Hoje Macau 15 NOV 2019 # 4412

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SEXTA-FEIRA 15 DE NOVEMBRO DE 2019 • ANO XIX • Nº 4413

hojemacau

GP MACAU | FÓRMULA 3

RECORDE BATIDO

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SUPLEMENTO

MOP$10

Viagem ao mundo da droga Os números do Instituto de Acção Social (IAS), ontem apresentados, dão conta de uma diminuição de 31% do número de toxicodependentes. No entanto, o último balanço da criminalidade in-

dicava um aumento de 48,1% dos crimes de consumo de estupefacientes. Para o presidente da ARTM, Augusto Nogueira, a contabilidade do IAS “não reflecte o universo de consumidores.”

TIAGO ALCÂNTARA

PÁGINA 11

HONG KONG

MOBILIZAÇÃO TECNOLÓGICA

PUB

ID

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

HABITAÇÃO ECONÓMICA

COMPASSO DE ESPERA

UT PICTURA POESIS LUÍS GOUVEIA MONTEIRO

h

SOBRE A RESPIRAÇÃO GONÇALO M. TAVARES

A VIDA SEMPRE A PERDER ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO

GRANDE PLANO

PÁGINA 8

FALHA SISTÉMICA VALÉRIO ROMÃO


2 grande plano

15.11.2019 sexta-feira

NA RUA E NO HONG KONG

APPLE E O TWITTER AJUDAM A MOBILIZAR MILHÕES

Dois académicos estão a investigar a forma como a tecnologia AirDrop, da Apple, e a rede social Twitter têm ajudado na mobilização de pessoas e na organização dos protestos em Hong Kong. Andy Buschmann, doutorando da Universidade de Michigan, concluiu que 70 por cento dos inquiridos tem recebido, desde Junho, mensagens viaAirDrop a apelar à participação nos protestos, com a garantia de anonimato. Já o professor Łukasz Zamęcki aponta que o Twitter tem sido usado, sobretudo, para chamar a atenção da comunidade internacional

H

Á muito que as redes sociais desempenham um papel fundamental na feitura de revoluções, protestos ou na mobilização de pessoas em prol de causas. Os protestos em Hong Kong, que duram desde o Verão, não são excepção e têm acontecido não apenas nas ruas, mas também online. No entanto, os promotores das acções não recorrem apenas a grupos de WhatsApp ou Facebook para passar a mensagem, tirando também partido da tecnologia disponibilizada pela gigante Apple. Andy Bushmann, doutorando no departamento de Ciência Política da Universidade de Michigan, Estados Unidos, está a investigar a forma como a tecnologia peer-to-peer da Apple, o sistema AirDrop, tem sido usada nos protestos de Hong Kong. O

estudo está ainda a ser desenvolvido, mas o académico contou ao HM que, tendo em conta resultados preliminares de um inquérito já feito, 70 por cento dos entrevistados afirmam ter recebido mensagens mobilizadoras desta forma. Mas o que torna o sistema AirDrop tão especial? O facto de utilizadores da Apple poderem enviar mensagens entre si através de bluetooth, a uma curta distância, sem necessitar de Internet, o que

assegura o anonimato de quem envia e de quem recebe. “Em lugares onde há muitos utilizadores de Iphone, tal como

as estações de metro em hora de ponta, é possível enviar centenas de mensagens por AirDrop num curto período de tempo”, disse.

Łukasz Zamęcki concluiu também, para já, que a maior parte dos tweets analisados versa sobre a acção da polícia, que tem sido acusada de ataques aos direitos humanos e de perpetrar violência gratuita através do uso de gás pimenta e balas de borracha

Andy Bushmann assegura que não foi a tecnologia AirDrop a principal responsável por colocar cerca de dois milhões de pessoas nas ruas, nos primeiros protestos contra a proposta de lei da extradição, mas teve um importante impacto. “A tecnologia AirDrop pode chegar a públicos que, de outra forma, não teriam conhecimento dos protestos, talvez porque não estão nas redes sociais ou não aderiram a grupos do Telegram.


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MUNDO

Andy Bushmann, doutorando no departamento de Ciência Política da Universidade de Michigan, Estados Unidos, está a investigar a forma como a tecnologia peer-to-peer da Apple, o sistema AirDrop, tem sido usada nos protestos de Hong Kong sentido de mobilização destes protestos”, frisa o académico. Questionado sobre a possibilidade de o Governo chinês poder vir a controlar o uso do sistema AirDrop, Andy Bushmann responde “sim e não”. “A Apple tem sido bem-recebida pelo Governo da República Popular da China por acatar ordens, mas o sistema AirDrop recorre à mesma tecnologia que os acessórios da Apple, tal como AirPods ou estações de carregamento. Não vai ser fácil à Apple desactivar completamente essa função.” O académico acredita que esta tecnologia “possa vir a ser desactivada nos iPhones, mas pode vir a ser reactivada com os programas de hacking”. “Nesta fase, contudo, a tecnologia AirDrop ainda funciona em todo o mundo e os activistas vão, mais cedo ou mais tarde, aprender com o caso de Hong Kong”, frisou.

dos tweets analisados versa sobre a acção da polícia, que tem sido acusada de ataques aos direitos humanos e de perpetrar violência gratuita através do uso de gás pimenta e balas de borracha. “Notei que houve mais tweets durante os protestos mais violentos em relação aos dias normais de manifestação, ou quando havia novas informações. Na maior parte das contas analisadas os utilizadores aderiram ao Twitter em 2019, claro que podemos ver que o número de contas criadas teve como base os protestos.”

CHAMADA GLOBAL

É possível que as pessoas tenham feito apelos ao movimento através do AirDrop mesmo que eles próprio não tenham participado nessas acções.” O facto de 70 por cento dos inquiridos ter recebido estas mensagens de mobilização constitui “um número impressionante”. “É difícil imaginar que não haja qualquer efeito, tendo em conta a quantidade de mensagens via AirDrop que têm vindo a circular. Na minha pesquisa actual estou a tentar analisar o efeito

exacto, em comparação com outros factores, que a tecnologia AirDrop teve na participação individual dos indivíduos”, acrescentou Andy Buschmann. Para o doutorando, o sistema AirDrop “está a tornar-se cada vez

mais importante para disseminar a informação relativa aos protestos no seio do público”, apesar de considerar que a génese destas acções não vai sofrer grandes alterações. No entanto, “o sistema AirDrop já está a mudar, parcialmente, o

Łukasz Zamęcki entende que “os jovens recorrem a uma justificação normativa e utilitária para o uso da violência nos protestos, e noto que esta justificação tem vindo a aumentar junto dos estudantes”

Łukasz Zamęcki, doutorado em ciência política e professor assistente da Faculdade de Ciencia Política e Estudos Internacionais da Universidade de Varsóvia, na Polónia, encontra-se a investigar o efeito que a rede social Twitter tem tido nos protestos da região vizinha. Apesar de estar a começar agora esse trabalho, o académico assegurou ao HM que o Twitter tem sido mais usado para chamar a atenção da comunidade internacional do que propriamente para mobilizar pessoas, através de contas como “Fight4HongKong”, “antiELAB” ou “save_hk_please”, entre outras. O académico, que há sete anos faz investigação sobre Hong Kong, também analisou hashtags usadas nas publicações, tendo concluído que as mais comuns sao #hongkongprotests, #chinazi, #antilabmovement e #hongkonglastword. “Acredito que as restantes plataformas sociais foram mais importantes para mobilizar as pessoas a ir para as ruas do que o Twitter, que serviu mais para informar a comunidade internacional sobre o que está a acontecer. Mas o Twitter desempenhou um papel importante para tornar estes protestos mais visíveis junto da comunidade internacional”, apontou o autor do estudo. Łukasz Zamęcki concluiu também, para já, que a maior parte

Assegurando que, em sete anos de investigação, “muita coisa mudou em Hong Kong”, Łukasz Zamęcki entende que “os jovens recorrem a uma justificação normativa e utilitária para o uso da violência nos protestos, e noto que esta justificação tem vindo a aumentar junto dos estudantes”. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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HABITAÇÃO ECONÓMICA LEI ESPERA POR CONTRIBUTO DO NOVO GOVERNO

Copo meio cheio

NOVOS ATERROS QUESTIONADA REDUÇÃO DO NÚMERO DE CASAS DISPONÍVEIS

Com o anúncio de novas candidaturas no horizonte e a pouco mais de um mês da entrada em funções do Executivo de Ho Iat Seng, a 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), presidida por Ho Ion Sang, vê o adiamento da discussão acerca da alteração da lei da habitação económica como uma “oportunidade de melhoria e de integração das ideias do novo Governo”. No entanto, segundo Ho Ion Sang, há ainda problemas cruciais por resolver no texto apresentado pelo Governo

deputado Leong Sun Iok questiona o Governo sobre o número de casas disponíveis no novo concurso para habitação económica. De acordo com o Jornal do Cidadão, o deputado ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau defende que o Governo deve explicar a razão pela qual só há 3011 apartamentos em vez de 4000, dentro dos quais um quarto dessas casas é de tipologia T1. Estes números dizem respeito ao novo concurso anunciado pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On. O deputado lembra que esta não é a primeira vez que o Governo reduz o número de apartamentos disponíveis a concurso, apontando que o plano original para o empreendimento habitacional da avenida Wai Long previa a construção de oito mil apartamentos de habitação económica e não de seis mil. O deputado aponta que esta redução gera preocupações junto da sociedade no que diz respeito ao planeamento da zona A dos Novos Aterros. Além disso, Leong Sun Iok acredita que este novo concurso anunciado por Chui Sai On só serve para o governante cumprir uma promessa, mas não constitui uma solução, uma vez que os candidatos nos concursos de 2003 e 2005 só agora receberam as suas casas. Leong Sun Iok acredita que os atrasos no processo de construção de habitação pública vão causar pressão ao próximo Executivo, liderado por Ho Iat Seng.

TIAGO ALCÂNTARA

O

A

alteração da lei da habitação económica deverá acontecer somente após a entrada em vigor do novo Governo. “É difícil conseguir desenvolver a proposta de lei até ao final do mês”, afirmou ontem Ho Ion Sang, por ocasião da reunião da 1ª Comissão Permanente da AL, à qual presidiu, sobre o texto de trabalho apresentado pelo Governo acerca da lei da habitação económica. Afirmando que há questões que carecem ainda de maior análise, Ho Ion Sang aponta mesmo para que a proposta de lei em debate entre já em vigor para o novo concurso,

anunciado pelo ainda Chefe do Executivo, Chui Sai On, que prometeu a abertura de inscrições de candidatura a habitação económica na Zona A dos novos aterros. “Falta pouco mais de um mês para terminar este mandato e o

Governo só apresentou um texto de trabalho. Como o Chefe do Executivo anunciou recentemente que vão ser abertas novas candidaturas, o que esta comissão quer é que esta proposta de lei entre já em vigor para o novo concurso de

“Falta pouco mais de um mês para terminar este mandato e o Governo só apresentou um texto de trabalho. Como o Chefe do Executivo anunciou recentemente que vão ser abertas novas candidaturas, o que esta comissão quer é que esta proposta de lei entre já em vigor para o novo concurso de habitação económica.” HO ION SANG DEPUTADO

habitação económica”, apontou Ho Ion Sang. Sobre o possível compasso de espera que não permite “discutir uma solução agora”, o presidente da 1ª Comissão Permanente da AL vê uma oportunidade para aplicar melhorias ao diploma. “Se a nova proposta conseguir reflectir as ideias do novo Governo no campo da habitação pública, então acho que ainda vai ser melhor. Depois de o actual Governo receber as nossas opiniões vai saber comunicar com o próximo Executivo”, acrescentou.

QUESTÕES PENDENTES

Ho Ion Sang afirmou, contudo, que “o texto apresentado pelo Governo contém ainda problemas cruciais que não foram resolvidos”, como a questão da idade mínima de candidatura, fixada em 25 anos. Por considerar que a idade mínima estabelecida deixa de fora uma fatia importante da população, a comissão considerou também que “o Governo deve apresentar fundamentos sobre a consagração da idade de 25 anos”. Isto apesar das cedências feitas pelo Governo no sentido de permitir que existam candidatos a partir dos 23 anos, desde que justifiquem a sua necessidade, e a partir dos 18 anos, no caso de serem orfãos. Outro tema que preocupa a comissão, é a questão dos preços, que para o presidente da 1ª comissão permanente da AL, continua a não ter uma “solução definitiva”. “Antes existiam soluções de acordo com a capacidade de compra mas, segundo esta nova versão de trabalho, o Governo está a pensar em soluções para o cálculo da venda. Por exemplo, será que os futuros preços serão calculados com base no custo de construção ou no prémio do terreno? A última questão apresentada pela comissão prende-se com a revenda e os seus moldes. Ho Ion Sang afirmou que é necessário admitir que os proprietários de habitações económicas possam ter “a oportunidade de se candidatar a uma nova habitação após a revenda da sua fracção”. Isto porque, transmitiu Ho Ion Sang, “segundo a lei vigente os proprietários não têm essa oportunidade” e ao longo da vida existem necessidades diferentes, provocadas por exemplo, pelo nascimento de filhos ou a alteração do estado civil. Pedro Arede

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OSÉ Pereira Coutinho, deputado, reuniu na qualidade de presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) com o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong. No encontro estiveram também presentes outros dirigentes da ATFPM. De acordo com um comunicado de imprensa, foram abordados “os problemas das Pequenas e Médias Empresas (PME)”, nomeadamente no que diz respeito “à operacionalidade das PME, que sofrem limitações e lutam com dificuldades de sobrevivência”. Pereira Coutinho e a sua equipa

EDIFÍCIO STDM MORADORES PEDEM INVESTIGAÇÃO DO CCAC SOBRE TERRENO

Última esperança

O deputado Sulu Sou acompanhou os moradores do edifício da STDM no Bairro de Toi San no pedido ao CCAC para investigar a transferência de concessão do terreno por arrendamento entre a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, S.A. (STDM) e a Companhia de Desenvolvimento Predial Lek Hang. Os moradores entendem que a nova empresa tem a obrigação de os realojar RÓMULO SANTOS

edifício Moradias Económicas (edifício STDM) tem nas suas fundações um acordo com histórico entre a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, S.A. (STDM) e a, à altura, a Administração portuguesa, em plena década de 1960. As pessoas foram realojadas no prédio sito na Rua central de Toi San, junto ao Bairro Tamagnini Barbosa, para dar lugar ao icónico casino, mas também foi criado um problema jurídico que ontem bateu à porta do Comissariado contra a Corrupção. Acompanhados pelo deputado Sulu Sou, membros da associação de moradores do edifício STDM deslocaram-se ontem ao CCAC para pedir uma investigação à transferência de concessão do terreno. Em Dezembro de 2017, STDM transferiu o contrato de concessão do terreno à Lek Hang. A partir daí, a planta de condições urbanísticas do terreno em causa foi entregue várias vezes à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), com a intenção de reconstruir o edifício, motivo pelo qual os moradores pretendem ser realojados, temendo ficar sem casa onde viver. Uma vez que a Lek Hang não acorreu ao pedido dos inquilinos quanto ao realojamento, as preocupações levaram-nos a pedir ontem a intervenção do CCAC. Sulu Sou entende que a planta do terreno não tem condições para ser avaliada pelo Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU), dado que a DSSOPT não estudou profundamente o problema, sobretudo em termos de responsabilidade de realojamento.

Importa referir que em Março do ano passado, a planta de condições urbanísticas do terreno do edifício não foi discutida no CPU, dado que “ainda há problemas históricos que precisam de ser esclarecidos”, revelou o Director da DSSOPT, Li Canfeng, à altura.

COM BARBAS

Desde o início do projecto de habitação pública programado originalmente para ser concluído em 2012, as condições estruturais do edifício STDM degradaram-se, apresentando fissuras e uma inclinação por ter ficado ensanduichado entre outros dois de habitação pública. Um dos moradores do edifício STDM, de apelido Chio, revelou ao HM que a fissura dava para meter os dedos antes da construção dos prédios vizinhos, mas agora, já “dá para meter a mão toda”, frisou o residente. Além disso, Chio salientou que há também queda de betão quando veículos pesados passam na rua. Outro residente do edifício de apelido Choi salienta que não querem “milhões de patacas e uma casa de luxo”, mas que só estão a pedir que lhes seja garantido o direito de realojamento estabelecido no contrato celebrado na década de 1960. A moradora de apelido Au Ieong revelou ao HM que depois da compra da Companhia Lek Hang, é frequente avistar “pessoas estranhas em apartamentos onde ninguém vive, que pintam portas e paredes do edifício”. Ocorrência que a empresa não discute com os moradores. In Nam Ng

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Um residente de apelido Choi salienta que não querem “milhões de patacas e uma casa de luxo”, mas que só estão a pedir que lhes seja garantido o direito de realojamento estabelecido no contrato celebrado na década de 60

Um oceano de problemas

ATFPM reúne com secretário para a Economia e Finanças Lionel Leong

chamaram a atenção para o facto de as PME “enfrentarem problemas com os procedimentos administrativos complicados, o prolongado tempo de espera nos pedidos de licenças, as rendas elevadas, a escassez de recursos humanos e a perda de talentos locais”. Nesse sentido, a ATFPM sugeriu que o Governo “promova reformas administrativas o mais rápido possível, eliminando os procedimentos complicados e redundantes para que

os empresários de Macau possam ter melhores dias”. No encontro foram também abordadas as problemáticas associadas a leis como a Lei de Protecção dos Direitos e Interesses do Consumidor, actualmente em análise na Assembleia Legislativa, bem como a Lei de Concorrência Leal e a Lei da Contratação Pública de bens e serviços. Para a ATFPM, estes diplomas “são pilares importantes para salvaguardar a justiça social de Macau, a transpa-

rência do Governo e evitar a corrupção”.

IR A JOGO

A direcção da ATFPM fez também uma série de alertas relacionados com o sector do jogo, tal como a necessidade de “elevar a comparticipação no regime de previdência” por parte das concessionárias. “A ATFPM é da opinião que a protecção dos trabalhadores das empresas de jogos (deve ser assegurada)”, lê-se no comunicado, onde se defende a criação de seguros de saúde, o aumento

da contribuição da proporção das pensões e o pagamento de 14 meses de salário. A associação presidida por José Pereira Coutinho chamou ainda a atenção para a “falta de protecção dos trabalhadores das empresas de jogo em casos de acidentes de trabalho”, uma vez que muitas seguradoras “procuram todas as formas e meios de não assumir estas responsabilidades”. “Além de se atrasar o pagamento dos salários para os trabalhadores que estejam de baixa médica por mais de três meses devido a um acidente de trabalho, muitos deles não receberam o respectivo salário”, acrescenta Coutinho. Foi também pedido a Lionel

Leong que o Governo proceda a uma melhoria do ambiente de trabalho dos trabalhadores do jogo, uma vez que há, de acordo com a ATFPM, relatos de violência entre jogadores e croupiers. Além disso, foi pedido que “as autoridades competentes assegurem que todas as empresas de jogos cumpram as suas responsabilidades sociais e forneçam alojamento, equipamentos de lazer e serviços das creches” aos trabalhadores. A ATFPM voltou a pedir mais casas para funcionários públicos e a actualização de salários e subsídios para aqueles que trabalhem durante a noite e por turnos para a Administração. A.S.S.


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COLOANE INSTITUTO PARA OS ASSUNTOS MUNICIPAIS REFUTA CRÍTICAS DE ESPECIALISTAS SOBRE PLANO DE REFLORESTAÇÃO

Separar a árvore da floresta TIAGO ALCÂNTARA

Na sequência do artigo publicado na edição de ontem do HM acerca do plano de reflorestação dos trilhos de Coloane, danificados pela passagem do Tufão “Hato”, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) respondeu às questões enviadas à posteriori pelo HM, onde se pedia algumas reacções às opiniões recolhidas junto dos especialistas, Joe Chan, presidente da Macau Green Student Union, e da activista Annie Lao

E

M resposta às questões que visavam essencialmente compreender se a forma como está a decorrer a reflorestação danifica ainda mais o ecossistema da região e se, de acordo com as opiniões dos especialistas, tinham sido consultados os especialistas indicados para analisar a matéria, o IAM sublinhou que a aplicação do plano tem “o intuito de recuperar, o mais rápido possível, o ambiente ecológico das colinas e das florestas, que se estendem por 500 hectares, e as mais de 500 mil árvores danificadas, em graus diferentes, pelo tufão Hato.” O IAM frisou ainda, que para tal, “convidou um grupo de especialistas, provenientes da Universidade de Sun Yat-sen, para desenvolver uma investigação e recebeu

Certificado de ronha

SS alertam para aumento de atestados de doença falsos

O

S Serviços de Saúde (SS) alertaram para o crescente número de falsos atestados de doença e avisaram os profissionais de saúde que incorrem no crime de falsificação de documentos. “Os SS têm identificado um crescente número de preenchimentos inapropriados do Modelo M/7, emitindo atestados médicos ou certificados médicos falsos por médicos de alguns estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, farmácias chinesas e clínicas”, pode ler-se num comunicado

divulgado na noite de quarta-feira. “Caso um prestador de cuidados de saúde emita documentos médicos ou recibo de modelo M/7 falsos, poderá este incorrer na falsificação de documentos ou falsificação de documentos comprovativos”, acrescenta-se na mesma nota. As autoridades indicaram ainda que “foram identificadas recentemente pela Polícia Judiciária [PJ] duas farmácias chinesas das zonas de Areia Preta e São Lourenço, que alegadamente falsificavam o modelo M/7 para defraudar

companhias seguradoras”. Ao mesmo tempo, detectou-se que uma farmácia chinesa de venda de ginseng “falsificava registos de consulta em cooperação com uma clínica ocidental, sem que houvesse um atendimento médico presencial, permitindo aos clientes adquirir ingredientes chineses em troca de vales de saúde no valor de cerca de 160.000 patacas.

JOGAR PELO SEGURO

O caso foi denunciado por uma seguradora aos SS do território por suspeitas de falsificação dos modelos M/7

e recibos médicos em conjunto com os trabalhadores de casino, numa tentativa de se defraudar o valor do seguro, apontaram as autoridades. Os SS apresentaram queixas ao Ministério Público e o caso foi posteriormente remetido para investigação da PJ. “Os Serviços de Saúde apelam novamente ao sector médico para que cumpra os deveres profissionais e responsabilidades de gestão. Quer profissionais de saúde, quer cidadãos, não devem tentar desafiar a lei por interesses ilegítimos, pois poderá ter de assumir responsabilidade penal”, sublinha-se no comunicado.

o apoio da Administração Florestal da Província de Guangdong, que enviou a Macau um grupo de especialistas após a passagem do tufão. Este grupo de especialistas

“A primeira fase do plano de reflorestação terminou em Maio com mais de 35 mil árvores para restaurar o ecossistema das florestas de montanha em Macau, bem como para melhorar os recursos paisagísticos.”

realizou uma extensiva avaliação dos danos causados pelo tufão Hato na vegetação de Macau e delineou o plano de reflorestação e de melhoria do ambiente ecológico das colinas e das florestas, bem como o programa de limpeza das árvores danificadas.” Acerca do plano de reflorestação, o IAM enviou ainda alguns dados, referindo que a primeira fase terminou em Maio com “mais de 35 mil árvores para restaurar o ecossistema das florestas de montanha em Macau, bem como para melhorar os recursos paisagísticos”. Já a segunda fase arrancou este mês, com a preparação de uma área no Trilho de Coloane onde serão plantadas cinco mil árvores.

INSTITUTO PARA OS ASSUNTOS MUNICIPAIS

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João Luz

TSI HOMEM PERDE ACÇÃO PARA RECEBER PENSÃO DE ALIMENTOS DO PAI

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Tribunal de Segunda Instância (TSI) determinou que um homem de 27 anos não tem o direito a receber pensão de alimentos do pai, já divorciado da mãe. De acordo com o acórdão ontem divulgado, o jovem recorreu aos tribunais pois pretendia receber uma pensão de alimentos do seu pai, uma vez que decidiu não trabalhar enquanto frequentava o mestrado. Os pais do jovem casaram em Macau em 1989, mas acabaram por se divorciar em 2010. O jovem licenciou-se em ciências na University of British Columbia, em 2016, mas, após a conclusão da licenciatura, "não

pretendeu trabalhar, mas optou sim por continuar os seus estudos, frequentando um curso de mestrado". Em Setembro de 2015, o jovem decidiu instaurar no Juízo de Família e de Menores do Tribunal Judicial de Base (TJB), uma acção contra o seu pai, "pedindo a condenação deste no pagamento mensal de uma certa quantia de pensão alimentícia a seu favor, até à conclusão do curso de mestrado". No entanto, o TJB entendeu que "exigir que, quando o Autor (jovem) dispõe de uma licenciatura que lhe permite exercer uma actividade profissional, o ou os progenitores ain-

da continuem a suportar custos com a aquisição de graus académicos, é ir muito para além do espírito do Código Civil", pelo que o jovem perdeu a acção. Apesar de ter recorrido para o TSI, este tribunal continuou a não lhe dar razão. Os juízes do TSI consideraram a decisão do TJB "acertada", como apontaram que "o recorrente não trabalhou, mas optou sim por continuar a frequentar o curso de mestrado, isto porque ele não quis começar por baixo e não por falta de habilitações literárias, pelo que o seu pai já não tem a obrigação de continuar a suportar os custos do recorrente". A.S.S.


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sexta-feira 15.11.2019

DSEJ ESCOLA PUI CHING OUVIDA SE PALAVRAS DE DOCENTE IMPACTAREM ALUNOS

TOXICODEPENDÊNCIA REGISTO CENTRAL NÃO REFLECTE REALIDADE DE MACAU

Contabilidade alucinante O Instituto de Acção Social indica que o número de toxicodependentes registados em Macau nos primeiros três trimestres do ano desceu 31 por cento em relação a 2018. A contabilidade do Governo não reflecte o número de consumidores, por se centrar nos que são detidos ou procuram reabilitação, além de ir contra os crimes de consumo detectados

M declarações ao HM, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) esclareceu que “a gestão disciplinar e de pessoal de escolas privadas cabe às próprias instituições”, uma incumbência decorrente do estatuto legal administrativo que lhes concede autonomia nestas matérias. Aresposta da DSEJ responde à questão se estará prevista alguma acção disciplinar para com o docente da Escola Secundária Pui Ching que fez publicações no Facebook a apelidar os manifestantes de Hong Kong de “baratas ou cruzados”. Além disso, o professor não se coibiu de usar retórica violenta nas publicações, fazendo um trocadilho entre o uso de datas que se tornaram simbólicas nas manifestações e a arma AK47. O docente acrescentou ainda que olho por olho não é suficiente para responder aos protestos violentos, e fez acompanhar a referência a bombas incendiárias com um emoji de coração. Apesar de a DSEJ afastar a possibilidade de interferir na gestão de uma escola privada, refere que “vai comunicar e ouvir a escola, dependendo do impacto do alegado comportamento impróprio na educação, saúde e segurança dos alunos”. J.L.

Peste Afastados casos em Macau depois ocorrências em Pequim José Tavares, presidente do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), disse, de acordo com o jornal Cheng Pou, que a população de Macau não precisa de se preocupar com casos de peste causada por ratos, depois de terem sido registados dois casos em Pequim. O responsável adiantou ainda que o IAM realiza um trabalho de prevenção. O IAM possui um plano de análise aos esgotos e a colocação de mais de 585 armadilhas para controlar o número de roedores.

TIAGO ALCÂNTARA

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Instituto de Acção Social (IAS) apresentou ontem os números do primeiro semestre de 2019 do Sistema de Registo Central dos Toxicodependentes de Macau, algo que está longe de reflectir a realidade do consumo de droga no território. Segundo os números do IAS, os casos registados nos primeiros seis meses deste ano foram 186, número que contrasta com as 269 pessoas registadas em 2018, uma descida de 31 por cento. Uma vez que este sistema se baseia nos consumidores apanhados pelas autoridades policiais e naqueles que se dirigem a instituições e organizações privadas em busca de tratamento, não apresenta um quadro fidedigno do fenómeno do consumo. Aliás, contraria mesmo a realidade apresentada pelo balanço da criminalidade para o primeiro semestre, que apontou para um aumento de 48,1 por cento dos crimes de consumo de estupefacientes. “Não reflecte o universo de consumidores de forma nenhuma, porque existe uma camada enorme

dessas pessoas que consomem drogas, seja de forma constante ou irregular e esporádica, que só sabemos quando pedem ajuda, ou quando são apanhados pela polícia”, comenta Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM). Quanto à redução do número registado pelo sistema, o presidente daARTM aponta que algumas possíveis justificações podem passar pelo número de pessoas que deixaram de recorrer aos serviços, deixaram de tomar metadona, que abandonam o território ou que morreram. “Não tem ligação com diminuição de

“[A redução dos casos registados] não tem ligação com diminuição de consumo, porque não sabemos qual a realidade do consumo.” AUGUSTO NOGUEIRA PRESIDENTE DA ARTM

consumo, porque não sabemos qual a realidade do consumo”, esclarece Augusto Nogueira. Após a sessão plenária da Comissão de Luta contra a Droga, a chefe do departamento de prevenção e tratamento da dependência do jogo e droga, Lei Lai Peng, vincou que o sistema de registo recolhe dados de várias instituições, além da polícia. “Segundo as vinte unidades de cooperação há uma descida do número de toxicodependentes que é o resultado de uma conjugação de esforços”, referiu a responsável do IAS. Dos dados mencionados que carecem de contexto, destaque para o número de jovens consumidores, com idade inferior a 21 anos, que segundo o IAS totalizou 8,1 por cento dos casos registados, seguindo uma tendência de descida, que não foi especificada, em relação ao período homólogo do ano passado. Questionada sobre o valor da contabilidade, Lei Lai Peng referiu que “é claro que o registo central não reflecte, nem representa o fenómeno total da toxicodependência na

sociedade”, acrescentando que “não há no mundo um método para saber concretamente o número de toxicodependentes num país ou cidade”.

FORA DE VALIDADE

Segundo os dados apresentados, a droga mais consumida continua a ser a metanfetamina. Outro índice de destaque pela responsável do IAS foi para o “o consumo de cocaína que tem uma tendência de aumento de 18,8 por cento”. Lei Lai Peng referiu ainda que “a maioria das pessoas que consomem cocaína são provenientes de Hong Kong”, apesar de se basear no “Sistema de Registo Central de Toxicodependentes de Macau”. Neste capítulo, Iu Kung Fei, chefe do Departamento de Investigação Criminal da Polícia Judiciária, deu uma achega referindo a ocorrência frequente de residentes da região vizinha que são apanhados a traficar em Macau. “Em Hong Kong a sociedade e a estrutura familiar são diferentes, com mais problemas familiares que em Macau e os membros da família podem ser atraídos por redes de traficantes para transportar droga para Macau”, comentou. Há dois anos, as Nações Unidas e a Organização Mundial de Saúde fizeram um apelo mundial para a descriminalização do consumo e da posse para consumo, por motivos de saúde. Outra das consequências é conseguir contabilizar com mais assertividade o universo de consumidores, uma vez que os inquiridos não estariam a confessar um crime. Para comentar a possibilidade de descriminalização em Macau, o representante da PJ foi quem respondeu entre o painel de membros da Comissão de Luta Contra a Droga. “Se o consumo de droga não é penalizado isso significa que a polícia não pode fazer nada se encontrar um consumidor. Não se pode simplesmente seguir a tendência internacional, é preciso olhar para a realidade de cada região e cidade”, referiu Iu Kung Fei. Augusto Nogueira, que lida de perto com o tratamento da doença e vive pessoalmente as vitórias pessoais de quem consegue fugir às garras da toxicodependência vê a situação por outro prisma. “A prioridade deveria ser o tratamento e aconselhamento, porque nem todos precisam de tratamento. Enviar alguém para a prisão por consumo é contraproducente.” João Luz

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Põe-te na rua Dois grupos de Portugal participam no Desfile Internacional de Macau

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ORTUGAL e Angola vão marcar presença entre 80 grupos artísticos que participam no Desfile Internacional de Macau, em Dezembro, cuja edição assinala o 20.º aniversário da região administrativa especial chinesa, anunciou ontem a organização. “O Desfile deste ano apresenta 80 grupos artísticos, incluindo cerca de 1.800 artistas em 61 grupos locais, e 19 grupos dos países e regiões ao longo da iniciativa ‘uma Faixa, uma Rota’”, afirmou a presidente do Instituto Cultural (IC) de Macau, Mok Ian Ian, em conferência de imprensa. Em 8 de Dezembro, grupos dos cinco continentes vão mostrar “as suas culturas únicas, celebrando o 20.º aniversário da transferência de administração de Portugal para a China”, disse a responsável, acrescentando que “desde 2015, esta é a edição com maior número de grupos performativos”. No desfile, a Associação Tradições e a Portugal Artfusion vão apresentar a história dos produtores de chá portugueses, em cima de andas, enquanto Angola está representada pelo Grupo Tradicional Música e Bailado Angolano Jovens do Hungo. Já o grupo do Quénia mostra acrobacias, o

da Rússia robôs saltadores, e o de Itália anjos flutuantes. A dança do dragão humano, uma das primeiras artes performativas da província de Guangdong (sul) a ser incluída na lista do património cultural imaterial da China, em que um grupo de adultos e crianças dançam em conjunto formando um dragão gigante, estará a cargo de artistas de Zhanjiang. Ucrânia, Polónia, Bielorrússia, Hungria, Chile, Chipre, Nova Zelândia, Myanmar, Tailândia e Hong Kong são alguns dos países com grupos participantes na nona edição do desfile internacional de Macau, organizado pelo IC e co-organizado pelos Serviços de Turismo, Instituto do Desporto e Instituto para os Assuntos Municipais, entre outros. A partir do final deste mês, “mais de 20 actividades a realizar junto da comunidade”, como actuações em bairros, ‘workshops’, palestras em escolas, entre outros, vão apresentar a “diversidade cultural da série de actuações” e permitir que “residentes e turistas interajam com os grupos artísticos”, disse Mok Ian Ian. O desfile parte das Ruínas de São Paulo atravessa várias ruas do centro histórico da cidade, passa pelo largo do Senado e avenida panorâmica do lago Nam Van, e termina na praça do lago Sai Van, onde terá lugar um espectáculo de fogo de artifício. A presidente do IC indicou que o orçamento do desfile é de 18,2 milhões de patacas, mais quatro por cento comparativamente ao ano anterior.

Ruínas de São Paulo Instituto Cultural faz trabalhos de salvaguarda da fachada O Instituto Cultural (IC), a fim de reforçar o trabalho de salvaguarda e registo de dados das Ruínas de S. Paulo, vai levar a cabo, entre hoje e a próxima sexta-feira, 22, uma inspecção da sua estrutura e um exame geral da fachada através de um scanner tridimensional. O trabalho decorre entre as 22h00

e as 6h00 horas da manhã do dia seguinte, estando as Ruínas abertas ao público durante o dia. Em comunicado, o IC alerta para o facto de a área do adro com pavimento em lajes de granito e a escadaria do monumento estarem vedadas ao público durante os trabalhos de monitorização nocturnos.

Boas energias e ALBERGUE SCM EXPOSIÇÃO DE RAQUEL GRALHEIRO INAUGURADA

Chama-se “O Meu Zodíaco Chinês” e é o nome dado à exp Albergue SCM no museu da escola de artes da Universidade expostas na primeira Bienal de Artistas Mulheres de Macau,

A exposição em Nanjing integra um total de 13 pinturas, sendo que 12 delas dizem respeito aos signos do Zodíaco chinês. Há também uma tela de dimensões maiores on

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museu da Escola de Artes da Universidade Normal de Nanjing, na China, recebe a partir de hoje a exposição de Raquel Gralheiro, intitulada “O Meu Zodíaco Chinês”, uma iniciativa organizada pelo Albergue da Santa Casa da Misericórdia de Macau. Ao todo serão expostos 25 trabalhos da artista portuguesa, obras essas que já estiveram no Albergue SCM a propósito da primeira

edição da Bienal de Mulheres Artistas de Macau. De acordo com um comunicado, a inauguração desta exposição em Nanjing é resultado de uma “cooperação cultural e de intercâmbio com a China, que visa introduzir uma diversidade cultural e experiências visuais ao público do continente”. Numa entrevista concedida ao jornal Ponto Final, aquando da exposição no território, a artista explicou que a

“principal mensagem do trabalho é sempre o optimismo, o positivismo”, bem como “as relações fluídas, a boa sorte, a paz, a alegria, a força das cores puras”. “O que eu desejo para mim e para o mundo em geral é isso: paz, sorrisos e boa energia”, acrescentou. A exposição em Nanjing integra um total de 13 pinturas, sendo que 12 delas dizem respeito aos signos do Zodíaco chinês. Há também uma tela de dimensões maio-

res onde estarão reunidos os 12 animais do horóscopo chinês acompanhados de um ser humano. Ao Jornal Tribuna de Macau, Raquel Gralheiro destacou ainda o facto de, nestas obras, “a figura feminina estar em destaque”. “Nem sempre pintei mulheres, também tenho pinturas com homens, mas ultimamente tem aparecido sempre a figura feminina, talvez porque é a minha condição. Só sei ser


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sexta-feira 15.11.2019

em Nanjing

posição de Raquel Gralheiro organizada pelo e Normal de Nanjing. Um total de 25 obras, já , serão reveladas ao público chinês

HOJE TERAPIA Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Memória e concentração

• DESCRIÇÃO Além de recordarmos o que fizemos, sentimos ou aprendemos, a memória está intimamente relacionada com a nossa identidade. É legítimo, portanto, que nos preocupemos com ela. Não conseguirmos reproduzir o que acabámos de ler, termos de voltar ao ponto de partida para nos lembrarmos do que íamos fazer, ou até não sabermos onde pusemos o telemóvel são queixas comuns, mas que podem interferir com o nosso dia-a-dia. Podem também ser um sinal de alerta. O envelhecimento, uma alimentação desequilibrada e pouco saudável, o ritmo de vida agitado e stressante, a ausência de um sono reparador, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, o uso de drogas, a toma frequente de certos medicamentos e a exposição a toxinas ambientais, bem como alguns problemas emocionais ou de saúde podem agravar a perda de memória. Há que avaliar cada caso, corrigir e tratar as causas possíveis e manter o cérebro activo. Além disso, o tratamento natural também pode ajudar.

Bacopa, Bacopa monnieri (L.) Wettst. (sin. Herpestis monnieri (L.) Kunth), partes aéreas (Plantaginaceae): Contém saponinas esteróides (bacósidos A e B), considerados os principais constituintes activos. Possui propriedades adaptogénicas, aumentando a resistência do organismo ao stress. Aumenta o fluxo sanguíneo cerebral e os níveis dos neurotransmissores serotonina (melhora o humor), GABA (aumenta a sensação de calma) e acetilcolina (melhora a capacidade cognitiva e intelectual), melhorando o humor, o relaxamento, o sono e o desempenho cognitivo – foco, atenção, percepção e memória selectiva. Além disso, favorece a actividade dos neurónios e estimula a actividade no hipocampo, estrutura cerebral envolvida na aprendizagem e formação de memórias; é ainda antioxidante, anti-inflamatória e neuroprotectora, protegendo o cérebro e o sistema nervoso contra danos ou lesões. É indicada para melhorar a memória e a função cognitiva, e em caso de ansiedade, stress, depressão, PHDA (Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção), doenças neurodegenerativas e como antioxidante e neuroprotector.

nde estarão reunidos os 12 animais do horóscopo chinês acompanhados de um ser humano

mulher e estar no mundo como mulher”, adiantou. Raquel Gralheiro disse ter lido muitas coisas sobre os signos chineses e o significado dos seus diversos elementos. “Uma das obras tem medalhas douradas, como se fossem as moedas ou as fichas no casino. Também há muitas formas arredondadas”.

UM LADO ORIENTAL

Raquel Gralheiro nasceu em Viseu, mas foi no Porto que se formou em pintura e desenho

artístico. O seu trabalho já passou por vários países, mas a curiosidade sobre Macau sempre existiu. “Há a vontade de passar por todo o lado onde estiveram portugueses. Já expus no Brasil várias vezes, em Moçambique e Cabo Verde em intercâmbios culturais. Existe essa curiosidade de ver o que deixamos para trás”, referiu ao Jornal Tribuna de Macau. O trabalho agora exposto em Nanjing nasceu de um

convite feito à artista, disse à mesma publicação. “Há uns anos fui convidada para o Ano Novo Chinês no Porto, o Ano do Cavalo, e pensei que podia continuar”, referiu, notando que o seu “trabalho tem muito de Oriente” e na altura dessa exposição já alguns quadros com animais dos signos. Por outro lado, as cores que usa “também têm muito da cultura oriental”. “Quando comecei a observar o meu portfólio percebi as semelhanças”, declarou.

(PARTE II)

Chá-verde, Camellia sinensis (L.) Kuntze (sin. Thea sinensis L.), extracto das folhas concentrado em L-teanina (Theaceae): A L-teanina é um aminoácido sintetizado na raiz da planta do Chá-verde, mas que se concentra nas folhas, sendo-lhe atribuídos muitos dos benefícios associados ao consumo de Chá-verde. A L-teanina neutraliza a acção estimulante da cafeína e origina uma sensação de relaxamento, a qual ocorre através de dois mecanismos: 1) estimula a produção de ondas cerebrais alfa, induzindo um estado de relaxamento e alerta mental semelhante ao atingido através da meditação; 2) actua sobre os neurotransmissores promovendo a formação de GABA, o que influencia os níveis de

dopamina e serotonina, ambos importantes não só para o relaxamento e estabilização do humor, como para aumentar a capacidade de aprendizagem e memória; melhora ainda a actividade dos neurónios, o que também favorece a memória e o raciocínio. Possui propriedades anti-stress, melhorando o sono. É recomendada na melhoria da aprendizagem, da memória e da acuidade mental, e em situações de ataques de pânico, ansiedade, stress e depressão. Juba-de-leão, Hericium erinaceus, esporóforos (Hericiaceae): Entre os diversos constituintes deste cogumelo destacam-se os polissacáridos (beta-glucanos) e as hericenonas e erinacinas. Melhora a actividade dos neurónios, favorecendo o desempenho cognitivo, a memória e a fluidez do pensamento. Com efeito, não só promove o crescimento de novos neurónios, como também estimula a regeneração dos que se encontram gravemente lesados, mas ainda com vida; protege os nervos contra os danos causados pela falta de oxigénio e de irrigação sanguínea; promove ainda o crescimento da bainha de mielina nas células nervosas, favorecendo a transmissão de informação entre neurónios. Possui a capacidade de destruir as placas beta-amilóides, responsáveis pela destruição dos neurónios e consequente perda de memória, em pessoas com Alzheimer. Apresenta ainda acção antioxidante, anti-inflamatória, antitumoral e estimulante do sistema imunitário. É utilizado para melhorar a memória e a função cognitiva, em caso de ansiedade, insónia e stress, e na prevenção e tratamento das doenças neurodegenerativas (demências, esclerose múltipla). Advertências: Este artigo tem como finalidade apenas a divulgação e não deve substituir a consulta de um profissional de saúde, nem promover a auto-prescrição.

ADVERTÊNCIAS: Este artigo tem como objectivo apenas a divulgação e não deve substituir a consulta de um profissional de saúde, nem promover a auto-prescrição. Além disso, algumas plantas têm contra-indicações, efeitos adversos ou interacções com medicamentos.


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15.11.2019 sexta-feira

COMÉRCIO EUA ADVERTIDOS QUE REDUÇÃO DE TAXAS É “CONDIÇÃO IMPORTANTE” PARA ACORDO

Princípios de conversa

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China advertiu ontem Washington de que suspender parte das taxas alfandegárias adicionais sobre bens chineses é uma “condição importante” para um acordo preliminar que permita avançar com as negociações para pôr fim à guerra comercial. A redução de taxas “é uma condição importante para os dois lados chegarem a um acordo’’ e “os negociadores estão a discutir isso em profundidade”, disse o porta-voz do ministério chinês do Comércio, Gao Feng, em conferência de imprensa. “A guerra comercial começou com a imposição de taxas e também deveria terminar com a abolição de taxas’’, defendeu. Pequim disse, na semana passada, que os negociadores norte-americanos concordaram

em reverter taxas alfandegárias adicionais que entraram em vigor, em Setembro passado, sobre 112 mil milhões de dólares de importações oriundas da China. Em troca, a China compraria produtos agrícolas norte-americanos, num valor entre os 40.000 e os 50.000 milhões de dólares, visando reduzir o deficit comercial entre os dois países, uma das principais exigências do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No entanto, Trump descartou a hipótese de reduzir as taxas no dia seguinte, abalando os mercados financeiros globais.Os detalhes de um acordo que Trump designou como “fase 1” ainda não foram divulgados, mas não resolvem questões centrais da disputa, incluindo políticas industriais chinesas, como transferência forçada de tecnologia, protecção de propriedade intelectual ou atribuição

“A guerra comercial começou com a imposição de taxas e também deveria terminar com a abolição de taxas.’’ GAO FENG PORTA-VOZ DO MINISTÉRIO CHINÊS DO COMÉRCIO

de subsídios às empresas domésticas por Pequim, enquanto as protege da competição externa. Observadores consideram que um acordo final é improvável este ano. Outros continuam cépticos de que os dois lados possam concluir um acordo interino.

DESCONFIANÇAS MÚTUAS

Street Journal ter avançado que os negociadores chineses estão relutantes em comprometerem-se com um valor específico para a compra de produtos agrícolas norte-americanos. A ascensão ao poder de Donald Trump desencadeou disputas comerciais entre Pequim e Washington, com cada um dos dois países a aumentar as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos do outro. A liderança norte-americana, que teme perder o domínio industrial global à medida que Pequim tenta transformar as firmas estatais do país em importantes actores em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial ou robótica, acusa a China de práticas comerciais injustas.

Na quinta-feira, as bolsas asiáticas caíram depois de o Wall

INDÚSTRIA PRODUÇÃO VOLTA A ABRANDAR EM OUTUBRO

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produção industrial da China voltou a abrandar em Outubro, segundo dados oficiais ontem divulgados, acompanhando a tendência registada em outros indicadores económicos, face à prolongada guerra comercial entre Pequim e Washington. O indicador, que mede a actividade nas fábricas, oficinas e minas do país, cresceu 4,7por cento, no mês passado, depois de, em Setembro, ter aumentado 5,87por cento, uma recuperação face a Agosto, quando a produção industrial chinesa registou o maior abrandamento em 17 anos, ao crescer 4,47por cento. O Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) da China revelou ainda que o investimento em activos fixos, que inclui os gastos com imóveis, infraestrutura ou maquinaria cresceu 5,27 por cento, nos primeiros 10 meses do ano, abaixo do ritmo alcançado em Setembro, de 5,47 por cento. Tratou-se do menor ritmo de crescimento desde que o GNE começou a publicar dados para aquele índice, em Novembro de 1999. O aumento das vendas a retalho, o principal indicador do consumo privado, fixou-se em 7,27 por cento, em Outubro, face ao mesmo mês do ano passado, a menor taxa de crescimento homólogo desde Abril. Em Outubro, as exportações chinesas caíram 0,97por cento, reflectindo uma queda acentuada nas vendas para os Estados Unidos, de 167 por cento. As importações recuaram 6,47 por cento, o nono declínio mensal consecutivo. O investimento em infraestruturas fixou-se, em outubro, nos 4,2%, abaixo dos 4,57 por cento, registados em Setembro. Um porta-voz do GNE atribuiu os problemas económicos da China a uma “desaceleração do crescimento económico global” e “incertezas externas relativamente grandes”.

ESPAÇO COOPERAÇÃO INTERNACIONAL INCENTIVADA COM ATERRAGEM EM MARTE

A

China convidou ontem observadores internacionais a assistirem a um teste do seu módulo de aterragem em Marte, à medida que o país apela a uma inclusão global em projectos espaciais. Tratou-se da “primeira aparição pública da missão

de exploração chinesa de Marte, e uma medida importante para Pequim avançar pragmaticamente com as trocas e cooperação internacionais espaciais”, apontou em comunicado aAdministração Espacial Nacional da China. Os convidados para o evento vieram de 19 países

e incluíram os embaixadores do Brasil, França e Itália. A demonstração das capacidades para pairar, evitar obstáculos e desacelerar foi realizada num local fora de Pequim que simula as condições no Planeta Vermelho, onde a força da gravidade é cerca de um terço do nível da Terra.

A China planeia lançar uma sonda e um veículo de exploração para Marte, no próximo ano, visando explorar detalhadamente partes diferentes do planeta. O programa espacial chinês alcançou um marco no início deste ano ao pousar uma sonda no lado oculto da

lua, o hemisfério lunar que não pode ser visto da Terra. Desde a sua primeira missão tripulada, em 2003, o programa chinês desenvolveu-se rapidamente e tem procurado cooperar com agências espaciais da Europa e de outros lugares. Os Estados Unidos, no entanto,

interditaram a maior parte da cooperação espacial com a China, alegando motivos de segurança nacional e impediram a China de participar na Estação Espacial Internacional.


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sexta-feira 15.11.2019

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corte de importantes estradas e o disparo de gás lacrimogéneo sobre manifestantes marcaram a manhã em Hong Kong, no quarto dia seguido de confrontos violentos que começaram com uma greve geral convocada para segunda-feira. Pouco depois das 07:00, grupos de manifestantes bloquearam o túnel que liga a ilha de Hong Kong ao continente, enquanto uma outra importante via, a de Tolo, que liga várias áreas da periferia, permanece cortada desde a noite de quarta-feira. A ponte número 2 dessa rodovia está localizada ao lado da Universidade Chinesa de Hong Kong, onde foram registados os confrontos mais violentos nos últimos dias e onde numerosos estudantes permanecem entrincheirados, construindo barricadas e armazenando bombas incendiárias. A associação estudantil daquela universidade tentou ontem obter uma ordem judicial para impedir que PUB

Nova normalidade

Manhã em HK com corte de vias e lançamento de gás lacrimogéneo

a polícia antimotim entre novamente no campus, mas o tribunal rejeitou a reivindicação. Por outro lado, uma centena de estudantes estão barricados na Universidade Politécnica, que anunciou ontem que suspendeu as aulas até ao

fim da semana por razões de segurança. Dada a situação, as autoridades de educação da cidade decidiram cancelar ontem os dias lectivos em todos os jardins de infância, escolas primárias e secundárias e centros especiais até segunda-feira. Os ‘me-

dia’locais indicaram que há a registar pelo menos dois feridos graves na quarta-feira: um trabalhador de um departamento do Governo, que foi atingido na cabeça por um objecto supostamente lançado por manifestantes, e um jovem de 15 anos que foi também

atingido na cabeça por uma granada de gás lacrimogéneo. Ambos permanecem em estado grave.

ADIAMENTO ELEITORAL?

Estes dois casos fazem crescer o saldo de feridos graves: um jovem de 21 anos que foi baleado por um polícia de trânsito na segunda-feira e um homem de 57 anos que, no mesmo dia, foi incendiado por um manifestante após uma discussão política. Além disso, a polícia encontrou na quarta-feira à noite, um homem de 30 anos morto, vestido de preto, a cor usual dos manifestantes, supostamente após ter caído de um prédio. O jornal de Hong Kong South China Morning Post noticiou ontem que a chefe do Governo, Carrie Lam, reuniu-se na quarta-feira à noite com altos funcionários do Governo para discutir se as eleições para os conselhos distritais, programadas para dia 24, devem ser adiadas, não existindo para já uma comunicação oficial das autoridades sobre o assunto.

Visita Assinados novos acordos com Brasil

O Brasil e a China assinaram na quarta-feira, em Brasília, acordos e memorandos de entendimento nas áreas de política, economia, comércio, agricultura, inspecção sanitária, transporte, saúde e cultura, segundo o Governo brasileiro. O Presidente chinês, Xi Jinping, está em Brasília, capital brasileira, para participar na 11.ª Reunião do Brics (bloco formado pelo Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) e reuniu-se com o seu homólogo brasileiro, Jair Bolsonaro, no Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores. A China é o maior parceiro comercial do Brasil, sendo os minérios, petróleo e produtos agrícolas as matérias-primas que o mercado chinês mais compra ao Brasil. O ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, afirmou ontem que o Governo brasileiro tem intenção de formar uma área de livre comércio com a China. “Estamos a conversar com a China sobre a possibilidade de considerarmos uma ‘free trade area’ [área de livre comércio]”, afirmou o ministro.


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A tua ausência dói-me

Ut Pictura Poesis : 1

ooráculo avariado Luís Gouveia Monteiro

a história dos media chegou ao fim (I de III)

- produz o humano, definido enquanto auto-insuficiência prometaica que se supera pela atrofia dos dispositivos naturais a favor de externalizações com ganhos de consciência e eficiência.10 - do macaco em diante – como mostra o imenso cortejo de fantasmas produzido pela modernidade - tudo é monstro e máquina que conspira, como uma máfia de emigração ilegal, para roubar o emprego da carne.

LICURGO CONSULTA A PÍTIA (1835/1845), EUGÈNE DELACROIX

O

estruturalismo focou a atenção do século XX na especificidade ontológica de cada medium e na necessidade de a cada arte corresponder a respectiva técnica. Esse pensamento dominante atribuiu toda a importância ao que separa os media e pouca ou nenhuma ao que os aproxima. Esqueceu, por exemplo, duas importantes lições: - Uma, de McLuhan: “o conteúdo de um medium é sempre outro medium”2. - Outra, de Kittler: todos os media vão acabar por convergir no computador. 3 É para um momento anterior aos dualismos cartesianos que remetem não apenas Kittler, mas também Hegel, Nietzsche, Henri Bergson, Merleau-Ponty e Bataille. Todos perseguiram a intuição de que será necessária, nos mecanismos da visão, uma instância de passagem entre o espírito e a matéria que a teoria nunca conseguiu resolver. Nem com as teorias extromissionistas platónicas, nem sequer com o intromissionismo mais moderno de Aristóteles. O olhar, tal como a luz, tem um peso que continua por explicar. Não há observação não invasiva, sem uma troca entre o que percepciona e o que é percepcionado, como bem sabem a anatomia patológica4 e a física quântica. A própria explicação da física contemporânea sobre a luz - partícula ambígua, sem massa e com comportamento de onda – soa, no século XXI, a atavismo aristotélico que atribui à matéria a psicologia caprichosa dos homens. Considere-se então a hipótese kittleriana para procurar aquilo que une a pintura, a tragédia, o cinema e o jogo de computador. Considerem-se para tanto duas fontes, uma mais perto do início da história dos media, a Poética de Aristóteles5; outra mais perto do seu hipotético fim, O Narrador de Walter Benjamin6. Ambas investigam as regras da narrativa e são especialmente eloquentes quando falam de meios de comunicação que ainda não existiam à data em que os textos foram escritos. Será possível encontrar regras comuns até em media que trabalham com diferentes sentidos, como a pintura e a rádio? O que podem ter em comum uma “boa” história e uma “boa” imagem, tornando-as merecedoras de resistir à morte, como Bovary, em vez de morrer, como nós e Flaubert? A estética oferece algumas hipóteses: - O facto de serem retratos/relatos fiéis de acontecimentos reais (e virtuosos, como pedia Platão)? - Apresentarem retratos/relatos plausíveis de acontecimentos reais ou imaginários e com isso promoverem a educa-

(continua)

ção dos sentidos (sem que para isso seja preciso abandonar o porto firme da razão) como propunha Aristóteles? - Serem pequenas pérolas de sabedoria ou conselho, capazes de elevar o espírito, como gostaria Benjamin? - Conseguirem criar um novo tipo o seu próprio ouvinte/leitor/espectador, emancipando-o, como imaginou Rancière, ou resistindo à indiferença como pediu e Deleuze? Uma rápida revisão da história dos media parece confirmar a lei de Amara7: temos tendência a sobrestimar os efeitos a curto prazo da tecnologia e a subestimar os seus efeitos a longo prazo. Sócrates, simultaneamente sob suspeita de ser o primeiro tecnofóbico, aquele que Nietzsche acusou de ter separado, como dois órfãos, o corpo da alma. No Fedro, de Platão, a questão é enunciada por Só-

crates nos exactos termos que tantas vezes usamos, ainda hoje, para perguntar que planos terá a tecnologia para nós: “Como inventor da escrita, esperas dela, e com que entusiasmo, todo o contrário do que ela pode vir a fazer! Ela tornará os homens esquecidos pois que, sabendo escrever, deixarão de exercitar a memória, confiando apenas nos escritos, e só se lembrarão de um assunto por força de motivos exteriores, por meio de sinais, e não dos assuntos em si mesmos. Por isso não inventaste um remédio para a memória, mas sim para a rememoração.”8 Nestes termos dualistas, ou a tecnologia: - do martelo para a frente9 - como mostraram Kubrick, Bataille e Mondzain

1 - Horácio (c. 20 ac) Ars Poética.”Como a pintura, assim é a poesia”. 2 - McLuhan, M. (1964) Understanding Media: The Extensions of Man. New York: McGraw-Hill. 3 - Kittler, F. (2002), Optical Media, Berlin Lectures 1999. Cambridge: Polity Press. 4 - Na medicina, como na estética, todos os diagnósticos são, em maior ou menor grau, invasivos. 5 - Aristóteles (2016 [c.330 ac.]). Poética. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda. 6 - Benjamin, W. (1968 [1936]) The Storyteller, (traduzido por Harry Zohn, editado por Hannah Arendt). Nova Iorque: Shocken Books. 7 - “We tend to overestimate the effect of a technology in the short run and underestimate the effect in the long run.”, em The Age 31, October 2006. Oxford Essential Quotations (4 ed.). 8 - Platão, (1985[370 a.c.]). Phédre. Paris, Les Belles Lettres:104-105. Curiosamente, a ideia que temos hoje do livro e da escrita é exactamente a contrária: a de ferramenta da memória e do pensamento por oposição a tecnologias mais recentes que associamos com mais facilidade à dissolução do interesse e da atenção. 9 - Rodrigues, A. D., (2019): “A espécie humana esteve desde sempre dependente dos seus inventos técnicos, uma vez que o processo de hominização consiste precisamente na atrofia dos seus dispositivos naturais e na correspondente aquisição da tendência para a elaboração de artefactos que compensem os dispositivos naturais atrofiados”. Esta ideia da auto-insuficiência do Humano tem inspirado com frequência a evocação do mito de Prometeu e a ideia de que o homem é o animal a quem Deus, tendo esgotado todas as qualidades nas outras espécies, entregou apenas o que lhe restava: o fogo húbrico da razão. 10 - Agamben, G. (2005). State of exception. Chicago: University of Chicago Press. Em Taxonomias, Agamben lembra que o Homem sempre precisou de mediações, de linguagem e de representação para se libertar do estado animal. Por isso, Lineu o baptizou sapiente. Não pela sabedoria, por saber coisas do mundo - outras espécies também conhecem as regras da realidade física, também usam instrumentos e formas de comunicação – mas Sapiens por ter consciência de si, por ter sido capaz de se ver de fora. Como quem se liberta de um eterno plano de sequência em câmara subjectiva e corta pela primeira vez para o contra-campo. O Humano seria, assim, aquele que consegue observar-se a si próprio, ao espelho, numa gruta iluminada pelo fogo, antes ainda da invenção do espelho, da perspectiva, da fotografia e do cinema.


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sexta-feira 15.11.2019

entre oriente e ocidente

FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO

Gonçalo M. Tavares

“A poesia,Irónica e soberba, ri das vaidades do mundo.” Li Bai (traduzido por António Graça de Abreu)

Poemas do Oriente, Uma refeição Madeira, pequenos paus levando à boca os alimentos, nada de metal. Podes falar de pormenores, troca por troca – metal por madeira – mas claro que não. Nenhum metal entra no espaço inaugurado por dois amigos que se sentam frente a frente, o óbvio. Nenhuma faca na mesa, repara, nenhuma ameaça material, paisagem calma e natural, mesmo que em comprimento e largura mínimos. (Tudo é paisagem, o mais pequeno dos espaços, se lhe deres atenção.) Na paisagem não entra tanque, na mesa nenhum metal. A tranquilidade do mundo começa na tua mesa. fim

Sobre a respiração Exercícios respiratórios do Zhuangzi: “Soprar e respirar, expirar e inspirar, expelir o ar usado e absorver o ar fresco, espreguiçar-se à maneira do urso ou do pássaro que estende as asas, tudo isso não visa senão a longevidade.” A respiração é um acto animal, não um acto humano. Pensar e reflectir e escrever são actos humanos. Respirar, acto essencial, involuntário: podes decidir não respirar, tapar a boca - mas no início do início não decidiste respirar. Alguém ou algo – corpo, os genes, o que for, decidiu por ti: tu respiras. Pensar numa personagem que acorda e diz: eu hoje decidi: vou respirar. Um louco, sem dúvida. Não és suficientemente poderoso para decidir uma coisa dessas. Claro que se poderá dizer: eu hoje vou respirar ar puro, vou para a montanha. Ou: hoje vou respirar o ar da floresta, ou, ou e ou. Mas sim: ninguém pode decidir sobre o verbo respirar. O verbo respirar é involuntário, é um verbo que não te pertence. E sim, voltar ao início: respirar como verbo animal. Daí estas indicações animalescas de Zhuangzi. Respirar como um urso ou um pássaro que estende as asas. Respirar é um acto animal. Ainda bem, digo eu.

ILUSTRAÇÕES ANA JACINTO NUNES


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tonalidades António de Castro Caeiro

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser. E uma vontade de ir, correr o mundo e partir, a vida é sempre a perder...

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OJE, fiz como o meu pai fazia. Levei a “gaitinha” para a casa de banho. Levava sempre o transístor como companhia da sua higiene matinal. Esta foi sua companheira de décadas. Dei por mim a escanhoar-me. Não que vos importeis com isso, mas não sou assíduo. Hoje, fui. No posto sintonizado passou aquela canção dos Xutos melódica e melancólica como o dia de hoje que é depois do dia de on-

15.11.2019 sexta-feira

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A vida sempre a perder

tem e é triste, trágico. O Tim diz alguns versos que sempre foram para mim imperceptíveis mas hoje as dúvidas dissiparam-se. Eu achava que fazia sentido o complemento “ir” e que o trágico não combinava com “rir”. Não, nesta mú-

sica. Não, como o que nasce do fundo do “ser”. Fui ver a letra e afinal é “ir” e “rir”. Prefiro a vontade de “ir”. Hoje não tenho nenhuma vontade de rir e do ser não cuido que nasça nenhuma vontade nesse sentido, sobretudo quando domi-

A vida é sempre a perder é a própria condição. “Sempre” não quer dizer apenas muito tempo. Quer dizer: continuamente. Durante o tempo em que estivermos vivos estamos continuamente a perder. Estamos continuamente a morrer

cilia a vida, quando a vida é sempre a perder. Mas de onde vem esta evidência de que “a vida é sempre a perder” que a canção ecoa? Não temos noção do tempo como sucessão, apesar de falarmos da sucessão do tempo. Olhamos para as paisagens conhecidas e elas são exactamente as mesmas quando olhamos janela fora, os percursos de casa para o trabalho, o jardim da escola da infância, o recreio do liceu que fica nas traseiras da minha casa, a ponte sobre o Tejo. Se sabemos que o tempo passa de onde vem esse conhecimento? Como temos a consciência disso? É uma consciência íntima do tempo? Se é íntima é só interior e nada tem que ver com o que acontece fora? Se não houvesse movimento, haveria a percepção da distribuição dos obejctos por espaços diferentes e assim por tempos diferentes? E se nada se movesse, teríamos a percepção do movimento? Se estivéssemos sempre mudos e nunca falássemos de nós para nós, teríamos a percepção de que seríamos diferentes à hora do pequeno almoço e à hora do almoço? E se fôssemos diferentes no nosso interior, será que o exterior seria diferente? E se o exterior fosse diferente, será que o nosso interior se alterava? Não podia tudo ser diferente, interior e exterior? Não podia tudo ficar na mesma? “A vida é sempre a perder”. Mas a perda é perda do quê? É perda do que temos como adquirido? É perda de faculdades, de posses, de pessoas, de amizades, de amores? É perda do que temos ou tínhamos ou do que achamos que temos ou achávamos que tínhamos? A perda de que a canção fala é a da vida. A vida é sempre a perder é a própria condição. “Sempre” não quer dizer apenas muito tempo. Quer dizer: continuamente. Durante o tempo em que estivermos vivos estamos continuamente a perder. Estamos continuamente a morrer. Durante o tempo em que estivermos vivos temos de ter a percepção de que estamos vivos. A própria percepção da vida é mortal. A percepção da morte é mortal. A vida é mortal. A morte do outro não nos deixa apenas o mundo inteiro só com menos uma pessoa. Não é apenas o teu mundo que se foi. É um mundo que se foi. Uma pessoa é um mundo. Há tantas pessoas quantos mundos. Não se percebe como a subtracção, alguém riscado, ausente, que não responde à chamada, na verdade, é um acontecimento como um “buraco negro” que dizem que tem densidade ontológica e existe portanto como irrealidade. Existir a vida sempre a perder não é nada. É o que é. E de lá, do fundo do ser, do horizonte do ser, não pode nascer nenhuma vontade de rir. Nasce uma vontade de ir, correr o mundo e partir, a vida é sempre a perder.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 19

sexta-feira 15.11.2019

OFício dos ossos

Valério Romão

C

HILE, Bolívia, Catalunha, Paris, Hong Kong. Em todos estes lugares, algures neste ano ou mesmo agora, as pessoas encheram ou enchem as ruas para revindicarem, de forma mais ou menos violenta, o cumprimento de determinadas aspirações de uma parte da população para as quais a política e os múltiplos instrumentos pelos quais actua não tem encontrado solução. Não quero dizer com isto que as múltiplas soluções requeridas existam e que os diversos governos as soneguem ou não as queiram implementar. Seria talvez necessário viver muitas vidas para compreender tudo o que se está a passar em cada um destes lugares. O que quero dizer é que o exercício regular da democracia, para estes cidadãos que vão para a rua confrontar a polícia ou o quem quer esteja do outro lado da barricada, não é suficiente. Falhou. E tem vindo a falhar estrondosamente, mesmo que o conjunto de sintomas noutros lugares pareça ser de certo modo mais brando, mais superficial. E isto é um desastre. É um desastre porque a erosão de confiança resultante de décadas de má governação se traduz numa clivagem cada vez mais acentuada entre governados e governantes, abrindo espaço para que a demagogia e o populismo possam meter pé à porta

Falha sistémica

e pouco a pouco franquear a entrada. Não nutro qualquer simpatia pelos populistas dos extremos ideológicos porque estou convencido de que a política é, fundamentalmente, uma arte de consensos. Estou convencido de que para obter x talvez tenha de conceder y, porque é impossível governar num espartilho ideológico fundamentalista. Cada um de nós é apenas um pequena parte de um conjunto muito heterogéneo de pessoas com necessidades e aspirações muito diferentes umas das outras. Quer isto dizer que devemos transigir relativamente a direitos e deveres fundamentais? Não. Quer apenas dizer que não devemos transigir unicamente em relação esses. Tudo o resto deve poder ser negociável. Como votante errático sinto-me responsável pelo estado de semi-desesperança a que chegámos. A nossa jovem democracia parece ser unicamente jovem nas virtudes; nos vícios, parece ter séculos de experiência. Quando viajamos e perguntamos, perante uma situação de manifesta injustiça “mas como é que as pessoas se deixam tratar assim?”, devíamos parar e fazer essa mesma pergunta ao espelho. A canga de casos que diariamente enche as páginas dos jornais – todos ou quase todos eles a soro –, para além de ser capaz de nos fazer corar de vergonha, alimenta,

mesmo que a conta-gotas, o taxista que há em cada um de nós. Temos um ex-primeiro-ministro a ser julgado. Aparentemente, ninguém se deu conta das dezenas de falcatruas que fez vida fora até lhe entregarem um partido e, subsequentemente,

E isto é um desastre. É um desastre porque a erosão de confiança resultante de décadas de má governação se traduz numa clivagem cada vez mais acentuada entre governados e governantes, abrindo espaço para que a demagogia e o populismo possam meter pé à porta e pouco a pouco franquear a entrada

uma maioria absoluta e um país. Muitos dos ministros do actual governo privaram e trabalharam com o homem. Não estou a dizer que tenham ganhado o que quer que seja com isso. Vamos até partir do pressuposto que não. Que foi um sacrifício. Mas anuíram. Compactuaram. E de cada vez que em qualquer partido se transige com a corrupção, o nepotismo ou o tráfico de influências, está-se a inocular veneno no sistema circulatório da democracia. Veneno que alimentará os milhares de ovos de serpente que existem e que sempre existiram e que esperam apenas por um clima mais propício para eclodirem. A política portuguesa é aflitiva de ver. É de uma menoridade intelectual que faz brotoeja. Quando não dá asco, dá sono. As pessoas procuram nas frinchas dos discursos uma nesga de substância e de sentido em que se vejam representadas. Salvo umas excepções dispersas, os políticos portugueses dão a sensação de terem sido cooptados para entrar a meio de uma peça com instruções para fazerem o que o tipo do lado faz. É menos penoso assistir a um jogo de um campeonato regional qualquer de curling. E essa mediocridade, que todos merecemos por igual e que poucos fazem por contrariar, é o suplemento vitamínico das muitas bestas que espreitam uma oportunidade.


20 (f)utilidades POUCO

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NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA

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EXPOSIÇÃO | “BY THE LIGHT OF THE MOON – WORKS BY HONG WAI” AFA – Art Garden | Até 5/12

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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 3

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7

separatistas ucranianos. O voo MH17, um aparelho Boeing 777 da companhia aérea Malaysia Airlines, despenhou-se em 17 de julho de 2014 quando sobrevoava um território controlado por separatistas pró-russos no leste ucraniano. As 298 pessoas a bordo do avião maioritariamente holandeses (196) – morreram.

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UM FILME 7 1 3 2HOJE 6 4 5

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UMA NOVA OPORTUNIDADE

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VIDA DE CÃO

5 6 4 CONSCIOUSNESS PAINTING 1 1 Fundação Rui Cunha | Das 15h00 às 17h00 2 63 7 5 72 Diariamente EXPOSIÇÃO | “LÍNGUA FRANCA – 2ª EXPOSIÇÃO ANUAL DE 2 56 1 3 ARTES ENTRE A CHINA E OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA” Vivendas Verdes e Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino 1 5 4 6 4 3 | Até 8 de Dezembro 57 42 3 4 EXPOSIÇÃO | “QUIETUDE E CLARIDADE: OBRAS DE CHEN ZHIFO DA COLECÇÃO DO MUSEU DE NANJING” 4 74 3 27 1 MAM | Até 17 /11 6 1 2 5 EXPOSIÇÃO | “WE ART SPACE - DOCUMENTARY EXHIBITION” Armazém do Boi | Até 8/12 5 4 6 7 LIGAÇÕES Amanhã

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Este filme italiano retrata a história verídica de Tommaso Buscetta, o primeiro arrependido da máfia daquele país, que permitiu que os juízes Falcone e Borsellino compreendessem a organização da Cosa Nostra e levassem os líderes ao tribunal. Um filme que prende o espectador até ao fim e que conta uma parte importante da história do crime organizado em Itália. Andreia Sofia Silva

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S U D O K U

TEMPO

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A notícia de que a Casa de Portugal em Macau (CPM) ganhou o concurso para gerir um restaurante na Casa de Vidro, na praça Tap Seac, constitui o pagamento de uma dívida há muito existente do Governo para com esta associação. Quem não se recorda do fecho do Lvsitanvs na Casa Amarela devido à especulação imobiliária e ao poder dos proprietários (neste caso Chan Chak Mo), a quem pouco lhes interessa projectos 9 para a cidade? O inovadores Governo nunca adquiriu esse edifício a Future Bright Holdings e a CPM viu-se obrigada a criar um mini Lvsitanvs na sua sede, algo bastante distante da ideia original. Parece que os pedidos de Amélia António ao Governo foram agora ouvidos. Esta é uma boa decisão da tutela de Alexis Tam que assim dá uma casa a mais uma iniciativa da sociedade civil na área da cultura e gastronomia. Andreia Sofia Silva

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O TRAIDOR | MARCO BELLOCCHIO (2019)

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FORD V. FERRARI SALA 1

SALA 3

Um filme de: James Mangold Com: Matt Damon, Christian Bale, Jon Bernthal, Caitriona Balfe 14.30, 16.00, 21.00

Um filme de: Mike Flanagan Com: Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz 14.15, 18.45

SALA 2

GUILT BY DESIGN [B]

Um filme de: Elizabeth Banks Com: Kristen Stewart, Naomi Scott, Elizabeth Banks, Sam Claflin 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Kenneth Lai, Paul Sze, Lau Wing Tai Com: Nick Cheung, Kent Cheung, Eddie Cheung 17.00, 21.30

FORD V. FERRARI [B]

CHARLES’ ANGELS [B]

DOCTOR SLEEP [C]

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; In Nam Ng; João Santos Filipe; Juana Ng Cen; Pedro Arede Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


opinião 21

sexta-feira 15.11.2019

confeitaria

JOÃO ROMÃO

V

As veias sempre abertas na América Latina

EM de longe a tradição histórica da violência sobre a América, a das comunidades indígenas “descobertas”, exploradas, escravizadas, desprovidas dos seus recursos, instituições e até línguas, culturas, crenças e religiões, que ainda assim foram preservando ao longo de mais de 500 anos com mais barbárie que cooperação. Disso tratou Galeano em livro de grande brutalidade e com estilo no qual o próprio autor deixou de se rever - mas que não deixa de retratar com precisão suficiente os processos de dominação do continente americano pelos poderes europeus que desse saque longo e sistemático acumularam o capital necessária para o que viria depois: a Revolução Industrial e os processos de especialização e divisão internacional do trabalho, da produção e dos mercados, com gradual mas persistente substituição do controle político colonial pelo controle económico pós-colonial. Essa herança do colonialismo europeu sobre a América Latina justificaria mais tarde a Doutrina Monroe, a partir de 1823 adoptada pelos Estados Unidos. Já a maior parte dos territórios da América Latina tinha recuperado a independência quando os EUA decretaram o seu direito a encarar qualquer ameaça ao continente como uma ameaça ao seu próprio país. Esta doutrina havia de prevalecer até ao século XX, abrindo caminho a diferentes tipos de intervenção política e militar, que em 1904 o Presidente Roosevelt viria a definir como o legítimo direito ao exercício de um “poder policial internacional na região”. E foram muitas e de grande dimensão as intervenções dos EUA no restante continente americano. Começa ainda no século XIX, com a invasão do México em 1847, da qual resultaria a anexação de quase metade do que era o território mexicano (correspondendo hoje aos estados da magnífica e rica Califórnia, Nevada, Utah, a maior parte do Arizona, e ainda partes do Novo México, Colorado e Wyoming). Não havia muro, na altura. Já no princípio do Século XX (1903), seria através de negociações que os EUA conseguiam assegurar o controle do Canal do Panamá, numa das mais importantes rotas comerciais do mundo - depois de apoiarem a independência do país em relação à Colômbia – e o controle militar da ilha de Cuba, com a instalação da célebre base de Guantanamo. Com a justificação da Guerra Fria e do controle do comunismo - e efectiva defesa de

interesses económicos e políticos – as intervenções haviam de se generalizar, incluindo frequentemente o apoio explícito a poderes ditatoriais. O golpe de Estado na Guatemala apoiado pelos EUA em 1954 levaria o país a 40 anos de Guerra Civil. 10 anos depois, já com Kennedy como Presidente, viria o apoio ao golpe no Brasil. Em 1973, o golpe que colocou Pinochet no poder no Chine teve apoio declarado do Presidente Nixon, abrindo caminho à primeira experiência sistemática

Generaliza-se a violência e promove-se, como de costume, a ignorância: líderes evangélicos são promovidos a ministros da educação, difundem o fundamentalismo religioso e limitam pensamentos críticos; há recolhas sistemáticas de livros e até fogueiras de bibliotecas inteiras, como na Bolívia, onde um ex-vice Presidente de Evo Morales viu arder a sua biblioteca pessoal com 30.000 volumes

do neo-liberalismo contemporâneo, com suporte técnico e político da chamada Escola de Chicago e um regime autoritário capaz de impor uma agenda radical de austeridade e privatização generalizada de serviços públicos – ainda hoje causa dos protestos que mobilizam a população chilena a ocupar as ruas. Pouco depois viria o trágico golpe de Estado na Argentina, em 1976, quando Vilela tomou o poder a Isabel Perón, recebendo visitas de Jimmy Carter e Henri Kissinger - não por acaso figuras também muito ativas em Portugal a seguir ao 25 de Abril. Foi o início da chamada “Operação Condor”, com os militares a raptar, assassinar e eliminar qualquer tipo de rasto (incluindo os registos civis) de milhares de dirigentes políticos de oposição. Desse extermínio nasceriam as Mães da Praça de Maio, mulheres transformadas em documentos para testemunhar a existência dos filhos assassinados. A história prolongou-se até quase ao final do século XX, com o financiamento e apoio militar primeiro Carter e depois Reagan - aos golpes na Nicarágua (1978) e El Salvador (1979), que deixariam os dois países em guerra civil até aos anos 1990. Aqui se notabilizaram os chamados “Esquadrões da Morte”, forças paramilitares que se dedicavam ao assassinato sistemático da população civil. Depois de um período em que massivos movimentos populares conseguiram assumir certa hegemonia e liderança política (o Brasil com Lula e Dilma, o Equador com

Correa, a Bolívia com Morales, a Venezuela com Chavez e Maduro, o Paraguai com Lugo, o Uruguai com Mujica, a Argentina com os Kirchner, ou mesmo o Chile com Bachelet), trazendo ao continente um período de paz raramente conhecido, parece ser outra vez tempo de mudança de ciclo: processos judiciais altamente contestados, generais com ambições totalitárias e líderes políticos com suporte variável dos Estados Unidos – que a história há-de revelar com mais detalhe – voltam a manchar de sangue a agenda política na América Latina: execução de dirigentes e activistas no Brasil; balas de borracha disparadas nos olhos a cegar manifestantes no Chile; agressões organizadas a dirigentes e activistas na Bolívia. Generaliza-se a violência e promove-se, como de costume, a ignorância: líderes evangélicos são promovidos a ministros da educação, difundem o fundamentalismo religioso e limitam pensamentos críticos; há recolhas sistemáticas de livros e até fogueiras de bibliotecas inteiras, como na Bolívia, onde um ex-Vice Presidente de Evo Morales viu arder a sua biblioteca pessoal com 30.000 volumes. As respostas, sabe-se também, não deixam de aparecer, quer nas ruas, quer nas instituições. Até os jogadores da seleção de futebol do Chile se recusam a jogar, em solidariedade com o povo em manifestação quase permanente nas ruas de Santiago. A paz é que parece outra vez distante.


22 opinião

15.11.2019 sexta-feira

A questão da “One of the main cyber-risks is to think they don’t exist. The other is to try to treat all potential risks. Fix the basics, protect first what matters and be ready to react properly to pertinent threats. Think data, but also services integrity, awareness, experience, compliance, and reputation.” Stephane Nappo

O

uso do ciberespaço por governos, empresas e indivíduos para facilitar e acelerar todos os tipos de actividades, levou à expansão global de redes cibernéticas em um período de tempo relativamente curto. Ainda que os especialistas em cibernética tenham advertido repetidamente, que as muitas vulnerabilidades inerentes e existentes em dispositivos e redes não foram resolvidas, nem podem ser adequadamente geridas para garantir a segurança das redes, têm sido amplamente ignoradas ou minimizadas. O aumento no número e na magnitude dos ataques, significa que a maioria dos formuladores de políticas está ciente da ampla gama de problemas associados à cibersegurança. As perspectivas diferentes dos países sobre questões cibernéticas, e a complexidade do tema tornaram a cibersegurança uma preocupação não apenas para a segurança nacional, mas também internacional. As conotações geopolíticas aumentaram os desafios da cibersegurança, e embora os sistemas e redes conectados se tenham tornado mais interligados e complexos, o ciberespaço está a ser usado por actores maliciosos para uma variedade de propósitos nefastos, desde a ciberespionagem, tanto para interesses comerciais quanto de segurança, até ao cibercrime e ciberterrorismo. O ataque distribuído de negação de serviço (Distributed Denial of Service - DDoS), pode interromper as operações comerciais ou causar paralisações graves, tendo um impacto directo nos lucros e na reputação das empresas. As empresas também enfrentam o risco de perder segredos comerciais ou direitos de propriedade intelectual. Além disso, uma violação maciça de dados para empresas ou portais de governo que armazenam dados de clientes ou cidadãos, compromete as informações pessoais e um ataque cibernético a entidades que fazem parte de infra-estruturas críticas pode ter um impacto debilitante na segurança nacional. O risco aumenta muito nas redes eléctricas, nas instalações nucleares e na rede de telemetria/comando e controlo dos bens espaciais. As redes sociais, surpreendentemente, como vector de ameaças, tornaram-se um canal de menor

resistência para realizar reconhecimentos, roubar identidades e reunir informações sobre funcionários, projectos, sistemas e infra-estrutura, além de disseminar propaganda odiosa e seduzir jovens impressionáveis a seguir ideologias extremistas. Ao longo dos anos, o ciberespaço também se tornou um intrincado constituinte do poder nacional. As estratégias para o desenvolvimento do ciberespaço não se limitam apenas a fins civis; pelo contrário, este domínio inscreve-se agora perfeitamente no âmbito das forças armadas e com o advento da centricidade em rede nas operações militares e da revolução nos assuntos militares, as forças armadas correm um risco elevado de ciberincidentes. A utilização integrada de meios terrestres, aéreos, marítimos e espaciais para uma maior consciência do domínio ou acesso à informação em tempo real, justifica que as forças armadas adquiram conhecimentos especializados em operações cibernéticas defensivas e ofensivas. Os países documentaram as suas estratégias cibernéticas e executaram na forma de comandos cibernéticos.

A dimensão militar viu o ciberespaço testemunhar o início de uma corrida pelo desenvolvimento e implantação de armas cibernéticas. É de ressaltar que um regime de controlo de armas, o “Acordo de Wassenaar sobre os Controlos das Exportações de Armas Convencionais, Bens e Tecnologias de Dupla Utilização” (é um regime multilateral de controlo de exportação com quarenta e dois países participantes, incluindo muitos países do antigo Pacto de Varsóvia), ampliou a sua lista de controlos em consonância com a forma como o ciberespaço alterou o actual cenário de segurança. O desenvolvimento de armas cibernéticas e o seu uso potencial contra alvos de alto valor, tem sido uma das principais preocupações de segurança dos países. As ameaças no ciberespaço são de natureza e intensidade variáveis. As empresas líderes nos sectores de energia, telecomunicações, finanças e transporte são alvos de “Ameaças Persistentes Avançadas (APTs na sigla inglesa)”. Os actores não estatais, como organizações terroristas e sindicatos

criminosos, tornaram-se especialistas em tecnologia, empregando recursos humanos para desenvolver programas nocivos. Tais ferramentas são amplamente utilizadas na prática do cibercrime. As organizações terroristas aproveitam os benefícios do ciberespaço para a propagação de ideologias, recrutamento e comunicação. O Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS; também conhecido como ISIL/IS/Daesh), por exemplo, é um dos principais utilizadores, alavancando a sua tremenda presença nas médias sociais para espalhar propaganda e recrutar simpatizantes, de todo o mundo, como combatentes. A Al-Qaeda também tem desenvolvido programas de criptografia para proteger a sua comunicação no ciberespaço. À medida que a extensão do comércio transaccionado no ciberespaço cresce, junto com a dependência da tecnologia da informação para ganhar eficiência de custos, o risco para as empresas aumenta e como a Ásia continua a crescer a sua participação no comércio global, espera-se que as ameaças de ataques


opinião 23

sexta-feira 15.11.2019

perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

cibersegurança (I)

cibernéticos aumentem proporcionalmente. Os ciberataques, como muitos dos novos desafios de segurança, são transnacionais em termos de origem e natureza, e nenhum país pode combatê-los só. Apesar das variações nos sistemas étnicos, económicos e de governação, os países asiáticos necessitam de uma sólida arquitectura de segurança para resolver as questões específicas da região geográfica onde estão inseridos, bem como as situações internacionais prejudiciais ao crescimento económico e social da Ásia. É de acreditar com a transferência do poder para a Ásia, a sua representação nos mecanismos de governação internacional e os seus contributos para a criação de um ciberespaço seguro são fundamentais para a política internacional, economia mundial e credibilidade das instituições internacionais e dos regimes de cibersegurança. As ciberameaças, na Ásia, alteraram as percepções de segurança das instituições e dos sistemas governamentais. Assim, e nesse contexto, os trabalhos apresentados por especialistas estratégicos, académicos,

especialistas em domínios e formuladores de políticas, tentam examinar uma série de questões como o ambiente de segurança cibernética global, os actores não estatais e ciberespaço, a segurança da infra-estrutura crítica e o papel dos militares na segurança cibernética. O mundo está a tornar-se cada vez mais turbulento. A imparável marcha da globalização, facilitada pelas “Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs)”, levantou muitas questões preocupantes no que respeita à manutenção da paz e da estabilidade. A cibersegurança é uma preocupação de segurança internacional. É também uma das principais inquietações para a maioria dos países, e constitui um elemento importante nas suas prioridades nacionais em matéria de segurança. A tónica é colocada na gestão das ameaças no ciberespaço que afectam todos. A principal questão que se coloca a um país, é o de saber como se defender das ocorrências cada vez maiores em caso de ciberataques. O ano de 2015 assistiu a uma série de desenvolvimentos importantes

no domínio da cibersegurança. A visita do presidente chinês aos Estados Unidos de 22 a 28 de Setembro de 2015, será lembrada por alguns comentários públicos sinceros do então presidente Obama, sobre as preocupações do seu país com o roubo “on-line” de propriedade intelectual. Os dois países estão consciente de que preocupações cibernéticas, se não resolvidas, podem criar mal-entendidos e desestabilizar laços, acordando em diálogos bilaterais sobre cibersegurança. O então presidente Obama, afirmaria que os dois governos concordaram que nem os Estados Unidos nem a China iriam conduzir ou apoiar conscientemente o roubo cibernético de propriedade intelectual, incluindo segredos comerciais ou outras informações confidenciais para retirarem vantagem comercial. O então presidente Obama, abordou ainda com o presidente chinês a questão das ameaças cibernéticas, tendo este declarado que a China se opõe fortemente e combate o roubo de segredos comerciais e ataques de pirataria informática. A reunião ocorreu no contexto de um ataque cibernético bem divulgado em Dezembro de 2014 no “Escritório dos Estados Unidos de Gestão de Pessoal (OPM na sigla inglesa)”, que resultou em uma grande violação de dados, comprometendo as impressões digitais de cinco milhões e seiscentas mil pessoas e os registos de segurança de cerca de vinte e dois milhões de pessoas. Os dois países reconheceram a segurança cibernética como um problema o que constituiu um desenvolvimento notável. Durante o mesmo ano, a China e a Rússia também assinaram um acordo abrangente sobre cibersegurança, tendo os “Grupos de Peritos Governamentais das Nações Unidas no domínio da informação e das telecomunicações no contexto da segurança internacional (UNGGE na sigla inglesa)”, apresentado o seu terceiro relatório que continha um avanço em relação ao relatório anterior e como resultado desses esforços, existe um reconhecimento crescente de que o direito internacional, particularmente a Carta das Nações Unidas, se aplica tanto ao ciberespaço como a outros domínios. O UNGGE salienta o respeito pelos princípios da igualdade soberana; a resolução de litígios internacionais por meios pacíficos; a não ameaça ou uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer país; o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais, incluindo a liberdade de expressão; e a não intervenção nos assuntos internos de outros países são alguns dos princípios que também se aplicam à segurança das TICs, ou seja, por outras palavras, o direito internacional é tecnologicamente neutro. É de considerar que uma das principais observações do relatório é que os países têm jurisdição sobre a infra-estrutura das TICs localizada no seu território. O direito internacional tem muitos aspectos, incluindo

a intervenção em autodefesa, sanções económicas contra medidas e assim por diante. Foi aberto um debate sobre se, em determinadas circunstâncias, se justifica ou não uma intervenção através de meios cibernéticos nas redes de outros países. O debate tem sido agudo, mas inconclusivo. As questões da cibersegurança são controversas, e revelam-se difíceis mesmo quando os incidentes de ciberataques, cibercriminalidade e ciberterrorismo aumentam exponencialmente. Todos os anos novos tipos de ataques são inventados e realizados. O conjunto de ferramentas dos atacantes está a expandir-se. É bem possível que os países estejam a desenvolver clandestinamente um arsenal de ferramentas de ataques cibernéticos, mesmo quando discutem a necessidade de normas aceites no ciberespaço. O desafio para os países é como defender a sua infra-estrutura crítica, militar e civil contra os ataques cibernéticos desestabilizadores. O cibercrime está a aumentar e o roubo de informações pessoais e de propriedade intelectual é desenfreado. A distinção entre intervenientes estatais e não estatais no ciberespaço está a esbater-se. Mesmo com o desenvolvimento de tecnologias de defesa activa, os atacantes estão vários passos à frente.

A maioria dos países está empenhada em implementar estratégias para defender as suas redes contra ataques cibernéticos; ao mesmo tempo, também estão a jogar com a ideia de desenvolver capacidades que desencorajariam possíveis atacantes A maioria dos países está empenhada em implementar estratégias para defender as suas redes contra ataques cibernéticos; ao mesmo tempo, também estão a jogar com a ideia de desenvolver capacidades que desencorajariam possíveis atacantes. Foram feitos esforços para desenvolver uma teoria e uma prática de “ciberdissuasão” na linha da dissuasão nuclear. Fazendo analogias com o vocabulário de controlo de armas nucleares, é de argumentar que tanto as negações quanto a punição são essenciais para dissuadir a agressão cibernética. A ideia é deixar claro ao potencial atacante que o custo da agressão cibernética superará os benefícios. Uma estratégia eficaz de dissuasão cibernética incluirá tanto a dissuasão por negação quanto a punição. A dissuasão pela negação dependerá de defesas fortes. Os esforços do atacante serão inúteis se as defesas e a resiliência, ou seja, as capacidades de recuperação, forem fortes.


Cautela com o amanhã, se não fores virtuoso hoje. Hesíodo

O

presidente da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), Chan Chak Mo afirmou ontem, na conferência de imprensa realizada após a reunião de trabalho sobre a proposta de lei da governação electrónica, que os orgãos judiciais não serão abrangidos a breve trecho, pelo plano de digitalização de serviços públicos. “O Governo disse claramente que a proposta de lei não se aplica aos orgãos judiciais porque há códigos para regulamentar esta matéria e porque existe matéria com regras muito rigorosas que têm de ser cumpridas ao nível do código penal, do codigo civil, etc.”, apontou Chan Chak Mo. Em relação à lei propriamente dita, afirmando que é chegado o momento oportuno para a sua implemen-

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Agarrados ao papel Justiça fica fora da governação electrónica

tação “junto dos serviços competentes”, o presidente da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa afirmou já estarem já acauteladas algumas medidas que visaram, não só resolver “problemas relacionados com a implementação da governação electrónica em anos anteriores”, mas também abranger vários

vectores em função dos destinatários em questão, como são cidadãos, empresas e funcionários públicos. Chan Chak Mo afirmou ainda que o grande objectivo do Governo nesta matéria, além de permitir agilizar o contacto e a transmissão de informação com os serviços públicos, é que os serviços electrónicos sejam utili-

zados pelos cidadãos para “efectuar o pagamento de qualquer serviço e receber notificações.” Sobre a expectativa de apresentação de nova proposta por parte do Governo, Chan Chak Mo não referiu nenhuma data em concreto, mas aponta para uma resolução a curto prazo até porque “o governo tem alguma pressa com esta proposta de lei.” “Não podemos controlar quando é que o Governo terá de entregar a nova versão da proposta de lei. Temos de esperar ainda pela conclusão das reuniões técnicas, mas acho que esta proposta de lei não é muito complicada”, afirmou o presidente da 2.ª Comissão Permanente daAL,

PALAVRA DO DIA

vincando não saber se a nova proposta de lei ainda chegará no decorrer de 2019.

POUPAR TEMPO

Recorde-se que Governo vai investir 100 milhões de patacas na digitalizção administrativa da RAEM e que, em Setembro deste ano, o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng referiu que o objectivo passa também por permitir que os cidadãos se inscrevam numa plataforma online para fazer upload de documentos de forma automática. “Isto vai poupar muito tempo, também aos trabalhadores dos serviços públicos, se o acto administrativo for feito de forma automática, só precisamos de verificar os dados e informações, e emitimos o documento”, comentou na altura o porta-voz do Conselho Executivo. Pedro Arede

info@hojemacau.com.mo

sexta-feira 15.11.2019

DSES Cresce número de estudantes de Macau na China

Sou Chio Fai, director dos Serviços do Ensino Superior (DSES), disse, de acordo com o jornal Ou Mun, que há cada vez mais alunos universitários de Macau a estudar na China, enquanto que o número de alunos que estudam em Macau, e estrangeiros, se mantém. Sou Chio Fai salienta que tal se deve ao facto do ensino superior no Interior da China disponibilizar mais oportunidades. O director disse ainda que 90 por cento dos finalistas prossegue os seus estudos, enquanto que mais de 80 por cento dos que estudam na China e outros países regressam a Macau para trabalhar, o que faz com que 20 por cento da população seja composta por licenciados.


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