˜ DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
TAIWAN
METRO LIGEIRO
CRIME
RAIMUNDO EXPLICA
Lições de Hong Kong GRANDE PLANO
GETTY IMAGES/ STR
MOP$10
SEGUNDA-FEIRA 13 DE JANEIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4447
Lai si por subsídio
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hojemacau
Visita de estudo No dia em que foi anunciada a primeira vítima mortal da pneumonia de Wuhan, o Governo de Macau revelou o envio de uma equipa de peritos à região onde surgiu o foco do coronavirus. Entre hoje e amanhã, a delegação de Macau irá inteirar-se da situação de diagnóstico, tratamento de pacientes, prevenção e controlo da doença. PÁGINA 9
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O CAVALO DE SOMBRAS PAULO MAIA E CARMO
A SECRETA VIA DAS ÁRVORES ANABELA CANAS
2 grande plano
13.1.2020 segunda-feira
A
C h i n a reiterou este sábado a sua oposição à declaração de Estado soberano por Taiwan, apesar da esmagadora vitória eleitoral da actual presidente, a independente Tsai Ing-wen. “Nós opomo-nos veementemente a qualquer forma de ‘independência de Taiwan’”, disse Ma Xiaoguang, porta-voz do gabinete de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado da China, num breve comunicado divulgado pela imprensa estatal. A posição chinesa não mudou apesar da histórica vitória de Tsai, e Ma lembrou que continuarão a procurar a “reunificação pacífica” daquela ilha com a China continental, através do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’. O porta-voz do governo chinês relembrou que a China aderiu ao chamado “princípio de uma China Única”, num acordo alcançado em 1992, que estabelece que existe apenas um país chamado China e que Pequim e Taipei reivindicam a soberania de todo o território, incluindo a ilha de Taiwan e a China continental. Após o fim da guerra e o estabelecimento da China comunista, em 1949, o líder da República da China derrotado, Chiang Kai-shek, e as suas tropas exilaram-se na ilha de Taiwan, onde continuaram com seu regime, e nos anos 90 começaram a realizar eleições democráticas. No entanto, Pequim ainda considera a ilha uma província rebelde. Ma disse que a China está “disposta a trabalhar” com os “compatriotas de Taiwan para promover o desenvolvimento pacífico das relações” entre ambas as partes do Estreito da Formosa, embora tenha repetido imediatamente a ideia de “reunificação pacífica da pátria mãe, de acordo com o consenso atingido em 1992”, negando a possibilidade de um Taiwan independente. A actual presidente de Taiwan declarou-se vencedora das eleições realizadas no sábado, ao receber mais de 8,1 milhões de votos (57,1 por cento do total), enquanto o seu principal rival, Han Kuo-yu, do partido Kuomintang (KMT), obteve 5,5 milhões de votos, 38,6 por cento. Com 23 milhões de habitantes, Taiwan levou
TAIWAN
O POVO FALOU VITÓRIA DE TSAI ING-WEN FAZ CHINA CLAMAR CONTRA INDEPENDÊNCIA
A enorme participação eleitoral e vitória da candidata do Partido Democrata Progressista, Tsai Ing-wen, nas presidenciais de Taiwan deste sábado levaram a China a reiterar que se opõe a “qualquer forma de independência” da Ilha Formosa. EUA felicitam vitória e União Europeia destaca significativa ida às urnas
grande plano 3
segunda-feira 13.1.20
Tsai Ing-wen reuniu com o chefe da embaixada norte-americana em Taipei, Brent Christensen, tendo referido que, “mais uma vez, a população de Taiwan usou o voto que tinha nas suas mãos para mostrar ao mundo o valor da democracia
O KMT perdeu a vantagem que as sondagens lhe deram há menos de um ano, devido à repressão dos protestos em Hong Kong e à posição do presidente chinês Xi Jinping, que não excluiu o uso da força para alcançar a aguardada reunificação de Taiwan com a China às urnas 19 milhões de eleitores, tendo sido registada uma participação de 74 por cento, ou seja, 8,6 milhões de pessoas, número inédito na história eleitoral de Taiwan. Apesar da vitória nas presidenciais, o DPP perdeu sete assentos no parlamento, de acordo com a agência Bloomberg, enquanto que o KMT ganhou três lugares. O presidente da câmara municipal de Taipei, Ko Wen-je, do partido People First Party, estreou-se no hemiciclo com 1,5 milhões obtidos contra os 4,8 milhões de votos do DPP e 4,7 milhões do KMT. Desde 2012 que as eleições legislativas acontecem ao mesmo tempo que as presidenciais. Uma emenda à Constituição, levada a cabo em 2005, permitiu que o partido que controla o
Executivo também controle o parlamento.
PARABÉNS AMERICANOS
Por sua vez, os EUA felicitaram, também no sábado, Tsai Ing-wen pela reeleição
para um segundo mandato presidencial em Taiwan, com a União Europeia (UE) a destacar, por sua vez, a alta participação no escrutínio e a encorajar um “diálogo construtivo” com Pequim.
ACTIVISTA DETIDA
A
s autoridades de Hong Kong detiveram uma activista do partido pró-democracia Demosisto que procurava viajar para Taiwan na quinta-feira para acompanhar as presidenciais de sábado na ilha, indicou o partido. Lily Wong, de 26 anos, foi detida - e depois libertada sob fiança - pelo assalto ao Conselho Legislativo a 1 de Julho e é acusada de “conspiração para cometer danos criminais”, explicou o partido Demosisto numa publicação na rede social
Facebook. O secretário-geral do movimento, Joshua Wong, disse à agência de notícias Efe que a activista estava a ir para Taiwan para participar nas eleições como observadora internacional. Segundo o Demosisto, Lily Wong não sabia que a polícia de Hong Kong a havia incluído numa lista de pessoas procuradas. «Pedimos a todas as pessoas envolvidas que tomem cuidado com detenções inesperadas nos postos de controlo de imigração», acrescentou o grupo.
“Os Estados Unidos (EUA) felicitam Tsai Ing-wen pela sua reeleição no escrutínio presidencial em Taiwan”, escreveu o chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, num comunicado citado pelas agências internacionais. “Sob a sua liderança, esperamos que Taiwan continue a servir como um brilhante exemplo para os países que lutam pela democracia”, referiu o secretário de Estado norte-americano. Também em reacção às presidenciais em Taiwan, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, felicitou o povo daquele território pela “alta participação” registada no escrutínio. “Os nossos respectivos sistemas de governança estão fundados num compromisso partilhado com a democracia, o Estado de Direito e os direitos humanos”, referiu uma porta-voz do Alto Representante da UE para a Política Externa, num comunicado. A mesma nota frisou que a UE acompanha atentamente o desenvolvimento da relação entre Taiwan e a China, lembrando que o bloco comunitário “tem incentivado um diálogo e um compromisso construtivo”.
RELAÇÃO DETERIORADA
As eleições presidenciais deste sábado, que serviram também para eleger o parlamento da Formosa, foram marcadas pela deterioração das relações entre Taipei e Pequim, desde que Tsai assumiu o cargo, em 2016. Han, candidato do KMT, foi apresentado como uma alternativa para melhorar as relações com a China. No entanto, o KMT perdeu a vantagem que as sondagens lhe deram há menos de um ano, devido à repressão dos protestos em Hong Kong e à posição do presidente chinês Xi Jinping, que não excluiu o uso da força para alcançar a aguardada reunificação de Taiwan com a China. No seu discurso, depois da vitória nas eleições, Tsai disse que espera que Pequim possa “interpretar o sinal” dado pelos resultados eleitorais, o que, defendeu, mostra que os taiwaneses não aceitam as “ameaças” da China. “Taiwan mostrou ao mundo o quanto amamos o nosso modo de vida livre e democrático, bem como a nossa nação”, afirmou Tsai
MACAU PRÓ-DEMOCRATAS ELOGIAM VITÓRIA DE TSAI
A
vitória expressiva de Tsai Ing-wen nas presidenciais de Taiwan gerou reacções dos deputados do campo pró-democracia de Macau. Na sua página oficial de Facebook, o deputado Sulu Sou escreveu “obrigada Taiwan por seres, mais uma vez, um exemplo”. “Vitórias e derrotas são normais numa eleição directa com sufrágio universal. O que é importante de facto é que a razão ultrapassou o ódio e a intimidação, para que as pessoas possam continuar a viver sem medo”, acrescentou o deputado à Assembleia Legislativa (AL) da RAEM. Sulu Sou adiantou também que espera “que Ing-wen, em declarações à comunicação social, anunciando a sua vitória nas eleições presidenciais hoje realizadas. Segundo a agência Reuters, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) emitiu um comunicado onde também reitera que “independentemente das mudanças que ocorram internamente em Taiwan, o facto base é que há apenas uma China no mundo e que Taiwan é parte da China, e isso não irá mudar”, disse o MNE.
Apesar da vitória nas presidenciais, o DPP perdeu sete assentos no parlamento, enquanto que o KMT ganhou três lugares Ontem, Tsai Ing-wen reuniu com o chefe da embaixada norte-americana em Taipei, Brent Christensen, tendo referido que, “mais uma vez, a população de Taiwan usou o voto que tinha nas suas mãos para mostrar ao mundo o valor da democracia. A democracia e
mais pessoas possam desfrutar da semente da democracia e realizar o seu sonho ao tomar a sua decisão”. “Esperamos ainda que, um dia, as pessoas de todo o mundo possam vir a Macau observar as nossas verdadeiras eleições com sufrágio universal”, frisou. Também Au Nam San, deputado à AL, congratulou Tsai Ing-wen “pela sua bem-sucedida reeleição”. “Que a paz democrática seja mais estável e que evolua de forma mais rápida. Que se quebre o destino da população chinesa de não desfrutar de direitos democráticos”, apontou, também na sua página de Facebook. a liberdade são importantes activos em Taiwan e a fundação de uma longa parceria entre Taiwan e os EUA”, disse a presidente reeleita. Além das relações tensas com a China, Taiwan tem perdido vários aliados nos últimos anos a favor da China, estando a ilha cada vez mais isolada diplomaticamente, mantendo apenas 15 países aliados. Estas eleições ficaram também marcadas pelos protestos em Hong Kong e pela maior aproximação com Washington. Tsai Ing-wen rejeitou o chamado “princípio de uma só China”, mediante o qual só existe uma China, abarcando a ilha e o continente, o que levou Pequim e Taipé a reclamar a totalidade do território. “As relações eram pacíficas até que Tsai chegou ao poder. Se voltar a ganhar, vai continuar uma espécie de ‘paz fria’ ou de ‘confrontação fria’”, afirmou o director do Centro de Estudos de Taiwan da Universidade Jiao Tong em Xangai, Lin Gang. Em resposta, Pequim ofereceu medidas para multiplicar os vínculos económicos e culturais, insistindo, ao mesmo tempo, na reunificação. No ano passado, o Presidente chinês, Xi Jinping, insistiu na possibilidade de uso de força e lembrou que não será tolerada “qualquer acção para dividir o país”.
4 política
13.1.2020 segunda-feira
METRO ROSÁRIO PROMETE CONSULTA PÚBLICA SOBRE LINHA ESTE
A passo e passo GCS
O secretário para os Transportes e Obras Públicas revelou que já há um primeiro esboço para o traçado que deve ter entre sete e oito paragens. Porém, as autoridades só vão revelar pormenores com o documento de consulta
A
consulta pública sobre o traçado da Linha Este do Metro Ligeiro, que faz a ligação entre o Pac On e as Portas do Cerco através da ZonaAdos NovosAterros, vai arrancar na primeira metade deste ano. A promessa foi deixada pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, na sexta-feira, em declarações aos jornalistas, citadas pelo canal chinês da Rádio Macau. Segundo Raimundo do Rosário, a consulta pública vai ser lançada durante os primeiros seis meses do ano e as autoridades já definiram um esboço da ligação, que vai ter entre sete e oito estações. Porém, o governante explicou que os detalhes mais aprofundados só serão conhecidos quando for lançada a consulta, também numa altura em que o conceito do Executivo vai estar mais aprofundado. Ainda de acordo com as declarações, a ligação entre a Linha da Taipa e a Estação Intermodal da Barra vai estar concluído num espaço de dois a três anos, ou seja, entre 2022 e 2023. As autoridades pretendem fazer da Barra um centro de ligação para os turistas que querem ir das Portas do Cerco para o Cotai de forma mais eficaz. Assim, podem apanhar os autocarros para a Barra e a partir
Segundo Raimundo do Rosário, a consulta pública vai ser lançada durante os primeiros seis meses do ano e as autoridades já definiram um esboço da ligação O Metro Ligeiro de Macau foi aberto ao público a 10 de Dezembro do ano passado e teve um custo de 10,2 mil milhões de patacas. A única grande obra inaugurada por Chui Sai On como Chefe do Executivo ficou marcada por atrasos e derrapagens no orçamento. João Santos Filipe
joaof@hojemacau.com.mo
MNE COMISSÁRIA APONTA PAPEL DE IMPRENSA EM PORTUGUÊS
A
comissária dos Negócios Estrangeiros em Macau, Shen Beili, espera que a imprensa em língua portuguesa e inglesa assumam um papel crucial para “dar a conhecer melhor” Macau ao exterior. As declarações foram prestadas ao Canal Macau, na sexta-feira, à margem da recepção do Ano Lunar do Ministério dos Negócios Estrangeiros. “A imprensa em língua portuguesa e inglesa tem um papel crucial para dar a conhecer melhor Macau ao mundo exterior, assim como a
visitantes e residentes estrangeiros em Macau”, afirmou. “Uma vez que Macau é uma cidade pequena, é menos conhecida pelo mundo exterior e esperamos que os médias portugueses e ingleses façam um melhor trabalho para que as outras pessoas de fora conheçam melhor esta cidade.
de aí entrar no Metro Ligeiro em direcção ao destino desejado, o que poderá a ajudar a alivia o número de passageiros dos autocarros. Na sexta-feira, Raimundo Rosário abordou igualmente os primeiros tempos de operação do Metro Ligeiro e as avarias registadas desde a inauguração. Segundo o secretário, no primeiro mês de operações o objectivo tem passado por melhorar o sistema e resolver todos os problemas encontrados. Rosário explicou também que o transporte ainda está em fase de ajuste para poder corresponder às expectativas e exigências dos cidadãos. O secretário foi ainda questionado sobre o facto de o bilhete do Metro Ligeiro aumentar de acordo com as distâncias percorridas e sobre a possibilidade de passar a haver uma tarifa única, tanto para quem percorra uma estação como para que anda quatro ou cinco. O secretário macaense justificou que o custo da infra-estrutura foi relativamente alto e que o preço varia “de forma moderada” segundo a distância percorrida pelos utilizadores. Contudo, admitiu que a situação vai ser analisada e que caso se justifique até pode haver alterações, mas, por agora, não estão previstas.
Macau está a esforçar-se muito para ser um centro mundial de turismo e lazer”, acrescentou. Na mesma ocasião, Shen Beili acusou a Comissão Executiva do Congresso dos EUA – que apontou a falta de passos na RAEM em 2019 na direcção do sufrágio universal para a escolha do Chefe do Executivo – de ter uma visão distorcida. A comissária dos Negócios Estrangeiros em Macau pediu ainda à imprensa internacional uma melhor análise à realidade local.
“Rejeitamos alguns dos comentários do relatório sobre Macau porque deram uma visão muito distorcida do desenvolvimento de Macau e não tiveram em conta todos os feitos alcançados nos anteriores, assim como os desenvolvimentos recentes”, disse sobre o relatório emanado do Congresso norte-americano. “Esperamos que os média de fora tenham um entendimento mais compreensivo da situação aqui e que sejam mais objectivos e mais equilibradas nas abordagens da cidade”, desejou.
SAFP Mais de 311 mil eleitores válidos
A Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) anunciou ontem que até finais de 2019 estavam recenseadas em Macau 311.153 pessoas singulares e 803 pessoas colectivas. Segundo uma nota oficial emitida pelos SAFP, do total de pessoas singulares recenseadas, registaram-se 2.302 novos pedidos de inscrição e 1.549 inscrições canceladas, “por motivo de falecimento, sentença judicial ou doença do foro psicológico”. Em comparação com o número de inscritos registados até finais de 2018 (310.400), registou-se um acréscimo de 753 pessoas singulares. Já quanto ao recenseamento de pessoas colectivas, deram entrada no último ano 29 novas inscrições, não havendo inscrições suspensas ou canceladas, pelo que existe um total de 803 inscrições válidas. No início de 2019 existiam 774 inscrições válidas de pessoas colectivas. Os cadernos de recenseamento eleitoral estarão expostos de 13 a 22 de Janeiro no Edifício Administração Pública, na Rua do Campo.
política 5
segunda-feira 13.1.2020
VIDEOVIGILÂNCIA SULU SOU PEDE SUSPENSÃO DE “EXPERIÊNCIA ILEGAL”
O irmão que tudo vê
Comparando o nível de concentração de câmaras de videovigilância prevista pelo Governo, com o termo Big Brother introduzido na obra de George Orwell “1984”, Sulu Sou volta a pedir a suspensão da tecnologia de reconhecimento facial enquanto não forem definidos mecanismos eficazes de fiscalização
O
deputado Sulu Sou enviou uma interpelação oral a questionar o Governo sobre a legitimidade da aplicação da tecnologia de reconhecimento facial em modo “background” em 100 câmaras de videovigilância, a título experimental, no primeiro trimestre de 2020. Recordando que em Março de 2019, naquilo que considerou ser uma “total falta de transparência, consulta pública e fiscalização”, os Serviços de Polícia Unitários adiantaram que iriam testar a tecnologia de reconhecimento facial no início
deste ano, Sulu Sou acusa o Governo de ter divulgado os detalhes do sistema a “conta-gotas” e de forma pouco clara, colocando em perigo o direito à privacidade da população. Em causa está o facto de estar estipulado que o modo background obriga os agentes da Polícia Judiciária (PJ) a consultar os dados com credenciais
individuais e numa sala específica sem ter, no entanto, de respeitar os dispostos presentes no “Regime Jurídico de Videovigilância em espaços públicos”. “As autoridades sofismaram que como o modo backgound não faz parte da videovigilância, não precisa de seguir a Lei da videovigilância, isto é, o
“A concentração [de câmaras] é tão grande que a sociedade de Macau está a caminhar para a plena vigilância por parte do Governo, tal como se descreve na sátira ‘1984’ .” SULU SOU DEPUTADO
reconhecimento facial não se sujeita à audição a priori do parecer do [Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais] GPDP e à divulgação dos locais de instalação, nem à destruição automática dos dados pessoais a posteriori”, apontou Sulu Sou. “Com tanta falta de protecção legal e de mecanismos de fiscalização, o direito à privacidade da população é posto em perigo, e são inimagináveis as consequências do abuso e fuga de dados pessoais”, acrescentou. Na interpelação enviada, Sulu Sou questiona, dadas as implicações para o direito à privacidade e reserva de
intimidade privada, o direito à imagem, à palavra e à liberdade de circulação, se o Governo vai suspender “o quanto antes a experiência ilegal do reconhecimento ilegal do reconhecimento facial na videovigilância”. O deputado pede ainda ao Executivo que forneça explicações pormenorizadas sobre a execução do projecto como “o fluxograma da recolha de dados pessoais” ou “as características técnicas dos dispositivos” e sugere em jeito de pergunta, que o Governo abandone a criação de uma base de dados de grande dimensão para responder às “preocupações (…) da sociedade”.
DEBAIXO DE OLHO
Estimando-se de acordo com o plano do Governo que até 2028 estejam instaladas 4200 câmaras de vigilância em espaços públicos, Sulu Sou compara mesmo o nível de concentração deste tipo de equipamentos com a sociedade do Big Brother, plenamente vigiada e profetizada por George Orwell, de forma satírica, nas páginas de “1984”. “A concentração é tão grande que a sociedade de Macau está a caminhar para a plena vigilância por parte do Governo, tal como se descreve na sátira ‘1984’ ”, sublinhou o deputado. Além disso, a execução deste sistema de permanente monitorização implica, segundo Sulu Sou, “trabalhos ocultos”, sobretudo pela forma como as autoridades de segurança recorrem constantemente aos argumentos da “segurança pública” e da “confidencialidade policial”, como pretexto para recusar a divulgação de pormenores.
VIGILÂNCIA NO HORIZONTE
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rojectado pelo Governo para ser implementado em seis fases, o sistema dispõe actualmente de 820 câmaras correspondentes às três primeiras fases e prevê que a conclusão da quarta aconteça no primeiro trimestre deste ano, altura em que deverão já estar em funcionamento um total de 1620 câmaras. A fase seguinte, de aplicação a curto prazo, contempla a instalação de 2600 câmaras até 2023 e tem como objectivo “reforçar a vigilância de locais de grande concentração de pessoas, designadamente instalações de ensino, estações de autocarro e táxis”. Cinco anos depois, até ao final da 6ª fase em 2028, o número de câmaras vai aumentar para 4200.
Por isso mesmo, o deputado faz ainda um apelo ao Governo para que crie um mecanismo de fiscalização “eficaz e independente” que permita assegurar que o direito à privacidade é protegido e que os cidadãos “fiquem facilmente a saber se os seus direitos estão a ser afectados, para poder recorrer, atempadamente, aos meios jurídicos para a respectiva resolução”. Pedro Arede
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Administração André Cheong é o novo porta-voz do Conselho Executivo André Cheong, o secretário para a Administração e Justiça irá acumular o cargo, com o de porta-voz do Conselho Executivo, foi anunciado na passada sexta-feira em Boletim Oficial. A nomeação de André Cheong fica marcada pelo facto de ser a primeira vez que um membro do Governo é escolhido para o cargo que, desde 1999, tem vindo a ser desempenhado por representantes de associações tradicionais, como foi o caso dos seus antecessores, Tong Chi Kin (1999-2009) e Leong Heng Teng
(2009-2019). “Incumbe (…) ao Porta-voz do Conselho Executivo publicitar, junto da comunidade, os assuntos a divulgar, através de conferências, notas de imprensa e outros meios”, pode ler-se no Regulamento Administrativo da RAEM. A primeira conferência de imprensa liderada por André Cheong está agendada para hoje e irá abordar as normas fundamentais para a aplicação do Direito da RAEM na Zona do Posto Fronteiriço da Parte de Macau do Posto Fronteiriço de Hengqin e nas suas zonas contíguas.
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segunda-feira 13.1.2020
A
Polícia Judiciária (PJ) deteve a directora de um centro educativo na Areia Preta por suspeitas de ter montado um esquema que lhe permitiu receber 869 mil patacas, através do recebimento ilegal de subsídios do programa de educação contínua. O caso foi revelado pelas autoridades na sexta-feira e de acordo com o canal chinês da Rádio Macau a mulher terá confessado a prática do crime. De acordo com a informação revelada pela PJ, a suspeita terá convencido várias pessoas com mais de 60 anos a inscreverem-se nas aulas disponibilizadas pelo centro. O objectivo da directora, de 51 anos, não era que as pessoas de idade fossem às aulas, mas antes que o centro pudesse receber os subsídios disponíveis no âmbito do programa. De acordo com a versão das autoridades, o centro educativo oferecia pelas inscrições fictícias presentes e lai sis, os tradicionais envelopes vermelhos com dinheiro. A investigação começou em Maio do ano passado, após a Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) ter verificado que todos os 16 cursos disponibilizados tinham esgotado as vagas. Por esse motivo, houve uma inspecção ao local para verifica a veracidade da informação.
CRIME CENTRO PAGOU A IDOSOS POR INSCRIÇÕES FALSAS PARA OBTER SUBSÍDIOS
Contudo, quando os representantes da DSEJ se dirigiram ao centro verificaram que o número de alunos a frequentar as aulas era muito inferior aos declarados para o fim do subsídio. Além disso, havia aulas com presenças fantasmas em que o número de alunos a assistir não ultrapassava os quatro ou cinco.
Matrículas da tanga
A directora de um centro educativo convenceu, com presentes e lai sis, vários idosos a inscreverem-se ficticiamente nas aulas para poder obter subsídios do programa de educação contínua. A PJ suspeita que a instituição terá lucrado em 869 mil patacas com o esquema
CERCA 370 ALUNOS ENVOLVIDOS
No total, a polícia suspeita de irregularidades em 16 cursos com 370 alunos, que terão resultado em subsídios indevidos no valor de 869 mil patacas. Os cursos focavam áreas principalmente relacionadas com a saúde. “Há provas claras que as assinaturas nas folhas de presença não eram dos estudantes. Também descobrimos que o centro educativo subornava com presentes e lai sis as pessoas, para fazer com que se inscrevessem nos cursos”, afirmou Lai Man Vai, porta-voz da PJ, na sexta-feira, citado pelo Canal Macau. “Com os subornos, o centro educativo podia receber os subsídios do Governo”, foi acrescentado. A directora de 51 anos foi detida e reencaminhada para o MP, com a PJ ainda a investigar se existe envolvimento de algum dos professores do centro educativo no caso. João Santos Filipe
joaof@hojemacau.com.mo
A directora de 51 anos foi detida e reencaminhada para o MP, com a PJ ainda a investigar se existe envolvimento de algum dos professores do centro educativo no caso
ECONOMIA GRUPO CHINÊS COLOCA OBRIGAÇÕES EM MACAU PARA A LUSOFONIA
BNU NEGADOS PROBLEMAS DE SEGURANÇA EM APLICAÇÃO MÓVEL
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M grupo estatal chinês admitiu à cotação na quarta-feira obrigações em Macau, com o objectivo de ajudar a cidade a desenvolver serviços financeiros entre a China e os países de língua portuguesa. Segundo um comunicado da Chongwa (Macao) Financial Asset Exchange, a empresa que gere uma plataforma financeira sediada em Macau, a Nanjing Southeast State-Owned Assets Investment Group colocou à venda títulos
no valor de mil milhões de yuan. O presidente da Nanjing Southeast, Li Bin, disse durante a cerimónia que o dinheiro seria usado para criar uma zona de comércio livre na cidade de Nanjing, capital da província de Jiangsu. Ran Hua, o vice-presidente da câmara municipal de Nanjing, esteve presente na ce-
rimónia realizada em Macau. Li Bin expressou também o desejo de que a admissão das obrigações possa apoiar o desenvolvimento em Macau de serviços financeiros entre a China e os países de língua portuguesa, assim como de um mercado de obrigações. De acordo com o comunicado, a Nanjing Southeast, que se dedica à reabilitação urbana e construção de infra-estruturas, vai pagar aos investidores 4,6 por cento ao ano até 2029.
Banco Nacional Ultramarino nega que a aplicação móvel BNU App tenha problemas de segurança, como tinha sido indicado na semana passada pelo programa de antivírus McAfee. Uma imagem da aplicação a ser classificada como de “risco elevado” pelo antivírus tinha sido partilhada nas redes sociais, mas o banco garante que a situação já foi resolvida. “A BNU App é uma aplicação financeira segura que cumpre com os mais recentes e elevados padrões de qualidade e segurança. Ontem [quinta-feira passada], o software antivírus da McAfee categorizou,
erradamente, a nossa aplicação como insegura, o que foi prontamente corrigido da parte deles”, esclareceu o BNU, numa respostava enviada ao HM. De acordo com a versão da instituição com sede em Macau e que pertence ao Grupo Caixa Geral de Depósitos, a aplicação foi escrutinada pela Google e Apple, antes de ser aceite nas lojas das marcas para descarregamento. “Não obstante, aproveitamos para esclarecer que a BNU App, para além dos procedimentos de segurança interna adoptados pelo BNU que garantem a sua fiabilidade, é também profundamente anali-
sada pelas duas principais lojas de aplicações nas quais pode ser encontrada para download – a Google Play e a Apple Store”, foi defendido. Por estes motivos, o BNU mostra-se confiante que a aplicação não representa qualquer risco para os clientes e termina a resposta enviada ao HM a reforçar esse aspecto. “Reiteramos que os clientes do BNU podem utilizar com toda a segurança a BNU App, onde todas as funções úteis para o dia-a-dia podem ser encontradas com toda a conveniência e à distância de um toque!”, é indicado.
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13.1.2020 segunda-feira
Turismo Ao Ieng U recusa tomar posição sobre taxa turística
VENEZUELA CARITAS MACAU E PORTUGUESA AJUDAM GRÁVIDAS E CRIANÇAS
Mãos na América do Sul
Da visita do presidente da Caritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, a Macau resultou uma parceria com a Caritas Macau que visa ajudar grávidas e crianças com fome na Venezuela. A organização liderada por Paul Pun vai ajudar com os custos de transporte de medicamentos e outros bens de apoio
A
C a r i t a s Portuguesa e de Macau vão enviar nutrientes e medicamentos para ajudar parturientes e crianças subnutridas venezuelanas, disse à Lusa o presidente da instituição de Portugal. Foi acordado o “envio de nutrientes e também de medicamentos para crianças subnutridas e para parturientes”, afirmou Eugénio Fonseca, após uma reunião com a Caritas Macau no último dia da visita que realizou ao território. “Os medicamentos foram-nos doados em Portugal e é preciso fazer chegar lá [Venezuela]”, acrescentou, explicando que “a forma mais segura”, por indicação da Caritas venezuelana “é por via postal”, precisou. A Caritas de Macau “vai ajudar a suportar o custo”, acrescentou o responsável da Caritas Portuguesa. Esta é uma das medidas concretas que resultou da visita desta semana a Macau.
“Vamos conseguir apoio financeiro da Caritas de Macau para realizar em Portugal uma acção de formação em empreendedorismo social para pelo menos 40 colaboradores”, numa “área que é importante, face aos novos desafios em termos sociais, resultantes até da crise que vivemos há anos”, declarou.
MAIS PARTILHAS
A Caritas Portuguesa e a de Macau vão igualmente avançar com a partilha de experiências na área da reintegração social de reclusos e no intercâmbio de colaboradores. “Queremos diversificar o protocolo já assinado na área de apoio
a reclusos (…) com a Direcção-geral de Reinserção e Serviços Prisionais em Portugal” e “dos projectos que tenham a ver com a preparação dos reclusos para a sua reintegração social”. A ideia passa por apresentar um projecto. “E partilharmos experiências que vamos tendo em Portugal para replicar” em Macau, até porque a Caritas local “é a única que faz voluntariado e apoia em termos sociais os reclusos na cadeia em Macau”, esclareceu, adiantando que haverá ainda “intercâmbio entre colaboradores”, estando ainda por acertar “em que moldes”.
Foi acordado o “envio de nutrientes e também de medicamentos para crianças subnutridas e para parturientes”, afirmou Eugénio Fonseca, após uma reunião com a Caritas Macau no último dia da visita que realizou ao território
Das reuniões resultou ainda um acordo para se estabelecer uma parceria entre as duas Caritas e a Universidade de São José para que seja criado um prémio que passe a distinguir “a melhor tese de mestrado”, com direito a publicação em Macau através da Editorial Caritas. Quanto ao desenvolvimento de projectos conjuntos em países como São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Guiné-Bissau, no âmbito da qualificação de quadros qualificados, por exemplo, Eugénio Fonseca explicou à Lusa que a definição destes ficará dependente da reunião interministerial do Fórum Macau agendada para este ano e que vai juntar representantes ao mais alto nível dos países lusófonos. A visita começou na última segunda-feira e serviu para reactivar a colaboração com a congénere de Macau. A Caritas foi fundada em 1945 em Portugal e em 1951 em Macau.
A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, recusou tomar uma posição sobre a taxa para todos os turistas que visitem Macau, na sexta-feira passada. Segundo a secretária, em causa está o facto de os resultados mostrarem uma grande diferença de opiniões entre os cidadãos e os operadores do sector turístico, o que faz com que o Executivo não queira ainda tomar uma posição sobre o assunto. Porém, Ao deixou o desejo que a partir do estudo haja uma discussão e uma análise que possa fazer com que se chegue ao melhor desfecho para todos. Por outro lado, sublinhou a necessidade de o Governo cumprir com as recomendações do documento, como a diversificação das atracções turísticas. Segundo estudo apresentado na semana passada, que contou com questionários a mais de 14.900 pessoas, 95 por cento dos cidadãos defende a criação de uma taxa para turistas. Já 80 por cento dos representantes da indústria recusa por completo essa possibilidade.
CPSP Mais trabalhadores ilegais em Dezembro
Segundo um relatório divulgado pelo Corpo da Polícia de Segurança Pública (CPSP) relativo ao combate de trabalhadores ilegais, foram detectados 50 casos onde existiam irregularidades, em Dezembro de 2019. O resultado é fruto de operações de fiscalização levadas a cabo em conjunto e individualmente pelo CPSP, Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) e outros serviços, em terrenos de obras de construcção civil, residências e estabelecimentos comerciais e industriais, num total de 210 locais inspeccionados.
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segunda-feira 13.1.2020
PNEUMONIA GOVERNO ENVIA EQUIPA DE INVESTIGAÇÃO A WUHAN
Investigar na fonte
Zika Detectado caso importado na província de Cantão
Notificados pela Comissão de Saúde da Província de Cantão, os Serviços de Saúde (SS) emitiram um comunicado a confirmar a existência de um caso importado do vírus Zika. Segundo os SS, o caso diagnosticado diz respeito a um homem de 31 anos que viajou até ao Camboja no passado dia 19 de Dezembro. Mais tarde, no dia 6 de Janeiro, manifestou sintomas de febre aquando da entrada no aeroporto de Shenzhen, facto que levou à sua intercepção pelos serviços alfandegários. Após análises, os resultados das amostras revelaram ser positivos para o vírus Zika. A febre de vírus Zika é uma doença que se transmite através da proliferação de mosquitos Aedes albopictus e, por isso mesmo, os SS apelam aos residentes de Macau que apliquem medidas de prevenção tais como, a eliminação e proliferação de mosquitos e de larvas, a eliminação de água estagnada e, em caso de viagem para locais com surtos virológicos, que vistam roupa de cor clara e de manga comprida.
Depois de as autoridades de saúde do continente terem divulgado a morte do primeiro doente com pneumonia viral em Wuhan no sábado passado, o Governo da RAEM anunciou no mesmo dia o envio de uma equipa de trabalho à região. Em Macau, uma mulher de 37 anos está em isolamento
EM OBSERVAÇÃO
IAM Apreendidos 292 quilos de comida importada ilegalmente
Os Serviços de Alfândega (SA) e o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) apreenderam 292 quilogramas de comida importada de forma ilegal, sem o cumprimento do exigível período de quarentena. A informação foi divulgada pelas autoridades, de acordo com o canal chinês da Rádio Macau, e envolve cinco restaurantes, uma mercearia e uma loja de sobremesas. Entre a comida apreendida constavam 214 quilos de vegetais, 42 quilos de carnes, sete quilos de mariscos, dois quilos de carne de aviário. Houve ainda 27 quilos de alimentos categorizados como “outros”. Segundo o IAM, os restaurantes e as pessoas envolvidas vão enfrentar as responsabilidades legais pelas suas acções.
inspecção da situação local e troca de informações com os representantes do Interior da China, a fim de inteirar-se da situação (...) que tem ocorrido naquela cidade, da situação de diagnóstico e tratamento de pacientes, assim como de prevenção e controlo da doença”, pode ler-se na nota divulgada. O anúncio surgiu no mesmo dia em que a Comissão Municipal de Saúde de Wuhan fez um balanço da situação, onde deu conta da primeira morte resultante da pneumonia. Segundo as autoridades de Wuhan trata-se de um homem de 61 anos que sofria de doenças crónicas, como tumores abdominais e doença hepática crónica. No balanço emitido, as autoridades de Wuhan reviram ainda em baixa o número de pacientes afectados de 59 para 41. A investigação epidemiológica descobriu, até agora, que os pacientes são os comerciantes e agentes de compras do Mercado Grossista de Marisco Huanan da Cidade de Wuhan. No seguimento da avaliação da situação e depois de ter sido também identificado inicialmente o agente patogénico da “pneumonia viral de causa desconhecida” como o novo coronavírus, o Grupo de Trabalho Interdepartamental para a Pneumonia de Origem Desconhecida considerou que o risco para Macau ainda é médio, mantendo por isso o actual nível de alerta como Nível III (Grave).
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M A delegação do Governo, composta por três representantes, estará em Wuhan durante os dias de hoje e amanhã para se inteirar da situação epidemiológica da pneumonia viral de origem desconhecida que tem vindo a afectar a cidade localizada na província de Hubei, no centro da China. O anúncio foi feito ontem pelo Grupo de Trabalho Interdepartamental para a Pneumonia de Origem Desconhecida,
informando ainda que a delegação do Governo da RAEM é composta pelo Coordenador do Centro de Prevenção e Controlo da Doença dos Serviços de Saúde, Dr. Lam
Chong e ainda por dois representantes do Centro Hospitalar Conde de São Januário. “A delegação vai deslocar-se à cidade de Wuhan para uma
“A delegação vai deslocar-se à Cidade de Wuhan para uma inspecção da situação local e troca de informações com os representantes do Interior da China, a fim de inteirar-se da situação.” GRUPO DE TRABALHO INTERDEPARTAMENTAL PARA A PNEUMONIA DE ORIGEM DESCONHECIDA
Até ao passado sábado, os Serviços de Saúde (SS) divulgaram a existência de um caso de uma mulher de 37 anos, residente em Wuhan, que viajou para Macau no dia 10 de Janeiro, apresentando sintomas de febre ligeiros e corrimento nasal. Após observação, a doente foi colocada em isolamento no Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ), onde foi sujeita a um exame aprofundado para excluir a possibilidade de pneumonia de origem desconhecida de Wuhan. Segundo os SS, “o resultado da análise laboratorial da amostra do tracto respiratório do caso foi negativo para os vírus respiratórios comuns”, sendo o estado clínico da mulher considerado estável, sem manifestação de pneumonia. Desde o início do ano foram registados em instituições médicas de Macau, no total, nove casos relacionados com pessoas que estiveram em Wuhan no período de 14 dias antes do início dos sintomas e que manifestaram sintomas de febre e do trato respiratório. Em oito destes nove casos, já foi excluída a possibilidade de pneumonia de origem desconhecida de Wuhan. Pedro Arede
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Fringe Espectáculo obriga ao encerramento temporário da Casa de Lou Kau
A Casa de Lou Kau estará temporariamente encerrada a visitantes esta semana, entre os dias 15 e 17, anunciou ontem o Instituto Cultural (IC) em comunicado. Também o segundo andar deste lugar histórico estará encerrado até dia 17. Em causa está a realização do espectáculo “Guia da Propriedade na Casa de Lou Kau”, integrado na 19ª edição do Festival Fringe. A Casa de Lou Kau está aberta das 10h às 18h (última admissão às 17h30 horas), de terça-feira a domingo e nos feriados, fechando apenas à segunda-feira.
13.1.2020 segunda-feira
Na próxima sexta-feira, a Universidade de São José promove uma palestra que mostra o exemplo de como o turismo pode promover a preservação de lugares históricos numa cidade. Gonçalo Vasconcelos e Sousa, professor da Universidade Católica Portuguesa, traz a Macau o exemplo da recuperação do complexo patrimonial da Terceira Ordem de São Francisco, no Porto
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USJ RELAÇÃO ENTRE TURISMO E PATRIMÓNIO EM PALE
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enorme aumento do turismo que Macau e outras cidades têm vivenciado nos últimos anos levantou questões quanto à capacidade para receber turistas. Nesse sentido, a Faculdade de Indústrias Criativas da Universidade de São José (USJ) promove na próxima sexta-feira, dia 17, uma palestra intitulada “Património histórico, turismo e desenvolvimento: O caso de estudo da Terceira Ordem de São Francisco no Porto (2016-2020)”. A conversa conta com a presença de Gonçalo Vasconcelos e Sousa, professor da Universidade Católica Portuguesa do Porto (UCP). A ideia é mostrar como um turismo acabou por ajudar à preservação de um lugar histórico. “A cidade do Porto registou um crescimento
significativo do turismo, com resultados económicos significativos para a cidade. Nos últimos cinco anos, as receitas do turismo e as oportunidades de negócio alteraram por completo o centro histórico”, explica um comunicado. É neste centro histórico da cidade do Porto que existem as igrejas e o Museu de São Francisco, “um complexo arquitectónico único em
A Faculdade de Indústrias de São José (USJ) promove dia 17, uma palestra intitul histórico, turismo e desenv estudo da Terceira Ordem (2016-2020)”
TECELAGEM EXPOSIÇÃO NO JARDIM LOU LIM IOC ATÉ 16 DE FEVEREIRO
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HAMA-SE “O Mundo na Ponta dos Dedos – Exposição das Hábeis Artes de Tecer, Tingir e Bordar da Província de Jiangsu e Região Autónoma de Guangxi Zhuang” e é a mais recente exposição a estar patente no Pavilhão Chun Chou Tong do Jardim de Lou Lim Ioc entre os dias 22 de Janeiro e 16 de Fevereiro. De acordo com um comunicado do Instituto Cultural (IC),
a mostra visa “apresentar várias técnicas artesanais e as obras de arte únicas de tecelagem, tingimento e bordado provenientes da Província de Jiangsu e Região Autónoma de Guangxi Zhuang”, e é organizada pelo Gabinete para os Assuntos de Hong Kong, Macau e Taiwan do Ministério da Cultura e Turismo da República Popular da China, IC, Departamento de Cultura e Turismo da Província de Jiangsu
e Departamento de Cultura e Turismo da Região Autónoma de Guangxi Zhuang. A exposição, que acontece na mesma altura do Ano Novo Chinês, apresenta cerca de 200 peças de obras de arte tradicionais da província de Jiangsu e da Região Autónoma de Guangxi Zhuang, e que são “representativas da tradição dos chineses da etnia Han e de várias minorias étnicas, sendo bem conhecidas pelo seu avançado grau de técnica artesanal”. Além da exposição irá decorrer o “Workshop de Arte em Tecido de Sachê Perfumado de Jiangsu” e um “Workshop do Tie-dye de Guangxi”, cada um com quatro sessões, as quais serão orientadas por artesãos convidados das duas regiões para apresentar as técnicas de criação de sachês e de tie-dye. Os workshops serão ministrados em mandarim e terão lugar na Avenida do Coronel Mesquita, n.º 55-57 (Vivendas Verdes), de 8 a 9 de Fevereiro de 2020, das 10h30 às 12h30 e das 15h00 às 17h. Estão disponíveis 20 vagas para cada uma das sessões de aproximadamente duas horas, sendo a entrada livre.
JAPÃO ARTISTA CHINÊS WANG CHUANFENG DÁ NOME A MUSEU EM TÓQUIO
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OI inaugurado recentemente em Tóquio, Japão, um museu inteiramente dedicado à arte que se faz na China. De acordo com a agência noticiosa Xinhua, o museu foi desenhado pelo aclamado arquitecto Kengo Kuma e ganhou o nome do artista chinês Wang Chuanfeng, que, curiosamente, são amigos. O Museu Wang Chuanfeng abriu portas no distrito de Ginza e visa contribuir para uma maior partilha cultural entre a China e o mundo, aponta a Xinhua. O museu tem cinco andares e o edifício é totalmente coberto com barras de alumínio, a fim de mostrar aos visitantes a sensibilidade do trabalho de Wang, sem esquecer o bairro onde se insere. Nascido na província de Shandong, Wang Chuanfeng vive no Japão há cerca de 30 anos, tendo desenvolvido
um trabalho muito focado na figura do peixe, algo que lhe trouxe popularidade mundial. No ano de 2011 foi nomeado como o “enviado da amizade entre o Japão e a China” por parte das autoridades chinesas. A exposição inaugural do museu mostra 20 trabalhos da autoria de Wang Chuanfeng realizados a partir de 1990. A ideia é que, a cada dois a três meses, o museu possa atrair trabalhos de artistas de todo o mundo. Kengo Kuma disse, citado pela Xinhua, que o artista chinês “é uma espécie de ponte entre o Japão e a China, e o museu vai activar esta troca cultural porque este ano muitos estrangeiros visitarão Ginza”. “Se estes visitantes tiverem tempo para visitar o novo museu, vão encontrar uma filosofia comum entre o Japão e a China”, rematou o arquitecto.
segunda-feira 13.1.2020
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ista para o Porto
ESTRA COM GONÇALO DE VASCONCELOS E SOUSA
Portugal, visitado por quase 400 mil pessoas anualmente”. “A partir das receitas do turismo, em crescimento crescente, houve uma profunda renovação das instituições ligadas ao património cultural histórico. Em adição às políticas de valorização do património material e imaterial, as receitas obtidas tornaram possível a renovação do hospital e a sustentabilidade das actividades promovidas
s Criativas da Universidade e na próxima sexta-feira, lada “Património volvimento: O caso de de São Francisco no Porto PUB
pela Terceira Ordem de São Francisco no Porto”, acrescenta a mesma nota.
UM HOMEM DAS ARTES
No que diz respeito ao orador, Gonçalo de Vasconcelos e Sousa possui um doutoramento em história de arte pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde também fez a sua tese de mestrado. Entre os anos de 2011 e 2016, foi director do Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes e do Centro Interpretativo da Ourivesaria do Norte de Portugal. O professor universitário está ainda ligado à Academia Portuguesa de História e à Academia Nacional das Belas-Artes desde o ano de 2001.
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C o m i s s ã o Municipal de Saúde de Wuhan acrescentou que sete pacientes estão em estado considerado crítico, dos 41 casos de pneumonia causada por um novo tipo de coronavírus diagnosticados até sexta-feira. Os restantes pacientes estão estáveis e dois já tiveram alta hospitalar. A comissão acrescentou que 739 pessoas, incluindo 419 do pessoal médico, que mantiveram contactos próximos com os doentes, estão sob observação e até ao momento não foram identificados quaisquer casos relacionados com a doença. O estado dos doentes e a situação epidémica estão actualmente sob controlo, disse Wang Guangfa, um dos membros da equipa nacional chinesa de peritos médicos que está a acompanhar a situação em Wuhan. A proporção de casos graves é semelhante à verificada em casos de pneumonia comum, notou Wang. Em 5 de Janeiro, Wuhan, cidade onde residem 11 milhões de pessoas, tinha registado 59 casos de pneumonia viral, na altura sem causa conhecida. Os primeiros casos foram detectados no fim de Dezembro último.
13.1.2020 segunda-feira
WUHAN PRIMEIRO DOENTE MORTO NA SEQUÊNCIA DA PNEUMONIA VIRAL
Baixa inaugural
As autoridades chinesas anunciaram no sábado a morte de um primeiro doente com pneumonia viral em Wuhan, capital da província central chinesa de Hubei
O acordo comercial preliminar entre os Estados Unidos e a China será divulgado na íntegra na quarta-feira, durante a assinatura do documento em Washington, anunciou o Executivo norte-americano. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, devem assinar o texto, que significa uma trégua na guerra comercial sino-americana, durante uma cerimónia na Casa Branca. “O documento completo será divulgado na quarta-feira”, indicou o conselheiro económico da Casa Branca, Larry Kudlow, aos jornalistas. “Haverá uma cerimónia maravilhosa”, acrescentou Kudlow referindo-se a um jantar na véspera da assinatura e a um almoço no mesmo dia. Sem entrar no conteúdo do texto, Kudlow reiterou, em resposta às críticas, que os Estados Unidos obtiveram inúmeras concessões. “Nunca fizemos isso antes, é histórico”, salientou Kudlow.
Moçambique Enviado de Xi presente na inauguração de mandato de Nyusi
CASOS DO PASSADO
Os coronavírus são uma espécie de vírus que causam infecções respiratórias em seres humanos e animais e são transmitidos através da tosse, espirros ou contacto físico. Alguns destes vírus resultam apenas numa constipação, enquanto outros podem gerar doenças respiratórias mais graves, como a pneumonia atípica, ou Síndrome RespiratóriaAguda Grave (SARS), que entre 2002 e 2003 matou mais de oito mil pessoas em todo o mundo. Nos últimos anos, a síndrome respiratória do Médio Oriente, um coronavírus que começou na Jordânia e na Arábia Saudita, em 2012, alastrou por cerca de duas dezenas de países, com perto de 2.500 casos confirmados em laboratório, incluindo mais de 800 mortes.
Comércio Acordo entre Washington e Pequim divulgado quarta-feira
Sete pacientes estão em estado considerado crítico, dos 41 casos de pneumonia causada por um novo tipo de coronavírus diagnosticados até sexta-feira. Os restantes pacientes estão estáveis e dois já tiveram alta hospitalar
O Governo chinês anunciou que Cai Dafeng, enviado especial do Presidente chinês, Xi Jinping, vai estar presente na cerimónia de inauguração do novo mandato do Presidente moçambicano, Filipe Jacinto Nyusi, no dia 15 de janeiro. A presença de Cai Dafeng, vice-presidente da Assembleia Nacional Popular, o órgão máximo legislativo da China, foi feito em conferência de imprensa, pelo porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang. A China é um dos principais parceiros comerciais e investidores em Moçambique. Na última visita a Pequim, em Maio passado, Nyusi afirmou estar disposto a desempenhar um “papel activo” no desenvolvimento da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota” na África subsaariana, reafirmando o compromisso do país com a visão internacional de Pequim. Nyusi disse então querer “trocar experiências sobre governação” com a China e “aprofundar a parceria estratégica” com o país asiático em vários sectores.
DIPLOMACIA XI JINPING VISITA MYANMAR NA PRÓXIMA SEMANA
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Presidente chinês vai visitar o Myanmar na próxima semana, numa altura em que Pequim tenta fortalecer as relações com
membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático, face a disputas territoriais no Mar do Sul da China. O Myanmar tem sido um aliado próximo no apoio às reivindicações chinesas da quase totalidade do Mar do Sul da China e um parceiro
na iniciativa chinesa ‘Uma Faixa, Uma Rota’, que inclui a construção de aeroportos, centrais eléctricas ou zonas de comércio livre, visando redesenhar as vias comerciais entre a China, Europa e sudeste e centro do continente asiático. Os projectos chi-
neses no Myanmar incluem um gasoduto desde o Médio Oriente, em vez de passar pelo estreito de Malaca. A China também está a tentar mediar conflitos entre o Governo Central do Myanmar e minorias étnicas do país origens chinesas.
Juntamente com o Laos e o Camboja, o Myanmar tem sido um parceiro na campanha chinesa para reprimir as críticas da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) à reivindicação de praticamente todo o Mar do Sul da China por Pe-
quim, apesar dos protestos do Vietname, Filipinas ou Indonésia. Pequim tem pressionado a ASEAN a aprovar um código de conduta entre os países proibiria operações militares na área por países rivais como os Estados Unidos, Austrália e Japão.
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segunda-feira 13.1.2020
DIPLOMACIA PRIMEIRO-MINISTRO JAPONÊS MANTÉM VISITA AO MÉDIO ORIENTE
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primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, iniciou este sábado uma visita a três países do Médio Oriente, anunciou o Governo nipónico, depois de a deslocação ter sido questionada devido à tensão na região. A viagem de Shinzo Abe pela Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e Omã teve início no sábado e termina na quarta-feira, indicou ministro porta-voz do Governo japonês, Yoshihide Suga, em conferência de imprensa. O primeiro-ministro japonês pretende discutir com os líderes regionais soluções para reduzir a tensão no Médio Oriente, que aumentou na semana passada após a morte do general iraniano Qassem Soleimani, num ataque aéreo dos EUA em Bagdade. O Governo de Tóquio também procura a cooperação dos três países para garantir rotas marítimas na região, da qual o Japão obtém 90 por cento do petróleo que consome. De acordo com o porta-voz do Executivo, Abe pretende também justificar o posicionamento de uma força militar japonesa nas águas da região, anunciado em 27 de Dezembro. Esta missão, que consiste num contratorpedeiro e num avião de reconhecimento aéreo, destina-se a recolher informações para assegurar as rotas marítimas da zona. A viagem de Abe pelo Médio Oriente foi questionada na última quarta-feira após o ataque iraniano contra instalações militares dos EUA em duas bases aéreas iraquianas. Vários órgãos de comunicação locais, citando fontes oficiais anónimas, indicaram que a viagem tinha sido adiada.
Tailândia Três mortos e quatro feridos graves em assalto a ourivesaria
Três pessoas, incluindo uma criança de dois anos, morreram na quinta-feira na Tailândia, durante um assalto a uma joalharia num centro comercial, disse fonte policial. De acordo com as imagens das câmaras de videovigilância difundidas pelos meios de comunicação locais, um homem encapuzado e vestido com um camuflado de tipo militar entrou, armado com uma pistola, numa ourivesaria no centro comercial de Lopburi, a 150 quilómetros a norte de Banguecoque. O assaltante abriu fogo, matando três pessoas e ferindo gravemente quatro, antes de roubar bens no valor de cerca de 15 mil euros. Um segurança e uma vendedora morreram de imediato, disse o comandante-adjunto da polícia da cidade, Sumeth Punsri. Uma criança de dois anos morreu pouco depois de ter dado entrada no hospital, acrescentou. O assalto demorou pouco mais que um minuto e o assaltante, que continua a ser procurado, fugiu de motorizada, de acordo com as primeiras investigações.
“Fora Prayut!” era o grito dos participantes na “Corrida contra a ditadura”, um evento antigovernamental organizado por um grupo de estudantes universitários através das redes sociais
TAILÂNDIA OPOSITORES E APOIANTES DO GOVERNO MEDEM FORÇAS EM BANGUECOQUE
Correr com eles todos
Pelo menos 13 mil opositores pediram ontem a demissão do primeiro-ministro tailandês, numa corrida de protesto em Banguecoque, onde milhares de pessoas também se manifestaram em apoio a Prayut Chan-ocha numa marcha alternativa
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STAS são as maiores manifestações realizadas na capital tailandesa desde o golpe de Estado liderado em 2014 por Prayut, que após cinco anos na junta militar foi nomeado chefe do Governo, em Junho passado, na sequência de eleições criticadas por falta de transparência. “Fora Prayut!” era o grito dos participantes na “Corrida contra a
ditadura”, um evento antigovernamental organizado por um grupo de estudantes universitários através das redes sociais, que decorreu num parque de Banguecoque e no qual participou também o líder opositor Thanathorn Juangroongruangkit. “O primeiro passo para democratizar a Tailândia era a demissão do general Prayut”, disse aos jornalistas Thanathorn. O líder opositor, que foi destituído do mandato
de deputado em Novembro passado, na sequência de um dos vários processos judiciais que lhe foram aplicados pelas autoridades pró-militares, chegou ao parque vestido com roupa desportiva e rodeado por um grupo alargado de apoiantes.
POR OUTRO LADO
Thanathorn, um empresário de 41 anos, também defendeu a necessidade de se reformar a Constituição para democratizar
a Tailândia, onde actualmente o Senado, que não é eleito nas urnas, nomeia o primeiro-ministro, juntamente com os deputados. Num outro parque da capital, pelo menos cinco mil apoiantes de Prayut, que empunhavam bandeiras tailandesas, realizaram uma marcha. “Em frente, tio Tu!”, gritavam os manifestantes, recorrendo ao diminutivo do primeiro-ministro tailandês. Os dois eventos decorreram sem incidentes
em Banguecoque, onde dezenas de pessoas morreram em manifestações realizadas em 2010, 2013 e 2014. Desde o golpe de Estado de 2006 que a Tailândia vive uma profunda divisão política e social entre os sectores ultramonárquicos da sociedade próximos das Forças Armadas e os movimentos pró-democracia.
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13.1.2020 segunda-feira
Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude!
O cavalo de sombras do jesuíta Sichelbarth Paulo Maia e Carmo texto e ilustração
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IANLONG, o sofisticado imperador da dinastia Qing, possuía entre outros, o dom reconhecido pelos seus súbditos de distinguir a qualidade das obras de arte. O que se pode constatar na sua vasta colecção de pinturas, em que as obras onde pousava o seu pincel adquiriam uma dignidade superior. Esse reconhecimento de valor estendeu-se de modo inédito e contrário à tradição à pintura europeia a que, até aí, os eruditos apenas davam uma distraída e curiosa atenção. A capacidade ilusionista de figurar o volume através das sombras e da perspectiva de ponto de fuga único era percebida, contrariamente à «verdadeira pintura» (wenrenhua), como labor de artesãos. Foi no entanto, provavelmente, esse caminho que permitiu a aceitação na corte dos pintores religiosos Europeus no século dezoito, para trabalhar nos grandes empreendimentos visuais de glorificação do poder manchu. Uma nota desse acolhimento ainda hoje se pode ver numa curiosa inscrição, em dois textos, um em caracteres sínicos, o outro em latim, sobre o túmulo de um missionário numa estela do cemitério cristão de Zhalan, em Pequim. Aí pode ler-se: «Foi chamado à capital devido à sua excelência no desenho. Durante muitos anos trabalhou no instituto Ruyi, para grande contentamento do imperador.» Esse jesuíta que o texto em chinês diz que se chamava Ai Qimeng, «com o pseudónimo de Xingan (traduzindo os dois caracteres: «o que des-
pertou»; «numa palhoça», um gatilho Cristão da arte da memória?) e era natural do país da Boémia, no Grande Oeste», está identificado no texto em latim como o padre Ignaz Sichelbarth (1708-1780) que seguiu os passos de um Italiano a quem chamaria mestre, e que há muito tempo trabalhava como pintor na corte em Pequim. Castiglione abrira as portas à pintura europeia no Império do Meio muitas vezes através da representação do cavalo, o admirável animal que ocupara os grandes pintores do Renascimento europeu, como Michelangelo ou Leonardo da Vinci, cuja beleza o faria uma figura universal simbólica do poder militar. Sichelbarth também pintou inúmeros cavalos como se pode ver, por exemplo, no chamado «Cavalo baio, bom augúrio» (rolo vertical, 229 x 276 cm, a tinta e cor sobre seda) que se encontra no Museu do Palácio Imperial em Pequim, que é um compromisso entre a tradição chinesa e a europeia. De resto, o seu temperamento colaborativo fá-lo-ia partilhar o pincel em inúmeras pinturas de louvor ao poder do imperador, de onde resultaram outras tantas pinturas de estilos sobrepostos. Diz-se que o poeta Li He (790-816), que compôs vinte e três poemas de cavalos, ao dizer «cavalo» estava na verdade a falar de si mesmo. É possível que na corte onde Sichelbarth foi aceite se desejasse que ele passasse despercebido e no entanto, por subtis diferenças ele conseguiu estar, não estando, submetido ao império do gosto.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 15
segunda-feira 13.1.2020
Anabela Canas
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OLHEIO em paragens de acaso os cadernos destas escritas de O. Não lhe prendo as raízes. Tenho os olhos cheios de planície de sempre. Virasse-os do avesso e assim era o que lá encontro. Espaço. Sentido por detrás destas cores variáveis de vegetação e terra. Leio estas linhas nos diários de Olive e sei que são escritos de amor. Não estão datados por tonalidade de cicatriz. Talvez pela contorção dos torços. Folheio a eito páginas daquela escrita. As cores são serenas como bordado num vestido melancólico. Cores de janeiro. Voltando às árvores. Hoje deixo as que, serenas e verticais, parecem arrogantes de serenidade, saber, imutabilidade e razão. Seres de tonalidades soturnas discretamente emplumadas. Anjos nocturnos. Silenciosos ou embalados naquele marulhar conjunto da folhagem longínqua. Mas numa pujança que ao olhar se oferece terrível e esquiva matéria, densa e pesada ao sentir. Que partículas que não são matéria de quantificação nos sufocam o ar parado nos prendem os passos ao pé de uma cadeira e que de amarras não parecem ser fundamento. Que coisa estranha seria o gostar, prendido a critérios mas nada que se pareça à estranha a tudo isso e mesmo estrangeira emergência do amar. Amamos tantas coisas, se amamos e quando amamos. Amamos aquilo que nos enternece, nos causa desvelo nos transcende para lá do estrito lugar próprio, na vocação boa de amar. E amamos o sublime terrífico real de que nem sempre podemos gostar mas sabe-se lá porquê e o que nele se prendeu. Viro uma página e retomo o olhar que divagou para longe. Prendo-me às emocionais. Que as há na linguagem das formas. Aquelas que construíram campos de viagem e paisagens ilimitadas no terreno que não domino. Que nem sei como cabem em casa, e mais ainda nesta pequena caixa-de-ressonância. Mas é anseio que ficou a dar espaço. Amplificado para dentro. Feliz de ter visto tantas vezes, quando bastava só uma, que se estruturou como janela para o mundo. Elas em perfil sinuoso e lírico, sempre naquela espécie de agitação prévia à fuga, ao movimento, à dança. Como os sentimentos sempre prestes a extravasar porque não se fizeram para ser contidos. Apertados. Ou se o fossem, sempre entumescidos de coisas estranhas e tumultuosas. Espremidos destilariam algumas gotas de lágrima, ou apurando o silencioso olfato, talvez essências, perfumes claros e confusos simultaneamente. Olhando as pequenas árvores à beira da secura. No espaço de passagem. Os corpos em variações irrepetíveis, tensas, expressivas e as pequenas folhas de colorido exausto, despenteadas em vagas, preparadas
Secreta via das árvores ANABELA CANAS
Cartografias
de sempre para poupar a água. Formas dramáticas e penosas de se ajeitarem à imobilidade. Quem diria a riqueza que das suas dores se exala em estado líquido. Árvore pinga-amor. Tão longe as oliveiras dispersas pela planície seca e pálida, da macia e líquida, perfumada luz que virá dos frutos amenizar o pão. Tão longe do ouro essa cor preciosa. Quem diria. Tão diferentes da vertical e parada sóbria, como se se pudesse dizer serena, se susceptível de sentir – natureza das outras árvores. Uma beleza sólida para outros dias. Hirtas afirmativas. Pontos próprios de uma exclamação como se universal. Gosto delas. Doem-me no fogo que as consome por todo o lado. Doem-me derrubadas em vida na centenária vocação ignorada. Ou em pé contra tudo mesmo sem vida para que os bicho se seguram da tragédia. Os bichos de rosto triste que se abraçam a elas ou uns aos outros ou a si próprios em desespero. Como os bichos são enternecedores e as árvores e tudo. Depois lembro de novo as oliveiras. Elas mesmas num arremedo ou ímpeto de fuga do incêndio. Da vida. Das
mais maduras a perpassar uma espécie de encantatória semelhança com seres móveis que não são. Dramaticamente retorcidas como a necessitar arregaçar raízes e correr desarvoradas planície terra adiante. Com uma alma de duendes, de Elfos, de alquimistas com o mundo ao lume. Coisas insólitas a passar-me mente adiante, nas longas e antigas viagens por estradas nacionais. A passar dentro dos campos. Que semelhança poderia haver entre uma destas figuras de tragédia em contornos infantis e um amor sentido de adolescência. Em fuga, também, como uma vergonha de sentir. Aprisionadas à terra, mas aos olhos não. A dinâmica ilusão de fuga presa ao movimento eternamente potencial. Mas nunca praticado nem concluído. Talvez isso. E os emaranhados de cabelos a rarefazer e os pequenos frutos como pequenos seios albergam o saber do tempo e da solidão e da seca. Daquelas em tão ampla e longínqua planície que não há animal que lhe chegue por acaso a alçar a perna e a marcar território. O profundo acaso que não acontece. Árvores solitárias com vida própria e enormidades de céu como testemunha
Coisas estranhas de árvore. Mais secretas do que estranhas, essas coisas da vida das árvores. Encantatórias vestes de tule verde. De tudo. Essa folhagem leve e de cor ressequida de guardar e resistir
da sua infantil pequenez. Sem sexo nem género que as aprisione nem que as revele. Necessárias ou suficientes. Seres de perna curta mas as mais ágeis do reino a que pertencem se isso existisse de pertencer. Coisas estranhas de árvore. Mais secretas do que estranhas, essas coisas da vida das árvores. Encantatórias vestes de tule verde. De tudo. Essa folhagem leve e de cor ressequida de guardar e resistir. Vinda das profundezas da história natural, dos factos, mitos e lendas sempre se desprende a sua memória. E a sua presença a atravessar séculos, milénios. Fortaleza de amor à vida que o amor é sempre. Como uma coroa, expandiu-se em torno deste mar colorido e mediterrânico. Do sul do Cáucaso, das planícies do Irão, da Síria, da Palestina aos lugares da civilização Minóica e depois por todo o lado do litoral ao interior. A produzir, contorcidas e tenazes, um óleo que alivia feridas e dores, que alimenta e ameniza o pão. Longevidade milenária de muitas. A acompanhar a história ainda com vida. Como mães de civilização que não deixam de acompanhar o caminho. Folheio de novo para diante páginas e continuo na encantatória impressão de que são de um amor. Talvez às árvores. Talvez. Esvoaço rapidamente pela bacia da Mesopotâmia. Diz. De novo um salto à Palestina, à Síria, Creta - breve paragem na lembrança da época Minóica, estão por todo o lado – em torno das águas pacatas, transparentes do Mar Mediterrâneo com os murmúrios cheios de afogamentos. Talvez as medusas. De cabelo emaranhado e a produzir dor lancinante onde toca na pele. E o norte de África. Tudo desenhado nas cores delicadas do mapa já frágil e de vincos puídos sobre a mesa. Gosto de desfiar os nomes, como um crédito de milhas para navegar. Visita rápida às árvores milenares. Quando não há tempo para mais, fico-me pelas centenárias. Que circulam pelas planícies. As mais velhas, tantas vezes de corpos dissociados em dois, mas num abraço para a eternidade. Coisas estranhas de árvore. Poiso o caderno. Dobro o mapa. Mas não sei. Talvez O.
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13.1.2020 segunda-feira
AUTOMOBILISMO RODOLFO ÁVILA FAZ BALANÇO POSITIVO DA ÉPOCA
bom trabalho, ganhamos fiabilidade e houve provas em que tínhamos carro para vencer.” Ávila, que no dia-a-dia assume as funções de Team Manager da equipa Asia Racing Team, terminou no terceiro lugar na classificação de pilotos, enquanto a SVW333 Racing ficou no segundo lugar na classificação de equipas, onde a equipa oficial da VW SAIC enfrentou as suas congéneres da Kia, BAIC, Ford e Toyota.
Vitória dourada
Rodolfo Ávila encerrou a temporada de 2019 em alta, com um triunfo indiscutível na última corrida do CTCC, um resultado merecido numa época atribulada e, acimada tudo, importante para o futuro. O piloto português de Macau fez um balanço positivo da temporada passada ao HM e está confiante que poderá regressar este ano ao popular campeonato de automobilismo da República Popular da China
2020 BEM ENCAMINHADO
N
O cair do pano do Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC, na sigla inglesa), no circuito citadino de Wuhan, na China Interior, Ávila esteve em destaque, não só por ter triunfado na segunda corrida, mas também porque foi vital na estratégia da equipa SVW333 Racing para que o seu piloto principal, o chinês Zhang Zhen Dong, conquistasse o título de pilotos. No penúltimo fim-de-semana de Dezembro, o VW Lamando nº9 qualificou-se no terceiro lugar e na primeira corrida estava destinado a terminar no segundo lugar, quando a equipa pediu a Ávila para este abrandar e deixar passar o seu companheiro de equipa para que este somasse o maior número de pontos possível. “Neste campeonato a equipa é o que conta mais, não há margem para individualismo, mesmo que por vezes custe a qualquer piloto ter que abdicar de um bom resultado em prol dos interesses da equipa”, explicou o piloto da RAEM ao HM que se estreou no CTCC em 2016 ao serviço da SVW333 Racing. Questionado sobre a temporada transacta, Ávila reconhece que “foi difícil, porque nem sempre tivemos o melhor carro e o balanço de per-
O
piloto português Paulo Gonçalves, de 40 anos, morreu ontem na sequência de uma queda na 7.ª etapa do rali Dakar na Arábia Saudita, anunciou a organização. Paulo Gonçalves, segundo da edição de 2015 e que disputava o seu 13.º Dakar, caiu ao quilómetro 276 da especial. De acordo com a informação da Amaury Sport Organization (ASO), o alerta foi dado às 10h08 horas locais. Foi enviado de imediato um helicóptero que chegou junto do piloto às 10h16, tendo encontrado Paulo Gonçalves inconsciente e em paragem cardio-respiratória. “Depois de várias tentativas de reanimação no local, o piloto foi helitransportado
Rodolfo Ávila, piloto “Gosto de competir neste campeonato. É o maior e mais importante campeonato da China de circuitos e um dos melhores campeonatos do mundo de carros de turismo.”
formance também nem sempre nos foi favorável ao longo do ano”. Para além do triunfo em Wuhan, Ávila também venceu este ano em Xangai e os resultados só não foram melhores devido a toques maldosos de adversários. “Fui várias vezes
atirado para fora e perdi muitos pontos por causa disso, mas mesmo assim, faço um balanço positivo, porque estou certo que se não fosse uma série de infortúnios poderia ter terminado ainda melhor classificado no campeonato. A equipa fez um
O piloto de 32 anos ainda não tem a temporada de 2020 definida a cem por cento, mas os bons resultados obtidos na temporada passada permitem-lhe estar confiante que poderá continuar a defender as cores da SVW333 Racing pelo terceiro ano consecutivo no CTCC. “A equipa ainda não confirmou os seus pilotos para este ano, mas mostrou vontade para que eu continuasse. Esse é um bom sinal”, clarificou. Depois de várias temporadas a competir em corridas de monolugares, GTs e na Taça Porsche Carrera Ásia, Ávila está satisfeito por fazer parte do restrito grupo de pilotos que compete no CTCC. “Gosto de competir neste campeonato. É o maior e mais importante campeonato da China de circuitos e um dos melhores campeonatos do mundo de carros de turismo”, afirma Ávila, acrescentando que “para além de ter cinco marcas representadas com equipas de fábrica, o nível dos pilotos é muito bom, reunindo os melhores pilotos chineses da actualidade e vários pilotos internacionais de renome como o Rob Huff, Colin Turkington, Alex Fontana ou Pepe Oriola.” 2020 deverá ser o último ano do CTCC com os actuais carros, que não são utilizados em mais nenhum outro campeonato no mundo, sendo ainda uma incógnita regulamentação técnica que virá a ser adoptada no futuro. Sérgio Fonseca
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Até sempre, Paulo
Piloto Paulo Gonçalves morre em queda no Dakar2020
para o hospital de Layla, onde foi confirmada a morte”, lê-se. Paulo Gonçalves participava no Dakar pela 13.ª vez desde 2006, ano de estreia na prova. Foi segundo classificado em 2015, atrás do espanhol Marc Coma, o seu melhor resultado, depois de já ter sido campeão mundial de ralis cross-country em 2013. Ocupava a 46.ª posição das motas à partida para esta etapa.
REACÇÕES À TRAGÉDIA
O Presidente da República lamentou a morte de Paulo Gonçalves,
lembrando que o piloto português foi “um digníssimo representante de Portugal” na prova. “Paulo Gonçalves morreu a tentar alcançar o sonho de vencer uma das mais duras e perigosas provas de rally do mundo, na qual foi sempre um digníssimo representante de Portugal, chegando a alcançar o segundo o lugar em 2015”, pode ler-se na nota publicada no site da Presidência. Marcelo Rebelo de Sousa apresentou ainda “as mais sentidas condolências” à família do ‘motard’ português.
O argentino Kevin Benavides (Honda) em motas e o espanhol Carlos Sainz (Mini) em automóveis, venceram ontem a sétima de
Ténis Ekaterina Alexandrova vence torneio de Shenzhen
A tenista russa Ekaterina Alexandrova conquistou no fim-de-semana o primeiro título da carreira no circuito WTA, ao impor-se na final do torneio de Shenzhen à cazaque Elena Rybakina, pelos parciais de 6-2 e 6-4. A 34.ª jogadora do ‘ranking’ mundial, que perdeu apenas um ‘set’ durante todo o torneio chinês, precisou apenas de uma hora e 14 minutos para derrotar Rybakina (36.ª) e tornar-se na primeira campeã da temporada no circuito principal do ténis feminino. “Penso que toda a semana foi bastante boa para mim, desde o início. Não foi fácil, mas consegui manter o nível até ao final. Ganhei o meu primeiro título e é incrível. O primeiro é sempre especial”, resumiu Alexandrova, que só numa outra ocasião, em Linz, em 2018, tinha disputado uma final WTA. A tenista russa, de 25 anos, somou a sua 10.ª vitória consecutiva, uma vez que no final de Dezembro venceu um torneio de categoria inferior, na cidade francesa de Limoges.
12 etapas do Rali Dakar de todo-o-terreno. A vitória nas duas rodas foi atribuída a Kevin Benavides depois de ter sido retirado ao piloto da Honda o tempo em que esteve parado junto a Paulo Gonçalves a tentar prestar auxílio, tal como o australiano Toby Price (KTM), vencedor em 2019. Assim, Benavides concluiu a mais longa etapa da prova, com 546 quilómetros de especial entre Riad e Wadi Al Daeasir, em 4:36.22 horas, menos 1.23 minutos do que o espanhol Joan Barreda (Honda), o segundo, e 4.17 minutos do austríaco Mathias Walkner (KTM).
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O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje ESPECTÁCULO “150 YEARS MUSIC JOURNEY” Fundação Rui Cunha | Das 18h30 às 19h30
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Quarta-feira SESSÃO DE “SERÕES COM HISTÓRIA” - BEATRIZ BASTO DA SILVA Fundação Rui Cunha | Das 18h30 às 19h30
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UNDERWATER [B] Um filme de: William Eubank Com: Kristen Stewart, Vincent Cassell 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 2
1917 [C] Um filme de: Sam Mendes Com: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Benedict Cumberbatch 14.30, 16.45, 19.15
ASHFALL [B] FALADO EM COREANO LEGENDADO
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EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Lee Hac-Jun, Kim Byung-Seo Com: Lee Byung-Hun, Ha Jung-Woo, Ma Dong-Seok A.K.A. Don Lee 21.30 SALA 3
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LITTLE WOMEN [A] Um filme de: Greta Gerwig Com: Emma Watson, Saoirse Ronan, Florence Pugh, Meryl Streep 14.15, 16.45, 19.15, 21.45
PROBLEMA 38
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UM 3 5LIVRO 1 7HOJE 6 2 4
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A ideia da Terra plana figura no panteão das mais graves e psiquiátricas conspirações repescadas à antiguidade da cognição pré Pitágoras. No meio dessa alucinação existe uma ideia extraordinária que teoriza, entre enormes aspas, que o céu é azul porque é na realidade água que separa o material do reino divino. Ou seja, o mundo é essencialmente um plano material subaquático. Proponho um mergulho na toca do coelho e um esforço de imaginação ao leitor para tomar esta demente premissa como real. Ao longo das últimas quase 48 horas, a abóbada do submarino Terra tem cedido de uma forma alarmante e inundado Macau com infiltrações que deixam tudo encharcado. Quem procede a estas celestiais reparações, antes que o submarino se transforme num aquário? Questões para divinas respostas. Confesso que, de certa forma, invejo este desprendimento da realidade. Estas pessoas conseguem ter vidas funcionais, um trabalho, família e em vez de tédio e rotina têm uma existência de mistérios múltiplos. Por exemplo, um simples fenómeno natural como a chuva pode representar uma mina de misticismos e explicações típicas de um cartoon. Proponho-vos uma teoria: cada um de nós é uma gota dessa celestial chuva que durante a descida sonha levar uma vida humana. O sonho e a existência acabam quando a gota acorda para o embate com a solidez. Somos abóbada celestial, o grande mistério de cima, feitos dilúvio em direcção à Terra. Que tal? Nada mau, hein?! João Luz
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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 37
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Todos os anos, a Bishwa Ijtema, o evento de oração anual que decorre ao longo de três dias, junta milhões de muçulmanos nas margens do Rio Turag, nos arredores de Dhaka no Bangladesh.
S U D O K U
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EXPOSIÇÃO “MACAU CANIDROME-POUCHING TSAI SOLO EXHIBITION” Armazém do Boi | Até 11/2
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ABÓBADA LÍQUIDA
INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO “DIVINE BEASTS – PAPER ARTS BY BENSON LAM” Fundação Rui Cunha | Das 18h30 às 20h30
EXPOSIÇÃO “GAME – GIGI LEE’S MULTIMEDIA” Armazém do Boi | Até 16/2
YUAN
VIDA DE CÃO
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KAPUSCINSKI, A HISTÓRIA DO GRANDE REPÓRTER DO SÉCULO XX | ARTUR DOMOSLAWSKI | 2019
18 opinião
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A 25.ª Conferência
A
“Pour ce qui est de l’avenir, il ne s’agit pas de le prévoir, mais de le rendre possible.” Antoine de Saint Exupéry, Citadelle, 1948
“24.ª Conferência Internacional do Clima (COP24)” que se realizou em Katowice, Polónia, de 2 a 14 de Dezembro de 2018, foi uma grande conquista na resposta multilateral às mudanças climáticas, tendo mais de cento e noventa países, conseguido chegar a acordo sobre quase todos os elementos de um livro de regras abrangente que coloca “carne no esqueleto” do “Acordo de Paris” de 2015. As regras exigem, pela primeira vez, que todos os países forneçam informações detalhadas sobre as suas metas de mitigação das mudanças climáticas e relatem regularmente os seus progressos em implementá-las e alcançá-las. Todavia, ainda falta um capítulo importante que é as regras para os mercados internacionais de carbono discutidas no artigo 6 do “Acordo de Paris”. As visões conflituantes sobre como evitar a “dupla contagem”, contando a mesma redução de emissão mais de uma vez para atingir as metas de mitigação climática, foram um grande obstáculo ao consenso. A conclusão do capítulo ausente do artigo 6 era uma das tarefas principais para os países resolverem na “25.ª Conferência Internacional do Clima (COP25)”, sob a Presidência do Chile e que se realizou em Madrid entre 2 e 15 de Dezembro de 2019. A resolução da contagem dupla é fundamental para alcançar os objectivos do “Acordo de Paris” e estão identificados os ingredientes essenciais para que fosse atingido um resultado robusto que garantisse a eficácia ambiental e facilitasse a mitigação económica. A COP25 teve um começo difícil, quando o presidente do Chile, anunciou no final de Outubro que o seu país não podia mais sediar o evento dado as “circunstâncias difíceis”, como os violentos protestos contra o governo na capital do país. Faltando apenas um mês para o evento a Espanha interveio e concordou em realizar o evento em Madrid. O Chile manteve a presidência, com o evento renomeado como “COP25 Chile-Madrid”. Apesar dessa mudança de local de última hora, o evento ocorreu da mesma forma que as anteriores COPs, caracterizadas por debates prolongados e sessões nocturnas nas quais os negociadores e ministros discutiam textos cheios de jargões. No início da reunião, a presidente da COP25 e secretária chilena do meio ambiente, afirmou que a conferência “devia mudar o curso das acções
e ambições climáticas”. O secretário-geral da ONU, na primeira das várias intervenções, perguntou aos participantes se “realmente queriam ser lembrados como a geração que enterrou a cabeça na areia?” A COP25, tornou-se a mais longa já registada quando foi concluída, depois do almoço do dia 15 de Dezembro de 2019, após mais de duas semanas de negociações difíceis. Estava programada para terminar na no dia 13 de Dezembro de 2019 e cerca de vinte e sete mil delegados iniciaram os trabalhos com o objectivo de finalizar o “livro de regras” do “Acordo de Paris”, que é o manual operacional necessário quando entrar em vigor em 2020, que estabelece regras para os mercados de carbono e outras formas de cooperação internacional nos termos do dito Artigo 6. Os delegados também esperavam enviar uma mensagem de intenção, sinalizando ao mundo que o processo climático da ONU permanece vivo e relevante, e que reconhece a enorme lacuna entre o progresso actual e as metas globais para limitar o aquecimento. Tal desconexão foi destacada por uma enorme marcha de protesto no coração da capital espanhola com a presença de Greta Thunberg. As negociações não conseguiram chegar a um consenso em muitas áreas, levando as decisões a serem adiadas para 2020 sob a “Regra 16” do processo climático da ONU. Os assuntos como o do Artigo 6, requisitos do relatório para transparência e “prazos comuns” para compromissos climáticos serão transpostos igualmente para 2020, quando os países aumentarem a ambição dos seus esforços. O secretário-geral da ONU mostrou-se “decepcionado” com os resultados da COP25 e “a comunidade internacional perdeu uma importante oportunidade de mostrar uma maior ambição em mitigação, adaptação e financiamento para enfrentar a crise climática”. Ainda que nunca se esperasse que os principais emissores do mundo anunciassem promessas climáticas novas na COP25, havia a esperança de que pudessem enviar colectivamente uma forte mensagem de intenção para 2020. No entanto, as negociações rapidamente ficaram atoladas em questões técnicas, como as regras para os mecanismos de mercado de carbono, que esperam por uma conclusão há anos. Havia um sentimento crescente entre muitos participantes de uma desconexão entre esses processos lentos e impenetráveis da ONU e a acção exigida por manifestantes em todo o mundo, pois segundo a Greenpeace o “novo momento” proporcionado pelo crescente movimento global do clima, ainda estava para penetrar nos “salões do poder” e nos vinte e cincos anos de realização das COP nunca houve uma tão grande diferença entre o interior e exterior das COP. Quando Greta Thunberg, a adolescente sueca que tem sido usada por políticos e industriais e que desconhece tecnicamente o que se passa com as mudanças climáticas chegou a esses salões de poder, após uma viagem transatlântica de vela, foi instan-
taneamente a figura de destaque no centro do circo da média da COP25 e no final da primeira semana, a jovem sueca uniu-se a uma marcha pelo centro de Madrid que, segundo os organizadores, atraiu meio milhão de pessoas, ainda que a polícia tenha oferecido, uma estimativa muito mais modesta de quinze mil pessoas. A frase mais comum dos manifestantes e observadores foi a discrepância entre o ritmo lento das negociações e a urgência sugerida pela ciência mais recente. O relatório de 26 de Novembro de 2019, “Meta climática 1.5.ºC” está fora do alcance do “Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA na sigla inglesa) ” e mostra que a meta de 1,5.ºC do “Acordo de Paris” está mais longínqua de atingir, mesmo se as promessas climáticas existen-
tes como as “Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs na sigla inglesa)” dos países forem cumpridas. As emissões em 2030 serão 38 por cento mais altas do que o necessário para atingir essa meta. Este ponto foi enfatizado por um novo relatório do “Projecto Global de Carbono (GCP na sigla inglesa) que integra o conhecimento de gases de efeito estufa para actividades humanas e o sistema da Terra. O GCP, alguns dias depois, mostrou que as emissões de combustíveis fósseis e da indústria devem continuar a aumentar em 2019 e 2020. A aparente desconexão foi destacada ainda mais pelo idioma usado para descrever os relatórios mais recentes do “Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla inglesa)”, o primeiro dos quais teve como
opinião 19
segunda-feira 13.1.2020
perspectivas
Internacional do Clima (I)
tema a “Terra”, publicado a 8 de Agosto de 2019 e o segundo sobre o “Oceano e a Criosfera”, publicado a 25 de Setembro de 2019. Os relatórios foram apenas “citados”, em oposição a “bem-vindos”, no texto final do “Projecto de Conclusões” proposto pelo Presidente da Cimeira, a 7 de Dezembro de 2019, embora também “expressassem a sua gratidão” aos cientistas que realizaram o trabalho (Na cúpula da COP24 de 2018, a recusa dos Estados Unidos, Arábia Saudita, Rússia e Kuwait em linguagem de “boas-vindas” ao relatório do IPCC 1.5.ºC foi uma fonte de tensão significativa.). Houve iniciativas para aumentar a ambição de alguns actores não estatais na COP25, com, por exemplo, cento e setenta e sete empresas comprometeram-se a reduzir as emissões de acordo com a meta de 1,5.°C
como parte da “Aliança da Ambição pelo Clima” e tal aconteceu depois de um grupo de quatrocentos e setenta e sete investidores, que controlam trinta e quatro triliões de dólares em activos, pedirem aos líderes mundiais que actualizassem os seus NDCs e aumentassem a sua ambição. Pela localização do Chile, um país com cerca de seis mil quilómetros de costa, a liderança apelidou o evento de “COP azul”, estabelecendo a sua intenção de dar atenção aos oceanos. O relatório “Os Impactos Esperados das Mudanças Climáticas sobre a Economia Oceânica”, divulgado na primeira semana da COP25 pelo “Painel de Alto Nível para uma Economia Oceânica Sustentável”, que é um grupo único de líderes mundiais de todo o mundo empenhado em desenvolver, catalisar e apoiar soluções para a saúde e riqueza dos oceanos nas políticas, governança, tecnologia e finanças, trouxe “um forte lembrete das sérias consequências económicas das mudanças climáticas para as indústrias oceânicas. Ainda que a maior atenção da COP25 tenha sido focada nas negociações tensas e necessitasse de enviar um sinal claro aos países para aumentar a sua ambição climática, o presidente da Cimeira anunciou a 12 de Dezembro de 2019, que trinta e nove países se comprometeram a incluir os oceanos nas suas futuras NDCs. É de considerar que um dos textos finais da decisão também solicitou a convocação de um “diálogo” na próxima reunião do processo climático da ONU em Bona, em Junho de 2020 sobre o oceano e as mudanças climáticas para considerar como fortalecimento das acções de mitigação e adaptação. Foi solicitado igualmente, um diálogo semelhante para a COP 26 que se realizará em Glasgow, de 9 a 19 de Novembro de 2020, sob a presidência do governo do Reino Unido, sobre a relação entre questões relacionadas à adaptação à “Terra” e as mudanças climáticas”, depois de o Brasil ter afastado as suas objecções no último minuto. O Chile, desde o início afirmou que se tratava de uma “ambição COP25”, reflectindo a lacuna significativa entre as promessas actuais e o que seria necessário para cumprir as metas globais de temperatura. A “hashtag #TimeForAction” foi estampada no centro de conferências e a presidência lançou uma “Aliança da Ambição pelo Clima ” para acelerar o progresso em direcção às metas de Paris, tendo o Secretário-Geral da ONU enfatizado no seu discurso de abertura da conferência, apelando às partes “para avançar no próximo ano”, acrescentando que “os maiores emissores do mundo precisam de fazer muito mais”. Nos termos do “Acordo de Paris”, todas as partes comprometeram-se não apenas a enviar NDCs para reduzir as emissões, mas também para comunicar ou actualizar as suas promessas até ao final de 2020. Além disso, as NDCs sucessivas devem representar uma progressão e reflectir a ambição mais alta possível de cada país
e conjuntamente com as avaliações quinquenais acerca do progresso, essas rondas regulares de novas NDCs estão no centro do mecanismo de catraca de aumento de ambição no “Acordo de Paris”, projectado para aumentar a ambição ao longo do tempo. Todavia, para a maioria das NDCs, que já cobrem o período até 2030, o texto de Paris não exige explicitamente que novos compromissos sejam apresentados no próximo ano, podendo as partes simplesmente (re) comunicar a mesma oferta que fizeram em 2015 ou 2016. Dado que as NDCs actuais não estão perto o suficiente para limitar o aquecimento a 1,5.°C, houve esforços nas sucessivas COPs para concordar com o texto pedindo uma maior ambição de todas as partes. Na COP24, algumas partes tentaram, mas finalmente não conseguiram inserir uma linguagem forte para aumentar a ambição, e com a COP25 sendo a cúpula final antes que termine o prazo final de 2020, foi vista por muitos como uma última oportunidade de garantir maior ambição. É de recordar que a ambição não estava oficialmente na agenda da COP25, mas que muitos viam como essencial enviar uma mensagem clara ao mundo e na primeira semana, a presidência chilena iniciou consultas sobre um conjunto de textos que, colectivamente, deveriam transmitir essa mensagem, e designados por “Decisão 1/CP.25”, “Decisão 1/CMA.2” e “Decisão 1/CMP.15”. Os países terão que anunciar contribuições mais ambiciosas em 2020, que é o ano em que todos se comprometeram a anunciar estratégias coesas a longo prazo para alcançar a neutralidade climática até 2050. Actualmente, apenas oitenta países, principalmente os países pequenos e em desenvolvimento, declararam a sua intenção de melhorar as suas NDCs até 2020, representando apenas 10,5 por cento das emissões mundiais. Todos os maiores emissores estão ausentes dessa lista e embora o Chile tenha adiado os seus planos para melhorar a sua NDC na COP25, alguns sinais promissores surgiram ao longo da conferência, principalmente o da União Europeia (UE). Os chefes de Estado e de Governo da UE, reuniram-se nos dias 12 e 13 de Dezembro de 2019, em Bruxelas e concordaram tornar o bloco “neutro em termos climáticos” até 2050. Apesar da resistência da Polónia, a Comissão Europeia revelou um “ Acordo Verde Europeu”, que, se for lei, comprometerá pelo menos 25 por cento do orçamento de longo prazo da UE à acção climática, tendo a Presidente da Comissão Europeia descrito como um momento tipo “homem na lua” da Europa. O acordo também inclui um cronograma proposto para aumentar a meta de NDC da UE para 2030, desde o seu actual objectivo de reduzir as emissões para pelo menos 40 por cento abaixo dos níveis de 1990, até uma meta mais alta de pelo menos 50 por cento e 55 por cento. No entanto, havia uma preocupação expressa por ONGs na COP25
JORGE RODRIGUES SIMÃO
de que essa promessa deve ser assinada com bastante antecedência antes da “Cimeira UE-China” em Leipzig, em Setembro de 2020, argumentando que é necessário tempo diplomático suficiente e, portanto, alavancar o uso da NDC aprimorada para convencer a China a melhorar a sua promessa climática e para manter esse cronograma, a nova meta deve passar por uma avaliação formal de impacto até o final da primavera de 2020.
Os delegados também esperavam enviar uma mensagem de intenção, sinalizando ao mundo que o processo climático da ONU permanece vivo e relevante, e que reconhece a enorme lacuna entre o progresso actual e as metas globais para limitar o aquecimento As ONGs temem que não haverá tempo suficiente para na reunião de Leipzig pressionar a China a aumentar a sua oferta e com emissores importantes, como os Estados Unidos, Austrália e o Brasil, a demonstrar hostilidade em relação à acção climática internacional, depende muito da China e da UE, actuando como uma só para manter a dinâmica do “Acordo de Paris”. É de recordar que outro momento de optimismo na COP 25 ocorreu quando o parlamento dinamarquês adoptou uma nova lei climática, que estabelece uma meta juridicamente vinculativa de reduzir as emissões para 70 por cento abaixo dos níveis de 1990 até 2030. No entanto, uma falta geral de progresso nas negociações levou a tensões ferventes no centro de conferências da COP25, com o “texto da ambição” no centro da tempestade. Em parte, essa tensão reflectiu diferentes interpretações da palavra “ambição”. Muitos países desenvolvidos e estados vulneráveis encararam a “ambição” principalmente como um meio de aumentar os esforços para reduzir as emissões após 2020, de modo a fechar a lacuna no cumprimento das metas climáticas. A Índia e países seus parceiros no “Grupo de países em desenvolvimento com pensamento alinhado (LMDCs na sigla inglesa)”, defenderam uma interpretação mais ampla que também cobria a prometida provisão de financiamento climático, bem como esforços para aumentar a adaptação e criar capacidade nos países mais pobres. Esses países pediram uma atenção particular no fracasso de muitos países desenvolvidos em cumprir as suas promessas climáticas no período pré-2020, argumentando que foi esse fracasso que deixou o mundo tão longe de cumprir o seu objectivo de evitar o aquecimento perigoso.
“O punk sempre foi decepcionante! E sempre será. Sempre.” Johnny Rotten
FILIPINAS MILHARES DESLOCADOS DEVIDO A ERUPÇÃO DE VULCÃO PERTO DE MANILA
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ILHARES de pessoas foram ontem deslocadas de várias cidades depois de as autoridades das Filipinas terem elevado o alerta devido ao aumento da actividade do vulcão Taal, situado numa ilha próxima de Manila. O Instituto de Vulcanologia e Sismologia das Filipinas subiu ontem o alerta do nível 1 para 3, numa escala de cinco, depois de ter detectado um aumento da actividade na cratera e que gerou uma erupção de fumo de um quilómetro de altura. As autoridades colocaram igualmente em marcha a evacuação dos municípios de San Nicolás, Balete e Talisay, próximas do vulcão situado a 65 quilómetros a sul de Manila, confirmou o porta-voz do Conselho Nacional de Redução de Risco de Desastres, Mark Timbal. Por seu turno, o Aeroporto Internacional NinoyAquino de Manila, situado a sul da capital, anunciou às 18h27 locais a suspensão de todos os voos, tanto chegadas como partidas, devido à erupção do vulcão, de cuja cratera sai uma enorme coluna de fumo e cinza. De acordo com dados de 2017, a população destes três municípios situava-se entre os 6.000 e os 10.000 habitantes. A Cruz Vermelha das Filipinas já se deslocou para a zona para ajudar com os trabalhos de evacuação das cidades. O Departamento de Saúde advertiu que a exposição à cinza pode causar problemas de saúde, pelo que recomendou que os habitantes das zonas afectadas evitem estar ao ar livre e que, caso o façam, usem máscaras e óculos. Milhares de turistas visitam todos os anos o vulcão Taal e alguns realizam excursões à sua cratera, parcialmente inundada e na qual é fácil de ver pequenas fumarolas. O vulcão, que matou 1.300 pessoas em 1911 e 200 em 1965, faz parte de uma cadeia vulcânica que se estende pela região ocidental da ilha de Luzon.
Guerra na paz Liga Árabe congratula-se com cessar-fogo na Líbia mas já houve violações
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L i g a Árabe congratulou-se com o cessar-fogo entre o Exército Nacional da Líbia e o Governo de Acordo Nacional, que entrou em vigor ontem de manhã, apesar de ter havido relatos imediatos de violações de ambos os lados. Em declarações à imprensa a partir da sua sede, no Cairo, um representante da Liga Árabe exortou todas as partes da Líbia a respeitar o cessar-fogo e a mostrar “boas intenções e respeito em relação aos esforços” para resolver o conflito. O marechal Jalifa Hafter, comandante do Exército Nacional Líbio (LNA) e ‘homem forte’ no leste da Líbia, aceitou no sábado o cessar-fogo proposto pela Turquia (defensora do Governo de Acordo Nacional - GNA) e pela Rússia, que apoia os militares. O líder do Governo reconhecido pela ONU, Fayez al Serraj, aceitou o acordo, colocando apenas como condição que Hafter retirasse as tropas que cercavam Trípoli, e saudou “as iniciativas da Rússia e da Turquia para declarar o cessar-fogo”. Segundo avançou ontem o Ministério da Defesa turco, o cessar-fogo está a ser cumpri-
do desde a sua entrada em vigor, à meia-noite. “A situação está calma, com excepção de dois incidentes individuais”, afirmou a organização, em comunicado. Ancara e Doha apoiam o Governo de Trípoli, enquanto Hafter recebe apoio político, militar e económico da Arábia Saudita, Egipto, França, Rússia e Emirados Árabes Unidos. As hostilidades intensificaram-se em 2 de Janeiro, quando o LNA empreendeu uma operação quebrando as defesas da cidade estratégica de Sirte e colocando tropas a 100 quilómetros de Misrata, último muro de defesa da capital. A trégua, proposta pela Rússia e pela Turquia, é a primeira interrupção dos combates desde há meses, sendo, pela primeira vez, intermediada por actores internacionais.
O cessar-fogo surge numa altura em que a Líbia estava à beira de uma grande escalada do conflito, já que os apoiantes estrangeiros dos governos líbios rivais estavam a intensificar o seu envolvimento no conflito de um país que é rico em petróleo. O acordo foi conseguido, mas ainda se mantêm intensas negociações diplomáticas para encontrar uma solução política para a guerra da Líbia, que paralisa o país há mais de sete anos. A guerra obrigou à deslocação de centenas de milhares de pessoas e deixou mais de um milhão a sobreviver graças a ajuda humanitária, segundo as Nações Unidas. As Nações Unidas e as potências europeias, juntamente com os aliados da Líbia na região, pediram a realização de uma cimeira de paz, a realizar em Berlim no início deste ano, que reúna os líderes dos governos rivais e discuta a possibilidade de fazer eleições nacionais. Mas os conflitos no terreno continuam a ser difíceis de travar. O governo apoiado pela ONU queixou-se já de ter registado “violações do cessar-fogo minutos depois” da entrada em vigor do acordo, às primeiras horas de ontem, embora sem especificar que tipo de violações.
AUSTRÁLIA BOMBEIRO ELEVA PARA 27 NÚMERO DE MORTOS DOS INCÊNDIOS
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M bombeiro de 60 anos morreu no sábado no combate a um incêndio no sudeste da Austrália, elevando para 27 o número de pessoas mortas desde o início dos gigantescos fogos no país. O homem morreu ao ser atingido por uma árvore “quando trabalhava num incêndio nos arredores de Omeo”, declarou o chefe dos bombeiros dos serviços florestais do estado de Victoria, Chris Hardman. Em declarações à cadeia de televisão australiana ABC, o primeiro-ministro, fortemente criticado pela gestão da crise, declarou ser necessário criar uma comissão de inquérito sobre os incêndios. Scott Morrison reconheceu
o desespero da população perante os fogos, que já destruíram uma zona do tamanho da Coreia do Sul ou de Portugal e voltaram a deixar ontem Sydney coberta de fumo. “Nos próximos anos, vamos continuar a desenvolver a nossa política neste domínio para reduzir ainda mais as emissões [de gases com efeito de estufa], o que faremos sem aumentar os preços da electricidade e sem fechar as indústrias tradicionais” de carvão, declarou. O ano de 2019 foi o mais quente e o mais seco na Austrália desde que existem dados. O dia de 18 de dezembro último foi o mais quente de sempre, com uma média nacional de temperaturas máximas de 41,9 graus.
PALAVRA DO DIA
segunda-feira 13.1.2020
ESPANHA PROTESTO DO VOX EM VÁRIAS CIDADES SOB VIGILÂNCIA POLICIAL E INSULTOS
O
protesto nacionalista convocado pelo partido de extrema-direita Vox reuniu ontem em diversas cidades de Espanha várias centenas de pessoas, manifestações que decorreram sob vigilância policial, mas também sob insultos e vaias de grupos antifascistas. Madrid, Barcelona, Pamplona e Sevilha foram algumas das cidades espanholas em que ocorreram estas manifestações convocadas pelo Vox, sob o lema “Espanha existe”. O partido de extrema-direita, que se tornou nas últimas eleições em Espanha (Novembro de 2019) a terceira força política no país com a eleição de 52 deputados, pretendia que os espanhóis se concentrassem ontem junto das câmaras municipais para reclamarem “um Governo que respeite a Constituição e a soberania” e para protestarem contra a formação do executivo PSOE (socialistas) - Unidas Podemos (esquerda), em colaboração com a ERC (Esquerda Republicana da Catalunha). Em Pamplona, no País Basco, uma centena de pessoas concentrou-se em frente à câmara municipal, exibindo bandeiras de Espanha e cartazes com frases contra o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e o primeiro-ministro, Pedro Sánchez. Durante a acção, os participantes deram “vivas” a Espanha, à Guarda Civil, à Polícia Nacional e ao Exército, bem como entoaram palavras de ordem em defesa da liberdade e da Constituição, segundo relatou a agência espanhola EFE. No decorrer da acção nacionalista, um grupo de jovens do coletivo Euskal Herria Antifaxista aproximou-se do local e começou a trocar insultos com os apoiantes do Vox, entre os quais estavam alguns dirigentes locais do partido de extrema-direita. Agentes da unidade anti-motim da Polícia Nacional conseguiram criar uma barreira entre os dois grupos rivais, que ficaram separados a uma distância de poucos metros, mas não conseguiram impedir a troca de insultos e de vaias.