Hoje Macau 18 NOVEMBRO 2022 #5134

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Macau não só deixou de ser a capital mundial do jogo, como também a nível regional foi destronado do lugar mais alto do pódio, situando-se agora atrás das Filipinas e de Singapura que, no último trimestre, ultrapassaram a RAEM em receitas arrecadadas.

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PUB. REUTERS DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 SEXTA-FEIRA 18 DE NOVEMBRO DE 2022 • ANO XXI • Nº5136 www.hojemacau.com.mo • facebook/hojemacau • twitter/hojemacau PATRIMÓNIO POR ESTA ROTA ACIMA G20 | CHINA PONTOS NOS IS GRANDE PLANO PÁGINA 11 ÚLTIMA AMIGOS DO BAMBÚ ALBERGUE SCM EVENTOS ORIGEM DO NOME “MACAU” Hu Jing DESFAZENDO FIXAÇÕES Xunzi AS 7 VIAGENS OCEÂNICAS DE ZHENG HE José Simões Morais
Destronados

ROTA MARÍTIMA DA SEDA

MARIA JOSÉ DE FREITAS FALA DO POTENCIAL DA CANDIDATURA

Sem sombra de vergonha

Maria José de Freitas defende que Macau não se deve envergonhar do seu passado como entreposto comercial entre a China e o Ocidente nem dos laços com a rota comercial criada pelos portugueses que lhe deu o estatuto de cidade portuária. A arquitecta apela à divulgação, por parte do Governo, dos relatórios sobre a análise do impacto no património, que, diz, deveriam ser públicos

MARIA José de Freitas entende que Macau não se deve envergonhar do seu passado como cidade portuária e um importante elo de liga ção na relação comercial marítima que uniu a China e Portugal a partir do século XVI. Em declarações ao HM, a propósito da proposta

“Macau não tem de ter vergonha do seu passado ou da sua origem, porque é diferente enquanto cidade que integra a Grande Baía precisamente pela sua história, que tem também um valor universal reconhecido pela UNESCO.”

de candidatura da Rota Marítima da Seda a património mundial da UNESCO, a arquitecta e estudiosa do património de Macau entende que há um lado da moeda afastado do discurso oficial.

“Macau não tem de ter ver gonha do seu passado ou da sua origem, porque é diferente enquanto cidade que integra a

Grande Baía precisamente pela sua história, que tem também um valor universal reconhecido pela UNESCO.”

Os critérios de classificação da UNESCO prendem-se, preci samente, com o facto de Macau ser “uma cidade portuária” e que apontam para a “miscigenação” do território.

Maria José de Freitas entende que há uma ocultação desse pas sado e que este “não é valorizado como deveria”. “Muitas vezes, até na informação divulgada pelo Instituto Cultural (IC), fala-se do encontro cultural que existe na cidade, mas não se mencionam esses critérios, muito vinculados ao facto de Macau ter sido uma

“Podem aparecer de novo as multidões de turistas e já sentíamos em Macau que essa situação deveria ser monitorizada, portanto há uma série de parâmetros que essa monitorização deve assegurar. Faz sentido que exista um organismo que faça tudo isso.”

cidade portuária. Isso não surgiu do nada, mas sim da relação com o Ocidente.”

Não se integra, portanto, “na divulgação do património de Ma cau todos os valores e situações, como é o caso dos portugueses e do comércio marítimo até chegar a Macau, no contexto de rede comercial vinda de África, Índia, Colombo e até chegar ao Japão, ou relacionado com as próprias missões ligadas à religião cató lica.”

“É como se só ouvíssemos um lado, mas o outro lado existe e tem vestígios. Temos, por exemplo, as Chapas Sínicas, que são revelado ras de um contexto que deve ser valorizado e integrado nesta Rota”, acrescentou.

Todo o sentido

Maria José de Freitas foi uma das oradoras do Fórum Cultu ral Internacional sobre a Rota Marítima da Seda que terminou ontem, com o painel “A Rota Marítima da Seda – O papel de Macau nas rotas passadas e futuras”. Durante dois dias, este fórum abordou a candidatura da Rota Marítima da Seda a patri mónio mundial da UNESCO, um projecto preparado por 28 países. Na visão da arquitecta, “faz todo o sentido que nesta candidatura Macau esteja incluído. Há pers pectivas que se abrem para o futuro no âmbito da Grande Baía e também do projecto ‘uma faixa, uma rota’”.

Isto porque “os portugueses, antes de chegarem a Macau, es tiveram noutras ilhas da Ásia e estabeleceram uma rede comercial e de troca de produtos, pelo que a localização de Macau era, assim, muito favorável”. “No retorno à China o facto de Macau se tornar parte desta Grande Baía é também um retorno às origens”, adiantou Maria José de Freitas.

Falamos de um período prós pero, que vai do século XVI ao século XVII, quando Macau tem uma grande importância como cidade portuária, sendo um elo de ligação fundamental no comércio entre a China, Portugal e o resto do mundo.

“Macau era um parceiro fiá vel para a China naquela época e podia assegurar um percurso fluvial até Cantão, a fim de es coar os produtos chineses. No percurso para o Japão traziam as especiarias que vinham da Índia. Havia benefícios que os chineses aproveitaram e Macau estabeleceu-se então como um entreposto comercial muito forte que durou até ao século XVII. Só perde importância a partir do momento em que surgem as grandes companhias, holandesa, francesa e espanhola. O reflexo

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SOFIA MARGARIDA MOTA

no urbanismo e na arquitectura é evidente, ainda hoje”, disse a arquitecta.

Onde estão os relatórios?

Questionada sobre a criação do Centro de Monitorização do Patri mónio Mundial de Macau, Maria José de Freitas entende ser um passo importante. “Quando trabalho com a UNESCO é habitual fazer-se o relatório periódico da avaliação dos bens, porque estão sujeitos a inúme ras pressões, de toda a espécie. No caso de Macau relacionam-se com a envolvente e que pode afectar os valores universais. Há ainda que garantir as condições de estabilidade e segurança dos próprios edifícios, perceber se são antigos, se podem ter problemas estruturais. Há também outras situações que podem ocorrer devido às alterações climáticas extre mas, como os tufões e a poluição.”

Outro dos factores que pode afectar os monumentos, é o elevado número de turistas, actualmente em quebra devido à pandemia. “Podem

BASE DE INTERCÂMBIO

Terminou ontem no Centro de Ciência de Macau o Fórum Cultural Internacional sobre a Rota Marítima da Seda que contou com representantes de vários países e regiões envolvidos na candidatura para a classifica ção desta Rota. Segundo um comunicado, o facto de Macau ter acolhido este Fórum mostra que o território serve como “base de intercâmbio e cooperação para promover a coexistência de diversas culturas, sendo a cultura chinesa a predominante”. Leong Wai Man, presidente do Instituto Cultural, disse que Macau, “enquanto cidade importante da Rota Marítima da Seda e membro da Aliança das Cidades para a Protecção da Rota Marítima e Candidatura Conjunta ao Património Cultural Mundial, tem uma rica história de intercâmbio multicultural e

aparecer de novo as multidões de turistas e já sentíamos em Macau que essa situação deveria ser moni torizada, portanto, há uma série de

apresenta um património diversificado que faz parte da Rota Marítima da Seda”. Neste sentido, o território “pode desempenhar bem o papel de ponte para o intercâmbio e a cooperação sobre vários temas relacionados com a Rota Marítima da Seda”, podendo ser “plenamente aproveitadas as vantagens e recursos únicos que Macau disponibiliza no âmbito da sua vocação histórica”. Macau participa no processo de candidatura para a classificação da Rota Marítima da Seda desde 2015, tendo acompanhado a iniciativa presidida pela Administração Nacional do Património Cultural da China. Além disso, pertence, desde Maio de 2019, à União das Cidades para a Protecção e Candidatura da Rota Marítima da Seda para Inscrição na Lista do Património Cultural Mundial.

parâmetros que essa monitorização deve assegurar. Faz sentido que exista um organismo que faça tudo isso. O património só tem a ganhar.”

A arquitecta deixa ainda um alerta para que o IC divulgue os relatórios do “Heritage Impact As sessment” [Avaliação do Impacto no Património], que servem para “aferir qual a situação dos bens patrimoniais”.

“No caso de Macau não tenho visto isso feito, apesar de ser uma recomendação da UNESCO. Não há notícias públicas sobre esses relatórios. Em vários casos fazem todo o sentido, como o Farol da Guia ou a zona da Igreja da Penha. Os relatórios devem ser públicos e bilingues. O IC diz que essa análise foi realizada, mas ninguém conhece os conteúdos. O IC deverá ter esses documentos, mas a popu lação, as associações de defesa do património e os académicos não têm. Estas coisas têm de ser trans parentes e conhecidas”, rematou.

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GCS

PRAGMÁTICO

A magia do “1+4”

Os académicos Lei Chun Kwok e Matthew Liu Ting Chi entendem que o relatório das Linhas de Acção Governativa, apresentado esta semana, é mais concreto e pragmático em relação à política de diversificação económica. Porém, apontam que os efeitos só se vão sentir a longo prazo

HÁ muito que o Go verno de Macau fala da necessidade de diversificar a eco nomia além do jogo. No entanto, só com o relatório das Linhas de Ac ção Governativa (LAG) para o próximo ano foi possível ser mais pragmático, graças à apresentação da política “1+4”. É o que consideram dois académicos da Univer sidade de Macau (UM), Lei Chun Kwok e Matthew Liu Ting Chi, em declarações ao programa Fórum Macau do canal chinês da Rádio Macau. Considerando que os objectivos traçados no relató rio correspondem à situação concreta de Macau, os dois académicos entendem, no entanto, que as metas traça das no documento não serão concretizadas a curto prazo.

Lei Chun Kwok, tam bém vice-presidente da Associação Económica de Macau, disse que o relatório apresenta de forma mais pragmática a situação ma croeconómica do território.

“O Governo já propõe o objectivo da diversificação económica há muitos anos, mas desta vez vi um objetivo mais clarificado em relação ao passado, que é a estraté gia ‘1+4’”, disse.

A estratégia assenta na integração do turismo e do lazer numa só indústria de excelência, enquanto o nú mero quatro diz respeito ao fomento de quatro sectores que o Governo encara como prioritários na economia, que são as áreas de big health, fi nanças, tecnologia de ponta, convenções e exposições, comércio, cultura e desporto.

A ideia é que estas quatro indústrias ganhem cada vez maior relevo na economia em relação ao jogo.

No entanto, no programa de rádio, Lei Chun Kwok alertou para a impossibilida de desta mudança na econo

mia se fazer em poucos anos, apontando que vai demorar pelo menos dez anos até que o jogo deixe de ser o principal sector económico e estas quatro indústrias tenham maior relevância.

Por sua vez, Matthew Liu Ting Chi, docente da Facul dade de Gestão de Empresas da UM, disse que a política vai necessitar de tempo para ser uma realidade e recordou o título do relatório das LAG: “Conjugação de esforços; Avanço com estabilidade”, o que significa, na sua visão, avançar com as propostas calmamente com o consenso da população.

Face à estratégia “1+4”, o académico entende que é exigido ao sector do jogo o fomento das quatro novas indústrias. “Por isso é uma estratégia que afasta preo cupações da população em relação à possível destruição do sector do jogo”, disse.

Desemprego e afins

Na sua intervenção, o aca démico e vice-presidente da Associação Económica

de Macau lembrou que o relatório das LAG, apresen tado esta semana por Ho Iat Seng “deu destaque ao ace leramento da recuperação económica” tendo em conta a crise que se vive devido à pandemia.

“A taxa de desemprego tem aumentado nos últimos anos e o sector do jogo está neste momento num período de ajuste”, disse. O responsável lembrou ainda o facto de o relatório prever o restabelecimento da emis são do visto electrónico para os turistas chineses e o regresso das excursões a Macau.

À semelhança do que disse o Chefe do Executivo, Lei Chun Kwok também defende a ideia que defende a impossibilidade de esta belecer uma proporção de empregos para residentes e trabalhadores não-residentes (TNR). “Devemos substituir os TNR consoante a taxa de desemprego. Se a situação continuar má, o Governo deve reforçar essa substituição de trabalhadores. É mais flexível desta forma do que elaborar uma proporção de TNR que podem ocupar certas vagas.”

Na visão de Matthew Liu, o desemprego não está ape nas relacionado com os TNR, mas é uma consequência de toda a conjuntura económica e da enorme dependência da economia em relação ao jogo. Por essa razão, o pro fessor defende que as quatro novas indústrias da estraté gia “1+4” podem ter maior espaço de desenvolvimento, proporcionado mais empre gos. Nunu Wu (com A.S.S.)

Política no prato

Lei Wai Nong diz que reality show mostra sucesso de “Um País, Dois Sistemas”

UM reality show que recorre a celebrida des para mostrar ao Interior o sucesso do princípio “Um País, Dois Sistemas” em Macau. Foi desta forma que o secretário para a Econo mia e Finanças, Lei Wai Nong, comentou o novo programa televisivo do grupo China Media Group intitulado “Viagem de duas vias em Macau”.

“A partir de diferen tes ângulos, o programa demonstra a história de sucesso de Macau sob ‘Um País, Dois Siste mas’, mostrando de forma global e multifacetada Macau como um Centro Mundial de Turismo e Lazer, para que o público possa ver uma Macau colorida e diversificada, tendo um conhecimento mais completo e renovado da cidade”, afirmou Lei Wai Nong.

A cerimónia de lan çamento do novo pro grama decorreu ontem, no Auditório do Edifício Chi Un da Universidade Politécnica de Macau, e o governante associou o princípio político ao facto de se permitir em Macau a fusão de várias culturas.

Na visão do secretário para a Economia e Finan ças, o novo programa tem um formato “muito popu lar entre os espectadores do Interior da China” e vai contar com “apresen tadores famosos e estrelas do mundo do entreteni mento”. O objectivo será mostrar às celebridades do Interior a “fusão das diversas culturas de Ma

cau, o seu rosto singular e contornos urbanos, bem como a abundância de eventos inovadores, lazer e entretenimento, história e cultura”, através de duas vias: “rituais de vida” e celebrações”.

Agora é que vai ser Apesar do aumento de ca sos de covid-19 no Interior da China e das restrições à circulação de pessoas, Lei Wai Nong aproveitou para destacar o fim da suspensão das excursões a Macau e agradecer ao Governo Central.

“A retoma do sistema de vistos electrónicos para viagens turísticas do Interior da China a Macau e de excursões de ‘quatro províncias e uma cidade’, entre outras me didas favoráveis reflectem plenamente o amor do Governo Popular Central por Macau”, afirmou. A declaração foi proferida apesar de até ontem ainda não ter chegado a Macau qualquer excursão ao abrigo do programa men cionado.

A oportunidade serviu também para Lei deixar um sinal de confiança para o futuro. “Com a estabilidade da situação epidémica no Interior da China e em Macau, prevê-se que o número de visitantes irá voltar a apresentar uma tendência de subida significativa, o que impulsionará grande mente a recuperação do turismo, e dinamizará a vida da população e a eco nomia de Macau”, anteviu o governante. J.S.F.

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LAG ACADÉMICOS CONSIDERAM RELATÓRIO CONCRETO E
“A estratégia [1+4] afasta as preocupações da população em relação à possível destruição do sector do jogo.”
AFP GCS

TURISMO DESPESAS DE VISITANTES DO INTERIOR SUBIRAM

22,6 POR CENTO

DADOS da Direcção dos Ser viços de Estatística e Censos (DSEC), relativos ao terceiro trimestre deste ano, revelam que a despesa per capita dos visitantes oriundos do Interior da China subiu 22,6 por cento, em termos anuais, enquanto a despesa per capita dos visitantes da mesma região, mas com visto individual, foi de 6.145 patacas, uma subida de 3,9 por cen to. Em termos globais, no mesmo trimestre, a despesa per capita dos visitantes em Macau foi de 3.222 patacas, mais 22,7 por cento em termos anuais. Por sua vez, a des pesa per capita dos turistas (5.717 patacas) e a dos excursionistas (601 patacas) registaram aumentos homólogos de 14,5 e 1,8 por cento, respectivamente.

Grande parte da despesa, 64,7 por cento, foi feita em compras, seguindo-se os gastos com alo jamento, que representa 17,9 por cento, e em alimentação, 11,9 por cento. A despesa per capita dos visitantes em compras cifrou-se em 2.084 patacas, mais 30 por cento em termos anuais.

Ainda relativamente ao terceiro trimestre, a despesa total dos visi tantes, com a exclusão das despesas feitas no jogo, cifrou-se nas 2,90 mil milhões de patacas, menos 39,7 por cento em termos anuais.

A DSEC diz que esta quebra se deve “principalmente à dimi nuição homóloga de 50 por cento do número de visitantes entrados em Macau, causada pelo impacto da pandemia”. As despesas totais dos turistas, de 2,63 mil milhões de patacas, e dos excursionistas, de 264 milhões de patacas, regis taram uma quebra de 37,6 e 54,6 por cento, respectivamente. Nos três primeiros trimestres deste ano a despesa total dos visitantes atin giu 13,34 mil milhões de patacas, correspondendo a um decréscimo de 26,5 por cento face ao mesmo período de 2021.

A ficar para trás

Da indiscutível medalha de ouro, para o bronze. Macau caiu para o terceiro lugar no pódio das receitas brutas do jogo em termos regionais durante o terceiro trimestre do ano. Os casinos de Singapura e Filipinas conseguiram melhores resultados num trimestre em que o jogo de Macau parou durante 12 dias

e o Resort World Sentosa, gerido pela Genting Singapore Ltd. No cômputo dos resultados de Sin gapura, o Marina Bay conseguiu 510 milhões de dólares, superando em 2 por cento as receitas brutas do trimestre anterior.

Não cai do céu

O terceiro trimestre deste ano foi sinónimo de um dos piores resul tados dos casinos locais desde que o jogo foi liberalizado em Macau, apurando receitas brutas na ordem dos 688,4 milhões de dólares. Valor que representou uma quebra de 34,7 por cento em relação ao já muito negativo trimestre anterior, e que ficou quase 100 milhões de dólares abaixo dos resultados obtidos ape nas por dois casinos em Singapura.

Importa recordar que durante o período em análise, Macau enfrentou o mais grave surto de covid-19 desde o início da pan demia, levando ao confinamento parcial da população, a múltiplas rondas de testes em massa, e ao encerramento dos casinos durante 12 dias.

No terceiro trimestre do ano, os dois casinos de Singapura apuraram 788 milhões de dólares, quase mais 100 milhões de dólares do que todos os casinos de Macau juntos

HÁ uns anos seria impen sável ver a capital mun dial do jogo destronada regionalmente do lugar cimeiro em termos de receitas brutas apuradas.

Pois foi isso mesmo que aconteceu durante o terceiro trimestre deste ano, quando Singapura e Filipinas

ultrapassaram os resultados dos casinos locais, relegando Macau para o terceiro lugar em termos regionais.

A indústria do jogo das Filipi nas amealhou no terceiro trimestre deste ano cerca de 860,7 milhões de dólares, quantia que representou uma subida de 7,6 por cento em re

lação ao trimestre anterior, segundo dados compilados pelo portal GGR Asia. No pódio regional, Singa pura ficou em segundo lugar. No terceiro trimestre do ano, os dois casinos da cidade estado apuraram 788 milhões de dólares, divididos entre o Marina Bay Sands, que pertence à Las Vegas Sands Corp,

CASO SUNCITY ARGUIDO TERÁ SIDO “MENTALMENTE TORTURADO”, AFIRMA NAMORADA

AU Wang Tong, argui do do caso Suncity, terá sido “mentalmente torturado” aquando da sua detenção na China, ao ponto de ter tentado o suicídio. A denúncia chegou ontem pela voz da namorada de Au em mais uma sessão de julga mento do caso, que decorre no Tribunal Judicial de Base.

Segundo o portal Ma cau News Agency, Au

Wang Tong foi detido na fronteira de Macau com Zhuhai em Dezembro de 2020, na companhia da namorada, quando o casal voltava a casa depois de uma viagem ao continente. “Não sabia o que estava a acontecer. Os polícias da Alfândega [da China] apenas me disseram para ir embora enquanto levavam o meu namorado.”

A rapariga afirma que só teve notícias do namorado três meses depois e após contacto com um advogado, que também só pôde contac

tar com o seu cliente muito tempo depois. “Ele disse ao advogado [na reunião] que ficou preso numa pequena divisão sem permissão para tomar banho. Foi mental mente torturado... e teve uma quebra emocional. Ele mudou completamente. Per deu imenso peso e parecia completamente esgotado. Também tinha marcas nos pulsos”, contou.

Em termos anuais, os meses entre Julho e Setembro registaram quebras de resultados de mais de 70 por cento em relação ao período homólogo de 2021, re presentando apenas 7,8 por cento das receitas brutas registadas no terceiro trimestre de 2019.

Os dados compilados pelo portal GGR Asia espelham a diferença entre a política de zero casos implementada no Interior da China, e por arrasto a Macau, e o levantamento de restrições que se faz sentir na região asiática.

João Luz

“Ele disse-me que es tava preso num quarto pequeno e que só pensava em diferentes formas de se matar, todos os dias. Disse que nunca imaginou que a sua vida poderia terminar desta forma”, acrescentou a namorada de Au, de apelido Lao, na sessão de ontem do julgamento do caso Suncity.

Au Wang Tong é um dos 21 arguidos do caso, junta

mente com Alvin Chau, sendo acusados de promover e de senvolver actividades de jogo ilegal e lavagem de dinheiro, entre outros crimes. Au era um trabalhador da linha da frente, na área do desenvolvimento de mercado, da Suncity. A acusação diz que ele terá ajudado a criar centenas de contas ilegais nas salas VIP, além de promover actividades de jogo na China.

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Polícia Judiciária Detectados dois casamentos falsos

A Polícia Judiciária (PJ) revelou ontem ter detido quatro pessoas, por suspeita de casamento simulado. Os alegados casa mentos falsos terão acontecido há cerca de 17 anos, quando um casal do Interior terá pago a um casal local cerca de 40 mil patacas, para que pudessem obter o estatuto de residentes de Macau. Através

de uma investigação que começou com uma denúncia, a PJ descobriu que o casal do Interior se divorciou em 2005, e que um ano depois os membros se casaram com os residentes locais. No entanto, durante este período e até 2019 os alegados parceiros apenas saíram juntos do território sete vezes, o que as autoridades consideram

um indício de que não viviam juntos. A PJ apontou também que dois anos depois de os cidadãos do Interior obterem a residência de Macau, se divorciaram dos respectivos parceiros. Entre os quatro detidos, três recusaram que os casamentos fossem falsos, mas uma das detidas terá confessado o pagamento de 40 mil patacas.

DSEDT Palestra sobre segurança de aquecedores

A Direcção dos Serviços de Economia e Desen volvimento Tecnológico (DSEDT) vai realizar a 25 Novembro uma palestra temática sobre a segurança dos aquecedores. O objectivo passa por “aumentar a sensibilização dos residentes quanto aos aparelhos de aquecimento e os seus critérios de segurança”, de acordo com um comunicado da DSEDT. O evento conta

com a participação, por videoconferência, de especialistas da Administração Geral da Alfân dega do Interior, que vão explicar as medidas de segurança dos aparelhos de aquecimento, assim como as formas de proceder à inspecção e fiscalização. O evento vai decorrer na sala de reunião da DSEDT, no Edifício Banco Luso Internacional, entre as 15h e as 16h.

BURLA RESIDENTE DESFALCADO EM 1,4 MILHÕES DE PATACAS

UM residente de 31 anos foi burlado em 1,4 milhões de patacas, após ter confiado os dados da conta bancária a um burlão que se fez passar por representante das autoridades de saúde de Hong Kong e da polícia do Interior. O caso foi revelado ontem pela Polícia Judiciária e relatado pelo Jornal Ou Mun.

Segundo o queixoso, a 7 de Novembro recebeu uma chamada telefónica, de alguém que se fez passar pelas autoridades de Saú de de Hong Kong. Após ter sido informado de que tinha estado em contacto com um caso positivo de covid-19 em Hong Kong e numa zona de surto, o residente local protestou ao telefone e afirmou não ter saído do território nos últimos tempos.

COM um total de 417 transacções de habitação, Ou tubro foi o melhor mês do ano a ní vel do mercado imobiliário. Os números foram impulsionados pelo aumento das vendas em Co loane, onde se registaram 184 transacções, devido ao projecto Praia Park.

Segundo os dados da Direcção de Serviços de Finanças (DSF), no déci mo mês do ano registaram -se 417 transacções a um preço médio de 111.397 patacas por metro quadra do. Estes dados contrastam com o mês de Março que tinha sido o melhor mês do ano até Outubro, quando ocorreram 350 transac ções, a um preço médio de 93.641 patacas por metro quadrado.

Coloane foi a área onde se registaram mais transacções, 184 a um preço médio de 133.103 patacas por metro quadra do. As fracções vendidas

HABITAÇÃO OUTUBRO FOI O MÊS DO ANO COM MAIS TRANSACÇÕES

A minha praia

O registo das vendas no projecto Praia Park, em Seac Pai Van, fez disparar o número de transacções imobiliárias durante o mês de Outubro. Em comparação com o ano passado, o número caiu para metade

tinham em média cerca de 78 metros quadrados.

Estes números foram impulsionados pelo projecto Praia Park, em Seac Pai Van, onde na segunda quinzena de Outubro se registaram 176 das 184 vendas em Coloane. Tendo em conta a média do preço e da área, as casas nesta zona são vendidas por cerca de 11 milhões de patacas.

Em contraste com Outu bro do ano passado, este ano houve mais 168 transacções em Coloane, visto que em Outubro de 2021 o número não tinha ido além das 16 transacções. Também no ano passado, o preço médio tinha sido de 91.711 patacas.

As restantes vendas aconteceram na Península de Macau, com 179 transac

ções, e Taipa, com 54 casas. Os preços médios de venda foram 90.497 patacas por metro quadrado e 88.322 patacas por metro quadrado, respectivamente.

Quebra de 50 por cento Apesar dos sinais de re cuperação em Outubro, segundo os dados da Di recção de Serviços Finan

ceiros, nos primeiros 10 meses do ano o número de transacções teve uma quebra de 50 por cento.

Até Outubro deste ano, houve 2.582 transac ções, e o último mês foi o único em que as vendas ficaram acima das 400 unidades. No ano passa do, também até Outubro tinha havido um total de 5.102 transacções.

Os dados indicam tam bém que em 2021 o mer cado tinha outra vitalidade, uma vez que apenas em Fevereiro e Outubro o nú mero de transacções ficou abaixo das 400 unidades.

O número de tran sacções está a descer ao mesmo tempo que sobe o número de fracções desocupadas. Segundo os dados da Direcção de Serviços de Estatística e Censos (DSEC), em Ju nho de 2021 havia 21.000 casas inabitadas em Ma cau. O número subiu para 22.222 em Junho deste ano. João Santos Filipe

A resposta não demoveu o burlão, e, ao telefone, informou a vítima de que iria transmitir a chamada para a Polícia do Inte rior, uma vez que o residente tam bém era suspeito de ter cometido crimes financeiros no outro lado da fronteira.

Sem desconfiar da identidade da pessoa do outro lado da linha, o residente forneceu todos os da dos da conta bancária para que as “autoridades” pudessem proceder às averiguações necessárias. Com a informação nas mãos, o burlão, que se fez passar pela polícia do Interior, limitou-se a contar à ví tima que esta tinha sido ilibada de qualquer suspeita. Porém, passa do uns dias o homem desconfiou do sucedido e quando verificou o saldo da conta apercebeu-se que tinha sido desfalcado em 1,4 milhões de patacas, pelo que apresentou queixa.

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Na segunda quinzena de Outubro, 176 das 184 vendas registadas em Coloane aconteceram no edifício Praia Park

Jura dizer a verdade?

O Centro de Coordenação de Contingência lembrou ontem que mentir ou ocultar dados na prevenção à pandemia pode resultar em seis meses de prisão. O aviso foi feito em relação à necessidade de reportar a passagem pelo centro comercial de Gongbei. Ontem, foram reportadas duas infecções de residentes de Zhuhai que trabalham em Macau

Gastroenterite Quase 20 crianças infectadas em duas creches

Os Serviços de Saúde (SSM) foram notifica dos ontem de mais dois casos de infecção colectiva de gastroenterite. O primeiro caso foi detectado na turma “Mais pequena” da Creche “Abelhinha” da Associação Geral das Mulheres de Macau, localizada na Rua do General Ivens Ferraz. Nesta creche, os SSM deram conta de 14 crianças infectadas, oito meninos e seis meninas, com idades entre 1 e 2 anos de idade. O segundo caso diz respeito a uma turma da Creche “Dr. Ana Sofia Monjardino”, na Rua do Canal das Hortas, afectando cinco crianças, quatro meninos e uma menina, entre os 8 e 16 meses de idade. As autoridades adiantam que algumas crianças tiveram de recorrer a instituições médicas para receber trata mento, e duas delas foram hospitalizadas “devido a vómitos frequentes, e actualmente estão em condição estável”. Estas últimas pertencem à creche da Associação Geral das Mulheres. Os SSM indicaram que foi excluída a possibilidade de gastroenterite alimentar em conformidade com as horas de refeições das crianças.

Saúde Arranca

hoje

uma nova ronda de venda máscaras

“O

Centro de Coorde nação reitera que quem prestar falsas declarações é punido com pena de prisão até 6 meses ou com pena de multa até 60 dias.” É desta forma que termina um comunicado emitido ontem pelas autoridades de saúde a apelar a quem tenha passado no centro comercial sub terrâneo do posto fronteiriço de Gongbei para declarar “fielmente as informações e cumprir as res pectivas medidas de prevenção antiepidémicas”.

As autoridades de saúde locais anunciaram ontem que, para entrar em Macau, quem tenha passado pelo piso -1 e -2 do centro comer cial de Gongbei terá de cumprir quarentena em hotel designado até ao quinto dia seguinte a ter passado

pela zona de risco. A quarentena não pode ser inferior a dois dias e, de seguida, seguem-se três dias de isolamento domiciliário com código vermelho

Quem já tiver entrado, deve fazer autogestão de saúde até ao quinto dia depois de ter passado pelas zonas mencionadas de Gongbei, ficando com código de saúde amarelo e submetendo-se a quatro testes sucessivos de ácido nucleico.

O par do dia

As autoridades de Zhuhai anun ciaram ontem a descoberta de dois casos positivos referentes a pessoas que trabalham em Macau.

A primeira a ser reportada foi uma mulher de 22 anos, residente no Interior da China, que trabalha no Music Cracker Education Cen

tre”, no Fai Chi Kei, que testou positivo na manhã de ontem.

O centro de coordenação de contingência indicou que, como tem sido habitual, a jovem passou pela área de correios expressos do centro comercial do posto fronteiriço de Gongbei no passado domingo.

Por volta do meio-dia de ontem, foi reportado pelas auto

ridades de Zhuhai mais um caso positivo, referente a uma residente do Interior da China, de 36 anos, que mora em Zhuhai e permanece a maioria do tempo na Farmácia “Hui Hong”, explorada pelo ma rido, na Rua 1 do Bairro Vá Tai, nas Portas do Cerco.

A mulher passou na terça -feira no balcão dos Serviços de Finanças do Centro de Serviços da RAEM da Areia Preta, o que levou ontem à tarde ao encerra mento do edifício durante uma hora e meia para desinfecção das instalações.

As autoridades indicaram ainda que na quarta-feira a mulher foi ao Edifício de Administração Pública, na Rua do Campo.

Até ao fecho da edição, as autori dades de saúde não haviam decretado mais zonas vermelhas. João Luz

Começa hoje mais uma ronda de forneci mento de máscaras à população de Macau, de acordo com informação veiculada ontem pelo centro de coordenação de contingên cia. O programa, que já vai na 48ª edição, irá decorrer durante 30 dias até 17 de De zembro. Cada pessoa pode comprar trinta máscaras com um custo de vinte e quatro patacas. As máscaras estão disponíveis para venda nas farmácias convencionadas dos Serviços de Saúde e duas associações cívicas (Federação das Associações dos Operários de Macau e Associação Geral das Mulheres de Macau) num total de 63 locais de venda de máscaras em Macau.

Importados Diagnosticados 13 casos assintomáticos

O Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus informou ontem que na passada quarta-feira foram registados treze casos importados, referente a cinco pessoas do sexo masculino e oito do sexo feminino, entre os 3 meses de idade e os 70 anos. Todos negaram histórico de infecções anteriores e chegaram a Macau de zonas tão distintas como Estados Unidos, Turquia, Portugal, Vietname, Tailândia, Singapura, Indonésia e Hong Kong.

sociedade 7 sexta-feira 18.11.2022 www.hojemacau.com.mo
COVID-19 GOVERNO AVISA QUE OCULTAR PASSAGEM POR GONGBEI PODE DAR PRISÃO
“O Centro de Coordenação reitera que quem prestar falsas declarações é punido com pena de prisão até 6 meses ou com pena de multa até 60 dias.”

Origem do nome “Macau”

De acordo com este registo, durante o reinado de Zhengde, os árabes já chega vam ocasionalmente a Haojing para fazer comércio. Mais tarde, o nome Haojing era comum nos registos históricos chineses da dinastia Ming. Em 1561, na Corografia de Guangdong, escrita por Huang Zuo, diz-se que:

O Secretário Chefe documentou que todos os anos, os navios de Siam e de outros lugares sob a jurisdição de Siam, como Kampot, Luk Khun Chau, Manlaga, Thuan Thien e Chamchung, vinham para a China, alguns dos quais atracavam em Xinning Guanghai, Wangtong, e outros em Xinhui Qitan, Xiangshan Langbai, Haojing e Shizimen...3

Em 1564, o nome Macau foi registado pela primeira vez. Pang Shangpeng men cionou este nome em “Memorial Apresen tado ao Imperador para Fazer Propostas sobre a Protecção da Segurança Eterna das Zonas Costeiras”:

Ao Sul de Cantão existe o condado de Xiangshan, que fica perto do mar. É uma viagem de um dia de Yongmo a Haojing’ao. Há duas colinas em Haojing’ao, que se chamam Colina Sul e Norte, sendo Macau. 4

Mais tarde, os nomes Haojing e Haojing’ao apareceram repetidamente nos memoriais como “Memorial a Oficial Su perior do Leste de Guangdong”, de Chen Wude, e “Discussão sobre Haojing’ao”, de Huo Yuxia. Pode-se constatar que os nomes Macau e Haojing eram usados jun tamente naquela época. De acordo com o estudo crítico do meu professor, Dai Yi xuan, os caracteres “蠔”, “壕” e “濠” eram intercambiáveis nos tempos antigos5, mas as pessoas usavam geralmente o carácter “ 濠(Hao)”.

MACAU TEM muitos nomes. Além do nome “Macau”, também é conhecida como Haojing, Jinghai, Jinghu, Haohai, Haijing, Haijue, Haojiang, Lianyang, Haojing’ao, Xiangshan’ao, Longyamen, Majiao, etc. O primeiro nome que foi re gistado por escrito é o nome “Haojing”. Em 1937, foi descoberto um manuscrito Suma Oriental, escrito por Tomé Pires, um farmacêutico da corte imperial do príncipe Afonso de Portugal. Esta obra foi feita de pois de ele ter ido a Malaca, Java, Cochim e outros lugares para observar e estudar si tuações destes países orientais entre 1512 a 1515. Neste manuscrito, o nome Hao jing era registado na página 162, dizendo que “além do porto de Cantão, há outro

porto chamado Haojing (Oquem), que tem distância de três dias de via terrestre, ou de um dia e uma noite de via marítima”. Isto significa que no reinado de Zhengde (1506-1521) da dinastia Ming, o nome Haojing já existia. You Tong, um escritor da dinastia Qing, escreveu no seu poema Medina que,

Xiangshan e Haojing brilhavam, o povo hui pagava tributos de meni nas bonitas e de receitas secretas.

As pessoas de mesma geração são parecidas em temperamento, tal como Zheng Zhuang, que viaja mil lis1 e leva comida.2

Os ocidentais não chamavam Macau de “Macau”. Os portugueses originalmente chamavam Macau de “Povoação do Nome de Deus de Amacao na China”, ou de “Por to do Nome de Deus”, também de forma abreviada como “Porto de Amacao”. Após meados do século XVI, Macau foi chamado e escrito de várias maneiras, como Oquem, Foquem, Amaquao, Amaqua, Amachao, Amacao, Amacuao, Amaquam, Machuao, Machaam, Machuon, Maehuan, Ma chuam, Maquao, etc. Actualmente, o nome oficial registado no Estatuto Orgânico de Macau é “Cidade do Nome de Deus de Ma cau”, abreviado como Macau (Macao em inglês), homónimos de “Majiao” na língua cantonesa.

Historiadores ocidentais têm várias opi niões sobre a origem do nome Macau, en tre as quais existem duas principais. Uma é que quando os portugueses chegaram pela primeira vez a Macau no início de 1553, eles desembarcaram no cais do Largo do Templo de A-Má, que ficava no extremo Sul

VIA do MEIO 18.11.2022 sexta-feira 8
Planta de Macau da autoria do cartógrafo luso-malaio Godinho de Erédia (ms. c. 1615-c. 1622) Planta de Macau desenhada por Barreto de Resende Fortalezas da Índia Oriental do cronista António Bocarro Mapa de Macau que integra a Monografia Abreviada impressa em 1751 Mapa xilogravado do litoral da província de Guangdong

“Macau”

da península. Naquela altura, o povo de Fujian chamava-o “A Ma Ge”, que é o Tem plo de A-Má de hoje. Os portugueses não entenderam o significado e pronunciaram -no como Amacuao ou Macau, homónimos de “A Ma Ge”. A 20 de Novembro de 1555, Fernão Mendes Pinto, missionário jesuíta português, usou pela primeira vez o nome “Amacuao”. Mais tarde, como as traduções chinesas da letra “A” no nome eram muito inconsistentes, a letra foi sempre omitida, e o nome foi escrito como Macao e eventual mente como Macau. Esta afirmação foi ex plicada posteriormente por Wang Yongsou, no poema Cantiga de A-Má de Poemas de Macau, citando a Crónica de Macau:

Quando os portugueses vieram pela primeira vez à China, atracaram num porto de Macau, onde havia um templo chamado “Templo de A-Má”, e eles confundiram o nome deste templo com o nome deste local, portanto, os registos históricos de muitos países chamavam Macau de “Majiao”, o seu nome deve derivar daqui.6

Outra afirmação é que o nome Macau teve origem em uma pedra de Majiao que fica num cabo nordeste de Macau, os por tugueses vieram pela primeira vez a Macau e ouviram falar dela, portanto, chamaram este local do nome Macau. Entre estas duas confirmações, a primeira parece mais credível, porque, em geral, quando os por tugueses chegaram a Macau pela primeira vez atracaram no cais antigo do actual Lar go do Templo de A-Má.

Notas

1 Unidade de comprimento, equivale a 1/2 quilómetro [nota da tradutora].

2 (Dinastia Qing) You Tong, Medina. Editora Chinesa, 1991, p. 22.

3 (Dinastia Ming) Huang Zuo, Corografia de Guangdong, Vol. 66, “Os Estrangeiros”. Edi ção gravada no vigésima sétimo ano do reinado de Jiajing.

4 (Dinastia Ming) Pang Shangpeng, Memorial Apresentado ao Imperador para Fazer Propos tas sobre a Proteção da Segurança Eterna das Zonas Costeiras, em Compilação dos Artigos da Dinastia Ming, editado por Chen Zilong (Dinastia Ming) e outros, Vol. 357. Zhonghua Book Company, 1962, p. 3835. Também regis tado em Excertos de Baiketing, Vol. 1, editado por Pang Shangpeng (Dinastia Ming).

5 Dai Yixuan, Anotação da História da Dinastia MingFranco. Editora de Ciências Sociais da China. 1984, p. 52.

6 Wang Yongsou, Poemas de Macau, na 74ª Série da História da China Moderna, editada pelo Shen Yunlong. Editora de Wenhai de Tai wan, 1978, p. 6.

XUNZI 荀子 Elementos de ética, visões do Caminho tradução de Rui Cascais

Desfazendo Fixações (II)

O Rei Tang, o Bem-Sucedido, examinou o comportamento de Jie da dinastia Xia. Assim, tornou-se mestre do seu coração e cuidou de o manter em boa ordem. Isto permitiu-lhe dar emprego a Yi Yin por muito tempo e ele próprio não se des viou do Caminho. E foi assim que pode lançar uma campanha punitiva contra o rei dos Xia e receber os Nove Domínios. O Rei Wen examinou o comportamento de Zhòu da dinastia Yin. Assim, tornou -se mestre do seu coração e cuidou de o manter em boa ordem. Isto permitiu-lhe dar emprego a Lü Wang1 por muito tem po e ele próprio não se desviou do Ca minho. E foi assim que pode lançar uma campanha punitiva contra o rei dos Yin e receber as Nove Pastagens. Depois, to das as áreas fronteiriças lhe pagaram tri buto de bens preciosos. Deste modo, os olhos do Rei Tang e do Rei Wen viram as mais extraordinárias vistas, os seus ou vidos escutaram a música mais extraor dinária, as suas bocas provaram os mais extraordinários sabores, os seus corpos habitaram nos mais extraordinários palá cios e os seus nomes receberam os mais extraordinários elogios. Em vida, todos debaixo do Céu os cantaram. Quando morreram, todos no perímetro dos quatro mares choraram por eles. A isto se chama o supremo florescimento. As Odes dizem:

As fénixes macho e fêmea Vão balançando Como escudos as asas adejando Como flautas que tocam cantando As fénixes macho e fêmea Se vieram aqui estabelecer Trazendo ao coração do nosso rei O maior prazer.2

Esta é a boa fortuna que vem de não se ser fixado.

No passado, houve ministros fixados, tais como Tang Yang e Xi Qi. Tang Yang era fixado no desejo por poder e, por isso, baniu Zaizi. Xi Qi era fixado no desejo de possuir o estado e, por isso, vilipendiou Shen Sheng3. Tang Yang foi executado em Song e Xi Qi foi execu tado em Jin. Um baniu um primeiro -ministro meritório, o outro fez mal a um irmão mais velho de coração filial e, em resultado disso, foram punidos e executados, mas sem conseguirem aperceber o que os aguardava. É esse o desastre de se ser fixado e bloqueado nos seus próprios pensamentos. Assim, desde tempos passados até ao presente, não houve ninguém que tivesse usado a ganância, a corrupção e a perfídia na luta pelo poder que não tenha sofrido perigo, desgraça e destruição.

1 O lendário Grão-Duque dos Zhou.

2 Especula-se que o poema se refere a um incidente durante o reinado do rei-sage Yao, no qual duas fénixes, macho e fêmea, fizeram ninho no seu território. Desde então, segundo a lenda, a fénix aparece apenas em tempos de boa governação.

3 Xi Qi era irmão mais novo de Shen Sheng, que se encontrava em linha directa para herdar o trono de Jin. Desejando o estado para si próprio, Xi Qi fez levantar calúnias contra Shen Sheng, o que levaria à execução do irmão.

Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.

VIA do MEIO 18.11.2022 sexta-feira 9
Nota Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE - 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, juntamente com o próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre *Directora do Departamento de Português da Universidade de Nankai, em Tianjin Resende para uma das vias originais do Livro das Bocarro (ms. Goa, 1635) Abreviada de Macau de Yin Guangren e Zhang Rulin, Guangdong incluído na Crónica Militar de Cangwu (3.ª ed. 1579).

As 7 viagens oceânicas de Zheng He (I)

NO DIA 11 de Julho de 2005 foi pela pri meira vez comemorado na China o Dia do Mar, data a assinalar os 600 anos do iní cio da primeira viagem marítima de Zheng He. Na altura esteve patente no Museu Marítimo de Macau uma exposição com o título “Rumo a Ocidente – As viagens de Zheng He”, onde se pôde ver, para além de vários modelos de juncos, os itinerários dessas viagens e conhecer o grande con tributo das invenções chinesas na História marítima da navegação. Sem nos dar os antecedentes das sete viagens marítimas comandadas pelo Almirante Zheng He, permitiu-nos viajar com o que sobrara da História dessa grande aventura realizada entre 1405 e 1433. Aos trinta países e re giões, chegou uma imensa armada sempre com mais de 200 barcos, onde constava o baochuan, conhecido como o barco do Tesouro, com o propósito de desenvolver a influência da dinastia Ming e estreitar relações através da troca de produtos lu xuosos: lacas, sedas, chá e porcelana.

Era o culminar de muitos séculos de ex periência de navegação, pois já no ano de 97 uma delegação chefiada por Gan Ying chegara a um porto do Golfo Pérsico. No século XII, os juncos tinham capacidade para viajar cinco mil milhas náuticas sem aportar e navegar sem costa à vista, não necessitando de parar no Sri Lanka quan do se dirigiam para o Mar Arábico. Nos fi nais de Novembro partiam da China e em quarenta dias chegavam a Sumatra (actual Indonésia) com a ajuda dos ventos. Aí es peravam até à Primavera do ano seguin te para, de novo com a ajuda dos ventos, atingir o Golfo Pérsico em sessenta dias, e à China regressavam em Maio/Junho. Quando se dirigiam às costas do Malabar usavam o porto indiano de Quilon, domi nado na altura por mercadores chineses. Ainda hoje disseminada na costa indiana encontra-se um sistema de pesca chinês, a rede de abater, redes quadrangulares que se levantam facilmente por um sistema de alavanca feito de bambus e cordas. Nas “Cartas Náuticas de Zheng He” ficaram re gistadas 56 rotas distintas, indicadas com os cursos das viagens e suas durações, bem como as localizações de ilhas, rios, portos, profundidades dos cursos de água, bancos de areia, recifes e outros obstácu los encontrados, para facilitar a navegação às embarcações de diferentes calados.

Poucos anos tinham passado desde o regresso da última expedição ao Oceano Índico da Armada do Tesouro, comanda da pelo Almirante Zheng He, quando foi destruída a documentação oficial de to das essas sete viagens marítimas. Estava -se nas primeiras décadas do século XV e a China afastou-se do mar, sendo Malaca o porto mais longínquo onde iam os co merciantes chineses.

Trabalho de campo

A Rota da Seda, designação dada aos inú meros caminhos para Oeste a atravessar

montanhas e desertos para ligar Impérios tão distantes como o da China e o Roma no, foi pela primeira vez referida em 1875 por o geógrafo Ferdinand von Richtofen. Má escolha de nome, pois muitas vezes não era a seda o produto mais importante transportado e daí a porcelana e o chá lhe tomariam a denominação. Os caminhos terrestres dividiam-se em dois percursos: os caminhos do Oeste, por desertos, este pes e montanhas; e os do Sudoeste, por montanhas e rios. Mas existiu também a Rota Marítima da Seda, pelos mares e oceanos que, pela segurança da navega ção, após apreendido o mar e apesar dos piratas, foi sempre um caminho aberto ao longo dos séculos, sobretudo ganhando importância quando os caminhos terres tres se fechavam.

Poucos anos tinham passado desde o regresso da última expedição ao Oceano Índico da Armada do Tesouro, comandada pelo Almirante Zheng He, quando foi destruída a documentação oficial de todas essas sete viagens marítimas.

Até iniciar as minhas investigações sobre a seda em 1991, pouco ou nada se ouvira sobre essas Rotas e desde então tenho vindo a percorrê-las e a estudá-las, tanto em livros, como nos locais de produção dessas mercadorias e portos para onde eram levadas. Pouco estudados estavam os barcos, tal como as mercadorias transportadas e as rotas que seguiam, sendo diminuto o material disponível nos museus até então visita dos. A maioria dos barcos repousa ain da no fundo dos mares, guardando um mundo de conhecimentos e cobertos por séculos de sedimentos. No Museu Marítimo de Macau, aliada à História das embarcações chinesas, encontrava -se explicada a viagem marítima dos portugueses, iniciada na mesma altura em que a China da dinastia Ming se re tirava dos mares.

Só nos princípios do século XX apa receu a primeira tese sobre as viagens de Zheng He, escrita por Liang Qichao, abrindo assim à memória um capítu lo da História chinesa esquecida por mais de quatro séculos. Em trabalho de campo foram descobertas populações ligadas de alguma maneira ao Almiran te Zheng He, como os seus familiares de Yunnan, os guardiões do seu túmu lo numa aldeia do clã Zheng, próximo de Nanjing, ou os habitantes de uma ilha no Quénia que acreditam ser des cendentes dos marinheiros chineses. Outros registos históricos ganharam luz, como as estelas espalhadas tanto na China, como em Malaca, na actual Malásia, em Galle, no Sri Lanka, e em

Calicute, na Índia, tal como os azule jos da sinagoga de Cochim, ou os restos de cerâmica chinesa, datada daquele período, encontrada pela costa oriental de África. Eram estes até 2003 os do cumentos à disposição dos investigado res, a permitir ter a esperança de um dia conseguir-se reconstituir estas viagens com mais precisão.

Quando em 2005 se preparavam as comemorações para os 600 anos das sete viagens marítimas de Zheng He tinha já falado com historiadores de alguns des ses portos visitados e elaborado o percur so dessas expedições marítimas, algo até então indisponível em livro. Daí ter escri to para a Revista Macau um artigo sobre o tema, com o título “As 7 viagens oceâ nicas de Zheng He” que, apesar de estar já paginado, não foi publicado pois, se gundo o editor, faltavam as fontes. Assim, o meu artigo passou para outras mãos e, caricatamente, foi escrito por quem pou co percebia do assunto. Usando algumas das minhas fotografias e os resumos das expedições colocados no mapa dessas viagens, foram as fontes validadas por historiadores questionados ao telefone para confirmar se podia ser verdade o que eu referira, tendo sido publicado em Junho de 2006 o artigo “Zheng He o ex plorador chinês”.

Desde então visitei muitos dos por tos chineses ligados à Rota Marítima da Seda, assim como muito mais informa ções têm vindo a ser conhecidas e traba lhadas por historiadores. Por isso preten do desenvolver esta História nas páginas deste jornal.

VIA do MEIO 10 18.11.2022 sexta-feira

Sem contemplações, e num gesto pouco vulgar, o Presidente chinês confrontou publicamente o primeiro-ministro canadiano, acusando-o de divulgar e deturpar conversas privadas

OPresidente chinês, Xi Jinping, repreendeu na quarta-feira o primeiro -ministro do Canadá, Justin Trudeau, em frente às câmaras, na cimeira do G20, numa contenda pública incomum, que pode complicar ainda mais as relações bilaterais.

“Ir contar aos jornais sobre aqui lo que falamos não é apropriado”, disse Xi a Justin Trudeau, de acor do com um vídeo registado pelos jornalistas em Bali, na Indonésia.

Xi referia-se a informações difundidas pela imprensa, sobre uma conversa entre os dois. Órgãos de comunicação canadianos e in ternacionais, que citaram pessoas familiarizadas com o encontro, relataram que o primeiro-ministro canadiano expressou preocupações com a alegada interferência chine sa nas eleições do seu país.

“Além disso, não foi assim que a conversa se realizou”, acrescen tou Xi, acusando Trudeau de falta de sinceridade.

Puxão de orelhas

rio dos Negócios Estrangeiros da China Mao Ning minimizou o caso.

“O vídeo (…) contém uma breve conversa entre os líderes dos dois países, durante a cimei ra do G20. Isso é algo normal”, apontou. “Não acho que deva ser interpretado como uma crítica ou repreensão a alguém por parte do Presidente Xi”, acrescentou.

Encontro amargo

A reunião de terça-feira entre Xi Jinping e Justin Trudeau foi o pri meiro diálogo cara a cara entre os dois líderes desde 2019.

A polícia federal canadiana indicou, na quinta-feira passada, que estava a investigar a alegada criação ilegal de “esquadras” pela China no Canadá, para controlar em particular chineses exilados ou a residir no país.

As observações de Xi foram traduzidas para o inglês por um intérprete. “Se houver sincerida de [da sua parte], então devemos ter uma discussão baseada no respeito mútuo. Se não houver, é difícil esperar mais”, afirmou o líder chinês. O Presidente chinês

aparentemente tenta despedir-se do primeiro-ministro canadiano, mas este responde. “No Canadá, acre ditamos no diálogo livre, aberto e franco, e é isso que continuaremos a fazer”, disse Justin Trudeau, em inglês. “Vamos continuar a procurar trabalhar juntos de forma construtiva,

SEMICONDUTORES LONDRES EXIGE QUE NEXPERIA VENDA PARTICIPAÇÃO EM FABRICANTE

OGoverno britânico de terminou ontem que uma empresa de proprie dade chinesa venda as suas acções na principal fabri cante de semicondutores no Reino Unido, medida que deverá provocar uma forte oposição por Pequim.

“Após uma avaliação detalhada da segurança nacional, o secretário de Estado para Negócios, Energia e Estratégia In dustrial [Grant Shapps] decidiu emitir uma ‘ordem final’ exigindo que a Nex peria venda pelo menos 86 por cento da Newport Wafer Fab, para se prote ger contra possíveis riscos para a segurança nacio nal”, referiu o porta-voz do Governo do Reino Unido em comunicado.

Na directiva, Grant Sha pps referiu que existe um risco relacionado com a “tec nologia e o ‘know-how’ (...) que poderia comprometer as capacidades do Reino Uni do”. A empresa neerlandesa Nexperia, propriedade da gigante chinesa de smar tphones Wingtech, concluiu a compra da Newport Wafer Fab, por um valor não di vulgado, em Julho de 2021.

Esta ordem governa mental ocorre numa altura em que as relações entre Pequim e Londres estão cada vez mais tensas e em

que há um escrutínio dos investimentos de empresas chinesas no exterior.

Em 2020, Londres proi biu a gigante chinesa de telecomunicações Huawei de implantar equipamen tos de banda larga 5G no Reino Unido, depois das preocupações manifestadas pelos Estados Unidos para os riscos de espionagem chinesa, acusações que desagradaram a Pequim, que prontamente descartou qualquer actividade relacio nada com espionagem.

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, chegou ao poder no mês passado, adoptando um tom duro contra a China, ao mesmo tempo em que sinalizou o seu desejo em negociar com o país.

mas vão haver coisas sobre as quais não concordamos”, acrescentou.

Xi Jinping pôs então fim à conver sa, afirmando por duas vezes: “Cabe a si criar as condições [necessárias para melhorar as relações]”.

Questionada ontem sobre o incidente, a porta-voz do ministé

Justin Turdeau também disse, na semana passada, que a China estava a conduzir “jogos agressivos”, depois de a emissora canadiana Global News ter avançado informações sobre a interferência chinesa no processo eleitoral do Canadá.

As relações entre Pequim e Otava deterioraram-se acentuadamente nos últimos anos, sobretudo depois da detenção, em 2018, pelo Canadá, a pedido dos Estados Unidos, da directora financeira do grupo chinês das telecomunicações Huawei.

QUARENTENAS MORTE DE SEGUNDA CRIANÇA RENOVA CRÍTICAS À ESTRATÉGIA ZERO CASOS

Amorte

de uma segunda criança na China, devido ao excesso de zelo na apli cação das medidas de pre venção epidémica, renovou descontentamento popular no país com a estratégia ‘zero casos’ de covid-19.

Uma menina de 4 meses morreu após sofrer vómitos e diarreia, quando cumpria quarentena num hotel na cidade de Zhengzhou, centro da China, de acordo com informação difundida pela imprensa local e publicações nas redes sociais.

O pai da criança levou 11 horas até conseguir ajuda, depois de os serviços de emer gência terem recusado atender a criança, que foi finalmente enviada para um hospital a 100 quilómetros de distância do lo cal onde cumpria quarentena.

A morte ocorreu depois de o Partido Comunista Chi nês (PCC) ter prometido, na semana passada, que pessoas em quarentena não seriam impedidas de ter acesso aos serviços de emergência, na sequência da morte de um menino de três anos, por envenenamento causado por uma fuga de monóxido de carbono em casa, no noroeste do país.

O seu pai culpou os pro fissionais de saúde da cidade de Lanzhou, que, segundo ele, tentaram impedi-lo de levar o filho para o hospital.

A menina de 4 meses e o seu pai foram colocados em quarentena no sábado.

Uma conta na rede social Weibo de um utilizador que se identifica como sendo o pai da criança, Li Bao

liang, disse que começou a ligar para a linha directa de emergência ao meio-dia de segunda-feira, depois de a menina ter sofrido vómitos e diarreia. A linha directa respondeu que a menina não estava suficientemente doente para precisar de atendimento de emergência.

Os profissionais de saú de no local da quarentena chamaram uma ambulância, mas a equipa recusou-se a lidar com o caso porque o pai testou positivo para o novo coronavírus.

A menina finalmente che gou ao hospital às 23:00, mas acabou por morrer, apesar dos esforços para reanimá-la.

O governo da cidade de Zhengzhou disse que o inci dente está sob investigação, de acordo com a imprensa.

china 11 sexta-feira 18.11.2022 www.hojemacau.com.mo
A TRUDEAU G20 XI FAZ REPREENSÃO PÚBLICA JUSTIN
“Ir contar aos jornais sobre aquilo que falamos não é apropriado.”
XI JINPING DIRIGINDO-SE
TRUDEAU
REUTERS

Espaços que respiram

O

12 eventos www.hojemacau.com.mo 18.11.2022 sexta-feira
ALBERGUE SCM ARQUITECTURA MODERNA E BAMBU EM DISCUSSÃO AMANHÃ
Albergue SCM acolhe amanhã uma discussão sobre a aplicação do bambu na arqui tectura moderna e as questões identitárias colocadas por um contexto de globalização. Conduzida pelo arquitecto e médico austríaco Markus Roselieb, a palestra irá incidir sobre o papel da arquitectura na preservação da natureza e na promoção da sustentabilidade

AMANHÃ, a partir das 14h30, o Hall

D1 do Albergue SCM acolhe a pa lestra “Que Identi dade? Num mundo globalizado, que papel tem a identidade numa cultura arquitectónica específica? Aplicação do bambu na ar quitectura moderna”, evento patrocinado pelo Fundo de Desenvolvimento da Cultura.

Conduzida em inglês pelo arquitecto austríaco Markus Roselieb, a palestra propõe a dissecação do uso do bambu enquanto mate rial de construção natural aplicado a uma perspectiva contemporânea de arquitec tura e design.

A organização do evento, que cabe ao Círculo dos Ami gos da Cultura de Macau, escreve em comunicado que o bambu é material na tural, “um tubo reforçado e altamente funcional quando usado correctamente”. “Pode ser usado em estruturas de grande dimensão, num sis tema de vigas cruzadas em áreas vastas, ou para criar tec tos com formas orgânicas que permitem ventilação natural. Tem elevada durabilidade e é agradável aos sentidos, gerando um ambiente aco lhedor”, é acrescentado.

Radicado na Tailândia, Markus Roselieb é fundador da Chiangmai Life Archi tects and Chiangmai Life Construction, que aposta na “arquitectura como via para colocar as pessoas em contacto consigo próprias e com o ambiente contruído”, missão para a qual o bambu é uma ferramenta de conexão.

“A nossa identidade visual é moldada pelas formas que podemos observar na natureza, por longas e fluídas curvas e arcos. Conexão e combinação são conceitos importantes. Ligar uma pessoa a um lugar, ao planeta, mas também ligar a natureza à modernidade.”

O arquitecto defende que o bambu tem características que lhe conferem a capaci dade de substituir o aço em muitas aplicações estrutu rais, tendo em conta a maior elasticidade e resistência à tração, ao mesmo tempo que é muito mais leve que o aço. “A nossa identidade vi sual é moldada pelas formas que podemos observar na natureza, por longas e fluídas curvas e arcos. Conexão e combinação são conceitos importantes. Ligar uma pes soa a um lugar, ao planeta, mas também ligar a natureza à modernidade”, refere Ma rkus Roselieb em comunica do, lançando premissas para a palestras de amanhã.

Do corpo à casa Formado em medicina na Universidade de Viena, na Áustria, Markus Roselieb é um arquitecto autoditacta, que aprendeu através da observação de micro-estru turas, como o esqueleto hu mano, mas também pela via empírica, com experiências registadas desde os tempos de estudante na construção de estruturas. Roselieb viria a especializar-se em arqui tectura sustentável e com sensibilidades ecológicas, focando-se também em projectos arquitectónicos virados para a educação, co mércio e habitação de luxo.

O arquitecto ajudou também a fundar a Panya den International School, em Chiang Mai no norte da Tailândia, que promove uma nova abordagem educativa focada na criatividade, pro ximidade com a natureza e ciências ambientais.

A entrada para a palestra é livre, mas requer inscrição prévia. Os interessados têm até hoje às 13h para se inscre verem através do site https:// docs.google.com/forms/d/e /1FAIpQLSdGKQAU86lD k9ftqMhobPeBsUOfk-A -Z2EQtLExP0tF7cZFVg/ viewform. Não há lugares marcados e a organização vinca que os lugares senta dos são limitados. João Luz

VIVENDAS DE MONG-HÁ “THE TEMPLE BOAT” CONTA HISTÓRIAS MARÍTIMAS

Éinaugurada amanhã, às 16h, nas vivendas de Mong-Há a exposição “The Temple Boat”, que resulta da residência artística de Xiaoshi Qin. Organizada pelo Armazém do Boi, a mostra individual da jovem artista de Guangzhou, que estará patente ao público até 4 de Dezembro, é o somatório de inspirações sobre as histórias escondidas nas águas do Mar do Sul da China e no Rio das Pérolas.

O espaço expositivo foi transformado num barco templo conceptual, que navega através das histórias escondidas “nas águas do Delta do Rio das Pérolas e contadas através de objectos, luz e sombras, e músicas”, indica o Armazém do Boi.

O processo criativo le vou Xiaoshi Qin a viajar por localidades no sul do Delta do Rio das Pérolas, coleccionando artefactos e histórias de piratas sem casa em terra firme, que se viam forçados a criar o seu próprio mundo nas águas. Umas dessas manifestações é a ideia de “um barco tem plo, dedicado à deusa do mar Sam Po, onde os piratas procuravam sabedoria na face da incerteza”.

Xiaoshi Qin é uma jovem artista baseada em Guan gzhou e Nova Iorque. Nos Estados Unidos, criou uma aplicação de telemóvel para encontrar formas alternati vas de comunicar assuntos sobre género.

Tem na calha um ro mance sobre a preparação para o fim do mundo em Shenzhen. J.L.

HOJE TERAPIA

Rouquidão

Diversas plantas medicinais podem ser úteis para o tratamento da rouquidão, sendo de destacar as plantas anti-infla matórias, adstringentes e emolientes. As plantas anti-inflamatórias reduzem a reacção inflamatória; as plantas adstrin gentes contraem os tecidos e, quando estes se encontram inflamados, secam -nos e endurecem-nos formando uma camada protetora, até que sejam rege nerados e substituídos por tecidos sãos – esta camada protectora também im pede a actuação dos microrganismos; por fim, as plantas emolientes exercem um efeito suavizante e calmante sobre os tecidos irritados ou inflamados, ao formar uma camada protectora que pro move a retenção de humidade, hidra tando e amolecendo os tecidos. É igual mente de referir a importância de se es tabelecer a causa desta afecção para que possa ser devidamente tratada. Vamos conhecer Hoje algumas destas plantas:

Eríssimo (Eríssimo-das-boticas, Er va-dos-cantores, Erva-rinchão, Rin chão), Sisymbrium officinale, partes aéreas floridas e folhas: Remédio usa do desde a Antiguidade, o Eríssimo foi citado por Dioscórides e, mais tarde, por Laguna, entre outros médicos ilustres ao longo da História. O seu nome Erís simo provém do grego e significa, apro ximadamente, eu salvo o canto, numa alusão à antiga prática dos cantores que o tomavam para aclarar a voz. Originá rio da Europa, encontra-se comummen te em terrenos baldios e próximo dos lo cais habitados. Semelhante à Mostarda (Brassica nigra) no seu aspecto, sabor e composição, esta planta contém um óleo essencial sulfurado que, quando em contacto com a mucosa da boca e fa ringe provoca, através de um mecanis mo reflexo, um maior afluxo de sangue à laringe e aos brônquios, favorecendo a expulsão de mucosidades do aparelho respiratório. Além disso, apresenta pro priedades anti-inflamatórias e béquicas, desinflamando a garganta, acalmando a tosse e a irritação da garganta e acla rando a voz. Assim, torna-se muito útil para o tratamento de faringites, larin gites, afonia ou rouquidão e bronquite.

(PARTE II)

Pode ser tomado em infusão; para me lhores resultados, reforçar o uso interno com o externo, na forma de gargarejos.

Tussilagem (Erva-de-São-Quirino, Farfara, Tussilagem-fárfara, Unha -de-asno, Unha-de-cavalo), Tussilago farfara, folhas e flores: Usada como remédio para combater a tosse desde os tempos mais remotos, foi descrita por Dioscórides com o nome grego de bekion, o que originou o termo béqui co. Este termo refere-se à propriedade de acalmar a tosse e a irritação da gar ganta, sendo a Tussilagem o béquico de eleição. A planta exerce ainda activida de emoliente e expectorante, bem como uma acção antiespasmódica suave, antitússica, broncodilatadora e sudo rífica. Tomada em infusão, está muito indicada para o tratamento de amigda lites, faringites, afonia, traqueíte, gripe, bronquites agudas e crónicas, catarros brônquicos, asma, enfisema pulmonar e broncopneumonia (como adjuvante). Em caso de afonia, a infusão pode ser tomada internamente ou aplicada em gargarejos. A Tussilagem é ainda uma planta de excelência para os ex-fuma dores, auxiliando a limpar os brônquios das mucosidades acumuladas e contri buindo para regenerar as mucosas res piratórias.

Violeta (Viola, Violeta-de-cheiro, Viole ta-roxa), Viola odorata, flores e folhas: Conhecido remédio desde a Antiguidade, foi recomendada por Hipócrates. Produz um efeito emoliente, anti-inflamatório, ex pectorante, béquico e sudorífico, ou seja, suaviza e desinflama as mucosas do apa relho respiratório, favorece a expulsão de mucosidades, acalma a tosse e a irritação da garganta e induz a sudação, facilitan do a eliminação de toxinas e auxiliando a baixar a febre quando existente. A infu são, aplicada em bochechos e gargarejos, é usada para o tratamento de estomatites, gengivites, amigdalites, laringites e afo nia. Tomada em infusão é também bené fica em caso de gripe, catarro brônquico, bronquite, traqueíte e broncopneumonia (como adjuvante); o xarope de Violetas é particularmente indicado para as crianças.

ADVERTÊNCIAS: Este artigo tem como objectivo apenas a divulgação e não deve substituir a consulta de um profissional de saúde, nem promover a auto -prescrição. Além disso, algumas plantas têm contra-indicações, efeitos adversos ou interacções com medicamentos.

eventos 13 www.hojemacau.com.mo sexta-feira 18.11.2022
MARKUS ROSELIEB ARQUITECTO

UM FILME HOJE

Acomeçar pelo título, “Zero to Hero” é uma colecção de clichés e uma oportunidade perdida de homenagem ao atleta paraolímpico So Wa Wai. O filme biográfico, disponível no Ne tflix, é a película proposta por Hong Kong para Melhor Filme Estrangeiro dos Óscares. Infelizmente, não há um momento natural ou credível em todo o filme. A luta por superação que a vida do atleta representa foi transformada numa mitificação ao nível TVB, bem ilustrada na corrida final onde foram empacotados todos os clichés possíveis: o estádio vazio e apenas a mãe de So nas bancadas, os flashbacks de glórias passadas, a troca do sinal de “estou de olho em ti”, tudo tão previsível e mauzinho que anula a carga dramática que o filme poderia ter. João Luz

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Nunu Wu Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Gonçalo Waddington; José Simões Morais; Julie Oyang; Paulo Maia e Carmo; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Colunistas André Namora; David Chan; João Romão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Pátio da Sé, n.º22, Edf.

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WRONG SPEECH, PÁ

ASSIM SE pronunciou o secretário-geral da ONU quando iniciava o seu discurso durante a COP 27, a conferência promovida pelas Nações Unidas para definir políticas de combate às alterações climáticas em implacável curso. Lá estavam as câmaras a captar o caricato momento de hesitação perante as palavras que algum serviço de assessoria mais distraído entregou errada mente para aquela delicada circunstância, com a situação resolvida com um espontâ neo e gracioso “I think that I was given the wrong speech, pá”. O momento que parece ter sido de graça, tendo em conta o agrado abertamente manifestado por convivas pre sentes, que riram com gosto neste grotesco espectáculo que também inclui arriscados números de ilusionismo estatístico e con torcionismo retórico.

Foi a 27.ª vez que se organizou esta “Conference of Parties”, ou COP, o que talvez se possa traduzir para português como “Conferência das Partes”, o que não soaria grande coisa se se tratasse de algo que se pudesse levar a sério, mas que talvez se adeque (porque não, pá?) a esta comédia com que as partes se entretêm e divertem. Afinal, mais um discurso errado faz pouca diferença: com ou sem Guterres na liderança, já são quase três décadas de discursos erra dos, feitos de palavras tão eloquentes como ocas e inconsequentes, desde que as ditas partes se começaram a reunir, sob a égide da ONU, em Berlim, em 1995.

Ficaram famosas algumas destas reu niões, ou os documentos que se fizeram aprovar para alimentar a fé da humanidade num mundo melhor, ou pelo menos mais viável. Desde logo o famoso Protocolo de Kyoto, acordado na Conferência de 1997 e em vigor desde 1998, que havia de tornar a antiga capital japonesa numa das maiores atracções turísticas do país e hoje a única urbe do Japão onde se observam com clareza os problemas do excesso de turismo e a sua decorrente insustentabilidade. Foi a primeira vez que as Partes – os países envolvidos, entre os quais Portugal - se comprometeram a implementar limitações e atingir reduções concretas nas emissões de gases tóxicos, devidamente quantificadas.

Valerá pouco a pena contar esta triste história de empolgados discursos e generosas intenções ditadas pela pompa e circunstância dos magníficos salões onde decorrem estas celebrações anuais de animado convívio entre as Partes. A esta pompa corresponde sempre e implacavelmente uma realidade que não há como distorcer no dia a dia do planeta a seguir a cada um destes momentos: mesmo quando finalmente se acordou, em Paris, 2015, definir um conjunto quantifi cado de metas para se atingirem objectivos específicos no controle do aquecimento global, o certo é que se continuou a falhar contínua e rotundamente até hoje. Na rea

lidade, com a breve excepção registada em 2020, com uma ligeira quebra motivada pela inevitável reclusão imposta pelo Covid-19, as emissões de gases tóxicos continuaram sempre a aumentar.

É por isso que há quem não se ria desta farsa sistemática e permanente, por mui gra ciosas que se achem as Partes. É a juventude do mundo, essas pessoas que pressentem um futuro curto, que temem pelo desaparecimen to do habitat onde era suposto alimentarem sonhos de futuros felizes, e onde afinal vão descobrindo preocupações crescentes, ante cipando problemas cada vez mais graves, en quanto observam como se sucedem políticas vazias de resultados envoltas em discursos de

reiterada demagogia, que vão afinal alimen tando as mesmas relações de poder e a mesma predação sistemática e implacável de recursos que um sistema económico profundamente injusto, desigual e irracional vai impondo dia após dia, após ano, garantindo a riqueza exorbitante de uma pequeníssima minoria e a decorrente miséria de grande parte das 8 mil milhões de pessoas que habitam este cada vez mais precário planeta.

Por isso protestam, com formas deter minadas mas pacíficas, pelo menos até ver. São adolescentes e estudantes, na sua larga maioria, com informação, esclarecimento, organização, pacifismo, determinação. Estão em muitos sítios do planeta, sobretudo nos países mais desenvolvidos, os que mais beneficiam do gigantesco problema que têm vindo a criar década atrás de década, num processo contínuo de crescimento de consumo e produção que despreza os limites dos recursos e do planeta. Estão quase sós estas pessoas, no entanto: pelos vistos o futuro conta pouco para quem já só olha para curtos prazos de vida e reformas antecipadas.

Além de um planeta em acelerada destruição, o que esta sociedade tem para oferecer a esta juventude em desespero de causa é a pancadaria que for necessária para a manter na quietude do seu silêncio. Com a brutalidade que for precisa e os tribunais que forem necessários, quem participar nestas ocupações pacíficas de espaços públicos já sabe que vai ter dos poderes dominantes a mesma resposta repressiva, em Lisboa

noutros lugares. Até à cadeia, se for preciso.

Na realidade, a repressão que se abateu rapidamente e em força sobre quem se manifestou em Lisboa durante estes dias em que o secretário-geral da ONU cumpria o ritual de ler discursos errados, pá, já era conhecida de outros momentos e lugares, até relativamente próximos. Também eram adolescentes as pessoas que a polícia reti rou com brutalidade de manifestações pelo clima em praças de Londres, poucas horas depois de se sentarem pacificamente. Não gerou esta violência nenhuma onda crítica ou solidariedade massiva, mas, nos mesmos dias, criticava-se internacionalmente, na ex -colónia britânica de Hong Kong, a utilização da força pela polícia chinesa para dispersar manifestações que duravam há um mês, bloqueando diariamente o trânsito de dois milhões de pessoas e envolvendo a destruição violenta de várias estações de metropolitano.

Nas alegadas democracias ocidentais, co nhecem-se afinal muito facilmente os limites da liberdade de expressão e manifestação quando se confrontam os poderes com o vazio das suas propostas e a inevitabilidade do seu fracasso. Não é necessária violência nem destruição: basta ocupar pacificamente espaços públicos e perturbar vagamente a ordem quotidiana. É certo que esta juventude vai continuar a fazê-lo, até porque não tem alternativa: quem se manifesta nestes dias contra a inacção das instituições perante o colapso do planeta tem a determinação infinita que lhe vem da tristeza de saber que tem razão.

vozes 15 sexta-feira 18.11.2022 www.hojemacau.com.mo
confeitaria João Romão
como
Afinal, mais um discurso errado faz pouca diferença: com ou sem Guterres na liderança, já são quase três décadas de discursos errados, feitos de palavras tão eloquentes como ocas e inconsequentes

ignorância do bem é a causa do mal.’’

Zona Norte Desmantelada rede de contrabando

Os Serviços de Alfândega (SA) desmantelaram na noite de terça-feira, em conjunto com a Polícia Ju diciária (PJ), uma rede de contrabando que operava num edifício industrial na zona norte. Segundo um comunicado divulgado pelos SA, estariam envolvidas 39 pessoas. O caso foi descoberto depois de duas mulheres pertencentes à rede terem tentado entrar em Zhuhai com produtos de beleza e telemóveis antigos. Após serem identificadas, acabaram por confessar que transportavam consigo produtos contrabandea dos. Os agentes dos SA e PJ conseguiram então entrar no edifício industrial usado pela rede tendo encontrado dois responsáveis, três funcionários e 32 contrabandistas. No local, foram ainda descobertos mais de mil produtos de beleza, 25 telemóveis antigos, 120 medicamentos e 35 produtos na área da saúde, num valor total de 300 mil patacas. As pessoas encontradas no local e, entretanto detidas, têm entre 19 e 72 anos, sendo que sete são residentes e 32 oriundas do Interior da China.

MUNDIAL2022 / QATAR MACRON REJEITA BOICOTE E ACREDITA EM ‘REFORMAS’

OPresidente francês, Emmanuel Macron, rejeitou ontem um boicote ao Mundial2022 de futebol no Qatar, justificando que este evento desportivo ajudará o país, acusado de não respeitar os direitos humanos, a mudar. “Não sou a favor de um boicote ao Mundial. Essas questões deveriam ser colocadas antes, no momento em que se atribuem os jogos ou competições”, disse o governante francês num evento em Banguecoque.

Macron insistiu que será bom para o Qatar receber o Campeonato do Mundo, que se inicia no domingo e decorrerá até 18 de Dezembro, por ser o primeiro organizado no mundo árabe e porque a competição tem levado a que se efectuem algumas “reformas”.

O Presidente francês, que chegou na quarta-feira a Banguecoque, onde participa rá como convidado na cimeira de coopera ção económica Ásia-Pacífico (APEC), que se inicia na sexta-feira, insistiu no facto de que o desporto “não deve ser politizado”.

O Mundial no país continua a gerar de bate, quer no que diz respeito às condições dos trabalhadores, ao impacto ambiental dos estádios climatizados, ao papel da mulher ou aos direitos das minorias, no meadamente LGBTQ+. Muitas críticas que têm levado os adeptos, sobretudo da Europa ocidental, a um boicote da competição.

Soltem os prisioneiros

Libertados cerca de seis mil presos, quatro deles estrangeiros no Myanmar

MYANMAR (antiga Birmânia) anun ciou ontem que vai libertar 5.774 presos, entre eles quatro estrangeiros detidos no país, como parte de uma amnistia para assinalar o Dia Nacional da Vitória.

Informações divulgadas inicialmente pela agência de notícias France-Presse (AFP) davam conta da liber tação de 700 presos, embora, mais tarde, agências noticio sas internacionais, incluindo a Associated Press (AP), que cita a emissora oficial birmanesa MRTV, tenham indicado um total de 5.774 pessoas amnistiadas.

O professor australiano Sean Turnell, o realizador japo nês Toru Kubota, a diplomata Vicky Bowman e o botânico norte-americano Kyaw Htay vão também ser libertados, de acordo com a agência de notícias Myanmar Now.

Vidas interrompidas

Turnell, de 58 anos, é profes sor associado de Economia

na Universidade Macquarie de Sidney, e foi detido pelas forças de segurança birma nesas num hotel, na cidade de Rangum, tendo sido condenado em Setembro a três anos de prisão por violar a lei dos segredos oficiais e a lei de imigração do país.

Já Kubota, realizador documental de 26 anos, foi detido em 30 de Julho por polícias à paisana, também em Rangum, depois de, no ano passado, fazer imagens e vídeos de um protesto contra o golpe militar. Em Outubro,

O professor australiano Sean Turnell, o realizador japonês Toru Kubota, a diplomata Vicky Bowman e o botânico norte-americano Kyaw Htay vão também ser libertados

foi condenado pelo tribunal prisional a dez anos de pri são por incitar à dissidência contra os militares e violar as leis de telecomunicações do país.

Vicky Bowman tem 56 anos e foi embaixadora do Reino Unido em Myanmar, tendo sido detida em Agosto juntamente com o marido, um cidadão birmanês, que também será libertado ago ra, de acordo com a AFP. A diplomata foi condenada a um ano de prisão por crimes de imigração.

Kyaw, botânico dos EUA, de origem birmanesa, foi acusado de terrorismo e condenado a sete anos de prisão por alegados crimes contra o Estado.

O ministério dos Negó cios Estrangeiros nipónico já confirmou ter sido in formado da libertação de Kubota, mas não adiantou pormenores.

A embaixada britânica em Rangum, por seu lado, disse que Bowman ainda não saiu em liberdade.

ISAF Proibida circulação de medicamento esteróide

O Instituto para a Supervisão e Administração Farmacêutica (ISAF) decretou ontem a proibição do medicamento 草本護膚膏, sem nome em in glês, no mercado local. A circulação em Macau foi descoberta graças a informações divulgadas pelo Departamento de Saúde da Região Administrativa Especial de Hong Kong. Este medicamento tem na sua composição uma “substância medicamen tosa ocidental conhecida como“Triamcinolona acetonida” (Triamcinolone acetonide) e a sua importação nunca foi permitida em Macau. Este é um medicamento esteroide “destinado ao tra tamento das inflamações e deve ser utilizado por prescrição médica”, sendo os “efeitos secundários o surgimento de cara de lua cheia, hipertensão, hiperglicemia, atrofia da pele, insuficiência adrenal e osteoporose”. O ISAF está, nesta fase, a “acom panhar a situação de circulação deste produto em Macau”, apelando “aos residentes para que não o adquiram nem o consumam”.

TURQUIA ERDOGAN DIZ QUE EUA E RÚSSIA NÃO VÃO USAR ARMAS NUCLEARES

“NEM

os Estados Unidos nem a Rússia vão tentar usar armamento nuclear” disse ontem o Presidente da Tur quia, Recep Tayyip Erdogan, referindo-se à reunião de representantes dos serviços de informações dos dois países em Ancara.

“De acordo com os dados que recebi do meu director dos serviços secretos no que diz respeito aos Estados Unidos e à Rússia, nenhuma das duas partes vai cair na tentação de utilizar armas nucleares”, disse Erdogan, citado ontem pela agência oficial turca Anadolu.

O chefe de Estado turco confirmou que o director da CIA William Burns (serviços de informações dos Estados Unidos) e o homólogo russo Serguei Narychki ne (FSB) estiveram no princípio da semana na capital da Turquia.

No encontro, Burns alertou o chefe dos serviços secretos russos das consequências da utilização de armas nucleares, sendo que Washington tinha afirmado anteriormen te que a Rússia tinha ameaçado utilizar este tipo de armamento na Ucrânia.

Antes, a Casa Branca tinha afirmado também que a reunião de Ancara “não foi uma negociação de qualquer tipo” ou “uma discussão de um acordo sobre a guerra na Ucrânia”.

sexta-feira 18.11.2022
Demócrito PALAVRA DO DIA PUB.
“A

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