hojemacau A missão social
Face à crise económica desencadeada pela covid-19, os problemas sociais agravam-se e são cada vez mais com plexos. Paul Pun, reeleito para liderar o Conselho Profissional dos Assistentes Sociais, fala de uma necessidade cada vez maior de profissionais nesta área, mas descarta, para já, o recrutamento do exterior. ENTREVISTA
SOFIA MARGARIDA MOTA DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10TERÇA-FEIRA 11 DE OUTUBRO DE 2022 • ANO XXI • Nº5109 www.hojemacau.com.mo • facebook/hojemacau • twitter/hojemacau PUB. EDIFÍCIOS HISTÓRICOS BASES CAPITAIS JUSTIÇA O JUIZ QUE SE SEGUE PÁGINA 6 PÁGINA 4 COVID-19 AMEAÇAS DE ZHUHAI PÁGINA 7
PAUL PUN MESTRE DE GERAÇÕES Carlos Morais José SOFIA MARGARIDA MOTA
“Problemas sociais tornaram-se mais complexos”
Recentemente escolhido para um novo mandato de três anos à frente do Conselho
Profissional dos Assistentes Sociais, Paul Pun, que é também secretário-geral da Caritas, diz que há uma maior necessidade destes profissionais devido ao impacto da crise económica. Paul Pun fala da tendência de existirem mais jovens a escolher esta profissão e que, para já, não é a altura certa para flexibilizar o recrutamento ao exterior
Acaba de ser escolhido para um novo mandato de três anos à fren te do Conselho Profissional dos Assistentes Sociais. Que planos tem para este cargo? É a segunda vez que ocupo este lugar. Precisamos de seguir a mis são principal segundo a lei, porque o Conselho tem como objectivo a promoção do desenvolvimento profissional dos assistentes sociais. Queremos manter bons contactos com a classe, ouvindo as suas ideias em prol do crescimento profissional. Temos cerca de dois mil assistentes sociais em Macau e há que garantir que seguem a direcção certa na prestação dos serviços à comunidade. Este não é o trabalho de uma só pessoa e todo o Conselho tem de trabalhar em conjunto. É apenas o meu segundo mandato e, para mim,
SOFIA MARGARIDA MOTA 2 entrevista 11.10.2022 terça-feirawww.hojemacau.com.mo
PAUL PUN PRESIDENTE DO CONSELHO PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS
é ainda uma novidade. Temos de respeitar as diferentes formas de pensar, é um trabalho de grupo. No meu dia-a-dia sempre servi os outros, e temos de continuar a fazer bem o nosso trabalho mesmo que os outros nem sempre tenham conhecimento disso.
Acha que são necessários mais assistentes sociais, tendo em conta as questões que surgiram com a pandemia, como o de semprego e maiores dificuldades financeiras?
Claro que hoje há uma maior pro cura por assistentes sociais, pois os problemas sociais tornaram-se mais complexos e é necessária mais ajuda para os que enfren tam maiores dificuldades. Esta é uma profissão que visa ajudar os que estão mais vulneráveis a encontrar esperança e um caminho por si próprios e junto das suas famílias. Claro que com mais recursos teríamos mais assisten tes sociais para preencher esta lacuna. Se tivermos mais lares de idosos vamos necessitar de mais assistentes sociais. Actualmente, há um grande número de jovens interessados em fazer trabalho so cial, abraçando uma profissão em que podem ajudar a comunidade.
Vejo, junto dos meus colegas, que há cada vez mais pessoas a aderir à área do serviço social, o que é uma boa tendência.
Porque é que há uma maior pro cura por essa área profissional?
Os salários são suficientemente atractivos?
No passado, a profissão de assis tente social não era muito atractiva, e muitos hesitavam na hora de a escolher. Mas agora esta área, não apenas por causa de uma maior estabilidade salarial, permite que os jovens conheçam mais pessoas e possam lidar com diferentes áreas, tendo um conhecimento mais profundo da sociedade. Os jovens procuram desafios e penso que este tipo de trabalho, apesar de ter muitas pressões e ser árduo, traz-lhes mudanças e melhorias. Sentem-se melhor se ajudarem o outro. Os assistentes sociais não têm um horário de trabalho fixo e têm, muitas vezes, de trabalhar muitas horas, prestando atenção às pessoas quando estas enfren tam problemas. Eu, quando faço trabalho social, não tenho pausas. Os jovens sabem que não é um trabalho fácil.
Como descreve a qualidade dos cursos superiores na área do serviço social?
Não basta olhar para as univer sidades locais e para a qualidade dos cursos que oferecem. O nosso Conselho já estabeleceu os critérios base para garantir uma prática de
“Da nossa parte temos uma total abertura, não queremos excluir ninguém, mas o número [de membros escolhidos pelo Conselho] é limitado.”
qualidade da profissão. Os cursos que temos em Macau estão num nível diferente dos do estrangeiro. As instituições do ensino superior de Macau têm a vantagem da sua lo calização. Mas claro que a profissão não pode ficar apenas restringida a
Macau e temos de olhar para fora, para outras questões ligadas ao desenvolvimento do serviço social lá fora. Tudo para continuarmos a progredir na formação e captar mais profissionais. Não podemos dizer que somos melhores do que lá fora, ou que os cursos no estrangeiro são melhores do que os nossos. Temos de apostar no desenvolvimento dos nossos programas educativos. Eu estudei lá fora, mas também em Macau, portanto sei a diferença. Na verdade, gostei de estudar cá também.
É necessária uma maior flexibi lidade para contratar assistentes sociais do estrangeiro?
Nós, como Conselho, não abor damos esse tema. Mas no traba lho de campo as pessoas pensam uma coisa diferente. Algumas pessoas podem defender que são necessárias oportunidades para profissionais de fora, mas há
quem queira preservar as vagas para os locais. Não sabemos que progressos serão feitos a esse ní vel, mas penso que, actualmente, os locais precisam de emprego. Nesta fase, apenas os residentes podem ser assistentes sociais, mas se no futuro haverá maior abertura aos não residentes, tudo vai depender das necessidades do terreno. Posso dizer que, nesta fase, não é uma boa altura para recrutar profissionais lá fora. Será necessária uma discussão em prol de um ajustamento da legislação.
Houve críticas sobre a falta de transparência acerca da escolha dos vogais para este Conselho. Alguns profissionais disseram não se sentir representados com este órgão. Esses problemas estão resolvidos?
Temos toda a abertura para falar. O Conselho tem um papel único, temos membros propostos pelo Governo e outros pelo próprio Conselho. E da nossa parte temos uma total abertura, não queremos excluir ninguém, mas o número [de membros escolhidos pelo Conselho] é limitado. Respei tamos o desejo do Governo em recomendar membros para o Conselho. Há quem esteja satis feito e quem não esteja, mas é a sociedade a expressar diferentes vozes. Respeitamos todos os con tributos dados para a profissão de assistente social. Se um dia já não estiver no Conselho, não vou dizer que é uma injustiça. Foi um canal a que tive acesso para ajudar a desenvolver a profissão. Temos de respeitar o processo de decisão do Governo.
O trabalho de assistente social enfrenta hoje mais desafios do que antes?
Sem dúvida que é mais desafiante, embora ajudar os outros sempre tenha sido. Amanhã teremos mais desafios, mas isso não significa que os profissionais desistam ou deixem de ter ambições.
entrevista 3terça-feira 11.10.2022 www.hojemacau.com.mo
“Actualmente, existe um grande número de jovens interessados em fazer trabalho social, abraçando uma profissão em que podem ajudar a comunidade.”
“Nesta fase apenas os residentes podem ser assistentes sociais, mas se no futuro haverá maior abertura aos não residentes, tudo vai depender das necessidades do terreno.”
Andreia Sofia Silva
Economia Secretário afirma que crise trouxe oportunidades
O secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, acredita que a crise foi uma oportunidade para o território pensar nos “próximos passos” a nível da economia. As declarações foram feitas numa visita do se cretário à Associação Geral das Mulheres de Macau no âmbito da preparação das Linhas de Acção Governativa, e citadas pelo Jornal Cheng Pou. Lei Wai Nong não deixou de reco nhecer que a pandemia trouxe “desafios”, mas mostrou-se optimista com o que considerou o apoio do Governo Central, ou seja, a retoma da emissão de vistos electrónicos para turistas do Interior. Em relação à emissão de vistos, Lei deixou o desejo para que possa contribuir para um aumento sustentável do número de turistas. Sobre o futuro do jogo, o secretário afirmou que para o ano começa a nova fase da indústria em Macau, que vai ter por base os elementos não jogo. Ao mesmo tempo, apelou às associações locais e ao comércio para ajudarem o Governo a promover a integração plena da economia no Interior.
EDUCAÇÃO ULTRAMARINOS QUEREM MATERIAL MAIS PATRIÓTICO
A
PESAR da crise económica, a Associação Geral dos Chineses Ultramarinos de Macau considera que a principal prioridade do Gover no para o próximo ano deve passar pela inclusão nos manuais escolares da história da Praça da Flor de Lótus, do Museu das Ofertas sobre a Trans ferência de Soberania de Macau e da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau.
A ideia foi defendida pelo vice -presidente da associação, Lao Nga Wong, num encontro com a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Iong U.
A recepção da associação à secre tária foi justificada pelas Linhas de Acção Governativa e foram deixadas quatro sugestões para o Executivo.
Além do ensino da história dos mo numentos ligados à soberania chinesa, apresentada como a primeira priorida de, Lao Nga Wong destacou também a necessidade de manter as medidas de prevenção pandémicas actuais, apesar de reconhecer que é preciso aumentar o número de turistas.
Para o próximo ano, a Associação Geral dos Chineses Ultramarinos de Macau defendeu ainda como prioridade a promoção da Medicina Tradicional Chinesa, através dos mercados do sudes te asiático, onde há uma grande presença da comunidade chinesa, e o aumento da taxa e vacinação contra a covid-19, principalmente entre os idosos.
Por sua vez, a secretária Elsie Ao Ieong U agradeceu à associação a pro moção do patriotismo, e o apoio pres tado ao Governo na implementação das políticas de controlo da pandemia.
Sonhar é grátis
Trabalhador e patrão devem comunicar e cooperar em boa-fé para responder às fricções decorrentes da pandemia e atingir a harmonia laboral. Esta é a ideia do Governo face às questões de Leong Sun Iok sobre faltas, cortes salariais e licenças sem vencimento de trabalhadores em zonas vermelhas ou quarentena, ou afectados pela crise pandémica
tenha em conta o que se pratica na RAEHK. “Por exemplo, em Hong Kong, através da alteração da lei laboral, os trabalhadores podem faltar ao trabalho para o cumprimento de determinadas medidas preventivas, como qua rentena, inspecção sanitária ou bloqueamento, e até as restrições do âmbito de actividade, e os empregadores são obrigados a atribuir um subsídio de doença aos trabalhadores qualificados”, escreveu o deputado.
“P
ROLETÁRIOS de todos os países, uni-vos!” A máxi ma do “Manifesto Comunista” que apela à unidade dos trabalhadores face à posição de inerente fragilidade na relação la boral com o capital e o patronato esbarra na noção de igualdade de forças preconizada pelo Governo da RAEM.
“No caso de ser aplicada li cença sem vencimento, essa deve ser acordada por empregador e empregado e não pode ser deci dida unilateralmente”, escreve a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) em resposta a interpelação escrita de Leong Sun Iok.
O deputado ligado à Federação da Associação dos Operários de Macau (FAOM) destacou alguns exemplos de situações laborais
resultantes da pandemia que ge raram injustiças e que afectaram “a harmonia entre as partes laboral e patronal”. A impossibilidade de trabalhar por estar em quarentena ou numa zona vermelha, o “can celamento de políticas amigas dos trabalhadores”, a disseminação das licenças sem vencimento e a au sência de salvaguardas dos salários exacerbadas pela crise são razões suficientes para Leong Sun Iok apelar à revisão das leis em vigor.
Quando o trabalhador fica im pedido de exercer as suas funções devido a restrições pandémicas, a DSAL reitera que estas faltas são justificadas, incluindo ficar com código vermelho, estar em quarentena ou residir numa zona vermelha.
Olhar para fora
O deputado dos Operários argu menta que “os rendimentos dos
trabalhadores não podem deixar se ser protegidos”, e que existe a necessidade de aperfeiçoar “a irracionalidade do regime vigente”. Assim sendo, Leong Sun Iok sugere ao Executivo que
“Patrões e trabalhadores devem comunicar de boafé com o Governo, sob o compromisso da cooperação, para negociar reajustes de trabalho e férias num espírito de mútuo entendimento, para manter a harmonia nas relações laborais.”
Em resposta à possibilidade de Macau seguir o exemplo de Hong Kong, o director da DSAL, Wong Chi Hong, afirmou que “cada região tem os seus próprios factores económicos e cenários sociais”, por isso é necessário encontrar a melhor forma de implementar políticas de trabalho que salvaguardem os direitos e interesses dos tra balhadores. “Tendo em conta os interesses de todos os sectores sociais, o Executivo da RAEM vai continuar a ouvir as sugestões de todas as partes relevantes e prudentemente estudar o actual estado de desenvolvimento so cioeconómico de Macau”.
DSAL
Face às dificuldades reveladas pela pandemia, e na forma variada como afectou a vida dos residen tes, o director da DSAL pede aos “dois lados da relação laboral, patrões e trabalhadores, para co municarem aprofundadamente e de boa-fé com o Governo, sob o compromisso da cooperação, para negociar reajustes de trabalho e férias num espírito de mútuo en tendimento, para conjuntamente manter a harmonia nas relações laborais.”
João Luz
política 5terça-feira 11.10.2022 www.hojemacau.com.mo DSAL
APELO À HARMONIA PARA RESOLVER DIFICULDADES
TIAGO ALCÂNTARA
Alicerces de capital
No próximo ano, o Instituto Cultural e o Fundo de Desenvolvimento da Cultura vão lançar apoios financeiros para assegurar a manutenção de edifícios com valor histórico
OInstituto Cultural (IC) indicou que no próximo ano vai lançar o Progra ma de Apoio Financeiro para a Manutenção de Edifícios Históricos. A intenção foi assumida na resposta a uma interpelação da deputada Ella Lei, da Federação das Asso ciações dos Operários de Macau (FAOM).
O objectivo do programa, cujo futuro orçamento não foi revelado, passa por auxiliar os proprietários de imóveis com valor histórico a assegurarem a manutenção e con servação. “Actualmente, o IC e o FDC [Fundo de Desenvolvimento da Cultura] estão a acelerar os preparativos para o lançamento do Programa de Apoio Financeiro para a Manutenção de Edifícios
Históricos no próximo ano”, foi revelado. “Acredita-se que, com o apoio e a promoção de novas políticas no futuro, será aumen tado o interesse dos proprietários na conservação e reparação, contribuindo para uma melhor e atempada protecção dos bens imóveis classificados privados”, foi acrescentado.
Na resposta, o IC também destaca que a responsabilidade de garantir a manutenção destes edi fícios passa pelos proprietários, e que por isso realiza supervisões regulares a vários locais.
Evitar danos
Sobre as medidas de prevenção para impedir a danificação de bens classificados, o Instituto Cultural, na resposta assinada por Cheong
Lai San como presidente substi tuta, afirma que foram colocados sinais a advertir contra danos. “O IC já instalou avisos nos 22 prin cipais sítios de património mun dial classificados no âmbito do Centro Histórico de Macau, para além da criação do mecanismo de comunicação e coordenação
“O IC e o FDC estão a acelerar os preparativos para o lançamento do Programa de Apoio Financeiro para a Manutenção de Edifícios Históricos.”
com as autoridades de polícia, no intuito de aplicar rigorosamente a lei sobre os actos de destrui ção de relíquias culturais”, foi justificado. A cooperação com as autoridades policias é vista como essencial para alcançar “os efeitos de advertência e dissuasão”.
Por outro lado, para promover a “salvaguarda do património cultural” o IC tem vindo “a criar postos móveis de divulgação em bairros comunitários” e a colocar anúncios “na televisão, rádio, meios de transporte público, ar ruamentos, periódicos e revistas turísticos”. Este é um caminho que o IC se compromete a seguir para promover “ainda mais a divulgação e sensibilização dos visitantes sobre o património cultural e da preserva ção correcta”. João Santos Filipe
Crime Insulta polícia em três línguas e é detido
Um residente de 52 anos foi preso depois de ter insultado um polícia em três línguas, incluindo português. A informação foi revelada ontem pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), e citada pelo canal chinês da Rádio Macau. O caso terá acontecido no domingo, quando o homem circulava num táxi que foi parado numa operação stop. Insatisfeito com a situação e com o pedido para mostrar o bilhete de identidade de residente, o homem insultou o agente. Apesar de lhe ter sido pedido que se moderasse, o homem continuou os insultos em português e inglês, o que levou o polícia a ligar a câmara de serviço, a captar mais insultos. Após ter sido detido, o residente revelou trabalhar na segurança de um casino e recusou cooperar com as autoridades. O caso foi entregue ao Ministério Público e o indivíduo está a ser investigado pelo crime de injúria agravada, que prevê uma pena que pode chegar a quatro anos de prisão.
Caso Suncity Apenas uma única testemunha falou de jogo ilegal
Uma testemunha disse ontem em tribunal acreditar que o grupo Suncity desenvolvia actividades de jogo ilegal tendo em conta a existência de documentos de transferên cias bancárias com terceiras entidades do Interior da China sempre que os clientes ganhavam no jogo paralelo. Segundo a TDM Rádio Macau, esta testemunha disse tratar-se apenas de uma opinião pessoal. Na sessão de ontem foram ouvidos antigos trabalhadores do grupo que afirmaram que as apostas de jogo feitas por telefone acon teciam nas Filipinas e que a Suncity nunca promoveu apostas online ou por telefone em Macau. As testemunhas disseram ainda em tribunal que só falavam deste tipo de apostas quando os jogadores pediam ou mostravam interesse.
JOGO SEMANA DOURADA DUPLICOU RECEITAS DIÁRIAS DE SETEMBRO
AS receitas brutas diárias dos casinos de Macau nos primeiros nove dias de Outubro podem ter duplicado as apuradas diariamente em Setembro, de acordo com as estimativas da JP Morgan Securities divulgadas ontem. Durante o período em análise, que inclui a Semana
Dourada, as autoridades re gistaram um aumento consi derável da entrada de turistas chineses no território, com um agregado de mais de 182 mil visitantes e taxa de ocupação hoteleira de 66,7 por cento. Nos primeiros nove dias de Outubro, os casinos facturaram 1,7 mil milhões de patacas,
com uma média diária a cifrar -se em 190 milhões de patacas, de acordo com a previsão do banco de investimento, citado pelo portal GGR Asia.
Recorde-se que ao longo do mês de Setembro a média diária de receitas brutas da indústria do jogo atingiu 99 milhões de patacas.
Em relação aos níveis de receitas brutas de Semana Dourada, antes da pandemia, este ano ainda ficou entre 15 e 20 por centos dos registos do passado, quando as recei tas brutas diárias chegaram a mil milhões de patacas, apontam os analistas da JP Morgan. J.L.
6 sociedade 11.10.2022 terça-feirawww.hojemacau.com.mo
INSTITUTO CULTURAL IC APOIO FINANCEIRO PARA PROPRIETÁRIOS DE EDIFÍCIOS HISTÓRICOS EM 2023
ISTOCKPHOTO
GCS
À medida que são descobertos mais casos positivos de covid-19 em Zhuhai, assim como noutras cidades da província vizinha de Guangdong, Macau impôs ontem quarentena para quem tenha passado em zonas do distrito de Xiangzhou em Zhuhai. Professores e alunos que regressem a Macau de regiões fora de Guangdong ou de Shenzhen obrigados a fazer testes
ONTEM foi anunciada a descoberta de mais cinco casos positivos de covid-19 em Zhuhai, à medida que em algumas zonas da cidade são im plementados confinamentos.
Os casos positivos na provín cia vizinha de Guangdong não se cingiram apenas a Zhuhai. A Comissão de Saúde da Pro víncia de Guagdong reporta os casos dividindo-os entre casos confirmados, assintomáticas e importados. Os casos novos revelados ontem totalizaram 27 em termos provinciais, cinco em Guangzhou, nove em Shen
QUEM PASSOU POR ÁREAS AFECTADAS DE ZHUHAI
Já cheira a esturro
amarela do código de saúde, e sub sequente obrigação de fazer testes de ácido nucleico no 1.º, 2.º, 4.º e 7.º dias, a partir do dia seguinte à saída da área de risco.
Também a Direcção dos Ser viços de Educação e de Desenvol vimento da Juventude (DSEDJ), reforçou as medidas de prevenção. Assim sendo, até ao fim do mês, “o pessoal docente e não docente e estudantes do ensino superior e não superior de Macau vindos de regiões fora da província de Guangdong ou de Shenzhen, de vem submeter-se a dois testes de ácido nucleico no prazo de três dias a contar do dia do seu regresso” a Macau.
Estas medidas são aplicadas a todos os funcionários públicos que entrem em Macau vindos de regiões fora da província de Guangdong e Shenzhen.
Trabalhadores barrados
zhen, dois em Zhuhai, cinco em Foshan, cinco casos em Huizhou e um caso em Dongguan. No capítulo das infecções assinto máticas, Guangzhou somou 15 casos, Shenzhen um, Zhuhai três, quatro casos em Hui zhou, um em Yunfu, outro em Foshan, também um caso em Dongguan, um em Jiangmen e um em Zhanjiang. Em toda a província, foram registados 50 casos importados.
Face ao ressurgimento da pandemia nas cidades depois da fronteira, as autoridades de Macau começaram a dar sinais mais sig nificativos de resposta, incluindo
Portas do Cerco Escadas rolantes substituídas
As três escadas rolantes localizadas no edifício do Posto Fronteiriço das Portas do Cerco vão ser substituídas a partir de hoje, tendo em conta que a referida infra -estrutura “entrou em funcionamento há vários anos”, aponta uma nota da Direcção dos Serviços das Forças de Segurança de Macau (DSFSM). A substituição das três escadas será feita no prazo de um mês,
sendo que a DSFSM promete “manter contacto estreito com o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) e a empresa construtora para tentar encurtar o prazo das obras de acordo com a situação concreta”. Da parte do CPSP será feito um reforço das acções de patrulha “para manter a ordem nas redondezas” a fim de evitar aglomerações de pessoas e de trânsito.
Saúde Realizadas primeiras provas de acreditação para profissionais
No passado fim-de-semana foram realizadas as primeiras seis provas de acreditação de médicos, dentistas, mé dicos de medicina tradicional chinesa, farmacêuticos, enfermeiros e terapeutas ocupacionais. Estas foram as primeiras provas de acreditação feitas pelo Conselho dos Profissionais de Saúde, ao abrigo da nova lei, aprovada em 2020. Nestes
dois dias, compareceram nos exames 395 candidatos, entre 406 inscritos, o que representa uma taxa de presença de 97 por cento. As inscrições estiveram abertas de 23 de Junho a 26 de Julho com um total de inscritos de 611. Entre estes, cerca de 205 só são chamados para fazerem os respectivos exames no próximo fim-de-semana.
quarentena para quem passou por áreas de Zhuhai.
Assim sendo, desde as 12h de ontem, quem tenha estado no “N.º 43 e 2-3-4 do n.º 43 da Estrada de Jiaoyu da Comunida
A quarentena não pode ser inferior a cinco dias e, após cumprida, seguir-se-á um período de autogestão de três dias
de Zaobei, do Distrito de Xian gzhou em Zhuhai fica sujeito à entrada em Macau a quarentena obrigatória em hotel designado “até ao sétimo dia a contar do dia seguinte” da saída do local mencionado. A quarentena não pode ser inferior a cinco dias e, após cumprida, seguir-se-á um período de autogestão de três dia.
Abrir ou fechar?
O Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus divulgou uma vasta lista com outros locais do distrito de Xiangzhou em Zhuhai que determinam a passagem para cor
Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, Paul Pun re velou que cerca de uma dezena funcionários da Caritas Macau foram afectados pelo ressurgi mento da pandemia em Zhuhai e ficaram impedidos de regressar a Macau. Porém, o director da instituição garante que a falta destes trabalhadores não irá ter grande impacto no funcionamen to da Caritas. Além disso, Paul Pun afirmou que cerca de 80 por cento dos idosos ao cuidado da Caritas Macau estão vacinados contra a covid-19. João Luz
CONTA ÚNICA VÍNCULO À SAÚDE DISPONÍVEL EM NOVEMBRO
Asegunda fase do vín culo dos cartões pro fissionais ao sistema da Conta Única de Macau, neste caso na área da saúde, será lançada em Novem bro, sendo que o sistema começou a ser desenvolvi do a 27 de Setembro. Desta forma, “os profissionais podem optar por exibir o seu cartão digital para obter os serviços corres pondentes”, sendo que os cartões profissionais dis poníveis na área “Minha carteira” “têm os mesmos efeitos jurídicos dos car tões físicos emitidos pelos
serviços públicos ou pelas associações profissionais”.
Este foi um dos assuntos discutidos na mais recente reunião do Conselho para os Assuntos Médicos, onde foi analisado o primeiro ano de implementação do regime de qualificação e
inscrição para o exercício da actividade dos profissio nais de saúde. O primeiro exame de acreditação acon teceu pela primeira vez este ano devido à pandemia, que obrigou ainda a um adiamento do prazo de candidaturas.
O Conselho preten de, no futuro, cooperar mais com a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude, bem como com associações do sector educativo, a fim de expli car “aos alunos do ensino secundário que pretendem entrar na universidade o planeamento da sua carreira profissional”, além de serem realizados “trabalhos de divulgação sobre os requisitos de qualificação académica dos diversos profissionais de saúde”.
sociedade 7terça-feira 11.10.2022 www.hojemacau.com.mo
COVID-19 QUARENTENA PARA
GCS
Confúcio hoje? Mas que estratagemas singulares terá desencantado Mestre Kong para renascer, fénix uma e outra vez teimosa, das cinzas vermelhas da Revolução Cultural, como renascera dos escombros cinzelados da dinastia Qin? Onde encontra este pensamento, idoso de 2500 anos, a sua provada resiliência e como consegue ser suficientemente jovem e flexível para se reafirmar hoje no seio da cultura que rectificou e, ao mesmo tempo, estender a sua influência mais além?
Confúcio nasceu em Qufu, na província de Shandong, então reino de Lu, no dia 28 de Setembro de 551 a.E.C., nessa China imperial de antanho, ao que dizem produto de uma tempestade e de uma promessa.
No princípio era o mito
Seria um das primeiras tardes do ano de 551 a.E.C., quando o céu sobre cidade de Qufu, no reino de Lu, subitamente se co briu de nuvens negras. Em breve ribom bavam trovões e raios fendiam o céu en furecido. Uma chuva grossa, açoitada pelo vento, tudo atingia e ensopava. Em suma, em meros minutos, montara-se uma tem pestade pouco menos que perfeita.
Zhengzai (顏徵在), menina caçula da família Yan, regressava a casa, após tarde de passeio pelas colinas, onde solitária co lhera ervas e plantas medicinais. Surpreen dida pela inesperada tormenta, não encon trou outro refúgio senão uma simplória ca bana de trabalhadores, edificada não longe da estrada. Ainda Zhengzai procurava meio de ali passar confortavelmente algum tem po, quando um homem desconhecido as somou à porta do tugúrio, também carente de abrigo daquela e de outras tempestades.
E foi ali, naquela choça indigna de nota, sob o signo de uma terrível procela, que Zhengzai terá concebido o filho de Kong He, a quem foi dado o nome de clã Kong Qiu, o epíteto de cortesia Zhongni e que vi ria a ser conhecido como Mestre Kong (孔 夫子 Kong Fuzi), latinizado Confucius pe los padres jesuítas, um dos mais influentes pensadores que calcorreou o planeta Terra.
Kong He era um magistrado de 65 anos e fraca descendência masculina (tinha gera do nove filhas com a sua esposa principal e um filho deformado com uma esposa se cundária). Face às esperanças de Zhengzai, tudo prometeu lhe proporcionar – riquezas e requintados confortos – caso nascesse um rapaz saudável, o que veio a suceder. Con tudo, reza a lenda, logo se percebeu que não nasceria uma pessoa qualquer. Durante a gravidez, acontecimentos miraculosos eram sintomas, índices, augúrios, que de Zhen gzai emergiria um grande homem, um excel so sábio, que todos encimaria e cujo destino se entrecruzaria com o da própria civilização chinesa.
Entre eles, destaca-se a aparição de um animal fantástico da mitologia chinesa, que reúne no seu nome qualidades de macho e de fémea: o 麒麟 qilin (unicórnio chinês).
Ora estava a mãe do futuro sábio en tretida nos seus habituais afazeres, junto a casa, quando surgiu um qilin, que até seus pés caracoleou e aí depositou uma tablete de jade, onde era profetizada a grandeza futura do seu filho. No dia 28 de Setembro, nascia Confúcio.
O qilin, entretanto desaparecido, voltaria a surgir na história quando, pouco antes da morte de Mestre Kong, se espalhou um rela to segundo o qual uma destas quimeras fôra atropelada por um carroceiro destravado e se encontrava ferida, algures a recuperar.
Mestre de Dez
Independentemente da veracidade des ta narrativa inicial e iniciática, eivada de elementos míticos e esotéricos, alguns de inspiração budista, a vida de Confúcio re velar-se-ia uma odisseia atribulada. Pouco depois do seu nascimento (há quem diga no dia seguinte e há quem afirme três anos de pois), o seu pai, talvez exultante de alegria, sucumbiu a um achaque e viu-se assim in capaz de cumprir a prometida subsistência de Zhengzai. Esta, entretanto, perdera o seu próprio pai e viu-se então reduzida a uma situação de extrema pobreza. Contu do, arranjou forças para sustentar e educar esmeradamente o seu filho. A tempestade passara e a promessa ficara por cumprir.
Depois veio o sábio. Mais tarde, já ho mem de seis pés de altura, um tamanho que causava profunda impressão, e sábio reconhecido, especialista nos ritos, Con fúcio tentou colocar os seus préstimos ao serviço dos governantes, mas encontrou sempre grandes resistências, sobretudo por parte de ministros que entendiam des favoravelmente o rigor das suas doutrinas e as consequências dos seus procedimen tos. Conseguia ainda assim vaguear de rei no em reino, como professor, conselheiro, mestre ou ministro, atraindo cada vez mais
discípulos. No entanto, nunca manteve os seus cargos políticos durante um período suficientemente longo para permitir uma extensa avaliação do seus métodos. Foi sempre, em geral, coarctado pela inveja e pelas intrigas de quem rodeava os detento res do poder ou pelas manobras de outros reinos que temiam que o seu bom governo fizesse prosperar demasiado os seus rivais (Sima Qian, 1985, 47).
Tal como Sócrates e Jesus, Confúcio não deixou obra escrita e os seus ensina mentos chegam-nos através dos seus dis cípulos e comentadores. O Grande Mestre considerava-se, sobretudo, um editor e um transmissor de uma sabedoria esquecida. Face à decadência da dinastia Zhou e à ambição de cada um dos reinos que então constituíam o império, Confúcio propunha um regresso aos modos iniciais da dinastia e, sobretudo, ao exemplo dos grandes ho mens de Estado como os reis Yao e Shun, o rei Wen e o duque de Zhou. Com o ob jectivo de transmitir esse saber do passado, reorganizou Os Cinco Livros (Wujing 五經), que viriam a constituir o nódulo essencial da cultura chinesa clássica: Livro das Mu tações (Yijing 易經), Livro das Odes (Shi jing 詩經), Livro dos Documentos (Shujing
VIA do MEIO 11.10.2022terça-feira 8
Mil Gerações
書經), Livro dos Ritos (Lijing 禮記) e Anais da Primavera e do Outono (Chunqiu 春秋).
Os Cinco Livros, também crismados pelo Ocidente de Pentateuco da cultura chinesa, tornaram-se desde então na re ferência essencial da aprendizagem e da educação na China, servindo de biblioteca abarrotada de exemplos de uma sabedoria imbuída no comportamento e procedimen tos de pessoas exemplares, versando da po lítica à família, da explanação ritual à his tória, da adivinhação às práticas agrícolas, e até como manual de etiqueta e civilidade.
Mais tarde, já em plena dinastia Han do Oeste, os exames imperiais foram funda mentalmente baseados no conhecimento e capacidade de interpretação destes textos, seleccionados e editados por Confúcio.
O eclodir da obra Depois da morte de Mestre Kong, num pri meiro período, os discípulos e descenden tes divulgaram com relativa facilidade as suas ideias, que rapidamente encontraram eco na comunidade pensante da China.
Nos três séculos seguintes floresceriam várias escolas de inspiração confuciana e importantes pensadores basearam-se nas suas ideias, como Mêncio ou Xunzi, cujas obras permanecem referências incontorná veis e inesgotáveis, ao longo dos tempos su jeitas a novas interpretações.
As divergências entre eles, na interpre tação do pensamento do Mestre, surgem como um reflexo da complexidade de um saber, de uma via profícua, que conheceria numerosos desenvolvimentos ao longo da história do pensamento chinês.
Mas se, durante este período, os ru1 eram bem recebidos nas casas reais, com o advento da dinastia Qin (221-206 a.E.C.) ganharam extraordinária força as ideias di tas “legistas”, uma outra corrente filosófica chinesa, ferozmente oposta aos conceitos eleitos por Confúcio. Pela primeira vez, o confucionismo foi considerado como “ini migo do Estado”, os livros queimados e os seus seguidores ferozmente perseguidos.
É preciso compreender que Confúcio vivera durante o regime imperial extrema mente débil da dinastia Zhou, em que os senhores locais, numa espécie de feuda lismo, se encontravam dotados de grande autonomia. De algum modo, as ideias con fucianas destinavam-se à interpretação e prática deste tipo de organização política e social, e não às necessidades de um Estado ferozmente centralizado, como preconizava e implementou a dinastia Qin, que pela pri meira vez unificou a China.
Além disso e fulcral, temos a questão da cabra
Vejamos:
O duque Ye disse a Confúcio: “No meu país um homem recto cujo pai roubou uma cabra denunciou o progenitor às autorida des.” Ao que o Mestre respondeu: “Os ho mens rectos no meu país são diferentes: o pai protege o filho e o filho protege o pai, isto é rectidão.” (Analectos, 13:8)
Como se pode deduzir deste aparente mente inocente episódio da cabra roubada, contudo de trágicas consequências, Confú
cio revela dar mais importância à família do que ao Estado e colocar em primeiro lugar as relações familiares e clânicas face ao de ver de servir o reino. O Mestre vai ainda mais longe: para proteger a família, poder -se-á mesmo ignorar a lei e ir contra a von tade do soberano. Ora tais propósitos não podiam cair bem junto de quem pretendia fazer da lei e da centralização do poder o sustentáculo máximo da governação, o que era o caso de Qin Huangdi, primeiro impe rador da dinastia Qin.
A sabedoria confuciana seria, no entan to, salva da fogueira legista. Reza a lenda que alguém conseguiu esconder os princi pais escritos (incluindo Os Cinco Livros, as obras de Mêncio e de Xunzi) no interior de um muro, a famosa parede de Lu, que terá pertencido à casa original de Confúcio, hoje parte do Templo do Mestre em Qufu, donde foram recuperados após o advento da dinastia Han (205 a.E.C-224), durante a qual os ensinamentos dos ru foram de novo apreciados, estudados, complexificados e difundidos. Com os Han, o ruismo ganhava contornos de ortodoxia, pois encontrava-se agora ao serviço do Estado.
Contudo, nas dinastias seguintes, espe cialmente durante a dinastia Tang, a cha mada intromissão de crenças estrangeiras, nomeadamente budistas, e a influência do daoísmo mágico, foram relegando o confu cionismo para uma posição secundária. Nas cortes, os ru voltavam a perder posição e influência. Esta situação viria a causar uma forte reacção, com o advento da dinastia Song, originando o que se convencionou chamar de “neo-confucionismo”, ou seja, uma rejeição quase liminar do budismo e do daoísmo, acompanhada de um expressivo renascimento da ideias confucianas, agora reordenadas, reeditadas e reinterpretadas segundo os sábios desta dinastia, nomeada mente pelos dois Cheng, os irmãos Cheng Yi e Cheng Hao. Entre os seus seguidores, destacou-se Zhu Xi (1130-1200), que repen sou e reorganizou o cânone confuciano, no meadamente através da edição d’ Os Quatro Livros (Estudo Maior, Prática do Meio, Ana lectos e Mêncio), que viriam a ser a base in contornável do pensamento chinês tal qual o Ocidente o encontrou no século XVI, sob a lupa dos padres jesuítas, os seus primeiros tradutores para línguas europeias.
Assim, operara-se uma mudança fun damental: enquanto que, até à dinastia Song, os estudos e os exames se basea vam fundamentalmente n’ Os Cinco Li vros, algum tempo depois de reconhecido e apreciado o trabalho de Zhu Xi, a cul tura chinesa conheceria uma reorganiza ção dos seus textos de referência. Nela assumia agora lugar preponderante a for mação ética da pessoa por oposição ao sublinhar da importância dos ritos.
Os Quatro Livros passaram a ser a base dos exames imperiais e regularam o ethos chinês desde então até ao século XX. E, mesmo rejeitados e de novo queimados, pelas correntes modernas novecentistas ou pelo radicalismo dos Guardas Vermelhos, estes volumes continuam a encerrar os va lores e ditames que ainda hoje regulam o
comportamento e formam a culpabilidade de muitos milhões de pessoas.
Daí que tenhamos entendido como fundamental para o leitor contemporâneo empreender a publicação dos referidos volumes em língua portuguesa, pois neles se revelam as doutrinas que constituem a mais importante raiz não apenas do actual pensamento chinês como da modulação de comportamentos e práticas existentes na China e noutros países influenciados por esta corrente do pensamento.
Confúcio revela dar mais importância à família do que ao Estado e colocar em primeiro lugar as relações familiares e clânicas face ao dever de servir o reino
O confucionismo é hoje uma das doutri nas mais presentes e realmente praticadas em todo o planeta. A sua influência não so mente enforma a sociedade chinesa, com os seus 1,4 mil milhões de pessoas, como se espalhou a outras civilizações asiáticas onde desempenha um papel central (como a Coreia, Japão, Vietname e Singapura) ou constitui uma importante influência (como a Tailândia, Indonésia, Laos, Camboja e Malásia). Fazendo as contas, o confucio nismo constitui a base moral de mais de um terço da humanidade e, com o cresci mento da importância da China no palco mundial, a sua expansão não deverá ficar por aqui. Aliás, os indicadores do século XXI revelam que alguns aspectos da “moral oriental” tendem a emigrar para Ocidente e a “contaminar” as sociedades ocidentais, de matriz greco-romana, com os seus valo res, tal como estas desde o século XVI têm “contaminado” o Oriente. Eis mais uma ra zão para do confucionismo fazer um estudo de eleição, no sentido de compreender, ao extremo, estas “viagens de ideias” e anteci par as suas consequências, para um lado e para o outro.
É a moral, pois claro!
Em palavras contemporâneas, diríamos que, para Confúcio, o homem é, antes de mais e de tudo, um produtor de moral. Sabe distinguir o bem do mal e encontra -se dotado de livre arbítrio. Estas quali dades distinguem-no dos animais e de todos os outros seres. Portanto, daqui advém também a sua responsabilidade, o dever de incorrer em acção correcta, de modo a criar um mundo em que prevale ça a harmonia.
Assim, o modo como se apresenta, como se veste, como anda e como fala; o que diz, o que lê, o que desenvolve como actividade, o que produz e como se dirige aos outros; enfim, toda e qualquer acção
humana (e mesmo a ausência dela) é ime diatamente produtora de valores morais (e, num plano superior, estéticos), quer como exemplo para os outros, quer a partir dos resultados das práticas concretas.
De sublinhar que, ao contrário de Sar tre (para quem “o inferno são os outros”), Confúcio só entende o homem em relação com outros homens, como animal gregário, social e cultural. Para ele, a vida são os ou tros e este é um facto incontornável. Dos desígnios do Céu, do mundo, da vida de pois da morte, dos espíritos, pouco ou nada sabemos e de nada podemos ter a certeza. Por isso, antes de mais, devemos regular o que podemos controlar: as nossas relações humanas e sociais.
O confucionismo é um pensamento moral e ético, que visa uma prática, des tinado a contribuir para uma excelsa re gulação das relações entre os homens e destes com o mundo. Pensamento político, com certeza e, em grande parte, destinado aos que exercem o poder, no sentido de os convencer da necessidade imperiosa de autovigilância, virtude e benevolência nas suas acções, o confucionismo cedo ignora a metafísica e se centra na regulação dos assuntos humanos.
O objectivo do confucionista é tornar -se uma pessoa exemplar (君子 junzi), ou seja alguém cujo comportamento é de tal modo virtuoso e benevolente que os ou tros naturalmente o seguirão. Mas como atingir este estado de exemplaridade? Para os ru, o homem nasce dotado de uma “lu minosa virtude”, que lhe é conferida, ho mologamente, pelo Céu. Mas, ao longo da sua vida, ao roçagar pelos constrangimen tos sociais e com a emergência dos desejos egoístas, a sua natureza original gradual mente se esvai, sendo então necessário recuperá-la.
Como fazê-lo? Várias escolas indicam diversos caminhos mas, fundamentalmen te, todos concordam que tal se efectua pelo “cultivo de si” (修身 xiushen). Quer este “cultivo de si” signifique a aquisição de conhecimento, “a investigação das coi sas”, como querem uns, ou meramente “a rectificação do coração” e “tornar íntegros os pensamentos”, como sugerem outros, o cultivo de si representa no confucionismo o esforço individual, o dao de cada um, para atingir a plena prática de ren. Neste senti do, o cultivo de si, embora deva ser feito através do estudo, permanece como um trabalho constante do indivíduo no sentido de rectificar constantemente o seu coração, tornando os seus pensamentos eficazes e autênticos (cheng). É neste sentido que no Estudo Maior (Da Xue) surge escrito: “Na banheira de Tang2, fora gravado: “Renova -te com rigor dia após dia. Que haja uma renovação diária.”
A necessidade de renovação contínua inscreve-se num permanente acompanha mento do devir do universo. Zhu Xi pres creve-a, através da inscrição da banheira de Tang e da comparação higienista. Esta funciona em dois planos: primeiro, a ur gência de continuamente renovar a inves tigação das coisas e os seus princípios,
VIA do MEIO 11.10.2022terça-feira 9 Dez
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Carlos
Morais José
por estarem permanente transformação; segundo, a eliminação das máculas que o exterior vai traçando em cada natureza original3. Finalmente, sublinha a impor tância de uma constante atenção: “É im possível admitir, ainda que por negligên cia, um intervalo ou uma interrupção”.
Por outro lado, a eficácia destes pro cedimentos passa em grande parte pela compreensão e a execução dos ritos, na medida em que estes proporcionam o modo correcto de proceder.
Qualquer pessoa pode afinar o seu comportamento vergando-o à execução dos ritos. O rito é uma via segura para o discorrer da acção. Assim, por exemplo, ao entrar numa sala, a criança sabe de antemão, se conhecer o rito, quem deve cumprimentar em primeiro lugar e como se dirigir de forma apropriada a cada um dos presentes, consoante a sua posição social e/ou familiar. Assim se evita o erro e se mantém a harmonia.
Eficácia até ao fim?
A postura de Confúcio face ao saber (afinal, o que podemos conhecer?) foi determinante para o pensamento chi nês como a de Sócrates para o pen samento ocidental. Neles detectamos propósitos semelhantes e gigantescas diferenças. De facto, ambos transfor maram o pensamento do seu tempo numa “antropologia”, ao fazerem do homem o centro das suas preocupa ções. Sócrates desprezava tanto o dis curso sobre o cosmos, querido aos so fistas, como Confúcio ignorava o que não fosse relações humanas. Contudo, o Mestre de Dez Mil Gerações emitia um pensamento voltado para a “eficá cia” e não para a descoberta da “verda de”, já que quanto a essa, tão querida à “parteira grega”, entendia que cada família, cada grupo, cada pessoa teria a sua e isso interessa muito pouco ao modo como nos relacionamos uns com os outros. A verdade exclui e por isso é criadora de conflitos e desarmonia.
Metafísica, vida depois da morte, a existência dos deuses e dos espíritos, a sacralidade do Céu e da Terra, nada disto realmente preocupava Confúcio, já que o que ele via, o que ele vivia e ressentia era o quotidiano dos camponeses e as ini quidades dos senhores, os esforços dos letrados e o desprezo pelo saber dos ocu pantes das cadeiras do poder, cujo com portamento vicioso, distanciado dos prin cípios morais, impedia o estabelecimento da harmonia e de um governo justo para todos os homens.
Eficácia ao invés de verdade, Li em vez de logos — narra a história deste pensamento que, para plenamente se exercer, não se satisfaz com o respei to à moral social vigente mas obriga a uma profunda interrogação ética. É certo que muitos atribuem (e bem) ao ruismo uma inclinação para o confor mismo social, como se cada um de vesse ficar satisfeito com o lugar que o destino lhe atribuiu na sociedade e,
consequentemente, respeitar os pode rosos. E, claro, o poder soube ao longo dos tempos aproveitar-se dos aspectos mais “reaccionários” da sua obra ou o confucionismo não teria sido incensa do e servido de cartilha em numerosos momentos da história chinesa.
Mais recentemente, vários pensado res chineses reinterpretam o confucio nismo enfatizando aspectos que lhes permitem hierarquizar os “direitos colec tivos” acima dos “direitos individuais”, os
“deveres” para com a comunidade acima dos “direitos de cidadania” e, sobretudo, recusar a ideia de indivíduo — isolado e considerado independentemente de ou tros membros da sua sociedade — adap tando este pensamento à ideologia hoje reinante na China em que o Estado so bremaneira controla e regula a cidadania (Chen Lai, 2014).
Será mesmo assim ou a leitura dos textos originais abrirá portas que permi tem outras interpretações e conclusões? Estamos perante uma doutrina “reaccio nária”, “nacionalista”, “só para orien tais”; ou conterá virtualidades, como a “benevolência, integridade, rectidão, har monia, cultivo de si e virtude”, que lhe permitirão tornar-se num pensamento global?
Certo é que entender Confúcio é en tender a China de ontem, de hoje e de amanhã. E, nesse entendimento do con fucionismo, na sua reavaliação e actuali zação, residirá grande parte da resposta à pergunta: que papel desempenhará o pensamento chinês no futuro da huma nidade e que consequências daí advirão?
1
Ru significa “letrado”, “culto”, e é utiliza do para pessoas, ideias ou coisas relacio nadas com os pensamentos e as práticas derivadas de Confúcio. No passado, ru era, por exemplo, o conjunto dos letrados confucionistas que ensinavam ou aconse lhavam os governantes e as suas famílias. Segundo Zhou Youguang, o pai do pinyin, ru originalmente referia-se aos antigos métodos utilizados pelos xamanes nos ri tuais, mas depois de Confúcio tornou-se na designação para os que espalham as suas ideias e educam o povo. Alguns pen sadores contemporâneos rejeitam mesmo o termo “confucionismo”, por ser de ori gem europeia, e propõem que as doutrinas relevantes sejam chamadas de “ruismo” e os seus seguidores “ruistas”, por entende rem que tal é mais fiel ao original chinês.
2. Legge escreve não ter encontrado em qual quer outro documento referência alguma a esta citação, gravada na banheira de Tang, fundador da dinastia Shang. Admite que terá sido recolhida da sabedoria tradicio nal. Legge, James; THE FOUR BOOKS, The Great Learning; Culture Book Co.; pág. 10.
3. Natureza (xing) significa fundamentalmente “natureza humana”, apesar de Zhu Xi a ge neralizar a todos os seres. O Céu confere ao homem a sua natureza que necessita, no en tanto, de ser regulada através da educação porque ao longo da vida ela é, geralmente, desvirtuada. Portanto, a natureza humana é entendida como tendo um carácter trans cendental, na medida em que é decorrente do Céu. Segundo o comentário de Zhu Xi, Zisi transmite neste capítulo as bases da concepção confuciana do mundo, começan do por referir a origem celeste da Via e a sua imutabilidade. O homem encontra-se plena mente munido desta realidade substancial e não a pode abandonar. Ao apresentar na mesma frase quatro noções interligadas –Céu, Natureza Humana, Via e Educação, este livro lança os fundamentos da cultura filosófica chinesa: a realidade da natureza moral do homem encontra o seu fundamen to no Céu; para se manter na Via, deverá ser empreendido o cultivo de si (regresso à natu reza original/celeste), através da educação. De notar ainda que existe uma homologia (uma mesma estrutura) entre Céu e Na tureza Humana, o que justificará o desen volvimento ao longo de todo o pensamento chinês (nomeadamente, entre os letrados) de uma “ontologia” moral. A moral encontra aqui um princípio natural e universal, que é inalterável, coerente e espontâneo. O que poderia, em termos de filosofia ocidental, ser considerado unicamente transcenden te, absorve aqui a noção de imanência. A moral não vai contra a natureza humana; pelo contrário, ela é um “estado natural” do homem, sendo pervertida pelos acidentes da existência e pelo egoísmo de cada indi víduo. A natureza humana (moral) é dada, mas não realizada. Para a realizar, há que recorrer à educação/cultivo de si.
VIA do MEIO 10 11.10.2022terça-feira
Metafísica, vida depois da morte, a existência dos deuses e dos espíritos, a sacralidade do Céu e da Terra, nada disto realmente preocupava Confúcio
BCE Prolongada linha de troca euros/yuanes com Banco Popular
O Banco Central Europeu e o Banco Po pular da República da China (central) vão prolongar por mais três anos, até 8 de Outubro de 2025, a linha de troca euro -yuan. O BCE informou ontem que a linha, prolongada em 2016 e 2019 por mais três anos de cada vez, lhe dá acesso a 350.000 milhões de yuanes ou renminbi. Em troca, o Banco Popular da República da China pode aceder a 45.000 milhões de euros. Este acordo de troca cambial pode servir como uma facilidade de liquidez de reserva em caso de escassez de renminbi para os bancos da zona euro devido a problemas no mercado de renminbi, de acordo com o BCE. “O acordo com o Banco Popular da China é consistente com os grandes volumes de comércio e investimento bilateral entre a zona euro e a China”, acrescentou o BCE no comunicado.
Ecologia Publicado Atlas da Vida Selvagem do Sudoeste da China
Especialistas chineses publicaram recen temente o Atlas da Vida Selvagem no Sudoeste da China, de acordo com o Insti tuto de Zoologia de Kunming da Academia Chinesa de Ciências. O atlas, composto por cinco volumes, apresenta 2018 vertebrados terrestres e insectos representativos do sudoeste da China, informa a Xinhua. Apre senta também o ambiente e as condições naturais, a fauna geográfica complexa e as principais características dos recursos de animais selvagens nesta região. Cada espécie tem as suas fotos ecológicas originais na série de livros, mostrando as cores reais, o ambiente de vida e as características comportamentais dos animais em estado natural, entre as quais, fotos de 26 novas espécies são as primeiras a serem apre sentadas ao público. O atlas foi compilado em conjunto pelo Instituto de Zoologia de Kunming, o Instituto de Zoologia da ACC e outros institutos.
TAIWAN PEQUIM ELOGIA APELO DE MUSK A REUNIFICAÇÃO PACÍFICA
Aplausos sínicos
Os recentes comentários do patrão da Tesla sobre a reunião pacífica da ilha com o país caíram bem junto das autoridades chinesas
AChina manifestou ontem “satisfação” com o apoio demonstrado por Elon Musk a uma “reunifi cação pacífica” do país com Taiwan, enquanto
Taipé criticou os comentários do presidente executivo da fabricante de veículos eléctricos Tesla.
A porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Mao Ning, disse em conferên cia de imprensa que espera ver “mais e mais pessoas” a serem capazes de “entender e apoiar” a reunificação da ilha com a China continental.
Citado pelo jornal Financial Times, Musk afirmou que Tai
wan devia tornar-se uma região administrativa especial da China, à semelhança de Hong Kong e Macau.
“A minha sugestão seria esta belecer uma região administrativa especial que fosse razoável e viável para Taiwan, mas isso pode não satisfazer toda a gente”, disse o empresário norte-americano. “Acho que eles [Taiwan] podem
chegar a acordos mais flexíveis do que aquilo que foi feito em Hong Kong”, acrescentou.
Também o embaixador da China em Washington, Qin Gang, reagiu às declarações de Musk, afirmando, na rede social Twitter, que a “reunificação pacífica” e o modelo ‘um país, dois sistemas’, são os “princípios base da China para resolver a questão de Taiwan”.
“A minha sugestão seria estabelecer uma região administrativa especial que fosse razoável e viável para Taiwan, mas isso pode não satisfazer toda a gente.”
ELON MUSK PRESIDENTE EXECUTIVO DA TESLA
PATENTES PAÍS TEM MAIS DE TRÊS MILHÕES DE INVENÇÕES DOMÉSTICAS
Onúmero de patentes de invenção válidas na parte continental chinesa ultrapassou os três milhões, com um crescimento no campo de tecnologias digi tais, informou a Administra ção Nacional de Propriedade Intelectual no domingo.
Até Setembro, havia mais de 3,15 milhões de patentes de invenção
válidas detidas na parte continental chinesa, dis se Ge Shu, funcionário da administração, numa conferência de imprensa, comunica a Xinhua.
Mais de 30 por cento das patentes chinesas per tenciam a indústrias emer gentes estratégicas, como veículos de nova energia, criatividade digital e fabri
cação de equipamentos de ponta, e 13 por cento têm um prazo de patente de mais de 10 anos, de acordo com o funcionário.
Até Julho, 326 mil em presas chinesas detiam 2,09 milhões de patentes de invenção válidas.
Ge realçou o crescimento de patentes no campo de tecnologias digitais, e disse
que a tecnologia de compu tação, as medições e as co municações digitais foram as três principais indústrias no número de patentes de invenção válidas na China até Julho.
O número de patentes tem fortalecido ainda mais o status internacional da China como uma potência de inovação, disse Ge.
“Desde que a soberania, a segurança e os interesses de de senvolvimento da China sejam garantidos após a reunificação, Taiwan desfrutará de um alto grau de autonomia, como região adminis trativa especial, e amplo espaço para se desenvolver”, acrescentou Qin.
Reverso da medalha
O Partido Democrático Progres sista (PDD), actualmente no poder em Taiwan, enfatizou através do Gabinete para os Assuntos do Continente chinês que “Taiwan não aceitará” a proposta do em presário, que “considera apenas os interesses dos seus investi mentos”.
Mais de 30 por cento dos veículos da Tesla são produzidos na fábrica do grupo em Xangai, a “capital” económica da China. O país asiático é também o segundo maior mercado da marca, a seguir aos Estados Unidos.
Washington reconhece desde 1979, a liderança em Pequim como o único governo legítimo de toda a China, tendo rompido os contactos oficiais com Taipé. No entanto, os Estados Unidos continuam a ser o maior aliado e fornecedor de armas de Taiwan.
china 11terça-feira 11.10.2022 www.hojemacau.com.mo
AFundação Rui Cunha (FRC) apresenta, a partir de quarta -feira, a exposição de pintura “Inspiração – Paisagens Antigas de Macau”, do falecido artista nascido no México e radicado em Macau, Emílio Cervantes Júnior. A curadoria da mostra está a cargo de Joana Cervantes Nogueira. Podem ser vistas 33 obras a óleo, aguarela, guache e tinta-da-china que revelam imagens de Macau, das suas ruas, edifícios, barco e pessoas, pintadas ao longo de 17 anos.
Emílio Cervantes Júnior nasceu a 9 de Julho de 1931 no México, mas veio viver para Ma cau com cinco anos de idade, com
os pais, tendo ficado no território até ao fim da sua vida.
O artista fez carreira militar, tendo estacionado no Quartel Ge neral em Macau até a sua reforma. Mas era um homem de interesses variados, dedicando-se igualmente ao desporto local e à música.
Pertenceu à orquestra da Tuna Negro-Rubro, do Dr. Pedro José Lobo, onde tocava clarinete, saxofone, banjo, viola e outros instrumentos.
As obras vão estar expostas na Galeria da FRC até ao dia 29 de Outubro de 2022. Na quarta -feira, a inauguração tem lugar às 18h30.
SÃO PAULO FILMES PORTUGUESES
NA MOSTRA DE CINEMA INTERNACIONAL
do contacto da realizadora com jovens nos Açores.
Caleidoscópio
“Gems on Paper – The World Beyond Exli bris” é o nome da exposição da artista Chen Xiaofeng que abre ao público este domingo no espaço “Hold on Hope Project”, na vila de Ka-Hó. Nesta mostra revelam-se 38 obras que giram em torno da ideia das emoções criadas pelos livros e do conceito de exlibris”, ou seja, vinhetas coladas em livros
MAIS de uma dezena de filmes portugueses e outros com co -produção nacional, entre os quais “Alma Viva”, Nayola” e “Anoiva”, vão estar na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que co meça no dia 20 no Brasil, segundo a programação anunciada.
O festival contará com mais de 200 filmes, entre os quais “longas-metragens que foram exibidas e premiadas em festivais durante o último ano, novos tra balhos de diretores consagrados e filmes de revelações do cinema”.
A maioria dos filmes portu gueses estará na secção “Pers pectiva Internacional”, nomea damente “A Noiva”, de Sérgio Tréfaut, e “Lobo e Cão”, de Cláudia Varejão, ambos estrea dos no festival de Veneza. Se o primeiro ficciona sobre histórias verídicas de recrutamento de mulheres para o Estado Islâmico, o segundo aborda questões sobre identidade de género, a partir
A eles juntam-se o documen tário “Distopia”, de Tiago Afonso, sobre mais de uma década de mu danças no tecido social do Porto, a investigação cinematográfica “Ki norama - Cinema Fora de Órbita”, de Edgar Pêra, e o filme-ensaio “Objectos de Luz”, de Acácio de Almeida e Marie Carré; um olhar sobre o trabalho daquele director de fotografia no cinema português.
“Restos do vento”, de Tiago Guedes, “Nunca nada aconteceu”, primeira longa de ficção de Gonça lo Galvão Teles, “Nação Valente”, do luso-angolano Carlos Concei ção, com a guerra colonial em pano de fundo, “Campo de Sangue”, de João Mário Grilo, a partir de um romance de Dulce Maria Cardoso, e “Pacifiction”, do espanhol Albert Serra, coproduzido por Portugal, também estão no “Perspetiva In ternacional” de São Paulo.
A mostra dedicará uma parte da programação a novos realiza dores, que tenham uma ou duas longas-metragens, e será atribuí do um prémio do júri ao melhor filme. A 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo decor rerá até 2 de Novembro.
“E
XLIBRIS”, termo latino que significa uma vinhe ta ou sinal decorativo usados pelos bibliófilos ou escritores nas obras que possuem e escre vem, dá o mote à nova exposição acolhida pela galeria do espaço “Hold on Hope Project”, gerido pela Associação de Reabilitação dos To xicodependentes de Macau (ARTM) na vila de Ka-Hó, em Coloane.
A mostra, que é inaugurada no próximo domingo, às 16h, intitula-se “Gems on Paper – The World Beyond Exlibris” e revela trabalhos da artista Chen Xiaofeng. “Exlibris” é um termo clássico, que data do período do Renascimento, precisamente quando a edição de livros se começou a generalizar. Neste caso, a artista decidiu traba lhar em torno da criatividade que estas vinhetas e sinais criativos usados em livros contêm para rea lizar 38 obras, incluindo também algumas pequenas pinturas.
O trabalho de Chen Xiaofeng é marcado pelo uso de diferentes tons de cinzento juntamente com cores quentes e frias, o que permite criar nos quadros “um caleidoscópio de emoções que mostra a força e a beleza das nossas vidas”. Uma vez que o cinzento “não é preto nem
“O acto de escolher um livro, nos dias de hoje, é como escolher uma árvore na floresta”. Os leitores “conseguem ler o mundo num livro, encontrar uma e outra alma, apreciar diferentes emoções, apreciar a diferença na vida”
branco, descrevem a ambiguidade dos sentimentos que não se con seguem descrever com palavras, o que encaixa bem nas emoções ilusórias no amor”.
Pensamentos e sentimentos
Exemplo do trabalho de Chen Xiaofeng em torno das emoções humanas é a obra “Ladies in Jade”, onde a artista ilustra os livros como sendo figuras humanas. Neste caso, parte-se da ideia de que, em tempos antigos, as pessoas acreditavam que o conhecimento oriundo da leitura de livros poderia trazer riqueza e amor.
O trabalho de Chen Xiaofeng é marcado pelo uso de diferentes tons de cinzento juntamente com cores quentes e frias
Hoje em dia o acto de leitura “alterou-se para uma acção ini ciada por cada pessoa”, ou seja, “o acto de se apaixonar pelo seu livro”. Isto porque “o acto de es colher um livro, nos dias de hoje, é como escolher uma árvore na floresta”. Os leitores “conseguem ler o mundo num livro, encontrar uma e outra alma, apreciar diferen tes emoções, apreciar a diferença na vida”. Neste caso, os exlibris “reflectem a emoção exacta nos nossos corações e a busca por um novo mundo”.
Destaque ainda para as obras “Show Time”, “Mask” ou “Sprout” que são “figurativas e abstractas, reflectindo os pensamentos de Chen Xiaofeng sobre diferentes conteúdos de livros”.
12 eventos 11.10.2022 terça-feirawww.hojemacau.com.mo FRC EXPOSIÇÃO DE EMÍLIO CERVANTES JÚNIOR A PARTIR DE QUARTA-FEIRA KA-HÓ EXPOSIÇÃO DE CHEN XIAOFENG NO ESPAÇO “HOLD ON HOPE PROJECT”
A.S.S.
de emoções
Letras premiadas
José Manuel de Vasconcelos, Pedro Cabral e Teresa Noronha distinguidos pelo PEN Club
OS escritores José Manuel de Vasconcelos, Pedro Cabral e Teresa Noronha são os vencedores da edição deste ano dos prémios PEN 2022 para poesia, ensaio e narrativa, foi esta segunda-feira anunciado. Em comunicado, o PEN Club Portu guês anuncia que o júri atribuiu o prémio de narrativa a “Tornado”, de Teresa Noronha, o de poesia a “Os Grandes Lagos da Noite”, de José Manuel de Vasconcelos, e o de ensaio a “O Paradoxo do Cérebro», de Pedro Cabral.
“O Júri do Prémio da Primeira Obra dos Prémios PEN de 2022 considerou não existir, de entre as diversas obras a concurso, nenhu ma que preenchesse os requisitos necessários para a atribuição deste Prémio”, é ainda referido na nota.
A entrega dos prémios irá realizar-se no dia 25 de Outubro, na Galeria Carlos Paredes, Socie dade Portuguesa de Autores, em Lisboa. Os Prémios PEN são uma iniciativa que conta com o apoio da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB).
Portugal faz parte do PEN Club
International desde 1979, sendo o Clube de Poetas, Ensaístas e Novelistas (PEN) a maior e mais antiga organização de escritores, a nível mundial - numa iniciativa datada de 1921 -, levada a cabo por autores ingleses.
Todas as palavras
José Manuel de Vasconcelos é poeta, ensaísta e tradutor, tendo-se licenciado em Direito. Além de se dedicar às letras, é também advo gado. No ano passado lançou um novo livro de poesia, pela Húmus, intitulado “Os Grandes Lagos da Noite”. Teresa Noronha, outra das premiadas, nasceu em Moçambi que e é licenciada em Agronomia pela Universidade Eduardo Mon dlane. Com o romance “Tornado”, que é a sua estreia neste género literário, Teresa Noronha venceu ainda, no ano passado, o Prémio Maria Velho da Costa, da Socie dade Portuguesa de Autores. Por sua vez, Pedro Cabral, médico, venceu o prémio pelo seu livro “O Paradoxo do Cérebro. Memória. Autismo. Identidade”.
ÓBITO MORREU BRUNO LATOUR FIGURA DO PENSAMENTO ECOLÓGICO
Ofilósofo e sociólogo Bruno Latour, considerado um dos maiores intelectuais franceses con temporâneos, morreu aos 75 anos, anunciou domingo a sua editora Éditions La Découverte.
“A Editions La Découverte tomou conhecimento com tristeza da morte de Bruno Latour ontem à noite (sábado) em Paris. Todos os nossos pensamentos vão para sua família e entes queridos”, escreve a editora num comunicado enviado à agência France-Presse (AFP).
Bruno Latour foi, segundo es creveu o New York Times em 2018, “o mais famoso e incompreendido dos filósofos franceses”.
O autor deu realce às questões ecológicas e à crise climática e venceu o prémio Holberg (2013) e o prémio Kyoto (2021) pela sua obra, como, por exemplo, “La fa brique du droit. Une ethnographie du Conseil d’état”, “La Vie de labo ratoire”, “Nous n’avons jamais été modernes”, “Les Microbes. Guerre et paix” (sur Louis Pasteur) e “Où suis-je ?”, este último escrito duran te a pandemia de covid-19. Muitas personalidades e instituições rea giram ao anúncio da sua morte, nomeadamente o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, que, através da rede social Twitter,
elogiou “um espírito humanista e plural, reconhecido em todo o mundo antes de ser reconhecido na França”.
Nascido em 22 de Junho de 1947 em Beaune (centro-leste da França) numa família de comer ciantes de vinho da Borgonha, Bruno Latour estudou filosofia e antropologia e lecionou em França, Alemanha e nos Estados Unidos da América, onde foi professor convidado em Harvard.
Foi autor de duas peças de teatro e de vários ensaios publicados em inglês antes de serem publicados na França. Em 2021, em declarações à AFP, disse que as crises provocadas pelas alterações climáticas e pela pandemia colocaram em evidência uma violenta luta entre “classes geo-sociais”.
eventos 13terça-feira 11.10.2022 www.hojemacau.com.mo
CINETEATRO
Neste documentário
Nick Bilton organiza uma experiência social em que tenta fazer de três jovens influencers, com os benefícios res pectivos, como ofertas, contratos de publicidade e semelhantes. Mais in teressa, é a forma como este documentário per mite perceber, ainda que sem ser muito incisivo, algumas ferramentas que permite comprar “likes” e comentários nas redes sociais e fazer crescer os números de seguidores.
João Santos Filipe
de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Nunu Wu Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Gonçalo Waddington; José Simões Morais; Julie Oyang; Paulo Maia e Carmo; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Colunistas André Namora; David Chan; João Romão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Pátio da Sé, n.º22, Edf.
DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE FINANÇAS
EDITAL
Cobrança do Imposto Profissional respeitante ao Exercício de 2021
Faz-se saber que, de harmonia com o disposto no artigo 46.º, n.º 2, do Regulamento do Imposto Profissional, estará aberto, durante o mês de Outubro próximo, o cofre da Recebedoria da Repartição de Finanças de Macau destes Serviços para pagamento do imposto profissional dos contribuintes do 1.º grupo (assalariados e empregados por conta de outrem) e do 2.º grupo (profissões liberais e técnicas), respeitante ao exercício de 2021, calculado nos termos do artigo 37.º do mesmo Regulamento.
Findo o prazo da cobrança à boca do cofre, terão os contribuintes mais sessenta (60) para satisfazerem as suas colectas, acrescidas de 3% de dívidas e de juros de mora legais, conforme o disposto no artigo 48.º do referido Regulamento.
Decorridos sessenta dias acima referidos, sem que se mostre efectuado o pagamento do imposto liquidado, dos juros de mora e de 3% de dívidas, proceder-se-á ao seu relaxe, sem prejuízo da aplicação de multa, que pode atingir metade da importância da colecta em dívida.
Aos, 21 de Setembro de 2022.
O
dos Serviços
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CINEMA TICKET TO PARADISE SALA 1 TABLE FOR SIX [B] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Sunny Chan Com: Dayo Wong, Stephy Tang, Louis Cheung Kai Chung, Ivana Wong 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2 TICKET TO PARADISE [B] Um filme de: Ol Parke Com: George Clooney, Julia Roberts 14.30, 16.30, 21.30 DRAGON BALL SUPER: SUPER HERO [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Tetsuro Kodama 19.30 SALA 3 LIFE MUST GO ON [C] Um filme de: Ying Chi-Wen Com: Ekin Cheng, Catherine Chau, Gladys Li 14.30, 16.30, 21.30 SILENT PARADE [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Nishitani Hiroshi Com: Kawatoko Asuka, Rei Dan, Natsuki Deguchi 19.00 PUB. 14 [f]utilidades www.hojemacau.com.mo 11.10.2022 terça-feira UM FILME HOJE FAKE FAMOUS | NICK BILTON | 2021
Director
Iong Kong Leong
SEMPRE ACHEI de algum modo abis mal e, como tal, infinitamente sedutor, o efeito que cada pequeno gesto natural ou premeditado, pode causar, em cadeia, numa quantidade de outras coisas desligadas entre si - ou na aparência - mas, por uma razão qualquer de momento, alinhadas com uma ponta ou um elo qualquer dessa cadeia de que tornam parte. É uma subtil injecção de adrenalina, o simples pensar, temível, em exemplos de possibilidades que por uma ínfi ma fracção de segundo não se concretizaram ou por um pequeno gesto não intencional, se tornaram parte dessa cadeia ininterrupta, acontecem e desenham outras consequên cias e assim sucessivamente. Penso que é o factor de aleatoriedade, o que torna a possibilidade de este acaso particular, se dar, que torna este assunto abismal. E a noção da profunda e inultrapassável diferença, entre algo acontecer ou não acontecer. O efeito determinante que pode ser a grande fronteira entre o nunca e o para sempre. À partida, o próprio momento gerador de vida humana, envolto em competição de células, esquecendo critérios de competência que tornam mais válidas umas do que outras, ou mais rápidas, ou mesmo que uma possa escolher a outra, como se pensa hoje, mas
EFEITO DOMINÓ
que visto à posteriori pode ser definido como acto de acaso do destino de alguém, futuro, tornado existente. A diferença, é que a vida e as suas intermináveis cadeias de causa -efeito, não tem somente vinte e oito peças.
É curioso o amor. Eu jogava - muito pequenina - com o avô e estas pedras aqui secretamente fechadas numa caixa de madeira antiga e encerada simplesmente pelas mãos. Uma e outras, feitas por ele. E jogava numa progressão de estruturas, em que simplesmente tentava prolongar igua lando o sinal da pedra anterior. Similitudes. Igualar o igualável e prosseguir seguindo.
Ele nunca me ensinou que para ganhar um jogo é precisa a memória das mãos do adversário. Nunca fiz esse exercício e ainda hoje. Não sei se foi o bater de asas de uma libelinha, nessa Tóquio, assim, nos confins da infância.
Curiosamente, já nessa altura e desde sempre até hoje, desconfiava que as regras e os objectivos, não podiam ser tão simples como o simplesmente seguir e igualar. Com o meu pai jogava Damas, e mais animado o seu contrário a que chamávamos Ganha-Perde. Tentar perder a todo o custo, invertendo as regras. “Come, if you say my name”. Uma canção - era assim quando já não recordo o
Com o meu avô, a questão nunca foi a de ganhar ou perder. Passávamos o tempo. E assim, o que me ensinou, colocava em pé de igualdade sem resultados ambos os jogadores que éramos. O final era sempre como se tivessem acabado as pedras
preguiça e pouca memória para jogar, com um sucesso que fosse mais do que sorte de principiante, como a que me levou a ganhar a minha primeira partida de xadrez, no final da adolescência, a uma amiga fanática do jogo e de uma cadela chamada Toscana, de colo rido ruivo, como o dos montes nessa região em Itália. A perplexidade dela gerou uma revolução bélica na sua mente e obviamente nunca mais lhe ganhei. Algo em mim rejeita a estratégia e sente a preguiça de memorizar o jogo que saiu, adivinhar à transparência o dos parceiros e antever as jogadas seguintes a partir das anteriores. Por isso também sou sempre a espectadora que faz mentalmente tricot, outro desporto de corredor solitário, em jogos de Mahjong de amigas.
resto? - talvez assim. Como no amor. Jogar para perder para o outro. Hoje, e porque mais do que conversar e tirar dúvidas de uma vida, sobretudo com quem já cá não está, vamos ao motor de busca e lemos, entendi finalmente o que no fundo sempre soube. As regras existem, ganhar e perder resulta de memória e de um raciocínio estratégico como nas cartas, para as quais sempre tive
Mas o amor tem coisas assim. Com o meu avô, a questão nunca foi a de ganhar ou perder. Passávamos o tempo. E assim, o que me ensinou, colocava em pé de igualdade sem resultados ambos os jogadores que éra mos. O final era sempre como se tivessem acabado as pedras. Somente um acabava imediatamente antes do outro como no amor. Mas o que importa é que ambos acabem.
(Querido avô).
Também não me imagino a querer ganhar-lhe uma partida.
vozes 15terça-feira 11.10.2022 www.hojemacau.com.mo cartografias
Anabela Canas
ANABELA CANAS
OCDE UM EM CADA 10 ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR É ESTUDANTE
INTERNACIONAL
UM em cada 10 alunos do ensino supe rior nos países da OCDE é estudante internacional, sendo que a maior parte é procedente da China e da Índia e estuda sobretudo nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália.
Segundo o relatório “O Panorama das Migrações Internacionais da OCDE 2022”, ontem divulgado pela organização inter nacional de cooperação, havia, em 2020, 4,4 milhões de estudantes internacionais matriculados nos 38 países em causa, o que representa 10 por cento de todos os alunos do ensino superior.
Os países para onde vão mais estudan tes são os Estados Unidos (22 por cento do total), seguidos pelo Reino Unido (13 por cento) e pela Austrália (10 por cento), indi ca o documento assinado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
“Desde 2010, houve um forte au mento de estudantes internacionais na OCDE praticamente em toda parte”, refere o relatório ontem apresentado, adiantando que as subidas menos signi ficativas foram registadas em destinos como os países bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia) e a Eslovénia. Embora os destinos dos estudantes internacionais se tenham diversificado na última década, os principais países de origem dos alunos permaneceram estáveis, com a China e a Índia a representarem 22 por cento e 10 por cento do total, respectivamente.
Refira-se que, de acordo com o rela tório, “um em cada 12 estudantes interna cionais na OCDE é um estudante chinês nos Estados Unidos”.
O número de vistos para estudar costuma aumentar durante as crises de refugiados, como é o caso da actual associada à guerra na Ucrânia, já que a educação é, em conjunto com a migração humanitária, uma das formas mais viáveis de conseguir protecção internacional. Estes migrantes têm, normalmente, um nível alto de educação, até porque, em todos os países da OCDE, as autorizações de estudo e vistos para bolsas académicas são emitidos principalmente para estu dantes do ensino superior.
Virados para o negócio
Asegunda edição do “928
Challenge”, uma com petição para ‘startups’ entre os países de língua portuguesa e a China, atraiu 249 equipas uni versitárias e empresariais, 70 por cento das quais são chinesas, disse ontem a organização.
Marco Rizzolio, co-fundador da competição, disse à Lusa que “há grande interesse” dos chineses numa competição “in ternacional, que abre portas para fora” do país.
“Mas há interesse dos dois lados”, acrescentou Rizzolio, sublinhando que o “928 Chal lenge” atraiu “equipas de todos os países de língua portuguesa”, porque a China “é o segundo maior mercado mundial”.
Na primeira edição do “928 Challenge”, aberta apenas a equipas universitárias, inscreve ram-se 153 equipas com quase 800 estudantes, sendo que 89 entregaram em Outubro de 2021 projectos desenvolvidos.
Com o alargamento das candi daturas a empresas, a competição atraiu mais 100 equipas, com um total de 1.256 inscritos para um ‘bootcamp’ ‘online’ de 15 dias.
Durante a primeira semana do ‘bootcamp’, especialistas “deram a conhecer aos partici pantes o ambiente de negócio” dos países lusófonos e da Grande Baía, disse Rizzolio.
A Grande Baía é um projecto de Pequim que visa criar uma metrópole a partir das regiões ad ministrativas especiais de Macau e de Hong Kong, e nove cidades da província de Guangdong (Can tão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan,
Jiangmen e Zhaoqing), com mais de 60 milhões de habitantes.
Segunda parte
Já na segunda semana, que come çou ontem, a organização ajuda as equipas a “preparar bem” os planos de negócios orientados para a sustentabilidade, disse Rizzolio.
No caso das empresas, trata -se de “adaptar o serviço ou produto que faça a ponte entre a China e os países de língua portuguesa”, acrescentou o coordenador do projecto.
Os melhores 16 planos serão apresentados ao júri e a potenciais investidores na final, marcada para 29 de Outubro, durante a Feira
Internacional de Macau, disse Rizzolio. Durante a apresentação da segunda edição da competição, em Abril, um outro coordenador do projecto, José Alves, tinha ad mitido ter esperança num eventual alívio das restrições devido à pan demia que permitisse aos finalistas irem à região chinesa apresentar os projectos. Em Maio, Macau tinha levantado as restrições fronteiriças a cidadãos portugueses. No início de Setembro, a isenção foi alargada a viajantes de 41 países, uma lista que inclui o Brasil, mas não os restantes países lusófonos (An gola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste).
O vencedor da primeira edi ção, um projecto de produção de vacinas probióticas para peixes de aquacultura, da Universidade do Porto, já obteve fundos da União Europeia, mas os alunos ainda não puderam ir a Macau, lamentou em Abril José Alves, também director da Faculdade de Business da Universidade Cidade de Macau.
O concurso tem a organização conjunta do Fórum para a Coo peração Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau) e de várias universidades de Macau e da Grande Baía e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Voleibol feminino Japão e China nos quartos do Mundial
As seleções femininas de voleibol do Japão e da China venceram domingo os Países Baixos (3-0) e a Bélgica (3-0), respectivamente, e qualificaram-se para os quartos de final do Mundial, a decorrer na Polónia e nos Países Baixos. No fecho do Grupo E da segunda fase da prova, o Japão venceu a selecção anfitriã neerlandesa por 3-0, pelos parciais de 25-23, 25-23 e 25-21, e vai defrontar esta terça-feira nos quartos de final o Brasil, em Apeldoorn,
nos Países Baixos. A China venceu a Bélgica também por 3-0, pelos parciais de 25-18, 25-18 e 27-25, e vai defrontar nos quartos de final a Itália, campeã europeia e vice- campeã mundial, também na terça-feira e no mesmo local. Os outros dois jogos dos quartos de final do Mundial já estavam definidos desde sábado, com a campeã em título Sérvia a defrontar a anfitriã Polónia e os Estados Unidos a Turquia, também hoje, na cidade polaca de Gliwice.
terça-feira 11.10.2022“De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos.” ConfúcioPALAVRA DO DIA PUB.
‘“928 CHALLENGE” STARTUPS’ CHINESAS DOMINAM COMPETIÇÃO EM MACAU
Os melhores 16 planos serão apresentados ao júri e a potenciais investidores na final, marcada para 29 de Outubro, durante a Feira Internacional de Macau