Hoje Macau 10 SET 2020 #4609

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

QUINTA-FEIRA 10 DE SETEMBRO DE 2020 • ANO XX • Nº 4609

MOP$10 TIAGO ALCÂNTARA

hojemacau

MULAN

CONDENADO À PARTIDA GRANDE PLANO

SEGURANÇA

A força do sigilo TERRANCE OSBORNE

PÁGINA 5

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

OPINIÃO

RESILIÊNCIA

JORGE RODRIGUES SIMÃO

PLANO DIRECTOR

Lojas da cidade PÁGINA 7

AUTOMOBILISMO

Motores na Grande Baía

Faça-se luz

GONÇALO LOBO PINHEIRO

PÁGINA 13

FOTOGRAFIA

PREMIADOS EM PARIS

A UNESCO pediu explicações à China sobre os danos na integridade visual e paisagem do Farol da Guia. É o que consta na resposta do organismo internacional às denúncias do Grupo de Salvaguarda do Farol, e onde se adianta ainda que as informações já recebidas estão a ser agora analisadas. O caso será abordado na reunião do Comité do Património em 2021.

EVENTOS

SHENZHEN

Convite ao silêncio

h

PÁGINA 12

PÁGINA 6

CÁLICE E CICLONE LUÍS CARMELO

DORMIR COM LISBOA ANTÓNIO CABRITA

BILITIS

AMÉLIA VIEIRA


2 grande plano

Estreia amanhã nos cinemas chineses “Mulan”, o filme da Disney que multiplica polémicas e contratempos. Primeiro, foram as críticas que chegaram ao Global Time, de falta de autenticidade revelada no trailer, seguido do apoio público da protagonista, Liu Yifei, à polícia de Hong Kong e finalmente do adiamento da estreia devido à pandemia. Agora, aumentam apelos ao boicote devido à presença de entidades oficiais de Xinjiang nos créditos do filme

10.9.2020 quinta-feira

DISNEY

O FIM ANTES D C

ADA vez existem mais preocupações éticas no comportamento dos consumidores, até mesmo no entretenimento, numa extensão da “cancel culture”. A grande produção dos estúdios da Disney “Mulan” é um dos mais recentes campos de batalha política, principalmente depois de o filme ter estreado na plataforma de stream Disney+. Nos créditos finais, a Disney agradece a agências do Governo chinês acusadas de abusos contra os direitos humanos na província de Xinjiang pela ajuda dada na produção. Entre as organizações está o departamento de segurança pública da cidade de Turfán ou o departamento de propaganda do Partido Comunista Chinês na região. Turfán é uma cidade da periferia de Ürümqi, a capital da província onde se suspeita estar em curso um genocídio cultural. Este departamento público foi incluído pelo Governo norte-americano numa lista de organizações envolvidas

ENTIDADES ACUSADAS DE ABUSOS DE DIREITOS HUMANOS NOS CRÉDITOS DE

em violações e abusos de direitos humanos. O filme, que já havia gerado controvérsia, voltou assim a provocar uma onda de críticas e apelos ao boicote, algo inimaginável quando foi anunciado que os estúdios da Disney iriam produzir uma adaptação em filme da animação com o mesmo nome lançada em 1998. Até agora, a Disney ainda não comentou o caso publicamente. Não se sabe ao certo “quanto” do filme foi rodado em Xinjiang, mas de acordo com inúmeras publicações nas redes socias, e em entrevistas, de pessoas ligadas à produção sabe-se que a produção teve lugar em vários pontos da província. Desde que o filme ficou disponível na plataforma Disney+, na sexta-feira, a ligação entre a obra e o poder político em Xinjiang tornou-se incendiária nas redes sociais. O caso levou várias organizações de defesa dos direitos humanos a exigir a divulgação de acordos entre o Governo chinês e

a Disney firmados na sequência da autorização para filmar na província, uma das zonas mais vigiadas do mundo. “É profundamente perturbante que a Disney tenha julgado normal entrar em parcerias, e agradecer a departamentos de propaganda e de segurança pública envolvidos em genocídio”, referiu à CNN Isaac Stone Fish, da Asia Society, uma

“É profundamente perturbante que a Disney tenha julgado normal entrar em parcerias, e agradecer a departamentos de propaganda e segurança pública envolvidos em genocídio.” ISAAC STONE FISH ASIA SOCIETY

organização sem fins lucrativos sediada em Nova Iorque.

MONTANHAS DE PROBLEMAS

O projecto de readaptar “Mulan” para filme de acção tinha tudo para ser um sucesso de bilheteira, em particular na China, o segundo maior mercado do mundo no consumo de filmes produzidos por Hollywood. No ano passado, as críticas começaram quando ficou disponível o trailer do filme, levando a queixas em vários quadrantes chineses em relação à falta de rigor histórico e ao excesso de estereótipos na forma como se retratavam as personagens. Um artigo publicado em Julho de 2019 no jornal oficial Global Times deu voz a várias opiniões negativas, nomeadamente do crítico de cinema Shi Wenxue que referiu que as casas, maquilhagem e guarda-roupa eram característicos da Dinastia Tang. Apesar de temporalmente deslocada da data em que se desenrola a narrativa,


grande plano 3

quinta-feira 10.9.2020

DO INÍCIO “MULAN”

os estúdios da Disney preferiram usar “o imaginário mais conhecido da China antiga”. Porém, um dos aspectos mais criticados foi o facto de nas cenas de luta serem usados técnicas e movimentos típicos dos ninjas japoneses. Outra presença nipónica está no estilo do mobiliário usado em algumas cenas. O mesmo crítico, citado pelo Global Times, apontava “Mulan” como um exemplo perfeito de como o Ocidente não entende e deturpa a China, socorrendo-se de estereótipos que apelam à imaginação ocidental. Ao longo do artigo são enumeradas razões para duvidar que “Mulan” seja uma obra apelativa ao público chinês. O contra-ataque da Disney chegou em forma de entrevista a outro órgão de comunicação oficial do Governo Central. Em discurso directo à agência Xinhua, o presidente da Walt Disney Studios Motion Picture Production, Sean Bailey, garantiu o empenho da equipa em ser fiel à história. “Passámos muito tempo, no início da produção, com académicos, especialistas e pessoas da região. Estivemos muito tempo na China”, revelou. Bailey acrescentou que não só o elenco é chinês, como também foi contratado um produtor chinês para fazer “Mulan”. Aliás, o compromisso da Disney com o público e as autoridades chinesas pode-se aferir a partir das múltiplas entrevistas dadas à Xinhua, de Bailey, ao realizador Niki Caro, à actriz principal, Liu Yifei, até chegar ao CEO da Disney Bob Chapek.

OPINIÕES VIRAIS

Tudo indicava que a Disney tinha em mãos um sucesso garantido. Em Agosto do ano passado, vários activistas pró-democracia apelaram ao boicote a “Mulan” depois de a actriz principal, Liu Yifei, ter demonstrado nas redes sociais o apoio à polícia de Hong Kong. Isto numa altura em que as autoridades da região vizinha enfrentavam acusações de violência policial. “Apoio a polícia de Hong Kong. Podem-me atacar agora. Que vergonha, Hong Kong”, partilhou Liu na sua conta de Weibo,

Em 2019, o Global Times, apontava “Mulan” como um exemplo perfeito de como o Ocidente não entende e deturpa a China, socorrendo-se de estereótipos que apelam à imaginação ocidental

um post originalmente publicado pelo Diário do Povo. Depois da publicação da actriz, de nacionalidade norte-americana, #BoycottMulan subiu na lista

dos mais populares hashtags do Twitter. Após a polémica, que o departamento de marketing da Disney com certeza dispensava, chegou a pandemia do novo tipo de coronavírus. Sem condições para haver público nas salas de cinema, a Disney viu-se forçada a adiar a estreia em Março. Os pedidos para a companhia de estúdios ser transparente quanto aos acordos estabelecidos com o Governo Central chegaram de vários quadrantes. Yaqiu Wang, um investigador chinês da Human Rights Watch, pediu à Disney para revelar que tipo de assistência recebeu das autoridades de Xinjiang e que acordos firmou com as autoridades da província.

Stone Fish, da Asia Society, realça em declarações à CNN que é comum as empresas fazerem pequenas concessões ao Governo Central para acederem ao mercado apetecível chinês. “Os estúdios entendem que têm de se comprometer com Pequim, que podem censurar ligeiramente os filmes para aceder ao mercado chinês, mantendo a integridade. Não é necessário dar os passos extra que a Disney deu, e pelos quais agora está a ser, e bem, criticada”, rematou o activista.

SEQUELAS POLÍTICAS

Em Outubro do ano passado, o Governo norte-americano elaborou

O compromisso da Disney com o público e as autoridades chinesas pode-se aferir a partir das múltiplas entrevistas dadas à Xinhua, de Bailey, ao realizador Niki Caro, à actriz principal, Liu Yifei, até chegar ao CEO da Disney Bob Chapek

uma lista negra de organizações políticas em Xinjiang proibidas de comprar produtos aos Estados Unidos. Até ao dia de ontem, ainda não era claro se a Disney seria investigada pelas autoridades norte-americanas devido às ligações ao poder provincial da região do noroeste chinês. Ainda assim, a empresa foi alvo das críticas de alguns políticos norte-americanos. O republicano Mike Gallagher, do Wisconsin, escreveu no Twitter que “enquanto o PCC comete crimes contra a humanidade em Xinjiang, a Disney agradece a quatro departamentos de propaganda que mentem sobre esses crimes. Também agradece ao departamento de segurança pública da cidade de Turfán, uma entidade apontada como responsável por essas atrocidades”. Importa recordar que no ano passado, Mike Pence criticou empresas norte-americanas por tentarem silenciar opiniões sensíveis para aceder ao mercado chinês. Por exemplo, o vice-presidente norte-americano acusou a Nike de “deixar a consciência à porta”, assim como jogadores e empresários da NBA, por alinharem com o PCC contra os movimentos pró-democracia de Hong Kong.


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10.9.2020 quinta-feira

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 32/P/20

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 33/P/20

Faz-se público que, por despacho da Ex.ma Senhora Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, de 17 de Agosto de 2020, se encontra aberto o Concurso Público para a «Obra de Substituição do Sistema de Ar Condicionado Central no Centro de Prevenção e Tratamento de Tuberculose», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 9 de Setembro de 2020, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP55,00 (cinquenta e cinco patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo). Os concorrentes devem estar presentes no Centro de Prevenção e Tratamento de Tuberculose, no dia 14 de Setembro de 2020, às 15,00 horas para visita de estudo ao local da instalação dos equipamentos a que se destina o objecto deste concurso. As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 12 de Outubro de 2020. O acto público deste concurso terá lugar no dia 13 de Outubro de 2020, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP180.000,00 (cento e oitenta mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente.

Faz-se público que, por despacho da Ex.ma Senhora Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, de 20 de Agosto de 2020, se encontra aberto o Concurso Público para a «Empreitada de Fornecimento, Instalação e Ensaio de Quatros Autoclaves a Vapor, e de Um Sistema de Tratamento de Água por Osmose Reversa à Secção de Esterilização do Centro Hospitalar Conde de São Januário, bem como a sua Concepção e Construção no Local da Instalação», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 9 de Setembro de 2020, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º Andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP109,00 (cento e nove patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo). Os concorrentes interessados devem assistir à sessão de esclarecimentos a ter lugar no dia 15 de Setembro de 2020, às 15,00 horas, na “Sala de Reuniões”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, e participar na visita às instalações a que se destina o objecto deste concurso após a respectiva sessão. As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 27 de Outubro de 2020. O acto público deste concurso terá lugar no dia 28 de Outubro de 2020, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP416.000,00 (quatrocentas e dezasseis mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/ Seguro-Caução de valor equivalente.

Serviços de Saúde, aos 3 de Setembro de 2020 O Director dos Serviços Lei Chin Ion

Serviços de Saúde, aos 7 de Setembro de 2020 O Director dos Serviços, Substituto Cheang Seng Ip


política 5

quinta-feira 10.9.2020

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FISCALIZAÇÃO E DISCIPLINA WONG EVOCA CONFIDENCIALIDADE PARA NÃO DIVULGAR CASOS

A sete chaves O secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, negou dar informações sobre processos em investigação pela Comissão de Fiscalização da Disciplina das Forças e Serviços de Segurança de Macau, alegando confidencialidade dos casos. Em resposta ao deputado Sulu Sou, Wong Sio Chak frisou a independência da comissão face à sua tutela

de mais poderes à referida comissão, alertando para a ocorrência de vários processos disciplinares e de violação da lei no seio das Forças de Segurança. “Os relatórios da comissão enumeram várias deficiências na aplicação da lei por parte das forças de segurança e fornecem algumas sugestões de melhoria. Será que a Administração aceitou e implementou essas sugestões?”, questionou o deputado. Sulu Sou disse ainda que a “imprudência” das autoridades prejudica a relação de confiança entre a população e as forças policiais. Um dos exemplos mencionados foi o episódio da noite de 4 de

Junho, aniversário de Tiananmen, quando houve uma “distribuição inadequada” de polícias no Largo do Senado. “Será que a comissão tem poderes para realizar investigações mais específicas, relacionadas com denúncias de ‘abuso do poder policial’ ou ‘uso indevido da força’, além de ouvir as declarações dos queixosos? Vão ser revistas [pela comissão] as informações e provas apresentadas pelas autoridades de segurança?”. Questões às quais Wong Sio Chak não deu resposta. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

GCS

Governo recusou dar informações sobre processos que estão sob investigação por parte da Comissão de Fiscalização da Disciplina das Forças e Serviços de Segurança de Macau. Em resposta a uma interpelação escrita de Sulu Sou, Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, garantiu que a comissão é totalmente independente e que não devem ser divulgadas informações sobre casos em investigação por serem confidenciais. “A informação pedida pelo deputado requer confidencialidade e está relacionada com casos que estão sob investigação segundo a lei”, lê-se na resposta. “O secretário para a Segurança não deve divulgar informações que envolvem questões de privacidade, segredos governamentais ou segredo de justiça em nome da segurança do público e do sigilo a que estão sujeitas as forças de segurança”, acrescenta o documento. Wong Sio Chak argumentou ainda que a comissão presidida pelo advogado e ex-deputado Leonel Alves “funciona sob alçada do Chefe do Executivo desde Novembro de 2019 e de forma independente face ao gabinete do secretário para Segurança”. “As autoridades de segurança devem respeitar a independência da comissão e não devem interferir de nenhuma forma com os seus trabalhos. Devem também cooperar com a comissão no exercício de supervisão de poderes”, frisou a resposta do secretário.

SILÊNCIO ABSOLUTO

Na sua interpelação, Sulu Sou defendeu a concessão

Resposta do gabinete do secretário para a Segurança “A informação pedida pelo deputado requer confidencialidade e está relacionada com casos que estão sob investigação segundo a lei.”

IMPOSTO DE SELO CONTRATOS DE CEDÊNCIA DE ESPAÇO FORA DA “ZONA CINZENTA”

V

AI passar a ser mais difícil contornar a lei, nos casos em que é exigido o pagamento de imposto de selo durante a realização de contratos de cedência de uso de espaço em imóvel. Foi esta a principal conclusão a que chegou ontem a 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) que se encontra a analisar

a proposta de lei sobre o regulamento do Imposto de Selo. Se em reuniões passadas, a comissão presidida por Vong Hin Fai mostrou preocupação com o facto de não existir uma definição jurídica clara para os contratos de cedência de uso de espaços em imóveis, colocando-os numa “zona cinzenta”,

o novo texto de trabalho entregue pelo Governo, passa a delimitar que os acordos dizem apenas respeito aos espaços dos centros comerciais. “Na versão mais recente vemos que há uma melhor definição do conceito (…), passando a delimitar esses espaços como sendo centros comerciais, para evitar que alguém

depois possa fugir à responsabilidade de pagamento do imposto de selo”, explicou o deputado. Já sobre a realização de leilões, que implicam também a cobrança de imposto de selo, foram introduzidas melhorias na proposta de lei. No entanto, os deputados levantaram questões sobre a realização de licita-

ções online e o respectivo enquadramento legal da cobrança do imposto de selo. “Há a possibilidade de esta matéria não estar regulamentada na actual proposta de lei. O Governo respondeu que ia ponderar a melhor forma de melhorar o regime com o objectivo de fiscalizar estes eventos online”, partilhou Vong Hin Fai. P.A.


6 sociedade

TIAGO ALCÂNTARA

A

UNESCO pediu esclarecimentos à China sobre as questões levantadas pelo Grupo de Salvaguarda do Farol da Guia acerca da protecção da integridade visual da paisagem do Farol, considerado património mundial deste 2005. É o que consta da resposta divulgada ontem e assinada pelo director-geral adjunto para a Cultura da UNESCO, Ernesto Ottone. “O Secretariado da Convenção do Património Mundial pediu esclarecimentos ao estado-membro [China] acerca da informação recebida por parte da vossa organização em Junho e Agosto de 2019 e Junho e Julho de 2020, relativamente à construção de edifícios de altura elevada, na zona envolvente da propriedade considerada património mundial”, pode ler-se na resposta da UNESCO, partilhada pelo Grupo de Farol da Guia. Recorde-se que a resposta da UNESCO vem no seguimento da chamada de atenção por parte do grupo para alguns problemas que já duram há vários anos, nomeadamente o facto de existir um prédio que estava em construção na Calçada do Gaio, entretanto embargado por já ter ultrapassado o limite máximo de altura, e o projecto de construção da Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues, que prevê a existência de edifícios com 90 metros. “Ao fim de 12 anos, o Governo da RAEM ainda não cumpriu a promessa de reduzir a altura do edifício inacabado da Calçada do Gaio. Em vez disso, tem justificado a decisão de manter a altura do edifício nos 81 metros, numa clara violação do limite permitido de 52,5 metros”, consta da carta enviada em Junho pelo grupo, à directora do Centro do Património Mundial da UNESCO, Audrey Azoulay. Na nota divulgada ontem, a UNESCO informa já ter recebido “informação e documentação” da China sobre as questões levantadas, estando agora a proceder à sua análise. Contudo, o organismo das Nações Unidas lembrou ainda que está a aguardar um

10.9.2020 quinta-feira

Turismo Dificuldades de motoristas reveladas ao Governo

A Associação Geral dos Motoristas de Actividade Turística de Macau visitou recentemente a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) para abordar as dificuldades com que se depara o sector nesta altura. Segundo o jornal Ou Mun, a associação disse que, até ao início de Agosto, apenas 110 mil pessoas tinham feito excursões em Macau, um volume inferior ao previsto, realidade que afasta os motoristas dos benefícios do apoio ao sector do turismo. Além disso, muitos motoristas estão em situação de sub-emprego, porque só realizam quatro ou duas excursões por mês. A associação sugere que a DST organize acções de formação de mandarim e inglês para reforçar as capacidades de comunicação dos motoristas, além de internacionalizar o sector do turismo. Helena de Senna Fernandes, directora da DST, prometeu dialogar com a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, e outros departamentos sobre o assunto.

Fronteiras Conselho Consultivo do Trânsito visita Hengqin

UNESCO “Não duvidem que a UNESCO continuará a trabalhar para assegurar que o valor universal excepcional do património cultural seja preservado.”

FAROL DA GUIA UNESCO PEDE CLARIFICAÇÕES À CHINA

Terra à vista

Três meses depois, a UNESCO respondeu às cartas enviadas pelo Grupo de Salvaguarda do Farol da Guia em Junho e Julho. Na volta do correio, o organismo diz ter tomado nota das preocupações sobre a zona envolvente ao Farol e pedido esclarecimentos à China sobre o caso. A questão será analisada na próxima reunião do Comité do Património Mundial, em 2021 relatório sobre o estado de conservação dos edifícios do património cultural de Macau, que deverá ser apresentado pela China até ao dia 1 de Dezembro. Esse documento também será analisado na próxima reunião do Comité do

Património Mundial, a acontecer em 2021.

NOTAS E GARANTIAS

Ao contrário da solicitação do Grupo de Salvaguarda do Farol da Guia, a UNESCO não vai avançar com qualquer tomada

de posição urgente para avaliar a gravidade dos danos na integridade visual e paisagem do Farol da Guia. Recorde-se que, numa das cartas enviadas à UNESCO em 2020, o grupo sugeria a tomada de

“medidas urgentes” para implementar a Convenção para a Protecção do Património Mundial em Macau e o envio de uma equipa de peritos “com a máxima prioridade”. Quase a fechar a resposta, a UNESCO afirma ter tomado nota do encontro realizado em Julho entre Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia e o Instituto Cultural (IC) e ainda, que tudo fará para preservar a especificidade do património cultural em questão. “Não duvidem que a UNESCO continuará a trabalhar em estreita colaboração com as autoridades e órgãos consultivos chineses, para assegurar que o valor universal excepcional do património cultural é totalmente preservado”, garantiu o organismo. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

O Conselho Consultivo do Trânsito visitou ontem o novo Posto Fronteiriço de Hengqin, inaugurado no passado dia 18 de Agosto. Segundo um comunicado da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), “o grupo visitou as instalações complementares rodoviárias da zona do Posto Fronteiriço da Parte de Macau do Posto Fronteiriço de Hengqin, aproveitando o momento para apresentar várias opiniões na área do trânsito e serviços de transportes públicos, tendo sempre como objectivo uma maior facilidade de deslocação da população e turistas”. A DSAT apresentou aos membros do Conselho Consultivo “as redes rodoviárias do posto fronteiriço e sua envolvência, tais como as paragens de autocarros, zonas de tomada e largada de passageiros para táxis e autocarros turísticos e formas de deslocação possíveis em transportes públicos”. Por sua vez, o Corpo de Polícia de Segurança Pública fez a apresentação das medidas de condicionamento à circulação da Ponte Flor de Lótus.

Porto de Ka-Hó Simulacro de incêndio no terminal de combustíveis

O Corpo de Bombeiros (CB) realizou ontem um simulacro de incêndio e evacuação de pessoas no Terminal de Combustíveis do Porto de Ka-Hó, em parceria com a empresa Sociedade de Gestão do Terminal de Combustíveis de Macau, Limitada. O exercício, que decorreu no período da manhã, teve como objectivo “elevar a eficácia do socorro em caso de incidentes”. Mais de 100 pessoas participaram nesta actividade, “cujo processo correu bem e cujos objectivos e resultados previstos foram alcançados”. O CB avançou que serão realizados “regularmente” novos simulacros, com a finalidade principal de “testar a capacidade de resposta e o mecanismo de comunicação em caso de incidentes, bem como aumentar as condições de segurança do Terminal de Combustíveis do Porto de Ká-Hó”.


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quinta-feira 10.9.2020

O

secretário para os Transportes e Obras Públicas disse ontem que a área comercial foi a única que se considerou estar “em défice”. O Plano Director abrange uma área de aproximadamente 36,8 quilómetros quadrados, e aumenta para quatro por cento a percentagem com finalidade comercial. Os

PLANO DIRECTOR AUMENTO DE ÁREA PARA O COMÉRCIO PARA COLMATAR “DÉFICE”

Macau Shopping Center conteúdos do plano, que está em consulta pública até 2 de Novembro, foram ontem apresentados ao Conselho do Planeamento Urbanístico. A Venceslau de Morais e a antiga zona administrativa judiciária em frente ao MGM Macau, estão entre as zonas que o Governo considerou poderem “ter alguma vocação” para o comércio, algo que o secretário diz que contribui para a política de diversificação económica. Quando um terreno é destinado em mais de 65 por cento a uma finalidade, é essa que fica categorizada. No entanto, há flexibilidade no aproveitamento do terreno. “Em Macau, há muitos edifícios em que mais de 65 por cento são habitacionais e por baixo têm lojas. (...) Não impede

tecnologia” e de aproveitar oportunidades económicas derivadas da Ponte do Delta.

GCS

A área do território com finalidade comercial vai aumentar para quatro por cento, uma medida que o secretário para os Transportes e Obras Públicas considera necessária à diversificação

POSSÍVEIS AJUSTES

que haja algum comércio”, disse o secretário. Mak Tat Io, chefe do Departamento de Planeamento Urbanístico da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) explicou que vão ser incluídas lojas de comércio para criar turismo histórico

na zona costeira com o objectivo de “melhor mitigar os problemas causados pela concentração dos turistas num só lugar”. O documento de consulta prevê o desenvolvimento de círculos comerciais para apoiar o desenvolvimento de “novos núcleos industriais de alta

Em relação ao Metro Ligeiro, o foco é na Linha Leste, mas o secretário indicou que no futuro podem ser consideradas outras opções. “Por enquanto, no Plano Director temos esta linha de metro, mas não descartamos a possibilidade de no futuro fazermos outra linha no Porto Interior. Cinco anos depois podemos ter uma revisão e outra alternativa”. Perante preocupações de um membro do Conselho do Planeamento Urbanístico sobre a capacidade deste transporte face à procura no futuro, o presidente da Comissão Executiva do Metro Ligeiro disse que a frequência do Metro Ligeiro pode ser ajustada. Por outro lado, questionado sobre o Alto de Coloa-

O Plano Director abrange uma área de aproximadamente 36,8 quilómetros quadrados, e aumenta para quatro por cento a percentagem com finalidade comercial

ne, Raimundo do Rosário remeteu informações para os planos de pormenor, que vão ser criados depois do Plano Director. “O limite exacto, (...) densidade ou altura do edifício só com o plano de pormenor”, disse o secretário. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

PUB

O

S moradores do edifício Mei Lok Garden, na zona da Ilha Verde, estão preocupados com o surgimento de enormes fendas no prédio e que podem pôr em causa a sua segurança. Segundo o jornal Exmoo News, as fendas, com uma largura de cerca de três centímetros, surgiram entre o primeiro e quinto andar do prédio. Vários moradores temem que as obras de construção do posto operacional provisório dos bombeiros da Ilha Verde estejam a causar estragos na estrutura do edifício, de três torres habitacionais. Numa nota ontem divulgada, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) informa que, com base numa inspecção preliminar, está em causa “um problema relacionado com uma junta de dilatação e não uma fissura estrutural”.

Mexe, remexe DSSOPT diz que fendas no edifício Mei Lok Garden não são estruturais

Quanto às obras em curso “os dados mantêm-se estáveis e não têm havido alterações significativas”, pelo que “a monitorização continuará a ser feita”. A DSSOPT realizou ontem uma “inspecção mais aprofundada” ao edifício e fica a promessa de proprietários e empreiteiros vão manter a comunicação.

NEGLIGÊNCIA?

Chan Ka Seng, presidente do condomínio, disse que as obras adjacentes têm obrigado à extracção de areia e a mexidas no solo, o que pode pôr em causa a segurança. Apesar

disso, Chan Ka Seng também admitiu que as fendas podem dever-se à negligência dos construtores do prédio. Chan Fong, moradora no Mei lok Garden há cerca de 20 anos, disse que os moradores já alertaram o Instituto da Habitação, o Corpo de Bombeiros e a DSSOPT, tendo já ocorrido algumas reuniões com o presidente do condomínio e responsáveis da empresa construtora. O Exmoo News escreve que o construtor alegou que os dados de monitorização da segurança revelam que não existe qualquer perigo de queda, mas o presidente do condomínio declarou que os dados não correspondem à situação real. O Governo pediu, entretanto, a suspensão da perfuração do solo, tendo sugerido aos moradores taparem as fendas com pedaços de lona para evitar infiltrações com água da chuva. A.S.S. / N.W.

ANÚNCIO Companhia de Investimento Imobiliário Mutual, Limitada, com sede em Macau, na Avenida Sidónio Pais, N.º 24-26, 12.º andar A, matriculada na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis de Macau sob o n.º 3984 (SO) (a “Companhia”), na qualidade de proprietária registada de 3/262 quotas-partes indivisas, correspondentes a (3) três lugares de estacionamento, da fracção autónoma designada por “ZR/C” do rés-do-chão “Z”, para estacionamento, do prédio denominado “Pou Fat Kok, Pou Lei Kok, Pou Fong Kok”, sito na Avenida Norte do Hipódromo n.ºs 139 a 209, Alameda da Tranquilidade, n.º 137 a 225, Rua dos Hortelãos, n.ºs 235 a 267 e Praceta do Bom Sucesso, n.ºs 4 a 68, descrito na Conservatória do Registo Predial de Macau sob o n.º 21996, vem por esta forma convocar os eventuais subscritores de contratos-promessa de compra e venda dos referidos lugares de estacionamento, de cessões da posição contratual de promitente adquirente dos mencionados contratos-promessa devidamente autorizadas, ou outros interessados que se arroguem validamente titulares de direitos sobre os referidos lugares de estacionamento, para entrarem em contacto com o escritório de advogados da Sra. Dra. Manuela António, sito em Macau, na Alameda Dr. Carlos D’Assumpção, n.ºs 411-417, Edifício Dynasty Plaza, 15.º andar D-H, até às 18 horas de dia 10 de Novembro de 2020, e aí apresentarem os necessários documentos que atestem a titularidade dos alegados direitos sobre os citados lugares de estacionamento e que os mesmos ainda não prescreveram, a fim de comprovarem a actual existência dos mesmos e a sua relação contratual com a Companhia. O presente anúncio não pode ser entendido ou interpretado como uma renúncia da Companhia aos prazos legais de prescrição e caducidade previstos na lei, uma vez que a Companhia expressamente declara não renunciar aos supra mencionados prazos, bem como a outros eventuais direitos de que beneficie nos termos da lei. Macau, aos 10 de Setembro de 2020. Companhia de Investimento Imobiliário Mutual, Limitada


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PJ HOMEM DE 30 ANOS DETIDO POR ALICIAMENTO E ABUSO DE MENORES

RÓMULO SANTOS

quinta-feira 10.9.2020

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Polícia Judiciária (PJ) deteve na segunda-feira, na Taipa, um homem de 30 anos oriundo do Interior da China, por suspeita de abuso sexual e aliciamento de menores a participar na produção de material pornográfico. De acordo com dados da PJ citados pelo canal chinês da TDMRádio Macau, no domingo, depois de abordar dois menores na Rua de Guimarães, o homem terá convidado um deles para jogar alguns jogos online no Parque Central da Taipa, acabando por lhe pedir para se acariciar para fazer um vídeo. Depois de ter sido notificada para o caso, a PJ deteve o homem no dia seguinte, depois de consultar os registos da videovigilância. Segundo a polícia, o homem admitiu a prática do crime, tendo sido encontrados no seu telemóvel e em discos externos, cerca de 17 mil fotografias e 2 mil vídeos de índole pornográfica, vários deles contendo intervenientes menores. O suspeito confessou ainda ter tentado aliciar nove outros menores, através do mesmo método. O caso foi transferido para o Ministério Público.

AMBIENTE 239 GARRAFAS DE PLÁSTICO NA COSTA DE MACAU

Burla Casas de penhores enganadas em 191 mil HKD

A Polícia Judiciária (PJ) deteve na segunda-feira, no ZAPE, dois homens suspeitos de estar envolvidos num esquema de burla, que passava por vender ouro e joias falsas a casas de penhores. O caso veio a lume depois de a PJ ter recebido uma queixa enviada por uma casa de penhores no ZAPE que terá pago, no total, 29 mil dólares de Hong Kong em troca de um colar de ouro e, noutra ocasião, 7 mil dólares de Hong Kong por um anel de diamantes falsos. Durante a detenção dos dois homens, a PJ encontrou ainda cinco documentos de salvo-conduto, quatro colares de ouro falso e 39 fotografias de recibos referentes a 20 casas de penhores de Macau e Hong Kong, cujo valor total perfaz o montante de 191,880 dólares de Hong Kong. Depois de contactar 15 casas de penhores, a PJ recuperou ainda mais 25 joias falsas, no valor de 165 dólares de Hong Kong. O caso seguiu para o MP, onde os homens vão responder pelo crime de “burla de valor consideravelmente elevado” e “uso de documento de identificação alheio”.

Correntes de lixo Nem só de paisagem natural é composta a costa. A Ocean Conservancy revela que no ano passado se encontraram mais de nove mil toneladas de lixo por todo o mundo. Nas praias de Macau foram encontrados 1.999 itens, que perfazem um total de 133 quilos de lixo

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S embalagens de comida foram o lixo mais comum encontrado nas praias em 2019. Foram recolhidas por mais de 900 mil voluntários cerca de 4,7 milhões destas embalagens, espalhadas por mais de 100 países e regiões. Os dados são do relatório de 2020 da Organização Não-Governamental Ocean Conservancy, que no caso de Macau revela que as garrafas de plástico foram o lixo mais encontrado. Na RAEM, participaram 110 pessoas na limpeza anual das praias no ano passado, mais dez

do que no ano anterior. Limparam 0.4 quilómetros de costa, ao longo dos quais encontraram 1.999 itens, que representam 133 quilos de lixo. Em 2018, em 0.5 quilómetros tinham sido recolhidos 358 quilos. O relatório agora divulgado revela que foram encontradas na costa de Macau 239 garrafas de plástico, 198 pacotes de comida, 184 tampas de garrafas de plástico e 108 embalagens de take-away. Mas o top 10 de produtos que dão à costa também abrangem pontas de cigarro, palhinhas, sacos de compras e outro tipo de lixo de plástico.

Há elementos que rementem para a actividade humana a ser encontrados por praias de todo o mundo, e que não se cingem ao plástico. Entre os objectos mais invulgares, a Ocean Conservancy dá conta de um gnomo de jardim encontrado no Japão, uma boca de incêndio na Indonésia, uma tábua de passar a ferro na Venezuela, um saco de golfe na Noruega, um sofá no México e uma bota de esqui no Canadá.

ACÇÃO COLECTIVA

No geral, o lixo encontrado no ano passado representa mais de nove

mil toneladas. Foram recolhidos talheres de plástico suficientes para servir uma refeição de três pratos a 66 mil pessoas, linha para pescar a 55 milhas (cerca de 88 quilómetros) acima da superfície e um número astronómico de palhinhas. A curta distância geográfica está a terceira localização com mais participantes no programa. Só em Hong Kong, 63.125 voluntários recolheram 4,56 milhões de quilos das praias. Um valor que representa 48 por cento do total. Por sua vez, uma extensão de 86 quilómetros de costa na China ficou mais limpa, com a recolha de mais de 143 mil itens. As garrafas de plástico foram a presença mais comum. “O Dia Internacional de Limpeza da Costa foi sempre sobre comunidade, e o poder da acção colectiva em fazer a diferença. Em média cada voluntário recolhe [cerca de 10 quilos] de lixo, mas juntos enquanto Equipa Oceano, removemos milhões”, escreve a directora executiva da Ocean Conservancy, Janis Searles. Salomé Fernandes

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10 eventos

LITERATURA RACISMO E DESCOLONIZAÇÃO SÃO TEMAS CENTRAIS DE FESTIVAL DE BERLIM

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Festival Internacional de Literatura de Berlim (ilb), que arrancou ontem, destaca os temas do racismo e da descolonização, tendo o discurso de abertura ficado a cargo do escritor peruano Mario Vargas Llosa. O festival conta, nesta vigésima edição, com as participações da poeta Ana Luísa Amaral e do ilustrador André Letria, que integravam a delegação de escritores portugueses que teria marcado presença na edição deste ano da Feira do Livro Leipzig, cancelada devido à pandemia de covid-19. De acordo com a página oficial da Embaixada de Portugal na Alemanha e Camões Berlim, Ana Luísa Amaral vai apresentar, no dia 12, o trabalho de Emily Dickinson, “uma das poetas norte-americanas mais importantes do século XIX”, num evento que será transmitido ‘online’. No dia 13 de Setembro, participará na segunda noite de poesia, ao lado de nomes como Homero Aridjis, do México, Forrest Gander,

dos Estados Unidos da América, Jacek Dehnel, da Polónia, e Moon Chung-hee, da Coreia do Sul. “No âmbito do programa de literatura infantojuvenil, André Letria terá duas sessões de conversa e leitura das suas obras ‘A Guerra’ e ‘Se Eu Fosse um Livro’ – ambas editadas na Alemanha pela Midas Collection. Além disso, as obras estarão no centro de dois ‘workshops’ que o ilustrador dará a turmas do 5.º e 6.º ano de escolas convidadas”, acrescenta. O ilb estreia, nesta edição, várias iniciativas virtuais. Segundo a página oficial do evento, “algumas conversas com autores foram pré-gravadas” e vários eventos “serão transmitidos em ‘streaming’”. Do programa fazem parte cerca de 150 convidados de 50 diferentes países, entre eles a escritora polaca Olga Tokarczuk, vencedora do Nobel em 2018 e Daniel Kehlmann, autor do livro “A Medida do Mundo”, escrito em alemão e traduzido para mais de quarenta línguas.

IC CANDIDATURAS PARA APOIOS FINANCEIROS ARRANCAM DIA 23

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Instituto Cultural (IC) começa a receber candidaturas para o programa de apoio financeiro para actividades ligadas a representações, património cultural e indústrias culturais e criativas a partir do dia 23 de Setembro. Segundo um comunicado, são aceites candidaturas de projectos nas áreas da música, teatro, dança, património cultural, moda, design, cinema e televisão e animação e banda desenhada, integradas no Programa de Apoio Financeiro paraActividades/Projectos Culturais das Associações Locais de 2021. A Fundação Macau (FM) irá coordenar o financiamento destes projectos em parceria com o IC.

As associações sem fins lucrativos locais que reúnam as condições para se candidatar e já tenham aberto conta online devem preencher os dados no sistema de candidatura online do IC, entre 23 de Setembro e 9 de Outubro e, posteriormente, devem entregar pessoalmente o comprovativo de talão de candidatura e outros documentos complementares no edifício do IC, na Praça do Tap Siac, das 9h30 às 13h00 e das 14h30 às 18h30, entre os dias 23 e 25 de Setembro, 28 e 30 de Setembro e, 6 e 10 de Outubro. Em simultâneo, o IC irá estabelecer uma área de serviço específica para assistir as associações a efectuarem as candidaturas online entre os dias 23 e 25, 28 e 30 de Setembro, das 9h30 às 13h00, das 14h30 às 18h30. A candidatura ao “Programa de Formação de Recursos Humanos na Gestão Cultural e das Artes” também se encontra aberta.

Artes Andrew Lloyd Webber alerta para danos irreversíveis O compositor Andrew Lloyd Webber avisou os deputados britânicos para o risco de o sector das artes sofrer danos irreversíveis se os teatros, encerrados desde Março devido à pandemia covid-19, não puderem reabrir em breve. Autor da composição do musical “Fantasma da Ópera”, um dos mais bem sucedidos de sempre, em palco há 34 anos em Londres, Lloyd Webber deu esta terça-feira um testemunho na comissão parlamentar britânica para a Cultura, onde pediu ao governo para estabelecer uma

JOÃO MIGUEL BARROS

10.9.2020 quinta-feira

data para a reabertura dos teatros. O compositor vincou as dificuldades de produzir espectáculos rentáveis financeiramente respeitando as regras de distanciamento social, já que nem todos são um sucesso de audiência. “Temos simplesmente de fazer com que o nosso sector das artes volte a funcionar. Na verdade, estamos num caminho sem volta. Vai chegar a um ponto em que realmente não vamos poder continuar. O teatro é um negócio que envolve muito trabalho”, disse.

Lentes ven

FOTOGRAFIA GONÇALO LOBO PINHEIRO E JOÃO MIGUEL BARROS DISTINGUIDOS NOS

Os trabalhos fotográficos de Gonçalo Lobo Pinheiro e João Miguel Barros foram distinguidos na edição deste ano dos Paris Photo Awards. O projecto “Jamestown”, feito no Gana, deu a João Miguel Barros o primeiro prémio de ouro na categoria “Press/Other”. A covid-19 em Macau e os protestos em Hong Kong deram a Gonçalo Lobo Pinheiro duas menções honrosas

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S fotógrafos portugueses Gonçalo Lobo Pinheiro e João Miguel Barros, radicados em Macau, viram o seu trabalho distinguido nos Paris Photo Awards (PX3). Os resultados da edição deste ano dos prémios foram ontem publicados. No caso de João Miguel Barros, o projecto “Jamestwon”, fotografado em Acra, capital do Gana, venceu o primeiro prémio de ouro na categoria de “Press/Other (non-professional)”. Trata-se de um projecto fotográfico feito em Jamestwon, nome de um


eventos 11

quinta-feira 10.9.2020

GONÇALO LOBO PINHEIRO

ncedoras

S PARIS PHOTO AWARDS

“Não é a primeira vez que o meu trabalho foi reconhecido no PX3. Este ano, enfim, um ‘Gold’, com ‘Jamestown’” JOÃO MIGUEL BARROS

necessárias para o seu trabalho”, acrescenta a mesma nota. O trabalho de João Miguel Barros foi ainda distinguido com quatro menções honrosas, uma delas atribuída ao projecto “Akuapem”, também feito no Gana. Todos os anos, no mês de Setembro, acontece o tradicional festival Odwira em Akuapem, no Gana. No website do PX3 lê-se que é um festival que abarca “múltiplas actividades culturais, religiosas e tradicionais”, onde o boxe também se destaca. “Este projecto inclui dois grupos de imagens de várias lutas ocorridas junto a uma praça cheia de pessoas. O primeiro consiste em imagens que foram recicladas e transformadas numa narrativa abstracta que revela os movimentos e dinâmicas da luta. O segundo grupo ilustra de forma perceptível alguns detalhes das pessoas que viram e que vibraram com as diversas lutas”, lê-se. Os PX3 distinguiram também o projecto “Buddhism faith” (categoria

COVID-19 E HONG KONG

Press/Travel/Tourism), sobre templos em Macau, “Net” (categoria Press/ Sports) e “Monk” (categoria Press / Travel /Tourism). Numa nota enviada às redacções, João Miguel Barros destaca o facto de esta ser a primeira vez que recebe o primeiro prémio de ouro. “Não é a primeira vez que o meu trabalho foi reconhecido no PX3. Em 2018 foi atribuído o segundo lugar de bronze na categoria “Press/Sport” (Non-Profissional) ao projecto “Blood, Sweat & Tears”, relacionado com o projecto do boxe PLATAFORMA MEDIA

bairro de Acra onde a pesca é ainda um modo de vida e de sobrevivência para muitas famílias. Numa nota publicada no website dos prémios PX3, lê-se que “o lugar, construído sob um aglomerado de centenas de moradas que formam um informal bairro de lata, é um microcosmos de vida onde apenas se entra com as pessoas certas”. “As imagens seleccionadas focam-se na actividade destes pescadores durante a época baixa, uma pausa importante para eles tomarem conta das ferramentas

centrado na figura do Emmanuel Danso. Em 2019 foi atribuído outro segundo lugar de bronze, na categoria Portrait /Children Non-profissional, à fotografia que faz a capa da Zine.Photo #03. Chama-se “Child’s Dream”. Este ano, enfim, um ‘Gold’, com ‘Jamestown’”. Gonçalo Lobo Pinheiro, fotojornalista radicado em Macau, viu o seu projecto ligado aos cuidados prestados à terceira idade em tempos de covid-19 obter uma menção honrosa na categoria Press/Feature Story. As imagens foram capturadas no lar da Santa Casa da Misericórdia de Macau. A reportagem fotográfica dos protestos de Hong Kong de 2019 também foi distinguida na categoria Press / General News. “Esta história foi feita no dia 1 de Outubro, Dia Nacional da República Popular da China. Em Hong Kong este dia tornou-se num dos mais violentos e os protestos começaram a espalhar-se por todo o território. Há uma Hong

“O facto de os prémios terem incidido em duas reportagens de dois principais eventos mundiais dos últimos dois anos - uma sobre os protestos de Hong Kong e outra sobre a Covid-19 - deixa-me ainda mais satisfeito.” GONÇALO LOBO PINHEIRO

Kong antes e depois deste dia. Este foi o dia em que “os manifestantes confundiram a polícia, entraram em centros comerciais e barricaram-se em universidades”. “O problema de Hong Kong não tem fim à vista”, acrescenta a nota publicada no website do PX3. Ao HM, Gonçalo Lobo Pinheiro declarou que “as menções honrosas no PX3 são muito importantes, pois trata-se de um concurso com alguma notoriedade, tanto na vertente amadora como na profissional, que é naquela que concorro”. “O facto de os prémios terem incidido em duas reportagens de dois principais eventos mundiais dos últimos dois anos - uma sobre os protestos de Hong Kong e outra sobre a Covid-19 -, deixa-me ainda mais satisfeito. É a terceira vez que sou agraciado nestes prémios (2017, 2018 e agora)”, acrescentou o fotojornalista, que trabalhou no HM, onde foi jornalista e editor. “O caminho faz-se caminhando e continuo a percorrer o meu caminho sem prejudicar ninguém. Desejo as maiores felicidades a todos os vencedores, em especial ao Rui Caria, Luís Godinho, Alexandre Manuel Viegas e João Miguel Barros, pela amizade. Obrigado ao júri do PX3 por ver qualidade no meu trabalho”, rematou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


12 china

10.9.2020 quinta-feira

O HM falou com o advogado de um dos detidos em Shenzhen que admitiu ter sido pressionado para não representar o seu cliente. Já em Portugal, o partido Iniciativa Liberal questionou o Governo sobre o caso do estudante com nacionalidade portuguesa, considerando que Lisboa deve intervir para assegurar a sua defesa

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M advogado do Interior da China que está a tentar representar um dos detidos que seguia no mesmo barco que Tsz Lun Kok disse ao HM que foi abordado pelas autoridades chinesas para se afastar do caso. Ren Quanniu terá recebido um telefonema de um funcionário do Departamento de Justiça questionando se já foi a Shenzhen para representar o detido envolvido no caso de travessia ilegal de Hong Kong.

Caracas Conviasa voa até à China

A Conviasa, companhia aérea estatal da Venezuela, violou as sanções impostas pelos EUA que a impedem de voar, e foi à China buscar um carregamento de ajuda humanitária para responder à pandemia de covid-19, anunciaram ontem as autoridades venezuelanas. “Este foi um voo muito especial, porque foi o primeiro (…) apesar do bloqueio imperial, aí está a Conviasa lutando no ar e com as suas poderosas asas, vimos este voo entre a Venezuela e a China”, disse a vice-presidente da Venezuela. Delcy Rodríguez falava à televisão estatal venezuelana no Aeroporto de Maiquetía (norte de Caracas) onde recebeu o novo carregamento de ajuda humanitária da China, e antecipou que a Conviasa realizará “muitos outros” voos para a China.

SHENZHEN ADVOGADO PRESSIONADO PARA ABANDONAR CASO DE JOVENS DETIDOS

Proposta irrecusável? Segundo o causídico, o funcionário que o abordou disse que podia deixar antes advogados oficiosos de Shenzhen assumirem o caso. “Disse que é o caso muito sério e é melhorar não participar. Achava que eu ainda não tinha contactado os familiares do detido”, declarou. Num cenário pessimista, em que a China não queira que os detidos sejam transferidos para Hong Kong, Ren Quanniu acredita que o Governo vai recorrer a “todas as razões” para recusar a interferência dos advogados. “Já começaram as ameaças, ou [dito] de outra forma, avisos de boa-fé. Não vou desistir”, disse Ren Quanniu. Além disso, o advogado revelou que vai reunir-se com agentes do Departamento de Justiça no domingo, antecipando “mais pressão”. O HM questionou o Consulado Geral de Portugal em Hong Kong e Macau sobre se a representação legal do português também tinha sido contactada pelas autoridades chinesas no sentido de desistir da causa em prol de um advogado oficioso, mas o Consulado respondeu não ter informações.

PRESSÕES LIBERAIS

Em Portugal, o partido Iniciativa Liberal considera que Lisboa deve intervir no sentido de assegurar a defesa do estudante de Hong Kong de dupla nacionalidade, portuguesa

e chinesa, detido na China sem acesso a advogado, noticiou a Lusa. “Tsz Lun Kok é um cidadão português, e o facto de residir noutro país não pode servir de justificação para que o Estado Português se demita de exigir para este jovem um tratamento digno, com garantias de defesa e de um processo penal justo”, pode ler-se

na questão apresentada pelo deputado único do Iniciativa Liberal (IL), João Cotrim Figueiredo, dirigida ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE). Para o deputado do IL, “não existem notícias que façam crer que tenham existido desenvolvimentos quanto às condições de detenção de Tsz Lun Kok, que

“Já começaram as ameaças, ou [dito] de outra forma, avisos de boa-fé. Não vou desistir.”

aparentemente permanecerá ainda em isolamento”. O jovem foi detido em 23 de Setembro juntamente com um grupo de activistas de Hong Kong, a caminho de Taiwan numa embarcação que acabou por ser interceptada. Está preso em Shenzhen por suspeita de “travessia ilegal”, e terá visto o acesso a um advogado recusado na última sexta-feira. O deputado considerou “especialmente preocupante” que o Consulado “se encontre apenas a 'acompanhar o caso', e que não disponha de informação relativa à situação do jovem, mesmo quando este já se encontrava detido e isolado há 12 dias”. João Cotrim Figueiredo considera que Portugal tem de defender os direitos humanos, questionando se o MNE pode “assegurar que Tsz Lun Kok se encontra a ser dignamente tratado desde a sua detenção” e se está a trabalhar para que o jovem tenha acesso ao seu advogado. Além disso, o deputado que ainda saber que medidas estão a ser ponderadas pelo gabinete de Augusto Santos Silva para “garantir um julgamento justo” ao jovem, “tendo em conta o historial da China relativamente à negação e à 'interpretação alternativa' sobre os Direitos Humanos”, bem como “a opacidade do sistema judicial”. HM e Lusa

REN QUANNIU ADVOGADO DE UM DOS DETIDOS

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IMPRENSA AGENTES AUSTRALIANOS INTERROGARAM JORNALISTAS CHINESES

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imprensa estatal chinesa revelou ontem que agentes dos serviços de inteligência australianos invadiram as casas de correspondentes chineses na Austrália, em Junho passado, e interrogaram-nos, além de terem confiscado computadores e telemóveis. A agência noticiosa oficial estatal Xinhua e o jornal oficial Global Times avançaram com estas informações, horas depois de os jornalistas australianos Bill Birtles e Michael Smith, correspondentes na China da Australian Broadcasting Corporation e da Australian Financial Review, respectivamente, terem confirmado que chegaram em segurança à Austrália, depois de terem escapado da China.

Sem citar qualquer fonte, a Xinhua relata uma operação dos serviços de inteligência australianos, em 26 de Junho passado, durante a qual agentes entraram nas casas dos jornalistas chineses "sem motivo legítimo" e interrogaram-nos durante horas. Os agentes terão confiscado computadores, telemóveis e vários documentos, tendo ainda pedido aos jornalistas que mantivessem o incidente em segredo. O jornal oficial do Partido Comunista Chinês Global Times, que cita "fontes próximas", "especialistas" e "analistas", todos anónimos, afirmou que “os jornalistas chineses na Austrália cumprem rigorosamente as leis australianas e têm boa conduta profissional".

Trata-se do último episódio numa série de disputas diplomáticas entre a Austrália e a China, que incluiu ainda retaliações a nível comercial. Na terça-feira as autoridades chinesas confirmaram a prisão em Pequim

da jornalista australiana Cheng Lei, funcionária do canal estatal chinês CGTN, por "suspeita de realizar actividades criminosas que colocaram em risco a segurança nacional da China". No mesmo dia, soube-se

da saída da China de dois jornalistas australianos, com ajuda de diplomatas, devido ao risco de prisão pelas forças de segurança chinesas, que os consideraram "pessoas de interesse" na investigação a Cheng.


desporto 13

quinta-feira 10.9.2020

Enquanto deste lado das Portas do Cerco aguardamos por novidades sobre como será o programa da 67ª edição do Grande Prémio de Macau, do outro lado, onde o automobilismo está a retomar a normalidade a conta gotas, há uma aproximação ao projecto da Grande Baía

AUTOMOBILISMO MOTORES FAZEM-SE OUVIR DO OUTRO LADO DA FRONTEIRA

O espírito da Grande Baía emprego durante esta situação epidémica”, explica-nos o promotor da ideia.

XANGAI PROIBIDO E F4 MAIS PRÓXIMA

Depois das corridas realizadas em Zhuzhou, o CTCC, assim como o campeonato TCR China Series, previam continuar este fim-de-semana a sua atribulada temporada de 2020 no Circuito Internacional de Xangai. O gigantesco circuito de Fórmula 1 da República Popular da China tem estado aberto a testes privados e a “track-days”, mas ainda não organizou qualquer evento desportivo desde o início da pandemia e também não será este fim-de-semana. Também o Campeonato da China de GT e o Campeonato de Endurance da China foram forçados a renunciar aos seus eventos na pista

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MA das novidades este ano do Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC na sigla inglesa) foi a constituição este ano de uma Taça da Grande Baía (nota: não confundir com a Taça GT da Grande Baía do Grande Prémio de Macau). “A região da Grande Baía é composta pelas duas regiões administrativas especiais, Macau e Hong Kong, e nove cidades do Delta do Rio das Pérolas de Guangdong, que criaram condições únicas para o estabelecimento da Taça da Grande Baía em termos históricos e culturais”, era possível ler na comunicação daquele que é ainda a mais popular competição automóvel da China Interior. O CTCC é dividido em dois campeonatos diferentes que têm corridas em separado - a Super Taça (que é a categoria rainha e onde corre o piloto português de Macau Rodolfo Ávila) e a Taça China (que é para viaturas mais próximas daquelas que andam nas nossas estradas). A Taça da Grande Baía é um sub-campeonato, ou categoria, com um regulamento técnico muito próximo daquele usado pelas corridas de carros de Turismo de Macau e em que os seus participantes competem

desenhada pelo arquitecto alemão Hermann Tilke. Entretanto, o Campeonato da China de Fórmula 4, a única competição de monolugares do país, já decidiu que fará apenas três provas este ano: duas no Circuito Internacional de Zhuhai e uma outra a anunciar. Esta última, cujo nome não foi divulgado, a organização chinesa afirma ser um circuito “mundialmente conhecido”, com um traçado "que tem várias curvas”, que está “situado numa área montanhosa com diferença significativa de alturas”, e onde se “realizam muitos eventos internacionais e testemunhou muitos momentos clássicos do automobilismo”. Ora bem, pela descrição, não haverá em Macau quem não conheça esta pista. Sérgio Fonseca

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dentro do pelotão da Super Taça. Interpretando o comunicado emanado pela organização do CTCC, na sua génese, esta categoria permitirá a participação no campeonato da China de carros muitos semelhantes, ou mesmo iguais, àqueles usados pelos pilotos de Macau e Hong Kong nas suas competições internas. “Quando o conceito da Taça da Grande Baía avançou, este recebeu respostas positivas de muitos concorrentes, que deram confiança ao CTCC que, apesar das dificuldades, ainda investiu fundos e pessoal para apoiar a formação de uma equipa (para se dedicar ao projecto)”, podia ler-se no comunicado da apresentação deste conceito. “A constituição

da competição para esta categoria não só se refere apenas à tendência da aplicação de regulamentos internacionais populares, mas também junta o feedback e sugestões entusiásticas de muitos concorrentes de Hong Kong, Macau e da área da Grande Baía, que irão trazer uma nova situação ao sector das corridas”. Na primeira prova da temporada, disputada em Zhuzhou, início de Agosto, esta categoria teve apenas três concorrentes à partida. Este número, talvez aquém das expectativas, em muito se deveu ao facto deste projecto ter sido apenas dado a conhecer uma semana antes do primeiro evento e porque, na altura, nem os residentes de Macau, nem os de Hong

O Campeonato da China de Fórmula 4, a única competição de monolugares do país, já decidiu que fará apenas três provas este ano: duas no Circuito Internacional de Zhuhai e uma outra a anunciar

Kong, podiam deslocar-se à província de Hunan com facilidade de hoje, devido às restrições de viagens causadas pela pandemia da COVID-19. Contudo, esta foi a primeira pedra lançada numa iniciativa que se crê ter sido pensada para dar frutos a médio e longo prazo. Uma uniformização de regulamentos técnicos no futuro (p.e.: de forma a que um carro construído para um campeonato de Macau possa também correr num campeonato nacional da China) poderá simplificar a natureza do próprio do desporto e criar condições para atrair novos participantes. “Nós acreditamos que a nova categoria e as novas regras poderão providenciar mais entusiastas das corridas com a oportunidade de entrarem na arena e conduzirem nas pistas, obtendo serviços de apoio mais profissionais nos eventos, ao mesmo tempo que se promove o desenvolvimento da indústria dos desportos e dos desportos motorizados, com um aumento das oportunidades de

ANÚNCIO Execução de Sentença sob a forma Sumária (apenso) n.º

CV1-14-0046-CAO-C

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1º Juízo Cível

Exequente: MA CHI PIO, solteiro, maior, de nacionalidade chinesa, titular do B.I.R.M e residente em Macau. Executados: 1ª. LEI CHING, casada, titular do B.I.R da R.P. China; e 2º. CHEONG LIN YIN ou ZHANG LINGYAN, casado, titular do B.I.R da R.P. China, ambos com última residência conhecida na China, Província de Guizhou, cidade de Guiyang, “Xiao Shizi Fu Shui Huayuan”, Bloco C, 21º andar n.º 5, ora ausentes em parte incerta.-----------------------------------------------*** FAZ-SE SABER, que foi designado o dia 7 de Outubro de 2020, pelas 15:15, no local de arrematação deste Tribunal e no processo acima indicado, para venda por meio de propostas em carta fechada, do seguinte bem penhorado: Imóvel penhorado Denominação da fracção autónoma: “O20” do 20º andar “O”. Situação: sito em Macau, n.º 135 a 275 da Rampa da Taipa Grande, na Taipa. Finalidade: habitação. Número de matriz: 040929. Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: n.º 19819-IV do Livro B. Número de inscrição de propriedade horizontal: n.º32981 do Livro F. O Valor base da venda: MOP$18.000.000.00 (Dezoito Milhões Patacas). *** São convidados todos os interessados na compra daquele bem a entregar na Secção Central deste Tribunal, as suas propostas, até ao dia 7 de Outubro de 2020, pelas 13:00, sendo que o preço das propostas devem ser superior ao valor acima indicado, devendo o envelope da proposta, conter, a indicação de “PROPOSTA EM CARTA FECHADA” bem como o “NÚMERO DO PROCESSO: CV1-14-0046-CAO-C”. No dia da abertura das propostas podendo, querendo, os proponentes assistir ao acto. Quaisquer titulares de direito de preferência na alienação do bem supra referido, podem, querendo, exercer o seu direito no próprio acto da abertura das propostas, se alguma proposta for aceite, nos termos do art. 787.º do C.P.C. *** Na R.A.E.M., 20/07/2020 A JUIZ


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retrovisor Luís Carmelo

10.9.2020 quinta-feira

Agora só quero dormir um sono sem olhos

Cálice e Ciclone

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CABEI há dias o segundo romance do “Díptico das origens”, intitulado ‘Ciclone’. Deverá ser publicado no próximo ano e fará companhia a ‘Cálice’, que foi editado pela Abysmo e lançado a público nas Correntes d´Escritas de Fevereiro passado, mesmo antes de a pandemia nos ter confinado. Depois da “Trilogia do Sísifo” (20152017) que integrou ‘Gnaisse’, ‘Por Mão Própria’ e ‘Sísifo’, romances que perseguiram temáticas como as do amor, da perda e da iniciação, este novo díptico debate-se com as figuras do pai e da mãe. Trata-se de isotopias fortemente mitológicas e, ao afirmá-lo, sustento-me na visão de Hans Blumenberg, para quem o mito não é uma instância colada a um passado arcaico, mas antes um devir que reocupa todos os presentes, tal e qual como uma onda persistente que nunca passa à fase da rebentação e que, portanto, não deixa incólume nenhum areal da nossa existência. Foi um repto muito difícil e literariamente complexo, até porque impôs uma evasão da experiência subjectiva na direcção de um campo aberto que pudesse permitir identificação, reconhecimento e alteridades várias. O percurso de escrita implicou uma poética da biografia, baseado em dados concretos (mas perecíveis e fluidos no seu domínio referencial), aliada a uma ética do intangível que pressupôs, por sua vez, uma projecção de vidas e de acontecimentos que poderiam ter sido possíveis (e que na ficção encontrarão decerto um justo eco de realização). As palavras “mãe” e “pai” remetem para um imaginário infantil. Desde logo porque espelham uma fonética das origens (as bilabiais “m” e “p” são as primeiras a ser proferidas pelos bebés) e aliciam a melancolia, a saudade e o narcisismo. Nelas estão inscritos tabus sexuais, identitários e genealógicos. Razão por que um pai e uma mãe não têm nome. Ninguém trata uma mãe e um pai pelo seu próprio nome, mas sim pela designação da função. Jamais me teria dirigido à minha mãe dizendo “Olá, Maria Bárbara!”, ou ao meu pai dizendo “Olá, José Geraldo!”. Os nomes instauram naturezas específicas, conotam sagas e lo-

Já escrevi muitos livros, talvez demasiados. Mas desta vez, senti que este “Díptico das origens” me levou a superar uma fasquia até há pouco completamente desconhecida. Numa palavra: percebi o lugar antes inabitado a que agora cheguei

gros e povoam metáforas (muitas delas sem tradução nas palavras). Os nomes são, pois, amplitudes excessivas e merecem recato, quando o que está em causa são as figuras que nos deram origem. Daí a reverência que se assemelha bastante à questão teológica dos nomes nos monoteísmos, já que, estando deus, ao mesmo tempo, acima de toda a criação e nela implicado (enquanto causa primeira), não pode ser tratado por um nome, epíteto reservado apenas às entidades e aos seres criados. ‘Cálice’ e ‘Ciclone’ recriam e repõem em cena evidências passadas, a partir de relatos que se foram constituindo como uma dramaturgia dos primeiros anos de vida, para depois se mesclarem em cursos de acção que teriam sido muito desejados, mas jamais efectivados. Creio que este pas de deux se aproxima muito da noção “mimesis” que, ao invés de decalcar ou de pretender representar (como se existisse no mundo uma realidade que pudesse ser representada!), se traduz num sobrevoo que convida sobretudo ao reexame do que somos, do que herdamos, do que perdemos e, em primeiro lugar, do que almejamos. Toda a arte se consuma nesta atitude especular que instiga o ‘outro’ a não se confundir com as suas imagens mais imediatas, obrigando-o a saltar (a sair de si) para um lugar ainda inabitado. É nessa linha de fuga que a ficção pode recolher os frutos para que foi criada, do mesmo modo que toda a imaginação é uma convulsão sem geografia e sem tempo próprio. Já escrevi muitos livros, talvez demasiados. Mas desta vez, senti que este “Díptico das origens” me levou a superar uma fasquia até há pouco completamente desconhecida. Numa palavra: percebi o lugar antes inabitado a que agora cheguei. Para melhor elucidar esta sensação deixo-vos as últimas linhas do capítulo 45 (cinco antes do final do romance): “O corpo da mãe tinha a madrugada colada à pele. Acontecia antes de tudo. Depois de cada concerto havia sempre uma segunda-feira de manhã muito cedo. Um bulício cristalizado que recomeçava lentamente após o silêncio da mais apetecida das mortes. E então a mãe sentava-se no muro. E sabia, por fim, que era ali o seu lugar.”.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

quinta-feira 10.9.2020

diário de Próspero

António Cabrita

Dormir com Lisboa

04/09/20 “A explicação órfica da terra é o único dever do poeta.”, Mallarmé. Um encolher de ombros, um leve enfado: tudo o que me provoca hoje este tipo de sentenças peremptórias e redutoras. Imagine-se: o único. E logo “patrocinado” por Orfeu que, ao contrário de Alceste, não teve os tomates para trocar a sua alma pela da amada, ou de deixar a sua lira como penhor no Hades. Há muito de burguês e de balofo nesta pretensão mallermeniana. Para que lhe servia então o dom, se face à morte recuou? Puro ilusionismo de feira. Que o poeta reivindique esse desígnio para si é magnífico (foi o caso de Herberto, entre outros), que o torne condição sine qua non para toda a poesia é excrável. Há muitos raios para chegar ao núcleo da roda. 05/09/20 A este selo com dois cudos a correrem, desenhados com esmero e dinâmica, posso garantir que Pessoa não o teria na sua colecção porque a sua emissão só teve lugar dez anos após a sua morte. Perdeu-se a sua colecção de selos, reunida com tanto empenho, ainda que tenha chegado até nós o seu álbum. Quem lhe teria extraviado os selos, como? Tê-los-ia trazido consigo, no regresso a Lisboa desde Durban, ou já considerava isso coisas de menino? Qual foi a medida do impulso coleccionista em Pessoa? Há imensas zonas de penumbra que a investigação (felizmente) não tem conseguido dilucidar, aspectos que na vida de um homem reaparecem com uma irrelevância quotidiana, mas sem desfalecimento. Por exemplo, o umbigo de Fernando Pessoa seria do tipo dos que atraem a formação de cotão ou não? Nesse caso, quantos quilos de cotão produziu o poeta em vida? Todas as coisas de molde inaparente, menores, que podem reger a vida de um homem sem ele dar conta. A primeira vez que Sir Walter Raleigh se despiu diante da Rainha Isabel esta, percorrendo-lhe com o olhar o tronco escorreito, largou uma gargalhada ao dar-se conta de que Raleigh estava nu em todos os lugares menos no umbigo, onde repontava uma bola de cotão. Essa gargalhada, que Raleigh nunca recebera de qualquer mulher sinalizou para Elizabeth uma superioridade que a fez ter sobre o seu amante um ligeiro ascendente. 07/09/20 A gafe foi momumental. A empregada enganou-se na panela e aqueceu a errada, servindo à mesa a sopa que estava azeda. Apressar-nos a contar que foi imediatamente despedida não salva um jantar liquidado à nascença. Recomeçemos agora a narrativa por um ângulo à

Claude Chabrol e mais afim do imaginário da luta de classes: a criada fez a ronda da mesa, vertendo colher e meia de sopa por prato, e os convidados aguardaram cerimoniosos que o anfitrião fosse servido. Este colocou o guardanapo sobre as pernas e acabou de contar a anedota de um anão que fora dormir à alma do canhão do circo, antes de num gesto magnânimo, sugerir, Comam, façam fa-

vor de começar antes que arrefeça, e para dar o exemplo foi o primeiro a levar a colher à boca. Foi também o primeiro a baquear, envenenado. 09/09/20 Dois livros sobre Lisboa retiveram-me a atenção nas últimas semanas. O primeiro é de fotografias, Lisboa Deserta, de Maria Margarida Chaves Marques, um álbum

Um romance imperdível com um enredo imaginativo e uma escrita ágil, que ameaça ser um dos livros do ano. Pelo menos, a singularidade ninguém lho tira

com design de Ivone Ralha. Eis o testemunho de uma Lisboa em puro insílio, nua, despojada de gente. Tinha ouvido falar por familiares desse período de isolamento obrigatório por causa do Covid e das suas regras quase militares, mas nunca se imagina quanto. O livro mostra-nos e ganha um relevo quase sociológico. Uma cidade sem ninguém é um organismo em ferida, constata-se neste “belo” álbum que percorremos com a inquietação que antecede os sismos. Um alerta que não nos deixa esquecer de quanto o rosto de uma cidade depende da sua fosforescência humana. Outra curiosidade interessante: as fotografias deste álbum foram todas tiradas com um telemóvel, sendo a prova de que, como queria Paracelso, é a mente quem faz ver os olhos. Uma boa foto só depende de se ter um ponto de vista – e desta carência o livro não sofre. Encontra-se à venda na Livraria Snob. O outro é um romance da Fausta Cardoso Pereira, Dormir com Lisboa. Um belíssimo livro que foi obrigado a um percurso sinuoso por causa da sua peculiaridade narrativa: o protagonista é a própria cidade. Como “supostamente” lhe faltava um personagem com quem o leitor se identificaria (o que é falso, aqui como em Manhatthan Transfer, de John dos Passos, retrata-se a cidade com um ritmo, uma riqueza de perspectivas e uma pulsação orgânica que nos leva a não abandonar a leitura) o livro foi sendo rejeitado até que ganhou na Galiza o Prémio Antón Risco de Literatura Fantástica e vários encómios após a sua edição, pelas virtudes que em Lisboa lhe negaram. Agora vai ser finalmente editado em Portugal, por uma editora portuguesa mais sensível à eficaz estrutura coral do livro e menos arreigada à uniformidade do mainstream. A edição galega é de 2017 mas o covid e as ausências da mole humana na cidade devido à pandemia deram a esta narrativa um carácter quase profético. A trama é simples: quebrando a sua rotina, numa aleatoriedade que desafiará a criatividade de cientistas chegados de todo o mundo para estudar o fenómeno, a calçada de Lisboa ganha hábitos de bivalve e engole alguns cidadãos comuns. O desconforto, a desorientação e o pânico tomam conta da urbe, que ameaça desertificar. É a “alma” da cidade que se revolta contra a indiferença e as equívocas politicas urbanas dos seus edis? Será algum tipo novo de “doença” urbana? Que espécie de cataclismo e de assombramento ameaçam Lisboa? Um romance imperdível com um enredo imaginativo e uma escrita ágil, que ameaça ser um dos livros do ano. Pelo menos, a singularidade ninguém lho tira.


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As canções de Bilitis

V

ERÕES que nos dão tanto azul levam-nos sempre para o mítico espaço do Mediterrâneo, que este Mar é sempre Antigo, sempre povoado de corpos e lendas que a saudade recria e inventa, e é nestas margens que nos vamos demorar no alto Estio que agora começa a amadurecer: Pierre Louys um nome grande da literatura francesa do final do século XIX é autor da obra assim titulada que diz ter traduzido do grego Antigo quando da sua publicação em 1894 - diz- ter encontrado no túmulo da poeta Bilitis os seus poemas o que para os helenistas da época provocou um enorme impacto e a Pierre um prodigioso sucesso, contemporânea de Safo cuja poesia o nosso autor escandiu com elevada mestria, mas também - diz- terem sido encontrados nas paredes de uma sepultura no Chipre e tanto disse da estranha aparição de tais poemas, circunstâncias e lugares, que o desdisse perto da morte que ocorreu em 1925 afirmando no último sopro que tudo era afinal dele, e só dele, o grande estudioso da antiguidade grega embrenhado em vestir a pele das mais inspiradoras gregas. «E Bilitis nunca existiu»! A mistificação que o norteou está plena de um gozo indizível mas que fornece o tamanho de um registo poético absolutamente delicioso, talvez fosse ele a antecâmara da sua personagem numa inusual forma que fez todos acreditarem na versão criada sem um pestanejar de olhos até às mais altas instâncias das Academias, que também é certo, que toda o trabalho feito em prol do imaginário helénico e da sua paixão por Safo lhe tivessem dado amplos poderes de heteronimizar a personagem sonhada. Nada que um poeta não faça na posse completa das suas faculdades, antecipando o sistema criticista dos estudiosos, que lendo, pouco entendem, e não lendo, na mesma ficam. Mas é lendo-o que conseguimos aplanar alguns encontros com os artefactos, dado que estamos aqui num mundo feminino, de Gineceu, de imensos dotes germinais e poder de evocação, Pessoa fez isso muito bem em várias ocasiões, mas há «O Último Sortilégio» onde vamos encontrar sem esforço esta Bilitis. Se ainda acharmos que este tamanho das coisas nos confunde, talvez, e em vez de orientar o esforço para o um certo lesbicismo autoral, tenhamos então que perguntar pela qualidade do amor dos homens e não para uma opção orientada por estranhas resoluções fisiológicas: e foi nesse reino de homens ébrios e ausentes nas guerras, demasiado afastados da exigência das musas, que cresce e se dá uma civilizada e amorosa forma de cantar o amor, de

gens como em vasto universo paralelo não dando conta do que é necessário para ser “real” realíssimo é este instante de aves soltas, jovens, belos, pastores, rebanhos e ilhas encantadas, trazemos a lembrança grega nos calcanhares e Aquiles por estas paragens é ainda o mais desejado. Uma infiltração poética que o deixa à beira do seu estado mais puro, o que para factual, tanto faz. Descrever isto sem recurso aos aspectos apreendidos requer sortilégios perto do homem que percorreu as várias fragmentações do ser, e que por isso mesmo considerámos completo, perfeito e inultrapassável. Pessoa.

GEORGE BARBIER

Amélia Vieira

Foi um homem singular, Pierre Louys, o que ele não amava não existiu, foi um grande trabalhador da escrita, nada que fosse exterior ao seu interesse o deixaria interessado mesmo trazendo-lhe vantagens, foi rico,pobre, amante, boémio, amigo e inventivo na relação amorosa

viver a vida, de sentir facetas complexas que é apanágio dos melhores. Mas muitos destes versos embora fruto de um trabalho individual também foram reelaborados a partir da Antologia Palatina e seus epigramas - esta poesia era na época antiga basicamente epigramática- e nem todos foram escritos na mesma época e da mesma maneira, usando até o soneto, mas o conjunto é de uma grande harmonia interna e nunca deslocado da personagem que o inspira. A versão portuguesa chegaria em 1927 apresentando Bilitis como uma personagem real na tradução, e digamos,

que para tal obra foi bastante bom o tempo que até nós levou a chegar. Pierre Louys levantou polémica, e o seu nome foi por um lado associado a um equívoco que envergonhara alguns, por outro lado proliferaram a partir dele traduções de textos da Antiguidade que os grandes autores começaram a compor . As duas partes de uma moeda. Creio no entanto terem sido ambas muito válidas na medida em que o imaginário está intacto e a extrema sedução desta poesia é o mais perto que temos do Mar dos deuses, das ninfas e dos sonhos. Todos gostaríamos de ter estado mergulhados nestas para-

Uma mulher se envolve em lã branca. Outra se veste de seda e ouro. Outra se cobre de flores, folhas verdes e uvas Quanto a mim, não saberia viver senão nua. Meu amante, Toma-me como eu sou: sem vestes, nem jóias, nem sandálias eis Bilitis sozinha.

Foi um homem singular, Pierre Louys, o que ele não amava não existiu, foi um grande trabalhador da escrita, nada que fosse exterior ao seu interesse o deixaria interessado mesmo trazendo-lhe vantagens, foi rico, pobre, amante, boémio, amigo e inventivo na relação amorosa, é possível que tivesse sido alguém muito livre e desleixado com o seu próprio fim, mas intensamente forte e terno para nos deixar este seu testemunho e salvaguardar a lenda feminina do martírio de existir. Neste mundo belo as mulheres são tão veneradas e livres como os próprios sonhos, os homens servem as suas causas, que pela intuição finíssima do autor, se assim não for, passam também eles a não existir. Também há homens que as fazem sonhar. De uma grande tensão erótica é ainda ele mesmo que afirma que o desejo não é “natural” mas uma criação poética e humana. Não somos capazes hoje mesmo de entender, como pode ser bela, também, a voz de um homem. Debussy musicou ainda «Trois Chansons de Bilitis».


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C I N E M A SALA 3

Um filme de: Cristopher Nolan Com: John David Washington, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki 14.30, 18.00, 21.00

Um filme de: Gerard Bush, Christopher Renz Com: Janelle Monae, Jack Huston, Jena Malone, Eric Lange, Kiersey Clemons 14.30, 16.30, 21.15

SALA 2

PENINSULA [C]

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ANTEBELLUM [C]

TENET [B]

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EURO

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O Governo grego anunciou ontem que vai declarar estado de emergência na ilha de Lesbos, na sequência do incêndio no campo de refugiados de Moria, que destruiu praticamente todo o local e deixou cerca de 13.000 desabrigados. As autoridades decidiram ainda proibir todas as

SALA 1

FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS/INGLÊS Um filme de: Yeon Sang-ho Com: Gang Dong-won, Lee Jung-hyun 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 19

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PROBLEMA 20

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Cineteatro

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A CHOO [C] FALADO EM PUTONGHUA LEGENDADO EM CHINÊS/INGLÊS Um filme de: Kevin Ko, Peter Tsi Com: Kai Ko, Ariel Lin, Ta-Lu Wang 19.00

UM DISCO HOJE Quem nunca dançou ao ritmo de Lonely Boy ou passou os olhos pelo seu videoclipe pode muito bem ter ignorado um dos melhores momentos musicais de 2011. El Camino é um dos álbuns incontornáveis da carreira dos norte-americanos The Black Keys e dele fazem parte outros marcos da banda, como Little Black Submarine ou Gold On The Ceiling. A guitarra é inconfundível e o rock dançante, umas vezes saído do velho faroeste e outras de uma viagem pela Route 66. Pedro Arede

BAHT

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1.15

pessoas que viviam em Moria de deixar a ilha para evitar uma possível disseminação da covid-19, avançou o porta-voz do Governo, Stelios Petsas. O incêndio foi detectado depois de ter sido anunciado que 35 pessoas do campo tinham testado positivo à covid-19.

EL CAMINO | THE BLACK KEYS (2001)

3 7 0 4 5 9 4 6 9 2 8 1 0 1 3 5 6 2 9 8 2 3 4 7TENET 6 4 7 9 0 8 1 0 8 6 3 5 Propriedade 5 Colaboradores 3 1 Fábrica 0Anabela 7de Notícias, 4 Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; 7 Gonçalo 5 Lobo 6 Pinheiro; 1 2Gonçalo3M.Tavares;JoãoPauloCotrim;JoséDrummond;JoséNavarrodeAndrade;JoséSimõesMorais;LuisCarmelo;MichelReis;NunoMiguelGuedes;PauloJoséMiranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David 8 Chan; 2 João4Romão; 7 Jorge 9Rodrigues 6 Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 2 Morada 9 Calçada 5 8deSanto 1 Agostinho, 0 n.º19,CentroComercialNamYue,6.ºandarA,Macau Telefone 28752401 Fax28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítiowww.hojemacau.com.mo


18 opinião

10.9.2020 quinta-feira

“Resilience is accepting your new reality, even if it’s less good than the one you had before. You can fight it, you can do nothing but scream about what you’ve lost, or you can accept that and try to put together something that’s good.” Elizabeth Edwards

O

ser humano é um ser social, é isto que a evolução e a história humana nos ensinam. A socialidade é um ingrediente essencial para a sobrevivência da nossa espécie e é por isso que a solidão, o isolamento e o distanciamento social, estratégias válidas para proteger a saúde individual num momento de emergência, são experimentadas com desconforto e mal-estar emocional que despertam em todos o desejo poderoso de encontrar outros. Assim, que o distanciamento a que somos obrigados é uma estratégia defensiva que não pode ser aplicada ao extremo, porque se tornaria contraproducente para nós e para a nossa espécie. Não pode ser um novo modo de vida, também devido às numerosas evidências que vêem na socialidade e no contacto humano um elemento indispensável para o nosso bem-estar psíquico, mas também físico. Pode o medo de contágio continuar para além do fim da pandemia se é que alguma vez terá fim? O medo de contágio continuará sem dúvida para além da pandemia, tanto porque teremos de esperar pela descoberta de uma vacina (fontes fidedignas prevêem que não estará disponível tão cedo como desejaríamos pois tem de passar por várias fases de desenvolvimento) para termos nas nossas mãos uma arma definitiva contra o coronavírus SRA-CoV-2, como porque o impacto emocional desta pandemia manterá a nossa cautela durante muito tempo. Estaremos preocupados se numa sala cheia de gente alguém vai tossir ou espirrar, ou não existir distância que agora consideramos segura, ou mesmo as pessoas não serão vistas como perigosas apenas devido ao seu comportamento ou atitudes, mas simplesmente porque são potenciais veículos assintomáticos e involuntários do vírus. Estar fisicamente perto e ouvir a respiração um do outro desencadeará um alarme que nos levará a manter a nossa distância. O medo seja individual ou colectivo, permanecerá a um nível elevado e este efeito será tanto maior, quanto maior for a fase activa da propagação do vírus. Como podemos evitar que a ansiedade de contágio se torne uma obsessão que iremos carregar connosco mesmo depois da pandemia? Não se pode evitar que esta experiência incisiva não seja uma condição para nós no futuro.

Mas dependerá da duração da pandemia e das consequências que esta acarretará. As experiências negativas só podem induzir uma mudança estável de comportamento se provocarem consequências graves e durarem tempo suficiente, caso contrário a mente humana tende a devolver o seu comportamento e atitudes à situação antes da experiência negativa. Sem dúvida, para muitos será uma experiência emocionalmente inesquecível como para pessoas que foram hospitalizadas, para trabalhadores da saúde directamente envolvidos na gestão dos doentes, para os que perderam um ente querido ou para os que terão dificuldade em se sustentar financeiramente. E para muitos outros que, para além do isolamento social, não sofreram consequências devastadoras, a mente poderia reiniciar estas experiências negativas e recomeçar a tentar reproduzir os padrões habituais de comportamento pré-pandémico. Quando, para se proteger do perigo, o ser humano activa emoções negativas, entre as quais o medo é certamente a rainha, priva-se de muitas liberdades, e esta defesa tem um custo muito elevado. Portanto, uma vez superado o perigo, a mente tenta naturalmente regressar à situação de bem-estar que a liberdade, a novidade e o encontro com os outros lhe garantem. No futuro, estaremos natural e automaticamente inclinados a retomar a socialidade, mesmo que esta pandemia tenha sido uma experiência forte, negativa e inesperada, sempre será uma bagagem com que teremos de carregar e lidar. A principal regra para sair do medo de contágio é adoptar uma exposição gradual e progressiva ao mundo e a outros. No início, estaremos em alerta máximo, e gradualmente conseguiremos encontrar a distância de segurança certa. Em vez de evitar, teremos de aprender a viver razoavelmente com o risco. Como vamos recuperar a propriedade das nossas relações sociais? Será fundamental para a nossa saúde física e mental recuperar a posse da nossa rede social afectiva. De facto, o isolamento crónico aumenta a activação do sistema de stress endócrino, especialmente em relação à quebra dos laços, em vez do isolamento em si. E este é precisamente o caso do que está a acontecer nesta pandemia, onde a solidão e o isolamento social não são uma escolha pessoal, mas sim a imposição ditada pelo perigo infeccioso que nos obriga, apesar de nós, a desligarmo-nos das nossas relações emocionais. Quando sairmos da fase aguda desta pandemia, será essencial ser claro sobre o valor das relações humanas e emocionais para o nosso bem-estar e não esquecer que uma possível infecção pela Covid-19 traz alguns riscos, mas o isolamento social traz outros, igualmente perigosos. O stress crónico que poderia resultar da privação de energia emocional positiva ligada a relações sociais apropriadas poderia mesmo afectar negativamente o nosso sistema imunitário, jogando negativamente no risco infeccioso. Apropriarmo-nos novamente das nossas

TERRANCE OSBORNE

A Covid-19 e

relações sociais, dos nossos laços temporariamente quebrados, significa perceber a sua importância crucial para o nosso bem-estar psicofísico e gradualmente, em segurança, regressar a sentir a proximidade física do outro. Como podemos recuperar a intimidade com o nosso parceiro ou abrir-nos a novos encontros? Cônjuges ou parceiros que, durante a pandemia, continuaram a viver juntos, foram capazes de manter a partilha mental e física com o seu ente querido, o que é crucial para o bem-estar. É diferente quando um casal vive separado, talvez por razões de trabalho, e teve de enfrentar uma quarentena à distância, pois o peso da separação só pode ter agravado a fadiga do isolamento. A aproximação, quando a emergência terminar, será certamente um momento de alegria mas também muito delicado, devido ao medo que o contágio nos incutiu tão profundamente. O melhor é

falar com o seu parceiro sobre o que sente e, sem forçar, respeitaram-se mutuamente o tempo necessário para regressar a uma nova proximidade, emocional e física. No caso de o nosso parceiro ter tido resultados positivos no COVID-19, uma vez que tenha recuperado e saiba que está curado pelos procedimentos definidos pela autoridade sanitária, deixará de ser uma fonte de perigo e poderá, portanto, ser abordado fisicamente. Os novos encontros, enquanto houver risco de contágio, são desconhecidos sob muitos pontos de vista, portanto, enquanto não tiver a garantia dada por uma vacinação, será uma boa prática permanecer protegido e limitar os riscos. E infelizmente, neste sentido, o beijo pode ser uma fonte de contágio. Contudo, há sempre a possibilidade de fazer novos conhecidos, mesmo com um rosto protegido por uma máscara, podemos estar serenos de que os nossos olhos serão


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quinta-feira 10.9.2020

perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

a resiliência

sempre capazes de comunicar as nossas emoções! É importante não colocar os nossos corações em quarentena; não esqueçamos que as emoções positivas são capazes de nos tornar fisicamente mais fortes e, portanto, mais capazes de nos defendermos dos riscos físicos. Como podemos enfrentar o medo de consequências económicas causadas pelo encerramento? As consequências económicas serão inevitáveis mas, numa sociedade avançada como a nossa, não devem levar a uma falta do que é essencial para a sobrevivência. Não seremos os únicos a enfrentar as dificuldades, e muitas são e serão as medidas postas em prática pelos governos para ajudar os seus cidadãos. Talvez as renúncias que esperam muitos de nós afectem as áreas da vida que não são realmente necessárias. Este momento de disponibilidade económica reduzida poderia permitir-nos seleccionar melhor o

essencial do supérfluo, ensinando-nos que a vida é o bem mais precioso que temos. Voltar a comer coisas simples, ler livros, apreciar o nascer e o pôr-do-sol, caminhar ao ar livre, tomar banho no mar, respirar bom ar de montanha são aspectos da vida que devem ser reconsiderados. A ansiedade e o medo de um futuro económico mais pobre devem ser combatidos com a reflexão sobre o valor real das coisas e a certeza de que não perderemos o que é essencial para viver. Pelo contrário, talvez tenhamos mais tempo para nos dedicarmos às actividades “económicas” ou mesmo de custo zero que negligenciámos no moedor de carne da vida moderna... pré-pandemia. Se por um lado os nossos filhos são arrancados dos seus hábitos escolares e sociais, e do benefício de uma Primavera ao ar livre, por outro lado experimentam um momento muito especial de partilha de tempo com os

seus pais e irmãos, e caberá aos pais dar valor a este momento único. Atenção, brincadeira, afecto, ajuda nos compromissos escolares são alguns dos aspectos centrais para fazer deste momento uma fonte de alegria para os nossos filhos e netos. Os nossos jovens têm a sorte de serem a geração web capaz de preencher intuitivamente a sensação de solidão através das redes sociais, da partilha de jogos online, mas não devem certamente ser deixados sozinhos com os seus tablets ou smartphones, pois mais do que nunca nestas semanas podem precisar de um guia ou de uma comparação diferente da dos seus pares. Se expressarem claramente medo, ou o fizerem indirectamente com atitudes agressivas ou, pelo contrário, fechando-se demasiado sobre si, é preciso estar pronto a captar estes sinais para lidar com eles com paz de espírito, tranquilizando-os tanto quanto possível e que, tomando as devidas precauções, tudo correrá bem e passará. Durante a quarentena e após, mas especialmente para os mais pequenos, o scanning do dia em horários bem definidos e fixos é muito importante, com momentos dedicados ao trabalho escolar e espaços para jogos. Isto é para evitar repercussões no ritmo de sono/vigília. É importante manter bons hábitos alimentares, de modo a não se deparar com comportamentos negativos que são difíceis de eliminar posteriormente. O trabalho inteligente neste sentido torna-se uma excelente oportunidade para nós adultos descobrirmos uma nova forma de conciliar o tempo de trabalho com o tempo familiar. O que podemos aprender com esta pandemia Quando confrontamos o medo e a ansiedade que nos acompanha, tendemos a esquecer e a negligenciar um aspecto extraordinário do nosso ser humano que é a resiliência. A resiliência não é simplesmente a capacidade de resistir à adversidade, mas a habilidade de usar a adversidade para se tornar mais forte. Esta extraordinária capacidade de adaptação está potencialmente presente em todos nós; pode ser aprendida, treinada e activada durante situações difíceis. O desenvolvimento evolutivo do ser humano moldou este poder adaptativo em todos nós e o nosso sistema imunitário, que foi aperfeiçoado ao longo do tempo, é capaz de nos proteger de muitas infecções, incluindo a da COVID-19 que, na grande maioria dos casos, é assintomática ou dá sintomas ligeiros. O medo é combatido com confiança na nossa força como indivíduos e na da nossa sociedade, embora imperfeita, para responder a perigos como o actual. A ausência de medo é um sinal de inconsciência que é a antecâmara da extinção da nossa espécie. Sem medo não pode haver coragem e esta consiste em aceitar os nossos limites, de não nos sentirmos invencíveis, a de todos os médicos e enfermeiros que lutam pela vida das pessoas afectadas pela Covid-19, colocando as suas vidas em risco; a coragem de aceitar o desafio que o futuro nos apresentará depois desta pandemia que

nos deve dar a consciência da nossa força como seres humanos e sociais. A coragem de voltar a abraçar-nos com confiança deve ser o antídoto para o medo do mundo que está para vir. Certamente a pandemia lembrou-nos que não somos super-heróis. Colocou a vulnerabilidade do ser humano aos fenómenos naturais de volta ao centro da nossa existência. Não é por acaso que ultimamente, na linguagem da média, ouvimos muitas vezes a metáfora do tsunami a ser usada para descrever o impacto que a propagação do vírus tem tido na nossa vida diária, económica e social, e no nosso sistema de saúde.

A pandemia não é a renúncia de uma sociedade moderna, mas antes traz à luz o que é útil e construtivo para o ser humano, em comparação com o que não é. Se no final desta emergência nos tornarmos mais conscientes do valor das relações sociais, dos nossos limites e dos nossos preciosos recursos cognitivos e psicológicos, então teremos dado um passo de gigante A pandemia lembrou-nos que somos frágeis, que somos um pequeno habitante deste universo, não somos os seus governantes. Mas certamente a emergência mostrou como os seres humanos são capazes de activar todos os seus melhores recursos, não só psicológicos, mas também técnico-científicos. Médicos e investigadores de todo o mundo estão a trabalhar para obter uma vacina o mais depressa possível. A instrumentação de saúde existente, e a que foi inventada ou retrabalhada nestes tempos por engenheiros e médicos, são o resultado da nossa criatividade, inteligência e capacidade de adaptação. A pandemia não é a renúncia de uma sociedade moderna, mas antes traz à luz o que é útil e construtivo para o ser humano, em comparação com o que não é. Se no final desta emergência nos tornarmos mais conscientes do valor das relações sociais, dos nossos limites e dos nossos preciosos recursos cognitivos e psicológicos, então teremos dado um passo de gigante. Se tivermos visto a face do medo e as nossas emoções mais negativas, se as tivermos reconhecido e usado a nosso favor, estaremos mais fortes e prontos a deixar as nossas casas para enfrentar o que nos espera em pequenos passos. Se isto acontecer, então mesmo um evento tão dramático adquirirá grande valor para nós e para as gerações futuras. Será “um pequeno passo para a humanidade, mas um grande passo para a humanidade”.


O bom ouvinte normalmente está a pensar noutra coisa. Kim Hubbard

quinta-feira 10.9.2020

Navalny Moscovo acusa Alemanha de “acusações infundadas e ultimatos”

Selecção portuguesa Pelé felicita Cristiano Ronaldo pelos 101 golos

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Rússia protestou ontem junto do embaixador alemão em Moscovo pelas “acusações infundadas e ultimatos” do seu país sobre o envenenamento do opositor do regime de Moscovo Alexei Navalny. O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo também acusou o Governo alemão de usar o caso Navalny para “desacreditar a Rússia no cenário internacional”, avisando que se o embaixador se recusar a transmitir a Berlim este recado, o seu gesto será considerado uma “provocação grosseira e hostil”. Os ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido disseram na terça-feira, num comunicado conjunto, que estão “unidos na condenação, nos mais fortes termos, do envenenamento confirmado de Alexey Navalny”. Alexei Navalny, de 44 anos, actualmente em tratamento na Alemanha após ter sido inicialmente hospitalizado na Rússia, foi vítima de um ataque com um agente nervoso do tipo Novichok, de acordo com o Governo alemão. Por sua vez, a Rússia insiste que nenhum vestígio de veneno foi detectado pelos médicos russos no corpo de Navalny e exige ter todas as informações, que a Alemanha ainda não forneceu, de acordo com Moscovo.

Desde o início da pandemia e até 18 de Abril, terão ocorrido nos Estados Unidos 6,4 milhões de casos de covid-19, mas só foram confirmados cerca de 700.000, o que significa que o número de infecções foi “amplamente subestimado”

Assobia para o lado

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Estudo aponta que 90% dos casos de covid-19 passaram despercebidos nos EUA

número infecções pelo novo coronavírus foi “amplamente subestimado” e cerca de 89 por cento dos casos passaram despercebidos nos Estados Unidos entre o início da pandemia e 18 deAbril, revela uma investigação ontem divulgada. Desde o início da pandemia e até 18 de Abril, terão ocorrido nos Estados Unidos 6,4 milhões de casos de covid-19, mas só foram confirmados cerca de 700.000, o que significa que o número de infecções foi “amplamente subestimado” e que 89% por cento dos casos passaram despercebidos. Estes dados constam de uma investigação publicada ontem na Nature Communications liderada por Jade Benjamin-Chung, do Departamento de Epidemiologia e Bioestatística da Universidade de Berkeley, na Califórnia, lembrando que o primeiro caso conhecido e confirmado de covid-19 nos Estados Unidos aconteceu em

21 de Janeiro. A partir daí, nos primeiros meses da crise de saúde, o Centro de Controlo de Doenças norte-americano recomendou que os testes fossem prioridade para pacientes hospitalizados que tendiam a apresentar sintomas moderados ou graves. No entanto, estudos sugerem que entre 30 por cento a 70 por cento dos indivíduos com teste positivo para o vírus apresentam sintomas leves ou nenhum sintoma.

FAZER AS CONTAS

A partir desses dados, os autores tentaram estimar a verdadeira incidência da pandemia em cada Estado por meio de uma análise probabilística. O estudo conclui que, entre 28 de Fevereiro e 18 de Abril, o número total de infecções por SARS-CoV-2 foi de 6.454.951 (19 por 1.000 pessoas), uma estimativa nove vezes maior do que o número de casos confirmados durante o mesmo período (2 por

1.000 pessoas) e sugerindo que 89 por cento das infecções não foram documentadas. A maior parte dessa diferença (cerca de 86 por cento) foi devido a testes incompletos, enquanto o restante foi devido à precisão limitada do teste, de acordo com o estudo. Por Estado, os investigadores descobriram que a incidência de covid-19 foi maior no nordeste, centro-oeste e no Luisiana. O número de casos foi muito subestimado em Porto Rico, Califórnia e alguns Estados do sul. Em 33 Estados, o número estimado de infecções foi pelo menos 10 vezes maior do que o número de casos confirmados. Os autores do estudo sublinharam que, embora o método utilizado ofereça uma visão realista da carga real de infecção num determinado momento, não permite analisar o modelo de transmissão ou fazer previsões sobre a disseminação do vírus.

Meteorologia Escolas pedem mudanças no sinal de chuva intensa Vários directores de escolas criticaram o sistema utilizado pelo Governo para içar o sinal de chuva intensa, que leva à suspensão das aulas. Segundo o jornal Ou Mun, Vong Kuok Ieng, director da Escola da Associação para Filhos e Irmãos dos Agricultores, sugeriu que o Governo deve avaliar se é ou não para suspender as aulas durante todo o dia ou para permitir que os alunos regressem às aulas após o fim das chuvas intensas. O responsável pede também uma antecipação da informação por parte dos Serviços PUB

PALAVRA DO DIA

Meteorológicos e Geofísicos junto de alunos e familiares, uma vez que, na terça-feira, vários alunos receberam o aviso quando já iam a caminho das aulas. Também Loi I Weng, vice-presidente da Associação Geral das Mulheres, defendeu uma revisão do sistema e a antecipação das informações. A responsável pede mesmo uma coordenação de dados com as restantes cidades que integram o projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, para que haja uma previsão em tempo real entre serviços.

ex-futebolista internacional brasileiro Pelé felicitou na terça-feira Cristiano Ronaldo por ter ultrapassado os 100 golos ao serviço da selecção de Portugal. “Eu pensava que iríamos comemorar 100 ‘gols’ [golos] hoje. Mas foram 101! Parabéns Cristiano, por cada passo adiante em sua jornada!”, escreveu Pelé, na sua conta na rede social Twitter. Cristiano Ronaldo, de 35 anos, alcançou na terça-feira os 101 golos pela selecção, ao marcar os dois golos que deram a Portugal a vitória sobre a Suécia em Solna, por 2-0, num jogo da Liga das Nações. O madeirense, que se tornou o segundo jogador da história a somar 100 golos por uma selecção, está agora mais perto do recorde absoluto, os 109 de Ali Daei, actualmente com 51 anos, que teve como ponto alto da carreira a passagem pelo Bayern de Munique, em 1998/99. O português deixou para trás grandes figuras do futebol como o próprio Pelé, que marcou 77 golos pelo Brasil. Esta não é a primeira vez que Pelé mostra a sua admiração pelo craque português, que venceu recentemente o campeonato italiano com a Juventus. Com 1.283 golos e três títulos mundiais, ‘o rei’ do futebol já tinha admitido que considerava Cristiano Ronaldo o melhor jogador do mundo da actualidade. “Hoje, acho que o Cristiano Ronaldo é o mais estável, já faz uns 10 anos”, disse Pelé, em resposta à questão de quem era o melhor jogador actual, numa entrevista concedida há seis meses ao canal ‘Pilhado’ do YouTube, sublinhando, no entanto, que também convém estar atento a Messi. O argentino continua a ser o concorrente mais próximo de Cristiano Ronaldo, com 70 golos pela Argentina.


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