Hoje Macau 15 MAI 2017 #3811

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MARIA DE DEUS MANSO

A expansão cultural

VITÓRIA DA MÚSICA

CHUI SAI ON | IC

EVENTOS

Mágoas de Chefe

PÁG. 5

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PGS.2-3

FESTIVAL DA EUROVISÃO

hojemacau

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

LUSA

MOP$10

SEGUNDA-FEIRA 15 DE MAIO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3811

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

BENFICA TETRACAMPEÃO

Foi bonita a festa, pá PUB

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2 ENTREVISTA

MARIA DE DEUS MANSO

Os Descobrimentos levaram Portugal pelo mundo e o mundo de regresso a Portugal, mas também colocaram todas as culturas por onde fomos passando em contacto. O império levou Macau ao Brasil, Goa a Luanda, Lisboa a Hoi An. A professora Maria de Deus Manso faz-nos uma visita guiada pela confluência cultural que se originou na expansão lusa além-mar, em particular através da influência da Companhia de Jesus nos territórios ultramarinos

“Durante muito tempo pensou-se que tudo isto estava separado, ou se ia para o Atlântico, ou se ia para o Índico; apesar de tudo ser navegável entendia-se que as coisas estavam estanques.”

“A expansão foi essencialmente cultural” Qual a importância dos jesuítas na expansão do Império Português? A Companhia de Jesus, desde a sua fundação, foi uma ordem fundamental para consolidar todo o processo de expansão e colonização portuguesa. Era uma instituição que trabalhava ao lado da Coroa. No século XVI, o Rei e a Igreja, principalmente a Companhia de Jesus, uniram-se para consolidar esse projecto. É uma ordem do período moderno, surge já com a preparação e os objectivos de partir para missão não só a nível ultramarino, como também na própria Europa. Mas no império ultramarino foi onde eles mais se destacaram. Uma das características da ordem é a mobilidade permanente, podem começar em Macau, mas partir daqui para outras áreas do império. Assim como de outras áreas para Macau. Eles não vêm, ficam e morrem aqui. Tiveram muita importância na fixação de Portugal em Macau. Foram fundamentais para a estruturação da colonização e a presença portuguesa no Oriente. Uma coisa era Macau e a sua presença aqui. Uma vez que a presença portuguesa era consentida, não tinham dificuldade em se instalarem. Outra coisa era irem até Pequim. Havia uma rejeição relativamente aos europeus, era extremamente difícil fixarem-se. A Companhia de Jesus tem a característica da adaptação; sabendo eles da dificuldade que tinham na conversão da China, optaram por se adaptarem. A missionação era extremamente difícil, passava sobretudo pelo ensino, pelos conhecimentos que tinham de matemática e astronomia. Perante isto, conseguem instalar-se na Corte, são aceites não só pelos conhecimentos, como também porque em termos visuais adaptam-se àquilo que eram os costumes e as tradições locais. Isto fez deles uma ordem com grande

sucesso. Se pensarmos em termos de expansão, havia a questão do padroado português, ou seja, a Coroa portuguesa ao conquistar tinha como obrigação missionar esses mesmos espaços.

“Os missionários não se fixam e vivem uma vida inteira numa única região. Eles circulam, assim como os mercadores, até os próprios escravos que transportam também uma cultura.” A adaptação parece uma boa cartada política por parte dos jesuítas. Claro, é óbvio. Se as autoridades portuguesas ali estiverem eles tinham facilidade em impor tanto a língua, a doutrina, como até as tradições. Embora nunca haja uma pureza, digamos assim, daquilo que se pretende que seja as sociedades. Isto é, a cultura portuguesa irá alterar-se quando chega a qualquer local, irá absorver elementos de outras culturas. Aquilo a que hoje chamamos de mestiçagem, que não é apenas biológica, é também cultural, religiosa, etc.. Mas em regiões onde não há uma conquista com poder político instituído, não há quem proteja a Igreja, eles tinham de contar com as suas próprias capacidades. Isso passaria pela própria adaptação às culturas em que se inseriam. Nas suas visitas frequentes a Macau, que vestígios vê da Companhia de Jesus pelas ruas? A cultura que hoje vemos em Macau é a de uma sociedade

SOFIA MARGARIDA MOTA

INVESTIGADORA E PROFESSORA UNIVERSITÁRIA

mista, onde há confluência de muitas culturas e uma delas é a portuguesa. Não só a língua ainda permanece, mas também a religião. O catolicismo instalou-se aqui e isso dita, certamente, tradições e comportamentos que fazem com que se crie uma identidade que separa esses convertidos ao Cristianismo da restante população. Ainda que nas primeiras gerações não fossem convertidos de fé, isto é, não estavam suficientemente preparadas para o exercício do Cristianismo, à medida que vão aceitando e convivendo com locais da Companhia, vão aprendendo a língua e a doutrina também. Essa diferença vai separar. Vemos a separação e certamente a cultura em muitas componentes, desde a maneira de vestir, à culinária, à arrumação da casa. Que exemplos destaca da adaptação dos jesuítas aos costumes locais? A questão do vestuário. Se eles aparecessem vestidos de jesuítas, todos negros, eram facilmente identificados. Não é que estivesse na cabeça das pessoas a pertença a determinada ordem, mas aquela pessoa era alguém estranho às suas culturas, era um ocidental. Regra geral havia sempre a rejeição face ao outro, de ambas as partes. Se eles não fossem aceites, não fossem inseridos nas comunidades, como é que conseguiam estabelecer um diálogo, um contacto? Era uma forma algo diplomática de agir. A adaptação, neste sentido, é uma sobrevivência, a única forma que têm de ser aceites, algo que passa pelo vestuário e a alimentação, por exemplo. O choque cultural não era apenas pela fé, pela religião em si, mas pelas consequências que o Cristianismo e a conversão poderiam trazer às populações. Um cristão podia assumir uma identidade diferente, comporta-

mentos diferentes e até afastar-se da sociedade onde estava inserido. As autoridades locais também não gostavam disso. Os cristãos assumiam alguma importância social porque, como sabemos, nalgumas sociedades a mobilidade pratica-

“O coqueiro veio da Índia. O chá veio do Oriente e ganhou muita importância. A expansão não foi só militar, não foi só económica e política, ela foi, essencialmente, cultural.”


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chineses, assim como um grande armário oriental. Como é que isto foi lá parar? Quem foram os artistas que fizeram estes Cristos e este armário? Também no Seminário de Belém o tecto da sacristia está todo decorado com motivos e flores orientais. Isto são dois elementos bem visíveis de como a arte e os artistas circulavam. Se os Cristos têm aspecto chinês não terão sido, certamente, cristãos europeus a terem feito estas peças. Também temos marfins orientais que circulavam por estas regiões. Temos também toda a fauna e flora que vai daqui para lá, que hoje é tida como brasileira. Por exemplo, o coqueiro veio da Índia. O chá veio do Oriente e ganhou muita importância. A expansão não foi só militar, não foi só económica e política, ela foi, essencialmente, cultural. À luz dos seus estudos, o que encontra nestas ruas sempre que vem a Macau? Encontro a História e Portugal. Gostaria de encontrar mais a língua portuguesa, de facto as ruas estão escritas em português, mas lamento muito que na Universidade de Macau o português não tenha sido opção. Acho que houve algum descuido relativamente à língua. Mas, nalgumas zonas de Macau, não digo nas zonas dos casinos, sinto que estou em ruas que são, efectivamente, portuguesas. Não só pelas igrejas, mas também pela calçada portuguesa, o azulejo, a Misericórdia, que era uma instituição portuguesa e que acompanhou todo o processo expansionista português.

mente não existia, como vemos por exemplo na Índia com o sistema de castas. Mas com o Cristianismo essa mobilidade poderia acontecer. Isso trouxe alguma desestruturação às sociedades onde as missões se estabeleceram. Houve uma reacção também à praxis do Cristianismo, isso torna-se notório se pensarmos numa sociedade poligâmica onde a religião se tenha instalado. Isso faz com que muitas das vezes tivesse havido perseguição e hostilidade face aos cristãos, em consequência dos comportamentos impostos às sociedades. O que entende por circularidade cultural? Durante muito tempo pensou-se que tudo isto estava separado, ou se ia para o Atlântico, ou se ia para o Índico; apesar de tudo ser nave-

gável, entendia-se que as coisas estavam estanques. Isto é, não havia comunicação entre um império vastíssimo, uma rede. Temos, de facto, uma presença oficial, mas depois temos uma presença privada que se espalha, que ultrapassa em muito aquilo que entendemos como o dito império oficial. Há uma circulação. Os missionários não se fixam e vivem uma vida inteira numa única região. Eles circulam, assim como os mercadores, até os próprios escravos que transportam também uma cultura. Não só absorvem a cultura onde se vão inserir, como eles próprios transmitem a sua cultura. Fala-se pouco da escravatura asiática, que não teve a mesma dimensão da africana, mas houve também. Essa circulação transporta pessoas, mas transporta também uma cultura.

“Nestas ruas encontro a História e Portugal. Gostaria de encontrar mais a língua portuguesa, de facto as ruas aparecem escritas em português, mas lamento muito que na Universidade de Macau não tenha sido o português opção.”

Passa pelo saber, pela língua e religião, mas também plantas, sedas, materiais de decoração, como as lacas, por exemplo. O que se sente de Macau, por exemplo, no Brasil? Há dois locais no Estado da Bahia, afastados da capital Salvador, onde a influência também chegou. A 120 quilómetros de Salvador – hoje não é longe mas no século XVII era longínquo –, situa-se Cachoeira e o Seminário de Belém, que foi construído pelos jesuítas. Aí encontramos elementos orientais. Na chamada, agora, Igreja do Carmo em Cachoeira temos cinco Cristos chineses. Sabemos que o Porto de Salvador era importantíssimo, tinha uma grande ligação com Goa e Macau, daí não ser estranho encontrarmos os enormes cristos

O que tem de especial a portugalidade que deixa tantas marcas por onde foi passando? As missões jesuítas não ficavam apenas onde estava a presença portuguesa. Levam a cultura e a língua a outras partes do globo. Se formos ao Vietname encontramos presença portuguesa, assim como Malaca, Timor e por aí fora. O projecto imperial teve uma faceta muito violenta porque impôs a cultura, que muitas vezes não foi aceite pacificamente, mas que resultou de uma conquista, ou de outros interesses económicos das autoridades locais. Se pensássemos apenas no projecto territorial, com conquista militar, com uma estrutura política similar à que tínhamos em Portugal, tudo com o objectivo apenas de fazer comércio, sem mais nenhuns contactos, não teria cá ficado o português, nem a religião, nem a arquitectura, etc.. Essa presença é, efectivamente visível em Macau. João Luz

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4 POLÍTICA

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Apostas caseiras Ensino e medicina chinesa na mira de “Uma Faixa, Uma Rota”

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Economia PME VÃO PODER PEDIR SEGUNDA VERBA DE APOIO AO GOVERNO

Uma mão mais larga

É uma medida que, em teoria, poderá beneficiar mais de 1700 empresas de Macau. O Executivo decidiu rever o sistema de empréstimos sem juros. O objectivo é ajudar a impulsionar os negócios de quem tem o dinheiro contado

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Governo anunciou que as Pequenas e Médias Empresas (PME) vão poder candidatar-se a uma segunda verba de apoio, até ao montante máximo de 600 mil patacas. A proposta foi apresentada em Conselho Executivo juntamente com outra que aumenta o valor dos empréstimos que as PME podem pedir com 70 por cento da garantia dada pelo Governo. Em 2003, o Executivo de Macau criou uma verba de apoio para as PME, isenta de juros e reembolsável, cujo valor máximo tem vindo a aumentar. Para apoiar este tipo de empresas, “na expansão contínua dos negócios”, as PME vão ter “oportunidades de acesso, pela segunda vez”, desde que o primeiro subsídio tenha sido totalmente pago (tanto do ‘Plano de Apoio a PME’ como do ‘Plano de apoio a jovens empreendedores’), a “situação operacional” do negócio seja “adequada” e não haja dívidas à RAEM.

Apesar de estar prevista a “simplificação das formalidades do pedido”, são alargadas as obrigações impostas aos beneficiários, como a apresentação semestral de documentos comprovativos da utilização da verba concedida. De acordo com informação disponibilizada pelo Conselho Executivo, há actualmente 1726 PME que preenchem os requisitos para pedir um segundo apoio. Do total de 8820 pedidos aprovados para uma primeira verba, num total de 2,5 mil milhões de patacas, apenas 3719 reembolsaram a totalidade do dinheiro, mas o director dos Serviços de Economia, Tai Kin Yip, explicou que outros estão em processo de reembolso e só 420 é que

estão efectivamente com o reembolso em atraso. Segundo os mesmos dados, a maioria dos pedidos, 32,6 por cento ou 3206 casos, corresponderam a PME na área do comércio a retalho, a quem foram concedidos 803 milhões de patacas.

DE CINCO PARA SETE

O Governo apresentou também uma proposta para aumentar o limite máximo do montante de crédito bancário concedido a cada PME e, assim, o montante da garantia de crédito prestado. Segundo a proposta, o Governo mantém em 70 por cento a percentagem de crédito bancário garantido a cada empresa – com a actualização do valor máximo do empréstimo de cinco para

Apesar de estar prevista a “simplificação das formalidades do pedido”, são alargadas as obrigações impostas aos beneficiários, como a apresentação semestral de documentos

sete milhões de patacas, a garantia sobe também para 4,9 milhões de patacas. O Executivo justificou a “optimização do plano vigente” com a “mudança do actual ambiente da RAEM, para satisfazer a procura de financiamento bancário por parte das PME”. Desde a criação deste plano, também em 2003, 563 pedidos foram aprovados para o plano de garantia de créditos a PME, num total de 1,4 mil milhões de patacas, e 66 relativos a projectos específicos (55,6 milhões de patacas). As receitas da Administração aumentaram 9,4 por cento até Março, em termos anuais homólogos, em linha com o aumento da verba arrecadada com os impostos directos cobrados sobre a indústria do jogo. Abril foi o nono mês consecutivo de subida das receitas do jogo, as quais iniciaram, em Junho de 2014, uma curva descendente, terminada em Agosto último, após 26 meses consecutivos de quedas anuais homólogas.

RRANCOU ontem a cerimónia oficial de abertura do Fórum “Uma Faixa, Uma Rota”, onde Macau está representado através de uma delegação chefiada por Chui Sai On, Chefe do Executivo. Em Macau, as expectativas de cooperação estão depositadas na área da medicina tradicional chinesa e ensino superior. Segundo o jornal Ou Mun, Frederico Ma, presidente do Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT), considerou que Macau pode apostar no desenvolvimento da medicina tradicional chinesa e que tem vantagens nessa área. Para Frederico Ma, Macau, para além de possuir laboratórios, tem especialistas nesta área, tendo sido realizados vários trabalhos ao nível da aprovação e verificação da qualidade da medicina tradicional chinesa, com cariz internacional. Contudo, o presidente do FDCT considera que esta área enfrenta problemas de integração com os restantes países que integram a política “Uma Faixa, Uma Rota”, tais como as diferenças culturais ou a tecnologia existente, o que faz com que o ambiente para o seu desenvolvimento não seja muito satisfatório. Frederico Ma defende ainda que há espaço para melhoria no sector, sobretudo ao nível da produção local e de criação de marcas. Também ao jornal Ou Mun, a presidente do Instituto de Enfermagem do Kiang Wu, Florence Van, disse que pode ser feita uma aposta na cooperação ao nível do ensino superior, com a criação de cursos focados para a política “Uma Faixa, Uma Rota” e as necessidades dos países envolvidos.

Para Florence Van, não basta apostar no comércio, é também importante abordar áreas como as artes, humanidades e educação. A presidente do instituto de enfermagem defende que o ensino superior local pode contribuir muito para a integração na política chinesa, uma vez que os cursos de turismo, medicina tradicional chinesa e enfermagem são os mais atractivos. Para melhorar a cooperação com países estrangeiros, Florence Van sugere a realização de cursos de intercâmbio de curto prazo, através dos quais os alunos e professores estrangeiros podem inteirar-se da educação de Macau.

EMPRÉSTIMOS ANUNCIADOS

Informações avançadas ontem dão conta que a China vai contribuir com 100.000 milhões de yuan adicionais para o Fundo da Rota da Seda. Nos próximos três anos, vai ser dada ajuda no valor de 60.000 milhões de yuan a países em desenvolvimento e a organizações internacionais que participem na iniciativa. Dois bancos chineses vão também oferecer empréstimos especiais de até 380.000 milhões de yuan. A delegação de Macau regressa hoje ao território. Citado por um comunicado oficial, Chui Sai On afirmou que a cooperação da RAEM no âmbito desta política irá focar-se “no fluxo de transacções comerciais, acesso ao financiamento ou assegurar a ligação entre os povos”. Os mercados dos países de língua portuguesa e do SudesteAsiático serão considerados “prioritários”. A Fundação Macau irá criar bolsas de estudo neste âmbito. O Chefe do Executivo lembrou ainda a promoção da participação dos jovens, “através da criação de bolsas de estudo e actividades de intercâmbio entre alunos do secundário de Macau”. HM


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Recrutamento CHUI SAI ON DIZ ESTAR “TRISTE” COM PROCESSO DO IC

Lágrima no canto do olho também tem de assumir a responsabilidade e vou falar com o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, para ver como é que podemos evitar que haja mais serviços com este problema”, disse Chui Sai On no Aeroporto Internacional de Macau. Citado por um comunicado oficial, o Chefe do Executivo adiantou ainda que o relatório elaborado pelo IC vai ser

encaminhado para o CCAC “para efeitos de análise”, tendo referido ainda que “o caso deve ser revisto, já que houve um longo desconhecimento dos problemas existentes”.

ATENTO AO IMOBILIÁRIO

Questionado sobre a recente medida adoptada pelo Executivo para travar a especulação imobiliária, relacionada com a queda dos rácios bancários,

“Estou muito triste. Nós temos de ter a responsabilidade de fazer bem. O facto de um serviço ter feito isso ao longo de tantos anos sem ninguém descobrir deve levar a que sejam feitas algumas mudanças.” CHUI SAI ON CHEFE DO EXECUTIVO

GCS

Momentos antes de partir para Pequim, onde participou no Fórum “Uma Faixa, Uma Rota”, Chui Sai On disse “estar triste” com o caso no Instituto Cultural, que levou à abertura de um processo disciplinar. O Chefe do Executivo referiu ainda estar atento ao mercado imobiliário

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caso do recrutamento ilegal no Instituto Cultural (IC), revelado pelo relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), deixou o Chefe do Executivo “triste”. Foi o que disse Chui Sai On, segundo a Rádio Macau, momentos antes de embarcar para Pequim, onde chefiou a delegação da RAEM participante no Fórum “Uma Faixa, Uma Rota”. “Estou muito triste. Nós temos de ter a responsabilidade de fazer bem. O facto de um serviço ter feito isso ao longo de tantos anos sem ninguém descobrir deve levar a que sejam feitas algumas mudanças. É preciso identificar onde surgiu o problema. O Governo

O

POLÍTICA

aviso é deixado pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC): a comissão de candidatura deve ser constituída em conformidade com a lei. Há interessados em concorrer às legislativas que já começaram a recolher assinaturas dos eleitores. Alguns não o fizeram da melhor maneira. O CCAC não diz quem são, nem quantos são. Limita-se a explicar que “recebeu notícias” que lhe “chamaram a atenção”. De acordo com um comunicado do órgão de investigação criminal, “algumas associações e indivíduos organizaram recentemente actividades, a diversos títulos, durante as quais comidas e bebidas foram fornecidas gratuitamente ou com descontos”. Essas ocasiões serviram para anunciar “a intenção de candidatura de determinados indivíduos ou foram disponibilizados aos participantes

Comes, bebes e assinas aqui CCAC recebeu queixas sobre recolha de assinaturas

formulários de constituição de comissão de candidatura para assinatura”. Ora, de acordo com a Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa, quem oferecer ou prometer vantagem, por si ou por intermédio de outrem, para que uma pessoa singular ou uma pessoa colectiva constitua ou não constitua comissão de candidatura seguindo determinado sentido, comete um crime de corrupção eleitoral e é punido com pena de prisão de um a oito anos, recorda o CCAC.

“Além disso, prevê-se na mesma lei que quem exigir ou aceitar os benefícios oferecidos por outrem, no sentido de constituir ou não constituir comissão de candidatura seguindo determinado sentido, é punido com pena de prisão até três anos”, escreve o comissariado.

TOLERÂNCIA ZERO

O CCAC garante que vai investigar “quaisquer denúncias ou queixas relativas à corrupção eleitoral”. Por outro lado,

Chui Sai On explicou que a deliberação foi decidida em conjunto com o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, “após um longo período de fiscalização”. O Chefe do Executivo disse aos jornalistas que “mais de 90 por cento das transacções do mercado imobiliário foram feitas com capital local”, sendo que “há mais residentes locais que adquirem mais do que uma casa”. Para Chui Sai On, uma redução dos rácios bancários “é importante do ponto de vista da segurança financeira e do desenvolvimento saudável do mercado imobiliário local”. O Chefe do Executivo promete “estar atento ao referido mercado, no sentido de recolher opiniões e de as analisar adequadamente”. Sobre as novas normas de utilização dos capacetes por parte de condutores de motociclos, Chui Sai On garantiu que as opiniões enviadas pelas associações à Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego “serão cuidadosamente analisadas”. O Chefe do Executivo defendeu que as novas normas visam garantir a segurança dos condutores, sendo que a primeira fase da execução do regulamento “dá ênfase ao apelo e não à multa”. Chui Sai On “espera através de campanhas de sensibilização, coordenar com a população, no sentido de salvaguardar a segurança dos cidadãos”, conclui o comunicado. HM

lembra que aqueles que pretendam concorrer nas próximas eleições “devem agir no cumprimento rigoroso da lei, quer na constituição da comissão de candidatura, quer nos actos eleitorais subsequentes”. O CCAC reitera que vai “combater firmemente a corrupção eleitoral e os demais actos ilegais no âmbito das eleições, insistindo nos princípios de imparcialidade e da não tolerância”. Apela ainda aos cidadãos para que apresentem denúncias dos actos ilegais ou irregulares relativos às legislativas, através da linha vermelha e da plataforma na Internet criadas para o efeito pelo CCAC e pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa.


6 SOCIEDADE

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PARISIAN AMOSTRAS CONTAMINADAS COM LEGIONELLA

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S Serviços de Saúde de Macau (SSM) detectaram valores anormais da bactéria legionella pneumophila em 10 das 78 amostras de água recolhidas do Hotel Parisian em Macau. De acordo com o comunicado enviado à comunicação social, as amostras dizem respeito às águas das torneiras das instalações sanitárias e nos balneários da piscina daquele hotel. A bactéria não foi encontrada nas piscinas, jacuzzis e fontes. As dez amostras contaminadas revelaram valores superiores ao limite de 10CFU/ml permitido. Na mesma acção foram ainda detectadas anormalidades no funcionamento do sistema de cloração da água redistribuída e insuficiência do cloro residual. Consequentemente, referem os SSM, o organismo exigiu a correcção imediata das situações em falta. A inspecção decorreu de uma notificação

do Centro de Protecção de Saúde de Hong Kong recebida no passado dia 21 de Abril, em que dos 17 casos notificados de legionella pneumophila, pelo menos três dos portadores tinham viajado para Macau durante o período de incubação da bactéria entre os meses de Janeiro a Março. Durante a investigação os SSM confirmaram que neste período, um dos portadores visitou o Hotel Parisian Macau e dois estiveram hospedados no mesmo Hotel. Ao Parisian foram ainda deixadas recomendações de procedimentos rigorosos. Em Macau, nos últimos dez anos, apenas foi registado um caso confirmado da doença dos legionários, em 2010. S.M.M.

SECTOR IMOBILIÁRIO NOVOS EMPRÉSTIMOS SUBIRAM 77 POR CENTO

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S novos empréstimos hipotecários para actividades imobiliárias aprovados pela banca local subiram 77 por cento em Março, em comparação com o mesmo mês de 2016. De acordo com as estatísticas publicadas pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM), os novos empréstimos hipotecários para actividades imobiliárias foram de 5,4 mil milhões de patacas, mais 77 por cento em termos anuais homólogos e mais 91,2 por cento relativamente ao mês de Fevereiro. Destes empréstimos, 4,8 mil milhões de patacas foram atribuídos a residentes, e apenas 597 milhões de patacas a não residentes.

Os novos empréstimos hipotecários para a habitação também subiram, totalizando em Março 4,1 mil milhões de patacas, o que representa um aumento de 39,5 por cento em termos anuais homólogos e uma subida de 59,6 por cento em termos mensais, indica a AMCM. No final de Março, o saldo bruto dos novos empréstimos para actividades imobiliárias correspondeu a 169,5 mil milhões de patacas, traduzindo um aumento anual de 1,4 por cento. O saldo bruto dos empréstimos para habitação, no valor de 182,7 mil milhões de patacas, cresceu 4,5 por cento em termos anuais homólogos.

Crime NÚMERO DE TOXICODEPENDENTES DIMINUIU EM 2016

Ajudas e punições

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URANTE a primeira sessão plenária deste ano da Comissão de Luta contra a Droga (CLD), foi anunciado o decréscimo dos consumidores de estupefacientes em 2016. No ano passado, os serviços registaram um número total de 548 toxicodependentes, dos quais 6,2 por cento eram jovens. Este número representou um decréscimo de 55,3 por cento quando comparado com o período homólogo de 2015. Hoi Va Pou, chefe do departamento de Prevenção e Tratamento da Dependência do Jogo e da Droga, acredita que esta diminuição se “deve ao trabalho de prevenção realizado na comunidade e em locais como as escolas”. A droga mais usada foi a metanfetamina, mais conhecida por “ice”, representando 35,4 por cento dos consumidores de estupefacientes. É de realçar que a percentagem de pessoas que consome “ice” tem vindo a subir. Outro dos dados avançados por Hoi Va Pou foi o local mais usado para os consumos punidos por lei. Mais de 70 por cento dos toxicodependentes consumiu drogas de forma oculta, seja em sua casa, na casa de amigos ou em quartos de hotel. No ano passado, em média, cada toxicodependente gastou em droga 7330 patacas, um valor que representa

um acréscimo de 11,8 por cento em relação a 2015.

CONSUMO CRIMINAL

Actualmente, o consumo de drogas em Macau é um crime, contrariando a tendência registada entre os países mais desenvolvidos, que passaram a tratar o problema da toxicodependência como uma doença, os toxicodependentes como doentes e não criminosos. Isso não acontece por cá; aliás, a revisão legal do início deste ano agravou a pena para os consumidores. Quando questionada sobre se Macau devia seguir esta tendência de mudança de paradigma no tratamento do problema da droga, Hoi Va Pou foi peremptória. “Em

“Em Macau, o consumo de drogas é um crime, aumentámos a pena de prisão e esperamos que, através da alteração da lei, possamos ajudar estas pessoas.” HOI VA POU CHEFE DO DEPARTAMENTO DE PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA DO JOGO E DA DROGA

Macau, o consumo de drogas é um crime, aumentámos a pena de prisão e esperamos que através da alteração da lei possamos ajudar estas pessoas.” A chefe do departamento lembrou ainda que o regime legal prevê a pena suspensa para quem avance para processo de desintoxicação. Outro dos assuntos revelados à margem da reunião da CLD foi a realização em Macau do Dia Internacional Contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas, que acontecerá entre Junho e Agosto deste ano. Outro dos eventos em destaque foi a Conferência Nacional sobre a Prevenção e Tratamento da Toxicodependência de 2017, que se realiza em Outubro em Hong Kong, que contará com os vogais da comissão. Com a meta de reduzir o consumo de droga, os serviços revelaram que pretendem reforçar as acções de sensibilização, assim como recorrer às equipas de intervenção comunitária para jovens em instituições particulares. Noutro capítulo, a CLD apresentou aos seus membros o conteúdo da última sessão das comissões de estupefacientes das Nações Unidas, onde foram apresentados dez novos tipos de substâncias sujeitas a controlo internacional, assim como dois tipos de precursores de drogas.Acomissão quer incluir estes novos estupefacientes na lista de substâncias proibidas. João Luz

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Carros abandonados, óleos no chão, peças soltas, pneus e veículos reciclados. Esta é a situação que rodeia os moradores da Ilha Verde e que, dada a falta de fiscalização, prejudica quem ali mora. Saúde e segurança pública estão em risco. A associação de moradores pede intervenção do Executivo

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Ilha Verde precisa de melhores condições para os moradores. A ideia foi deixada ontem pela Associação de Beneficência e Assistência Mútua dos Moradores do Bairro da Ilha Verde. Ao HM, a subdirectora da Associação, Chan Fong, sublinhou

Ilha Verde ASSOCIAÇÃO PEDE MELHORES CONDIÇÕES AMBIENTAIS

O cerco do lixo as más condições em que vivem os moradores daquela zona. A razão, aponta, é a ocupação de muitas áreas por veículos abandonados, pneus e peças de automóveis. A responsável diz mesmo que se trata de um caso de segurança pública: no ano passado teve lugar um acidente que envolveu a queda de pneus acumulados mas, “felizmente, não causou vítimas”, diz. De acordo com a associação os principais responsáveis pela situação são as oficinas de reparação de veículos e os depósitos de carros abandonados. Com o grande número destes espaços naquela zona, os veículos estacionados acumulam-se na via pública o que dificulta o acesso e a circulação dos peões e que pode mesmo colocar em risco a segurança pública em caso, exemplifica, de incêndio. A situação tende a piorar, afirma Chan Fong quando chove. “As peças de automóveis que se vão dispersando passam a ter condições propícias à acumulação de insectos o que vai afectar directamente a saúde pública”, refere.

Os moradores queixam-se também dos efeitos das demolições dos carros que acontecem nas sucatas da Ilha Verde. Em causa estão os resíduos de óleo que resultam do processo e o ruído que daí advém

e perturba a qualidade de vida dos residentes.

RESPONSABILIDADES IMPUTADAS

De acordo com Chan Fong, a responsabilidade de resolver a si-

Tocam os sinos na torre da igreja Milhares de fiéis saem às ruas de Macau para a procissão de Nossa Senhora de Fátima mais forte do protestantismo do que do catolicismo, apesar de ambas as igrejas serem minoritárias. “Sinto que estas cerimónias, estas liturgias, podem ajudar-me a estar mais perto de Deus e fortalecer a minha fé”, disse Freeman Leung. GCS

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ILHARES de fiéis católicos espalharam-se este sábado pelas ruas de Macau para a procissão de Nossa Senhora de Fátima, no ano em que se comemoram os 100 anos das “aparições” marianas de Fátima. Alguns participaram na iniciativa pela primeira vez. Junto à porta do local das cerimónias Freeman Leung, 26 anos, veio de Hong Kong, pela primeira vez, de propósito para a procissão: “Sou católico-apostólico. Em Hong Kong temos poucas destas actividades, por isso quis juntar-me e experienciar”. Por herança britânica há em Hong Kong uma presença

Ao contrário dos anos anteriores, quando a eucaristia e o início da procissão ocorriam na Igreja de São Domingos, este ano a cerimónia foi marcada para a Sé Catedral de Macau e pelas 18h00 já pouco espaço

havia no Largo da Sé, onde as pessoas que não couberam na igreja acompanhavam a missa através de ecrãs, algumas envergando t-shirts com a imagem de Nossa Senhora. Após a missa em três línguas (chinês, português e inglês) pelo bispo Stephen Lee, e a comunhão, quando já era noite, a imagem de Nossa Senhora de Fátima saiu da igreja, entre cânticos de Avé Maria e centenas de ecrãs de telemóveis. Em declarações à Lusa, Freeman Leung espera que a relação entre a China e o Vaticano melhore, apesar das “dificuldades” que fazem com que “o Governo [chinês] não permita que os

tuação cabe ao Governo que deve proceder a uma maior fiscalização tanto das oficinas como dos locais que tratam da destruição de carros abandonados. A subdirectora salienta ainda as expectativas dos residentes que, afirma, “aguardam a saída do regulamento que dita a fiscalização do funcionamento destas empresas”. Entretanto, lamenta que, depois de tantos anos de espera, o referido regulamento ainda não tenha data de implementação. É no entanto urgente, do ponto de vista dos moradores, que o Executivo avance com medidas capazes de criar espaços para albergar oficinas e, principalmente, depósitos de veículos de forma a que “as fontes de incómodo possam ser gradualmente afastadas das residências da Ilha Verde”. No caso dos terrenos que não pertencem ao Governo e que estão ocupados pelas empresas de reciclagem automóvel, a associação apela ao diálogo com os proprietários para que, em conjunto, se encontre uma solução. Em causa, sublinha Chan Fong, está a higiene e segurança pública. A responsável não deixou de alertar para a necessidade de preservação da colina dadas as suas características naturais e o seu património.

católicos expressem a sua fé livremente no país”. Segundo Leung, muitas outras pessoas vieram a Macau para a ocasião, notando um número significativo dos que falam mandarim. “Acho que querem experienciar isto”, apontou.

SUBIR À PENHA

SOCIEDADE

Com o marido e a filha de três anos, Jane Leung, de 34 anos, contou que esta foi a primeira vez que foi à procissão desde que foi mãe. “Este ano é especial, por causa do centenário. É importante participar num evento desta natureza. É tão impressionante. Temos de copiar o comportamento da Virgem Maria e a sua paixão”, comentou. A procissão seguiu pela cidade até à igreja da Penha, onde só chegou pelas 21h00. O dia quente e húmido não

Sofia Mota com Victor Ng info@hojemacau.com.mo

impediu milhares de pessoas de subir até à Ermida da Penha, acompanhadas de orações e cânticos que ecoavam pelos altifalantes espalhados pela cidade. Depois de “ter ficado a meio caminho” no ano passado, a portuguesa Sílvia Carimbo, de 44 anos, desta vez acompanhou a procissão até ao fim. “Noto muito mais gente este ano, acredito que por comemoração do centenário tenham aparecido muito mais pessoas na procissão”, disse. Segundo indicou a polícia à Lusa, três mil pessoas estiveram na procissão, mas entre os participantes esse número era tido como muito conservador. Macau tem quase 645 mil pessoas, com a comunidade católica estimada em cerca de 30 mil. A primeira procissão de Nossa Senhora de Fátima aconteceu em 1929. HM/LUSA


8 Festival Eurovisão da Canção SALVADOR SOBRAL FAZ HISTÓRIA

EVENTOS Salvador Sobral conseguiu a primeira vitória portuguesa no Festival Eurovisão da Canção com recordes de pontuação. O cantor interpretou “Amar pelos dois” e conquistou a Europa com uma postura real e música sentida

“E

U quero que o Salvador Sobral ganhe o festival da Eurovisão. Ele é bom demais”, foram as palavras de Caetano Veloso num vídeo que publicou no Twitter enquanto via, no passado sábado, o Festival Eurovisão da Canção. Salvador Sobral ganhou, e conseguiu a primeira vitória de Portugal no festival europeu. Mais tarde, dizia, que estas palavras foram mais importantes do que galardão. Salvador Sobral cantou em português, “Amar pelos dois”, com letra e música de Luísa Sobral, sua irmã, e obteve 758 pontos na votação combinada dos júris nacionais e do público, na final do festival disputada por 26 países em Kiev, na Ucrânia. Após a vitória, Sobral sublinhou que a “música não é fogo-de-artifício, é sentimento” e que “vivemos num mundo de música descartável”, apelando para uma mudança. “Vivemos num mundo de música descartável, de música ‘fast-food’ sem qualquer conteúdo. Isto pode

ser uma vitória da música, das pessoas que fazem música que de facto significa alguma coisa. A música não é fogo-de-artifício, é sentimento. Vamos tentar mudar isto. É altura de trazer a música de volta, que é o que verdadeiramente interessa”, disse nas primeiras declarações após a vitória. Mais tarde, em declarações à RTP, Salvador Sobral sublinhou tratar-se de “uma boa vitória também para a música no geral”, apesar de saber “que estas coisas são muito efémeras, estes concursos, amanhã já ninguém se lembra”. “O importante é continuar a fazer música, mas sinto que é um bom passo que as pessoas tenham gostado desta música, que tem tanto conteúdo, emocional, lírico, melódico, acho que isto pode ajudar de alguma maneira, se calhar até nos anos próximos a Europa a trazer músicas com um bocadinho mais de significado a todos os níveis”, afirmou o cantor. Questionado pelo apresentador José Carlos Malato sobre se esta vitória significa a entrada do cantor na história, Sobral disse não querer pensar nisso, recordando a digressão que tem agendada para os próximos meses, com concertos a partir do próximo sábado em Marco de Canavezes, seguindo-se o Cartaxo (26 de Maio) e Ovar (27 de Maio), antes de prosseguir a 10 de Junho em Ílhavo com datas que continuam até Agosto.

POLITICAMENTE INCORRECTO

Salvador Sobral, face a uma pergunta sobre o apelo que fez de apoio aos refugiados na conferência de imprensa que se seguiu à primeira meia-final, disse não pretender acrescentar nada ao que já havia afirmado, mas realçou que transmitiu uma mensagem sobre os refugiados por acreditar ser o maior problema com que a Europa se confronta actualmente, sem querer ser político. “Recebemos um e-mail da organização a dizer que não

podia continuar a usar aquela camisola [que dizia ‘SOS Refugiados’]”, explicou, por não serem permitidas mensagens políticas ou comerciais: “Pensei que era estranho. E se vestir uma camisola da Adidas, é uma mensagem comercial? Era apenas humanitária. Já disse tudo o que tinha a dizer, não penso que deva apertar o mesmo botão outra vez”. Sobral, que disse nunca ter escrito uma canção com o

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Compilação de entrevistas de Maria João Seixas a várias personalidades femininas de destaque, tais como: Ana Hatherly, Ana Luísa Amaral, Eduarda Chiote, Helga Correia, Hélia Correia, Inês Pedrosa, Lídia Jorge, Luísa Costa Gomes, Maria Andresen, Maria Isabel Barrento, Maria do Rosário Pedreira, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Patrícia Reis.

OS TRANSPARENTES • Ondjaki

propósito de passar na rádio, frisou que a sua vida não vai mudar em nada e que vai prosseguir com a digressão prevista para este Verão. “Nunca quis saber dos votos, só quis cantar uma canção bonita como ela é”, declarou. Durante a conferência de imprensa, o supervisor executivo da União Europeia de Radiodifusão, Jon Ola Sand, enalteceu o trabalho da organização local em Kiev e disse que a preparação para 2018,

em Portugal, começa “já na segunda-feira”.

O INQUIETO

Salvador Sobral publicou “Excuse me”, o seu disco de estreia, há um ano, cruzando referências de uma vida, que provam o seu modo inquieto de viver a música, do jazz de Chet Baker aos clássicos brasileiros de Dorival Caymmi. Tinha 26 anos, era um desconhecido, não mais do que o irmão de Luísa Sobral,

e um rosto perdido na memória de edições de concursos de talentos vocais, há muito desaparecidas. O cantor nasceu em Lisboa, em 1989, ouvia música desde criança e, numa entrevista recente ao El País, recordou as viagens em família, as canções partilhadas com os pais, dos Beatles, dos Genesis, de Simon & Garfunkel e John Lennon, sobretudo clássicos dos anos dos anos 1960/70, e as harmonias feitas com a irmã.

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Ondjaki sempre colocou Angola, e em particular Luanda, de onde é natural, no centro da sua escrita. Com o presente romance, de novo aparece Luanda - a Luanda atual do pós-guerra, das especificidades do seu regime democrático, do «progresso», dos grandes negócios, do «desenrasca» - como pano de fundo de uma história que é um prodígio da imaginação e um retrato social de uma riqueza surpreendente. Combinando com rara mestria os registos lírico, humorístico e sarcástico, os transparentes dá vida a uma vasta galeria de personagens onde encontramos todos os grupos sociais, intercalando magníficos diálogos com sugestivas descrições da cidade degradada e moderna.


9 hoje macau segunda-feira 15.5.2017

EVENTOS

Uma instalação viva Bambu nas margens do Lago Sai Van

E

Menino de ouro “Vivemos num mundo de música descartável, de música ‘fast-food’ sem qualquer conteúdo. Isto pode ser uma vitória da música, das pessoas que fazem música que de facto significa alguma coisa. A música não é fogo-de-artifício, é sentimento. Vamos tentar mudar isto.” SALVADOR SOBRAL Dedicou-se a um curso de Psicologia e a um Erasmus em Maiorca. Para ganhar dinheiro, começou a cantar em bares. E foi aí que tudo mudou. Descobriu Chet Baker, através de um guitarrista argentino com quem cantava: “Deslumbrou-me. Parecia uma angústia misturada com esperança, com melancolia, tudo numa só pessoa. Identifiquei-me totalmente com ele e com o seu estilo”, disse na entrevista ao jornal espanhol El País, publicada no passado dia 16 Abril.

O curso de Psicologia deu lugar ao de Música, e Maiorca a Barcelona, onde, em 2014, começou a actuar com a banda Noko Woi, com quem participou no festival Sonar. Um ano mais tarde seria uma voz na programação dos festivais Mexefest e, no seguinte, entraria no Cool Jazz. Entre a vitória em Lisboa e a vitória em Kiev, a actuação de Salvador Sobral teve impacto nos meios internacionais de comunicação. Surgiu na TVE a cantar com o concorrente espanhol, foi entrevistado pelo

El País, chegou às páginas do El Mundo, do Daily Express, do The Sun. A agência France Presse definiu-o como “o ‘crooner’ português de coração demasiado grande”. “Sou um inquieto musical, preciso de ter muitos projectos em simultâneo. Estou a preparar um disco de boleros em jazz. É uma dor de cabeça ter tantas facetas. Acabarei por ter tantos heterónimos como Fernando Pessoa”, garantiu ao El País.

LAPSE é a estrutura de bambu que vai estar exposta no Lago Sai Van de 22 a 27 deste mês. A iniciativa materializa em escala real um projecto dos alunos do terceiro ano do curso de arquitectura da Universidade de S. José (USJ). Ao longo do ano lectivo, os estudantes desenvolvem uma ideia para a construção de um pavilhão em bambu e, no final, um júri constituído por professores da instituição e convidados de Hong Kong elege o melhor trabalho que se materializa nas margens do lago Sai Van. O pavilhão Elapse partiu de uma ideia de movimento inspirada no filme “American Beauty”. “Este pavilhão nasceu de uma relação poética que o grupo de alunos arranjou e que tem como mote uma imagem do filme “American Beauty” em que há uma cena de um saco a voar dirigido pelo vento”, explica ao HM João Ó, o professor responsável pela edição de 2017 da iniciativa. “Os alunos pegaram na imagem e a própria modelação deste pavilhão sugere esse movimento que é fluido no ar, mas que se encontra geometricamente ligado. Há uma sensação de animação por imagem”. O resultado é que cada momento do movimento está, de alguma forma, expresso na construção. De modo a criar um momento único que marque a inauguração da instalação, a iniciativa conta com a vida dada por uma projecção de vídeo mapping e pela interatividade de uma performance de dança. “O video mapping e a dança são os elementos que lhe vão dar movimento”, diz João Ó. A ideia tem como objectivo, não só dar dinâmica ao objecto que por si é estático, mas também “atrair o público e fazer um pouco a interacção no que respeita ao design de eventos”, conta o professor. De acordo com João Ó, não basta colocar uma escultura num espaço, é também necessário uma visão mais alargada dos media contemporâneos e do que se pode fazer para intensificar o próprio evento. O vídeo está a cargo do Neba studio e a Soda-City Experimental Workshop Arts Association vão executar a performance. Desta forma, o público pode também assistir a dois modos diferentes de criar interactividade com um objecto estático, sendo que uma tem por base a luz e a outra, a expressão corporal. “É uma forma de dar vida, animar e criar um momento singular”, aponta o responsável. Por outro lado, “ao aplicar técnicas avançadas

de design digital aos materiais de construção vernaculares, o pavilhão pretende ressoar com a cultura de construção histórica de Macau e a sua paisagem urbana contemporânea.”

DO ESTUDO AO REAL

A iniciativa já se realiza há seis anos e faz parte de um módulo do terceiro ano da disciplina de arquitectura da universidade de S. José. O objectivo do módulo em que é ministrada é a produção final de um pavilhão feito com o material vernacular que é o bambu. A importância do bambu é clara para João Ó. “O bambu é um material autêntico da região do sul da Ásia que se utiliza principalmente na industria da construção”, diz. Com a sua utilização académica, o também arquitecto João Ó considera que é também uma forma de prolongar e propagar este método tradicional que tende cada vez mais a ficar extinto, nomeadamente em Macau e Hong Kong onde era muito utilizado tanto na construção dos andaimes da construção civil como dos pavilhões temporários das óperas chinesas. “Do que tenho visto, a utilização do bambu nesta iniciativa foi a forma que a USJ encontrou para prolongar este conhecimento associado ao bambu e continuar a sua divulgação junto da população e para os alunos”, refere. No que respeita ao empenho dos alunos, a motivação é clara até porque “permite que tenham um lado mais prático do curso que estão a finalizar.” Para João Ó, este é o momento em os projectos saem do papel. “O que acontece na disciplina de arquitectura é que temos muitas vezes a maqueta e o desenho técnico, mas, neste caso, temos a construção e uma ideia formulada pelos próprios alunos à escala de um para um, ou seja, um modelo real”, explica. A concretização de uma ideia é, considera, além de útil, muito motivadora para os alunos porque há uma exposição do trabalho dos estudantes junto da comunidade local. O segundo lugar do concurso efectuado no mesmo módulo vai estar exposto na galeria da Creative Macau. A mostra integra a exposição geral “On the Waterfront”. A ideia, à semelhança das edições anteriores, é mostrar o trabalho feito pelos alunos do terceiro ano. O nome nasce da relação que Macau tem com a água. Sofia Margarida Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


10 CHINA

hoje macau segunda-feira 15.5.2017

O

presidente do Banco Mundial (BM) e a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiram ontem a China para as dificuldades do plano de investimentos em infra-estruturas que Pequim promove sob o epíteto das Novas Rotas da Seda. Apesar de Jim Yong Kim e Christine Lagarde manifestarem apoio à iniciativa impulsionada pela China, designada de “Uma Faixa, Uma Rota” – “versão simplificada de “Faixa Económica da Rota da Seda e da Rota Marítima da Seda para o Século XXI” -, os líderes dos dois organismos multilaterais advertiram para os desafios em cumpri-la, durante a abertura do fórum internacional subordinado ao ambicioso projecto, que decorre até esta segunda-feira com a presença de líderes de 29 países. Para garantir o êxito das Novas Rotas da Seda, “o investimento estimado precisará de ser grande”, afirmou o presidente do BM, para quem será necessário criar mecanismos de apoio dependendo do grau de desenvolvimento que tenham os países nos quais será feito o investimento, além de mecanismos financeiros “inovadores”. As décadas de experiência do Banco Mundial sugerem ainda que a “distribuição de riscos” será fundamental, sublinhou Kim, isto numa altura em que vários especialistas advertem para a possibilidade de a China estar a apostar em iniciativas com base em critérios políticos e não segundo a sua rentabilidade. Apesar das dificuldades, o presidente do Banco Mundial expressou o seu total apoio ao enorme plano desenhado por Pequim, descrevendo-o como “um ambicioso esforço e sem precedentes para iluminar a Ásia”.

Rota da Seda BANCO MUNDIAL E FMI ADVERTEM PEQUIM PARA DIFICULDADES

Cuidado com os obstáculos

“Cumprir com esta promessa não vai ser tarefa fácil, mas se for levada a cabo, e bem realizada, pode trazer enormes benefícios”, afirmou, por seu lado, a directora-geral do FMI. Lagarde defendeu o investimento em infra-estruturas de “grande qualidade”, que respeitem o meio ambiente e que melhorem as ligações de países agora mais isolados com as cadeias de abas-

tecimento globais. A iniciativa poderá fortalecer a cooperação económica e “definitivamente” poderá ajudar a impulsionar o comércio e facilitará a distribuição de benefícios de uma forma mais ampla, observou a directora-geral do FMI.

ANÚNCIO PRESIDENCIAL

Xi Jinping anunciou ontem milhares de milhões de dólares para projectos

Apesar das dificuldades, o presidente do Banco Mundial expressou o seu total apoio ao enorme plano desenhado por Pequim, descrevendo-o como “um ambicioso esforço e sem precedentes para iluminar a Ásia”

que integrem a iniciativa Novas Rotas da Seda, com a qual Pequim pretende cimentar as suas relações comerciais na Ásia, Europa e África. O Presidente chinês fez o anúncio diante de líderes de cerca de 30 países durante o discurso de abertura do fórum de cooperação internacional “Uma Faixa, Uma Rota”, onde Portugal se faz representar pelo secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira. A China vai contribuir com 100.000 milhões de yuan adicionais para o Fundo da Rota da Seda - montado em 2014 para financiar projectos de infra-estruturas - e providenciar ajuda, nos próximos três anos, no valor de 60.000 milhões de yuan a países em desenvolvimento e a organizações

internacionais que participem na iniciativa. Dois bancos chineses vão também oferecer empréstimos especiais de até 380.000 milhões de yuan para apoiar “Uma Faixa, Uma Rota”. Xi idealizou este plano internacional de infra-estruturas durante uma visita oficial à Ásia Central em 2013, ambicionando com este projecto simbolicamente reavivar a antiga Rota da Seda, o corredor económico que uniu o Oriente o Ocidente. Até agora, a iniciativa conquistou o apoio por parte de mais de uma centena de países e organizações internacionais.

PREOCUPAÇÃO APÓS DISPARO DE MÍSSIL NORTE-COREANO

PLANO PARA CAPTURAR ASTERÓIDE

A

O

China e a Rússia estão “preocupadas com a escalada de tensão” na península coreana, após o lançamento de um míssil pela Coreia do Norte em violação das resoluções da ONU, afirmou ontem o Kremlin. O Presidente russo, Vladimir Putin, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, “discutiram em detalhe a situação na península coreana” durante um encontro, em Pequim, e “as duas partes exprimiram a sua preocupação para com uma escalada de tensão”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, aos jornalistas. A Coreia do Norte levou ontem a cabo um novo teste de míssil, a partir da sua base de Kusong, a norte de Pyongyang.

As autoridades sul-coreanas indicaram que o míssil, disparado às 5:27 percorreu cerca de 700 quilómetros antes de cair no Mar do Japão, pelo que o ensaio terá sido bem-sucedido, considerando tratar-se de um míssil balístico, apesar de se continuar a proceder à análise dos detalhes do lançamento para determinar o tipo de projéctil em causa. A China já tinha apelado à contenção, reiterando a sua oposição às violações das resoluções do Conselho de Segurança da ONU por parte da Coreia do Norte, num comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. “Todas as partes envolvidas devem exercer contenção e abster-se de aumentar a tensão na região”,

afirmou, poucas horas depois do lançamento do míssil. A Casa Branca, por seu turno, apelou à adopção de sanções “muito mais fortes” contra o regime de Pyongyang.

programa espacial chinês estuda lançar uma missão que “capture” um asteróide e o coloque na órbita da Lua, visando explorar os seus minerais e metais ou até usá-lo como estação permanente, avançou o South China Morning Post. Citado pelo jornal de Hong Kong, o chefe do programa chinês de exploração lunar, Ye Peijian, assinalou que, até 2020, a China lançará as suas primeiras missões com destino a asteróides, corpos espaciais nos quais também a norte-americana NASA está interessada, pelos possíveis usos na mineração ou na agricultura. Ye sublinhou que muitos dos asteróides presentes no Sistema Solar, alguns relativamente perto da Terra, contêm uma alta concen-

tração de metais preciosos, e ainda que por agora a sua exploração seja uma missão de alto risco, poderá a longo prazo ser muito rentável. O plano chinês é “capturar” um asteróide, que começaria com a aterragem de uma nave no corpo celeste, para depois fixar-se a este. A nave estaria equipada com poderosos motores, com os q uais poderia arrastá-lo até à órbita da Lua, um plano que exigirá quarenta anos de investigação, segundo Ye. Em Março passado, a imprensa oficial chinesa noticiou que o programa espacial chinês planeia enviar sondas espaciais para estudar os movimentos de três asteróides.


11 hoje macau segunda-feira 15.5.2017

E

M Macau não há uma rotunda com o nome do Marquês de Pombal, mas a festa pela celebração da quarta vitória consecutiva do Sport Lisboa e Benfica (SLB) em mais um campeonato nacional de futebol não deixou de se fazer em vários locais. O bar Roadhouse foi um dos espaços que juntou muitos adeptos, que festejaram pela noite dentro. Santos Pinto, proprietário do restaurante O Santos, não foi para a rua, mas festejou a vitória do clube do seu coração em casa, com a filha. “A minha filha pediu-me para ver o jogo em casa com ela, e foi aí que festejei. E ela aproveitou para ver o resto do festival [da Eurovisão], mas eu já não tive forças para festejar. Foi fantástico”, contou ao HM. O Benfica conquistou no sábado o 36.º título de campeão nacional de futebol da sua história, o quarto consecutivo, ao vencer na recepção ao Vitória de Guimarães, por 5-0, em jogo da 33.ª e penúltima jornada da I Liga, contabilizando 81 pontos, mais oito do que o FC Porto, que contava no sábado com menos um jogo. Santos Pinto assume ter ficado “super feliz”, mas estava com receio de que algo pudesse não correr bem durante os 90 minutos de jogo. “Estava sempre com aquela dúvida, se tudo corria bem ou não, mas graças a Deus correu bem. Estava muito confiante. Gosto muito do Rui Vitória, o presidente nem se fala, e gosto muito da equipa que o Benfica tem.”

Benfica TETRACAMPEONATO CELEBROU-SE EM MACAU

O deputado José Pereira Coutinho foi outro dos adeptos que acompanhou a vitória do clube lisboeta à distância. “Fiquei muito contente. Sou adepto do clube desde que o meu pai me levou ao Estádio da Luz, em 1964”, lembrou Coutinho, que frisou ainda o facto da vitória benfiquista se ter feito na mesma altura da ida do Papa Francisco a Portugal e da vitória de Salvador Sobral no Festival da Eurovisão. “Agora só falta o [José] Mourinho ganhar a Liga Europa ao Ajax”, brincou.

JANTAR A CAMINHO

Santos Pinto já tem tudo pensado para a habitual celebração na Rua do Cunha, só falta acertar a data com a direcção do Benfica de Macau, encabeçada por Duarte Alves. Até ao fecho da edição, não foi possível obter uma reacção do dirigente local. “Vou avisar toda a malta benfiquista de Macau para nos juntarmos na Rua do Cunha para festejar o nosso tetracampeonato. Espero mais pessoas [em relação ao ano passado”, apontou Santos Pinto. “De certeza que não vai faltar muito tempo. Já falei com o Benfica de Macau, para ver qual é o calendário deles, para ver se

LUSA

Marquês a Oriente

nos conseguimos juntar todos. Os tetracampeões de cá e de lá”, disse. Mesmo na Taipa, o espírito sentido nas ruas de Lisboa, no passado sábado, vai manter-se.

“Estava muito confiante. Gosto muito do Rui Vitória, o presidente nem se fala, e gosto muito da equipa que o Benfica tem.” SANTOS PINTO PROPRIETÁRIO DO RESTAURANTE O SANTOS

“Aqui a praça do Marquês de Pombal na Rua do Cunha vai estar cheia de gente, vai ser uma invasão benfiquista.” Santos Pinto já está a contar com a chamada dobradinha, ou seja, que o Benfica vença também a Taça de Portugal. E até conta com mais um ano de campeonato ganho. “Estou à espera, sem dúvida. Perdemos com o Guimarães a final da taça, mas este ano espero bem que não. Vamos ganhar este ano a dobradinha. Estamos a caminho do penta. Dizem-me que não tenho mais espaço para guardar cachecóis, mas ainda tenho”, ironizou.

VITÓRIA DE TODOS

O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, alargou a todos os adep-

tos encarnados a responsabilidade pela conquista do tetracampeonato de futebol, realçando a ambição de continuar a fazer história. “Dizem que eu sou o pai do ‘tetra’, mas o pai do ‘tetra’ é o Benfica, somos todos nós. Agradeço-vos profundamente por todo o apoio que nos deram, aos jogadores, aos treinadores, a toda a estrutura profissional do Benfica, pela oportunidade que nos deram de estarmos hoje aqui”, afirmou Luís Filipe Vieira, na praça do Marquês de Pombal, em Lisboa, citado pela agência Lusa. Dirigindo-se aos milhares de adeptos benfiquistas reunidos neste ponto central da capital portuguesa, o líder do emblema das ‘águias’ reconheceu a satisfação e apontou ao futuro. “Estamos todos felizes, hoje fizemos história, mas queremos continuar a fazer história. Todos juntos vamos sempre conseguir concretizar os nossos sonhos e os nossos objectivos. Viva o Benfica!”, rematou Vieira. Já o treinador do clube, Rui Vitória, considerou que os seus jogadores fizeram uma história que ninguém esquecerá. Vitória falou que o Benfica está “a viver um momento único”. “Foram 10 meses de trabalho árduo, com estes grandes jogadores. Foram nove meses em primeiro lugar, foi uma luta constante para termos este ‘tetra’. Hoje estou orgulhoso, satisfeito, realizado, por uma vitória que jamais esqueceremos. Sintam o privilégio de viver esta história”, disse. O treinador ‘encarnado’ lembrou outras gerações de “enormes jogadores” que ficaram pelo tricampeonato.

LUSA

A quarta vitória consecutiva no campeonato português de futebol pelo Sport Lisboa e Benfica celebrou-se este fim-de-semana em Macau. Santos Pinto, proprietário do restaurante O Santos, vai realizar o habitual jantar da celebração, já a pensar no pentacampeonato. “Ainda tenho espaço para mais cachecóis”, assegura

DESPORTO

“Fiquei muito contente. Sou adepto do clube desde que o meu pai me levou ao Estádio da Luz, em 1964.” JOSÉ PEREIRA COUTINHO DEPUTADO “O ‘tetra’ fica com esta equipa e fica connosco, que temos a possibilidade de viver esta história. Nunca mais nos vamos esquecer desta noite, deste momento. Podemos contar a netos, filhos. É único no Benfica e nós fomos os primeiros”, afirmou. Rui Vitória terminou dando “parabéns aos jogadores, a todos os que directamente trabalharam” com a equipa do Benfica e “a todos vós que encheram o estádio” todas as jornadas. A.S.S./LUSA


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hoje macau segunda-feira 15.5.2017


h ZHANG

Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração

ARTES, LETRAS E IDEIAS

hoje macau segunda-feira 15.5.2017

YANYUAN «Lidai Ming Hua Ji»

Relação das Pinturas Notáveis Através da História As cinco classes que estabelecemos em cima (as que existem por si próprias, as divinas, maravilhosas, finamente executadas, e feitas com cuidado e precisão) compreendem os Seis Princípios1, e quantidades de coisas maravilhosas podem ser aqui reunidas. E mesmo entre elas é possível distinguir centenas de diferentes graus; quem pode enumera-los todos? Aqueles que não têm um espírito ambicioso, grande conhecimento, boa disposição e um coração bom, como podem discutir e compreender a pintura? O artesão que quiser fazer bem o seu trabalho deve primeiro afiar os seus utensílios2. Destes utensílios para o pintor salientam-se: as sedas de Shandong (ji wen), a seda de Wu, a seda branca (bin si), a seda parecida com nevoeiro (wu xiao), que são finas e brilhantes, apertadas e delicadas e maravilhosamente tecidas3. Das cores: a cor vermelha do poço de Wuling (Hunan), a cor de terra de Mocuo (Sichuan), o azul celeste de Yuejin (Sichuan), o azul forte de Wei (Henan), o azul de malaquite de Wuchang (Hubei), o belo branco de zinco de Shu (Sichuan), a cor de pewter (vermelho «sangue de boi») de Shixing (Guangdong), etc.

1 - Os Seis Princípios (huihua liufa) de Xie He (activo . 500), contidos no seu tratado Guhua Pinlu, Memória e classificação dos pintores antigos, cujo primeiro é: Ritmo Espiritual (ou Vibração de Vitalidade) e Movimento de Vida, indispensável à transmissão do Espírito presente na Natureza e não apenas a plasticidade da Forma. 2 - Conversações de Confúcio, Livro XV, 9: «Zigong pergunta como praticar o ren. O Mestre diz: O artesão que quer aperfeiçoar-se na sua arte deve primeiro afiar os instrumentos. Onde quer que residas, escolhe os melhores ministros para superiores e os homens nobres de maior ren para amigos.» (Conversações de Confúcio, Editorial Estampa, Lisboa, 1991,p.155)

3 - A seda foi maioritariamente usada como suporte até à dinastia Song, (9601279) quando se generaliza o uso do papel, material muito mais absorvente que permite o deslizar mais livre do pincel e é por isso mais adequado à execução espontânea do chamado «traço único de pincel», a ambição dos pintores de cultura. No entanto mesmo nessa altura, uma pintura que será influente na História da pintura como «Primavera Precoce» de Guo Xi (depois de 1000-1090) datada de 1072, ainda é feita sobre seda, a superfície preferida pelos pintores da corte dos Song. (Ver, por exemplo, Craig Clunas, Art in China, Oxford University Press, New York, 1997, p.60, 61)

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14 (F)UTILIDADES TEMPO

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AGUACEIROS

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente

MIN

22

MAX

26

HUM

80-98%

EURO

8.77

BAHT

1.16

RODEADO POR SAXOFONES

EXPOSIÇÃO | “PINTURAS A ÓLEO” DE LUK TIN CHEE Clube Militar | Até 16/5 EXPOSIÇÃO “AMOR POR MACAU” DE LEE KUNG KIM Museu de Arte de Macau | Até 9/7 EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017) EXPOSIÇÃO | “TENTATIVE NOTEBOOK WORKS BY RUI RASQUINHO” Art for All Society, Jardim das Artes | Até 14/06

O CARTOON STEPH

SUDOKU

DE

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 35

PROBLEMA 36

UM LIVRO HOJE

C I N E M A

YUAN

AQUI HÁ GATO

EXPOSIÇÃO DE AGUARELAS DE CHU JIAN & HERMAN PEKEL Fundação Rui Cunha | Até 25/5

Cineteatro

0.23

As ruas de Macau são artérias imprevisíveis, onde o imponderável perde significado por ser tão familiar. Há dias em que os passos dos humanos são marcados pelo compasso buliçoso de contrabaixos, com pratos de choque a tinir batimentos cardíacos de metal, onde o ritmo dobra esquinas. Sem razão aparente, ouve-se jazz e no ar a poluição é combatida pelo veludo dos saxofones. Sempre um lamento apaziguador, apesar de ser selvagem a escapar para escalas de agudos. Os humanos andam pelas ruas impelidos por bebop, embalados na velocidade de Dizzy Gillespie e Bird. As pessoas atravessam as ruas como pequenos pelotões de Mingus e a cidade torna-se sonho de negros a percorrerem avenidas largas até à obscuridade do Bronx, em busca de caldos holísticos e seios acolhedores. O jazz arremessa os humanos numa alucinação quente, faz palpitar as pedras da calçada exclamando a ubiquidade de Miles e Coltrane. Não sei quem se lembrou de espalhar colunas pela cidade a debitar bebop, mas o convite à acidente pulsão está lá, em cada nota rápida, na explosão da tarola da bateria, nos dedos que estalam Nova Orleães. É jasmim que sai das colunas, verde a caminhar para o negro, suave a puxar ao agreste, como um céu cinzento que, subitamente, se torna num tipo de azul. Pu Yi

“QUEM AMA, ODEIA” | SILVINA OCAMPO E ADOLFO BIOY CASARES

Humberto Huberman procura repouso num hotel isolado, junto ao mar. Rapidamente descobre que se trata de um desejo impossível. Há uma estranha teia de relações entre os hóspedes de Bosque del Mar, um deles é assassinado e outro desaparece. E vem uma tempestade de vento e areia que os deixa a todos isolados durante os quatro dias que dura este livro, uma delícia da literatura do séc. XX. “Quem Ama, Odeia” foi escrito a quatro mãos por um casal único, Silvina Ocampo e Adolfo Bioy Casares. Leitura obrigatória. Isabel Castro

Alien: Covenant SALA 1

ALIEN: COVENANT [C] Fime de: Ridley Scott Com: Michael Fassbender, Katherine Waterston 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2

KING ARTHUR: LEGEND OF THE SWORD [C] Fime de: Guy Ritchie Com: Charlie Hunnam, Jude Law, Berges-Frisbey, Eric Bana 14.30, 16.45,19.15 21.30

SALA 3

29+1[B] Fime de: Kearen Pang Com: Chrissie Chau, Joyce Cheng, Ben Yeung, Babyjohn 14.30, 16.30, 21.30 SALA 3

GIFTED [B] Fime de: Marc Webb Com: Chris Evans, Octavia Spencer, Mckenna Grace 19.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; Anabela Canas; Amélia Vieira; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; João Paulo Cotrim; João Maria Pegado; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Manuel Afonso Costa; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fa Seong; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


15 hoje macau segunda-feira 15.5.2017

OPINIÃO

dissonâncias

RUI FLORES

E as pessoas?

N

INGUÉM consegue ficar indiferente à Coreia do Norte. A ideia de que, em 2017, na era da comunicação instantânea, um Estado mantém-se à parte de todos os outros, fechado do mundo, sem acesso à internet, sem uma rede de telecomunicações internacionais, concentrado sobre si próprio e o objectivo estratégico de ter poderio nuclear é fascinante, quase voyeurista. Quero saber – e creio que não estou só nessa demanda –, porque se sabe demasiado pouco. Quero saber como vivem estes quase 10 milhões de pessoas, do que vivem, o que aprendem na escola, com quem aprenderam a bater palmas de uma maneira tão característica e se juntam aos milhares nas principais praças do país para publicamente celebrar o seu “líder respeitado” Kim Jung-un. Vem tudo isto a propósito de um filme que vi recentemente graças ao Netflix, esse serviço maravilhoso de partilha de séries de televisão e filmes que nos permite ver no computador ou no telefone tudo e mais alguma coisa. (Habituei-me a usar este tipo de tecnologia quando trabalhava na República Centro-Africana. Não logrando aceder em Bangui a uma boa livraria e às novidades editoriais, mundanidades de uma qualquer outra capital mundial; nem podendo tão-pouco comprá-las à distância – digamos que a RCA é off limits para a Amazon –, passei a ler livros electrónicos, os quais descarregava a qualquer hora e de qualquer lugar, bastando para isso estar ligado à internet. O upgrade para o Netflix foi como que uma consequência natural – admitamos a imagem –, experimentada, por exemplo, pelo viajante aéreo habitual, quando é promovido do cartão prateado para o dourado.) Pois vi há dias Under the Sun (2015), do russo Vitaly Mansky. É uma co-produção russa, alemã, checa, letã e norte-coreana, que tem a raridade de ter sido filmada no interior da Coreia do Norte, com um guião pré-aprovado pelo regime que escolheu os “actores”, as cenas e os cenários. Transporta-nos por isso para uma realidade pouco conhecida – e por tal fascinante – de ficarmos a conhecer melhor o desconhecido. De conhecermos o outro tal como ele é. No fundo, é esse mesmo interesse que justifica as pesquisas desenvolvidas pela antropologia ou pela etnografia. O filme procura mostrar o esforço que a protagonista do filme, Lee Zin-mi (8-10 anos?), faz para ser admitida à organização

VITALY MANSKY, UNDER THE SUN (2015)

ruiflores.hojemacau@gmail.com

da juventude da Coreia do Norte, o primeiro passo para a integração no sistema político norte-coreano. Mansky conseguiu fintar a propaganda e deixou a câmara ligada durante a preparação das cenas. O filme mostra, por exemplo, os utentes a empurrarem um autocarro trólei com os cabos para baixo, aparentemente a ultrapassar um outro avariado, para que ele possa prosseguir, ou crianças a vasculhar um caixote de lixo. A reacção de Pyongyang não terá sido a melhor, como é bom de imaginar. Durante os 109 minutos do filme, salta à vista uma total ausência de comunicação entre as pessoas, transformadas em autómatos que se movimentam numa cidade imensa, sem falarem, sem comunicarem. O afecto é inexistente. Vê-se como todos são doutrina-

dos desde tenra idade nas grandes vitórias dos líderes contra os norte-americanos. (A cena da sala de aula sobre uma alegada lição de história é particularmente reveladora. Os nomes do avô, pai e filho Kim são repetidos até à exaustão.) Uma sociedade em que o Estado controla todos os aspectos da vida, inclusive o que fazem as pessoas, onde trabalham, onde vivem. Uma sociedade alegadamente igualitária, onde, sabemo-lo desde Orwell, uns são mais iguais do que outros. Quando a criança, pressionada pelos pais, pelo “camarada” da propaganda (autor do guião), pela multidão da equipa de filmagem à sua volta, chora incontrolavelmente, desesperada por não conseguir desempenhar o papel que fora pensado para ela num filme autorizado pelo

Quando a criança chora incontrolavelmente, desesperada por não conseguir desempenhar o papel que fora pensado para ela num filme autorizado pelo regime, ouve-se a voz do realizador, a pedir-lhe para se recordar de uma memória feliz. “Não sei o quê”, afirma ela

regime – que implicava entre outras coisas, saber dançar o bailado tradicional coreano –, ouve-se a voz do realizador, em russo, a pedir-lhe para se recordar de uma memória feliz. “Não sei o quê”, afirma ela, com um vazio nos olhos que demonstra a essência da sua vida até àquele momento. Para ultrapassar a situação, declama o juramento que as crianças fazem quando se juntam à organização da juventude da Coreia do Norte. Como que achando que esta é a resposta certa para o que lhe estão a pedir. Este filme, esta sociedade, mostra bem como está por cumprir a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ela e tantas outras convenções internacionais, destituídas de valor – letra morta – ou de poder em serem invocadas pelas vítimas aos prevaricadores. Afinal, a polícia do mundo não existe – só é efectiva quando os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança estão de acordo – e isso só ocorre nas raríssimas ocasiões em que os seus interesses individuais não são postos em casa. Por tudo isto, há uma dúvida que nos assola intensamente quando acabamos de ver o filme: Será que estes 10 milhões terão alguma vez a possibilidade de serem pessoas na sua plenitude?


Apertei-as de encontro ao coração/Senti o meu peito como flor a abrir.../E todo o Oriente feérico e pagão/Sobre folhas de lótus vi surgir.” Maria Anna Acciaioli Tamagnini

Brilho inglório

André Couto deu nas vistas no Campeonato da China de GT

O piloto de Macau admitiu “que se divertiu” nas lutas em que esteve envolvido nas duas corridas e que “vai de cabeça erguida para casa”

O

piloto de Macau André Couto estreou-se no Campeonato Chinês de GT este fim-de-semana no Circuito de Goldenport, em Pequim. Na sua estreia absoluta no campeonato e com a equipa Spirit Z Racing, ao volante de um Nissan GT-R Nismo GT3, Couto somou duas décimas posições nas duas corridas de 60 minutos cada que compuseram o programa do evento da abertura da competição chinesa. Contudo, os resultados do piloto português não correspondem de maneira nenhuma à sua exibição. A dividir as despesas de condução com Yuey Tan – um experiente piloto amador de Singapura – Couto qualificou-se para a primeira corrida do fim-de-semana na 10ª posição. Ao contrário de outros campeonatos, onde vale o melhor tempo, no Campeonato Chinês de GT a posição da grelha de partida é determinada pelo tempo médio das melhores voltas de cada um dos pilotos. Partindo do décimo posto, Couto fez um arranque espectacular e no final da primeira volta já rodava no terceiro lugar. Contudo, num circuito onde as ultrapassagens são difíceis, o Nissan do piloto luso ficaria preso atrás do enorme Bentley Continental GT3 do tailandês Vutthikorn Inthraphuvasak. Couto acabou por passar o volante ao seu companheiro no terceiro lugar, mas este, com problemas no volante, caiu a pique na classificação durante o seu turno, terminando do duo luso-asiático no 10º lugar.

A HISTÓRIA REPETIU-SE

Na sessão de qualificação realizada na manhã de sábado, onde as condições meteorológicas foram novamente favoráveis ao espectáculo, o piloto português e o seu companheiro de equipa colocaram-se no 7º lugar da grelha de partida.

Desta vez Couto não fez um “arranque canhão”. Em vez disso, o piloto do Nissan GT-R Nismo GT3 foi paulatinamente escalando posições na classificação com o decorrer da corrida. Couto subiu do sétimo posto até ao segundo lugar, e apenas não conseguiu chegar-se ao Audi R8 LMS do piloto amador Xu Jia, que a conduzir a solo incrivelmente venceu ambas as corridas do fim-de-semana e cuja legalidade da viatura foi posta em causa por vários outros concorrentes. Com Yuey Tan ao volante na segunda metade da corrida, o Nissan da Spirit Z Racing voltou retroceder na classificação, vendo a bandeira axadrezada novamente no 10º lugar da geral.

MISSÃO CUMPRIDA

Couto reconheceu ao HM que o resultado não espelha o esforço da equipa e que no global “até nos portamos bem para as condições que tínhamos”. O piloto de Macau também admitiu “que se divertiu” nas lutas em que esteve envolvido nas duas corridas e que “vai de cabeça erguida para casa”, pois “fiz o meu trabalho”. A próxima prova do campeonato realiza-se no fim-de-semana de 7 e 8 de Julho no Circuito Internacional de Ordos. Localizado numa das “cidades fantasmas” mais conhecidas da China Continental, este circuito recebeu em 2011 uma prova do Campeonato do Mundo FIAGT1, mas há muito está afastado das grandes competições, sendo por isso uma novidade para o piloto da RAEM. Antes disso, Couto regressa ao Japão, no próximo fim-de-semana, para disputar a prova do campeonato Super GT em Autopolis, onde irá guiar um Porsche 911 GT3-R. Sérgio Fonseca

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segunda-feira 15.5.2017


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