as páginas do Hoje Macau tinham assuntos mais interessantes para abordar. Depois veio Florinda Chan negar o que não passou de uma especulação de Pereira Coutinho (imaginada ou justificada pela proximidade da governante à Igreja) porque ninguém de O Clarim afirmou que tivesse existido uma conversa da Secretária com o bispo. Ou seja, D. José Lai também sai mal na fotografia porque parece que não lê O Clarim e não tem cabeça para pensar por si mesmo sobre que jornal a sua diocese pretende ter, sendo preciso que alguém o avise sobre conteúdos menos próprios e que aceita pressões do governo. N’ O Clarim trabalharam excelentes jornalistas e pessoas que nos merecem a maior consideração como o saudoso professor Silveira Machado. Assim, de repente, lembrome de Pedro Correia, Pedro Dá Mesquita e Josué da Silva, como exemplos de excelente, bem escrito, crítico e até polémico jornalismo que por ali foi durante muitos anos publicado. Mas sempre dentro das regras profissio-

nais e com a compostura que o facto de ser um jornal católico normalmente obriga. A facilidade com que hoje por ali se especula a torto e a direito, ofendendo o bom nome de pessoas, atribuindo-lhes intenções (como foi o caso na última semana com o arquitecto Carlos Marreiros, a propósito do Conselho para as Indústrias Criativas), servindo de ponta-de-lança a interesses muito óbvios, afasta-se de todas as regras ensinadas em qualquer escola da profissão ou mesmo na tarimba em que muitos de nós se formaram. E quanto mais Pereira Coutinho vem a público falar sobre O Clarim mais enterra e desacredita quem lá trabalha. É triste. E mais nada.

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José editor Paulo Reis Redacção António Falcão; Kahon Chan; Rodrigo de Matos; Vanessa Amaro Colaboradores Carlos Picassinos; Francisco Isöo; João Carlos Barradas; José Manuel Simões; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Severo Portela Colunistas Arnaldo Gonçalves; Boi Luxo; Correia Marques; Duarte Santos; Gilberto Lopes; Hélder Fernando; João Miguel Barros; Jorge Rodrigues Simão; José I. Duarte; Marinho de Bastos; Paul Chan Wai Chi; Pedro Correia; Zélia Ribeiro Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges; Catarina Lau Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão; António Mil-Homens; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Laurentina Silva (hojemacau@gmail.com) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Av. Dr. Rodrigo Rodrigues nº 600 E, Centro Comercial First Nacional, 14º andar, Sala 1407 – Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail hojemacau@yahoo.com Sítio www.hojemacau.com



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