DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
SEGUNDA-FEIRA 14 DE OUTUBRO DE 2019 • ANO XIX • Nº 4390
MOP$10
SÍRIA
ENTRAR A MATAR
hojemacau
TOYAN NENOV/REUTERS
GRANDE PLANO
Secretário em Lisboa DELACROIX
PÁGINA 4
A polémica instalou-se na Universidade de Macau. De um lado, alunos do interior da China que se queixam de um professor que, dizem, não respeita os limites da liberdade académica. Do outro, alunos locais que contestam o caso e
OPINIÃO
OPRESSOR OPRIMIDO
falam de um choque cultural. “Em Macau temos liberdade para navegar na internet. No Interior, não”. Sulu Sou já se pronunciou sobre a polémica e diz ser “uma vergonha usar a liberdade de expressão para tentar acabar com ela.”
JOÃO LUZ
Apelos a Portugal GONÇALO LOBO PINHEIRO
PÁGINA 6
SAFP
A SAÚDE DA ATFPM PÁGINA 5
FRONTEIRA
Aqui não passarão PÁGINA 9
PÁGINA 7 ANAQUIM
HONG KONG
ANAQUIM | À PROCURA DA SURPRESA EVENTOS
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Prós e contras
ECONOMIA
2 grande plano
14.10.2019 segunda-feira
MÉDIO ORIENTE
JUNTAR GASOLINA
“O
S nossos aliados garantiram-nos a sua protecção, mas, de repente abandonaram-nos com a decisão injusta de retirar as suas tropas da fronteira turca”, disseram em comunicado no sábado as Forças Democráticas da Síria (FDS), a principal força do Curdistão Sírio que combateu o Estado Islâmico. Este mesmo argumento está a ser usado contra o Governo de Donald Trump, por vários países da comunidade internacional, bem como pelas forças políticas nos Estados Unidos, incluindo o próprio Partido Republicano, que apoia o Presidente norte-americano. Mais de 130.000 pessoas deixaram as suas casas nas cidades de Tal Abyad e Ras al-Ain, desde que a ofensiva turca começou no nordeste da Síria, na quarta-feira, informou ontem a ONU (Organização das Nações Unidas). De acordo com o escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), alguns deles foram recebidos pelos seus familiares noutros outros locais, mas mui-
tos refugiaram-se em escolas ou abrigos em cidades como Tal Amr, Hasakeh ou Raqa. Segundo o escritório humanitário da ONU, cerca de 400.000 pessoas na área podem precisar de assistência e protecção nos próximos dias. As Nações Unidas alertaram também que os hospitais públicos e privados de Ras al-Ain e Tal Abyad fecharam na sexta-feira e que mais de 400.000 pessoas ficaram sem abastecimento de água em Hasakeh, incluindo 82.000 residentes dos campos de refugiados de Al-Hol e Areesha. Ontem, perto de Tal Abyad, registaram-se "violentos combates" em Suluk, onde as forças turcas conquistaram alguns "sectores", referiu o Observatório dos Direitos Humanos (OSDH). Os ataques aéreos turcos também atingem esta área. Um oficial das FDS confirmou o conflito. "Os turcos estão a tentar assumir o controlo, mas há confrontos violentos com nossas forças", disse o oficial. Noutra frente, em Ras al-Ain, as forças curdas fizeram recuar os militares turcos e os seus apoiantes, segundo o OSDH. "A luta
AFP
TOYAN NENOV/REUTERS
Após a retirada abrupta das forças norte-americanas do norte da Síria, Erdogan aproveitou a passadeira vermelha para entrar a matar em território detido por forças curdas, recém-aliadas dos Estados Unidos na luta contra o Estado Islâmico. Depois da retirada, Trump anunciou o envio de 50 milhões de dólares para estabilizar a região e proteger minorias étnicas perseguidas
OFENSIVA TURCA APROFUNDA CRISE HUMANITÁRIA NA SÍRIA
continua nos arredores ocidentais de Ras al-Ain". Durante a noite, 17 manifestantes foram mortos em Ras al-Ain ou por atiradores das forças curdas, como quatro combatentes do FDS, segundo o Observatório. Desde quarta-feira,
Mais de 130.000 pessoas deixaram as suas casas nas cidades de Tal Abyad e Ras al-Ain, desde que a ofensiva turca começou no nordeste da Síria, na quarta-feira
85 combatentes curdos e 38 civis foram mortos, segundo o último balanço do OSDH. No sábado, Ancara anunciou que tinha conquistado Ras al-Ain, mas o FDS e o OSDH negaram. O Ministério da Defesa turco escreveu, na sua página da rede social Twitter, que a cidade de Ras al Ain foi tomada, “como resultado de acções bem-sucedidas na operação Fonte da Paz”. O Ministério turco acrescentou ainda que assumiu o controlo de uma estrada entre Qamishli e Manbech, duas das mais importantes cidades do nordeste da Síria, uma via que cobre cerca de 500 quilómetros ao longo da fronteira que Ancara aspira controlar para
criar uma “zona segura”, livre de milícias curdas. "As forças turcas e os apoiantes de Ancara recuaram em várias áreas onde avançaram no dia anterior", disse um integrante das FDS. Outro oficial das FDS, estacionado em Ras al-Ain, também relatou a retirada das forças turcas. As FDS usaram "túneis subterrâneos" para apanhar os agressores de surpresa. Outras organizações internacionais alertaram sobre uma nova tragédia humanitária na Síria.
DAR E TIRAR
No sábado, Donald Trump anunciou que os Estados Unidos vão enviar 50 milhões de dólares para assistência à estabilização da Síria.
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segunda-feira 14.10.2019
AO FOGO
emergência realizada na sede da Liga Árabe, no Cairo, os ministros analisaram, entre outras medidas, "reduzir as relações diplomáticas, suspender a cooperação militar e rever as relações económicas, culturais e turísticas" com a Turquia. Alguns países, como o Egipto, Arábia Saudita e outras monarquias do Golfo Pérsico, já tinham relações muito tensas com o Governo do Presidente turco Recep Tayyip Erdogan, de tendência islâmica e aliado do grupo da Irmandade Muçulmana, considerada terrorista pelo Cairo. Os ministros consideraram que a ofensiva de Ancara representa "uma ameaça directa à segurança nacional dos países árabes e internacional" e "contraria as normas internacionais". Por isso, pediram à Turquia que pare com a "agressão" e "se retire imediata e incondicionalmente de todos os territórios sírios", enquanto consideraram "legítimos" os esforços da Síria para responder ao ataque turco. A Liga Árabe também manifestou "firme rejeição a qualquer tentativa turca de impor mudanças demográficas na Síria através da força dentro da estrutura da chamada zona de segurança", referindo-se à ampla faixa de fronteira entre os dois países, que a Turquia deseja controlar para prevenir a criação de uma região autónoma curda.
LISBOA PREOCUPADA
De acordo com a assessoria de comunicação da Casa Branca, o dinheiro tem como objectivo proteger minorias étnicas e religiosas e promover os direitos humanos. “Este fundo irá providenciar assistência financeira de emergência aos defensores dos direitos humanos sírios, a organizações da sociedade civil e ao apoio às minorias étnicas e religiosas vítimas deste conflito”, lê-se no comunicado da Casa Branca. “Esperamos que os nossos parceiros regionais e internacionais continuem também as suas contribuições. Garantir a liberdade e segurança das minorias religiosas e étnicas continua a ser uma prioridade deste Administração”, é acrescentado.
Algumas horas depois do anúncio do envio de fundos, Trump publicou no Twitter a seguinte mensagem: “As guerras sem fim têm de acabar”.
“A Turquia luta contra os curdos, é o que a Turquia faz. Nós gastámos muito dinheiro com os curdos, mas está na hora de irmos para casa.” DONALD TRUMP PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS
Em entrevista à Fox News, o Presidente americano referiu que tomará uma atitude se “a Turquia ultrapassar os limites”. “A Turquia luta contra os curdos, é o que a Turquia faz. Nós gastámos muito dinheiro com os curdos, mas está na hora de irmos para casa”, declarou Donald Trump no mesmo dia em que anunciou o envio de tropas e armas para a Arábia Saudita. Entretanto, os chefes das diplomacias dos Estados-membros da Liga Árabe adoptaram no sábado "medidas urgentes" contra o que chamam de "agressão turca" contra o nordeste da Síria. De acordo com o comunicado, divulgado no final da reunião de
O Governo português referiu estar a acompanhar com “muita preocupação” a ofensiva militar da Turquia no nordeste da Síria, que considera poder comprometer “objectivos prioritários” da coligação internacional contra o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI). “O Governo português acompanha com muita preocupação a operação militar lançada pela Turquia no nordeste da Síria, muito em particular as suas consequências sobre a população na região”, refere em comunicado o ministério dos Negócios Estrangeiros. No texto, o Governo considera que iniciativas militares unilaterais “com resultados potencialmente desastrosos” podem comprometer uma solução política sustentável da Síria e “desestabilizam ainda mais o frágil processo político” liderado pelas Nações Unidas e pelo enviado especial do secretário-geral da ONU. “Portugal considera que a presente ofensiva pode seriamente pôr em causa objectivos prioritários da comunidade internacional e da coligação Internacional contra o Daesh [acrónimo em árabe do EI], nomeadamente a luta contra grupos terroristas que ainda operam no território sírio, para além de ameaçar a segurança dos parceiros locais da coligação global que foram fundamentais para a derrota do Estado Islâmico”, sublinha o comunicado. O Governo português conclui com um apelo a Ancara para que
contribua de “forma construtiva” num processo político negociado e liderado pela ONU.
NEGOCIAR MORTE
Numa perspectiva alargada, a possibilidade de aplicação de sanções europeias contra a Turquia vai ser debatida no Conselho Europeu desta semana, disse o governo francês. A secretária de Estado francesa para os Assuntos Europeus, Amélie Montchalin, disse que a “questão está sobre a mesa”, quando questionada sobre a ofensiva de Acara contra as forças curdas, aliadas do “Ocidente” na luta contra os radicais islâmicos. Entretanto, a Alemanha decidiu embargar a entrega à Turquia de armas que "possam ser usadas no nordeste da Síria" contra as milícias curdas, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas. “No contexto da ofensiva militar turca no nordeste da Síria, o Governo não concederá nenhuma nova licença (de venda) para qualquer equipamento militar que possa ser usado na Síria pela Turquia”, disse no sábado o chefe da diplomacia alemã, numa declaração divulgada pelo jornal diário Bild.
“A ofensiva pode seriamente pôr em causa objectivos prioritários da comunidade internacional, para além de ameaçar a segurança dos parceiros locais da coligação global que foram fundamentais para a derrota do Estado Islâmico.” MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS PORTUGUÊS
Heiko Maas não disse qual a tipologia de equipamento militar que fica a partir de agora interdito à Turquia, nem quantificou a dimensão e duração do embargo. Em 2018, a entrega de armas à Turquia representou (com 242,8 milhões de euros) quase um terço das exportações alemãs de armas de guerra (770 milhões de euros). Nos primeiros quatro meses de 2019, as vendas de armas para as Forças Armadas turcas totalizaram 184 milhões de euros, tornando a Turquia o mais importante cliente da NATO de armamento alemão. João Luz (com agências info@hojemacau.com.mo
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14.10.2019 segunda-feira
ECONOMIA LIONEL LEONG REUNIU COM GOVERNANTES PORTUGUESES E AICEP
As pontes em movimento GCS
O secretário para a Economia e Finanças de Macau, Lionel Leong, está em Portugal onde reuniu com o seu homólogo, o ministro da Economia Pedro Siza Vieira, e com Eurico Brilhante Dias, secretário de Estado da Internacionalização, entre outras figuras e entidades. Dos encontros, saiu a vontade de cooperar mais na área do empreendedorismo juvenil e do comércio electrónico transfronteiriço
De acordo com os participantes no encontro, existe já um centro de informações sobre a legislação portuguesa para apoiar sociedades chinesas e de Macau interessadas em entrar no mercado português, que poderá ser alargado ao Brasil. O secretário para a Economia e Finanças de Macau esteve ainda reunido com o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e com a administradora da Euronext Lisbon, Isabel Ucha.
VISITA À AICEP
Além de reunir com dirigentes do Ministério da Economia, o secretário para a Economia e Finanças realizou ainda uma visita à Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), “tendo as duas partes trocado opiniões em matérias de reforço de cooperação na área de investimento entre Macau e Portugal e de exploração de indústria com elevado valor acrescentado”, aponta outra nota oficial.
“A plataforma sino-lusófona de Macau desempenha um papel importante no desenvolvimento da Grande Baía (...) através de três trajectórias de cooperação económica e comercial.” LIONEL LEONG SECRETÁRIO PARA A ECONOMIA E FINANÇAS
L
IONEL Leong, secretário para a Economia e Finanças, está em Portugal para uma série de encontros com dirigentes políticos. De acordo com um comunicado oficial, o secretário reuniu com o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, e com o secretário de Estado da Internacionalização da República Portuguesa, Eurico Brilhante Dias, encontros esses que serviram para debater “o intercâmbio e a cooperação nas áreas do empreendedorismo juvenil, convenções e exposições, comércio electrónico transfronteiriço e formação de talentos financeiros”. Na reunião com o ministro da Economia, o secretário destacou o projecto da Grande Baía Guan-
dong-Hong Kong-Macau, tendo sugerido que Macau e Portugal “possam reforçar a cooperação nas áreas do empreendedorismo juvenil e de convenções e exposições”. Já o ministro da Economia referiu que “tem sempre prestado atenção ao desenvolvimento social de Macau e ao extraordinário desenvolvimento de Macau nos últimos vinte anos, concordando que existe grande espaço de cooperação entre Portugal e Macau”. No que diz respeito ao encontro com o secretário de Estado Eurico Brilhante Dias, Lionel Leong apresentou os trabalhos preparatórios da 6ª Conferência Ministerial do Fórum Macau, “apoiada pelas empresas estatais chinesas”, e que terá lugar este ano.
Já Eurico Brilhante Dias destacou o facto de “terem sido realizados debates profundos em matérias de cooperação de comércio electrónico transfronteiriço, tendo reconhecido que a margem de cooperação neste âmbito é bastante grande”. Nesse sentido, “Portugal e Macau irão iniciar os estudos da cooperação nesta matéria”. Na quinta-feira, Lionel Leong reuniu com mais de uma dezena de representantes de empresas chinesas, de Macau e de Portugal que investem na ERAM. Deste encontro saiu ainda a ideia de que Macau pretende ajudar empresas chinesas e locais a investir na União Europeia, na América Latina e em África através dos países lusófonos.
“A plataforma sino-lusófona de Macau desempenha um papel importante no desenvolvimento da Grande Baía (...) através de três trajectórias de cooperação económica e comercial”, sendo a primeira da China para Portugal, através da plataforma de Macau, e entrada na UE, explicou. A segunda trajectória desenvolve-se da China para o Brasil, para investir na América Latina, enquanto a terceira da China para Moçambique e Angola, para entrar em África, acrescentou Lionel Leong. Por outro lado, os empresários defenderam um mecanismo de “consultadoria e avaliação” para ajudar empresas chinesas a instalarem-se nos países lusófonos e para promover a entrada de firmas portuguesas na China.
A viagem de Lionel Leong a Portugal ficou ainda marcada por um encontro com Cai Run, embaixador da China no país. Ambos chegaram à conclusão de que é necessário “acelerar e promover, de forma pragmática, a cooperação de Macau com os países de língua portuguesa, em matérias de medicina tradicional chinesa, serviços financeiros e formação de talentos na área financeira”. O embaixador “admitiu que a cooperação financeira constitui uma nova área de cooperação entre a China e Portugal, bem como uma nova orientação para o desenvolvimento de cooperação, tendo sido obtidos resultados excelentes”. O responsável destacou o facto de Portugal ter sido o primeiro país da Zona Euro a emitir títulos de dívida em renmimbi, os Panda Bonds, o que “contribuiu para a ascensão da posição de Portugal na Zona Euro, além de representar um passo de grande relevância no processo de internacionalização do renmimbi”, apontou Cai Run. A.S.S./Lusa
política 5
segunda-feira 14.10.2019
ATFPM GOVERNO DIZ QUE FAZ PARTE DAS SUAS FUNÇÕES APOIAR ASSOCIAÇÕES
Apoios “saudáveis”
O
deputado Sulu Sou interpelou o Governo sobre o progresso da concessão de mais poderes à Comissão de Fiscalização da Disciplina das Forças e Serviços de Segurança de Macau. No documento, o deputado afirma que, actualmente, a fiscalização externa da polícia é exercida principalmente pela Comissão, mas que os seus poderes se limitam a emitir um parecer depois da conclusão do relatório interno de queixas por parte da Polícia Judiciária (PJ). O deputado lembrou que Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, prometeu terminar a alteração do despacho relativo a este assunto em Junho deste ano, mas este processo ainda não está concluído, o que leva Sulu Sou a questionar as razões para o atraso. O deputado diz também não compreender porque é que o Governo insiste em não atribuir à Comissão poderes independentes para levar investigações a cabo e aplicar penas sancionatórias. Para o Sulu Sou, os membros da Comissão deveriam participar na fase de instrução dos processos. No que diz respeito ao uso de armas de fogo, regulamentado nos artigos 20 e 23 do Estatuto dos Militarizados das Forças de Segurança de Macau, Sulu Sou alerta para o facto deste diploma não regular as circunstâncias em que podem ser usados equipamentos como cassetetes, gás pimenta ou lacrimogéneo, além de não mencionar qual a Unidade Táctica de Intervenção de Polícia que pode tratar dessa utilização. Para o pró-democrata, existem uma série de lacunas que podem afectar as limitações do poder policial, esperando mais explicações da parte do Governo.
O
Governo defende que os apoios cedidos às associações locais têm o objectivo de ajudar na promoção de “actividades saudáveis”. Foi desta forma que o Gabinete da secretária para a Administração e Justiça respondeu ao facto de a Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) estar a ser inquirida pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) portuguesa, depois de uma queixa do Partido Socialista (PS), relacionada com uma eventual quebra da “confidencialidade e personalidade do voto”. “É uma das funções dos SAFP [Serviços de Admi-
GONÇALO LOBO PINHEIRO
SEGURANÇA QUESTIONADO AUMENTO DE PODERES DA COMISSÃO DE FISCALIZAÇÃO
O Gabinete da secretária para a Administração e Justiça justifica o apoio à associação presidida por José Pereira Coutinho com o objectivo de promover “actividades saudáveis”. ATFPM está a ser inquirida pela Comissão Nacional de Eleições de Portugal, após uma queixa do Partido Socialista nistração da Função Pública] o apoio às associações dos trabalhadores de serviços públicos [para] organizarem actividades saudáveis para os seus membros”, respondeu o gabinete de Sónia Chan, ao HM. Apesar da resposta ter vindo da secretária, as questões do HM tinham sido enviadas ao Chefe do Executivo, Chui Sai On. No email enviado a 9 de Outubro, o Chefe do Executivo era questionado se
estava a acompanhar o caso da ATFPM, se os apoios significavam a aprovação destas actividades da associação e se o Governo da RAEM estava a preparar-se para uma eventual crise diplomática. Nenhuma destas questões teve resposta por parte do Executivo.
SEM EXPLICAÇÕES
Foi no início do mês que o PS apresentou uma queixa junto da CNE sobre os contactos da
“É uma das funções dos SAFP o apoio às associações dos trabalhadores de serviços públicos [para] organizarem actividades saudáveis para os seus membros.” GOVERNO
ATFPM junto de potenciais eleitores a oferecer ajuda “no processo e a encaminhar os votos pelo correio para Portugal”. De acordo com a queixa do PS, este procedimento colocava em causa a “confidencialidade e personalidade do voto”, pelo que foi feita uma queixa. Posteriormente, a Rádio Macau noticiou que a queixa tinha sido analisada pela CNE e que a ATFPM tinha mesmo sido notificada para avançar com explicações sobre o assunto. Porém, tanto o presidente da ATFPM, José Pereira Coutinho, como Rita Santos, presidente da Mesa da Assembleia-Geral, têm evitado falar sobre o
caso. Rita Santos disse, ao HM, que Coutinho seria o responsável para comentar a situação. Por sua vez, o deputado apontou à Rádio Macau que Rita Santos estaria encarregada de reagir publicamente à queixa. Enquanto os responsáveis da ATFPM se mantêm em silêncio, Jorge Fão, um dos sócios fundadores da associação, defendeu que a direcção já deveria ter vindo a público para esclarecer o assunto. “É uma situação triste, feia e que nos deixa chocados a todos. Isto merecia uma explicação por parte deles [responsáveis da ATFPM]. Dou-lhes o benefício da dúvida… Mas isto, no fundo pode de alguma forma ser interpretado como se tivesse sido uma atitude de manipulação do resultado eleitoral”, afirmou Fão, na semana passada, ao HM. O fundador da ATFPM admitiu ainda a hipótese do caso poder afectar o Governo de Macau, junto das autoridades portuguesas, uma vez que a associação recebe apoios do Executivo. João Santos Filipe
joaof@hojemacau.com.mo
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14.10.2019 segunda-feira
HK CARTA PARA PORTUGAL PEDE REVISÃO DA DECLARAÇÃO CONJUNTA
Os lamentos de lá Um cidadão da RAEHK, em conjunto com colegas de Macau, enviou uma carta às autoridades portuguesas a pedir para que condenem as violações dos direitos humanos por parte da polícia e tríades. O documento foi enviado há três meses e ainda não obteve resposta
U
M grupo de cidadãos de Hong Kong e Macau enviou uma carta, através de correio electrónico, a pedir ao Governo de Portugal, Presidente da República Portuguesa e Presidente daAssembleia da República para que condenem a actuação das forças policias da RAEHK, assim como o conluio com as tríades relacionada com os episódios no metro, a 21 de Julho, em Yuen Long. No texto do documento a que o HM teve acesso é pedido para que seja reavaliada a implementação da Declaração Conjunta Sino-Portuguesa, que levou à entrega da administração de Macau à República Popular da China. A carta foi enviada há cerca de três meses, nos finais de Julho, depois do episódio deYuen Long, numa altura em que ainda não tinha havido a escalada na violência entre a polícia e manifestantes e sido revelada a intenção do Governo de Carrie Lam de retirar formalmente a Lei de Extradição para o Interior da China. “O Governo de Portugal necessita urgentemente de agir e ajudar nesta situação de grave violação dos direitos humanos em Hong Kong, que resultou em ferimentos e agressões múltiplas em Yuen Long e Sheung Wan, no passado dia 21 de Julho de 2019. Estes ataques são nitidamente uma tentativa de reprimir os protestos que decorrem em Hong Kong”, pode ler-se no documento. “O governo de Hong Kong, liderado pela Chief Executive Carrie Lam, continua a defender a posição da força policial e a passividade da polícia que não procedeu à prisão da tríade de gangsters que agrediu vários cidadãos, incluindo mulheres grávidas”, foi acrescentado. Acarta enviada ao Governo de António Costa aponta igualmente várias violações aos direitos de associação e expressão e pede que as autoridades portuguesas pressionem “urgentemente” as congéneres de Hong Kong para que a RAEHK respeite as liberdades consagradas na Lei Básica. Face a este cenário, foi pedido ao Executivo português que faça uma reavaliação da
implementação de Declaração Conjunto Sino-Portuguesa, a condenação pública do Governo de Hong Kong por desrespeito aos direitos humanos básicos e ainda uma declaração de apoio aos manifestantes.
À ESPERA DE RESPOSTAS
O HM contactou o cidadão de Hong Kong envolvido no envio de carta, que preferiu manter o anonimato. Segundo este, que afirma ser escritor, e que tem uma página no facebook com nome em chinês, ainda não houve nenhuma resposta por parte de Portugal. Porém, o gabinete de António Costa acusou a recepção da carta e respondeu que a mesma tinha sido reencaminhada para o primeiro-ministro português.
“O Governo de Portugal necessita urgentemente de agir e ajudar nesta situação de grave violação dos direitos humanos em Hong Kong.” CARTA DE UM GRUPO DE CIDADÃOS DE HONG KONG E MACAU
A iniciativa fez parte de um conjunto de cartas enviadas, sendo que este documento endereçado a Portugal foi escrito em conjunto com amigos de Macau, que inclusive trabalharam na tradução para português. Além de Portugal, foram enviadas cartas semelhantes para autoridades americanas e europeias tendo havido resposta por parte dos senadores Elizabeth Warren, candidata à presidência dos Estados Unidos, e de Marco Rubio. Também John Bercow, presidente do parlamento do Reino Unido, respondeu ao apelo feito por este cidadão de Hong Kong. João Santos Filipe joaof@hojemacau.com
AUTORIDADE MONETÁRIA DE MACAU DÚVIDAS SOBRE IMPLEMENTAÇÃO DE BOLSA EM MACAU
A
Autoridade Monetária de Macau (AMCM) pôs água na fervura depois de um responsável da entidade congénere de Guangdong ter referido que o Governo Central estava a avaliar o plano de administração de uma bolsa de valores em Macau. De acordo com a Ou Mun Tin
Toi, o director da Autoridade de Supervisão Financeira de Guangdong, He Xiaojun, declarou que a implementação de uma bolsa de valores faz parte de um rol de iniciativas para comemorar os 20 anos da RAEM. Em comunicado, a AMCM garantiu ontem que
“incumbiu empresas internacionais de consultadoria de desenvolver estudos sobre a sua viabilidade”, e que os trabalhos “estão a ser desenvolvidos de forma ordenada”. A autoridade acrescentou ainda que “existem, nas regiões vizinhas, vários centros financeiros desen-
volvidos” e que os “estudos de viabilidade devem respeitar o princípio de potenciar as vantagens de Macau e atender às necessidades do país, tendo presente o plano estratégico definido pelo Estudo em relação à Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.
A AMCM refere ainda que o Governo participa, “de forma activa, nos projectos relacionados com
a construção da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, com forte acolhimento e apoio das cidades integradas nesta Grande Baía, localizadas na Província de Guangdong, bem como dos ministérios e comissões do Governo Central.
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segunda-feira 14.10.2019
UM ALUNOS QUEIXAM-SE DE PROFESSOR POR ATENTAR CONTRA “UM PAÍS, DOIS SISTEMAS”
O grupo dos queixosos
J
ORGE Costa Oliveira, que durante vários anos foi jurista na área do jogo em Macau, tornou-se consultor financeiro de uma empresa de exploração de lítio em Portugal três meses antes da concessão atribuída pelo Governo português. De acordo com o programa Sexta às Nove, da RTP, o ex-governante, que está acusado de recebimento indevido de vantagem no caso Galpgate, nega ter interferido no processo de concessão. A RTP fala de suspeitas de ilegalidades, uma vez que a empresa em causa, a Luso Recursos Portugal Lithium, foi criada três dias antes da assinatura do contrato com o Estado português. Em Macau, Jorge Costa Oliveira liderou o Gabinete para os Assuntos de Direito Internacional da RAEM até Setembro de 2010, tendo integrado também a Comissão de Jogo. O jurista foi nomeado em 1989 para as funções de coordenador do Gabinete para a Modernização Legislativa. Foi ainda coordenador do Gabinete para os Assuntos Legislativos, coordenador da área técnico-jurídica da Comissão Especializada. Em 2010, regressaria a Portugal.
U
M grupo de alunos do Interior da China apresentou queixa de um professor da Universidade de Macau (UM), que lecciona a disciplina “Políticas de Hong Kong e Macau”. De acordo com um artigo do jornal Orange Post, que pertence à UM, em causa está o que os alunos consideraram a divulgação de opiniões nas aulas que atenta ao princípio “Um País, Dois Sistemas”, à liberdade académica e que são ofensivas para o Continente.
não deve “ultrapassar o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’e a ‘Lei Básica’”.
GONÇALO LOBO PINHEIRO
PORTUGAL EX-JURISTA EM MACAU ASSOCIADO A ALEGADO CASO DE CORRUPÇÃO
Um grupo de alunos do Interior apresentou queixa de um professor da disciplina de Políticas de Hong Kong e Macau por considerar que as suas aulas não respeitam os limites da liberdade académica. Porém, segundo o jornal Orange Post, houve alunos locais que saíram em defesa do docente
POR OUTRO LADO
Neste momento, a possibilidade de haver uma queixa [dos alunos] contra o docente junto do Gabinete de Ligação ou o Governo de Macau está afastada Os eventos dizem respeito ao início de Outubro, quando numa aula o académico terá abordado a Lei de Extradição em Hong Kong e terá feito o contraste entre os sistemas políticos do Interior da China e da RAEHK. Vários alunos do Interior não terão gostado do conteúdo da aula e através de um grupo na aplicação wechat, em que foram partilhados os powerpoints distribuídos pelo professor, decidiu-se apresentar queixa junto da direcção da UM. Um desses alunos envolvidos na queixa falou com o Orange Post, apesar de ter admitido que não esteve presente na aula. “Um amigo passou-me o PowerPoint. Mas os comentários e opiniões sobre o assunto foram feitos nas aulas e não estão no PowerPoint. Mesmo assim, pelo PowerPoint podemos ver que há frases preconceituosas como ‘a China persegue pessoas que têm
opiniões diferentes, acusando-as com diversos crimes’”, defendeu. O mesmo aluno argumentou que o professor ao ter apontado que não havia garantias de que as pessoas extraditadas para o Interior não seriam acusadas por crimes políticos tomou uma posição. Segundo este aluno do Interior da China, já teria havido uma outra queixa, igualmente de um estudante do Continente, contra o professor que foi identificado pelo jornal Apple Daily como Meng U Ieong.
Porém, consideram os estudantes do Interior, o académico não terá “mudado o seu modo” de ensino. Neste momento, a possibilidade de haver uma queixa contra o docente junto do Gabinete de Ligação ou o Governo de Macau está afastada porque há esperança que o caso seja resolvido de forma “racional”. Mesmo assim, existe o desejo que o docente mude, porque estes alunos recusam a “prática de desacreditar e humilhar o Continente”. O aluno ouvido frisou também que “a liberdade académica”
SULU SOU LIBERDADE CONTRA LIBERDADE
O
deputado Sulu Sou reagiu a este caso nas redes sociais e considerou ser “uma vergonha” que haja pessoas que vêm para um lugar onde há liberdade de expressão e que a utilizam essa liberdade para acabarem com ela. Por outro lado, o pró-democrata mostrou-se incrédulo
perante a intolerância face a discussões políticas: “Mas estão num departamento de ciências políticas e não querem que se fale de política”, questionou. “As pessoas que se dizem a favor da liberdade de expressão e liberdade académica deviam vir a público falar deste caso”, acrescentou.
A opinião entre os alunos provenientes de Macau é diferente, como mostraram os comentários online à notícia, e houve mesmo quem saísse em defesa do académico. O Orange Post ouviu um estudante que esteve presente na aula e que negou o cenário de ter havido uma tomada de posição. Segundo o aluno local, a cadeira exige que haja discussões e comparações sobre os sistemas políticos da China. No que diz respeito à lei da extradição, segundo o estudante de Macau, o professor limitou-se a explicar o sistema de “oligarquia constitucional” de Hong Kong, que respeita o primado da lei, e os motivos que levaram à oposição do diploma sobre a extradição. “O professor nunca mencionou a sua opinião sobre as manifestações de Hong Kong. E em relação à frase ‘a China persegue pessoas que têm diferentes opiniões, acusando-os com diversos crimes’, era um exemplo, utilizado pelo professor, do tipo de frases que as pessoas de Hong Kong partilham nas redes sociais para mostrar a falta de confiança na lei de extradição”, defendeu o aluno de Macau. Este estudante considerou ainda que o aluno que apresentou a queixa está a criar um caso e que para isso retirou os materiais de ensino do contexto em que estes são aplicados. Ainda em relação a este assunto, o estudante local falou de um choque cultural e disse que os alunos de Macau e do Interior estão separados devido ao contexto dos dois sistemas. “Em Macau temos liberdade para navegar na internet e absorver as informações livremente. Mas eles no Interior não”, indicou para explicar a diferença de opiniões. O HM contactou ontem a UM sobre a queixa, mas até à hora de fecho não recebeu qualquer resposta. João Santos Filipe
info@hojemacau.com.mo
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Violência doméstica Aliança do Povo defende revisão da lei A associação Aliança do Povo de Instituição de Macau defende a revisão da lei de prevenção e combate à violência doméstica, escreveu o jornal Ou Mun. Num relatório recentemente publicado, o Instituto de Acção Social (IAS) admitiu não haver ainda condições para rever o diploma, por terem passado apenas três anos desde a sua entrada em vigor. Contudo, Wong
Ngai Meng, vice-presidente da direcção da associação, defende que é necessário redefinir o conceito de violência doméstica, uma vez que esta começa “muitas vezes por conflitos verbais e ameaças”. “Mesmo que os danos físicos constituam os actos mais graves de violência doméstica, a longo prazo a vivência num ambiente ofensivo pode causar à vítima pressões psicológicas
Crime Pena de 18 anos para abusador de crianças e emocionais, levando a consequências ainda mais graves”. Si Lai Kuan, advogada e membro da associação, defende a intervenção do IAS em casos de agressões em seio familiar, mesmo que não sejam classificados como violência doméstica.
Um homem que abusou sexualmente de sete crianças, num centro de explicações, foi condenado com uma pena de 18 anos e 6 meses, de acordo com o canal chinês da Rádio Macau. O homem enfrentava acusações pela prática dos crimes de violação, abuso sexual de crianças e coacção sexual e poderia ter tido
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“
OU assinar um acordo, para mim fundamental, através do qual se libertam dos vistos as relações entre Argentina e Macau. Não serão mais necessários vistos para que um cidadão de Macau e um argentino se possam conectar entre si”, disse à Lusa Gustavo Santos em entrevista em Buenos Aires, a poucos dias do anúncio do acordo, no próximo Fórum Global de Economia do Turismo (GTEF, na sigla em inglês) que se realiza até terça-feira em Macau. Na RAEM, a Argentina vai procurar investimentos chineses, mas também forjar uma relação estreita entre o futebol e o sector turístico, respondendo a um pedido pessoal do Presidente chinês, Xi Jinping. “Vamos a Macau em busca de investimentos chineses. Vamos falar também sobre a relação do futebol com o Turismo. Vamos ter linhas directas com instituições desportivas chinesas. Vamos apresentar a proposta de escolas de futebol argentinas para termos uma relação muito mais estreita entre o futebol argentino e o futebol chinês”, indicou Gustavo Santos. Durante os primeiros sete meses de 2019, a chegada de turistas estrangeiros à Argentina foi recorde histórico: 4,3 milhões de turistas que representaram um crescimento de 9,4 por cento em relação ao primeiro semestre do ano passado. O aumento levou a Organização Mundial do Turismo (OMT) a colocar a Argentina entre os sete países com maior crescimento turístico do ano, o primeiro entre os países do Ocidente. “Estamos num momento excelente para o turismo argentino. Já em 2017, tivemos 6,6 milhões de turistas estrangeiros, os primeiros da América do Sul. Ratificamos essa condição em 2018. Queremos aumentar a relação económica e turística
uma pena máxima de 30 anos, porém o colectivo de juízes aplicoulhe uma pena efectiva de 18 anos e 6 meses. Os factos julgados na passada sexta-feira foram praticados entre 2016 e 2018, num centro de explicações do Fai Chi Kei. Já o arguido, estava em Macau há quatro anos, mas era natural de Hong Kong.
está finalizada, mas vamos construir isso com o Parlamento e com a diplomacia. Pode estar terminado antes do final do ano”, disse à Lusa o presidente do Instituto Brasileiro do Turismo (Embratur), Gilson Machado Neto. Actualmente, apenas 60 mil chineses viajam até ao Brasil, um número que as autoridades esperam aumentar rapidamente. “Estima-se que a China, até 2030, emita 500 milhões de turistas para o mundo. A China vai abrir um escritório de Turismo em São Paulo, em Novembro. Então, eu diria que, sendo pouco optimista, podemos dobrar a quantidade anual de turistas chineses ao Brasil”, calcula Machado Neto. Argentina e Brasil traçaram estratégias conjuntas para se promoverem como destinos associados e para atraírem investimentos no sector do Turismo durante o GTEF em Macau.
AJUDA PORTUGUESA
TURISMO ARGENTINA VAI ISENTAR CIDADÃOS DE MACAU DE VISTOS
Bola, tango e samba
O ministro do Turismo argentino justificou que o acordo de isenção de vistos entre os cidadãos de Macau e da Argentina responde às boas relações diplomáticas. Além disso, Argentina e Brasil vão anunciar um visto único para turistas chineses entre Argentina e Macau”, aponta o ministro argentino do Turismo, Gustavo Santos.
TEORIA DA RECIPROCIDADE
Outra novidade no capítulo da cooperação é o anúncio das autoridades argentinas e brasileiras que vão avançar com o reconhecimento recíproco de vistos emitidos pelos dois países a turistas chineses e isentar da necessidade de vistos os chineses que tiverem vistos para os
Estados Unidos ou para a Europa Um dos objectivos é atrair parte dos 149 milhões de turistas que a China emite
hoje para o mundo. Para isso, Brasil e Argentina vão anunciar duas iniciativas que serão implementadas nos próximos meses: o turista
A única empresa que voa para a América do Sul é a Air China, com escala em Madrid, que chega a São Paulo, Brasil. O Governo argentino tem um plano de fazer a TAP unir a China com a Argentina, via Lisboa
chinês que pedir um visto para visitar a Argentina, terá, automaticamente, entrada aprovada no Brasil e vice-versa, os chamados vistos recíprocos. Além disso, o turista chinês que já tiver visto para os Estados Unidos ou para o espaço Schengen terá, automaticamente, o direito de ingressar no Brasil e na Argentina sem a necessidade de outro visto. “A implementação dessas iniciativas ainda não
“Por ser a América do Sul tão longe para o chinês, ele não viaja só para a Argentina ou só para o Brasil. Combina os dois destinos. Por isso, a acção conjunta dos dois países no Fórum Global de Economia do Turismo, para que o aumento seja muito maior”, explica Gilson Machado Neto, da Embratur. Um desafio é a distância de 19 mil Km, da China ao Brasil ou à Argentina. Outro é somar novas companhias aéreas para a rota. A única empresa que voa à América do Sul é a Air China, com escala em Madrid, que chega a São Paulo, Brasil. O ministro do Turismo da Argentina, Gustavo Santos, tem um plano de fazer a TAP unir a China com a Argentina, via Lisboa. “Vamos juntos com o Brasil a Macau. Temos uma agenda para tratar da aceitação recíproca de vistos e dos investimentos que ampliem o Turismo aos dois países”, indicou à Lusa, o ministro argentino, Gustavo Santos.
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segunda-feira 14.10.2019
Uma ex-colaboradora da irmã do magnata do jogo Stanley Ho, com ligações ao campo pró-democracia de Hong Kong, foi impedida na quinta-feira de entrar em Macau, decisão que o seu advogado classificou de discricionária
SEGURANÇA MAIS UMA ADVOGADA DA IRMÃ DE STANLEY HO BARRADA NA FRONTEIRA DE MACAU
O não nosso de cada dia rências em como pretendia entrar na RAEM para a prática de actos que pela sua natureza podiam pôr em risco a segurança ou ordem públicas”.
“Não deram razão nenhuma”, afirmou José Abecasis sobre a decisão das autoridades de Macau. “Deve estar numa lista qualquer”, disse o advogado,
admitindo que “pode ter a ver com ligações a Albert Ho”, antigo presidente do Partido Democrático de Hong Kong, já que Donna Yau “não é política e não é conhecida como uma activista” na RAEM.
DÉJÀ VU
No final do mês passado, Albert Ho foi impedido de entrar em Macau, pelas mesmas razões apresentadas à empresária, uma decisão que o ex-deputado assumiu, à data, ser “obviamente política”. Donna Yau era a representante legal da falecida empresária Winnie Ho, irmã do magnata do jogo Stanley Ho, mas continua a administrar algumas empresas de Winnie, que morreu no ano passado. De acordo com a Macau News Agency, Donna
É
“
uma medida muito discricionária. Nunca vamos saber qual a razão verdadeira, nem conseguimos obrigar a Administração a revelar”, afirmou à Lusa José Abecasis, que acrescentou existir a possibilidade de “reagir contra” a decisão. A notícia foi avançada pela Rádio Macau, depois de Donna Yau ter publicado na rede social Facebook uma imagem da notificação de recusa de entrada em Macau, após três horas retida no terminal marítimo. “Porquê eu”, questionou no breve texto que acompanha a fotografia do documento oficial. De acordo com a nota, foi-lhe negada a entrada “por existirem fortes refe-
“É uma medida muito discricionária. Nunca vamos saber qual a razão verdadeira, nem conseguimos obrigar a Administração a revelar.” JOSÉ ABECASIS ADVOGADO
Yau já prestou assistência jurídica a alguns activistas pró-democracia em Hong Kong e apoiou, em 2015, uma petição assinada por membros da Ordem dos Advogados e da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo do território vizinho contra a repressão exercida pela China sobre
advogados e activistas dos direitos humanos. Na sequência da recusa de entrada a Albert Ho, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, negou a existência de uma ‘lista negra’, mas salientou que “as autoridades têm a responsabilidade de salvaguardar a segurança, a estabilidade e paz do território, sendo esses pressupostos do desenvolvimento e prosperidade local”. E reiterou que os casos de recusa de entrada no território são “uma decisão das autoridades policiais, baseada em critérios objectivos e em análise de factos”, de acordo com um comunicado publicado em 29 de Setembro.
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Ciência Tremor de terra sentido em Macau no sábado
O território sentiu, na noite de sábado por volta das 22h55, um tremor de terra que atingiu a zona do sul da China, de magnitude 5.2 na escala de Ritcher, que teve epicentro nas imediações da cidade continental de Beiuliu, na Região Autónoma Zhuang de Guangxi, a cerca de 315 quilómetros a oeste de Macau. A informação foi partilhada na página oficial do Instituto de Ciências do Ambiente da Universidade de São José na rede social Facebook e no portal informativo Expediente Sínico. De acordo com este website, a Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos chegou a ser contactada por vários residentes que sentiram o terramoto, mas, até ao fecho desta edição, não tinha sido emitido qualquer comunicado oficial sobre o assunto.
FESTA DE NATAL DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS DE 2019
COMISSÃO DE REGISTO DOS AUDITORES E DOS CONTABILISTAS
Comunica-se a todos os aposentados e pensionistas dos serviços públicos, que o tradicional jantar da Festa de Natal deste ano, como habitual à moda chinesa, se realizará no Restaurante Plaza, respectivamente nos dias 3 de Dezembro (3a feira) e 4 de Dezembro (4a feira).
Aviso
Local de inscrição: Avenida Panorâmica do Lago Nam Van, n.os 796 Data e hora de inscrição - 818, Fortuna Business - Sem interrupção Centre (FBC), Macau (Ao lado do silo do “New Yaohan”) 20 de Outubro Das 9:00 13.º andar (Domingo) às 17:00 Fundo de Pensões 21 de Outubro 14.º andar Das 9:00 (2a feira) 22 de Outubro às 18:15 Fundo de Pensões (3a feira) Obs : Favor seleccionar antes da sua inscrição, entre as duas datas, a data do jantar que pretende participar. As vagas esgotam-se após preenchidas.
Os interessados devem apresentar o original de um dos seguintes documentos para tratarem da sua inscrição: • Cartão de Identificação de Subscritor do Fundo de Pensões; • Bilhete de Identidade de Residente de Macau e nota de abonos. Mais se comunica que cada pessoa, para além da sua própria inscrição, poderá ainda proceder à inscrição, no máximo, de mais 2 titulares de pensão. Para informações, é favor de ligar para o n.° 2835 6556 ou aceder à página electrónica deste Fundo www.fp.gov.mo.
Torna-se público, de acordo com o n.º 1 do ponto 6.º dos Regulamentos para a prestação de provas para inscrição inicial ou revalidação de registo como auditor de contas, contabilista registado e técnico de contas, elaborados nos termos do artigo 18.º do Estatuto dos Auditores de Contas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 71/99/M, de 1 de Novembro, do artigo 13.º do Estatuto dos Contabilistas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 72/99/M, de 1 de Novembro, e da alínea 3) do artigo 1.º do Regulamento da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 2/2005, de 17 de Janeiro, que se encontra afixada, na sobreloja da Direcção dos Serviços de Finanças, sito na Avenida da Praia Grande nºs 575, 579 e 585, e colocado no respectivo “Web-site”, no local relativo à CRAC e para efeitos de consulta, a lista definitiva dos candidatos à prestação de provas para inscrição inicial ou revalidação de registo como Auditor de Contas, Contabilista Registado e Técnico de Contas no ano de 2019, elaborada e homologada por deliberação do Júri designado para o efeito. Mais se informa que a prestação de provas foi pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude reconhecida como um dos itens subsidiáveis no âmbito do “Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo”. Os candidatos poderão pois optar por liquidar as taxas devidas deduzindo o respectivo montante da sua conta do “Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo” (adverte-se, no entanto, para o facto de que apenas se aceitará o pagamento integral do valor em causa). Em caso de dúvidas, agradecemos que contacte a CRAC, durante as horas de expediente, através dos números de telefone 85995344 ou 85995342. Direcção dos Serviços de Finanças, aos 25 de Setembro de 2019 O Presidente da CRAC Iong Kong Leong
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À descoberta d FESTIVAL DA LUSOFONIA BANDA PORTUGUESA ANAQUIM ACTUA HOJE NO LARGO DO SENADO
Portugal está este ano representado na 11.ª edição do Festival da Lusofonia com a banda Anaquim. José Rebola, membro do grupo, confessa que não existem ideias pré-concebidas sobre aquilo que vão encontrar em Macau, por constituir uma completa novidade. O compositor, também responsável pela voz e guitarras, confessa que a viagem a Macau pode ajudar os Anaquim a descobrir novas sonoridades
A
primeira viagem da banda portuguesa Anaquim a terras orientais faz-se com poucas expectativas, mas com uma mala cheia de tentativas de descoberta. A banda, conhecida por dar uma nova roupagem à música tradicional portuguesa, actua hoje no largo do Senado, o primeiro de quatro concertos incluídos na 11.ª edição do Festival da Lusofonia. Segue-se, esta quarta-feira, um concerto na Doca dos Pescadores, um espectáculo privado na quinta-feira e a actuação nas Casas-Museu da Taipa na sexta-feira, dia 17. Ao HM, José Rebola, compositor e letrista, além de responsável pela voz e guitarras, contou que ele e os restantes quatro elementos do grupo (Pedro Ferreira, Luís Duarte, Filipe Ferreira e João Santiago) procuram, sobretudo, ser surpreendidos. “Vamos com as ideias não formatadas, uma vez que nunca estivemos em Macau nem no Oriente e não vamos à espera de uma coisa demasiado específica. Vamos à procura da descoberta e de sermos surpreendidos
pelo público de Macau, quer seja pela comunidade portuguesa quer seja por pessoas menos ligadas à lusofonia.” O espectáculo dosAnaquim será uma viagem aos 12 anos de existência do grupo, criado em 2007 e cujo primeiro álbum foi “A Vida dos Outros”. “Uma vez que nunca tocámos em Macau queremos fazer essa viagem através dos nossos quatro álbuns. Seleccionamos algumas canções que estarão mais ligadas às sonoridades portuguesas e outras às que estão menos ligadas.” Com a viagem a Macau, os Anaquim esperam ter acesso a um outro tipo de sonoridade. “Quem sabe a viagem a Macau até não nos inspira de outra maneira, musicalmente, a incorporarmos sonoridades diferentes na nossa música”, questiona José Rebola, que se confessa um coleccionador de instrumentos musicais de todo o mundo. “Por acaso tenho pouca coisa do Oriente e pouco contacto com a música da China, mas contamos com esta viagem para nos familiarizarmos com a música de Macau e da China no geral e talvez trazer
algum instrumento para fazer parte das nossas composições futuras”, acrescentou. O Festival da Lusofonia é conhecido por ter um público diverso, algo que, para José Rebola, pode fazer da presença em Macau “algo especial”. “A beleza de tocarmos em sítios diferentes é ver como o público reage de maneira diferente às coisas. Não vamos com qualquer tipo de expectativa, a achar
que vai ser 90 por cento português e dez por cento chinês, algo do género, vamos preparados para dar qualquer coisa de diferente que possa levar as pessoas a identificarem-se com o nosso espectáculo.”
INTERACÇÃO LUSÓFONA
Na nova edição do Festival da Lusofonia os Anaquim vão partilhar o palco e experiências com bandas oriundas
A boa notícia dos últimos anos da música portuguesa é que começou realmente a gostar dela própria e a tornar-se num espaço de colaborações.” JOSÉ REBOLA MÚSICO
de outros países falantes de português. Para José Rebola, essa constitui, sobretudo, uma oportunidade de partilha. “A festa da Lusofonia tem duas vertentes principais. Uma é a de continuar a mostrar não só a música lusófona que se faz agora, mas todo o património que se fez ao longo de muito tempo. Os artistas de hoje na cena lusófona vão sempre beber aos artistas do passado e estamos sempre a carregar essa tradição e essa herança de uma longa história de música lusófona. Outra vertente é de facto continuarmos a estreitar e a construir pontes entre os vários países de língua portuguesa.” Para José Rebola, esse con-
vívio “só acontece com estes festivais e tenho a certeza de que vamos conseguir comunicar com os outros musicalmente”. Em 2018 foi o ano de lançamento do quarto álbum de originais da banda, intitulado “O Quarto de Anaquim”. Para 2020, haverá um novo projecto, onde a música tradicional portuguesa promete continuar a marcar presença. “O nosso percurso musical acaba sempre por ser uma descoberta e por ter uma ligação forte a Portugal. Mesmo quando exploramos sonoridades do mundo inteiro, desde a canção francesa aos ritmos balcânicos, não nos conseguimos afastar da música portuguesa e sobretudo
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do Oriente
na temática das letras, de falar muito no Portugal e do país que nos rodeia.” “Em termos de temáticas tenho a certeza de que continuaremos a falar da cidade portuguesa como ela é, embora possamos explorar as sonoridades de outros locais do mundo”, adiantou o compositor e letrista. Quando lançaram o primeiro álbum, em 2010, osAnaquim fizeram parte de uma geração de bandas portuguesas que decidiu ir buscar a influência da música tradicional portuguesa, tal como os Deolinda ou os Diabo na Cruz. José Rebola mostra-se satisfeito pelo facto dessa característica ter continuado no panorama musical português.
“Vejo com agrado que a música portuguesa tenha realmente explodido nos últimos anos. O que vemos é que algumas bandas continuam a fazer essa ligação à música tradicional portuguesa e aos sons de outras gerações, e vejo com igual agrado artistas novos a escolher novos caminhos que não se apoiam tanto na música tradicional.Aboa notícia dos últimos anos da música portugue-
sa é que começou realmente a gostar dela própria e a tornar-se num espaço de colaborações”, assegura. Para José Rebola, é importante essa ligação ao que é tradicional e contemporâneo. “Há espaço para os que querem seguir uma veia mais tradicionalista e os que querem seguir a linha mais inovadora. Penso que as coisas são igualmente importantes, para que finalmente
Os Anaquim fazem parte de uma geração de bandas portuguesas que decidiu ir buscar a influência da música tradicional portuguesa, tal como os Deolinda ou os Diabo na Cruz
haja uma atenção a todos esses projectos e que haja espaço para essas duas abordagens.” No caso dos Anaquim, há espaço para “explorar novos caminhos, seja com colaborações com outros artistas ou com a nossa própria orquestração e maneira de fazer música”. “Continuamos juntos ao fim de 12 anos muito porque queremos continuar a experimentar coisas e a explorar à nossa maneira, que penso que é única de fazer música. Enquanto isso fizer sentido continuaremos aí. Vamos explorar outros caminhos sem deixarmos de ser quem somos”, rematou. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
Rota da língua Arranca 11.ª edição semana cultural entre a China e países lusófonos
A
secretária-geral do Fórum de Macau afirmou sábado que a semana cultural entre a China e os países lusófonos é uma aposta no desenvolvimento das vantagens de Macau nas vertentes da língua e da cultura. Xu Yingzhen falava na cerimónia de inauguração da 11.ª edição da semana cultural, na Doca dos Pescadores, onde vão decorrer vários espectáculos de grupos musicais dos países de língua portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. O Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, mais conhecido como Fórum de Macau, propõe, com mais uma semana cultural, "desenvolver as vantagens de Macau nas vertentes da língua e da cultura", disse. "As dez edições da semana cultural decorreram em articulação com a cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa, mais uma vez sob o tema 'uma faixa, uma rota' cultural", afirmou a responsável, numa referência ao projecto internacional de construção de infraestruturas, lançado pelo Presidente chinês, Xi Jinping em 2013. Xu Yingzhen acrescentou que "a cultura mundial é muito diversificada e o intercâmbio entre países tem facilitado influências mútuas". O "cartaz" da semana cultural arrancou sábado com o grupo cultural da província de Hebei (norte da China), a banda privada da rádio Moçambique, ou RM, Voz do
Xu Yingzhen
Crocodilo de Timor-Leste, e Djodje de Cabo Verde. Além da música, foi também inaugurada uma exposição do fotógrafo brasileiro Rodrigo Braga e do pintor guineense Osnivaldo António Ferreira Seguy, mais conhecido por Chipi. As exposições prolongam-se até 9 de Novembro. O cartaz desta edição da semana cultural inclui também uma Mostra de Teatro dos Países e Regiões de Língua Portuguesa, entre 22 e 27 deste mês.
ARTESANATO E GASTRONOMIA
Cerca de uma dezena de bancas integram a feira de artesanato da China e dos países de língua portuguesa, onde estão também presentes, no espaço da Doca dos Pescadores, associações das comunidades dos países lusófonos em Macau e algumas empresas locais. Nesta edição da semana cultural participam chefes de cozinha de Angola, Brasil, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, para apresentar sabores característicos dos países lusófonos no território e realizar quatro 'workshops' de culinária no Instituto de Formação Turística e na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST). Criado em 2003, o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau) tem um secretariado permanente, reúne-se a nível ministerial a cada três anos e integra, além da secretária-geral e de três secretários-gerais adjuntos, oito delegados dos países de língua portuguesa.
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14.10.2019 segunda-feira
HONG KONG NOVAS DETENÇÕES EM PROTESTOS PRÓ-DEMOCRACIA
Começa a perder gás
uma escalada de violência. Os manifestantes têm acusado a polícia do uso de força excessiva, enquanto as autoridades condenam as táticas violentas de alguns grupos que apelidam de radicais.
Os protestos em Hong Kong continuam a decorrer, mas agora com uma menor adesão face às manifestações não autorizadas, que foram realizadas nas últimas semanas
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O fim-de-semana voltou a contar com protestos nas ruas de Hong Kong, apesar da chuva torrencial que se fez sentir no sábado. No entanto, as manifestações parecem ter perdido algum fulgor face aos protestos das últimas semanas. A polícia continuou a efectuar detenções
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polícia de Hong Kong, na China, deteve ontem mais pessoas durante os protestos organizados por manifestantes pró-democracia que, contudo, têm registado uma adesão inferior à do último fim de semana. Em Mongkok vários manifestantes que ergueram uma barricada de bambu foram presos durante uma intervenção policial. Na área de Tai Po, no norte, a polícia invadiu um centro comercial, no qual os mani-
festantes exibiam palavras de ordem nas fachadas das lojas. De acordo com as autoridades locais, citadas pela agência France Presse (AFP), registaram-se, pelo menos, mais três protestos que levaram à intervenção da polícia. As manifestações, que se tornaram massivas em Junho após uma controversa lei de extradição proposta, transformaram-se num movimento que exige reformas democráticas em Hong Kong. Durante os quatro meses de protestos, registou-se
Os protestos em Hong Kong continuam a decorrer, mas agora com uma menor adesão face às manifestações não autorizadas, que foram realizadas nas últimas semanas, conforme foi anunciado no sábado. Segundo a agência Associated Press (AP), uma manifestação pacífica em Kowloon juntou no sábado alguns milhares de pessoas, que gritavam palavras de ordem, enquanto enfrentavam chuvas fortes. Por outro lado, junto à sede da polícia na ilha de Hong Kong, cerca de 200 pessoas, muitas delas aposentadas, também se reuniram, não se tendo registados incidentes. No passado domingo, a polícia de Hong Kong lançou gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes que desafiaram a proibição de protestar com máscaras.
FAÇA SOL OU FAÇA CHUVA
Dezenas de milhares de pessoas desfilaram, apesar da chuva torrencial, em manifestações não autorizadas em três bairros de Hong Kong. Muitos dos manifestantes usavam máscaras e gritavam “usar máscara não é crime”, em protesto contra a proibição, em vigor desde 5 de Outubro, decretada pela líder do Governo da região administrativa especial chinesa, Carrie Lam, para minimizar os protestos que já decorrem há quatro meses. A medida, anunciada em 4 de Outubro, deu origem a distúrbios e episódios de violência e de vandalismo, estes especialmente dirigidos contra a empresa que gere o metropolitano de Hong Kong, MTR, acusada de estar ao lado da China.
Ténis Medvedev vence em Xangai
O tenista russo Daniil Medvedev conquistou ontem o torneio de Xangai, ao bater na final o alemão Alexander Zverev, vencendo o segundo título de uma prova da categoria Masters 1000. Na sexta final consecutiva, incluindo a do Open dos Estados Unidos, quarto torneio do Grand Slam, o russo, de 23 anos, mostrou estar a atravessar a melhor fase da carreira e derrotou Zverev, por 6-4, 6-1, em uma hora e 14 minutos. O número quatro do mundo tinha sido derrotado por Zverev, sétimo da hierarquia mundial, nos quatro anteriores encontros entre os dois, somando agora o primeiro triunfo sobre o alemão. Na melhor temporada da carreira, o russo tem os recordes de triunfos em piso rápido (46) e em encontros de torneios Masters 1000 (22) esta temporada. Este foi o sétimo título ATP de Medvedev e o quarto esta temporada, sendo que este é o segundo Masters 1000 que vence em 2019, depois de ter triunfado em Cincinnati, nos Estados Unidos.
Jiangsu Nove mortos em explosão de gás num restaurante
Nove pessoas morreram ontem em consequência de uma explosão de gás num restaurante no leste da China, informou o canal de televisão estatal CCTV. A explosão destruiu o restaurante e danificou as lojas vizinhas na cidade de Wuxi, na província costeira de Jiangsu. A CCTV acrescentou ainda que outras 10 pessoas ficaram feridas, mas estão estáveis. Cerca de 200 efectivos de equipas de resgate foram deslocadas para o local. Um viaduto desabou na semana passada na mesma cidade, matando três pessoas que estavam dentro de um carro. Jiangsu foi palco de uma enorme explosão química em Março, quando quase 80 pessoas morreram num dos piores acidentes industriais da China nos últimos anos.
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ÍNDIA MODI DIZ QUE RELAÇÕES COM CHINA SÃO ESTÁVEIS E DIFERENÇAS GERÍVEIS
A ultrapassar obstáculos A visita de dois dias de Xi Jinping, à Índia decorreu de forma “franca e profunda”, segundo o Presidente chinês. O encontro acontece numa altura de alguma tensão face às diferenças de opinião dos dois países sobre a questão de Caxemira
O
primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, afirmou sábado, durante o segundo dia de visita do Presidente chinês, Xi Jinping, à Índia que as relações entre os dois países alcançaram estabilidade e que as diferenças serão geridas de forma prudente. Narendra Modi referiu que no encontro que teve sábado com Xi Jimping na cidade costeira de Mamallapuram, as delegações de ambos os países se mostraram sensíveis às preocupações do outro Estado, acentuando que as relações entre os dois países alcançaram estabilidade e um novo impulso e que as diferenças podem ser geridas de forma prudente evitando disputas. Esta visita de dois dias de Xi Jinping à Índia para discutir as relações bilaterais acontece num momento de tensão com o apoio da China ao Paquistão, depois de Nova Deli ter imposto restrições na região da Caxemira que controla.
Sem entrar em pormenores, o Presidente chinês referiu, numa declaração inicial, que as conversações com Modi sobre várias questões estavam a decorrer de forma franca e profunda. De acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia, Modi e Xi estiveram reunidos mais de duas horas durante o jantar de sexta-feira. O mesmo responsável governamental adiantou ainda que houve um reconhecimento de que a Índia e a China são países “muito complexos e muito diferentes”, mas que ambos estão empenhados
em trabalhar em conjunto contra a radicalização e do terrorismo e a evitar que afectem o caráter multicultural, multiétnico e multirreligioso das suas sociedades.
QUESTÕES TERRITORIAIS
As tensões na Caxemira, dividida entre o Paquistão e a Índia, mas reivindicada por ambos, aumentaram desde Agosto, quando a Índia impôs restrições à segurança e às comunicações na região por si controlada. A China apoiou nesta questão o Paquistão na reunião da Assembleia Geral da ONU em
Houve um reconhecimento de que a Índia e a China são países “muito complexos e muito diferentes”, mas que ambos estão empenhados em trabalhar em conjunto contra a radicalização e do terrorismo e a evitar que afectem o caráter multicultural, multiétnico e multirreligioso das suas sociedades
Nova Iorque, dizendo que a Índia não deve agir unilateralmente na Caxemira, parte da qual é também controlada pelo regime chinês. A Índia diz que Jammu e Caxemira são parte integrante do seu país. Xi Jimping chegou na sexta-feira à índia, dois dias depois de ter recebido o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, em Pequim. Esta visita de Xi à Índia segue o formato da reunião anterior, que aconteceu em Abril de 2018 na cidade de Wuhan, na China, e que foi precedida também por tensões causadas por um impasse de dez semanas entre as suas forças armadas na fronteira com o Butão. A China reivindica cerca de 90 mil quilómetros quadrados de território no nordeste da Índia, enquanto o Governo indiano afirma que os chineses ocupam 38 mil quilómetros quadrados do seu território na região de Aksai Chin, no oeste dos Himalaias. Os líderes já se reuniram pelo menos 20 vezes para discutir as reivindicações territoriais sem fazer progressos significativos. A Índia também está preocupada com as medidas da China para estabelecer laços estratégicos e económicos com os seus países vizinhos - Sri Lanka, Nepal, Bangladesh e Maldivas.
EUA/CHINA PEQUIM ELOGIA "PROGRESSOS SUBSTANCIAIS" ALCANÇADOS NA ÚLTIMA REUNIÃO
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Governo chinês expressou sábado satisfação pelo progresso alcançado na última ronda de negociações com os Estados Unidos, para tentar pôr fim à guerra comercial entre as duas maiores potências económicas mundiais. "Foram alcançados progressos substanciais em áreas como agricultura, direitos de propriedade inte-
lectual, taxas de câmbio, serviços financeiros, expansão da cooperação comercial, transferência de tecnologia e resolução de conflitos", foi referido sábado pela agência estatal Xinhua. De acordo com a mesma agência, o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, indicou "que as duas partes conduziram discussões francas, eficientes e
construtivas sobre questões económicas e comerciais de interesse mútuo". Na sexta-feira, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou ter chegado um acordo comercial parcial com a China "muito importante", que pode colocar um fim na guerra comercial entre os dois países. "Chegámos a um acordo muito impor-
tante de fase 1, mas que ainda não está escrito", disse Donald Trump aos jornalistas, depois de um encontro com Liu He, o principal negociador do lado da China. No entanto, ao contrário do que referiu sábado a Xinhua, Washington disse que não abordou a transferência forçada de tecnologia, uma questão que será tratada "na
segunda fase". No mesmo dia, o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, que participou da reunião, adiantou que os Estados Unidos renunciaram ao aumento de tarifas aduaneiras de 250 mil milhões de dólares em mercadorias importadas da China, que aumentariam de 25 para 30 por cento no dia 15 de Outubro.
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Acho que sábado é a rosa da semana
O olhar fértil de Zhang Sengyou e os olhos dos dragões Paulo Maia e Carmo texto e ilustração
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HANG Yanyuan (c. 815-c. 877), no influente tratado Lidai Minghua Ji, tem um capítulo inteiramente dedicado à análise da forma de usar o pincel de quatro pintores; Gu Kaizhi, Lu Tanwei, Wu Daozi e Zhang Sengyou (Secção II, Cap. II). Os argumentos aduzidos para demonstrar a sua relevância, confirmá-los-ia como iniciadores do processo de definição do que seria a arte da pintura. Sobre Zhang Sengyou escreve que «usava pontos e pinceladas curtas de modo esboçado, incompleto. Seguia o tratado Bizhen Tu (o «Esquema de ataque do pincel») escrito pela Senhora Wei Shao (que morreu no ano 140); cada ponto, cada pincelada, possuía um sentido e um carácter; eram como alabardas e espadas afiadas muito graves e densos. Daqui vemos de novo como o uso do pincel é o mesmo na escrita e na pintura.» Esta última, uma afirmação que será repetida por todos aqueles que pensaram o pincel como o canal privilegiado de expressão do «ritmo espiritual», pelo que desde a dinastia Yuan (1279-1368) os letrados preferiam até usar o termo «escrever uma pintura» (xie hua) e não «pintar». O que se considerava ser uma pintura era inseparável do pincel. Mas a clareza da sua expressividade alcançara já, com um fecundo pintor do séc. VI, uma reveladora dimensão inexplicável. Zhang Sengyou (c. 490-c. 550) nasceu perto da actual Suzhou (Jiangsu) vivendo maioritariamente durante o reinado do
imperador Wu do Reino de Liang (502557), de quem foi general e governador na jurisdição de Wuxing, numa altura em que o Budismo se implantava no território da actual China. Tempos em que os exotismos dos exemplos que vinham da Índia eram aceitos nas linguagens artísticas, como a modelação das sombras que confere às figuras a impressão da tridimensionalidade. Uma pintura em rolo horizontal sobre seda, «Cinco estrelas e vinte e oito constelações» que está no Museu Municipal de Osaka, uma cópia do século XI ou XII, será uma memória do trabalho de Zhang Sengyou. Que consistiria sobretudo em pinturas budistas de murais de santuários em redor da cidade de Nanquim, que foram sendo destruídos em sucessivas perseguições religiosas. Na literatura existem referências a pinturas suas de paisagens de inverno com neve, no estilo mogu hua, pintura «sem ossos», que se refere ao trabalho feito directamente em cores sem estruturas lineares. Mas exemplares delas também não são hoje conhecidas. Porém uma lenda a propósito da ausência persiste em relação a Zhang Sengyou: tendo pintado dragões numa parede, com receio, não teria colocado as pupilas dos olhos. Quando a ponta do pincel colocou esses últimos pontos, os dragões ganharam vida e voaram para o céu. Daí o provérbio «pôr os olhos ao dragão», significando o toque essencial, a palavra ou a frase-chave num discurso, num relato. Um poder de erguer dragões na mão que segura um pincel.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 15
segunda-feira 14.10.2019
José Simões Morais
Embaixada de Gil de Góis
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Á divergências entre historiadores quanto a Diogo Pereira se encontrar em Macau quando a 24 de Agosto de 1562 aí entrou o navio de D. Pedro da Guerra, que “trazia a segunda embaixada de Diogo Pereira à China”. Por não aceitar o lugar de Embaixador, foi “nomeado para a missão um parente seu, Gil de Góis, que em 1562 partiu de Goa”, segundo Montalto de Jesus. Num barco de Diogo Pereira, não em 1562, mas no ano seguinte, a 29 de Julho de 1563 Gil de Góis chegou a Macau com os presentes para o Imperador da China e acompanhado por João de Escobar, escrivão da embaixada régia, os padres Francisco Perez e Manuel Teixeira, e o irmão André Pinto, sendo recebidos por Diogo Pereira, o seu irmão Guilherme e muitos dos moradores. Era o período mais concorrido no porto de Macau e aí estavam já novecentos portugueses adultos. Segundo Tien-Tsê Chang, o rápido aumento em 1563 “dever-se-á, em parte, ao facto dos colonos portugueses de Lang-pai-kao [Lampacau] terem abandonado as suas residências anteriores, para se juntarem aos seus compatriotas em Macau.” Entregue a mercê régia a Diogo Pereira, que escolheu ser Capitão-mor, ficou, se já não vinha, Gil de Góis como embaixador. Contactadas as autoridades chinesas de Macau, deu-se início às diligências para a realização de uma Embaixada a Beijing e Cantão enviou a Macau uma comitiva de mandarins a examinar os presentes para o Imperador Jiajing. Ainda da Índia esperava Gil de Góis o envio de dois elefantes para engrandecer o cortejo e tornar o presente mais majestoso. O padre Francisco Perez escreveu em Janeiro de 1564: “Parece que vão começar a negociar as cousas de Embaixada com os Mandarins do porto”, refere Jordão de Freitas. No final desse mês “partiam, num barco chamado bancão do porto de Macau, para esta ilha e porto do Pinhal, os missionários jesuítas, padres Manuel Teixeira e Baltasar da Costa. Percorridas as dez ou doze léguas que separavam as duas localidades, em dois dias, encontraram os padres quatro juncos siameses e dois portugueses ancorados no porto. Ao outro dia que era domingo, celebraram missa, em terra; e à meia-noite, ergueram os marinheiros lusos uma igreja, na praia com tanta diligência que, quando amanheceu, amanheceu também a igreja, feita de enramada e embandeirada com o seu retábulo do orago, S. Miguel, Arcanjo. Imediatamente se organizaram aí todos os ministérios religiosos: missa, pregação, catequese aos meninos e escravos que
nos navios estavam, baptismos, confissões, uma mui comprida procissão, comunhão geral de todos os setenta comerciantes, proclamação de um jubileu que lhes fora concedido pelo Papa S. Pio V, através do 1º Bispo de Malaca. A Missão durou uma semana inteira. Terminados os exercícios sagrados, os comerciantes portugueses levaram os dois missionários a ver uma grande varela ou templo de ídolos, que aqui está, no meio deste Pinhal – conta o mesmo padre Costa”, carta do Irmão André Pinto transcrita por Benjamim Videira Pires S.J., que refere ser Pinhal na parte norte da ilha de Lantao, porto antigamente chamado Hu Cham. Uma pequena viagem de missão e retiro a ensaiar a entrada na China dos missionários jesuítas. O Vice-Rei da Índia Francisco Coutinho, em 1564 para além de não prover as coisas da embaixada, ainda enviou com mercê régia D. João Pereira como capitão-mor da Viagem ao Japão e durante a estadia em Macau tomar a capitania e depor Diogo Pereira. Segundo Montalto, a corte de Lisboa ficara de-
sagradada “não só pela recusa do cargo de enviado por Diogo Pereira mas, também, pela sua eleição extra-oficial para o posto de capitão-de-terra e, em 1563, um decreto real tratou de abolir aquele posto.”
REVOLTA DAS TROPAS IMPERIAIS
Na costa da província de Guangdong, em Abril de 1564 ocorreu a rebelião da tripulação de uma armada imperial chinesa. Dezoito juncos, afora outras embarcações pequenas e ligeiras, chegaram a Cantão vitoriosos do combate contra a pirataria, sobretudo wokou japoneses, nas costas de Fujian. O Capitão-de-guerra dessa armada imperial reclamou aos mandarins grandes de Cantão os salários por receber de toda a equipagem, mas o Governo de província tentou empatar o pagamento e diminuir a quantidade de prata a pagar. Com receio de na espera durante as negociações uma revolta das forças imperiais ocorresse, alegando os serviços ainda não estarem integralmente feitos, deram ordem ao capitão para voltar às costas de Amoy [actual Xiamen]
Deu-se início às diligências para a realização de uma Embaixada a Beijing e Cantão enviou a Macau uma comitiva de mandarins a examinar os presentes para o Imperador Jiajing. Ainda da Índia esperava Gil de Góis o envio de dois elefantes para engrandecer o cortejo e tornar o presente mais majestoso
e deixar o irmão em Cantão, que de seguida levaria os vencimentos. Confiando na palavra, assim fez o capitão de guerra, que a seu cargo trazia uma grossa armada. Mas depois de partir, o seu irmão foi açoitado e sabendo da afronta, “o mandarim grande fez volta com sua armada, e em satisfação de tamanha ofensa e de não cumprirem com ele a prata que ficaram, desembarcou com sua gente na cidade, matando e assolando quanto nela achava, e roubando todos os despojos que ficavam.” Dizem ter feito “isto tão súbito e acidentalmente, que ao tempo que os principais e grandes com sua gente e mais povo se recolhiam pelas portas da cerca dentro, por escaparem dos ladrões, morreriam afogadas e atropeladas entre as ditas portas passante de duas mil almas”, relata João de Escobar, que continua, “os ladrões, pelo costume da guerra e abundância das armas e artilharia das suas embarcações, puderam fazer e saquear todo Cantão a seu salvo, não entrando da cerca para dentro, por ser muito forte e alta. E feito isto, logo se declararam por alevantados e públicos ladrões e corsários, trabalhando daí por diante de se fazerem mais fortes, aparelhando-se de muita mais artilharia e munições de guerra, para nenhuma força de outra armada os poder entrar. E para mais sua guarda e segurança, escolheram a cidade de Tancoão [hoje Dongguan] e a fortificaram, por ela em si ser muito forte e antiga, na qual se recreavam e refaziam dos trabalhos do mar.” Quando os ladrões queriam dar assalto a Cantão recolhiam-se a dez léguas para Leste, uma jornada de um dia, em “Tancoão sem nenhuma resistência, pelo que os arrabaldes e a mor parte dos mercadores de Cantão a despovoavam e se metiam pela terra dentro, andando já todos tão atemorizados e desinquietados que deixavam as fazendas, por remir a vida.” “As tropas revoltosas, depois de conseguirem derrotar várias expedições enviadas em sua perseguição, semearam a destruição por todo o litoral”, refere Rui Manuel Loureiro. Entusiasmados pela vitória contra as forças imperiais, meteu-se-lhes “em cabeça que poderiam vir de noite a nosso porto e desembarcar nele e queimar a povoação e roubarem-na e matar os portugueses; e isto feito iriam esperar nossas naus e juncos, que da Índia e de todas as partes no tempo da monção vêm ao porto e as desbaratariam”, relato de João de Escobar, escrivão da embaixada régia, transcrito por Rui Manuel Loureiro no artigo Em Busca das Origens de Macau, onde refere, “Os mandarins de Cantão mandaram avisar o Capitão D. João Pereira das intenções dos ladrões”.
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segunda-feira 14.10.2019
Folhetim Fernando Sobral
A Grande Dama do Chá
O
escritório de Ezequiel de Campos ficava em frente do edifício do Leal Senado. Dali via-se o poder. Ou, se alguém quisesse pensar de forma mais conspiradora, o local de onde o homem de poder, que escolhia trabalhar nas sombras, observava e esperava o momento certo para conseguir o que queria. Cândido Vilaça, olhando da janela do escritório para o largo em frente, pensou que se os chineses gostavam de jogar, Ezequiel aprendera com eles. Mas era um outro tipo de jogador. Analisava com antecedência as hipóteses de vitórias ou derrotas. Sabia que só a eficiência vencia. Virou-se para ele quando Ezequiel lhe perguntou: - Quer um vodka? Ou prefere um uísque? Eu vou por este. Cândido acenou com a cabeça e depois sentou-se na cadeira que estava defronte da secretária do português. Reparou que atrás desta estavam quadros com pinturas antigas. Ezequiel sorriu, depois de colocar os dois copos na mesa. - Está curioso? São os retratos de dois homens que foram muito importantes a história de Macau. Marcaram a vida política e comercial da cidade. Miguel de Arriaga, que foi Ouvidor no início do século XIX. E José Carlos da Maia, que foi Governador no início do século XX. Repare na vida que há nos seus olhos. Sobressaem nas pinturas. Os olhos, sempre o achei, são as luzes da alma. Percebe-se por eles se alguém tem algo que os move. Ou se a sua vida é inútil. Falava com uma ponta de orgulho, como se se sentisse um sucessor de ambos. Cândido nunca tinha ouvido falar deles, mas os rostos dos retratados impressionavam, pela força de carácter. Talvez Ezequiel fosse assim. Marina Kaplan tinha-lhe confidenciado que aquele que era agora o seu amante dormia pouco de noite. Era, para ele, um tempo de pesadelos. Sonhava com a noite em que os pais tinham sido mortos, numa rixa inexplicável à porta de um restaurante situado no Porto Interior. Quando acordava, desejoso de vingança, confrontava a escuridão da sua alma de uma simples maneira: aumentando o seu poder e riqueza. Isto era o que fazia com que a sua vida fizesse sentido. Cândido olhou para ele. Marina contara-lhe ainda que ele fora um homem que, primeiro, perdera tudo, quando os pais morreram. Depois ganhou tudo. E depois perdeu tudo. Até aprender. Para ele a vida tornara-se uma competição. Vivia para ganhar. - O que é que vai fazer em Macau, Cândido? Vai ser músico toda a vida? - Não sei. A minha vida sempre foi feita de acasos.
- Eu sei. A minha também o foi. Mas, depois, encontrei um caminho. Cândido sorriu. - Aproximam-se tempos difíceis, mas empolgantes. O Cândido poderia ser um colaborador muito útil para mim. - Para quem não sou? - É verdade. Os japoneses acham que é útil a eles. Jin Shixin pensa o mesmo. E, já agora, o Cândido consegue ser útil a si próprio? - Tento sobreviver no meio disso tudo. Mas, sabe, o amor mostra-me que caminho devo seguir. - Acha mesmo que Jin Shixin vai ficar aqui em Macau, consigo, enquanto a sua China vai continuar em guerra nos próximos anos? Desculpe que lhe diga: você não é um jogador. É um sonhador que está num trapézio sem rede por baixo. Vai aleijar-se. - Acha que Jin deixará Macau? Ela aqui é a Grande Dama do Chá. O que será na China, no meio de uma guerra sem fim? - Uma guerreira com uma missão, não acha? Desiluda-se Cândido. Ela pode amá-lo, mas ama mais a China. E o seu mentor, Du Yuesheng. E este tem outros planos para ela. Fez-se um silêncio desconfortável. Depois, Ezequiel, após beber um gole de uísque, disse: - Navegamos num mar de inimigos. Lisboa não nos virá salvar. E os ingleses vão ter mais problemas do que julgam agora. Xangai caíu nas mãos dos japoneses. Nanquim está por horas. Chiang Kai-shek não conseguiu que os Estados Uni-
dos e a Grã-Bretanha avançassem para sanções efectivas aos japoneses. E estes ficaram com liberdade para avançar na China. Nós vamos fiar-nos na neutralidade. O problema é que os chineses e os japoneses desconfiam de nós e qualquer movimento não equilibrado da nossa parte é claro e suspeito. Estamos entre as forças navais japonesas e a China. - E onde é que isso nos leva? - A nenhuma forma de divertimento. A nada que o jazz, apesar da sua beleza, consiga resolver. Macau não tem recursos, víveres. É uma praça comercial. Compra e vende. Se for cortada a ligação ao sul, comeremos o quê? O ópio que aqui temos? Precisamos de arroz. E de carne e peixe. Nos próximos anos quem controlar isso, controlará a vida, mas também a política. Assim, quem vai vencer, Cândido? - Não sei. Mas temos de alinhar por algum lado. - Temos? Acha que os portugueses sobreviveram em Macau porque, ao longo de séculos, tomaram decisões radicais? Quando o fizémos, saiu asneira. O inimigo de hoje pode ser o aliado de amanhã, nunca o esqueçamos. Deveríamos aprender com os chineses a arte da caligrafia. Como nos devemos conter de forma a controlarmos o pincel. Temos de aprender a controlar o corpo e a mão. É tudo uma questão de prática e repetição. E de vislumbrarmos o futuro. Cândido olhou com atenção para Ezequiel de Campos. Estava no apogeu do seu poder e da sua capacidade sedu-
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tora. Os olhos azuis eram poderosos e combinavam perfeitamente com o ar maduro que lhe davam os cabelos brancos. Comjugava perfeitamente a gestão da advogacia e dos seus interesses comerciais. Não deixou de voltar a notar a cicatriz que lhe marcava o rosto entre a orelha esquerda e o pescoço. De vez em quando levava a mão lá para a acariciar. Para recordar. Ezequiel devolveu-lhe, por momentos, o olhar fixo. - Não teme os japoneses, Ezequiel? A Marina contou-me que eles querem conquistar a noite de Macau. Produzem heroína. E querem substituir o ópio por ela. Domesticando o povo. Esta cidade pode ficar sem parte da sua vida. E sem qualquer futuro. - E quem vai chorar? Será tudo uma questão de quem ganhar dinheiro com isso. E quem tem dinheiro? Foge para a Indochina? É pouco. A guerra vai lá chegar. Repare, Cândido, cada um joga o seu jogo, com corpos a amontoarem-se à sua volta. E com a guerra de guerrilhas os comunistas sonham com a sua futura vitória. Não sejamos ingénuos. Cada um só pode contar consigo. Sabes, os ocidentais olham para um tanque e buscam o peixe que lidera. Os orientais vêem toda a cena. Temos de compreender que estamos na China. O ocidente é individualista. A antiga China era colectivista, onde se pertencia a uma larga comunidade agrícola. Sobreviver dependia mais do grupo do que do individual. Os ocidentais preocupam-se mais com a glória individual. Lembra-te dos Jogos Olímpicos. Há neles um ideal individualista de honra e glória. A competição individual. Isso ficou no sangue do Ocidente. Ezequiel levantou-se e aproximou-se da janela. Tinha um charuto entre os dedos por acender. Depois de alguns momentos de silêncio, disse: - É por isso que te estou a perguntar se queres trabalhar comigo. Vai haver muito para fazer nos próximos anos. E podes continuar a tocar, nas horas vagas. Mas pensa no futuro. E não apenas no amor. Sabes o que vejo daqui? Cavaleiros pálidos aproximam-se de Macau. Vão chegar assim que o vento começar a uivar. Toda a suavidade desaparecera dele. Nas linhas do seu rosto, nas tensões do seu corpo, havia uma decisão letal. Ezequiel sabia qual o seu destino.
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18 (f)utilidades MUITO
?
NUBLADO
O QUE FAZER ESTA SEMANA
Diariamente EXPOSIÇÃO 37 | “LÍNGUA FRANCA – 2ª EXPOSIÇÃO ANUAL DE
ARTES ENTRE A CHINA E OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA” 7 9Verdes 3 e Antigo 2 4Estábulo 1 Municipal 6 5 de8Gado0Bovino Vivendas Até6 8 de Dezembro 4 5 3 9 0 8 2 7 1
8 0 | EXPOSIÇÃO 9 7 DE2 PINTURA 5 1LUSÓFONA 6 3 EXPOSIÇÃO Clube Militar | 26 de Outubro
4 1 2 6 0 8 7 5 3 4 9 5 1 | “QUIETUDE 4 8 E6CLARIDADE: 3 9 7 0 2 EXPOSIÇÃO OBRAS DE CHEN ZHIFO DA COLECÇÃO 3 7 1 5 0 4 2 9 6 8 DO MUSEU DE NANJING” MAM 4| Até817 /11 0 9 3 2 7 1 5 6 9 3 2 6 7 8 0 4 1 5 EXPOSIÇÃO | “HOT FLOWS - PEARL RIVER DELTA ARTS RETROSPECTIVE” 2 5 8 4 1 6 3 0 9 7 Armazém do Boi | Até 13 /10 0 6 7 1 5 9 4 8 2 3
39 9 6 2 5 4 1 3 0 7 8
3 0 4 7 6 5 8 9 1 2
1 8 3 0 9 4 2 7 5 6
Cineteatro 41 0 6 2 4 8 7 5 9 3 1
9 3 7 5 2 1 8 0 6 4
8 5 3 9 1 6 0 4 2 7
7 2 1 8 5 0 6 3 9 4
0 3 8 1 2 9 7 6 4 5
6 4 5 9 7 2 1 8 3 0
8 5 7 6 1 3 0 4 2 9
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C I N E M A
1 7 4 6 0 3 9 2 5 8
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6 8 5 0 1 3 6 2 2 4 8 0 2 1 4 3 7 7 8 . 9 2 B A H T 50 . 2 6 Y U2A N9 1 . 1 3 6 9 2 6 2 9 4 3 5 6 VIDA DE CÃO 4 5 0 8 4 0 9 7 3 5 8 9 8 2 5 0 1 6
LARANJA CORAJOSA
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40 4 8 6 5 3 7 1 0 9 2
0 9 2 6 1 8 4 5 3 7
7 1 4 2 9 0 5 3 8 6
3 5 7 0 8 2 6 9 1 4
6 4 8 9 2 1 3 7 0 5
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 40
1 3 5 7 0 4 9 6 2 8
5 2 0 3 4 6 8 1 7 9
8 7 9 1 5 3 2 4 6 0
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0 8 FILME 4 3 6 HOJE 1 7 9 UM 6 5 9 2 3 7 1 8 7 1 5 9 0 4 8 0 5 2 3 6 9 4
O filme Team America aborda 2 7de forma 3 6crítica 8 e5 cómica o papel do Estados 8 0 como 1 polícia 4 2 do9 Unidos mundo, num contexto 3 9 6 1 5 do0 pós o 11 de Setembro e das 9 4 do0Afeganistão 8 7 e6 invasões do Iraque. Por exemplo, 1 3das 2cenas5 iniciais, 4 8 numa os4“polícias 6 8americanos” 7 1 2 destroem o Louvre, Torre 5 2 7 do 0 Triunfo 9 3 Eiffel e o Arco só para dizimarem os “mauzões” dos terroristas, acabando por causar mais danos do que os planos dos terroristas. Mas as críticas vão mais longe e abrangem igualmente a comunidade de actores, pela hipocrisia e superficialidade com que lidam com as questões geopolíticas. João Santos Filipe
2 4 3 7 1 0 5 6
9 6 3 8 7 5 0 2 4 1 2 4 3 9 6 8 5 7 0 1
2 0 1 4 6 9 7 8 5 3 5 0 6 1 7 4 2 9 3 8
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0 96 37 70 4 3 22 18 5 4 05 61 1 49
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PROBLEMA 41
47 5 4 3 9 6 2 8 1 7 0
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8 5 46 4 3 1 0 29 2 7 1 7 4 3 2 8 5 0 6 9
1 0 57 9 8 5 2 84 6 3 6 8 9 0 5 1 3 7 4 2
3 9 12 7 0 4 6 61 8 5 4 6 7 8 9 3 0 2 5 1
4 6 81 8 5 3 9 12 7 0 3 1 5 2 0 4 7 9 8 6
42 3 05 20 6 9 38 77 4 61 8 9 0 7 4 6 1 3 2 5
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57 8 3 72 9 0 11 6 5 24
S U D O K U
TEMPO
9 3 6 6 4 5 8 9 2 1 0 7 5 7 5 - 9 8 % 8• E U R O 1 2 9 3 7 9 3 2 8 2 5 6 7 1
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Numa 40 altura em que se levantam muitas dúvida legitimas sobre a liberdade 8 1 académica na Universidade 8 7 9 4 2 6 de5Macau 7 há um aspecto que merece destaque 9 3 6 5 7 o Orange 1 4 9 Post. 2 É3impres0 8 pela positiva: sionante 6 0 que6uma7 8 5 0 2 7 3publicação 4 universi1 tária tenha um impacto tão grande na 2 9 7 diversos, 3 6 1 5 agenda3mediática 0 0 7e em 4 temas 8 9 que vão desde o controlo da entrada 1 9 4 8 5 3 7 2na8 5RAEM 6 7à liberdade 0 de pessoas académica nas salas de aula. Em voz 8 6 1 3 6 5 9 0 4 2 0 3 5 7 da verdade, neste aspecto tem havido 5 6 da5 3Universidade 9 4 8 9 2de 0 liberdade 6 dentro 8 2 3 Macau e um trabalho muito bem feito, 0 9elogios. 7 9 6A coragem 1 5 4 3 6 1 2 que só7merece demonstrada 3 0 jornalistas 2 8 3do 2 4 4 1 pelos 9 7 0 Orange Post deixa mesmo muito pro6 área 0 9 2 desta 5 8 0 1 me6excluo 4 fissional (e não do grupo) envergonhados, porque é normalmente a excepção não a regra. É42 sempre mais fácil escrever artigos que não incomodam, mesmo que não 7 2 passem8 1 dos4 3 favores 8 2 às6associações 0 9 7 locais. Por isso deixo aqui o elogio 6jornalistas 5 4 4 9 e5aos responsáveis 3 7 1 7 pelo 0 8 aos Orange7Post e antevejo que se estas 8 4 9 6 1 8 4 2 5 pessoas tiverem interesse na carreira 5 necessária 0 7 2 0 3 5 e a6 9liberdade 6 4 8 de2jornalista que vão ser excelentes profissionais. 0 4 0 2 9 de3Macau 2 a1 7Universidade 6 1 Também merece 2acolhe 7 4 8 3 destaque, 8 7 5porque 0 6 1 uma publicação que tem marcado a 8 e4 7 3 haver 1 6 0 2 5 1 3 agenda8mediática que mostra liberdade na instituição. Porém, como 1 5 4 6 5 9 4 3 2 8 0 em qualquer lado neste mundo, e não apenas 4 6em2Macau, 0 0 1a coragem 7 9 5tem 3 um preço. Espera-se que a UM não 0de7amordaçar 6sua 5 1 9tentação 1 3 8 4 a2 caia na2 publicação. João Santos Filipe
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9 TEAM 2 7 2 6 5 7 4 1 0 3 AMERICA | TREY PARKER E MATT STONE (2004) 3 0 5 4 8 0 6 9 3 5 1 2 6 1 3 1 2 0 7 8 6 9 6 5 4 9 7 8 4 0 5 1 2 1 8 3 5 3 9 1 2 6 8 7 5 7 0 6 2 4 3 8 7 9 0 4 9 2 7 0 1 5 6 2 3 4 8 4 6 1 4 7 8 5 9 2 6 0 1 9 0 5 3 9 1 4 7 8 7 3 8 8 9 6 2 3 0 4 5
47 METERS DOWN: UNCAGED SALA 1
JOKER [C] Um filme de: Todd Phillips Com: Joaquin Phoenix, Robert de Niro, Zazie Beetz 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2
GEMINI MAN [C] Um filme de: Ang Lee
Com: Will Smith, Mary Elizabeth Winstead, Clive Owen, Benedict Wong 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 3
47 METERS DOWN: UNCAGED [C] Um filme de: Johannes Roberts Com: Sophie Nélisse, Corinne Foxx, Sistine Stallone, Brianne Tju 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Juana Ng Cen; Colaboradores Amélia Vieira; António Cabrita; António Castro Caeiro; António Falcão; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
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opinião 19
segunda-feira 14.10.2019
reencarnações JOÃO LUZ
DELACROIX
N
A passada quinta-feira o homem responsável pela agressão monstruosa que desfigurou para sempre a esposa foi condenado a 13 anos de prisão. Durante as sessões de julgamento nunca mostrou arrependimento, remorso, um pingo de humanidade. Infelizmente, a história da Lao Mong Ieng é daquelas que se repetem desde tempos imemoriais, pelos quatro cantos do mundo. Importa recordar, as vezes que for preciso, que a mulher ganhou autonomia como um ser independente há muito pouco tempo. Aliás, ainda é comum, em muitas sociedades ditas modernas, a mulher ser transacionada como um bem que passa da propriedade do pai para a esfera jurídica do marido. Um peão no caderno dos Direitos Reais dos códigos civis pouco civilizados, uma coisa sobre a qual o macho tem absoluta titularidade. Algo descartável, findo o prazo de validade. Em Portugal, morreram 30 mulheres vítimas de violência doméstica este ano. Três por mês, num pequeno país. Este número esconde as que sobrevivem, as que são vítimas da violência pão nosso de cada dia. Este texto não é dirigido a um acto execrável, não tem como alvo os psicopatas imunes à empatia, que não conseguem reconhecer o outro. Este texto é para os que escarnecem de movimentos civis como o #MeToo. Não me vou focar neste movimento concreto, mas nas vozes, 100% masculinas, que acham que vivemos uma época de perseguição ao homem. A vitimização da classe dominante, o choradinho do privilégio, é, para mim, o equivalente à subida vertiginosa da bílis esófago acima. Sempre que uma centelha de insatisfação ameaça perturbar o status quo em busca de igualdade ou simples reconhecimento, um extintor de privilégio tenta apagar de imediato a chama do activismo. Que raio de pessoa vê a igualdade como agressão? Quão frágil é essa capa de privilégio? Durante a luta por direitos civis dos afro-americanos, a América racista sentia-se vítima por achar que o direito de menosprezar e espezinhar estava em perigo. Voltando ao exemplo inicial, é por isso que, só recentemente os sistemas jurídicos começaram a censurar a violência doméstica, assunto em que até há pouco tempo ninguém “metia a colher”. Apesar da recente tendência legislativa, muitas outras formas de agressão ainda gozam de um certo nível de aceitabilidade social. Como se não bastasse a institucionalização da violência, ainda temos de papar com a vitimização constante do opressor,
Opressor oprimido
o choradinho de quem está e tem estado sempre na posição dominante. É daí que surgem as alarvidades das marchas do orgulho heterossexual, como se alguma vez, nalgum sítio, a heterossexualidade tivesse sido proibida, punida criminalmente, socialmente reprovada, etc. Mais uma vez, a busca pela igualdade magoa o delicado ego de quem só conhece regalias. Muito semelhante ao orgulho branco, que não entende que a questão do “orgulho” nasce da força necessária para superar opressão dos poderes instituídos, todos os outros contramovimentos à igualdade não pertencem a este tempo. A polarização de hoje, fermentada por lógica primária simiesca de rede social, transformou o homem branco, heterossexual, cristão, no ser mais perseguido dos nossos tempos. Pura “calimerização” da prepotência. Obviamente que não são todos, mas aqueles que confundem igualdade com agressões à sua posição de vantagem. Daí os pavores de que a Europa se esteja a transformar num
califado, ou que o Império Otomano esteja em reconstrução invisível mas ainda assim mortífera para o modo de vida ocidental. Daí os pavores de que os media, o Soros, Satanás e 7 anões, estejam a doutrinar crianças para serem gays. Porque é assim que uma pessoa se torna gay, através de publicidade, basta ouvir falar em homossexualidade, da
A polarização de hoje, fermentada por lógica primária simiesca de rede social, transformou o homem branco, heterossexual, cristão, no ser mais perseguido dos nossos tempos. Pura “calimerização” da prepotência
sua existência, e ali começa a incontrolável vontade de cair de boca num pénis. Jardins de falos florescem no histórico dos computadores de pessoas que alimentam este tipo de paranoia compensatória para tendências que têm de ficar escondidas no armário. Situações tão patologicamente tristes como a existência desse unicórnio político que é o neonazi ibérico, sul-americano. Malta de pele escura, olhos escuros, com genes carregados de influências arábicas, que por falta de colo, serotonina, ou inteligência, procuram abrigo entre quem os odeia por natureza. Já agora, também os neonazis de hoje em dia se sentem vítimas, pobres coitados oprimidos na sua nova missão de arautos da liberdade de expressão. Caro leitor, absorva esta ideia: apologistas do fascismo que se proclamam defensores da liberdade de expressão. O mais engraçado e irónico no meio de isto tudo é que quem ficou ofendido com esta crónica não consegue ver que o retrato feito lhe assenta como uma luva.
Um pedante é um estúpido adulterado pelo estudo. Miguel de Unamuno y Jugo
PALAVRA DO DIA
segunda-feira 14.10.2019
SRI LANKA CATÓLICOS QUEIXAM-SE DE VISTO RECUSADO PARA FÁTIMA
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Isabel Parreira, elemento do grupo “Ficámos retidos em Osaka. Somos um grupo cerca de 35 pessoas, onde se incluem dois guias - um português e uma japonesa.”
OSAKA MAIS DE 30 PORTUGUESES RETIDOS APÓS PASSAGEM DO TUFÃO HAGIBIS
À espera que saia
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M grupo de mais de 30 portugueses ficou retido este fim de semana em Osaka, na sequência da passagem do tufão Hagibis pelo Japão, apesar de não terem sido registados grandes incidentes nesta cidade. “Ficámos retidos em Osaka. Somos um grupo cerca de 35 pessoas, onde se incluem dois guias - um português e uma japonesa. A guia japonesa já não está connosco, mas também não pode viajar para Tóquio. Nós tínhamos avião no sábado pelas 23:00, mas o aeroporto estava fechado. Os voos da Emirates para sábado e domingo foram cancelados”, avançou à Lusa, Isabel Parreira, um dos elementos do grupo. Porém, ao contrário do que tinha sido previsto pelas autoridades nipónicas, Osaka não foi afectada pela passagem do tufão, tendo-se registado apenas algum vento e chuva no sábado. “Ontem [sábado] choveu um pouco e o mercado tradicional estava fechado, apesar das grandes superfícies esta-
rem abertas. O vento não era muito forte. Tínhamos alguns programas, inseridos na excursão, como a visita a um castelo, mas foram cancelados, porque o castelo estava encerrado”, explicou a turista portuguesa. Já ontem, o comércio voltou a estar em normal funcionamento, assim como as atrações turísticas e alguns aviões já sobrevoaram a cidade, tendo-se ainda registado um tempo “normalíssimo”. Devido à lotação dos aviões, o grupo conseguirá regressar a Portugal apenas entre quarta e quinta-feira, em dois voos diferentes, também operados pela Emirates. Isabel Parreira sublinhou ainda que a informação a quem têm tido acesso é muito escassa, tendo em conta as notícias que não são transmitidas em inglês e que não têm encontrado muitas pessoas a saber falar este idioma. “É muito estranho, nunca vi um sítio onde houvesse tão pouca gente a saber falar inglês”, relatou a portuguesa, acrescentando que apenas sabe que os principais estragos
foram registados em Tóquio e que também foram causados alguns danos em Quioto, embora não consiga indicar a dimensão dos mesmos. Quanto a medidas de segurança e prevenção, Isabel Parreira sublinhou que o grupo não foi informado de nada, embora acredite que existam medidas pensadas, caso “a situação se complicasse”, tendo em conta o elevado número de tufões registados no Japão. “Estamos todos muito serenos. Não vi ninguém preocupado e estavam muitas pessoas pelas ruas. É como se não houvesse nenhum tufão. Sei que também houve um sismo, mas aqui não sentimos nada”, concluiu.
DA DEVASTAÇÃO
A passagem do tufão Hagibis, que atingiu este sábado o Japão, provocou pelo menos 33 mortos e 170 feridos, segundo o último balanço das autoridades locais. De acordo com as autoridades de resgate, outras 17 pessoas encontram-se desaparecidas. O Governo japonês mobilizou 27 mil membros das For-
ças de Autodefesa (exército) para os trabalhos de socorro. O Hagibis tocou terra no sábado pouco antes das 19:00 e, cerca de duas horas depois, chegou à capital japonesa com rajadas de vento até 200 quilómetros por hora, de acordo com a Agência Meteorológica do Japão (JMA, na sigla em inglês). As chuvas torrenciais fizeram transbordar o rio Chikuma, afectando várias cidades e províncias como Negano. Na cidade de Sano, em Tochigi, a enchente no rio Akiyama afectou também uma área residencial, à qual já acorreram equipas de resgate, incluindo soldados. Em Kawagoe, o rio Ope deixou cerca de 260 pessoas presas num lar de idosos. Por sua vez, em Tóquio, o rio Tama também excedeu o seu limite, inundando os pisos térreos de vários edifícios, incluindo um hospital. Mais de sete milhões de pessoas foram aconselhadas a deixar as suas casas, tendo dezenas de milhares sido acolhidas em centros de abrigo.
M padre católico e um grupo de peregrinos do Sri Lanka, que pretendiam visitar este fim de semana o Santuário de Fátima, queixaram-se à Lusa de lhes ter sido negado o visto de entrada em Portugal. Os católicos cingaleses, da diocese de Trincomalee, no leste do Sri Lanka, solicitaram o visto junto da Embaixada francesa em Colombo, no dia 4 de Setembro, mas o pedido “foi rejeitado”, afirmou o lusodescendente Earl Barthelot, que integrava o grupo. A Embaixada de França representa a portuguesa em Colombo, após um acordo assinado com a Embaixada de Portugal na Índia, explicou. O grupo tinha planeado aterrar no Porto na passada quinta-feira, para o início de uma viagem que passaria por Fátima - onde arrancou ontem a peregrinação internacional -, mas também por Lisboa, onde os cingaleses tinham previsto visitar o Museu da Fundação Oriente, e ainda por Sintra. Perante a recusa, Earl Barthelot disse ter escrito várias
vezes à Embaixada portuguesa em Nova Deli, bem como ao consulado português em Colombo, mas as representações diplomáticas “nunca responderam aos telefonemas ou e-mails”, lamentou. O lusodescendente afirmou ainda ter contactado directamente o embaixador português na Índia, o embaixador português em Banguecoque e até conselheiros das comunidades portuguesas. “Ninguém respondeu”, disse. Aquando da aplicação, Barthelot garante ter enviado todos os documentos exigidos, além de uma carta-convite da Fundação Oriente e do Duque de Bragança, tendo esta última sido remetida à agência Lusa. “Por que é que o Governo português depende da embaixada francesa? Por que é que não existe uma Embaixada portuguesa em Colombo”, questionou, lamentando que “nem o Governo português nem o Governo cingalês” reconheçam os descendentes de portugueses no Sri Lanka.
F1 Bottas vence GP do Japão
O finlandês Valtteri Bottas (Mercedes) venceu ontem o Grande Prémio do Japão de Fórmula 1, 17.ª prova da temporada, que deu o sexto título Mundial de Construtores à Mercedes. Bottas, que arrancou da terceira posição, venceu pela terceira vez este ano, deixando o alemão Sebastian Vettel (Ferrari) a 11,376 segundos e o britânico Lewis Hamilton (Mercedes) a 11,786 segundos, respectivamente. Estes resultados permitem à Mercedes igualar o feito que a Ferrari conseguiu entre 1999 e 2004.