Hoje Macau 19 MAI 2017 #3815

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SEXTA-FEIRA 19 DE MAIO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3815

SOFIA MARGARIDA MOTA

TERMINAL MARÍTIMO

JOÃO MASCARENHAS

OPINIÃO

PÁGINA 7

EVENTOS

ISABEL CASTRO

Sabor do improviso

Não te cases

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MIGUEL DE SENNA FERNANDES

Senta-te e ri Dóci Papiaçám O espectáculo tem de continuar ENTREVISTA

SOFIA MARGARIDA MOTA

hojemacau

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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Pronto a embarcar

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BIBITO HENRIQUE

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ


2

MIGUEL DE SENNA FERNANDES ENCENADOR DOS DÓCI PAPIAÇÁM DI MACAU

É dos momentos altos do Festival de Artes de Macau. O Centro Cultural enchese para ver o teatro em patuá, o teatro que se ri da cidade e com a cidade. Miguel de Senna Fernandes, responsável pelo grupo, promete, para hoje e amanhã, a habitual boa disposição. À boleia do riso, os assuntos mais sérios: a falta de uma sede para os Dóci Papiaçám, o pouco apoio institucional e a inexistência de uma ideia oficial para a preservação da cultura macaense

“Apoiar a cultura macaense é algo muito vago” O que é que se conta este ano em “Sórti na Téra di Tufám” (Sorte em Terra de Tufão)? Qual é o vosso objectivo desta vez? Não há objectivos especiais, a não ser fazer o público rir. Mas as peças prestam-se à sátira. Sim, há uma preocupação temática. Este ano temos um tufão como pano de fundo e o que é ter sorte num dia de tempestade. Imagine-se um azarado a quem acontecem as coisas mais mirabolantes possíveis, aquilo que não é provável acontecer a outras pessoas. Imagine-se que, na empresa onde trabalha, todos tiveram aumentos, mas ele não só não teve esse aumento, como ainda foi despedido. E calha-lhe um bilhete de lotaria que foi rejeitado por todos os outros. São 90 milhões, mas não pode reclamar o prémio. Não pode fazê-lo porque, em Macau, seria ilegal e, em segundo lugar, não pode ir para Hong Kong por causa do tufão. Portanto, estamos nesta jigajoga. Tem de esperar que o tufão passe para poder, mais tarde e com relativa segurança, ir a Hong Kong reclamar o seu prémio. Neste compasso de espera, ninguém acredita que o azarado possa ter tanta sorte e cobiçam o bilhete. Temos um plot à volta destas coisas. Há muitos azarados em Macau? Há muitas situações que se prestam à falta de sorte? É tudo muito relativo. A sorte de uns é o azar de outros. Mas vivemos numa cidade muito ditada pela sorte e pelo azar. Acontece tudo. Macau é uma cidade pacata, mas de contradições: aquilo que é bom para uns pode não o ser para outros. Nestes últimos dez anos, os Dóci Papiaçám têm vindo a abordar assuntos do burgo, sempre através de uma história. Com essa história desenvolvemos a nossa faceta crítica em relação ao que acontece em Macau. Todos

nos lembramos que um tufão, no ano passado, causou algumas confusões na cidade. Achei que podia ser hilariante falar sobre isto. Não iríamos, naturalmente, falar das pessoas, mas sim das situações. E as situações são cómicas.

“As actividades dos Dóci Papiaçám não se podem resumir a ensaios. Queremos andar mais, queremos ir mais longe. Precisamos de formação técnica.” À semelhança do que tem vindo a acontecer nos últimos anos, há actores improváveis? Há surpresas? A improbabilidade existe sempre – até eu sou improvável pelas circunstâncias de realizar um vídeo. Mas em relação aos actores, ao contrário do que aconteceu nas edições anteriores em que tem havido sempre uma estreia, este ano não há. No entanto, temos um regresso: a Ângela, que já representou connosco, a última vez em 2001, antes de partir para estudar em Inglaterra. Voltou no final do ano passado, tive conhecimento da sua vinda e enderecei-lhe o convite. É uma espécie de estreia nuns Dóci Papiaçám bem diferentes do que quando ela nos deixou. Quanto a outros aspectos, não há grandes improbabilidades. Mas os imprevistos vão sempre surgindo, todos os anos há coisas pelas quais não esperávamos e somos, muitas vezes, empurrados a fazer. Este ano não tem sido excepção. Como disse, em face da ausência do Sérgio Perez – a pessoa que me deixava

absolutamente descansado, era o homem do vídeo que veio dar uma dimensão nova ao espectáculo –, coloquei em prática o mínimo que aprendi com ele. É um trabalho de aprendiz. Mas desta vez pudemos contar com o António Faria, um profissional de mão cheia, temos o Miguel Andrade na sonoplastia, o Miguel Khan, o André Ritchie. Tivemos pessoal de apoio suficiente para podermos pôr o vídeo a funcionar. Temos algumas surpresas – e como são surpresas, não vou desvendá-las. Acho que o espectáculo tem todas as condições para oferecer boa disposição para o fim-de-semana. Os Dóci Papiaçám continuam a debater-se com a falta de um espaço próprio. Sim. É daquelas coisas que fazem atravancar a concretização de ideias. Há já vários anos que andamos à volta desta questão. Claro que a gente não morre por causa disso, mas ter um local é sempre melhor. Se não estou em erro, é o quinto ano que utilizamos o espaço da Escola Portuguesa para os nossos ensaios. Mas as actividades dos Dóci Papiaçám não se podem resumir a ensaios, até porque os ensaios servem para determinado fim. Os Dóci Papiaçám querem andar mais, querem ir mais longe. Precisamos de formação técnica. Os actores não têm qualquer tipo de formação, são todos autodidactas. Eu também não tenho, é a custa da experiência acumulada nestes 24 anos. Acredito que se tivesse formação técnica, teria nos horizontes outras soluções para o espectáculo. Não que me queixe, gosto de todos os espectáculos que a gente faz, mas seguramente que os Dóci Papiaçám ficariam apetrechados de outra qualidade técnica. O mesmo acontece com os actores, que são todos amadores, mesmo aqueles que são mais experientes. Os papéis não variam muito justamente porque os actores têm as suas limitações técnicas. Se

pudéssemos fazer alguma coisa a este respeito, teríamos outro tipo de opções. A cultura macaense não é a mais visível na cidade e os Dóci Papiaçám são das poucas manifestações regulares desta cultura. Compreende-se que num território onde o discurso político enaltece, com regularidade, a cultura macaense, o grupo não tenha uma sede? Ora aí está. Há vários anos, falámos não só com o antigo Chefe do Executivo, como com o actual, acerca da necessidade de obtermos um espaço. Compreendo alguma dificuldade, mas não é assim tanta. Os Dóci Papiaçám não querem um apartamento – precisam, do mínimo, de um sítio onde possam organizar ensaios. Mas não precisamos de um espaço muito grande. Dou um exemplo: o átrio da Escola Portuguesa, numa primeira fase, funciona como local de ensaios. Só depois, numa fase posterior, é que passamos para o ginásio. Não precisamos assim de tanto espaço. Mas falámos com os dois Chefes do Executivo, com o Instituto Cultural, e a resposta que nos dão é sempre de não compromisso. Essa postura de não compromisso é o mais típico aqui da terra. A gente vai esperando. Não é por causa disto que deixamos de fazer espectáculos. As pessoas que me conhecem sabem que eu posso esperar, mas vou fazendo o trabalho. E é isso que tem sido feito – a postura dos Dóci Papiaçám é essa. É uma questão de atitude. Esta postura de não compromisso do Governo detecta-se noutros aspectos que deveriam ser resolvidos de uma forma diferente? É na área cultural que se sente mais. O discurso é sempre o de apoio à cultura macaense, mas apoiar a cultura macaense é algo muito vago. O que é se apoia? A palavra “cultura” refere-se a algo imaterial. Quando falamos de cultura, refe-

SOFIA MARGARIDA MOTA

ENTREVISTA


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rimo-nos a manifestações e isso é que é fundamental. Era necessário dotar as instituições, aquelas que desenvolvem actividades nesta área, com os instrumentos fundamentais para que essa cultura seja efectivamente defendida. O Governo apoia os Dóci Papiaçám? Claro que apoia, todos os anos assegura o nosso lugar no Festival de Artes de Macau, do Instituto Cultural, o que agradecemos e temos vindo a agradecer há mais de 20 anos, na altura ainda na Administração portuguesa. Mas não basta, não é assim: “Eu dou-te o orçamento para fazeres um espetáculo e já te estou a apoiar”. Claro que se não fosse esse dinheiro os Dóci Papiaçám não podiam existir enquanto grupo. Só que quando falamos em defender a cultura macaense não é só pagar: é preciso meios para que estas actividades possam ser efectivadas. Chego a compreender que o Governo possa ter as mãos atadas, porque a comunidade macaense não é a única em Macau.

Há muitas outras comunidades, até entre a comunidade chinesa, pelo que percebo o problema que se coloca em relação ao que é politicamente correcto, a questão de dar a umas e não dar a outras. Também não gostaria de sentir um favorecimento do Governo. Mas a comunidade macaense, até do ponto de vista histórico, não é uma comunidade qualquer.

“Falámos com os dois Chefes do Executivo, com o Instituto Cultural, e a resposta que nos dão é sempre de não compromisso. Essa postura é o mais típico aqui da terra.”

Lá está. É importante que o Governo considere a perspectiva histórica. Não quero ser injusto: obviamente que o apoio que se dá à comunidade macaense tem que ver com o seu background histórico, os macaenses estiveram sempre em Macau e, durante toda a existência do território, contribuíram para a identidade muito própria desta cidade. No entanto, muitas vezes, na prática, existem falhas. Temos associações que estão a fazer o seu trabalho, que querem desenvolvê-lo e não têm orçamento para mais do que o mínimo. Há dinheiro para o funcionamento e para algumas actividades, uns passeios e alguns convívios, mas não existem projectos como devia haver. Há sempre uma postura reservada em relação à Associação dos Macaenses e isso leva-nos a várias leituras. Não choramos por isto: claro que lamentamos não podermos concretizar demasiados projectos, mas não choramos,

nem fazemos birras. Não gosto de choramingar, governamo-nos bem com aquilo que temos. É assim que acontece na Associação dos Macaenses e na Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, onde sou dirigente, e foi sempre assim nos Dóci Papiaçám. Claro que gostaríamos de ter mais: quando vemos aquilo que a imprensa publicita sobre os valores que determinadas entidades obtêm, levamos as mãos à cabeça. Não vou obviamente julgar ninguém, as entidades a quem compete conceder e conferir esses subsídios melhor saberão das razões. Mas o certo é que as associações macaenses e todas as que estejam ligadas à língua portuguesa precisam de apoios. Voltando à questão inicial, àquilo que é defender a cultura macaense, devolvo a pergunta ao Governo. O que é ele quer? Como é que o Governo imagina o que é defender, ou pelo menos proteger, a cultura macaense? Gostaria

“Quando vemos aquilo que a imprensa publicita sobre os valores que determinadas entidades obtêm, levamos as mãos à cabeça. Mas não vou obviamente julgar ninguém.” que nos esclarecessem. Mas não vamos morrer, vamos fazendo o nosso trabalho e, no que toca aos Dóci Papiaçám, todos os anos vamos, pelo menos, fazer tudo para que o público ria. Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com


4 José Cesário, deputado à Assembleia da República, diz que “está para breve” a publicação do decreto que regulamenta a Lei da Nacionalidade. Cesário fala ainda da existência de alguns casos de netos de portugueses a residir em Macau e em Hong Kong que não conseguem obter a cidadania

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Lei da Nacionalidade, que vai permitir aos netos de portugueses espalhados pelo mundo obterem a cidadania portuguesa, está quase a ser regulamentada.Agarantia foi dada ao HM por José Cesário, actual deputado à Assembleia da República (AR) pelo Círculo Fora da Europa. O assunto foi discutido numa audição entre a Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas e a ministra da Justiça de Por-

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Lei da Nacionalidade HÁ “ALGUNS CASOS” EM MACAU E HONG KONG

Estamos quase lá tugal, Francisca Van Dunem, ocorrida esta terça-feira. Cesário disse ainda que existem alguns casos em Macau e em Hong Kong de netos de portugueses que, até este momento, não conseguiram obter a nacionalidade. “O que me é dito é que poderá haver alguns casos, em Macau e em Hong Kong”, disse José Cesário. “Neste momento, podem obter a nacionalidade por naturalização, é um processo moroso, mas podem. O que se pretende no futuro é obter a nacionalidade, quase automaticamente, pela nacionalidade originária. São processos diferentes. Não posso garantir quantos casos há, mas é-me dito, por pessoas da comunidade, que haverá alguns casos”, acrescentou. A regulamentação da nova Lei da Nacionalidade, implementada em 2015, vem agora definir em que moldes é que os requerentes podem pedir a sua “nacionalidade originária”. “O grande passo foi dado em 2015, quando foi alterada a Lei da Nacionalidade, tendo sido introduzida esta possibilidade. O que se passou até hoje foi um atraso significativo na regulamentação da lei”, argumentou Cesário.

OITO MESES DE ATRASO

A audição com a ministra da Justiça serviu ainda

JOSÉ CESÁRIO DEPUTADO

José Cesário

para debater os atrasos no processamento de registos junto da Conservatória dos Registos Centrais. “Foi-nos confirmado o que já sabíamos, que há atrasos significativos em toda a rede consular, com destaque para os consula-

dos-gerais de São Paulo, Rio de Janeiro, Caracas e Macau.” José Cesário garante que “há milhares de processos pendentes, com um atraso de integração na ordem dos sete a oito meses”.

Pôr as chefias no banco da escola Chan Meng Kam pede avaliação jurídica nos cargos de topo

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deputado Chan Meng Kam entende que é necessário formação jurídica para as chefias da função pública. Em causa, alega, está a falta de conhecimentos jurídicos dos funcionários de topo da Administração. Em interpelação escrita, o deputado salienta a importância do conhecimento das leis e regimes. Se houver outro tipo de preparação, aponta, será mais fácil evitar que se repitam infracções como as registadas, por exemplo, nas contratações ilegais feitas pelo Instituto Cultural

bem, mas depois começámos a ter alguns problemas. Esperamos que esses problemas venham a ser resolvidos a curto e médio prazo.” O deputado, que anteriormente desempenhou o cargo de secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, fala de um aumento dos atrasos administrativos durante o actual Executivo.

“Esperamos que [o Governo português] venha a estar [mais atento às questões das comunidades portuguesas]. Até aqui não tem estado.”

(IC), relacionadas com a aquisição de bens e serviços. Chan Meng Kam recorda a justificação dada pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. O governante apontou a insuficiência de conhecimentos jurídicos por parte dos responsáveis do IC para explicar o ocorrido. Para o deputado de Fujian, é fundamental que os residentes que pretendam ingressar na função pública sejam submetidos a uma avaliação de conhecimentos jurídicos. A necessidade é tanto

maior, aponta, quando se trata de cargos de chefia. “Embora existam funcionários em cargos de chefia que possuem as habilitações e requisitos necessários para assumir funções, não apresentam conhecimentos suficientes no que respeita à lei”, lê-se na interpelação.

GOVERNO A DAR AULAS

De modo a resolver a situação, Chan Meng Kam propõe ainda ao Executivo que altere os estatutos que dizem respeito aos cargos superiores dos trabalhadores de modo

A solução, segundo disse Francisca Van Dunem, será a contratação de mais funcionários. “Foi-nos dito que seria feito um reforço do respectivo serviço, e esperamos que essa situação venha a ter alguma evolução. Até determinada altura tudo correu

a integrarem, como requisito, os devidos conhecimentos jurídicos. O tribuno considera ainda que cabe ao Governo iniciar um processo que integre a realização de acções de formação e que deve ser dirigido aos cargos de direcção dos serviços. A ideia é que sejam dados a conhecer os regimes jurídicos específicos da Administração Pública e Finanças. Após a devida formação, Chan Meng Kam entende que os directores devem ser submetidos a uma prova que demonstre que dominam a matéria. Sofia Margarida Mota com Victor Ng info@hojemacau.com.mo

TIAGO ALCÂNTARA

POLÍTICA

“Esperamos que [o Governo português] venha a estar [mais atento às questões das comunidades portuguesas]. Até aqui não tem estado. Um dos grandes problemas do actual Governo é que os casos de atraso na integração de processos administrativos têm aumentado de uma forma visível.” “A ministra assegurou-nos que iria tomar medidas para resolver parte dos problemas. Aguardamos a evolução dos processos, depois avaliaremos o tipo de acções que poderemos realizar”, rematou José Cesário. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


5 POLÍTICA

hoje macau sexta-feira 19.5.2017

“No comunicado faz-se uma sugestão para se rever a lei de habitação económica. Faremos isso, iniciaremos o processo legislativo com a brevidade que for possível.”

TIAGO ALCÂNTARA

Para bom entendedor

Adjudicações na Administração debatidas esta segunda-feira

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STÁ agendado para a próxima segunda-feira o debate na Assembleia Legislativa (AL) sobre a aquisição e adjudicação de bens e serviços por parte do Governo. O promotor do debate é o deputado Mak Soi Kun. Na proposta de debate, aprovada recentemente pelo hemiciclo, o deputado exige que o Executivo dê explicações sobre o processo de aquisição de bens e serviços no seio da Função Pública, que continua a ser feito com base numa lei implementada nos anos 1980. “Para evitar que surjam mais problemas sociais devido à obsoleta lei das aquisições, e salvaguardar a estabilidade e o desenvolvimento da sociedade, apresento ao presidente da AL, em prol do interesse público, a presente proposta de debate, chamando à atenção

para a lei referida, com vista a dissipar as preocupações da sociedade e a evitar mais prejuízos para o interesse público”, lê-se na proposta. Mak Soi Kun aponta ainda que a lei em causa “há muito que é criticada por ser obsoleta e obstruir gravemente o desenvolvimento da sociedade, originando corrupção e prejudicando significativamente o interesse público”. O deputado dá como exemplo a forma de recrutamento levada a cabo pelo Instituto Cultural (IC), que resultou num relatório do Comissariado contra a Corrupção. “Olhando para os últimos anos, os problemas resultantes da lei das aquisições, uns mais graves, outros menos, não pararam. Um exemplo recente é a violação das normas legais do concurso e recrutamento por parte do IC”, concluiu. A.S.S.

RECURSOS HUMANOS OBRAS PÚBLICAS COM POUCOS CONTRATOS IRREGULARES

À

margem da inauguração do novo Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, adiantou que nos serviços que dirige existem alguns casos de contratações irregulares. Com o recente e demolidor relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) sobre a forma sistemática como o Instituto Cultural contratava funcionários através do regime de aquisição de serviços, todos os serviços do Governo ficaram em sobreaviso. Esta forma de contornar os concursos públicos no recrutamento de pessoal tem sido alvo das investigações do CCAC, colocando em cheque os diversos departamentos do Executivo. Como tal, Raimundo do Rosário esclarece que nos seus serviços existem apenas “quatro ou cinco casos,

não chegam a meia dúzia”. O secretário esclarece que “a maneira de resolver isso é deixar os contratos correrem até ao fim” e não renová-los. Os funcionários que se mostrarem indispensáveis aos serviços terão a sua situação laboral legalizada. Outra novidade revelada por Raimundo do Rosário é que o processo relativo à permuta de terrenos da antiga fábrica de panchões terá chegado ao fim. “Penso que já se decidiu o que se vai fazer”, comentou o secretário, remetendo para breve mais informações sobre o assunto. J.L.

RAIMUNDO DO ROSÁRIO SECRETÁRIO PARA OS TRANSPORTES E OBRAS PÚBLICAS situação demonstra que existem muitos serviços que não sabem aplicar as leis no âmbito das suas competências”, apontou.

ÓRGÃO PARA QUEIXAS

IH SECRETÁRIO PROMETE REACÇÃO ÀS RECOMENDAÇÕES DO CCAC

Casa nostra Raimundo do Rosário promete seguir as sugestões do Comissariado contra a Corrupção, que deu razão aos moradores de fracções económicas que corriam o risco de perder os apartamentos. O secretário para os Transportes e Obras Públicas não deu, no entanto, um calendário para a revisão da lei de habitação económica

O

secretário para os Transportes e Obras Públicas promete seguir as recomendações do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) relativas ao caso das fracções económicas cujos promitentes-compradores estavam em risco de ficar sem as habitações. As pessoas em causa já vivem nas casas, mas o Instituto de Habitação (IH) considerou que, como as condições de candidatura mudaram enquanto esperavam pela assinatura da escritura, não devem ficar com os apartamentos. O CCAC deu razão aos queixosos. “Vamos seguir, de certeza, de acordo com as recomendações do CCAC para resolver a questão”, disse ontem Raimundo do Rosário, à margem da

inauguração do Terminal Marítimo da Taipa. “Na parte final do comunicado faz-se uma sugestão para se rever a lei de habitação económica. Faremos isso, iniciaremos o processo legislativo com a brevidade que for possível”, acrescentou o secretário, sem adiantar uma data precisa para a apresentação de um novo diploma à Assembleia Legislativa. O deputado José Pereira Coutinho foi um dos membros do hemiciclo que apoiou a apresentação das queixas ao CCAC, encabeçadas pela deputada Ella Lei. Em declarações ao HM, Pereira Coutinho considera a reacção do CCAC “positiva”. “Só no nosso gabinete de atendimento aos cidadãos foi apresentada uma dezena de queixas. Esta

O deputado considera que é necessário criar em Macau um órgão oficial que receba queixas dos cidadãos relacionadas com o mau funcionamento dos serviços públicos, tal como já existe em Hong Kong, o Office of the Ombudsman. “O nosso gabinete tem recebido queixas relacionadas com os direitos e interesses legalmente protegidos, em que os serviços públicos, por maldade ou má formação de alguns dirigentes, indeferem ou rejeitam os pedidos de forma propositada”, apontou. Na visão do deputado, isso faz com que os cidadãos tenham de recorrer a tribunal. Contudo, acabam por desistir “face aos milhares de patacas que têm de desembolsar com os honorários dos advogados, o que manifestamente não compensa”.

ESCRITURAS QUE DEMORAM

Em declarações ao jornal Ou Mun, a deputada Ella Lei referiu que a postura do IH “é inaceitável”, tendo alertado para que os departamentos públicos tomem decisões de acordo com as leis em vigor. Ella Lei lembra que, segundo o resultado da investigação do CCAC, a actual lei de habitação económica não obriga a que os cônjuges dos candidatos façam parte do agregado familiar, se o matrimónio foi contraído após a candidatura. Comprovativos de rendimentos ou propriedades dos cônjuges são tidos em conta apenas na fase da candidatura e não na fase da celebração das escrituras, lembrou. A deputada explicou também que há muitas famílias que perdem muito dinheiro com consultas junto de advogados. Há ainda o facto de o IH demorar muito tempo a assinar a escritura com os promitentes-compradores de fracções económicas. Caso esse processo demorasse entre um a dois anos, não teria havido qualquer problema, defendeu ainda. Ella Lei falou de casos em que a assinatura das escrituras chegou a demorar dez anos. Por isso, “é injusto” da parte do IH questionar o alargamento do agregado familiar. Andreia Sofia Silva (com J.L e V.N)

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Notificação n.º 002/SS/GPCT/2017 Considerando que não é possível notificar os interessados, pessoalmente, por ofício, via telefónica, nem por outro meio, nos termos do artigo 68.º, do n.º 1 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, bem como dos respectivos procedimentos sancionatórios regulados no artigo 14.º do Decreto-Lei n.º 52/99/M, de 4 de Outubro, o signatário notifica, pela presente, de acordo com o n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, os infractores, constantes da tabela desta notificação, do conteúdo das respectivas decisões sancionatórias: Em conformidade com o artigo 25.º da Lei n.º 5/2011 (Regime de prevenção e controlo do tabagismo), e tendo em consideração as infracções administrativas comprovadas, a existência de culpa e não existência de qualquer circunstância agravante confirmada, o Director dos Serviços de Saúde determina que: 1. Foram aplicadas aos infractores, constantes da Tabela I em anexo, as multas previstas no artigo 23.º da Lei n.º 5/2011, no valor de 400 patacas (MOP 400,00) (cada infracção): Os factos ilícitos exarados nas acusações, provados testemunhalmente, constituem infracções administrativas ao disposto no artigo 4.º, porquanto resultam da prática de actos de “fumar em locais proibidos”, tendo sido os infractores notificados do conteúdo das acusações. (cfr.: Tabela I) 2. Além disso, os infractores podem ainda apresentar reclamação contra os actos sancionatórios junto do autor do acto, no prazo de quinze (15) dias, a contar da data da publicação da notificação, nos termos do artigo 145.º, do n.º 1 do artigo 148.º e do artigo 149.º do Código do Procedimento Administrativo, sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 123.º do referido Código. Para efeitos do disposto no n.º 2 do artigo 150.º do mesmo Código, a reclamação não tem efeito suspensivo sobre o acto, salvo disposição legal em contrário. 3. Quanto aos actos sancionatórios, os infractores podem apresentar recurso contencioso no prazo estipulado nos artigos 25.º e 26.º do Código de Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro, junto do Tribunal Administrativo da Região Administrativa Especial de Macau, sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 27.º do referido Código. 4. Sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 75.º do Código do Procedimento Administrativo, para efeitos das disposições do n.º 7 do artigo 29.º da Lei n.º 5/2011, os infractores deverão efectuar a liquidação das multas aplicadas, dentro do prazo de trinta (30) dias, a partir da data de publicação desta notificação, no Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo, sito na Avenida da Amizade, N.o 918, “World Trade Center Building”, 15.o andar, Macau. Caso contrário, os Serviços de Saúde submeterão o processo à Repartição das Execuções Fiscais da Direcção dos Serviços de Finanças para efeitos da cobrança coerciva, de acordo com o artigo 29.º do Decreto-Lei n.º 30/99/M e o artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 52/99/M. 5. Não é de atender a esta notificação, caso os infractores constantes da tabela anexa tenham já saldado, aquando da presente publicação, as respectivas multas, resultantes da acusação. 6. Para informações mais pormenorizadas, os interessados poderão ligar para o telefone n.º 2855 6789 ou dirigir-se pessoalmente ao referido Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo. 28 de 04 de 2017.

O Director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion Tabela I

Nome 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34

CHEN JIANWU ZHENG MIN NING QIANZHENG SI CHI KIN LU JIANHONG KIM BOOYOUNG CHANG CHIO FUN FAN, YIMIN WU JINMING LEE CHANGHIUA BAEK SEUNG CHUL NG KUONG CHOI KANTAKO KARAMOKO LEI SAI KUN LI GUO YU CHONG WAI KUONG LICNACHAN JULIE ANNE HONG IOK KUN TAM KAM HOU QI ZHI HUI TING PO TENG MOK CHI TO MAPA RANEL BARTOCILLO EMWANTA OSAYAME RAPHAEL ZHAO YANMING YE JINMING ZHAO LINLIN PAT TIN CHEOK GUO SHILEI WEN, RUIJIAN ZHU SHOUZE LIU DEYANG TAM WAI LEONG ZHAO TINGWEI

Sexo M M M M F F M M M M M M M M M M F M M M M M M M M M M M M M M M M M

Tipo e n.º do documento N.º da acusação de identificação (*3) (*3) (*4) (*1) (*3) (*5) (*1) (*4) (*3) (*5) (*5) (*1) (*7) (*1) (*3) (*1) (*6) (*1) (*1) (*3) (*8) (*2) (*6) (*1) (*3) (*4) (*3) (*1) (*3) (*4) (*3) (*4) (*1) (*4)

C35207XXX W88074XXX E78803XXX 13214XX(X) W65165XXX M23752XXX 74368XX(X) E49484XXX C25244XXX M22827XXX M46337XXX 14816XX(X) B0973XXX 13359XX(X) C30807XXX 74065XX(X) EB7179XXX 73830XX(X) 74221XX(X) C32349XXX 311724XXX K1306XX(X) EC0391XXX 14038XX(X) C37492XXX G49511XXX C41570XXX 74116XX(X) W95493XXX E26191XXX W85270XXX G44980XXX 72466XX(X) T25364XXX

100033073 100033085 100033118 100394794 100033144 100142654 100455980 100382436 100468464 100033182 100033170 100458453 100271463 100469642 100270368 100382595 100271499 100383496 100419647 100270512 100271091 100271124 100271150 100021791 100270837 100270875 100270946 100270984 100265094 100383723 100314427 100314477 100383555 100027917

Data da infracção 2016/09/30 2016/09/30 2016/10/02 2016/10/02 2016/10/04 2016/10/11 2016/10/13 2016/10/13 2016/10/14 2016/10/15 2016/10/15 2016/10/19 2016/10/24 2016/10/24 2016/10/26 2016/11/17 2016/11/17 2016/11/25 2016/11/25 2016/12/03 2016/12/10 2016/12/11 2016/12/11 2016/12/14 2016/12/14 2016/12/15 2016/12/16 2016/12/16 2016/12/20 2016/12/22 2016/12/29 2016/12/30 2016/12/30 2016/12/31

Data em que foram exarados os despachos de aplicação das multas 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28 2017/04/28

Nota﹕ (*1) (*2) (*3) (*4) (*5) (*6) (*7) (*8)

Bilhete de Identidade de Residente da Região Administrativa Especial de Macau Bilhete de Identidade da Região Administrativa Especial de Hong Kong Salvo-conduto de residente da República Popular da China para deslocação a Hong Kong e Macau Passaporte da República Popular da China Passaporte da República da Coreia Passaporte da República das Filipinas Passaporte da República do Mali Documento de Viagem da Região de Taiwan


7 SOCIEDADE

GCS

hoje macau sexta-feira 19.5.2017

Desde o início, o terminal custou aos cofres do Governo 3,8 mil milhões de patacas, seis vezes mais do que havia sido orçamentado, facto que Raimundo do Rosário não considera alarmante

D

EPOIS de muitos imprevistos e complicações, obras que andaram para a frente e para trás, o Terminal Marítimo da Taipa foi inaugurado com toda a pompa e circunstância. O secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, era um homem feliz no fim da cerimónia. Não era para mais, foi concluída no seu mandato uma obra que teimava em não ser terminada, mais de 11 anos depois do início da construção. Rosário não quer colher sozinho os louros da abertura. “Temos 3400 pessoas, eu sou só uma delas, portanto, o resultado é de todos”, dizia o governante minutos após a inauguração. Desde o início, o terminal custou aos cofres do Governo 3,8 mil milhões de patacas, seis vezes mais do que havia sido orçamentado à partida, facto que Raimundo do Rosário não considera alarmante. “Não sei se a derrapagem é muito grande, porque a obra é muito grande.” O espaço total é cerca de 200 mil metros quadrados, o suficiente para 25 campos de futebol. Além disso, o primeiro projecto previa oito docas de atracação para embarcações rápidas, número que após reavaliação se considerou insuficiente, acabando por

Transportes PASSADOS 11 ANOS, MACAU TEM NOVO TERMINAL DE FERRIES

Odisseia marítima

Depois de quase uma dúzia de anos do início da construção e de uma solução temporária que durou uma década, o Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa foi ontem inaugurado. Entra em funcionamento a 1 de Junho, dia em que encerra o terminal provisório. Custou 3,8 mil milhões de patacas ser alargado para 16. “Hoje temos este edifício, que é maior que o terminal de passageiros do aeroporto”, relativiza Rosário. Além das 16 docas mencionadas, o terminal tem mais três lugares para atracação multifuncionais, 127 canais de passagem fronteiriça, duas esteiras de recolha de bagagem, uma plataforma de aterragem com cinco heliportos e um parque de estacionamento com capacidade para mil veículos.

DO PROVISÓRIO AO DEFINITIVO

O Terminal Marítimo da Taipa estará aberto ao público 24 horas por dia, mantendo a mesma operacionalidade do terminal provisório numa primeira fase de funcionamento. Susana Wong, responsável máxima da Direcção dos Serviços

de Assuntos Marítimos e de Água, explicou que a nova infra-estrutura “responde ao aumento da procura de transporte marítimo resultante do desenvolvimento de Cotai e alivia a pressão sobre o Terminal Marítimo do Porto Exterior”. Neste capítulo é de salientar que, nos últimos cinco anos, passaram pelas fronteiras marítimas de Macau 120 milhões de pessoas. A nova infra-estrutura garantirá ligações a quatro destinos de Hong Kong (Sheung Wan, Kowloon, Tuen Mun e Aeroporto Internacional de Hong Kong), e a dois portos de Shenzhen (Fu Yong e She Kou), além de disponibilizar transporte aéreo através de helicópteros. Apesar da inauguração do edifício a estrear, tanto Raimundo do Rosário, como

Susana Wong garantiram que o terminal de ferries de Macau é para manter. O novo terminal abre ao público em Junho depois de um processo moroso e com muitos problemas de estrutura. Não obstante as garantias dadas à tutela pela empresa de construção quanto à manutenção, o edifício tem revelado problemas de infiltrações, um facto que preocupa Raimundo do Rosário. “Esta obra teve várias peripécias, designadamente, esteve parada durante um período que não foi curto. É natural que tenha problemas, sempre reconheci isso, mas estamos cá para os resolver”, adianta o secretário.

POSTO DE ABASTECIMENTO

Para já, o terminal provisório passa o testemu-

nho de funcionamento ao novo edifício, numa “transferência pacífica”, nas palavras de Susana Wong. A expectativa da director da DSAMA é que, com as dimensões do novo terminal, se dê o aumento gradual do número de passageiros. Passam pelo terminal provisório cerca de 35 por cento do número de passageiros que entram e saem de Macau por via marítima. Com a entrada em funcionamento da nova infra-estrutura é expectável que esse “número suba para mais de 40 por cento”, projecta Susana Wong. Para já, continuam a operar as mesmas três empresas de transporte marítimo no novo terminal, mas se a procura a isso ditar, a responsável da DSAMA não afasta

a hipótese de entrar uma nova empresa no transporte em causa. No lugar do terminal provisório, que será demolido após a entrada em funcionamento das novas instalações, será construído um posto de abastecimento para os ferries. Esta será a terceira fase do projecto do Terminal da Taipa, ainda sem um orçamento estabelecido. Chega assim ao fim uma infra-estrutura temporária que operou durante uma década, dando lugar a uma nova era de transporte marítimo. João Luz

info@hojemacau.com.mo

NÚMEROS O Terminal Marítimo da Taipa tem 42 bilheteiras no primeiro andar das Partidas e alberga 36 balcões de check-in e despacho de bagagem. Quanto à alfândega, o novo edifício conta com 44 canais de controlo de documentos de identificação e 16 canais de passagem automática. Na primeira fase de funcionamento, o terminal disponibiliza 8 salas de embarque. Os passageiros que chegam a Macau têm ao dispor 42 canais de controlo de documentação e 25 passagens automáticas. No total, estima-se que o terminal tenha capacidade para processar a passagem de cerca de 400 mil passageiros diariamente.


8 SOCIEDADE

hoje macau sexta-feira 19.5.2017

DSAL SOLICITADAS MEDIDAS PARA GARANTIR CONTRATAÇÃO DE RESIDENTES

IMOBILIÁRIO TRANSACÇÕES CAEM NO INÍCIO DE 2017

O

primeiro trimestre do ano teve menos compra e venda de casas em relação ao mesmo período do ano passado. Dados revelados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), com base no imposto de selo cobrado, mostram que nos primeiros três meses de 2017 transaccionaram-se 3337 fracções autónomas e lugares de estacionamento pelo valor de 17,93 mil milhões de patacas. Estes valores representaram descidas de 35 e 38,9 por cento, respectivamente, face ao período homólogo. As fracções autónomas habitacionais que mudaram de mãos no primeiro trimestre do ano foram 2313, por um preço total de 13,61 mil milhões de patacas. Os

valores representam uma descida de 1,262 e 41,8 por cento, respectivamente. O número de transacções de fracções autónomas habitacionais em prédios ainda em construção teve uma queda vertiginosa, 69,3 por cento, para um total de 306 compras e vendas. Também o valor despendido caiu bastante, 68,5 por cento, para um montante global de 3,08 mil milhões de patacas. Ainda assim, em termos de preço médio, as fracções autónomas habitacionais em edifícios em construção foram comercializadas por quase 130 mil patacas o metro quadrado, uma subida de 4,7 por cento. Também nas fracções em prédios já edificados o preço médio por metro quadrado subiu 2,4 por cento, para 83,3 mil patacas. No primeiro trimestre de 2017 foram assinados 4058 contratos de compra e venda e 3665 contratos de crédito hipotecário, envolvendo 4077 e 4246 imóveis, respectivamente.

Os da terra primeiro As obras da Taipa estão prestes a terminar e Ella Lei foi ontem solicitar à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais medidas que previnam o desemprego dos residentes. A responsável dos Operários quer evitar o desemprego dos locais e garantir que os residentes têm prioridade no preenchimento de vagas

A

subdirectora da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Ella Lei, pede medidas preventivas para evitar a contratação de mão-de-obra estrangeira depois de terminarem as obras em curso no território. A solicitação foi feita ontem num encontro da também deputada com Wong Chi Hong, responsável pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). De acordo com Ella Lei, os residentes têm-se manifestado preocupados com a falta de emprego, sendo que há casos de pessoas que se encontram a procurar

E

STE ano teve um bom arranque para a banca em Macau. De acordo com dados fornecidos pelaAutoridade Monetária de Macau (AMCM), o sector cresceu consideravelmente no primeiro trimestre de 2017. Em termos de aplicações financeiras em mercados internacionais, o activo total do sistema bancário cresceu 84,1 por cento no final de 2016, para 84,7 por cento três meses depois. A pataca não é a unidade principal nas transacções bancárias internacionais. No fim do último mês de Março, a pataca ocupava uma quota de apenas 0,8 e 1,5 por cento, respectivamente, no total do activo e passivo financeiro

internacional. As moedas mais usadas foram o dólar de Hong Kong, o dólar norte-americano e o renminbi, com um peso de 42,3, 45,3, 6,2 e 5,5 por cento do total do activo internacional, respectivamente. No final de Março de 2017, o total dos activos internacionais dos bancos de Macau chegou aos 1.215,5 mil milhões de patacas, o que representou um crescimento de 3,9 por cento em relação ao trimestre anterior, e um aumento de 7,7 por cento em relação ao ano passado. Macau distribuiu a sua actividade bancária internacional principalmente pela Ásia e Europa. No fim de Março deste ano, as quotas das disponibilidades da banca de Macau em Hong Kong e no Interior da China eram de 36,7 e 27,2 por cento, respectivamente. Portugal e Reino Unido representaram dois e 2,3 por cento do total de activo exterior, respectivamente.

ANTÓNIO FALCÃO

BANCA SECTOR CRESCE NO PRIMEIRO TRIMESTRE

trabalho desde Setembro do ano passado. Alguns destes casos foram resolvidos porque, com a ajuda da DSAL, acabaram por ser chamados para trabalhar nas obras que estão em curso no território. No entanto, Ella Lei refere que a FAOM continua a receber casos semelhantes em que existem trabalhadores a manifestar o seu desagrado por considerarem estar numa situação de emprego instável, sendo que alguns deles já foram inclusivamente despedidos. De acordo com as queixas apresentadas, a FAOM terá intervindo, tendo conseguido novas contratações. Para Ella Lei, é simples e é necessária uma intervenção

eficaz da DSAL. “Quando se trata de dar emprego prioritariamente a residentes quer dizer também que os despedimentos não devem ser dirigidos aos locais”, afirmou a responsável da FAOM. Ella Lei fez ainda saber que o objectivo do encontro com Wong Chi Hong era o reforço da necessidade de comunicação entre o Governo e as entidades empregadoras, de modo a garantir a empregabilidade prioritária dos residentes do território. Com o final das obras, nomeadamente de construção dos novos casinos, agendado para o terceiro trimestre deste ano, Ella Lei alerta para que a DSAL co-

mece já a pensar em medidas que previnam a situação de desemprego que se avizinha. Na prática, a deputada pede que o Governo comece já a considerar novos empregos para dar àqueles que vão ficar sem trabalho de modo, para que as situações ocorridas no ano passado não se repitam.

NÚMEROS QUE NÃO AGRADAM

Ella Lei não deixou de se justificar com a apresentação de dados estatísticos. De acordo com a responsável da FAOM, entre 2015 e 2017, as taxas de desemprego e de subemprego subiram, enquanto nos primeiros meses de 2017 o número de trabalhadores não residentes (TNR) registou um aumento. “Não acredito que os trabalhadores locais que trabalham na construção civil não consigam emprego, até porque há mais de 30 mil TNR no território”, disse, questionando como é que os residentes não conseguem encontrar trabalho.

“Quando se trata de dar emprego prioritariamente a residentes, quer dizer também que os despedimentos não devem ser dirigidos aos locais” ELLA LEI SUBDIRECTORA DA FAOM Wong Chi Hong, depois do encontro, e de acordo com Ella Lei, afirmou que vai dar seguimento aos casos de procura de trabalho destacados pela FAOM e alertar as empresas para garantir emprego aos locais. O encontro contou também com a presença dos representantes da Associação dos Operários de Pintura de Macau. Vítor Ng (com Sofia Margarida Mota) info@hojemacau.com.mo


9 hoje macau sexta-feira 19.5.2017

Em Macau, o assistente social é cada vez mais necessário. Apesar da escassez de recursos humanos, a profissão é muitas vezes confundida com trabalho administrativo, o que leva à desmotivação de quem pensa em optar pela carreira, diz Suzette Agcaoili, professora da Universidade de São José

SOCIEDADE

USJ FÓRUM DEDICADO AO SERVIÇO SOCIAL ALERTA PARA ESPECIFICIDADES LOCAIS

Profissionais anónimos

“O

serviço social é uma área que, apesar de muito procurada pela própria comunidade, continua sem conseguir dar resposta às necessidades”, refere Suzette Agcaoili ao HM. A razão, aponta, deve-se à falta, em muitas instituições, do próprio cargo. Como tal, há vários profissionais que trabalham na área mas que são considerados assistentes ou mesmo administrativos. “É ainda uma posição que não tem definição, ou seja, as pessoas estão a trabalhar, mas não enquanto assistentes sociais porque essa posição não existe na realidade.” É, assim, urgente que seja criada a posição de assistente social “porque é uma tarefa distinta, é realmente uma profissão”, sublinha. Neste sentido, “é preciso abrir vagas para que as pessoas se sintam confiantes de que têm um emprego e estas vagas devem ser abertas tanto na função pública, como nas instituições privadas”, diz a docente. Para atrair mais interessados a enveredar pela carreira de assistente social, a docente da Universidade de São José (USJ) sugere a necessidade de “dar condições e, para começar, é necessário que o salário base seja aumentado”.

Dentro das áreas que mais necessitam de intervenção no território, Suzette Agcaoili destaca os ambientes escolares, as instituições de saúde e os diferentes tipos de centros residenciais. “São necessários, por exemplo, nos lares de idosos, para poderem acompanhar e dar o devido apoio”, especifica. Suzette Agcaoili não deixa de sublinhar que, apesar das necessidades, o serviço social tem sido alvo de desenvolvimento, sendo que uma das apostas a seguir é a profissionalização dos assistentes sociais.

PARTILHAR PARA FORTALECER

É neste âmbito que acontece o fórum organizado amanhã pela USJ. “Promover a sustentabilidade da comunidade e do ambiente” dá o mote para assinalar do Dia Mundial do Serviço Social no território. A iniciativa decorre na Escola de São Paulo. Pretende-se partilhar com estudantes, profissionais e com a própria comuni-

dade um conjunto de problemáticas e intervenções relacionadas essencialmente com a gestão de crises na comunidade. O fórum tem três objectivos essenciais. Em primeiro lugar, destaca Suzette Agcaoili, é a familiarização com o tema,

“Tentamos alertar as pessoas para estarem atentas ao que se passa e este alerta é feito não só a assistentes sociais, mas também a psicólogos e outros elementos da comunidade.” SUZETTE AGCAOILI PROFESSORA DA USJ

nomeadamente no que respeita à gestão de crises e capacidade de resposta em situações de emergência. “O segundo objectivo desta acção em particular é fornecer conceitos básicos no que respeita ao apoio psicossocial e intervenção durante situações críticas.” Por último, mas não menos importante, é a partilha de directrizes de intervenção no que respeita à saúde mental e apoio psicossocial. “Tentamos alertar as pessoas para estarem atentas ao que se passa e este alerta é feito não só a assistentes sociais, mas também a psicólogos e outros elementos da comunidade, sendo que, para que exista eficiência, é necessário um trabalho conjunto e em cooperação”, refere.

CARACTERÍSTICAS LOCAIS

No caso de Macau, a professora salienta as características particulares do território associadas ao desenvolvimento económico. “O que temos notado é que continuam

a aparecer vários casos essencialmente associados ao vício do jogo”, explica. De acordo com a professora da USJ, este é um comportamento aditivo idêntico ao abuso de substâncias e traz consequências também semelhantes. Associado ao vício, Suzette Agcaoili considera que emergem outros problemas que necessitam de intervenção. Entre eles destaca a violência doméstica e o suicídio. De acordo com a académica, o jogo não é a raiz dos problemas no território, mas sim um factor que ajuda ao desenvolvimento de outras problemáticas. “Os nossos assistentes sociais também precisam de ter consciência destes fenómenos e de como ultrapassar os problemas daí derivados, nomeadamente dentro da comunidade local”, remata. Sofia Margarida Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


10 CHINA

hoje macau sexta-feira 19.5.2017

Questão menor

PEQUIM E BUENOS AIRES PROMETEM REFORÇAR LAÇOS

Tango afinado

Holliganismo é “fenómeno empolado”, diz ‘vice’ do comité organizador do Mundial2018

O

vice-presidente do comité organizador do Mundial2018 de futebol, Alexander Djordjadze, considerou ontem que o hooliganismo é um problema “empolado” e “minúsculo”, comparado com a tarefa de organizar a prova, a decorrer na Rússia. “Para nós não há nenhum problema com o hooliganismo, dado que é um fenómeno mais presente a nível de clubes, de modo que não o encaramos como uma ameaça”, assegurou Alexander Djordjadze, durante o Fórum Mundial de futebol, a decorrer na China. O Mundial2018 decorre de 14 de Junho a 15 de Julho, na Rússia, e o vice-presidente do comité organizador do evento encoraja os adeptos das selecções, e do futebol em geral, a deslocarem-se aos estádios para assistir aos jogos de espírito livre. “[O hooliganismo] É um problema pequeno em comparação com a preparação de um Mundial. Claro que é um fenómeno empolado pelos órgãos de comunicação social de alguns países. Mas o Mundial2018 vai ser seguro e nós incentivamos os adeptos a vir”, adiantou Alexander Djordjadze. O responsável pediu ainda aos potenciais in-

teressados a assistir ao Mundial2018 para seguirem os seus instintos e que não valorizem informações, na sua maior parte, falsas. “Os nossos organismos de segurança estão a tomar medidas. Eles conhecem as pessoas que estão referenciadas como hooligans [desordeiros], a exemplo do Reino Unido, e impedidas de frequentar os estádios”, acrescentou Alexander Djordjadze. Ataques violentos e cuidadosamente preparadas foram realizados por grupos de hooligans russos durante o Europeu2016, em França, que teve como vencedor Portugal na final disputada com os gauleses.

OUTROS ENTENDIMENTOS

A RESPIRAR CONFIANÇA

O presidente russo Vladimir Putin assinou em 1 de Abril uma lei que endurece a legislação na luta contra os causadores de distúrbios em eventos desportivos, bem como a proibição de hooligans estrangeiros entrarem na Rússia. A FIFA manifestou já a sua total confiança nas autoridades russas para que “tudo seja feito” no sentido de garantir a segurança dos adeptos no decorrer do Mundial2018. O Mundial2018 decorrerá em 11 estádios e o primeiro grande teste à organização russa será já em Junho, durante a Taça das Confederações, que irá contar com a presença da selecção portuguesa, como campeã da Europa.

O

Presidente chinês Xi Jinping reuniu-se esta quarta-feira com o seu homólogo argentino Mauricio Macri, tendo ambas as partes prometido expandir a cooperação de benefícios mútuos em todas as áreas e promover ainda mais os laços bilaterais. Xi apelou a que a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” fosse tida em conta na estratégia de desenvolvimenPUB

ÁSIA PURA, LDA. Sede: Rua de S. Roque, n.º 14, Edifício Long Iat Hin, 3.º andar A, Macau Registo n.º 57419 / Capital Social: MOP$25.000,00 Para os devidos efeitos se anuncia que, em Assembleia Geral Extraordinária realizada em 31 de Março de 2017, foi deliberado por unanimidade dos sócios dissolver a sociedade por quotas de responsabilidade limitada em epígrafe, considerando-se as contas finais aprovadas e encerradas e, assim, encerrada a liquidação, a partir da mesma data, tendo os respectivos registos sido efectuados em 20 de Abril de 2017, mediante a Ap. 100/20042017, considerando-se assim extinta a mesma sociedade com esses registos. Macau, 18 de Maio de 2017. O Administrador – Liquidatário

Saudando o apoio e a participação da Argentina na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, Xi Jinping enfatizou que a América Latina é uma extensão natural da Rota da Seda Marítima do Século XXI to da Argentina, ampliando a cooperação em indústrias de infra-estruturas, energia, agricultura, mineração e manufactura, e implementando os principais projectos de cooperação existentes nos vários sectores, incluindo o hidroeléctrico e o ferroviário. Saudando o apoio e a participação da Argentina

na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, Xi enfatizou que a América Latina é uma extensão natural da Rota da Seda Marítima do Século XXI, informa o Diário do Povo. A Argentina expressou vontade em aderir ao Banco Asiático de Investimento em Infra-estrutura (BAII) a fim

INFORMÁTICA PEQUIM LANÇA ALERTA SOBRE NOVO VÍRUS A China alertou os usuários do Windows sobre um novo vírus ‘ransomware’ similar ao WannaCry que afectou centenas de milhares de computadores no mundo. O vírus, de nome UIWIX, criptografa e muda o nome dos documentos aproveitando uma falha no sistema operacional Windows, explicou o Centro Nacional de Resposta de Emergência aos Vírus de Informática, que pede aos usuários que instalem a última actualização disponível. Apesar de nenhuma infecção ter sido registada na China, o vírus propagou-se em outros

de aumentar as opções de financiamento para os seus investimentos públicos em infra-estruturas, de acordo com uma declaração conjunta publicada após o encontro. Ambos os países assinaram um memorando de entendimento sobre a cooperação ao nível de futebol, o que oferecerá um maior apoio ao desenvolvimento do futebol na China, disse Zhu Qingqiao, director de Assuntos da América Latina do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, acrescenta a publicação estatal. Este ano marca o 45º aniversário da fundação das relações diplomáticas entre a China e a Argentina. O gigante asiático está a postos para manter a coordenação com a Argentina em assuntos internacionais, tais como a governação económica global, as mudanças climáticas, a agenda de desenvolvimento sustentável 2030 e o apoio à Argentina para a realização da Cimeira do G20, em 2018, afirmou Xi. Macri, cuja visita de estado, iniciada no dia 14, terminou ontem, assistiu também ao Fórum “Uma Faixa, Uma Rota para a Cooperação Internacional”, encerrado na última segunda-feira em Pequim. Macri congratulou Xi pelo sucesso da iniciativa, dizendo que a Argentina está empenhada em impulsionar os laços bilaterais e reforçar a cooperação de benefícios mútuos com base no respeito e na confiança mútua. A Argentina respeita a política de Uma Só China e promete se esforçar-se para aprofundar as relações com a América Latina e aumentar a comunicação e coordenação em assuntos internacionais, acrescentou Macri.

países e provocou um alerta na semana passada da empresa dinamarquesa de segurança virtual Heimdal Security. “ Centenas de milhares de computadores e quase 30.000 instituições foram afectadas na China pelo WannaCry, de acordo com o Qihoo 360, um dos principais provedores de programas antivírus na China. De acordo com Sarah Larson, especialista australiana em segurança virtual, a China é particularmente vulnerável porque a maioria dos cibernautas utiliza programas falsificados.


11 hoje macau sexta-feira 19.5.2017

O

Governo filipino anunciou ontem que deixou de aceitar ajuda ao desenvolvimento da UE por considerar que Bruxelas tenta interferir nos assuntos internos das Filipinas e “põe em risco” a autonomia do país. O Presidente filipino, Rodrigo Duterte, “aprovou a recomendação do Departamento das Finanças de não aceitar mais doações da UE”, comunicou o porta-voz do gabinete presidencial, Ernesto Abella, numa conferência de imprensa em Manila. Esta decisão representa uma perda de 250 milhões de euros nos próximos projectos de ajuda de desenvolvimento, destinada sobretudo à melhoria das condições de vida das regiões mais empobrecidas do sul do arquipélago. “Estas doações pertencem a projectos que têm o potencial de afectar a autonomia do país”, argumentou o porta-voz presidencial, que acusou a UE de tentar “interferir na política interna das Filipinas”. PUB

Esmolas, não obrigado Filipinas rejeitam ajudas da União Europeia

das organizações não-governamentais – desde que o chefe de Estado filipino tomou posse, no final de Junho de 2016. Desde então, Duterte ameaçou, em várias ocasiões, rejeitar a ajuda por considerar que Bruxelas exerce pressões para determinar as políticas internas do país.

OS BONS MILHÕES

Em meados de Março, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução para condenar e pedir o fim da

“guerra contra as drogas” liderada por Duterte e que causou mais de 7.000 mortos – de acordo com estimativas

Ao mesmo tempo, o Presidente filipino assegurou milhares de milhões de euros em doações da China, o novo aliado com quem tem vindo a estreitar laços à medida que se afasta dos Estados Unidos e da UE. O porta-voz presidencial também assegurou ontem que as Filipinas “estão a crescer e a melhorar” a um ritmo sólido, pelo que podem permitir-se abandonar a “atitude de mendicidade” e enfrentar os desafios económicos de forma autónoma. Ontem foram publicados os dados sobre o crescimento do PIB filipino entre Janeiro e Março, que foi de 6,4%, o que representa um recuo ao ser o menor desde o terceiro trimestre de 2015.

REGIÃO

SEUL ACTIVISTA TAILANDÊS DETIDO RECEBE PRÉMIO DE DIREITOS HUMANOS

U

M estudante tailandês detido por partilhar um artigo crítico do novo rei do país, previamente divulgado numa rede social, é o vencedor deste ano do mais prestigiado prémio de direitos humanos da Coreia do Sul. Os organizadores do Prémio Gwangju para Direitos Humanos informaram que os pais de Jatupat Boonpattararaksa vão receber o prémio pelo filho na quinta-feira, numa cerimónia na cidade de Gwangju. A polícia tailandesa deteve o estudante de Direito, em Dezembro, por partilhar um perfil crítico do rei Maha Vajiralongkorn Bodindradebayavarangkunan que tinha sido publicado no Facebook pelo serviço em tailandês da cadeia britânica BBC. De acordo com a lei tailandesa, insultar a monarquia é um crime que pode ser punido com pena de prisão de entre três a 15

anos. Críticos do regime disseram que a lei é usada para silenciar dissidentes. Jatupat, que foi acusado em Fevereiro e a quem as autoridades recusaram fiança várias vezes, é membro da Dao Din, uma pequena organização estudantil que protestou contra o governo militar da Tailândia. O artigo da BBC partilhado incluía referências à vida pessoal do rei quando este era príncipe, incluindo detalhes sobre os três casamentos que acabaram em divórcio e outro material que os meios de comunicação tailandeses estão proibidos de publicar. A Fundação 18 de Maio, que organiza o Prémio Gwangju, disse que a “força, coragem e luta insubmissa” de Jatupat mostrou que o estudante está “disposto a sacrificar a segurança e futuro para proteger a democracia e os direitos e a liberdade do povo” tailandês.


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JOÃO MASCARENHAS

EVENTOS

“Não acredito numa ja

MÚSICO

URBANISMO ARQUIVO DE MACAU MOSTRA CRESCIMENTO DA CIDADE

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partir do dia 9 de Junho, quem for ao Arquivo de Macau poderá ficar a saber mais sobre a evolução do território, com a exposição “Macau Ilustrado - Exposição de Plantas Urbano-Arquitectónicas”. A mostra é constituída por uma selecção de cerca de 60 plantas urbanas e desenhos arquitectónicos conservados noArquivo de Macau que, organizados tematicamente, permitem aos visitantes compreender a evolução do padrão urbano da cidade, através das mudanças concretas desenvolvidas dos finais do século XIX até meados do século XX. Em nota à imprensa, explica-se ainda que a exposição revela as características de design dos edifícios de Macau, em que se nota a linguagem de variados estilos adoptada por diferentes desenhadores, que “exploraram possibilidades da fusão entre elementos ocidentais e orientais, enquanto captaram as tendências internacionais”. Durante o período da exposição serão realizadas diversas palestras abertas ao público. A primeira está agendada para o dia 17 de Junho e é da responsabilidade do arquitecto Lui Chak Keong, que vai fazer uma retrospectiva sobre o desenvolvimento urbano e arquitectónico de Macau. A palestra será conduzida em cantonense. Desconhece-se se há tradução.

Foi o João que descobriu as Sunday Jazz Sessions no Live Music Association (LMA). Como surgiu o interesse pelo evento? Foi uma coincidência. Tive um trabalho aqui, de último minuto, em que umas pessoas de Hong Kong me pediram para arranjar músicos em Macau. Comecei a contactar músicos que conhecia, e aí comentaram comigo que havia essas sessões no LMA. Já tinha planos para começar a passar mais tempo em Macau, e foi uma coincidência muito boa.

BIBITO HENRIQUE

Um acaso levou-o ao evento Jazz Sunday Sessions que acontece no espaço Live Music A que vive entre Macau e Hong Kong, começou a pensar em novos projectos para o territór educação para ouvir outros sons que não os da música clássica, para compreender o sabo

“Estou querendo começar a ensinar. Quero começar alguma coisa no LMA. Há músicos bons em Macau, mas estão estagnados. Queremos mudar a educação musical aqui.” Está a pensar desenvolver alguns projectos em Macau. Que tipo de projectos são esses? Estou querendo começar a ensinar. Quero começar alguma coisa no LMA. Há músicos bons em Macau, mas estão estagnados. Queremos mudar a educação musical aqui. Tenho vindo a ser contactado por dirigentes associativos e quero trazer músicos de Hong Kong também. Basicamente quero trabalhar com a educação, porque é algo fundamental para criarmos uma plateia. Se tivermos os estudantes daqui, que começam a chamar os amigos, cria-se um fomento da cena da música jazz. Estou a pensar também criar uma as-

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA OS DA MINHA RUA • Ondjaki Há espaços que são sempre nossos. E quem os habita, habita também em nós. Falamos da nossa rua, desse lugar que nos acompanha pela vida. A rua como espaço de descoberta, alegria, tristeza e amizade. “Os da Minha Rua” tem nas suas páginas tudo isso.

sociação aqui em Macau, para também fomentar esse lado educacional. Como foi a sua vinda para a Ásia e a entrada na cena musical de Hong Kong, onde existe mais diversidade?

Hong Kong tem de facto mais lugares para se trabalhar. Estive em Macau em 2005. Antes estive nos Estados Unidos a fazer um mestrado em Composição, mas estava um pouco aborrecido e não aguentava mais ficar lá. Apareceu então um traba-

lho no Vietname, onde gravei dois discos, e depois arranjei emprego em Macau. Aqui tocava com uma banda num hotel e conheci a minha esposa. Isso me fez ficar aqui por aqui. Decidi também voltar para a universidade e ganhei uma bolsa da

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O ASSOBIADOR • Ondjaki “ A infinitude do alcance daquele assobio resultava, certamente, de um também enorme conhecimento metafísico da arte de assobiar, que mexesse não só com o ouvido das pessoas, mas alcançasse, de modo incisivo, a profundidade das suas almas, o recôndito canto onde cada um escondia as suas coisas - essa assustadora gruta a que muitos chamam âmago do ser. As pessoas boquiabertavam-se, incapazes dos mínimos movimentos, comentários, vivências conscientes.”


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EVENTOS GRIMUR BJARNASON

am session séria”

Association todos os domingos. A partir daí, o músico brasileiro, rio. João Mascarenhas acredita que o público local precisa de or do improviso

Universidade de Hong Kong para trabalhar em composição. Comecei a fazer trabalhos como compositor, produtor e também como educador, porque fiz bastantes workshops. Entre a primeira experiência em Macau como músico e esta fase agora, que análise faz da evolução da cena musical aqui? Macau tem uma coisa que lembra muito a minha cidade natal, Belém [no Brasil]. Não se tem referências do que acontece no resto do planeta se não se for lá fora ver o que está acontecendo. Costumava fazer comentários sobre um slogan que havia em 2005, que dizia “No mundo de diferenças, a diferença é Macau”. Tem uma conotação negativa.

Naquela altura havia as escolas do Conservatório, que vão estar sempre ligadas à cena da universidade. Então se não tiver musica clássica, não é uma coisa séria, não é uma coisa para ser ouvida. Cria-se uma barreira entre o que é música popular e o que é música clássica. Naquela época só havia dois bares com música ao vivo. Com esse boom dos casinos, passaram a existir os lugares, os bares que deveriam ter música. Mas Macau ainda não tem uma produção de músicos não clássicos, com nível profissional suficiente para gerir entretenimento de alta qualidade. Os músicos de conservatório mais puritanos e conservadores chamam música popular ao jazz, mas o jazz não é isso. O jazz teve um grande boom no início do século XX, quando apareceu em Nova Orleães o crioulo tocando. Depois houve o boom das bandas brancas, com Glenn Miller, o swing, a década de 30. Depois chegou Bebop. Era uma outra maneira de pensar completamente diferente. O artista de jazz é um performer e, ao mesmo tempo, um compositor. Ele improvisa. Em Macau ainda não tem essa coisa, não produz ainda músicos que tenham esse nível para serem entertainers de música popular, e está começando no jazz. O caminho para mudar isso é a educação musical, e gostaria muito que, pelo menos, os clássicos pensassem na flexibilidade. A coisa do jazz exige uma pequena prescrição, depois há uma improvisação e interacção. O jazz é, na verdade, uma música interactiva. O meu coração está na hora do improviso. Também é preciso educar o público? Exacto. Em Hong Kong faço workshops sobre apreciação de jazz

“Em Hong Kong faço workshops sobre apreciação de jazz para pessoas que não são músicos, de uma maneira informal. E quero começar a fazer isso aqui também.”

para pessoas que não são músicos, de uma maneira informal. E quero começar a fazer isso aqui também. Macau é muito feita de comunidades. É possível treinar os diferentes ouvidos que existem aqui? É possível. Tudo depende da maneira como se entrega esse tipo de música e de informação, como se apresenta uma música para as pessoas. Tem de haver entretenimento também. A música clássica está morrendo e em decadência, e o que mantém a música clássica ao vivo é a parte da música de filme. Há uma orquestra em Hong Kong que vai executar as músicas do filme do Harry Potter, por exemplo. A música clássica está querendo pegar nessa coisa do visual, para conseguir alguma sobrevivência. É um tipo de música para se ouvir sentado. É um pouco isso. Acho que o jazz está entre isso e a música popular, direccionada para um total entretenimento. Não acredito numa jam session séria, num ambiente de teatro. O jazz é improvisação, depois interacção. Há também uma coisa que o artista de jazz tem, que é a individualidade. O músico tem um jeito de tocar. Gosta mais de ser educador ou músico? Ser músico envolve a composição, que é uma coisa solitária. Passo horas e horas no meu computador. Adoro compor e produzir, adoro ensinar, performances também é uma coisa forte. Não consigo separar essas coisas. A música clássica está em declínio. E o jazz? Hoje em dia, a indústria está cheia de géneros de música. As fronteiras estão misturadas. A música clássica, de concerto, ainda tem o suporte das instituições académicas e do Governo. Isso acontece aqui em Macau também e em Hong Kong. O jazz é visto como uma música de bar, de cabaret, inferior, mas na verdade é bem mais difícil do que música clássica. Tenho alunos de Macau para quem é difícil pensar fora da caixa, porque sempre lhes deram uma partitura para seguir. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

A Gaivota vinda do frio

Teatro da Cidade de Reiquejavique apresenta obra de Chekhov

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uma abordagem “moderna e surpreendente”, diz o Instituto Cultural (IC) acerca do modo como o Teatro da Cidade de Reiquejavique, da Islândia, apresenta “A Gaivota” de Chekhov. O espectáculo encerra a edição do XVIII Festival de Artes de Macau e, de acordo com a organização, ainda existem alguns bilhetes disponíveis. Em comunicado, o IC recorda que o clássico “A Gaivota” já foi levado ao palco um sem-número de vezes. A encenação da produção apresentada em Macau é da autoria da encenadora lituana Yana Ross. Galardoada com o prémio para a Melhor Encenação no Festival Internacional Kontakt de Torun 2016, na Polónia, Yana Ross é conhecida pelo seu estilo único nos círculos de teatro dos países nórdicos. A adaptação de “A Gaivota” desloca o enredo da tradicional propriedade rústica russa, tal como descrito por Chekhov, para uma luxuosa casa de Verão islandesa, “explorando a natureza humana a partir de uma perspectiva única”. O espectáculo sobe ao palco do Grande Auditório do Centro Cultural de Macau nos dias 27 e 28. Também ainda há lugares vagos para “Double Bill”, por Hiroaki

Umeda, agendado para os dias 26 e 27. “O renomado coreógrafo apresenta não só a sua peça a solo ‘Holistic Strata’, como também um novo trabalho desenvolvido em conjunto com bailarinos locais, usando o corpo humano para quebrar as limitações existentes.”

FIM-DE-SEMANA CHEIO

Já hoje e amanhã, é apresentado “O Inferior”, que explora as fronteiras entre o mundo real e virtual, e ainda a peça em patuá “Sórti na Téra di Tufám” (ver texto nas páginas 2 e 3). Entre hoje e domingo, “Miss Revolutionary Idol Berserker” traz, escreve o IC, “uma onda de juventude e leva o público a um frenético mundo japonês”. Neste fim-de-semana, há ainda espaço para ópera cantonense, com Chu Chan Wa e “um grupo de excelentes actores locais”, que apresentam o clássico “The Butterfly Lovers”. No dia 23, a Companhia da Ópera Nacional de Pequim leva ao palco uma adaptação concisa do clássico de ópera de Pequim “Senhora Anguo”, enquanto a Orquestra de Macau apresenta o concerto “Ressonância Através do Espaço-Tempo”. De 26 e 28 deste mês, há teatro para crianças: “À Mão” é criado com bonecos de barro.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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(continuação)

Tem razão, na escrita a verdade não se encontra no mundo com essa determinação com que se encontra na actividade de matar por dinheiro. Por isso, parece-me, o juízo auto-crítico deverá ainda ser mais determinante na escrita do que na minha actividade. Falhar o alvo ou ser-se morto parece-me comprovação suficiente para a falta de talento, na minha profissão. Mas, na escrita, o que é falhar o alvo? E, obviamente, morrer, não se morre. Quer então dizer que estou ainda mais só do que você? Mais só não estás. Caso sejas um bom escritor, podes estar tão só quanto eu estou, quanto eu estive toda a minha vida, mas não é possível estar-se mais só, parece-me. Agora o que me parece evidente é que estás muito mais incerto do que eu. Muito mais abandonado à dúvida. Não tens ninguém que te possa matar, nem sabes qual é o teu alvo. Se fosse a ti, agarrava-me ainda com mais forças à única possibilidade de certeza que tens: o teu juízo auto-crítico. (pausa) Já reparaste bem na beleza desta cidade, Paulo? Não achas que esta cidade tem que ver com o jazz, Paulo? Nunca havia pensado nisso, do jazz! A beleza de Istambul só é igualável à beleza dos mitos. Mas porque é que diz que a cidade tem que ver com o jazz? Porque ela é tocada por modos gregorianos, como o jazz! A cidade é constituída por modos… Sabes música, não sabes? Sim, sim, pode continuar! Aqui é o modo dórico (e apontava), ali o modo lídio, mais além o modo mexolídio e por aí adiante. Percebes agora? A cidade não é diatónica, como a música clássica. E a magia do jazz reside nas misturas dos diversos modos numa canção, como Istambul. Como é que começou a gostar de jazz? O jazz é do meu tempo, Paulo! Comecei a gostar de jazz quando fui estudar engenharia para a América, para os EUA, na década de quarenta. Depois nunca mais deixei de ouvir jazz. O seu filho também gosta de jazz? Gosta. E também gosta de Istambul? Gosta, mas não vive cá! Vive em Londres. É um bem sucedido homem de negócios em Londres. Faz importação de legumes da Turquia para Inglaterra. Mas não estou certo de que seja só isso que ele importa? O que o leva a pensar isso? Pequenos detalhes, Paulo, pequenos de-

Karadeniz

“Não se mata, nem se salva ninguém com crenças” talhes. Mas não quero falar nisso. Posso até estar errado. Não quero ser injusto com o meu filho. Que idade é que ele tem? Deve ter a tua idade. Nasceu em 1966. É um ano mais novo. E a sua mulher? A minha mulher já morreu. Morreu há 12 anos. Mas já estávamos separados há muito mais tempo. Separámo-nos ainda o meu filho era criança e divorciámo-nos dois anos depois. A minha mulher era inglesa. Depois da separação voltou para Londres. O T. cresceu muito mais em Londres do que aqui. Mas vinha cá todos os anos. Ele fala correctamente turco.

“Se fosse a ti, agarrava-me ainda com mais forças à única possibilidade de certeza que tens: o teu juízo auto-crítico.” O seu filho sabe da sua actividade passada? A sua mulher soube? Não, nenhum dos dois! Seria o começo do fracasso, Paulo. Sempre julgaram que eu era um homem de negócios. Negócios disto e daquilo; negócios aqui e ali. O que também acabou por vir a ser verdade. O que é que o levou a contar-me a sua história? (sorri) Várias razões. O modo como nos conhecemos e a tua atitude naquele momento de crise; o facto de seres escritor; o facto de amares Istambul; o facto de vires de um país de influência mediterrânica,

com um passado grandioso e um presente exíguo. Depois, restam-me poucos anos de vida e já nada vai importar.

3. A MULHER

Em determinadas horas a cidade é coberta pelo som altifalante dos muezines como se algo ou alguém magoasse a cidade e esta se queixasse. Karadeniz abandona o terraço e refugia-se dentro de casa, no isolamento sonoro da casa. Recordo-me de um taxista, que um dia me conduzia a Beyoglu, e desligou o rádio no momento da oração dos muezines. No fim da oração, disse-me que não era por ser religioso, mas por respeito. “Respeito” é uma palavra de grande densidade em Istambul. Isto é um disparate completo! Isto o quê? Estas orações em árabe, que ninguém percebe. Como é que alguém pode acompanhar as orações, se não percebem nada do que está a ser dito? Devemos todos aprender árabe para rezar ou, pelo contrário, as orações deviam passar a ser em turco? A mim parece-me evidente qual a resposta a dar. Não percebo este país! Porque é que diz isso? Porque temos escrito no bilhete de identidade que somos religiosos, que somos muçulmanos, mesmo que não sejamos coisa nenhuma, como a maioria das pessoas que vivem nesta cidade. Mesmo os que dizem ser religiosos, se não são extremistas, não rezam cinco vezes ao dia e bebem regularmente bebidas alcoólicas. É possível um país ser muçulmano e ter como bebida nacional o Raki, que tem 45% de álcool? A religião muçulmana não é compatível com a vida em grandes cidades como Istam-

bul. Provavelmente nenhuma religião é compatível com as grandes cidades. Sinto o meu bilhete de identidade como uma agressão contra mim mesmo. Ando pelo mundo com uma mentira escrita por baixo do meu nome. Percebo que o Karadeniz não tem religião, mas acredita em Deus? Acredito coisa nenhuma! Sou agnóstico, sou um homem de ciência. Não se mata, nem se salva ninguém com crenças, mas com conhecimento e acção. Porque é que o Karadeniz se separou da sua mulher? Não fui eu que me separei dela, foi ela que se separou de mim. E porquê? Porquê? Porque as pessoas se fartam muito depressa umas das outras. Porque à medida que se envelhece ficamos mais sós connosco mesmos e torna-se muito difícil viver com os outros. Principalmente se os outros esperam que nos comportemos desta e daquela maneira precisa. E estar casado é ter de ser desta ou daquela maneira. Parece então que não foi propriamente uma desilusão, quando a sua mulher decidiu deixá-lo… Claro que não! Por um lado, até foi um grande alívio. Mas não seria eu a deixá-la. Isso não conseguia fazer. O Karadeniz é um homem feliz? A felicidade é uma grande contradição. Aquilo que mais se ambiciona é ser feliz, mas na felicidade não se faz nada. Se o mundo fosse feliz, parava. Ser feliz é sair do mundo. Quer ser feliz quem se sente a mais ou a menos no mundo! No fundo, é o que todas as religiões vendem: a felicidade, sair do mundo. Claro que isso tem um preço muito elevado: Deus. É estranho que tu, sendo escritor, me perguntes pela felicidade. Não foi uma pergunta para saber se era ou não feliz, mas para saber o que pensava da felicidade. Só que não consegui perguntar-lhe se acreditava na felicidade ou o que é que pensa dela. Essas perguntas parecem-me ainda mais esdrúxulas do que a que lhe fiz. A sua mulher chegou a aprender turco? Não! Os ingleses têm muita dificuldade em aprender a língua dos outros. E ela não era excepção. Falávamos sempre em inglês. A B. nunca se sentiu bem em Istambul. Não era só pela língua, mas por tudo. Ela não gostava do cheiro da cidade, nem da comida, nem das pessoas. Sentia a falta do bife. (risos) Por conseguinte, foi por convicção que não voltou a casar. Mas ao longo dos


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em modo de perguntar Paulo José Miranda

anos não sentiu a necessidade de ter alguém junto a si? Aprendi duas coisas preciosas na profissão que tive: não se podem cometer erros; mas se por acaso cometemos um e sobrevivemos, então é imperioso aprender que não o podemos voltar a fazer. Para mim, o casamento foi um grande erro. Sou uma pessoa que não nasceu para viver com outra. Nasci para mim. Muitas vezes penso que as pessoas vivem umas com as outras por fraqueza. Devíamos viver todos sozinhos e depois encontrarmo-nos uns com os outros para o que quiséssemos, ou não nos encontrávamos. Sei que isto é impossível, mas parece-me que se vivêssemos sozinhos a vida seria melhor para todos. Dá-se mais valor à vida, só, do que acompanhado. A vida torna-se maior, mais pesada e mais densa. A vida torna-se no que ela verdadeiramente é.

“A felicidade é uma grande contradição. Aquilo que mais se ambiciona é ser feliz, mas na felicidade não se faz nada. Se o mundo fosse feliz, parava. Ser feliz é sair do mundo.” Mas então por que é que se casou? Casei-me por fraqueza e por um erro de cálculo. Fraqueza, porque julgava que precisava daquela mulher para viver; ninguém precisa de ninguém para viver. Erro de cálculo, porque queria ter um filho e julguei que casar-me ou viver com alguém era fundamental para que isso acontecesse. O que se passou foi que o casamento acabou por me levar o filho. O T. é muito mais filho da B. do que meu; e é muito mais inglês do que turco. Um homem se quiser ter um filho, é melhor que pague. Pague a alguém para gerá-lo consigo e carregá-lo nove meses na barriga. Depois, assim que nasça, dinheiro numa mão e a criança noutra. É o único modo de ficarmos descansados quanto à possibilidade de mais tarde alguém nos querer tirar o filho. De outro modo, é impossível. As pessoas não vivem juntas para sempre e quando se separam a mãe leva a criança consigo. E mesmo que consigam viver juntas, o filho é sempre mais filho da sua mãe do que do seu pai. (pausa prolongada) Ainda que seja verdade tudo o que tenho estado a dizer, os factos são diferentes… (continua)


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ASSOS lentos os meus, pelos minutos das horas. A dar tempo e a conter a hesitação mortal. Como um inverno sem temperatura nem vento, mas tudo à espreita na escrita dos nós, nas esquinas das árvores nuas e planas. A natureza a hibernar guardada para outras certezas de rompante. O céu cinza compacta. A temer o descalabro do vento. Os passos ruinosos de insegurança lenta. Precaução. Ter que impor o avanço em caminho de nada. Depois o escuro e quase a terminar. Sem ter chegado. Mas aquela presença de respiração forte, desesperante, adiada madrugada. O desconhecido em espera na sua também hibernação agitada e convulsiva. O espaço obscurecido e ruidoso. Também. Um inferno esse de esquecimento e espera. O bosque. Como uma casa que dorme em sobressalto de vidas ocultas, fantasmas conversadores, rumores, pios, roçagares súbitos, aragens desordenadas que passam em correria para outras actividades do bosque. Da casa que dorme. Em sono agitado de muito. Coordenadas límpidas na folha quadriculada. Escrevo a paragem ruidosa no bosque de atalhos tortuosos, escuridões e sombras. Monstros. A tactear as penumbras aveludadas, a subir as paredes de camurça até à sombra mais alta. Da abóbada do astro. Planas evoluções no sentido do bosque, caverna, veludo, voltejar hirsuto nocturno e revoltado. Espreito o mostrador partido no chão e pergunto qual é a hora certa. Quatro ponteiros como pontos cardeais. O norte sempre norte até aos pólos. O sul sempre. E depois tudo inverte. O vidro quebrado, uma pegada adivinhada e o coração de mecanismo metálico parou talvez. Aspiro o ar em torno e para cima. Em torno e para cima recortes de folhas baralhadas e revoltas. Em fundo o céu. Faço contas às horas de não dormir. Faço sempre contas às horas. É talvez a perspectiva lançada no ponto de fuga do depois. Linha de chamada de ali até ao horizonte. Recta. Até à linha do horizonte, da mágoa. Os monstros. Os olhos noivados de fresco na sombra pacata das pequenas luzes. Pequenos bichos. Pequenos rumores. Grandes intempéries à espreita por detrás das palavras que bordejam cada atalho. Avança-se tão devagar como nada avançando por cima das nuvens. Num determinado troço do mundo, da floresta. Tão alto, tão imprecisamente rasgando a matéria invisível, tão em espaço fechado. E em baixo uma cortina lisa e esfumada e sem marcas. Pareceria o céu. O da eternidade. Sem tempo, sem avanço, sem dúvida. Pela luz. Mas era sonho de outra madrugada que não a próxima. Avança-se entretanto pela noite.

A custo colocando pé ante pé sobre as palavras difíceis. No bosque. A casa dorme. E de súbito, como um bicho enorme possante e poderoso na fúria devastadora de passos – pesados, abruptos – avança de nudez evidente e olhar ausente pelo carreiro conhecido no momento desconhecido de si. Ou não, talvez. Não há palavras em folhas como nas árvores. Sombras. Luzes baixas em fim de estação e de noite. Contemplo extasiada a capa imprevista daquela nudez. O olhar cego a guiar a fúria e o rompante dos passos. Vapores densos e mortais a emanar das ventas da fera desorientada. A pele a escavar um leito para o ouvido. O desejo, o corpo, a pele a arrepiar num caminho de beco urbano ou labirínticas paredes de vidro, o mostrador do relógio, o tempo, o corpo adiado, perdido, o desejo e o medo. De cobrir essa nudez com o corpo num longo afago de carne. Pesado sem temor à fúria nada que se compare com a espessura da pele, dos passos, guiados e cegos. Esse corpo. Adormecido de si. Talvez. Ou cego também. Ou interrogativo lá bem no recanto mais remoto. O desejo de cobrir com o meu corpo insuficiente tamanha ansiedade. Acalmar e guiar. Atenuar o desconhecido que move esse desconhecido. Como um animal a fingir ser feroz. Indeciso, contudo. Perdido talvez na selva que se abeirava do seu lugar. Numa invasão subtil, imparável. E ao corpo. Infantil, grande, gasto, desperdiçado, maduro. Nu. Avançando à procura de algo impreciso, esperando não sabia o quê. Animal grande, semiadormecido. Nú. Sem nada. Como se perdido do seu lugar. Avanço para ele e pego-lhe na mão a querer abraçá-lo a não querer invadir a desprotecção que o vestia. Furioso. O bicho forte, pesado e violento. Doce. Mas tomo-o pela mão, guio-o pela mão inesperadamente pequena até à cama de folhas. Acompanho-lhe o silêncio. Para ser bom é preciso não lhe olhar os olhos. Imprecisos, indistintos, em fuga. Não olhar para não quebrar o silêncio a mais do que os passos pesados descompassados da fera. Fica o pequeno segredo entre as palmas das mãos. Pequena pedra. Depois, antes, o ruido ensurdecedor da ventania, dos bichos estranhos desconhecidos e escondidos. Tapo-lhe o pêlo arrepiado talvez do susto. Da caçada

Posso chamar-te oxigénio, posso? Sentavame na beira daquele leito revolto e ele escondia, soturno, a resposta por detrás de um sim ou de um não. Que tanto fazia. O sim ou o não, claro. Nunca nada, claro

ANABELA CANAS

Pedra, pap


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iluminação artificial

Anabela Canas

el, tesoura Faço contas às horas de não dormir. Faço sempre contas às horas. É talvez a perspectiva lançada no ponto de fuga do depois. Linha de chamada de ali até ao horizonte. Recta. Até à linha do horizonte, da mágoa infrutífera. Da procura. Da espera adiada não sabia de quê. Algo que era para ser noutro dia e não naquela noite. Tenebrosa e lenta. Ruidosa entre coisas. E ausência de coisas. Palavras. Pensamentos secretos de todos os ângulos. Abeiro-me do bicho que dorme súbita e pesadamente, denso e forte de compleição como se encerrasse todo o mundo. Ali. Tapo-lhe a nudez, a dele a minha, outra, com a manta de folhagem do seu mundo e em cada folha trilobada de coloração escura um olhar exausto, um suspiro de impaciência, uma ânsia de serenar, uma hesitação, um frio seco, um beijo adiado. Em cada nervura uma veia a latejar. Um eco da respiração. A fera. Pediu um beijo no sono temporariamente suave e dei delicadamente porque pediu. Não cantei para que dormisse. Não cantei para mim. Voltei pelo atalho reconhecido à clareira de luz entre a folhagem. A pensar a noite, a madrugada, a manhã. O ontem, o amanhã. As funções da pele, do corpo. Posso chamar-te oxigénio, posso? Sentava-me na beira daquele leito revolto e ele escondia, soturno, a resposta por detrás de um sim ou de um não. Que tanto fazia. O sim ou o não, claro. Nunca nada, claro. Não que tanto fazia. Nunca dizia isso e seria o mais puro. Devolvo-o pela mão ao lugar. Como um urso enorme e eu coisa pequena. Disse-lhe vem. E chamo-lhe sempre o nome para não o ferir de amor. Devolvo-o ao iceberg desgarrado e tóxico nas águas a subir mas era para ser o leito. O seu provisório leito de bicho sem casa. Expectante. Mas esconde as páginas como comida para o inverno. Não li. O seu de sempre. De abandono. Nos arquivos de alvéolos, que escondem palavras fracturadas e esforço por detrás do opiáceo doce, angustiante, total e excessivo. Doce. Agoniante. No lugar escuro onde as roupas foram atiradas, quase rasgadas, para o chão, para quê. O requintado poder de nada dizer. Com as palavras vazias. O medo. Quando avançou irrompendo da escuridão do labirinto em que se deita era uma luz de pedra. Uma folha de papel. Ou duas escuridões que se cortavam.


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José Simões Morais

Pedro Alexandrino da Cunha

O Governador de Angola N

OMEADO a 31 de Maio de 1845 Governador-Geral da Província de Angola, Pedro Alexandrino da Cunha tentando “harmonizar as leis da metrópole com a prática colonial, conseguira que a administração portuguesa em Angola deixasse de depender dos direitos alfandegários que incidiam sobre as exportações ilegais. Ao mesmo tempo, Luanda e Benguela abriam-se à navegação estrangeira, tornando-se já visível a modificação da estrutura das trocas, com o crescimento e a diversificação das exportações de produtos de colheita directa e da caça, como a urzela (musgo com aplicação na tinturaria) e o marfim. Mas não tardaria que o tráfico, banido dos portos principais, fosse reimplantar-se noutros pontos do litoral, como Ambriz e Moçâmedes, procurados pelos comerciantes luso-brasileiros para escapar às alfândegas e ao patrulhamento britânico”, como se refere no Boletim do Governo da Província de Macao, Timor, e Solor de 1851, [que constava não existir, pois perdido entre documentos microfilmados do Arquivo Histórico de Macau]. “A burguesia colonial de Angola era constituída não só pelos agentes directos dos poderosos mercadores residentes no Brasil e por alguns negociantes emigrados de Portugal, como pelas grandes famílias crioulas, bem implantadas e adaptadas ao clima, mantendo ligações estreitas com Portugal e com o Brasil e desenvolvendo, ao mesmo tempo, um bom relacionamento com os Africanos. Chegou a afirmar-se que, nesta altura, Angola mais parecia uma colónia brasileira que portuguesa e não foram raras as tentativas no sentido de uma união com o Brasil com vista a garantir a manutenção do tráfico, mas que a Inglaterra sempre conseguiu contrariar. Apesar de tudo, os indícios de mudança continuavam a manifestar-se e era já muito clara a importância económica que as colónias africanas iam assumindo para alguns sectores da sociedade portuguesa”, segundo Maria Manuela Lucas, que refere Angola representar “o baluarte mais sólido do poderio português em África”. A 6 de Setembro de 1845, na mesma altura em que tomou posse como Governador-Geral da Província de Angola,

Pedro Alexandrino da Cunha foi promovido a Capitão-de-Mar-e-Guerra. BONS PRÉSTIMOS “A arte agrícola foi aqui [Angola] quase sempre abandonada pela autoridade, e nesta parte, curto é o espaço para descrever o muito que devemos ao Exmo. Sr. Pedro Alexandrino da Cunha, que se esforçou, quanto cabia nas forças humanas, para o seu desenvolvimento” e seguindo com o Boletim Oficial, “Os talentos administrativos deste Governador chegaram mesmo a exceder o que dele se esperava, e para desviar todas as suspeitas de parcialidade, repetirei o que a própria Câmara Municipal de Luanda se abalançou a dizer ao seu sucessor naquele governo-geral. <A sábia administração do Sr. Pedro Alexandrino da Cunha tem feito, senão chegar o rendimento, ao menos aproximá-lo, e os empregados andam pagos em dia: as forças de terra igualmente; tem reparado e aformoseado solidamente os edifícios nacionais, fabricado novas máquinas para conduções, aumentado as oficinas, construindo diversas embarcações miúdas, aberto poços para abastecimento de água, de que aqui tanto se carece, aberto estradas para mais fácil comunicação com vários pontos da Província, organizado um arsenal na Ilha, bom e (palavra ilegível) estabelecimento para fabrico e construção, e finalmente, tem melhorado consideravelmente, com esse pequeno rendimento provincial, esta colónia portuguesa, tão negligentemente tratada por alguns antecessores deste bom Governador; a boa arrecadação dos direitos, e os empregados por ele escolhidos muito concorreram e ajudaram a sua magnífica administração”. (...) “Não pode esta Câmara deixar ao esquecimento a rectidão e justiça que administrou, tão pura e tão coe-

“O governo do Sr. Pedro Alexandrino em Angola é certamente um dos mais notáveis que aquela importante Província tem visto.” BOLETIM DO GOVERNO DA PROVÍNCIA DE MACAO, TIMOR, E SOLOR DE 1851

rente que nos deixa saudosos, e com razão expressamos esta saudade, porque os habitantes desta colónia jamais gozaram tanta tranquilidade; as suas propriedades nunca estiveram tão seguras; uma polícia bem organizada tem feito desaparecer as quadrilhas que continuadamente assaltavam os cidadãos pacíficos, e a bandeira portuguesa nestes mares nunca foi tão respeitada pelos estrangeiros”, como é referido no Boletim Oficial de 1851 e continuando, “O governo do Sr. Pedro Alexandrino em Angola é certamente um dos mais notáveis que aquela importante Província tem visto: a sua exemplar honradez, a imparcialidade com que, sem distinção de amigos e de partidos, administrava a justiça, a individuação com que por si próprio descia ao exame de todos os ramos do serviço público, e, finalmente, o impulso que tanto do coração procurou comunicar à agricultura, e a toda a espécie de melhoramentos e reformas, foram coisas que ainda hoje mesmo impressionam fortemente os moradores de Angola, e que os levou a pedir a Sua Majestade, em uma representação assinada por grande número deles, a recondução do mesmo Senhor naquele governo”. Em seguida, “Como prova destas asserções, e da sua eterna gratidão os angolenses unanimemente o elegeram, em 1849, Deputado às Cores, depois de se achar já por um ano ausente de Luanda. PRESSÁGIO DE MAIOR DESGRAÇA “A exoneração do governo de Angola foi dada ao Sr. Pedro Alexandrino por

Decreto da 18 de Fevereiro de 1848, reservando-se Sua Majestade a colocá-lo em lugar de não menos conveniência pública, como prova dos valiosos e aturados serviços, dizia o mesmo Decreto, por ele prestados nas Possessões portuguesas de África Ocidental além do Equador. A saída do Sr. Pedro Alexandrino de Angola para a Ilha de Luanda, foi um verdadeiro e irrefragável testemunho da sua boa conduta, por lhe ser dado espontaneamente pelos habitantes de Luanda, no mesmo momento em que ele deixava de todo o poder: alas de archotes se lhe fizeram até ao cais, duas bandas de música o acompanharam, e multiplicados abraços se lhe deram no acto do seu embarque misturados de repetidos vivas. Chegado a Lisboa o bordo do brigue Audaz, em 12 de Dezembro de 1848, depois de uma nova estada em Angola de cinca anos, Sua Majestade, por Galardão dos seus relevantes serviços, e não menos por consideração às recomendações que por mais de uma vez o governo britânico tinha feito de tão distinto empregado, o condecorou com a Comenda da Torre e Espada, e o Governo o nomeou, em 1849, Comandante da nau Vasco da Gama, mandada em comissão ao Rio de Janeiro. Já defronte da barra daquela Capital um violento pampeiro (vento) arrasou a mesma nau, levando-lhe o pano, e partindo-lhe os mastros pelas enoras. Este contratempo, presságio de maior desgraça, encheu dos mais cruéis dissabores o coração do Sr. Pedro Alexandrino; o seu temperamento, sempre no mais alto grau melancólico, e agravado não menos com a notícia do trágico fim que tivera em Macau o seu particular amigo, o Conselheiro João Maria Ferreira do Amaral, tornava-se cada vez mais sombrio, e pouco comunicativo. Tudo isto reunido com as infundadas apreensões que concebera, quando recebeu a nomeação de sucessor daquele distinto Oficial, quase lhe cortaram de todo a existência que apenas lhe chegou para, do Rio de Janeiro, seguir viagem para o lugar do seu novo destino a bordo da corveta D. João I, que aportara a Macau a 26 de Maio do corrente ano (1850), tomando posse do respectivo governo o Sr. Pedro Alexandrino”.


19 hoje macau sexta-feira 19.5.2017

OPINIÃO

a canhota

ALEJANDRO BRUGUÉS, JUAN OF THE DEAD

FA SEONG 花想

Uma cidade propícia para se viver?

Q

UEM quiser experimentar abrir o website do Gabinete de Comunicação Social do Governo, vulgo GCS, para ler as notícias do que acontece, pode ver, logo em grande destaque, uma série de vídeos intitulada “Medidas benéficas para a população que passam despercebidas em 2017”. O vídeo mais recente tem como título “Melhoria do ambiente de vida da população”. Até agora, todos estão apenas disponíveis em língua chinesa. Para conhecer melhor os trabalhos que o Governo tem levado a cabo para melhorar a vida de quem cá vive, resolvi ver o vídeo, com algumas expectativas. Foram filmadas praças, pistas para bicicletas, miradouros, jardins, zonas de lazer. Não consegui deixar de pensar o seguinte: “é este o desempenho de que se orgulha o Governo?” O nosso Governo defende sempre a ideia de transformar Macau num Centro Mundial de Turismo e Lazer e num território propício para habitar. Claro

que Macau não pode ser considerado um lugar assim, porque tem aquilo a que podemos chamar de doença do urbanismo – uma elevada densidade populacional. Há também muitos veículos, pois em cada mil metros existem 600 veículos. Há edifícios antigos e novos, o que faz com que este pequeno território esteja rodeado de cimento e poluição atmosférica. O meio ambiente e a vida da população não melhoram apenas com a abertura dos acessos

O meio ambiente e a vida da população não melhoram apenas com a abertura dos acessos pedonais que ligam a zona do ZAPE e a Colina da Guia, ou com a criação do miradouro da Taipa Pequena, como mostram os vídeos divulgados no GCS

pedonais que ligam a zona do ZAPE e a Colina da Guia, ou com a criação do miradouro da Taipa Pequena, como mostram os vídeos divulgados no GCS. Os cidadãos continuam a sofrer com o trânsito em horas de ponta, a sentirem-se como sardinhas em lata dentro dos autocarros, a não ter vagas de estacionamento suficientes e a sentirem a falta de espaços verdes para respirar ar fresco. Talvez o problema do trânsito possa ser melhorado com a construção de um sistema pedonal entre a zona norte e sul da península de Macau, porque os cidadãos demoram muito tempo a fazer este percurso. Andar a pé para a escola ou o para o trabalho seria mais fácil. Mas será que o Governo cumpre a ideia de ter uma cidade com condições ideais de mobilidade? Uma cidade que seja propícia para habitar deve ter um equilíbrio entre o meio ambiente e o espaço urbano, sem esquecer a garantia da segurança e de uma economia estável, onde se incluem os preços do imobiliário e a inflação. Não deixa de ser irónico o facto do Governo considerar que aquilo que surge nos vídeos oficiais é o ambiente ideal para a vida da população.


20 PUBLICIDADE

hoje macau sexta-feira 19.5.2017

NOTIFICAÇÃO EDITAL No: 51/2017 (nota de acusação) Considerando que se revela ser impossível notificar, nos termos do n.º 1 do artigo 72.º do Código de Procedimento Administrativo (CPA), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, os indivíduos abaixo mencionados, por oficio, telefone, pessoalmente ou outra forma, Lai Kin Lon Kenny, Chefe do Departamento de Inspecção do Trabalho (DIT) ,Substituto, manda que se proceda, nos termos do n.º 2 do artigo 11.º do Decreto-Lei n.º 52/99/M – “Regime geral das infracções administrativas e respectivo procedimento”, conjugado com o n.º 1 do artigo 93.º do CPA, à notificação dos mesmos, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do dia seguinte ao da publicação da presente notificação edital, entregar nestes Serviços a defesa e as alegações escritas em relação às eventuais infracções: 1. Processo n.º 2665/2016: LI BENFU (titular de Título de Identificação de Trabalhador Não Residente), tendo autorização para permanecer na RAEM na qualidade de trabalhador, é suspeito de ter prestado actividade a empregador diferente daquele para o qual foi autorizado a trabalhar. Nos termos da alínea 2) do n.º 5 do artigo 32.º da Lei n.º 21/2009 – “Lei da Contratação de Trabalhadores Não Residentes”, o eventual infractor pode ser punido com multa de $5 000,00 (cinco mil patacas) a $10 000,00 (dez mil patacas). 2. Processo n.º 2898/2016: (1) ZHANG BIN (titular do Passaporte da República Popular da China), é suspeito de ter prestado trabalho na RAEM sem autorização para aqui permanecer na qualidade de trabalhador. Nos termos da alínea 1) do n.º 5 do artigo 32.º da “ Lei da Contratação de Trabalhadores Não Residentes”, o eventual infractor pode ser punido com multa de $5 000,00 (cinco mil patacas) a $ 10 000,00 (dez mil patacas). (2) LU JIAN (titular de Salvo Conduto para Hong Kong e Macau, da República Popular da China), é suspeito de ter prestado trabalho na RAEM sem autorização para aqui permanecer na qualidade de trabalhador. Nos termos da alínea 1) do n.º 5 do artigo 32.º da “Lei da Contratação de Trabalhadores Não Residentes”, o eventual infractor pode ser punido com multa de $5 000,00 (cinco mil patacas) a $ 10 000,00 (dez mil patacas). Os eventuais infractores acima mencionados poderão, dentro das horas de expediente, levantar a respectiva nota de acusação no Departamento de Inspecção do Trabalho, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado nos 221-279, Edifício “Advance Plaza”, 1º andar, Macau, sendo-lhes também facultada a consulta dos respectivos processos, mediante requerimento escrito. Findo o prazo acima referido, a falta de apresentação da defesa escrita é considerada como tendo sido efectuada, de facto, a audiência do eventual infractor. Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 15 de Maio de 2017. A Chefe do D.I.T., Substituta, Lei Sio Peng


21 hoje macau sexta-feira 19.5.2017

OPINIÃO

contramão

ISABEL CASTRO

Não te cases

BUSTER KEATON, CHARLIE CHAPLIN, EDWARD F. CLINE, ONE WEEK

isabelcorreiadecastro@gmail.com

E ´

uma história que exemplifica bem o quão complicada pode ser uma relação com a Administração de Macau. Manter um contacto próximo, quase íntimo, com certos serviços públicos pode ser quase tão mau como um casamento amargo, daqueles que tiram o sono, a energia, que se prolongam nos anos sem risos que o justifiquem. Segue-se um divórcio litigioso, apesar de uma das partes ainda acreditar que vale a pena ir até ao fim da linha. O Comissariado contra a Corrupção (CCAC) deu esta semana razão às queixas de 27 promitentes-compradores de habitação económica que corriam o risco de ficar sem as casas onde estão a viver. Simplificando a história, 218 pessoas que obtiveram o direito à aquisição de uma fracção pública teriam de devolver os apartamentos porque, entre a data da candidatura e o dia da celebração da escritura, tinham casado. Como contraíram matrimónio, passaram a ter rendimentos

superiores ao limite definido por lei; noutros casos, muitos, os promitentes-compradores casaram com quem já tinha um apartamento em Macau. Durante vários anos, o Instituto da Habitação (IH), que controla as coisas das casas públicas do território, deu a volta a esta situação através da assinatura de uma declaração em que o cônjuge do candidato contemplado com a fracção pública era excluído do agregado familiar para efeitos de contabilidade do património do promitente-comprador. Mas depois houve problemas, pediu-se um parecer jurídico, e as pessoas que sabem de leis entenderam que a tal declaração não podia ser assinada, as pessoas a quem as casas foram vendidas afinal já não precisavam delas porque passaram a reunir condições para não dependerem do Governo na busca de um tecto. De repente, deixou de valer o que esteve no início de tudo: aquando

da entrega da chave, quem foi viver para aqueles apartamentos não reunia condições para comprar casa junto de uma agência imobiliária. O problema destas pessoas foi terem continuado a viver. E como continuaram a viver, algumas delas casaram. E fizeram-no com pessoas que estavam melhor na vida. É preciso azar. O CCAC percebe o que esteve na origem desta estranha decisão do IH, que promete casamento, entrega o anel de noivado, anda anos a reunir coragem e o enxoval para dizer o sim que se pretende eterno, mas recua no momento em que chega ao altar. Afinal, a habitação é um problema em Macau e, vendo bem as coisas, há quem neste momento precise mais de um casa pública do que aquelas 218 pessoas que, entretanto, têm hoje melhores condições de vida. Mas o CCAC olhou para as leis, e também para os direitos e interesses de quem esteve anos à

O problema destas pessoas foi terem continuado a viver. E como continuaram a viver, algumas delas casaram. E fizeram-no com pessoas que estavam melhor na vida. É preciso azar

espera de uma habitação, passou anos a viver nela e se preparava para ter de abandonar aquilo que achava que era seu. O CCAC deu razão aos queixosos e o IH vai ter de dar o último passo, assinar por baixo e levar isto até ao fim. No relatório sobre esta história – que, vendo bem, não lembra ao diabo – o Comissariado contra a Corrupção deixa uma recomendação: para evitar atropelos à lei, que se altere a legislação em vigor. E que se faça esta modificação em tempo útil, para que não haja mais episódios desagradáveis. O episódio das casas só para solteiros revela ainda outro aspecto: o tempo das relações com a Administração, que conta os minutos de uma forma diferente. As pessoas em questão candidataram-se às casas umas em 2003, outras em 2005. Os apartamentos foram distribuídos em 2012. O drama aconteceu em 2017. Pela lógica do IH, entre 2003 e 2017 nada deveria ter acontecido na vida destes homens e mulheres. Difíceis casamentos estes, em que tudo o que não interessa acontece lentamente e aos tropeções, com demasiadas dores de cabeça, para se chegar ao fim com um divórcio tão complicado que são os outros que decidem o que acontece.


22 (F)UTILIDADES TEMPO

hoje macau sexta-feira 19.5.2017

?

AGUACEIROS

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

FAM | TEATRO “O INFERIOR” CCM | 20h00

MIN

23

MAX

28

HUM

65-95%

EURO

8.91

BAHT

FAM | TEATRO “O INFERIOR” CCM | 20h00 FAM | TEATRO COM DOCI PAPIAÇAM DI MACAU CCM | 20h00

O CARTOON STEPH

SUDOKU

DE

FAM | CHU CHAN WA E CANTORES DE ÓPERA CANTONENSE DE MACAU Cinema Alegria | 19h30

Diariamente

EXPOSIÇÃO DE DANIEL VICENTE FLORES Albergue SCM | Até 4/6 EXPOSIÇÃO | “TENTATIVE NOTEBOOK - WORKS BY RUI RASQUINHO” Art for All Society, Jardim das Artes | Até 14/06 EXPOSIÇÃO DE AGUARELAS DE CHU JIAN & HERMAN PEKEL Fundação Rui Cunha | Até 25/5 EXPOSIÇÃO “AMOR POR MACAU” DE LEE KUNG KIM Museu de Arte de Macau | Até 9/7

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 39

Cineteatro

C I N E M A

The Circle SALA 1

ALIEN: COVENANT [C] Fime de: Ridley Scott Com: Michael Fassbender, Katherine Waterston 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2

KING ARTHUR: LEGEND OF THE SWORD [C] Fime de: Guy Ritchie Com: Charlie Hunnam, Jude Law, Berges-Frisbey, Eric Bana 14.30, 16.45, 21.30

GIFTED [B] Fime de: Marc Webb Com: Chris Evans,

Octavia Spencer, Mckenna Grace 19.30

PROBLEMA 40

UM DISCO HOJE

EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)

1.16

TERMINAL DE GIZÉ

Sábado

Domingo

YUAN

AQUI HÁ GATO

FAM | TEATRO COM DOCI PAPIAÇAM DI MACAU CCM | 20h00

FAM | CHU CHAN WA E CANTORES DE ÓPERA CANTONENSE DE MACAU Cinema Alegria | 19h30

0.23

Um gato é muito feliz em espaços pequenos. Gosto de me enfiar onde não lembra ao diabo, recolher-me em exiguidade e por lá ficar, longe dos olhares inoportunos. Em Macau as dimensões espaciais para os humanos não seguem esta lógica, ou qualquer tipo de lógica, bem vistas as coisas. Pessoas amontoam-se em cubículos felinos, como sardinhas em lata, viajam em autocarros cheios como ovos, apinham-se sem noção do pinheiro. Na Taipa abriu um terminal de ferries digno de uma construção da Dinastia de Ramsés II. Um hino à amplitude e à vastidão. Um lugar onde um gato se sente uma miniatura, apesar do estatuto inerentemente faraónico dos felinos. Mas faltam esfinges e gigantescos blocos de pedra, faltam estátuas em honra a Rá e hieróglifos com mutantes entre animais e humanos. Vejamos se há pessoas suficientes para ocupar todo aquele espaço, que preencham a amplitude e o vazio. Ontem começou a vida de um terminal. O início do término, um paradoxo entre duas palavras que só tem interesse para um gato obcecado por palavras e significado. O zénite da génese, como um eclipse lunar de conceitos que se sobrepõem para se tornarem numa mescla de coisa nenhuma. Estes são os pensamentos de um gato em processo de pré-sesta, que parte de um ponto específico para chegar a um lugar conceptual que não existe.Alguém me afague a barriga, tenho ronronares para dar. Pu Yi

“EVERY DAY” | CINEMATIC ORCHESTRA

O disco “Every Day” não engana. É um conjunto de nove temas que se podem ouvir em qualquer altura e sempre. Fiel ao som já conhecido da Cinematic Orchestra, “Every Day” encontra na fusão, e de forma a que o jazz ganhe destaque, uma forma de preencher o espaço de qualquer momento. Sem palavras, são instrumentais que motivam a imaginação ou tão-somente servem de companhia. Sofia Margarida Mota

SALA 3

THE CIRCLE [B] Fime de: James Ponsoldt Com: Tom Hanks, Emma Watson, John Boyega 14.30, 16.30, 21.30

29+1[B] Fime de: Kearen Pang Com: Chrissie Chau, Joyce Cheng, Ben Yeung, Babyjohn 19.30

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; Anabela Canas; Amélia Vieira; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; João Paulo Cotrim; João Maria Pegado; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Manuel Afonso Costa; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fa Seong; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


23 hoje macau sexta-feira 19.5.2017

PERFIL

CARLA REGO LOPES, FUNCIONÁRIA BANCÁRIA

M

ACAENSE com ascendência portuguesa, chinesa e “desconhecida”. É assim que Carla Rego Lopes começa por se apresentar. Nascida e criada em Macau, desde pequena que vai com regularidade a Portugal. “A primeira vez tinha eu quatro anos”, recorda. Da infância não tem muitas memórias, a vida era simples e, talvez, pouco entusiasmante. “Andava no colégio inglês, a minha vida era ir para a escola, depois das aulas seguia para as explicações e depois ia para casa”, resume. “Não era de todo interessante.” Talvez por isso considere Macau como um lugar “com pouco interesse”. O percurso da juventude foi comum: “Fiz o trajecto normal de quem frequenta a Escola Portuguesa. Acabei o ensino secundário, fiz as malas para ir para Portugal tirar o curso superior”, afirma. A opção foi Gestão. Era “do mal, o menos”. “Não tinha jeito nenhum para as letras, apesar de ser boa a apanhar línguas estrangeiras, mas não se vive disso. Por outro lado, não tinha grande aptidão para ciências, como a física e a química, pelo que acabei por optar por uma ciência social.” Terminado o curso, não pensava em regressar ao território, mas a vida dá muitas

Ser daqui e não ser voltas. Numa altura em que os empregos em Portugal já não eram certos, cansada de trabalhar em pequenas empresas e de contar tostões, optou por tentar a sorte “noutro tipo de entidades”. Acabou por entrar numa instituição bancária onde ficou 11 anos, até a crise ditar novas mudanças. Depois de quase um ano no fundo de desemprego, aproveitou uma viagem do pai a Portugal e regressou com ele ao território. Voltar para Macau foi sentido como “uma coisa que tinha de fazer” para ultrapassar a ausência de emprego. Não foi desejado, mas “não está a correr mal”, afirma. No entanto, no que respeita à vida do quotidiano, Carla Lopes considera que o território mantém as características que sempre considerou negativas e que “não mudou muito”. “Há uma mentalidade ainda muito fechada. Há várias comunidades distintas que não se juntam: os portugueses, os macaenses, os chineses do Continente e os estrangeiros”, aponta. “É tudo muito segmentado.” Por outro lado, considera que a comunidade macaense continua a ser muito fechada, apesar de a sua própria natureza implicar uma troca cultural. Considera-se sempre dividida. “Eu faço e não faço parte da comunidade macaense.

Não me identifico. Se calhar identifico-me mais com a portuguesa”, diz. A razão, aponta é que “os macaenses ainda têm muito a ideia de que eles são portugueses e nós somos daqui”. Um pensamento muito territorial, sublinha, que é o reflexo de uma herança dos tempos da Administração portuguesa. “Na altura os macaenses não tinham lugar nos cargos públicos de maior relevo”, justifica.

VIAJAR PARA AREJAR

O regresso a Macau aconteceu há quatro anos. Para desanuviar, dedica-se às viagens. A paixão é antiga e agora representa “uma forma de sair daqui”. Macau é um sítio privilegiado para viajar, “está próximo de vários países e as viagens acabam por ficar relativamente baratas”. Este lado do mundo também é muito diverso no que respeita a opções. “Há o Japão, por exemplo, e depois o Sudeste Asiático com uma cultura e uma dinâmica completamente diferentes”, diz. A China Continental não está nas prioridades, mas coloca a hipótese de visitar Xangai, “talvez por ser uma cidade mais cosmopolita”. Carla Rego Lopes assistiu também, de perto, ao desenvolvimento de Macau. Actualmente, refere, “estamos perante um boom insustentável”. “Teoricamente deve-

ria ser impossível o que se está a passar no território”, diz. Outra preocupação “é a falta de diversidade”. “O problema é que está tudo direccionado para o jogo e, com isso, assiste-se a outro fenómeno assustador, o da especulação imobiliária que impossibilita que se viva no território”, lamenta. “Mas o que mais me preocupa é o que vai acontecer quando outros países asiáticos se abrirem ao jogo.” Nessa altura, pensa, Macau pode ter tudo a perder. Carla Lopes acredita que países como o Japão e o Camboja podem vir a ser muito mais competitivos e constituir uma ameaça para Macau. A razão é simples: “Geograficamente são muito maiores e já desenvolveram outros tipos de oferta para os visitantes”. “Assim sendo, mesmo as pessoas que vão jogar podem optar por estes lugares onde podem também fazer outras coisas e, infelizmente, ainda não temos muito mais para oferecer do que o jogo”, lamenta a macaense, sendo que “quando o jogo começar a decair não se sabe o que as pessoas vão fazer”. Sofia Margarida Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


A

S tropas dos Estados Unidos estacionadas na Coreia do Sul realizaram um exercício em que simularam a destruição de depósitos de armas de destruição maciça norte-coreanos, foi ontem anunciado. Soldados de duas divisões de infantaria participaram no exercício, denominado “Warrior Strike 7”, realizado em Camp Stanley, no norte de Seul, e num complexo próximo da fronteira coreana. A informação e as imagens da operação, cuja data não foi divulgada, foram publicadas no portal Flickr e na conta oficial da rede social Facebook da Segunda Divisão de Infantaria das Forças dos Estados Unidos na Coreia do Sul (USFK, na sigla inglesa). A operação consistiu no desembarque em terra de unidades transportadas por via área, a partir do maior navio da Marinha sul-coreana, “Dokdo”, que depois se infiltraram em diferentes instalações para destruir ou tomar controlo de arsenais de armas de destruição maciça. PUB

Na minha alma rude de europeu/Não podia encontrar felicidade /A princesinha do País do Jade!” Leopoldino Danilo Barreiros

Para o que der e vier EUA treinam ataques a depósitos de armas de destruição maciça de Pyongyang

A operação consistiu no desembarque em terra de unidades transportadas por via área, a partir do maior navio da Marinha sul-coreana, “Dokdo”

As fotografias mostram operações e protocolos relacionados com a infiltração em depósitos de armas radioactivas, biológicas ou químicas, ou a desactivação de ogivas.

PRESSÃO CONTÍNUA

O simulacro aconteceu num momento de tensão

na península coreana perante os insistentes testes de armamento do regime de Kim Jong-un e o endurecimento do discurso de Washington após a chegada à Casa Branca de Donald Trump. O último teste de um míssil norte-coreano foi realizado no domingo.

A nova administração norte-americana chegou a insinuar a possibilidade de efectuar ataques preventivos contra a Coreia do Norte se Pyongyang insistir no desenvolvimento do programa nuclear e de mísseis. O último míssil lançado pelo exército norte-coreano, e que Pyongyang definiu

como um novo tipo de projéctil, mostrou um bom rendimento, o que representa um novo avanço para a Coreia do Norte. Pyongyang quer desenvolver um míssil nuclear capaz de alcançar o território norte-americano.

sexta-feira 19.5.2017

ÍNDIA VAI CONSTRUIR 10 NOVOS REACTORES NUCLEARES

A Índia anunciou esta quarta-feira que vai desenvolver dez reactores de água pesada, mais do que duplicando a actual capacidade de produção de energia nuclear do país. O governo do primeiroministro, Narendra Modi, aprovou o plano de construção dos novos Reactores a Água Pesada Pressurizada (REPP), com uma capacidade instalada de 7.000 megawatts. A actual produção nuclear da Índia é de 6.780 megawatts. “Vamos gerar um total de 7.000 megawatts adicionais, contribuindo para a produção própria de electricidade”, declarou o ministro da Energia Piyush Goyal, no decorrer de uma conferência de imprensa que se seguiu ao Conselho de Ministros. O governo indiano acredita que o plano resultará também na criação de mais de 33 mil empregos. No entanto, o executivo indiano escusou-se a clarificar onde serão construídos os novos reactores nem quando estarão operacionais. O país asiático é o terceiro maior produtor de electricidade do mundo e o quarto maior consumidor.


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