DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
MOP$10
SOFIA MARGARIDA MOTA
SEXTA-FEIRA 12 DE MAIO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3810
TETÉ ALHINHO AO RITMO DAS MORNAS
“UMA FAIXA, UMA ROTA” FUNDAÇÃO MACAU CRIA BOLSAS DE ESTUDO
Por mares já navegados
Arranca este fim-de-semana o primeiro grande fórum dedicado à política lançada por Xi Jinping “Uma Faixa, Uma Rota”. Mais de 100 países e 28 chefes de estado marcarão presença em Pequim. De Macau parte hoje
uma delegação em busca de vantagens para o território. Para já, o que se sabe é que a Fundação Macau vai lançar, ainda este mês, um programa de atribuição de bolsas de estudo, ao abrigo desta iniciativa.
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ENTREVISTA
DADOS PESSOAIS
Investigar a duplicar PÁGINA 7
POLUIÇÃO
TIRA A MÁSCARA PÁGINA 9
BENS E SERVIÇOS
Gastos à vista PÁGINA 6
O sítio de Estado
OPINIÃO | ISABEL CASTRO PUB
GRANDE PLANO
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“UMA FAIXA, UMA ROTA” QUE CAMINHOS PARA MACAU?
GRANDE PLANO
Nas vésperas do Governo se fazer representar em Pequim na primeira edição do fórum sobre a política “Uma Faixa, Uma Rota”, olhamos para as vantagens que Macau poderá tirar desta iniciativa. Analistas defendem uma aposta nos países de língua portuguesa, onde Macau tem mais know-how. A Fundação Macau vai criar bolsas de estudo já este mês
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A política chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”, nome simplificado da “Faixa Económica da Rota da Seda e da Rota Marítima da Seda para o Século XXI”, cabe muita gente. Está lá a zona do Médio Oriente e a Índia, bem como as nações que compõem o Sudeste Asiático. Portugal não é esquecido, nem sequer alguns países africanos. Para que zonas deve Macau olhar, sendo um território de pequena dimensão? Um artigo publicado recentemente no jornal South China Morning Post dá conta do pouco interesse dos grandes empresários de Hong Kong nesta política instituída pela China em 2013, apesar de o Governo de C.Y. Leung ter criado um fundo de investimento na ordem dos 8,2 milhões de dólares de Hong Kong. O artigo fala do pouco interesse demonstrado pelas quatro grandes famílias de Hong Kong ligadas ao ramo empresarial e financeiro, incluindo a do magnata Li Ka-shing. C.Y. Leung decidiu também criar bolsas de estudo pensadas para estudantes dos países que integram o conceito “Uma Faixa, Uma Rota”. No caso de Macau, o Governo tem feito da política “Uma Faixa, Uma Rota” uma das suas bandeiras, mas pouco ou nada se sabe sobre os projectos que serão criados neste âmbito. O Chefe do Executivo já criou uma comissão de trabalho para o efeito, mas ainda não se conhecem medidas concretas. O HM questionou o gabinete de Chui Sai On sobre as iniciativas a criar, sem esquecer a possível criação de um fundo de investimento. Até ao fecho desta edição, não obtivemos resposta, devido à necessidade de tradução. Este jornal quis também saber se a Fundação Macau (FM) poderá criar bolsas de estudo, uma vez que Wu Zilliang, presidente desta entidade, esteve presente na primeira reunião da comissão. Em resposta escrita, a FM garantiu que “vai lançar um programa de atribuição de bolsas de estudo com o nome ‘Uma Faixa, Uma Rota’, já no final deste mês. Serão atribuídas 30 bolsas por ano. O objectivo desta medida é “promover a internacionalização do ensino superior de Macau e o seu desenvolvimento diversificado”, sem esquecer o reforço de “relações de amizade entre Macau e países e regiões abrangidas pela iniciativa, nomeadamente os países de língua portuguesa e do Sudeste Asiático”. O novo programa de atribuição de bolsas “visa formar novos quadros qualificados com conhe-
E FAVOR VIRAR PARA ´ AFRICA ´
cimentos profundos sobre Macau, Guangdong, Fujian e os países e regiões abrangidas pela iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota”.
A CAMINHO
Amanhã parte para Pequim uma delegação da RAEM que participa no primeiro grande fórum sobre “Uma Faixa, Uma Rota”, que se prolonga até segunda-feira. Segundo um comunicado oficial, o Executivo considera este “o mais importante evento internacional organizado pelo Interior da China desde a proposta feita pelo Presidente Xi Jinping”. O analista Grant Govertsen entende que, até ao momento, o empresário David Chow, ligado à Macau Legend Development, foi o primeiro a aproveitar as vantagens desta política, mesmo sem a exis-
tência de fundos de investimento ou medidas concretas executadas pelo Governo. “Se olharmos para as empresas de Macau, penso na Macau Legend, de David Chow, que tem
“A questão é se as empresas locais estão preparadas para entrar nesses países e desenvolver projectos. Temos de ser cuidadosos em relação a isso.” LAU VENG SENG EMPRESÁRIO E DEPUTADO
tido uma postura mais agressiva em termos da política ‘Uma Faixa, Uma Rota’, pois tem investido em alguns países africanos e até em Portugal”, disse ao HM. Num mercado que é, na sua maioria, composto por Pequenas e Médias Empresas (PME), as capacidades de investimento numa política desta natureza são baixas, alerta o deputado e empresário Lau Veng Seng. “A maior parte das empresas em Macau são PME. Em Hong Kong existe um sector financeiro mais desenvolvido, há uma bolsa de valores. Em Macau, se queremos utilizar a política, temos de tirar vantagens do tipo de negócio no sentido de trabalharmos em conjunto, para expandir a presença no mercado dessas regiões”, defendeu ao HM.
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ser um dos caminhos a seguir, mas cabe analisar a forma como as empresas utilizam esse montante. “Essa é uma das alternativas em que o Governo pode pensar mas, mesmo com esse fundo de investimento, não me parece que as PME possam beneficiar disso. Esse fundo seria mais para apoiar os projectos a desenvolver nos países incluídos na política ‘Uma Faixa, Uma Rota’, em vez de apoiar o próprio negócio da PME. A questão é se as empresas locais estão preparadas para entrar nesses países e desenvolver projectos. Temos de ser cuidadosos em relação a isso.”
“A política ‘Uma Faixa, Uma Rota’ poderá ter algum impacto no turismo. Contudo, penso que as infra-estruturas serão insuficientes.” GRANT GOVERTSEN ANALISTA DA ÁREA DO JOGO
SEM RECURSOS HUMANOS
“Quando falamos desta política falamos de diferentes países, localizados no Sudeste Asiático ou até no Médio Oriente. Então as empresas têm de perceber para onde querem ir e que tipo de vantagens podem ter”, acrescentou Lau Veng Seng, que garante que só com parcerias com empresas do Sul da China é que o mercado de Macau poderá ganhar pontos. “Haverá algumas grandes empresas de Macau interessadas nesses países, porque talvez já
tenham algumas parcerias ou projectos, em colaboração com empresas chinesas. Talvez estejam mais familiarizadas com a forma de investimento nesses países, para que possam trabalhar em conjunto. As empresas podem explorar esse mercado através de parcerias [com empresas chinesas do Sul]”, reiterou. O deputado e empresário defende que a criação de um fundo de investimento por parte do Governo, à semelhança de Hong Kong, pode
14.500 MILHÕES DE DÓLARES
O investimento directo da China nos países que integram a iniciativa Novas Rotas da Seda alcançou os 14.500 milhões de dólares, em 2016, segundo dados da Associação Bancária da China. No total, os bancos
O académico Anthony Wong, da Universidade Cidade de Macau (UCM), aponta que as PME não têm sequer recursos humanos qualificados para competir em países de regiões do Médio Oriente ou do Sudeste Asiático. “Talvez a maioria das PME não tenha capacidade para investir, não temos sequer especialistas ao nível dos recursos humanos para a operacionalização de negócios. Faltam recursos humanos qualificados e sobretudo que tenham competitividade para ir para países estrangeiros investir”, defendeu. “Ao nível dos países africanos temos algumas vantagens, porque temos vindo a desenvolver [essas relações]. Mas a política ‘Uma Faixa, Uma Rota’ também chega ao Sudeste Asiático e ao Médio Oriente, pelo que, se competirmos com algumas nações mais desenvolvidas, penso que não teremos tantas vantagens”, observa Anthony Wong. O sector do jogo é, para o académico, uma equação secundária. “Teremos alguma vantagem com os casinos, mas penso que o Governo não quer promover o sector do jogo na política ‘Uma Faixa, Uma Rota’.”
PORTUGUÊS É APOSTA GANHA
Se Macau não tem capacidade para penetrar nos mercados do Médio Oriente ou Sudeste Asiático, deve então virar-se para África e apostar nas características que já possui, defende Anthony Wong. “A presença da cultura portuguesa em Macau pode ajudar a estabelecer uma ligação com os
chineses assinaram contratos no valor de 126 mil milhões de dólares com os países que integram aquele plano de infra-estruturas, apresentado como um reavivamento da antiga Rota da Seda entre a China e a
países de língua portuguesa. Macau tem vindo a desempenhar esse papel já há algum tempo, mas a política ‘Uma Faixa, Uma Rota’, especialmente no que diz respeito à faixa marítima, é de facto muito semelhante à faixa onde estão localizados os países de língua portuguesa. Então é apenas uma das formas para reforçar a colaboração com os países de língua portuguesa.” Anthony Wong fala ainda da captação de uma maior diversidade de turistas. “Haverá também
“Teremos alguma vantagem com os casinos, mas penso que o Governo não quer promover o sector do jogo na política ‘Uma Faixa, Uma Rota’.” ANTHONY WONG ACADÉMICO
Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático. Os dados foram avançados pelo vice-presidente da associação Pan Guangwei, durante uma conferência de imprensa com representantes dos maiores
oportunidades para o turismo e comércio, mas haverá um desenvolvimento do turismo com os países de língua portuguesa. Macau poderá ter uma maior diversidade nesta área, em termos de atracção de diferentes turistas. Se será algo lucrativo, essa é outra questão.” Se essa diversidade acontecer no futuro, Grant Govertsen defende que as infra-estruturas não serão suficientes. “[A política ‘Uma Faixa, Uma Rota’] poderá ter algum impacto no turismo. Contudo, penso que as infra-estruturas serão insuficientes e será necessário um desenvolvimento a esse nível. Certamente que algumas coisas já estão a ser feitas, mas não bastarão.” Apesar de o Governo ainda não ter lançado medidas concretas no âmbito da política chinesa, os sectores do turismo e do jogo já estão a olhar para a estratégia do país. Em 2015, o Fórum de Economia de Turismo Global, que tem a empresária Pansy Ho como um dos rostos principais, teve como tema, precisamente, “Uma Faixa, Uma Rota”. Os diversos painéis traçaram um olhar sobre o turismo cultural. À data, Pansy Ho disse esperar que “Macau se possa tornar o actor principal no turismo global”. Além do turismo e da cultura, Macau poderá ter oportunidades de desenvolver o sector bancário e financeiro, sem esquecer o papel que a advocacia pode ter a esse nível. Prova disso é o estabelecimento de uma sucursal do Banco Nacional Ultramarino na Ilha da Montanha, bem como a aposta no mercado de renminbi por parte do banco, por forma a fornecer uma gama de serviços aos países de língua portuguesa. Na área do Direito, o escritório “Rato, Ling, Lei & Cortés - Advogados” foi o primeiro a estabelecer uma “joint venture” em Hengqin, em parceria com outros escritórios de advocacia de Hong Kong e da China. A sucursal abriu no ano passado. “Esperamos ter investimentos não só dos clientes de Macau mas também de países de língua portuguesa, dos Estados Unidos, de vários clientes que neste momento aparecem na Ilha da Montanha e não têm ninguém para os servir”, disse Pedro Cortés, na altura, à agência Lusa. Andreia Sofia Silva
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bancos chineses. Pan afirmou que vários grandes projectos de infra-estruturas – desde portos a telecomunicações – estão a ser desenvolvidos ou foram já concluídos. Até ao final de 2016, um total de nove
entidades estatais abriram 62 escritórios em 26 países que integram as Novas Rotas da Seda. A Associação Bancária da China abrirá ainda uma sucursal em Londres “muito em breve”, revelou o responsável.
4 POLÍTICA
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BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS COM NOVAS REGRAS
Está aprovada na especialidade a nova lei que traz alterações aos dois diplomas referentes à prevenção e repressão dos crimes de branqueamento de capitais e de financiamento dos crimes de terrorismo. A aprovação foi feita por unanimidade e sem intervenções dos deputados. Uma das alterações introduzidas com o novo diploma prende-se com a autonomização do crime de branqueamento de capitais em relação a crimes precedentes.
ESPÉCIES EM EXTINÇÃO MAIS PROTEGIDAS
A Assembleia Legislativa (AL) aprovou ontem por unanimidade a proposta de lei de execução da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção. A votação na especialidade aconteceu mais de um ano após a votação na generalidade, em Abril do ano passado.
Zhang Dejiang DEPUTADOS LEMBRAM PROBLEMAS GOVERNATIVOS
Adeus, até um dia
No rescaldo da visita de Zhang Dejiang a Macau, alguns deputados comentaram ontem as declarações do presidente da Assembleia Popular Nacional. Si Ka Lon defendeu a selecção pública dos cargos de direcção e chefia na Administração, enquanto Zheng Anting voltou a abordar o caso Pearl Horizon Si Ka Lon defende ainda uma “indexação do regime de premiação e promoção ao desempenho de um dos departamentos e divisões dos serviços públicos”, bem como “a criação de um regime de eliminação, premiando os dedicados e chamando à responsabilidade os que não tomam acções ou praticam acções irregulares”.
LEIS SÓ PARA ALGUNS
Também o deputado Zheng Anting usou da palavra para afirmar que GCS
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presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN), Zhang Dejiang, deixou o território esta quarta-feira. Com base nas declarações públicas do número três do Governo Central, alguns deputados utilizaram ontem o período de antes da ordem do dia, na Assembleia Legislativa (AL), para fazerem alguns comentários quanto ao desempenho do Governo. O deputado Si Ka Lon abordou os últimos escândalos na Função Pública, relacionados com o recrutamento sem concurso público e os erros cometidos pelas chefias. Para o deputado, continuam a existir “muitos problemas nos serviços públicos, nomeadamente a inércia da Administração”. “Na sua visita a Macau, o presidente do Comité Permanente da APN manifestou o desejo de o Governo assumir as suas responsabilidades para elevar continuamente a sua capacidade de governação”, começou por apontar. “Para concretizar as exigências dos dirigentes do Governo Central, nos últimos anos, o Comissariado contra a Corrupção reforçou os seus trabalhos de investigação e fiscalização”, lembrou o deputado. Contudo, Si Ka Lon considera que o Executivo necessita de fazer mais, tendo sugerido uma escolha mais transparente dos cargos de direcção e chefia. Deve ser feita “a sujeição, a título experimental, dos cargos de director e de chefia à selecção pública, alargando o leque de selecção para que, através das cláusulas contratuais, se possa reforçar a avaliação do desempenho e a responsabilização dos titulares dos cargos públicos”.
“em Macau os direitos e interesses de alguns cidadãos não são assegurados através das regras do Direito”. “Durante a visita do presidente do Comité Permanente da APN, referiu-se que a construção do sistema legal em Macau era uma tarefa relevante. Muitas leis antigas merecem revogação, sendo necessário avançar com a construção de um sistema legal perfeito”, referiu o deputado, tendo falado novamente do caso
Pearl Horizon e na necessidade de rever a Lei de Terras. “Na sociedade corre o rumor de que o promotor do empreendimento Pearl Horizon começou a pré-venda às escondidas e, já com o dinheiro na mão, demorou a construção de propósito, até o Governo recuperar o terreno. De acordo com outra versão, depois da concessão dos 65 lotes, há 25 anos, o Governo não parou de apressar o concessionário no sentido de começar as obras, mas este demorou deliberadamente, e o Governo não pode fazer nada se não reverter o terreno”, exemplificou o deputado. Além disso, Zheng Anting falou das “casas velhas de 260 agregados familiares em Coloane”, que já estarão “deterioradas”. “Só é permitida a sua reparação e não a reconstrução. Todos estes problemas devem-se à falta, na aplicação da nova Lei de Terras, de um mecanismo para imputar responsabilidades”, argumentou.
SIM AO PATRIOTISMO
O deputado Mak Soi Kun optou por lembrar os elogios do presidente da APN face ao facto de
Macau já ter legislado sobre o Artigo 23.º da Lei Básica. “Isto demonstra o seu incentivo e apoio aos trabalhos legislativos realizados pelo Governo para a salvaguarda da segurança nacional e estabelecimento do conceito de segurança nacional”, escreveu o deputado, que defendeu o reforço do patriotismo e dos ensinamentos sobre a Constituição chinesa e a Lei Básica. Já o deputado Ma Chi Seng recordou as palavras de Zhang Dejiang, que disse que Macau e Hong Kong podem apanhar o comboio de desenvolvimento da China e entrar na zona VIP. Na visão do deputado nomeado, a sociedade deve participar mais na política “Uma Faixa, Uma Rota”.
“Durante a visita de Zhang Dejiang, referiu-se que a construção do sistema legal em Macau era uma tarefa relevante. Muitas leis antigas merecem revogação.” ZHENG ANTING DEPUTADO “Criou-se recentemente um grupo de reflexão na sociedade que visa unir os pensamentos sobre a referida estratégia estatal e construir Macau como uma plataforma para promover a internacionalização, participação e cooperação da população, dando prioridade à economia e importância aos estudos académicos”, disse Ma Chi Seng, numa referência ao Grande Group Think Tank, que integra. Esta associação foi criada para abordar estratégias sobre o conceito “Uma Faixa, Uma Rota”. “Espero que o Governo continue a dar apoio às associações civis, e aumente as vias e os meios para absorver a sabedoria do público, bem como recolher as opiniões da população”, concluiu. Andreia Sofia Silva
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5 POLÍTICA
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Habitação Social GOVERNO TERÁ DE DAR EXPLICAÇÕES NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
Concursos para que te quero Na visão do deputado Au Kam San, o Governo tem condições para abrir um novo concurso, já que o último foi realizado em 2013. “Na Avenida Venceslau de Morais vai ser construído um edifício de habitação social e muitas dessas fracções já podem ser atribuídas aos candidatos. Já reunimos condições para a realização de um concurso, e penso que esta proposta de debate tem um significado especial”, considerou o deputado.
GCS
A proposta de debate apresentada pela deputada Ella Lei foi aprovada com apenas sete votos contra e duas abstenções. O Executivo vai ter de explicar o que se passa com a abertura de concursos para a atribuição de casas sociais
A
Assembleia Legislativa (AL) aprovou ontem uma proposta de debate apresentada pela deputada Ella Lei, com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), sobre a questão da habitação social. Houve apenas sete votos contra e duas abstenções. O deputado Chui Sai Cheong chegou a votar a favor da proposta mas, na especialidade, optou por se abster. Cheang Chi Keong absteve-se de votar nas duas ocasiões. A aprovação desta proposta implica uma ida do Executivo à AL para dar explicações quanto à
Kwan Tsui Hang considera que a realização de um debate é importante por existirem opiniões diversas sobre o assunto
necessidade de abertura de mais um concurso para a atribuição de habitação social. Na visão de Ella Lei, o Governo deve também dar
explicações sobre a possibilidade de criar um mecanismo permanente de atribuição deste tipo de fracção pública.
Kwan Tsui Hang, também ligada à FAOM, disse que a realização de um debate é importante por existirem opiniões diversas sobre o assunto. “Compreendo que na AL existem diferentes opiniões. Há quem entenda que se deve começar com as candidaturas, mas há quem entenda
que não se deve abrir um concurso porque ainda não há fracções. Mas é por isso que se deve realizar um debate. Os procedimentos de candidatura podem demorar mais do que um ano”, lembrou.
OS DO CONTRA
Apesar de a proposta ter sido aprovada com sete votos contra, apenas dois deputados usaram da palavra para demonstrar porque rejeitam a proposta de Ella Lei. No caso de Chan Chak Mo, o Governo deve fazer um planeamento antes de abrir concursos de habitação social. “Se não tiver tudo planeado, creio que o Governo não vai abrir, sem mais nem menos, um concurso. Passados uns anos, essas condições de candidatura podem sofrer alterações. Temos de dar tempo ao Governo para criar esse mecanismo permanente”, disse o deputado eleito pela via indirecta. Já Tsui Wai Kwan considerou “realista” a actual posição do Governo, ou seja, de apenas abrir concursos quando há novas fracções sociais construídas. “O estado civil dos candidatos pode ser alterado nesse período e as filas [de candidatos] seriam muito maiores”, rematou. Andreia Sofia Silva
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De um lado para o outro
FUNÇÃO PÚBLICA CURSOS PARA TODOS OS GOSTOS
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Deputado pede apoio para empresas após salário mínimo
G Kuok Cheong pediu ontem, na Assembleia Legislativa, que o Governo transfira o subsídio que disponibiliza como complemento de rendimentos baixos para as empresas, após a implementação generalizada do salário mínimo. “O Governo deve cumprir o compromisso de estender o salário mínimo a todos os sectores em 2018”, defendeu o deputado. “O nível do salário mínimo deve ser adequadamente ajustado, tendo em conta a situação real e tendo por base o valor mínimo já implementado para os trabalhadores do sector da administração de propriedades”, disse durante o período de intervenções antes da ordem do dia. “O Governo deve avançar já com estudos sobre a viabilidade de se criarem mecanismos amortecedores que permitam transferir os recursos financeiros destinados ao subsídio para bai-
xos rendimentos para apoiar as pequenas empresas na retenção dos seus trabalhadores locais que auferem baixos rendimentos, nesta nova situação decorrente da lei do salário mínimo”, propôs o deputado pró-democrata. O alargamento do salário mínimo começou por ser apontado para 2018, mas vários deputados já manifestaram dúvidas que tal aconteça antes de 2019, tendo em conta todas as consultas que o Governo pretende fazer até apresentar o diploma.
PASSOS DINÂMICOS
Para o deputado, deve ser criado um “mecanismo dinâmico de transição”, em que, no primeiro ano da implementação do salário mínimo, o Governo concede “um complemento de rendimento aos trabalhadores cujos salários não atingem o mínimo exigido por lei, nomeadamente os das pequenas lojas e contratados por
pequenos proprietários”, sob condição que os empregadores asseguram salários “não inferiores a 70 por cento do mínimo exigido por lei”. Além disso, “as empresas cujos trabalhadores beneficiam desse complemento têm de assegurar aumentos salariais anuais de seis por cento no mínimo”, enquanto o Governo “continua a conceder o referido complemento até que o empregador consiga assumir o salário mínimo exigido”. Os pedidos de subsídio complementar aos rendimentos do trabalho caíram a pique no ano passado. Dados publicados no portal da Direcção dos Serviços de Finanças indicam que, ao longo do ano passado, deram entrada 1055 requerimentos, contra 4789 submetidos em 2015.
S deputados à Assembleia Legislativa deram ontem luz verde ao novo regime das carreiras dos trabalhadores dos serviços públicos. Aprovado na especialidade por unanimidade, o diploma acabou por gerar, no entanto, algumas questões sobre as qualificações académicas dos candidatos às vagas na Função Pública. “A lei diz que o candidato pode ter uma licenciatura de Macau ou outro curso equiparado do exterior. Como vamos perceber se este curso tirado no estrangeiro pode ser equiparado? Ainda estamos a analisar o regime do ensino superior e actualmente as licenciaturas em Macau são de quatro anos, mas há licenciaturas de apenas três”, apontou Ella Lei. Para a deputada, a nova legislação pode criar “uma porta muito aberta para os candidatos”. Já Au Kam San lembrou que “há pessoas com o ensino secundário e outras que não frequentaram uma licenciatura, mas que tiram logo o mestrado. Não haverá aqui uma porta por detrás,
para que as pessoas possam entrar?”, questionou. Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), garantiu que a nova lei visa prever outros cursos com durações diferentes. No caso de Portugal, o Processo de Bolonha reduziu a duração de uma licenciatura de quatro para três anos, tendo criado os mestrados integrados. “Entendemos que a intenção legislativa é haver uma harmonização com os diferentes regimes académicos. Em Inglaterra, o curso é de três anos e é reconhecido mundialmente. É de acordo com as referências dessas instituições que vamos reconhecer o grau de licenciatura. No caso dos cursos de Direito, é claro que o mestrado não pode equivaler a uma licenciatura. Nesse caso não introduzimos qualquer alteração. Mas há alguns cursos que têm uma certa semelhança com o curso de licenciatura. Isso cabe ao júri do concurso avaliar”, concluiu o director dos SAFP. A.S.S.
6 POLÍTICA
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Bens e serviços GASTOS DA ECONOMIA E FINANÇAS SERÃO PUBLICADOS ONLINE
Em busca da transparência
À
margem da reunião da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas da Assembleia Legislativa, Lionel Leong revelou que o Executivo vai avançar com a revisão do regime de aquisição de bens e serviços. “A sociedade está muito atenta a esta questão e temos de aumentar a transparência”, disse o secretário para as Economia e Finanças. Após vários avisos do Comissariado contra a Corrupção e na sequência do caso das contratações do Instituto Cultural, o Governo prepara-se para rever o regime de aquisição de bens e serviços. Lionel Leong prevê que, em Setembro, se possa proceder à consulta dos serviços públicos e “em princípio,
GCS
Lionel Leong anunciou que, até à revisão legislativa do regime que regula a aquisição de bens e serviços, os departamentos da sua tutela vão avançar com a publicação na Internet dos gastos a partir de certo montante. O processo para rever a lei deverá avançar no terceiro trimestre do próximo ano
NOVAS FACES ATM
C
om a segurança financeira em mente, Lionel Leong afirmou que o sistema de reconhecimento facial em caixas ATM para portadores de cartões UnionPay emitidos por bancos chineses é para avançar. A medida encaixa-se numa lógica de combate à lavagem de dinheiro. “Precisamos de um período de adaptação e a instalação das máquinas será feita progressivamente”, adiantou o secretário. Leong esclareceu que a prioridade será adaptar as caixas instaladas nos casinos e nas imediações; porém, é uma alteração que não pode ser feita “de um dia para o outro”.
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AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1. Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 “Lei de Terras” , de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial lìquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos: - Estrada Lou Lin Ieok, n.º 2, na Ilha da Taipa; - Estrada de Cheoc Van, n.º 31, na Ilha de Coloane ( Associação de Moradores de Coloane) - 2.Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situada no rés-do-chão do Edifício “Finanças” , ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Atendimento Taipa, para os efeitos do respectivo pagamento. 3. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada. Aos, 24 de Abril de 2017. O Director dos Serviços de Finanças, Iong Kong Leong
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no primeiro trimestre do próximo ano, se possa fazer a consulta pública”. O secretário espera que no terceiro trimestre de 2018 a revisão legal possa entrar no processo legislativo. Até lá, os serviços da tutela de Lionel Leong vão proceder à publicação na Internet dos gastos da aquisição de bens e serviços com valores acima das 750 mil patacas e de obras de montante superior a 2,5 milhões de patacas. Quanto à direcção seguida pelas restantes tutelas do Governo, o governante disse que “só pode pedir” aos seus serviços para seguirem estas directrizes, uma vez que não tem base legal para impor tal conduta às outras secretarias. No entanto, Leong acrescentou que esta deverá ser uma tendência a seguir.
MUNDOS E FUNDOS
De acordo com um comunicado da Direcção dos Serviços de Finanças, os resultados de abertura de propostas, consulta de preços e adjudicações também são passar a ser divulgados. Estas informações vão permanecer online durante, pelo menos, dois anos.
No que diz respeito a concursos públicos – anúncio, programas e cadernos de encargos, abertura de propostas e consultas de preços – também serão divulgados. Ainda à margem da reunião da comissão que acompanha as questões de finanças públicas, foi anunciado que a percentagem de fundos públicos de investimento aplicados por gestores privados será aumentada de 11 para 20 por cento. O presidente da comissão de acompanhamento, Mak Soi Kun, explicou que este ajuste, em que a Administração irá gerir a aplicação de 80 por cento do capital público investido, está em linha com o que é feito em Hong Kong. Mak Soi Kun revelou-se descontente com o facto de as aplicações da reserva de Macau só terem tido um retorno de 0,8 por cento no ano passado. Com uma taxa de inflação na casa dos 2,37 por cento e a taxa de juro a rondar um por cento, o deputado comentou que seria mais rentável colocar os fundos públicos numa conta bancária. Apesar de se mostrar descontente com o fraco retorno dos investimentos do fundo de reserva, o presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos das Finanças Públicas vincou que “o critério fundamental é a segurança das aplicações”. Neste capítulo, é de salientar que no ano passado a reserva obteve rendimentos no montante de 3,3 mil milhões de patacas, o que correspondeu a retorno anual de 0,8 por cento. Ainda assim, 0,1 pontos acima dos obtidos em 2015. João Luz (com Agência Lusa) info@hojemacau.com.mo
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MATÉRIA PENAL MACAU E MONGÓLIA ASSINAM ACORDOS
O Governo de Macau rubricou ontem com a Mongólia dois acordos de cooperação judiciária em matéria penal. Um dos pactos abrange aspectos como a notificação de actos judiciais, a obtenção de prova, a busca e apreensão de objectos e documentos, o confisco de instrumentos e produtos resultantes de crimes. Já o segundo acordo diz respeito à transferência de pessoas condenadas, para que possam cumprir, “na sociedade a que pertencem, as penas que lhes foram impostas, em prol da promoção da sua reinserção social”, indica em comunicado o gabinete da secretária para a Administração e Justiça. O Executivo tem agora de submeter o texto rubricado dos dois acordos junto do Governo Central, para obter autorização para a assinatura formal.
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Dados pessoais INVESTIGAÇÕES QUASE DUPLICARAM O ANO PASSADO
Residentes mais privados pessoais, vigente há mais de dez anos, efectivamente que se nota cada vez mais que existe essa necessidade”, apontou. O director do gabinete não deixou de sublinhar que é tanto mais necessária caso se olhe para a experiência da União Europeia. Vasco Fong referiu que a entrada em vigor de um novo regulamento na Europa acerca desta matéria “vai ser uma peça muito valiosa para vários territórios que queiram acompanhar a evolução desta nova realidade relativa à protecção de dados pessoais”. A iniciativa “A Semana da Privacidade” decorre até domingo e pretende divulgar junto da comunidade e das escolas as directrizes gerais relativas à protecção de dados pessoais, e consciencializar as pessoas para os meios a que podem recorrer quando sintam que foram, de alguma forma, violados.
TIAGO ALCÂNTARA
Os processos abertos para investigação pelo Gabinete para a Protecção dos Dados Pessoais registaram um aumento de quase 45 por cento. Vasco Fong considera que mais pessoas prestam atenção a esta matéria. O único caso em que a alegação não foi comprovada envolveu os Serviços de Saúde
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S residentes do território estão a dar mais importância à protecção dos seus dados pessoais. A ideia foi deixada ontem pelo coordenador do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP), Vasco Fong, como justificação para o aumento em quase 45 por cento na abertura de processos de investigação. O coordenador refere que o desenvolvimento das redes sociais e da Internet também contribui para este fenómeno. “Agora estamos sempre em ligação com o exterior através da tecnologia, o que faz com que as pessoas comuniquem em todos os momentos”. Dos 224 processos de investigação iniciados em 2016, 126 processos foram concluídos. De acordo com os dados fornecidos pelo coordenador do GPDP, apenas um caso foi dado como fechado com alegação não comprovada. O caso envolve o Centro Hospitalar Conde de São Januário e remonta a Outubro de 2015. Diz respeito a uma série de documentos com informações confidenciais que caíram na via pública. “Efectivamente houve negligência, mas não atingiu um grau que permita afirmar que há culpa de alguém, razão pela qual foi tomada a decisão de arquivamento”, disse Vasco Fong.
SOCIEDADE
Sofia Margarida Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
ATENÇÃO ÀS FOTOGRAFIAS NAS REDES SOCIAIS
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uando há imagens relativas a actos que possam constituir crime, mas em que as pessoas envolvidas possam ser identificadas, o melhor é recorrer às entidades competentes, em vez de as divulgar nas redes sociais. O conselho foi deixado por Vasco Fong, coordenador do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais, ao comentar o caso que envolve Albano Martins. O responsável pela Anima é suspeito num processo de violação de dados pessoais por ter divulgado um vídeo de um agente da Polícia Judiciária a maltratar um cão. Fong afirmou que, aquando deste tipo de situações, os residentes devem dirigir-se às entidades competentes. “Em situações normais, estes casos são
O responsável explicou também que os Serviços de Saúde de Macau (SSM) têm de obedecer a procedimentos bem definidos, e capazes de garantir o tratamento e a destruição de quaisquer documentos que possam conter
reencaminhados para os órgãos competentes para investigação. Agora, se essa informação for lançada para os media, é necessário perguntar qual a finalidade deste acto”, referiu. O coordenador não deixa de fazer um alerta especial para as imagens que são divulgadas na Internet. “É um caso delicado em que as pessoas têm de ter muito cuidado”, disse. Não basta que as pessoas não sejam identificadas, há que ter também o cuidado de que as imagens não contenham elementos que, por associação, levem à sua identificação. A solução, para o director, é simples e passa pela autorização dos intervenientes em imagens divulgadas online.
dados pessoais. “São informações sensíveis e que têm de ser protegidas”, sublinhou. No caso em questão, estes procedimentos não terão sido cumpridos. Das indicações consta a destruição mecânica de todos
Relativamente aos processos concluídos, nove foram sancionados, 25 foram alvo de sugestões de melhorias e em 42 não havia provas suficientes para avançar
os documentos por parte dos funcionários dos SSM, antes de serem embalados e deitados fora. Neste caso, a destruição não foi feita e, ao serem transportados, alguns sacos com documentos dentro caíram na estrada. Ainda relativamente aos processos concluídos, nove foram sancionados, 25 foram alvo de sugestões de melhorias e em 42 não havia provas suficientes para avançar. Dos 224 processos de investigação iniciados em 2016, 65,6 por cento dizem
respeito à falta de legitimidade do tratamento de dados, enquanto 33,5 por cento referem-se à não observação dos princípios de tratamento dos dados. Por outro lado, 72,8 por cento dos processos foram instaurados após a apresentação de queixa pelos titulares dos dados. A maioria dos alvos de investigação diz respeito a entidades privadas, representando 51,4 por cento do total. Contando com os 78 casos transferidos de 2015, o GPDP tratou, em 2016, um total de 302 casos de investigação. Em relação aos trabalhos jurídicos, foram recebidos pelo GPDP diferentes tipos de requerimentos para tratamento de dados pessoais, incluindo 56 pedidos de parecer, 35 pedidos de autorização e 1207 notificações de tratamento de dados pessoais.
ACTUALIZAÇÃO PRECISA-SE
Vasco Fong voltou a alertar para a necessidade de rever a legislação, visto que há uma década que não sofre qualquer alteração. “Quanto à necessidade de revisão da lei de dados
59 PRESOS TRANSFERIDOS PARA HONG KONG
Desde que as duas regiões administrativas especiais assinaram o acordo sobre a transferência de pessoas condenadas, em Junho do ano passado, as autoridades de Hong Kong receberam 59 pessoas que estavam a cumprir pena no Estabelecimento Prisional de Macau. O número foi revelado ontem no Conselho Legislativo pelo secretário para a Segurança da antiga colónia britânica, Lai Tung-Kwok. A grande maioria dos reclusos transferidos para Hong Kong é de Macau, sendo que, logo a seguir, vem a Tailândia, onde estavam a cumprir pena 29 pessoas.
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hoje macau sexta-feira 12.5.2017
Notificação n.º 001/SS/GPCT/2017 Considerando que não é possível notificar os interessados, pessoalmente, por ofício, via telefónica, nem por outro meio, nos termos do artigo 68.º, do n.º 1 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, bem como dos respectivos procedimentos sancionatórios regulados no artigo 14.º do Decreto-Lei n.º 52/99/M, de 4 de Outubro, o signatário notifica, pela presente, de acordo com o n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, os infractores, constantes da tabela desta notificação, do conteúdo das respectivas decisões sancionatórias: Em conformidade com o artigo 25.º da Lei n.º 5/2011 (Regime de prevenção e controlo do tabagismo), e tendo em consideração as infracções administrativas comprovadas, a existência de culpa e não existência de qualquer circunstância agravante confirmada, o Director dos Serviços de Saúde determina que: 1. Foram aplicadas aos infractores, constantes da Tabela I em anexo, as multas previstas no artigo 23.º da Lei n.º 5/2011, no valor de 400 patacas (MOP 400,00) (cada infracção): Os factos ilícitos exarados nas acusações, provados testemunhalmente, constituem infracções administrativas ao disposto no artigo 4.º, porquanto resultam da prática de actos de “fumar em locais proibidos”, tendo sido os infractores notificados do conteúdo das acusações. (cfr.: Tabela I) 2. Além disso, os infractores podem ainda apresentar reclamação contra os actos sancionatórios junto do autor do acto, no prazo de quinze (15) dias, a contar da data da publicação da notificação, nos termos do artigo 145.º, do n.º 1 do artigo 148.º e do artigo 149.º do Código do Procedimento Administrativo, sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 123.º do referido Código. Para efeitos do disposto no n.º 2 do artigo 150.º do mesmo Código, a reclamação não tem efeito suspensivo sobre o acto, salvo disposição legal em contrário. 3. Quanto aos actos sancionatórios, os infractores podem apresentar recurso contencioso no prazo estipulado nos artigos 25.º e 26.º do Código de Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro, junto do Tribunal Administrativo da Região Administrativa Especial de Macau, sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 27.º do referido Código. 4. Sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 75.º do Código do Procedimento Administrativo, para efeitos das disposições do n.º 7 do artigo 29.º da Lei n.º 5/2011, os infractores deverão efectuar a liquidação das multas aplicadas, dentro do prazo de trinta (30) dias, a partir da data de publicação desta notificação, no Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo, sito na Avenida da Amizade, N.o 918, “World Trade Center Building”, 15.o andar, Macau. Caso contrário, os Serviços de Saúde submeterão o processo à Repartição das Execuções Fiscais da Direcção dos Serviços de Finanças para efeitos da cobrança coerciva, de acordo com o artigo 29.º do Decreto-Lei n.º 30/99/M e o artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 52/99/M. 5. Não é de atender a esta notificação, caso os infractores constantes da tabela anexa tenham já saldado, aquando da presente publicação, as respectivas multas, resultantes da acusação. 6. Para informações mais pormenorizadas, os interessados poderão ligar para o telefone n.º 2855 6789 ou dirigir-se pessoalmente ao referido Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo. 28 de 04 de 2017.
O Director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion Tabela I
Nome 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33
XIE TAOYUN LEE DUYOUNG HUANG WEI CHAN FAT CHU, QI XIONG, BIN WONG, TIN CHIP KUAN SONG IEK LAI, QIZHANG 張浩輝 LIM, HEETAEK LEE JE HEE SHIN HWNX-RYUL LEI CHEOK MENG CHU SON CHUN YANG QIAN CHENG QING SUN LICHENG DINO APRIYA ROYNALDI XU JINYU TOMI LAH XU ZHENGWEN CHAN PUI LENG LIANG ZHUANG POON, WAI YIN GARY HE YONGGANG ZHANG XINGQIANG DONG, TONGFA ZENG ZHAOHUO YI, PENGNIAN HE CAIWANG CHEN, LIANPEI HE CAIWANG
Nota﹕ (*1) (*2) (*3) (*4) (*5) (*6) (*7)
Sexo M M M M M M M M M M M M M M M F M M M M F M F M M M M M M M M M M
Data em que foram Tipo e n.º do documento de N.º da acusação Data da infracção exarados os despachos identificação de aplicação das multas (*7) 22521XXX 100079124 2016/06/18 2017/04/28 (*5) KR0334XXX 100204113 2016/07/01 2017/04/28 (*4) E13006XXX 100349931 2016/07/05 2017/04/28 (*1) 50648XX(X) 100348850 2016/07/07 2017/04/28 (*3) C38759XXX 100382810 2016/07/10 2017/04/28 (*3) C21623XXX 100349763 2016/07/12 2017/04/28 (*1) 12967XX(X) 100349799 2016/07/13 2017/04/28 (*1) 72276XX(X) 100349979 2016/07/14 2017/04/28 (*4) E04083XXX 100435219 2016/07/18 2017/04/28 (*4) E82117XXX 100204175 2016/07/20 2017/04/28 (*5) M62863XXX 100348907 2016/08/03 2017/04/28 (*5) SM0274XXX 100033483 2016/08/06 2017/04/28 (*5) M57219XXX 100033495 2016/08/06 2017/04/28 (*1) 72866XX(X) 100198683 2016/08/08 2017/04/28 (*1) 13822XX(X) 100198695 2016/08/09 2017/04/28 (*4) E24858XXX 100348971 2016/08/15 2017/04/28 (*3) T25592XXX 100153699 2016/08/15 2017/04/28 (*3) C33068XXX 100435702 2016/08/17 2017/04/28 (*6) B3463XXX 100343151 2016/08/21 2017/04/28 (*3) W79644XXX 100021080 2016/08/21 2017/04/28 (*6) AS152XXX 100382268 2016/08/22 2017/04/28 (*3) C18827XXX 100437592 2016/08/25 2017/04/28 (*1) 51685XX(X) 100438479 2016/08/27 2017/04/28 (*4) E04509XXX 100331144 2016/08/27 2017/04/28 (*2) K7643XX(X) 100434356 2016/09/01 2017/04/28 (*4) G57205XXX 100403614 2016/09/08 2017/04/28 (*3) C43073XXX 100141741 2016/09/16 2017/04/28 (*3) C38768XXX 100455108 2016/09/21 2017/04/28 (*3) K90576XXX 100439356 2016/09/24 2017/04/28 (*3) C44362XXX 100382412 2016/09/26 2017/04/28 (*4) E56164XXX 100164020 2016/09/27 2017/04/28 (*3) C11467XXX 100382147 2016/09/28 2017/04/28 (*4) E56164XXX 100164082 2016/09/29 2017/04/28
Bilhete de Identidade de Residente da Região Administrativa Especial de Macau Bilhete de Identidade da Região Administrativa Especial de Hong Kong Salvo-conduto de residente da República Popular da China para deslocação a Hong Kong e Macau Passaporte da República Popular da China Passaporte da República da Coreia Passaporte da República da Indonésia Título de Identificação de Trabalhador Não-residente
9 hoje macau sexta-feira 12.5.2017
Ambiente DEPOIS DE ELEVADA POLUIÇÃO, QUALIDADE DO AR MELHORA
As partículas que respiramos Na passada quarta-feira, o ar de Macau esteve pesado, com o índice de poluição atmosférica a quadruplicar os valores da Organização Mundial de Saúde. A situação, apesar de não ser frequente, não é novidade para os cidadãos de Macau. Com o fim-de-semana a aproximar-se, a qualidade do ar vai melhorar
“A
vez que os índices de poluição se encontravam nocivos para a saúde pública. Os valores das PM 2.5, as mais perigosas, registaram valores de 160 microgramas por metro cúbico na área de residencial de Macau, por volta das 20h. Um valor quatro vezes superior ao recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo o portal Hong Kong Press, o Departamento para a Protecção Ambiental da região
BENDITA ARAGEM
Ontem a situação melhorou ligeiramente, uma vez que “o vento esteve relativamente fraco, o que não privilegiou a dispersão de poluentes da atmosfera”, de acordo com informações prestadas pelos serviços meteorológicos. O
ar tornou-se ligeiramente mais respirável, aliás, o céu voltou a ser azul; no entanto, os serviços caracterizam os índices de qualidade do ar como “moderado a insalubre”. Os pulmões dos cidadãos de Macau que passaram ontem pela Taipa foram os mais fustigados pela poluição atmosférica, com os valores de ozono registados pela Estação Ambiental (Taipa) a chegarem aos 149 microgramas por metro cúbico. Segundo a previsão dos Serviços de Meteorologia e Geofísica, hoje a qualidade do ar irá melhorar. Até à hora de fecho, as estimativas apontavam para uma intensificação ligeira do vento do quadrante sul, sendo de esperar que a qualidade do ar passe a ser “moderada”. Depois de uma semana com os céus carregados, os dias que se avizinham podem trazer menos agressão aos pulmões de quem vive em Macau. João Luz (com Agência Lusa) info@hojemacau.com.mo
HOJE MACAU
situação momentânea deveu-se a uma reacção fotoquímica” que, apesar de acontecer algumas vezes, não é muito comum. Esta foi a explicação dada pelos Serviços Meteorológicos e Geofísicos acerca do ar pesado que se fez sentir na passada quarta-feira. O conselho dos serviços era para que se evitassem actividades na rua e para se fecharem janelas, uma
vizinha explicou a concentração de poluição atmosférica com uma corrente de ar oriunda das zonas de grande concentração de indústrias poluentes do Delta do Rio das Pérolas. Essa situação foi agravada pelos ventos ligeiros que não permitiram a dispersão dos gases nocivos. Os valores registados pelos serviços para as PM 10 chegaram, também, a valores a atingir no pico de maior concentração as 160 microgramas, o triplo do recomendado pela OMS. O registo de dióxido de enxofre chegou aos limites fronteira dos padrões recomendados pela OMS.
Segundo a previsão dos Serviços de Meteorologia e Geofísica, hoje a qualidade do ar irá melhorar
TRÂNSITO REGULAMENTO PARA CAPACETES NÃO REÚNE CONSENSO
O
regulamento administrativo sobre os modelos de capacetes parece estar longe de ser consensual. Ao HM, Lei Kin Ion, presidente da Associação Activismo para a Democracia, explicou que vai hoje entregar uma carta junto da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) a pedir a retirada do regulamento que visa a inspecção de capacetes.
De acordo com Lei Kin Ion, este é apenas o primeiro passo no combate à entrada em vigor do regulamento. Segue-se um processo de recolha de assinaturas. O responsável da associação lamenta que o Governo não tenha consultado a população relativamente a esta matéria, uma vez que diz respeito a um grande número de residentes que utilizam diariamente motas para se deslocarem. Para Lei
Kin Ion, a atitude sensata por parte do Executivo seria fiscalizar os fornecedores de capacetes e não os seus utilizadores. “As pessoas vão pensar que os capacetes que se vendem no mercado são os que preenchem os requisitos do Governo, mas o Governo sanciona só os consumidores, o que não é nada razoável e só vai causar transtorno aos residentes”, queixou-se o presidente.
Sobre o abandono dos capacetes, Lei Kin Ion lamenta que o Governo não ofereça uma recompensa a quem o faça e considera que as autoridades precisam também de fiscalizar o processo de importação. Também o deputado Chan Meng Kam se mostra contra o regulamento em questão. Em interpelação escrita, argumenta que os capacetes podem ter boa qualidade apesar de não fa-
zerem parte das marcas de referência. Por outro lado, considera, a falsificação de marcas é comum, pelo que não se pode avaliar a qualidade de um capacete pela etiqueta. De modo a resolver a situação, o deputado acha que o Executivo deve dar prioridade à fiscalização dos fornecedores e apelar aos residentes que cuidem do seu equipamento de protecção. V.N.
SOCIEDADE
AUTOCARROS CUIDADO COM AS CURVAS
A
NDAR de autocarro em Macau pode ser um desporto radical. Nesse sentido, Zheng Anting pede ao Governo que responsabilize as empresas concessionárias de transportes públicos, de forma a melhorar o serviço prestado a residentes e turistas. No entendimento do deputado, um dos maiores problemas prende-se com a velocidade a que os motoristas conduzem, especialmente nas curvas. Essa situação é particularmente sentida por cidadãos idosos. Zheng Anting explica que o que se passa é preocupante e que, além de causar insatisfação dos passageiros, aumenta a possibilidade de acidentes rodoviários. Outra das queixas do tribuno prende-se com o facto de os condutores não alertarem os passageiros para que se desloquem para a retaguarda dos veículos, facilitando a entrada de outros utentes nas paragens seguintes. O deputado à Assembleia Legislativa entende que os serviços de autocarro de Macau são um dos rostos da cidade, uma vez que são o principal transporte público. Mas são também uma das maiores fontes de queixas dos cidadãos, na leitura de Zheng Anting. Para o deputado, o Governo deve reforçar a fiscalização às companhias concessionárias, de modo a melhorar a qualidade dos serviços prestados a residentes e visitantes. Nesse sentido, o deputado interpelou o Executivo a debruçar-se sobre a situação e, se for necessário, aumentar as sanções para combater as más práticas. Outro dos pedidos de Zheng Anting prende-se com uma solicitação para resolver a falta de recursos humanos no sector, uma vez que a carência de mão-de-obra só piora a qualidade do serviço, principalmente tendo em conta a sobrecarga horária dos condutores. V.N.
10
TETÉ ALHINHO
ENTREVISTA
“Nós nascemo
A cantora de Cabo Verde Teté Alhinho sobe hoje ao palco do Teatro D. Pedro V para dar a conhecer o seu último disco, “Mornas ao Piano”. Pela primeira vez no território, a convite da Associação de Divulgação da Cultura Caboverdiana, fala ao HM da sua relação com a música e com a terra que lhe deu o ritmo e o sentir
O seu site de apresentação começa com “Nasci ao som das ilhas e delas herdei o ritmo e o sentir”. O que é nascer ao som das ilhas, como são o seu ritmo e o seu sentir? O ritmo das ilhas não é o mesmo do continente. Temos mar por todos os lados. Os sons são muito diferentes, até porque só esta presença de mar também o é. O vento também vem com diferentes sons. Vem, ora de um lado, ora do outro. Claro que é uma forma também metafórica para situar o lugar onde nasci e, talvez, porque é que sou como sou. Os ilhéus também têm um ritmo especial de vida, e dão uma forma diferente de ser a Cabo Verde, que tem uma forma de sentir muito peculiar. De sentir a música, por exemplo, porque é um país muito musical.
SOFIA MARGARIDA MOTA
CANTORA
Que particularidade é essa? Porque somo ilhéus, temos sempre uma necessidade de partida, de procurar o mar. Temos esse instinto, o de ir e depois voltar. É o mar que nos leva e é o mar que nos traz. Também somos, penso, mais abertos e receptivos a muita coisa. O mar também nos traz muita gente de diferentes latitudes. Sou da Ilha de S. Vicente, cujo Porto Grande trouxe sempre muitas pessoas de várias nacionalidades. Uns ficam, outros não, e isso cria uma certa abertura de mente que acho que o cabo-verdiano tem. Não é uma mentalidade local, fechada, é aberta ao novo, mas também muito ciente do que é seu. Por outro lado, e falando da musicalidade local, nós nascemos com a música. É a mãe que canta, é a empregada que canta, é a dança que aparece desde o colo da mãe. Eu cresci assim: com uma mãe que gostava de cantar. O meu pai também gostava muito de música e tínhamos uma aparelhagem em casa. No Mindelo sempre houve a presença constante da música. Não tinha por onde fugir. Tivemos também um piano em casa e era a nossa diversão lá em casa. Ao falar de Cabo Verde é quase impossível não nos remetermos para a morna. Vamos ter um concerto de mornas ao piano. O que é para si a morna de Cabo Verde? É a expressão geral e comum de todo o cabo-verdiano. O barlavento tem os seus ritmos e o sotavento tem outros. A morna fez-se sempre mais em S. Vicente e Boa Vista. A morna, penso, foi a forma que encontrámos para traduzir a nossa nostalgia provocada pela distância. O cabo-verdiano sempre emigrou e com isso nasce a saudade: com as partidas, as tristezas, as perdas e o amor, claro. Já dizia o Baltazar Lopes que acelerando a morna chegava-se à coladeira. A coladeira acabou por ser um ritmo que veio tirar um pouco da melancolia associada à morna. É um ritmo que começa já a tratar de outras coisas,
como o quotidiano, a crítica social e um pouco de sátira. Costumo dizer que a morna é um sentir comum cabo-verdiano. Como é que aparece o piano associado à morna? Normalmente a morna é associada à guitarra porque se trata de um
“A morna foi a forma que encontrámos para traduzir a nossa nostalgia provocada pela distância.”
instrumento barato. Mas a morna também se tocava ao piano em Cabo Verde. Se recuarmos no tempo, encontramos grupos que usavam o piano. Em S. Vicente, em particular na Rua de Lisboa, havia o Café Royal que tinha um piano. Todos os que tocavam piano paravam ali e era um instrumento
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os com a música”
me levantei e disse: vou gravar um disco para crianças. A partir desse dia, o disco nasceu. É um trabalho de que gosto muito também porque está muito ligado aos meus filhos. Também trabalhou com a sua filha Sara. Neste disco a Sara trabalhou comigo em três temas. Depois continuámos a colaborar. Sempre a vi como uma miúda muito entoada desde pequena e sempre tentei estimulá-la para a música. Fizemos um disco depois que se chama “Gerações” por ter esse sonho, o da filha que seguisse a música e que pudesse fazer aquilo que eu não tinha conseguido. Nascemos em épocas diferentes. Ela podia ter feito, por exemplo, uma carreira para crianças. Mas acabou por ir estudar para as Canárias e escolheu outras prioridades.
“Com o 25 de Abril, o cantar foi uma forma de também participar no movimento pró-independência.” Que música é que ouve e a inspira? Ouço música quando tenho tempo. Gosto de ouvir de tudo um pouco. Gosto muito de ouvir Bana e da Cesária. Gosto dos artistas mais modernos, mais jovens. Gosto da música instrumental cabo-verdiana. Quando tenho tempo levanto-me e ponho música, alguma que também possa dançar um bocadinho. Gosto especialmente da Cátia Guerreiro e do Jorge Palma. Ofereceram-me uns CDs do Sérgio Godinho que oiço para o descobrir. O Sérgio tem de ser descoberto. Depois também gosto muito da Ella Fitzgerald. Gosto de música.
que se ouvia sempre, até porque Mindelo era muito pequenino. Este disco acabou por ser uma coisa natural. O piano para mim sempre existiu na música de Cabo Verde. Não com a mesma expressão da viola, a que chamamos violão, mas sempre existiu. Daí este projecto “Mornas ao Piano”.
A sua carreira também passou por um projecto dedicado a crianças com o disco “O Menino das Ilhas”. Como é que apareceu esta vertente? Eu adormecia os meus filhos a cantar. Ao cantar ia compondo alguns temas para crianças e ia guardando essas canções. Quando
regresso a Cabo Verde em 1991, não havia nada para crianças. Temos um cancioneiro que é herdado e não é, realmente, nacional. Há algumas canções, mas dirigidas mais para a dança infantil. Pensei que fazia falta um trabalho para os mais novos e eu tinha três filhos pequenos. Foi assim que um dia
O que é cantar para si? Tem sido diferentes coisas em diferentes momentos. Em pequenina comecei a dançar. Depois o cantar começou a estar associado à minha casa, aos meus irmãos, ao piano que tínhamos, à alegria. Aliás, cantar é sempre uma alegria e canto mais quando me sinto bem. Depois foi o despertar, a partir dos oito anos. Foi um descobrir-me para a música, para o facto de conseguir e saber cantar. Era sempre uma coisa muito boa. Com o 25
ENTREVISTA
de Abril, o cantar foi uma forma de eu também participar no movimento pró-independência. Tinha cerca de 17 anos nessa altura e era o cantar de músicas de protesto e luta. Foi a minha contribuição para o processo de independência e de revindicação dos direitos do nosso país. Depois fui para Cuba e cantar era já um processo e manifestação cultural daquilo que era Cabo Verde. Passei pelo México e vou para Portugal já com três filhos. Cantar foi então para mim um escape muito grande. Tive três filhos em três anos e meio, o que fez com que tivesse vivido muitos anos seguidos entre casa, fraldas e comida. Sou também licenciada em Educação Física e ia trabalhar, aliás precisava de o fazer. Mas começava a precisar de mim porque, no meio disto tudo, eu tinha desaparecido. Essa necessidade de mim acordou-me. Tinha de fazer alguma coisa e decidi gravar um disco. Vesti-me, nunca me vou esquecer, com uma saia azul, uma blusa branca e uns sapatos azuis da tia Alice, meti-me a caminho e fui aos Olivais ver o Péricles Duarte. Ele aceitou, foi ver as músicas que tinha, falou com o Paulino Vieira, começámos a ensaiar e foi assim que nasceu o “Mares do Sul”, nos estúdios da Valentim de Carvalho. É um disco pelo qual eu tenho um grande apreço porque representa um marco. Foi tornar a ganhar um pouco o meu espaço que estava todo tomado pela família, que era a minha prioridade. Nunca deixei de fazer música a partir desse momento. Agora, a música é essencialmente comunicação. É o resultado de tudo o que vivi. É o poder expressar o que sinto. É a consolidação de todo este crescer. É o partilhar as minhas composições, o meu sentir e aquilo que a própria música representa. A música consegue o que nada mais consegue, consegue ser universal. Acho que cria uma confluência de sentimentos e uma união. Muita gente diz-me que não entende as palavras, mas que sente o que ouve. Acho que a música é capaz de ir muito longe. A música limpa. Acredito que a arte em geral – e a música em particular – é a grande esperança da Humanidade. Por outro lado, é um retorno de tudo o que tenho feito na vida. Não digo que seja tardia, mas é antes o resultado das minhas escolhas e é também o que me resta para preencher o que ainda tenho para viver. Também me provoca encontros com outras pessoas e com outros lugares. A música permite-me ter boas memórias. Sofia Margarida Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
12 CHINA
N
hoje macau sexta-feira 12.5.2017
O interior do norte da China, uma igreja do tamanho de um quarteirão, com paredes e colunas brancas, ergue-se no centro de uma aldeia, entre casas de tijolo cru, estradas poeirentas e plantações de melancia. Trata-se da aldeia de Donglu, um dos lugares mais sagrados para os católicos chineses, fruto de uma aparição de Nossa Senhora, em 1900, para proteger os locais de uma rebelião nacionalista. Aqui, a 140 quilómetros a sudoeste de Pequim, capital de um país governado por ateus e sem relações diplomáticas com o Vaticano, quase todos os habitantes são católicos. “Desde crianças que recebemos os ensinamentos de Deus”, diz à agência Lusa Ke Hua, uma local de 27 anos, que está a ajudar a irmã, proprietária de uma loja de artigos religiosos. “A fé dá-nos restrições morais e uma base enquanto seres humanos”, explica. O cristianismo, na China, estará mesmo numa fase de grande expansão, preenchendo “o vazio moral” e o
Donglu UMA ALDEIA CATÓLICA NUM PAÍS GOVERNADO POR ATEUS
Atira-me água benta “excessivo materialismo” provocados pela alegada crise da ideologia comunista e o trepidante desenvolvimento das últimas três décadas de “Reforma Económica e Abertura ao Exterior”. Ke reconhece a existência de uma “crise de valores” e lamenta que “os interesses económicos estejam hoje por detrás de tudo”. “Até as crianças já pensam em dinheiro; as ligações entre as pessoas deixaram ter como base os afectos”, diz. Pequim não tem relações diplomáticas com a Santa Sé e a base teórica marxista do Partido Comunista Chinês, que governa o país desde 1949, promove o ateísmo. Em Donglu, contudo, o catolicismo tem uma história antiga e obteve maior proporção com as aparições de Maria em 1900, que o Vaticano confirmou em 1928.
Em Donglu o catolicismo tem uma história antiga e obteve maior proporção com as aparições de Maria em 1900, que o Vaticano confirmou em 1928
No domingo de Páscoa, a igreja da aldeia está a abarrotar. Nas ruas, lançam-se petardos e fogo-de-artifício para “afugentar os maus espíritos”, uma tradição reservada na China para a passagem do Ano Novo Lunar, a mais importante festa para os chineses. Entre os crentes, trocam-se ovos com a inscrição “Deus ama-te” e, em frente à igreja, vende-se algodão doce, outra novidade no país.
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EDITAL
Notificação da decisão final de demolição das restantes paredes do prédio Edital n.º :22/E-AR/2017 Processo n.º : 37/AR/2016/F Local : Terreno situado na Rua do Infante n.º 16, em Macau. Cheong Ion Man, subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 03/SOTDIR/2017, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 13, II Série, de 29 de Março de 2017, faz saber que ficam notificados o proprietário (Sacrificios de Familia de Tu Nan Sang) e os inquilinos ou demais ocupantes do prédio acima indicado, do seguinte: Em conformidade com o Auto de Vistoria da Comissão constante no processo a decorrer nesta Direcção de Serviços, as paredes que restam do prédio situado no terreno acima indicado encontram-se instáveis, e as vigas de madeira que restam estão na iminência de cair, pelo que, nos termos do n.º 1 do artigo 54.º do Decreto-Lei n.º 79/85/M (Regulamento Geral da Construção Urbana) de 21 de Agosto, ficam os interessados notificados da decisão final de demolição das paredes e vigas que restam, remoção da vegetação existente nas paredes e limpeza do local. No uso das competências delegadas pela alínea 12) do n.º 2 do Despacho n.º 11/SOTDIR/2016, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 21, II Série, de 25 de Maio de 2016, o Chefe do Departamento de Urbanização da DSSOPT, Lai Weng Leong, homologou o Auto de Vistoria acima indicado através de despacho de 5 de Setembro de 2016.
“No meu coração, sou livre de ter fé”, afirma Rui Yi, nascida e criada em Donglu. “Não me importa as restrições que nos colocam. Isso não abala a minha crença em Deus”, atira. Estima-se que haja já 12 milhões de católicos no país, entre os quais muitos optam por celebrar a sua fé em igrejas clandestinas, que juram lealdade a Roma, arriscando represálias das autoridades.
À chegada, o padre avisou os jornalistas da Lusa de que corriam o risco de ser detidos, mas a reportagem acabou por decorrer sem incidentes.
MAUS HÁBITOS
Não foi sempre assim: em Abril e Maio de 1996, um ano após uma segunda alegada aparição de Maria, mais de cinco mil efectivos militares, 30 carros blindados e diversos helicópteros foram destacados para Donglu. Fontes católicas dizem que as peregrinações a Donglu foram proibidas na década de 1990, com a polícia a selar a estrada da aldeia. A aparição de Nossa Senhora terá ocorrido durante a revolta dos Boxers, movimento nacionalista contra a presença estrangeira na China, que tornou comum os atentados e torturas contra comerciantes, missionários e diplomatas estrangeiros. Donglu já era então uma aldeia predominantemente católica e, quando os atacantes chegaram, Maria terá vindo em socorro dos crentes. Tal como as aparições de Fátima em 1917, a igreja católica confirmou a veracidade das aparições de Donglu. Em 1932, o Papa Pio XI consagrava a aldeia como um lugar de culto a Nossa Senhora da China. Hoje, para os habitantes de Donglu, a maioria empregados no fabrico de gruas manuais ou no cultivo de melancia, a fé parece ser uma forma de fugir à dureza da vida na aldeia. “Acreditar em Deus é amar a humanidade, amar todas as pessoas, sem limites”, descreve Rui Yi. “Porque amo Deus, não conheço o ódio”. Lusa
De acordo com os artigos 93.º e 94.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, foi realizada, no seguimento de notificação por edital publicado nos jornais em língua chinesa e em língua portuguesa de 13 de Setembro de 2016, a audiência escrita dos interessados, mas não foram carreados para o procedimento elementos ou argumentos de facto e de direito que pudessem conduzir à alteração do sentido da decisão de ordenar a demolição das paredes e vigas que restam, remoção da vegetação existente nas paredes e limpeza do local. Nos termos do n.º 1 do artigo 54.º do RGCU e por despacho de 04 de Maio de 2017, ordena-se aos interessados que procedam, no prazo de 30 dias contados a partir da data da publicação do presente edital, à demolição das paredes e vigas que restam, remoção da vegetação existente nas paredes, limpeza e vedação do local. Para o efeito, de acordo com as disposições do RGCU, os interessados deverão apresentar nestes Serviços o Pedido da Aprovação de Projecto (de Alteração) da Obra de Reparação / Conservação, no prazo de 10 dias contados a partir da data da publicação do presente edital. O impresso para apresentar o pedido encontra-se disponível na página electrónica da DSSOPT. Findo o prazo acima referido, caso os interessados não tenham dado cumprimento à respectiva ordem, esta Direcção de Serviços em conjunto com outros serviços públicos e com a colaboração do Corpo de Polícia de Segurança Pública, procederá à execução dos trabalhos acima referidos, sendo as despesas suportadas pelos infractores, nos termos dos n.os 1 e 2 do artigo 56.º do mesmo decreto-lei, para além disso, os interessados ficam ainda sujeitos a aplicação de multa prevista nos artigos 66.º e 67.º do RGCU. Na falta de pagamento voluntário da despesa, nos termos do n.º 3 do artigo 56.º do RGCU, proceder-se-á à cobrança coerciva da quantia em dívida pela Repartição das Execuções Fiscais da Direcção dos Serviços de Finanças. Nos termos do n.º 1 do artigo 59.º do RGCU e das competências delegadas pelos n.os 1 e 4 da Ordem Executiva n.º 113/2014, publicada no Boletim Oficial da RAEM, Número Extraordinário, I Série, de 20 de Dezembro de 2014, da decisão do presente edital cabe recurso hierárquico necessário para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, a interpor no prazo de 15 dias contados a partir da data da publicação do presente edital. RAEM,04 de Maio de 2017 Pelo Director dos Serviços O Subdirector Cheong Ion Man
BOEING UNIDADE DE MONTAGEM EM CONSTRUÇÃO
A empresa de aeronáutica norte-americana Boeing iniciou ontem a construção de uma unidade de montagem em Zoushan, no leste da China, destinada aos acabamentos do modelo 737, informaram as autoridades locais. Em comunicado, o Governo local confirmou o arranque das obras daquele centro de acabamentos, que planeia entregar os seus primeiros aviões em finais de 2018. As autoridades asseguraram que a nova unidade é um “marco” na cooperação entre Estados Unidos e China, no sector tecnológico, e frisaram que se trata de um importante impulso económico para a região. O vice-presidente da Boeing, Raymond Connor, que participou na cerimónia, disse tratar-se de “mais um passo em frente” na presença da empresa na China e uma importante colaboração entre os sectores de aviação de ambos os países. A unidade de montagem surge de um acordo entre a Boeing e a empresa estatal chinesa Commercial Aircraft Corp. (Comac, na sigla em inglês). Prevê-se que entregue entre oito e dez aviões por mês.
XINJIANG PELO MENOS OITO MORTOS EM SISMO
Pelo menos oito pessoas morreram e mais de 20 outras ficaram feridas na sequência de um sismo moderado que atingiu, na madrugada passada, a região autónoma de Xinjiang. O terramoto de magnitude 5,4 na escala de Richter ocorreu às 5:58, a uma profundidade de dez quilómetros, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), que monitoriza a actividade sísmica mundial. Segundo a agência oficial Xinhua, os trabalhos de busca e salvamento prosseguem no local que tem sido palco de réplicas. As autoridades locais indicaram que mais de 180 casas desabaram na sequência do sismo registado em Taxkorgan, uma remota zona montanhosa de Xinjiang. A região autónoma de Xinjiang, um território quase 18 vezes maior que Portugal, faz fronteira com sete países, entre os quais o Afeganistão, Paquistão e três ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central (Quirguistão, Tajiquistão e Cazaquistão). Esta região da China tem uma forte actividade sísmica, sendo atingida regularmente por tremores de terra.
13 hoje macau sexta-feira 12.5.2017
Muda de rumo
Pyongyang insta Seul a travar “confrontação” após eleição de Moon
A
Coreia do Norte instou ontem o novo governo da Coreia do Sul a acabar com as “políticas de confrontação”, incluindo os exercícios militares conjunPUB
tos anuais com os Estados Unidos. A mensagem foi transmitida num editorial do diário estatal Rodong Sinmun dirigido ao executivo do novo Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, que tomou posse na quarta-feira,
acabando com uma década de governos conservadores. “As duas Coreias devem respeitar-se mutuamente e abrir um novo capítulo para avançar para uma melhoria dos seus laços e a unificação inter-coreana”, indica o texto.
Para isso, o editorial considera que a Coreia do Sul deve acabar com os exercícios militares anuais com os Estados Unidos e proibir os activistas conservadores sul-coreanos de enviarem balões para o Norte com panfletos contra o regime. Pyongyang alega frequentemente que os exercícios conjuntos Seul-Washington são na realidade ensaios para invadir o seu território. “A Coreia do Norte e a Coreia do Sul deveriam procurar o diálogo e a negociação a diferentes níveis”, refere o editorial. A eleição de Moon ocorreu numa altura de particular tensão na península devido aos contínuos ensaios de armamento de Pyongyang e à retórica endurecida de Washington. No entanto, o novo chefe de Estado sul-coreano disse durante a campanha que procuraria uma maior aproximação ao Norte e sugeriu, após tomar posse, que, com as condições adequadas, poderia visitar Pyongyang para uma cimeira com Kim Jong-un.
REGIÃO
CAMBOJA PM AMEAÇA COM GUERRA SE PERDER ELEIÇÕES
O
primeiro-ministro cambojano, Hun Sen, ameaçou com uma guerra civil no país se o seu Partido do Povo do Camboja (PPC) perder o poder nas eleições previstas para o próximo ano, informou ontem a imprensa local. “O Partido do Povo do Camboja deve ganhar as eleições, todas as eleições (…) haverá uma guerra se o PPC deixar de controlar o país”, disse Hun Sen na quarta-feira numa cerimónia do Dia dos Veteranos na ilha Diamante, uma nova
zona de desenvolvimento urbanístico da capital, citado no diário Phnom Penh Post. Hun Sen assegurou que não pensa permitir situações como a vivida após as eleições gerais de 2013, quando a oposição recusou o resultado aprovado pela Comissão Eleitoral, bloqueou a formação do parlamento e organizou manifestações durante meses. Perante 3.000 veteranos e com um uniforme militar, o primeiro-ministro prometeu que, caso se repitam os protestos nas ruas, “as Forças Armadas dispersá-los-ão imediatamente” e “se começar uma guerra, assim seja”. O Camboja realiza eleições locais a 4 de Junho deste ano e gerais a 28 de Julho de 2018. Hun Sen, 63 anos, ocupa o cargo de primeiro-ministro desde 1985.
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
14
José Simões Morais
Pedro Alexandrino da Cunha
O trabalho em Angola
E
M 1834, após as batalhas de Almoster, em Fevereiro e de Asseiceira, em Maio, ainda nesse mês foi eleita uma Câmara Constitucional e logo uma semana depois, o monarca absolutista D. Miguel abdicou, tendo-se exilado em Itália. O Rei D. Pedro IV vencia o seu irmão e pela vitória liberal, a burguesia recupera o poder no Estado, quando se realizou em Junho eleições para formar as Cortes. Segundo refere Luís Filipe Torgal, “O sufrágio era masculino, indirecto e censitário: só os maiores de 25 anos ou de 21 anos, conforme o estado civil e o estatuto profissional, detentores de um rendimento anual líquido não inferior a cem mil réis, poderiam votar nas assembleias paroquiais. Os escolhidos nestas, possuidores de um rendimento a partir de duzentos mil réis, reuniam-se depois nas capitais de província e elegiam, por sua vez, os deputados.” D. Pedro IV reinou até Setembro de 1834, quando faleceu, subindo assim ao trono de Portugal a sua filha D. Maria II (1834-53). Pedro Alexandrino da Cunha, comandando a Corveta D. Isabel Maria saiu de Lisboa a 9 de Dezembro de 1836 e após se dirigir para as Ilhas de Cabo Verde, dali seguiu viagem para Pernambuco, estacionando na Baía com o fim de prestar auxílio aos súbditos portugueses aí residentes. “Algum tempo depois passou ao Rio de Janeiro para tomar mantimentos, e continuar na sua comissão para a Costa de África Ocidental, para onde seguiu viagem”, segundo o Boletim Oficial de 1851, cujo redactor era então Carlos José Caldeira. “Nas possessões portuguesas da África atlântica, a realidade evoluía de forma peculiar pois estava muito dependente do mercado brasileiro. O impulso que Sá da Bandeira imprimira aos negócios do ultramar a partir de 1835-1836 começava a ter os primeiros efeitos, sobretudo em Angola”, segundo Maria Manuela Lucas. “Abolido o monopólio do comércio do marfim, em 1834, e autorizada a colheita da urzela, ensaiam-se novas plantações, que incluem a cana e o café, com base no trabalho escravo”, como refere Maria Manuela Lucas, que complementa, “Desenvolvia-se agora o comércio dito <legítimo>, ao mesmo tempo que persistia a prática do tráfico
controlo financeiro estava centralizado principalmente nas mãos dos mercadores estabelecidos no Brasil. Eram eles que tratavam da exportação para Angola dos produtos europeus e asiáticos usados para comprar escravos, derivando o seu domínio de circunstâncias históricas, reforçado pela proximidade geográfica e pelos favoráveis ventos e correntes do Atlântico Sul”. Plantação em Angola, Século XIX
de escravos, ilegal desde 1836 e cada vez mais severamente ameaçado, não obstante a luta dos negreiros contra o poder central e contra os seus próprios concorrentes, que utilizavam localmente a referida mão-de-obra”.
DAS MUDANÇAS
Pedro Alexandrino da Cunha, que chegara a Angola entre finais de 1836, ou início de 1837, aí esteve em comissão durante perto de cinco anos. “As primeiras décadas do liberalismo português coincidiram, em Angola com um período de transição histórica, no fim do qual a maioria dos principais habitantes da colónia tinham sido forçados, finalmente, a abandonar o comércio de escravos para o Brasil e a entrar numa nova relação económica com Portugal, baseada na exportação de outros produtos. Esta mudança verificava-se principalmente através das pressões de interesses e acontecimentos internacionais, e só muito parcialmente através de esforços metropolitanos para racionalizar
“Os importantes serviços que então [Pedro Alexandrino] prestou em Angola, já na repressão do tráfico da escravatura, e já no miúdo exame, que foi fazer à Costa do Sul de Benguela, são bem notórios.” BOLETIM DO GOVERNO DA PROVÍNCIA DE MACAO, TIMOR, E SOLOR DE 1851
as relações coloniais com Angola a partir dos anos de 1820. As tentativas feitas por sucessivos governos nacionais entre 1820 e 1850, no sentido de acabar com o comércio de escravos e de aproximar a colónia de Angola à metrópole, criando uma dependência económica e política mais estreita, foram fortemente resistidas pelos vários grupos de interesses de que se compunha a sociedade colonial. A violência e os conflitos políticos que caracterizavam a história daquela colónia neste período derivavam, basicamente, de divergências socioeconómicas profundas entre Angola e Portugal, e de uma confrontação clássica entre grupos de interesse coloniais e metropolitanos”, segundo Jill R. Dias, em A Sociedade Colonial de Angola e o liberalismo português (c.1820-1850), que segue referindo, “O carácter e a estrutura da sociedade da colónia angolana nos anos de 1820 reflectiam o seu envolvimento de longa data com o comércio de escravos para a exportação. Desde o século XVII, o comércio externo de Angola tinha sido principalmente um comércio de escravos, canalizado quase exclusivamente para as plantações e minas do Brasil e das Américas. As exportações legais de escravos a partir de Luanda e Benguela para o Brasil tinham aumentado regularmente ao longo do século XVIII. Este fluxo de mão-de-obra de Angola e de outras partes da África colonial portuguesa formava a base produtiva de todo o sistema comercial luso-brasileiro e das suas relações com a Europa do Norte, das quais dependia a prosperidade de Portugal nos princípios de 1800. Contudo, os mercadores metropolitanos eram excluídos em grande parte da participação directa no comércio de escravos angolano nesta data. O
DO TRABALHO
Regressando ao Boletim do Governo da Província de Macao, Timor, e Solor de 1851, “Os importantes serviços que então [Pedro Alexandrino] prestou em Angola, já na repressão do tráfico da escravatura, e já no miúdo exame, que foi fazer à Costa do Sul de Benguela, são bem notórios, e se acham consignados, tanto nos seus Ofícios, dirigidos ao Ministério da Marina, como nas publicações que deles se fizeram nos Jornais Marítimos e Coloniais, e da Estatística das Possessões Ultramarinas, na parte que diz respeito a Moçâmedes, e que quase se pode dizer ele novamente descobriu, sendo causa da importância e impulso que hoje tem, e que por ventura virá a ter no futuro. Desta comissão de Angola, que durou perto de cinco anos, voltou ele ao Reino em 1841, sendo depois nomeado para Membro de diferentes Comissões. Eleito Deputado às Cortes pela Província de S. Tomé e Príncipe nelas tomou assento em 3 de Janeiro de 1843; mas sendo pedido à Câmara dos Deputados para uma nova comissão de serviço, saiu outra vez para Angola em 27 de Abril a bordo da Corveta Urunia que comandava. Chegando a Luanda, assumiu o comando de toda a Estação Naval, criando lá, (na Ilha chamada de Luanda) um pequeno Arsenal que no seu género podia servir de modelo a semelhantes estabelecimentos, e sem o qual não era possível manter a sobredita Estação. Durante este serviço foi promovido a Capitão-de-Fragata por Decreto de 14 de Fevereiro de 1844. Em 31 de Maio do seguinte ano passou a Governador-Geral da Província de Angola, (lugar do que tomou posse aos 6 de Setembro), sendo então promovido a Capitão-de-Mar-e-Guerra. Pouco depois Sua Majestade o honrou com o título do seu Conselho, e a comutação da Comenda da Ordem de Cristo para a de Aviz”.
15 hoje macau sexta-feira 12.5.2017
em modo de perguntar
Paulo José Miranda
Karadeniz
“Na minha actividade não há meio-termo” (continuação) E quem é que o quis matar à bomba? A CIA! Foi depois de um trabalho que fiz para eles. Depois quiseram acabar de vez com os rastos que poderiam levar até eles. Encomendaram-me um trabalho fazendo-se passar por uma corporação financeira da Suíça. Aliás, fizeram a encomenda precisamente através dessa corporação. O plano era simples: davam-me todos os dados e só tinham de esperar que eu cumprisse o contrato: que eu cumprisse ir morrer. E como é que o Boris Solomatin soube de tudo isso e o avisou? A KGB sabia sempre dos movimentos da CIA, e vice-versa. O que a CIA não estava à espera é que o chefe da KGB tivesse escrúpulos, que me avisasse, que tomasse partido pela minha vida. Pois não tenho dúvidas de que eles sabiam ter sido eu a destruir as informações e a eliminar o dissidente soviético em Burgas! Só poderia ter sido eu! Só poderia ter sido um profissional turco, que passasse a fronteira sem levantar suspeita. Mas eles não sabiam duas coisas: que esse trabalho tinha sido uma encomenda pessoal do Boris, e não da KGB, uma espécie de favor pessoal, e que por isso mesmo ele me respeitava. E não se fica de braços cruzados a ver morrer um homem que se respeita. O seu profissionalismo acabou por lhe salvar a vida… É a única coisa que nos pode salvar a vida, Paulo! Ser-se o mais profissional possível na actividade que se faz. Não é assim também na escrita? Não estou certo disso!... Embora se passe o tempo todo a dizer o contrário, o talento é fundamental na escrita. E julgas que para se viver de matar não é preciso igualmente talento? É sempre preciso talento para se ser profissional! E, quando digo que nos salva, digo-o porque é a única certeza que se tem na vida: sabemos fazer bem aquilo que fazemos, independentemente de tudo o resto. E como é que sabemos isso? Como é que sabemos que fazemos bem aquilo que fazemos, que fazemos bem a nossa actividade profissional?
“Aquilo que faz o teu sucesso, seria o meu fracasso, mas na minha actividade não há meio-termo, como parece existir na tua. Não há um homem meio-vivo ou meio-morto, por outro lado parece-me que é possível ser-se meio-escritor. Tornar-me conhecido era morrer. Mas um escritor pode não ser muito conhecido e ser um bom escritor.” Porque perguntamos sempre! Para além do talento que nos impele a fazer, a fazer continuamente melhor, há a contínua interrogação: será que não estou a cometer nenhum erro? Será que não seria melhor fazê-lo de outra maneira? Será que não devia parar? Enquanto continuares a exercer a tua actividade e a interrogares-te pela tua capacidade diante dela, poderás dizer que fazes bem aquilo que fazes. Mas essa interrogação pode muito bem ser uma interrogação retórica! Um mau assassino profissional pode ser assaltado pela pergunta: estarei a
fazer bem; não deveria fazer de outra maneira? Ele pode fazer estas perguntas e ser efectivamente mau profissional, por isso essa pergunta acaba por ser uma pergunta que cabe a todos quantos fazem e não a quem faz bem. Por outro lado, bastava saber-se disto para se ser bom, isto é, quem fosse mau bastava saber que a pergunta o salvava e passava a ser bom. Isto parece-me muito retórico, não concorda? Não sei, Paulo, porque nunca morri. E nunca cheguei a conhecer aqueles que tinham a mesma profissão que eu e morreram. Sempre tomei por certo que o sentido crítico apurado era um
efeito do talento. Mas talvez não seja assim. Talvez tu estejas certo e eu esteja errado. Certo, certo, é que não morri. E desejo o mesmo para ti. Desejo que não morras na escrita, como eu não morri na morte dos outros. Desejo, portanto, que sejas conhecido inversamente ao meu desconhecimento. Aquilo que faz o teu sucesso, seria o meu fracasso, como já sabes, mas na minha actividade não há meio-termo, como parece existir na tua. Não há um homem meio-vivo ou meio-morto, por outro lado parece-me que é possível ser-se meio-escritor. Tornar-me conhecido era morrer. Mas um escritor pode não ser muito conhecido e ser um bom escritor. Pode também ser muito conhecido e ser um bom escritor. E pode ser pouco conhecido e mau e muito conhecido e igualmente mau. O que pretendo dizer, Paulo, é que na minha actividade a verdade vem logo ao de cima; ou, melhor, a verdade nunca vem ao de cima, pois aquele que é bom nunca se deixa reconhecer.
16 (F)UTILIDADES TEMPO
MUITO
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?
NUBLADO
O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje
MIN
25
MAX
30
HUM
75-98%
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EURO
8.70
BAHT
EXPOSIÇÃO | “PINTURAS A ÓLEO” DE LUK TIN CHEE 18h30 | Clube Militar
Amanhã
CINEMA | “TRAINSPORTING”, DE DANNY BOYLE 17h30 | Cinemateca Paixão | Até 17/5 CINEMA | LUSOPHONE FILM FEST 19h | Casa Garden
O CARTOON STEPH DE
SUDOKU
Domingo
CONCERTO | JAZZ SUNDAY SESSIONS Live Music Association | A partir das 21h00 CINEMA | LUSOPHONE FILM FEST 19h | Casa Garden
Diariamente
EXPOSIÇÃO DE AGUARELAS DE CHU JIAN & HERMAN PEKEL Fundação Rui Cunha | Até 25/5 EXPOSIÇÃO “AMOR POR MACAU” DE LEE KUNG KIM Museu de Arte de Macau | Até 9/7 SOLUÇÃO DO PROBLEMA 34
EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)
Cineteatro
PROBLEMA 35
UM FILME HOJE
EXPOSIÇÃO “VIAGEM SEM TÍTULO” Museu de Arte de Macau | Até 14/5
C I N E M A
1.16
ANTECIPAÇÃO
CONCERTO | TETÉ ALHINHO, MORNAS AO PIANO Teatro D.Pedo V | 20h00 às 22h00
EXPOSIÇÃO “I AM 038: UMA EXPOSIÇÃO DE UM ARTISTA AUTISTA” Torre de Macau | Até 14/5
YUAN
AQUI HÁ GATO
CONCERTO | “UMA NOITE COM PIANO NA GALERIA” Fundação Rui Cunha | Das 18h00 às 21h00
EXPOSIÇÃO | “TENTATIVE NOTEBOOK - WORKS BY RUI RASQUINHO” Art for All Society, Jardim das Artes | 16h00
0.23
Aflição que faz os pés baterem ao ritmo fugidio, que imprime urgência aos olhos e os faz mover em esgares de desconfiança, reviram-se em suspeitas pouco determinadas. Algo está para acontecer, um parto solar que se adivinha, uma esperança de libertação no horizonte. Sente-se no peito um crescendo de expectativa que irá rebentar em êxtase catártico de “finalmente”. Está para vir, é iminente, inevitável, como uma onda que não consegue mais ficar suspensa e ameaça tombar sobre a superfície. Aguarda-se a força imparável que irá esbarrar na inércia da longa promessa. Vem aí, como tudo o que sobe e que, eventualmente, cai. Permanência é a maior mentira perpetuada por quem se recusa viver na realidade dominada pelas imutáveis leis da física. Vai acontecer, a inconstância é invencível, incontornável. Os gatos partilham esta característica muito humana. A da antecipação, não no sentido adivinhador, mas como algo que se prevê logicamente. Vivemos com a sábia espera da chegada que se antecipa. Não nos apanham desprevenidos, levantamos a cabeça, damos uma volta ao pescoço e auscultamos o que está para vir. Sempre com a elegância que caracteriza os felinos, sem os apertos de têmporas, nem as palpitações de jugulares dos ansiosos humanos. Antecipar e ansiar marcam a diferença, como o veludo se distingue da serapilheira. A ganância do futuro é coisa de bípedes. Nós, gatos, temos o charme do provir. Pu Yi
“DR. STRANGELOVE” STANLEY KUBRICK
Não há nada como um clássico e “Dr. Strangelove” é sempre um daqueles que merece ser revisto. O humor negro bem dissecado pelo realizador Stanley Kubrick que nos coloca, entre outros cenários, no quartel-general onde Jack D. Ripper mantém aprisionado o Capitão Mandrake, que tenta “arrancar” o código para deter o bombardeamento nuclear que visa acabar com os comunistas russos. Um filme que, entre a comédia e o drama, faz uma sátira negra da Guerra Fria. Sofia Margarida Mota
Alien: Covenant SALA 1
ALIEN: COVENANT [C] Fime de: Ridley Scott Com: Michael Fassbender, Katherine Waterston 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2
KING ARTHUR: LEGEND OF THE SWORD [C] Fime de: Guy Ritchie Com: Charlie Hunnam, Jude Law, Berges-Frisbey, Eric Bana 14.30, 16.45,19.15 21.30
SALA 3
29+1[B] Fime de: Kearen Pang Com: Chrissie Chau, Joyce Cheng, Ben Yeung, Babyjohn 14.30, 16.30, 21.30 SALA 3
GIFTED [B] Fime de: Marc Webb Com: Chris Evans, Octavia Spencer, Mckenna Grace 19.30
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OPINIÃO
contramão
ISABEL CASTRO
O sítio de Estado
PETE TRAVIS, VINTAGE POINT
isabelcorreiadecastro@gmail.com
A
forma. Compreendo, juro-vos que compreendo. Sei bem que por aqui as modas são outras, que a retórica é mais intrincada, que é preciso ler nas entrelinhas. Também não precisam de chamar à colação o protocolo. Tenho tempo suficiente disto para saber que é diferente, a pompa e a circunstância são maiores, os penteados e os fatos não correspondem necessariamente às tendências internacionais, e há as passadeiras vermelhas, as criancinhas com bandeiras, todas alinhadinhas, tão bem-comportadas, as salas com os cadeirões desconfortáveis e as mesas com as chávenas de chá, todos sentados em U, como se em U se discutisse alguma coisa de jeito. Compreendo. Bem sei dos batedores, dos polícias em cima de motos que são como vassouras de gente, os afasta-humanos que vêm aí pessoas importantes. Bem sei que é assim desde sempre, apesar de, a cada visita do Norte, parecer tudo mais apertado, mais controlado,
mais inflexível, talvez por mudanças a Sul que ainda ninguém nos explicou. De onde venho não há nada disto: a política é menos imperial. Jornalista novo na terra que tenha interesse em fazer a cobertura de um evento deste género perde a vontade aos primeiros cinco metros de reportagem, se não tiver desistido na longa espera e no rígido controlo de segurança a que é submetido, qual bandido de segunda categoria. As visitas de Pequim não são para o povo tocar, nem ver de perto: admiram-se à distância, máquinas fotográficas com objectivas caras para que os rostos não saiam desfocados, e lê-se o que se disse no comunicado distribuído. Não há cá perguntas, nem respostas, nem nada que saia do que está programado ao minuto, que um segundo de atraso pode significar um enfarte para o pessoal do protocolo. As fronteiras estão cada vez mais fechadas à chave e não me parece bem. Não os conheço de lado algum, mas sei que há entre eles deputados da região vizinha, eleitos de acordo com a Lei Básica da região vizinha, e não é simpático fazer com que políticos do mesmo país batam com o nariz na porta. Em dias de políticos lá de cima, antes a morte do que os activistas de fora, como se não houvesse remédio para semelhante enfermidade. A julgar
por todo o aparato, também os activistas da casa causam arrepios na espinha, calafrios e dores de cabeça, apesar de mal darmos por eles. O conteúdo. O presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional passou por cá e deixou umas ideias, quase todas elas ouvidas, vezes sem conta, por outros emissários de Pequim. O amor de Macau à pátria, a pátria que ama Macau e outros chavões do discurso político chinês que, trocando por miúdos, querem dizer muita coisa, como todos nós sabemos. Zhang Dejiang elogiou muito a terra, onde vive gente que sabe o que quer e não anda aí aos gritos, mas deu um ligeiro puxão de orelhas – sem magoar, com a suavidade que se impõe – em quem manda, ao dizer que é preciso dar um jeito nisto, fazer com que as coisas se adeqúem
O Norte concorda com alguns de nós, com aqueles que acham que deixar-andar-a-ver-se-passa nunca foi solução para coisa alguma
aos novos tempos que Macau vive. Em suma, o Norte concorda com alguns de nós, com aqueles que acham que deixar-andar-a-ver-se-passa nunca foi solução para coisa alguma. A ideia de que há gente que faz imenso dinheiro à boleia do desenvolvimento da terra não me faz particular confusão: o mundo é assim e não há solução para o que é inevitável, o mundo é assim desde sempre e só muda o negócio, ontem era o ópio e a prata e o ouro, hoje são as fichas e as terras e o imobiliário. Ontem também havia gente a viver mal e hoje o cenário repete-se, e essa é a parte da história que, em Macau, é difícil de engolir. Pela dimensão da terra, pelas condições que ainda há bem pouco tempo oferecia, pelo terreno quase virgem que era. Não fosse a gula em excesso, aquela que faz mal ao colesterol social, e teria sido tudo muito mais fácil. Duvido que a mensagem deixada por Zhang Dejiang surta algum efeito. Já foram deixados outros recados e nós, por cá, tudo bem. Por aqui vive gente que sabe o que quer e, enquanto os desejos da maioria supostamente pensante não forem além do carro novo e da casa, mais o telemóvel que acabou de ser lançado no mercado, quem se senta no poder estará silenciosamente tranquilo. O sítio de Estado já lá vai, durou três dias e, agora, é até à próxima.
18 OPINIÃO
hoje macau sexta-feira 12.5.2017
um grito no deserto
TERRY GILLIAM, TERRY JONES, MONTY PYTHON AND THE HOLY GRAIL
Visitas oficiais
E
NTRE 20 e 23 de Fevereiro de 2013, o então presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, Wu Bangguo, visitou Macau a convite do Chefe do Executivo, Chui Sai On. Pouco depois da visita, Wu foi substituído no cargo por Zhang Dejiang. Este ano, entre 8 e 10 de Maio, Zhang Dejiang esteve em Macau a título oficial, a convite do actual Chefe do Executivo da RAEM. Durante os três dias da visita, Zhang proferiu vários discursos. O termo do seu mandato como Presidente do Comité ocorrerá em Março do próximo ano, após a realização do Congresso Nacional do Povo. Entretanto, na segunda metade deste ano, realiza-se em Pequim o 19º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, onde serão escolhidos os futuros líderes do País. À parte Xi Jinping, é muito provável que se vão verificar muitas alterações na liderança da China, depois do 19º Congresso Nacional. A visita oficial de Zhang Dejiang, que já chefiava o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e de Macau, reveste-se de um significado particular. No fundo destina-se
a avaliar, no âmbito do trabalho daquele Gabinete, se a população de Macau integrou com sucesso o conceito de “Um País, Dois Sistemas”. O fracasso da reforma constitucional de Hong Kong, a eclosão do Movimento dos Chapéus de Chuva e as restantes perturbações que ocorreram durante a eleição do Chefe do Executivo, podem ser encarados como insucessos do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau. Mas no caso de Macau nunca existem problemas. No entanto isso não deve ser motivo de orgulho para a sua população. Quando este artigo for publicado, Zhang Dejiang já terá saído de Macau. No
Na antiga China, os Imperadores visitavam as cidades de forma incógnita para ficarem a conhecer a realidade das metrópoles e a forma como as pessoas pensavam. Mas nos dias de hoje, os dirigentes só fazem visitas a “cenários montados”
primeiro dia da visita, declarou que queria ter a possibilidade de “deslocar-se e ver mais coisas”. A julgar pelos preparativos do Governo da RAEM, Zhang satisfez sem dúvida o seu desejo. Mas o que é que viu e o que é que ficou a saber sobre a comunidade, é a questão que se levanta. Será que viu as realidades de Macau? A resposta é um rotundo “NÃO”! Para que a visita se realizasse sem problemas e fosse bem-sucedida, o Governo da RAEM manteve o itinerário confidencial e fechou muitas ruas. Podia deslocar-se a qualquer ponto da cidade sem problemas, ao abrigo dos esmerados preparativos do Governo, enquanto a população sofria as agruras dos engarrafamentos. Fica a dúvida sobre a quantidade de problemas de Macau que Zhang ficou a conhecer. Mas como não houve notícia de petições, protestos, ou apresentação de reivindicações, conclui-se que Macau é uma cidade harmoniosa. “Macau não pode ser caótica”, declarou Zhang na televisão, dirigindo-se a todos os sectores da cidade. O caos não acontece graças a um elevado grau de segurança e à filtragem de notícias promovida pelo Governo da RAEM. Durante a visita à Assembleia Legislativa, na manhã de dia 9 de Maio, uma Associação submeteu uma carta com uma petição, mas a 350 metros do edifício. A avaliar pelas imagens televisivas, Zhang foi recebido apenas pelo presidente e pelo Vice-presidente da Assembleia, os deputados não se vislumbravam. Sendo assim, que impressão pode ter recolhido de uma visita ao Parlamento que apenas durou uns escassos minutos? Relativamente à carta com a petição, não se sabe se alguma vez chegou a ser entregue a Zhang. Quando a população não tem acesso aos líderes, como é que os “conflitos”, para citar Zhang, podem ser abordados e remediados? Se compararmos as visitas oficiais dos políticos chineses com as vistas oficiais dos políticos estrangeiros, compreendemos que existe uma enorme diferença na forma de chegar ao povo. Já que Macau nunca foi uma cidade problemática e, além disso faz parte da China, não vale a pena desconfiar tanto da população. Os dirigentes deveriam pensar sobre este assunto. Quem se isolou durante a visita foi Zhang, não foi a população de Macau. Quando existe um abismo tão grande entre os diferentes estratos da sociedade, as contradições sociais que daí advêm têm necessariamente um grande impacto. Na antiga China, os Imperadores visitavam as cidades de forma incógnita para ficarem a conhecer a realidade das metrópoles e a forma como as pessoas pensavam. Mas nos dias de hoje, os dirigentes só fazem visitas a “cenários montados”. Os antigos Imperadores podiam mover-se à vontade, coisa que os líderes da actualidade são incapazes de fazer.
Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático
PAUL CHAN WAI CHI
19 hoje macau sexta-feira 12.5.2017
PERFIL
PEDRO BENJAMIM, LOCUTOR DE RÁDIO
F
OI um acaso que o levou ao curso de Jornalismo e ao mundo da rádio. E foi um acaso também que o trouxe a Macau. Pedro Benjamim chegou ao território há três meses, por estes dias garante a animação musical nas primeiras horas de emissão da Rádio Macau, logo bem cedo, mas não tem o perfil convencional de quem trabalha num estúdio, entre microfones, música e notícias, com a oralidade como única forma de comunicação. “Não tenho o bichinho da rádio, mas tenho o bichinho da fotografia”, diz, garantindo, no entanto, que gosta muito do que faz. Vamos ao início. Nasceu em Guimarães, a primeira cidade de todas as cidades portuguesas, há 25 anos. Aos 18 anos, mudou-se para Coimbra, para estudar na universidade, um acaso que tem origem noutro acaso. Quando acabou o ensino secundário, não sabia o que escolher como profissão. Entrar no mundo do trabalho tão cedo estava fora de questão, pelo que foram testes psicotécnicos que o ajudaram a escolher o caminho. “Fiz os testes e o resultado dava-me algo entre jornalismo e tradução.” Na altura de preencher a candidatura ao ensino superior, ocupou as primeiras opções com cursos de Jornalismo, com o Porto como destino preferido. A última opção foi um curso que, “curiosamente”, o teria trazido
O jornalista acidental à RAEM: Tradução Português-Chinês e Chinês-Português do Instituto Politécnico de Leiria, programa que inclui uma passagem de um ano pelo Politécnico de Macau. Não conseguiu entrar na faculdade no Porto, saiu-lhe a segunda hipótese: Coimbra. “Não tinha um gosto específico por escrever, não tinha gosto por contar histórias. Foi um acidente de percurso.” O outro acidente – ir parar à cidade dos estudantes – acabou por se revelar melhor do que se a vida tivesse corrido como planeado. “A cidade é mais fácil para um estudante porque está muito orientada para esse ambiente. O Porto tem uma realidade totalmente diferente”, constata, com base na experiência dos amigos que foram para faculdades na capital do Norte de Portugal. Terminada a licenciatura – que, pelo sistema de Bolonha, não demora mais de três anos a fazer – Pedro Benjamim chegou à conclusão, mais uma vez, de que ainda era cedo para arranjar um emprego. “O mestrado acontece da mesma forma como entrei em Jornalismo. Acabei a licenciatura e pensei que ainda não estava preparado para ir trabalhar, as ofertas também não eram muitas.” Além disso, o jovem licenciado não tinha feito sequer um estágio, uma vez que o curso de Coimbra só oferece essa oportunidade durante o mestrado.
Continuar a estudar era o caminho e, no fim do programa curricular, passou três meses na TSF. “Foi fantástico”, diz, sem hesitações. O primeiro contacto com o mundo do jornalismo não podia ter sido melhor, pela forma como, enquanto estagiário, foi recebido na rádio. “Os estagiários curriculares são, em quase todos os locais, usados como mão-de-obra barata.” Na TSF, Benjamim conheceu “uma realidade completamente diferente”. Ao contrário de estagiários de outros locais, não passou os dias a “encher tempo nos noticiários”. “Fazia peças, gravava-as, e no final do dia a equipa juntava-se, ouvíamos e discutíamos o trabalho, era feito de uma forma mais pedagógica.” Deste “acompanhamento mais próximo” resultou uma grande aprendizagem. “Quando conseguimos colocar alguma coisa no ar, sabemos que foi feito com mérito”, nota. Da experiência da TSF não esquece um nome: João Paulo Baltazar. “Foi muito bom trabalhar com ele.”
VENHA MACAU
Estágio no fim, Pedro Benjamim passou por vários empregos. “Trabalhar, para mim, nunca foi um problema”, assegura. Apesar de estar numa rádio quando lhe surgiu a proposta para Macau, confessa que não se trata de uma paixão. “Também não tenho um gosto especial por rádio. Detesto imprensa,
não gosto de escrever. Gosto muito de fotojornalismo, de multimédia, de sites, de vídeo. A rádio surgiu naturalmente.” Com o estágio aprendeu a admirar a linguagem radiofónica, que “permite fazer coisas que outros meios não permitem”, como “criar uma sugestão em alguém só com uma pequena palavra”. E Macau? Macau são três meses na vida do jovem que, até há bem pouco tempo, era editor numa rádio no Norte de Portugal quando a oportunidade surgiu. “Não estava à procura de nada. Estava a trabalhar, recebi uma chamada, estava naquela altura em que via que o meu percurso não ia sair dali. Estava a pensar em começar a ver outras oportunidades quando surgiu uma chamada, completamente inesperada”, relata. “Disseram-me que estavam à procura de uma pessoa para vir para a rádio em Macau e eu disse: ‘Impecável. Vamos a isso’.Acabei por vir para Macau de forma totalmente inesperada.” A adaptação também não podia estar a correr melhor. “Fazendo o que se gosta, é sempre mais fácil. Se fosse um emigrante a trabalhar numa área de que não gostasse, custaria muito mais.” Sofia Mota e Isabel Castro info@hojemacau.com.mo
EPA
“
vêm do nada/habitação no verão/como uma caravana silenciosa/pernoitam na repugnância ancestral/que me permito votar-lhes” Rui Cascais Parada
ELEIÇÕES JORGE VALENTE NA LISTA DE MELINDA CHAN
O presidente da Associação dos Jovens Macaenses, Jorge Valente, vai integrar a lista eleitoral de Melinda Chan, noticiou ontem a Rádio Macau. A informação foi avançada pela deputada, que justifica a escolha com as ligações de longa data à comunidade macaense e portuguesa do território. “Decidimos isto porque queremos uma equipa com chineses e portugueses para as eleições deste ano”, explicou. “Na verdade, posso dizer que tal já acontece desde 1996, quando David Chow chegou à Assembleia. Ele também contava com portugueses [Jorge Fão]. Portanto, neste caso estou apenas a dar continuidade à nossa relação com portugueses.” Para já não está decidida a posição que Jorge Valente vai ocupar na lista. As eleições realizam-se a 17 de Setembro. PUB
Acertar agulhas
Moon Jae-in
Seul e Tóquio concordam em cooperar de perto sobre Pyongyang
O
novo Presidente da Coreia do Sul e o primeiro-ministro japonês concordaram ontem, num primeiro contacto telefónico, em cooperar de perto para lidarem em conjunto com a Coreia do Norte, cujo programa de mísseis ameaça os dois países. Fontes oficiais japonesas descreveram o primeiro telefonema entre o novo Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e
o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, como “positivo e cheio de significado”, com os dois a concordarem em cooperar estreitamente para lidar com Pyongyang. Os dois líderes falaram durante 25 minutos, tendo concordado em encontrar-se o mais rapidamente possível para aprofundar as conversações. Já o gabinete de Moon informou que, ao longo do telefonema, o Presidente sul-coreano transmitiu a
Shinzo Abe que ambos não devem deixar que o historial de conflitos entre os dois países fragilize a cooperação, especialmente no que toca a lidar com a Coreia do Norte.
MATÉRIA DELICADA
No mesmo telefonema, os dois líderes abordaram o controverso tema do acordo de 2015 sobre a compensação a pagar a mulheres sul-coreanas, forçadas a serem escravas sexuais de militares japoneses
durante a II Guerra Mundial. O gabinete de Moon disse que este transmitiu a Abe que o acordo era “emocionalmente difícil” de aceitar por parte do grande público sul-coreano. O acordo entre os dois países, muito impopular na Coreia do Sul, implica pagamentos monetários às vítimas destes crimes. A Coreia do Sul, por seu lado, comprometeu-se a resolver o problema, motivo de queixa do Japão, da instalação de uma estátua de uma mulher - a representar as vítimas de abusos - em frente à embaixada japonesa em Seul. As fontes oficiais japonesas escusaram-se a confirmar que o Presidente sul-coreano tenha dito a Abe que a sociedade sul-coreana tem dificuldade em aceitar o acordo de 2015. Segundo as mesmas fontes, Abe disse a Moon que o acordo tem de ser “gerido adequadamente”, sem entrar em mais pormenores. Os dois lados, sublinhou, têm a responsabilidade de respeitar o acordo, um tratado diplomático reconhecido internacionalmente.
sexta-feira 12.5.2017
IC INSCRIÇÕES PARA APOIOS A CANÇÕES ORIGINAIS
Abrem hoje as inscrições para o “Programa de Subsídios à Produção de Álbuns de Canções Originais 2017”. A iniciativa, promovida pelo Instituto Cultural, (IC) prevê um montante máximo de apoio para cada álbum seleccionado de 220.000 patacas , sendo que o número máximo de beneficiados é de oito. Integrado na série de programas de subsídios para as indústrias culturais e criativas de Macau, o Programa de Subsídios à Produção de Álbuns de Canções Originais foi lançado em 2014 com o objectivo de incentivar os músicos locais na criação e produção própria. As candidaturas estão abertas a todos os residentes maiores de 18 anos.