Hoje Macau 16 JAN 2020 # 4450

Page 1

PAIXÃO PELA CINEMATECA ADOBE STOCK

ENTREVISTA

TIAGO ALCÂNTARA

NASA / JHUAPL / SWRI

HOJE MACAU

RITA WONG

MOP$10

QUINTA-FEIRA 16 DE JANEIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº4450

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

HO IAT SENG

MELHOR DE DOIS MUNDOS PÁGINA 5

TURISMO

O QUE SOBE TAMBÉM CAI PÁGINAS 8-9

hojemacau

Casa por limpar

As Obras Públicas precisam limpar a imagem que têm junto da população e despachar o trabalho acumulado. Estas são as missões que Raimundo do Rosário deu a Chan Pou Ha, a substituta de Li Canfeng à frente da DSSOPT. Durante a cerimónia de posse de Chan, Rosário deu a táctica para reconquistar a população: rapidez na resposta aos pedidos de licença e nas vistorias de projectos privados. PÁGINA 4


2 ENTREVISTA

RITA WONG GESTORA E PROGRAMADORA DA CINEMATECA PAIXÃO

“Temos confiança n Antes de mais, como explica que o ano tenha chegado ao fim sem que tenha sido lançado o concurso público para a continuação da gestão da Cinemateca? Connosco o contrato de concessão era de três anos, e sabíamos isso desde o início. Esperávamos que houvesse novo concurso público o ano passado. Todos os meses reuníamos com o Instituto Cultural (IC) e a nível de trabalho mantínhamos sempre conversações. Mas penso que necessitavam de orientações superiores e, à medida que o tempo passava, na segunda metade do ano creio, o novo concurso público ainda não tinha sido lançado e todos pensámos que o contrato iria terminar em Dezembro. Não tínhamos quaisquer informações sobre a eventual extensão do contrato, mas penso que não deveria haver qualquer extensão, mas um novo contrato, para assegurarmos o funcionamento da Cinemateca por mais três anos. Apesar de mantermos conversações com o Governo, quando chegou o final do ano tivemos de nos preparar para o fim do contrato.

Mas esse assunto não foi discutido previamente? O Governo esqueceu-se que tinha de lançar novo concurso? Não se esqueceram, mas penso que tiveram as suas próprias dificuldades. Esperávamos a chegada do novo concurso público para que nos pudéssemos preparar para concorrer. Eles [IC] sabiam disso, tudo estava a ser trabalhado e nós continuámos à espera. Na segunda metade do ano pareceu-nos que já não ia ser lançado o concurso. Espera que a Associação Audiovisual Cut consiga nova concessão? Claro que temos confiança [em ganhar a concessão], tendo em conta o bom planeamento que fizemos e a experiência que temos. Conhecemos o mercado e esperamos vencer de novo o concurso público para podermos trabalhar para o público. Nestes três anos, a comunicação com o Governo sempre decorreu da melhor forma? Tiveram sempre liberdade para trabalhar? Sempre tivemos uma boa comunicação com os funcionários do IC que trabalham na divisão responsável pela Cinemateca. Tínhamos

HOJE MACAU

O ano de 2019 terminou com uma surpresa desagradável para o panorama cinematográfico local: a Cinemateca Paixão ia fechar portas devido à ausência de concurso público para a gestão do espaço. O Instituto Cultural promete abrir novo concurso este ano e a Associação Audiovisual Cut está confiante numa nova concessão. Ao HM, Rita Wong fala dos dois festivais de cinema pensados para Abril e Maio, enquanto a Cinemateca mantém portas abertas provisoriamente


3 quinta-feira 16.1.2020 www.hojemacau.com.mo

numa nova concessão” “Espero ganhar [uma nova concessão] porque ainda temos muitas ideias e sonhos que queremos desenvolver na área do cinema e trazê-las para o público.”

reuniões mensais onde discutimos directamente os programas dos filmes, porque sempre tivemos uma programação diferente. Sempre nos deram liberdade em termos da escolha dos filmes e obtivemos resposta positiva a tudo. Sempre tivemos confiança [da parte do IC], o que nos permitiu fazer um bom trabalho. De ambos os lados, foi feito um esforço. A abertura da Cinemateca por mais seis meses acabou por ser a solução ideal a curto prazo? Nestes três anos, mostrámos novos filmes e estamos contentes com o facto de termos mais seis meses. Pelo menos não é necessário parar o funcionamento da Cinemateca Paixão por um longo período de tempo. Isto porque o público tem saudades do cinema. Há pessoas que vão à Cinemateca seis dias por semana, por exemplo. As outras salas de cinema de Macau mostram mais filmes de Hollywood, mas nós queremos apresentar uma selecção variada de filmes, com diferentes opções

“Quando se soube que a Cinemateca Paixão iria fechar, o público sentiu muita tristeza e disseram-nos como iriam ter saudades do espaço. Muitas pessoas disseram-nos que a Cinemateca é, para eles, um lugar de eleição onde vão todas as semanas.”

vindas de todo o mundo. Nestes três anos, as pessoas criaram o hábito de ter mais opções de cinema no seu dia-a-dia.

Quais os planos para os próximos seis meses de funcionamento da Cinemateca? Teremos dois festivais de cinema, um em Abril e outro em Maio. Em Abril apresentamos um festival especial sobre moda, em que vamos tentar estabelecer uma ligação com marcas locais de moda para criar equilíbrio entre as marcas locais e o mundo da moda a nível mundial. Vai ser interessante e também divertido. Em Maio apresentamos um festival ainda mais importante, o “Panorama do Cinema de Macau”, que é uma mostra de todos os melhores trabalhos deste e do ano passado, e que inclui documentários, curtas-metragens e filmes de animação, entre outros. Vamos também estrear novos filmes feitos em Macau e convidar realizadores da China, Hong Kong e Taiwan para trocas de experiências no festival. Teremos também vários workshops e conferências sobre vários temas ligados à indústria do cinema. Neste período obtiveram um grande apoio da comunidade local contra o fecho. Esse apoio revela que a Cinemateca Paixão se tornou num projecto fundamental para Macau? Sem dúvida. Sentimos o apoio por parte dos meios de comunicação social e também do público. Quando se soube que a Cinemateca Paixão iria fechar, o público sentiu muita tristeza e disseram-nos como iriam ter saudades do espaço. Muitas pessoas disseram-nos que a Cinemateca é, para eles, um lugar de eleição onde vão todas as semanas. Antes de existir a Cinemateca muitas pessoas iam ver filmes a Hong Kong e já tinham este hábito de ir ao cinema. Acredita que há mais associações capazes de fazer o trabalho que a CUT tem feito nos últimos três anos? Talvez haja, mas estou confiante em relação ao trabalho desenvolvido por nós. Em primeiro lugar, temos vários profissionais connosco, vários realizadores

e pessoal administrativo. Eu própria também tenho muita experiência e não apenas com base no trabalho que fiz nos últimos três anos, porque já antes também trabalhei com vários projectos cinematográficos. Toda a equipa, antes de trabalhar na Cinemateca, já tinha experiência e profissionalização na indústria. Nestes últimos três anos, com o trabalho que fizemos, obtivemos algumas vantagens. Espero ganhar [uma nova concessão] porque ainda temos muitas ideias e sonhos que queremos desenvolver na área do cinema e trazê-las para o público.

“Não tínhamos quaisquer informações sobre a eventual extensão do contrato, mas penso que não deveria haver extensão, mas um novo contrato, para assegurarmos o funcionamento da Cinemateca por mais três anos.” O espaço onde funciona a Cinemateca Paixão vai ser alvo de obras de renovação. É o local ideal para o funcionamento de uma entidade como esta, ou necessita de um espaço maior, com outras condições? Este espaço é agradável. Claro que a sala onde são exibidos os filmes é pequena, mas o facto de ter uma pequena dimensão faz dela confortável, sobretudo quando temos realizadores convidados, pois dessa forma eles podem falar de perto com o público. Penso que utilizar um edifício antigo como este, que é património cultural, é muito bom. Em primeiro lugar, é um lugar muito bonito, e depois temos a sala de cinema, a biblioteca, é um espaço de discussão sobre cinema. Estou muito contente com o facto de este se ter tornado num espaço de arte. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


4 política

16.1.2020 quinta-feira

GCS

RAIMUNDO ROSÁRIO AFASTA MAL-ESTAR COMO RAZÃO DA SAÍDA DE LI CANFENG

O

DSSOPT NOVA DIRECTORA COM A MISSÃO DE DESPACHAR TRABALHO ACUMULADO

Hora das limpezas

secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, recusa que a saída de Li Canfeng se tenha devido à existência de algum mal-estar e justificou que a rotação de directores é natural. “A comissão do ex-director das Obras Públicas chegou ao fim, terminou e tivemos que nomear um novo director. Todo este pessoal de chefia, onde me incluo, exerce determinadas funções com um mandato pré-determinado. O meu mandato é de cinco anos, o deles pode ser de um ano ou dois, mas terminado esse mandato ou é renovado ou não é. Acho que não é pre-

A estratégia de Chan Pou Ha para mudar a imagem do público sobre a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes passa por responder mais rapidamente aos pedidos de licença e vistorias de projectos privados

U

M mandato para limpar os processos acumulados e regularizar o tempo de resposta às solicitações por parte dos privados. É esta a estratégia que a nova directora Chan Pou Ha vai ter de implementar para mudar a imagem pública da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). A nova directora da DSSOPT, que substitui Li Canfeng, tomou ontem posse e na cerimónia recebeu logo

o “caderno de encargos” durante o discurso do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, que sublinhou a altura difícil em que a engenheira assume a pasta. “Quero manifestar o meu profundo agradecimento à engenheira Chan Pou Ha, que nesta situação muito difícil em que as Obras Públicas se encontram, ainda assim aceitou o convite e o desafio para ser directora. Não só a situação em que o serviço se encontra, mas também toda a pressão exterior a que este serviço

está sujeito”, começou por dizer o secretário.Amissão foi deixada depois: “Gostávamos de regularizar a situação no que diz respeito ao trabalho que está acumulado neste serviço. Sei que é um trabalho muito grande, mas conto com todos”, indicou. Mais tarde, já em declarações aos jornalistas, Raimundo do Rosário explicou que o trabalho acumulado se prende essencialmente com os pedidos para obras privadas, como as plantas de condicionamentos urbanísticos, aprovação de projectos, PUB

Anúncio Faz-se saber que no concurso público n.o 56/P/19 para a execução da «Obra de Renovação de Equipamentos da Sala de Caldeiras do Centro Hospitalar Conde de São Januário», publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 51, II Série, de 18 de Dezembro de 2019, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 2.º do programa do concurso público pela entidade que o realiza e que foram juntos ao respectivo processo. Os referidos esclarecimentos encontram-se disponíveis para consulta durante o horário de expediente na Divisão de Aprovisionamento e Economato dos Serviços de Saúde, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. Serviços de Saúde, aos 9 de Janeiro de 2020 O Director dos Serviços Lei Chin Ion

realização de vistorias, entre outras. “Há um trabalho que está acumulado, requerimentos, projectos e um conjunto de coisas que estão acumuladas e que temos de regularizar. Espero que num prazo relativamente curto possamos limpar o acumulado e voltar a uma situação mais normal [...]Não digo que se cumpra o tempo legal de resposta a 100 por cento, mas devemos responder tempo que seja razoável”, clarificou. O secretário disse ainda acreditar que a partir do momento que os pedidos dos privados sejam resolvidos de forma mais rápida a imagem da DSSOPT junto da população vai melhorar. “Como todos sabem, a reputação das Obras Públicas não é muito boa e é isso que vamos tentar mudar. Estou convencido de que num prazo relativamente curto se vai conseguir inverter essa imagem”, confessou.

que tenho vários anos de experiência das Obras Públicas, já trabalhei em várias funções. As Obras Públicas não dependem de uma só pessoa, há igualmente uma rede de colaboradores com uma vasta experiência e será necessário um grande espírito de equipa para regularizar os trabalhos”, justificou. Além da meta de acelerar os trabalhos, Chan comprometeu-se a substituir com a maior brevidade os técnicos da DSSOPT que se reformaram. Outra prioridade passa por encontrar um sub-adjun-

to, que assumirá o cargo a par do actual Shin Chung Low Kam Hong. No entanto, este não é um problema para Chan: “Acredito que as Obras Públicas têm vários técnicos com experiência e não será difícil encontrar uma pessoa adequada e idónea”, considerou. Ainda no discurso de tomada de posse, a nova directora da DSSOPT sublinhou por várias vezes a necessidade de fazer um bom trabalho para “servir a população”. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

Substâncias perigosas Nova localização para armazém temporário

TRABALHO DE EQUIPA

Por sua vez, Chan Pou Ha admitiu ter aceite o desafio não só devido à experiência acumulada ao longo dos anos, uma vez que ingressou na DSSOPT em 1990, onde desempenhou vários cargos, e por contar com uma equipa experiente. “Todos sabemos

ciso fazer um grande...”, defendeu. “Não há mal-estar... Não é a primeira vez que nesta tutela é substituído um director. Aliás os directores já vieram a posses, já dei posses a vários directores. As comissões chegam ao fim e naturalmente há que nomear novas pessoas”, foi acrescentado. Na passada segunda-feira, durante a sessão Plenária da Assembleia Legislativa, Mak Soi Kun afirmou existirem rumores que Li Canfeng e Raimundo do Rosário tinham uma relação pouco saudável e que por esse motivo Li fazia todos os possíveis para bloquear os projectos de obras que eram vistas como urgentes para Rosário, de forma a minar o trabalho do secretário. Li Canfeng deixou o cargo de director da DSSOPT em Dezembro do ano passado e foi agora sucedido por Chan Pou Ha.

O Governo está à procura de um novo lugar para colocar o armazém temporário de substâncias perigosas. A realidade foi admitida ontem pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, depois de dois concursos público

sobre o impacto ambiental que falharam. O primeiro porque não houve interessados e o segundo porque o Executivo considerou os custos demasiado elevados. “Com a nova directora vamos tentar encontrar uma nova localização para esses produtos”, apontou. O secretário explicou também que o lugar deverá ser definitivo ao invés de temporário: “É o nosso desejo encontrar um lugar definitivo, porque estas coisas nunca são bem temporárias, são temporárias e acabam definitivas”, sublinhou.


política 5

quinta-feira 16.1.2020

GCS

MEDIA HO IAT SENG ASSEGURA LIBERDADE DE IMPRENSA, MAS ESPERA PATRIOTISMO

História muito bem contada

H

O Iat Seng, Chefe do Executivo do V Governo da RAEM, disse ontem que pretende continuar a assegurar a liberdade de imprensa no território, mas também deixou claro que o caminho que os jornalistas devem seguir é o do patriotismo. Citado por um comunicado oficial, Ho Iat Seng disse

“esperar que no processo de construção da ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau”, tanto Governo como jornalistas “possam trabalhar juntos para contar bem a história de Macau e escrever o capítulo sobre a aplicação bem-sucedida do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’.” Ho Iat Seng falou no âmbito de um almoço com representantes dos meios de comunicação social em língua chinesa. No encontro, o governante disse esperar que “os órgãos de comunicação social de língua chinesa de Macau possam continuar a desenvolver a tradição de ‘amar a pátria e a Macau’ e a desempenhar a função de ponte entre o Governo e a população”, sem esquecer as funções de “supervisionar a administração e reflectir sobre a situação social e a opinião pública”. “O Chefe do Executivo salientou que o Governo irá, como sempre, manter ligação estreita e interacção positiva com o sector da comunicação social, apoiar nos trabalhos de cobertura noticiosa e na formação profissional, bem como, garantir a liberdade de imprensa de acordo com a lei”, foi ainda dito.

Ho Iat Seng espera que tanto Governo como jornalistas “possam trabalhar juntos para contar bem a história de Macau e escrever o capítulo sobre a aplicação bem-sucedida do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’.”

o mundo”, apontou Ho Iat Seng, citado pelo mesmo comunicado. O governante lembrou ainda que os media vivem uma fase de evolução, o

de recepção de informações evoluem constantemente, por isso, a equipa governativa do V Governo da RAEM tem como objectivo construir um governo orien-

tado para servir a população, que não só acompanhará os tempos como também continuará a inovar e a melhorar a eficácia da sua acção”, rematou. A.S.S.

SEGURANÇA WONG SIO CHAK REÚNE COM ASSOCIAÇÃO DE MORADORES

O

secretário para a Segurança, Wong Sio Chak reuniu ontem com a União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM), com o objectivo de recolher sugestões dos seus representantes sobre a acção governativa no decorrer deste ano. À cabeça da sessão de esclarecimento estiveram temas como o sistema de videovigilância “Olhos no Céu”, o Depósito Provisório de Distribuição de Combustíveis da Ilha Verde, o regulamento contra incêndios e o trabalho juvenil. Segundo informações veiculadas em comunicado, Wong Sio Chak esclareceu o plano de examinação do reconhecimento facial sob o modo “background” do sistema “Olhos no Céu”, explicando que a técnica é aplicada para “auxiliar a polícia na selecção dos vídeos onde constam imagens dos suspeitos, referindo que a localização de todas

SERVIR A POPULAÇÃO

Para Ho Iat Seng, o trabalho dos media “aumentou o sentido de participação e de presença da população” e que, graças às notícias e reportagens difundidas e publicadas, os residentes de Macau puderam compreender o desenvolvimento que Macau teve nos últimos anos. “Graças à cobertura noticiosa abrangente e integrada sobre a prosperidade da pátria, do desenvolvimento estável de Macau e da aplicação bem-sucedida do princípio ‹Um País, Dois Sistemas’, o fruto do desenvolvimento alcançado nos últimos 20 anos, a tradição de “amar a pátria e a Macau” e o sentimento de felicidade, identidade e pertença dos residentes são claramente visíveis em todo

que vai obrigar o Governo a responder de outra forma na hora de comunicar com os residentes. “As formas, os canais e as plataformas de divulgação e

PUB

GCS

O Chefe do Executivo almoçou ontem com responsáveis pelos órgãos de comunicação social em língua chinesa e destacou a importância do patriotismo na divulgação de notícias, ao mesmo tempo que assegurou a liberdade de imprensa. Ho Iat Seng deixou claro que Governo e media devem “trabalhar juntos para contar bem a história de Macau e escrever o capítulo sobre a aplicação do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’”

as câmaras está sujeitas à autorização do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais, bem como o uso e o tratamento de todos os dados estão sujeitos ao regime legal respectivo”. O secretário para a Segurança adiantou ainda aos representantes da UGAMM que o novo Governo tem dado uma grande importância à construção do depósito e armazém de substâncias perigosas e à revisão do “Regulamento de Segurança contra Incêndios”, tendo as referidas questões sido discutidas durante a reunião dos assuntos políticos presidida pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng. No âmbito do trabalho juvenil, Wong Sio Chak frisou que na área de segurança irá continuar a desenvolver, de forma activa, uma série de actividades orientadores e educacionais, apoiando-se no crescimento saudável e no desenvolvimento com sucesso dos jovens.

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 1/P/20 Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 10 de Dezembro de 2019, se encontra aberto o Concurso Público para « Fornecimento de Perfusão Intravenosa aos Serviços de Saúde », cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 15 de Janeiro de 2020, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edificio Broadway Center, 3.º Andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP74,00 (setenta e quatro patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 17 de Fevereiro de 2020. O acto público deste concurso terá lugar no dia 18 de Fevereiro de 2020, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP100 000,00 (cem mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 9 de Janeiro de 2020. O Director dos Serviços Lei Chin Ion


6 sociedade

16.1.2020 quinta-feira

PUB

Bombeiros Macau regista menos 17,38 % incêndios em 2019 Macau registou menos 17,38 por cento de incêndios em 2019 comparando com o ano anterior, anunciou ontem Corpo de Bombeiros. De acordo com os dados estatísticos de 2019, divulgados em comunicado pelas autoridades do território, no ano

passado foram registados 922 incêndios, em comparação com 1.116 em 2018. Os bombeiros realizaram 10.620 inspecções em 2019, mais 24,08 por cento do que em 2018, “com o intuito de reduzir os riscos e os prejuízos causados pelos

incêndios”, lê-se no comunicado. Os dados apresentados apontam ainda que ao longo do ano de 2019, foram feitas 48.288 acções operacionais por parte dos bombeiros, um aumento de 2,03 por cento em relação a 2018.

Correu mal Funcionário do IAM condenado a quatro anos de prisão

C

HOI U Fai, chefe da Divisão de Inspecção e Controlo Veterinário do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) foi condenado a quatro anos de prisão por abuso de poder e declarações falsas sobre rendimentos. De acordo com informações divulgadas pela TDM Rádio Macau, o veterinário chefe foi condenado no seguimento de um processo que envolvia uma clínica privada da qual era sócio de forma encoberta, e à qual foi adjudicada a esterilização de mais de 500 galgos do Canídromo, no âmbito do processo de realojamento dos cães da Companhia de Corridas de Galgos Macau (Yat Yuen). O funcionário do IAM, suspenso de funções desde 2019, após uma investigação do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC), inicia-

da depois de uma denúncia feita em 2018, por Zoe Tang, ex-funcionária da ANIMA (Sociedade Protectora dos Animais), foi assim condenado a uma pena única de quatro anos de prisão pelo Tribunal Judicial de Base (TJB). No entender do tribunal, citado pela mesma fonte, Choi U Fai “com a intenção de obter lucros para si ou outra pessoa, aproveitando do seu poder, violou os seus deveres, por isso constitui abuso de poder”. O TJB condenou ainda Choi U Fai por fraude fiscal por não ter declarado os bens que devia declarar. De acordo com informações divulgadas pela TDM - Rádio Macau, o CCAC concluiu que Choi U Fai “deu ordem aos seus subordinados para incluir uma empresa comercial, da qual era sócio de forma velada, na lista de fornece-

dores candidatos a prestação de bens e serviços, fazendo com que a referida empresa conseguisse, por mais de 120 vezes, adjudicações daquela divisão, envolvendo um montante de oito milhões de patacas”.

PODIA TER SIDO PIOR

Contudo, e apesar dos crimes de que é acusado, Choi U Fai acabou absolvido de um crime de peculato e os 142 crimes de participação económica em negócio de que foi acusado foram alterados para abuso de poder de forma continuada. O advogado de Choi U Fai, Álvaro Rodrigues, disse durante a leitura da sentença, segundo a mesma fonte, que irá recorrer da decisão para a segunda instância. Os arguidos têm agora 20 dias seguidos para interpor recurso, excluindo os feriados do Ano Novo Chinês.


sociedade 7

quinta-feira 16.1.2020

PNEUMONIA DE WUHAN GOVERNO PREPARA MEDIDAS PARA O ANO NOVO CHINÊS

Está tudo controlado

Os Serviços de Saúde garantem que vão ser tomadas medidas especiais para controlar o aumento do fluxo de pessoas vindas da província de Hubei, que se encontra a braços com um surto de pneumonia de origem desconhecida

TIAGO ALCÂNTARA

se deve a “não terem sido registados novos casos”.

GCS

O

Governo vai preparar medidas especiais para controlar as pessoas vindas de Wuhan durante o Ano Novo Chinês, devido à pneumonia que se desenvolveu na região e que ainda tem origem desconhecida. A revelação foi feita, ontem, pelos Serviços de Saúde de Macau, numa conferência liderada por Lam Chong, chefe do Centro de Prevenção e Controlo de Doença, que esteve recentemente na cidade chinesa para avaliar o desenvolvimento da situação que contagiou 41 pessoas. “No Ano Novo Chinês esperamos que venham ainda mais pessoas de Wuhan, incluindo não só os cidadãos de Wuhan, mas também estudantes e residentes de Macau que se encontram a viver nessa zona”, admitiu Lam Chong. “Por isso, estamos a planear ter mais recursos humanos nas fronteiras para controlar a temperatura das pessoas que chegam a Macau, também adoptaremos outras medidas”, acrescentou. Ainda em relação às chegadas de Wuhan, o Governo admite que está em contacto com estudantes que se encontram naquela zona do Interior para lhes pedir que

TRANSMISSÃO ENTRE HUMANOS

adoptem comportamentos de precaução, nomeadamente ao nível das medidas de higiene e para que evitem mercados e hospitais. Além disso, os estudantes devem informar as autoridades sobre quando vão regressar a RAEM. De acordo com os dados actualizados a 13 de Janeiro tinham sido confirmados 41

casos da pneumonia desconhecida, quase todos no Interior, à excepção do caso de uma turista na Tailândia que mal chegou ao aeroporto foi reencaminhada para o hospital. Sobre o facto de não haver mais actualizações sobre os dados fornecidos pelas autoridades do Interior, Lam Chong apontou que tal

“Estamos a planear ter mais recursos humanos nas fronteiras para controlar a temperatura das pessoas que chegam a Macau.” LAM CHONG CHEFE CENTRO DE PREVENÇÃO E CONTROLO DE DOENÇA

Ontem as autoridades de Macau, com base nas informações recolhidas durante a deslocação à capital da província de Hubei, admitiram que existe a possibilidade de a pneumonia ser transmissível entre humanos. Contudo, sublinharam que as conclusões dos especialistas do Interior e da Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda não permitem confirmar a hipótese. No entanto, as conclusões também indicam que a transmissão entre pessoas é “limitada”, uma vez que nem todas as pessoas que estiveram em contacto com os infectados desenvolveram a doença. Apesar destas garantias, já foram infectadas 41 pessoas e registou-se um caso mortal. Por isso, num comunicado com a data de terça-feira, a OMS, citada pela BBC, afirmava estar a preparar-se para a possibilidade de haver uma epidemia. Sobre a visita a Wuhan, Lam Chong garantiu que as autoridades do Interior tomaram todas as medidas exigíveis para controlar uma eventual epidemia.

Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) emitiu ontem um comunicado onde aponta que, até às 17h de ontem já tinham feito inscrição no sistema de registo central para as escolas de ensino infantil um total de 5.400 crianças, número que representa 92 por cento de crianças em idade escolar. O mesmo comunicado dá conta que “o processo foi bem-sucedido, tendo cada registo demorado, em média, dez minutos a efectuar”. O registo central para o ingresso nas escolas do ensino infantil termina na segunda-feira.

O

Instituto Português do Oriente (IPOR), O Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e a Universidade de Macau (UM) vão assinar um protocolo de cooperação com vista ao reforço da promoção da língua portuguesa em Macau, foi ontem anunciado. Numa nota enviada à agência Lusa, o IPOR enfatizou que “no âmbito deste protocolo espera-se que [este] venha a ter um papel importante na concepção e desenvolvimento de cursos de língua portuguesa para fins específicos, em estreita articulação com a UM e o Camões”. “Este trabalho deverá seguir uma lógica de complemento de sinergias, disponibilizando também o acesso a actividades

culturais que ajudem os alunos a atingir níveis de excelência no seu processo de formação académica”, frisou-se na nota. A formação e ensino em diversas áreas da língua portuguesa, o desenvolvimento de projectos de investigação conjuntos e a produção e partilha de materiais bibliográficos são alguns dos objectivos desta nova parceria que será assinada no dia 21 de Janeiro em Macau. Por outro lado, o IPOR frisou que vai procurar dinamizar a organização conjunta de seminários e outras actividades de carácter científico, facilitar o acesso a bibliotecas e centros de documentação, reforçar a tradução e edição de obras literárias, entre outras.

João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

ENSINO INFANTIL 92 POR CENTO DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR NO REGISTO CENTRAL

A

LÍNGUA PORTUGUESA IPOR, INSTITUTO CAMÕES E UM REFORÇAM COOPERAÇÃO

No registo central para o ano lectivo de 2020/2021 podem ser inscritas crianças que, até 31 de Dezembro de 2020, completem 3 anos (nascidas até 31 de Dezembro de 2017) e as que, até 31 de Dezembro de 2020, completem cinco anos de idade e sejam possuidoras das condições requeridas para o acesso ao ensino infantil em Macau. A DSEJ prevê que sejam disponibilizadas 7.300 vagas para o primeiro ano do ensino infantil, “quantidade que se afigura suficiente para o número de crianças, cerca de 5.900, a ingressar no primeiro ano do ensino infantil nesse ano lectivo”.

FSS Previdência central não obrigatória com taxa de juro de 3,057%

O Fundo de Segurança Social (FSS) emitiu ontem um comunicado onde informa que o rendimento da taxa de juros do ano 2019 proveniente da subconta de gestão do Governo do Regime de Previdência Central não Obrigatório já foi creditado no passado dia 9 de Janeiro, com uma taxa de juros anual de cerca de 3,057 por cento. O rendimento da taxa de juros da subconta de gestão do Governo é resultante do depósito a prazo nos bancos, calculado por dia, dependente do saldo diário e o número de dias de permanência referente à verba da subconta de gestão do Governo do titular durante o período de cálculo de rendimentos, e atribuído uma vez por ano. Caso o titular da conta, desde o ano 2010, tenha preenchido os requisitos de auferir as verbas, a título de repartição extraordinária de saldos orçamentais, e nunca efectuado transferências de verbas nem as levantado, em 2019 pode ser atribuído um juro de 2.207 patacas, obtendo um valor total de 77.850 patacas, incluindo as verbas acumuladas mais os juros.


8 sociedade

16.1.2020 quinta-feira

Havia de chegar Segundo estimativas avançadas ontem pela directora dos Serviços de Turismo, Macau deverá registar em 2020 uma queda de 3 por cento no número de entradas de turistas. Isto depois de em 2019 ter sido alcançado um novo recorde de visitantes

T

UDO o que sobe acaba eventualmente por descer. Depois de 2019 ter registado a entrada de 39,4 milhões de visitantes, o maior número de visitantes de que há memória em Macau, a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) anunciou ontem estimar para 2020 uma queda de 3 por cento do número total de visitantes. A verificar-se será a primeira queda desde 2015. A estimativa foi avançada ontem pela directora dos Serviços de Turismo, Maria Helena de Senna Fernandes, por ocasião da conferência de imprensa anual da DST, atribuindo as razões da queda, sobretudo, à actual conjuntura internacional, à guerra comercial entre a China e os EUA e aos sinais que os últimos meses têm dado acerca do número de visitantes. "No ano passado registámos 39,4 milhões de visitantes, mas já estamos preparados para o crescimento negativo deste ano. Segundo a nossa previsão deste ano, acho vai haver uma diminuição do número de visitantes. Para 2020 prevê-se que este crescimento negativo seja cerca de 3 por cento. Isto porque em Novembro e Dezembro (…) os números já reflectiram essa diminuição”, partilhou Maria Helena de Senna Fernandes. “Isto tem a ver com factores externos e com a conjuctura mundial e também sabemos que existe neste momento a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos da América, à qual estaremos atentos quanto ao

seu impacto no mercado turístico de Macau”, acrescentou. Admitindo que não vai haver recuperação nos próximos tempos em relação ao número visitantes, a directora dos Serviços de Turismo sublinhou que só em Novembro do ano passado foi registada uma queda de 6 por cento e que o elevado número de visitantes registados entre Janeiro e Abril de 2019 está relacionado com a entrada em funcionamento da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau (HKZM). "Registámos um aumento do número de visitantes desde Janeiro até Abril, mas está relacionado com a entrada em funcionamento da Ponte HKZM. Por causa da ponte registámos um aumento do número de visitantes até Outubro, mas em Novembro, mesmo com um evento como o Grande Prémio, registou-se uma quebra de 6 por cento do número de turistas", afirmou a responsável. Sobre o ano que passou, a DST realçou a entrada de 39,4 milhões de pessoas no território, o que representa um aumento de 10,1 por cento face ao ano anterior. Do mercado da Grande China vieram mais de 36,3 milhões de visitantes, num aumento de 11,3 por cento. Em contrapartida, o número de visitantes internacionais registou mais de 3 milhões de entradas, uma descida de 2,8 por cento. Questionada se a crise em Hong Kong esteve na base da queda do número de turistas de outros países, Maria Helena de Senna Fernandes

TIAGO ALCÂNTARA

TURISMO NÚMERO DE VISITANTES DEVERÁ CAIR 3% EM 2020

respondeu positivamente. "Creio que o motivo da diminuição está relacionado (...) com a situação de Hong Kong, porque muitas vezes a maioria dos turistas ou comerciantes que aposta em participar

Sobre o ano que passou, os serviços de turismo realçaram a entrada de 39,4 milhões de pessoas no território, o que representa um aumento de 10,1 por cento face ao ano anterior

nas convenções ou exposições de Hong Kong visita também Macau”, afirmou a responsável. Os Serviços de Turismo apontaram ainda que os visitantes que não pernoitaram na cidade (20,7 milhões de visitantes) aumentaram 20 por cento e aqueles que pernoitaram (mais de 18,6 milhões), aumentaram 0,8 por cento, “representando 47,3 por cento do total de visitantes de Macau” em 2019. "O nosso objectivo principal é aumentar o número de visitantes que pernoitam em Macau. Prevê-se que nos próximos anos haja mais quartos de hotéis e por isso vamos alargar o nosso mercado na Grande Baía e focar nas cidades que dispõem de ligações aéreas com Macau. Por isso, vamos reforçar a promoção em relação a cidades

com comboio de alta velocidade em Guangdong para aumentar este número de visitantes, permitindo que possam pernoitar em Macau", disse Maria Helena de Senna Fernandes sobre o tema.

ANO NOVO, RETICÊNCIAS NOVAS

Já no que diz respeito ao Ano Novo Chinês, Maria Helena de Senna Fernandes avançou que os Serviços de Turismo esperam queda de seis por cento no número de visitantes durante a semana que marca as celebrações da data. "Quanto ao número de turistas para o ano novo chinês, não estamos optimistas. No ano passado tínhamos um registo de 1,20 milhões e daí, se para este ano tivermos uma diminuição de 6 por cento, então o número


sociedade 9

quinta-feira 16.1.2020

o dia

GRANDE PRÉMIO MUSEU INAUGURADO ANTES DO VERÃO

O

Museu do Grande Prémio deverá abrir portas este ano antes do Verão, afirmou ontem Maria Helena de Senna Fernandes. “Quanto à inauguração do Museu do Grande Prémio de Macau, a abertura está prevista para antes das férias do Verão de 2020. Antes da abertura ao público vamos convidar o sector do turismo e a comunicação social para uma visita em primeira mão”, referiu a responsável. De acordo com os serviços de turismo, a instalação vai incluir vários tipos de dispositivos interactivos multimédia, “para proporcionar uma experiência inteiramente nova aos visitantes do museu”.

Recorde-se que o museu irá funcionar num edifício de quatro andares, dividindo-se em diferentes zonas, conforme as corridas. O GP de Macau inclui três corridas de carros, as taças do mundo de Fórmula 3, GT e de carros de turismo (WTCR), e o Grande Prémio de motos, além da taça de carros de turismo de Macau e a taça da Grande Baía. De frisar ainda que a representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) Wan Wai avançou em Março de 2019, que o projecto total do Museu do Grande Prémio de Macau terá o custo estimado de 830 milhões de patacas.

E

M 2019, a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) encerrou 382 fracções ilegais. Segundo dados divulgados ontem, os serviços de turismo de Macau realizaram mais de 1.967 inspecções a actividades e estabelecimentos turísticos, e 1.550 a postos fronteiriços e pontos de interesse turístico. “Ao nível do combate à prestação ilegal de alojamento, no ano passado foram inspeccionadas 1.984 fracções e seladas 382 fracções tendo o Grupo de Trabalho Interdepartamental levado a cabo 616 acções conjuntas”, divulgou a DST. Relativamente às actividades promovidas ao longo do ano passado, a DST sublinhou o trabalho feito ao nível da promoção do turismo inteligente, do desenvolvimento de Macau como “Cidade Criativa de Gastronomia” e a criação de eventos destinados a estimado de visitantes vai ser de 1,13 milhões para o ano 2020 durante a época do ano novo chinês, avançou a directora. Afirmando que a DST vai “tentar ajustar as políticas para recuperar mercado", sublinhou que na base desta diminuição, além do facto das celebrações de 2019 terem contado com a ajuda da abertura da Ponte HKZM que levou “mais visitantes a escolherem

visitar Macau”, estará “a influência negativa da pneumonia de Wuhan”.

PRIORIDADES PARA O FUTURO

Com um orçamento de 374 milhões de patacas, que reflecte um aumento de 8,9 por cento em relação ao ano passado, a Direção dos Serviços de Turismo de Macau definiu quatro pontos prioritários de trabalho para 2020. O primeiro é o desenvolvimento do turismo inte-

GCS

RETROSPECTIVA ENCERRADOS 382 ALOJAMENTOS ILEGAIS EM 2019 impulsionar a Grande Baía como destino turístico. “Mediante colaboração com a Alibaba Cloud, a DST colocou em serviço três projectos, designadamente: “plataforma de troca de dados do turismo”, “aplicação de observação dos visitantes” e “aplicação inteligente do fluxo de visitantes”, recordou ontem a DST. Sobre o desenvolvimento da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau como destino turístico, a DST lembrou que, em 2019, levou a cabo a instalação de expositores sobre a Grande Baía em várias feiras internacionais de turismo e na 7.ª Expo Internacional de Turismo (Indústria) de Macau e que foram convidados operadores turísticos das cidades da Grande Baía para participar na 7.ª Expo Internacional de Turismo (Indústria) de Macau.

ligente, que prevê o alargamento da aplicação do banco de mega dados do turismo. O segundo passa pelo “desenvolvimento de Macau como uma Cidade Criativa de Gastronomia”, que prevê a criação de uma base de dados sobre a gastronomia macaense e a promoção de Macau como destino para turistas internacionais que visitam a Grande Baía. O “enfoque na criação de um turismo de qualidade, e a elevação

da qualidade da prestação de serviços do sector” é também visto pelas autoridades como prioritário e irá passar por dar continuidade a acções de fiscalização e acompanhar de perto as propostas de lei relacionadas com as actividades hoteleiras, das agências de viagens e guias turísticos. Por fim, o Governo de Macau ambiciona também inaugurar o Museu do Grande Prémio de Macau, bem como promover o enriquecimento dos

recursos de produtos turísticos, como travessias marítimas nas ilhas da Grande Baía. Além do orçamento da região de 374 milhões de patacas, a DST anunciou ainda que PIDDA para este ano é de 161 milhões de patacas e que o orçamento preventivo do fundo de turismo é de 1.210 milhões de patacas. Pedro Arede

info@hojemacau.com.mo


10 eventos

16.1.2020 quinta-feira

LÍNGUA PORTUGUESA PRIMEIRO FESTIVAL INTERNACIONAL ACONTECE EM LISBOA EM MAIO

A

primeira edição do Festival Internacional de Literatura e de Língua Portuguesa - Lisboa Cinco L decorre entre 5 e 10 de Maio, e será programado e coordenado pelo livreiro e criador do Folio, José Pinho, foi ontem anunciado. A Câmara Municipal de Lisboa (CML) revelou que José Pinho foi o autor da proposta escolhida pela autarquia “no âmbito do concurso público realizado para a Direcção Artística do Festival Lisboa Cinco L” e que a ele “caberá a programação e a coorde-

nação geral deste evento de dimensão internacional, que visa celebrar a Língua, os Livros, a Literatura, as Leituras e as Livrarias em Lisboa». Na nota, a CML explica que “o primeiro dia coincide com a data escolhida pela UNESCO para assinalar o Dia Mundial da Língua Portuguesa, que este ano se celebra pela primeira vez”. A programação do festival “abrangerá diversas expressões artísticas e vai distribuir-se por diferentes espaços da cidade, desde

A vida de um

CCM INSTITUTO CULTURAL APRESENTA MUSICAL “MATILDA” A PART

bibliotecas e teatros municipais a cinemas, livrarias e cafés, entre outros”. A CML recorda que José Pinho é o “criador, director, curador e coordenador dos festivais literários Folio - Festival Literário Internacional de Óbidos e Latitudes: Viagens e Viajantes”. Além disso, José Pinho “desempenhou também funções de livreiro e editor” e “foi co-fundador da Ler Devagar, projecto que teve início no Bairro Alto e que, durante os últimos 20 anos, passou por seis espaços na cidade de Lisboa, sendo o último a LX Factory”. “Instalou as Livrarias de Portugal País Convidado nas Feiras do Livro de Sevilha e de Madrid, em Espanha, e de Guadalajara, no México, e participou em festivais literários e conferências internacionais em vários países por todo o mundo, como Espanha, Itália, França, Brasil, Canadá, Austrália, entre outros”, refere a CML. PUB

Estreia em Macau no dia 14 de Abril o espectáculo infantil “M Cultural de Macau e da GWB Entertainment. O musical, co passou por palcos de todo o mundo. Os bilhetes começam a s

O

Centro Cultural de Macau (CCM) apresenta, entre os dias 14 e 19 de Abril, o espectáculo “Matilda, o Musical”, uma electrizante peça que celebra o espírito insubmisso de um grupo de miúdos, liderados por uma rapariga extraordinária, descreve o Instituto Cultural (IC) em comunicado. O espectáculo, organizado pelo CCM e pela GWB Entertainment, foi concebido pela prestigiada Companhia Real Shakespeare. Trata-se de uma “história inspiradora de uma miúda cujas capacidades são constantemente diminuídas pela crueldade dos pais e de uma aterradora directora da escola”. “Sonhando com uma vida melhor, a jovem Matilda decide utilizar a sua vívida imaginação para tomar o destino nas próprias mãos”, acrescenta o comunicado. O espectáculo parte do “génio mordaz do escritor britânico Roald Dahl”, e tem música original e letras elaboradas pelo comediante Tim Minchin e adaptação de Dennis Kelly. Cerca de oito milhões de pessoas

O espectáculo parte do “génio mordaz do escritor britânico Roald Dahl”, e tem música adaptação de Dennis Kelly. Cerca de oito milhões de pessoas já viram este musical em t

CINEMATECA PAIXÃO COMÉDIA JAPONESA EM EXIBIÇÃO DU

A

Cinemateca Paixão exibe este mês, entre domingo e o dia 31, duas comédias japonesas que prometem entreter o público na altura do Ano Novo Chinês. Um dos filmes é “Hit Me Anyone One More Time”, do popular realizador Koki Mitani, considerado o “mestre do

riso e da emoção”, aponta um comunicado. A obra centra-se na história de um político sem escrúpulos que perde a memória durante a noite e transforma-se subitamente numa pessoa simpática. “Hit Me Anyone One More Time” tem um elenco recheado por actores

conhecidos do panorama cinematográfico japonês como Kiichi Nakai, Dean Fujioka e Koichi Sato. Outro dos filmes em exibição é “Fly Me to the Saitama”, dirigido por Hideki Takeuchi, que se baseia numa série de manga japonesa dos anos 80 com o mesmo nome, escrita e


eventos 11

quinta-feira 16.1.2020

ma menina

TIR DE ABRIL

Matilda, o Musical”, uma organização do Centro oncebido pela Companhia Real Shakespeare, já ser vendidos este domingo já viram este musical em todo o mundo desde a sua estreia, em 2010. O espectáculo passou por vários palcos, não apenas os importantes West End e Broadway, mas também em países como a Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Filipinas e Coreia.

DEZENAS DE PRÉMIOS

“Matilda, o Musical” foi distinguido com mais de 90 prémios, entre os quais 23 internacionais. Um deles foi o de “Melhor Musical”, além de ter ganho um número recorde de sete Olivier. “Matilda tem sido recebida por uma vasta colectânea de críticas de cinco estrelas. A estreia do espectáculo em Macau insere-se numa digressão asiática que tem sido estrondosamente acolhida em todos os palcos a que tem subido”, acrescenta o IC. O espectáculo decorre no Grande Auditório do CCM, entre 14 e 19 de Abril, de terça a sexta-feira a partir das 19h30 e ao fim-de-semana com sessões duplas, às 14h30 e 19h30. Os preços dos bilhetes variam entre 180 e 480 patacas.

original e letras elaboradas pelo comediante Tim Minchin e todo o mundo desde a sua estreia, em 2010

Andreia Sofia Silva

info@hojemacau.com.mo

URANTE ANO NOVO CHINÊS ilustrada por Mineo Maya. A película tem como núcleo narrativo uma história de amor e honra, sem esquecer a rebelião das pessoas da prefeitura de Saitama. O elenco conta com actores como Fumi Nikaido, Gackt e Yusuke Iseya. Durante o ciclo de cinema serão exibidas

também duas curtas-metragens feitas em Macau. “G.D.P.: Grandmas’ Dangerous Project”, de Peeko Wong, e “Sheep”, de Mak Kit Wai. A entrada para estas duas exibições é livre, mas para os dois filmes japoneses os bilhetes já se encontram à venda por 60 patacas.

PUB


12 china

16.1.2020 quinta-feira

HRW ASCENSÃO INTERNACIONAL DA CHINA É AMEAÇA AOS DIREITOS HUMANOS

Relatório maioritário

A Human Rights Watch (HRW) considerou ontem que “décadas de progresso” em matéria de Direitos Humanos “estão sob ameaça”, à medida que Pequim usa o seu poder financeiro e tecnológico para exportar censura e repressão. A resposta do Governo chinês não se fez esperar, com declarações a indicar que a China atravessa o melhor período de sempre no que toca a direitos humanos

A

menos que desejemos voltar a uma era na qual as pessoas são peões que servem para serem manipulados ou descartados de acordo com os caprichos dos seus senhores, o ataque do Governo chinês ao sistema internacional de direitos humanos deve ser resistido”, apela Kenneth Roth, diretor da HRW, no relatório anual da organização não-governamental, ontem divulgado. O texto destaca o “efeito maligno da crescente influência global” do regime chinês, que vê as actuais instituições e leis internacionais que defendem os direitos humanos como uma “ameaça” à sua existência. “O Governo chinês vê os direitos humanos como uma ameaça existencial. A sua reacção pode representar uma ameaça aos direitos das pessoas em todo o mundo”, alerta o director da HRW. Kenneth Roth acusa Pequim de “tentar censurar críticas à China fora do país, silenciar a atenção sobre os direitos humanos nos seus compromissos globais e enfraquecer os mecanismos de defesa desses direitos”, incluindo na ONU. A organização não-governamental observa que o Partido Comunista Chinês passou do esforço para monopolizar a narrativa a nível doméstico para atacar também os críticos no exterior, servindo-se do acesso ao mercado chinês para silenciar académicos, empresários ou governos estrangeiros. “Nenhum negócio na China se pode dar ao luxo de ignorar as ordens do Partido Comunista. Quando ordenada a punir um país por criticar Pequim - por exemplo, ao não comprar os seus produtos - a empresa não tem escolha a não ser cumprir”, descreve. Roth revela que a censura chinesa está também a alastrar-se às universidades em todo o mundo, cada vez mais dependentes financeiramente do fluxo de estudantes chineses. E associa estes ataques à insegurança de um regime que governa pela repressão e sem

consentimento popular: “Sabendo que, na ausência de eleições, a legitimidade do Partido depende, em grande parte, de uma economia em crescimento, os líderes chineses temem que a desaceleração económica aumente as exigências da população por maior voz sobre a governação do país”, realça. A HRW nota um aumento brutal da repressão na China, desde a ascensão ao poder do

actual Presidente, Xi Jinping, em 2013. Nos últimos anos, o regime asfixiou a sociedade civil, órgãos de comunicação independentes ou o debate ‘online’, enquanto os esforços pela construção de um Estado de Direito foram substituídos pelo poder absoluto do Partido Comunista, descreve.

BOM E MAU CIDADÃO

O carácter repressivo do regime foi ainda reforçado pelos novos

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês admitiu não ter lido o relatório, mas considerou que “estes documentos, que aparecem rotineiramente, fecham os olhos aos factos e confundem o certo e o errado, sem nenhuma objectividade”

meios tecnológicos, como reconhecimento facial, inteligência artificial ou análise maciça de dados (big data’), sobretudo na região de Xinjiang, no extremo noroeste do país, onde se estima que um milhão de membros de minorias étnicas chinesas de origem muçulmana são mantidos em campos de doutrinação. A nível nacional, o regime está a construir sistemas similares de vigilância, incluindo um “sistema de crédito social”, que permite às autoridades punir “mau comportamento” e recompensar a “boa conduta”. “A confiabilidade das pessoas - avaliada pelo Governo - determina o seu acesso a bens sociais desejáveis, como o direito de viver numa cidade atraente, matricular os filhos nas melhores escolas ou viajar de avião e comboios de alta velocidade”, descreve. Kenneth Roth analisa que “muitos autocratas olham hoje com inveja” para a China, “pela conciliação entre um rápido desenvolvimento económico e modernização, e um controlo aparentemente firme do poder político”. “Longe de ser desprezado como pária global, o Governo chinês é cortejado em todo o mundo, e o seu Presidente, não eleito, é recebido com tapete vermelho onde quer que vá”, sintetiza. Pequim respondeu prontamente, afirmando que a situação dos direitos humanos no país atravessa o “melhor período de sempre”, e que o relatório anual da organização não-governamental Human Rights Watch é “subjectivo”. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Geng Shuang admitiu não ter lido o relatório, mas considerou que “estes documentos, que aparecem rotineiramente, fecham os olhos aos factos e confundem o certo e o errado, sem nenhuma objectividade”. Geng disse que o povo chinês tem a palavra final sobre o estado dos direitos humanos no país, que ele descreveu como atravessando “o melhor período de sempre”.

Conversa de surdos

Pequim reitera reunificação de Taiwan através de ‘Um País, Dois Sistemas’

O

Governo chinês reiterou ontem o objectivo de reunificar Taiwan através da fórmula ‘Um País, Dois Sistemas’, apesar da vitória do partido pró-independência nas eleições presidenciais e legislativas no sábado passado O porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado chinês, Ma Xiaoguang, disse que Pequim vai continuar a insistir no chamado ‘Consenso de 92’, que reconhece tanto Taiwan, como a China continental como parte de uma única nação chinesa. “Não nos envolvemos ou criticamos as eleições de Taiwan. Estas eleições locais em Taiwan não podem mudar o ‘status’ de Taiwan como parte da China”, frisou Ma, em conferência de imprensa. O porta-voz não repetiu abertamente a ameaça da China de usar a força, se necessário, para reunificar Taiwan, mas afirmou que as autoridades de Taiwan precisam de “reflectir profundamente” e afirmou que o apelo para seguir aquela via tem crescido entre o público chinês. Ma indicou que sistemas políticos diferentes não constituem “um obstáculo à unificação, nem uma desculpa” para manter o estado actual de Taiwan como um território de facto independente.

PREÇO ALTO

A Presidente reeleita de Taiwan respondeu argumentando que a China deve aceitar que o território é um país independente, alertando que qualquer tentativa de reunificação pela força teria um alto custo para Pequim. Na primeira entrevista desde a reeleição, Tsai Ing-wen, de 63 anos, disse sentir que a proclamação de independência por Taiwan não é, contudo, necessária. “Não precisamos de declarar que somos um Estado independente”, disse à cadeia televisiva britânica BBC. “Nós já somos um país independente, chamado República da China, Taiwan”, sublinhou. “Temos uma identidade especial e somos um país como tal”, defendeu Tsai. “Somos uma democracia bem-sucedida, temos uma economia bastante sólida, merecemos o respeito da China”, realçou. Tsai alertou ainda contra qualquer iniciativa militar de Pequim: “Invadir Taiwan seria muito caro para a China”.


china 13

quinta-feira 16.1.2020

Hong Kong Quatro pessoas detidas por posse e fabrico de explosivos

A polícia de Hong Kong realizou ontem quatro detenções relacionadas com a posse e o fabrico de explosivos que, segundo as autoridades, seriam utilizados em protestos, noticiou a imprensa local. Estas foram as últimas detenções relacionadas com o fabrico ou posse de explosivos desde que começaram, em Junho, os protestos. Em comunicado, a polícia indicou ter apreendido uma bomba caseira e material para fabrico de explosivos em diferentes locais da cidade. A bomba, que foi descoberta na área residencial de Mong Kok, tinha 20 centímetros e pesava 680 gramas, tendo as autoridades realizado uma explosão controlada do engenho. A rusga foi realizada no mesmo dia em que o Governo de Hong Kong anunciou o cancelamento, alegando razões de segurança, da exibição dos tradicionais fogos de artifício do Ano Novo Lunar, agendada para o segundo dia do próximo Ano do Rato, em 26 de Janeiro.

Wuhan Autoridades admitem transmissão entre humanos

As autoridades de saúde de Wuhan, no centro da China, admitiram ontem a possibilidade de que a doença respiratória que matou uma pessoa e infectou 40 seja transmissível entre seres humanos. Numa declaração publicada no portal oficial, a Comissão Municipal de Saúde de Wuhan explicou que, embora não haja nenhum caso de contágio entre seres humanos comprovado, a possibilidade de ocorrência “limitada” não pode ser descartada. As autoridades locais sublinharam, no entanto, que “o risco de infecção entre humanos é baixo”. Os casos de pneumonia viral alimentaram receios sobre uma potencial epidemia, depois de uma investigação ter identificado a doença como um novo tipo de coronavírus, uma espécie de vírus que causam infecções respiratórias em seres humanos e animais e são transmitidos através da tosse, espirros ou contacto físico.

COMÉRCIO CHINA E EUA ASSINARAM ACORDO VISTO COMO FRÁGIL

Com letra tremida

China e Estados Unidos assinaram ontem um acordo parcial, para ultrapassar as disputas comerciais entre os dois países, mas que analistas consideraram uma trégua frágil, após meses de uma crise que abalou a economia mundial

A

formalização do documento, designado como “acordo de primeira fase”, foi assinado durante uma cerimónia na Casa Branca, e é o resultado de um compromisso limitado entre Washington e Pequim, numa altura em que os dois países temem as consequências económicas e financeiras de uma prolongada guerra comercial. Segundo o acordo, a China compromete-se a importar um total de 200 mil milhões de dólares em bens oriundos dos Estados Unidos, incluindo produtos agrícolas, para reduzir o déficie comercial entre os dois países. Ao mesmo tempo, Pequim compromete-se a não manipular o valor da moeda ou a proteger a propriedade intelectual das empresas norte-americanas, em troca de uma

suspensão parcial das taxas alfandegárias impostas por Washington sobre bens importados da China. No entanto, o acordo não anula a maior parte das taxas punitivas impostas pelos EUA sobre 360 mil milhões de dólares de produtos importados da China e exclui reformas profundas no sistema económico chinês, incluindo a atribuição de subsídios às empresas domésticas, enquanto as

protege da competição externa. Os Estados Unidos vão assim manter taxas alfandegárias adicionais de 25 por cento sobre 250 mil milhões de dólares de bens importados da China e de 7,5 por cento sobre mais 120 mil milhões de dólares. Também é improvável que a assinatura do documento suspenda a rivalidade estratégica entre as duas potências, que se acelerou

“Washington considera a ascensão económica de Pequim uma ameaça à segurança do país e à dos aliados e parceiros. Enquanto isso, Pequim considera como imperativos existenciais a aceleração da inovação local e a abertura de mercados de exportação alternativos.” ALI WYNE ANALISTA

durante a presidência de Donald Trump e se alastrou a assuntos de Defesa e de alta tecnologia, incluindo redes de telecomunicações de quinta geração (5G) ou a inteligência artificial. “A assinatura desta trégua, apesar de ser bem-vinda, não muda a realidade de que os dois países estão em posições cada vez mais antagónicas”, observou a analista na unidade de investigação Rand Corporation Ali Wyne, citada pelo jornal Financial Times. “Washington considera a ascensão económica de Pequim uma ameaça à segurança do país e à dos aliados e parceiros. Enquanto isso, Pequim considera como imperativos existenciais a aceleração da inovação local e a abertura de mercados de exportação alternativos”, descreveu. Em causa está o plano “Made in China 2025”, que visa transformar as empresas estatais chinesas em potências tecnológicas, com capacidades em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos. Washington considera que aquele plano viola os compromissos assumidos por Pequim na abertura do mercado. O Governo chinês quer uma eliminação mais rápida das taxas alfandegárias após o acordo, mas a administração norte-americana resistiu, numa tentativa de garantir que a China respeitará os compromissos. Trump sugeriu já que uma segunda fase das negociações seja deixada para depois das eleições presidenciais nos EUA, em Novembro de 2020.

ACTOS PRELIMINARES

Nas vésperas da assinatura do acordo, o departamento do Tesouro norte-americano abandonou a designação da China como país manipulador de moeda, implementada quando as tensões aumentaram em agosto passado. O anúncio foi feito exactamente quando o vice-primeiro-ministro chinês Liu He, encarregado dos assuntos económicos, aterrou em Washington. As autoridades norte-americanas têm ainda alterado a retórica sobre a China, adoptando um tom mais conciliador. O encarregado de negociar o acordo com a China, Robert Lighthizer, disse em entrevista à imprensa norte-americana que o seu objectivo não é dissociar as duas economias, mas antes reescrever “as regras”, para que funcionem para ambos os países. “As pessoas podem falar à vontade, que não me incomoda. Eu acho que o Presidente tem uma visão. Ele fez-nos trabalhar árduamente e demos um grande passo em frente”, garantiu.


14 publicidade

16.1.2020 quinta-feira

Direcção dos Serviços de Identificação AVISO Registo dos titulares dos órgãos sociais das associações Nos termos da lei, a duração do mandato dos titulares dos órgãos sociais não pode exceder 3 anos, pelo que é necessário realizar o devido registo na DSI, no prazo de 90 dias, sempre que se verifique o termo e a renovação do mandato ou alterações dos titulares. Para pormenores, queira ligar para a linha de informação da DSI: 28370777.

NOTIFICAÇÃO N.° 11/AI/2020 -----Atendendo a que não é possível proceder à respectiva notificação pessoal, pela presente notifique-se ZHAO LIHUA, proprietária da fracção autónoma situada na Taipa, Rua de Bragança n.° 312, Urbanização da Nova Taipa-Fase I, Bloco 24, 16.° andar F, que no dia 15.01.2020 caducaram as medidas provisórias que foram aplicadas à referida fracção na sequência do Auto de Notícia da DST n.º 191/DI-AI/2019, de 16.07.2019.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Para mais informações, o ora notificado pode comparecer nas horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos D’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.º andar.--------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 8 de Janeiro de 2020. O Director dos Serviços, Subst.°, Cheng Wai Tong


quinta-feira 16.1.2020

Um líquido céu que se difunde, astros em minha alma!

A

CORDO. Três e meia da manhã, o delicado pipilar dos pássaros sucedeu-se à chuva. Interrompe um pato, rouco, espesso, como se pusesse uma rolha na garrafa. Olho os livros amontoados sobre a arca chinesa e em cima destes o caderno que ampara a centena de folhas soltas que resultou da triagem anual dos cadernos, reunidas como seixos para serem escamados e dactilografados. É um castigo de frases soltas, de esboços, de citações e aforismos. Transcrevo as primeiras: «”Há o homem e há também a omelete…”, garantia Lacan.» «Não lembro donde tirei esta frase, mas acho-a magnífica: “o que me arrepia no cristianismo é a ideia desse Deus que poderia amar-me a mim!” De facto, que pobreza de espírito!» «”Éramos como navios que se saudavam em alto mar, cada qual baixando a sua bandeira”, escreveu Jung, com grande compreensão da alma humana. E o afecto desata-se quando num pequeno escaler os tripulantes se cumprimentam, brevemente, confirmando: a vida é a rara despistagem da vida.» «O seu olhar de gata incandescente promete esbrasear todos os campos de trigo que a placidez duma vida amealhou, mas eu já não estou virado para escaqueirar a rotina num gesto, no gesto. Por isso quando volta a espetar os mamilos na direcção das minhas íris e insiste: “professor, se eu tiver treze dispensa-me de exame, não dispensa?”, eu atalho: “Não!”.» «Consideram-se os ossos palustres quando acima deles ainda sonha a carne.» «A cobra, esfolada, ainda se mexia: Guimarães Rosa.» «Tropeçou na longa ausência da palavra framboesa.» «Começou a deixar os dias estendidos na corda da infância.» «Não, meu caro Bernard Noel, a página não é um espaço mental, mas um hangar, um daqueles hangares enormes e com direito a nuvens esparsas e micro-clima, o que te pode constipar, ó poeta. Foi mais sagaz o Pessoa quando dizia que com ele estava o universo constipado.» «Nascia o lagarto da cabeça de uma criança morta com meningite.» «Eu amava-a, mas os seus acessos de tosse matavam em mim o melómano.» «A mais perturbadora das experiências e simultaneamente a única em que à partida queremos descuidar é a do efeito do tempo em nós.» «Só na língua materna se pode dizer

O sonho trabalha MIGUEL RIO BRANCO

diário de Próspero

António Cabrita

a verdade, lembrava Celan. O problema é que levamos décadas a descurar a nossa pertença a uma língua e às vezes só despertamos para ela quando ela já nos virou as costas.» «O título de um capítulo de Michael Certeau sobre a escrita, O Lugar do Morto e o Lugar do Leitor, faz-me jorrar a hipótese de que nas sociedades tradicionais o único leitor seja o morto, o único intérprete seja o morto, e que esse terá sido o escândalo da escrita: introduz um leitor exterior ao antepassado e ao invisível.» «De cada vez que encontrava alguém e dizia, epá, vinha a pensar em ti, a pessoa evolava-se à sua frente.»

«”Traçam-se sempre duas margens: uma margem obediente, conforme, plagiária (trata-se de copiar a língua no seu estado canónico, tal como foi fixada pela escola, pelo uso correcto, pela literatura, pela cultura) e uma outra margem, móvel, vazia (apta a tomar quaisquer contornos) que é sempre o local do seu efeito: o ponto em que se entrevê a morte da linguagem” (Barthes): Gosto da expressão plagiária atribuída ao chão e pragmático uso da língua, essa face desenrugada, imaterial, duma língua suspensa sobre si mesma para servir um trânsito que a fantasmeia e lhe esquece as derivas, as clivagens, as sombras próprias. E o que se apodera do sujeito quando para ele a

Nunca dominei a língua e sempre lhe temi a morte nesta minha incapacidade para a expandir e magnificar. A minha deficiência, a minha inconsistência no seu uso, culpabiliza-me, é em mim terreno de conflito. Trabalhá-la, procurar o seu fluxo, é a saída provisória – a única cicatriz viável

h

15

linguagem nunca foi objecto de fruição, nomeando tudo com letras mudas, em deflação? De que está possesso quando nunca pode assumir-se como margem ao que foi dito? Que é esse algo secreto, anónimo, que o condiciona ao sentido literal? Nunca dominei a língua e sempre lhe temi a morte nesta minha incapacidade para a expandir e magnificar. A minha deficiência, a minha inconsistência no seu uso, culpabiliza-me, é em mim terreno de conflito. Trabalhá-la, procurar o seu fluxo, é a saída provisória – a única cicatriz viável. Não sei como explicar isto a quem não o sente, a quem não compreende que o prazer do texto, como dizia Barthes, é uma agramaticidade.» «No excerto do Manifesto do Surrealismo, de Breton, que Mário Cesariny traduziu para os seus Textos de Afirmação e de Combate do Movimento Surrealista Mundial há uma gralha deliciosa, que transcrevo: «… quando ia dormir, Saint-Paul-Roux mandava sempre pôr sobre a porta do seu solar de Camaret o seguinte letreiro:”O POETA TABALHA” (pág. 67). Mais correcto não há: o sonho tabalha sem parar.» «Philippe Sollers é, há já mais de sessenta anos, um dos mais prolixos e instigantes autores franceses e entre os livros dele que prefiro estão Casanova L’Admirable, a verdadeira cartografia da insurreição que é L’Écriture et l’experience des Limites, e o seu longo diálogo sobre Dante, La Divine Comédie. Hoje reabri o livro sobre Casanova e voltei a verificar que nunca lhe falta o desassombro, a capacidade para pensar sempre de forma politicamente incorrecta, como neste delicioso excerto: “Conhece-se o disco: se Casanova se interessa de tal forma pelas mulheres, é porque ele era, sem se confessar homossexual. De resto, essas histórias de mulheres são duvidosas. Era preciso ter a versão delas. De todas as maneiras, que procura um homem nas suas múltiplas aventuras femininas senão a imagem única da sua mãe? Don Juan, não era, no fundo, homossexual e impotente? Fala-se muito, nomeadamente, de homofobia, mas jamais de heterofobia: é estranho.”» «Abrir um livro ao acaso e deparar com esta exactidão, de Lope de Vega: “como no sabe de amor, piensa que todo es burlar”». A luz da alba recorta-se como uma lâmina. O pato calou-se. Penso, chega de missa, o que me apetece agora é um sumo de laranja. Levanto-me.


h

retrovisor Luís Carmelo

A

literatura popular de natureza profética foi uma potente arma de guerra entre o Islão e o mundo cristão, pelo menos entre o século VII e finais do século XVI. Nela encontramos milhares de textos que prenunciaram o que hoje designamos por “fake news” como se fosse uma coisa totalmente nova. E não se pense que os milenarismos tenham constituído, nesse vasto período, uma exclusividade da cultura cristã, como geralmente se crê. É este o tema da segunda crónica de 2020 que aqui vos deixo. Numa profecia da minoria cristã-nova e mourisca da foz do Ebro, provavelmente dos anos trinta do século XVI, podia ler-se: “No se detallará/ ni sabrán k(w) ando se levantará el dí(y)a/ del judiçi(y)o d-akí-(y)a ke verán los/ montes ke se abrán ap(a)lanado”1 (não se especificará, nem ninguém virá a saber quando será o dia do juízo, daqui até que os montes se tenham aplanado). Esta curiosa metáfora da espera escatológica, que reata, aliás, uma expressão presente no Alcorão (na surata XVIII,45), centra-se mais na ideia de espaço do que no cômputo temporal, o que está de acordo com o facto de a revelação islâmica ter sempre privilegiado a natureza a outro tipo de simbolismos. No entanto, eles também vigoraram e de que maneira. Passemos a factos. Durante o reinado do quinto califa abássida, o famoso Harún ar-Rashíd (764-809), surgiu a público – com diversas versões - um texto enigmático designado por Apocalipse de Bahíra. Esta profecia anónima (atribuída a um monge cristão que se teria convertido ao Islão) integrava-se na tradição de uma outra de origem cristã (o chamado Pseudo-Metodius dos anos 660-680) em que se imaginava um imperador-salvador que, mil anos após a morte de Alexandre-O-Magno, apareceria para pôr cobro à súbita emergência islâmica. Como A. Abel escreveu, “o surgimento dos árabes foi apresentado no Apocalipse de Bahíra, tal como no Metodius, enquanto reflexo de um dos acontecimentos catastróficos que preparariam o fim do mundo”2. O texto iniciava-se com uma visão de tipo danielítica e terminava com uma série de predições que se sucederiam a partir do ano 1050 de Alexandre (ano de 677), em consonância com as premonições milenares do Metodius cristão. Tal como foi apanágio do mundo cristão, também no Islão a semana cósmica dos sete milénios fez parte integrante do imaginário popular, ainda que à margem das ortodoxias e das disputas teológicas. Um bom exemplo é a Taríkh ar-Rusul wa-l-Mulúk (História dos Profe-

16.1.2020 quinta-feira

´

Islão, fake news e tradição milenar PLEASURE PILLARS BY SHAHZIA SIKANDER

16

tas e dos reis) de at-Tabarí (838/9-923)3. Na primeira parte do livro, o autor, debatendo-se com a duração do mundo, afirmava: “... foram transmitidas informações, sob a autoridade do mensageiro de Allâh, que provam a veracidade do testemunho, segundo o qual (todo) este mundo é de seis mil anos”. Uns séculos mais tarde, na fantástica al-Muqaddima (Discurso sobre a história universal), Ibn Khaldún (1332-1406) comentou a passagem de at-Tabarí, replicando: “at-Tabarí fundava-se numa tradição” que atribui a este mundo a duração de “uma só semana de todas as semanas do outro mundo”4. Céptico em relação a at-Tabarí, Ibn Khaldún, recorrendo ao Alcorão (Surata XXII,47) e a outras fontes da tradição (do Sahíh), corrigiu o seu predecessor e referiu que, nessa óptica, o mundo “teria durado (após a emergência do Islão) metade do sétimo de uma semana (de 7000 anos), ou seja, quinhentos anos”, devendo o fim já ter ocorrido em 1122, o que, de facto, não acontecera. Nos Apocalipses populares, escritos durante séculos em terras islâmicas, a história surgia dividida em sete milénios, homólogos aos sete planetas que directamente a afectariam. Desta forma, a cada milénio corresponderia um planeta, uma língua e até uma forma de escrever. Neste sistema de homologias perfeitas, a criação de Adão remontaria ao primeiro dos milénios e o último ao advento da revelação de Maomé. No Apocalipse de Ka’b al-Ahbâr (séc. XIII5), o sexto século do Islão surge de facto descrito como o termo da revelação. Na tradução de A. Abel, o pequeno poema que fecha uma outra profecia milenarista, a Síhat al-Búm (também do séc. XIII), anuncia para o último ano do derradeiro milénio (999 após a Hégira, ou seja, para 1621)

uma catástrofe generalizada, bem como a abdicação dos cristãos (no quadro do modelo islâmico da conversão universal que deveria preceder a era escatológica da salvação). Segundo M. Sánchez Alvarez, esta tradição profética popular ficou a dever-se à existência de tradições (hadíth) de cariz apócrifo que tinham enorme difusão e que se dedicavam a quantificar os “milénios da Hégira”6 (lembremos que os mouriscos de Aragão foram definitivamente expulsos de Espanha no ano de 1610, não muito longe do que se afirmava na Síhat al-Búm). A tradição do milénio da Hégira parece ter tido igualmente ecos, de acordo com A. Bouchard, na postura guerreira da dinastia Sa’dí (ou Saadiana) face às incursões de Portugal e Alcácer-Quibir comprovou-o à saciedade7. Embora haja autores que não relevam a importância teológica do milénio islâmico, caso de M. García Arenal8, a verdade é que existem textos proféticos de origem cristã que o referiram à exaustão, tentando habilmente manipular os dados que aí se enunciavam. É o caso dos oráculos de “Leão o Sábio, combinados com os presságios do milénio da Hégira”9 e de uma profecia turca anónima, editada em 1546 e atribuída a um enigmático personagem cristão de nome Barthélem Georgievitch. Os dois textos estabelecem ligações entre o milénio da Hégira e a conquista da “maçã vermelha”, interpretada como sendo Constantinopla. K. Setton estudou aprofundadamente este último texto e assinalou: “A profecia demonstra que os cristãos acreditavam deter o monopólio das profecias de guerra que anteviam a destruição do Império Otomano”10. Mas é igualmente verdade que os turcos criaram profecias de teor idêntico, uma delas, curiosamente, com o título latino, o Vaticinium Infidelium Lingua Turcica, identificava a “maçã vermelha” com a cidade de Roma. Para além do milénio alexandrino, da semana cósmica e do milenário da Hégira, existe um outro modelo milenar nas geografias islâmicas que viria a ter grande importância no Ocidente cristão. Trata-se do registo astrológico que, para além da tradição das Tábuas de Toledo de az-Zarqâlí, se centrou sobretudo nas inúmeras traduções do Kitâb al-Qirânât (Livro das Conjunções Astrais), escrito no século IX por Abú Ma’shar, conhecido no Ocidente como Albumassar. Este texto foi a base para muitos textos sobre o fim do mundo que se espalharam no Ocidente e no Médio-Oriente a partir do final do século XII, já que o cômputo de 960 anos por cada conjunção astral atraía inevitavelmente conteúdos milenaristas. Jirâsh b. Ahmad, em obra composta para o vizir Nizâm al-Mulk

(m.1092), propôs que, entre a emergência do Islão e o fim do mundo, duraria o tempo correspondente a uma conjunção astral adicionado de um século (o que apontaria para 1682). Entre muitos outros autores, Abú Ma’shar foi citado por Roger Bacon (m.1292) que concluiu que a lei de Maomé não poderia durar mais do que 693 anos (i.e. até 1315). Um século e meio depois, Martín García (1441-1521), bispo de Barcelona, calculou que o Islão duraria 875 anos (i.e. até 1497), relacionando a data fatídica de 1492 e a da conjunção astral de 1524 com o destino final dos mouriscos, os famosos cristãos-novos do levante ibérico (que, na altura da expulsão, seriam perto de 300.000: 135.000 a residir na região valenciana, 91.000 em Aragão e cerca de 45.000 em Castela). Através das tradições (hadíth) e da proliferação de textos anónimos de grande difusão, o milenarismo islâmico foi um facto. Tal como no Ocidente, funcionou à margem das ortodoxias, embora estas não deixassem nunca de forjar premonições para manietar os inimigos. Algo muito parecido com o que hoje se passa com as chamadas “fake news”. O que dantes era o pretexto religioso para criar sentido é hoje a navegação na rede com múltiplas finalidades, mas sempre ao serviço dos mais obscuros poderes. Continuidades.

1 - M.Sánchez Alvarez, El Manuscrito Misceláneo 774 de la Biblioteca Nacional de París, Gredos, Madrid, 1982, p.317. 2 - A.Abel, Changements politiques et littérature eschatologique dans le monde musulman em Studia Islamica, Vol. II, 1965,pp. 23-45. 3 - Abú Jafar Muhammad b. Jarír al Tabarí, The History of al-Tabarí - General Introduction and From Creation to the Flood (Vol.I); ed. ut.: tr. Rosenthal, Franz; State University of New York Press, Albany, 1989. 4 - Ibn Khaldún, Discours sur l’Histoire Universelle (alMuqaddima), org./tr. Monteil, Vincent: Comission Internationale pour la traduction des Chefs d’Oeuvre, Beyrouth, 1967-I, p. 248 (e ainda 1968-II / III). 5 - A.Abel, Un Hadith sur la prise de Rome dans la ttadition eschatologique de l´Islam in Arabica, Tome V,1958, pp.1-15 6 - Mercedez Sánchez Alvarez, La lengua de los manuscritos aljamiado-moriscos como testemonio de la doble marginación de una minoría islâmica em Nueva Revista de Filología Hispánica, Madrid, nº 30, 1981, pp. 441-452. 7 - Ahmed Bouchard, Les conséquences socio-culturelles de la conquête ibèrique du litoral marocain em Actas del Coloquio Relaciones de la Penínsule Iberica con el Magreb, Madrid, 1988, pp. 487-538. 8 - Mercedez García Arenal, Mahdi, Murabit, Sharif: l’avènement de la dynastie sa’dienne em Studia Islamica, nº LXXI, 1990 pp. 77-114. 9 - Jean Deny, Les pseudo-prophéties concernant les turcs au XVIe siècle em Révue des Études Islamiques, nº 10, Cahier 2, 1936, pp. 201-220. 10 - Kenneth Setton, Western hostility to Islam and prophecies of turkish doom, American Philosophical Society, Phioladelphia, 1992, p.132.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 17

quinta-feira 16.1.2020

roupa Suja Antønio Falcão

O

João não percebia a razão que proibia o uso de adjectivos na literatura. Ficava em pulgas por não poder dizer que a vista era incrível, ou que a sua mulher era soberba, ou o canto do pássaro divinal. Não, não podia, senão tornava-se um escritor vulgar. E também não devia usar artigos e pronomes indefinidos, um ou uma, nem a omnipresença do sujeito nos tempos verbais, transformando o narrador em figura divina. Nem ser egocêntrico. Estar sempre a escrever “eu isto” ou “eu aquilo”. Isso já era burrice. E assim nunca iria ser alguém no mundo das letras, esse planeta sem órbita. Não o iriam convidar para representar o seu país em feiras do livro no estrangeiro. Nunca iria a Guadalajara ou à ilha da Madeira. Se fosse não seria por causa dos seus livros banais cheios de predicados e eufemismos. Irritava-o que as regras tenham sido determinadas desse modo e só lhe apetecia desistir e mandar toda a gente para o catano – era outro dos seus disfarces no estilo, face ao veto linguístico incutido dentro dele que o refreava nas expressões obscenas, em detrimento do tom coloquial. Nem uma asneira caía da sua pena, com medo de fugir ao preceito da gente educada. Nunca iria grafar “casa de putas”.

Romances de bordel

Se calhar, lembrara-se, devia escrever peças de teatro, aí ninguém iria reparar que era mau escritor, ficaria regido em espaço limitado envolto em cenografias e pontos de luz. Poderia uivar os seus atributos mais contidos e largar as vísceras em cima do palco. O público não lhe apontaria o dedo com indiferença. Não notaria os erros gramaticais, ou as vírgulas fora do lugar, como ervas daninhas na planície de uma página. Sobretudo, porque não seria publicado. Porque se fosse escritor de peças de teatro recusaria o material impresso. Seria apenas dito, ficando a ecoar no juízo descontinuado dos espectadores. Tinha temas na sua cabeça que lhe ocupavam o horizonte com tempestades que largavam brasas. Onde ultimamente rumorava o cego Gaudêncio e a sua mazurca funesta, “Ma Petite Marianne”, que nunca ouvira, mas que fora tocada quando mataram Baldomero Afoito e Fabian Minguela, na província galega de Ourense, escorria ainda a guerra civil pelos poros dos protagonistas. Duas mortes contabilizadas no título do romance de Camilo José Cela: “Mazurca para dois mortos”. Gaudêncio Beira, seminarista que os padres expulsaram quando cegou, e que mais tarde se tornou acordeonista no bordel onde proliferava a sua sobrinha Benícia. Estilo sujo e preenchido, em autor de fazer inveja.

Consumira tudo sobre a Guerra Civil Espanhola. Desde o documento cronológico ao romance ficcional a várias mãos. Via-se nas brigadas internacionais a experimentar a vida densa para depois a contar. Uma escrita de homenagem à realidade vivida. Ocupara o seu tempo a lambiscar a história da Grécia Antiga e dos Romanos. Imaginava-se em épocas memoráveis, na

“Aguentar professores perdidos no classicismo sem a ponta de aventureirismo contemporâneo. Os cânones da literatura, a veneração aos clássicos. A moldávia frásica sem fendas, no artifício conotativo e polissémico. Termos que vomitava nos intervalos.”

pele de Quinto Horácio Flaco, por exemplo, poeta romano, contemporâneo dos feitos de sumos imperadores, eclodindo os seus dias nas diligências que levaram à morte de Júlio César – o velho Gaudêncio não lhe dedicou uma mazurca – ou na luta bélica contra Marco António e Cleópatra. O mundo passava-lhe ao lado. Não ligava aos assomos da sociedade, não interferia em discussões relevantes, não tomava partido. Frequentava sessões com os alguns amigos escritores, mas tudo aquilo lhe sabia a bombinha de carnaval. A língua morta. Para escrever tinha de estar imbuído numa casa de má fama, onde tudo pode acontecer e não resistem as teorias da literatura. E para quê escolher essa profissão? Questionava-se. Porque razão se inscrevera na faculdade com esse objectivo primário? Ainda tinha idade para abarcar outro futuro, que não inclui-se o rebordo do estupro fonético. A universidade tinha sido uma tortura. O pouco que lá estivera servira-lhe de boa lição. Levar de supetão com as disciplinas mais teóricas, intransigentes na sua medula há décadas. Aguentar professores perdidos no classicismo sem a ponta de aventureirismo contemporâneo. Os cânones da literatura, a veneração aos clássicos. A moldávia frásica sem fendas, no artifício conotativo e polissémico. Termos que vomitava nos intervalos. Sim, também gostava de Horácio, mas havia limites. Não aguentara o primeiro semestre. Logo no segundo mês as faltas eram frequentes, sem estímulo, vagueava pelo bairro universitário sem destino, bebendo álcool e inspiração. Mas a ideia fixa de autor de ficção permaneceu. Era inventivo. Armazenava livros no seu quarto, que debulhava em qualquer estação do ano. Ter concorrido para ser publicado em jornais para jovens esperanças nacionais já era outra história. Os jovens literatos, sim, não se podia qualificá-los. Não se podia escrever que eram fenomenais, isso já era adjectivar o protagonista. Essa nova vaga, ainda imberbe na composição, diriam os seus mestres-escola, eram meras tentativas para o progresso da língua portuguesa. Não eram bons nem maus. Cumpriam a função no caderno de encargos da cultura nacional. Estavam na rampa de lançamento, encostados ao foguetão, em linha de partida. Como o cego Gaudêncio a tocar uma sarapitola e a levar com um balázio pelo ouvido adentro. Talvez fossem selecionados por alguma editora e se publicassem um livro até podiam escrever sobre eles nas revistas da especialidade. Ou uma chamada de capa no Jornal de Letras. Quem não almeja uma página sobre o seu nado impresso e umas quantas estrelas? Uma resenha redigida por outra sumidade escolhida a dedo. Sim, isso tudo, mas nada de adjectivos.


6

18 (f)utilidades MUITO

?

NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente 37 “GAME – GIGI LEE’S MULTIMEDIA” EXPOSIÇÃO

7 4 1 6 3 5 5 6 3 7 2 4 3 1 2 5 7 6 EXPOSIÇÃO “NO YA ARK: INVISIBLE VOYAGE” 6 7 4 2 1 3 Armazém do Boi | Até 2/2 2 5 6 3 4 1 1 3 7 4 5 2 4 2 5 1 6 7 Armazém do Boi | Até 16/2

2 1 4 5 7 6 3

EXPOSIÇÃO “MACAU CANIDROME-POUCHING TSAI SOLO EXHIBITION” Armazém do Boi | Até 11/2

39

3 2 6 1 7 5 4

5 6 1 3 2 4 7

1 7 4 5 3 6 2

41 Cineteatro

2 5 1 3 7 4 6

1 4 6 2 5 3 7

5 3 7 6 1 2 4

7 4 2 6 1 3 5

6 3 7 4 5 2 1

2 5 3 7 4 1 6

4 1 5 2 6 7 3

C4 I 3N 7E 6M A 1 2 7 3 6 5

2 5 4 6 7 1

6 3 5 4 1 2

7 4 1 2 5 3

MIN

18

MAX

23

HUM

6 5 - 9 5´%

2

1 3

7 4 •

EURO

3

4

78 . 933

1 16.1.2020 quinta-feira 7 4

BAHT

0.26

Y4 UAN

1 1.16

39

38

7 3 6 5 1 2 4

6 1 5 3 7 4 2

5 4 2 1 6 7 3

4 7 3 2 5 1 6

1 6 4 7 2 3 5

3 2 7 6 4 5 1

RATO ILUMINADO

40

5 3 2 4 6 1 7

1 2 6 5 3 7 4

6 4 7 1 5 2 3

3 5 4 7 2 6 1

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 40

2 1 3 6 7 4 5

4 7 5 2 1 3 6

2 5 1 4 3 6 7 7 6 1 3 4 5 2

42

UM LIVRO 3 7 5 4HOJE 6 1 2 6 4 2 5 1 7

5 1 6 3 4 2

4 2 1 6 7 3

7 5 3 2 6 1

3 7 4 1 2 5

Muito além de um livro de viagens, “O Cruzeiro do Snark” é um diário de bordo que retrata uma volta ao mundo que teve de ser interrompida devido a problemas de saúde de Jack London, que viria mesmo a ser hospitalizado em Sidney. A viagem ocorreu em 1907 ao longo do Pacífico Sul, na companhia da esposa do escritor, Charmian London, e uma pequena tripulação. O livro revela o afastamento de territórios insulares como o Hawaii, as Ilhas Salomão e Fiji. “O Cruzeiro do Snark” obedece à habitual forma descomplexada de escrita de Jack London, o que faz com que a obra do autor permaneça fresca ainda hoje. João Luz

2 6 5 7 3 4

1 3 7 4 5 6

5

6 43 4 3 14 3 2 1 37 5 6 7 51 65 3 4 6 2 7 3 2 6 5 1 67 4 1 7 4 6 12 73 5 4 6 4 53 7 5 2 1 2 5 7 4 6 1 3 5 em6Xangai, 1uma2enorme3lanterna4em forma 7 Em pleno Jardim Yuyuan,

de rato é o centro das decorações que anunciam a chegada do novo ano lunar, o ano do rato, que começa a 25 de Janeiro.

41 45

1 44 3 3 5 7 6 6 2

PROBLEMA 41

47

2 7 1 6 3 4 5

52 7 76 4 1 5 3 1 4 6 2 7 5 3

6 3 25 72 34 1 7 6 3 5 1 2 7 4

33 1 7 6 5 2 14 3 5 4 7 6 2 1

4 5 31 3 42 7 6 7 2 3 5 4 1 6

67 2 4 1 6 53 5 4 1 7 3 5 6 2

5 6 2 7 3 4 1 5 6 2 4 1 3 7

CASOS40 PARA-NORMAIS 1

3 Galáxias 44 infinitas de temas para escrever 5 hoje, mas escolho dois pequenos temas como alvo5 desta 4 cansada 66pena.continuará 2Ho Iat7 Seng assegura que em Macau a haver liberdade de imprensa, mas espera 14 2Vamos 41 sabo-3 patriotismo7 dos jornalistas. rear esta pérolas juntos. Isto é o equivalente lógico a exigir 4 o consumo 6 3desmesurado 5 2 de vodka, garantido a sobriedade total. A factualidade não é emotiva, nem se faz por 71 vai1ter de6explicar4 encomenda.3Alguém à elite política de Macau que um órgão de comunicação 2 social 5 é7diametralmente 33 1 oposto a uma agência de publicidade. Fora de brincadeiras, este é um discurso 6 2de seguidismo 4 1 cego5 perigoso, carregado e servilismo perante o poder maior. Em nada dignifica 1o elevado 3 grau 5de autonomia 7 6 que seria de esperar de um sistema que se gaba de ser diferente, que supostamente garante direitos fundamentais. O segundo tema é Mak Soi Kun, o homem-assunto, a 42Mun, que esta semana proposição de Kong teorizou que a humidade e as infiltrações das casas provocam cancro e problemas de saúde aos bebés. Não especificou quais as doenças que os bebés podem desenvolver quando expostos a infiltrações, deixando aberto o flanco à jocosa especulação desta canina coluna. Unhas encravadas? Flatulência atómica? Incapacidade para controlar o impulso de dizer alarvidades em idade adulta? Outra nota sobre Big Mak, de longe o meu deputaod preferido, é que na sua página pessoal da AL, de uma legislatura para outra, as suas habilitações académicas passaram de ensino secundário para mestrado em sociologia pela Universidade Sun Yat-sen e doutoramento em gestão pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong. Pronto, é isto. Entregues aos bichos! João Luz

46

4 2 5 7 3 6 1

48

4 3 5 7 2 6 1

BAD BOYS FOR LIFE [C] Um filme de: Adil El Arbi, Bilall Fallah Com: Will Smith, Martin Lawrence, Vanessa Hudgens 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2

1917 [C]

Um filme de: Sam Mendes Com: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Benedict Cumberbatch 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

JUDY [B] Um filme de: Rupert Goold Com: Renee Zellweger 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

www. hojemacau. com.mo

1 5 7 24 65 3 4

7 3 6 1 5 4 7 2

5 36 7 2 45 1 6

7 15 6 3 53 4 2

1 4 2 6 76 37 5

3 5 1 43 6 2 7

2 6 4 5 1 72 35

61 7 3 1 2 5 44

1 2 6 4 3 7 5

2 5 7 6 4 1 3

3 1 2 5 7 4 6

7 4 1 3 6 5 2

5 6 4 2 1 3 7

6 7 3 1 5 2 4

O CRUZEIRO DO SNARK | JACK LONDON

BAD BOYS FOR LIFE SALA 1

2

VIDA DE CÃO

S U D O K U

TEMPO

2 5

2

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; In Nam Ng; João Santos Filipe; Juana Ng Cen; Pedro Arede Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


opinião 19

quinta-feira 16.1.2020

CARLOS VIEIRA in esquerda.net

J

Á não bastava o ano ter começado com a extinção de mil milhões de animais na Austrália, vítimas dos incêndios incontrolados que já provocaram a destruição de mais de mil habitações, dezenas de pessoas desaparecidas, cidades inteiras evacuadas, milhares de pessoas encurraladas nas praias para onde se refugiaram para escapar às chamas, e o primeiro-ministro, negacionista das alterações climáticas, a reconhecer que a situação só poderá piorar e prolongar-se pelos próximos meses. Ainda tinha de vir outro negacionista, que se retirou do Acordo de Paris sobre o Clima, o populista Trump, violar território de um país soberano onde assassinou estrangeiros, incluindo o general Soleimani, a segunda figura mais importante do Irão que, embora ao serviço dos ayatollahs, foi um dos estrategas da luta contra o Daesh/Isis, os terroristas criados pela Arábia Saudita, aliada dos EUA, iniciando um conflito de consequências imprevisíveis, que na pior hipótese poderá levar a uma guerra mundial, dado envolver países com capacidade nuclear, como os EUA, Israel, a Rússia e, provavelmente, o próprio Irão que já anunciou ir abandonar, por fases, o acordo nuclear assinado em 2015 com Obama e que Trump rasgou no ano passado, contrariando a vontade dos aliados europeus. Face a esta agressão terrorista: • à margem das leis internacionais, e sem qualquer justificação válida, já que a invasão da embaixada dos EUA em Bagdad foi uma consequência de um ataque aéreo contra milícias pró-iranianas no Iraque, em retaliação pela morte de um mercenário dos EUA, e por aí atrás até ao pecado original (não é preciso recuar até 1988, quando um navio de guerra dos EUA , no Golfo Pérsico, abateu com um míssil um avião da Iranian Air matando os 290 passageiros, incluindo 57 crianças) do bombardeamento de inocentes em cidades como Bagdad e Fallujah com base numa mentira de Bush, avalizada por Blair, Aznar e Barroso, que só veio dar força aos fanáticos terroristas que estiveram na origem do Isis/Daesh e a outras milícias que actuam como “corsários” dos aliados dos EUA, os governos, igualmente terroristas, da Arábia Saudita, de Israel e da Turquia; • o parlamento iraquiano aprovou uma reso-

MEDIADC

Trump não ameaça só o Irão, mas toda a humanidade

lução exigindo a saída das tropas dos EUA do Iraque, o que já mereceu a concordância do primeiro-ministro. Mas Trump desmente a anunciada (pelo Pentágono) retirada de tropas do Iraque e anuncia o reforço da sua presença. Também nos EUA, em mais de 70 cidades, houve manifestações contra os ataques norte-americanos, e contra Trump que já ameaçou, em caso de retaliação, atacar 52 alvos bem identificados, incluindo locais “muito importantes para o Irão e para a cultura iraniana”, o que constituiria mais um crime de guerra, ao melhor estilo talibã e Daesh, e um crime contra a Humanidade. A directora-geral da UNESCO (a organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura), naturalmente preocupada com o rico e belíssimo património cultural do Irão, em particular o da antiga civilização persa classificado como Património da Humanidade, já veio chamar a atenção para as convenções internacionais para a protecção de património cultural mesmo em caso de conflitos bélicos, assinadas por ambos os países.

“O governo de Portugal, que tem 34 militares no Iraque, numa coligação liderada pelos EUA, não condenou o atentado ordenado por Trump, limitando-se a condenar o ataque de retaliação do Irão.”

E o governo de Portugal, que tem 34 militares no Iraque, numa coligação liderada pelos EUA, não condenou o atentado ordenado por Trump, limitando-se a condenar o ataque de retaliação do Irão, com mísseis contra duas bases dos EUA no Iraque. No entanto, foi em Lisboa, em Dezembro passado, que o secretário de Estado Mike Pompeo se reuniu com o primeiro-ministro israelita Netanyahu, provavelmente para combinarem este e outros crimes. Mais uma vez, Portugal serviu de mordomo de criminosos. O prémio será comprarmos o petróleo mais caro, em dólares, para financiarmos o esforço dos EUA em manter as 800 bases militares espalhadas pelo mundo. Portugal continua subserviente da NATO, uma organização condenada pelo Parlamento Europeu pela responsabilidade nos sangrentos atentados bombistas de falsa bandeira da rede “Stay Behind” na Europa, com apoio da CIA, de grupos de extrema-direita e da Máfia, nos anos 60, 70 e 80 do século XX, que incluíram golpes fascistas na Grécia (ditadura dos Coronéis) e em Itália (Rede Gládio, abortado graças à denúncia de um jornalista). Aliás, foi a CIA que planeou o derrube do primeiro-ministro iraniano, Mossadegh, restaurando a ditadura do xá Reza Pahlavi a quem forneceram um reactor nuclear com capacidade militar. Trump e os falcões dos EUA podem ripostar com outros assassinatos mais ou menos selectivos, mas os últimos a rir poderão ser os fanáticos terroristas do Daesh. A menos que as heroicas milícias curdas, traídas pelos EUA e a braços com os ataques da Turquia, os voltem a vencer no terreno.


“O acaso… é um Deus e um diabo ao mesmo tempo.”

ALEMANHA TRÊS SUSPEITOS DE ESPIONAGEM PARA CHINA INVESTIGADOS

TIAGO ALCÂNTARA

Machado de Assis

Ciência Fósforo foi gerado na formação de estrelas

PUB

Astrónomos descobriram que o fósforo, elemento químico essencial à vida tal como se conhece, se constituiu durante a formação de estrelas e sugerem que chegou à Terra através de cometas, foi ontem divulgado. Uma equipa de astrónomos detectou monóxido de fósforo na região de formação estelar AFGL 5142 e no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, que viaja entre as órbitas da Terra e de Júpiter e foi estudado pela sonda europeia Rosetta durante dois anos, entre 2014 e 2016. "O fósforo é essencial à vida tal como a conhecemos. Como muito provavelmente os cometas transportaram enormes quantidades de compostos orgânicos para a Terra, o monóxido de fósforo encontrado no cometa 67P poderá fortalecer a ligação entre cometas e a vida na Terra", refere uma das coautoras da investigação, Kathrin Altwegg, citada em comunicado pelo Observatório Europeu do Sul.

quinta-feira 16.1.2020

RÚSSIA GOVERNO APRESENTOU DEMISSÃO E PUTIN ACEITOU

A

justiça alemã anunciou ontem que abriu uma investigação a três pessoas por suspeita de serem espiões da China, entre as quais, de acordo com um jornal alemão, se inclui um antigo diplomata europeu. “Estão em curso investigações sobre suspeitas de espionagem para os serviços secretos” da China, admitiu um porta-voz do departamento da procuradoria-geral alemã responsável pela investigação de espionagem, Markus Schmitt. Várias buscas foram realizadas ontem em casas e escritórios dessas três pessoas, em várias cidades alemãs, incluindo Berlim, mas também em Bruxelas. Não foi feita nenhuma detenção, segundo garantiu a procuradoria-geral alemã, que não quis revelar a identidade dos suspeitos. O jornal Der Spiegel avança, no entanto, que um dos alvos da investigação é um ex-diplomata alemão que trabalhou na Comissão Europeia e ocupou um cargo nos serviços diplomáticos da União Europeia. De acordo com a notícia, terá sido a partir do final da sua carreira na Europa, em 2017, que ingressou numa empresa de lóbi para “grandes empresas” e passou a transmitir informações confidenciais aos serviços secretos chineses. Este caso surge no meio de uma polémica acerca da possível participação da Huawei na infra-estrutura 5G da Alemanha, e numa altura em que o grupo chinês é acusado pelos Estados Unidos de fazer espionagem em nome de Pequim.

PALAVRA DO DIA

O

De olhos bem abertos DSAL diz estar a acompanhar cortes salariais anunciados pela Shun Tak

A

Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) assegurou ao HM que está a acompanhar o processo da Shun Tak relativo aos pedidos de cortes salariais entre 8 a 12 por cento, destinados a todos os funcionários da empresa. Numa resposta escrita enviada ao HM, a DSAL disse que “se inteirou da situação, por iniciativa própria, junto dessa empresa, dando o devido acompanhamento e apresentando a necessidade de garantir a prioridade e continuidade do emprego dos trabalhadores residentes”. Apesar do descontentamento dos trabalhadores, descrito por Bill Tang, representante da Federação dos Sindicatos de Hong Kong ao HM, a DSAL diz que “não recebeu ainda pedidos de apoio dos respectivos trabalhadores”. A lei das relações do trabalho prevê reduções salariais, mas apenas mediante concordância do trabalho, sendo que esta redução “só produz efeitos após comunicação à DSAL, devendo esta ser feita no prazo de dez dias a contar da data da celebração do acordo entre as duas partes”. “Caso contrário, o acordo de

redução da remuneração não produz efeitos”, esclarece o Governo. Na mesma resposta, “a DSAL apela a que, na negociação de alteração de qualquer condição laboral, as partes patronal e laboral efectuem a comunicação de boa fé, reconhecendo as necessidades mútuas”. Além disso, “caso se verifique qualquer infracção, é certo que a DSAL irá acompanhar o caso em conformidade com a lei, a fim de salvaguardar os legítimos direitos e interesses dos trabalhadores”. Todos os trabalhadores da Shun Tak receberam no final da semana passada a informação de que os seus salários podem vir a sofrer uma redução de oito a 12 por cento, consoante os valores pagos mensalmente, devendo reagir à proposta até amanhã. Bill Tang revelou ao HM que a proposta foi feita sem qualquer aviso ou discussão prévia com os sindicatos de Hong Kong. A Shun Tak, empresa sediada em Hong Kong e que tem como presidente a empresária Pansy Ho, opera as ligações de ferry entre Macau, Hong Kong e Shenzhen. Além disso, a tem ainda várias participações e investimentos na área do imobiliário e hotelaria. A.S.S.

primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, apresentou ontem a sua demissão e da sua equipa, o que significa a queda do Governo, ao Presidente Vladimir Putin, que aceitou o pedido, segundo a agência noticiosa Tass. Após o anúncio feito de surpresa, Putin agradeceu a Medvedev os serviços prestados, mas observou que o gabinete do primeiro-ministro demissionário não cumpriu todos os objectivos estabelecidos. “Nós, como Governo da Federação russa, devemos dar ao Presidente os meios para tomar todas as medidas necessárias. Por isso, (…) o Governo no seu todo renuncia”, disse Medvedev, segundo a agência Tass. Os meios de comunicação social russos afirmam que Vladimir Putin planeia nomear Medvedev como vice-presidente do Conselho de Segurança. Medvedev, um aliado de Putin de longa data, é primeiro-ministro desde 2012, tendo ocupado o cargo de Presidente da Rússia entre 2008 e 2012. Putin pediu ao gabinete do primeiro-ministro demissionário para se manter em funções até que um novo Executivo seja nomeado e empossado. A renúncia de Medvedev aconteceu momentos depois do discurso de Vladimir Putin sobre o estado da nação, em que o Presidente propôs a realização de um referendo sobre reformas da Constituição para reforçar os poderes do parlamento, preservando o caráter presidencial do sistema político que dirige há 20 anos.

CAMBOJA LÍDER DA OPOSIÇÃO JULGADO COM FORTES MEDIDAS DE SEGURANÇA

O

líder da oposição no Camboja, Kem Sokha, compareceu ontem num tribunal de Phnom Penh para o início de um julgamento por traição e

que muitas organizações denunciaram ter motivações políticas. De acordo com a agência de notícas EFE, o início do julgamento do opositor de 66 anos, co-fundador do Partido do Resgate Nacional do Camboja (PRNC), foi feito sob fortes medidas de segurança, incluindo fortes restrições à entrada de jornalistas e activistas. Sokha, detido em 2017 sob acusação de

conspirar com estrangeiros para derrubar o Governo e libertado em Novembro de 2019 após um ano em prisão preventiva e outro em domiciliária, incorre numa pena de 30 anos se for considerado culpado. A detenção, ordenada pelo primeiro-ministro, Hun Sen, no poder desde 1985, pôs em marcha uma vasta ofensiva judicial contra a oposição, orga-

nizações não-governamentais (ONG) e órgãos de comunicação independentes, meses antes das eleições legislativas de 2018. Um dia antes do início do processo, as ONG Amnistia Internacional e Human Rights Watch exigiram a retirada de uma acusação que consideraram “fabricada” pelas autoridades para prejudicar a opo-

sição, qualificando o julgamento como “uma farsa”. O tribunal anunciou na terça-feira que o julgamento vai durar três meses, prolongando o processo para além de 12 de Fevereiro, prazo para a Comissão Europeia decidir se suspende um acordo comercial preferencial com o país devido à perseguição à oposição.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.