Hoje Macau 17 OUT 2019 # 4392

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˜ DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

UNIVERSIDADE DE MACAU

Os amigos Liberdade americanos de ensino GRANDE PLANO

REUTERS

HONG KONG

QUINTA-FEIRA 17 DE OUTUBRO DE 2019 • ANO XIX • Nº 4393

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LEGCO

MOP$10

FMI

A` PORTA O jogo e a FECHADA recessão PÁGINA 12

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RÓMULO SANTOS

hojemacau

Conta-me histórias No dia do regresso aos trabalhos na Assembleia Legislativa, vários foram os discursos virados para o reforço da educação patriótica e o ensinamento da História da China para que Macau não caia em situações como as que se têm vivido em Hong Kong. O dia ficou ainda marcado pelo discurso em mandarim de Lei Chan U, relegando o cantonense para segundo plano. PÁGINAS 4-5

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POP É MAS É O DIABO LUÍS CARMELO

ESFERAS

ANTÓNIO CABRITA

A GRANDE DAMA DO CHÁ FERNANDO SOBRAL


2 grande plano

17.10.2019 quinta-feira

XADREZ EM WASHINGTON HONG KONG

CÂMARA DOS REPRESENTANTES APROVA PROJECTOS DE LEI DE APOIO A MANIFESTANTES

A Câmara dos Representantes norte-americana aprovou na terça-feira três projectos de lei para demonstrar apoio aos manifestantes em Hong Kong, que há mais de quatro meses lutam por reformas democráticas e denunciam a erosão das liberdades no território. Pequim reagiu com indignação e ameaçou retaliar

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E um lado, temos um regime repressivo que esmaga as liberdades democráticas em Hong Kong. Do outro, temos jovens que lutam pela liberdade e reformas democráticas. Tenho orgulho em estar ao lado de Jim McGovern em apoio aos votos bipartidários que mostram o compromisso da Câmara dos Representantes para com Hong Kong”. Assim rezou o tweet de Nancy Pelosi, a democrata que preside à câmara baixa do Congresso norte-americano, quando se preparava para votar um trio

de projectos de lei em apoio aos protestos na região vizinha. A publicação veio acompanhada de uma fotografia com Pelosi e McGovern a segurar uma t-shirt preta onde se lê o slogan “Liberdade para Hong Kong. Revolução dos nossos tempos”. No que diz respeito à legislação, um dos projectos de lei condena a ingerência de Pequim nos assuntos de Hong Kong e apoia o direito à liberdade de manifestação. O segundo, intitulado de ‘Hong Kong Human Rights and Democracy Act”, implica uma reavaliação anual do estatuto particular que os Estados Unidos concedem a Hong Kong em termos comerciais e que prevê sanções contra os responsáveis chineses. Por último, o projecto de lei proíbe que armas norte-americanas sejam usadas contra os manifestantes por parte da polícia de Hong Kong. A presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi,

enfatizou que os projectos de lei, que ainda terão de ser aprovados no Senado, reforçam o apoio dos EUA em relação aos direitos humanos face aos interesses comerciais chineses. “Se os Estados Unidos não defendem os direitos humanos na China por causa de interesses comerciais, perdemos toda a autoridade moral para falar em nome dos direitos humanos em qualquer lugar do mundo”, disse. Pelosi afirmou que a bravura dos jovens manifestantes em Hong Kong contrasta com “o Governo cobarde que se recusa a respeitar o Estado de Direito” e o período de 50 anos (até 2047) com elevado grau de autonomia do território, a nível executivo, legislativo e judiciário, com o Governo Central chinês a ficar responsável pelas relações externas e defesa.

ESTATUTO ESPECIAL

De acordo com a lei dos EUA, Hong Kong recebe

“Se os Estados Unidos não defendem os direitos humanos na China por causa de interesses comerciais, perdemos toda a autoridade moral para falar em nome dos direitos humanos em qualquer lugar do mundo.” NANCY PELOSI

tratamento especial em questões como comércio, alfândega, aplicação de sanções e cooperação policial. Tanto Pelosi, como vários parlamentares que usaram da palavra durante a votação, apontaram que a China tem beneficiado deste estatuto especial e que o tem utilizado para fugir dos controlos e sanções às exportações dos EUA. Um dos promotores do projecto, o congressista republicano Christopher Smith afirmou que os Estados Unidos estão “simplesmente a pedir ao Presidente chinês e à líder do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam que honrem as promessas do Governo”. A China “fala em esmagar corpos, quebrar ossos, torturar dissidentes e encher campos de concentração, praticar crimes massivos contra a humanidade pelos quais houve pouca ou nenhuma responsabilidade ou sanção”, afirmou Smith,

recordando as palavras proferidas pelo Presidente da China, Xi Jinping, que afirmou no fim-de-semana no Tibete que “quem tentar actividades separatistas em qualquer lugar da China acabará com o corpo esmagado e os ossos quebrados”. No dia 7 de Outubro, na Casa Branca, o Presidente norte-americano, Donald Trump, disse que “gostaria de ver uma solução muito humana” para os protestos de Hong Kong. “Acho que o Presidente Xi tem a capacidade de fazer isso”, afirmou, reforçando que “Hong Kong é muito importante como centro mundial, não apenas para a China, mas para o mundo”. Outro dos promotores do projecto, o congressista democrata Brad Sherman afirmou estar na hora de enfrentar a China, responsabilizando também as empresas norte-americanas que dão primazia ao lucro em detri-


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mento dos direitos humanos. “As empresas inclinam-se para a China na procura de lucro”, disse Sherman. “O interesse comercial sempre vence, (…) é sempre sobre o dinheiro”, destacou, na mesma linha de raciocínio, Nancy Pelosi.

AFUNDANÇO EMPRESARIAL

Sob pressão da China, a gigante da tecnologia Apple removeu um aplicativo para ‘smartphone’ que permitia que os manifestantes de Hong Kong seguissem a polícia, enquanto a Liga Norte-Americana da Basquetebol (NBA) tem estado desde a semana passada envolta numa polémica por não ter defendido a liberdade de expressão, depois do director-geral dos Houston Rockets, Daryl Morey, ter escrito na rede social Twitter “Luta pela liberdade. Força Hong Kong”. Como consequência, a televisão estatal chinesa suspendeu a difusão de jo-

gos da pré-época da NBA. O proprietário do Houston Rockets, Tilman Fertitta, distanciou a equipa destas opiniões, escrevendo no Twitter que Daryl Morey não falava pelos Houston Rockets. A ‘superestrela’ LeBron James, conhecido por apoiar causas sociais e injustiças sociais, como a brutalidade policial contra os negros, criticou na segunda-feira Daryl Morey. “Não quero entrar numa discussão verbal com Daryl Morey, mas acredito que ele não tinha conhecimento suficiente sobre a situação em questão e falou (...) ou estava mal informado. (...) Sim, nós temos liberdade de expressão, mas esta pode levar a coisas “muito negativas”. Estas afirmações provocaram uma onda de protestos em Hong Kong, com muitos manifestantes a queimarem camisolas com o nome da ‘superestrela’ e a alguns utilizarem máscaras com

“Caso a lei venha a entrar em vigor, não só prejudicará os interesses da China e das relações ChinaEUA, mas também prejudicará gravemente os interesses dos Estados Unidos.” GENG SHUANG PORTA-VOZ DA DIPLOMACIA CHINESA

a cara de LeBron James a agarrar notas chinesas.

IMPÉRIO CONTRA-ATACA

A China expressou ontem “profunda indignação” perante a actuação da Câmara dos Representantes e prometeu retaliar. “Hong Kong pertence à China e os assuntos do território são assuntos internos da China que não tolera interferência externa”, declarou o porta-voz da diplomacia chinesa, Geng Shuang, citado pela agência de notícias estatal Xinhua. Shuang assegurou que Pequim irá tomar medidas contra “as más decisões” de Washington, a fim de salvaguardar firmemente os interesses de soberania, segurança e desenvolvimento”. Para Pequim, “o actual desafio de Hong Kong nada tem que ver com direitos humanos ou democracia. A questão fundamental é pôr fim à violência, restabelecer a ordem e garantir o Estado de direito”.

“Caso a lei venha a entrar em vigor, não só prejudicará os interesses da China e das relações China-EUA, mas também prejudicará gravemente os interesses dos Estados Unidos”, advertiu o porta-voz chinês. Os Estados Unidos “negarem as agressões violentas” cometidas pelos manifestantes de Hong Kong, sublinhou a porta-voz chinês, é algo que “expõe a extrema hipocrisia de alguns norte-americanos (...) e a intenção de prejudicar a prosperidade e estabilidade de Hong Kong e conter o desenvolvimento da China”. O Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado também reagiu através do seu porta-voz, Yang Guang, que expressou “um protesto solene e forte condenação” da actuação da Câmara dos Representantes. “Este tipo de comportamento é uma interferência grosseira nos assuntos internos da China

e um apoio directo às forças radicais da oposição de Hong Kong. Fica exposto o esquema político da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, e de alguns políticos, de usar Hong Kong para conter o desenvolvimento chinês”, apontou o porta-voz. Na mesma linha de Pequim, o Governo de Hong Kong já “lamentou” a recente aprovação e assegurou que, “desde o seu regresso à pátria, a região exerceu (...) um alto nível de autonomia” que serviu para garantir direitos e liberdades impensáveis na China. João Luz com agências info@hojemacau.com.mo


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É preciso evitar Hong Kong e fazer Macau caminhar num sentido diferente, através da revisão dos materiais de ensino da disciplina de História. Foi esta a ideia defendida na Assembleia Legislativa pelos deputados Lei Chan U, Mak Soi Kun, Iau Teng Pio, Davis Fong e Chan Wa Keong

O

deputado Lei Chan U mostrou-se ontem preocupado com os acontecimentos de Hong Kong e diz que o Executivo precisa de actuar em duas áreas: melhorar a capacidade governativa e reforçar a educação patriótica nas escolas. A intervenção ficou marcada pelo facto do legislador da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) ter voltado a discursar em mandarim, relegando o cantonense, o idioma mais popular em Macau, assim como em Hong Kong, para segundo plano.

RÓMULO SANTOS

17.10.2019 quinta-feira

As vozes do patriotismo AL LEI CHAN U DISCURSOU EM MANDARIM E PEDIU REVISÃO PATRIÓTICA DA HISTÓRIA

Regimento Chui Sai Peng presidente O deputado Chui Sai Peng foi ontem promovido a presidente da Comissão de Regimento e Mandatos, da qual já era membro. Chui é primo do Chefe do Executivo, Chui Sai On, e do vice-presidente da Assembleia Legislativa, Chui Sai Cheong, e vai assumir o cargo mais importante da comissão do hemiciclo, que tem como funções, entre outras,

fiscalizar o funcionamento da AL e o cumprimento das próprias leis. Chui Sai Peng, que é engenheiro civil de formação, substitui assim Kou Hou In no cargo, que assumiu a presidência da AL. Também Ip Sio Kai foi eleito pelo plenário membro desta comissão com os votos contra de Sulu Sou, Pereira Coutinho, Au Kan San e Ng Kuok Cheong.

Lei da Arbitragem Aprovação em suspenso A aprovação da Lei da Arbitragem na especialidade, que tem o objectivo de promover a diversificação económica e desenvolver esta matéria na RAEM, ficou ontem em suspenso, uma vez que a discussão se arrastou, devido a questões técnicas sobre a impossibilidade de recorrer aos tribunais. Porém, todos os artigos já aprovados tiveram os votos favoráveis dos

30 deputados presentes. Durante a discussão o director da Direcção de Serviços de Assuntos de Justiça, Liu Dexue, deu o exemplo de Hong Kong, que levou muitos anos a promover-se como centro de arbitragem e garantiu que a RAEM está preparada para fazer o mesmo percurso, com os investimentos necessários. A discussão deverá prosseguir hoje.

Tiananmen Voto de pesar sobre massacre proibido Sulu Sou pretendia que o Plenário da Assembleia Legislativa lhe permitisse propor um voto de pesar sobre o massacre de Tiananmen, depois da intenção ter sido recusada pelo então presidente Ho Iat Seng, mas o recurso foi recusado. Ontem, apenas Sulu Sou, José Pereira Coutinho, Ng Kuok Cheong e Au Kam San votaram a favor da possibilidade de o deputado poder fazer a proposta, os restantes opuseram-se. No final, Wu Chou Kit

defendeu que se a apresentação da proposta tivesse sido autorizada, mesmo que depois fosse recusada, os deputados já estariam envolvidos na mesma, pelo que votou contra. O plenário recusou igualmente o protesto de Sulu Sou contra a reunião ilegal realizada pela Comissão de Regimento de Mandatos. Em causa esteve o facto de nem todos os deputados terem sido informados sobre a mesma, como define o regimento.


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quinta-feira 17.10.2019

“Para evitar que, amanhã, Macau siga o caminho de Hong Kong” deve haver uma reflexão e que as respostas devem passar por “algumas lições óbvias, como a acção governativa e a educação.”

amor ao País e a consciência nacional”, indicou.

RECORDAR INVASÕES

“Os recentes motins ocorridos em Hong Kong, que se prolongam há vários meses sem terminar, tiveram um impacto incalculável na economia, na sociedade e na imagem internacional de Hong Kong. Macau e Hong Kong têm os mesmos usos e costumes linguísticos, bem como origens culturais, sendo também regiões com políticas administrativas especiais”, começou por dizer. “Naturalmente, os motins ocorridos em Hong Kong não podem ser ignorados. Acredita-se que, em face deste assunto, ‘todos têm pontos de vista diferentes’, mas, independentemente da diferença de opiniões, todos devem perguntar-se: Quais são as lições que Macau pode retirar desses incidentes? Como é que Macau pode evitar este tipo de situações?”, questionou.

Face a este cenário traçado, Lei afirmou que “para evitar que, amanhã, Macau siga o caminho de Hong Kong” deve haver uma reflexão e que as respostas devem passar por “algumas lições óbvias, como a acção governativa e a educação”. Ao nível da acção do Executivo local, Lei sugeriu que a acção seja orientada para satisfazer as necessidades da população e manter as pessoas felizes com as condições de vida na RAEM. “O bem-estar da população é sempre o assunto mais importante, estando interligado à popularidade e determinando se esta é positiva ou negativa”, sublinhou. Em relação à educação, apelou a um aumento do amor pela pátria. “Nos últimos anos, verificou-se um aumento da identidade na-

cional nos residentes de Macau, sobretudo nos jovens, mas existe margem para elevação”, considerou. “Espera-se que o Governo dê continuidade à educação sobre o País e o patriotismo, reforçando, junto das próximas gerações, o

Mak Soi Kun pediu uma revisão dos “materiais didácticos”, avaliação do desempenho dos professores no ensino da história da nação e o reforço da formação sobre a História e a cultura chinesas

Urbanismo Au Kam San quer Governo a pagar renovação O deputado Au Kam San defendeu ontem na Assembleia Legislativa que a renovação dos prédios privados deve ser paga com dinheiros públicos, através da Macau Renovação urbana. “A meu ver, fazer a reconstrução dos bairros antigos à custa dos próprios proprietários não é uma solução viável. Essa política tem de ser ponderada com prudência. Há que determinar que a reconstrução seja executada pela Sociedade Macau Renovação Urbana, e que, através do

ligeiro ajustamento da área dos prédios, se aditem algumas fracções e instalações comunitárias para resolver o problema dos custos”, considerou. Também Agnes Lam admitiu a hipótese de ser o Governo a pagar pelos custos.

Lei Chan U não foi o único deputado a defender um reforço da educação e revisões do material histórico. As mesmas ideias foram defendidas por Mak Soi Kun, deputado vencedor das legislativas de 2017, e Iau Teng Pio, legislador nomeado pelo Chefe do Executivo, que fez parte da equipa de candidatura de Ho Iat Seng na candidatura a futuro líder do Governo da RAEM. No caso de Mak Soi Kun, o deputado recordou mesmo as invasões e humilhações do passado. “Olhando para a história recente, após as duas Guerras do Ópio, a Primeira Guerra Sino-Japonesa, a invasão daAliança das Oito Nações e a Segunda Guerra Sino-Japonesa, o País estava muito atrasado e sofreu muitas humilhações”, afirmou. “Face a isto, devemos aprender com a História, para os chineses não voltarem a passar por períodos de opressão, como já aconteceu, portanto, enquanto povo chinês, devemos conhecer melhor a história do País, sendo, obviamente, muito importante melhorar a educação histórica”, sustentou. Como medidas práticas, Mak pediu uma revisão dos “materiais didácticos”, avaliação do desempenho dos professores no ensino da história da nação e o reforço da formação sobre a História e a cultura chinesas. Ainda no âmbito do reforço do patriotismo, Iau Teng Pio, numa intervenção também em nome de Davis Fong e Chan Wa Keong, pediu que se ensine nas escolas e nas comunidades a Constituição da República da China e a Lei Básica de Macau. Iau considerou que esta medida vai permitir que “o público fique a conhecer melhor a estabilidade, a prosperidade e o sucesso resultantes da implementação bem-sucedida do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’”.

CANTONENSE RENEGADO

As intervenções de ontem antes da ordem do dia ficaram mesmo marcadas pelo facto de Lei Chan U, que domina perfeitamente o cantonense, ter optado por falar para o hemiciclo em mandarim.

LEI CHAN U DEPUTADO

Esta não foi a primeira vez que Lei fez esta escolha. Na sua primeira intervenção antes da ordem do dia de sempre, em 2017, Lei fez o mesmo, no que afirmou ter sido o cumprimento de um sonho de criança. Porém, o deputado acabou fortemente criticado, mesmo entre a base de apoio da FAOM. Em causa não está o facto de ter falado em mandarim, o que já acontece com alguns membros do Governo, quando não se sentem à vontade para se expressarem de forma clara em cantonense. As críticas visaram o facto de o deputado ter feito a escolha de relegar para segundo plano a língua mais comum da RAEM, no que foi visto como uma forma de desprezo da população. Na altura, a polémica levou mesmo a FAOM a emitir um comunicado para controlar os danos. “A partir de algumas redes sociais, percebemos que o facto de Lei Chan U ter falado em mandarim durante a sua intervenção antes da ordem do dia gerou diferentes interpretações. As utilizações do cantonense, português ou mandarim, merecem, todas, o nosso respeito”, escreveu, em Outubro, a FAOM. “No futuro, sempre que forem abordados assuntos do quotidiano, Lei Chan U vai preferencialmente expressar-se em cantonense”, foi prometido. O deputado da FAOM está no hemiciclo pela via indirecta, como representante do sector dos trabalhadores. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

Carne de porco Ho Ion Sang preocupado com preços O deputado da União Geral das Associações dos Moradores de Macau, Ho Ion Sang, defende que o Governo precisa de tomar medidas face ao aumento do preço da carne de porco, que ameaça a população e os vendedores. Numa intervenção na Assembleia Legislativa, Ho recordou que desde Maio o preço por cerca de 60 quilogramas de carne, ou seja um picul, aumentou para mais do dobro. “Nos últimos dias, o preço

aumentou 280 patacas por “picul”, ou seja, o preço máximo da venda por grosso é de 3240 patacas por “picul”, o que, em comparação com o preço de Maio de 1520 patacas, corresponde a um aumento de mais do dobro, atingindo um novo recorde”, apontou. Por isso, o deputado pediu medidas ao Governo de Chui Sai On para que a população não tenha de aguentar preços tão elevados.


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17.10.2019 quinta-feira

EDITAL

EDITAL

Edital n.º Processo n.º Assunto

: 17 /E-OI/2019 : 158/OI/2014/F : Demolição de obras não autorizadas pela infracção às disposições do Regulamento Geral de Construção Urbana (RGCU) Local : Travessa dos Bombeiros n.º 3, Edf. Seng Wai, fracção 3.º andar D (CRP:D2), Macau

Edital n.º Processo n.º Assunto

Li Canfeng, Director da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, faz saber que fica notificada a Sr.a Wong Kuok Lin, interessada do local acima indicado, do seguinte: 1. Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado realizaram-se as seguintes obras não autorizadas, as quais infringiram o disposto no n.º 1 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 79/85/M (RGCU) de 21 de Agosto, alterado pela Lei n.º 6/99/M de 17 de Dezembro e pelo Regulamento Administrativo n.º 24/2009 de 3 de Agosto, pelo que as mesmas são consideradas ilegais:

Li Canfeng, Director da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), faz saber que fica notificada a Sr.a Wong Kuok Lin, interessada do local acima indicado, do seguinte: 1. Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado se realizou a seguinte obra não autorizada:

1.1 1.2

Obra Demolição de uma parte da parede exterior junto às janelas da fracção para ampliação do vão das janelas. Instalação de um portão de correr de vidro na parede exterior junto às janelas da fracção.

2.

De acordo com os artigos 93.º e 94.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M de 11 de Outubro, foi realizada, no seguimento de notificação por edital publicado nos jornais em língua chinesa e em língua portuguesa de 5 de Outubro de 2018, a audiência escrita da interessada, mas esta não apresentou qualquer resposta no prazo indicado e não foram carreados para o procedimento elementos ou argumentos de facto e de direito que pudessem conduzir à alteração do sentido da decisão de ordenar a demolição das obras não autorizadas acima indicadas. 3. Assim, nos termos do artigo 52.º do RGCU, por despacho do signatário de 27 de Março de 2019 exarado sobre a informação n.º 02210/DURDEP/2019, ordena à interessada que proceda, por sua iniciativa, no prazo de 15 dias contados a partir da data da publicação do presente edital, à respectiva demolição e à reposição do local afectado, bem como à remoção de todos os materiais e equipamentos nele existentes e à respectiva desocupação, devendo, para o efeito e com antecedência, apresentar nesta DSSOPT o pedido de demolição das obras ilegais, cujos trabalhos só podem ser realizados depois da sua aprovação. A conclusão dos referidos trabalhos deverá ser comunicada à DSSOPT para efeitos de vistoria. Nos termos do artigo 53.º do mesmo decreto-lei, o dono das obras poderá submeter à DSSOPT, no prazo de 8 (oito) dias contados a partir da data de publicação do presente edital, o projecto de legalização das mesmas juntamente com os elementos necessários, com vista a avaliar a possibilidade da sua legalização. 4. Findo o prazo estipulado, não será aceite qualquer pedido de demolição ou de legalização das obras acima mencionadas. De acordo com o n.º 2 do artigo 139.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica ainda que nos termos do artigo 56.º do RGCU, findo o prazo referido, a DSSOPT, em conjunto com outros serviços públicos e com a colaboração do Corpo de Polícia de Segurança Pública, procederá à execução dos trabalhos acima referidos, sendo as despesas suportadas pelos infractores. Além disso, findo o prazo da demolição e da desocupação voluntárias, a DSSOPT dará início aos respectivos trabalhos, os quais uma vez iniciados não podem ser cancelados. Os materiais e equipamentos deixados no local acima indicado ficam aí depositados à guarda de um depositário a nomear pela Administração. Findo o prazo de 15 (quinze) dias a contar da data do depósito e caso os bens não tenham sido levantados, consideram-se os mesmos abandonados e perdidos a favor do governo da RAEM, por força da aplicação do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro. 5. Nos termos do n.º 1 do artigo 65.º do RGCU, os infractores são sancionáveis com multa de $1 000,00 a $20 000,00 patacas. 6. Nos termos dos artigos 145.º e 149.º do Código do Procedimento Administrativo, a interessada pode apresentar reclamação no prazo de 15 (quinze) dias contados a partir da data da notificação. 7. Nos termos do n.º 1 do artigo 59.º do RGCU, da decisão referida no ponto 3 do presente edital cabe recurso hierárquico necessário para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, a interpor no prazo de 15 dias contados a partir da data da notificação. RAEM, 9 de Outubro de 2019 O Director dos Serviços Li Canfeng

Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo

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: 72 /E-BC/2019 : 317/BC/2016/F : Demolição de obras não autorizadas pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) Local : ravessa dos Bombeiros n.º 3, Edf. Seng Wai, fracção 3.º andar D (CRP:D2), Macau.

1.1

Obra

Infracção ao RSCI e motivo da demolição

Instalação de gaiola metálica na parede exterior junto às janelas da fracção.

Infracção ao n.º 12 do artigo 8.º, obstrução do acesso aos pontos de penetração no edifício.

2.

De acordo com o n.º 1 do artigo 95.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M de 9 de Junho, foi realizada, no seguimento de notificação por edital publicado nos jornais em língua chinesa e em língua portuguesa de 5 de Outubro de 2018, a audiência escrita da interessada, mas esta não apresentou qualquer resposta no prazo indicado e não foram carreados para o procedimento elementos ou argumentos de facto e de direito que pudessem conduzir à alteração do sentido da decisão de ordenar a demolição da obra não autorizada acima indicada. 3. As janelas acima referidas são consideradas ponto de penetração no edifício para realização de operações de salvamento de pessoas e de combate a incêndios, não podendo ser obstruídas com elementos fixos (gaiolas, gradeamentos, etc.), de acordo com o disposto no n.º 12 do artigo 8.º do RSCI. Assim, nos termos do n.º 1 do artigo 88.º do RSCI, por despacho do signatário de 27 de Março de 2019 exarado sobre a informação n.º 02208/DURDEP/2019, ordena à interessada que proceda, por sua iniciativa, no prazo de 8 dias contados a partir da data da publicação do presente edital, à respectiva demolição e à reposição do local afectado, bem como à remoção de todos os materiais e equipamentos nele existentes e à sua desocupação, devendo, para o efeito e com antecedência, apresentar nesta DSSOPT o pedido de demolição da obra ilegal, cujos trabalhos só podem ser realizados depois da sua aprovação. A conclusão dos referidos trabalhos deverá ser comunicada à DSSOPT para efeitos de vistoria. 4. Findo o prazo da demolição e da desocupação, não será aceite qualquer pedido de demolição da obra acima mencionada. De acordo com o n.º 2 do artigo 139.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M de 11 de Outubro, notifica-se ainda que nos termos dos n.os 1 e 2 do artigo 89.º do RSCI, findo o prazo referido, a DSSOPT, em conjunto com outros serviços públicos e com a colaboração do Corpo de Polícia de Segurança Pública, procederá à execução dos trabalhos acima referidos, sendo as despesas suportadas pelos infractores. Além disso, findo o prazo da demolição e da desocupação voluntárias, a DSSOPT dará início aos respectivos trabalhos, os quais, uma vez iniciados, não poderão os infractores solicitar o seu cancelamento. Os materiais e equipamentos deixados no local acima indicado ficam aí depositados à guarda de um depositário a nomear pela Administração. Findo o prazo de 15 (quinze) dias a contar da data do depósito e caso os bens não tenham sido levantados, consideram-se os mesmos abandonados e perdidos a favor do governo da RAEM, por força da aplicação do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro. 5. Nos termos do n.º 7 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 12 do artigo 8.º é sancionável com multa de $2 000,00 a $20 000,00 patacas. 6. Nos termos do n.º 1 do artigo 97.º do RSCI, da decisão referida no ponto 3 do presente edital cabe recurso hierárquico necessário para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, a interpor no prazo de 8 (oito) dias contados a partir da data da publicação do presente edital. RAEM, 9 de Outubro de 2019 O Director dos Serviços Li Canfeng


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GONÇALO LOBO PINHEIRO

quinta-feira 17.10.2019

IAS Dados apontam para menor consumo de metanfetaminas

A chefe do departamento de prevenção e tratamento da dependência do jogo e da droga do Instituto de Acção Social (IAS), Lei Lai Peng, disse que, de acordo com os dados do Sistema do Registo Central dos Toxicodependentes de Macau, no primeiro semestre de 2019 foram registados um total de 180 casos de consumo de droga, dos quais 15 eram de menores de 21 anos de idade, com o Ice a dominar as estatísticas. Ainda assim, a responsável indicou que os números revelam que o consumo tem vindo a diminuir em relação a períodos anteriores. No que diz respeito ao consumo de novas substâncias psicotrópicas, Lei Lai Peng disse que não há uma elevada tendência de consumo no território. Ainda assim, as autoridades prometem aumentar as técnicas de análise de drogas e manter os contactos estreitos com o Interior da China e Hong Kong.

UM PROFESSOR CONTESTADO DIZ QUE UNIVERSIDADE NÃO O PRESSIONOU

Ensinar sem limites Ieong Meng U, professor da Universidade de Macau acusado por alunos de ensinar conteúdos contra o princípio “Um País, Dois Sistemas”, assegura que a universidade nunca o pressionou para alterar a forma de dar aulas. O docente diz ainda que as suas aulas são diferentes do modelo a que os alunos da China estão habituados

I

EONG Meng U, docente da Universidade de Macau (UM) cujas aulas foram contestadas por alguns alunos, por considerarem que a sua forma de ensinar vai contra o princípio “Um País, Dois Sistemas”, disse ao jornal Orange Post que a UM nunca interferiu no seu processo de ensino. Ieong Meng U disse também que já enviou um e-mail aos seus alunos com esclarecimentos sobre este assunto. Até ao momento, o professor afirma não ter recebido queixas ou ter sido alvo de intervenções por parte da universidade. No que diz respeito às reclamações feitas num

questionário por um estudante da China, o professor admitiu que houve outros alunos a exprimirem opiniões sobre o facto de as suas aulas serem diferentes da sua maneira de pensar, o que causou desconforto. Contudo, Ieong Meng U declarou que “como não

foram apresentadas provas concretas” não sabe dar mais explicações sobre o caso. O docente assegura que a liberdade académica é preservada na UM e que os alunos do ensino superior têm capacidade de pensamento crítico e independente, sendo nor-

“Não acho que a liberdade académica tenha sido afectada na UM. Não temos muita pressão no processo de realização das nossas pesquisas e no ensino. No entanto, como professor, não tenho o poder para permitir que todos os alunos concordem com o que eu digo.” IEONG MENG U PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE MACAU

mal ter diferentes interpretações face aos conteúdos programáticos. “Não acho que a liberdade académica tenha sido afectada na UM. Não temos muita pressão no processo de realização das nossas pesquisas e no ensino. No entanto, como professor, não tenho o poder para permitir que todos os alunos concordem com o que eu digo. O nosso dever é ensinar de maneira teórica e objectiva”, apontou Ieong Meng U.

SEM PROBLEMAS EM PEQUIM O professor universitário contou ainda que, durante o período em que estudou na Universidade de Pequim, não sentiu dife-

renças culturais. Sobre os conteúdos programáticos das disciplinas que ensina, Ieong Meng U assegurou que versam sobretudo sobre teorias da política chinesa e o panorama da língua inglesa, algo que pode ser diferente face ao modelo educacional a que muitos alunos da UM estão habituados. Para ultrapassar essas diferenças de pensamento, Ieong Meng U defende uma maior comunicação. Este caso teve início quando um grupo de alunos do interior da China se queixou do docente, que ensina Políticas de Hong Kong e Macau, depois de uma aula em que foi abordada a Lei de Extradição em Hong Kong e onde terá sido feito um contraste entre os sistemas políticos do Interior da China e da RAEHK. Vários alunos do Interior não terão gostado do conteúdo da aula e através de um grupo na aplicação WeChat, em que foram partilhados os powerpoints distribuídos pelo professor, decidiram apresentar queixa junto da direcção da UM. Juana Ng com Andreia Sofia Silva info@hojemacau.com.mo

Bombeiros Número de incêndios caiu mais de 20 por cento

Dados oficiais do Corpo de Bombeiros (CB) revelam que, entre Janeiro e Setembro deste ano registaramse 685 casos de incêndio, o que representa um decréscimo de 20,26 por cento face a igual período do ano passado. O esquecimento do fogão ligado, as avarias de equipamento e a queima de incensos, velas ou papéis votivos foram as causas principais para a ocorrência de incêndios, e representaram 56,94 por cento dos casos. Além disso, o número de operações de salvamento e de serviços especiais caíram 7,47 e 21,43 por cento, respectivamente. No que diz respeito às saídas de ambulância houve um total de 31.700 casos, o que constitui uma subida de 1.965 casos face ao mesmo período do ano anterior. De acordo com Chan Meng, chefe do CB, a maior parte das saídas de ambulâncias deveu-se à prestação de serviços aos idosos.

IAM Pedida maior recolha de dejectos de animais

A directora do Centro de Apoio Familiar da Associação Geral das Mulheres de Macau, Chu Oi Lei, entende que o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) deve implementar nas ruas mais espaços de recolha de dejectos de animais, tendo em conta o plano para cancelar 29 instalações sanitárias para cães em Macau. Face ao número de queixas sobre a falta de higiene em alguns locais do território, a responsável defende que a lei deve ser aplicada de forma rigorosa, além de serem necessários mais panfletos informativos sobre o assunto.


8 sociedade

Economistas defenderam que a recessão de 1,3 por cento em Macau este ano estimada pelo Fundo Monetário Internacional deve-se ao menor investimento dos casinos e à quebra nas receitas na indústria do jogo

“J

Á não há casinos em construção, já investiram o que havia a investir, cada um [dos seis operadores] gastou 20 mil milhões de patacas nos últimos dois,

17.10.2019 quinta-feira

FMI MENOS RECEITAS DO JOGO E INVESTIMENTO DOS CASINOS EXPLICAM RECESSÃO

Matemática que dói

três anos, pelo que isto vai puxar a economia para baixo”, explicou Albano Martins à Lusa, sustentando que alguma da construção actual “não é muito significativa”. O economista José Pãosinho destacou o facto

de Macau estar “amarrado ao jogo”, pelo que a economia é afectada porque “não se prevê a construção de novos ‘resorts’”, com implicações negativas na Formação de Capital Bruto Fixo, um indicador que

Conquistar visibilidade

Associação de Jovens Empresários queixa-se de impostos altos à entrada de produtos portugueses na China

O

presidente da Associação de Jovens Empresários Portugal-China (AJEPC) disse ontem à Lusa que a elevada carga fiscal e a falta de promoção de produtos portugueses estão a travar o potencial económico das relações sino-lusófonas. “Continuamos a ver uma enorme carga fiscal na entrada de produtos portugueses na China, apesar de existir um acordo que permite a redução de impostos” entre Macau e o continente, em vigor desde 2004, explicou Alberto Carvalho Neto. Na véspera da Feira Internacional de Macau (MIF) e da Exposição de Produtos e Serviços dos Países de Língua Portuguesa (PLPEX), que promovem até sábado os países lusófonos, o responsável sustentou que Portugal deveria apostar mais na promoção dos produtos portugueses no interior da China. “Deveria existir uma estratégia global que envolvesse o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a AICEP [Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal] e as associações”, possibilitando que “a imagem da ‘marca’ Portugal” identi-

ficasse as representações portuguesas “e não o símbolo de cada uma das empresas”, defendeu. Ainda assim, o empresário classificou de “muito positivo” o acompanhamento pelo corpo diplomático português e elementos da AICEP, no interior da China (Pequim, Xangai e Shenzhen), a uma iniciativa de

inclui bens produzidos ou adquiridos por entidades locais. O baixo investimento público é outra das razões apontadas pelos economistas. Albano Martins estima que em 2019 este não deverá

‘networking’, “Business Rail”, que termina este sábado. Os participantes desta viagem de negócios, sobre carris, que começou em 9 de Outubro e liga Europa à China, juntam-se agora à delegação promovida pela associação na MIF e na PLPEX em Macau que “supera os 200 empresários”, indicou Alberto Carvalho Neto. “O que temos assistido nestes dois eventos é a um aumento crescente da participação”, que se tem traduzido num aumento do próprio espaço promovido pela AJEPC: "começou nos 100 metros quadrados e já ocupa os dois mil metros quadrados", precisou. Responsável pela organização do “V Fórum de Jovens Empresários entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, a AJEPC continua apostada “numa política agressiva na abordagem do mercado nestes três dias” dos eventos, garantiu o seu presidente. “Convidámos empresários chineses. De resto, seria bom ver uma maior dinâmica empresarial nestes eventos, com uma presença maior de empresários chineses”, sustentou, de forma “a dar mais força ao potencial de Macau enquanto plataforma” para as relações comerciais e económicas sino-lusófonas. “Através de Macau tem-se conseguido ter acesso a um ‘networking’ que não seria possível de outra forma, ao mais alto nível, mas há espaço para melhorar”, afirmou.

superar os 10 mil milhões de patacas. Por seu lado, José Pãosinho disse não vislumbrar grande margem de evolução nesta área, como por exemplo a construção de infraestruturas de grande dimensão, assinalando que a participação de Macau no projecto de Pequim de se criar uma metrópole mundial não terá um efeito imediato na economia do território. “Macau é jogo e pouco mais. Sem construção, sem investimento, sem Formação de Capital Bruto Fixo e com as receitas de jogo a caírem, com esta tendência a projecção do FMI até nem é má”, sublinhou Albano Martins. José Pãosinho evidenciou o facto de a economia de Macau estar refém dos resultados dos casinos e lembrou que “as receitas do jogo VIP foram aquelas que tiveram um maior colapso”. O cenário global, portanto, acrescentou, “é de um forte contributo negativo para a economia”.

FUTURO CHATO

Na terça-feira, o FMI reviu em baixa as previsões no relatório Perspectivas Económicas Globais para Macau este ano, antecipando agora uma recessão de 1,3 por cento e nova contração da economia, de 1,1 por cento, em 2020. Uma forte revisão em baixa, já que no último relatório, em Abril,

antecipava-se um crescimento acima dos 4 por cento para este ano. A economia de Macau está em recessão desde o primeiro semestre. Os dados divulgados em Agosto pelas autoridades mostravam uma contração de 1,8 por cento no segundo trimestre, que ainda assim melhorou ligeiramente face à contração de 3,2 por cento registada nos primeiros três meses do ano face ao período homólogo. No primeiro semestre, a economia de Macau registou uma contração de 2,5 por cento, de acordo com os dados oficiais. A 9 de Setembro, uma semana após os casinos de Macau terem registado uma queda de 8,6 por cento das receitas provenientes do jogo, a segunda descida consecutiva e a mais acentuada do ano, o Governo antecipou uma retração económica no terceiro trimestre do ano. Razões avançadas pelas autoridades: a queda acentuada das receitas do jogo e a escalada da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos.

“Macau é jogo e pouco mais. Sem construção, sem investimento, sem Formação de Capital Bruto Fixo e com as receitas de jogo a caírem, com esta tendência a projecção do FMI até nem é má.” ALBANO MARTINS ECONOMISTA

O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, garantiu então que “o Governo continuará atento ao desenvolvimento e à variação da economia de Macau e do exterior, mantendo a comunicação com os sectores financeiros e outros, e a acompanhar constantemente possíveis variações da taxa de desemprego e da capacidade de consumo, bem como a avaliar a pressão sentida pelo sistema financeiro”. Lusa


sociedade 9

quinta-feira 17.10.2019

JOGO ANALISTAS APONTAM PARA MÊS DE OUTUBRO COM QUEDA DE RECEITAS ATÉ 6 POR CENTO

Não são só as folhas que caem A consultora Sanford C. Bernstein prevê que Outubro termine com quebras nas receitas dos casinos de Macau entre os 3 e os 6 por cento, em relação ao mesmo mês do ano passado. Destaque para o jogo VIP que não recuperou desde a semana dourada

O

S resultados das operadoras da indústria do jogo continuam a não deslumbrar. A Sanford C. Bernstein emitiu uma nota esta semana, citada pelo portal GGRAsia, que prevê que as receitas brutas de Outubro dos casinos do território sofram quebras entre 3 e 6 por cento, em comparação o mesmo período de 2018. Em relação às receitas apuradas em Outubro até ao dia 13, a consultora aponta para 12,6 mil milhões de patacas.

O

Os factores que colocam os resultados das concessionárias abaixo dos últimos anos continuam a ser a guerra comercial e o aperto à actividade dos junkets. Nesse último aspecto, os analistas Vitaly Umansky, Eunice Lee e Kelsey Zhu assinalam na nota que “o jogo VIP continuou fraco depois da semana dourada, como era esperado, e assim deverá continuar até ao final de Outubro”. Importa referir que a semana dourada se reveste de particular importância para os

ex-CEO e fundador da Wynn Resorts, que detém a Wynn Resorts Macau, Steve Wynn, pode ter os dias contados em Las Vegas. Depois de ter sido acusado de abusos sexuais de várias antigas empregadas da concessionária, as entidades reguladoras do jogo do Estado do Nevada iniciaram o processo necessário para banir Wynn, de acordo com o Washington Post. Numa queixa submetida na passada segunda-feira, o órgão que regula o jogo no Nevada acusou o pai do Las Vegas Strip de violar as regulações estatais e referiu que Steve Wynn era “não tem condições para continuar a ser associado com a indústria do jogo”. A queixa indica que a polémica e o repúdio público originado pelas alegações tiveram impacto na confiança da sociedade na indústria mais importante do Nevada. Assim sendo, foi pedido ao regulador do Estado que revogue a licença de jogo de Wynn e que lhe aplique uma multa por não compare-

A Sanford C. Bernstein acrescenta que a média diária de receitas brutas dos casinos de Macau durante o período de seis dias entre 8 e 13 de Outubro se situou nos 750 milhões de patacas

cofres das concessionárias e o do sector do turismo, com a chegada de centenas de milhar de turistas chineses a Macau. Porém, este ano foi atípico. Apesar da subida do número de visitantes que entraram no território durante a semana dourada, as receitas dos casinos demonstraram uma tendência de declínio em relação ao mesmo período de 2018.

A SEGUIR CAMINHO

A Sanford C. Bernstein acrescenta que a média diária de receitas brutas dos casinos de Macau durante o período de seis dias entre 8 e 13 de Outubro se situou nos 750 milhões de patacas. A consultora acrescentou que “se estima que os resultados do jogo de massas tenham registado crescimento de quase dois dígitos, enquanto o segmento VIP tenha caído 20 e pouco por cento comparado com o período homólogo de 2018”. Já a consultora Nomura perspectiva que em Outubro

Deixando Las Vegas Entidades que regulam o jogo no Nevada iniciam processo para banir Steve Wynn da cidade

cer a uma audiência e não colaborar com a investigação. A iniciativa junto das autoridades estatais marca o derradeiro capítulo da queda do magnata, desde que o Wall Street Journal noticiou em Janeiro do ano passado que Steve Wynn havia, alegadamente, pressionado funcionárias a ter relações sexuais. Foi ainda

alegado que Wynn usou o seu poder, influência e dinheiro para criar uma cultura de cumplicidade nos seus casinos que permitia agir com impunidade.

ASSINAR DE CRUZ

Em Fevereiro deste ano a Comissão de Jogos do Nevada já havia multado o magnata devido às acusações.

o crescimento nulo das receitas das operadoras, mas que no final do quatro trimestre do ano se registem quebras nas receitas. A consultora do banco Morgan Stanley também emitiu uma previsão esta semana, onde perspectivou contração das receitas em todos os meses até ao final do ano, comparados mês a mês com os períodos homólogos do ano passado.

A penalização contra a Wynn Resorts Ltd. encerrou uma investigação que começou após informações de que o fundador da empresa assediou ou atacou várias mulheres. Como tal, a empresa foi multada pela Comissão de Jogos do Nevada a pagar 20 milhões de dólares por ter, sistematicamente, ignorado queixas de empregadas contra a má conduta sexual de Steve Wynn. Ainda assim, e apesar da penalização, o acordo com a Comissão de Jogos do Nevada permite que a Wynn Resorts mantenha a licença de jogo. No acordo, firmado no passado mês entre a Wynn Resorts e a Comissão de Jogos do Nevada, a empresa assume como verídicas as alegações de que alguns executivos de topo e membros do conselho de administração tinham conhecimento das queixas feitas contra Steve Wynn. João Luz

info@hojemacau.com.mo

3,4

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DICJ Receitas do jogo caem no terceiro trimestre

De acordo com informação divulgada pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, a indústria do jogo fechou o terceiro trimestre do ano com receitas brutas de 70,79 mil milhões de patacas, o que representou uma quebra de 3,4 por cento em relação a igual período homólogo. Ao longo do período em análise, as receitas do jogo VIP de bacará foram de 31,08 mil milhões de patacas, o que representou menos de 4 por cento da receita bruta acumulada.


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17.10.2019 quinta-feira

Sem títulos A ARMAZÉM DO BOI FESTIVAL INTERNACIONAL DE PERFORMANCE ARTÍSTICA ESTE FIM-DE-SEMANA

Decorre este fim-de-semana o Festival Internacional de Performance Artística no Armazém do Boi que tem como tema “Poemas Sem Título”. Mais de uma dezena de artistas, oriundos da China, Europa e América Latina, vão mostrar o seu trabalho durante três dias numa tentativa de revelar um pluralismo ao nível das artes plásticas, sempre com a humanidade como tema central PUB

A

plataforma “Unitygate” apresentou ontem o seu programa de eventos em Macau, que decorre até ao dia 10 de Novembro em diferentes locais do território e com o apoio de vários parceiros, como a Fundação Rui Cunha ou a Casa de Portugal em Macau, entre outros. O primeiro evento acontece este sábado e insere-se no programa do Festival da Lusofonia. O espectáculo “Fado Nosso” apresenta um solo de dança contemporânea com

QUELE que é considerado um dos maiores eventos anuais do Armazém do Boi acontece este fim-de-semana, entre 18 e 20 de Outubro. O Festival Internacional de Performance Artística (MIPAF, na sigla inglesa) contém um cartaz com 18 artistas vindos de países tão diferentes como a China, Suíça ou Chile, que vão revelar o seu trabalho lado a lado com artistas de Macau. A exposição, intitulada “Poemas Sem Título”, tem como objectivo “adoptar a troca de abordagens artísticas

com uma manifestação de distintas personalidades”. “É objectivo do MIPAF revelar

“Poemas Sem Título” é, acima de tudo, uma mostra que visa apresentar “uma visão compreensiva de trabalhos regionais e internacionais ligados a questões humanitárias”

Dança, fado e d

Plataforma “Unitygate” apresenta projectos em Maca

fados de Amália Rodrigues, tendo coreografia e interpretação de Sandra Battaglia, da Amalgama – Companhia de

Dança. Segue-se, no dia 26 deste mês, o espectáculo de dança e teatro “Esperpento”, a ter lugar na Casa Garden,


eventos 11

quinta-feira 17.10.2019

Oktoberfest Nova edição hoje no MGM

uma nova geração de artistas, com os seus personagens idiossincráticas e disposições para as práticas criativas”, acrescenta a mesma nota. A curadoria desta mostra está a cargo de Noah Ng, que seleccionou trabalhos que resultam de “diálogos multifacetados que invocam transformações culturais, teorias sociais realizadas de forma dinâmica, psicoanálise e ecologia política”. A diversidade cultural dos artistas visa levar o público a estimular a imaginação, graças às “profundas preocupações sobre a humanidade” reveladas pelos trabalhos expostos.

Começa hoje uma nova edição do Oktoberfest no MGM Cotai, que decorre até ao dia 28 deste mês, à excepção do dia 20. O evento deste ano celebra os 20 anos de transferência de soberania de Macau para a China e, nesse sentido, serão feitos descontos a todos os residentes de Macau. A banda “Högl Fun Band” irá actuar no Oktoberfest, apresentando uma canção especial sobre essa efeméride, intitulada “Nei Hou, Macau!”, com algumas frases em cantonês para celebrar o intercâmbio cultural existente no território.

FIMM “Filarmónica de Viena” no CCM

HUMANIDADE EM FOCO

Na mesma nota, os promotores do MIPAF esclarecem que a humanidade é o tema central destes trabalhos, com uma ligação à poesia chinesa tradicional. “A poesia chinesa tradicional enfatiza a verdadeira essência da literatura clássica, e numa nota curiosa alguns poemas foram deixados 'sem título'. Os trabalhos 'sem título' podem indicar que é melhor deixar algumas coisas sem nome, ou

debate

au

promovido pelo Clube dos Amigos do Riquexó e Amalgama. De acordo com uma nota oficial, este espectáculo pretende fazer “rir, chorar e pensar” o público, pois “faz uma viagem guiada por uma imagem reflectida num espelho, a imagem que temos de nós, a imagem que os outros

Noah Ng, curador

significa que o seu autor não quis contextualizar o que viu, ao revelar o tema da poesia. Deixar algo por dizer pode ser uma poderosa ferramenta.” “Poemas Sem Título” é, acima de tudo, uma mostra que visa apresentar “uma visão compreensiva de trabalhos re-

gionais e internacionais ligados a questões humanitárias”. As performances podem ser vistas esta sexta-feira, entre as 19h00 e 22h00, sábado, entre as 14h00 e as 18h00, e domingo das 13h00 às 20h00. A entrada é gratuita. Além dos artistas individuais, o

Armazém do Boi vai também contar com a presença do colectivo PRINZpod, oriundo da Áustria, composto pelos artistas Brigitte Podgorschek e Wolfgang Podgorschek. Do Chile chega o projecto DEFORMES, com Gonzalo Rabanal, Valeria León Ibá-

nez e Teresa Catalina Varas Reyes. O Armazém do Boi conta com o apoio da Fundação Macau para esta iniciativa, além de outras entidades internacionais.

têm, e a imagem que gostaríamos de ter”. Em Novembro, no dia 2, decorre, em parceria com um estúdio de yoga, um workshop de ballet e dança criativa para crianças, com Alexandra Battaglia. Trata-se de uma “sessão aberta a todos que queiram experimentar as bases da dança clássica sem formatações, mas na sua essência mais significativa para a criança, sensibilidade, postura, musicalidade, coordenação por uma vertente

criativa, lúdica e emocional, tão importante para o desenvolvimento harmonioso do ser”, aponta a mesma nota. Estão também agendados outros workshops.

já 'ensaiado' há muito tempo atrás, António Duarte Mil-Homens propõe-se, a partir de sugestões das crianças participantes, colher da sua memória e imaginação Histórias no momento inventadas. A gravação, feita em simultâneo, será depois transcrita e posteriormente editada”, explica o comunicado. Outro dos eventos que faz parte do programa da plataforma “Unitygate” para Macau, e que acontece dia 7 de Novembro, é o “Forum

Network – Arte e Movimento na Escola”, em parceria com a Fundação Rui Cunha. Trata-se de uma palestra e mesa redonda sobre a reflexão do papel do movimento criativo e artístico na Educação. “A ideia é criarmos um espaço informal de apresentações e debate sobre o assunto, aproximando pessoas, artes, partilhando saberes, experiências e exemplos, sobre um assunto da maior importância na educação da pessoa e das sociedades”, conclui o mesmo comunicado.

HISTÓRIAS DO MOMENTO

No dia 10 de Novembro, haverá lugar a um outro workshop, desta vez no Jardim da Flora, intitulado “Contos e Histórias Inventadas”, com a participação do fotógrafo António Mil-Homens. “Dando corpo a mais um projecto antigo,

O concerto “Filarmónica de Viena”, integrado no cartaz do Festival Internacional de Música de Macau, acontece este domingo e segunda-feira, pelas 20h00, no Centro Cultural de Macau ao invés da praça da biblioteca da Universidade de Macau, devido às más condições meteorológicas. De acordo com uma nota do Instituto Cultural, as datas, horas, programa e preço permanecerão inalterados. A Filarmónica de Viena, conhecida como “O Som de Viena”, apresentará a Sinfonia No 9 em Mi menor “Do Novo Mundo”, Op. 95 de A. Dvorák, e o virtuoso Concerto para Piano e Orquestra N.º 3 em Ré menor, Op. 30 de S. Rachmaninoff, em colaboração com a pianista Yuja Wang.

Ópera Palestra acontece na FRC

É já esta quinta-feira que acontece na Fundação Rui Cunha a palestra “As Vozes na Ópera – Soprano”, protagonizada por Raul Pissarra e Shee Va. Uma nota oficial aponta que, na categoria de soprano, “é imprescindível falarmos de Maria Callas, sublinhando o seu carisma e a assinatura pessoal que imprimiu nos personagens que interpretou. A par dela, outras vozes se farão ouvir, tais como, Elizabeth Schwarkopf, Joan Sutherland, Monserrat Caballe, Kiri Te Kanawa e, mais recentemente, Renee Fleming, Diana Damrau e Anna Netrebko”. A palestra na FRC vai também abordar os compositores que escreveram música para as sopranos, como Mozart, Verdi, Puccini ou Donizette, entr outros. “Sendo certo que o interprete é relevante na vivência dos papeis em palco, não são menos importantes as palavras que canta nem as melodias compostas pelos compositores, nomeadamente a forma como estes usaram as notas, os acordes e as escalas para exprimir as emoções dos protagonistas”, destaca a mesma nota.


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17.10.2019 quinta-feira

HK PRÓ-DEMOCRATAS FORÇAM CARRIE LAM A DISCURSAR À PORTA FECHADA

Ficar a falar sozinha

Nomeação de risco Deputada norueguesa propõe “povo de Hong Kong” para Nobel da Paz 2020

O regresso aos trabalhos no parlamento de Hong Kong ficou marcado pelos apupos dos deputados pró-democracia dirigidos à Chefe do Executivo, Carrie Lam, quando esta se preparava para fazer o discurso anual

A

chefe do Executivo de Hong Kong foi ontem obrigada a discursar à porta fechada, depois ter sido impedida de falar no parlamento por deputados pró-democracia, que exibiram cartazes e projectaram um vídeo. O discurso de Carrie Lam foi apresentado como uma tentativa de recuperar a confiança do público, após mais de quatro meses de uma crise política sem precedentes. Parlamentares pró-democracia vaiaram Carrie Lam, exibiram cartazes a mostrar a líder do Governo com sangue nas mãos e projectaram uma imagem na parede, atrás do local onde discursava, na qual se podia ler: “cinco exigências, nem uma menos”. O protesto obrigou Lam a sair do Conselho Legislativo (LegCo), o parlamento de Hong Kong. Na origem da contestação, que se vive no território desde o início de Junho, está uma proposta de emendas à lei da extradição, já retirada formalmente pelo Governo da região administrativa especial chinesa. Contudo, os manifestantes continuam a exigir

que o Governo responda a quatro outras reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão de Lam e eleição por sufrágio universal para este cargo e para o parlamento.

SEM HIPÓTESE

Carrie Lam tentou por duas vezes proferir o discurso

anual, no dia em que o LegCo regressou aos trabalhos, mas sem sucesso, tendo sido obrigada a falar à porta fechada, durante 75 minutos, num discurso emitido pela televisão. “As pessoas estão a perguntar: Hong Kong voltará ao normal”, questionou, para apelar, em seguida, aos 7,5 milhões de cidadãos do território para “valorizarem a cidade”. “A contínua violência e a disseminação do ódio” vai “corroer os valores centrais

de Hong Kong”, alertou. Já fora do parlamento local e depois do discurso, um grupo de deputados pró-democracia improvisou uma conferência de imprensa, durante a qual foi ouvida uma gravação, que reproduziu gritos de manifestantes a serem atacados pela polícia com gás lacrimogéneo. “Ela é apenas uma marioneta comandada por Pequim”, acusou a deputada Cláudia Mo. “Estas são as vozes das pessoas que gritam e são apenas pessoas comuns de Hong Kong”, disse a parlamentar Tanya Chan. “Por favor, por favor, por favor, Carrie Lam, não nos deixes sofrer mais”, concluiu. Os protestos, que se tornaram maciços em Junho contra a proposta de lei, transformaram-se num movimento que exige reformas democráticas em Hong Kong. Durante os quatro meses de manifestações, registou-se uma escalada de violência. Os manifestantes têm acusado a polícia do uso de força excessiva, enquanto as autoridades condenam as tácticas violentas de alguns grupos, que apelidam de radicais. PUB

FALECIMENTO

DANIEL EDUARDO DA COSTA E ROSÁRIO A família enlutada de Daniel Eduardo da Costa e Rosário, vem comunicar o falecimento da sua ente querido no dia 11 de Outubro de 2019 no Hospital S. Januário. No dia 17 de Outubro de 2019 pelas 18:00 horas será rezada uma missa pela

sua alma na Casa Mortuária Diocesana. No dia seguinte, 18 de Outubro de 2019, pelas 11:00 será realizado o funeral e uma Missa no Cemitério São MiguelArcanjo. Antecipadamente se agradece a todos quantos queiram participar no piedoso acto.

U

MA deputada norueguesa anunciou ontem que propôs o “povo de Hong Kong” para o Prémio Nobel da Paz 2020, condecoração que já em 2010 desagradou à China ao distinguir o dissidente Liu Xiaobo. “Nomeei o povo de Hong Kong para o Prémio Nobel da Paz 2020”, disse Gury Melby, membro do parlamento pelo partido liberal, que faz parte da coligação no poder na Noruega, justificando a nomeação por os populares do território “arriscarem as suas vidas e segurança todos os dias para defender a liberdade de expressão e democracia básica”. Durante uma entrevista publicada pela Aftenposten ontem, Melby explicou que “o que eles estão a fazer tem um impacto que vai muito além de Hong Kong, tanto na região quanto no resto do mundo”. Há quatro meses que a ex-colónia britânica tem enfrentado a sua pior crise política, marcada por manifestações, às vezes violentas, que denunciaram uma restrição nas liberdades, mostrada na resposta policial considerada brutal pelos manifestantes. A iniciativa

de Melby deverá incomodar a China, cujo Governo ficou desagradado com a escolha do activista de direitos humanos Liu Xiaobo, que morreu em 2017, para o Prémio Nobel da Paz 2010. Embora o Comité Nobel seja independente do poder do Estado norueguês, Pequim congelou as suas relações com o país escandinavo durante um período de tempo, suspendendo negociações para acordos de livre comércio e impedindo as importações de salmão norueguês. A relação entre os dois países foi normalizada seis anos depois, em Dezembro de 2016, após Oslo prometer “não apoiar acções que comprometam” os interesses chineses.

ETIÓPIA EM FESTA

Este ano, o prémio foi concedido ao primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed, que conseguiu a reconciliação do seu país com a Eritreia, distinguindo-o entre os 301 candidatos para a condecoração. Segundo os estatutos da Fundação Nobel, entre as pessoas qualificadas para fazer indicações ao Prémio Nobel da Paz estão membros de governo e de assembleias nacionais, além de membros do Tribunal Permanente de Arbitragem e do Tribunal Internacional de Justiça em Haia, professores universitários de história, ciências sociais, filosofia, direito e teologia, reitores de universidades ou ex-laureados com aquele prémio, entre outros.


região 13

quinta-feira 17.10.2019

T

ROPAS paquistanesas e indianas trocaram tiros na região dos Himalaias, na Caxemira, matando quatro civis e ferindo cerca de uma dúzia de outras pessoas, confirmaram ontem as autoridades dos dois países. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Paquistão disse ontem que convocou um diplomata indiano para protestar contra as “violações do cessar-fogo” na terça-feira, que matou três civis, incluindo duas crianças, do lado paquistanês da fronteira de Caxemira. Na Índia, o tenente-coronel Devender Anand, porta-voz do Exército, disse que o Paquistão disparou contra duas dúzias de postos do exército indiano ao longo do altamente militarizado sector de Poonch, na segunda e na

Linha de fogo

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Paquistaneses e indianos trocam tiros na fronteira da Caxemira

terça-feira.Anand afirmou que as tropas paquistanesas usaram morteiros e metralhadoras e atacaram várias aldeias. O porta voz culpou o Paquistão por ter iniciado a troca de tiros e disse que as suas tropas responderam ao que chamou de uma série de violações não provocadas do cessar-fogo. Anteriormente, um administrador civil indiano, Rahul Yadav, disse que uma jovem mulher e vários bovinos foram mortos devido a disparos paquistaneses no sector de Poonch na terça-feira. Ontem, um oficial da polícia indiana Parvaiz Ah-

med disse que as forças de segurança indianas mataram três militantes numa troca de tiros no sul da Caxemira, após informações de que um grupo de militantes estava escondido na cidade de Bijbehara. A Caxemira é dividida entre o Paquistão e a Índia e é reivindicada pelos dois países na totalidade. As duas nações asiáticas já travaram duas guerras pela província. A Índia provocou um novo aumento da tensão em Agosto, quando retirou o estatuto especial da província de Jammu e Caxemira e impôs controlos mais rígidos sobre a área.

Anúncio Prestação dos serviços de manutenção de plantas/flores nos jardins ao ar livre da sede do Instituto Politécnico de Macau e do novo campus deste Instituto na Ilha de Taipa, e para prestação dos serviços de aluguer de plantas/flores da sede do Instituto Politécnico de Macau (01/01/2020-31/12/2021) CONCURSO PÚBLICO N.º 03/DOA/2019 Faz-se público que, de acordo com o despacho de 27 de Setembro de 2019, do Exm.º Senhor Secretário para Assuntos Sociais e Cultura, se encontra aberto concurso público para a «Prestação dos serviços de manutenção de plantas/flores nos jardins ao ar livre da sede do Instituto Politécnico de Macau e do novo campus deste Instituto na Ilha de Taipa, e para prestação dos serviços de aluguer de plantas/flores da sede do Instituto Politécnico de Macau, pelo período de dois anos (01/01/2020-31/12/2021)». 1. 2. 3. 4.

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O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Paquistão disse ontem que convocou um diplomata indiano para protestar contra as “violações do cessar-fogo” na terça-feira, que matou três civis, incluindo duas crianças

FILIPINAS SISMO DE MAGNITUDE 6,4 ATINGE MINDANAO

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M terramoto de magnitude 6,4 na escala de Richter atingiu ontem o sul das Filipinas, na ilha de Mindanao, segundo o Serviço Geológico dos EUA (USGS, na sigla em inglês). O sismo ocorreu a cerca de 7,7 quilómetros de Columbio, na província de Sultan Kudarat, e a uma profundidade de 14 quilómetros, anunciou o USGS. Até ao momento, não há registo de vítimas mortais ou de danos causados pelo tremor, ainda que terramotos que ocorrem mais próximo da superfície terrestre tendam a causar mais danos. Um homem idoso ficou ferido pela queda de um objecto

e centenas de pessoas foram retiradas de um centro comercial, de acordo com a televisão filipina ABS-CBN. O director do Instituto Filipino de Vulcanologia e Sismologia (PHIVOLCS, na sigla em inglês), Renato Solidum, descartou o risco de um tsunami, já que o sismo ocorreu no interior. A região das Filipinas localiza-se no chamado Anel de Fogo do Pacífico, um arco de intensa actividade sísmica, com vulcões activos e placas tectónicas, que se estende do Japão ao sudeste da Ásia. Um terramoto de magnitude 7,7 matou quase 2.000 pessoas no norte das Filipinas em 1990.

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Entidade adjudicante: Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Entidade que põe o serviço a concurso: Instituto Politécnico de Macau. Modalidade de concurso: Concurso Público. Objecto do Concurso: Prestação dos serviços de manutenção de plantas/flores nos jardins ao ar livre da sede do Instituto Politécnico de Macau e do novo campus deste Instituto na Ilha de Taipa, e para prestação dos serviços de aluguer de plantas/flores da sede do Instituto Politécnico de Macau, pelo período de dois anos (01/01/202031/12/2021). Período: 01 de Janeiro de 2020 a 31 de Dezembro de 2021. Prazo de validade das propostas do concurso: As propostas do concurso são válidas até 90 dias contados da data de abertura das mesmas. Garantia provisória: $81 000,00 (oitenta e uma mil patacas), através de depósito na Divisão de Assuntos Financeiros do Instituto Politécnico de Macau ou mediante garantia bancária a favor do Instituto Politécnico de Macau, em Macau. Garantia definitiva: 4% do preço global da adjudicação (para garantia do contrato). Condições de admissão: Entidades com sede ou delegação na RAEM cuja actividade total ou parcial se inscreva na área objecto deste concurso. Local, data e hora de explicação: Local: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luís Gonzaga Gomes, em Macau. Data e Hora: 21 de Outubro de 2019, pelas 10H00. Em caso de encerramento do IPM, devido a tufão ou a outro motivo de força maior, no dia referido, a realização da sessão de esclarecimento será prorrogada para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Local, data e hora do limite da apresentação das propostas: Local: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luís Gonzaga Gomes, em Macau. Data e Hora: 31 de Outubro de 2019, antes das 17H45. Em caso de encerramento do IPM, devido a tufão ou a outro motivo de força maior, no último dia do prazo da entrega das propostas, o termo do referido prazo será prorrogado para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Local, data e hora da abertura do concurso: Local: Sala de Reunião do Pavilhão Polidesportivo do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luís Gonzaga Gomes, em Macau. Data e Hora: 1 de Novembro de 2019, pelas 10H00. Em caso de encerramento do IPM devido a tufão ou a outro motivo de força maior no dia da realização da referida sessão, a realização da sessão será prorrogada para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Local, preço e hora para exame do processo e obtenção da cópia do processo: -Os concorrentes interessados podem deslocar-se à Divisão de Obras e Aquisições do IPM, sito na Rua de Luís Gonzaga Gomes, para consultar/adquirir o respectivo processo do concurso durante as horas de expediente (de 2a feira a 5a feira das 09H00 às 13H00 e das 14H30 às 17H45; 6a feira das 9H00 às 13H00 e das 14H30 às 17H30) desde a data da publicação do anúncio do presente concurso público no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau até ao dia e hora do prazo de entrega de propostas. Caso queiram obter fotocópia do documento acima referido, devem pagar o montante de $100,00 (cem patacas) relativo ao custo das fotocópias, ou podem proceder ao download gratuito das informações acima referidas na página electrónica do IPM (http://www.ipm.edu.mo). - Informações: 8599 6140, 8599 6153 ou 8599 6279. A avaliação das propostas do concurso será feita de acordo com os seguintes critérios: -Preço Razoável (50%) -Qualidade do Serviço (50%): (a) Experiência professional do dirigente e curriculum vitae dos trabalhadores que prestam serviços objecto do presente concurso (12%); (b) Tempo de experiência e envergadura do concorrente (5%); (c) Desempenho dos serviços (incluindo locais e fotografias), principalmente na complexidade e desempenho satisfatório dos serviços (com dados do ano 2017 até ao presente) (4%); (d) Equipamentos e bens consumíveis para a prestação dos serviços objecto do presente concurso (8%); (e) Sugestões favoráveis à prestação dos serviços de manutenção de plantas/flores nos jardins ao ar livre da sede do Instituto Politécnico de Macau e do novo campus deste Instituto na Ilha de Taipa, e para prestação dos serviços de aluguer de plantas/flores da sede do Instituto Politécnico de Macau, pelo período de dois anos (01/01/2020-31/12/2021) (pode proporcionar fotografias) (12%); (f) Serviços gratuitos oferecido pelo concorrente (4%); (g) Esclarecimentos na reunião (questões profissionais levantadas pelo Instituto Politécnico de Macau sobre Prestação dos serviços de manutenção de plantas/flores nos jardins ao ar livre da sede do Instituto Politécnico de Macau e do novo campus deste Instituto na Ilha de Taipa, e para prestação dos serviços de aluguer de plantas/flores da sede do Instituto Politécnico de Macau, pelo período de dois anos (01/01/2020-31/12/2021) e o esclarecimento “in loco”, local proporcionado pelo concorrente.) (5%). Macau, aos 08 de Outubro de 2019 O Presidente, Im Sio Kei


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retrovisor Luís Carmelo

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URANTE os últimos meses estive ocupado com um romance que foi escrito a partir de marcos familiares (não sei, francamente, se é um romance). Quer isto dizer que o projecto abraçou memórias que acabaram autonomamente por crescer, dilatando a semente dos factos. Concluí, mais uma vez, que o acto da escrita só existe se se situar no instante e no instinto da derrapagem. Escrever nasce do delírio onde pululam afectos e todos os seus anticorpos mais negros. Ao fim e ao cabo, o delírio é uma vasta floresta sem qualquer árvore. Quem nunca entrar num espaço destes, branco e árido por natureza, é porque afinal não escreve; apenas publica livros. Pode redigir-se nos conformes, organizando-se enredos com as baias certinhas de uma boa trama; pode embelezar-se a cárie e as corrosivas afiadas - máscaras dos advérbios, mas isso pode apenas redundar em higiene momentânea. Não deixa de ser verdade que a moralidade crítica se esquece amiúde de percorrer as galerias onde luz o minério, concentrando-se cada vez mais nos alardes que encapelam as superfícies do texto e os repetidos avatares (e palavras de ordem) da biografia literária.

17.10.2019 quinta-feira

É urgente inventar alegria

Pop é mas é o diabo

Lembro-me de estar sentado, em Maio passado, diante do meu editor e de lhe ter falado sobre o que desejava fazer. Na mão tinha apenas o que não sabia. Foi importante ter registado o súbito assentimento, embora saiba que a solidão é bem mais do que estar a sós; a solidão é a indiferença radical com que o mundo nos deverá observar, quando ingressamos em territórios que se alimentam de uma compaixão igual à das ventanias do fim da tarde. Com um nada a invadir-me a távola de lancelote, lá avancei com a obsessão de me ver a saltar de história para história, muitas delas contadas em vida pelo meu pai (sublinho “em vida”, pois há infinitas coisas que a morte também nos confidencia aos berros). Escrevi virado para um bosque, depois para um mar mortiço e, por fim, quase no desenlace, vi-me ao lado da minha gata, contemplados eu e ela pelo pátio de todos os dias. Quando concluí a primeira versão do livro (porventura será a única), não me dei muito tempo de descanso. Teria sido penoso fazê-lo. Quase um mês depois - que entretanto ocupei com uma nova série de poemas (respondendo às ‘Cartas a Lucílio’ de Séneca) -, retirei da estante

por mero acaso um livro que nunca havia lido. E estava lá tudo, dito e redito em jeito de testamento. E era-o, na realidade. Há sortilégios assim. Eu explico: quatro anos antes de ter morrido, Marguerite Duras foi entrevistada por Benoît Jacquot. Da longa conversa resultou um filme que foi para o ar em Novembro de 1992 no canal ‘Arte’. No ano seguinte, o texto da entrevista apareceu em livro, publicado pela Gallimard com o título ‘Écrire’ (o que aconteceu entre nós, já em 1994, por iniciativa da Difel). Trata-se de uma reflexão poderosa sobre a escrita e o acto de escrever em que reencontrei todos os pontos de partida que eu vivera intimamente nas minhas reflexões de Maio passado. Destaco três aspectos que li, como se tivessem sido escritos de propósito para aquele ápice inicial em que ainda continuo sentado diante do meu editor. Esse momento mantém-se, congelou-se. Falo, gesticulo, bem tento explicar o que quero escrever, mas sei que tudo é pantanoso, secreto, inaudito. Até hoje. 1- A primeira ideia: “estar sem tema”, sem ideia quase nenhuma do livro que nos espera, “é reencontrarmo-

Escrever nasce do delírio onde pululam afectos e todos os seus anticorpos mais negros. Ao fim e ao cabo, o delírio é uma vasta floresta sem qualquer árvore. Quem nunca entrar num espaço destes, branco e árido por natureza, é porque afinal não escreve; apenas publica livros

-nos perante o livro” que desejamos. Por outras palavras ainda: “escrever é tentar saber aquilo que escreveríamos, se escrevêssemos”. É pura verdade: uma tentativa destas só avança no campo da derrapagem. Foi o que se passou. 2- A segunda ideia: “Se não é um livro o que nos espera, sabe-se sempre”; de qualquer modo, “estar só com o livro ainda não escrito é estar ainda no primeiro sono da humanidade”. Ou seja: regressar aos baldios onde persistem todas as fontes iniciais. E elas deverão ser rigorosamente inocentes, ingénuas e desconhecedoras da experiência que, nos seus vaivéns do hábito, cega bem mais do que revela. 3- A terceira ideia: “a solidão é sempre acompanhada de loucura; não a vemos, pressentimo-la”. É por isso que escrever é “uma faculdade que temos ao lado da nossa pessoa, paralelamente a ela”. Saímos de nós, é verdade: desarrumamos, desalinhamos, desabamos. No limite, é mesmo verdade e o meu editor terá toda a razão: exilamo-nos, desaparecemos. E o texto limitar-se-á a saber imprimir as marcas, a vaticinar os vestígios, a gritar o que é preciso ser gritado. E não vale a pena emoldurar o desvario. O melhor é mesmo deixá-lo respirar à vontade até que seque e se rarefaça cheio de gretas (como acontece às lamas aráveis do Nilo) diante dos olhos do público e da crítica, se os houver. Por fim, até a “censura” - palavra perigosa! - de Duras se acabou por rever na minha reflexão de Maio sobre os mineiros ocultos que descem às profundidades da mina para a explorar, ela que permanecerá sempre encoberta pelos malabarismos da moda, das gerações e, inevitavelmente, das ‘correcções’ desferidas pelas sinuosas azagaias da coisa literária: “... censuro aos livros em geral: o facto de não serem livres. Vêmo-lo através da escrita: são fabricados, são organizados, regulamentados” (...) “o escritor torna-se no seu próprio chui. Quero dizer com isso a procura da boa forma, quer dizer, da forma mais corrente, mais clara e mais inofensiva” (...) “Mesmo os jovens: livros encantadores sem qualquer prolongamento, sem noite”. Livros “sem noite”: livros asseados, livros sem falhas, livros centrados na expectativa do tempo que corre, livros inofensivos, livros vorazes mas apenas resguardados, aguardados, livros pop. Pop.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

quinta-feira 17.10.2019

diário de Próspero

António Cabrita

Esferas

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O primeiro volume da trilogia das “Esferas”, de Peter Sloterdijk, o filósofo alemão explana a sua “teoria do espaço diádico” (uma ontologia que não começa no Um mas no Dois e face à qual a concepção do indivíduo enquanto substância unitária e isolada é uma visão falida, que já nem como prótese pode subsistir). Tudo começa no útero e na ressonância entre dois polos, o interior do vaso amniótico, e o exterior que se joga no espaço intersubjectivo da mãe e que chega ao feto através do ouvido. E assim se cria a primeira esfera inicial, o primeiro aparato imunológico. O bebé cresce dentro de uma câmara de ecos, ouve o que lhe é invisível. Mais tarde, com o corte do cordão umbilical, e à falta dessa relação de protecção configurada pelo útero, o invisível será suprido pela imaginação e os “seus” elementos subjectivos reinventam-no, projectando-o noutra esfera completada pelas figuras do anjo da guarda, do daimon, a do amigo imaginário, ou a do génio, etc. Contra Lacan, que deu relevo ao estádio do espelho, Sloterdijk promove o ouvido como premissa fundadora da auto-percepção e reflecte nas consequências disso nas duas mil e cem páginas da sua trilogia, absolutamente persuasivas. E ao fazer o elogio da esfera, como explica Paulo Ghiraldelli, faz-se o elogio do “entre”, o elogio do poroso, campo “em que nada existe que não seja relacional.” O que os orientais já haviam dito há muito, mas importa realçar que este novo paradigma, duma penada, salva-nos do isolamento do cogito e da dualidade, que clivava o mundo em sujeito e objecto, e devolve-nos por outro lado a dimensão do sagrado, na medida em que faz-nos perceber que “a retirada de Deus” é distinta de uma “morte de Deus” (esta apenas traduziria um recalcamento do universo simbólico que constitui o próprio tecido da nossa propensão esferológica, o que acarreta mais patologias que benefícios), e em que arruma de vez os pressupostos hierárquicos restituindo-nos a “epifania” como um não-lugar evasivo a todas as formas de lucro (- e hoje, neste amorfo e desvitalizado reino do signo saturado pelo cálculo, este é o verdadeiro escândalo e uma coisa mais difícil de aceitar que o incesto, entretanto convertido em subplot cinematográfico). Afinal, o que foi sempre exasperadamente equívoco na relação de Deus? A imagem que os braços políticos das igrejas quiseram cristalizar, a feição patriarcal e autoritária atribuída a Deus nas Religiões do Livro - quando o relacionamento com o divino pode adoptar uma via mais libertadora, ecológica e reguladora, tão so-

mente, a de uma tomada de consciência do “sentido das proporções”. Numa intuição extraordinária, Sloterdijk comenta que a metafísica começa como uma metacerâmica. Deus, na criação, teria usado da mais avançada tecnologia da época, a do oleiro, a do fazedor de vasos. Esta interpenetração, lembra Ghiraldelli, seria imprescindível à resso-

nância entre dois polos que, assim vibrando juntos, criam uma esfera, um campo de autoimunização. Mas, o recurso à olaria, realça igualmente, acrescento eu, a dimensão histórica de Deus – e isso muda muito. Pensemos nesta proposição de Martin Buber – filósofo reivindicado por Sloterdijk : «Não conheço outra revelação para além

A esferologia de Sloterdijk ajuda-nos a regular as miras e não por acaso o filósofo concebe a filosofia como uma “medicina da alma”

da do encontro do divino e do humano, no que o humano colabora com a mesma medida do divino. O divino aparenta-se a um fogo que derrete o mineral humano. Mas o que resulta daí não é algo que estivesse na natureza do fogo.» Deus seria então o que nos melhora, mas o que Ele É também depende da nossa contribuição. Ou seja, também podemos degradar Deus. É aliás disto que, como ateu intermitente, acuso a grande massa dos fiéis – merda para a grande massa dos fiéis, ignara, que faz tábua rasa do que Kant evidenciou há três séculos: que se é “tão cómodo ser menor”, só em conseguindo dobrar a preguiça e a covardia acedemos ao nosso próprio entendimento e sairemos finalmente da condição infantil; sendo esse o lema do Esclarecimento. O que Sartre repisará dois séculos depois: a necessidade de os homens serem responsáveis pelos seus actos, sem álibis ou entidades transcendentes que os alheiem de assumir-se como a verdadeira mola das suas escolhas. É uma evidência que os homens fazem tanto mais alarde das supostas consciência e identidade, quanto mais querem enjeitar a autonomia. Adquirir uma pauta de valores e ser activo na responsabilidade social, devia ser uma ressonância natural da necessidade de espiritualidade, para quem sinta o apego; seria esse o passo normal na constituição de uma esfera. Mas primeiro, propunha ele, devíamos arrumar a casa. Enquanto colocarmos toda a nossa segurança no airbag de Deus, pela frente e nas costas, não cresceremos o suficiente como pessoas para dedicar espontaneamente amor e respeito aos demais. Na Índia, Deus é «uma criança eterna jogando um jogo eterno, num jardim sem fim» e nós humildemente somos os dados – a liberdade relativa dos dados – na sua mão. E contudo, desse caprichoso lance de dados depende também a “sorte” de Deus. O que volta a situar-nos na responsabilidade dos nossos actos. Assim, procurar em Deus uma ordem, uma harmonia, para o caos do mundo é o mesmo que confundir uma decalcomania com a pele. A crer em Deus, há que aceitar a fé “apesar” do caos que se incrusta na rugosidade do real, mas o apelo deve levar-nos à insatisfação que antecipe a decisão e a autonomia. Os Budistas não falam em Deus, dizem antes que os rios procuram o mar. De facto parece mais justo realçar que talvez nos espere o oceano fragoroso que antecede as calamidades, sendo nosso dever não fugir ao repto. A esferologia de Sloterdijk ajuda-nos a regular as miras e não por acaso o filósofo concebe a filosofia como uma “medicina da alma”.


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Folhetim Fernando Sobral

17.10.2019 quinta-feira

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A Grande Dama do Chá

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restaurante chinês “Cam Seng”, no quinto andar do hotel Central era o local a que Toshio Nomura chamava o seu escritório à hora de almoço. Era um homem de hábitos às refeições, algo estranho para quem as rotinas podem ser perigosas. Sabia-se também que, às vezes, passava parte da noite no clube “Hou Heng”, no sexto andar, onde se encontravam muitos estrangeiros e alguns portugueses. Era um bom local para colher informações e, da varanda, tinha-se uma agradável vista da cidade. Nomura, que evitava ir aos locais onde a maioria dos presentes era chinesa, preferia, nos finais de tarde, ir ao Canídromo. Gostava de apostar nas corridas de cães. Depois ia até ao salão de dança do local, acompanhado quase sempre duma filipina, que apresentava como sua secretária, que muitos diziam ser a amante. O japonês mandara uma mensagem a Cândido Vilaça logo pela manhã para estar ali para almoçarem. Jin Shixin, que ainda estava em casa do português, sorrira, quase malevolamente. Nomura estava sentado numa mesa colocada num canto, de onde se via toda a sala, e fumava um cigarro através de uma cigarrilha. Pareceu-lhe mais novo do que era. Talvez tivesse pouco mais de 40 anos. Assim que Cândido se sentou à sua frente, perguntou-lhe, no seu português com sotaque brasileiro: - Bebe vinho? Aqui têm bom vinho tinto português? - Aceito. Há muito tempo que não o bebo. - Acho que sei a marca. Periquita? Assim era. O empregado trouxe uma garrafa e antes de a abrir mostrou-a. Nomura confirmou a escolha. - Para comer propunha uma garoupa frita. Aqui é excelente. Com arroz chao-chao. - Parece-me uma excelente sugestão. Nomura fixou os olhos em Cândido e pareceu estudá-lo com rigor. Era um homem habituado a ler os pensamentos dos outros. - Parece-me um bom homem, Cândido. E tenho de lhe agradecer a informação que nos passou. Permitiu-nos saber onde é o armazém do Bando Verde. Encomendaram a refeição e Nomura disse: - Só tenho pena de não terem aqui sake. - Tem de pensar em importar. Se pensa ficar em Macau muito tempo... - É uma boa ideia. - Importar ou ficar em Macau? Nomura deu uma gargalhada. - Gosto do seu sentido de humor. Mas, aproveitando a boa disposição, deixe-me perguntar-lhe algo. Sabe do José Prazeres da Costa, o nosso comum amigo? - Desde ontem à hora de almoço que não o veio. Estive no “Bambu Vermelho”

à noite, mas ele não apareceu. O que foi estranho, porque tem andado com sorte ao jogo. - Eu sei. Pagou-me tudo o que me devia. Bem, poderia dizer-lhe que não sei dele. Mas isso é uma mentira e depressa descobriria isso. E deixaria de confiar em mim. Fez uma pausa, para apreciar o resultado das suas palavras. O olhar de Cândido manteve-se impassível. - Pois bem, o nosso comum amigo embarcou esta manhã para Hong Kong. Ia acompanhado por uma senhora, Amélia de seu nome, segundo julgo saber. Acredito que vá a caminho de Portugal. Deve ter conseguido ganhar algum dinheiro nas últimas semanas para conseguir fazer isto. Até há pouco tempo estava falido. Ele não lhe disse nada? - O que está a dizer apanhou-me de surpresa, tal como julgo deve ter acontecido consigo. Mas deveria estar a preparar a fuga há vários dias. - Só uma coisa estranho, porque estou habituado a que as pessoas tenham duas faces. Ou mais, ainda. Como é que ele ganhou tanto dinheiro em tão pouco tempo, tendo o suficiente para me pagar e, ainda mais, para fugir? - A sorte do jogo também muda. - Acha que muda sem uma mão invisível e interessada intervir? Fixou o olhar em Cândido, que sentiu um leve arrepio. Sabia o que se tinha passado. A sorte foi que foram interrom-

pidos pela chegada da comida. Nenhum deles reparou que, numa mesa próxima, se tinha sentado Luc LeFranc. O jogador olhou para eles, disfarçadamente e pediu algo para comer e beber. Trazia um exemplar do “South China Morning Post”, que foi lendo com interesse. Passado um par de minutos, Nomura voltou a falar: - Diga-me honestamente, amigo Cândido. Agora que o José fugiu, estaria disposto a colaborar mais proximamente connosco? - De que forma? - Ajudando-nos no circuito de comunicações. Fazendo relatórios diários sobre o que ouve nos locais onde vai. Nós desejamos saber o que sentem as pessoas que vivem em Macau. E, claro, perceber quem são os nossos amigos. E os nossos inimigos. - Eu sou apenas um músico. - Os músicos têm os melhores ouvidos. Dito isto, Nomura deu uma gargahada. - Meu caro, nunca se tente mostrar que é mehor do que é. Nem pior do que acham que é. - Não tento. Prometo ir pensar na sua oferta. Mas queria deixar-lhe uma informação. Sei que amanhã à noite, vai haver uma nova descarga no Porto 16. Sei apenas que desta vez é muito importante. - Importante? Tem ouro? - E não só. Heroína. Nomura franziu os olhos. - Heroína. Os chineses não costumam traficar essa droga. É um monopólio nosso.

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Foi a vez de Cândido mostrar-se surpreendido: - Vocês traficam heroína? Nomura fez um ar enfadado. - Só o suficiente para pagarmos as nossas acções. Não é um negócio como o do Bando Verde. Mas agradeço a sua preciosa informação. De resto trago-lhe uma lembrança. Dito isto, tirou de um bolso do casaco um envelope, que colocou defronte de Cândido. Este agarrou-o e viu o seu conteúdo. Tinha uma quantidade interessante de dólares americanos e de patacas. - Não posso aceitar, meu caro Nomura. - Pode e vai fazer isso. Porque é uma forma de selar a sua lealdade connosco. O seu olhar era agora agressivamente fixo. Cândido cedeu. Agarrou no envelope e guardou-o. Nomura sorriu: - Meu caro amigo, você é sincero e isso torna-o um alvo fácil. Já eu vivo entre a espada e a parede. Estes são tempos difíceis. Seremos sempre julgados depois, pelos nossos companheiros. Para o bem e para o mal. Parou um pouco para beber um pouco de vinho. Os seus olhos brilhavam: - Para mim quem não sabe distinguir entre o bem e o mal, entre o correcto e o errado, não merece a nossa atenção. Há coisas essenciais, a lealdade, o sentido de dever e o valor. Sabe, Cândido, sempre fui um guerreiro, nas mais diferentes tarefas que exerci. Aprendi uma coisa: a maior preocupação de um guerreiro é como se comporta defronte da morte. A vida faz parte da morte da mesma forma que a morte inclui a vida, diz um nosso provérbio. - Mas a guerra destrói toda a lucidez, não? - Os homens fizeram barbaridades mais cruéis que as que cometeram, invocando o Bem, enquanto cortavam cabeças aos inimigos? Em qualquer caso, quando te esqueces da morte e te distrais, perdes a prudência. Mas já viu o suficiente disso em Xangai, não foi? Ninguém deseja que isso aconteça em Macau. É uma cidade tão pacata. Cândido ficou calado. Nomura tinha uma missão. Que chocava com a de Jin. Um deles sairia vitorioso. O outro seria derrotado. Não havia meio termo. E ele, sentiu, já escolhera o seu lado. Ouviu ainda Nomura dizer: - Lembre-se, quando se caminha de noite por caminhos iluminados, deve-se andar pela sombra. Devemos ocultar o rosto. Mas eu sei quem são os meus amigos em Macau. E o Cândido é um deles. Nomura não confiava totalmente nele. Mas, naquele momento, era-lhe útil. Estiveram mais algum tempo a conversar, e depois de terem bebido o chá, se levantaram. Luc LeFranc deixou-os sair. Du Yuesheng iria ficar contente ao saber que tudo corria como esperado.


desporto 17

quinta-feira 17.10.2019

EDOARDO MORTARA “SR. MACAU” QUER RECUPERAR COROA PERDIDA NO GRANDE PRÉMIO

Ténis Frederico Silva na terceira ronda em Ningbo

O português Frederico Silva qualificou-se ontem para a terceira ronda do torneio de Ningbo, ao vencer ao tunisino Malek Jaziri na segunda eliminatória da prova chinesa do circuito ‘challenger’ de ténis. Frederico Silva, 223.º do ‘ranking’ mundial, impôs-se em dois ‘sets’ a um tenista mais bem posicionado na hierarquia ATP, na qual ocupa o 148.º lugar, pelos parciais de 7-6 (10-8) e 6-4, após duas horas e dois minutos de confronto. Na terceira do torneio de Ningbo, equivalente aos oitavos de final, Frederico Silva vai defrontar o japonês Tatsuma Ito, 137.º da hierarquia mundial e sétimo cabeça de série do torneio chinês, em piso duro.

UEFA Lazio punida com interdição parcial do estádio

A Lazio foi punida com encerramento de quatro secções das bancadas inferior e superior na curva norte do Estádio Olímpico de Roma, na recepção ao Celtic Glasgow, devido a “comportamento racista” dos adeptos. A sanção foi ontem divulgada pelo Comité de Controlo, Ética e Disciplina da UEFA, face ao que considerou comportamento racista dos adeptos da Lazio no jogo da Liga Europa, diante do Rennes, em 3 de Outubro. A UEFA impôs também uma multa de 20.000 euros ao clube, a realização de um jogo à porta fechada com pena suspensa e a obrigatoriedade da colocação de uma tarja com a ilustração de #EqualGame nas bancadas fechadas no jogo com o Celtic. A UEFA tinha aberto um inquérito na sequência do jogo com o Rennes, depois de os adeptos da Lazio terem efectuado a saudação nazi. O clube reagiu em comunicado, considerando que a decisão da UEFA “é muito prejudicial” e “severa” e que não teve em conta a condenação que o clube fez em relação “a comportamentos racistas odiosos de alguns irresponsáveis”.

Mercedes volta a chamar

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DOARDO Mortara, vencedor por sete ocasiões em corridas do Grande Prémio de Macau, irá regressar no próximo mês ao Circuito da Guia. O piloto italiano irá conduzir um dos dois Mercedes-AMG GT3 da equipa Mercedes-AMG Team Craft-Bamboo Racing na “SJM Taça GT Macau – Taça do Mundo de GT da FIA”. O “Sr. Macau”, como tem sido carinhosamente chamado pela imprensa e pelos fãs, irá tentar defender o ceptro perdido no ano passado nesta corrida para o brasileiro Augusto Farfus. Este ano, Mortara parte em ligeira desvantagem face à concorrência, pois não realizou qualquer prova de GT3 esta temporada, tendo sido colocado pela Mercedes-AMG a tempo inteiro ao

serviço da equipa Venturi Formula E Team no Campeonato FIA de Fórmula E para carros eléctricos. “Vou tentar vencer esta corrida outra vez, depois de ter triunfado em 2017 e estado no pódio o ano passado. Tive muito sucesso no passado em Macau e espero este ano conseguir um bom resultado”, disse o piloto de 32 anos, em comunicado. “Sinto-me muito motivado e determinado em regressar a Macau. Estou com fome de sucesso como nunca antes.” Na Mercedes-AMG Team Craft-Bamboo Racing, Mortara vai encontrar o belga Alessio Picariello, um estreante no Circuito da Guia que este ano competiu com a formação de Hong Kong no Blancpain GT World Challenge Asia e no Campeonato da China de GT. De fora da corrida, desta

vez ficou Darryl O’Young, que no fim-de-semana de 16 e 17 de Novembro vai trocar o “cockpit” de um dos Mercedes-AMG GT3 pelo lugar director desportivo da

equipa fundada pelo piloto-empresário Frank Yu.

MAIS CARROS

A representação da Mercedes-AMG na Taça do Mundo

Sérgio Fonseca

info@hojemacau.com.mo

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ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 46/P/19

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 47/P/19

Faz-se público que, por deliberação do Conselho Administrativo, de 27 de Setembro de 2019, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento e Instalação de dois Analisadores Automáticos de Imunoensaio de Fluorescência aos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 16 de Outubro de 2019, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP41,00 (quarenta e uma patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela página electrónica dos S.S. ( www.ssm.gov.mo ). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 18 de Novembro de 2019. O acto público deste concurso terá lugar no dia 19 de Novembro de 2019, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP19.000,00 (dezanove mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente.

Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 24 de Setembro de 2019, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento de Equipamentos Laboratoriais Cedidos Como Contrapartida do Fornecimento de Reagentes ao Serviço de Patologia Clínica dos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 16 de Outubro de 2019, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP42,00 (quarenta e duas patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria destes Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,30 horas do dia 15 de Novembro de 2019. O acto público deste concurso terá lugar no dia 18 de Novembro de 2019, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP46.000,00 (quarenta e seis mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente.

Serviços de Saúde, aos 10 de Outubro de 2019 Edoardo Mortara, piloto “Vou tentar vencer esta corrida outra vez, depois de ter triunfado em 2017 e estado no pódio o ano passado. Tive muito sucesso no passado em Macau e espero este ano conseguir um bom resultado.”

da FIA terá no total seis carros. Decidida a recuperar um título perdido, a marca de Affalterbach irá colocar os seus pilotos predilectos Maro Engel e Raffaele Marciello com a equipa Mercedes-AMG Team GruppeM Racing. O alemão triunfou nesta corrida por duas vezes e é desde 2014 uma presença habitual no pódio do evento da RAEM, tendo terminado em segundo lugar no ano transacto. Já o italiano, que foi uma das surpresas nos dois últimos anos, lutou com Farfus pela primeira posição na pretérita edição da corrida dos Grande Turismo até cometer um erro na Curva Lisboa. Os outros dois Mercedes-AMG inscritos na prova estarão entregues a equipas e pilotos privados.

O Director dos Serviços Lei Chin Ion

Serviços de Saúde, aos 10 de Outubro de 2019 O Director dos Serviços Lei Chin Ion


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EXPOSIÇÃO | “QUIETUDE E CLARIDADE: OBRAS DE CHEN ZHIFO DA COLECÇÃO DO MUSEU DE NANJING” MAM | Até 17 /11

NÃO À VIOLÊNCIA 7 5 9 0 3 4 2 1 6 8

Cineteatro 40 4 8 6 5 3 7 1 0 9 2

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Robert de Niro, Zazie Beetz 21.30

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8 82 7 2 3 96 4 65 10 5 9 1 95 10 5 0 7 6 32 4 2 64 0 4 8 15 29 53 97 3 4 43 52 3 2 87 0 71 6 1 1 6 73 95 3 5 0 8 4 3 9 80 41 0 1 2 5 7 2 5 26 0 6 49 73 9 31 8 7 8 71 85 1 5 2 90 4 0 6 3 0 3 6 7 51 8 2 1 9 2 4 9 2 4 2 41 9 1 6 37 8 75 0 SOLUÇÃO DO PROBLEMA 43

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PROBLEMA 44

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4 91 83 47 65 0 52 6 79 8

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01 8 7 15 3 6 70 84 2 9

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3 4 5 2 9 8 1 0 6 7

Está instalada uma nova polémica com o projecto da Escola Portuguesa de Macau, já de si bastante atrasado. O arquitecto Rui Leão decidiu confrontar o projecto do arquitecto Carlos Marreiros, cuja crítica parece ser apoiada pelos pais dos alunos que frequentam a escola. Vai daí, Carlos Marreiros decidiu refutar as críticas de Rui Leão de uma forma bastante directa. Não querendo defender um ou outro, o que este caso nos revela é a grande incapacidade para lidar com a crítica que existe no território. Não se pode criticar trabalho alheio, sobretudo se for de importantes figuras da comunidade portuguesa e macaense? Qual é o mal de debater um projecto que tem sido feito com pouca transparência e que, aparentemente, não agrada aos encarregados de educação? Aquando da acusação de plágio, relativamente ao projecto da Biblioteca Central, Carlos Marreiros defendeu bem o seu trabalho sem cair na crítica gratuita. Agora, parece que resolveu enveredar por outro caminho que, a meu ver, não lhe fica bem. Democracia no espaço público é isto, é chamar a atenção quando algo não está bem ou não se ajusta, independentemente dos interesses em causa, que desconheço quais são. Ouve-se a crítica, refuta-se, explica-se o projecto. É disto que Macau necessita, um debate público amplo e transparente sobre um assunto que toca a todos. Andreia Sofia Silva

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6 91 8 14 3 4 27 05 7 5 9 7 54 5 1 1 83DIPLOMÁTICAS 28 62 06SOBRE 90 7TIMOR-LESTE UM LIVRO HOJE O NEGOCIADOR | REVELAÇÕES (1997-1999) BÁRBARA REIS E FERNANDO D’OLIVEIRA NEVES 7 2 5 0 9 6 3 4 8 1 4 9 5 3 1 7 0 8 2 6

3 4 18 5 8 3 9 4A0ex-directora 6 4 62 7 do25 jornal Público acaba de 34 5este 98que 70é 8uma0extensa 16 2entrevista 6 5lançar 9 4livro com o responsável português pelas negocia2 relativas 18 3 à8independência 0 57 6 de7Timor-Leste. 9 4 2 ções A8obra, 1 conta 5 4com 9 6da 2 1 7 que 9 3o apoio 2 0Fundação 4 4 32 06 2 68 95 81 5 1 7 59 84 9 42 1 23 76 3 6 0 12 06 2 6 8 7 4 9 3 5 3 9 6 9 6 75 3 5 1 0 1 2 8 4 8

SALA 3

SALA 2

Clive Owen, Benedict Wong 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

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Os presos condenados na segunda-feira pela tentativa de independência da Catalunha demarcaram-se ontem dos confrontos de terça-feira à noite em vários pontos da região autónoma, sublinhando que a violência “não os representa”. Oriol Junqueras, Raul Romeva, Carme Forcadell, Dolors Bassa, Josep Ruy, Jordi Turull, Joaquim Forn, Jordi Sánchez e Jordi Cuixart publicaram na rede social Twitter a mesma mensagem: “Apoiamos as mobilizações e as marchas pacíficas. Nenhuma violência nos representa”, referem na mensagem.

S U D O K U

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O LUGAR DA CRÍTICA

EXPOSIÇÃO | EXPOSIÇÃO DE PINTURA LUSÓFONA Clube Militar | 26 de Outubro

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YUAN

VIDA DE CÃO

EXPOSIÇÃO | “LÍNGUA FRANCA – 2ª EXPOSIÇÃO ANUAL DE ARTES ENTRE A CHINA E OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA” Vivendas Verdes e Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino Até 8 de Dezembro

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0.26

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7 6 81 8 2 45 4 9 30 3

Oriente, contém documentos secretos agora 7 32 1 3An1 desclassificados de 0 50 5 69 e46inclui 84 um 78 prefácio tónio 2 Guterres e posfácio de Jorge Sampaio. 0 9 63 histórico 8 2 importante 47 04 documento 16 1 85 Um a não perder. 7 Sofia 5 0Silva6 41 94 29 2 3 83 78Andreia

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20 4 2 1

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de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


opinião 19

quinta-feira 17.10.2019

FRANCISCO SENA SANTOS in Sapo

Sentença dura, desproporcionada, mas com alguma (não muita) esperança em fundo

A

S duras penas ditadas pelo Supremo Tribunal de Espanha para nove dos 12 condenados no processo aos líderes independentistas catalães desencadeia uma sacudidela emocional muito difícil de gerir. Há o risco de desencadear na Catalunha movimentos de desobediência civil fora de controlo, mas também há uma oportunidade que se abre: com a fase judicial terminada, os políticos deixam de ter a escusa da justiça e cabe-lhes passar à procura de compromissos políticos para o mais delicado problema de Espanha, o das diferentes nações dentro do reino. Há uma dupla questão imediata: pelo lado independentista, a gestão das reações de indignação que já estão a disparar e que eram esperadas; pelo lado espanholista, a inteligência, ponderação e moderação indispensáveis para baixar a tensão e evitar uma escalada que complique ainda

mais as possibilidades de negociação, tão necessária. A sentença foi anunciada a escassas quatro semanas de eleições gerais repetidas em toda a Espanha. O primeiro ministro em funções, o socialista Pedro Sànchez, apostou na repetição das eleições que tinha ganho folgadamente (PSOE, 28,6%, 123 deputados; PP, 16,69%, 66 deputados; Ciudadanos, 15,86%, 57 deputados; Unidas Podemos, 11,97%, 35 deputados; Vox, 10,26%, 24 deputados) em abril, com a ambição agora de fortalecer a maioria que tem. As sondagens mostram que não há alterações substanciais nas intenções de voto no PSOE, o PPsobe, enquanto Ciudadanos, Unidas Podemos e Vox recuam, queda forte no caso do Ciudadanos. A questão catalã, agora impulsionada pela sentença, vai ser tema principal, provavelmente em modo extremado, na campanha. Pedro Sánchez, que quis estas eleições, sabendo que a campanha seria atravessada pela sentença no processo catalão, planeou seguramente algum projeto de ponte entre as duas partes, a espanholista e a independentista catalã. Resta saber se será alguma estratégia com robustez bastante para gerar alguma esperança. Hoje e nos dias mais próximos, há que ter em conta alta probabilidade de incidentes como cortes de estradas ou ocupação de

agências bancárias e edifícios do Estado, a par de marchas e concentrações. O desafio para os líderes de um lado e de outro é o de conseguirem manter a via cívica e evitar que os protestos degenerem em violência. O independentismo tem os seus líderes com maior dimensão política encarcerados. Um deles, o que mostra maior arte estratégica, Oriol Junqueras, é defensor de posições firmes mas que não fechem a possibilidade de pontes para diálogo político. Mas o movimento independentista, que tem o apoio de cerca de metade dos quatro milhões de catalães, está fragmentado e com fundas divisões internas

Há o sentimento de injustiça na construção destas penas, desproporcionadas na condenação de quem se limitou a defender a independência. Não houve golpe de estado, por parte dos independentistas, como o Supremo Tribunal agora confirmou

sobre a via a seguir. Fica mais complexo conseguir uma mesa aberta de diálogo. O cansaço e a desilusão arrefeceram nos últimos meses o empenho de muitos catalães. Esta sentença de agora vai certamente despertar para o protesto muitos catalães que, sendo autonomistas não são independentistas. Há o sentimento de injustiça na construção destas penas, desproporcionadas na condenação de quem se limitou a defender a independência. Não houve golpe de estado, por parte dos independentistas, como o Supremo Tribunal agora confirmou. Não houve violência física por parte dos líderes independentistas – houve excesso de ousadia, que pode ser vista como irresponsabilidade, ao avançarem unilateralmente, sem sustentação contra o estado espanhol. Democracias consolidadas como a britânica ou a canadiana souberam responder a aspirações independentistas promovendo referendos. A Espanha refugia-se na constituição para rejeitar intransigentemente o referendo. Depois da indignação na rua catalã nos próximos dias, com greve geral anunciada, com esperança de que o “tsunami democrático” instalado não desencadeie violência, há a esperança de que possam ser dados passos para o diálogo político.


O sucesso de uma obra não é sinal da sua qualidade. Eugénio de Andrade

A

S bases de um acordo entre a União Europeia e o Reino Unido para o ‘Brexit’ estão “prontas”, revelou ontem o presidente do Conselho Europeu, prevendo que “teoricamente” o texto pode ser aprovado esta quinta-feira na cimeira europeia. “As bases de um acordo estão prontas e, teoricamente, amanhã [quinta-feira] poderemos aceitar esse acordo com o Reino Unido”, declarou Donald Tusk numa entrevista ao canal televisivo polaco TVN24. Com as equipas negociais reunidas em Bruxelas e o tempo a escassear para alcançarem um acordo antes da reunião dos chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE), agendada para quinta e sexta-feira, o presidente do Conselho Europeu estimou

PALAVRA DO DIA

Só falta assinar BREXIT TUSK DIZ QUE “AS BASES DE UM ACORDO ESTÃO PRONTAS”

que, “em teoria”, dentro de “sete ou oito horas” será claro se um compromisso entre os 27 e o Reino Unido será possível. “Ontem [terça-feira] estava disposto a apostar nisso, mas hoje surgiram novas dúvidas do lado britânico. As negociações estão a decorrer, estão a correr bem, mas tudo é possível com os nossos parceiros britânicos”, ressalvou, dizendo-se ainda assim optimista. As declarações do político polaco ‘agitam’ uma tarde atípica

em Bruxelas, onde as tradicionais rotinas pré-cimeira europeia permanecem em ‘stand by’: a menos de 24 horas do Conselho Europeu, a carta-convite que Donald Tusk invariavelmente envia aos líderes ainda não foi divulgada e o ‘briefing’que antecede qualquer reunião dos 28 ainda não têm hora prevista. Também a reunião do negociador-chefe comunitário, Michel Barnier, com os embaixadores dos 27 na UE foi adiada das 14:30 para as 17:00 e novamente para as

19:00, por as negociações entre Bruxelas e Londres ainda estarem em curso. Ontem de manhã, Barnier transmitiu à Comissão Europeia, durante a reunião do colégio, que as discussões técnicas da noite passada entre Bruxelas e Londres foram “construtivas”, mas que ainda há “um número significativo” de questões a resolver para que um acordo para o ‘Brexit’ seja alcançado. “O negociador-chefe da União Europeia informou o colégio do es-

Donald Tusk (esquerda), presidente do Conselho Europeu “As bases de um acordo estão prontas e, teoricamente, amanhã [quinta-feira] poderemos aceitar esse acordo com o Reino Unido.”

GUINÉ-BISSAU ONU INVESTE 55 MILHÕES DE EUROS NO COMBATE À FOME

O

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plano estratégico do Programa Alimentar Mundial (PAM) para a Guiné-Bissau prevê erradicar a fome e má nutrição no país até 2030, estimando um investimento de 55 milhões de euros até 2024. O plano foi ontem assinado em Bissau pelo Governo guineense e o PAM, tendo o investimento dos próximos cinco anos sido definido de acordo com o programa do Governo guineense, aprovado na terça-feira pelo parlamento do país. “Tenho a certeza que podemos fazer a diferença nas vidas

da população da Guiné-Bissau, mudando a situação da segurança alimentar e da nutrição para melhor. O PAM vai contribuir com o Governo para que, até 2030, a Guiné-Bissau chegue mais perto de atingir o Objectivo de Desenvolvimento Sustentável 2: fomes zero e erradicação da má nutrição”, afirmou a representante do PAM em Bissau, Kiyomi Kawaguchi. Na cerimónia de assinatura do memorando de entendimento, que decorreu no Palácio do Governo, em Bissau, a chefe

da diplomacia guineense, Susy Barbosa, destacou a importância da nutrição para o desenvolvimento do país. “Muitas pessoas esquecem-se de associar a fome a má nutrição ao rendimento escolar. Uma criança subnutrida não tem a mesma capacidade de assimilação e de receber os ensinamentos que uma criança nutrida e isso tem reflexos na sociedade”, afirmou a ministra. Segundo a ministra dos Negócios Estrangeiros, uma sociedade com problemas de fome e má nutrição será uma sociedade que

no “futuro não terá capacidades para responder às necessidades do povo e da Nação e consequentemente os próprios dirigentes desse país poderão não ter capacidade por terem sofrido má nutrição no passado”. “Para nós é uma prioridade combater tanto a fome como a desnutrição na Guiné-Bissau e por isso consideramos prioritária a assinatura deste documento”, salientou.

quinta-feira 17.10.2019

tado das conversações com o Reino Unido. As discussões a nível técnico decorreram até altas horas esta noite e continuam neste momento. As discussões foram construtivas, mas ainda há um número significativo de questões para resolver”, informou o comissário europeu das Migrações, em conferência de imprensa após a conclusão da reunião semanal do executivo comunitário, em Bruxelas.

QUESTÃO IRLANDESA

Também ontem, o ministro britânico para o ‘Brexit’, Steve Barclay, confirmou que o Governo britânico pretende cumprir a lei e pedir um adiamento da saída do Reino Unido do bloco comunitário se não conseguir alcançar um acordo até sábado. Oficialmente designada por Lei de Saída da UE (n.° 2), mas baptizada com o nome do deputado trabalhista e primeiro signatário do texto, Hilary Benn, a legislação obriga Boris Johnson a pedir um adiamento por mais três meses, até 31 de Janeiro, se não for alcançado um acordo nem autorizada uma saída sem acordo até 19 de Outubro. Poucos detalhes têm sido divulgados sobre o conteúdo das negociações, que se concentram em manter uma fronteira aberta entre a Irlanda, Estado-membro da UE, e a Irlanda do Norte, região parte do Reino Unido. As discussões em curso centram-se em dois pontos de discórdia: como aplicar controlos aduaneiros sem a necessidade de uma fronteira física na ilha da Irlanda e a questão do direito de consentimento atribuído às autoridades da Irlanda do Norte sobre um alinhamento com as regras do mercado único.

Assembleia Legislativa Eleições para sufrágio indirecto com 920 associações inscritas

Tong Hio Fong, presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), afirmou ontem que um total de 920 pessoas colectivas podem participar na eleição suplementar para a escolha de um deputado por sufrágio indirecto para a Assembleia Legislativa, o qual será realizada no dia 24 de Novembro deste ano. O dirigente disse ainda que, o candidato deve declarar à CAEAL, até dia 6 de Novembro, as informações sobre o conteúdo, data e local de realização das actividades de propaganda eleitoral que ele e a sua comissão de candidatura vão organizar. O período de campanha dura entre os dias 9 e 22 de Novembro.


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