Hoje Macau • 2010.12.17 #2273

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Cantina da Escola Portuguesa não vende leite e opta por pratos pouco saudáveis. Pais protestam página 7

Susana Chou quer que chineses deixem de pensar no português como herança do colonialismo página 4

tempo pouco nublado min 6 max 13 humidade 30-60% câmbios euro 10.4 baht 0.26 yuan 1.21 pub

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Director carlos morais josé • sexta-feira 17 de dezembro de 2010 • ANO X • Nº 2273

critérios | animais recebidos como reis, residentes da ilha verde perdem casa

Pandas e enteados

No dia em que o Governo anunciou que excedeu em 10 milhões de patacas o orçamento previsto para a casa dos tão esperados pandas, soube-se que várias famílias da Ilha Verde perderam tudo o que tinham, quando um construtor começou a deitar abaixo o que encontrou pela frente num terreno que lhe foi concedido. Donas de casa desesperadas ainda tentaram travar as demolições a usar facas de cozinhas, mas enquanto estiveram detidas na esquadra, as suas barracas foram abaixo. Uma idosa foi levada a ver casas e quando regressou à Ilha Verde, não restava nada do seu doce lar. Há ainda o caso de uma família em que os filhos andam há quatro dias com o uniforme da escola por não terem mais nada para vestir. O Instituto da Habitação anunciou que só metade dos moradores desalojados terá acesso a habitação pública ou social. O pavilhão para Hoi Hoi e Sam Sam, no Parque Seac Pai Van, já vai nas 90 milhões de patacas. >página 8 e centrais

Justiça

Air Macau

Protestos

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Florinda Chan sai vitoriosa de processo de demissão os nossos contactos mudaram

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Pilotos lançam mais acusações

Democratas vão ao TUI pedir novo roteiro

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2 Vasco Rocha Vieira ficou surpreendido com “as dificuldades criadas” por Jorge Sampaio na confirmação da sua continuidade em Macau, revela uma biografia sobre o último governador do território, a lançar no dia 20. “Quando Belém muda de inquilino, quando o presidente Jorge Sampaio entra em funções, acaba por confirmar [Rocha Vieira], mas ao mesmo tempo cria-lhe dificuldades com as quais não contava”, salientou Pedro Vieira, autor de “Todos os portos a que cheguei - Vasco Rocha Vieira”. O livro, editado pela Gradiva, apresenta ao longo de 448 páginas o ponto de vista do último governador de Macau sobre períodos da história contemporânea de Portugal, sobretudo a passagem pelo território, num exercício que o autor, antigo jornalista da revista Visão, espera vir a provocar reacções. “Se o livro não dá ocasião a um ‘feedback’, de alguma forma é um livro falhado, ou então as pessoas andam muito distraídas”, avançou Pedro Vieira. As dificuldades de que Rocha pub

actual Biografia de Rocha Vieira revela surpresa com “dificuldades criadas” por Jorge Sampaio

Nada de ajuste de contas, nem ressentimentos

Vieira se queixa começam com os atrasos na aceitação dos nomes que apresenta a Jorge Sampaio para secretários-adjuntos. “De um ponto de vista político isso acabou por ter um significado. Não era muito normal o Presidente estar a recusar sucessivamente propostas apresentadas pelo governador. Surpreendeu-o”, acrescentou o autor. “Dá a impressão, entre aspas,

que, dum ponto de vista formal, dum ponto de vista institucional, obviamente que [Rocha Vieira] era o seu governador, mas dum ponto de vista político, não era o seu governador. Mas depois as coisas acabaram por correr bem. Estavam condenados a entenderem-se”, explicou. O instrumento da estratégia de confronto imputada a Jorge Sampaio seria o consultor presi-

dencial para Macau, Magalhães e Silva, de quem Rocha Vieira diz, na página 288, “penso que me criava dificuldades no sentido de me levar a apresentar a demissão”. Pedro Vieira considerou, por outro lado, que o governador estava preparado para ultrapassar as dificuldades que se lhe deparavam. “O general Rocha Vieira mostrou capacidade para se mover num terreno minado. Ele tinha o curso de minas e armadilhas e, em Angola, a função dele era ir desactivar as bombas lançadas pelo exército português que não rebentavam e que depois eram aproveitadas pela guerrilha”, adiantou. Rocha Vieira exerceu o cargo de governador de Macau entre Abril de 1991 e Dezembro de 1999, quando se processou a transferência do território para a China. Foi o presidente Mário Soares que o desafiou

a ir para o território, dizendo-lhe: “Veja se põe aquilo na ordem.” E “pôr ordem em Macau” era ultrapassar os efeitos do chamado “caso do fax”, que envolveu o anterior governador Carlos Melancia. Pedro Vieira reconhece poder existir quem interprete o livro como um “ajuste de contas”, mas garante que não é. “É um livro de alguém que viveu e serviu o país em diversas fases da sua vida, mas não é um livro para ajustar contas. Não é um livro de uma pessoa ressentida. Uma visão ou uma leitura do livro nesse sentido, seria muito, muito redutora”, defendeu. Rocha Vieira “tem a obrigação à comunidade que serviu e a que pertence, de dar este testemunho, de abrir a sua memória sobre acontecimentos de que foi protagonista ou teve participação fundamental ou decisiva”, concluiu.


Aqui jaz o fim de uma década e o início de outra, assim de uma penada, sem uma aflição, sem um fim do mundo, sem pouco que não seja do mesmo. Umas crises fátuas, sem realidade e meramente surreais, na esfera paralela da finança, ao que dizem, desgraçaram a economia, destruíram os empregos, estilhaçaram a confiança nas instituições. Mas tudo isto só é entendido como malefício por quem não consegue ver que de dentro do poço. Tomemos outras perspectivas que não a do sapo. Carlos Morais José P.23

O jornalista Carlos Pinto Coelho morreu, na quarta-feira, aos 66 anos, em Lisboa, na sequência de uma intervenção cirúrgica à aorta no Hospital Santa Marta para onde foi transferido depois de ter sido internado de urgência no Hospital de São José, segundo a agência Lusa. Gostava que lhe chamassem “o senhor Acontece”, considerava ser essa “uma forma gentilíssima” de lembrar os nove anos, em que diariamente, acabava o magazine cultural que teve na RTP2, de 1994 a 2003, com a célebre frase: “E assim, Acontece”. O programa foi cancelado pela direcção de José Rodrigues dos Santos. Carlos Pinto Coelho ficou conhecido pela intervenção na área do jornalismo cultural, mas teve uma carreira abrangente. Começou a sua carreira jornalística no “Diário de Notícias”, como estagiário, em 1968, depois de ter abandonado o curso de Direito no último ano e de ter chumbado na oral de Direito das sucessões. Além de repórter deste jornal, Carlos Pinto Coelho foi um dos funpub

Morreu o jornalista Carlos Pinto Coelho, vítima de ataque cardíaco

Adeus ao senhor “Acontece”

dadores do diário “Jornal Novo”, foi redactor da Agência de Notícias portuguesa ANI, director executivo da revista “Mais”. Na rádio foi locutor das estações TSF, Rádio Comercial, Antena1 e Teledifusão de Macau. Na televisão foi

chefe de redacção do Informação/2, da RTP2, director de Cooperação e Relações Internacionais, directoradjunto de Informação e director de programas da RTP durante quatro anos. Na opinião de Joaquim Vieira,

que com ele trabalhou, o que mais o distinguiu foi a projecção que deu à cultura. “Era a menina dos olhos dele. E sempre acreditou que viesse alguém que o chamasse a fazer de novo o “Acontece”. É curioso, há hoje na RTP2 uma tentativa de fazer um “Acontece”, o “Câmara Clara”, sem ser um “Acontece”. É o reconhecimento de que o programa fazia sentido e havia necessidade dele. É uma homenagem indirecta a ele”, acrescenta o jornalista Joaquim Vieira. Pelo programa “Acontece” – que chegou a ser o mais antigo jornal cultural da Europa e acabou depois de uma polémica com o ministro Morais Sarmento que afirmou que seria mais compensador oferecer uma volta ao Mundo a cada espectador - recebeu o Prémio Bordalo e o Prémio do Clube de Jornalismo. Foi condecorado com o Grau da comenda da Ordem do Infante D.

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3 Henrique por Jorge Sampaio, em 2000, e era oficial da Ordem das Artes e das Letras de França (2009). Carlos Pinto Coelho nasceu em Lisboa mas viveu em Lourenço Marques (agora Maputo, Moçambique) até aos 19 anos, altura em que regressou a Portugal. Daí vinha certamente o seu grande interesse pela África lusófona (teve um programa que se chamava “Em Português nos Entendemos”). Outra das suas paixões era a fotografia. Começou a expor em 1992 e ao longo da vida lançou vários livros de fotografia “A Meu Ver” (editora Pegasus, 1992), foi co-autor “Do Tamanho do Mundo” (Ataegina/1998), publicou “De tanto Olhar, fotografias e textos seus e com um prefácio de Lídia Jorge na editora Campo das Letras. E “Assim Acontece - 30 Entrevistas Sobre Tudo... E o Resto”, livro publicado em 2007. Era professor de jornalismo na Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Tomar desde 2003 e estava a preparar uma série de entrevistas a personalidades para o programa “Conversa Maior”, a emitir na RTP Memória.


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política

kahon chan

Susansa Chou critica Governo, desmistifica português e adere ao Facebook

Sem papas na língua portuguesa Kahon Chan

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Susana Chou tem estado muito activa nas últimas semanas, mas não desiludiu os estudantes da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST) com as suas opiniões sobre a governação e o ensino do português: os funcionários do Governo deviam deixar de participar de tantos eventos e usar melhor o seu tempo, enquanto a língua portuguesa deve ser vista não como uma coisa política ou colonial, mas simplesmente como uma ferramenta para mais bem compreender as leis. A antiga presidente da Assembleia Legislativa (AL) também já tem uma página no Facebook. Chou começou a bater no Executivo com o artigo publicado na quarta-feira no seu blog. A ex-parlamentar encontrou-se recentemente com Cheong U num banquete privado em que o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura lhe terá pedido conselhos. Mas observou que, desde que Cheong as-

sumiu a pasta, pode ser visto quase todos os dias a cortar fitas e em eventos sociais, mesmo com a complexa e esmagadora carga de trabalho da secretaria que lidera. “Sempre me questiono se Cheong é um super-homem

“Os profissionais bilingues não são um revivalismo dos valores coloniais. Precisamos aprender a língua para perceber como as leis foram feitas e evoluíram. As línguas não são políticas na sua natureza. Eu falo português e não me sinto como uma representante colonial”

que não precisa de comer, dormir ou fazer companhia à família. Mesmo quando me recordo do meus tempos mais enérgicos, penso que seria muito difícil para mim lidar com metade do trabalho e compromissos de Cheong.” A antiga presidente da AL reconheceu que era difícil dizer não num círculo restrito de elites, mas defendeu que o tempo era muito precioso para ser desperdiçado. “Há um fenómeno estranho em Macau: toda a gente, incluindo o Chefe do Executivo, secretários, directores de serviços, directores de institutos, assessores e até mesmo chefes de departamento estão todos presentes em muitos eventos, como corta-fitas. Não percebo porque é que todos têm de ir. Francamente, estou muito irritada com isso. Muitos desses funcionários executivos deviam era estar a trabalhar nos seus gabinetes ou a tentar perceber as pessoas na comunidade. Porque é que perdem tempo nesses eventos de sociabilização?” Chou apelou aos fun-

cionários para que fizessem pausas saudáveis longe de compromissos e do trabalho nos gabinetes, o que é importante para reorganizar a essência da sua lógica, elaborar o pensamento na tomada de decisão e aprender a lidar com um mundo em mudança, o que poderia ajudar e evitar conflitos como o da clínica de metadona.

circunstâncias como do uso razoável dos recursos, [os funcionários] devem absolutamente não concordar com isso sem pensar.” Mostrando que velhos são os trapos, Susana Chou não se contentou com o seu blog e abriu também uma conta no Facebook nas últimas semanas, tendo apenas aceite adicionar alguns

que para construir um sistema local tendo por base o português, a língua era uma ferramenta essencial. “Os profissionais bilingues não são um revivalismo dos valores coloniais. Precisamos aprender a língua para perceber como as leis foram feitas e evoluíram. As línguas não são políticas na sua natureza. Eu falo português

“Há um fenómeno estranho em Macau: toda a gente, incluindo o Chefe do Executivo, secretários, directores de serviços, directores de institutos, assessores e até mesmo chefes de departamento estão todos presentes em muitos eventos, como corta-fitas. Não percebo porque é que todos têm de ir. Francamente, estou muito irritada com isso” Também foram abordadas preocupações acerca da proposta de criação de uma universidade de Direito, uma ideia defendida por Florinda Chan no debate das Linhas de Acção Governativa (LAG). “O responsável encarregado deve ser cauteloso com essa ideia. Sem planos pormenorizados e análise exaustiva tanto das

amigos esta semana. Uma das primeiras mensagens do seu muro foi relacionada com o seu apelo ao ensino da língua portuguesa e sobre a herança colonial. “Levanto as minhas duas mãos pela descolonização. Esta é a nossa própria RAE na China e como podemos acomodar algo de colonial?”, disse, sublinhando no entanto

e não me sinto como uma representante colonial”. Chou exortou os jovens no auditório a estudarem mais o português, uma vez que a China está a construir laços empresariais com Angola e o Brasil no comércio de minérios e a juventude de Macau poderia agarrar uma oportunidade única para facilitar negócios lucrativos.


Serviços de Saúde concluem lei para controlar medicamentos chineses Depois dos Serviços de Saúde (SS) terem detectado na quarta-feira que um quinto de 250 amostras de medicamentos chineses estava fora dos padrões aceitáveis, o organismo anunciou ontem que já concluiu o regulamento administrativo sobre o registo dos remédios tradicionais. O diploma entrará em breve em processo legislativo e passará a regular a qualidade, a segurança e a eficácia. Enquanto as novas normas não estão em vigor, os SS prometem continuam a fazer testes aos produtos e apertar na fiscalização, frisando que a importação dos medicamentos tradicionais chineses será autorizada apenas quando preencham os requisitos das disposições relativas à rotulagem de embalagem.

Democratas vão ao TUI reclamar de rota de protesto

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A Associação Novo Macau Democrático interpôs um recurso no Tribunal de Última Instância (TUI), na quarta-feira, contra a ordem da PSP sobre o trajecto da manifestação agendada para 20 de Dezembro com vista a resolver os conflitos entre os organizadores do protesto e a polícia. Mas ao contrário dos sindicalistas, que frequentemente insistem em marchar na avenida de Almeida Ribeiro, os democratas propõem que se evite as ruas mais movimentadas para minimizar os obstáculos ao tráfego, já de si caótico com as actuais obras no sistema de drenagem e esgotos. Em termos visuais, a maior novidade no protesto deste ano será a adopção de ursos panda como mascotes, com a distribuição de centenas de máscaras de panda aos manifestantes. A associação, que tem organizado o protesto do Dia da Transferência todos os anos, irá manter o tema “luta contra a corrupção, defesa da democracia, garantia de subsistência” na marcha deste ano pelas ruas de Macau. Mas com uma

De cara à panda

diferença: este ano teve tempo para reunir-se com a PSP com bastante antecedência na segunda-feira, foi informada da rota alternativa com a qual não concordou e apresentou no TUI um recurso contra a decisão da PSP, na quarta-feira. Os organizadores da manifestação não tiveram a hipótese de fazer o mesmo em outras ocasiões anteriores porque a PSP sempre informou a organização dos protestos sobre as rotas alternativas menos de cinco dias antes do protesto, o período mínimo requerido pelo tribunal para a apresentação de um recurso. Sem o tribunal a dizer a ambas as partes o que fazer, confrontos intensos tiveram palco nas ruas de acesso à Almeida Ribeiro, sendo que os confrontos assistidos no último Dia do Trabalhador foram os mais violentos desde a transferência.

kahon chan

Kahon Chan

Desta vez, os democratas não insistiram em caminhar pela Almeida Ribeiro, preferindo evitar o trânsito da Avenida do Coronel Mesquita, que se apresenta caótico devido aos trabalhos na rede de esgotos, e optando por passar pela secção aberta na Avenida de Horta e Costa antes de virar para a Avenida de Sidónio Pais e

seguir a partir daí a rota da PSP. Ironicamente, a PSP considera que o percurso proposto pela associação é potencialmente mais problemático para as condições de tráfego. “Ainda bem que convocámos uma reunião com tanto tempo de avanço. Esperamos que isto possa funcionar como um exemplo positivo para resolver o

Florinda Chan volta a vencer ex-vereador em caso de demissão

A vitória final da senhora secretária Joana Freitas

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Dois anos e duas revogações depois, António Manuel dos Santos, ex-vereador do Leal Senado e ex-técnico superior assessor do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), voltou a escrever para os tribunais e conheceu ontem o fim da história da sua demissão. Num braço-de-ferro com Florinda Chan, a secretária para a Administração e Justiça levou a melhor e viu o Tribunal de Última Instância (TUI) decidir a seu favor. Mantém-se, portanto, a demissão e já não há volta a dar. Esse foi o terceiro recurso jurisdicional no processo que põe Florinda Chan contra António Manuel dos Santos. Desta vez, foi interposto ao TUI o pedido de revogação da anterior decisão em prosseguir com a demissão apresentada por Florinda Chan. Em 2008, depois de ver

anulada a decisão de demissão no Tribunal de Segunda Instância (TSI), a secretária para a Administração e Justiça recorreu ao TUI, que revogou o acórdão anterior e determinou a baixa do processo para o nível anterior. Passo atrás, o TSI anulou o seu despacho anterior – ou seja, deu como sem efeito a anulação da demissão, ou, em miúdos, o ex-técnico continuava despedido. Não conformado, António Manuel dos Santos apresentou um novo recurso para anular a decisão anterior. Segundo o acórdão lançado ontem pelo TUI, o ex-vereador alega que “a decisão recorrida enferma de erro de julgamento na parte em que considera que o despacho punitivo identifica de forma suficiente quais as infracções por que o recorrente foi punido”, “as afirmações constantes desse despacho são contraditadas pelo comportamento adoptado pela entidade recorrida

e pelo IACM” e ainda que “as altas classificações [muito bom] atribuídas ao arguido contradizem o conteúdo das afirmações constantes do despacho punitivo e do relatório”. O ex-técnico referia ainda ser necessário provar em que é que a “indignidade e ini-

doneidade moral”, de que é acusado nos actos praticados enquanto vereador, inviabilizam a manutenção da sua função de técnico superior assessor do IACM. O ex-vereador acusava o recurso de Florinda Chan de violar artigos do Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública, por “não considerar atendíveis as circunstâncias atenuantes” e também por não considerar que as responsabilidades do trabalhador perante o superior hierárquico, neste caso seria o IACM, só são activadas a partir do início das suas funções. António Santos fez uso dos direitos previstos nesta legislação para justificar o facto de as datas dos crimes de que foi acusado serem anteriores à sua função no IACM. Depois de rever todas as reviravoltas do caso, o colectivo de juízes do TUI acordou em “julgar improcedente o recurso jurisdicio-

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5 litígio no Judiciário, o que pode ajudar a evitar a escalada dos conflitos nas ruas”, afirmou o deputado democrata Au Kam San, acrescentando que seria aceite e respeitada qualquer que fosse a decisão do TUI relativamente ao recurso apresentado. A associação, que introduziu diversas caras novas este ano, pretende acrescentar também novas ideias ao protesto deste ano, algumas delas visualmente apelativas: um par de pandas baptizados com os nomes de Po Po e Suen Suen, derivados de “universal” e “sufrágio”, vão ser as mascotes da iniciativa, caricaturando assim a actual “febre dos pandas”, enquanto um “diálogo com os secretários” será também encenado na praça do Lago San Van – tanto os pandas como os secretários serão representados por pessoas fantasiadas. Além disso, terá lugar a distribuição de centenas de máscaras de panda de papel entre os participantes. A associação não arrisca uma previsão de quantas pessoas estarão presentes, mas cerca de mil cidadãos participaram no protesto do ano passado.

nal” interposto pelo antigo vereador. Percurso novelesco

Em 2006, António Manuel dos Santos viu-se no banco dos réus pela prática de cinco crimes de abuso de poder. Na sua função de vereador do Leal Senado, e em conjunto com dois colaboradores, António Santos foi acusado de cometer irregularidades em adjudicações de bens e serviços a uma determinada firma, da qual, segundo fontes, era sócio o cunhado do exvereador. Dadas a conhecer, em 2002, pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC) à extinta Câmara Municipal de Macau e ao IACM, as acusações fundamentavamse em aquisições de material que “não tinha as melhoras características e cujo preço era o mais elevado”, refere o relatório, e pela concessão de serviços na qual a “firma não tinha experiência”, tendo sido estas decisões tomadas pelo ex-vereador sem o conhecimento de Lau Si Io, antigo presidente do IACM. António Santos foi condenado a pena de prisão de dois anos e dez meses, suspensa por três anos e meio

sob indemnização de 100 mil patacas. Em 2007, o engenheiro viu a demissão despachada por Florinda Chan, anulada devido a prescrição do procedimento disciplinar, conforme considerou o TSI. Florinda Chan fundamentou a demissão do então técnico assessor superior do IACM considerando o arguido “uma pessoa indigna de confiança e que não possuía honestidade fundamental para o exercício de funções públicas” e ainda que “tais condutas prejudicaram o prestígio da Administração”. Apesar dos 20 anos de serviço classificado como “muito bom”, a secretária apoiou-se nas “circunstâncias agravantes” e no Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau para impedir a anulação da demissão. Não obstante, o TSI considerou o crime prescrito em sete anos e revogou a decisão de Florinda Chan. Agora, depois da anulação da demissão e da anulação dessa anulação, o Tribunal de Última Instância enfrentou mais um recurso e pendeu a favor de Florinda Chan, pondo fim à novela.


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6 De um lado os pilotos da Air Macau. Do outro a companhia aérea que, segundo os profissionais, têm o conluio da Autoridade de Aviação Civil. As recentes declarações destas duas entidades à agência Lusa começam a deixar um rastilho curto numa batalha que aparenta não ter fim Gonçalo Lobo Pinheiro glp@hojemacau.com.mo

Depois de, na quarta-feira, a agência Lusa ter adiantado que a Air Macau e a Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) desmentem problemas de segurança levantados pelos pilotos, o Hoje Macau procurou obter reacções junto de quem pilota as aeronaves. Uma vez mais, demonstraram a sua incredulidade e desagrado pela forma como se trata o problema da aviação no território. “Como podem a Air Macau e a AACM negar uma coisa dessas? Os aviões têm voado no mínimo de segurança aceitável”, disse um dos pilotos ouvidos. Os pilotos defendem que a segurança é um bolo que depende de variados factores, acusando a AACM de estar em conluio com a companhia aérea e, retrocedendo um pouco no tempo, explicam como isso acontece. “AAACM tem um inspector que até há pouco tempo constava das listas de co-pilotos

sociedade Pilotos da Air Macau respondem à companhia e à AACM

Céu de acusações da Air Macau e iniciou a sua carreira como piloto do Airbus A320. Durante alguns anos acumulou as duas funções, vindo esporadicamente à companhia aérea para manter os mínimos de seis horas por cada seis meses e voando com comandantes experientes. Como é que um inspector da AACM podia prejudicar a empresa onde aprendeu a voar e lhe permitiu ter este tipo de vida? Isto parece-me, no mínimo, promíscuo”, acusou um antigo piloto. Para os trabalhadores da companhia aérea, as posições da Air Macau e da AACM não contrariam que os problemas não existam. “Até parece que os pilotos não gostam da companhia. Não é nada disso. Gostamos de Macau e da Air Macau, mas não desta Air Macau. Gostamos da outra que tinha qualidade e as pessoas eram competentes”, explicou outro profissional. O grupo de pilotos acusa a Air Macau de pôr aviões no ar com os mínimos dos requisitos de segurança. “Temos levado esta companhia aos ombros porque gostamos disto. Por exemplo, ao recorrer ao MEL [minimum equipment list] os aviões voam com a segurança no mínimo. Se para a Air Macau e para a AACM isto é um bom motivo para nós não é. Os aviões têm de estar a 100%”, afirmaram os pilotos. As críticas à AACM não se ficam por aqui. De acordo com alguns pilotos, a entidade promove um

exame de inglês em que quem tira abaixo de quatro numa escala de zero a seis, chumba e não pode voar. “A AACM obriga-me a falar inglês. O Flight Operating Manual (FOM) diz que a língua oficial da companhia é o inglês e a maior parte dos mecânicos não sabe falar inglês. Numa companhia onde 90% dos pilotos são estrangeiros não há possibilidade de manter diálogo entre nós e os mecânicos. Estamos perante um problema de segurança ou não?”, questionou um deles. Todas as companhias no mundo têm um manual que os pilotos consideram a “Bíblia da Companhia”. O documento, denominado Flight Operating Manual (FOM), é, neste

Frederico Nolasco da Silva cumpre resto da pena em Portugal

Um longo caminho até casa O único empresário a cumprir pena de prisão no âmbito do mega-caso Ao Man Long, Frederico Nolasco da Silva, conseguiu ver o seu pedido aceite para ser transferido para Portugal e lá acabar de cumprir os seus últimos quatro anos de pena. Segundo informações avançadas ontem, pela Rádio Macau, o antigo administrador da CRS Macau, a empresa responsável pela recolha do lixo no território, submeteu o pedido de transferência em Portugal. As autoridades portuguesas remeteram a decisão para o Chefe do Executivo da RAEM, que deu luz verde para a mudança. O processo foi ainda apreciado pelo Tribunal de Segunda Instância (TSI), que se certificou de que os trâmites da transferência estavam dentro dos parâmetros legais, e deu seguimento à decisão. Ainda assim, deverá levar dois meses para que Nolasco

da Silva seja levado do Estabelecimento Prisional, onde entrou em Janeiro de 2009, para uma prisão portuguesa. Em Junho de 2008, o empresário foi condenado a dez anos de prisão por dois crimes de branqueamento de capitais e três de corrupção activa. A defesa recorreu da decisão e o TSI ditou, em Outubro do mesmo ano, uma diminuição da punição, condenando-o a seis anos de prisão e absolvendo-o do pagamento de uma indemnização de 30 milhões de patacas. Nolasco da Silva recorreu ainda para o Tribunal de Última Instância, que rejeitou o apelo em Janeiro de 2009, mês em que se apresentou no estabelecimento prisional para dar início ao cumprimento da pena. Contas feitas, o empresário tem quatro anos de encarceramento pela frente. - V.A.

caso em particular, redigido pela Air Macau e está subjugado à directrizes da AACM e da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA). Folgas fora de casa

Uma das reivindicações de sempre dos pilotos da Air Macau prendese com o gozo de folgas fora da base, ou seja, fora do local onde a companhia está sediada. Munidos de documentação, os pilotos afirmam que, embora a AACM tenha inspeccionado a operação do ‘wetlease’ de Pequim, “sabe que a Air Macau está a desrespeitar o FOM quando põe os pilotos a passar as folgas fora da base sem ter sido pedido pelos próprios e fecha os olhos a isto”. Na aviação, ‘wet-lease’ é um contrato em que uma companhia aérea disponibiliza o avião, a tripulação completa (pilotos, comissários de bordo e hospedeiras), efectua a manutenção e suporta o seguro do avião, recebendo, em contrapartida, o pagamento pelas horas operadas por parte da companhia operadora. Outra situação que roça, segundo os pilotos, as questões de segurança prende-se com o processo de selecção para o comando dos aviões. “Uma parte desse processo passa por um teste psicotécnico seguido de uma entrevista com o director de operações de voo (DOV), o pilotochefe e com o ‘training-manager’, em que analisam os resultados sem terem qualquer competência para isso, enquanto que noutras companhias quem realiza esses testes são pessoas qualificadas,

como psicólogos ou médicos. Isto é segurança?”, continua a questionar um dos pilotos. Uma questão de “distracção”

Os pilotos voltaram a frisar a pouca experiência dos pilotos contratados pelaAir Macau como mais uma componente para a falta de segurança. De acordo com a “Safety Plus – The Air Macau Safety Magazine”, na sua 7.ª edição publicada no segundo trimestre deste ano, a páginas tantas é discutido um ‘case study’ intitulado “Altitude Bust” que mostra como um voo operado pela companhia a 11.300 metros foi mandado baixar a sua altitude, pela torre de controlo de Cantão, para os 10.100 metros. O piloto, por distracção - segundo revela a conclusão da Air Macau - ou por falta de experiência – segundo confidenciaram outros pilotos -, subiu para 12.100 metros, desconsiderando que podia estar outro avião nesse corredor aéreo. “Esse caso é notório da falta de experiência dos pilotos que a Air Macau tem contratado. O piloto em questão levou o avião ao limite aceitável da altitude onde o ar é muito rarefeito. Mais um pouco e podia ter acontecido uma tragédia”, adiantou um antigo piloto. “As declarações da Air Macau e da AACM não são mentiras mas são inverdades. Teoricamente, a segurança está minimamente assegurada mas o nosso bom senso diz que não. Temos cada vez mais co-pilotos com 50 ou 60 horas a voar com comandantes que têm, por exemplo, uma ano e meio de voo num avião. Esse avião voa com 1100 horas de experiência em zonas que há tufões e onde a meteorologia é sempre uma incógnita. Isso é segurança?”, lança um piloto ouvido pelo Hoje Macau. Auditorias na dúvida

A Air Macau frisa que “sempre seguiu rigorosamente todas as normas internacionais da aviação e da Autoridade de Aviação Civil de Macau, sendo a segurança a sua primeira prioridade”. A companhia aérea acrescentou ainda ter passado em todas as auditorias da AACM, ISO-9000 e IATA, que “são as mais credíveis do sector a nível mundial”. A empresa aponta que para promoções exige-se “um mínimo de 4000 horas de voo, mais 1000 horas do que o estipulado pela AACM e normas internacionais”. Os pilotos mostram-se surpresos com estas declarações. “AAir Macau esqueceu-se de assumir que a companhia passou nas auditorias no limite do aceitável e nunca à primeira com distinção. Nós pilotos, podemos garantir o que dizemos e, na boa fé, tudo faremos para seja reposta a verdade”, assegurou um piloto.


DSRJDI avança no próximo dia 1 de Janeiro Fusão confirmada. A Direcção dos Serviços de Reforma Jurídica e Direito Internacional (DSRJDI) vai começar a funcionar a partir do próximo dia 1 de Janeiro, segundo avançou a Rádio Macau. A nova direcção de serviços resulta da fusão do Gabinete dos Assuntos para o Direito Internacional (GADI) com o Gabinete para a Reforma Jurídica (GRJ). O fim do GADI, que tinha estatuto de equipa de projecto, estava há muito anunciado. Em Outubro, Florinda Chan, revelou que o GADI e o GRJ seriam transformados numa nova direcção de serviços. Entretanto, Florinda Chan esteve reunida, na terça-feira, com os cerca de 50 futuros funcionários. A estrutura do organismo, composta por quatro departamentos e várias divisões, será liderada pela ainda coordenadora do GRJ, Chu Lam Lam. Já Patrícia Ferreira, coordenadora adjunta do GADI, vai passar a exercer funções de assessora da secretária para a Administração e Justiça.

Os pais querem que a cantiga da instituição ofereça opções menos calóricas e mais saudáveis. A escola, por seu turno, diz que está a avaliar a situação e que a responsabilidade não deve ser apenas sua António Falcão

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Esta é já uma luta antiga que continua por resolver e uma das questões determinantes na saúde pública em Macau, que se reflecte também em particular na Escola Portuguesa de Macau (EPM): a qualidade do que se come na cantina. A discussão tem levado ao rubro alguns dos encarregados de educação e professores que, encabeçados pela Associação de Pais dos Alunos da EPM, têm tentado domar este cavalo de batalha há bastante tempo sem resultados visíveis. As miras estão apontadas principalmente ao corpo directivo da EPM que, segundo os responsáveis pela associação, tem feito muito pouco para resolver o problema e levado a mostarda ao nariz de muitos pais. Mas não é de condimentos que se fala. A solução está há vista de todos e basta seguir os conceitos internacionais estipulados no domínio público: restringir a oferta e a venda de alimentos com alto teor de gorduras, açúcares e sal, e aumentar a oferta e promover o consumo de frutas, legumes e verduras, desenvolvendo opções de alimentos e refeições saudáveis na escola. Carlos Simões, presidente da Associação de Pais, queixa-se da imobilidade da EPM, para a qual já tem apresentado as mais variadas inquietações. “Até agora foram só promessas e não houve grande evolução”. Em cima da mesa está a questão dos alimentos proibidos que deviam ser erradicados da cantina. Os refrigerantes e os snacks artificiais estão no topo da lista, mas há mais. Angela Pimentel é outra das mães preocupadas que desenrola o inventário de queixas, que se reflectem tanto na qualidade como na variedade. Comecemos pelas refeições oferecidas à hora de almoço e das quais muitos alunos desfrutam, que marcam o menu com uma nota negativa, apontando-o como um modelo deficiente. “Poucos pratos de peixe, sopas à base de farináceos, variedade de alimentos com uma quantidade exagerada de pratos

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Opções da cantina da Escola Portuguesa deixam pais de cabelos em pé

Diz-me o que comes... de carne, insuficiência na oferta de legumes e vegetais.” Estas são as reivindicações que fazem parte dos manuais básicos de nutrição e que deviam ser seguidos. Por outro lado, continua visível a sombra dos refrigerantes. “Conseguimos no final do ano passado banir a Coca-Cola, mas ficou por aí”, aponta Ângela Pimentel, sublinhando que, a seu ver, muito continua por fazer, tanto mais porque a escola “devia ser o melhor exemplo”. A cantina foi concessionada a uma empresa privada local que não tem seguido nem por sombras as recomendações dos pais. Falta de comunicação ou de pontos de vista? Perguntámos ao elo de ligação, na figura da directora da EPM, o sentido de toda esta impassibilidade. Edith Silva respondeu: “Comungo das preocupações dos pais e estamos a seguir o problema”. A responsável afirmou que a escola tem um nutricionista nos seus quadros e que estão a ser agendadas reuniões internas para discutir o assunto. Os pais, diz a directora, também são importantes neste assunto. Carlos Simões, por seu lado, diz que desde 2006 que a sua associação vem tentando nortear a escola nesse sentido mas até agora apenas foram sentidas “algumas melhorias pontuais”. Somos aquilo que comemos

A EPM aderiu desde o ano passado ao programa do Governo “Cantina Saudável”, como informou Edith Silva, baseado num estudo profundo do Executivo para a melhoria da alimentação nos estabelecimentos de ensino, mas que aposta mais na informação do que em intenções vinculativas. O projecto de “sensibilização” partiu depois de a Direcção dos Serviços de Juventude e Educação (DSJE) e dos Serviços de Saúde (SS) terem verificado “no terreno” o estado da nutrição nas escolas: apenas 30% das instituições impunham limites na venda de “alimentos proibidos”. Ficou apurado que a definição das ementas não partia de uma escolha uniforme das escolas, mas era ante decidida em conjunto com os concessionários dos bares e cantinas. Esse parece ser ainda o caso da EPM, que não conseguiu até agora implementar as novas normas e erradicar de vez os alimentos

nocivos para a saúde. No projecto “Cantina Saudável”, os produtos são catalogados com etiquetas coloridas que apontam a sua qualidade nutritiva ou o seu carácter adverso. A decisão final, contudo, parte sempre dos alunos. Pedro Martins, outro dos pais ouvidos, afirma que “muitas vezes a desculpa é de que mesmo que a escola proíba a venda destes produtos os alunos continuam a trazê-los de fora, o que não faz sentido”. Este é

um dos argumentos de Edith Silva ao afirmar exactamente o mesmo, imputando de certo modo a responsabilidade dos pais nesta matéria. Pedro Martins aponta que “há de facto pais que não se preocupam com o assunto e continuam a levar os filhos dia sim dia sim ao McDonald’s ou a outros restaurantes que não oferecem nenhuma qualidade nas ementas que servem, e em casa a cantiga é a mesma”. Ainda assim, o pai considera que “é

da escola que deve partir o primeiro passo para uma educação saudável dos seus alunos”. Carlos Simões menciona também o plano estabelecido em Portugal neste campo, com um programa restrito para os estabelecimentos de ensino onde foram impostas normas de raiz no que toca à alimentação oferecida nas escolas. “Por uma razão estamos ligados a Portugal e seguimos os seus programas, mas por outras já não estamos”, interroga-se o presidente da associação de pais. “São culturas diferentes”, explica Edith Silva quando inquirida sobre o assunto, apontando a gastronomia local para a mudança de agulhas na “música” que se toca na cantina da sua escola. Angela Pimentel contrapõe a dizer que as “indicações de uma alimentação saudável são válidas para todo o mundo”. A mãe sugere que a EPM possa oferecer no futuro, no que toca às bebidas, apenas “água, sumos naturais, batidos, iogurtes e leite natural”. O leite, aliás, foi abolido da cantina em 2009, aquando do surto de melanina que teve origem na China continental. Desde então, nunca mais foi reposto. De acordo com um relatório de uma universidade de Hong Kong, um em cada quatro rapazes ou uma em cada sete raparigas em Macau sofrem de excesso de peso e muitos alunos do ensino primário apresentam já altos níveis de colesterol. São resultados que preocupam e que revelam o estado de um mundo global, em que se verifica que as principais causas de morte são devidas a hábitos alimentares pouco saudáveis, reflectido nos problemas cardiovasculares e doenças cancerígenas e crónicas. Na opinião de muitos pais este é um problema que parte muito de uma boa educação a que as escolas não se podem alhear.

Passageiros caem ao mar no cais de embarque Dois passageiros caíram ao mar no terminal do Porto Exterior, esta quarta-feira, quando, acidentalmente, o jetfoil ligou os motores e afastou-se da ponte de acesso ao barco. Os acidentados, uma mulher e um homem, foram transportados para o hospital sem ferimentos graves, enquanto um dos marinheiros, que salvou ambos sofreu pequenos arranhões. A MASTV informou que o barco, operado pela empresa TurboJet, proveniente do aeroporto de Hong Kong, estava aportado e os passageiros foram saindo quando o motor foi acidentalmente ligado, o que puxou o jetfoil para o mar. Os passageiros em questão caíram, assim, na água com os seus pertences. Entretanto, a Capitania dos Portos exigiu à TurboJet a elaboração de um relatório, enquanto orientações serão fornecidas às tripulações para evitar que acidentes deste tipo se repitam.


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sociedade

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“Prémios Juvenis 2010” com sinal de largada O Governo anunciou ontem que vão abrir as inscrições para os “Prémios Juvenis”, que todos os anos distingue associações e individualidades que se tenham destacado na área da juventude. Os que queiram candidatar-se, podem fazê-lo entre Janeiro e Fevereiro de 2011, apresentando uma carta de recomendação assinada por três ou mais membros do Conselho de Juventude. A Direcção para os Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) organiza, no próximo dia 29, uma sessão de esclarecimento aos possíveis candidatos sobre o regulamento dos prémios.

Pessoas ficam sem abrigo em nome da habitação social

Quem dera ser panda Kahon Chan

kahon.chan@hojemacau.com.mo

Enquanto os pandas chegam à sua nova e confortável morada, algumas pessoas estão a ser despejadas dos seus abrigos, com um fim-de-semana gelado a aproximar-se. Os tractores intensificaram nos últimos dias a demolição de barracas na Ilha Verde com a assistência de agentes da PSP. O Governo fecha os olhos. Uma após a outra, as barracas vão sendo arrancadas e deitadas abaixo, algumas com os pertences das pessoas ainda no interior, enquanto os moradores se encontram fora a trabalhar ou são expulsos. Com as temperaturas a cair desde quarta-feira, algumas destas pub

pessoas têm de passar a noite em abrigos temporários, nem sempre convenientemente agasalhadas. O lote na Ilha Verde designado para a construção de

um empreendimento habitacional público - inserido no plano para cumprir a promessa do secretário Lau Si Io de construir 19 mil apartamentos - ainda tem dezenas de bar-

racas no caminho. O terreno foi concedido à Companhia de Investimentos Panasonic, mas o promotor recebeu uma oferta para o trocar por um lote alternativo. O Governo concordou em atribuir a cada residente das barracas um apartamento, bastando que a pessoa se tenha inscrito para tal em 1991 ou em 1993, mediante um pagamento. Numa reunião com os moradores das barracas na terça-feira, o Instituto de Habitação de Macau (IHM) declarou que os moradores não teriam direito a habitação económica ou social se o agregado familiar não estivesse incluído nos registos, estivesse a candidatar-se a casas para cada um dos filhos, possuísse casa própria, já tivesse histórico de receber no passado uma habitação pública ou subsídios à hipoteca, ou se o proprietário original tivesse morrido. O IHM confirmou num comunicado na terça-feira que 180 pedidos vindos dos 101 moradores de barracas tinham sido apresentados para conseguir habitação económica ou social, mas avançou que 71 tinham sido desqualificados das 135 candidaturas até então avaliadas, devido às causas mencionadas. O promotor sugeriu que muitos dos moradores actuais se tinham mudado para o local depois de 1993, ao terem tido conhecimento do plano para a zona. Apenas 61 famílias terão direito à

habitação económica, e três, à habitação social. Na terça-feira, havia um total de 142 barracas. O número terá caído nos últimos dois dias, com relatos a darem conta da demolição de uma ou duas dessas barracas por dia. A família Wong – mãe e dois filhos adolescentes – perderam o tecto na quarta-feira quando os dois menores se encontravam na escola e a mãe, no trabalho. De acordo com o deputado da Assembleia Legislativa (AL) Au Kam San, a mãe tinha saído de casa com a garantia da PSP de que encontraria a barraca intacta ao fim do dia de trabalho, mas ao regressar deparou-se com uma casa sem paredes. Ontem, uma idosa foi convidada a ver apartamentos quando a sua casa foi feita num monte de detritos, com todos os seus pertences pelo meio. Na segunda-feira, Chan Soi Nan estava na cozinha a cortar gengibre, numa barraca adquirida em 1992 aos antigos proprietários. Pouco depois, viu-se envolvida com a vizinha Koo Yik Hong numa discussão com a polícia em que as facas de cozinha adornaram o nervosismo da disputa, mas não impediram que ambas fossem levadas para a esquadra, deixando as suas barracas à mercê dos ‘bulldozers’. Os filhos de Chan encontraram abrigo em casa de familiares, vestidos com o uniforme da escola, que já não mudam há quatro dias, enquanto a sua mãe e a vizinha desesperavam ontem em pedidos de ajuda ao Chefe do Executivo. De acordo com Au Kam San, o Instituto de Acção Social (IAS) e o IHM já tinham sido mobilizados para resolver o problema das duas mulheres, que entretanto tiveram acesso a abrigos temporários para fazerem face ao frio. O aviso para desocupação das barracas foi distribuído na zona no início do mês, mas a abordagem para forçar os moradores a abandonarem os seus tectos em pleno Inverno gelado tem chamado a atenção da imprensa nos últimos meses. O IHM declarou ontem à noite que iria lançar um “forte apelo” ao promotor para que tratasse das acções de despejo de forma responsável, acrescentan-

do que os proprietários de barracas deveriam ser acomodados antes de estas serem demolidas. Au Kam San critica a passividade do Governo e a acção da PSP. Uma queixa já seguiu para o Ministério Público por perda de propriedade e pelo papel da PSP na acção. Nem o IHM nem a PSP se pronunciaram acerca da suposta infracção à lei que a acção terá implicado. Hipotermia a caminho

Asituação das famílias desalojadas vai ficar ainda mais crítica nos próximos dias. Ontem, os Serviços de Saúde e o Instituto de Acção Social lançaram o aviso de que até domingo a temperatura rondará os 7ºC e apelaram para o uso de roupas mais quentes para evitar casos de hipotermia. Na semana passada, quando o frio ainda não tinha começado a apertar, o Centro Hospitalar Conde de São Januário registaram-se diariamente casos de hipotermia até a um máximo de três diários Como as temperaturas em Macau variam de forma brusca, o Governo frisa que a ocorrência de mortalidade adicional e hipotermia no Inverno é mais relevante e assume maior gravidade nas zonas com as características subtropicais como território, do que nas zonas frias ou muito frias. A mortalidade adicional no Inverno refere-se a uma situação em que a mortalidade geral da população neste período é mais alta do que a mortalidade nas outras estações do ano. De acordo com estudos, nas zonas com clima mais suave mas com história de quedas súbitas de temperatura, é mais relevante a situação de morte humana no Inverno, correspondendo as vítimas com idade igual ou superior a 65 anos a mais de 90% da mortalidade adicional, sendo as causas de morte as doenças cardiovasculares (correspondente a mais de 50%) e as doenças do aparelho respiratório (um terço). Por sua vez, a mortalidade de outras doenças, nomeadamente, tumores malignos, também aumenta no Inverno. À população toda, inclusive aos que perderam as suas barracas, os Serviços de Saúde aconselham a protecção do frio... em casa.


Mais lares e centros de dia para idosos até 2013 O início da construção de quatro lares de idosos com capacidade para 700 vagas e de três centros de cuidados de dia com 220 vagas representam medidas apresentadas pelo Governo para o próximo ano e visam melhorar os cuidados aos idosos. Os novos equipamentos, com previsão de conclusão em 2013, vão ser construídos nos complexos de habitações públicas. “Os lares de idosos serão construídos nas novas habitações públicas. A Taipa, por exemplo, vai ter um lar de idosos de grandes dimensões”, anunciou o presidente substituto do Instituto de Acção Social (IAS), Iong Kong Io.

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Obras Públicas revelam mais pormenores sobre Lei de Terras

Aperta o cerco aos terrenos Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

Foram apresentados ontem os detalhes sobre os aspectos a serem revistos na Lei de Terras. A proposta, criada para servir de base na segunda auscultação pública, tem como principais objectivos reforçar as sanções contra a ocupação ilegal dos terrenos, elevar a participação da população, limitar a alteração da finalidade do terreno, melhorar o regime de concessão dos terrenos, e explicitar os princípios que o Governo deve cumprir na gestão de solos. Na nova lei serão permitidas apenas três das cinco anteriores formas de concessão que passam pelo uso privativo do domínio público, aquando da utilização do terreno para instalações fixas e de utilidade pública, como por exemplo, postos de combustíveis, de telecomunicações, água ou fornecimento de electricidade; concessão por arrendamento, que é a principal e não pode exceder mais de dez anos em renovações, estas automáticas, após 25 anos de fixação; e a ocupação a título precário, que visa a utilização do espaço para instalações de carácter precário e pelo máximo de um ano. A concessão por aforamento, o que pode englobar a obtenção do terreno devido a herança familiar, terá agora que ser feita por “via judicial”, explicou a chefe do departamento da DSSOPT, Teresa

Lopes. Também na área das concessões, mantém-se inalterado o limite total de 100 mil metros quadrados de terrenos que podem ser concedidos, ficam proibidas as alterações à finalidade inicialmente apresentada para as terras cujo processo esteja ainda em desenvolvimento de forma a “evitar especulações”, e terão que obedecer ao plano urbanístico as alterações nas concessões definitivas. O director das Obras Públicas, Jaime Carion, reforçou a ideia de que “todas as concessões seriam precedidas de concurso público” de forma a serem melhoradas

O texto final do “Plano Conceptual para o Desenvolvimento Urbano de Macau”, que servirá durante os próximos 30 anos, está pronto. O documento, redigido pelo Centro de Estudos Estratégicos para o Desenvolvimento Sustentável (CEEDS), reuniu as últimas tendências de desenvolvimento de Macau, bem como ao nível regional e internacional, e foi elaborado nas línguas chinesa, portuguesa e inglesa. Na feitura do Plano Conceptu-

a transparência do processo e o conhecimento do preço do terreno no mercado. O responsável esclareceu que mesmo as concessões dispensadas do concurso - o que engloba a ocupação dos locais por actividades sem fins lucrativos na área da educação, cultura, saúde e desporto ou instalações de utilidade pública - seriam “sempre precedidas de audiência pública”. Algumas das medidas relativas à transmissão de concessões passam por autorização prévia da Administração da RAEM, a qual tem também o papel de “apreciar e viabilizar” as concessões. Jaime

Carion referiu ainda que assim que forem permitidas e se dê procedimento ao processo das concessões, o “conteúdo essencial do contrato deveria ser divulgado ao público”. Para a obtenção de terrenos, os interessados terão que preencher mais requisitos. A juntar aos elementos anteriores devem ser entregues “estudos de viabilidade económico-financeira”, que incluam a taxa de rentabilidade interna e o prazo de recuperação do investimento, um plano de financiamento e uma avaliação da posição competitiva; e outro estudo acerca da “avaliação do impacto ambiental.

CEEDS tem preparado o “Plano Conceptual”

Estratégia sustentável al, o CEEDS teve em consideração o facto de que, antes de promulgação das “Linhas Gerais da Reforma e Plano de Desenvolvimento para a Região do Delta do Rio das Pérolas (2008-2020)”, as principais cidades da Região do Delta do Rio das Pérolas - Guangzhou, Hong Kong e

Shenzhen -, tenham adoptado, com sucesso, os respectivos programas estratégicos de desenvolvimento urbano de longo prazo. O plano visa delinear as acções que estejam em consonância com a visão e os objectivos comuns do desenvolvimento do território e que

Provando o interesse da DSSOPT em elevar a transparência no que concerne à Lei de Terras do território, os mecanismos de fiscalização, que serão periódicos, no cumprimento dos contractos das concessões foram expostos mais uma vez à plateia. Como referido na edição de ontem do Hoje Macau, as medidas passam, então, por definir prazos no aproveitamento dos terrenos – 15 dias para o início da obra, 90 dias para o projecto de arquitectura e 60 para a emissão de licença -, e sanções mais severas na ocupação ilegal, que passam das anteriores multas de 500 para 5 mil patacas e das 50

sociedade mil para as 500 mil, para além da acusação do crime de desobediência e impedimento de ser concedido ao arguido concessão de terrenos por um período de cinco anos. Agentes imobiliários e membros da Associação Ecológica de Macau presentes demonstraram o apoio pelas recentes implementações, mas revelaram preocupações relativamente ao aumento dos preços das sanções e à modificação nos valores do prémio aquando da troca de terrenos. O período da segunda ronda começou na passada quarta-feira e termina a 31 de Janeiro do próximo ano. As opiniões estendem-se à população, pelo que a proposta se encontra legível no portal da DSSOPT e, a título especial, aos profissionais do sector. Podem ser enviadas por e-mail, correio ou fax. A Lei de Terras é aplicada há 30 anos e tem vindo durante todo esse período a sofrer alterações. Em 2008 foi criado um grupo de trabalho para a sua revisão e alteração, e em 2009 o Governo chegou mesmo a contratar especialistas jurídicos para estudar a questão teórica e operacional da legislação vigente. A DSSOPT justifica agora mais esta revisão devido a considerar que a lei vigente se encontra “desarticulada graças às mudanças socioeconómicas” que se fazem sentir no território e à “necessidade de adequar a lei a um futuro planeamento urbanístico”. O prazo para avançar com o processo legislativo está determinado para o terceiro trimestre de 2011, depois de optimizado o conteúdo da proposta e concluída a revisão da lei.

visam criar uma “cidade da Ásia com uma cultura moderna e um centro mundial de turismo e laser”. Para o CEEDS, o plano conceptual, baseado em três eixos – qualidade de vida, orientação para a pessoa e desenvolvimento sustentável -, traduz vários pontos da estratégia relacionados com a população, ambiente e desenvolvimento sustentável, englobando a área dos transportes, habitação, cultura, questões do foro territorial, cooperação regional e gestão urbana. – G.L.P.


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desporto

Liga Europa | O golo 300 foi de Otamendi, mas a vitória foi do FC Porto

E já lá vão 35 jogos sem perder

O FC Porto somou o 35.º jogo consecutivo sem conhecer a derrota e despediu-se da fase de grupos da Liga Europa com uma vitória sobre o CSKA de Sófia na madrugada de quarta para quinta-feira. Ganhou por 3-1, mas os números poderiam ter sido outros, numa partida em que André Villas-Boas deixou no banco jogadores como Hulk, Moutinho ou Guarín. A estrela da partida, de resto, acabou por ser o guarda-redes M’Bolhi, que evitou males maiores para a formação búlgara. O FC Porto, porém, não entrou bem no jogo. Foi uma equipa sem ligação, sem agressividade e a ofe-

recer possibilidades ao CSKA para sair em contra-ataque. Mas esta formação búlgara, que este ano vai no oitavo treinador, é demasiado modesta e incapaz de aproveitar as ofertas do adversário. Michel e Marquinhos tiveram oportunidades, mas falharam. Deitaram por terra as poucas possibilidades da equipa que, a partir dos dez minutos, foi completamente dominada. Em boa parte pela acção de Belluschi, que pegou no jogo, e também pelo renascimento do pontade-lança Walter. James Rodríguez, a jovem estrela colombiana, que não jogou, como aconteceu no

jogo da Taça de Portugal, sobre as alas, mas mais como um número dez, também teve oportunidade de mostrar bons pormenores e deu a ideia de que é um jogador em franco crescimento. O FC Porto passou a ter mais bola, com muitas trocas que o CSKA não tinha capacidade para travar. A superioridade portista foi tal que o jogo chegou ao intervalo com uma vantagem de um golo, mas os números poderiam ter sido bem mais expressivos. Valeu aos búlgaros a exibição notável do guarda-redes M’Bolhi, que realizou um punhado de grandes defesas (a primeira das quais, aos 13’, num

grande disparo de Walter). Só foi batido, aos 21’, num lance que começou num canto: a bola sobrou para Souza, que rematou contra um adversário, e Otamendi concluiu (foi o golo 300 no Dragão). Depois, aos 27’, apareceu Falcao a mostrar a sua qualidade, seguindo-se um lance em que Walter recebeu uma bola do colombiano e rematou à barra. E, aos 38’, foi Belluschi, de livre, a obrigar o guarda-redes argelino a uma excelente defesa. A segunda parte começou de forma surpreendente, com o empate da equipa búlgara. Por Delev: recebeu a bola do seu guarda-redes e arrancou um remate forte junto ao

poste. Mas o segundo golo portista surgiu com toda a naturalidade, aos 53’, por Ruben Micael: James cobrou um livre, a bola bateu num defesa e sobrou para o madeirense, que finalizou. Seguiu-se um lance em que Falcao passou por dois adversários e sofreu grande penalidade, mas o colombiano desperdiçou-a com um autêntico passe para as mãos de M’Bolhi. Na parte final, Villas-Boas deu alguns minutos a Moutinho, Hulk e Guarín. E, embora já não houvesse vontade para muito mais, James ainda aproveitou um bom passe de João Moutinho para fazer um bonito golo.

pub

Doping em Espanha | Campeã Marta Domínguez suspeita desde 2006

A desconfiança sobre a melhor A justiça espanhola autorizou a Guardia Civil a efectuar escutas telefónicas e a investigar a fundista Marta Domínguez, após ter sido colocada perante a convicção de que uma das dezenas de bolsas de sangue encontradas na “Operação Puerto” pertencia àquela que é considerada a melhor atleta do país de todos os tempos. A 23 de Maio de 2006, a Guarda Civil espanhola encontrou dezenas de sacos de sangue congelado e nomes codificados de diversos atletas, em Madrid e em Saragoça. Era o início de um caso que ficou conhecido com o nome de código de “Operação Puerto”. Os agentes envolvidos na agora denominada “Operação Galgo” - que envolve atletas,

empresários, treinadores e médico - chegaram a esta conclusão porque, entre a documentação encontrada e atribuída ao então médico da atleta, Eufemiano Fuentes, verificaram que existia um nome de código vinculado a uma bolsa de sangue, com um número de telemóvel que pertencia a Marta Domínguez, o que indiciava práticas de doping pela atleta. Fica assim confirmado o que inicialmente disseram a Guarda Civil e outros organismos que tinham conhecimento das provas obtidas pela polícia espanhola: de que na ‘Operação Puerto’ Fuentes tinha clientes em vários desportos e não apenas no ciclismo, que, no final, preenchia a lista completa de 58

suspeitos de dopagem. As suspeitas iniciais apontavam para o envolvimento de pessoas do ciclismo, atletismo, ténis, futebol e até pugilismo. Esta veio a público esta semana defender-se da acusação de posse, venda e tráfico de substâncias proibidas, mas em momento algum referiu que nunca se tinha dopado. A campeã mundial de 3000 metros obstáculos afirmou: “Em minha casa não foi encontrada nenhuma substância proibida. Nunca trafiquei produtos dopantes. Não podem prejudicar a minha carreira e colocar em causa a minha honra.” Marta Domínguez integra um grupo de oito pessoas acusadas de delito contra a saúde pública em Espanha.


cultura Em 2008 e 2009, o Centro Cultural de Macau (CCM) convidou o reconhecido coreógrafo de Hong Kong Yuri Ng para colaborar com um grupo de bailarinos de Macau como coreógrafo e director de um workshop. Sob a orientação atenta de Yuri, a equipa trabalhou em conjunto na criação das peças de teatrodança “Vestido para Dançar” e “Ter Pernas para Andar”, integradas no ciclo “Conto de Macau”, sobre “vestuário” e “viagens”. As duas peças obtiveram francos resultados, tendo recebido o aplauso do público, abrindo também um novo horizonte artístico para os bailarinos envolvidos. Este ano, a série continua a explorar o teatro-dança experimental, centrada no tema “estilo de vida”. O próximo espectáculo, “Conto de Macau: A Sala de Estar”, apresenta novamente vários bailarinos profissionais, naturais de Macau, liderando um grupo de bailarinos e artistas locais. Fomos saber um pouco mais sobre estes três jovens que alcançaram sucesso em palcos fora do território, e revelar um pouco mais sobre as suas animadas vidas “dançantes”.

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Com a palavra, três bailarinos de Macau

A história da Sala de Estar

formação mais avançada, uma melhor compreensão e experiência da arte da dança. Lok diz que comparativamente a Hong Kong, Macau proporcionou-lhe condições favoráveis. O investimento nos recursos humanos é da maior importância para todos; por exemplo as novas “indústrias culturais” devem ser conduzidas por talentos ambiciosos e criativos a fim de desenvolver as indústrias tradicionais. Daí os recursos humanos serem o núcleo da questão. Para Lok, a participação em “Conto de Macau: A Sala de Estar” proporciona-lhe uma oportunidade de pôr o corpo, de novo, em movimento. Sorrindo, compara-se à nova adaptação do nos-

inscrever-se no curso de dança moderna, encorajado pelos colegas. Diferente da dança folclórica, que coloca grande ênfase nos movimentos e nos gestos, a dança moderna realça a importância da inovação e do pensamento. No final, ingressou com sucesso na Academia para prosseguir o seu sonho. Depois de se formar, regressou a Macau para ensinar dança no Conservatório de Macau enquanto trabalhava como bailarino freelancer. Quatro anos passados, concluiu que “chegara a altura de ver o mundo lá fora” e decidiu prosseguir a formação nos Estados Unidos com uma bolsa. Embora dois anos de estudos não tivessem muito impacto na sua profissão,

e em aprender através do intercâmbio constante com diferentes pessoas. Refere, contudo, que o equilíbrio entre a realidade e as aspirações é também importante. Acima de tudo, gosta muito de ensinar dança. “Não quero desistir da dança”

A relação de Leung com a dança transformou-se no momento em que integrou o grupo de bailado da sua escola para o espectáculo de inauguração do Estádio de Macau, antes da transferência, em 1999. Após a conclusão do ensino secundário, por sugestão do seu professor, prosseguiu estudos na Academia de Artes Performativas de Hong Kong e depois pub

“A Dança escolheu-me”

Embora Lok Ian-san não tenha sido um artista notável em termos de formação escolar, nasceu com um talento inato para a dança e foi admitido na Academia de Artes Performativas de Hong Kong com uma bolsa de estudo. Assim, diz-nos: “Não escolhi a dança. A dança escolheu-me a mim!”. No início dos anos 90, participou num clube escolar de dança quando o governo de Macau lançou as “actividades escolares secundárias” (um projecto que visou cultivar o interesse em actividades extracurriculares para além da Matemática, Física e Química). Lok começou os estudos na Academia de Artes Performativas de Hong Kong, após concluir o ensino secundário. Segundo afirma, os quatro anos lá passados constituíram “o maior desafio da sua vida”. Foi aí que percebeu que “a dança é mais do que dançar”. Após a licenciatura, integrou a Hong Kong Dance Company, onde obteve uma

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tálgico filme de kung-fu, “Gallants”, “Como bailarino e artista, gostaria de fazer uso de formas diferentes e de me reinventar.” “fazer aquilo que quero”

Enquanto estudava na Escola Secundária Hou Kong, Hong sofreu uma vez uma contrariedade no recrutamento para o clube de dança da escola. Apesar disso, viria a tornar-se, mais tarde, o primeiro bailarino de Macau a estudar naAcademia de Dança de Pequim. Embora não fosse admitido no curso de dança folclórica que desejava frequentar, tentou

deram-lhe a grandiosa oportunidade de fazer amizade com pessoas de diferentes origens, expandindo assim a sua rede interpessoal e ainda a oportunidade de, mais tarde, actuar na Europa. Hong fundou um estúdio de dança em Macau. Apesar do facto de não ser fácil ganhar a vida como bailarino em Macau, muitos jovens estão interessados em aprender a actual e “cool” dança de rua. O dançarino considera que o momento actual é a sua vida ideal. Claro, não está satisfeito com as conquistas realizadas e irá empenhar-se em fazer diferentes tentativas

da sua formatura trabalhou para a Disneylândia de Hong Kong, mas regressou pouco depois à academia para continuar os estudos. Falando sobre o estádio de desenvolvimento da dança, tanto em Hong Kong como em Macau, Leung disse candidamente que gosta de Hong Kong “porque lá existe muito mais espaço para a dança e mais oportunidades de actuação. Independentemente de se tratar de grupos profissionais ou amadores, estes têm mais oportunidades de se apresentar.” O desenvolvimento da dança em Hong Kong desfruta também da existência de certas bases, “visto que há muitos locais de actuação em diferentes distritos”, referiu ainda. Quanto a Macau,

“ainda está tudo na infância e não existem aqui locais e oportunidades de actuação suficientes”. Em Hong Kong, instituições como a Companhia de Dança de Hong Kong e City Contemporary Dance Company deram um contributo significativo para cultivar o talento das próximas gerações. Esta é a primeira vez que Leung dança profissionalmente em Macau e por isso valoriza particularmente esta oportunidade de trocar opiniões com os nossos jovens. Tem grandes expectativas em trabalhar com Yuri. E afirma: “Durante o processo criativo, Yuri levanta sempre questões que constituem grandes desafios e ideias inspiradoras”.


Comparações:

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pandas

'Vénus' de Milo de excrementos de panda vale 355 mil pata

Uli Sigg, coleccionador e antigo embaixador da Suíça em Pequim, comprou por 34 mil euros uma réplica da 'Vén A estátua foi feita pelas crianças de Sichuan, região considerada santuário dos pandas no sudoeste da China. A Vénus de Milo com excrementos de panda que valeu 34 mil euros. Antes de ser comprada, a réplica de Vénus tral de Henan, na China. Segundo noticia o site brasileiro G1, a estátua atraiu muitos visitantes e, alguns deles comprada por Uli Sigg, coleccionador e especialista em arte contemporânea chinesa, antigo embaixador da Su

Lar, caro lar

Pavilhão ultrapassou orçamento previsto em 10 milhões de patacas

Filipa Queiroz

para evitar qualquer contaminação do espaço. Estamos no corredor que dá acesso às várias divisões da habitação dos pandas, uma espécie de laboratório gigante cheia de portas de aço e aparelhos electrónicos, balanças, mangueiras e afins. Só a primeira sala é um armazém reservado apenas ao bambu, regado de 45 em 45 minutos através de um aspersor. Mais à frente ficam os dois ‘quartos’ principais. Dois espaços com 200 metros quadrados cada um e uma espécie de ninho de madeira e bambu - as camas de Kai Kai e Xin Xin. Também um comedouro e uma porta de acesso à “zona de movimento” – zona onde os animais podem esticar as patas longe de olhares alheios. Na área restrita a tratadores e funcionários do Parque, há ainda espaço para um gabinete médico e uma ala especial. “Aqui ficará a fêmea quando engravidar e as crias”,

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Como uma gigante estufa erguida no meio da paisagem verde e pousada sobre rochas... artificiais. Elementos do IACM guiam-nos para as traseiras do Pavilhão dos Pandas e começam a ver-se as primeiras canas de bambu. Ao lado estão máquinas que vão servir para lavar o alimento favorito dos novos residentes de Macau que chegam no próximo sábado. Estamos na porta por onde Kai Kai e Xin Xin – ou Hoi Hoi e Sam Sam, na versão cantonesa - vão entrar para o novo lar que custou 90 milhões de patacas ao Governo da RAEM e que contou com a ajuda de técnicos e engenheiros de Macau e peritos da Base de Procriação de Pandas Gigantes de Chengdu, terra natal dos animais. O orçamento ultrapassou as previsões iniciais em 10 milhões de patacas “devido a um pequeno ajuste que teve de ser feito por causa da localização do pavilhão”, justificou o presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), Tam Vai Man, aquando da visita dos jornalistas ao parque ontem à tarde. Mas adiante. Como toda a moradia que se preze, a casa de Kai Kai e Xin Xin tem tapetes à entrada, no caso passadeiras especiais embebidas num líquido desinfectante

filipa queiroz

Fazem-se os últimos retoques no Parque Seac Pai Van mas o pavilhão de Kai Kai e Xin Xin já está completamente pronto

explica o administrador do IACM que conduz esta visita, Henry Ma. Duas jaulas com propósitos pré-natais e uma pequena sala branca, a contrastar com o cinzento do resto do complexo, com

persianas entreabertas a deixar entrar a luz natural. Uma sala, portanto, a pensar no futuro, não tivesse o casal de pandas sido escolhido a dedo por descender de progenitoras com grande capacidade reprodutiva. Serão 13 e todos locais os tratadores e veterinários que vão tratar dos novos inquilinos do Parque Seac Pai Van, que receberam formação em Sichuan e Hong Kong para o efeito. E o público?

Entramos na ‘estufa’. Com uma altura que não foi possível apurar mas que ultrapassa as largas centenas de metros, deparamo-nos com uma

espécie de parque infantil engaiolado numa enorme campânula de vidro transparente. Uma “simulação de ambiente natural”, como explica Henry Ma, que de natural não tem muito, a começar pelo placard gigante que serve de fundo com montanhas ilustradas e a acabar nas fontes artificiais e sistemas de electrificação e climatização que vão manter a temperatura dos espaços abaixo dos 25ºC. Espaços, no plural, porque o pavilhão está dividido em duas alas. Porquê? “Para não ser monótono”, mas Henry Ma garantiu que os animais vão poder conviver na mesma ala sempre que quiserem, justifica.

Os visitantes vão poder observar os dois animais de espécie em vias de extinção desde uma passadeira a cerca de dois metros do recinto. As áreas ajardinadas têm 330 metros quadrados cada e bastante vegetação, estruturas feitas com troncos de madeira e até um baloiço. Quatro árvores também e são 100% naturais. “Foram plantadas antes da estrutura estar construída”, explica Henry Ma. Estranhamos que estejam vedadas com barras de metal. “Isso é para eles não treparem, porque os pandas são muito malandros e tememos que se magoem”, justifica o administrador do IACM. O pavilhão inclui ain-


acas

nus' de Milo feita de excrementos de panda. As crianças construíram a réplica da famosa s foi exposta num museu da província cens, acharam o odor “agradável”. A réplica foi uíça em Pequim.

da cinco rochas que possuem um sistema refrigerante e estão cobertas por uma camada de gelo e vão servir para os pandas se refrescarem. E para quem já esteja com a pergunta na cabeça, sim, os pandas vão poder sair para o exterior. Os visitantes mais sortudos vão poder apanhar Kai Kai e Xin Xin ao ar livre, mas só quando a temperatura exterior o permitir, e durante cerca de duas horas por dia. Ao meio dia é que não vale a pena deslocar-se ao pavilhão. É hora de sesta. E o resto?

Os visitantes do Parque Seac Pai Van vão ter de esperar pelo

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menos um mês até verem os tão esperados novos residentes da RAEM. Apesar do frio dos últimos dias ser “propício”, nas palavras do presidente da IACM, os pandas vão ter de ficar de quarentena antes de serem expostos ao público. Fora do pavilhão continuam a ser feitos os “últimos ajustes”, como referiu Tam Vai Man. Um pintor que dá retoques num telhado ali, uma jardineira que coloca flores acolá. A complementar o lar dos pandas existem um Centro de Informações, uma loja de souvenirs, uma zona de restauração e uma praça “para actividades alusivas aos pandas”. Algumas estruturas já existentes também tiveram de ser readaptadas como os sanitários. As avestruzes, o veado e os macacos do Museu Natural e Agrário, no Centro de Educação da Natureza, também foram mantidos. Quanto ao estacionamento, resume-se por agora a um espaço provisório contíguo ao recinto. O presidente do IACM avançou ainda que vão ser construídos semáforos em frente à entrada principal de modo a facilitar a passagem dos transeuntes. Quanto aos bilhetes, Tam Vai Man diz que a entrada ainda não tem um custo previsto mas que estão “a estudar o caso” servindo-se da comparação com “os casos dos territórios vizinhos”. Note-se que os bilhetes para o Ocean Park, em Hong Kong, onde também é possível observar pandas, custam 250 dólares aos adultos e às crianças 125. Também “em estudo” estão os moldes e aplicações do Fundo de Protecção aos Pandas Gigantes, para onde as verbas colectadas irão reverter. “A chegada dos pandas é uma grande alegria e serve também para transmitir a

pub

mensagem de consciência a favor da protecção de animais em vias de extinção”, defendeu Tai Vai Man, que adiantou que a promoção ao Parque dos Pandas vai ser reforçada, com o apoio da Direcção dos Serviços de Turismo e da secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan.

Pandas em formato selo

Os Correios também fazem a sua quota parte na promoção dos novos residentes. Depois de motivos como o “Ano Lunar do Tigre”, a “Expo de Shanghai 2010” e o “10.º Aniversário da Festa da Gastronomia”, para citar alguns, o organismo fecha 2010 com o lançamento da emissão filatélica “Pandas Gigantes” no sábado, para assinalar a oferta do casal de animais pelo Governo Central à RAEM. Os selos, com o valor de 1,5 patacas e 5 patacas, têm a assinatura de Thomas Au Man Hou. Vão ser também lançados um bloco filatélico, uma pagela e dois postais que têm a característica de poderem ser transformados em bonecos de pano. Custam 20 patacas. Os produtos estarão à venda a partir de sábado nas várias estações dos Correios e no Museu das Comunicações. Os postais também poderão ser comprados no Quiosque das Ruínas de São Paulo.


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ideias l u z de i n ver n o Boi Luxo

de Suzuki Seijun

Yaju no seishun (Youth of the Beast), 1963

Não existe aqui qualquer medo em o filme mostrar a sua vulnerabilidade, a efemeridade quase jornalística do seu carácter funcionando, ironicamente, como o garante da sua imortalidade imperturbada pelas obrigações a que a necessidade comercial força os géneros menores e repetitivos Quatro anos e 11 filmes interpõemse entre Yaju no seishun e Koroshi no rakuin (Branded to Kill), o título que esteve na origem da expulsão de Suzuki da produtora para a qual fez cerca de quarenta filmes: a Nikkatsu. Koroshi no rakuin revelou-se tão incompreensível e tão pouco lucrativo que acabou por ditar o seu afastamento. ����� Algumas das características que levaram a esta decisão já aqui estão, em Yaju no seishun, sumária e alegremente expostas. Este é o primeiro exemplo dos filmes de yakuza que fez em que se revela a sua propensão para o desvio, para um esplendor visual que por vezes se sobrepõe ao deslizar claro e linear da narrativa. Felizmente, ���������������������������� havia na Nikkatsu, assim como em outros estúdios, uma inclinação para não interferir demasiado nas idiossincrasias deste e de outros realizadores da altura, uma disposição tolerante que atingiu, contudo, o seu limite com o filme acima referido. O episódio é famoso e parte pitoresca da história recente do cinema japonês. Suzuki terá sido quem maior satisfação retirou deste despedimento – via-se finalmente livre do universo frenético do cinema comercial. Yaju no seishun é também, como referido, um filme de yakuza, ruidoso, bom e essencialmente honesto. O que aqui está ausente, ao invés do que acontece nos seus últimos filmes, é uma crença profunda nas capacidades regeneradoras da humani-

dade. Este é um filme que começa com o desprendimento de quem pratica o género com segurança e um leve distanciamento, mas é um filme que termina de um modo amargo e negro. Jo Mizuno pertence aparentemente a um mundo simples, um mundo de lealdades cegas onde a sua independência e o seu passado o cobrem de um brilho único, o brilho do gangster solitário. É assim neste tipo de filmes de baixo orçamento e que vivem da repetição de tipos e situações, como o western, o filme wuxia ou de kung fu chinês ou o filme de espadachins, seja este oriental ou ocidental. Se o interesse deste filme permanece intacto é por se deixar deliberadamente abandonar às suas convenções, é por afectar uma entrega à mecânica do reconhecimento ao mesmo tempo que ousa infiltrar neste cenário de certezas, imprescindíveis ao género e à sua obrigação lucrativa, desvios belos e cheios de cor. Não são ainda as excentricidades narrativas e as bizarrias plásticas e violentas de Koroshi no rakuin ou Tokyo nagaremono (Tokyo Drifter, o seu fime mais conhecido e comentado) mas as cores operáticas, inconfundíveis, já, do inesperado Suzuki. Não existe aqui qualquer medo em o filme mostrar a sua vulnerabilidade, a efemeridade quase jornalística do seu carácter funcionando, ironicamente, como o garante da sua imortalidade - imperturbada pelas

obrigações a que a necessidade comercial força os géneros menores e repetitivos. Insen������ sível a tudo isto, Jo Mizuno prossegue o seu processo de afirmação. Recipiente recente das graças de Nomoto, um chefe de um grupo de gangsters, onde há, comicamente, um pouco de tudo (excelentes camisas, como sempre), Jo percorre o interior das habituais actividades clandestinas do grupo (extorsão, prostituição e droga). Revestido �������������������� de uma ímpar argúcia e improvável invencibilidade, o seu estatuto engrandece-se após o sucessivo cumprimento das tarefas que lhe vão sendo confiadas. Não há que temer, sabemos que Mizuno não será abatido pela incompetência daqueles a quem o brilho do protagonismo não cobre. Nem mesmo o interesse ofídeo das mulheres que o rodeiam (e que num caso acaba por ter uma importância maior na definição do negrume que caracteriza o seu final) consegue criar a suspeita desse poder. Que não se perceba, até certa altura, muito bem o que está a acontecer é um estratagema útil ao impasse a que o filme nos obriga. Os seus acontecimentos parecem não ter ligação, mas esta imobilidade narrativa tem o condão de ironicamente nos fazer desejar essa mesma deliciosa paragem. De súbito, no entanto, quando nos afundamos cada vez na doce inércia para que o filme nos lançara, o passado de Mizuno começa a desenhar-se com mais nitidez e a sua figura

engrandece-se ao mesmo tempo que se torna mais humana. A estória ganha uma clareza e um propósito cristalinos. Este é um filme que, em alguns minutos, ganha uma maturidade e uma seriedade que se não suspeita de início, a sua transformação tonal tão violenta quanto muitas das suas cenas. Quando se tornam claras as intenções mais profundas de Jo Mizuno torna-se também claro que a sua solidão ganha uma qualidade nova, mais humana e mais honrada mas muito mais profunda. De modo um pouco escondido estão aqui presentes duas matérias essenciais do cinema de Suzuki que conheço, uma grande bondade e uma queda teatral para o espectáculo, talvez esta última a mais constantemente associada a este autor. Uma outra característica também, a de um desprendimento nihilista que trai um toque chique e epocal mas que é igualmente a marca do calo de um homem (outro realizador japonês bêbedo e mulherengo) que experimentou (e dela se riu) a guerra e o seu desfile de insanidades e situações extraordinárias. Entretenham-se os espectadores com o espectáculo colorido de um género que retrata, insane e divertido, as vidas rápidas e adolescentes da gangsteria de Tóquio nos anos sessenta sem que, no entanto, se descure, na construção desse retrato, o desenho da solidão do protagonista a quem move um propósito vingativo bom e humano.


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15 A mente que domina a energia se chama força.

Capítulo 130 Lao Tzu disse: se vives nas montanhas mas o teu coração se encontra na capital é porque tomas a vida com seriedade. Se tomas a vida com seriedade, então, cuida de tomar o lucro com ligeireza. Se ainda não fores capaz de te conquistar a ti próprio, então, segue o teu coração e o teu espírito não sofrerá mal. Se não fores capaz de te conquistar a ti próprio, mas, ainda assim, te forçares a não seguir teu coração, a isso se chama estar ferido a dobrar. Aqueles que estão feridos a dobrar nunca vivem por muito tempo. Como tal, diz-se que conhecer harmonia se chama a constante e que conhecer a constante se chama iluminação. Reforçar a vida é considerado auspicioso; a mente que domina a energia se chama força. Isto é conhecido enquanto misteriosa mesmeidade, usar a radiância para regressar à luz.

Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho

O texto conhecido por Wen Tzu, ou Wen Zi, tem por subtítulo a expressão “A Compreensão dos Mistérios”. Este subtítulo honorífico teve origem na renascença taoista da Dinastia Tang, embora o texto fosse conhecido e estudado desde pelo menos quatro a três séculos antes da era comum. O Wen Tzu terá sido compilado por um discípulo de Lao Tzu, sendo muito do seu conteúdo atribuído ao próprio Lao Tzu. O historiador Su Ma Qian (145-90 a.C.) dá nota destes factos nos seus “Registos do Grande Historiador” compostos durante a predominantemente confucionista Dinastia Han. A obra parece consistir de um destilar do corpus central da sabedoria Taoista constituído pelo Tao Te Qing, pelo Chuang Tzu e pelo Huainan-zi. Para esta versão portuguesa foi utilizada a primeira e, até à data, única tradução inglesa do texto, da autoria do Professor Thomas Cleary, publicada em Taoist Classics, Volume I, Shambala, Boston 2003. Foi ainda utilizada uma versão do texto chinês editada por Shiung Duen Sheng e publicada online em www.gutenberg.org.


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Ideias

16 per s pecti va s Jorge Rodrigues Simão

Descaminho ambiental “The most rapid growth in the human population, and the greatest consequent pressure on natural resources, is occurring in the parts of the world in which biological diversity is highest. The relationship between energy (fuel costs) and the future of fisheries suggests that if costs rose significantly, the most energy-intensive industrial fisheries, particularly the deep sea-bottom trawlers, might fold. The price of crude oil has nearly doubled since they wrote, and the prediction will bear watching.”

A

State of the Planet, Donald Kennedy

nossa cultura mede a actividade científica no local de trabalho, através da taxa de “cash flow” criada por metro quadrado. Os cientistas são recompensados quando atraem estudantes ou donativos, constroem edifícios ou compram produtos químicos, que contribuem para aumentar a taxa do “cash flow”. Os biólogos, geólogos e os especialistas de história natural pretendem ocupar-se dos restantes habitantes da biosfera. Apercebem-se de que existe mais qualquer coisa do que o ser humano, e de que tal é essencial à manutenção da civilização humana. Portanto, somos confrontados com uma derradeira contradição, a de pretendermos cuidar das trinta milhões de espécies com as quais partilhamos o planeta, mas a nossa civilização insiste em afirmar que o mundo é feito para os seres humanos. O critério para o êxito científico é a rapidez com que convertemos o resto da biosfera em ecossistemas urbanos, no centro de todas as coisas, e que só valoriza a conversão da biosfera em “habitat” humano, incluindo as novas criações da biologia. O filósofo dinamarquês Søren Aabye Kierkegaard afirmou que, quanto menos apoio tem uma ideia, mais devemos acreditar nela. Ideias totalmente absurdas exigem uma fé absoluta e inabalável. As nossas convicções são defendidas com tal ardor, estão de tal modo enraizadas na nossa perspectiva, que não conseguimos reconhecê-las de forma explícita. Esse reconhecimento ficou mais uma vez demonstrado até à exaustão com o termo da Cimeira de Cancún. As cimeiras sobre alterações climáticas pela forma como são negociadas são catalogadas de histórias dramáticas, dado que o planeta sofre actualmente as piores inundações, secas e um assustador aumento do nível do mar como consequência de um aquecimento causado por 150 anos de industrialização, cujo ritmo actual de emissões de dióxido de carbono (CO2) procedentes da queima de combustíveis fósseis, prevê que em 2100, a temperatura média da Terra suba entre 1,5

PB

O critério para o êxito científico é a rapidez com que convertemos o resto da biosfera em ecossistemas urbanos, no centro de todas as coisas, e que só valoriza a conversão da biosfera em “habitat” humano, incluindo as novas criações da biologia. O filósofo dinamarquês Søren Aabye Kierkegaard afirmou que, quanto menos apoio tem uma ideia, mais devemos acreditar nela e 4 graus centígrados, em que o aumento superior a 2 graus centigrados, leva que as consequências sejam incontroláveis. Nos últimos cem anos, a temperatura aumentou numa média de 0,75 graus, e o nível dos oceanos subiu entre 10 e 20 centímetros pela fusão do manto de gelo na Groenlândia e no Árctico e a da expansão térmica da água devido ao aumento da temperatura. Os cientistas mais optimistas, calculam que o nível mar poderá subir entre 15 e 60 centímetros, até 2100. Os cientistas mais conservadores, estimam que nos próximos cinquenta anos o aumento do nível do mar pode ser de um a dois metros, relativamente ao nível de 1990, atingindo milhões de pessoas que vivem no litoral de mares e oceanos, deltas de rios, orlas de lagos, fazendo desaparecer países completos. Paraísos tropicais como as ilhas Maldivas, Tuvalu e Kiribati serão submersos, a menos de dois metros sobre o nível do mar. O ser humano quebrou o frágil equilíbrio do efeito de estufa, fenómeno natural pelo qual o vapor de água, o CO2 e outros gases retêm o calor que irradia a Terra. Com actividades como a queima de combustíveis fósseis, fundamentalmente carvão vegetal e petróleo e a devastação de florestas, passouse da emissão para a atmosfera em 1850 de cerca de 2 mil milhões de toneladas de CO2 para 35 milhões de toneladas de CO2 actuais, dos quais menos da metade são absorvidos pelos oceanos e florestas. A Cimeira de Cancún foi a décima sexta

Cimeira sobre Mudanças Climáticas. São dezasseis Cimeiras, previamente realizadas em Berlim, Genebra, Quioto, Buenos Aires, Bona, Haia, Marraquexe, Nova Deli, Milão, Buenos Aires, Trieste e as mega cimeiras da Terra de Bali, Rio de Janeiro e Joanesburgo ou mini cimeiras como de Cochabamba. Soma-se que ao longo de todas estas reuniões, foram detidos mais de cinco mil activistas ambientais por alteração da ordem pública. O resultado das dezasseis cimeiras sobre a alteração climática foi muito parca em acordos. Os que foram assinados não foram cumpridos nem parcialmente, o que revela a bonacheirice que predomina quando se trata de chegar a um compromisso total e vinculante sobre o destino da Terra e dos seus habitantes. Os protagonistas que participam destas cimeiras, em especial os representantes dos países mais poluentes, não escondem as suas responsabilidades e estão cientes do meio ambiente que lesam. O final das cimeiras é o mesmo, a falta de amor para com a natureza, o ódio e loucura da raça humana, e a vida comprometida de seres inocentes no limiar de uma grande tragédia. A solução, não está em mãos de quem faz as cimeiras. Está na acções que praticamos diariamente no local onde vivemos e que é responsabilidade de todos os habitantes do planeta contribuírem para preservar a natureza. A missão de salvar o mundo é a tarefa dos ambientalistas, cuja sua razão de ser, é a de defender a vida, sem exclusão de nenhuma espécie.

O resultado da Cimeira de Cancún põe o clima à venda O acordo adoptado nas negociações não avançou na área mas importante que é a redução forte e vinculante de emissões dos países industrializados. O acordo alcançado oferece uma plataforma para abandonar o Protocolo de Quioto, e integra as frágeis promessas da Cimeira de Copenhaga, que permitiriam um aumento da temperatura de 5 graus centígrados, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Este acordo não dá incentivos para lutar contra as alterações climáticas. Para a evitar urge um acordo científico para os países industrializados por força do Protocolo de Quioto, pelo qual os países ricos reduzam as suas emissões em pelo menos 40 por cento até 2020, sem mercados de carbono, compensações, ou vazios legais, onde predomine o princípio da justiça climática, em que os prejuízos de adaptação à crise climática devem ser arcado pelos países que historicamente a criaram, e não pelos que menos contribuíram e que são as principais vítimas das alterações climáticas. A falta de progresso nas matérias essenciais, não invalidou que fosse criado um Fundo Verde para financiamento dos países em desenvolvimento, que estava previamente negociado na Cimeira de Copenhaga, no montante de 100 mil milhões de dólares por ano a partir de 2020. Existe um desacordo logo à nascença quanto à gestão, equidade e necessidade. Os Estados Unidos querem o Fundo seja gerido pelo Banco Mundial, dado que teria um papel chave nos mecanismos de financiamento, que é inaceitável. Muitos dos países beneficiários, preferem a criação de uma nova entidade ou de uma existente da ONU. Os países ricos devem cumprir com as suas obrigações de providenciar suficientes fundos públicos aos países mais pobres, para que possam desenvolver-se de forma limpa e se adaptarem aos impactos das alterações climáticas que mais sofrem. Não existe o entendimento global de que temos um sistema cultural que ignora o ar e a água e a nossa herança biológica. Temos uma sociedade que julga que o lixo desaparece, e não que circula; confunde papel de linho e discos metálicos com alimentos, vasculhando o mundo à procura deles; e recompensa os investigadores quando aumentam a taxa de “cash flow”. Suportamos uma cultura que quer transformar a Terra inteira à imagem de um senhorio urbano furioso. A nossa cultura resiste às lições da vida e ignora as bactérias, os protistas e os fungos que considera germes e desdenha o que não conhece porque não sabe outro caminho.


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Jorge Cardoso | formador de professores

Uma prenda chamada Macau Gonçalo Lobo Pinheiro glp@hojemacau.com.mo

O sotaque é como o algodão, não

engana. As palavras saem da boca de Jorge Cardoso com aquela dicção muito própria de quem mistura o português com o inglês. Nascido em Portugal, viveu 50 anos nos Estados Unidos. Agora, com 58 anos, estabeleceu-se em Macau no dia do seu aniversário e sem bilhete de regresso, “pelo menos para os próximos dois anos”. Mas afinal o que faz em terras de Amagão? “Dedico-me ao treino de professores mas tenho sido docente ao longo dos anos. Comecei a minha carreira profissional em 1977 como professor de liceu em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos”. Foi nos EUA que teve as primeiras experiências na área da educação e cresceu na profissão. “Mais tarde acabei por me envolver em treino e na formação de professores nos Estados Unidos.” Mas vamos recuar no tempo. Lisboeta assumido – nascido no bairro da Penha de França - não renega as suas origens, apesar de se considerar mais americano que português. “Não tenho muitas

lembranças de Portugal. Lá fiquei até aos cinco anos. O meu pai tinha uma leitaria na rua Carvalho Araújo, situada naquele bairro. Não sei se tenho mesmo lembrança ou se me recordo apenas das fotografias. Depois fomos, eu, pai e mãe, para os Estados Unidos e radicámo-nos em Massachusetts na procura de uma vida melhor, como muitos portugueses”, explicou. “Esta coisa de imigração para os portugueses é como trocar de roupa”, acrescentou, sorrindo. Jorge volta sempre que pode à “sua” Penha de França. ”Sinto uma certa nostalgia e vibro com essa área.” Mas Portugal não é, para Jorge Cardoso, apenas Lisboa. O educador tem raízes na Beira Alta e tem orgulho nisso. “Os meus pais são de Mogadouro, distrito da Guarda e concelho de Celorico da Beira. É uma região linda. A casa de lá está reformada e, agora, eles, com mais de 80 anos, vivem lá. Aliás, passei dois meses com eles antes de vir para Macau.” O “educador de professores”, como se apresentou no início da entrevista, chegou num dia muito especial... o do

seu aniversário. “Vim para Macau porque me fizeram uma proposta de trabalho por dois anos na Universidade de São José. Cheguei no dia 27 de Agosto que é o meu dia de anos. Foi uma óptima prenda que me deram e estou a adorar. Macau é fascinante e gosto muito desta mistura de coisas chinesas com coisas portuguesas, o antigo e o moderno. A qualidade de vida é muito boa”, confidenciou. Antes de vir, Jorge fez uma pesquisa de factores e verificou que o orçamento ‘per capita’ de Macau é, por exemplo, mais alto do que em muitos lugares dos Estados Unidos. “Esta é uma terra que tem tudo apesar do seu tamanho reduzido. Dentro da sua escala tem muito para oferecer.” “Gosto de percorrer as ruas, caminhar pelo reservatório até à fronteira e a zona da Horta e Costa. Há sempre surpresas em cada esquina. Adoro Coloane e já percorri os seus trilhos.” A única coisa que acha estranho é a população do território não sentir orgulho em Macau. Passa a explicar: “Vejamos Nova Iorque. As pessoas compram autocolantes a dizer ‘I love New York’.

Aqui ninguém vai meter um autocolante a dizer ‘I love Macao’. Parece que se sentem inferiores a Hong Kong ou não sei. Pode ser falta minha de não conhecer a realidade a fundo mas é a noção que tenho.” Apreciador convicto da gastronomia asiática, Jorge constata que, aqui, a comida é mais saudável. “Aqui preparam vegetais no ponto certo.” O lusoamericano lembra ainda o negócio do jogo em Macau e vê-o como um pau de dois bicos, onde compreende o bom que isso traz à economia e o mau que pode trazer às pessoas. “Há benefícios que só temos por causa do jogo, mas acho que essa é a questão menos positiva que vejo em Macau. O exagero dos casinos. Há um conjunto de pobres diabos que não conseguem controlar as suas tendências para o jogo.” E a velhice? “Sou um privilegiado. Tenho casa nos EUA, Brasil, Portugal e Macau. Acho que vou andar cá e lá. Uma coisa é certo. Não vou conseguir ficar parado. Tenho de ter uma actividade profissional e intelectual. Quero ter uma razão para sair da cama de manhã.”


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entrevista

JORGE SANTOS ALVES, PROFESSOR UNIVERSITÁRIO e INVESTIGADOR DE HISTÓRIA

Este académico é daquelas pessoas ligadas a Macau em regime de permanência, independentemente das distâncias. Aqui foi docente universitário pelos anos 90, coordenou o curso de História das Relações Luso-Chinesas dos séculos XVI a IX, aqui também investigou na sequência do seu doutoramento em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa. Obra publicada, estudos e investigação nunca encerrados. Jorge Santos Alves coordenou cientificamente a feitura do manual da História de Macau e da China, repartido em três volumes referentes aos três ciclos, destinado à Escola Portuguesa de Macau e às escolas luso-chinesas e apresentado recentemente. Elogia em público e privadamente o trabalho desenvolvido para esse manual pelos professores da EPM Clara Isabel Raimundo Fernandes, Deolinda Maria Martins dos Santos, Maria del Carmen Vale Vasconcelos Peres Machado e Pedro Roberto Xavier. Arrisco dizer que, sobrinho do jesuíta pedagogo e poeta Benjamim Videira Pires, está nos genes de Jorge Alves, a intuição forte e a dedicação às coisas do Oriente asiático. As três partes que compõem o manual da História de Macau e da China, agora apresentado publicamente, talvez constitua um pouco mais do que material didáctico. Pode dizer-se que é a reunião de um conjunto de materiais actualizados bibliograficamente, sem roturas e de forma profissional e rigorosa, tratando a História de Macau e da China, o relacionamento desta região com a China e com a Ásia Oriental em geral. À medida que, em paralelo, decorre o programa da História de Portugal e de História geral do sistema de ensino português que na EPM é aplicado, vão também sendo introduzidos nestes três volumes, as informações, os temas, as questões relativas a Macau e à China. Tudo isso desde que época e até que época? Sobre Macau, desde o neolítico. Havia coisas em Macau antes do estabelecimento dos portugueses, gradualmente permanente. Macau tem uma

António Falcão | bloomland.cn

“É na multiglobalidade que Macau se

“Uma das coisas que hoje sabemos, também graças aos colegas historiadores e investigadores chineses com quem hoje já vamos trabalhando em conjunto, é que em Macau, embora apenas de forma sazonal, muitos comerciantes asiáticos, em particular chineses ultramarinos, passavam por aqui como porto de espera até poderem fazer comércio com Cantão. Gente da diáspora chinesa que competiam entre si. Os portugueses tiveram a inteligência de observar isso e tirar todas as vantagens”

existência própria, ocupação humana, actividade, população, etc., desde tempos pré-históricos e, justamente a partir do século XIV isso é muito vivido. O cosmopolitismo que agora se observa não é novidade histórica, já havia? Já havia! E por uma razão simples. Uma das coisas que hoje sabemos, também graças aos colegas historiadores e investigadores chineses com quem hoje já vamos trabalhando em conjunto, é que em Macau, embora apenas de forma sazonal, muitos comerciantes asiáticos, em particular chineses ultramarinos, passavam por aqui como porto de espera até poderem fazer comércio com Cantão. Gente da diáspora chinesa que competiam entre si. Os portugueses tiveram a inteligência de observar isso e tirar todas as vantagens. Na intervenção que o professor fez durante a apresentação do manual, fixei esta frase: “Macau já era global antes da globalização”... Eu acho que essa é uma das mensagens principais que os colegas autores destes manuais passaram na perfeição. Para que os leitores, os alunos, não olhem para Macau hoje, ou num futuro próximo, ou mesmo num passado recente, pensando que aquilo que está à frente dos olhos é tão só fruto do boom económico dos anos 80. Na verdade, Macau sobrevive ao longo destes séculos todos, em muitas ocasiões contra todas as possibilidades, justamente por ter sido global. Global nas populações, nos negócios, na diplomacia. Na multiglobalidade é que Macau vinga, se desenvolve, até atingir, como hoje, este visível cosmopolitanismo. Seja através dos negócios, seja através das gastronomia, ou das línguas, da multietnicidade, esses sinais da globalização estão presentes, em bom rigor, desde os finais do século XV, princípio do século XVI. O produto final deste trabalho que coordenou, saiu como entendia que devesse sair? Os livros são como os filhos, podem não sair exactamente


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com Helder Fernando

desenvolve” como nós queremos. Mas, respondendo directamente, claro que sim, acho que o trabalho que aí está é um trabalho muito para além do que eram as expectativas iniciais, pois a tarefa foi muito difícil, como calcula. Tratando-se também de historiar relações entre a China e Portugal, o manual aborda uma ou outra situação eventualmente considerada mais melindrosa? Os aspectos só são melindrosos quando não explicados, ou quando são mal explicados ou mal estudados. A partir do momento em que os estudamos de forma rigorosa e profissional, metade da eventual sensibilidade desaparece; e a outra metade, é uma questão de jogar bem com as fontes dos dois lados, verdadeiramente perceber que se deve sacrificar o acessório e manter o essencial. Foi elaborado com as fontes possíveis dos dois lados? Sempre com base em bibliografia que trabalha com elas. Nestes séculos de relacionamento luso-chinês ou luso-asiático em Macau, os momentos de tensão, os picos de febre, são muito poucos e passaram rapidamente. Porque o essencial foi sempre preservado. Este manual da História de Macau e da China, para os estudantes da EPM e das escolas luso-chinesas locais, é necessariamente bem vindo e aplaudido por quem vive ou se relaciona estreitamente com esta região. E, por exemplo, lá em Portugal, conseguiu influenciar os seus colegas académicos para a importância de Macau? A pergunta é óptima. Macau teve um pico de importância em Portugal até 1999. Depois desse tempo caiu num silêncio às vezes ensurdecedor. Talvez por entenderem ter sido o fim... Mas é que não. Foi o princípio! Um cidadão português que não conheça Macau, chega hoje aqui e só pode ficar orgulhoso daquilo que ficou de português e da forma como essa herança histórica, cultural, monumental, tem sido preservada pelas autoridades da RAEM. O que me

espanta é Macau praticamente só ser notícia em Portugal por causa dum tufão ou um outro acaso qualquer da natureza. Pois, mas está a referir-se à comunicação social. E nos meios universitários? A comunicação social é reflectida no meio académico, e, neste meio, houve uma redução drástica do número de pessoas que trabalha sobre Macau. Embora existam algumas instituições que continuam a desenvolver estudos e materiais sobre Macau. A Universidade Católica, onde eu ensino, não tem nenhum programa específico de História de Macau, mas existe uma componente de Macau que está presente nas disciplinas ligadas à área do Sueste e à História da China. Um exemplo importante, é o do Centro Científico e Cultural de Macau. Nem sempre foi assim, mas o Centro dirigido pelo Prof. Luís Filipe Barreto, nos últimos três, quatro anos desenvolve grande actividade relacionada com esta região e com a China, bem como as relações com Portugal e a Ásia Oriental, através de debates, colóquios, investigação,

estarão agora mais atentas por ouvirem falar na compra de dívidas externas, coisas assim... Pois... é só quando se sabe que a China pode vir a aliviar-nos financeiramente, que reparamos que a China é tão importante. Só que a China já era importante. E a Índia começa a sê-lo, tal como os chamados pequenos tigres asiáticos já são importantes há vinte ou trinta anos. O problema é que, em Portugal, não se valoriza suficientemente a Ásia, embora a Ásia nos entre pelos olhos dentro, pelas casas dentro, e, não tarda nada, pelos bolsos dentro. Da sua parte, este Oriente está sempre presente. Pelos estudos e pelo que tem publicado. Entre o mais recente exemplo, está a

mestrado, aqui na Universidade de Macau. Para minha grande alegria, dessas cinco teses, três são feitas por estudantes locais. Eles pensam, reflectem, escrevem sobre a sua própria história. Isto, do ponto de vista da sociologia da comunidade, é muitíssimo importante. Oxalá haja continuidade, isso significaria que a comunidade está a trabalhar sobre si própria e a não deixar exclusivamente nas mãos de pessoas de fora, a feitura da sua História. Em Lisboa tenho colaborado muito com o Centro Científico e Cultural, com o Prof. Luís Filipe Barreto, fizemos duas exposições ligadas de perto com Macau. Uma, chamada “Macau, o primeiro século de um porto internacional”, que comissariei e foi uma grande mostra com peças originais e apresentada em português, chinês e inglês. Em 2007-08, a grande exposição sobre Tomás Pereira, o padre jesuíta que viveu em Pequim, mas com forte ligação a Macau. Falou que a sociedade portuguesa está alheada de Macau. Quem visita essas exposições? Muito visitadas por escolas do ensino básico e secundário. O facto de o Museu do Oriente ter aberto, com programação variada, lança outra janela sobre a Ásia, pelo menos em Lisboa. Para além, naturalmente, do Museu de Macau, embora

“Os aspectos só são melindrosos quando não explicados, ou quando são mal explicados ou mal estudados. A partir do momento em que os estudamos de forma rigorosa e profissional, metade da eventual sensibilidade desaparece; e a outra metade, é uma questão de jogar bem com as fontes dos dois lados, verdadeiramente perceber que se deve sacrificar o acessório e manter o essencial” exposições, edições, ensino da língua chinesa e da História de Macau. Mas a sociedade portuguesa... Digamos com total franqueza, a sociedade portuguesa está um pouco desatenta relativamente às questões de Macau, e não apenas de Macau. Está, lamentavelmente, muito desatenta em relação à Ásia, que ainda é uma coisa mais grave. Se fosse sómente Macau, a gente poderia arranjar explicações. Provavelmente, as pessoas

“nova” Peregrinação de Fernão Mendes Pinto. Um projecto muito importante para mim. Também, como calcula, muito ligado a Macau, porque Fernão Mendes Pinto é a pessoa que, na sua época, melhor percebe o que é a realidade desta zona do mundo e das parcerias luso-chinesas. É ele que anuncia o que irá ser Macau. Depois, tenho um conjunto de trabalhos que metem Macau. Também orientações de teses de

seja relativamente pequeno se comparado com o Museu do Oriente. Como observa o futuro em Macau da chamada lusofonia? Penso que a concretização do conceito de lusofonia nem sempre é pacífico, tem avanços e recuos, a própria CPLP por vezes pode não funcionar como ela própria gostaria. Portugal tem toda a vantagem em incentivá-la. Para irmos ao caso de Macau, a China tem tanto ou mais interesse em perceber essa

19 grande e importante realidade a que chamamos lusofonia. Por motivos vários, desde logo a junção de interesses. Vejo com o maior optimismo o futuro da lusofonia em Macau. Gostaria que essas comunidades lusófonas aqui residentes continuassem a fazer esforços para cada vez melhor compreenderem e conhecerem esta terra. Torna-se tudo tão mais simples quando a gente faz esse esforço para compreender o presente, sabendo também, o melhor possível, do passado histórico desta terra incomparável, tendo um envolvimento directo com ela. Foi sempre esta a mensagem que passei aos colegas que fizeram estes manuais, como qualquer coisa que tem de ser passado aos alunos, na intenção de que eles prezem o que vivem, o que têm e sintam e conheçam Macau cada vez mais. Na sexta-feira, dia em que o leitor estiver a ler esta entrevista, que trabalho logo pela manhã, em Lisboa, tem na agenda? Uma reunião com uma doutoranda minha e uma mestranda minha. Uma italiana, sinóloga, que está a fazer uma tese em torno das gazetas locais do distrito de Xiang Chang na província de Cantão. A outra aluna, a mestranda, é espanhola, trabalha connosco em Lisboa e está fazendo uma tese, imagine, sobre a representação dos ocidentais, dos estrangeiros nos posters de propaganda no período de Mao Tsé-tung. Para além disto, tenho dois trabalhos em mãos. A publicação, com um colega francês, de um conjunto de fontes relativamente ao sultanato de Patane, séculos XVI, XVII e XVIII, que será uma compilação de fontes chinesas, malaias, japonesas e europeias. E um outro trabalho, destinado a um volume que está ser feito pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Tailândia, no âmbito das comemorações dos 500 anos da chegada dos primeiros portugueses àquele país. Ésobre uma família macaense muito ilustre, os Vicente Rosa, que no século XVIII criaram uma verdadeira dinastia de empresários que tinham relações com todo o sueste asiático.


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o Hoje [r]ecomenda

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«Studio 105», Mayra Andrade

[f]utilidades Su doku [ ] Cruzadas

HORIZONTAIS: 1-Demonstra. Espécie de mandioca do Peru. 2-Unidade monetária que foi substituída. Encurvamento da coluna vertebral para diante. 3-Gordura ou banha de porco. Acostumado. 4-É útil. Designação genérica dos Vegetais. 5-Esfiampar. Símbolo de neptúnio. 6-Expõe. Grande número indeterminado. Relação de parentesco de uma mulher para com seus filhos. 7-Papagaio da Amazónia, também chamado vanaquiá. Nevoeiro espesso. 8-Dantes, duque. Feitor de algo. 9-Brolho. Raça de gato do Paraguai. 10-Círculo luminoso, que orna a cabeça dos santos. Lugar onde se guardam bebidas alcoólicas. 11-Planta indiana, painço. Alvaral. VERTICAIS: 1-Divindade. Pessoa ruim. 2-Furacão formado por ventos contrários. Elemento de origem latina que significa campo. 3-A mulher que amamenta. Embarcação usada nos navios de pesca do bacalhau. 4-Ovário dos peixes. Saco de couro em que se metiam os parricidas. 5-Tálio. Acto ou efeito de empachar. 6-Contracção de preposição a com o artigo os. Sistema de TV. a cor. Feminino de ele. 7-Roncadura. Símbolo químico de alumínio. 8-Criar na ideia. Nome da letra g. 9-Saber da poda, conhecer bem o assunto, entender do ofício. Árvore de Moçambique. 10-Organização internacional de normalização. Deixar-se dominar por uma afeição. 11-Jogos de cartas em que se arrisca pouco dinheiro. Diferente, fem.

Soluções do problema HORIZONTAIS: 1-DENOTA. IPIM. 2-ECU. LORDOSE. 3-UNTO. SOEDOR. 4-SERVE. CAA. 5-FIAMPAR. NP. 6-DIZ. PAR. MAE. 7-IA. CALIGEM. 8-DVC. AUTOR. 9-BROLHE. EIRA. 10-AUREOLA. BAR. 11-ORIO. ALVARA. VERTICAIS: 1-DEUS. DIABAO. 2-ECNEFIA. RUR. 3-NUTRIZ. DORI. 4-OVA. CULEO. 5-TL. EMPALHO. 6-AOS. PAL. ELA. 7-ROCARIA. AL. 8-IDEAR. GUE. 9-PODA. METIBA. 10-ISO. NAMORAR. 11-MEREPE. RARA

REGRAS |

Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição solução do problema do dia anterior

«Studio 105» coloca-a à prova no ambiente em que todas as suas qualidades se revelam. É ao vivo que a conclusão do anterior parágrafo se torna óbvia ainda que este desafio parisiense não termine aí: é de intimidade musical que aqui se trata. Por outras palavras, da busca pela essência. Não é necessária mais do que uma pequena formação acústica para servir uma voz tão calorosa. Inteligentemente, a cantora cabo-verdiana, habitualmente mais fogosa, acompanha esse registo instrumental contido com uma abordagem vocal mais sossegada em que os silêncios respiram.

[ Te l e ] v i s ã o TDM 13:00 TDM News - Repetição 13:30 Jornal das 24h 14:30 RTPi DIRECTO 19:00 Ásia Global (Repetição) 19:30 Olhos de Água 20:25 1 Minuto de Astronomia 20:35 Telejornal 21:00 Jornal da Tarde da RTPi 22:00 Novela: O Clone 22:58 1 Minuto de Astronomia 23:00 TDM News 23:30 84 Charing Cross Road (A Rua do Adeus) 01:05 Telejornal (Repetição) 01:30 RTPi DIRECTO INFORMAÇÃO TDM RTPi 82 14:00 Telejornal Madeira 14:30 Encontros Imediatos 15:00 Magazine Venezuela Contacto 15:30 Concelhos De Portugal 15:45 Janela Indiscreta Com Mário Augusto 16:00 Bom Dia Portugal 17:00 Grandes Livros II 17:30 Rumos 18:00 Operação Triunfo 2010 20:00 Jornal Da Tarde 21:15 O Preço Certo 22:00 Magazine Venezuela Contacto 22:30 Portugal No Coração TVB PEARL 83 06:00 Taking Stocks 07:30 NBC Nightly News 08:00 Putonghua E-News 08:30 ETV 10:30 Inside the Stock Exchange 11:00 Market Update 11:30 Inside the Stock Exchange 11:32 Market Update 12:00 Inside the Stock Exchange 12:02 Market Update 12:30 Inside the Stock Exchange 12:35 Market Update 13:00 CCTV News - LIVE 14:00 Market Update 14:40 Inside the Stock Exchange 14:43 Market Update 15:58 Inside the Stock Exchange 16:00 Babar And The Adventures Of Badou 16:30 Dennis And Gnasher 17:00 League Of Super Evil 17:30 Ben 10 Alien Force 18:00 Putonghua News 18:10 Putonghua Financial Bulletin 18:15 Putonghua Weather Report 18:20 Financial Report 18:30 Transworld Sport 19:00 Football Asia 19:30 News At Seven-Thirty 19:50 Weather Report 19:55 Earth Live 20:00 Money Magazine 20:30 The Amazing Race 21:30 Weekend Blockbuster: Breaking and Entering 22:30 Marketplace 22:35 Weekend Blockbuster: Breaking and Entering 00:00 World Market Update 00:05 News Roundup 00:20 Earth Live 00:25 Dolce Vita 00:55 The Late Late Show: The Manchurian Candidate 03:15 The Pulse 03:40 European Art At The MET 04:00 Bloomberg Television 05:00 TVBS News 05:30 CCTV News ESPN 30 13:00 Cev Beach Volleyball European Championship 2010 15:00 Rat Race Edinburgh 2010 15:30 P1 Superstock Series 2010 16:00 KIA X Games Asia 2010 - Highlights Show 17:00 X Games 16 All Access Review 18:00 Football Asia 18:30 Castrol Football Crazy 19:00 ABL game2game 19:30 (LIVE) Sportscenter Asia 20:00 16 Nations - Road To Qatar 20:30 Planet Speed 2010/11 21:00 2010 Women’s Billiards U.S. Open Championship 22:00 Sportscenter Asia

22:30 16 Nations - Road To Qatar 23:00 PBA All STAR Shootout 23:30 Sportscenter Asia STAR SPORTS 31 12:00 (Delay) 2nd Asian Beach Games Muscat 2010 - Closing Ceremony 14:00 Monsoon Cup 2010 16:00 Hot Water 2010/11 17:00 FIA Asia Pacific Rally Championship 2010 18:00 World Sport 2010 18:30 Golf Up Close 2010 19:00 Best Of The Championships, Wimbledon 2010 21:00 Football Asia 21:30 (LIVE) Score Tonight 22:00 16 Nations - Road To Qatar Iraq 22:30 16 Nations - Road To Qatar Saudi Arabia 23:00 16 Nations - Road To Qatar Korea Republic 23:30 16 Nations - Road To Qatar India STAR MOVIES 40 11:30 Trade 13:35 The Young Victoria 15:30 Fanboys 17:05 Crossing Over 19:10 101 Dalmatians 21:00 Confessions Of A Shopaholic 22:50 Ruslan 00:35 The Reader HBO 41 13:00 Knockaround Guys 14:30 Napoleon Dynamite 16:05 Cloudy With A Chance Of Meatballs 17:35 Angus, Thongs And Perfect Snogging 19:15 17 Again 21:00 The Damned United 22:35 The Boondock Saints 2 00:30 My House In Umbria CINEMAX 42 12:00 American Ninja 3 Blood Hunt 13:25 Wanted 15:10 Badge 373 17:05 The Italian Job

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18:45 Termination Point 20:15 Journey To The Center Of The Earth 21:45 Epad On Max 90 22:00 Ninja Iii The Domination 23:30 Tmz 389 23:50 American Ninja MGM CHANNEL 43 11:45 Miracle Beach 13:15 Ruby Jean and Joe 15:00 Stardust Memories 16:30 Bojangles 18:15 Lights! Action! Music! 19:15 Son Rise: A Miracle of Love 21:00 Thief 23:15 De-Lovely DISCOVERY CHANNEL 50 13:00 Mythbusters - Superhero Hour 14:00 World War II In Colour - Lightning War 15:00 The Voyages Of Zheng He 16:00 Shanghai World Expo 17:00 Dirty Jobs - Bio-Diesel-Man 18:00 How It’s Made 19:00 Comet Collision 20:00 Mythbusters 21:00 Inside 22:00 On The Case 23:00 Extreme Forensics 00:00 One Way Out - Trial By Fire NATIONAL GEOGRAPHIC CHANNEL 51 13:00 Health Secrets Behind Korean Cuisine 14:00 Apocalypse The Second World War - Inferno 15:00 Kids Behind Bars 16:00 Nat Geo Amazing! 17:00 Space Month - Saturn 18:00 Mega Factories - Lamborghini 19:00 Taiwan 20:00 Health Secrets Behind Korean Cuisine 21:00 Space Month - Jupiter 22:00 Extreme Punishment 23:00 Skin Deep 00:00 Taiwan ANIMAL PLANET 52 13:00 Mad Mike And Mark - Wild Water 14:00 Ethiopian Wolf 15:00 Orangutan King 16:00 Mekong: Soul Of A River - Vietnam 17:00 A Year In The Wild 18:00 Animal Cops Philadelphia - D.O.A. 19:00 The Most Extreme - Gardeners 20:00 Mad Mike And Mark - Surf And Turf 21:00 Kingdom Of The Elephants 22:00 Mekong: Soul Of A River - Cambodia 23:00 A Year In The Wild 00:00 Mad Mike And Mark - Surf And Turf HISTORY CHANNEL 54 13:00 The Hunley: New Revelations 14:00 Food Tech - Mexican 15:00 Monster Sharks 17:00 Season Finale 18:00 Shockwave 19:00 The Shortest Fuse 20:00 Season Finale 21:00 Holy Warriors 23:00 Secrets Of Consumer Seduction 00:00 If The Food Runs Out STAR WORLD 63 13:00 MasterChef US 13:50 Australia’s Next Top Model 14:45 How I Met Your Mother 15:10 Rules Of Engagement 15:35 Castle 16:25 Private Practice 17:15 MasterChef US 19:05 Accidentally On Purpose 19:30 How I Met Your Mother 20:00 Desperate Housewives 23:20 Hollyscoop 23:45 Private Practice 00:35 Bachelorette

(MCTV 51) National Geographic Channel 17:00 Space month- saturn

Informação Macau Cable TV


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[O]bjectiva Gonçalo Lobo Pinheiro

21 Raio [X] Apanhei o autocarro às duas horas Albert Camus

Clássicos de Futebol – Benfica vs FC Porto (Lisboa, 2009)

Para[ ]comer • Pérola 3/F, Sands, Largo de Monte Carlo, no.203 8983 82222888 3352 http://www.sands.com.mo • VINHA Alm Dr. Carlos d' Assumpção 393 r/c AC 2875 2599vinha@macau.ctm.net http://www.vinha.com.mo • FAT SIU LAU (SINCE 1903) Av.Dr.Sun Yat-Sen,Edf.Vista Magnifica Court Rua de Felicidade No.64, R/C Macau 2857 3585fsl1903@macau.ctm.net http://www.fatsiulau.com.mo

• Casa Carlos Bispo Medeiros 28D 2852 2027

• HAC SA PARK Hac Sa Park-Hac Sa Beach Coloane 2888 2297 http://www.yp.com.mo/hacsa

• António (TP) R, dos Negociantes 3 28999998

• SOL NASCENTE (TP) Av Dr Sun Yat Sen No.29-37 R/C 2883 6288 http://www.yp.com.mo/solnascente • TENIS CIVIL (LEON) Av.da República N°14 1° Macau 2830 1189 http://www.yp.com.mo/leon • Platão Trav. São Domingos No.3 2833 1818 reservation@plataomacau.com • Banza (Tp) Nam San Bl.5, GH 28821519

• Galo (Tp) Clérigos 45 2882 7318 http://www.yp.com.mo/domgalo • Riquexó Av Sid Pais 69 2856 5655

• Clube Militar Av Praia Grande 795 2871 4000 cmm@macau.ctm.net • Espaço Lisboa Lda (Col) Gaivotas 8 2888 2226 2888 1850 • Camilo Av Sir Anders Ljungsted 37 2882 5688

• Dom Galo Vista Magnifica Court 2875 1383 domgalo@yp.com.mo http://www.yp.com.mo/domgalo • O Santos (TP) R. do Cunha 28827508 • Porto Exterior Ed Chong U 2870 3276 http://www.portoext.com.mo • Restaurante Fernando (Col) Praia Hác Sá 9 2888 2264

• Ó MANEL (Tp) Fernão M Pinto 90 2882 7571

• Litoral Restaurante Lda Alm Sérgio 261 2896 7878 2896 7996 http://www.yp.com.mo/litoral

• A PETISQUEIRA (TP) S João 15A 2882 5354

• Nga Tim Café (Col) Caetano 8 2888 2086

Aquamarine Thai Café (Taipa) Jardim Nova Taipa Bl. 21 Tel. 2883 0010

• O Porto Interior Alm Sérgio 259B 2896 7770 • A Lorcha Alm Sérgio 289 2831 3195

• Sawasdee Thai Av Sid Pais 43AE 2857 1963 • Aquamarine Thai Café (Tp) Jardm Nova Taipa bl 21 2883 0010 • Bangkok Pochana Ferrª Amaral 31 2856 1419 • Kruatheque Henrique Macedo 11-13 2835 3555 • Restaurante Thai Abreu Nunes 27E 2855 2255

• Afonso III Central 11A 2858 6272

• LA COMEDIE CHEZ VOUS Ed Zhu Kuan S/N G (Oppsite Cultural Centre) 2875 2021

• Bar Oporto Tv Praia 17 2859 4643 • Maria’s Comida Portuguesa Patane 8A 2823 3221

• LE BISTROT (Tp) Nova Taipa Garden Block 27, G/F 2884 37392884 3994

• Restaurante Pinocchio (Tp) Regedor 181-185 2882 7128 • Canal dos Patos Parque Municipal Sun Yat Seng 2822 8166

• CHURRASCÃO Nova Taipa Garden, Block 27 G/F, Taipa 2884 37392884 3994 • Yin Alª Dr Carlos d’Assumpção 33 2872 2735

Harry potter and the deathdly hollows (Part 1) Cineteatro | PUB

• Fogo Samba VENETIAN-Grand Canal Shoppes Apt 2412 2882 8499

[ ] Cinema

Sala 1 Harry potter and the deathly hollows part 1 [b] Um filme de: David Yates Com: Daniel Radcliffe, Rupert Grint 14.15, 16.45, 19.15, 21.45

SALA 2 the chronicles of narnia - the voyage of the dawn treader [b] Um filme de: Michael Apted Com: Ben Barnes, Skandar Keynes, Georgie Henley 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: “Sua mãe falecida. Enterro amanhã. Sentidos pêsames”. Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem. O asilo de velhos fica em Marengo, a oitenta quilómetros de Argel. Tomo o autocarro das duas horas e chego lá à tarde. Assim, posso passar a noite a velar e estou de volta amanhã à noite. Pedi dois dias de folga ao meu patrão e, com uma razão destas, ele não mos podia recusar. Mas não estava com um ar lá muito satisfeito. Cheguei mesmo a dizerlhe: “A culpa não é minha”. Não respondeu. Pensei então que não devia ter dito estas palavras. A verdade é que eu não tinha nada que me desculpar. Ele é que tinha de me dar os pêsames. Mas com certeza o fará, depois de amanhã, quando me vir de luto. Por agora, é um pouco como se a mãe não tivesse morrido. Depois do enterro, pelo contrário, será um caso arrumado e tudo passará a revestir-se de um ar mais oficial. Tomei o autocarro às duas horas. Estava muito calor. Como de costume, almocei no restaurante do Celeste. Estavam todos com muita pena de mim e o Celeste disse-me: “Mãe, há só uma”. Quando saí, acompanharam-me à porta. Estava um bocado atordoado e tive que ir a casa do Manuel, para lhe pedir emprestados um fumo e uma gravata preta. O Manuel perdeu o tio, há meia dúzia de meses. Tive de correr para não perder o autocarro. Esta pressa, esta correria e, talvez, também os solavancos, o cheiro da gasolina, a luminosidade da estrada e do céu, tudo isto contribuiu para que eu adormecesse no caminho.

[Albert perdeu-se e não chegou ao destino final]

Anúncio: Tem algum Raio X para mostrar ao mundo? Sala 3 the social network [C] Um filme de: David Fincher Com: Jesse Eisenberg, Justin Timberlake 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

O Hoje Macau recicla as suas radiografias, sem custos, sem uso de maquinaria moderna, sem corpo médico. Basta que as envie ao nosso cuidado para raiox@hojemacau.com.mo e nós tratamos das suas maleitas. Mostre-nos o que os outros não vêem. Sem medo. Ficamos à sua espera. Obrigado.


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AVISO RECRUTAMENTO DE PESSOAL 1.

Técnicos superiores assessores: Ciências Sociais/ Ciências da Educação (1 vaga) – Ref. n.º TSA01 Educação/ Educação Física (1 vaga) – Ref. n.º TSA02

Técnicos superiores de 2.ª classe: Educação / Educação Física (1 vaga) – Ref. n.º TS01 Tecnologia da Informação: Desenvolvimento de sistemas (1 vaga) – Ref. n.º TS02 Tecnologia da Informação: Gestão de informação (1 vaga) – Ref. n.º TS03 Fisioterapia e domínio da língua portuguesa (1 vaga) – Ref. n.º TS04 Terapia Ocupacional e domínio da língua portuguesa (1 vaga) – Ref. n.º TS05 Fisioterapia (1 vaga) – Ref. n.º TS06 Acção Social (2 vagas) – Ref. n.º TS07 Recursos Humanos (1 vaga) – Ref. n.º TS08 Gestão/ Marketing/ Administração Artística (1 vaga) – Ref. n.º TS09 Contabilidade/ Auditoria (1 vaga) – Ref. n.º TS10

Técnicos de 2.ª classe: Psicologia/ Sociologia / Acção Social (3 vagas) – Ref. n.º T01 Arquitectura (1 vaga) – Ref. n.º T02 Engenharia Electromecânica (1 vaga) – Ref. n.º T03 Comunicação/ Relações Públicas (1 vaga) – Ref. n.º T04

2.

Condições de candidatura: Podem candidatar-se os residentes permanentes da Região Administrativa Especial de Macau.

3.

Exigências: Habilitações académicas, formação e experiência profissional relativas às especialidades mencionadas.

4.

Duração dos contratos: De seis meses ou de um ano e renováveis em caso de necessidade.

5.

Vencimentos: TSA01 e TSA02: índice 650; TS01 a TS10: índice 430; T01 a T04: índice 350.

6. Método de selecção: Prova de conhecimentos, análise curricular e entrevista. 7. Forma e prazo de candidatura: 7.1 Os candidatos precisam de entregar os seguintes elementos: -- Boletim de candidatura ao posto de trabalho a que se candidatam, devidamente, preenchido (pode ser obtido, pessoalmente, na Direcção dos Serviços de Educação e Juventude ou através de download no página electrónica desta Direcção de Serviços em: www.dsej.gov.mo); -- Cópia do documento de identificação (é necessário apresentar o original no acto da entrega dos documentos); -- Nota curricular (em chinês ou em português); -- Cópias dos documentos comprovativos das habilitações académicas e das respectivas classificações (é necessário apresentar os originais no acto da entrega dos documentos). 7.2 Os candidatos devem entregar os referidos documentos, durante as horas normais de expediente, na DSEJ, Av. D. João IV, n.os 7-9, 1º andar, Macau. As candidaturas devem ser entregues a partir de hoje até as 17H45 do dia 04 de Janeiro de 2011. 8.

Os interessados, mesmo que antes tenham apresentado a sua candidatura, devem efectuá-la de novo, porque a anterior não será considerada para este recrutamento.

9.

O tratamento dos dados pessoais apresentados pelos candidatos é feito de acordo com o disposto na Lei n.º 8/2005. Para mais esclarecimentos, é favor consultar a página electrónica da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, www.dsej.gov.mo, ou dirigir-se a esta Direcção de Serviços.

10. A DSEJ reserva-se o direito de seleccionar as pessoas que possuam o perfil mais adequado.

Macau, aos 13 de Dezembro de 2010.

A Directora, Subst.ª Leong Lai (Subdirectora)


opinião

G

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23 edi tor i a l Carlos Morais José

osto de festas. Sobretudo, de festas felizes. Infelizmente, um pouco por todo o lado, vejo cada vez mais festas infelizes: uma humanidade ainda desgarrada, sem objectivos comuns que não sejam os do lucro, da cobiça, da inveja. Eu talvez não seja melhor. Mas, nesta pulsão de denegação pessoal, esperava um pouco mais dos outros: dos sérios servidores do povo e do Estado, dos políticos, dos economistas, dos banqueiros, enfim, dos mandarins desta e de outras terras. Viva a arte das fugas! Ainda bem que a ingenuidade não paga imposto. Aqui jaz o fim de uma década e o início de outra, assim de uma penada, sem uma aflição, sem um fim do mundo, sem pouco que não seja do mesmo. Umas crises fátuas, sem realidade e meramente surreais, na esfera paralela da finança, ao que dizem, desgraçaram a economia, destruíram os empregos, estilhaçaram a confiança nas instituições. Mas tudo isto só é entendido como malefício por quem não consegue ver que de dentro do poço. Tomemos outras perspectivas que não a do sapo. O solstício de Inverno está à porta. Com ele vêm o Natal, o Ano Novo Solar, o recolhimento, o germinar silencioso das sementes no húmus da terra. Em nós, pouco disto acontece. A Natureza é-nos distante e somos já animais de conserva, de muita conversa e pouca luz. A própria festa perde o seu sentido antigo, rebatida no mesmo plano de tudo. Há, contudo, um resto. “Vocês sabem do que eu estou a falar”. Que as festas sejam, pois, felizes. Infelizmente, para além das festas, pouca felicidade se consegue encontrar. Festejemos pois! * “Não deites fora os ossos do teu antepassado, podem-te fazer falta para a sopa” Numa altura em que todo o mundo está em crise, crivado de inseguranças, sempre com o receio que um céu qualquer lhe caia em cima da cabeça, existe um pequeno enclave onde o crescimento se mantém firme nos dois dígitos e o sol quase brilha para todos nós. Lugar certamente utópico, de governo fácil e povo criativo. Eis Macau, no dealbar da segunda década do século XXI. Curiosamente, há quem por aí diga que, afinal, a economia da cidade não floresce, as famílias não gastam desafogadamente, que existem problemas com a habitação, a educação, e que mesmo o património histórico e cultural é fracamente aproveitado. Trata-se, com certeza, de um plissado no tecido da

A década do ovo História, uma conjuntura de momento, nada que leve ao tormento. Daquela (a História) foge-se a dez mil pés. Não no discurso, na oficialidade; mas na cidade, na vida de verdade, na escola, na palavra corrente e contracorrente, como se houvera uma conspiração, para dizer sim e fazer não. Que o optimismo seja o último a falecer neste Oriente deslumbrado, recém-conquistado pela maquinaria, os rumores da “tecnologia”, nova América do apagamento da memória, das vidas consentâneas com o presente televisivo, sem outra profundidade que o mal-estar. Que seja o último já que foi também o primeiro. * Uma década e um ano depois da transferência de soberania a publicação de um livro do/sobre o general Rocha Vieira, numa compulsão wikileakiana, abala o “mercado da inteligensia regional”. Pensaria o leitor que se trata de uma nova visão geopolítica da Ásia, de uma reflexão sobre a experiência de proximidade à China, quiçá do papel de Portugal no contexto global; em última análise, uma síntese sobre arte da guerra

c arto o n por Steff

Onze anos depois da largada do último ponto do império, é esta a súmula de uma presença secular: intrigalhada de corredores, promessas quebradas, homens de palavra dúbia e face maculada. É natural que isto apaixone os corações, mas certamente que não eleva as mentes, nem faz bem às almas. no século XXI. Não: o que sobressai é uma mexeriquice política que envolve o presidente da República, Jorge Sampaio, o próprio general, Edmund Ho e mais uns peões, sobre a criação de uma fundação.

anarquia no sistema

Onze anos depois da largada do último ponto do império, é esta a súmula de uma presença secular: intrigalhada de corredores, promessas quebradas, homens de palavra dúbia e face maculada. É natural que isto apaixone os corações, mas certamente que não eleva as mentes, nem faz bem às almas. Está tudo dito sobre Portugal, a sua História e a visão dos seus líderes. * Uma sondagem por nós ontem divulgada, sobre a popularidade do executivo da RAEM, escavacaria o ego de qualquer governante. Mas em Macau sabe-se que, apesar de não ser protestão, o povo local é céptico em relação aos poderosos. Nisso imita muito os portugueses: seguidistas mas ressabiados, caninos mas a morder a mão do dono. É como diz o secretário Cheong U: ele há muita ingratidão neste mundo. Neste e no outro, senhor secretário, com certeza. A malta por aqui desconfia mais dos poderosos do que o diabo da porta da igreja e da cruz juntas. Por que será? Pela pequenez da cidade, pelos rabos de fora e os rabos de dentro? Vá lá o demo sabê-lo que as manias dos povos são mistérios que nem os altos Sábios conseguem compreender ou explicar. Mas, num plano mais térreo, a verdade é que a nossa governança não consegue convencer a populaça, nem com bombons nem com papas de linhaça. O povo segue mas não ama. E por mais que lhe dêem de mamar, raramente vê a cara da mãe. Nisto demonstra uma antiga, ainda que “irracional”, sabedoria. A ideia que perpassa pelas ruas e no meio da praça é que essa maltinha se governa mais do que governa e que parva seria a multidão se acreditasse que outros interesses assistem que não sejam os da ambição de quatro ou cinco com muitos afiliados. A tudo isto assiste, glacial, Pequim que, aos poucos, vai mudando o vocabulário regional de “autonomia” para “integração”, como bem notou esta semana Arnaldo Gonçalves. E o mundo vai retomando a sua harmonia primeva, sem pressas, com rei e com roque. No limite, o povo sabe que se há-de calar e fá-lo de bom grado. Mas isso não o fará acreditar, elogiar, amar, nem respeitar os seus governantes. Parece que os observa ao raio-x, sem piedade, sem compaixão. Para o ano há mais milhão. Não me lixem: Parménides tinha razão: nada se mexe, nada de novo, vivemos num ovo. E assim somos excepcionalmente felizes. Como as festas.

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José editor Vanessa Amaro Redacção António Falcão; Gonçalo Lobo Pinheiro; Kahon Chan; Rodrigo de Matos Colaboradores Carlos Picassinos; José Manuel Simões; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas Arnaldo Gonçalves; Boi Luxo; Correia Marques; Gilberto Lopes; Hélder Fernando; João Miguel Barros; Jorge Rodrigues Simão; José I. Duarte; Marinho de Bastos; Paul Chan Wai Chi; Pedro Correia Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges; Catarina Lau Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão; António Mil-Homens; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Laurentina Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Av. Dr. Rodrigo Rodrigues nº 600 E, Centro Comercial First Nacional, 14º andar, Sala 1407 – Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


a fechar sexta-feira 17.12.2010 www.hojemacau.com.mo

Parcelas 7 e 8 do Cotai com destino ainda por decidir

SJM também levou chumbo Kahon Chan

Natureza Descoberta nova espécie de lémure

Foi descoberta uma nova espécie de lémure em Madagáscar, única região do mundo em que este animal existe. A nova espécie de lémure foi descoberta numa região chamada Daraina, uma reserva de floresta protegida desde 2006. A Conservation Internacional encontrou esta nova espécie enquanto procurava um outro lémure. Conseguiram capturar o animal, que apresenta umas listas negras na zona dos olhos, e recolher amostras de sangue. As amostras recolhidas vão agora confirmar o que os biólogos esperam, ou seja, que se trata de uma nova espécie. «Fiquei surpreendido ao ver aquele tipo de lémure ali, já que nunca antes o tínhamos encontrado naquela região», adiantou à BBC News o primatólogo e presidente da Conservation International Russel Mittermeier.

Wikileaks Fidel quase morreu em 2006

Um telegrama enviado de Havana informa que o líder cubano esteve às portas da morte durante um voo de avião. Novos telegramas secretos revelados pelo Wikileaks informam que o líder cubano Fidel de Castro quase morreu em 2006, durante um voo onde sofreu uma grave hemorragia interna derivada de uma diverticulite de cólon. Um dos telegramas, enviado em Março de 2007 pelo chefe do escritório de negócios americanos em Havana, Michael Parmly, cita mesmo um relato de um médico não identificado quando Fidel ficou doente em 2006. “A doença começou num avião que ia de Holguín para Havana”. Como era um voo curto e não havia médico a bordo, o avião fez uma aterragem de emergência após ter sido verificado que Fidel sofria com uma hemorragia interna. “Esta doença não é curável e não vai, em sua opinião, permitir-lhe regressar à liderança de Cuba. Ele não vai morrer imediatamente, mas perderá progressivamente as suas capacidades e tornar-se-á mais debilitado até morrer”, concluiu o documento.

Economia Portugal anuncia, Europa aplaude

As medidas orçamentais do Governo português são “coerentes” para suportar as finanças do país. A nota positiva veio directamente do presidente do Eurogrupo, em declarações à rádio francesa RTL. Para Jean-Claude Juncker os países da Zona Euro não têm outra alternativa para colocarem as contas públicas em ordem. As declarações surgiram horas antes do arranque do Conselho Europeu e onde José Sócrates vai apresentar as suas medidas para o emprego e crescimento, acordadas ontem em Conselho de Ministros. A Comissão Europeia saudou as 50 medidas anunciadas por Lisboa.

kahon.chan@hojemacau.com.mo

Além da Sands China, também a SJM solicitou formalmente os terrenos correspondentes às parcelas 7 e 8 do Cotai, mas tal como o da primeira, o pedido da empresa da família de Stanley Ho também foi rejeitado, confirmou ontem o director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), Jaime Roberto Carion. Os lotes permanecem assim à espera que o Governo decida o que fazer com eles. Carion afirmou também que os pormenores do leilão de um terreno no Patane terão de esperar pela publicação do anúncio respectivo em Boletim Oficial, o que deverá acontecer ainda este mês. Carion e a Secretaria para os Transportes e Obras Públicas já por diversas vezes haviam sido confrontados com as dúvidas que rondavam as parcelas 7 e 8, mas sempre deram um jeito de fugir à questão. Até que ontem, o director da DSSOPT acabou por confirmar que tanto a Sands China como a SJM Holdings tinham apresentado formalmente cartas a solicitar os terrenos, mas pretensões de ambos os operadores de casinos foram frustradas e os lotes ficam assim com um grande ponto de interrogação no seu futuro. A Sands China já havia iniciado as obras para as fundações nos dois lotes que custa-

ram à firma 116,2 milhões de dólares (1,37 mil milhões de patacas) há um ano. Chegou-se a acreditar a dada altura que o Governo de Macau iria continuar a distribuir terra depois de arrancadas as obras, o que de facto chegou a ser regra durante a administração de Edmund Ho. Carion recusou-se a afirmar se a SJM teria tido “luz verde” para avançar para algum outro lote no Cotai – nomeadamente o lote a norte do que será o parque de diversões de Angela Leong e a leste do complexo de bowling – dizendo apenas que o anúncio seria feito na devida altura. No dia anterior, Francis Tam tinha explicado à imprensa que o Governo havia tomapub

do em 2008 a decisão de não mais atribuir terrenos para casinos após aquele ano. No que diz respeito ao leilão de terras para pequenas unidades residenciais, Carion afirmou que a licitação do lote no Patane ainda estava pendente de publicação do respectivo anúncio em Boletim Oficial, o que é esperado no final deste mês. O responsável afirmou que os efeitos do leilão sobre os preços do mercado eram difíceis de prever, mas sublinhou que o lote tinha sido reservado para a construção de pequenos apartamentos apenas e que me Macau vigorava o mercado livre. “Vai depender de a reacção ao leilão ser entusiástica. Ainda não podemos dizer se a análise mostra algum impacto”, disse.

Casinos fecham ano com recorde

Resultados históricos O sector do jogo em casino de Macau prepara o fecho de 2010 com mais um recorde nas mesas de pano verde com as concessionárias a preverem receitas superiores a 19 000 milhões de patacas. Dados compilados pela Agência Lusa junto dos operadores de casino apontam para que as receitas do mês de Dezembro aumentem quase 70% por cento face ao mesmo mês de 2009 quando foram registados 11.346 milhões de patacas. Nos primeiros 15 dias de Dezembro, os casinos de Macau já arrecadaram mais de 9 mil milhões de patacas, quase tanto como em todo o mês de Dezembro de 2009. A confirmarem-se as previsões da evolução da receita, o sector do jogo em casino vai fechar 2010 com cerca de 188.500 milhões de patacas de receitas. Já todo o sector, incluindo as apostas de futebol, cavalos, cães e basquetebol e lotarias diversas,

deverá aproximar-se de receitas brutas de 190.000 milhões de patacas, um valor cerca de 58% superior ao verificado em 2009. “Até ao momento, os dados disponíveis apontam para um novo recorde tendo em consideração o que é a evolução das receitas mensalmente e ao facto de Dezembro ser um mês com vários feriados”, disse uma fonte do sector contactada pela agência Lusa.


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