Hoje Macau 17 SET 2020 #4614

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

OMC

VIOLAÇÕES AMERICANAS GRANDE PLANO

h

MOP$10

QUINTA-FEIRA 17 DE SETEMBRO DE 2020 • ANO XX • Nº 4614

DO MAL E DA FARSA ANTÓNIO CABRITA

ECOS DO VELHO LICEU LUÍS CARMELO

hojemacau

UNIVERSIDADE CATÓLICA

PLATAFORMA PARA MACAU

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

COPYRIGHT XIANG JING STUDIO

PÁGINA 4

ARTFEM

NATUREZA FEMININA EVENTOS

Casa cheia OPINIÃO

DESIGUALDADES SOCIAIS

A pouco e pouco os turistas regressam a Macau e as taxas de ocupação dos hotéis começam a dar os primeiros sinais de recuperação. Segundo a Morgan Stanley, cinco hotéis têm já lotação esgotada para o período da Semana Dourada, e dez dos estabelecimentos hoteleiros de cinco estrelas registam uma ocupação de 80 por cento. Mas nem tudo são boas notícias. As receitas do jogo continuam fracas, segundo a consultora.

JORGE RODRIGUES SIMÃO

PÁGINA 7


2 grande plano

ECONOMIA

17.9.2020 quinta-feira

XADREZ SO COM PEOES OMC DIZ QUE TARIFAS DE WASHINGTON VIOLAM REGRAS INTERNACIONAIS

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A Organização Mundial de Comércio decidiu que as tarifas impostas pelos Estados Unidos à China violam regras de comércio internacional. A entidade refere que Washington não fundamentou adequadamente a alegação de que os produtos chineses atingidos com as taxas extras teriam beneficiado de práticas ilegais. A Administração Trump considerou a decisão “totalmente inadequada”, enquanto Pequim diz que é “justa e objectiva”

C

O M as eleições norte-americanas em pano de fundo, o painel de juízes da Organização Mundial de Comércio (OMC) decidiu na terça-feira que os Estados Unidos violaram as regras internacionais ao impor tarifas à China em 2018, em plena guerra comercial entre Washington e Pequim. O painel de especialistas em comércio internacional deu razão à queixa apresentada pela China há mais de dois anos, que argumentava que as tarifas impostas por Donald Trump violavam diversas regras de comércio. Uma das violações mais óbvias recaiu sobre as provisões que exigem que todos os membros da Organização Mundial de Comércio ofereçam taxas alfandegárias iguais entre si. A OMC alega que a Administração de Donald Trump quebrou essa tradição de igualdade fiscal no fluxo internacional de bens

e serviços. Convém recordar que, durante a guerra comercial com a China, os Estados Unidos impuseram taxas alfandegárias de mais de 360 mil milhões de dólares a produtos chineses, numa tentativa de convencer Pequim a reforçar protecções de propriedade intelectual. Essa foi uma das principais

exigências da Casa Branca, mas que se alargaram a outras reformas de comércio internacional que Donald Trump exigiu à China alegando quer inverter a posição de desvantagem dos trabalhadores norte-americanos. A Casa Branca recorreu a uma lei de 1974, assinada por Gerald Ford, para permitir ao

“A OMC tem sido muito boa para nós ultimamente, digo isto surpreendido. Nunca ganhávamos nada na OMS. Agora, de repente, começámos a ganhar muitos casos.” DONALD TRUMP UMA SEMANA ANTES DA DECISÃO DA OMS

Presidente negociar acordos comerciais, e impor tarifas, sem necessidade de aprovação do Congresso. A lei foi aprovada precisamente com o intuito de tornar a economia norte-americana mais competitiva antes de uma ronda de negociações internacionais. A legislação permite à Casa Branca impor restrições comerciais a países, sem passar pelo poder legislativo. Para já, o efeito da decisão da OMS ainda não é claro, principalmente porque a matéria analisada refere-se a 2018 e em Janeiro as duas maiores potências económicas assinaram um acordo comercial. Porém, a grande fatia das taxas alfandegárias impostas por Washington mantiveram-se, afectando mais de metade das exportações chinesas para os Estados Unidos.

RUPTURA INTERNACIONAL

Um comunicado do representante norte-americano do departamento do Comércio, Robert E. Lighthizer, ar-

A “sentença” pode ter poucas implicações, uma vez que os Estados Unidos diminuíram


grande plano 3

quinta-feira 17.9.2020

rasou a OMS pela decisão que descreveu como uma tentativa para evitar que os Estados Unidos lutem pelos seus trabalhadores. “O relatório deste painel confirma aquilo que a Administração Trump vem dizendo nos últimos quatro anos: a Organização Mundial de Comércio é completamente desadequada para impedir que a China continue práticas tecnologicamente danosas. Apesar do painel não colocar em causa o vasto leque de provas apresentado pelos Estados Unidos sobre roubos de propriedade intelectual cometidos pela China, a decisão demonstra que a OMC não oferece qualquer tipo de solução para este tipo de conduta irregular”. “Deve ser permitido aos Estados Unidos defenderem-se contra práticas comerciais injustas e a Administração Trump não vai permitir que a China continue a usar a OMC para tirar partido dos trabalhadores, empresários e agricultores norte-americanos”, acrescentou Lighthizer. Washington tem, desde a divulgação da decisão, 60 dias para contestar o parecer. Porém, a “sentença” pode ter poucas implicações práticas, uma vez que os Estados Unidos diminuíram consideravelmente a capacidade do painel da OMC que trata recursos de disputas comerciais ao recusar nomear novos membros. No fundo, se Washington decidir recorrer da decisão da entidade internacional, é muito provável que o caso termine numa espécie de limbo legal, sem perspectiva de resolução.

TOURO EM LOJA DE LOUÇA

consideravelmente a capacidade do painel da OMC que trata recursos de disputas comerciais ao recusar nomear novos membros

Depois de 24 anos a servir como derradeiro árbitro em termos de disputas comerciais internacionais, a OMC atravessa actualmente uma fase complicada com a progressiva desvinculação dos Estados Unidos que conduz à paralisia da entidade. O órgão de recurso da OMC, composto por sete membros, perdeu o quórum mínimo de três elementos. O sistema de nomeação exige a unanimidade dos 164 países-membros. Como Donald Trump insiste na via proteccionista como abordagem a assuntos internacionais, com particular ênfase para os últimos dois anos, tornou-se impossível preencher os lugares vagos no órgão de recurso. Não sobram sinais de alerta para o perigo que a OMC enfrenta, com analistas a apontarem a inca-

“O relatório deste painel confirma aquilo que a Administração Trump vem dizendo nos últimos quatro anos: a OMC é completamente desadequada para impedir que a China continue práticas tecnologicamente danosas.” ROBERT E. LIGHTHIZER DEPARTAMENTO DO COMÉRCIO

pacidade da entidade como ameaça existencial, algo que deveria despertar a comunidade internacional para acções resolutas. “Antes da Administração Trump ter dizimado o órgão de recurso da OMC, uma decisão num caso como este seria imediatamente recorrida”, analisa Chad P. Brown, do Peterson Institute for International Economics, citado pelo The New York Times. Se o painel de recurso tivesse membros suficientes para funcionar e se mantivessem a decisão, a OMC poderia autorizar a China a retaliar com taxas alfandegárias adicionais, se Washington não mudasse de política, ou se entre as duas potências não fosse acordado forma para compensar o Estado vencedor da acção. “Uma vez que a Administração Trump recusou nomear novos membros para o órgão de recurso, os Estados Unidos podem apenas recorrer desta decisão para o vazio”, acrescentou o analista ao The New York Times. O outro lado da questão é que a China respondeu às tarifas impostas por Washington na mesma moeda, também sem autorização da OMC, e retaliou aumentando taxas alfandegárias a produtos oriundos dos Estados Unidos. No fundo, a resposta também viola as regras internacionais de comércio.

OUTRO MUNDO

Apesar das muitas críticas e decisões políticas indiferen-

tes às normas e directrizes da OMS, no passado dia 7 de Setembro, o Presidente norte-americano prestou declarações que destoaram do seu normal tom. “A OMC tem sido muito boa para nós ultimamente, digo isto surpreendido. Nunca ganhávamos nada na OMS. Agora, de repente, começámos a ganhar muitos casos. Acabámos de ganhar um caso de 7 mil milhões de dólares e estão a falar connosco de uma forma muito diferente do que costumavam falar”. Porém, desde do anúncio da OMS, Trump referiu que teria de examinar o caso, mas que não era “um grande fã” da organização. A reacção do Ministério do Comércio chinês, como não poderia deixar de ser, foi oposta, adjectivando a decisão da entidade internacional como justa e objectiva. “A OMS é nuclear para o sistema multilateral de comércio internacional. A China sempre apoiou firmemente e defendeu a importância de respeitar as regras e decisões da OMS”, apontou um porta-voz do Ministério do Comércio chinês, citado pelo China Daily. O representante acrescentou que Pequim espera que os Estados Unidos respeitem as decisões do painel de especialistas e as regras do sistema de comércio internacional e implementem medidas práticas que promovam o desenvolvimento estável e saudável da economia global. Há praticamente um ano, num discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, Donald Trump apontou o dedo à OMC referindo que a entidade precisava de “mudanças dramáticas” para responder à “batota” da China e de outros países. “Durante muitos anos estes abusos foram tolerados, ignorados e até encorajados”, apontava Trump em Setembro de 2019. O discurso do Presidente norte-americano vincou que não iria aceitar “maus negócios” nas reuniões para resolver as disputas comerciais com a China e que não precisava de ter um acordo antes das eleições de Novembro deste ano, em que enfrenta Joe Biden. A declaração de Trump não originou qualquer reacção por parte da delegação chinesa. João Luz com agências info@hojemacau.com.mo


4 política

17.9.2020 quinta-feira

ENSINO SUPERIOR CATÓLICA CRIA PLATAFORMA ONLINE PARA ALUNOS DE MACAU

Plano B em marcha

A Universidade Católica Portuguesa vai criar uma plataforma online para que os alunos de Macau impossibilitados de viajar para Portugal possam acompanhar as aulas à distância. O Governo continua a descartar a hipótese de criar um novo corredor especial de ligação ao Aeroporto Internacional de Hong Kong

O

S alunos de Macau que estudam na Universidade Católica Portuguesa (UCP) vão poder acompanhar as aulas à distância, uma vez que a instituição de ensino superior privada vai criar uma plataforma a pensar nos estudantes que não conseguem viajar para Portugal nesta fase. A informação consta numa resposta da Direcção dos Serviços do Ensino Superior (DSES) a uma interpelação escrita do deputado Leong Sun Iok.

“A UCP vai providenciar uma plataforma de ensino on-line aos seus estudantes que ainda estão em Macau para que possam continuar a estudar”, adianta Chan Kun Hong, director substituto da DSES. Além disso, esta direcção de serviços promete “continuar a comunicar com o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos sobre o novo desenvolvimento de outras instituições do ensino superior”. “Desta forma,

e através de associações de estudantes e grupos de comunicação, podem ser conhecidas as necessidades dos estudantes de Macau sobre o prosseguimento dos estudos nas outras regiões”, acrescenta a DSES. O HM tentou saber junto da UCP como vai funcionar esta plataforma e quantos alunos estão abrangidos pelo programa, mas até ao fecho desta edição não foi possível obter uma resposta.

TERCEIRA VIA DE FORA

Na resposta ao deputado, o Executivo volta a descartar

a possibilidade de criar um terceiro corredor especial de ligação entre Macau e o Aeroporto Internacional de Hong Kong. “De modo a apoiar os residentes de Macau que necessitam de regressar através do Aeroporto Internacional de Hong Kong, o Governo da RAEM organizou, em Março e entre Junho e Julho, os autocarros e embarcações especiais para transportes os residentes e estudantes. No entanto, tendo em consideração a relação custos-eficácia e a coordenação com as autoridades de Hong Kong, o

Governo não contempla uma terceira operação especial.” Como alternativas, continuam a ser apresentadas as opções de viagem pelo Interior da China, Japão, Coreia do Sul ou Taiwan. Nesta fase, a DSES diz ter criado 17 grupos de comunicação com os estudantes de Macau que estão matriculados em universidades no exterior através da aplicação Telegram, onde se incluem 2700 alunos.

Além disso, foram criados vários serviços financeiros e de seguros de emergência “em cooperação com os bancos e companhias de seguros”. A DSES lançou também um sistema de registo para recolher informações sobre a situação dos estudantes de Macau que se deslocam a Portugal para o regresso às aulas, “a fim de prestar um apoio adequado”. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

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Escolas Governo escolhe Tencent para gerir ensino via internet Open Tender Notice Provision of Cleaning & Sanitary Services at Macau International Airport 1. Company:

CAM – Macau International Airport Co. Ltd.

2. Scope of Services:

Provision of Management and Maintenance Services of the Installations, Systems and Equipment managed and/or maintained by CAM Buildings & Pavements and Associated Systems/ Services i)

ii) 3. Request for Tender Document:

4. Location for Submission of Proposals:

Written request addressed to the details as follows. On company letterhead stating the company name and respective contact details. Deadline for request is at 13:00 on 24 Sep 2020. In person at the location identified as follows. CAM – Macau International Airport Co. Ltd. Macau International Airport Supply Service E&M Building 1st Floor, Office 41044 Taipa, Macau Attention: Head of Supply Service

For any enquiry regarding the Tender Procedure, please reach our Airport Operations Department – Supply Service at (853) 88982358. CAM – Macau International Airport Co. Ltd. Av. De Wai Long CAM Office Building, 4th Floor Reception Taipa, Macau Attention: Mr. Chu Tan Neng – Executive Director

5. Tender closing time and date:

At 18:00 on 21 Oct 2020 (Macau Local Time)

CAM reserves the right to reject any Proposal in whole or in part without stating any reason.

A Tencent, empresa que detém a aplicação WeChat, será a responsável pela plataforma online que as escolas do território vão utilizar a partir do fim deste mês. Segundo a TDM Rádio Macau, a aplicação tem o nome WeCom e destina-se a professores, funcionários, alunos e encarregados de educação, visando uma melhor comunicação entre a escola e a família, além de assegurar o ensino online. A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude

(DSEJ) assegurou ainda à TDM Rádio Macau que cinco empresas foram contactadas para o fornecimento deste serviço, uma

delas a Microsoft. A Tencent foi a escolhida por permitir uma utilização da plataforma também na China, tendo em conta o grande número de alunos transfronteiriços que frequentam o ensino em Macau. Quanto aos dados pessoais e restante informação relevante, serão transferidos para a China e Hong Kong para serem armazenados em nuvem, nos servidores da Tencent, mas sempre com a autorização dos utilizadores da plataforma.

DESEMPREGO DEPUTADOS DE FUJIAN DIZEM QUE QUEIXAS AUMENTARAM

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UMA conferência de imprensa de balanço de sessão legislativa, Song Pek Kei e Si Ka Lon revelaram que o desemprego foi um dos grandes problemas deste ano, tendo em conta os pedidos de ajuda de residentes, que aumentaram consideravelmente face aos anos anteriores. Outro tema que motivou idas ao escritório dos deputados prendeu-se com a compra de habitação no Interior, em particular com fracções adquiridas em Zhuhai, algo que é recorrente. Porém, este ano começaram a surgir queixas sobre compras de casas em Zhongshan, com os legisladores a suspeitaram de burlas de empreiteiros.

A travessia de fronteira foi também alvo de solicitações aos deputados, com mais de 60 pedidos de ajuda sobre como participar em funerais do outro lado da fronteira, ou deslocações para tratamento médico ou visitas a familiares. Song Pek Kei destacou a habitação e afirmou que o Governo não só tem de garantir o número suficiente de fracções, mas também a sua qualidade e que devem ser dadas mais oportunidades aos jovens no acesso à habitação pública. Já Si Ka Lon, deixou críticas ao Executivo por submeter com atrasos constantes propostas de lei, pelo menos meio ano, depois de ouvir os deputados. N.W.


sociedade 5

quinta-feira 17.9.2020

Saúde Dois medicamentos retirados do mercado

Os Serviços de Saúde de Macau (SSM) emitiram ontem uma nota onde informam sobre a retirada de dois medicamentos do mercado. Um deles é um medicamento para o tratamento do acne, com o nome “Royalsense Acne Gel”, enquanto que o outro serve para o tratamento de hemorróidas, com o nome “Xylmol Ointment”. Ambos os fármacos são produzidos pela Companhia Farmacêutica Limitada Sinphar, de Taiwan, tendo sido “recolhidos voluntariamente pelo fabricante, uma vez que este descobriu que o conteúdo do ingrediente principal de alguns lotes destes dois medicamentos estava abaixo do padrão de qualidade, o que pode afectar a eficácia dos medicamentos”. A mesma nota dá conta de que os lotes de medicamentos foram disponibilizados nas farmácias comunitárias e clínicas privadas, pelo que já foi solicitado, por parte dos SSM, a sua retirada, bem como “aos exportadores, importadores e firmas de venda por grosso dos produtos referidos”.

O

Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT) criou em Fevereiro um programa de apoio financeiro sobre o combate à covid-19. Depois de uma avaliação, foram aprovadas 35 por cento das candidaturas. Passaram assim 26 projectos, dos quais 22 são de instituições de ensino superior e quatro de empresas de ciência e tecnologia, que envolvem

O valor da ciência FDCT investiu mais de 10 milhões em projectos de combate à covid-19

um montante total de investimento superior a 10 milhões de patacas. Numa conferência sobre o programa, Cheang Kun Wai, do Conselho de Administração do FDCT, avançou que até 10 de Setembro foram publicadas 27 dissertações, estão a ser

solicitadas oito patentes e já foram criados 16 produtos. O programa tinha recebido 74 candidaturas, com períodos de investigação que variavam entre três meses a um ano. O montante máximo do apoio para cada projecto era de 500 mil patacas.

Seis dos planos que receberam luz verde foram ontem apresentados. Sobre o valor económico das iniciativas, Cheang Kun Wai salientou que o projecto de desinfectante bacteriano à base de nano prata, da Macau Nanometals Technology, “em muito curto prazo já conseguiu produzir um valor 300 mil patacas”. O responsável destacou ainda um projecto da MUST que usa inteligência artificial para o diagnóstico da infecção pelo novo tipo de coronavírus. A tecnologia permite distinguir a pneumonia de covid-19 dentro de 20 segundos e “saber muito rapidamente o grau de gravidade”.

FEBRE DOS DADOS

Até 10 de Setembro foram publicadas 27 dissertações, estão a ser solicitadas oito patentes e já foram produzidos 16 produtos

Um dos projectos financiados pela FDCT envolve reconhecimento facial. Foi apresentado por Wong Man Kit, da Habitat Multimedia, e é focado na detecção de febre para prevenção da epidemia. O produto usa

tecnologia de detecção por infravermelhos para verificar a temperatura das pessoas. Mas cumpre um duplo propósito: durante a medição capta informações do rosto, que são armazenadas. “Usando tecnologia de reconhecimento facial e análise de fusão de dados, pode rastrear o fluxo de pessoas específicas rapidamente”, explica um documento sobre o projecto. Wong Man Kit disse que já há 20 destes aparelhos em Macau e 180 na China Continental. A tecnologia está em locais como o Centro de Ciência de Macau e a clínica da Associação Beneficência Tung Sin Tong. Recorde-se que a MUST submeteu um pedido de subsídio no mês de Fevereiro para a investigação de uma vacina contra a covid-19, que foi rejeitado. Questionado sobre a decisão, Cheang Kun Wai disse que o programa de apoio é aberto ao público e os projectos são avaliados por um júri profissional. “Acho que é muito justo, é preciso passar a competição”, declarou. Salomé Fernandes

andreia.silva@hojemacau.com.mo

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Open Tender Notice

Open Tender Notice

Provision of Cleaning & Sanitary Services at Macau International Airport

Provision of Cleaning & Sanitary Services at Macau International Airport

1. Company:

CAM – Macau International Airport Co. Ltd.

2. Scope of Services:

Provision of Management and Maintenance Services of the Installations, Systems and Equipment managed and/or maintained by CAM

1. Company:

CAM – Macau International Airport Co. Ltd.

2. Scope of Services:

Provision of Management and Maintenance Services of the Installations, Systems and Equipment managed and/or maintained by CAM

Electrical, Mechanical and Associated IT Based Systems/ Services i) Written request addressed to the details as follows. On company letterhead stating the company name and respective contact details. Deadline for request is at 13:00 on 24 Sep 2020. ii) In person at the location identified as follows. 3. Request for Tender Document:

4. Location for Submission of Proposals: 5. Tender closing time and date:

CAM – Macau International Airport Co. Ltd. Macau International Airport Supply Service E&M Building 1st Floor, Office 41044 Taipa, Macau Attention: Head of Supply Service For any enquiry regarding the Tender Procedure, please reach our Airport Operations Department – Supply Service at (853) 88982358. CAM – Macau International Airport Co. Ltd. Av. De Wai Long CAM Office Building, 4th Floor Reception Taipa, Macau Attention: Mr. Chu Tan Neng – Executive Director At 18:00 on 21 Oct 2020 (Macau Local Time)

CAM reserves the right to reject any Proposal in whole or in part without stating any reason.

Telecommunications and Navaids and IT Based Systems/ Services i) Written request addressed to the details as follows. On company letterhead stating the company name and respective contact details. Deadline for request is at 13:00 on 24 Sep 2020. ii) In person at the location identified as follows. 3. Request for Tender Document:

4. Location for Submission of Proposals: 5. Tender closing time and date:

CAM – Macau International Airport Co. Ltd. Macau International Airport Supply Service E&M Building 1st Floor, Office 41044 Taipa, Macau Attention: Head of Supply Service For any enquiry regarding the Tender Procedure, please reach our Airport Operations Department – Supply Service at (853) 88982358. CAM – Macau International Airport Co. Ltd. Av. De Wai Long CAM Office Building, 4th Floor Reception Taipa, Macau Attention: Mr. Chu Tan Neng – Executive Director At 18:00 on 21 Oct 2020 (Macau Local Time)

CAM reserves the right to reject any Proposal in whole or in part without stating any reason.


6 sociedade

O Conselho do Planeamento Urbanístico discutiu a construção de um edifício com escritório para a administração pública no NAPE, e alguns membros defenderam que deveria incluir um auto-silo aberto ao público

17.9.2020 quinta-feira

NAPE MEMBROS DO CPU PEDEM MAIS LUGARES DE ESTACIONAMENTO

Carros há muitos

“É sempre difícil encontrar lugar para construir auto-silos, mas este terreno é bom e tem uma boa localização.”

A

LGUNS membros do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) defenderam a criação de um auto-silo aberto ao público com a construção de um edifício com escritórios para a Administração Pública, no NAPE, junto à Rua Cidade do Porto e Rua Cidade de Braga. Esta foi uma das ideias que foi discutida ontem na reunião do CPU. O primeiro membro a considerar que a construção do edifício para o Governo devia ser aproveitada para criar estacionamento público foi Lou Chon U. “Sabemos que o Auto-Silo da Alameda Dr. Carlos d’Assumpção está muito sobrelotado. Por isso, com este edifício vão pensar na construção de um auto-silo, assim como centros para jovens, idosos e bibliotecas?”, questionou. A ideia foi igualmente defendida por Omar Yeung, que sustentou

OMAR YEUNG MEMBRO DO CPU

que esta seria uma forma de aliviar um pouco o trânsito naquela zona. “Tenho o escritório na zona e muitas pessoas não conseguem encontrar lugares de estacionamento. Por isso andam ali com os carros às voltas até encontrarem lugar e isso acaba por trazer mais pressão para a estrada”, explicou. “Se houver mais estacionamento,

SIN FONG GARDEN MORADORES DESMENTEM ZHENG ANTING

A

Comissão da Gestão do Condomínio do Sin Fong Garden disse ontem que ainda não recebeu os juros por parte da Associação dos Conterrâneos de Jiangmen, dos deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting. Em comunicado, a comissão afirma que as declarações de Zheng Anting não correspondem à verdade, porque “continua a pagar os juros relativos à verba destinada à reconstrução [do edifício]”. O fundo para a reconstrução do Sin Fong Garden está quase a zeros depois do pagamento da verba relativa ao mês de Agosto, aponta o mesmo comunicado.

de lugares exigidos pela lei e que além disso, haverá lugares para motociclos, nunca inferior a 25 por cento da capacidade para viaturas ligeiras. A resposta foi compreendida pelos membros, mas Omar Yeung não deixou de pedir para que a situação da falta de estacionamento na zona fosse ponderada seriamente. “É sempre difícil encontrar lugar para construir auto-silos, mas este terreno é bom e tem boa localização. Por exemplo, no Auto-Silo da Alameda Dr. Carlos d’Assumpção a localização não é tão boa. Espero que o Governo tenha em conta que é uma zona onde faltam lugares de estacionamento”, insistiu

O orçamento total para a reconstrução do edifício é 210 milhões de patacas, sendo que os moradores avançaram 70 milhões de patacas em Julho, sem contar com o apoio da Associação de Beneficência Tung Sin Tong. Até ao final de Julho foram usadas 62 milhões de patacas. Os moradores alegam ainda que a Associação dos Conterrâneos de Jiangmen ainda não reagiu ao pedido de reunião feito a 8 de Julho. Este encontro iria servir para debater a questão do fundo financeiro prometido para a reconstrução, onde estariam presentes os meios de comunicação social.

esses carros têm mais opções e isso vai contribuir para aliviar o trânsito”, indicou. Em resposta, Chan Pou Ha, directora da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), recusou comprometer-se com a ideia e apontou que o facto de se criar mais lugares, dos que os necessários para a administração,

origina a necessidade de cavar em maior profundidade. Este aspecto, segundo a responsável, pode até fazer com que o projecto não seja viável.

PROFUNDIDADE DA ESCAVAÇÃO

Mesmo assim, Chan Pou Ha sublinhou que o estacionamento vai ser feito de acordo com o número

De fora da discussão de ontem ficou o prédio na Avenida Rodrigo Rodrigues, sobre o qual várias associações, como a Novo Macau, se mostraram preocupadas por temerem que uma construção com 90 metros de altura possa bloquear a vista para o Farol da Guia. Sobre este aspecto, a director da DSSPOT afirmou no final, aos jornalistas, que a questão e as opiniões sobre o projecto ainda estão a ser estudadas antes de ser apresentado para uma nova discussão. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

DSSPT GARANTIDA SEGURANÇA NO PRÉDIO MEI LOK GARDEN

A

directora dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), Chan Pou Ha, considera que o surgimento de fissuras no prédio Mei Lok Garden está relacionado com a idade da construção, mas garante aos habitantes estarem reunidas condições de segurança. A responsável recusou qualquer ligação entre as fissuras no prédio e a construção do Posto Operacional Provisório dos Bombeiros da Ilha Verde. “Já disse que as fissuras são uma consequência da idade da construção, porque até estamos a falar de dois edifícios paralelos, mas que são independentes. Além disso, as fissuras têm tamanho limitado e pode ser preenchidas”, afirmou ontem Chan Pou Ha, à

saída da reunião do Conselho de Planeamento Urbanístico. Quanto às medidas de segurança no prédio foram ontem instalados sensores para acompanhar 24 horas

por dia a evolução das brechas. Os equipamentos foram colocados por uma entidade independente, depois de se concluir que não havia ameaça para a estrutura. “As fissuras são normais e acontecem em alguns edifícios. A investigação feita no local mostrou que não há problema da estrutura”, tranquilizou. Horas antes da directora ter falado sobre o assunto, a DSSOPT já tinha emitiu um comunicado sobre o caso, também no sentido de garantir que a situação é segura. “Segundo dados obtidos, a situação do edifício mantém-se estável e não há alterações significativas. A DSSOPT continuará a informar os representantes dos proprietários do edifício dos dados da monitorização”, foi prometido.


sociedade 7

quinta-feira 17.9.2020

JOGO CITIBANK REVÊ EM BAIXA PREVISÕES DE RECEITAS

O

banco de investimento Citibank reviu em baixa as previsões sobre as receitas do jogo de 7 mil milhões de patacas para 3,5 mil milhões de patacas, de acordo com um relatório sobre o mercado de Macau, citada pelo jornal Ou Mun. Segundo a justificação dos analistas, as observações no terreno apuraram que as receitas para os primeiros 13 dias de Setembro foram de 1,3 mil milhões de patacas. Entre 7 e 13 de Setembro as receitas diárias representaram uma média de 114 milhões de patacas, acima dos 83 milhões de patacas gerados por dia entre 1 e 6 de Setembro. A revisão em baixa deve-se principalmente aos procedimentos e ao tempo de espera no Interior entre os pedidos de visto individual de turismo e a emissão dos documentos, o que leva à limitação das entradas. Mesmo assim, o Citibank acredita que daqui a duas semanas vai-se sentir os efeitos da emissão de vistos e haverá um aumento significativo do número de turistas do Interior.

CRIME DETIDO SUSPEITO DA BURLA DE 13 MILHÕES DE PATACAS

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Polícia Judiciária (PJ) deteve um homem de 30 anos, natural da China, suspeito de ser o principal responsável por uma burla que vitimou um residente em mais de 13 milhões de patacas, pagas ao longo de três anos. O residente foi levado a pensar que estaria a manter contacto com uma prostituta, que nunca conheceu pessoalmente. Segundo informação da PJ, um residente e uma mulher foram detidos na última sexta-feira, dia 11, por fazerem parte “de um grupo criminoso” que praticara a burla. Esta terça-feira, a PJ interceptou o cidadão chinês, que, apesar de ter consigo 2,4 milhões de dólares de Hong Kong em dinheiro, negou que a quantia estivesse relacionada com o crime. O indivíduo disse “que ganhou o dinheiro no jogo, mas não conseguiu dizer quando e onde o ganhou, nem apresentou provas”. Pode ser acusado do crime de fraude e branqueamento de capitais e o processo foi encaminhado para o Ministério Público.

Um inquérito da Morgan Stanley revelou que há cinco hotéis totalmente esgotados para a Semana Dourada, um período que revela melhorias nas taxas de ocupação

SEMANA DOURADA CINCO HOTÉIS JÁ TÊM RESERVAS ESGOTADAS

Vai grão a grão

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INC O dos 23 hotéis de Macau abrangidos por um inquérito da Morgan Stanley já estão completamente cheios para o período da semana dourada, que começa dia 1 de Outubro, noticiou o GGRAsia. De acordo com a consultora, as vagas acabaram no Ritz-Carlton, Hotel Starworld, Morpheus, Studio City e no Four Seasons Macau. O inquérito revelou que dez dos hotéis de cinco estrelas estão com ocupação média de 80 por cento para esse período. De acordo com o Inside Asian Gaming, a semana entre 18 e 20 de Setembro também mostrou sinais positivos, com taxas de ocupação para dez hotéis entre os 50 e os 55 por cento, comparativamente a apenas 7 por cento em Julho. Em Julho, a taxa média de ocupação de quartos foi de 12,1 por cento no geral, um contraste claro com a taxa de 93,1 por cento do ano passado. Isto, apesar de o período médio de permanência ter aumentado ligeiramente. “O esquema nacional de vistos individuais vai recomeçar a partir de 23 de Setembro, uma semana antes da semana dourada de Outubro, o que deverá

aumentar a ocupação hoteleira”, indicaram analistas citados pelo GGRAsia. No entanto, apesar das melhorias significativas antes e durante a semana dourada, ficou a ressalva de que as receitas diárias médias do jogo “continuam fracas”. A equipa da Morgan Stanley observou que no ano passado, 19 de 23 hotéis já no início de Setembro tinham as reservas completas para os feriados da semana dourada.

IMPACTO NAS RECEITAS

A 26 de Agosto foi retomada a emissão de vistos turísticos para visitas a Macau na província de Guangdong, e a partir de 23 deste mês a emissão é alargada a toda a

China. Uma medida considerada essencial para revitalizar a indústria do jogo. Este ano, as receitas do jogo desceram de 22 mil milhões de patacas em Janeiro para 1.300 milhões em Agosto. O ponto mais baixo foi em Junho, mês em que as receitas se ficaram pelos 716

Apesar das melhorias significativas antes e durante a semana dourada, ficou a ressalva de que as receitas diárias médias do jogo “continuam fracas”

milhões de patacas. A tendência seguiu a descida de visitantes, que caiu da ordem dos 2,8 milhões no início do ano para 74 mil em Julho. De acordo com o GGRAsia, a Morgan Stanley comentou que a decisão de algumas instituições de ensino superior da China Continental de encurtar as férias dos alunos de oito para quatro dias vai ter “um impacto mínimo” no desempenho dos negócios na semana dourada em Macau. A ideia foi defendida pelo facto de os jovens entre 15 e 24 anos terem constituído apenas 10 por cento dos visitantes chineses no ano passado, e por não serem os principais clientes dos casinos. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

Furto Mulher rouba 42 mil patacas ao namorado Uma trabalhadora não residente, oriunda das Filipinas, foi detida pela Polícia Judiciária (PJ) por suspeita de furto 42 mil patacas ao namorado, da mesma nacionalidade. As autoridades tiveram conhecimento do caso na passada segunda-feira, quando o homem denunciou a perda do dinheiro e a suspeita de

que teria sido a sua namorada, com quem vivia, a autora do crime. Segundo informação prestada ao HM pela PJ, após interrogatório policial, a suspeita terá admitido o furto do dinheiro do guarda-roupa da alegada vítima para pagar uma dívida. A mulher foi transferida na terça-feira para o Ministério Público.


8 eventos

17.9.2020 quinta-feira

Natur

COPYRIGHT XIANG JING STUDIO

ARTFEM BIENAL DEDICADA À ARTE FEITA NO FEMININO

A ARTFEM - Bienal Internacional uma nova edição, desta vez sob o t artistas, oriundas de 22 países e re pintura, cerâmica ou escultura, entr

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STÁ de regresso a edição da ARTFEM - Bienal Internacional de Mulheres Artistas de Macau. Entre os dias 30 de Setembro e 13 de Dezembro poderão ser vistas obras feitas no feminino, todas elas ligadas ao tema “Natura”. O programa completo será anunciado esta sexta-feira. A edição deste ano conta com 143 trabalhos realizados por 98 mulheres de 22 países e regiões, como é o caso de Macau, Hong Kong, China, Coreia do Sul e Japão, entre outros. Todos os trabalhos que começaram a ser produzidos a partir de 2018 podem ser visitados em quatro locais diferentes: Albergue da Santa Casa da Misericórdia, antigo Estádio Municipal do Gado Bovino,

“A exposição pretende trazer à tona discursos urgentes sobre o meio ambiente, incluindo a sua protecção ou devastação, a relação da humanidade com a natureza.” ORGANIZAÇÃO DA ARTFEM

FRC ÓPERA “JENUFA” EM DEBATE HOJE ÀS 18H30

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CONTECE hoje, na Fundação Rui Cunha, uma nova sessão do ciclo “Ópera na Literatura”, inserida na iniciativa “Conversas Ilustradas com Música”. Desta vez a palestra versa sobre a ópera “Jenufa”, composta por Leos Janacek, estreada pela primeira vez na cidade de Brno, na República Checa, em 1904. Shee Va,

médico e autor, junta-se a Radka Návarová, professora de línguas, para abordar o livro “Os Testemunhos Traídos”, de Milan Kundera, autor checo que tem Janecek como um dos personagens. “Iremos conhecer o autor e alguns capítulos do livro. Quem é Milan Kundera? Um escritor francês ou checo? Como viveu ele o

exílio? Convidámos Radka Návarová, licenciada em Filologia Checa e Filologia Germânica, professora de língua checa, espanhola e alemã, para nos responder a estas perguntas. Vamos ainda procurar discutir a problemática de um autor emigrado, cuja dor foi suplantada pela música, nomeadamente o amor à pátria, à língua e a

Leos Janacek, o pai da ópera em prosa”, explica a FRC, em comunicado. Os participantes poderão conhecer mais sobre “Jenufa” e toda a sua história. “Ficaremos a conhecer as características musicais desta obra que a torna excepcional e uma das mais representadas do repertório checo”, conclui a FRC.

Galeria Lisboa e Casa Garden, da Fundação Oriente. Segundo um comunicado da organização, “a mostra inclui pintura, escultura, cerâmica, instalações, desenho, serigrafia em diversos suportes, vídeo e fotografia”. “A exposição pretende trazer à tona discursos urgentes sobre o meio ambiente, incluindo a sua protecção ou devastação, a relação da humanidade com a natureza, ao mesmo tempo que integra um ‘olhar’ sobre os aspectos sociais decorrentes da sua localização na RAEM e da crise pandémica covid-19, que afecta o mundo desde Dezembro de 2019”, explicam os curadores. A escolha de quatro locais diferentes para a exposição prende-se com o desejo da organização de “proporcionar ao público um ‘sentimento de bienal’, não se circunscrevendo apenas a um local”. Neste sentido, “a intenção curatorial pensava inicialmente intervir no espaço público, mas a crise da covid-19 fez com que as exposições acontecessem exclusivamente em ambientes fechados”.

CONTINUAÇÃO DO SUCESSO

A primeira edição da ARTFEM aconteceu a 8 de Março de 2018 e decorreu apenas no Museu de Arte de Macau. Com uma nova edição, os curadores pretendem “dar continui-


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quinta-feira 17.9.2020

reza viva

O INAUGURA DIA 30

de Mulheres Artistas de Macau está de regresso para tema “Natura”. O público poderá ver trabalhos de 98 egiões, numa mostra que inclui trabalhos na área da re outras

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e para uma (re) descoberta da arte no feminino, orientando as artes locais para um padrão internacional e trazendo experiências artísticas mais dinâmicas para o público e para os turistas”. Com a ARTFEM, o Albergue SCM "pretende trazer novas experiências artísticas ao público, aumentando a visibilidade de Macau no panorama artístico internacional”. Os curadores da ARTFEM são o arquitecto Carlos Marreiros, que preside à bienal e que, nesta edição, assume o papel principal na curadoria. Angela Li, artista, é outra das curadoras que traz “um enfoque chinês” à iniciativa. Alice Kok e James Chu foram os responsáveis pela selecção dos artistas de Macau e de Hong Kong, enquanto que Leonor Veiga fez a escolha dos artistas internacionais juntamente com Carlos Marreiros. Se na primeira edição a ARTFEM contou com a pintora Paula Rego como madrinha, desta vez foram escolhidas as artistas Xiang Jing, da China, e Un Chi Iam, de Macau. dade a esta exposição internacional recrutando artistas de todo o mundo, elevando a visibilidade das mulheres contemporâneas e do seu papel social decisivo na arte e na cultura”.

Por ser a única bienal do mundo inteiramente dedicada à arte feita no feminino, a ARTEFM visa “contribuir para uma maior visibilidade das mulheres no mundo contemporâneo

Andreia Sofia Silva

info@hojemacau.com.mo

Olha o robôt

Leonel Moura na exposição de arte computacional na China

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artista português Leonel Moura, pioneiro da arte robótica em Portugal, vai participar numa exposição colectiva de arte computacional que é inaugurada a 26 de Setembro no Ullens Center for Contemporary Art (UCCA), em Pequim, na China, foi esta quarta-feira anunciado. A exposição intitula-se "Imaterial/Re-material: uma breve história da arte computacional", reúne 29 artistas de vários países e ficará patente até 17 de Janeiro de 2021, segundo informação da página 'online' da Direcção-Geral das Artes. A exposição fornece uma visão abrangente da evolução da arte computacional, desde a década de 1960 até ao presente, "explorando vários tópicos e práticas, não apenas como arte digital em geral, mas como uma arte que se engaja activamente com os algoritmos e lógicas generativas que sustentam o campo da computação". O título homenageia a exposição considerada inovadora de Jean-François Lyotard, de 1985, "Les Immatériaux", que introduziu um novo modo de materialidade que ecoou os avanços das tecnologias das telecomunicações. "Imaterial/Re-material" pretende "escrever um novo capítulo na história deste meio, abordando-

-o não apenas como uma nova forma de expressão, mas como uma linguagem artística por inteiro", acrescenta o comunicado sobre a exposição.

ARTISTAS DO MUNDO

Organizada pelo curador Jerome Neutres, em colaboração com a curadora do UCCA Ara Qiu, a mostra foi possível graças ao suporte tecnológico do parceiro líder em Inteligência Artificial, Baidu, e ao suporte organizacional e empréstimo da Fundação Guy & Myriam Ullens. Além do português Leonel Moura, também participam nesta exposição, entre outros, os artistas Memo Akten e Refik Anadol, da Turquia, Michel Bret, Laurent Mignonneau e Edmond Couchot, de França, Daniel Rozin, de Israel, Leo Villareal, dos Estados Unidos, Manfred Mohr e Frieder Nak, da Alemanha, Celyn Bricker, da Grâ-Bretanha, Faye Lu, Lu Yang, Yang Yongliang e Liu Wa, da China, Miguel Chevalier, do México, Ryoji Ikeda, do Japão, e Christa Sommerer, da Áustria. Os coleccionadores de arte e empresários Guy e Myriam Ullens fundaram o UCCA em 2007, e em 2017 evoluiu para o Grupo UCCA, sob a propriedade e direcção de um novo grupo de patrocinadores e accionistas.

CINED CINEMATECA PORTUGUESA VAI LIDERAR PROJECTO EUROPEU DE EDUCAÇÃO FÍLMICA

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Cinemateca Portuguesa vai liderar, nos próximos dois anos, um projecto europeu de educação cinematográfica, intitulado CinEd, que contará com apoio financeiro do programa Europa Criativa, revelou ontem a instituição. O CinEd foi criado em 2015 e coordenado desde então pelo Institut Français,

mas a Cinemateca Portuguesa viu agora aprovada a candidatura para prosseguir este projecto europeu, liderando um consórcio que tem como objectivo "promover a descoberta do cinema europeu junto dos jovens entre os 6 e os 18 anos". O trabalho no CinEd será desenvolvido em colaboração com escolas, professores

e os oito membros deste consórcio para a educação fílmica: Portugal, Espanha, Itália, Bulgária, França, República Checa, Croácia e Alemanha. Segundo a Cinemateca, o projecto CinEd terá um orçamento de cerca de um milhão de euros, dos quais 70 por cento serão financiados pelo programa Europa Cria-

tiva Media e, os restantes 30 por cento, pelos parceiros a envolver. "Nesta fase, integra ainda como parceiros portugueses a Associação Os Filhos de Lumière e a empresa MOG Technologies SA, enquanto parceiro tecnológico", refere a Cinemateca. Nos cinco anos de existência do CinEd, foram feitas

cerca de 1.400 projecções de cinema para mais de 62 mil alunos e 233 ações de formação para professores. De acordo com informação da Europa Criativa, no âmbito dos projectos europeus de educação fílmica, a Fundação de Serralves integrará, enquanto membro, um projecto liderado pela cinemateca da Alemanha,

intitulado "Cinemini Europe", que será financiado em cerca de 372 mil euros. "A linha de financiamento Europa Criativa Media Educação Fílmica destina-se a apoiar um consórcio de entidades europeias que se proponham criar um catálogo de obras europeias e respectivos materiais pedagógicos", acessíveis para jovens.


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17.9.2020 quinta-feira

EXÉRCITO PEQUIM DIZ QUE EXERCÍCIOS SÃO SINAL PARA TAIPÉ E OS SEUS ALIADOS

Avisos à navegação

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China disse ontem que as recentes movimentações do exército chinês perto de Taiwan constituem um sinal deliberado para os líderes da ilha e aliados estrangeiros de que Pequim pretende defender o que considera a sua soberania. Ma Xiaoguang, porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado da China, disse que os exercícios militares são uma “medida necessária”, já que os líderes de Taiwan “têm vindo a envolver-se em actividades destinadas a promover a independência formal” da ilha. O porta-voz acusou ainda Taipé de procurar apoio do exterior, com o intuito de impedir o desenvolvimento da China. “A situação entre os dois lados é agora mais grave

e complexa. As autoridades do Partido Democrata Progressista e as forças independentistas de Taiwan estão por trás disto”, acusou Ma, referindo-se ao partido actualmente no poder em Taiwan, e que renovou o seu controlo da presidência e do parlamento nas eleições deste ano. “Temos a determinação e a capacidade de derrotar todas as actividades de independência de Taiwan e salvaguardar resolutamente a soberania nacional e

a integridade territorial”, disse Ma, em conferência de imprensa. Taiwan afirmaram que aviões de guerra chineses entraram no seu espaço aéreo por duas vezes, na semana passada, durante exercícios militares de grande escala, vistos por Taipé como uma “grave provocação a Taiwan e uma ameaça séria à paz e estabilidade regionais”. O Governo taiwanês disse que as acções do Exército de Libertação Popular, as forças armadas da China,

“Temos a determinação e a capacidade de derrotar todas as actividades de independência de Taiwan e salvaguardar resolutamente a soberania nacional e a integridade territorial.” MA XIAOGUANG ASSUNTOS DE TAIWAN DO CONSELHO DE ESTADO DA CHINA PUB

ameaçam toda a região, e exortou a comunidade internacional a reagir.

LAÇOS CORTADOS

China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. A China tem intensificado a sua ameaça de reunificar a ilha pela força militar, através de exercícios militares frequentes e patrulhas aéreas. Pequim cortou o contacto com Taipé após a eleição, em 2016, da Presidente Tsai Ing-wen, que foi reeleita este ano, e tem procurado isolar Taiwan diplomaticamente, enquanto aumenta a pressão política, militar e económica. Na reunião de quarta-feira, Ma evitou questões sobre a decisão do Partido Nacionalista de Taiwan, afecto a Pequim, de não enviar uma delegação para participar num fórum económico e cultural que se realiza todos os anos na cidade chinesa de Xiamen. Ma limitou-se a considerar que a decisão se deveu à política interna de Taiwan.

H&M EMPRESA ROMPE COM FORNECEDOR POR SUSPEITA DE TRABALHO FORÇADO DE UIGURES

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rede de moda sueca Hennes and Mauritz (H&M) anunciou ontem que vai terminar o seu vínculo com um fornecedor chinês face a alegações sobre o uso de trabalho forçado de membros da minoria étnica de origem muçulmana uigur. Numa nota divulgada pela agência Efe, a H&M garante que, nos próximos doze meses, vai terminar o seu relacionamento com a empresa chinesa Huafu Fashion, que terá contratado trabalhadores uigures através de um programa de relocação forçada das suas terras natais, em Xinjiang, região do noroeste da China. A empresa sueca esclareceu que tem apenas uma “relação comercial indirecta” com a fábrica de algodão Huafu Fashion, na província de Zhejiang, leste da China, mas negou que o seu nome seja citado directamente no relatório da Australian Strategic Policy Institute (ASPI). A unidade de investigação australiana acusou directamente várias empresas, in-

cluindo a Apple, Nike, Adidas, Samsung, Sony ou Volkswagen, e também firmas chinesas como a Huawei, de usarem mão-de-obra através daquele programa de relocação forçada. Segundo a ASPI, cerca de 80.000 muçulmanos da etnia uigur foram removidos da região noroeste de Xinjiang, entre 2017 e 2019, para trabalhar em fábricas em toda a China, onde recebem “formação ideológica” e estão proibidos de participar em cerimónias religiosas, além de vigiados e limitados na sua liberdade de movimento. A empresa sueca indicou que a decisão de encerrar o seu vínculo com a Huafu Fashion se deve ao facto de ser membro da Ethical Trading Initiative (ETI): “considerando o risco de abuso dos direitos dos trabalhadores e até que as condições sejam atendidas em Xinjiang para devida diligência, foram dados passos em linha com as recomendações da ETI”.


quinta-feira 17.9.2020

Tu és maior que esta alegria de haver rios

Diário de Próspero António Cabrita

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problema com o mal é que é superficial e raras vezes ultrapassa o recorte da opereta. Ou seja, não é Lady Macbeth quem quer – até Macbeth soçobrou na tentativa. No desfecho do primeiro encontro entre o Fausto e o Mefistófeles, de Goethe, isso é-nos caridosamente explicado, quando o mafarrico, na impossibilidade de sair do Gabinete de Estudo conforme quer, concede que a “lei” não muda, o que leva Fausto a observar, triunfante: «Então até o Inferno tem as suas leis. Isso é óptimo. Quer dizer que um pacto feito com os senhores seria fielmente respeitado.» Pois é: então afinal o Diabo desordena, trapaceia, muda o quê? Pobre mártir das aparências. Daí que no essencial a tentação satânica traduza uma mera aceleração das potências do desejo ou funcione como um momentâneo e hipnótico inibidor do bem, sem que seja um domínio. É um enredo que entretém, sem resolver o enigma. Para o comprovar basta não ceder à coerção da violência: aí constata-se como o mal se dilui; de si mesmo alheio. Grande parte do mal advém de um desespero que não acedeu à lucidez, de uma energia mal orientada. Em Moçambique calhou-me enfrentar situações em que julguei estar face ao Mal. Essa percepção da maldade humana que experimentei, sufocava-me. Até que me apercebi que essas figuras vogavam em práticas de vida agónicas, e como, para além de se não divisar a vantagem que tiravam da sua ruindade, se sentiam absolutamente perdidas. Tornava essa irracionalidade mais distorcida a sua maldade? Sim, mas esvaziava-se no seu acto circunstancial, eles não representavam qualquer entidade – apenas, os filhos da mãe, desconheciam a bondade. Aí o “poder” inverteu-se. A obscenidade com que demasiadas vezes a ficção aposta no mal como efeito-placebo de uma suposta totalização do real resulta de uma necessidade que houve a jusante de dotar as narrativas de uma dimensão extra-moral (e foi uma dessacralização necessária, justíssima), mas a montante a representação do mal fetichizou-se, vulgarizou a perversão. Passou-se só a figurar a sombra, a violência, o mal, da mesma forma que a comunicação social ficou refém dos efeitos dramáticos que “intensificam” as mensagens. Talvez não fosse mau – lá está! - conseguirmos contrapor a esta pulsão uma certa «disseminação amante», usando uma expressão feliz de Ramos Rosa. Creio que uma das chaves para entender o Pessoa é aceitar que a sua multiplicidade nasce da sua resposta ao problema do Mal: primeiro o medo (ao que se enraízava na sua declarada compulsão para a loucura) levou-

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Do mal e da farsa

-o a criar, em vez de fantasmas, duplos de si que o tornassem insituável, por fim, converteu-se na compreensão de que no uso do mal afinal só se condensa a escória de um tempo perdido e, que, em contrapartida, a prática do múltiplo vitamina o bem. Pessoa não está só nesta intuição, também Valery escreveu: «Penso muito sinceramente que se cada homem não pudesse viver uma quantidade de outras vidas para além da sua, nem a sua própria ele poderia viver». Há outra questão que não é de somenos. A tentação faustica – na sua face patológica, havendo outra benigna – pode nascer de uma fonte psíquica pouco sa-

Como antídoto ao seu próprio “métier”, Mefistófeles lembra que é necessário romper com a tradição para surgir a novidade. Uma das mensagens mais inesperadas de Fausto e uma das mais actuais

dia: a identificação com o equívoco que às vezes norteia a ideia de ser-se eleito. Fausto simboliza a arrogância de espírito que se julga acima da fona da populaça! Por isso desdenha de proximidades com a massa, ignara e tola, e impaciente observa: «É já tempo de provares, por actos, que a dignidade do homem não fica atrás da grandeza de um Deus», estatelando-se estridentemente na soberba. É normal que então se interrogue sobre como poderiam sobrevir soluções ou respostas para o mundo de alguém mais senão dele. Aí faz o pacto. Para se situar acima da média humana. Uma proposição nos antípodas de um lema de Zambrano que devíamos adoptar como antídoto para tanta sandice a que assistimos: “nada real deve ser humilhado”. O que nos convida a uma descentralização do nosso lugar de sujeitos e a trocarmos uma antropologia assimétrica por um imaginário que seja rizomático. E como no fundo não era melhor que os demais, rapidamente, dos pedidos de Fausto a Mefistófeles, ressuma a falência das suas ideias mais nobres: sobressaem as questões acessórias, egoístas, subjectivas, os pequenos inhos, a fatalidade de quase condenar Margarida, por afinal ser tudo igual nos “céus” a que o transporta Mefistófeles ao que na terra se desenhava. É-me difícil por conseguinte ler o Fausto a não ser como farsa.

Contudo, às duas por três no Sabbath final há uma bruxa que se propõe vender pechinchas de toda a espécie e que entretanto avisa: «(...) nada vendo que não haja igual na terra, ou que um dia não tivesse feito mal aos homens e ao mundo. Não há aqui punhal que não tenha derramado sangue; nem taça que não tenha vertido num corpo são o seu veneno activo (...) nem enfeite que não tenha seduzido mulheres virtuosas; nem espada que não tenha quebrado uma aliança (...)» etc. O que leva Mefistófeles a ripostar: «Longe estais de entender os novos tempos, boa amiga; o que lá vai, lá vai. Mostrai-nos coisas novas, só nos atrai o que for novidade.» Como antídoto ao seu próprio “métier”, Mefistófeles lembra que é necessário romper com a tradição para surgir a novidade. Uma das mensagens mais inesperadas de Fausto e uma das mais actuais. Talvez, contra esta tradição obsessiva do mal que em termos políticos e militares já ressuscitou modelos arcaicos como a Lei de Talião, tenha chegado o momento de, como ateus (é o meu caso), não nos envergonhar romper e aceitar os gestos de beleza ou de bondade, e que à competitividade doentia possamos preferir a emulação do jogo; recuperando algo desse espírito trágico que nos advertia: existe o mal... e também há as alegrias incuráveis, como na vida - e não como nos regimes dominantes da ficção actual.


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Retrovisor Luís Carmelo

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A semana passada reflecti sobre os últimos romances que escrevi. Reservo hoje este espaço para uma reflexão paralela, incidindo agora na poesia. Começo por relembrar um poeta que foi meu professor de liceu, Fernando B. J. Martinho, e que, em 1970, fez publicar um livro intitulado ‘Resposta a Rorschach’. Trata-se de uma resposta poética às teses do psiquiatra suíço. Este modelo de diálogo - ao jeito de um directo vaivém - marcou-me bastante ao longo dos anos, mas nunca imaginei que acabasse por vincar de um modo tão acentuado a poesia que tenho escrito nestes últimos anos. Para a corrente hermenêutica que singrou na Alemanha nos anos 70 do século passado, sobretudo através de Hans Gadamer e de Hans Jauss, uma obra de arte é sempre a resposta a uma pergunta potencial, cabendo ao intérprete determinar essa pergunta e qual o modo como a obra lhe responde. Seguindo as pisadas de ‘Resposta a Rorschach’, os meus últimos livros de poesia têm respondido a interlocutores muito claros e de uma maneira que pouparia o trabalho que Jauss e Gadamer reservaram ao desgraçado do intérprete. A minha primeira aventura neste modelo aconteceu com o ‘Tratado’, livro composto por mais de trinta evocações a obras a que recorri ao longo de décadas (sobretudo devido às aulas). Sem que desse por isso, essas obras foram criando lendas e efabulações próprias que nada tinham que ver com o conteúdo que nelas se anunciava e congeminava. O papel dos poemas foi o de assaltar e pôr a nu a intimidade dessas lendas, geralmente bastante informes e abstractas. Um frente a frente com mais conotações e derivações de que uma simples resposta, facto que nos três livros posteriores teria já outros contornos. Comecemos por ‘Lucílio’, livro composto por 45 poemas que respondem às 124 cartas escritas por Séneca a Galo Lucílio Junior, durante a primeira metade dos anos sessenta da nossa era. O diálogo proposto não é denunciado e encontrou a sua forma nos hiatos deixados em branco pela linguagem das ‘Espitulae’. Na sua oitava carta, Séneca deixou vincada a elasticidade com que a filosofia e a poesia se brindam mutuamente (“Quantos poetas há que já disseram o que os filósofos ou já disseram também ou hão-de dizer um dia!”). Ao fim e ao cabo, nada nos pertence. Conceitos do último século, tais como a paródia, o intertexto ou o dialogismo, confirmam este despojamento das oficinas literárias e existenciais. Aliás, Séneca sinalizou esta verdade logo na sua primeira carta: “Nada nos pertence, Lucílio, só o tempo é mesmo nosso”. O poema 40 reage à concepção estóica de que tudo à nossa volta são corpos: “...de véspera somos sempre incorpóreos/ ao ler os mais

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Ecos do velho liceu

Seguindo as pisadas de ‘Resposta a Rorschach’, os meus últimos livros de poesia têm respondido a interlocutores muito claros e de uma maneira que pouparia o trabalho que Jauss e Gadamer reservaram ao desgraçado do intérprete

breves/ sinais/ que são inevitavelmente corpos// pois tudo quanto tenha força suficiente/ para nos impelir/ forçar ou impedir os movimentos// têm que ser também corpos// a liteira de séneca/ levada pelos escravos/ era ainda um corpo// e pesado...” (Poema 40). Passemos a ‘O Pássaro Transparente’ que se baseou numa resposta ao ‘Poema à Duração’ de Peter Handke. Se a duração é um propagar do imensurável, o tempo é a construção que ancora e se confunde com cada um de nós. Perceber este contraste é perceber que só há sentido no tempo. Bem sei que nem todo o tempo é homogéneo ou cronológico. Existem intensidades e grandes fugas que irradiam e que parecem, por vezes, lançar-nos num domínio que gravitaria

fora do tempo. É o que acontece com certas assinaturas da experiência, caso do amor e de algumas viagens (nem sempre na casa da geografia). O tom de resposta neste texto é relativamente directo e abre-se, tal como no livro de Handke, a intervalos memoriais: “Como vês/ meu caro Peter/ também tive manhãs que foram únicas/ preciosas/ desensonadas// e apesar disso é como se não lhes pertencesse/ por causa da penugem negra dos guarda-chuvas/ e sobretudo por causa dos maus/ augúrios.// Com o indicador tive a tentação de esmagá-los/ um a um/ tal como se esmaga a penumbra no mar vermelho// lembro-me de que as montanhas eram de cor violeta/ escura// para verter o futuro do passado/ e coar a matemática da libertação até ao ermo/ dos corais. // No mesmo instante em que escrevias/ o teu poema// eu estava na praia de Dahab com a Ahuva/ uma polaca israelita e também goesa/ que muitos anos depois/ (foi o meu irmão que mo disse)/ viria a morrer num acidente de viação no Punjab…”. Deixemos para o final ‘Ofertório’ que é uma resposta clara ao livro ‘A Poesia do Pensamento’ de George Steiner. O retorno por que optei neste volume não foi também de teor mecânico, nem planificado, embora os poemas tenham sido redigidos seguindo a cronologia do livro base. Na Parte III, indo ao encontro da tese de Steiner, segundo a qual a linguagem filosófica e a linguagem poética têm uma mesma fonte, ficou registado que - “escrever é desabar/ dispor o barro atirado ao ar/ para que a parede se mova ao fim da tarde/ a receber as borboletas./ de início é desabar/ fazer como as borboletas que fracturam./ por fractura entende-se/ uma imensidão desregrada/ e é isso que a torna nítida/ é pois preciso trabalhar o escuro/ não com as mãos/ mas com o corpo todo que descentra o infinito/ permitindo encará-lo como mais um marinheiro/ de passagem…”. Se na matéria romanesca desconfio que ando a tentar sarar temas de amplitude incerta (temáticas sem perímetro definido, mas que apertam a garganta dos dias), já na matéria poética pareço um pouco mais desperto, como se existisse uma tertúlia virtual que me estivesse a espantar as solidões do fim da tarde. Na verdade, tal como o profeta Jonas sentado diante da cidade de Nínive à espera apenas do inesperado, nunca se saberá bem o que andamos todos a fazer neste mundo. Livros citados: - ‘Tratado’ (2018, Abysmo, Lisboa. Livro recomendado em 2018 pelo Plano Nacional de Leitura. Livro finalista do Prémio Literário Casino da Póvoa / Correntes d´Escritas-2019. Livro pré-finalista do Prémio Oceanos-2019); ‘Ofertório’ (2018, Nova Mymosa, Lisboa); ‘O Pássaro Transparente’ (2019, Nova Mymosa, Lisboa) e ‘Lucílio’ (no prelo; 2021, Abysmo, Lisboa).


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Um filme de: Cristopher Nolan Com: John David Washington, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki 14.30, 18.00, 21.00

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A actriz Jane Fonda, que acaba de publicar um novo livro sobre activismo e a crise climática, disse num evento virtual que não sacrificaria os seus princípios para proteger a sua longa carreira em Hollywood. “Nunca colocaria a carreira à frente da luta pelo que acredito que é importante”, afirmou Fonda.”Fui posta

TENET [B]

FALADO EM INGLÊS LEGENDADO EM CHINÊS 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 24

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numa ‘lista cinzenta’ nos anos 70, mas isso não me fez mudar o que eu estava a fazer por causa da guerra do Vietname”, disse a actriz. Agora, “precisamos de números sem precedentes de americanos a irem para as ruas e agirem em desobediência civil”, afirmou.

UMA SÉRIE HOJE

COBRA KAI | JON HURWITZ, HAYDEN SCHLOSSBERG E JOSH HEALD

I’M LIVING’ IT [B] Um filme de: WONG Hing Fan

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Com: Aaron KWOK, Miriam YEUNG, Alen MAN 14.30, 19.00

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Vi e revi mais do que devia os filmes “The Karate Kid”, sem gostar particularmente de nenhum. Mas, como o “Sozinho em Casa”, a saga de Daniel LaRusso e Mr. Miyagi teimava a passar-me pelos olhos. Daí as reticências em “meter-me” na série disponível na Netflix “Cobra Kai”, que pega no puto vilão do primeiro filme e o transforma num protagonista que imediatamente capta a simpatia.Asérie, apesar de manter as premissas narrativas teen manhosas anos 80, vale bem a pena. É viciante, nem que seja para ver o Daniel-san transformado num idiota. Cobra Kai é um compêndio de clichés, mas isso não interessa nada. João Luz

3 8 5 8 4 7 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes 7 6 Colaboradores Anabela 0 Canas; 1António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; 8 3 LoboPinheiro;Gonçalo5 Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David 8Chan;7João6 Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje www. Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare hojemacau. 7com.mo 9 Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 5 9 2 1 0 4 8 6


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17.9.2020 quinta-feira

A Covid-19 e as

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“What is true of all the evils in the world is true of plague as well. It helps men to rise above themselves. Albert Camus

vírus da Covid-19 está a tentar destruir-nos, moralmente, psicologicamente e fisicamente. Quero acreditar que não terá sucesso, mas temos de aprender com o que nos está a acontecer. Devemos insistir que muito mais dever ser investido na saúde pública e na investigação, por exemplo, o que é exactamente o oposto do que se tem feito. No entanto, também não creio que seja suficiente. Considerando que estamos perante uma pandemia, as respostas não podem ser apenas locais, regionais ou estatais. Devem ser globais. Precisamos de reflectir sobre a direcção que seguimos, e não podemos deixar de repensar a relação entre nós, seres humanos, e a natureza que nos acolhe. Uma natureza que nos pode proteger mas que também nos pode destruir, como nos mostrou muitas vezes. Esta pandemia é também o resultado de uma subestimação da ligação entre o bem-estar humano e a protecção dos ecossistemas e da natureza selvagem. Quanto mais cedo compreendermos, mais cedo seremos capazes de nos defender contra ameaças futuras. Porque, estou convencido que está tudo muito bem atado, demonizado, rejeitado ou loucamente amado senão venerado. É quase mais rápido do que a luz e percorre distâncias muito longas em segundos. É por vezes sincero, outras vezes mentiroso. É capaz de perceber a particularidade, mas não a essência. No mundo digital, anti-físico, onde as distâncias são encurtadas e estamos todos mais próximos, é onde vivemos nestes estranhos dias. É aí que nos podemos ver, ouvir, mas não tocar. Não consigo sentir a brisa leve no rosto, a superfície aveludada de uma flor ou o cheiro de um jasmim para além do que existe neste ecrã. É aqui mesmo, o lugar onde vivemos apenas a meio caminho, este limbo que abençoamos e amaldiçoamos ao mesmo tempo porque não temos alternativa. E para dizer que quando éramos livres de escolher, escolhemo-lo demasiadas vezes. Na vida temos de aprender a apreciar o que temos e não esperar o que nos falta. Por isso, agora que não temos alternativas, não há problema. Mas lembremo-nos de escolher amanhã. A greve digital e a luta pelo ambiente O mundo digital sempre dividiu a opinião pública mas, há que reconhecê-lo, nunca antes se revelou tão fundamental. Os doentes isolados podem dizer adeus às suas famílias, por exemplo. As crianças e os jovens podem continuar

as suas actividades educativas, podemos ter a certeza de como os nossos amigos e familiares estão, alguém pode continuar a trabalhar e receber um salário. A dimensão virtual também está a revelar-se útil para os activistas ambientais. A escolha deste meio, obviamente, vem da necessidade de não desaparecer e ser esquecido e, ao mesmo tempo, da vontade de permanecerem unidos. A Covid-19 privou de facto as reuniões para o futuro de algo fundamental, ou seja, dos espaços de agregação. Ainda agora, depois de anos de lutas ambientais e de ignorar relatórios científicos, tínhamos finalmente conquistado a atenção do mundo, da imprensa, dos Estados e da ONU. Agora mesmo deveríamos ter estado ainda mais presentes e urgentes, especialmente depois dos resultados falhados do Cop25 em Madrid em Dezembro de 2019. O vírus chega e diz-nos: PAREM. A primeira observação fundamental que podemos fazer, verificável em textos científicos, é que os animais podem actuar como reservatórios de parasitas e vírus que, explorando condições de contacto estreito entre o homem e os animais selvagens, podem fazer saltar as chamadas "espécies". Foi assim que se desenvolveram geralmente as grandes epidemias da história humana, desde a praga de 1348 e 1630 até ao Ébola ou SAR. Os vírus são organismos capazes de se reproduzir com taxas de crescimento exponenciais e em muito pouco tempo. Para o fazer, porém, precisam de uma célula chamada "hospedeiro". Estes microrganismos patogénicos são revestidos de proteínas e gorduras com estruturas complementares às das células que os podem hospedar: para simplificar, é como se tivessem uma chave e a célula hospedeira tivesse a fechadura certa. Isto significa que os vírus podem entrar nas células através deste mecanismo de bloqueio de chave, infectá-las e eventualmente modificá-las de modo a que comecem a replicar o material genético viral em vez do seu próprio material. Além disso, alguns vírus são capazes de escapar ao sistema imunitário o tempo razoável para infectar células suficientes no corpo que atacaram, sem que este seja capaz de se defender. Neste ponto, o organismo hospedeiro pode teoricamente infectar outros indivíduos mesmo de espécies diferentes, desde que estes não sejam demasiado diferentes a nível genético. Caso contrário, a chave e a fechadura não coincidem e nesse caso... estamos salvos! Infelizmente, não é o fim da história. Precisamente porque se multiplicam em milhões num espaço de tempo muito curto, os vírus podem facilmente sofrer mutações e modificar o seu genoma, adaptando-se a novos ambientes e produzindo chaves diferentes. Muitas destas mutações não atingem o seu objectivo, mas algumas podem ser as correctas para infectar novas espécies. A probabilidade de isto acontecer aumenta quando as espécies em questão têm uma composição genética semelhante. Por

exemplo, é o caso dos porcos e das aves, que são bastante semelhantes em termos genéticos aos humanos, para não mencionar os primatas, como os chimpanzés, com os quais partilhamos 98 por cento do genoma. Cada novo hospedeiro que o vírus patogénico consegue conquistar é uma chave extra na sua posse. Se um vírus tiver a sorte de fazer a espécie saltar com o homem... bingo! Será confrontado com milhares de milhões de indivíduos que gostam de viver em sociedades e de viver em cidades com uma densidade populacional muito elevada. São milhares de milhões de organismos em constante movimento que viajam de uma extremidade do globo para a outra. É assim que se desenvolve uma pandemia. As doenças que os animais nos transmitem são chamadas zoonoses e, em geral, o nosso sistema imunitário não tem a informação para as combater. De acordo com a revista científica "The Lancet": "Mais de 60 por cento das doenças infecciosas humanas são causadas por agentes patogénicos partilhados com animais selvagens ou domésticos. As zoonoses emergentes representam uma ameaça crescente para a saúde global e causaram prejuízos económicos de centenas de milhares de milhões de dólares nos últimos vinte anos". Existe realmente uma ligação entre a pandemia que enfrentamos e o nosso modo de vida? Podemos aprender alguma lição

com ela? Sim, tanto quanto se pode ver, existe uma ligação. As alterações no uso do solo antropogénico conduzem a uma série de surtos de doenças infecciosas e eventos de emergência. Modificam a transmissão de infecções endémicas típicas de uma determinada área do planeta. Estes condutores incluem invasões agrícolas, desflorestação, construção de estradas e barragens, irrigação, modificação de zonas húmidas, mineração, concentração ou expansão de ambientes urbanos. Estas mudanças causam uma cascata de factores que exacerbam o aparecimento de doenças infecciosas. Para além da Covid-19, há vários exemplos de doenças causadas pela acção humana contra a natureza, incluindo a leishmaniose e a febre-amarela. A violação de ambientes não contaminados coloca o homem em contacto com novos seres vivos e, enquanto novas espécies podem ser descobertas, existe o risco de entrar em contacto com vírus e parasitas para os quais não desenvolvemos defesas imunitárias. Além disso, muitas espécies selvagens vêem-se obrigadas a abandonar o seu habitat invadido e, em busca de abrigo ou alimento, tendem a aproximar-se dos centros urbanos. Existem várias causas relacionadas com a questão ambiental que podem ter causado e facilitado a propagação do coronavírus pois as alterações climáticas que modificam o habitat dos vectores animais destes vírus, intrusão humana num


opinião 15

quinta-feira 17.9.2020

perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

desigualdades sociais

número crescente de ecossistemas virgens, sobrepopulação, frequência e velocidade de circulação de pessoas. Claro que, de momento, não temos qualquer certeza sobre como este nível de propagação do vírus foi atingido. Está mesmo a ser questionado se o primeiro surto ocorreu na China. O que podemos certamente ver, no entanto, é que desde que o confinamento começou e a grande maioria das pessoas deixou de sair e muitas fábricas e actividades de produção, assistimos a uma redução drástica da poluição por dióxido de azoto em todo o mundo. Os países e regiões que foram primeiro sujeitas às medidas mais restritivas houve uma redução enorme de CO2 causada pelo tráfego de veículos. O encerramento de escolas, escritórios e lojas levou a uma redução ainda maior de dióxido de carbono devido aos sistemas de aquecimento em apenas uma semana. A diminuição para níveis mínimos de tráfego aéreo fez reduzir de forma brutal as reduções de CO2! Alguns de nós não terão sequer escapado às imagens difundidas nos jornais e nas redes sociais das águas transparentes de rios que atravessam algumas cidades Europeias, dos golfinhos que reapareceram ou de coelhos e lebres que se apropriaram de parques. A natureza está presente em todas as nossas cidades e, se lhe dermos espaço, voltará para nos visitar e para nos lembrar que poderíamos viver pacificamente juntos.

Esta deve ser uma das reflexões a trazer para a agenda, quando pudermos recomeçar de novo. As emergências que vivemos e a agitação de hábitos a que tivemos de nos adaptar não são o resultado de uma escolha livre e de uma verdadeira mudança na nossa mentalidade, mas medidas necessárias para lidar com uma ameaça à nossa saúde. A pandemia não é, nem pode ser, uma coisa boa na luta contra as alterações climáticas. Houve uma redução nas emissões e na poluição, depois de todos termos tido de nos fechar de um dia para o outro, é verdade, mas não é obviamente um exemplo virtuoso a seguir. Uma sociedade com emissões zero não é uma sociedade onde tudo deve ser congelado, onde nada é produzido e onde não há socialidade. Pelo contrário, é o oposto! Queremos uma sociedade que não se feche, que evolua, que olhe para o futuro e utilize os seus meios para produzir melhor e de forma mais sustentável para o planeta e para os seres vivos que o povoam. Se, uma vez terminada a crise, fizermos um esforço para mudar um pouco os nossos ritmos, se investirmos e empenharmos numa estrutura produtiva menos invasiva, se deixarmos à natureza o seu espaço, poderá voltar a ser um aliado e não um perigo. Com a Covid-19, estamos a tomar nota de como uma partícula minúscula pode prejudicar o funcionamento de todo o tecido social, económico e produtivo que construímos ao longo de centenas de anos. O tamanho de um vírus é da ordem de um nanómetro (ou seja, um bilionésimo de metro). Contudo, um organismo tão pequeno é capaz de nos pôr a todos de joelhos, no mesmo nível e forçados a respeitar as mesmas regras. Talvez este caso esteja a reformular as ilusões de grandeza e poder do homem, que se sentia o governante absoluto do que o rodeia. O coronavírus está a abrir-nos os olhos para a fragilidade dos nossos sistemas face a grandes catástrofes, e isto assusta-nos. Mas existem outras ameaças, igualmente graves, às quais devemos prestar atenção. Basta pensar nos incêndios que devastaram vastas áreas da natureza, desde a Amazónia até à Austrália. Estas ameaças provêm de um desequilíbrio na relação entre o homem e o ecossis-

Seremos capazes de nos concentrar na sustentabilidade, ecologia, solidariedade e igualdade entre os seres humanos? Por um lado, receio que, uma vez fora da crise, o primeiro pensamento para muitos, especialmente entre os grandes líderes mundiais, será o de regressar à produção e ao consumo como antes

tema e estão todas ligadas. Estamos perante um cenário que nos mostra onde iremos parar se optarmos por não mudar os nossos hábitos. Utilizemos então a paragem forçada das nossas actividades para reflectir. Sobre o quê? Sobre a possibilidade do presente poder tornar-se um período de transição para um futuro diferente. Mais sustentável, consciente e solidário. Como vamos ser diferentes depois da Covid-19? Ainda que o coronavírus nos faça a todos iguais quando confrontados com os riscos e as regras que temos de seguir, permanecemos muito diferentes tanto na forma como enfrentamos este momento difícil como nos meios que temos para o fazer. Há muitas pessoas que estão desempregadas e que não sabem se poderão pagar o arrendamento do próximo mês. As pessoas que se encontram em dificuldades financeiras desde muito antes do surto da pandemia que lutam para fazer compras e que não têm um computador ou uma ligação à Internet permanecendo muito isoladas. Pessoas solitárias sem familiares ou amigos com quem falar, idosos e deficientes que não têm ninguém para os cuidar. Para não mencionar as muitas pessoas sem casa, numa altura em que um telhado parece ser a única coisa realmente necessária. Se reflectirmos sobre o amanhã, poderemos perguntar se seremos capazes de construir uma sociedade diferente, se nos lembraremos das dificuldades que tantas pessoas estão a enfrentar, não só por causa do coronavírus, mas por causa do sistema que temos alimentado. Um sistema que só pensa no sucesso, no lucro, na produção e deixa os mais fracos para trás. Uma estrutura como esta não é sustentável, nem ambiental nem socialmente. Os dois aspectos, de facto, estão intimamente ligados e influenciam-se um ao outro. De acordo com o último Relatório Social Mundial 2020 intitulado “Desigualdade num mundo em rápida mudança” e publicado pelo Departamento de Assuntos Económicos e Sociais da ONU, a diferença entre o rendimento médio dos 10 por cento mais ricos e dos 10 por cento mais pobres da população mundial é actualmente 25 por cento maior do que seria se o nosso planeta não estivesse doente. Por outras palavras, as alterações climáticas afectam o fosso de rendimentos ao aumentarem as desigualdades sociais. Os números mostram também que não afecta todos da mesma forma. Ficou provado que o aumento das temperaturas melhorou as economias dos países mais desenvolvidos, ao mesmo tempo que travou o crescimento, com consequências desastrosas, dos mais pobres. Além disso, no que diz respeito às desigualdades sociais, não nos referimos apenas às diferenças entre países, mas também à falta de homogeneidade, muitas vezes enorme, entre os habitantes de um mesmo Estado. No Bangladesh, por exemplo, muitas famílias de baixos rendimentos vivem em bairros de lata normalmente localizados em zonas baixas. Durante o ciclone de 2009, uma

em cada quatro famílias pobres foi atingida pela tempestade, enquanto uma em cada sete famílias mais ou menos ricas foi afectada. O mesmo aconteceu, em 2009, com o Furacão Katrina em Nova Orleães pois as pessoas que vivem em bairros da classe trabalhadora, ou seja, famílias de baixos rendimentos, sofreram os piores danos. Esta pandemia está a confrontar-nos com outra prova importante que são as desigualdades sociais que não são apenas um problema para os países pobres, mas também para o Ocidente opulento. Será que o sabíamos? Talvez sim, mas tornou-se realmente difícil ignorá-lo. A questão é se não seremos capazes de o esquecer? Seremos capazes de insistir que o crescimento económico tome uma direcção e um ritmo diferentes? Que investimos mais em instalações que trabalham para o bem-estar das pessoas e do planeta, tais como saúde, educação, investigação científica e experimentação de novas tecnologias? Seremos capazes de nos concentrar na sustentabilidade, ecologia, solidariedade e igualdade entre os seres humanos? Por um lado, receio que, uma vez fora da crise, o primeiro pensamento para muitos, especialmente entre os grandes líderes mundiais, será o de regressar à produção e ao consumo como antes. Pelo contrário, mais do que antes, para compensar o que foi perdido neste período de inactividade e renúncia e para produzir tanto num curto espaço de tempo, é improvável que os caminhos sejam diferentes e mais sustentáveis do que os utilizados até agora. Especialmente se a nossa procura de bens, em vez de diminuir por nos termos tornado mais conscientes, aumentará ainda mais, juntamente com as desigualdades. Receio que, em vez de retirarmos lições do que aconteceu, nos comprometamos a consumir indiscriminadamente o que resta do mundo não contaminado e natural, acabando por gerar uma crise ainda pior do que a actual. Por outro lado, é de estar animado por ver tantos exemplos de mulheres e homens que, cada um à sua maneira tentam dar uma contribuição solidária e algo aos outros para tornar este momento difícil um pouco mais suportável. Desde os médicos e profissionais de saúde que se sacrificam todos os dias para salvar as nossas vidas, aos voluntários que cuidam dos que estão sozinhos e incapazes de sair, aos que doam e recolhem alimentos para os sem abrigo e os mais necessitados, até aos que oferecem formação online gratuita. Todos dão o que podem, de acordo com as suas possibilidades. Tudo dá esperança de um futuro melhor, e é também graças a estas pessoas que podemos estar cada vez mais convencidos de que o nosso compromisso de defender o planeta não é em vão. Queremos um mundo melhor e estamos dispostos a fazer a nossa parte. Mais cedo ou mais tarde, porém, regressaremos às nossas vidas, para povoar os parques, ruas e praças. Espero que estas pessoas indiquem o caminho.


Não importa o que pensam de ti, mas o que tu és.

Abuso sexual Ministério Público deduz acusação contra dois homens

Japão Yoshihide Suga é o novo PM

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Ministério Público (MP) deduziu a acusação contra dois homens, um residente e um trabalhador não residente (TNR), pela prática do crime de abuso sexual de crianças e pornografia de menor. Um dos casos ocorreu no início do mês e teve como vítima uma menina de 9 anos. Segundo um comunicado, a vítima “estava a brincar numa zona de lazer quando um homem abriu subitamente o fecho-éclair das suas calças, exibindo-lhe o órgão genital”. A menina terá ficado “assustada” e foi um familiar que denunciou o caso à Polícia Judiciária (PJ). As autoridades verificaram que o indivíduo já tinha sido condenado e punido em tribunal “por actos exibicionistas de carácter sexual”. Por se tratar de um caso reincidente, e uma vez que a ofendida é menor, o MP “acelerou a investigação e deduziu a acusação contra o arguido por crime de abuso sexual de crianças”. O residente deve agora apresentar-se periodicamente às autoridades, além de estar proibido qualquer contacto com a vítima. Relativamente ao caso relacionado com um TNR, este, “a pretexto de oferta de ferramentas virtuais de jogo online e lai-sis, aliciou várias crianças do sexo masculino a tirarem fotografias dos seus órgãos genitais para que lhas fossem enviadas”. Além disso, o homem “incitou uma delas a ir a um parque da Taipa para a prática de um jogo electrónico”. Durante o jogo, “o arguido acariciou-lhe [ao menor] o abdómen e o órgão genital”. A vítima falou do caso a um familiar, que de imediato o denunciou junto da PJ. “Durante a investigação, foi encontrado pela polícia, nos aparelhos electrónicos do arguido, um grande número de fotografias e vídeos com imagens de órgãos genitais de crianças do sexo masculino”, acrescenta o MP. O TNR foi acusado dos crimes de abuso sexual de crianças e de pornografia de menor, estando apenas proibido de contactar com as vítimas. A.S.S.

Wang He, cientista “Não sabemos porquê, mas o esperma deve ser muito funcional, de outra forma a selecção natural teria eliminado os traços.”

Esperma gigante Cientistas chineses descobrem o espermatozoide animal mais antigo

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IENTISTAS chineses descobriram o espermatozoide animal mais antigo alguma vez encontrado, num ostracoda, um crustáceo, do tamanho de uma semente de papoila, que viveu há mais de 100 milhões de anos, informou ontem a imprensa local. Apesar de se tratar de um organismo diminuto, o espermatozoide fossilizado encontrado pelos investigadores é quatro vezes maior do que o humano, segundo o portal de notícias chinês Sixth Tone. Os ostracodas (crutáceo em que foi feita a descoberta) são uns minúsculos artrópodes que permaneceram inalteráveis durante milénios desde há pelo menos 500 milhões de anos, quase 400 milhões antes da extinção dos dinossauros, e sobreviveram a múltiplas extinções de outras espécies. O espermatozoide dos actuais pode ser 100 vezes maior do que o dos humanos, o que levou os cientistas a denominá-lo “esperma gigante”. As novas provas encontradas em fósseis sugerem que os antigos ostracodas desenvolveram esse tipo de “esperma gigante” no período cretáceo.

A descoberta foi publicada na terça-feira no jornal científico britânico Proceedings of the Royal Society, dedicado às descobertas biológicas. “Não sabemos porquê, mas o esperma deve ser muito funcional, de outra forma a selecção natural teria eliminado os traços”, explicou à Sixth Tone um dos responsáveis pela investigação chinesa, Wang He, do Instituto de Geologia e Paleontologia de Nankín.

PRESOS NO ÂMBAR

Wang e a restante equipa receberam uma peça de âmbar de Myanmar há uns anos. No início, segundo o cientista, tentaram comprovar se os pontos negros que se viam no interior eram ostracodas, já que estes, ao serem aquáticos, não se costumam encontrar em resinas vegetais. Mas posteriormente descobriram detalhes muito mais interessantes, ao verem que em cada capa de âmbar apareciam novas camadas, como se se tratasse de uma boneca russa. Os exames por tomografia computorizada (TAC) revelaram que não só os animais na resina

eram ostracodas, mas que os tecidos estavam bem preservados. Wang descobriu um vulto num órgão reprodutivo de um ostracoda fêmea e uma reconstrução em 3D mostrou que se tratava de uma mancha de esperma serpenteante e fibrosa. “Esta nova descoberta é uma prova irrefutável de que o esperma gigante tem pelo menos uma antiguidade de cem milhões de anos, provavelmente muito maior”, disse ao portal chinês Robin Smith, perito em ostracodas do Museu Lake Biwa, do Japão. Smith explicou que antes desta descoberta, os cientistas só tinham uma prova indirecta do esperma gigante em antigos ostracodas pelo tamanho dos seus órgãos reprodutivos nos fósseis. Devido ao sítio onde se encontrou o esperma no órgão reprodutivo do exemplar fêmea, Wang crê que a cópula deve ter ocorrido mesmo antes de o animal ficar preso na resina viscosa do âmbar. Um ostracoda macho apareceu também no âmbar próximo da fêmea, mas os cientistas não puderam confirmar se foi o autor da cópula.

Taiwan Ho Weng Wai deixa chefia da Delegação de Macau Lam Chi I vai assumir as funções de chefe da Delegação Económica e Comercial de Macau em Taiwan, em substituição de Ho Weng Wai, que deixa o cargo a 26 de Setembro. Segundo um despacho publicado ontem em Boletim Oficial (BO), Lam Chi I passa a assumir, a partir desse

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quinta-feira 17.9.2020

PALAVRA DO DIA

Públio Siro

dia, várias responsabilidades até então destinadas a Ho Weng Wai, relacionadas com contratos de trabalho e autorizações na área orçamental, entre outras. Ho Weng Wai estava no cargo há dois anos e pediu a cessação da sua comissão de serviço.

parlamento do Japão designou ontem como novo primeiro-ministro Yoshihide Suga em substituição de Shinzo Abe, que apresentou a demissão por questões de saúde, após quase oito anos como líder do Governo. Suga, de 71 anos, que foi chefe de Gabinete e ministro porta-voz do Governo de Abe, obteve 314 dos 462 votos, numa sessão extraordinária do parlamento japonês (Dieta), convocada para ratificar a escolha, na sequência da proposta do partido no poder e com maioria parlamentar. Antes da confirmação parlamentar, Shinzo Abe, o primeiro-ministro japonês que mais tempo ocupou o cargo, e os membros do Governo tinham apresentado a renúncia.

Abe, de 65 anos, que sofre de colite ulcerosa, explicou no mês passado que era obrigado a renunciar, uma vez que tinha pela frente um tratamento contínuo com óbvio impacto físico, apesar de se sentir melhor. O novo primeiro-ministro vai herdar uma série de desafios, incluindo as relações diplomáticas e económicas com a China e os Estados Unidos, bem como o que fazer com os Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados para o próximo Verão devido à pandemia.


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