Hoje Macau 14 SET 2020 #4611

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FORÇAS DE SEGURANÇA

O PROCESSO DA REFORMA GRANDE PLANO

MOP$10

SEGUNDA-FEIRA 14 DE SETEMBRO DE 2020 • ANO XX • Nº4611

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

ANIMAIS

CARINHO E ABANDONOS PÁGINA 5

ESCOLA PORTUGUESA

ATAQUES UCRANIANOS PÁGINA 7

FIMM

ESTREIAS EM OUTUBRO EVENTOS

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hojemacau

Fórmula possível Está encontrado o modelo da 67.ª edição do Grande Prémio de Macau. Seis corridas, entre 19 e 22 de Novembro, com a participação de cerca de 200 pilotos. De fora, fica a Fórmula 3, substituída pela Fórmula 4. Para permitir a entrada de pilotos estrangeiros, foi decretado o levantamento excepcional das restrições em vigor, ditadas pela covid-19. O orçamento é sensivelmente igual ao do ano passado: 250 milhões de patacas. PÁGINA 11

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O OUTONO ERA A VIDA INTEIRA PAULO MAIA E CARMO

CARGOS E VENCIMENTOS JOSÉ SIMÕES MORAIS


2 grande plano

António Rodrigues foi uma das principais testemunhas em três processos que resultaram no final das guerras das seitas, altura em que diz ter ficado com “a cabeça a prémio”. Como reconhecimento pelo serviço prestado tem agora de lutar nos tribunais para ver os seus descontos reconhecidos para efeitos de reforma

14.9.2020 segunda-feira

FORÇAS DE SEGURANÇA

ENTRE DOIS

DECISÃO DOS TRIBUNAIS TRAZ ESPERANÇA A AGENTES “ESQUECIDOS”

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O dia 13 de Maio, o Tribunal de Última Instância (TUI) obrigou o Fundo de Pensões (FP) a reconhecer quatro anos de trabalho, e respectivos descontos, de um agente aposentado das forças de segurança. A decisão pode mudar a vida de, pelo menos, mais quatro ex-agentes aposentados que viram o FP ignorar os seus primeiros anos de trabalho nas forças de segurança de Macau. Os juízes do TUI deram como provado que, apesar de nos primeiros anos em Macau os descontos do agente com nacionalidade portuguesa terem sido feitos para a Caixa Geral de Aposentações (CGA), o polícia nunca teve ligação profissional com a República Portuguesa. Pelo contrário, foi considerado que a contratação foi desde o início para servir Macau e que o FP tem de considerar todo o tempo de trabalho e assumir os

respectivos feitos para a CGA. O acórdão fez com que a contabilidade dos anos de serviço para efeitos de reforma aumentasse de 26 anos, 8 meses e 1 dia para 39 anos. Além disso, a decisão confirmou um entendimento do Tribunal de Segunda Instância (TSI), que em 2010 decidiu que competia ao FP fazer a contabilidade do tempo

de trabalho das pessoas, de acordo com o registo de 1995. Segundo o cálculo, o Fundo de Pensões passava a assumir a responsabilidade dos descontos feitos pelos inscritos, mesmo que alguns descontos tivessem sido enviados para a Caixa Geral de Aposentações. A lista de inscritos no Fundo de Pensões de 1995 serviu igualmente de referência para definir os agentes

que teriam as reformas pagas por Portugal, através da CGA, e os que ficavam em Macau, onde o Fundo de Pensões assumiu os encargos. Até à decisão do TUI, o FP recusou assumir os descontos do agente, sustentando que só devia contabilizar o período que passou efectivamente a estar inscrito no FP, ignorado os descontos para a CGA.

Ao HM, o FP diz que após a decisão do TUI definiu uma nova fixação de pensão, que foi publicada no Boletim Oficial. Contudo, o advogado que tem o processo em mãos, Ricardo Carvalho admite ter feito entrar uma nova queixa no tribunal devido ao não cumprimento da sentença. Apesar do diferendo, o acórdão do TUI não deixou de ser encarado


grande plano 3

segunda-feira 14.9.2020

MUNDOS como um sinal de esperança, não só para o agente em causa, mas também para outros aposentados na mesma situação.

LUTAS ANTIGAS

Um dos ex-agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) que se prepara para recorrer aos tribunais é António Rodrigues, que chegou ao território em 1982, sempre ao serviço da mesma força. Nascido no Alentejo, António Rodrigues foi recrutado para trabalhar como agente em Macau, onde rapidamente aprendeu o cantonês, língua que ainda hoje domina. Ao mesmo tempo, foi subindo na hierarquia do CPSP e chegou a chefe da Esquadra das Ilhas. Bem-integrado em Macau e com a transferência no horizonte, decidiu ficar além de Dezembro de 1999.

“Roubaram-me 23 por cento do meu vencimento [...] Estamos a falar de direitos adquiridos e para mim isto é um roubo.” ANTÓNIO RODRIGUES EX-AGENTE DO CPSP

O primeiro sinal de que os cálculos da sua pensão nunca iam ser um procedimento fácil chegou com a tradicional ordem de serviço interna que anualmente actualiza o tempo de serviço dos agentes. Passava pouco tempo da transição, a administração tinha mudado, e António Rodrigues verificou que o período em que tinha descontado para a CGA deixara de ser contabilizado. “Quando comecei a trabalhar fazia os descontos. Na altura, nem sabia para onde ia o dinheiro. O que eu sabia era que ia continuar em Macau depois da transição, porque fui sempre subindo na carreira até 1989, quando fui promovido a Chefe de Esquadra das Ilhas da Taipa”, contou António Rodrigues, ao HM. “Só depois da transição,

passado pouco tempo, é que me apercebi da situação [...] Nessa altura, a minha evolução na carreira estava congelada e entrei numa fase de contagem decrescente para me aposentar. A ordem de serviço interna com a contabilidade dos anos para a reforma era sempre muito importante para mim. E tinha as contas bem feitas”, recorda. No entanto, com base na versão da nova administração, em vez de ter 36 anos de serviço, onde eram contabilizados bónus contratualizados ao nível do tempo de descontos, António Rodrigues “perdeu” nove anos. “Reformei-me com 27 e poucos anos de serviço, quando deviam ter sido contabilizados 36 anos”, vinca. Com o recurso aos tribunais, e a uma carta enviada em 2005 ao Chefe do Executivo [Edmund Ho] a pedir que uma primeira sentença fosse executada, o ex-chefe de esquadra viu a tutela da Segurança reconhecer-lhe o tempo de trabalho de 36 anos em vez dos 27 anos. Quanto ao pagamento a história foi diferente.

FALE COM PORTUGAL...

Se por um lado, a tutela da Segurança reconheceu os 36 anos de trabalho, por outro o Fundo de Pensões, que é tutelado pela secretaria da Administração e Justiça, nunca considerou esse tempo para o valor da pensão. António Rodrigues lembra que foi logo avisado em 2005: “Depois da decisão dos tribunais e da carta ao Chefe do Executivo, a polícia reconheceu esse tempo [9 anos] de trabalho. Mas também me disseram logo que quando fosse para a reforma só ia ser pago com o que eles consideravam ser a parte do Fundo de Pensões”, afirmou. “Quanto ao resto do dinheiro, disseram-me que tinha de falar com a Caixa Geral de Aposentações em Portugal”, acrescentou. A vontade do FP em não assumir os custos da sua pensão, e de outros quatro colegas, deve-se aos procedimentos relacionados com a transição, diz António Rodrigues. “Quando se aproximou a altura da transferência, o Fundo de Pensões manda uma ‘bolada’ de dinheiro para a Caixa Geral de Aposenta-

“O Fundo de Pensões podia sempre adiantar o dinheiro aos particulares e depois ir pedir esse montante à Caixa Geral de Aposentações de Portugal. Só que não quer.” RICARDO CARVALHO ADVOGADO

ções em Portugal, que era para os descontos dos funcionários que quiseram ir para lá. Só que nunca se pensou nas pessoas que tinham sido contratadas pelo Governo de Macau e que queriam ficar aqui depois da transferência. Nós não somos muitos, mas mandaram o dinheiro todo, sem haver diferenciação”, indica. Terá sido por este motivo que o Fundo de Pensões mandou António Rodrigues falar com a Caixa Geral de Aposentações em Portugal, o que fez, embora sem sucesso. “A mim mandaram-me ir falar com a

“Não fui santo, mas quem é nesta terra cheia de vícios? Fui um polícia que sempre combateu o mal e ainda tenho a cabeça a prémio por estes actos de coragem.” ANTÓNIO RODRIGUES EX-AGENTE DO CPSP

CGA em Portugal. Mas o Fundo de Pensões dá apoio às pessoas locais que precisam de resolver questões”, queixa-se o ex-agente. Ao HM, o Fundo de Pensões confirmou a existência deste tipo de serviço, que defende ser legal ao abrigo do Decreto-Lei n.º 357/93. A mesma resposta indicou também que é “maioritariamente” prestado aos pensionistas que “não dominam a língua portuguesa”. Contas feitas, António Rodrigues completa uma década de aposentação no próximo mês e diz que já está a perder cerca de 2 milhões de patacas. “Roubaram-me 23 por cento do meu vencimento [...] Estamos a falar de direitos adquiridos e para mim isto é um roubo”, atirou. Com um forte sentimento de injustiça, António Rodrigues acredita que a recente decisão do TUI traz uma nova esperança. “Até que enfim fez-se alguma justiça. Louvo os tribunais por estas decisões, mas não deixo de sentir que é tarde. São dez anos a perder o vencimento”, declarou.

“DOIS ESTADOS DENTRO DO ESTADO”

O processo do agente que viu os tribunais darem-lhe razão em Maio foi conduzido pelo advogado Ricardo Carvalho, que se prepara também para levar o caso de António Rodrigues à justiça. O causídico está a lidar com três casos dos cinco agentes nesta situação e acredita que vão ser “bem-sucedidos”, porque os clientes não têm quaisquer responsabilidades no envio do dinheiro para Portugal. “O Governo tirou o dinheiro aos empregados. Se não está na caixa do Fundo de Pensões é porque meteram o dinheiro no sítio errado, mas os descontos foram tirados. Os particulares não têm culpa que o dinheiro tenha sido metido no sítio errado”, defende Ricardo Carvalho. O advogado esclareceu também que quando os agentes foram contratados havia um protocolo que permitia descontar para a CGA, caso regressassem a Portugal. Os que optassem por ficar em Macau seriam inscritos, com os respectivos fundos, no FP. Facto que o jurista entende ilibar os clientes de responsabilidades: “O Fundo de Pensões podia sempre adiantar o dinheiro aos particulares e depois ir pedir esse montante à Caixa Geral de Aposentações em Portugal. Só que não quer”, considerou. Sobre o caso específico de António Rodrigues, o advogado diz que se vive uma situação incompreensível, porque as decisões dos tribunais são aplicadas na secretaria da Segurança, mas o mesmo não aconteceu na tutela da Administração e Justiça. “Esta situação faz-me confusão. O secretário da Segurança entende

que tiraram o dinheiro ao agente e que este sempre trabalhou para Macau. [...] O problema do tempo dos descontos foi reconhecido e resolvido”, relatou. “Só que o Fundo de Pensões, que é tutelado por um outro secretário, diz que não recebeu o dinheiro e só paga o que recebeu. Acabamos por ter dois estados dentro do mesmo estado, o que é incompressível até porque o Chefe do Executivo é comum aos dois secretários”, rematou. O HM questionou o FP sobre a situação dos agentes em que os descontos para a CGA não são contabilizados e se havia mais casos além dos cinco, mas não recebeu resposta.

CABEÇA A PRÉMIO

Apesar de ver a luz ao fundo do túnel, António Rodrigues não deixa de lamentar tudo o que tem passado devido à sua pensão, que fez mesmo com que vivesse uma fase mais difícil em 2005, quando passou por Portugal e inclusive atravessou problemas de saúde. Também por este motivo aponta que todo o episódio mostra desprezo pelo seu serviço, questiona as motivações por trás da recusa em reconhecer o seu tempo e diz-se injustiçado: “Que forças controlam esta justiça oca e caduca do Fundo de Pensões para serem tão injustos comigo?”, pergunta. “Não fui santo, mas quem é nesta terra cheia de vícios? Fui um polícia que sempre combateu o mal e ainda tenho a cabeça a prémio por estes actos de coragem”, desabafou. António Rodrigues explica que ao longo da vida profissional se pautou por três caminhos. Em primeiro lugar considera que “a coragem não tem preço”, em segundo diz acreditar que “a sabedoria é um dom” e, por último, nunca esquece que “o lobo e o cabrito bebem no mesmo local”. Foi no âmbito destas crenças que testemunhou em três processos ligados a seitas, entre os quais o que levou à condenação de Wan Kuok Koi, numa altura em que o medo reinava em Macau. “As seitas contra quem fui testemunhar queriam, e ainda querem, a minha cabeça. Mas o que é que me levou a testemunhar? A população de Macau. Eu sabia que era o meu trabalho fazer com que as pessoas pudessem voltar a dormir e que acabassem os homicídios”, sublinha. É por esta prova de serviço, que António Rodrigues nunca tinha sonhado viver uma situação destas: “Presentearam-me com a recusa em pagar o que resulta de um direito e que mereci pelo tempo que servi Macau. É uma grande injustiça”, conclui. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo


4 política

14.9.2020 segunda-feira

No papel de porta-voz do Conselho Executivo, André Cheong defendeu ser clara a predominância do poder executivo em Macau, primazia que tem contribuído para o desenvolvimento do território. Apesar de admitir não existir uma divisão clássica, o responsável garante que há inter-fiscalização e colaboração entre os poderes executivo, legislativo e judicial

“N

ÃO digo que em Macau haja uma separação muito óbvia de poderes, mas cada parte faz as suas tarefas. Entre os três poderes não há uma separação (…) clássica, mas há inter-fiscalização, cooperação e coordenação”. As palavras foram proferidas na sexta-feira pelo secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, durante uma apresentação do Conselho do Executivo, após ter sido questionado se existe separação de poderes em Macau. Na mesma réplica, o também porta-voz do Conselho Executivo começou por dizer que a Lei Básica é “muito clara” quanto ao facto de

ANDRÉ CHEONG “NÃO DIGO QUE HAJA UMA SEPARAÇÃO MUITO ÓBVIA DE PODERES”

Clássico e intemporal pela sociedade”, referiu o porta-voz do Conselho Executivo.

GARANTIA DE INDEPENDÊNCIA

que “em Macau a predominância é sempre do Executivo”, acrescentando que o mais importante é a colaboração entre os três poderes. “De acordo com a Lei Básica, temos o poder executivo, legisla-

tivo e judicial e cada um desses poderes tem um órgão ou instituição para responsabilizar essas tarefas. De acordo com a lei, os órgãos judiciais executam, independentemente, esse poder judicial

“Entre os três poderes não há uma separação (…) clássica, mas entre eles há uma inter-fiscalização, cooperação e coordenação.” ANDRÉ CHEONG SECRETÁRIO PARA A ADMINISTRAÇÃO E JUSTIÇA

e a parte legislativa e executiva, também têm as suas competências e responsabilidades”, vincou. Perante a insistência dos jornalistas, André Cheong ressalvou que a colaboração entre os três poderes tem sido um “conceito muito eficaz” para o desenvolvimento de Macau. “O regime político de Macau funciona assim há mais de 20 anos e tem trazido muitos benefícios (…), permitiu encontrar estabilidade na sociedade e é uma forma de funcionamento plenamente reconhecida

COMBATE À DROGA GOVERNO QUER ACRESCENTAR 10 SUBSTÂNCIAS À LEI

O

Governo anunciou na passada sexta-feira que pretende adicionar à actual lei de combate à droga mais 10 substâncias sujeitas a controlo, entre elas estupefacientes e substâncias usadas para o seu fabrico. Em conferência de imprensa, o porta-voz do Conselho Executivo, André Cheong, explicou que o acrescento à actual lei de combate à droga, tem como objectivo actualizar as tabelas anexas ao diploma, de forma a estarem de acordo com as organizações internacionais,

como a Comissão das Nações Unidas para os Estupefacientes. A ONU, em 2019, classificou "12 substâncias como substâncias sujeitas ao controlo internacional, 10 das quais ainda não estão sujeitas à actual Lei de combate à droga", precisou André Cheong. O responsável explicou ainda que das 10 substâncias, sete são estupefacientes e as outras três são precursores, ou seja, matérias primas usadas para o fabrico de droga. Na mesma conferência, Iao Leng, da Polícia Judiciá-

ria, disse que entre os precursores para fabrico de droga estão elementos que podem ser utilizados para produzir ketamina e ice. No total, 314 itens poderão estar incluídos, assim que a Assembleia Legislativa aprecie a inclusão destas 10 novas substâncias. Como não é necessário alterar qualquer artigo da lei, o Conselho Executivo sugere que “seja adoptado na Assembleia Legislativa o processo de urgência” relativamente à proposta. P.A.

Questionado se a soberania judicial está assegurada, André Cheong disse que sim, vincando que essa questão é muito clara, analisada à luz da Lei Básica, onde consta que o “tribunal funciona e toma decisões de forma independente”. “Os órgãos judiciais têm as suas competências, que são asseguradas pelas diversas legislações”, disse o governante, acrescentando que cabe à Administração acatar as decisões tomadas, mesmo que desfavoráveis. “Podem ver, por exemplo, alguns recursos administrativos de processos sobre terrenos. Caso haja algum recurso, cabe ao tribunal julgar (…) e à entidade administrativa cumprir o julgamento (…) de acordo com a decisão do tribunal. Após o retorno de Macau há 20 anos, esses regimes continuam inalterados e não é necessário duvidar”, assinalou André Cheong. Recorde-se que a resposta do secretário para a Administração e Justiça surgiu um dia depois de Sulu Sou ter defendido na Assembleia Legislativa que o poder público deve ser dividido, controlado e fiscalizado, sob pena de “acabar por gerar corrupção e tirania e prejudicar a liberdade, segurança e interesses do povo”. “Um Governo que não foi eleito por sufrágio universal domina todo o ambiente político, o que tem sido criticado pela sociedade como ‘arrogância executiva’, e o desequilíbrio de poderes também desencadeou conflitos sociais incessantes”, observou, na altura, o deputado. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

Covid-19 Secretário não comenta exposição que atribuiu primeiro caso aos Estados Unidos André Cheong recusou-se a fazer qualquer comentário sobre a exposição fotográfica dedicada ao combate à pandemia, cuja nota introdutória afirma que o primeiro caso de infecção em Macau foi de uma estudante vinda dos Estados Unidos. “Em relação a essa informação, não tenho nada para comentar”, limitou-se a dizer o secretário para a Administração e Justiça. Recorde-se que a exposição foi instalada no espaço da

Direcção dos Serviços de Turismo (DST) no Largo do Senado. Confrontada com a situação, a DST garantiu ao HM, na passada quinta-feira, ter contactado a entidade organizadora “que removeu prontamente o conteúdo em questão”. De salientar que o primeiro caso de infecção em Macau foi uma mulher, de 52 anos, residente de Wuhan. Foi diagnosticada no dia 21 de Janeiro no Centro Hospitalar Conde de São Januário.


sociedade 5

segunda-feira 14.9.2020

Na semana passada, o presidente do IAM equiparou o acto de alimentar animais vadios ao abandono. O secretário para a Administração e Justiça não partilha desta visão. Na sexta-feira, André Cheong comentou que quem alimenta estes animais o faz com o intuito de os proteger

O

secretário para a Administração e Justiça contrariou na sexta-feira a forma como o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) encara quem alimenta animais vadios. Para André Cheong, as pessoas PUB

Lições de rua André Cheong nega comparação entre alimentar e abandonar animais

que lhes dão água ou ração “não são donos desses animais, apenas querem dar-lhes comida e tentar protegê-los para que não tenham fome”. O secretário acrescentou que o Governo vai “comunicar melhor com o IAM para analisarem bem qual é o entendimento jurídico em relação a isso”. Em causa estão declarações do presidente do IAM, em resposta a uma interpelação escrita. José Tavares afirmou que na prática não há diferença entre alimentar animais de rua e abandoná-los, apontando que quem os alimenta passa a ser definido como dono. “De acordo com a Lei de Protecção dos Animais, para o abandono de animais ser uma infração administrativa tem de reunir factores e condições subjectivos e objectivos. Assim, em termos subjectivos, as pessoas que alimentam os animais vadios não estão a praticar o acto de abandono, mas sim a dar carinho e a proteger os animais sem dono”, comunicou o Gabinete de

Comunicação Social, ao explicar as declarações do secretário. No entendimento do secretário, o objectivo do IAM é evitar que as pessoas alimentem os animais de rua para evitar consequências negativas. “O Governo e o IAM têm a mesma intenção, queremos proteger os animais. (...) É verdade que existem muitas limitações, mas tentamos ultrapassá-las”, declarou.

REFORÇO DE SANÇÕES

“Não são donos desses animais, apenas querem dar-lhes comida e tentar protegê-los para que não tenham fome.” ANDRÉ CHEONG SECRETÁRIO PARA A ADMINISTRAÇÃO E JUSTIÇA

Ao responder às perguntas colocadas em conferência de imprensa do Conselho Executivo, André Cheong afirmou ainda que a sanção para quem viola a Lei de Protecção dos Animais deve ser reforçada, e aproveitou para apelar à população para ser responsável quando decide adoptar ou comprar um animal. No entanto, concordou com o IAM quanto às dificuldades na implementação do programa de recolha e esterilização. Frisando que essa não tem de ser a via para reduzir o número de animais vadios, o secretário disse que vai comunicar mais com a sociedade sobre como “aproveitar melhor os recursos do governo” para resolver a situação. S.F. e P.A.

Covid-19 Macau pode ser dividido em zonas por prevenção

O Governo está a ponderar dividir provisoriamente Macau em zonas, com o objectivo de melhorar a eficácia de aplicação de planos de prevenção contra o covid-19. Na passada sexta-feira, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Leong U, adiantou que a medida tem como referência práticas de prevenção do Interior da China. “Macau é pequeno e, por isso, podemos fazer uma divisão e classificação de zonas e níveis mais precisa. Uma vez que a medida teve sucesso no Interior da China, estamos a tomar como referência para gerir e lançar acções eficazes para cada zona”, explicou a secretária à margem do evento de apresentação da 67ª edição do Grande Prémio de Macau. Ao Leong U acrescentou ainda tratar-se de uma “concepção provisória” que faz sentido ponderar pois, apesar de a pandemia estar controlada, importa antecipar modelos que garantam a actuação eficiente durante eventuais surtos na comunidade.


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14.9.2020 segunda-feira

EFACEC CESL-ÁSIA RECEBEU CONVITE DO GOVERNO PORTUGUÊS PARA INVESTIR

Aquisição em curso A CESL-Ásia vai associar-se à Alpac Capital através de um consórcio para a compra da portuguesa EFACEC, nacionalizada após o arresto da participação da angolana Isabel dos Santos. Ao HM, António Trindade confessa ter recebido uma proposta de investimento por parte do Governo português e que já estava nos planos da CESL-Ásia apostar na empresa

António Trindade, CEO da CESL-Ásia “Fomos convidados pelos representantes do Governo para apresentar uma proposta para a aquisição da EFACEC. A Alpac também foi convidada e achámos que seria uma boa ideia juntarmo-nos para preparar uma proposta.”

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EFACEC, empresa portuguesa ligada à tecnologia que foi nacionalizada após o arresto da participação da empresária angola Isabel dos Santos, pode vir a ser adquirida pelo consórcio CESL-Ásia - Alpac Capital. A notícia é avançada pelo semanário português Expresso. Ao HM, António Trindade, CEO da CESL-Ásia, confessou que a empresa de Macau recebeu um convite por parte do Governo português no âmbito do processo de nacionalização. “Fomos convidados pelos representantes do Governo para apresentar uma proposta para a aquisição da EFACEC. A Alpac também foi convidada e achámos que seria uma boa ideia juntarmo-nos para preparar uma proposta. Informámos o Governo na sexta-feira de que estávamos interessados e

ficamos à espera do desenrolar do processo.” A proposta do Executivo português acabou por cair bem nos planos da CESL-ÁSIA. “Tivemos relações com a EFACEC e estávamos inclusivamente a estudar uma parceria com a empresa no último ano. [Este investimento] faz todo o sentido para nós e também para Macau.” António Trindade adiantou que a parceria com a Alpac assenta numa base de complementaridade. “AAlpac é uma entidade com base financeira e nós somos uma empresa de know-how e de serviços. Temos a experiência de trabalhar em mercados ocidentais e também em mercados de serviços de valor acrescentado e de energia.” Ao Expresso, o director-geral da Alpac, Luís Santos, explicou que a CESL-Ásia entra no consórcio através da empresa portuguesa Focus Platform Group. O

consórcio será também composto por outros empresários portugueses que terão participações minoritárias. Caberá ao banco de investimento Haitong a condução do processo de venda da EFACEC. Na sexta-feira a Alpac Capital entregou junto do banco a carta de intenção para a privatização da empresa.

MAIS SERVIÇOS

O CEO da CESL-Ásia reforça a ideia de que esta parceria “faz todo o sentido” e que tem como objectivo aproveitar o papel de Macau como plataforma económica. “A Ásia é o mercado de maior desenvolvimento nas próximas décadas e penso que a EFACEC vai beneficiar bastante [disso]. Uma das grandes perspectivas que temos é a presença da empresa no mercado global, uma vez que tem uma presença pouco significativa

na Ásia, tem maior representação em Portugal e América do Norte. Somos uma empresa de serviços e é uma área que a EFACEC pode desenvolver mais.” Questionado sobre os investimentos que a CESL-Ásia está a fazer na área da agricultura em Portugal, António Trindade revelou algumas novidades. “Estamos a desenvolver no Monte do Pasto uma linha de carne sustentável. Nos próximos dois meses vamos começar a introduzir no mercado essa linha de produtos e vamos começar, precisamente, por Macau.” A CESL-Ásia promete ter ainda, este ano, um novo investimento na área agrícola “com parceiros internacionais, para que haja mais investimento estrangeiro para Portugal”, rematou António Trindade. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

BURLA GASTOU MAIS DE 13 MILHÕES COM FALSA PROSTITUTA

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M residente foi burlado em mais de 13 milhões de patacas num caso de falsa prostituição. Segundo o jornal Ou Mun, a Polícia Judiciária (PJ) deteve, na sexta-feira, dois suspeitos de transaccionarem 1,18 milhões de patacas pagos pela vítima, estando os mesmos suspeitos da prática do crime de burla e branqueamento de capitais. O caso remonta a 2017, quando a vítima conheceu uma mulher na Internet que alegou disponibilizar serviços sexuais a troco de dinheiro, pago através de cartões de carregamento. O indivíduo transferiu cinco milhões de patacas sem nunca ter visto a mulher pessoalmente. Mais tarde, recebeu uma chamada telefónica de alguém que se fez passar pelo “patrão” da mulher, e que lhe pediu para fazer o pagamento em bitcoins. O “patrão” alegou ainda que a mulher estava doente e tinha sido presa, sendo necessário o pagamento de 7 milhões de patacas para a libertar sob fiança.Avítima adquiriu então moeda virtual nesse valor, em meados do ano passado em Hong Kong, mas continuava sem se encontrar com a mulher. Meses mais tarde, devido à pandemia, a vítima não conseguiu adquirir mais bitcoins, tendo recebido a ajuda dos dois suspeitos detidos pela PJ para a compra de moeda virtual no valor de 1,18 milhões de patacas. Estes ligaram depois à vítima alegando que não tinham conseguido comprar bitcoins e que o dinheiro estava numa esquadra no NAPE. Quando a vítima se deslocou à esquadra, percebeu que o dinheiro não estava lá e que tinha sido burlado. Os suspeitos são uma mulher, de 27 anos, residente, e um homem de 31 anos, também residente. Ambos recusaram cooperar. A PJ crê que os dois suspeitos são culpados de associação criminosa, vai continuar a investigar o fluxo do montante e se há mais pessoas envolvidas na história. O caso continua a ser investigado pelo Ministério Público, podendo os dois suspeitos serem acusados do crime de burla de valor elevado e crime de branqueamento de capitais.

Contrabando Interceptados 200 mil yuan de abalone

A Alfândega de Gongbei interceptou 40 quilos de abalone seco, num valor total de 200 mil yuan, noticiou a Exmoo News. O caso foi transferido para o departamento de combate ao contrabando para mais investigação. No porto da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, as autoridades revelaram que um carro particular tentou transportar a mercadoria para o Interior da China. O abalone estava num compartimento secreto dentro do veículo.


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GPDP Garantido combate ao telemarketing ilegal com PJ

O Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP) garantiu que continua a colaborar com a Polícia Judiciária (PJ) para combater as actividades ilícitas de telemarketing. Em resposta a uma interpelação escrita de Leong Sun Iok, o organismo recordou que normalmente as empresas de salão de beleza contratam companhias de telemarketing e que está atento se os dados pessoais são obtidos através de meios ou técnicas ilegais. O GPDP reconheceu que o telemarketing causa problemas aos residentes, mas aponta que essa actividade por si é um negócio e não ilegal, apontando como questão principal se as empresas respeitam os residentes e os seus direitos. Se as companhias não têm consentimento dos clientes para os contactarem com conteúdos de telemarketing, é considerado um acto administrativo ilegal. Por outro lado, se as empresas têm esse consentimento a actividade é legal até ao momento em que os clientes manifestarem que já não querem continuar a receber informações.

JOGO RECEITAS GLOBAIS DIMINUÍRAM 2,8 POR CENTO EM 2019

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ADOS da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que as receitas globais do sector do jogo, o ano passado, foram de 296,09 mil milhões de patacas, o que representa uma redução de 2,8 por cento em termos anuais. Em comunicado, a DSEC aponta ainda que as receitas do jogo, no valor de 292,34 mil milhões de patacas, sofreram um decréscimo de 3,5 por cento, enquanto que os juros recebidos, no valor de 2,71 mil milhões de patacas, subiram 414,9 por cento. Este aumento deve-se “aos juros oriundos dos depósitos e empréstimos concedidos por empresas”. No que refere às despesas globais, o montante total foi de 117,79 mil milhões de patacas, registando-se um decréscimo homólogo de 6,7 por cento. A DSEC assegura que estes números se devem “à redução de 17,5 por cento nas compras de mercadorias, comissões pagas e ofertas a clientes (56,43 mil milhões de patacas). Já as despesas de exploração cifraram-se em 31,95 mil milhões de patacas, mais 1,8 por cento, sendo efectuadas em bens ou serviços proporcionados gratuitamente a clientes. A DSEC divulgou também dados sobre o valor acrescentado bruto do sector do jogo, ou seja, o seu contributo para a economia. Deu-se “uma subida ligeira em 2019”, com um aumento de 0,3 por cento em termos homólogos, no valor total de 205,06 mil milhões de patacas.

TIAGO ALCÂNTARA

segunda-feira 14.9.2020

EPM ATAQUE INFORMÁTICO COM POSSÍVEL ORIGEM NA UCRÂNIA

Vírus que veio do frio

Depois do ataque informático, foi detectada uma entrada no sistema NetGiae, da Escola Portuguesa de Macau, a partir de um endereço de IP localizado Ucrânia. Três empresas não conseguiram desencriptar os dados bloqueados, num caso que está a ser investigado pelo Gabinete de Protecção de Dados Pessoais. A Escola Portuguesa reforçou a segurança informática, para impedir novos ataques

L

OCKBIT. Assim se chama o software de encriptação e resgate que atacou o sistema informático NetGiae da Escola Portuguesa de Macau (EPM). Segundo uma troca de e-mails, a que o HM teve acesso, entre a Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Portuguesa de Macau (APEP) e a direcção da escola, o ataque pode ter vindo de um computador situado na Ucrânia. “Durante as perícias realizadas, detectou-se uma entrada no sistema a partir de uma morada/IP que corresponde a um computador localizado na Ucrânia (Kharkiv)”, informou a direcção da EPM, acrescentando que “não foi pedido qualquer resgate para a desencriptação da base de dados”. O Lockbit esteva na origem de vários alertas da Interpol devido a ataques a hospitais e empresas do sector da saúde, com particular incidência du-

rante a pandemia. No início de Abril, mês em que a EPM foi atacada, a Interpol alertou as autoridades policiais dos quase 200 países-membros para os perigos deste software e de associações criminais que o usam. Depois do ataque, a EPM contactou a empresa responsável pela gestão de rede para tentar recuperar a informação encriptada. Como a primeira tentativa falhou, foram contactadas duas outras empresas, alegadamente especializadas em recuperação de informação afectada por este tipo de ataque, uma com sede em Guangzhou e a outra na Nova Zelândia. Ambas foram incapa-

zes de recuperar a informação encriptada pelo Lockbit.

APLICAÇÕES ACTUALIZADAS

Para prevenir novos ataques, a EPM implementou uma série de medidas de segurança como reforço da firewall e sistema de antivírus, alteração de todas as passwords de docentes e funcionários da EPM, “com atribuição de passwords mais robustas” e obrigatoriedade de alteração periódica. A escola vai também fazer o backup da base de dados do NetGiae em três servidores diferentes e da cópia para um suporte físico externo sem li-

Para prevenir novos ataques, a EPM implementou uma série de medidas de segurança como o reforço da firewall e do sistema de antivírus, alteração de todas as passwords de docentes, funcionários da EPM

gação à internet. Além disso, o servidor será desligado durante os fins-de-semana. O ataque informático foi o ponto fulcral da reunião da associação de pais com o Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP), que está a investigar o caso. A APEP foi “informada que uma investigação estava em curso e que, no final, caso fosse necessário, seriam feitas recomendações à EPM de forma a proteger os dados pessoais da melhor forma possível”, e que o GPDP se disponibilizou para realizar sessões de esclarecimento com a escola e os encarregados de educação. A APEP considera a disponibilidade do GPDP de louvar “face da insuficiente e contraditória informação prestada pelo Presidente da Direcção da EPM”, lê-se no e-mail da associação dirigido aos encarregados de educação. João Luz

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Conquistas em Veneza Ana Rocha de Sousa duplamente premiada

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realizadora portuguesa Ana Rocha de Sousa conquistou sábado o prémio ‹Leão de Futuro›, de primeira obra, e o prémio especial do júri ‹Horizontes› no Festival de Cinema de Veneza, em Itália, pela longa-metragem «Listen”, foi sábado anunciado. De acordo com o festival italiano, que terminou este fim-de-semana, “Listen” foi distinguido com o prémio ‘Leão do Futuro - Luigi De Laurentiis’, no valor de 100 mil dólares, e Ana Rocha de Sousa recebeu ainda o prémio

especial do júri da secção competitiva ‘Horizontes’. “Listen” é a primeira longa-metragem da actriz e realizadora Ana Rocha de Sousa e a narrativa inspira-se em factos reais. É um drama familiar de uma família portuguesa emigrada no Reino Unido, a quem os serviços sociais lhe retiram os três filhos menores, por suspeita de maus tratos. Em entrevista à agência Lusa dias antes da estreia mundial do filme em Veneza, a realizadora recuava a 2016 para falar da criação deste PUB

filme, depois de ter vivido e estudado em Londres, de ter sido mãe e de ter tomado conhecimento de casos de emigrantes que viveram aquele drama, retratado em “Listen”. “Não é de todo um filme contra ninguém em específico, mas pretende levantar questões; se não haverá outras formas de salvaguardar o superior interesse destas crianças e destas famílias para lá da adopção. (...) A grande dificuldade do tema são algumas definições demasiado subjectivas em termos legais que tornam o sistema [social] muito falível”, contou. Sobre a presença em Veneza, Ana Rocha de Sousa recordou a importância do festival: “Estar em Veneza trouxe muito visibilidade ao filme. Existirá um ‘antes de Veneza’ e um ‘depois de Veneza’. Sou absolutamente grata ao facto de Veneza ter coragem de seguir e, de uma forma adaptada e nova, não deixar cair as coisas”. “Listen” tem co-produção luso-britânica, foi rodado nos arredores de Londres com elenco português e inglês, encabeçado por Lúcia Moniz, Ruben Garcia e Sophia Myles. Chegará aos cinemas portugueses em 2021. Na sexta-feira, o filme da realizadora portuguesa foi distinguido com o prémio Bisato d’Oro de melhor realização e o prémio “Sorriso Diverso Venezia, pela “abordagem às questões sociais”, ambos galardões paralelos do festival.

Sons in FIMM FESTIVAL DE MÚSICA COM UMA ESTREIA MUNDIAL

“Um Século de Música Chinesa”, “Mahle novos concertos anunciados no âmbito do Entre as peças que sobem ao palco no pró Old Macao” é apresentada pela primeira v

OUTROS RUGIDOS

O filme “Nomadland”, da realizadora chinesa Chloé Zhao, arrecadou o Leão de Ouro. Presidido pela actriz Cate Blanchett, o júri decidiu atribuir o prémio máximo do festival a um filme que acompanha uma mulher (Frances MacDormand) que decide mudar de vida, depois de ter perdido tudo numa grande crise económica, passando a viajar e a viver de forma nómada. O júri da 77.ª edição do festival italiano decidiu ainda atribuir o Leão de Prata - de melhor realização - ao realizador japonês Kiyoshi Kurosawa, pelo filme “Wife of a Spy”. “Nova Ordem”, de Michel Franco, ganhou o Grande Prémio do Júri e “Dear Commrades”, deAndréi Konchalovsky, o prémio especial.

Este concerto (Mahler Sinfonia N.º 1) conta com a estreia mundial do primeiro movimento da composição “Echoes from the

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Instituto Cultural (IC) revelou mais três concertos que integram o programa do Festival Internacional de Música de Macau (FIMM) a realizar em Outubro. Entre eles, encontra-se o espetáculo de abertura da temporada de concertos da Orquestra Chinesa de Macau, intitulado “Um Século de Música Chinesa”. A apresentação acontece dia 4 de Outubro e conta com a participação da mestre de pipa Zhang Hongyan e o intérprete contemporâneo de guzheng, Luo Jing. Os

músicos de cordas dedilhadas vão tocar as peças Flores no Rio ao Luar da Primavera, e Canção dos Pescadores ao Crepúsculo. Além deste concerto, Zhang Hongyan vai dar uma “masterclass” de pipa dia 3 de Outubro pelas 19h00. Directora do departamento de instrumentos tradicionais do Conservatório Central de Música e professora na Faculdade de Artes da Universidade de Pequim, vai partilhar orientações técnicas sobre o instrumento numa sessão gratuita, mas limitada a três participantes e 22 ob-

servadores. Os interessados devem registar-se entre 14 e 23 de Setembro. No dia 10 de Outubro é a vez do concerto “Mahler Sinfonia N.º 1”, apresentado pela Orquestra de Macau e a Orquestra Sinfónica de Shenzhen, subir ao palco. O objectivo passa por “promover o intercâmbio artístico na área da Grande Baía”, descreveu o IC. É de destacar este concerto conta com a estreia mundial do primeiro movimento da composição “Echoes from the Old Macao”, de Lam Bun-Ching, bem como da interpretação do Concerto


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néditos

er Sinfonia N.º 1” e “Bravo Macau!” são os Festival Internacional de Música de Macau. óximo mês, a composição “Echoes from the vez ao público

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A

próxima fase do Plano das Lojas com Características Próprias vai focar-se na zona das ilhas. O âmbito do plano será ampliado gradualmente para outros bairros comunitários, comunicou a Direcção dos Serviços de Economia (DSE). Desde que o plano foi lançado na zona da Rua de 5 de Outubro, no início de Julho, ainda há comerciantes a apresentar candidaturas. Na página da DSE, é possível consultar um mapa das lojas, espalhadas na Rua de Cinco de Outubro, Rua dos Ervanários/Rua de Nossa Senhora do Amparo, Rua das Estalagens e Rua da Tercena. São já cerca de 50 negócios nas áreas da restauração e do comércio a retalho. De acordo com um comunicado da DSE, o presidente da Federação da Indústria e Comércio de Macau Centro e Sul Distritos, Lei Cheok Kuan, considera que o plano vai contribuir para a economia comunitária, e que com a PUB

e Old Macao”, de Lam Bun-Ching

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COMÉRCIO APOIO A LOJAS AVANÇA PARA AS ILHAS

para Violino n.º 5 de Mozart pela jovem Huali Dang. O maestro principal da Orquestra de Macau, Lu Jia, vai conduzir uma conversa pré-espectáculo, para desconstruir as três obras que são levadas a concerto, para os participantes perceberem melhor o espírito das peças. Tanto “Um Século de Música Chinesa” como “Mahler Sinfonia N.º 1” decorrem no grande auditório do Centro Cultural de Macau, pelas 20h00.

TALENTO LOCAL

Por último, com vista a promover o desenvolvimento

musical de Macau, tem lugar no Teatro Dom Pedro V o concerto “Bravo Macau!”, no dia 31 do próximo mês. Oferece uma plataforma para apresentar jovens músicos locais, contando com a participação do percussionista Andrew Chan e do saxofonista Lee Chi Pok. Vão dar vida a peças como a Sonata for Alto Saxophone and Piano, op. 19, de Creston, e um arranjo da “Nightclub 1960”, de Astor Piazzolla. Andrew Chan ganhou o concurso a solo de marimba do Australian Percussion

Eisteddfod e foi convidado a actuar na China Central Television. Por sua vez, Lee Chi Pok foi o vencedor do nível avançado de saxofone do 34º Concurso para Jovens Músicos de Macau e é estudante no Conservatoire Royal de Liège. Os bilhetes para os concertos já estão à venda, e abrem hoje de manhã as inscrições online para as restantes actividades. Salomé Fernandes

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retoma gradual da emissão de vistos a residentes do Interior da China e a aproximação da semana dourada, as lojas características e a economia vão ter “um novo dinamismo”. Para Lei Cheok Kuan, os participantes têm dado opiniões positivas sobre o

resultado da publicidade e das capacidades decorrentes das acções de formação. A DSE enviou recentemente pessoal para dar formação aos comerciantes sobre como gerir os comentários de clientes e divulgação de conteúdos na plataforma “dianping”. S.F.


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União Europeia e a China reúnem-se na segunda-feira numa cimeira extraordinária virtual, num momento em que a Europa sente crescente frustração, face à ausência de reformas estruturais na economia chinesa, segundo um analista. O Presidente chinês, Xi Jinping, vai reunir-se por videochamada com a chanceler alemã, Angela Merkel, o Presidente francês, Emmanuel Macron, e os presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, Charles Michel e Ursula von der Leyen, respectivamente. Uma cimeira extraordinária UE/China esteve marcada para Setembro em Leipzig, na Alemanha, mas a

ACTIVISTAS SEM NOTÍCIAS HÁ 20 DIAS, FAMÍLIAS IMPLORAM POR AJUDA

Ligações proibidas Os 12 activistas de Hong Kong, detidos quando se dirigiam numa lancha para Taiwan, continuam sem acesso a qualquer contacto com o exterior. As famílias desesperam e pedem que lhes seja permitido falar com os detidos ou fazer-lhes chegar medicamentos, indispensáveis para alguns deles enviar medicação de que os seus familiares dependem, como antidepressivos ou medicamentos para a asma. “Todas as manhãs ele precisa de inalar o remédio para a asma”, explicou o irmão de um dos activistas detidos,

contando que, quando ligou para o centro de detenção em Shenzhen, na China, para tentar que os medicamentos lhe fossem entregues, um agente lhe terá dito que a sua identidade não podia ser verificada, desligando o telefone.

Numa declaração lida pelo deputado James To, do Partido Democrático, a mãe de um detido com 16 anos queixou-se que não consegue dormir, e só espera que o filho possa telefonar e que o advogado que contratou

possa encontrar-se com o menor em Shenzhen, segundo a mesma fonte.

INSUFICIÊNCIAS

Na terça-feira, a Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, disse que os 12

GETTY IMAGES

AMILIARES do grupo preso na China há 20 dias pediram sábado que lhes seja permitido enviar medicamentos ou simplesmente falar com os detidos, instando as autoridades a permitir o seu acesso a advogados e o regresso a Hong Kong. O apelo foi feito durante uma conferência de imprensa na antiga colónia britânica que juntou mães, pais e irmãos de seis dos 12 activistas pró-democracia detidos em 23 de Agosto pela guarda costeira chinesa, e que incluem o estudante universitário Tsz Lun Kok, com passaporte português. O grupo foi detido por suspeita de “travessia ilegal” quando se dirigia de barco para Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo político. Envergando capuzes, óculos de sol e máscaras para proteger a sua identidade, os familiares dos detidos exigiram sábado que as autoridades chinesas permitam o acesso dos seus familiares aos advogados da sua escolha, até agora recusado pelas autoridades prisionais, em alguns casos alegando que já teriam sido nomeados advogados oficiosos pelo Estado chinês. “Não consigo dormir desde que ouvi a notícia [da detenção]. Estou muito preocupada [...], nem sequer sei se ele ainda está vivo”, queixou-se a mãe de um dos detidos, de acordo com a correspondente da agência France-Presse (AFP) em Hong Kong, que divulgou as declarações na rede social Twitter. Em alguns casos, denunciaram, foi-lhes recusado

Mãe de um dos detidos “Não consigo dormir desde que ouvi a notícia [da detenção]. Estou muito preocupada [...], nem sequer sei se ele ainda está vivo.”

A tensão marca a hora

Cimeira UE/China realiza-se por videoconferência esta segunda-feira

pandemia de covid-19 levou ao seu cancelamento. Segundo a agenda do Conselho Europeu, além das relações económicas e comerciais, a reunião será consagrada às alterações climáticas, a “outras matérias internacionais e assuntos preocupantes”, assim como à resposta à pandemia. A UE está a negociar com a China um potencial acordo de investimento que visa proteger os interesses comerciais europeus na segunda maior economia do mundo. As negociações para o acordo, que tornaria mais fácil,

por exemplo, aos investidores da UE comprarem participações em empresas chinesas, visando tornar a relação recíproca, arrastam-se há vários anos, alimentando a frustração dos líderes europeus e uma “mudança na postura” face à China, explicou à Lusa o sinólogo francês François Godement. O conselheiro para a Ásia no Institut Montaigne, em Paris, considerou que a União Europeia (UE) passou da “crença exagerada” de que o envolvimento com a China “traria mudanças por si só e integração”, para uma

postura de “cautela e desafio”, visando garantir que “os seus interesses não são desafiados diretamente pela China”. Parte desta frustração deve-se à ausência de reformas estruturais na economia chinesa, algo que resultou já numa guerra comercial e

tecnológica entre Pequim e Washington. “Trata-se de uma admissão fundamental por parte da UE sobre a falta de reforma e abertura na China. É realmente sobre a era de Xi Jinping”, apontou o analista, numa referência ao actual Presidente chinês, que reverteu décadas de reformas económicas e reforçou o domínio do Partido Comunista Chinês sobre a economia. “As exigências dos europeus são estruturais: libertar o mercado chinês de subsídios, abrir contratos públicos e a indústria dos serviços”, resumiu o sinólogo francês.

OUTRAS HOSTILIDADES

A mudança de posição da Europa ocorre, no entanto,

detidos do território na China têm de responder às acusações no continente antes de o governo da região poder intervir, um anúncio criticado sábado pelas familias. “Espero que o governo [de Hong Kong] nos possa dizer o que se está a passar”, apelou a mãe de outro dos detidos. “Quanto mais notícias leio, mais medo tenho”, acrescentou. O advogado em Hong Kong do jovem com passaporte português disse sábado à Lusa que a mãe de Tsz Lun Kok teve receito de participar na conferência de imprensa, por temer que isso pudesse prejudicar o filho, que enfrenta acusações relacionadas com a participação nos protestos pró-democracia na antiga colónia britânica, em 2019. O advogado, que pediu para não ser identificado, continua sem notícias do Consulado de Portugal em Macau e Hong Kong. “Dizem que estão a acompanhar [o caso], mas os esforços que dizem estar a fazer estão longe de ser satisfatórios”, criticou, defendendo que um representante consular deveria “dirigir-se pessoalmente ao centro de detenção em Shenzen”, em vez de tentar contactar as autoridades chinesas por telefone. A Lusa questionou novamente o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português na sexta-feira, para saber que diligências foram feitas para obter informações sobre o jovem e se tiveram resposta, mas o gabinete de Augusto Santos Silva não respondeu até agora às questões.

com mais discrição do que nos Estados Unidos, que passaram a definir a China como a sua “principal ameaça”, apostando numa estratégia de contenção das ambições chinesas em todas as frentes. Bruxelas adoptou, nos últimos anos, várias “medidas defensivas”, incluindo a criação de um mecanismo de triagem do investimento externo e um outro para travar aquisições hostis durante a pandemia do novo coronavírus. “A Europa não segue as mudanças de estratégia da administração dos Estados Unidos sob [Donald] Trump. Não soa tão hostil ou agressiva. Estas medidas defensivas foram tomadas sem nomear a China”, notou Godement.


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Pun Weng Kun adiantou (… ) esperar que a 67.ª edição do GP de Macau venha a receber cerca de 200 pilotos

É

a ultrapassagem possível. Condicionada pela pandemia, a 67.ª edição do Grande Prémio de Macau vai realizar-se entre 19 e 22 de Novembro sem corridas de Fórmula 3, a prova principal do evento, e à procura de garantir a presença de pilotos estrangeiros de renome, cuja entrada será permitida através do levantamento excepcional das restrições em vigor. A explicação foi dada na passada sexta-feira pela Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Leong U, à margem do evento de apresentação da edição deste ano. “É possível dispensar a restrição de entrada de estrangeiros, uma vez que a sua entrada tem interesse público para a RAEM. Se a situação da pandemia melhorar claro que vamos querer levantar essas restrições de entrada para todos, mas agora vamos utilizar o mecanismo para levantar essa restrição de entrada aos pilotos estrangeiros”, esclareceu a secretária. Além disso, de acordo com o presidente do Instituto do Desporto e Coordenador da Comissão organizadora do GP, Pun Weng Kun, esses pilotos estrangeiros “estão disponíveis para vir a Macau, mesmo fazendo quarentena de 14 dias”, até porque muitos deles, especialmente das provas de Motos, “querem muito vir a Macau”, depois de verem grande parte do calendário internacional cancelado, devido à pandemia. Ainda sem nomes de pilotos mais ou menos sonantes para adiantar, pois a decisão da sua vinda “envolve também as suas equipas”, Pun Weng Kun adiantou, no entanto, esperar que a 67.ª edição do GP de Macau venha a receber

GP INTERESSE PÚBLICO GARANTE ENTRADA DE PILOTOS ESTRANGEIROS

Via reservada

O 67.º Grande Prémio de Macau realiza-se entre 19 e 22 de Novembro e vai ter um orçamento de 250 milhões de patacas. Haverá seis corridas e a Fórmula 3 dará lugar à Fórmula 4. Segundo a organização, há pilotos estrangeiros interessados em participar, mesmo fazendo quarentena. A entrada será garantida por motivos de interesse público cerca de 200 pilotos, ou seja, mais 40 que o total da edição do ano passado. “Este ano é muito particular e por isso temos de aguardar pelas respostas das respectivas equipas”, acrescentou. À margem da conferência, Kun lembrou ainda que, à excepção da Fórmula 1, “muitas outras modalidades sofreram mudanças e cancelamentos” e que só através do esforço conjunto do Governo, Serviços de Saúde e outras áreas, tem sido possível controlar a pandemia e realizar os preparativos em conjunto com a Federação Internacional de Automobilismo [FIA]. “Estamos convencidos que a edição deste ano decorrerá com sucesso”, rematou. Com um orçamento de 250 milhões de patacas, menos 20 milhões que no ano passado, o 67.º Grande Prémio de Macau irá contemplar seis corridas, deixando de fora aquela que tem sido a sua prova principal de longa data, a Fórmula 3. Em substituição, a organização

vai avançar com o Grande Prémio de Fórmula 4. “Este ano, a Fórmula vai ser Fórmula 4 (…) e vamos ter sobretudo pilotos que participaram nas corridas de Fórmula 4 que decorreram no Interior da China. Os pilotos locais que cumpram os requisitos e estejam a participar nesta modalidade também são bem-vindos”, explicou Pun Weng Kun.

AJUSTES NECESSÁRIOS

Embora com ajustes, as restantes cinco provas mantêm-se, ou seja, a

Taça GT Macau, a Corrida da Guia Macau, o 54.º Grande Prémio de Motos de Macau, a Taça de Carros de Turismo de Macau e a Taça GT – Corrida da Grande Baía. A Taça GT Macau é composta pelas GT3 e GT4 e os pilotos participantes serão seleccionados de entre os participantes das corridas China GT Championship e Taça GT Azia Pacific, os quais irão competir com pilotos de Macau. No caso da Corrida da Guia Macau, os pilotos vão ser escolhidos a partir das provas TCR Azia e

Azia Pacific 2.OT, igualmente com a participação de pilotos locais. Já devido ao cancelamento de provas na Europa, os pilotos que vão participar no Grande Prémio de Motos serão convidados com base nos resultados obtidos na edição do ano passado, acontecendo o mesmo para a Taça GT da Grande Baía. Por fim, a Taça de Carros de Turismo de Macau irá manter o formato do ano passado, com as categorias das classes 1600cc Turbo e 1950cc a competirem na mesma pista. Pun Weng Kun frisou ainda que a organização está a preparar vários planos alternativos que incluem o cancelamento de algumas ou, no limite, de todas as provas do GP, caso a situação epidemiológica piore. No entanto, o responsável assumiu estar confiante na realização do evento. Haverá público nas bancadas e os bilhetes estarão à venda a partir de 21 de Setembro, mantendo-se o preço inalterado, ou seja, 50 patacas para os dias de treinos (19 a 20 Novembro) e entre 400 e 1000 patacas para os dias das provas (21 e 22 de novembro). Serão ainda instaladas máquinas de bilhetes self-service e a admissão ao evento será feita através de pulseira electrónica. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

Maratona Inscrições esgotam em poucas horas Já se encontram esgotadas as inscrições para todas as provas que integram Maratona Internacional de Macau, informou o Instituto do Desporto (ID) em comunicado. A prova, que conta

com o apoio da operadora de jogo Galaxy com o nome oficial “Galaxy Entertainment - Maratona Internacional de Macau 2020” decorre a 6 de Dezembro. A partida e a chegada continuam

a decorrer no Estádio do Centro Desportivo Olímpico, sendo que as provas de maratona e meia maratona começam às 6h, enquanto que a prova de mini-maratona arranca às 6h15.


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apetecia-te chorar mas primeiro ´

Para o pintor Hua Yan o Outono era a vida inteira Paulo Maia e Carmo texto e ilustração

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AN Zhuo (activo c. 10951123) escreveu no tratado Shanshui Chun Quanji de 1121, que «Aquele que entender bem a pintura de nuvens compreenderá o verdadeiro sopro das quatro estações ou seja, os princípios próprios do Criador.» A compreensão das mutações das estações é uma preocupação antiga que já se encontra, por exemplo, nos textos de Wang Wei (699759) e no influente tratado de Shitao há um capítulo só a elas dedicado. Um pintor de Shanghang, na Província de Fujian chamado Hua Yan (1682-1756) pareceu especialmente sensível a essas mudanças do mundo, no modo como repetidamente aludia ao Outono. Em «Peónia branca com rocha» (rolo vertical, tinta e cor sobre papel, 127,6 x 57,2 cm) uma pintura que se encontra no Metmuseum, ele escreveu: «Sigo Ma Yuan (activo c.1190-1225) ao cortar rochas oblíquas,/ Imito Xu Xi (activo no século X) ao colher flores delicadas./ Os estilos dos dois mestres possuem aspectos doces e amargos;/ Juntos, eles realçam o sabor do meu chá no primeiro dia gelado do Outono.» No retrato feito em 1705 com o pintor Wei Shijie (1667-depois de 1747) intitulado «Camadas de cumes e queda de água salpicante» (rolo vertical a tinta e cor sobre seda, 130 x 47,2 cm) que se encontra no Museu de Arte de Cleveland, mostra-se frontal aos vinte e três anos, de pé, o braço esquerdo descontraidamente apoiado numa rocha envergando as vestes de literato porém, com uma

espada pendurada às costas. Noutra pintura do mesmo Museu, agora num álbum de «Paisagens ilustrando velhos poemas» (cada folha 11,2 x13,1 cm, a tinta e cores leves sobre papel) também desses primeiros anos de 1700, ele está sentado ainda jovem, de forma carismática com um cotovelo em cima da mesa e o outro braço passando por trás do espaldar da cadeira, aguardando que um rapaz lhe misture a tinta. Hua Yan faria um caminho que se assemelhava a essas pinturas em que se retrata livre e voluntarioso num dinamismo com a circundante paisagem, em mudança contínua. Em «Conversa no Outono» (rolo vertical tinta e cores ligeiras sobre papel, 218,5 x 71,7 cm, também em Cleveland) datada de 1732, dois literatos frente a frente numa cabana humilde; o teor da conversa intui-se pela paisagem que os rodeia, no período do ano em que a mudança é mais evidente. Para melhor a perceber eram necessários intervalos e Hua Yan, no seu percurso errante conheceu essa relação alternada de proximidade e distância. Viveu em Yangzhou, onde foi associado aos «Oito Excêntricos», até pelo aspecto livre do traço pintado, e depois em Hangzhou junto do inefável Lago do Oeste. Em «Cena de Outono» de 1729 (folha de álbum a tinta e cor sobre papel, 22,9 x 15,7 cm, na Galeria de Arte Freer) um literato sozinho, vertical como as pedras e as árvores que o rodeiam, está orgulhoso e resiste mas transforma-se como o Mundo, no seio do qual ele é um farol.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

segunda-feira 14.9.2020

tinhas que arranjar o cabelo

José Simões Morais

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UANDO a 26 de Outubro de 1866 S. Ex.ª o Governador de Macau José Maria da Ponte e Horta (1866-1868) tomou posse, as circunstâncias determinavam a urgência de um regulamento para a Procuratura dos Negócios Sínicos da cidade de Macau. Já o decreto de 5 de Julho de 1865 iniciara a reforma que urgia adoptar, mas a única alteração imediata ordenada fora separar a Procuratura, do Senado da Câmara. O Governador da província escolhia o Procurador entre os elegíveis para vereadores e segundo Beatriz Basto da Silva, “O Procurador dos Negócios Sínicos de Macau desempenha, em conformidade com o Decreto desta data, as funções de Administrador do Concelho de Macau, acumulando-as ainda como membro da Junta da Justiça e como Vereador da Câmara Municipal.” O Procurador dos Negócios Sínicos só em 1866 passou a estar desligado do Senado e a ter nomeação régia, sobre proposta do Governador da província. O primeiro a ocupar esse novo cargo foi António Feliciano Marques Pereira. Como funcionário Público, cuja tabela de vencimentos para o ano económico 1866-1867 apareceu no Suplemento ao Boletim do Governo de 1 de Dezembro de 1866, na Secção 3.ª Procuratura, referia-se: <O Procurador da cidade e encarregado dos negócios sínicos tem um ordenado de 600$000 réis>. Nessa tabela para o Governo e Administração Geral, no Artigo 1.º sobre Governo de Macau, na Secção 1.ª está o ordenado anual do Governador, 3750$000 réis. Na Secção 2.ª, relativa à Secretaria do Governo, o Secretário recebia 700$000 réis e o Oficial de Secretaria 400$000. Já na Secção 3.ª Procuratura, para além do ordenado anual do Procurador da cidade de 600$000 réis, o primeiro intérprete, então João Rodrigues Gonsalves, auferia 1150$000 réis.

ESTUDO DA LÍNGUA CHINESA

Os jesuítas, mal entraram na China, aprenderam logo a língua dos mandarins e em Macau, ensinaram-na no seu Colégio universitário de S. Paulo e nas escolas. Com o fim da Companhia de Jesus, em Macau a 5 de Julho de 1762, sendo os jesuítas expulsos, vieram em 1784 os padres lazaristas da Congregação da Missão. Deles, destacou-se como professor da língua sínica o padre Joaquim Afonso Gonçalves (1780-1841). Chegara a Macau a 28 de Junho de 1813 e leccionou inglês, chinês e música no Seminário de S. José até morrer, tendo aí formado quase todos os sinólogos macaenses do século XIX. Escreveu uma gramática latina e para a língua chinesa, tanto falada como escrita,

Cargos e vencimentos na Procuratura

a obra Arte China, assim como, os dicionários português-chinês e o chinês-português, ambos ‘no estilo vulgar mandarim e clássico geral’. Entre os alunos contava-se João Rodrigues Gonsalves, que em 1823 entrara ao serviço do governo e em 1842, seguindo para o reino, foi como deputado eleito por Macau. Em 23 de Abril de 1862, como intérprete acompanhou a Pequim o Conselheiro Isidoro Guimarães, Governador de Macau e ministro plenipotenciário de Portugal na China, para negociar um tratado de amizade, navegação e comércio entre ambos os países.

SEGUNDO INTÉRPRETE DA LÍNGUA SÍNICA

Por Decreto de 12 de Julho de 1865 é criado um corpo de intérpretes e de alunos intérpretes da língua sínica. Entre os cargos apareceu o de segundo intérprete da língua sínica, ocupado então por José Joaquim Viera. Mas em anúncio n’ O Boletim do Governo de Macau de 19/11/1866 declarava-se estar <aberto concurso de trinta dias para o provimento do referido lugar, devendo os pretendentes apresentar

na secretaria do governo, no prazo indicado, os seus requerimentos acompanhados de certidão de idade, atestados de bom comportamento moral, civil e religioso e certidão de folha corrida. Os concorrentes são obrigados, perante um júri competente, a fazer exame sobre os dois dialectos de Pekin e Cantão, quantum satis; versão de todos e quaisquer documentos oficiais, bem como sobre gramática, sintaxe, análise e composição: no caso de igualdade de circunstâncias, haverá preferência para o concorrente que conhecer outra língua estrangeira, além da portuguesa, ou que tenha outros conhecimentos científicos, ou atestados de serviço prestados ao governo. Findo o prazo do concurso, anunciar-se-á o dia do exame. Macau, secretaria do governo, 19 de Novembro de 1866, o secretário do governo Gregório José Ribeiro.> Por portaria N.º 47 de 29 de Dezembro de 1866, o Governador José Maria da Ponte e Horta determinava que o júri de exame, para o concurso do lugar de segundo intérprete da procuratura, fosse composto do sr. procurador dos negócios

Por Decreto de 12 de Julho de 1865 é criado um corpo de intérpretes e de alunos intérpretes da língua sínica. Entre os cargos apareceu o de segundo intérprete da língua sínica

sínicos como presidente, sem voto, e dos sinólogos, os srs. João Rodrigues Gonsalves, José Martinho Marques e revdo. Pe. Pedro Baptista, devendo o júri reunir-se na Procuratura ao meio-dia do dia 3 de Janeiro de 1867. O segundo intérprete da língua sínica tinha como ordenado anual 800$000 réis. Havia ainda na Procuratura mais dois alunos intérpretes (Pedro Nolasco da Silva Jr. e Eduardo Marques) e o primeira língua (Maurício Xavier), recebendo cada um 300$000 réis de ordenado, enquanto o segunda língua, que desde 22/6/1865 era José Thomas Robarts, vencia 180$000 réis. Sobre os dois alunos intérpretes aparecera na parte oficial d’ O Boletim do Governo de Macau de 26 de Junho de 1865, Ministério da Marinha e Ultramar, 2.ª Direcção, 1.ª Repartição, n.º 25: <Tendo o Governador da Província de Macau em ofício de 8 de Fevereiro último, dado conta de haver nomeado dois alunos intérpretes da língua chinesa, usando para isto da autorização concedida pela Régia Portaria de 28 de Outubro de 1861, visto não estar ainda instaurada a Escola de Intérpretes, estabelecendo a cada um dos dois alunos uma gratificação de 25 patacas: Manda Sua Majestade El-Rei, pela Secretaria d’ Estado dos Negócios, da Marinha e Ultramar, participar ao dito Governador que há por bem aprovar a sobredita deliberação por ser de grande importância que nunca faltem intérpretes hábeis. Paço, em 25 de Abril de 1865. – Sá da Bandeira>. Na madrugada de 16 de Janeiro de 1867 faleceu repentinamente de uma apoplexia fulminante o Sr. Comendador José Bernardo Goularte, tenente-coronel comandante do Batalhão Nacional e superintendente da emigração chinesa. Fora Procurador da Cidade em 1865, quando a Procuratura ficou separada da Câmara. O enterro ocorreu na tarde do dia seguinte e havendo necessidade de se aumentar o quadro dos amanuenses na Procuratura, aproveitou o governador para nomear o filho do Sr. Goularte para um tal emprego, e sabemos que depois do enterro, que S. Exa. acompanhou também, mandara entregar ao Sr. José B. Goularte Jr. a nomeação que dele fizera para amanuense (escriturário) da Procuratura. Aí trabalhavam dois amanuenses (Pio Maria de Carvalho e Francisco de Paula da Costa) e cada um recebia anualmente 183$600 réis. Depois estava o Primeiro-Oficial de Diligência, Benjamim Pereira Simões, que auferia 180$000 réis, Vicente da Luz, como Segundo-Oficial, com 153$000 réis, e o Letrado chinês (gratificação) de 216$000 réis. Esta a Tabela de vencimentos anuais dos cargos da Procuratura para o ano económico 1866-1867.


14 (f)utilidades TEMPO

14.9.2020 segunda-feira

AGUACEIROS

MIN

25

ZERO CASOS

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5 4 0 5 2 1 8 7 9 67 96 8 41 2

3 7 5 6 8 95 20 09 44 1 63 8

4 1 1 0 6 38 53 7 9 8 0

6 4 5 84 1 3 09 2 7

6 9 7 2 3 5 1 3 5 7 4 2 81 0 6

7 5 6 4 0 6 8 0 1 3 9 2 3

0 7 5 5 2 9 4 3 2 6 1 80 4

8 1 3 6 24 50 4 9 76 09 3 2

2 4 9 7 05 8 3 57 6 1

1 37 61 7 8 2 5 43 95 3 80 0 1 7 69 48 2 5 9 7

72 23 9 4 5 1 6 0 36 4 1 6 34 5 92 26 03 88 4 75

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 21

5 0 8 1 4 3 7 3 8 2 9 2 6 5

8 0 6 4 3 0 5 9 2 2 7 1 7

PROBLEMA 22

9 24

21

2 9 7 5 7 6 4 8 1 3 0

7 0 - 9 8 % ´•

A Antártida é actualmente o único continente sem qualquer caso positivo do novo coronavírus, onde a população convive sem máscaras e assiste ao desenrolar da pandemia a milhares

5 4 3 6

S6 4U1 5D3 7O2 9K0 U 8 0 7 1 1 7 2 9 8 3 6 4 5 8

HUM

EURO

9.45

de quilómetros de distância. Neste momento, enquanto perto de um milhar de cientistas e outros profissionais que trabalham naquele território estão a ver o sol pela primeira vez

BAHT

0.25

YUAN

1.16

em semanas ou meses, há uma mobilização geral para tentar assegurar que os novos colegas que estão prestes a chegar não trazem o vírus com eles.

2 7

19 9 5 8 8 3 0 4 7 1 5 2 0 6

31

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1 0 9 4 2 1 0 8 3 6 2 9 8 1 0 7 8 4 9 7 5 6 1 3 1 7 3 6 8 1

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MAX

Cineteatro 20

C I N E M A

1 8 2 6 3 Um filme de: Cristopher Nolan Com: John David Washington, Robert Pattinson, 0 7 3 5 4 Elizabeth Debicki 14.30, 18.00, 21.00 4 9 8 7 0 PENINSULA [C] 5 6 0 1 9 FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS/INGLÊS 2Yeon Sang-ho 1 5 3 6 Um filme de: Com: Gang Dong-won, Lee Jung-hyun 14.30, 16.45, 919.15,421.30 7 2 1 6 2 9 8 5 8 0 4 9 7 3 5 1 0 8 7 3 6 4 2 SALA 1

TENET [B]

SALA 2

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5 9 6 0 8 1 2 9 4 7 8 6 3 0 7 1 2 3 4 5 1 6 0 2 7 2 1 3 9 4 5 8 0 www. 8 9 4 hojemacau. 6com.mo 5 3 7

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SALA 3

7 0 4 5 9 Um filme de: Gerard Bush, Christopher Renz Com: Janelle Monae, Jack Huston 9 Eric2Lange,8 1 6Jena Malone, Kiersey Clemons 14.30, 16.30, 1 321.15 5 6 2 A8 CHOO [C] 2 3 4 7 FALADO EM PUTONGHUA LEGENDADO EM CHINÊS/INGLÊS 8 Um4 filme de:7 Kevin Ko,9 Peter Tsi0 Com: Kai Ko, Ariel Lin, Ta-Lu Wang 19.00 0 8 6 3 5 3 1 0 7 4 5 6 1 2 3 2 4 7 9 6 9 5 8 1 0 ANTEBELLUM [C]

UMA SÉRIE HOJE Apremissa da série consegue sobressair num tema que é recorrente: crime. Em cada temporada, o detective HarryAmbrose acompanha um crime diferente em que os culpados são identificados desde cedo. O drama arranca com uma jovem mãe a esfaquear um homem na praia, sem motivo aparente. Na segunda temporada, investiga-se um duplo assassinato cometido por um adolescente. Em ambas as vezes, o detective procura a motivação dos crimes em vez de fechar os casos sem essa resposta. É a linha ténue entre o bom e o mau, bem como a complexidade de personagens que à superfície parecem iguais a qualquer pessoa normal, que despertam o interesse na série. Salomé Fernandes

THE SINNER | DEREK SIMONDS

4 7 1 3 8 2 5 6 4 0 7 3 3 2 9 5 1 0 8 5 6 4 2 9TENET 9 0 8 7 6 1 7 9 3 8 4 5 Propriedade 6 Colaboradores 4 5 Fábrica 9Anabela 0de Notícias, 8 Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; 0 Gonçalo 1 Lobo 2 Pinheiro; 6 3Gonçalo7M.Tavares;JoãoPauloCotrim;JoséDrummond;JoséNavarrodeAndrade;JoséSimõesMorais;LuisCarmelo;MichelReis;NunoMiguelGuedes;PauloJoséMiranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David 1 Chan; 3 João7Romão; 2 Jorge 5Rodrigues 6 Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 2 Morada 8 Calçada 0 1deSanto 9 Agostinho, 4 n.º19,CentroComercialNamYue,6.ºandarA,Macau Telefone 28752401 Fax28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítiowww.hojemacau.com.mo


opinião 15

segunda-feira 14.9.2020

ai, portugal, portugal

ANDRÉ NAMORA

Assédio sexual vai de comboio

I

STO em Portugal está depravado, meus amigos. É cada vez mais triste viver neste país. Já não basta a situação económica miserável do povo, agora a violência doméstica e o abuso sexual não tem fim e aumenta de semana para semana. De todas as formas. Em todas as classes sociais. De pais que abusam sexualmente dos filhos com três anos de idade. Padrastos que violam as enteadas menores. Maridos que batem violentamente e chegam a matar as suas mulheres, tudo por ciúmes ou por dinheiro. Mães que matam os bebés à nascença. Mulheres que mandam matar os maridos para ficarem com a herança. Mulheres que introduzem as filhas menores na prostituição e quando as meninas aparecem grávidas atiram o feto resultante do aborto para o lixo. A violência doméstica tem parâmetros inimagináveis. Falei com uma psicóloga que me descreveu casos horríveis e que, infelizmente, referiu que as mulheres sofrem e silenciam. Um silêncio de 20, 30 ou de 40 anos. Muitos maridos tornaram-se alcoólicos. Alguns, por trauma resultante de uma comissão militar na guerra colonial. Mataram dezenas de seres humanos, viram morrer camaradas ou ficarem sem pernas ou sem braços na sequência de uma mina que despoletou. São alcoólicos, pronto. E com o álcool como lema de vida chegam a casa e batem violentamente nas mulheres que durante toda uma vida lhes deram tudo: filhos, comida esmerada, roupa lavada e passada a ferro, limpeza da casa, recepção aos amigos que assiduamente eles trazem para casa e, em muitos casos, muito dinheiro. Neste último caso simplesmente porque as mulheres são filhas de pais ricos ou têm um emprego bem remunerado. A violência doméstica e sexual está a ultrapassar todos os limites. Os predadores chegam a um ponto chocante de após a violação das crianças, venderem-nas aqueles que não puderam ter filhos e que sempre lutaram por adoptar um “filho”. Os abusos sexuais são notícia diária nos órgãos de comunicação social. Os mais velhotes nem acreditam, mas lembram-lhes que o abuso sexual, apesar de uns poucos casos, sempre existiu, só que o antigo regime censurava qualquer notícia do género. Os pedófilos e os predadores têm sentido uma certa liberdade para levar a efeito o seu paradigma lamentável. Acontece que os tribunais, na sua maioria das decisões, não enviam esses energúmenos para a prisão seis ou dez anos. Vão em liberdade para repetirem o abuso sexual de crianças ou para continuarem a bater horrorosamente nas suas companheiras. A mesma psicóloga com quem debati e aprendi as muitas razões que levam um ser humano pai ou mãe, padrasto ou madrasta a abusar das crianças, salientou-me que tudo tem a ver com o cérebro. Quando

o cérebro está doente o pedófilo não sente nenhuma dor. Quando um homem ou uma mulher agride violentamente, a perturbação mental resultante de um sentimento muito doentio, muitas das vezes já não é o consciente que trabalha. Melhor que ninguém para nos falar sobre a matéria do abuso sexual e as razões da sua origem seria a nossa colega destas páginas Tânia dos Santos, porque o apetite sexual anormal tem muito que se lhe diga e encerra muitas vicissitudes da vida do criminoso. O sexo é uma realidade, mesmo entre padres e freiras, entre homens, entre mulheres, entre vários homens ou mulheres em orgias, e admite-se. Mas, o que não compreendemos e muito menos aceitamos é que as nossas crianças sejam abusadas sexualmente aos três e quatro anos de idade. E por aí fora. Com 14 ou 15 anos uma rapariga violada sem consentimento é na maior parte dos casos um trauma para o resto da vida. As mulheres que são agredidas, muitas vezes diante dos filhos que choram e gritam para que o pai termine a agressão, têm que me desculpar, mas a culpa está muito do lado delas quando silenciam o crime desuma-

O abuso sexual tem de ser combatido radicalmente pelas autoridades e as instituições de apoio a menores e às mulheres vítimas de violência têm de ter as mínimas condições de dignidade e eficiência para receber quem sofre este tipo de atrocidades

no. Portugal está louco, como nunca, pelo sexo. Cada vez mais a pornografia paga milhões de euros a jovens desempregadas, já se realizam sessões só com a presença de mulheres para apalparem homens nus. O abuso sexual está inclusivamente na rua, onde uma rapariga menor não pode andar na urbe sozinha. Ainda recentemente, três indivíduos atacaram uma jovem e violaram-na violentamente deixando-a às portas da morte em plena avenida da capital do país. O abuso sexual tem de ser combatido radicalmente pelas autoridades e as instituições de apoio a menores e às mulheres vítimas de violência têm de ter as mínimas condições de dignidade e eficiência para receber quem sofre este tipo de atrocidades. O abuso sexual, imaginem, até anda de comboio. É verdade, a modelo Sara Sequeira, de 28 anos, que aqui deixamos a sua imagem, foi descansadamente comprar o bilhete de comboio numa estação perto de Tomar e a dado momento o revisor do comboio começou a olhar fixamente para o decote da utente da CP (Comboios de Portugal) e para surpresa da modelo, repentinamente o revisor exclamou: “Ainda bem que não está frio, senão as suas mamocas constipavam-se”. Ao que isto chegou, um funcionário de uma das maiores empresas portuguesas que existe para servir o povo da melhor forma, tem nos seus quadros abusadores sexuais. A modelo Sara Sequeira exigiu-lhe um pedido de desculpas e o funcionário da CP, absurdamente, retorquiu que “não fiz nada de mal”. Felizmente, que neste caso, a CP já abriu um processo contra o seu funcionário e a modelo vai entrar com uma queixa-crime. *Texto escrito com a ANTIGA GRAFIA


O silêncio é a mais perfeita expressão do desprezo. PALAVRA DO DIA

Lesbos Papa pede acolhimento digno e humano para refugiados

TIAGO ALCÂNTARA

Bernard Shaw

Atropelamento Mulher corre perigo de vida

O

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Papa Francisco manifestou ontem a sua solidariedade aos cerca de 12.000 refugiados do campo destruído pelo fogo em Moria, na ilha de Lesbos, na Grécia, e pediu um acolhimento digno e humano para estas pessoas. “Nos últimos dias, vários incêndios destruíram o campo de Moria na ilha de Lesbos, deixando milhares de pessoas, refugiadas, sem um abrigo”, disse Francisco, após a oração do ‘Angelus’, na janela do palácio papal. A seguir, recordou a sua visita ao campo de refugiados de Lesbos em 2016, na companhia do patriarca ortodoxo Bartolomeu, e durante a qual pediu “um acolhimento digno e humano aos refugiados e aos que procuram asilo na Europa”. “Expresso a minha solidariedade e proximidade a todas as pessoas [vítimas] neste incêndio dramático”, acrescentou. O Papa também se referiu às manifestações de protesto que estão a ocorrer em várias partes do mundo e pediu aos manifestantes “que o façam de forma pacífica e sem ceder à agressividade e à violência”. Às pessoas que têm responsabilidade pública, Francisco exortou-as «a ouvir a voz dos seus cidadãos e as suas justas aspirações, respeitando sempre os direitos humanos e as liberdades civis”. Na sua reflexão antes da oração do ‘Angelus’, o Papa abordou a necessidade de perdão. “Quanto sofrimento, quantas divisões, quantas guerras poderiam ser evitadas, se o perdão e a misericórdia fossem o estilo de nossa vida”, disse. Francisco defendeu que “é necessário aplicar o amor misericordioso em todas as relações humanas”: entre os esposos, entre os pais e os filhos, nas comunidades e também na sociedade e na política.

segunda-feira 14.9.2020

Todos bem-vindos DST prevê aumento de visitantes durante a semana dourada

A

Directora dos Serviços de Turismo (DST), Maria Helena de Senna Fernandes, acredita que o número de visitantes que vão cruzar a fronteira para entrar em Macau durante a semana dourada vai aumentar. Contudo, apesar de não apresentar previsões mais concretas, a responsável sublinha a importância da vinda de mais turistas para o território. “Não estamos a fazer nenhuma previsão neste momento, porque as condições são difíceis para o fazer. A partir da retoma de emissão dos vistos individuais para Zhuhai andámos mais ou menos à volta de 9 mil visitantes por dia, a entrar em Macau. Agora com Guangdong também aberto, estamos a ter mais ou menos 15 mil visitantes diários. Esperamos com a abertura completa do Interior da China no dia 23 ter, durante a semana dourada, mais visitantes a entrar e bem precisamos destes visitantes, não só para a área do turismo, mas também para outras que podem beneficiar a cidade inteira”, partihou Helena de Senna Fernandes, à margem do evento de apresentação do Grande Prémio de Macau.

A directora da DST reiterou ainda que não será só pela retoma dos vistos e da abertura de fronteiras que “vem muita gente de um dia para o outro” e que em termos de viagens turísticas há agora “muita coisa para reaprender”. “Só para fazer a saída do país, há muitas condições a satisfazer, como fazer o teste de ácido nucleico e apresentar o código de saúde. Ou seja, há muitas coisas ainda para recomeçar a aprender sobre

“Esperamos com a abertura completa do Interior da China no dia 23 ter, durante a semana dourada, mais visitantes a entrar e bem precisamos destes visitantes, não só para a área do turismo, mas também para outras que podem beneficiar a cidade inteira.” MARIA HELENA DE SENNA FERNANDES DIRECTORA DOS SERVIÇOS DE TURISMO

a forma de atravessar fronteiras”, explicou a responsável.

ZERO COMUNITÁRIO

Questionada sobre a forma como estão a decorrer as conversações para a abertura das fronteiras entre Macau e Hong Kong, Maria Helena de Senna Fernandes referiu que ainda não existem condições para avançar uma data fixa para o levantamento das restrições em vigor. “Neste momento Hong Kong ainda tem casos comunitários. Até eles não terem casos acho que ainda vai levar algum tempo porque ainda estão a testar toda a gente. Espero que muito em breve haja condições de entrada mais fáceis”, afirmou. A responsável da DST esclareceu ainda que o cenário em que as fronteiras entre os dois territórios voltam a abrir, não está dependente de “haver zero casos”, mas sim “haver zero casos comunitários”. “Se virmos o que se tem passado no Interior da China, os casos importados não entram nesta conta, mas os comunitários são uma indicação muito importante para ter esta confiança que permite obter a autorização do levantamento das medidas”, reforçou Maria Helena de Senna Fernandes. P.A.

Uma senhora com 73 anos estava no Hospital Conde São Januário a lutar pela vida, à hora de fecho desta edição, após ter sido atropelada na Rua da Ribeira do Patane. A mulher foi atingida por um motociclo às 14h00 quando circulava perto da passadeira, foi assistida no local e levada de urgência para a unidade hospitalar. Após o embate, apresentava sinais de concussão, vomitava sangue, tinha uma fractura no braço esquerdo e a anca esquerda inchada. Quanto ao condutor da moto, fez o teste de balão e não registou álcool no sangue. Além disso, apresentou ferimentos ligeiros. Segundo a informação do canal chinês da Rádio Macau, a investigação preliminar das autoridades aponta para que a mulher tivesse tentado atravessar a passadeira, quando o sinal estava vermelho.

Wynn Uma semana de recomeço para Macau

A vice-presidente e directora executiva da Wynn Macau, Linda Chen, indicou que a semana dourada simboliza o recomeço da recuperação económica de Macau, noticiou o jornal Cidadão. A responsável prevê que situação financeira seja melhor no segundo semestre do ano do que no primeiro. Sobre a recuperação gradual de visitantes, Linda Chen acha que a recuperação será estável em vez de repentina. Além disso, a pandemia não influenciou o investimento da Wynn e prevê-se que a construção do projecto Crystal Palace comece no próximo ano. Apesar da licença de jogo da operadora terminar em 2022, Linda Chen não se mostrou preocupada com a renovação, observando que a Wynn contribui para o desenvolvimento de Macau a prazo longo e a formação de talentos no sector de turismo.


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