Hoje Macau 14 JUL 2011 #2410

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

hojemacau MOP$10

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ • QUINTA-FEIRA 14 DE JULHO DE 2011 • ANO X • Nº 2410

TEMPO POSSIBILIDADE DE TROVOADAS MIN 25 MAX 30 HUMIDADE 60-95% • CÂMBIOS EURO 11.3 BAHT 0.3 YUAN 1.2

Julgamento por doping

+ Comunidade macaense

BRASILEIRO CIELO PARTE DE MACAU MAIS CEDO

O SENTIDO CONSTANTE DE AMEAÇA

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Ensino Não Superior

PERCEBER OS MOTIVOS DO ALTO CHUMBO • PÁGINA 7

População de Macau sente-se injustiçada

Infeliz com a riqueza do vizinho

O fosso entre ricos e pobres no território está a causar comichão aos residentes. Para a deputada Kwan Tsui Hang, o problema não é os mais pobres não terem dinheiro para comprar o que querem, mas ver cada vez mais ricos a viverem à grande. Após quase 12 anos do estabelecimento da RAEM, “as pessoas sentem que não têm nada”, alerta a deputada. > PÁGINA 4

“Um país, dois sistemas”

NETO VALENTE DISCORDA DE CÉLEBRE CHINÊS • PÁGINA 6


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2 PLANO DE DIREITOS HUMANOS PARA QUATRO ANOS A China está a elaborar um plano de quatro anos para melhorar os direitos humanos no país com base na melhoria das condições de vida da população. O plano a implementar entre 2012 e 2015 tem como objectivo “ampliar a democracia, reforçar o Estado de Direito, e melhorar a vida das pessoas, salvaguardando os direitos humanos”, disse Wang Chen, ministro do Conselho Estatal de Informação chinês. O responsável adiantou ainda que há desafios a superar, como as disparidades nos rendimentos da população, o aumento da pressão sobre os preços e dos conflitos sociais. As autoridades chinesas habitualmente medem a melhoria dos direitos humanos através das condições de vida da população, e não pelas liberdades individuais. PIB CRESCE 9,5% EM TRÊS MESES O Produto Interno Bruto (PIB) da China, segunda economia mundial, cresceu 9,5% no segundo trimestre de 2011, menos duas décimas do que o crescimento registado no primeiro trimestre, segundo informações do Gabinete Nacional de Estatísticas chinês. Somando ambos os períodos, no primeiro semestre de 2011, o PIB da China ascendeu aos 20,44 biliões de yuan, o que equivale a um aumento interanual de 9,6%, destacou o porta-voz do Gabinete Nacional de Estatísticas da China, Sheng Laiyun. A economia chinesa está em desaceleração desde o último trimestre de 2010, tendência que não surpreende os analistas, já que no ano passado, depois das medidas de estímulo para fazer frente à crise global, Pequim colocou em marcha um plano de “aterragem suave” para evitar o sobreaquecimento da sua economia. BLOQUEIO NO CONSELHO DE SEGURANÇA GERA POLÉMICA O ministro da Defesa francês, Gérard Longuet, considerou “indecente” o “bloqueio” da China e da Rússia, que se opõem à votação de uma resolução no Conselho de Segurança da ONU a condenar a repressão na Síria. Questionado na cadeia de televisão LCI sobre a atitude a adoptar para que as Nações Unidas ajam contra a Síria, Gerard Longuet estimou que era necessário “convencer a China e a Rússia de que este bloqueio é indecente”. “É indecente, porque manifestamente Bachar al-Assad [o Presidente sírio] mobilizou meios inverosímeis para neutralizar a oposição e países que evoluem, como a Rússia, ou que afirmam pertencer à comunidade das nações, como a China, devem aceitar as regras comuns: um governo não trata a oposição com tiros de canhão”, declarou Longuet, citado pela AFP.

ACTUAL Marcas ocidentais fornecidas por poluidores chineses

Produzir barato e poluir bastante

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MA investigação da Greenpeace descobriu que um conglomerado de fábricas chinesas, que fornece multinacionais como Nike, Adidas, Puma, H&M, Lacoste e uma dúzia de outras marcas internacionais de moda, continua a poluir com químicos perigosos os principais cursos de água da China. Isto apesar de os compradores ocidentais insistirem que exigem aos seus fornecedores o cumprimentos dos mais elevados padrões ocidentais. De acordo com o The Guardian, as acusações da Greenpeace seguem-se a uma série de escândalos relacionados com fábricas chinesas que fornecem multinacionais ocidentais. Os activistas locais consideram que estes casos “sublinham a hipocrisia dos compradores

ocidentais”, que nos seus países prometem, aos consumidores riscos normas de segurança elevadas, “ao mesmo tempo que negoceiam com empresas que beneficiam dos regulação ambiental laxista” na China. Segundo conta o jornal britânico, a Greenpeace recolheu durante um ano amostras de esgotos de fábricas da indústria têxtil chinesa, o maior sector industrial na China. As amostras foram analisadas na Universidade de Exeter e na Holanda e os testes detectaram um “leque de poluentes persistentes nos esgotos de duas grandes fábricas”. Nas descargas de uma grande fábrica da Youngor, perto de Xangai, foi detectado nonilfenol, um interruptor endócrino que se infiltra na cadeia alimentar, químicos perfluo-

rocarbonetos, que podem ser prejudiciais para o fígado e para a produção de esperma, e um ‘cocktail’ de outras toxinas. Estes químicos são proibidos na União Europeia (UE), mas não na China e muitos já foram encontrados em peixes dos rios chineses. A Youngor é o maior conglomerado chinês da área têxtil e supostamente usa as mais avançadas técnicas de tinturaria, tecelagem e impressão na China. Mas essas tecnologias são alegadamente as responsáveis pelas descargas poluentes no rio Fenghua. Nike, Adidas, Puma, H&M e Lacoste admitiram ter negócios directa ou indirectamente com a Youngor, mas negam ter contratado à empresa chinesa os serviços que estarão na origem da poluição, diz o mesmo jornal.

PARAR COM A POLUIÇÃO DOS RIOS Membros do grupo Greenpeace mostram imagens de rios poluídos na China durante um protesto numa zona comercial de Pequim. Ambientalistas protestaram à porta da loja da Adidas, depois da Greenpeace ter acusado os fabricantes de equipamentos para as grandes marcas desportivas, como a Adidas e a Nike, de poluírem os rios chineses com componentes tóxicos usados nas roupas.

IDOSO BEBE GASOLINA HÁ 42 ANOS PARA TRATAR A TOSSE E DORES DE GARGANTA

O homem-carro de Chongqing U

M homem de 71 anos, residente em Chongqing, uma cidade do centro da China, bebe gasolina e querosene há 42 anos para tratar a tosse e dores de garganta. Chen De, o ancião de aparência frágil – mede um metro e meio de altura e é muito magro – disse que, todos os meses, bebe entre três a quatro litros de gasolina. O homem disse que começou a consumir querosene em 1969, quando uma pessoa lhe recomendou o produto para tratar uma

tosse muito forte, e que continuou a consumir depois de confirmar que o combustível era eficaz para suavizar a garganta. Chen De iniciou-se no consumo da gasolina mais tarde, com a redução da venda de querosene na China. O indivíduo, que calcula ter consumido cerca de uma tonelada e meia de combustível desde 1969, defende que o consumo dos produtos tóxicos tem sido muito benéfico para a sua saúde.

Chen De vive sozinho há oito anos para evitar conflitos com os filhos que o têm tentado convencer a deixar de consumir gasolina e querosene. Depois de terem tomado conhecimento do caso, médicos do hospital Honglou de Chongqing, analisaram Chen e ofereceram-lhe um tratamento gratuito para controlar a doença, mas o ancião declinou, argumentando que a sua saúde tem estado muito bem nos últimos anos e que não

tem necessidade de recorrer a nenhum hospital. Os médicos confirmaram que a saúde de Chen é normal, apesar de ter os pulmões um pouco inflamados, ao concluírem que o corpo do paciente já deve ter desenvolvido uma adição ao consumo de combustível. Segundo os cálculos do “Global Times”, a quantidade de combustível consumida por Chen nos últimos 42 anos era suficiente para percorrer 21.600 quilómetros de automóvel.


Talvez tenha chegado o momento de a ciência convencional retomar um papel independente e, em conjunto com outras áreas do conhecimento, criar o manto interdisciplinar e inteiriço que converte a mera informação em sabedoria. Só então os jovens deixarão de se afastar da ciência convencional, como actualmente sucede. Jorge Rodrigues Simão, P. 14 E 15

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número de websites chineses caíram quase pela metade no ano passado, segundo um estudo realizado por um “think tank” de Pequim, que já refutou a ideia de que tantos encerramentos estejam de alguma forma conectados ao seu forte controlo de conteúdos. O Relatório Anual do Desenvolvimento dos Novos Média, da responsabilidade da Academia de Ciências Sociais chinesa, afirma que existiam 1,91 milhão de websites criados dentro da China, o que representa um número 41% inferior aos 3,23 milhões registados em 2009. Liu Ruisheng, pesquisador-chefe do documento, disse que a queda acentuada foi, na verdade, resultado de uma má fase económica. “A China tem um nível muito elevado de liberdade de expressão online”, assegurou. “Houve muitos poucos casos de websites encerrados devido ao PUB

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QUASE A METADE DOS WEBSITES CHINESES SÓ DURAM 12 MESES

Um ano e adeus até qualquer dia controlo de conteúdos nos últimos anos.” A maior parte dos sites que desapareceram da vista dos 457 milhões de usuários chineses são principalmente fóruns de discussão e blogues. “A criação e a operação de websites está sujeita a leis e regulações”, acrescentou o especialista. “Algumas páginas ilegais foram bloqueadas durante uma operação que visava detectar conteúdos obscenos”, explicou Liu Ruisheng. Desde Dezembro de 2009, milhares de páginas pequenas, incluindo algumas ligadas à pornografia, foram deitadas abaixo numa mega-operação nacional para tirar do ar websites pornográficos. O Governo Central justificou

que todos eles não estavam “registados oficialmente”. Analistas independentes, contudo, dizem que a redução é na verdade consequência de várias medidas que reduzem a liberdade de expressão. “O número de websites interactivos, incluindo

fóruns, foram retirados do ar. Os que continuam a funcionar são muito menos activos do que antes”, apontou Wu Qiang, da Universidade Tsinghua. O portal de notícias oficial de Jinan, na província de Shandong, Sdnews.com, está

inacessível desde a semana passada, desde que publicou um “banner” de condolências ao ex-presidente chinês Jiang Zemin. As autoridades locais negam, entretanto, que tenham alguma responsabilidade na matéria. O relatório oficial aponta

também que está “bastante consciente” das crescentes “forças estrangeiras que tentam infiltrar-se na ideologia política chinesa”. O documento refere que a segurança ideológica é o assunto mais importante para a China na era digital. Os Estados Unidos têm apostado numa forte campanha contra as políticas chinesas na Internet. “É normal que os americanos tentem influenciar outros países com a sua própria ideologia, mas a China é o seu alvo número um, e também a sua rival”, frisou o pesquisador-chefe. “A retirada do Google no ano passado foi uma conspiração política planeada pela empresa e pelo Governo de Washington. Os novos média tornaram-se uma ferramenta importante para os EUA na sua busca de hegemonia e domínio de outras nações, como uma verdadeira arma automática contra a China.”


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POLÍTICA

Macau preocupada com injustiças na distribuição de riqueza

Rico mais rico, pobre mais pobre Virginia Leung

considera a parlamentar, é o principal problema para o Governo de Macau, no que toca à quebra no índice de satisfação dos residentes.

o “Um País, Dois Sistemas” realizada pelo Instituto Politécnico de Macau (IPM) –, um quinto da população está insatisfeito com o desempenho do Governo, com muitas pessoas a reclamarem de que não tiveram qualquer melhoria de vida após a Transferência, há mais de dez anos. Um terço das

população está preocupada com uma suposta tendência para o agravamento nas disparidades de rendimentos entre ricos e pobres na sociedade de Macau. A deficiente distribuição de riqueza é mesmo apontada pela deputada da Assembleia Legislativa (AL) Kwan Tsui Hang como a principal razão por trás da insatisfação manifestada por uma percentagem significativa de entrevistados numa sondagem de opinião recente. Vestuário, alimentação, habitação e transportes são as coisas que mais pesam na qualidade de vida e, na opinião de Kwan Tsui Hang as pessoas não podem estar satisfeitas com a tendência verificada nos últimos três itens. Alta inflação, transportes públicos envelhecidos e problemas habitacionais são factores graves que

provocam descontentamento. Mas para a deputada, as pessoas “estão insatisfeitas, não por não terem capacidade [para comprar], mas devido às injustiças”, que fazem com que, após 12 anos de desenvolvimento da RAEM, não tenham nada. Embora Macau esteja a viver um rápido crescimento económico e das receitas fiscais, assinala Kwan, ainda existem residentes a ganhar menos de 20 mil patacas e, dadas as circunstâncias de inflação elevada e altos preços da habitação, o fosso entre ricos e pobres está a tornar-se cada vez mais profundo. Para Kwan Tsui Hang as várias políticas implementadas pelo Governo têm levado, não a que as pessoas morram devido à fome, mas a que a situação em que “os pobres ficam mais pobres e os ricos ficam mais ricos” se esteja a tornar mais acentuada. A população não está propriamente preocupada com a “fome”, mas sim com a defesa dos seus direitos na distribuição de recursos.Ahabitação,

Joana Freitas

MEDIAÇÃO IMOBILIÁRIA SEM LIMITES PARA COMISSÕES

virginia.leung@hojemacau.com.mo

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joana.freitas@hojemacau.com.mo

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última reunião entre a 1.ª Comissão Permanente da Assembleia e o Executivo foi há já dois meses, período utilizado pelo Governo para redigir a nova versão do texto legislativo referente à Lei de Mediação Imobiliária. As alterações, apresentadas

UM QUINTO DOS OLHOS MAIS ABERTOS

De acordo com o estudo de opinião – uma sondagem sobre

Governo decidiu e manteve ontem por Kwan Tsui Hang, não trazem mudanças significativas ao já discutido entre os deputados. A presidente da comissão referiu que apesar “de existir um vasto

conteúdo que foi acrescentado à proposta inicial (mais 50 artigos), as sugestões feitas anteriormente serviram de base para as alterações”. O Governo não afasta a PUB

AVISO CONCURSO PÚBLICO N.º 29/P/2011 Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 29 de Junho de 2011, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento de Equipamentos Laboratoriais Cedidos Como Contrapartida do Fornecimento de Reagentes ao Serviço de Patologia Clínica dos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos encontram à disposição dos interessados desde o dia 13 de Julho de 2011, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato sita na Cave 1 do Centro Hospitalar Conde de S. Januário, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento do custo das respectivas fotocópias ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm. gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral

destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega das propostas termina às 17,45 horas do dia 10 de Agosto de 2011. O acto público deste concurso terá lugar no dia 11 de Agosto de 2011, pelas 10,00 horas, na sala do «Museu» situada no r/c do Edifício da Administração dos Serviços de Saúde junto do C.H.C.S.J. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de $510 000,00 (quinhentas e dez mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 5 de Julho de 2011 O Director dos Serviços, Lei Chin Ion

possibilidade de indivíduos não-residentes poderem ter acesso à licença de agente imobiliário, algo que gerou muita controvérsia entre as associações imobiliárias locais que temem a concorrência externa, até porque, conforme defende o Executivo, a obtenção de licença não significa que os agentes exerçam a actividade no território. Aliás, se um não residente pretender trabalhar na RAEM, fica entregue à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais a emissão dessa autorização, regulada por um outro diploma. O Executivo baseia-se nas regiões vizinhas para justificar a decisão: “nos territórios vizinhos não há limite para a obtenção de licença” e estas licenças podem ser importantes para futuras transacções com o exterior. “O Governo decidiu assim, depois de ter consul-

pessoas considera ter havido pequenos desenvolvimentos nesta e naquela área e 19% gostariam que o Governo Central e o da RAEM prestassem mais atenção ao problema do abismo entre ricos e pobres. Entre os inquiridos, 15,93% manifestaram-se “insatisfeitos”, e 4,44%, “absolutamente insatisfeitos” com as políticas do Governo. Depois de Macau ter passado para as mãos da China, assinala Kwan, a economia local tem vivido um sonho, com o PIB per capita a disparar para mais de 49 mil patacas. O Governo estabeleceu 15 anos de educação gratuita, distribuição de dinheiro, sistemas de poupança central, subsídios ao arrendamento, além de aumentar o índice mínimo de subsistência por diversas vezes e melhorados os sistemas de saúde pública, etc. Mas, ainda assim, um quinto da população mostra-se insatisfeita. “Os residentes de Macau estão a ter cada vez mais conhecimento e são agora capazes de pensar nos porquês”, observa Kwan. “Para consolidar o sistema legislativo, seria útil aumentar a transparência, e isso seria muito importante para a imagem do Governo.”

tado as regiões, até para que haja convergência com essas regiões e maior frequência entre transacções”, explicou Kwan Tsui Hang. Decidido está ainda que não faz parte das intenções do Governo aplicar limites mínimo e máximo nos valores das comissões dos agentes imobiliários. No primeiro debate sobre o assunto, Kwan Tsui Hang assegurou que as associações ligadas ao sector imobiliário e os membros da AL queriam que esses limites fossem regulados por lei, mas o Governo afirmou “não estar preparado”, uma vez que “a fixação de limites implicaria também a fixação de sanções para se estes forem violados”. As dúvidas, explicou na altura a presidente da comissão, prendiam-se também com as dificuldades em saber o valor exacto da percentagem da comissão recebida ou a receber pelo agente imobiliário, uma vez que um agente que desempenhe um bom trabalho, por exemplo, possa ser merecedor de uma comissão que vá além do

limite máximo estabelecido, no caso de este ficar regulamentado. Uma limitação do valor faria com que não fosse permitido ao funcionário imobiliário receber mais do que o implementado na lei. Também o duplo agenciamento, ou seja a representação do comprador e do vendedor por um mesmo agente, foi alvo de críticas, mas não foi feita qualquer alteração. O Governo vai permitir esta, que é uma prática comum no território, exigindo apenas que o mediador imobiliário “informe e obtenha consentimento” de ambas as partes. Em caso de prestação de agenciação imobiliária sem licença, os mediadores ficarão sujeitos a um regime sancionatório. A proposta, aprovada na generalidade em Fevereiro, pode ter excluídas algumas normas. Kwan Tsui Hang afirma que o novo texto ainda está na fase da discussão e adianta ainda que “o Governo vai apresentar uma nova versão por motivos técnicos de redacção”.


MACAU GANHA UM NOVO PORTAL PARA PROCURA DE EMPREGO Há agora uma nova ferramenta disponível para a procura de emprego – o site hello-jobs.com. O portal, já em funcionamento, oferece ofertas em todas as áreas e para várias línguas e é uma aposta para cobrir a lacuna existente nesse mercado no território. Está também disponível um inquérito acerca do nível salarial ambicionado pelos trabalhadores locais, que servirá de referência para os empregadores.

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Fundo dos Pandas para desenvolver conservação dos animais de Seac Pai Van

Tudo por panda, quase nada por urso Gonçalo Lobo Pinheiro glp@hojemacau.com.mo

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urso do Jardim da Flora continua ignorado. Pandas gigantes são “tesouros preciosos” oferecidos pelo Governo Central e, por isso, o Fundo dos Pandas continuará activo para promover e desenvolver a educação sobre a conservação dos pandas gigantes. Em resposta a uma interpelação do deputado da Assembleia Legislativa (AL) José Pereira Coutinho, o presidente do Conselho de Administração do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), Tam Vai Man, reiterou que o Fundo dos Pandas tem como objectivo “o financiamento do desenvolvimento da educação, estudos e projectos” relacionados com os pandas gigantes. Pereira Coutinho questionou o Governo em Maio passado sobre a razão da exis-

tência do Fundo dos Pandas quando o IACM, dotado de autonomia administrativa, poderia, “sem burocracias” ter esse encargo. “O IACM poderia gerir os pandas (...) reduzindo custos e aumentando a eficiência da administração”, referiu o deputado. Tam Vai Man defende, na sua resposta, que o Fundo dos Pandas “estimula o envio de mensagens sobre a conservação de espécies raras” como é o caso dos pandas gigantes, bem como “a valorização da protecção ambiental e promoção da convivência harmoniosa entre o homem e a natureza”. Contudo, a “convivência harmoniosa” só é possível em Macau pagando dez patacas, critica Pereira Coutinho. O presidente do IACM explicou na resposta à interpelação que “todas as receitas que resultem dos bilhetes de entrada do Pavilhão do Panda Gigante, são transferidos para esse Fundo dos Pandas, o qual tem tam-

bém, como fontes de receitas, a venda de publicações e lembranças, dotações atribuídas pelo Governo e donativos de locais ou do exterior”. Já o urso do Jardim da Flora não tem a mesma sorte. Esquecido, ainda mais depois da chegada dos pandas, pode ser visto no referido jardim a custo zero e nenhum fundo foi criado para ajudar na sua conservação. “Foi salvo há muitos anos quando foi encontrado pelas autoridades

QUALIDADE ESBARRA NA ESCASSEZ DE MOTORISTAS

O autocarro à frente dos bois Virginia Leung

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novo modelo de funcionamento do serviço de autocarros (com a inclusão de um terceiro operador) prevê um aumento médio de 40% na frequência dos vários itinerários, mas existe ainda uma carência significativa de condutores – 20% das vagas ainda estão por preencher – que pode estragar as contas. O deputado da Assembleia Legislativa (AL) Chan Meng Kam duvida que as três companhias sejam capazes de cumprir os critérios estabelecidos pelo Governo e apresentou uma interpelação escrita para saber como o sector seria apoiado com vista à resolução dos problemas de recursos humanos e de qualidade do serviço. A menos de um mês da data prevista para a implementação do novo modelo de serviço de autocarros públicos (1 de Agosto), assinala Chan Meng Kam, parece cada vez mais difícil para o Governo conseguir cumprir as promessas de aumento na qualidade, nos itinerários e na frequência dos transportes. As companhias operadoras têm de estar de acordo com os critérios exigidos para propor-

cionarem as instalações, o pessoal e os autocarros necessários. O deputado questiona se as três empresas concessionárias estão dentro dos padrões fixados e se elas poderão ou não empregar os motoristas necessários. E vai ainda mais longe: se uma das empresas não conseguir cumprir os critérios – significando isso uma quebra do contrato – como poderão ser apontadas responsabilidades? Perante as circunstâncias actuais, em que se verifica uma falta de um quinto dos motoristas considerados necessários para cumprir o novo plano de transportes, os operadores alegam que poderão sempre arranjar alguns condutores em “part-time” e/ou aumentar as horas extraordinárias dos restantes motoristas para resolver o problema. Mas o deputado eleito, pela Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, questiona na sua interpelação se o Governo tem conhecimento da situação de escassez de mão-de-obra que vive o sector e se está a levar em conta a possibilidade de as soluções apontadas pelos operadores para desenrascar o problema acabarem por se reflectir sobre a qualidade do serviço e a segurança.

num restaurante”, lembrou Pereira Coutinho. Bo Bo, como se chama, não tem os holofotes virados para si como Hoi Hoi e Sam Sam, e talvez por isso podemos sempre vê-lo com um ar triste, contudo o urso do PUB

Jardim da Flora, actualmente com 27 anos – quase em fim de vida -, é também uma espécie ameaçada na China. De realçar apenas que o IACM melhorou o cativeiro do animal em Abril passado com um aumento do espaço,

divisão em parte exterior e interior – para resguardar o animal, e um sistema de ajustamento da temperatura com ar condicionado. Seja como for, nada que chegue às mordomias de Hoi Hoi e Sam Sam.


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SOCIEDADE

Sistemas jurídicos da China e das RAEs comparados

“O princípio ‘um país, dois sistemas’ é estimulante para o futuro da China”

Filipa Queiroz

filipa.queiroz@hojemacau.com.mo

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NOVADOR” e “estimulante” foram os adjectivos empregados ontem pelo professor Xu Xianming, jurista célebre e reitor da Universidade de Shandong, para caracterizar o princípio “um país, dois sistemas” num seminário organizado pelo Governo de Macau. Num discurso apresentado pela secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan, o também membro da Comissão Jurídica e Permanente da Assembleia Popular Nacional fez uma revisão histórica da edificação do primado da lei na China, fazendo uma achega final sobre o relacionamento entre o princípio “um país, dois sistemas” e a Constituição e o sistema jurídico do continente. Xianming referiu-se ao princípio que viabilizou a unificação da China como sendo “muito estimulante e um catalisador para o futuro” da nação, podendo mesmo ter um papel proactivo no sentido de inovar o ordenamento jurídico do continente. “Taiwan tem o mesmo Direito de Macau, baseado no Direito romano, Hong Kong é diferente, mas todos contribuem para o desenvolvimento do ordenamento jurídico do conti-

so”, argumentou o jurista. “Não vejo necessidade de fazer uma lei específica para resolver pequenos desajustamentos de sistema que sempre existiram e sempre existirão. São sistemas diferentes, de facto. É mais fácil coincidir o conteúdo que se considere melhor porventura em vigor no continente ou vice-versa”, completou.

FILIPA QUEIROZ

O jurista chinês Xu Xianming admite que os exemplos de Macau, Hong Kong e Taiwan podem estimular o sistema jurídico da China, apesar das diferenças que por vezes geram conflitos. Defende que uma lei pode resolver os problemas. Neto Valente discorda

DIREITOS HUMANOS

nente”, disse Xianming. “Podemos tirar partido disso.” No final da apresentação Jorge Neto Valente, presidente da Associação dos Advogados de Macau (AAM), lamentou que o académico não se tivesse debruçado mais sobre o assunto e também achou “um pouco forçado” dizer que os sistemas de Macau e Taiwan são idênticos. “Não são, só se for apenas no sentido de serem sistemas de matriz do Direito continental e não do ‘Common Law’, mas isso é pouco para caracterizar um sistema”, comentou o jurista, acrescentando que mesmo para quem já conhecesse a história da elaboração legislativa na China desde 1949 a intervenção “esteve ao nível do objectivo que era comemorar o 90.º aniversário do Partido Comunista Chinês (PCC)”.

A BARREIRA VISÍVEL

Liberdade de circulação, dever do planeamento familiar, dever de cumprimento do serviço militar, questões relacionadas com a nacionalidade e participação na administração dos assuntos do Estado foram algumas das diferenças apontadas por Xu Xianming entre o sistema jurídico da China e o das regiões de administração especial. “As RAEs prevêem disposições comparativamente mais flexíveis do que no Interior da China (...) gozam de direitos e liberdades mais amplos do que os consagrados na Constituição”, sustentou.

O académico referiu também que depois da transferência, o problema de conflitos de leis entre regiões são um facto. Deu um exemplo: “Um habitante da RAEHK quando se casa no interior da China, a sua idade para efeito de casamento é regulada pela lei da RPC ou pela lei de Hong Kong?” Xianming sugere que este tipo de problemas seja resolvido através da elaboração de uma lei. Jorge Neto Valente discorda. “Se um português morre em Macau como é que se resolve? No território, a sucessão é regulada pela lei de Macau por ser residência habitual. Em Portugal é regulada pela lei da nacionalidade que é a lei portuguesa. Se deixa bens e Macau e em Portugal tem de se resolver criando uma lei para este tido de conflitos? Se calhar não é preci-

O presidente da AAM diz que não é fácil eleger uma área de maior fragilidade do sistema jurídico chinês, mas admite que “está na moda falar dos Direitos Humanos”. “Mas foi dito hoje [ontem] pelo orador que esses estão todos [28] garantidos na Constituição. E estão. Também em Portugal, durante o Estado Novo, a Constituição de 1933 tinha, salvo erro, mais de 30. Mas depois tudo tem uma vírgula no fim e a seguir diz ‘nos termos da lei’”, ironizou. Para Neto Valente as leis vão sendo feitas de acordo com a evolução da sociedade e um determinado estado de desenvolvimento social. Depois de ter aprovado os primeiros 731 diplomas legais, após o estabelecimento da Nova China entre os anos 1949 e 1956, nomeadamente a primeira Constituição da República Popular da China (“Constituição de 1954”), o processo de elaboração jurídica no continente sofreu um retrocesso. Xianming recordou que desde 1957 até ao final da Revolução Cultural “3000 advogados do país foram classificados como pertencentes

à seita da direita” e o mote dos dirigentes, nomeadamente o líder do PCC Mao Tse-tung, era “as leis são uma coisa que nos atrapalha, agora temos de as largar”. “Acho até que se fizermos uma comparação em relação ao princípio da palestra teria sido interessante notar que o desenvolvimento do conceito ‘um país, dois sistemas’ é obviamente uma solução inteligente para um problema real, o que não foi visto em 1949”, comentou Neto Valente. “Naquele tempo o estado revolucionário decidiu de uma penada destruir um sistema porque era anterior, nacionalista, capitalista, retrógrado, feudal, etc. E o que é que fizeram? Destruíram o sistema e ficou um vazio, essa é que é essa”, continuou. Até 1978. Nessa altura Deng Xiaping tomou as rédeas do desenvolvimento jurídico, retomando o princípio “todos são iguais perante a lei”. Direito à propriedade privada, segurança social e uma governação científica com a tónica no desenvolvimento económico. Em 2005, já depois da China ter entrado na fase de transformação para um “Estado de Direito” com um “sistema jurídico socialista com características chinesas”, Xianming conta que participou na elaboração da lei anti-subversão. “É uma lei que procura a paz num convívio harmonioso de todas as partes, mas foi interpretada como uma lei proibitiva das acções das pessoas”, explicou, salientando orgulhoso que até ao final de 2010 registou 236 leis, 690 regulamentos administrativos e 8600 regulamentos locais. “É fácil dizermos, quando falham algumas explicações, que o socialismo que há na China é especial, tem características chinesas. Todo o mundo tem ou já teve socialismo, mas na China é com características chinesas”, atirou Neto Valente. O seminário de ontem inseriu-se no programa de comemorações do 90.º aniversário da fundação do PCC e o centenário da Revolução de 1911. “E da introdução do marxismo na China”, lembrou Xianming, referindo-se às ideias introduzida na China pelo escritor exilado chinês Liang Qichao.


HILLARY CLINTON FAZ VISITA A HONG KONG ESTE MÊS

O Departamento de Estado norte-americano anunciou que a Secretária Hillary Clinton vai visitar Hong Kong no próximo dia 25. Na antiga colónia britânica, a diplomata irá encontrar-se com o Chefe do Executivo, Donald Tsang, e com deputados do Conselho Legislativo. A secretária de Estado visita Hong Kong após uma deslocação oficial de quatro dias à Indonésia - que se inicia dia 21 - onde irá participar de uma conferência da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).

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Alterado plano decenal para o desenvolvimento do ensino não superior

Investir na educação com mudanças Reformar os métodos de avaliação e atrair novos profissionais para a área da educação com incentivos. São os pontos primordiais da DSEJ para melhorar a qualidade de ensino não superior em Macau. A última versão do texto sobre o planeamento decenal deveria ter chegado no primeiro semestre mas alterações obrigam a que esta data seja adiada pelo menos até Novembro Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

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EPOIS da última reunião plenária do Conselho de Educação para o Ensino Não Superior, em Janeiro, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) submeteu a auscultação pública o texto preliminar para o “Planeamento Decenal para o Desenvolvimento do Ensino Não Superior”. Ontem, Wong Kin Mou, chefe de departamento dos estudos e recursos educativos da DSEJ, apresentou as alterações à proposta, baseadas nas opiniões da população e dos profissionais da área. “Uma ideia muito importante no planeamento é atrair alunos do secundário a fazerem o curso de professores”, frisou o responsável. A contratação de novos docentes foi um dos temas discutidos na sessão, uma vez que, salienta Wong Kin Mou, “desde que foi reduzido o tempo lectivo para os professores do ensino particular [com a aprovação do Quadro Geral do Pessoal Docente do Ensino Não Superior das Escolas Particulares], precisamos de ter mais profissionais”. Além do Executivo estar a ponderar atribuir subsídios e bolsas de apoio aos alunos que tencionam seguir o curso de docente, conforme foi sugerido por Lee Chong Cheng na altura da aprovação na generalidade da lei do Quadro Geral na Assembleia Legislativa, no final do mês passado, o Governo planeia mais. “Temos mantido sempre o diálogo com as instituições de ensino superior para que formem docentes e vamos manter essas conversações”, afirmou o chefe do departamento. “Queremos que esta se torne uma profissão estável e de confiança para que os jovens escolham esta profissão, mas queremos também atrair novamente docentes que, por uma ou outra razão, o deixaram de o ser”, acrescentou. Ainda não é certo como poderá ser feito este trabalho, mas os incen-

tivos podem passar, por exemplo, por oferecer bolsas a professores que tenham um curso ditto normal para que estes possam ter outro tipo de formação, que contribua para o seu desenvolvimento enquanto profissionais. A formação do pessoal docente é outro dos pontos que merece reparos na redacção do texto. “É importante o apoio no desenvolvimento físico e psicológico das equipas docentes, além de recrutar mais talentos nesta área”, avançou Wong Kin Mou. Este sempre foi uma temática no debate do planeamento decenal, bem como o reforço e formação de pessoal de aconselhamento nas escolas, cujas taxas de reprovação têm apresentado dados muito elevados. Desde o início de 2010 que a DSEJ alerta para a taxa de insucesso escolar no ensino secundário do território, que atingiu os 11% no ano passado e levou já cerca de 200 estudantes a abandonar a escola anualmente, grande parte devido a sucessivas reprovações. Assim, além da redução da carga horária semanal (através da prolongação do calendário escolar dos actuais 180 dias para 195 dias) e da criação de turmas com reduzido número de alunos, a DSEJ pretende reformar o sistema de avaliação.

tem de haver mais diversidade para motivar os alunos a sentirem amor pela aprendizagem”, referiu o responsável da DSEJ. Nas instituições de ensino não superior do território, particulares ou não, existem actualmente mais de cem critérios para a avaliação e cada escola, além de ter critérios diversificados utiliza mais do que um para os diferentes alunos. “Não queremos que haja apenas um critério uniformizado para todos, mas sim que haja pelo menos um padrão”, explica Wong Kin Mou. Existem as provas por exame, “mas existem outras formas de avaliar os estudantes”, avança o

responsável que defende “que não é à base de pontuar conhecimentos apenas, mas sim a atitude perante a aprendizagem, por exemplo” que vai permitir avaliar de forma mais vasta os alunos. O novo mecanismo de avaliação que vai, portanto, determinar diversos critérios que podem ser seguidos, irá ser promovido junto das escolas ou através de seminários, de forma a que “as instituições tomem conhecimento e possam experimentar este sistema de avaliação, que ainda vai ter um diploma legal”, clarificou o chefe de departamento. A educação moral e cívica é

SEGUIR PADRÕES

A alta taxa de reprovação do território foi amplamente discutida durante a consulta devido a ser um problema “real”, afirma Wong Kin Mou. O responsável alerta para a necessidade de se perceber quais as condicionantes para os alunos de sucesso, de forma a que sejam aproveitadas para melhorias futuras, e qual a origem dos comportamentos de desvio, mas o princípio base passará por criar “mais diversidade durante a fase de avaliação”. Esta é uma das alterações a que vai ser submetida a versão do texto legislativo para o planeamento decenal. “Durante a fase de avaliação

CIDADÃOS QUEREM APRENDER

Depois de ter aumentado os subsídios de propinas e a escolaridade obrigatória gratuita para todos os níveis de ensino no ano passado, o Governo pretende continuar o investimento no ensino contínuo e para adultos. Este mês, apenas há dez dias, entrou em vigor o Programa de Aperfeiçoamento e Desenvolvimento Contínuo, que permite aos cidadãos interessados em frequentar cursos ou candidatarem-se a exames de credenciação receberem um apoio de 5000 patacas do Governo. Até agora, foram mil os cidadãos que já se registaram pessoalmente e 32 mil os que o fizeram via internet, para estudarem em instituições do território. Cerca de 40 estabelecimentos de ensino já fazem também parte do programa, oferecendo mais de 800 cursos de formação possíveis, garante a DSEJ. Mais de mil cursos estão no processo de apresentação das candidaturas, adianta Ao Ken Meng, chefe de divisão da extensão educativa, e dez alunos meteram requerimentos para estudar em estabelecimentos fora da RAEM.

outro dos temas fundamentais da proposta e há mesmo quem defenda o seu ensino desde a primária. A disciplina visa dar a entender aos alunos o conceito de sociedade, amor à pátria e a Macau e incentivá-los a permanecerem na escola. O reforço nos apoios no âmbito da qualidade artística, de forma a criar talentos que possam contribuir futuramente “para o desenvolvimento das indústrias criativas” e equilibrar o conhecimento científico e a criatividade, é outro dos pontos que merece especial atenção no novo texto a redigir.

COOPERAÇÃO IMPORTA

“Desde o início da consulta que se fala em participação”, lembrou Wong Kin Mou. Mas esta, defende a DSEJ, não pode ser apenas fruto do trabalho do Governo. “Docentes, escolas e alunos devem estreitar relações e fazer parte das actividades”, refere o responsável. “Não é apenas um plano de dez anos, mas uma cooperação entre escolas, pais, Governo de Macau e sociedade em geral, com quem queremos discutir a direcção do desenvolvimento da nossa educação”, vincou o director da DSEJ, Sou Chio Fai, na anterior reunião plenária do Conselho. As escolas devem ainda, avisa a DSEJ, promover a criação de associações de encarregados de educação e prestar mais informação às já existentes. Esta alteração pode originar a última versão do texto relativo ao “Planeamento Decenal para o Desenvolvimento do Ensino Não Superior”, que deveria ter chegado no primeiro semestre deste ano. Agora adiada para finais de Novembro, a entrega do texto alterado surge depois de feita a apresentação das opiniões. Wong Kin Mou justificou a demora na redacção da proposta devido “à necessidade de reforçar determinados critérios que a auscultação obrigou a que fossem alterados. “Isto vai servir de orientação para o futuro”, alertou o chefe de divisão.


vida

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DESF

Um consór a produção tem pelo m genoma da

Carne contaminada com radioactividad

Click ecológico

Vacas não escapam Carne de vaca com níveis de césio várias vezes acima do permitido, da província de Fukushima, foi encontrada à venda na cidade japonesa de Shizuoka

A A DIFÍCIL TAREFA DE RECICLAR • Encontrar um “ecoponto” em Macau para depositar o lixo reciclável não é tarefa fácil. Conseguir usar os contentores também não. Há uma semana que os separadores disponíveis na Rua da Imprensa Nacional, próximos à Igreja de São Lourenço, estão bloqueados por materiais das obras que a empresa Águas de Macau anda a fazer pelo bairro. Foto: Vanessa Amaro

EMPRESA DOS EUA EXIBE ‘CARRO BOLHA’ ELÉCTRICO E SEM MOTORISTA

carne contaminada – originária de uma exploração na cidade de Minamisoma, nos arredores da central nuclear danificada de Fukushima - foi vendida na província de Shizuoka, no Centro do país, e alguma já foi consumida. Uma empresa de processamento de alimentos comprou 27 quilos de carne àquela exploração a 10 de Junho e outros 13 quilos já foram vendidos a vários restaurantes.

QUINTA TRINDLEDOWN OFERECE AMBIENTE CASEIRO

Um asilo para os velhotes d

A mobilidade humana do futuro U

M carro eléctrico em formato de bolha, com apenas duas rodas, um joystick de consola de jogos no lugar do volante e sensores que permitem que o veículo se mova sob controlo do piloto automático, caso o motorista não queira dirigir. Assim é o EN-V, um carro do futuro criado pela empresa americana GM (General Motors). O protótipo é a visão para a mobilidade urbana no futuro. O EN-V, uma abreviação de Electric Networked Vehicle (Veículo Eléctrico em Rede, em português), atinge velocidades de 40 quilómetros por hora. A princípio, essa velocidade pode parecer perigosa, já que o carro não possui air bag e para-choque, mas o automóvel foi feito especialmente para evitar colisões, afirma Tom Brown,

do departamento de pesquisa e desenvolvimento da GM. “Ao contrário de carros convencionais, que são desenhados para proteger passageiros e pedestres em casos de acidentes, o EN-V é mais parecido com uma aeronave, em que se procura evitar qualquer tipo de acidente”, diz Brown. O EN-V usa tecnologias como sensores giroscópicos inspirados nos Segways - os veículos motorizados de duas rodas.

SEM MOTORISTA

A grande novidade do “carro bolha” da GM são os sistemas que permitem que ele detecte outros veículos e obstáculos ao seu redor com sensores, câmeras e um GPS. Com isso, os veículos não teriam de ser controlados pelos motoristas, e os passageiros desfrutariam

de outras actividades durante a viagem, como dormir e trabalhar. Brown diz que crianças, por exemplo, poderiam ser colocadas dentro do veículo sem a presença de um adulto, e levadas para o colégio. O EN-V só operaria no piloto automático em zonas onde todos os demais veículos também funcionassem sem motoristas. A GM especula que se os veículos fossem tornados populares, eles custariam um quinto do preço de um carro convencional. Brown afirma que ainda não há planos concretos para comercializar a tecnologia, mas diversas empresas - como a BMW e a GM - já estão a desenvolver produtos “v-to-v”, que na linguagem própria do sector significa veículos que se comunicam com os demais carros.

U

M asilo para animais idosos na Grã-Bretanha tenta recriar o conforto da casa dos antigos donos, com sofás, televisões, cortinados e quadros na pa-

rede. A gerente da Quinta Trindledown, no condado de Berkshire, Allison Mercer, diz que os bichos mais velhos não lidam tão bem com os centros de

Dicas ecológicas • Acima de 90 km/h o consumo de combustível do carro tem um aumento significativo, sendo que a 110 km/h chega a ser 25% maior do que a 90 km/h. Por isso, vá devagar.


FEITO O MISTÉRIO DA BATATA

rcio internacional de cientistas descodificou pela primeira vez o genoma da batata, um dos cultivos básicos mais importantes do mundo. Este trabalho poderá ajudar a melhorar o de alimentos para populações carentes e ainda desenvolver novas variedades do tubérculo. A batata é o quarto alimento mais importante depois do trigo, do arroz e do milho, e menos 39 mil genes, quase o dobro do que um ser humano. Segundo os autores, a pesquisa sequenciou 840 milhões de pares de bases; uma investigação complicada porque o a batata tem quatro cópias de cada um dos seus 12 cromossomas, diferentemente das duas cópias de um humano, e cada uma delas tem variações em genes correspondentes.

de encontrada à venda no Japão

m ao perigo

As autoridades de Shizuoka detectaram 1998 becquerels de césio radioactivo por quilo, quatro vezes mais do que os níveis autorizados pelo Governo. Mas Shizuoka não é caso único. A exploração de Minamisoma já vendeu carne contaminada com césio, sem ser testada, a um matadouro de Tóquio e a distribuidores em oito províncias. Ritsuo Hosokawa, ministro da Saúde japonês, disse ontem aos jornalistas que todas as cabeças de gado na região de Fukushima, incluindo na cidade de Minamisoma, serão testadas. Ainda assim, segundo o ministro, a ingestão da carne, uma única vez, não ameaça a saúde humana e as pessoas não precisam de se preocupar. Por seu lado, a província de Fukushima decidiu inspeccionar todas as explorações de gado na zona de exclusão em redor da central nuclear. Mas, segundo alerta a televisão, esta inspecção poderá não acontecer por falta de equipamento para realizar os testes.

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PAÍSES AMAZÓNICOS UNEM-SE PARA MEDIR DESFLORESTAÇÃO

Contar as árvores que sobreviveram O

S países da região amazónica iniciarão em Agosto uma série de estudos para medir a taxa de desflorestação dessa zona, que abriga 20% das reservas de água doce do planeta, anunciou em Quito, no Equador, a associação que os representa. O monitoramento sobre desflorestação busca harmonizar critérios para medir a perda de área verde, que varia de país para país, explicou o director-executivo da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazónica), o

boliviano Mauricio Dorfler. Trata-se do primeiro estudo desse tipo de alcance regional, e contará com especialistas de Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, destacou Dorfler. Entre as causas do fenómeno da desflorestação, o director mencionou a pressão sobre o uso da terra, a agricultura, a exploração de madeira e a extracção de minerais. A OTCA também empreenderá em Agosto o primeiro estudo de recursos hídricos

fronteiriços, com o objectivo de promover uma melhor e mais adequada utilização da água, disse Dorfler. A Amazónia representa 6% da superfície do planeta. Contém mais da metade do

parque húmido tropical e 20% das reservas de água doce do mundo, o que a converterá num território estratégico frente a fenómenos como o aquecimento global, segundo a OTCA. A região abarca 7,4 milhões de quilómetros quadrados - equivalentes a 40% da superfície do território sul-americano. É uma das mais diversas da Terra, um “grande espaço de riqueza cultural”, sendo habitada por 420 povos indígenas, disse Dorfler.

PARA ANIMAIS SEM DONO

de quatro patas acolhimento para animais tradicionais. “A maioria deles está acostumada com a segurança de uma casa, ficar quentinho no sofá toda a noite. Aqui, adaptam-se mais rapidamente que num canil normal”, diz ela. A fazenda foi o primeiro centro construído especificamente para animais mais velhos e está a completar dez anos de existência. O local abriga cerca de 50 animais por ano, entre eles, gatos, cachorros, cavalos e cabras. Segundo Mercer, o abrigo foi criado quando foi identificado um problema: o de que quando pessoas idosas se mudavam para asilos ou morriam, elas deixavam para trás animais idosos. Hoje, a quinta conta com a ajuda de voluntários para cuidar dos bichinhos e levantar verbas para o asilo.

BIG MAC TEM O MESMO SABOR EM TODO O MUNDO?

Cada boi com o seu sabor P

ARA traçar características culturais da alimentação mundial, um estudo da Universidade de São Paulo (USP), no Brasil, pesquisou Big Macs de 26 nações e rasteou a carne que dá origem ao hamburguer e detectou que o sabor era local, correspondente à manada no país. “O hambúrguer, considerado ex-líbris do McDonald’s, funciona como um poderoso revelador do sistema de produção de carne dos países. O hambúrguer fornece diversas e variadas informações”, conta o pesquisador Luiz Antonio Martinelli, responsável pela pesquisa do laboratório de Ecologia Isotópica do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da USP, em Piracicaba. Assim, Martinelli comprovou que, apesar de o Big Mac ser uma comida global, o seu sabor é local, pois o hambúrguer é originário da manada

de cada país. “Mas isso não ocorre em todo o mundo. Os isótopos estáveis do carbono e do nitrogénio da carne contida em cada um dos Big Macs estudados mostraram, por exemplo, que a refeição consumida no Japão é proveniente da Austrália.” Esta conclusão foi baseada no facto de as carnes dos hambúrgueres japoneses tinham uma razão isotópica do carbono-13/carbono-12 mais elevada do que os esperados num país baseado em uma agricultura de ciclo C3 (norma que caracteriza a forma como a planta faz sua fotossíntese), comprovando que o Japão importa carne da Austrália, onde prevalece o modo fotossintético C4 da lavoura, ou seja, das plantas que suportam altas luminosidades, facto que não ocorre no país nipónico. “As análises dos isótopos estáveis

dos elementos carbono e nitrogénio, contidos nos objectos de estudo, no caso a carne do McDonald’s, forneceram três importantes conclusões. A primeira é que com um simples hambúrguer é possível rastear o que o gado come pelo mundo todo. A segunda nos confere à possibilidade de estabelecer como carnes produzidas em diferentes países viajam pelo mundo. E a terceira é que, por uma questão de mercado, o igual não é tão semelhante assim”, relata. Essas conclusões levaram Martinelli a empregar o conceito “glocal”, fusão das palavras global e local, no Big Mac. “O famoso hambúrguer do McDonald’s tem a capacidade de estar, ao mesmo tempo, actualizado ao sistema das empresas globais sem perder a influência cultural imposta pelo mercado local”, finaliza.


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CULTURA

Entrevista | Cristina Moreno, investigadora da Universidade Nova de Lisboa

A recomposição dos macaenses Carlos Picassinos info@hojemacau.com.mo

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NVESTIGADORA, mas com ligações pessoais a Macau, onde viveu nos anos 80 e 90, Cristina Moreno prepara no âmbito de uma tese de mestrado e projecto de doutoramento, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, um estudo que pretende averiguar como a comunidade macaense se recompôs ao longo deste último século e meio de história e de como as migrações macaenses jogaram um papel na oscilação de uma “comunidade que sempre se sentiu ameaçada”. Como é que surge este seu interesse académico pela questão das migrações e pela comunidade macaense, ou em rigor, pelas comunidades, no plural? O tema das migrações é um tema que me interessa, principalmente perceber como os movimentos de população se ligam às questões transnacionais, da globalização etc. O meu interesse pelas migrações macaenses vem da minha estadia em Macau. São um grupo social que sempre me interessou imenso. São um grupo de charneira por estarem, assim em termos muito gerais, entre a comunidade portuguesa - e dizer isto é bastante problemático - e a comunidade chinesa; de serem filhos de um processo de colonização, sempre abandonados ou ostracizados. Mesmo dentro de Macau, pelos vários poderes, seja pelos chineses seja pela administração colonial. Quando eu comecei a estudar melhor a comunidade macaense apercebi-me que havia um movimento migratório bastante antigo que tinha começado, mais ou menos, na altura da guerra do ópio, cerca de

“Tento perceber como é que entre final dos anos 80 até hoje, os grupos dispersos de macaenses reconstruíram laços que tinham perdido e com base em quê” 1840, quando pessoas que trabalhavam para as companhias inglesas que, na altura estavam sediadas em Macau e que com a formação de Hong Kong se mudaram para lá. Este fenómeno levou uma série de famílias macaenses a deslocaremse para aquele território e

daí para cidades chinesas, principalmente Xangai. Como caracterizaria este processos migratórios? Penso que estes processos migratórios - e esta é uma das minhas interrogações mas eu acho que pelas pesquisas exploratórias que fiz ate agora se confirma - assentam em

redes familiares. Nessa altura, há um triangulo que se forma, muito importante, entre Macau, Xangai e Hong Kong. Há uma série de macaenses que vão trabalhar, primeiro, para Hong Kong e depois para Xangai com essas companhias inglesas. A partir deste momento, dá-se o início daquilo a que os macaenses hoje chamam a si próprios uma diáspora. Ou seja, a partir daqui registam-se fluxos migratórios constantes, dependentes das situações

e contingências político -sociais. Neste momento, existem comunidades macaenses no Brasil, nos Estados Unidos, na Austrália, no Canadá, em vários pontos da Europa e em Portugal. A diáspora começa a ser uma expressão usada para designar as comunidades que mantém laços entre elas – não só os mantém como os recompõem, reforçam e até lhes dão uma dinâmica que tinham vindo a perder. Começa-se a falar de

diáspora macaense mais ou menos na altura em que fica decidida a data da passagem da administração para a China. Por exemplo, há instituições que são formadas em Macau, como o Instituto Internacional de Macau que hoje estão viradas para as comunidades macaenses no exterior. Mas, enfim, o meu foco não vai ser tanto esse, das redes institucionais, mas vai antes ser mais baseado no estudo das próprias redes familiares. Aquilo que eu estou a tentar fazer é, através dos estudos de histórias de vida, da genealogia, através do confronto comparativo entre várias gerações, perceber como é que entre final dos anos 80 até hoje, os grupos dispersos de macaenses vão reconstruindo esses laços que tinham perdido e com base em quê. É curiosíssimo que o patuá, já ninguém o falava, e agora na internet vêmse fóruns em patuá, por exemplo. Trata-se de uma estratégia de sobrevivência? Poderá ser, sim. A comunidade macaense sempre viveu ameaçada pela extinção. Cada catástrofe socioeconómica ou política ameaçava a comunidade macaense – ou ela se sentia ameaçada. Refiro-me, pelo menos, aos discursos. É muito curioso ler, por exemplo, o livro “Macau histórico” do Montalto de Jesus, de cerca de 1920. Ali estão todos os fantasmas ligados a esta situação de permanente indefinição. Acho que há ainda poucos estudos nas ciências sociais sobre os macaenses e, principalmente, sobre as migrações macaenses. Outro ponto que me interessa é cruzar este estudo das migrações macaenses com o das grandes correntes migratórias, através da História e da Geografia Humana, - desde finais do século XIX - e com a recomposição dessas grandes correntes migratórias ao longo dos tempos.


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ENCONTRADA UMA POSSÍVEL NOVA PINTURA DE MIGUEL ÂNGELO

Uma nova crucifixação de Jesus

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NTONIO Forcellino, um restaurador e estudioso da arte renascentista, garante ter identificado na Universidade de Oxford, no Reino Unido, uma pintura de Miguel Ângelo, que até então teria autoria incerta. A pintura - que se pensava ter sido concebida por Marcello Venusti, contemporâneo do pintor renascentista - terá surpreendido o estudioso de arte pela mestria artística com que havia sido pintada. “Ninguém para além de Miguel Ângelo poderia ter pintado uma obra-prima como aquela”, explicou o historiador de arte italiano. Assumia-se que “Crocifissione con la Madonna, San Giovanni e due angeli piangenti”, que retrata a crucificação de Jesus, seria de Venusti, pela semelhança

que haveria com outras duas obras presumíveis deste. A ligação entre esta obra e a família Cavalieri, fortemente ligada a Miguel Ângelo, particularmente Tommaso Cavalieri, foi uma das conclusões a que Forcellino chegou, após examinar detalhadamente a obra, servindo-se de tecnologia avançada. Forcellino já havia encabeçado no mês passado os títulos dos jornais americanos, por defender a autoria de Michelangelo num dos quadros que uma família americana guardava atrás de um sofá. A descoberta inglesa parece ter sido menos mediatizada, aquando da publicação do seu último livro, - “The Lost Michelangelos” – que relata precisamente a descoberta destas duas raridades. “A figura de Cristo é claramente doutro campe-

onato…A modelagem era mais forte, e a pintura e expressão facial tinham uma clareza que demonstrava a impressão de estarmos perante um artista de enormíssima categoria”, escreve Forcellino, citado pelo “The Independent”. A pintura estaria na posse da Campion Hall – departamento privado da comunidade jesuíta da Universidade de Oxford – e haveria sido adquirida pela instituição num leilão, na década de 1930. Brendan Callaghan, responsável pelo Hall, num misto de entusiasmo e ligeira preocupação, considera que se a teoria de Forcellino se vier a confirmar, a obra não poderá ser mantida naquele espaço. “É uma peça muito bonita, mas demasiado valiosa para ser mantida nas nossas paredes”, disse.

MCCARTNEY E RINGO: BEATLES EM 2012? Poderemos esperar Paul McCartney e Ringo Starr, os dois únicos elementos ainda vivos da mítica banda de Liverpool, reunidos no mesmo palco, já no próximo ano? A confirmação não está assegurada, mas Paul Mcartney tem soltado vários sussurros que nos levam a crer que tal seja brevemente possível, afirmando que os organizadores dos Jogos Olímpicos de Londres de 2012 “estão a planear esse [Beatles] tipo de música”. Presente na comemoração da edição londrina de um dos maiores eventos desportivos, McCartney brincou com o assunto. “Conheço alguém que conhece o tipo que vai brevemente questionar alguém sobre isso”, disse.

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Gonçalo Lobo Pinheiro glp@hojemacau.com.mo

“F

ALAREI tudo depois da sentença. Agora estou proibido de falar”, disse o nadador brasileiro Cesar Cielo Júnior ao Hoje Macau. O campeão olímpico e mundial vai ser julgado em Xangai no próximo dia 20 por, alegadamente, ter usado substâncias dopantes. Vários meios internacionais garantiam ontem, contudo, que o atleta seria julgado em Macau. O Tribunal Arbitral do Desporto desfez a dúvida na noite de ontem e revelou que um painel irá deslocar-se a Xangai para julgar Cielo. O advogado do nadador, o peso-pesado norte-americano Howard Jacobs, deve chegar ao território nos próximos dias para assistir o atleta antes e durante o julgamento na China. O expoente máximo da natação brasileira na actualidade continua a sua preparação para o Mundial de natação de Xangai em Ma-

DESPORTO

GONÇALO LOBO PINHEIRO

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Nadador brasileiro Cesar Cielo será julgado em Macau

Piscina de incerteza

NEGA

A estrela da natação brasileira, que está a fazer a preparação no território para os Mundiais, terá de partir antes do previsto para ser ouvido pelo Tribunal Arbitral do Desporto. Depois da especulação do julgamento poder acontecer em Macau, ontem confirmou-se que a sessão será em Xangai cau, mas não sabe se poderá competir. Cesar Cielo teve um resultado positivo para furosemida – diurético que pode mascarar a presença de outras substâncias proibidas - num exame anti-doping durante a última edição do Troféu Maria Lenk, em Maio, no Rio de Janeiro. Segundo o Hoje Macau apurou, tanto atleta como Tribunal Arbitral do Desporto (TAS, na sigla francesa) querem resolver todo o processo antes do início da competição, o que faz com que Cielo seja julgado a escassos dias da

competição. Se for considerado culpado, Cielo arrisca, na melhor das hipóteses, à anulação de todos os seus resultados depois do Troféu Maria Lenk. Na pior, fica excluído do Mundial e durante dois anos não está autorizado a competir. Para a sua defesa, Cielo contratou Howard Jacobs, um advogado americano especialista em casos de doping, a quem pediu garantias de participação no Mundial e nos próximos Jogos Olímpicos, em 2012. Jacobs já representou atletas famosos como os corre-

dores Marion Jones e LaShawn Merritt, além do ciclista Floyd Landis e da nadadora Jessica Hardy em casos semelhantes ao de Cielo. Contudo, Marion Jones e Floyd Landis foram suspensos por dois anos após confessarem as infracções. Em declarações ao Hoje Macau, o advogado disse que irá deslocar-se a Macau na próxima semana para preparar Cielo para o julgamento, que deverá durar meio dia. A decisão será anunciada na noite do dia 22. Uma vez que a Federação Internacional de Natação

são as melhores, porque o atleta está inocente”, referiu Howard Jacobs.

(FINA) pediu a suspensão do brasileiro, o conceituado advogado terá agora a difícil tarefa de convencer os juízes do TAS de que a punição dada pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) é suficiente. Juntamente com Cielo, também estão a ser julgados os nadadores Nicholas Santos, Henrique Barbosa e Vinícius Waked, todos pelo mesmo motivo. “Estamos confiantes de que a carreira do César Cielo não será manchada por esta acusação. As nossas expectativas para o julgamento

De acordo com nota da CBDA, divulgada no início deste mês, os envolvidos recusaram a realização da amostra B porque revelaram com precisão como o diurético entrou no organismo. Desta forma, a entidade optou apenas por uma advertência aos quatro atletas, uma vez que não foi identificada culpa ou negligência por parte deles no episódio. Cesar Cielo disse que em nenhum momento foi imprudente ou negligente. A preparação do nadador fica também prejudicada, já que Cielo terá de se deslocar a Xangai antes do previsto - a intenção era ir apenas no dia 23 - e afastar-se da selecção brasileira. Segundo o TAS, as testemunhas terão de dar o seu depoimento através de uma vídeoconferência. Até que não haja um veredicto, Cielo está proibido de competir.


[f]utilidades Cineteatro | PUB

[ ] Cinema

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SALA 2

MR. POPPER’S PENGUINS [A] Um filme de: Mark Waters Com: Jim Carrey 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 3 SALA 1

HARRY POTTER AND THE DEATHLY HALLOWS: PART 2 [B] Um filme de: David Yates Com: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint 14.15, 16.45, 19.15, 21.45

TRANSFORMERS DARK OF THE MOON [B] Um filme de: Michael Bay Com: Shia LaBeouf, Markiss McFadden, Rosie Huntington-Whiteley 14.00, 16.45, 19.30, 22.15

SOLUÇÕES DO PROBLEMA HORIZONTAIS: 1-ANONIMA. ASI. 2-TER. CANA. UM. 3-A. QUERIDO. P. 4-DUAS. LIMBO. 5-GOIS. FAENAS. 6-ANT. PAR. INT. 7-LOIRAS. AFIO. 8-OSCAR. ANOA. 9-E. OBCECAR. O. 10-TA. IATE. MAL. 11-AAL. SARIEMA. VERTICAIS: 1-ATA. GALOETA. 2-NE. DONOS. AA. 3-ORQUITICO. L. 4-N. UAS. RABI. 5-ICES. PARCAS. 6-MAR. AS. ETA. 7-ANILAR. ACER. 8-ADIE. ANA. I. 9-A. OMNIFORME. 10-SU. BANIA. AM. 11-IMPOSTO. OLA.

REGRAS |

Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição SOLUÇÃO DO PROBLEMA DO DIA ANTERIOR

Su doku [ ] Cruzadas

HORIZONTAIS: 1-Sem nome, não assinada. Segurei com a mão. 2-Estar na idade de. Prisão, xadrez (Gír.). Inseparável. 3-Caro, prezado. 4-Numeral. Fímbria, rebordo exterior. 5-Apelido. O trabalho do toureito, lide (pl.). 6-Antiquando (abrev.). Um casal. Interior (abrev.). 7-Mulheres de cabelos loiros. Aguço. 8-Nome de homem. Mulher pequena, aña. 9-Desvairar. 10-Basta!. Embarcação de recreio. Dificilmente, apenas. 11-Substância tintorial usada na India. Ave pernalta da América do Sul também conhecida por seriema. VERTICAIS: 1-Aperta com laçada. O m. q. galveta. 2-Nordeste (abrev.). Proprietários, senhores. Rio de França. 3-Relativo à orquite. 4-Umas (Arc.). Rabino. 5-Alces, ergas. Casaco comprido, desportivo, impermeável e com capuz (pl.). 6-Imensão (Fig.). Nota musical (pl.). Letra grega. 7-Dar cor de anil. Género típico das aceráceas. 8-Deixe para outro dia. O m. q. Alna. 9-Que tem todas as formas conhecidas. 10-Sigla automobilística da URSS. Desterrava. Amerício (s.q.). 11-Que se impôs. Remoinho de água (Prov.).

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OPINIÃO Sociedade sustentável

“The turn of the millennium will be remembered for its opulent celebrations and underlying anxieties, but perhaps its most enduring legacy will be the prevailing concerns which were expressed at the time about humanity’s long-term social, economic and environmental sustainability. Climate change, global poverty, chronic water shortages, economic instabilities and dwindling supplies of non-renewable resources all appeared to coalesce at the end of the twentieth century to cast a spectre over what the twenty-first century would hold.” Spaces of Sustainability Geographical perspectives on the sustainable society Mark Whitehead

O

S versos escritos pelo poeta russo Osip Mandelstam, após o seu exílio em 1934, por ter feito uma sátira mordaz a Estaline, de que “Levaram os oceanos e o espaço todo. Deram-me outro do tamanho do meu sapato com grades à volta. Onde é que isso vos levou? A parte nenhuma. Deixaram-me a boca, que forma palavras mesmo em silêncio.” Tem cada vez mais relevância em todos os planos, não apenas no político e sociológico. Mas também no ambiental, que nos leva a formular a questão de como será uma sociedade indefinidamente sustentável, o que será preciso para alcança-la e qual o papel da ciência, tanto no sentido convencional como outro mais amplo, na sua criação? A última questão é talvez a mais fácil de responder. A ciência convencional, limitada como está, não terá muito que dar. Actualmente, está ameaçada pelo papel da tecnologia na criação da situação presente. Por outro lado, a ciência, entendida como uma perspectiva metodológica de problemas complexos e multifacetados, tem o papel central. Inexiste futuro para perspectivas que estejam submetidas aos preconceitos e aos benefícios de grupos de interesses particulares e ao serviço de negócios instalados à custa da humanidade em geral. Se quisermos reduzir a miséria humana actual e visitá-la no futuro, só nos resta pôr a nu as verdadeiras razões de ser desta situação, de uma forma tão ampla e honesta quanto possível. Se ao invés de se proceder dada a crise financeira e económica que faz abalar o mundo, acompanhada de recessão profunda e de “deficits” públicos incontroláveis como sucede com alguns Estados-membros da União Europeia, que faz subir a taxa de desemprego para valores alarmantes, seria bom que as entidades fizessem inspecções aos processos dos trabalhadores e talvez se surpreendessem, que despedem ou não empregam pessoas possuidoras de habilitações académicas sérias e com ideias inovadoras e deixam permanecer muitos possuidores de falsos diplomas e sem qualquer ideia renovadora e apresentando uma rotina de trabalho perfeitamente ineficiente. A investigação em termos de ilegalidade adminis-

trativa e nas contas do Estado deve ser como a investigação científica isenta de sectarismo e imparcial como única solução. Poderíamos aprender com exemplos que temos de sociedades mais sustentáveis em termos ecológicos, antes de desaparecerem completamente sob o peso da nossa ignorância. O segredo está no facto de elas não considerarem que os seres humanos estão separados dos sistemas naturais de que dependem. Pelo contrário, consideram-se uma parte desses sistemas. Além disso, não favorecem grupos de interesses particulares. Têm organizações, mas o poder não está muito concentrado em indivíduos. Foram criados mecanismos para regular a utilização dos recursos e para garantir a sua renovação. Podemos ter perdido a noção de que estamos ligados ao ambiente, mas a verdade é que somos tão dependentes dos índices de fotossíntese e dos minérios como

os índios da Amazónia ou os Bosquímanos do Calaári. A sociedade deve apresentar algumas características não mecanicistas e uma visão holística do mundo que terá de assumir. Uma organização holística que sempre se opõe à fragmentarista. Ela maximiza a capacidade dos indivíduos se abastecerem tendo em conta o benefício comum e não o pessoal, reconheceria a nossa integração na biosfera, em vez de assumir que a dominamos, e fomentaria uma análise introspectiva das nossas motivações. Seria uma sociedade, na qual, em última análise, os bens e serviços estariam sujeitos à capacidade de renovação das matérias-primas. As características económicas que não estão ligadas à capacidade de renovação dos recursos naturais, como a especulação cambial, obsolescência planificada, artigos descartáveis, por exemplo, teriam de desaparecer. Seria uma

sociedade cuja valorização do indivíduo lhe permitiria organizar sistemas tributários que dessem importância ao trabalho, às técnicas e à produção de artigos de qualidade. Talvez desencorajasse, mediante impostos agravados, aqueles produtos que apresentassem altos quocientes de energia e poucas matérias-primas em relação aos custos laborais. Os impostos aumentariam quanto maior fosse a escassez dos materiais, e quanto menor fosse a sua capacidade de renovação. Aos produtos que favorecessem o uso dos talentos humanos em detrimento dos recursos seria aplicada uma tributação insignificante. Seria um mundo muito mais interessante e compensador para todos. É claro que um sistema deste tipo contaria com a forte oposição de grupos minoritários que actualmente detém as rédeas do poder no mundo tecnológico. Quanto mais desafiado for o sistema, mais enérgica será a dos


Não é que nós, a maioria dos homens, nos enganamos; sucede-nos uma coisa bastante pior: somos completamente Padre Manuel Teixeira [1912-2003]

parvos!

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15 p er sp ect i va s Jorge Rodrigues Simão

alimentam das plantas ou a introdução de novos consumidores, como aves exóticas ou mamíferos, que atingem rapidamente densidades populacionais elevadas. Outras, ainda, envolvem a ausência temporária de pequenos animais, o zooplâncton que se alimentam do fitoplâncton e que se abrigam nos leitos vegetais, provocada pelo escoamento dos pesticidas e pelo aumento da salinidade decorrente da penetração de pequenas quantidades de água do mar. Mais subtil é o impacto que pode seguir-se a uma alteração do equilíbrio entre peixes piscívoros e os peixes zooplânctíforos, provocada pelos diversos efeitos da desoxigenação nos peixes piscívoros, em virtude da sua prolongada exposição ao gelo durante o Inverno. A lição a retirar é de que os desvios podem ser vários e aparentemente insignificantes, mas as suas consequências são insuficientes para alterar por completo o sistema. Por outro lado, como os sistemas são complexos, a lista de possíveis mecanismos de desvio é infinita; o inesperado pode acontecer e os seus efeitos serem tão impressionantes como os de outro acontecimento para o qual já havia precedentes.

Seria uma sociedade cuja valorização do indivíduo lhe permitiria organizar sistemas tributários que dessem importância ao trabalho, às técnicas e à produção de artigos de qualidade. tampões que o preservam. Far-se-ão e já se fazem tentativas para suprimir ideias deste género. Mas, no fim, essas tentativas falharão. Não poderão ser suprimidas ideias que, por natureza, defendem o bem-estar da maioria em detrimento do da minoria. Os pormenores que precisam de ser burilados são muitos, e a ideia de uma sociedade sustentável será atacada através dos pormenores. Mas, se o princípio estiver correcto, os pormenores serão inevitavelmente arrastados. O que pode fazer-se para provocar esta mudança? Consiste em determinar a natureza dos mecanismos causadores dos

desvios em fases alternativas. No exemplo dos lagos de água pouco profundas que são alternadamente dominados pelas plantas e pelo plâncton, há uma série de desvios possíveis entre a fase das plantas e a fase do plâncton. Alguns são violentos e nadas subtis, como a remoção mecânica das plantas, a uma escala devastadora, com uma ceifeira mecânica ou com as hélices de um barco. Outros mais subtis provocam perdas de plantas superiores às que o seu ritmo de crescimento garante, como reduções do nível da água que favorecem um maior acesso de aves que se

Somos mais eficientes a compreender a situação dos lagos de águas pouco profundas do que a prever os mecanismos que afectarão as nossas organizações humanas, primitivos em termos ecológicos no presente, mas sofisticados no futuro. É provável que o desvio nasça de uma pequena mudança, talvez destinada a produzir outro efeito, mas que desencadeei uma série de consequências fundamentais. Esta é talvez uma situação em que a ignorância é uma virtude, porque aquilo que não se pode prever facilmente não pode ser interceptado e anulado por aqueles cujos interesses beneficiariam com a sua supressão.

No entanto, o problema das sociedades humanas é a possibilidade de o inesperado ser muitas vezes acompanhado do caos. Seria preferível tomar decisões quanto à necessidade da mudança e implementá-las de uma forma sistemática e planificada. O primeiro passo tem de ser a aceitação de que o crescimento indefinido, quer da economia global, quer das economias nacionais, é um absurdo e o resultado está à vista. É aqui que a comunidade científica convencional pode exercer a sua influência, se conseguir recuperar a sua independência. Tem de mostrar-se mais lúcida quanto à sua própria compreensão dos fenómenos naturais e aceitar que a cadeia de respostas a sucessivos problemas tecnológicos cria um nó górdio que as forças do caos e da violência se encarregarão de desfazer. Muitos cientistas apercebem-se da situação grave em que a biosfera gravita. Afinal, tem sido o seu trabalho que tem revelado e documentadas essas alterações. Uma publicação conjunta da “National Academy of Sciences” dos Estados Unidos e da “Royal Society” do Reino Unido admite tardiamente, essa situação, segundo o tom colectivo do documento. A ciência é um agente distinto cujos talentos podem ser chamados a resolver os problemas de uma forma convencional. Não é um documento convincente, visto que não explora as causas últimas dos problemas; contenta-se em analisar apenas as próximas, os sintomas. Se a ciência faz parte da solução e não do problema, ela não pode ficar à parte, tal como nós, homens do mundo tecnológico ocidental, nos consideramos à parte do resto da biosfera. As atitudes compartimentadas da ciência convencional abrangem um mar de informação; mas se esse conhecimento for usado de uma forma parcelar, ele tem somente o valor de vestes de rei. Talvez os jovens sejam as crianças do conto de Hans Cristian Andersen e tenham descoberto que o rei vai nu. Talvez tenha chegado o momento de a ciência convencional retomar um papel independente e, em conjunto com outras áreas do conhecimento, criar o manto interdisciplinar e inteiriço que converte a mera informação em sabedoria. Só então os jovens deixarão de se afastar da ciência convencional, como actualmente sucede.

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Vanessa Amaro Redacção Filipa Queiroz; Gonçalo Lobo Pinheiro; Joana Freitas; Patrícia Ferreira, Rodrigo de Matos; Virginia Leung Colaboradores António Falcão; Carlos Picassinos; José Manuel Simões; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas Arnaldo Gonçalves; Boi Luxo; Correia Marques; Gilberto Lopes; Hélder Fernando; João Miguel Barros, Jorge Rodrigues Simão; José I. Duarte, José Pereira Coutinho, Luís Sá Cunha, Marinho de Bastos; Paul Chan Wai Chi; Pedro Correia Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão, Gonçalo Lobo Pinheiro; António Mil-Homens; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Laurentina Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Av. Dr. Rodrigo Rodrigues nº 600 E, Centro Comercial First Nacional, 14º andar, Sala 1407 – Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


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ACABOU O SONHO

por Steff

DSSOPT promete publicitar sugestões públicas classificadas na próxima semana

O mistério das opiniões desaparecidas Virginia Leung

virginia.leung@hojemacau.com.mo

CIÊNCIA DESCOBERTO O ÚLTIMO DINOSSAURO A era dos dinossauros terminou com um meteorito há 65 milhões de anos, mas havia dúvidas se os répteis gigantes já não estariam em declínio antes, por falta de fósseis encontrados nos sedimentos daquela altura. Mas a descoberta de um dinossauro da família dos triceratops com cerca de 65 milhões de anos põe de lado esta questão. O artigo que descreve o fóssil foi agora publicado na revista “Biology Letters”. O fóssil é um corno de um indivíduo que faz parte dos ceratopsia, o grupo de dinossauros que inclui os famosos triceratops. O osso fossilizado estava apenas a 15 centímetros da fronteira entre o Cretácico e o Terciário – o período de tempo que veio a seguir à era dos dinossauros, dominado pelos mamíferos – o que significa que viveu entre dezenas de milhares de anos e alguns milhares de anos antes do impacto.

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IRLANDA RATING NO LIXO A Comissão Europeia qualificou ontem como “incompreensível” a decisão da agência de notação financeira Moody”s de baixar o “rating” da dívida soberana da Irlanda para o nível considerado “junk” (lixo). “A nossa reacção é que esta notação neste momento é incompreensível”, declarou a porta-voz da Comissão Europeia, Pia Ahrenkilde, salientando que “a Irlanda está no bom caminho”, apesar de serem necessários ainda “muitos esforços” e de Dublin não poder “descansar sobre os seus louros”. Na terça-feira, a Moody’s baixou em um escalão o “rating” da dívida soberana da Irlanda passando do nível Baa3 para Ba1 - face à “crescente possibilidade” de o Governo irlandês necessitar de “mais financiamento” quando o actual fundo de ajuda da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) acabar em 2013.

MEDICINA PRIMEIRO TRANSPLANTE DE PERNAS Um homem que teve de amputar as pernas depois de um acidente de viação e que não podia receber próteses foi sujeito, esta semana, ao primeiro duplo transplante de membros inferiores do mundo. A cirurgia, feita pelo médico espanhol Pedro Cavadas, realizou-se no domingo em Valência e correu bem. A cirurgia decorreu ao longo de dez horas e só agora a equipa falou dos resultados. MODA MAGREZA GERA PREJUÍZOS A marca de roupa britânica Topshop viu-se envolvida numa polémica depois de ter publicado uma campanha publicitária com uma modelo que parece extremamente magra numa das imagens. A modelo em questão tem 18 anos, é australiana e chama-se Codie Young. A celeuma foi tão grande que a Topshop se viu obrigada a retirar a fotografia da modelo, assegurando, porém, que tudo não passa de uma fotografia mal conseguida e que a modelo é saudável, não tendo qualquer problema de anorexia.

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S números revelados quanto à quantidade de opiniões recolhidas durante o processo de auscultação sobre alterações no uso de terras para a segunda fase do empreendimento Jardins de Lisboa, na Taipa Pequena, sofreram uma redução considerada suspeita pela Associação Novo Macau Democrático (ANMD), que questiona a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) para saber onde foram parar essas opiniões, alegadamente contrárias ao avançar do projecto. Lao Iong, chefe do departamento de planeamento urbanístico da DSSOPT, garantiu que as opiniões em causa seriam ainda analisadas e apresentadas na próxima semana. Sete representantes da ANMD estiveram anteontem à tarde na DSSOPT para exigir a recontagem das cartas de opinião apresentadas anteriormente pelos democratas. Lao Iong admitiu haver 1751 cartas de opinião com formulários individuais com as opções “parar” ou “aprovar” para o projecto dos Jardins de Lisboa; e “urgente” ou “não necessário” para a retoma dos

terrenos abandonados; além de espaços em branco para a exposição de opiniões. De acordo com Lao Iong, entre as cartas de opinião em causa, havia duas em branco; sete inválidas (devido a contradições); uma com opiniões favoráveis; 10 a optar por “parar”, para o projecto, e “não necessário”, para a retoma dos terrenos; 49 a assinalar apenas “parar” ou “necessário”; e 41 com exposições de opiniões próprias. Uma esmagadora maioria – 1682 – assinalou “parar”, para o projecto, e “urgente” para a retoma das terras. Lao Iong explicou que os formulários de voto foram apresentados juntamente com as opiniões da ANMD, pelo que, foram considerados como anexos a uma única carta de opinião, mas garantiu que a DSSOPT iria classificar individualmente todas as cartas de opinião. E assinalou que as ideias relevantes recolhidas pelo Governo, incluindo as que chegaram através da Internet e de mais de 800 cartas de opinião reencaminhadas por outras associações, seriam todas analisadas para se avaliar as razões das objecções ao avanço do projecto, de forma a que os departamentos técnicos competentes pudessem proceder a uma análise continuada.

Entre as 880 cartas de opiniões recolhidas directamente pelo Governo, curiosamente, os resultados foram outros: 587 eram favoráveis, 242 contrárias e 11 tinham outras opiniões. No entanto, ressalva o responsável, na primeira fase de recolha de opinião pública, o projecto Jardins de Lisboa não é o único tema em causa, havendo ao todo nove tipos de assuntos: meio ambiente e protecção ambiental, planeamento urbano, interesse público, altura dos edifícios, danos à paisagem, procura do mercado, entre outros. As opiniões públicas classificadas serão divulgadas na próxima semana, garantiu Lao Iong, sublinhando que o Governo iria tratar das questões relevantes passo a passo, de acordo com os procedimentos normais, e não faria qualquer “aprovação especial”, dado tratar-se de uma matéria de grande preocupação na sociedade. Para a ANMD, não é “científico” classificar todas aquelas opiniões como uma única carta de opinião, pelo que houve manipulação nos números anteriormente anunciados. A associação exige por isso ao Governo que seja mais objectivo, igualitário e respeite as opiniões dos habitantes.

EUA TATUAGEM OFENSIVA DÁ DETENÇÃO Um norte-americano de 21 anos foi detido na segundafeira, no estado da Califórnia, suspeito de roubar, falsificar e transportar mercadoria roubada. Até aqui nada de novo. Mas Patrick Brooks chamou a atenção no momento da detenção pela inusitada tatuagem que exige na testa, com direito a um palavrão. Brooks encontrase na cadeia do condado de Shasta e aguarda julgamento. A tatuagem pode ser usada também pela acusação. PORTUGAL ANGÉLICO SEM ÁLCOOL OU DROGAS Os exames realizados a Angélico revelaram que o cantor não estava sob o efeito de álcool ou drogas no momento do acidente que o vitimou. As análises toxicológicas realizadas no Hospital de Santo António, no Porto, vêm assim confirmar os resultados da investigação do Destacamento de Trânsito da GNR de Aveiro que revelam que o excesso de velocidade e a falta de adequação dos pneus foram as causas do acidente. As autoridades esperam agora pelos resultados dos exames realizados após a autópsia que deverão estar prontos nas próximas semanas. Angélico Vieira sofreu um acidente de viação na A1 no dia 25 de Junho tendo vindo a falecer três dias depois no hospital.


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