MOP$10
SEGUNDA-FEIRA 20 DE JANEIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº4452
GCS
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
HO IAT SENG
LINHAS TRAÇADAS
CUIDADO COM OS NÚMEROS PÁGINA 7
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
RECURSO MALÍGNO PÁGINA 8
OPINIÃO
EVOLUÇÃO JOÃO LUZ
hojemacau
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PÁGINA 4
FINANÇAS
Contas ao vírus Após o alerta da OMC de propagação do novo vírus oriundo de Wuhan, os estudos internacionais começam a surgir e apontam para um número de possíveis infectados muito superior ao admitido, até agora, pelas autoridades chinesas. O Ano Novo Lunar e a deslocação de milhões de pessoas aumentam o temor de disseminação da nova pneumonia viral. As medidas de desinfecção estão a ser reforçadas nos centros de transportes. GRANDE PLANO
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WUHAN
20.1.2020 segunda-feira
ORDENS DE GRANDEZA
ESTUDO ESTIMA QUE NÚMERO DE INFECTADOS POR CORONAVÍRUS ULTRAPASSE UM MILHAR
Dois estudos internacionais projectam o número de pessoas infectadas pelo coronavírus com origem em Wuhan possa estar em mais de um milhar. As autoridades chinesas mantêm o número de pacientes em 41, enquanto avançam a morte do segundo paciente. Por cá, não foi detectado qualquer caso GOVERNO AO IEONG U GARANTE QUE EXECUTIVO ESTÁ PREPARADO PARA LIDAR COM A PNEUMONIA VIRAL
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secretária para os Assuntos Sociais e Cultura garante que as autoridades estão preparadas para lidar com a situação da pneumonia de Wuhan, de origem desconhecida. As declarações de Ao Ieong U foram prestadas na passada sexta-feira, quando foi anunciada a segunda vítima mortal do surto. De acordo com a responsável, a resposta tem em conta os desenvolvimentos da situação, mas vai haver um maior controlo das temperaturas à chegada a Macau e uma verificação dos locais de origem dos visitantes. Ao apontou igualmente que o sector de saúde de Macau está a adoptar uma postura cautelosa, mas que há confiança na capacidade de resposta. Sobre a chegada do Ano Novo Chinês, a secretária reconheceu
os desafios do regresso dos cerca de 500 estudantes de Macau que se encontram em Wuhan, assim como dos trabalhadores não-residentes que visitam as famílias, mas apontou que foram tomadas medidas e distribuída informação junto destes grupos, sobre os comportamentos a adoptar durante as deslocações. Também nos grandes eventos em Macau, durante as celebrações do Ano Novo Lunar, Ao revelou que vai ser disponibilizado desinfectante para as mãos e que as autoridades vão ter mecanismos para inspeccionar a temperatura dos presentes. Ainda sobre este assunto, a secretária informou que as autoridades estão em contacto privilegiado com o Interior da China para receberem toda a informação relevante.
O
número de pessoas infectadas com o vírus ultrapassa provavelmente o milhar de casos e é muito superior àquele avançado pelas autoridades locais, segundo investigadores britânicos. Num artigo publicado na sexta-feira por cientistas de um centro de pesquisa do Colégio Imperial de Ciência, Tecnologia e Medicina de Londres aponta-se que o número de pessoas infectadas na cidade chinesa provavelmente deverá ser muito superior. Investigadores do Centro de Análise Global de Doenças Infecciosas, que aconselha instituições como a Organização Mundial de Saúde (OMS), estimam que “um total de 1.723 casos” em Wuhan apresentavam sintomas da doença desde 12 de Janeiro. O alerta de disseminação do vírus foi dado esta semana pela OMS, depois de os primeiros casos detectados fora da China terem sido conhecidos, na Tailândia e no Japão, com os três pacientes a terem visitado Wuhan recentemente.
Os cientistas usaram o número de casos detectados até agora fora da China - dois na Tailândia e um no Japão - para estimar o número de pessoas que provavelmente estarão infectadas em Wuhan, com base em dados de voos internacionais que partem do aeroporto daquela cidade. “Para Wuhan exportar três casos para outros países, deve haver muito mais casos do que o anunciado”, disse o professor
O Aeroporto Internacional de Wuhan serve uma população de 19 milhões de pessoas, mas apenas 3.400 apanham voos internacionais diariamente
Neil Ferguson, um dos autores, à emissora pública britânica BBC. “É demasiado cedo para sermos alarmistas, mas estou muito mais preocupado do que estava há uma semana”, acrescentou. É impossível determinar com exactidão o número de pessoas infectadas, apenas uma estimativa baseada num modelo de propagação que tem em conta o vírus, a população local e informação sobre transportes aéreos. Para se ter uma ideia, o Aeroporto Internacional de Wuhan serve uma população de 19 milhões de pessoas, mas apenas 3.400 apanham voos internacionais diariamente. Foi com base nestes cálculos que foi feita a estimativa.
ENTRE PARES
Para já, as autoridades internacionais de saúde admitem que possa ter havido um caso de contágio entre pessoas no surto de pneumonia viral na China, mas afirmam que “não há uma indicação clara e sustentada de transmissão” entre humanos. O Centro Europeu de Controlo de Doenças afirmou também que é
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“impossível quantificar o potencial de transmissão entre humanos” deste novo vírus detectado na China. São poucos os casos sem conexão directa com um mercado de marisco em Wuhan, mas as autoridades ainda desconhecem a fonte de infecção ou o modo de transmissão. Ainda assim, as entidades chinesas referem que não existem casos de contágio entre pessoas, mas que o vírus terá cruzado a barreira das espécies e terá origem em animais infectados entre o marisco e a carne vendida no mercado de Wuhan que tem sido o epicentro dos casos. Quanto a esta tese, o professor Neil Ferguson alerta para o facto de “dever ser considerada a substancial possibilidade de transmissão entre humanos de forma mais séria do que tem sido até agora”. “Seria pouco provável, com base no que sabemos sobre coronavírus, que a exposição a animais fosse a principal causa para o número de infectados que temos registado”. Como é evidente, entender a forma como um novo vírus se pro-
paga é parte crucial para se ter uma ideia da ameaça que representa. Nesse sentido, a representação chinesa da OMS afirmou que a análise dos cientistas britânicos é útil e será uma ajuda para que as entidades no terreno respondam de forma eficaz à propagação do vírus. “Ainda subsiste muito para perceber sobre o novo coronavírus. Ainda não sabemos o suficiente para chegarmos a conclusões defi-
“Para Wuhan exportar três casos para outros países, deve haver muito mais casos do que o anunciado. É demasiado cedo para sermos alarmistas, mas estou muito mais preocupado do que estava há uma semana.” NEIL FERGUSON CIENTISTA
nitivas sobre os meios de contágio, sobre as características clínicas da doença, a extensão da sua propagação, ou a sua origem, que continua a ser desconhecida”, é referido no comunicado do departamento chinês da OMS.
LIGAÇÕES CONTROLADAS
Os Estados Unidos já anunciaram que vão começar a filtrar voos directos de Wuhan para os aeroportos de São Francisco e Nova Iorque, assim como em Los Angeles, onde são garantidas inúmeras conexões. Esta semana, em Portugal, a Direcção-Geral da Saúde garantiu que o surto de pneumonia viral na China já estaria contido, indicando que uma eventual propagação «não é uma hipótese neste momento a ser equacionada». “Não temos que estar alarmados, é preciso é estarmos atentos”, afirmou na quarta-feira a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, aos jornalistas, sublinhando que o coronavírus detectado na China não será transmissível de pessoa a pessoa. A pneumonia viral causou na semana passada uma segunda morte,
informaram as autoridades de saúde chinesas, enquanto outros cinco pacientes permanecem em estado grave. Um homem de 69 anos morreu na quarta-feira, em Wuhan, informou a Comissão Municipal de Higiene e Saúde daquela cidade. A saúde do paciente, que adoeceu em 31 de Dezembro, deteriorou-se nos últimos cinco dias, com miocardite grave [inflamação do músculo cardíaco], função renal anormal e múltiplos órgãos severamente afectados, detalharam as autoridades. Entre as 41 pessoas infectadas com a nova pneumonia viral, cinco permanecem em estado grave. Entretanto, à medida que o Ano Novo Chinês se aproxima, repete-se o ritual anual da maior migração do mundo, que milhões de pessoas a encher estações de comboio e aeroportos. Segundo o ministério dos Transportes, durante cerca de 40 dias, a China deve registar um total de três mil milhões de viagens internas, facto que aliado às preocupações com o novo coronavírus aumentam o nível de alerta das autoridades.
“Ainda não sabemos o suficiente para chegarmos a conclusões definitivas sobre os meios de contágio, sobre as características clínicas da doença, a extensão da sua propagação, ou a sua origem, que continua a ser desconhecida.” OMS Os centros de transportes estão a reforçar medidas de desinfecção, monitoramento e prevenção, disse Wang Yang, engenheiro-chefe do ministério. “O surgimento desta epidemia pode causar pânico entre as pessoas, especialmente em áreas onde se gera maior densidade populacional durante o período de férias”, observou, em conferência de imprensa. João Luz e João Santos Filipe com LUSA info@hojemacau.com.mo
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GCS
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O líder do Executivo vincou ainda a necessidade de controlar a despesa pública, mas recusou ter dado indicações para que houvesse cortes nos serviços públicos
Avisos de ano novo CELEBRAÇÃO HO IAT SENG PEDE UNIÃO A TODOS OS SECTORES NUMA ONDA CONTRA O CAOS
Na recepção do Ano Lunar do Gabinete de Ligação, o Chefe do Executivo recordou que se vivem tempos turbulentos e agradeceu o facto de a sociedade se ter unido para proteger a estabilidade. Traçou ainda a linha do “não-caos”
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TRAVESSAMOS tempos turbulentos devido à situação das regiões vizinhas e todos os sectores da sociedade têm de se unir num esforço comum para proteger o território, evitar qualquer possibilidade de caos e manter a estabilidade social. Foi esta a principal mensagem do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, durante o discurso na
MAIS DE 10 DEPARTAMENTOS VISITADOS
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pós tomar posse, Ho Iat Seng afirmou que ia fazer visitas surpresa aos diferentes departamentos do Governo. Segundo as declarações prestadas na sexta-feira, em menos de um mês, Ho fez mais de 10 visitas com o objectivo de ver o ambiente de funcionamento e ouvir as opiniões dos líderes departamentais.
Cerimónia de Celebração do Ano Novo Lunar, promovida sexta-feira pelo Gabinete de Ligação, na Torre de Macau. “O que mais nos satisfez foi verificar que em Macau, não obstante a conjuntura de turbulência vivida nas regiões vizinhas, todos os sectores da sociedade se mantiveram unidos e orientados pela tradição de excelência do amor à Pátria e a Macau, e salvaguardaram, por sua própria iniciativa, a linha inultrapassável ‘Não Caos’, na defesa conjunta da estabilidade da conjuntura geral”, afirmou Ho. À imagem dos discursos anteriores, o Chefe do Executivo voltou a comprometer-se com a “implementação plena e correcta” do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, com a política “Macau governado pelas suas gentes” e voltou a mencionar o princípio “alto grau de autonomia” do Executivo local. Na mesma mensagem, o Chefe do Executivo afirmou que vai
focar-se na reforma administrativa, na implementação de uma Função Pública mais eficiente e orientada para servir a população, na promoção da diversificação da economia e na melhoria das condições de vida da população. A obrigação de promover o Amor à Pátria e a cooperação regional foram outros dos pontos mencionados, perante
os representantes do Governo Central na RAEM.
MAIS INVESTIMENTO PÚBLICO
Em Abril Ho Iat Seng vai à Assembleia Legislativa apresentar as Linhas de Acção Governativa para o ano de 2020. Em relação a possíveis mudanças no actual orçamento, o Chefe do Executivo
FÓRMULA PARA AFASTAR “REVIRAVOLTAS MOMENTÂNEAS”
O
director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau instou a região “a persistir” na fórmula ‘Um País, Dois Sistemas’, para que não se deixe abalar por “reviravoltas momentâneas” ou “interferências externas”. Por ocasião do almoço alusivo ao Ano Novo Chinês, Fu Ziying sublinhou que é necessário “manter a confiança” e insistir na aplicação do princípio que garante a Macau e a Hong Kong um elevado grau de autonomia a nível executivo,
legislativo e judiciário. Sem especificar as “reviravoltas momentâneas” ou as “interferências externas”, as palavras de Ziying são proferidas no contexto da crise política em Hong Kong, da guerra comercial EUA/China e dias depois de a líder pró-independência de Taiwan, Tsai Ing-wen, ter sido reeleita. Pequim continua a rejeitar Taiwan como uma entidade política soberana e ameaça usar a força para reunificar o território, se necessário.
afastou a hipótese de haver grandes alterações nos números aprovados em Dezembro, ainda durante o mandato de Chui Sai On. No entanto, o Chefe do Executivo reconhece que vai haver um aumento significativo para os grandes projectos públicos, relacionado com a construção na Zona A dos novos aterros, mas que nas outras áreas não se esperam grandes alterações. Em resposta às questões dos jornalistas, o líder do Executivo vincou ainda a necessidade de controlar a despesa pública, mas recusou ter dado indicações para que houvesse cortes nos serviços públicos. Ho explicou que as reservas das RAEM são significativas, mas que isso não justifica que não seja preciso planear muito bem as despesas e gastar o dinheiro de forma apropriada. O Chefe do Governo considerou mesmo que a racionalização dos recursos financeiros é um princípio básico de governação. Na ocasião, Ho Iat Seng defendeu ainda a criação do Gabinete para o Planeamento da Supervisão dos Activos Públicos e recusou a ideia das funções deste organismo coincidirem com as dos Comissariado de Auditoria, porque ambos vão supervisionar diferentes fases de projectos e investimentos. Segundo Ho, a RAEM está a seguir mesmo o modelo do Interior da China, em que a Comissão de Supervisão e Administração dos Activos Públicos coexiste com o Gabinete Nacional de Auditoria. João Santos Filipe
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Tudo como antigamente
TRABALHO DEPUTADOS DEFENDEM QUE LEI AUMENTA LICENÇAS DE MATERNIDADE
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As mudanças à lei do trabalho aumentam a licença de maternidade de 56 para 70 dias. A 3.ª Comissão Permanente considera que à luz do Código Civil o aumento é aplicável não só aos nascimentos após da entrada em vigor da lei, mas também às licenças de maternidade que se encontrem a decorrer
Chefe do Governo promete proteger liberdade de imprensa
líder do Governo prometeu respeitar de “forma rigorosa” a liberdade de imprensa, reconhecendo à comunicação social um papel decisivo na afirmação do território como plataforma sino-lusófona. “O Governo de Macau continuará a proteger, de forma rigorosa, a liberdade de imprensa conforme o estipulado na ‘Lei Básica’ e outros diplomas legais (...), reforçará o apoio e a colaboração no direito de cobertura noticiosa, de reportagem e de acesso às informações, garantindo que a liberdade de difusão de informação seja completamente protegida”, disse Ho Iat Seng. O Chefe do Executivo discursou no primeiro convívio com a comunicação social em língua portuguesa e inglesa desde que tomou posse, a 20 de Dezembro, sucedendo a Chui Sai On, que esteve dez anos no cargo. Ho Iat Seng disse igualmente que a imprensa tem desempenhado “funções de elo” entre o Governo e as respectivas comunidades e contribuído “para a promoção da RAEM no exterior”. “Foi mostrado ao mundo a determinação, o esforço e a visão de Macau em participar na construção da iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e na potencialização da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, sublinhou. Neste sentido, lembrou que se vai realizar este ano - em data ainda a definir - a VI Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau), que descreveu como um “grande evento”.
PÁTRIA AMADA
Um dia antes, num almoço com a imprensa chinesa, Ho Iat Seng também tinha assegurado a “liberdade de imprensa de acordo com a lei”, mas, numa tónica que não foi utilizada na sexta-feira, apelou aos jornalistas locais que desenvolvam a tradição de “amar a Pátria e a Macau”. A semana que antecedeu a tomada de posse de Ho Iat Seng, na qual esteve presente o líder chinês, Xi Jinping, ficou marcada por um apertado e inédito controlo das fronteiras de Macau, que resultou em detenções e recusas de entrada no território a activistas pró-democracia e a jornalistas.
Medida que toca a todos
O
Código Civil obriga a que as mães que já estejam a gozar uma licença de maternidade de 56 dias vejam o prazo prolongado para 70 dias, quando as alterações à Lei das Relações de Trabalho entrarem em vigor. O aviso foi emitido pela 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, na sexta-feira, que está a discutir o diploma que aumenta a licença de maternidade para 70 dias. Segundo o entendimento da comissão liderada por Vong Hin Fai, as mães que já estejam a gozar uma licença de 56 dias quando a nova lei entrar em vigor devem ser igualmente abrangidas. Isto quer dizer que uma mãe que tenha gozado 50 dos 56 dias até à entrada em vigor da nova lei, vai ter direito a gozar mais 26 dias, correspondentes aos seis dias que ainda tinha por gozar acrescidos dos 20 dias extra, o que perfaz os 70 dias implementados pela alteração à lei. Esta tese tem por base o número 2 do artigo 290.º do Código Civil onde se define que a “lei que fixar um prazo mais longo [do que se encontra em vigor] é igualmente aplicável aos prazos que já estejam em curso”. Asolução, na opinião da comissão, visa impedir situações de tratamentos diferenciados, como acontecerá nos casos em que as mães que derem à luz antes da entrada em vigor da lei só gozem de 56 dias. Porém, as que derem à luz depois da entrada em vigor da lei gozam 70 dias, mesmo que a diferença temporal os nascimentos seja de minutos ou mesmo de segundos. Além da questão da maternidade, os deputados estiveram a analisar a criação da licença de paternidade e as alterações introduzidas pelo terceiro texto de trabalho do Governo.
PATERNIDADE LIMITADA
De acordo com a proposta, a licença de paternidade pode
ser gozada, à imagem do que acontece com a licença de maternidade, antes do nascimento da criança, mas pelo menos um dos cinco dias úteis tem de ser “tirado” depois do parto. Esta é uma das condições que gera consenso entre os deputados da 3.ª Comissão da Assembleia Legislativa e o Executivo. “Quanto à licença de paternidade só se podem gozar parte dos cinco dias úteis antes do parto. Pelo menos é preciso reservar um dos dias para gozar depois do nascimento”, explicou Vong Hin Fai, presidente da comissão.
De acordo com a proposta do Governo, o patrão tem o poder para ditar o dia, desde que avise com três dias de antecedência o trabalhador Durante os trabalhos de sexta-feira, os deputados analisaram igualmente a proposta do Governo sobre a compensação por trabalho em dias de folga. Segundo a proposta, se um empregado tiver de se apresentar ao trabalho num dia de descanso, então o empregador e o trabalhador podem chegar a acordo para escolherem o dia em que a folga será gozada. Porém, até sexta-feira passada, não era claro o que aconteceria no caso de as duas partes não chegarem a acordo. De acordo com a proposta do Governo, o patrão tem o poder para ditar o dia, desde que avise com três dias de antecedência o trabalhador. João Santos Filipe
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segunda-feira 20.1.2020
Os legisladores da Comissão de Acompanhamento de Finanças Públicas querem que o Governo seja mais detalhado no futuro, quando apresenta as contas de “despesas comuns”. O pedido surge depois do Executivo não ter conseguido explicar, numa primeira fase, os gastos de 535 milhões da mudança do local do heliporto
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Comissão de Acompanhamento de Finanças Públicas da Assembleia Legislativa pede ao Governo que seja mais detalhado quando apresenta os números das “Despesas Comuns” no âmbito da execução orçamental. Esta é a reacção dos deputados que não gostaram do que consideram falta de informações face à indemnização de 535 milhões de patacas paga à empresa LinhasAéreas Ásia Oriental pela deslocação do heliporto. O pedido de informações consta nas opiniões do “Relatório Intercalar da Execução Orçamental de 2019: “Tendo em vista facilitar o trabalho de apreciação pela Assembleia Legislativa, o Governo deve incluir na rubrica ‘Despesas Comuns’ informações complementares que contenham
AL GOVERNO PRESSIONADO A SER MAIS INFORMATIVO NA APRESENTAÇÃO DE DESPESAS
Questão de “pormaior”
dados detalhados sobre as despesas públicas efectuadas pelos Serviços Públicos que estejam inscritas nessa rubrica”, é defendido. Ainda de acordo com as opiniões da comissão liderada por Mak Soi Kun esta alteração vai permitir não só
ATERROS ZONA C EM 2021
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Zona C dos Novos Aterros, situada à frente dos Jardins do Oceano e cujos trabalhos já decorrem, vai ficar concluída no final do próximo ano. A informação consta das explicações avançadas pelo Gabinete de Infra-estruturas (GDI) aos deputados no âmbito da execução orçamental para a primeira metade do ano passado.
“clarificar quais são os serviços responsáveis pelas despesas públicas” mas também perceber “as despesas públicas que estão inscritas nos vários itens das ‘Despesas Comuns’”. Este pedido foi ainda elaborado por Mak Soi Kun, que defendeu a necessidade de permitir que também a população tenha mecanismos para poder supervisionar os gastos do Executivo: “Sem as informações apresentadas como é que a sociedade pode avaliar o Governo? No futuro devem ser apresentadas informações mais detalhadas sobre as despesas comuns, não só para facilitar o trabalho da Assembleia Legislativa, mas também a fiscalização pela sociedade”, sublinhou.
a “dialogar melhor entre si”, principalmente antes da elaboração de projectos para que não sejam orçamentadas obras que depois
AVALIAÇÃO POR OBJECTIVOS
Em relação à execução orçamental, a comissão aconselha o Executivo
A alteração vai permitir não só “clarificar quais são os serviços responsáveis pelas despesas públicas” mas também perceber “as despesas públicas que estão inscritas nos vários itens das ‘Despesas Comuns’”
acabam por não arrancar, devido a diferendos internos. “Os serviços públicos não devem orçamentar projectos que depois não são viáveis. Devem fazer os estudos de viabilidade primeiro, porque se os trabalhos não avançam, a população acaba por sentir-se desiludida”, avisou. Outras das medidas pedidas pela comissão, é que a execução de trabalhos seja avaliada de acordo com objectivos pré-definidos. Os deputados defendem que se houver um balanço periódico, o Governo saberá o que correu mal e poderá corrigir as falhas no futuro. João Santos Filipe
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RÓMULO SANTOS
ENSINO ESPECIAL DEPUTADO SULU SOU QUESTIONA GOVERNO SOBRE ATRASOS NA REVISÃO DA LEI
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deputado Sulu Sou enviou uma interpelação escrita onde questiona o Governo acerca do atraso da revisão da legislação relacionada com o diploma do ensino especial. Argumentando que as consultas públicas sobre a revisão do regime de educação especial e sobre o regime de avaliação do ensino regular terminaram, respectivamente, em Março de 2015 e em Dezembro de 2016, Sulu Sou acusa a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) de ter vindo a adiar “trabalhos legislativos (…) fundamentais para prestar um serviço de qualidade aos alunos com necessidades especiais”.
De acordo com a interpelação, o segmento do ensino especial deve caminhar no sentido de “assegurar que os alunos (…) recebam apoio escolar adequado”. “De modo a desenvolver o seu potencial e auxiliar a sua integração na sociedade (…) é necessário fornecer aos alunos com necessidades especiais, uma série de ajustes no sistema de ensino, especialmente no que diz respeito aos materiais didáticos e ao modo como é feita a avaliação”, defende Sulu Sou. Outro dos factores que o deputado salienta para a revisão urgente da legislação do ensino
especial diz respeito ao aumento do número de alunos do ensino não superior que tem vindo a crescer consecutivamente nos últimos anos, contribuindo para diminuir o número de vagas disponíveis para os alunos com necessidades educativas especiais no sistema de ensino integrado. “Quantas escolas particulares (…) estão actualmente a implementar o ensino integrado? A revisão da lei do ensino especial irá contemplar um artigo destinado a garantir a integração destes estudantes?”, questionou por escrito Sulu Sou. P.A.
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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA MARIDO DE LAO MONG IENG RECORRE DA SENTENÇA
Unido, penso que ela necessitará de mais tempo para recuperar desta cirurgia. Temos vindo a comunicar com o médico no Reino Unido e voltámos a re-agendar a cirurgia para Abril”, explicou a deputada, que tem vindo a dar apoio à vítima e à sua família.
O marido de Lao Mong Ieng, que queimou a mulher no rosto com óleo a ferver e produtos químicos, decidiu recorrer da sentença de 13 anos de prisão concedida pelo Tribunal de Segunda Instância, adiantou a deputada Agnes Lam. Enquanto isso, a vítima de violência doméstica recupera de uma intervenção urgente
REVER POLÍTICAS
Ainda não é desta TIAGO ALCÂNTARA
deputada Agnes Lam partilhou na sua página pessoal de Facebook, e confirmou depois ao HM, que o marido de Lao Mong Ieng resolveu recorrer da sentença de 13 anos de prisão decretada pelo Tribunal de Segunda Instância (TSI), tornada pública na última quinta-feira. A sentença diz respeito ao caso de violência doméstica em que o marido queimou a mulher no rosto com óleo a ferver e produtos químicos, deixando-a desfigurada. “Ele não aceita a condenação do tribunal e por isso é que recorreu da sentença”, começou por dizer Agnes Lam. “Mas penso que o que ele fez não é reversível e trouxe verdadeiros danos à vida de uma pessoa, especialmente por ser a sua mulher. Espero que um dia ele possa compreender os danos que causou”, acrescentou. Enquanto isso, Lao Mong Ieng deparou-se com um problema adicional causado pela sua condição, que a fez adiar a intervenção já marcada no Reino Unido. “Fomos ao Reino Unido pela primeira vez o ano passado, em Agosto. Era suposto ela ter de ir novamente no final de Dezembro ou Janeiro para fazer a maior parte da cirurgia. Mas depois ela teve problemas em meados de Dezembro, pois não conseguia comer por causa de problemas com a pele, que lhe afectou a capacidade de mexer a boca.” O médico sugeriu então a realização de uma cirurgia urgente para remover o excesso de pele, que foi feita nas últimas duas semanas. “Este processo vai demorar 40 dias a estar concluído, assim sendo penso que ela só pode ter alta do hospital em meados de Fevereiro. Em relação ao tratamento no Reino
Agnes Lam, deputada “Este processo vai demorar 40 dias a estar concluído, assim sendo penso que ela só pode ter alta do hospital em meados de Fevereiro. Em relação ao tratamento no Reino Unido, penso que ela necessitará de mais tempo para recuperar.”
O TSI condenou ainda o marido da vítima ao pagamento de uma indemnização de cerca de 12,8 milhões de patacas por danos patrimoniais e não patrimoniais, mas Agnes Lam alerta para o facto de o homem não proceder ao pagamento tão cedo. Enquanto isso, a família de Lao Mong Ieng necessita de apoios financeiros, uma vez que os pais da vítima necessitam de deslocar-se a cada três meses a Shenzhen para renovar os seus documentos de viagem, já que não são naturais de Macau. Além disso, a vítima está também a receber um subsídio na qualidade de portadora de deficiência, “que não é suficiente”, alerta a deputada. Os Serviços de Saúde de Macau asseguram ainda o pagamento das despesas médicas. Ainda assim, Agnes Lam acredita que este caso deve servir de exemplo para que o Governo reveja as suas políticas. “Deveria haver alguma consideração sobre este caso, o que pode ser acompanhado pelo Governo ou sistema judicial. [A vítima] ainda não recebeu qualquer indemnização da parte do marido e parece que ele não tem capacidade para pagar essa quantidade de dinheiro. Para estes casos, que precisam de apoio a longo termo, o Governo deveria analisar o que pode ser feito em termos de políticas”, concluiu. Andreia Sofia Silva
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AUTOCARROS PARAGEM DA ‘‘RUA DAS LORCHAS’’ MUDA DE NOME E DE LOCALIZAÇÃO
PORTO INTERIOR ITINERÁRIO MARÍTIMO ENTRE MACAU E ZHUHAI REABRE A 23 DE JANEIRO
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partir de hoje muda a localização e a designação da paragem de autocarros “Rua das Lorchas”, que passa a ter como nome “Terminal Marítimo de Passageiros do Porto Interior”, devido à reabertura do novo posto fronteiriço de Wanzai a partir de quinta-feira, 23. De acordo com um comunicado da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), o objectivo é “coordenar [o funcionamento da paragem] com a reabertura do terminal marítimo e a melhoria das instalações envolventes”, esperando-se também “melhorar o ambiente de espera”. Com esta alteração, as carreiras 1, 2, 3A, 5, 10, 10A, 11, 18, 18B, 21A, 26, MT4 e
N3 passam a parar na nova paragem. Além disso, a DSAT decidiu criar mais quatro paragens para a carreira de autocarros H2, sendo elas “Mercado Tamagnini Barbosa”, “Comissariado da Zona Norte”, “Con.Borja / Ka Ieng” e “Avenida do Comendador Ho Yin / Bairro da Ilha Verde”. Foram também implementadas mudanças na paragem “Venceslau Morais / Mong-Há”, que funciona junto ao complexo de habitação social de Mong Há. Também a partir de hoje as carreiras 1A, 28B, 29 e H2 passam a fazer escala na nova paragem de desvio junto do Richlink 188 Noble Court. As carreiras n.os 2, 6A, 10 e 34 manter-se-ão inalteradas.
reabertura do itinerário marítimo entre o Terminal Marítimo de Passageiros do Porto Interior e o Porto de Wanzai, em Zhuhai, vai acontecer no próximo dia 23 de Janeiro. A primeira viagem do Porto de Wanzai para o Porto Interior será realizada às 12h45, ao passo que a viagem inaugural do Porto Interior para o Porto de Wanzai acontece ao 12h55 do mesmo dia. A exploração do itinerário está a cargo da Agência de Transporte de Passageiros Yuet Tung , que assegurará o transporte de passageiros, diariamente, entre 7 e as 22 horas. No período inicial de funcionamento, duas embarcações entrarão em funcionamento para transportar 280 pessoas e 150 pessoas, respectivamente, a partir do Porto Interior e de Wanzai.
Segundo a nota oficial divulgada pela Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA) serão realizadas, no total, 110 viagens por dia, sendo que as viagens a partir do Terminal Marítimo de Passageiros do Porto Interior para o Porto de Wanzai irão acontecer a cada 15 minutos. No entanto, de acordo com a mesma nota, não serão realizadas viagens às 12h10, 12h25, 18h10 e 18h25. O preço da viagem de Macau a Wanzai é de 20 patacas e de 30 patacas se o bilhete for de ida e volta. Já o preço da viagem de Wanzai para Macau é de 15 renminbi por uma viagem só de ida e de 25 renminbi por viagem de ida e volta. Segundo a DSAMA serão atribuídos descontos nos bilhetes adquiridos por residentes de Macau e de Zhuhai.
sociedade 9
segunda-feira 20.1.2020
Procura crescente Mais de 4700 candidatos para três mil fracções de habitação económica
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E acordo com dados divulgados na passada sexta feira pelo Instituto de Habitação (IH), foram recebidos, no total, 4774 boletins de candidatura para a aquisição das 3.011 fracções económicas, localizadas na Zona A dos Novos Aterros. Naquele que foi o primeiro concurso para a aquisição de habitação económica desde Março de 2014, a maior fatia das candidaturas foi registada nos agregados familiares compostos apenas por uma pessoa, representando 39,4 por cento das candidaturas. Seguiram-se as candidaturas de agregados compostos por três ou mais pessoas (37,8 por cento) e, por fim, os agregados de duas pessoas (22,8 por cento). Segundo as estatísticas do IH, mais de metade das candidaturas (58,8 por cento) pentencem a agregados familiares nucleares, seguindo-se os candidatos individuais (39,3 por cento) e, por fim, agregados familiares não nucleares (1,9 por cento). Quando ao escalão etário dos candidatos, a grande maioria, 60 por cento, tem entre os 25 e os
44 anos. No escalão etário situado entre os 45 e os 64 anos, registaram-se 27,5 por cento dos candidatos, seguindo-se o grupo dos 18 aos 24 anos (8 por cento) e, por fim, o grupo com 60 ou mais anos (4,5 por cento). Data incerta Lançado em Novembro de 2019, o concurso para a habitação económica vai estar aberto até 26 de Março, existindo, das 3.011 fracções disponíveis, 1.253 unidades com três quartos, 998 com dois e 760 do tipo T1. Também não é conhecido o preço das fracções, uma vez que ainda não há projecto de construção, como explicou o presidente do IH, Arnaldo Santos, por altura da conferência de imprensa onde foi anunciado o concurso. Recorde-se que a conclusão das obras das fracções económicas na Zona A dos Novos Aterros continua a ser uma incógnita. Ainda no passado dia 13 de Janeiro o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, afirmou na Assembleia Legislativa não estar ainda em condições de divulgar uma data para a conclusão das fracções económicas a concurso. P.A.
Gripe A Três idosos internados devido a casos graves
Os Serviços de Saúde (SS) foram notificados de três casos graves de gripe. Os três pacientes são residentes de Macau e têm idades compreendidas entre os 77 e os 93 anos de idade. O paciente mais idoso, um homem de 93 anos, apresentava no sábado um quadro clínico de insuficiência respiratória e insuficiência cardíaca, sem que tenha havido novas informações até ao fecho desta edição. Sem especificar quem, os SS informaram, de acordo com o canal chinês da TDM – Rádio Macau, que dois dos pacientes foram vacinados contra a gripe neste trimestre. Actualmente estão a ser tratados no Centro Hospitalar Conde de S. Januário, conscientes, e com sinais vitais estáveis. De acordo com os SS, os três pacientes têm historial de hipertensão, a apresentaram sintomas de febre, tosse, entre os dias 11 e 17 de Janeiro. As amostras do tracto respiratório apresentaram reacção positiva ao vírus da gripe A.
JOGO APÓS QUEDA DE 3,4% ANALISTAS PREVÊM RECUPERAÇÃO EM 2020
Só pode melhorar
Em 2019 as receitas brutas dos casinos de Macau registaram perdas de 3,4 por cento e o sector VIP caiu 18,6 por cento. Após a queda, analistas da JP Morgan acreditam que a estabilidade e recuperação podem estar no horizonte de 2020
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EPOIS da tempestade, normalmente vem a bonança. Os casinos de Macau fecharam 2019 com receitas brutas de 292,46 milhões de patacas, menos 3,4 por cento relativamente ao ano anterior, altura em que o valor ascendeu a 302,85 milhões de patacas. Intimamente relacionada com as perdas está o facto de as receitas provenientes do jogo VIP terem registado uma quebra de tal forma acentuada em 2019, que o segmento perdeu mesmo o seu estatuto maioritário no total das receitas globais. De acordo com dados divulgados pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), as receitas provenientes do jogo VIP atingiram 135,228 milhões de patacas em 2019, menos 30,869 milhões de patacas (18,6 por cento) face a 2018. A juntar à perda, está o facto de o jogo VIP ter cedido para o segmento de massas a posição dominante que detinha em Macau, pelo menos nos últimos cinco anos, já que em 2019 o jogo VIP representou menos de metade, mais precisamente 46,2 por cento, do total das apostas angariadas.
A NÃO REPETIR
Perante o cenário pouco auspicioso traçado em 2019, analistas da JP Morgan citados pelo GGR Asia, acreditam, contudo, que o pior já passou e que para 2020, dificilmente o mercado de jogo em Macau voltará a assistir quebras da mesma magnitude, dado que o contexto geral que se
avizinha trará algum alívio aos resultados. “Temos muita dificuldade em acreditar que (até metade) dos factores negativos que recaíram sobre Macau no ano passado (proibição de fumar nas áreas VIP, desvalorização do renminbi, os protestos de Hong Kong (…), restrições à concessão de vistos) se venham repetir este ano”, afirmaram os analistas DS Kim, Derek Choi e Jeremy An, citados pelo GGR Asia. Sobre a situação de Hong Kong, aquando da revisão em baixa (menos 3 por cento) do número de visitantes estimados para 2020 em Macau, os serviços de turismo da região afirmaram que a situação de instabilidade tem sido um dos factores que mais tem contribuído para a diminuição do número de turistas que vem jogar, provenientes da China continental. “Creio que o motivo da diminuição
está relacionada (...) com a situação de Hong Kong, porque muitas vezes as maioria dos turistas ou comerciantes que aposta em participar nas covenções ou exposições de Hong Kong visitam também Macau”, explicou na semana passada a directora dos Serviços de Turismo, Maria Helena de Senna Fernandes, por ocasião da conferência de imprensa anual do organismo. Os analistas chamaram ainda a atenção para o facto de no final de 2020 estima-
Os casinos de Macau fecharam 2019 com receitas brutas de 292,46 milhões de patacas, menos 3,4 por cento relativamente ao ano anterior
rem que a comparação anual de resultados das receitas brutas de jogo relativamente a 2019, venha a ser relativamente mais suave, dado que, ao contrário do ano passado, em 2018 foi registado um crescimento das receitas brutas de jogo em todos os meses. Além disso, os analistas da JP Morgan apontam também como causa de melhoria do cenário do sector do jogo em Macau para 2020, o “alívio da pressão” gerada por factores macroeconómicos como a guerra comercial entre a China e os EUA e a valorização do renminbi. Recorde-se que ainda na semana passada, a China e Estados Unidos assinaram na casa Branca um acordo parcial, designado como “acordo de primeira fase” para ultrapassar as disputas comerciais entre os dois países. Pedro Arede
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Irmandade m MÚSICA ZECA BALEIRO PREPARA NOVO ÁLBUM COM “CANÇÕES D’ALÉM-MAR” DE AUTORES PORTUGUESES
O interesse de Baleiro pela música portuguesa despertou na década de 1980, quando lhe ofereceram uma cassete, com algumas canções gravadas. “Uma amiga, Laurinda - por feliz coincidência, o nome de uma linda canção lusitana -, fez uma cassete com canções de Fausto, Vitorino, Sérgio Godinho e José Afonso", recorda Zeca Baleiro, evocando o nome da canção popularizada por Vitorino. "Tempos depois, no início dos anos 1990, Hiro, amigo designer gráfico que viria a criar a capa do meu primeiro disco, trouxe de Portugal [para o Brasil] o CD ‘Viagens’, de Pedro Abrunhosa e os Bandemónio. Foi assim que a música mais contemporânea produzida na terra de Amália Rodrigues chegou aos meus ouvidos”, prosseguiu o músico, na entrevista à Lusa. Para o intérprete de “Telegrama”, as expressões musicais portuguesa e brasileira “têm pontos de contacto óbvios”. “Em geral são muito diferentes”, adverte, esclarecendo, que, “harmonicamente, por exemplo, a música brasileira bebeu muito no jazz, via bossa nova”. “Já a portuguesa, buscou soluções harmónicas muito específicas, ainda que bebendo de outras fontes como a própria música brasileira, o rock e o blues. Isso a torna um caso muito particular no cenário da música internacional”, acrescentou. Assim, através destes autores, Zeca Baleiro foi-se aproximando do que, musicalmente, se fazia em Portugal.
DIVULGAÇÃO
O músico brasileiro Zeca Baleiro deverá começar a gravar em Março um novo álbum que será inteiramente composto por músicas de autores portugueses. “Às Vezes o Amor”, de Sérgio Godinho, é o primeiro single que já está disponível nas plataformas digitais
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ECA Baleiro, conhecido músico brasileiro, tem previsto para Março o início da gravação de um novo álbum, "Canções d’Além-mar", com composições de autores portugueses, antecedendo uma digressão em Portugal, disse o músico à agência Lusa. A decisão resulta de sucessivas aproximações do músico brasileiro às composições de músicos portugueses, e o primeiro 'single' deste projecto, "Às Vezes o Amor", um original de Sergio Godinho, está já disponível nas plataformas digitais. “Sou um grande fã da música feita em Portugal e, ao longo dos anos, me aproximei mais e mais desse universo. Há pelo menos 15 anos [que tenho] o
LIGAÇÃO A FERNANDO PESSOA
projecto de fazer esse disco. Chegou a hora, enfim”, disse Zeca Baleiro à Lusa, a partir do Brasil.
“’Canções d’Além-mar’ é uma declaração de amor à música feita em Portugal, com ênfase na produção das
últimas décadas. É parcial como todo o tributo. Não é uma antologia, mas um recorte afectivo do cancio-
neiro português feito por um músico brasileiro, uma homenagem sincera e apaixonada”, declarou.
Em 1998, um ano depois de lançar o seu CD de estreia, "Por Onde Andará Stephen Fry?", participou no projecto "Navegar é Preciso", em São Paulo, no Brasil, série de concertos que tomava para nome o verso de Fernando Pessoa. “A proposta era promover encontros entre artistas brasileiros e portugueses, e fui escalado para dividir a noite com, vejam só... Pedro Abrunhosa”, lembrou.
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musical A partir de 1999, quando apresentou o seu segundo disco, "Vô Imbolá", actuou várias vezes em Portugal. “A cada viagem, voltava carregado de CD portugueses (e africanos também, mas aí já é assunto para outra história), buscando enriquecer meu repertório e tomando contacto com artistas de vários matizes musicais – canção tradicional, rap, rock, fado, música experimental, música pimba, etc.. Alguns desses álbuns e algumas dessas canções trazidos d'além-mar passaram a fazer parte da minha discoteca afectiva, de tal modo que passei a contagiar amigos e PUB
Em declarações à Lusa, o músico brasileiro expressou o desejo de haver “uma maior reciprocidade” entre as expressões musicais lusófonas do denominado triângulo atlântico – Portugal, África e Brasil
familiares com esse repertório”, disse à Lusa. Entretanto, “em 2000, Sérgio Godinho, em digressão pelo Brasil, assistiu a um 'show' meu em Salvador". "Não nos conhecíamos até então. Depois do 'show', conversámos longamente e Sérgio me fez um convite irresistível: participar do 'show' que ele faria na Festa
do Avante! [em Portugal], no ano seguinte. Foi a minha primeira apresentação para um público massivo em terras portuguesas, que abriu portas para as digressões seguintes, dos discos ‘Líricas’ (2000) e ‘Pet Shop Mundo Cão’ (2002)”, recordou. A parceria com Sérgio Godinho prosseguiu no disco "Irmão do Meio" (2003), do
músico português, "no qual dividimos os vocais de ‘Coro das Velhas’, com a colaboração de músicos da minha banda". "Pouco tempo depois participei no álbum ‘Jacarandá’, do guitarrista e compositor Pedro Jóia, interpretando a canção ‘Calçada Portuguesa’ [de Tiago Torres da Silva e Jóia] e, na sequência, fiz um dueto virtual com Teresa Salgueiro, no disco 'Brizzi do Brasil', do maestro italiano Aldo Brizzi”. Baleiro colaborou também com Manuel Paulo, no CD “O Assobio da Cobra”.
MAIS PERTO
Em declarações à Lusa, o músico brasileiro expressou o desejo de haver “uma maior reciprocidade” entre as expressões musicais lusófonas do denominado triângulo atlântico – Portugal África e Brasil. “Ainda há pouca interacção musical entre esses mundos, infelizmente. Alguns projectos estão sendo levados a cabo, o que é óptimo, mas é pouco, diante da grandeza e riqueza desse cosmo lusófono”, afirmou.
Com artistas portugueses, Baleiro prosseguiu as colaborações. No seu quinto álbum de originais, "Baladas do Asfalto e Outros Blues", de 2005, a edição portuguesa inclui uma faixa-bónus, “Frágil", de Jorge Palma. “Nos anos seguintes, fiz colaborações com vários artistas portugueses, como a banda Clã, com 'shows' em São Paulo e Lisboa, Ala dos Namorados, para um especial da RTP, Susana Travassos, em 'shows' e disco, em Portugal e no Brasil. Em 2010, dividi o palco com Jorge Palma no Rock in Rio Lisboa, numa noite para mim memorável”, contou. Referindo-se ao novo disco, afirmou: “Não foi feito com esta intenção, mas se conseguir aproximar as músicas brasileira e portuguesa, então vou me sentir premiado. Eu lamento que compositores maiúsculos como Sérgio Godinho, Fausto, Jorge Palma e Pedro Abrunhosa não sejam devidamente conhecidos por estas bandas [no Brasil]”.
Palestra Papel de universidade católica na Ásia na USJ
Decorre hoje na Universidade de São José (USJ) a última palestra da série de conferências intitulada “Maximum Illud Lecture Series”. A palestra será proferida pelo reitor da USJ, o padre Peter Stilwell, e intitula-se “The role of the Catholic University in the ‘missio ad gentes’ in Asia”. Esta série de palestras é organizada pela Faculdade de Teologia da USJ e tem como objectivo recordar o centenário da criação do Maximum Illud, um documento da autoria do Papa Bento XV relacionado com o trabalho missionário desenvolvido pela Igreja Católica à época. A palestra com Peter Stilwell acontece às 18h30 no Largo de Santo Agostinho.
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Mais um ano que passa, mais uma viagem de encontro aos entesqueridos. O Ano Novo Lunar põe em movimento, durante cerca de 40 dias, milhões de chineses num total de três mil milhões de viagens internas
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OR estrada ou por mar, de avião ou de comboio, milhões de chineses estão a caminho da terra natal para festejar esta semana a passagem do ano lunar com a família, na maior migração interna do planeta. "É fatigante", admite à agência Lusa Xiaowang, que
ANO NOVO LUNAR ARRANCA MAIOR MIGRAÇÃO HUMANA DO PLANETA
De malas aviadas se prepara para a jornada de 20 horas de comboio que separa Pequim da sua terra natal, na província de Sichuan. "Mas esta data é muito importante para os chineses: é quando nos reunimos com a família", diz. "Não podia faltar". À medida que o Ano Novo Lunar se aproxima, viajantes chineses enchem estações de comboio e aeroportos. Segundo o ministério dos Transportes, durante cerca de 40 dias, a China deve registar um total de três mil milhões de viagens internas. Trata-se da principal festa das famílias chinesas, equivalente ao natal nos países ocidentais, e decorre de 24 a 30 de Janeiro, sob o signo do rato, o primeiro dos doze animais do milenar zodíaco chinês. Na estação de comboios Oeste de Pequim, o frenesim é constante: milhares de traPUB
HM • 1ª VEZ • 20-1-20
公告 ANÚNCIO 簡易執行裁判案 第 PC1-14-0400-COP-A 號 輕微民事案件法庭 Execução Sumária de Sentença n.º Juízo de Pequenas Causas Cíveis Exequente: BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA (MACAU) S.A., com sede em Macau, na Avenida da Amizade, Nº 555, Macau Landmark, Torre ICBC, 18º andar. Executado: CHEONG MAN WAI, com residência em Macau, na 澳門文第士街 34-36 號益達花園13 樓A座. * Faz-se saber que nos autos acima indicados são citados os credores desconhecidos do executado para, no prazo de quinze dias, que começa a correr depois de finda a dilação de vinte dias, contada da data de publicação, reclamarem o pagamento dos seus créditos pelo produto dos bens penhorados sobre que tenham garantia real e que são os seguintes: Bens penhorados Verba n.º 1 Dinheiro Saldo: MOP$175,81 (Cento e Setenta e Cinco Patacas e Oitenta e Um Avos), que se encontra depositado actualmente no BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA (MACAU) S.A., à ordem dos presentes autos. Verba n.º 2 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2016 Saldo: MOP$4.500,00 (Quatro Mil, Quinhentas Patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. Verba n.º 3 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2017 Saldo: MOP$9.000,00 (nove mil patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. Verba n.º 4 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2018 Saldo: MOP$9.000,00 (nove mil patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. Verba n.º 5 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2019 Saldo: MOP$10.000,00 (Dez Mil Patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. RAEM, 08 de Janeiro de 2020.
balhadores rurais, carregados com malas ou sacos de pano, iniciam o regresso a casa. Para muitos das centenas de milhões de trabalhadores migrantes empregados nas prósperas cidades do litoral chinês, está é a única altura do ano em que revêem os filhos ou pais, que permanecem geralmente no interior do país. "Comprei os bilhetes com meio mês de antecedência", diz Chen Jinghuai, que vai viajar 17 horas de comboio entre Pequim e a sua terra natal, na província de Anhui. "Durante este período, esgotam rápido", conta. Com um bebé de seis meses ao colo, a chinesa
Yang Zhen explica que tem este ano nova companhia no regresso à terra natal: "É a primeira vez que o meu filho vai a casa".
EPIDEMIA ASSUSTA
Todas as escolas, do ensino primário ao superior, fecham durante um mês. Para muitos trabalhadores, as folgas e feriados concedidos nesta
quadra pelo Governo e as empresas constituem as únicas férias do ano. Na China e em todas as 'chinatown' espalhadas pelo mundo, os edifícios são engalanados com lanternas vermelhas, enquanto nas ruas se lançam petardos e fogo-de-artifício para "afugentar os maus espíritos'. Ratos de vários tama-
Este ano, a jornada exige precauções extras, face a um novo tipo de pneumonia viral com origem no centro do país e que causou já dois mortos, tendo-se alastrado, entretanto, ao Japão e à Tailândia
nhos e feitios ornamentam as lojas e os centros comerciais. Este ano, a jornada exige precauções extras, face a um novo tipo de pneumonia viral com origem no centro do país e que causou já dois mortos, tendo-se alastrado, entretanto, ao Japão e à Tailândia. Na cidade chinesa de Wuhan, um importante centro de transporte doméstico e internacional, 41 pessoas foram infectadas com a nova pneumonia viral, cinco das quais permanecem em estado grave (ver grande plano). Uma investigação identificou a doença como um novo tipo de coronavírus, uma espécie viral que causa infecções respiratórias em seres humanos e animais e é transmitido através da tosse, espirros ou contacto físico. Alguns destes vírus resultam apenas numa constipação, enquanto outros podem gerar doenças respiratórias mais graves, como a pneumonia atípica, ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que entre 2002 e 2003 matou 650 pessoas na China continental e em Hong Kong. Os centros de transporte estão a reforçar medidas de desinfecção, monitoramento e prevenção, disse Wang Yang, engenheiro-chefe do ministério. "O surgimento desta epidemia pode causar pânico entre as pessoas, especialmente em áreas onde se gera maior densidade populacional durante o período de férias", observou, em conferência de imprensa. João Pimenta agência Lusa
ECONOMIA FUNDOS ESTATAIS INVESTIDOS EM PARANÁGUA NO BRASIL
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M grupo portuário de Hong Kong anunciou a venda de parte das acções do porto de Paranágua, o segundo maior do Brasil, a dois fundos estatais chineses, incluindo um focado nos mercados lusófonos. O China Merchants Port confirmou na quinta-feira a venda de 22,55 por cento da TCP, operadora do porto no estado do Paraná, ao Fundo China-América Latina e ao Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa, com sede em Macau. O comunicado não revela qual o montante envolvido na transação, cujas negociações começaram na segunda metade de 2018 e ficaram concluídas no final de 2019.
O China Merchants Port pagou em 2017 2,89 mil milhões de reais (620 milhões de euros) para adquirir 90 por cento das acções da TCP, cuja concessão termina em 2048. O grupo, que está listado na Bolsa de Valores de Hong Kong, sublinha que esta é a primeira vez que “junta investidores estratégicos aos seus terminais no estrangeiro”. A entrada dos dois fundos estatais chineses vai permitir “o desenvolvimento futuro de infraestrutura portuária na América Latina”, de forma conjunta, refere a empresa. O porto de contentores tem capacidade para lidar com 2,4 milhões
de contentores por ano, graças a um projecto de expansão concluído no final do ano passado, diz o comunicado. O Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa, fundado em 2013 com activos no valor de mil milhões de dólares norte-americanos, tem como missão investir nos mercados lusófonos. O Fundo China-América Latina foi criado em 2014 durante uma visita do Presidente chinês Xi Jinping ao Brasil. O accionista maioritário é o Banco de Exportação e Importação da China, com 60 por cento, sendo as restantes acções da Administração Estatal chinesa de Divisas Estrangeiras.
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segunda-feira 20.1.2020
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economia chinesa, a segunda maior do mundo, cresceu 6,1 por cento, em 2019, o ritmo mais baixo em várias décadas, que reflete um aumento débil do consumo interno e uma prolongada guerra comercial com Washington. Dados oficiais divulgados sexta-feira representam uma desaceleração de cinco décimas, face ao crescimento registado em 2018, que tinha sido já o mais baixo desde 1990. O crescimento económico para o período entre Outubro e Dezembro fixou-se nos 6 por cento, igual ao trimestre anterior. O ritmo de crescimento económico atingiu, este ano, o nível mais baixo da meta estipulada pelo Partido Comunista, de "entre 6 e 6,5 por cento". A liderança chinesa está a encetar uma transição no modelo económico do país, visando uma maior preponderância do sector dos serviços e do consumo, em detrimento das exportações e construção de obras públicas. Mas a desaceleração tem sido mais acentuada do que o previsto, levando Pequim a reduzir as restrições no acesso ao crédito e a aumentar a despesa pública, visando evitar a destruição de empregos, o que poderia resultar em instabilidade social.
Uma triste campanha Crescimento da economia abranda para 6,1% face a guerra comercial
Os exportadores chineses ressentiram-se com um aumento das taxas alfandegárias impostas pelos Estados Unidos, parte de disputas comerciais suscitadas pelas ambições para o sector tecnológico e o superavit comercial da China, embora o impacto geral sobre a economia tenha sido menor do que esperavam alguns analistas.
MAUS INDICADORES
Pequim e Washington assinaram esta semana um acordo parcial, que
O ritmo de crescimento económico atingiu, este ano, o nível mais baixo da meta estipulada pelo Partido Comunista, de “entre 6 e 6,5 por cento” representa uma trégua na guerra comercial, mas que não anula a maior parte das taxas punitivas impostas pelos EUA sobre 360 mil milhões
de dólares (de produtos importados da China e exclui reformas profundas no sistema económico chinês, incluindo a atribuição de subsídios às empresas domésticas. A actividade da indústria manufactureira, o consumo interno e o investimento enfraqueceram em 2019, face ao ano anterior. O Gabinete Nacional de Estatísticas chinês observou que a economia da China se manteve estável, durante um período difícil, mas alertou para os riscos internos que envolvem "problemas estruturais, sistemáticos e cíclicos". A taxa de natalidade do país, o mais populoso do mundo, caiu também para um novo recorde mínimo de 1,05 por cento, em 2019, um sinal ameaçador para um país que vai começar a enfrentar uma escassez de trabalhadores jovens nas próximas décadas. Em termos nominais, a riqueza total da China ascendeu, no ano passado, a 99,09 biliões de yuan.
Comércio UE ameaça recorrer à OMC se acordo China-EUA prejudicar empresas
A União Europeia (UE) avisou sexta-feira que recorrerá à Organização Mundial do Comércio (OMC), caso o acordo comercial parcial entre a China e os Estados Unidos causar "distorções comerciais" em detrimento das empresas europeias. "As metas do acordo não são compatíveis com as regras da OMC se levarem a distorções comerciais", afirmou o embaixador da UE na capital chinesa, Nicolas Chapuis. "Caso isso se confirme, vamos recorrer à OMC para resolver este problema", admitiu. Segundo o acordo assinado na passada quarta-feira, em Washington, a China comprometeu-se a importar 200 mil milhões de dólares adicionais em bens oriundos dos Estados Unidos, nos próximos dois anos, incluindo produtos agrícolas, energia e bens manufacturados, para reduzir o défice comercial entre os dois países.
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AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1. Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 <<Lei de Terras>>, de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos: - Rua do Padre João Clímaco, n.ºs 13 a 19 e Avenida do Ouvidor Arriaga, n.ºs 88 e 88A, em Macau, (Edifício Fung Leng); - Rua dos Artilheiros, n.ºs 13 e 13A, em Macau, (Edifício Vo Sang); - Rua do Chunambeiro, n.ºs 4 e 4AA, em Macau, (Edifício Casa Matteo); - Rua do Almirante Sérgio, n.ºs 74 e 74A, em Macau, (Edifício Cheong Fat); - Rua de Henrique de Macedo, n.ºs 2A a 2C, em Macau, (Edifício Lai Fong); - Travessa do Enleio, n.ºs 6 e 6A, em Macau, (Edifício Man Fok); - Estrada de Adolfo Loureiro, n.ºs 4 a 6, em Macau, (Edifício Iberásia); - Avenida Marginal do Patane, n.ºs 717 a 775, Rua Nova do Patane, n.ºs 11 a 53, Rua da Bacia Sul, n.ºs 250 a 308 e Rua Sul do Patane, n.ºs 88 a 182, em Macau, (Edifício Trust Leisure Garden); - Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.ºs 301 a 319, Travessa da Encosta, n.ºs 6 a 50 e Rua da Encosta, n.ºs 158 a 226, em Macau, (Edifício Keng Fung Hou Teng); - Estrada Governador Albano de Oliveira, s/n, na Ilha da Taipa, (Edifício Bairro Residencial do Hipódromo). 2. Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situado no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Serviços da RAEM das Ilhas, para os efeitos do respectivo pagamento. 3. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada.
ANÚNCIO Consulta Pública n.º 21/DGF/2019 Montagem e exploração de cacifos em locais do Instituto para os Assuntos Municipais Faz-se público que, por deliberação do Conselho de Administração para os Assuntos Municipais do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), tomada em sessão de 18 de Outubro de 2019, se acha aberta a consulta pública para a “Montagem e exploração de cacifos em locais do Instituto para os Assuntos Municipais”. O Programa de Concurso e o Caderno de Encargos podem ser obtidos, todos os dias úteis e dentro do horário normal de expediente, no Núcleo de Expediente e Arquivo do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), sito na Avenida de Almeida Ribeiro n.º 163, r/c, Macau, ou descarregados de forma gratuita através da página electrónica deste Instituto (www.iam.gov. mo). Se os concorrentes quiserem descarregar os documentos acima referidos, fica também da sua responsabilidade a consulta de eventuais actualizações e alterações das informações na nossa página electrónica durante o período de entrega das propostas. A sessão de esclarecimento desta consulta pública terá lugar, às 10h00 do dia 13 de Janeiro de 2020, na Divisão de Formação e Documentação do IAM, sito na Avenida da Praia Grande, n.os 762-804, Edifício China Plaza, 6.º andar, Macau. O prazo para a entrega das propostas termina às 17h00 do dia 10 de Fevereiro de 2020. Os concorrentes ou seus representantes devem entregar as propostas e respectivos documentos no Núcleo de Expediente e Arquivo do IAM, sito no rés-do-chão do Edifício do IAM, e prestar uma caução provisória no valor de MOP 5.000,00 (cinco mil patacas). A caução provisória pode ser prestada na Tesouraria da Divisão de Assuntos Financeiros do IAM, sita na Avenida de Almeida Ribeiro, n.º 163, r/c, Macau, por depósito em numerário, cheque ou garantia bancária em nome do “Instituto para os Assuntos Municipais”. O acto público da consulta realizar-se-á na Divisão de Formação e Documentação do IAM, sito na Avenida da Praia Grande, n.os 762-804, Edifício China Plaza, 6.º andar, Macau, pelas 10h00 do dia 11 de Fevereiro de 2020. Aos 12 de Dezembro de 2019
Aos, 19 de Dezembro de 2019. O Director dos Serviços de Finanças, Iong Kong Leong
O Administrador do Conselho de Administração para os Assuntos Municipais Mak Kim Meng www. iam.gov.mo
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20.1.2020 segunda-feira
regresso devagar ao teu sorriso
Como Xu Yang mostrou a sua cidade natal ao imperador Paulo Maia e Carmo texto e ilustração
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HANG Geng (1685-1760) no seu tratado Pushan Lunhua citou palavras que Wang Yuanqi escreveu sobre uma pintura; «Não está dentro do antigo método nem no meu estilo, e no entanto, não está fora do antigo método nem é estranho à minha mão. A ponta do pincel é como um pilão de diamante, inteiramente livre de velhos hábitos.» A referência é um ponto de partida para o argumento do seu tratado que valoriza o carácter livre e independente do pintor. Ao longo do século dezoito essa liberdade iria conduzir alguns pintores a observarem e nalguns casos até a adoptarem técnicas da pintura europeia. Foi o caso do pintor de Suzhou, Xu Yang (1712-1777) que ao serviço do imperador Qianlong (r.1736-95) demonstrou o seu conhecimento dos modos de representação que utilizavam os seus colegas da corte, pintores estrangeiros missionários como Castiglione, Attiret ou Sichelbarth. É o que se pode notar na pintura que fez celebrando a viagem de inspecção que em 1751 o imperador fez ao Sul. Xu foi escolhido para dirigir os trabalhos que decorreram entre 1764 e 1770, a tempo de celebrar o sexagésimo aniversário do imperador. À desprezada urgência do tempo impôs-se a cuidada atenção a todas as formas conhecidas de figuração visual. Mostrá-la-á ao pintar a sua cidade natal. No sexto rolo, o mais longo de um total de doze monumentais, feito sobre seda em tinta e cor sobre seda (68,8 x 1994 cm), que está no Metmuseum em Nova
Iorque, conhecido como «Entrando em Suzhou ao longo do Grande Canal», percebe-se o uso da perspectiva e da descrição do volume dos corpos com sombras nas figuras humanas, à europeia, no meio da natureza representada de modo tradicional. Xu Yang já mostrara a sua cidade antes, em 1759, numa pintura conhecida como «Próspera Suzhou» (35,8 x 1225 cm), que está no Museu Provincial de Liaoning (Shenyang). Nela já está presente a perspectiva de ponto de fuga único, um dispositivo estranho à tradição. Esta estava bem presente na primeira grande pintura que celebrava a viagem de inspecção ao Sul do imperador Kangxi, o modelo tanto a viagem como a pintura, para o reinado de Qianlong, dirigida por Wang Hui (1632-1717), em que a referência aos modelos clássicos da pintura era não só evidente, como uma muito desejada peregrinação pela própria história da pintura. Com Xu Yang esta encontra-se com as técnicas europeias de pintar. O motivo de uma viagem de inspecção à periferia do império, (na verdade só foi a alguns quilómetros a sul do rio Yangzi), permitiu uma inesperada abertura ao exótico. A que não seriam estranhos os dois olhares a quem se destinava a pintura: ao imperador, que vinha de uma família estrangeira e à eternidade. O imperador aprovou, como se pode ler num poema logo no início da pintura. Da fama do pintor ficou essa ideia que queria Zhang Geng, de um espirito criador livre.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 15
segunda-feira 20.1.2020
José Simões Morais
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RA tal o desenvolvimento de Macau que em 1586 o Vice-rei da Índia D. Duarte de Meneses a passou a cidade, dando-lhe o nome de Cidade do Nome de Deus na China, assim como proibiu “a entrada na China a outros missionários além dos jesuítas”, segundo monsenhor Manuel Teixeira, que refere terem em Macau todos os frades espanhóis sido substituídos pelos portugueses em 1589. Para finalizar a História dos relógios como presentes, seguimos usando as informações deste religioso historiador, que refere, Ricci na China tornou-se o deus dos relojoeiros. Matteo Ricci chegou em Setembro de 1598 às portas de Beijing, mas encontrou um ambiente hostil contra os estrangeiros devido à invasão da Coreia pelo Japão e por isso foi para Nanjing, à espera que o clima na capital desanuviasse. Daí remeteu um memorial ao Imperador Wan Li referindo querer-lhe oferecer um sino que tocava sozinho. O tempo foi passando, até que um dia o Imperador se lembrou da carta escrita por forasteiros e logo os mandou chamar. Ricci e Diogo Pantoja partiram a 18 de Maio de 1600 num junco que transportava mercadorias pelo Grande Canal para a capital, onde chegaram a 24 de Janeiro de 1601 e três dias depois foram recebidos na corte imperial. O Imperador, que já ouvira falar de Ricci, ficou encantado com os presentes. Seguimos aqui a descrição do padre Manuel Teixeira do resto dessa história, “Explicaram então ao <Filho do Céu> que os relógios eram instrumentos que, de dia e noite, davam as horas ou pela campainha, que os tocava, ou pelo mostrador, onde uns ponteiros as indicavam. Todavia, para isso, era preciso que S. Majestade destinasse alguém que aprendesse a tratar deles e que, em dois ou três dias, lhe seria ensinado tudo o que era preciso>. Foram destinados para isso quatro eunucos; mas o imperador Van-li sentenciou: <Se o relógio se desarranja, vós pagareis com a vida, e ser-vos-á cortada a cabeça>. Os mandarins tremeram e eles, que até ali se opunham a que os Padres se fixassem na capital, eram agora os primeiros a suplicar-lhes que ficassem ali. É que tinham medo de perder a cabeça se qualquer peça se desarranjasse. Como o relógio precisou de várias reparações, os Padres iam à corte fazê-las e entretinham-se com o imperador.” Os relógios mecânicos eram ainda uma novidade em todo o mundo, sendo normalmente usados os relógios de Água, os de maior precisão. Os relógios de Sol eram comuns e de fácil leitura, enquanto as ampulhetas de areia, as velas e os pauzinhos de incenso, exigiam alguém a tempo inteiro para deles cuidar,
Relógios e a divisão do tempo na China pois era preciso serem mudados quando chegassem ao fim. Nas cidades muralhadas chinesas as portas eram abertas ao amanhecer por oficiais locais com um toque de sino e à noite eram fechadas com uma batida de tambor. Os tambores davam as horas à noite e os sinos durante o dia. O marcar das horas era assinalado com 18 rápidas batidas e 18 lentas. Nas torres do tambor existiam desde a dinastia Song as clepsidras ou relógios de água e mais tarde paus de incenso, para que os toques não se realizassem fora de tempo. Já na dinastia Qing, a noite começava às 19 horas, quando os tambores tocavam por treze vezes, o que correspondia a acertar as horas.
DIVISÃO DO TEMPO NA CHINA
Na antiguidade o ser humano descobriu o Tempo através do ciclo diário de dia e noite e logo de seguida, durante o dia pela mudança do tamanho da projecção da sua sombra criada pelo Sol. A necessidade de fixar o Tempo e a sua passagem levou-o a observações mais atentas e se o relógio de Sol terá sido o primeiro instrumento que encontrou, outros foram aparecendo. “O relógio astronómico inventado na China muito antes da Europa ter descoberto o relógio mecânico no século XVII é considerado por Joseph Needham como o primeiro protótipo de relógio no mundo”, segundo refere Maria Trigoso. Desde a dinastia Zhou do Oeste (1046771 a.n.E.), o dia contava com 12 shichen, relacionados com os ramos/raízes terrestres do sistema sexagenário (12 Di Zhi 地支) e adicionado a este talvez ainda antes, na dinastia Shang (1600-1046 a.n.E.), o dia estava já dividido em 100 ke (cem partes), relacionado com os dez caules celestes (10 Tian Gan 天干). Se na dinastia Qin (221-206 a.n.E.) cada dia tinha dez partes, cabendo à noite cinco, já na Han (206 a.n.E.-220) apa-
receu o geng (a dividir o período nocturno em 5 geng) e o dia passou a estar dividido em 120 ke. Na dinastia Liang (907-923) um dia tinha 96 ke e 108 ke (108 número budista), até que na dinastia Ming, com a chegada dos relógios mecânicos provenientes do ocidente, ficou dividido em 96 ke tornando-se tal oficial na dinastia Qing. Ke Zero caia na meia-noite e Ke 50 no meio-dia, enquanto o início de quatro Ke coincidia com um shichen. Apenas o início de 96 ke precisava de ser anunciado. Já quanto à divisão do dia por os 12 ramos terrestres do sistema sexagenário, na dinastia Zhou do Oeste o dia contava
Com a chegada dos relógios mecânicos trazidos pelos jesuítas e o conceito de dia de 24 horas, para distinguirem os dois sistemas, as pessoas chamavam Xiaoshi (Pequeno Tempo) ao dia de 24 horas e Dashi (Grande Tempo) ao dia de 12 shichen
com 12 shichen, correspondendo o primeiro a Zi Shi, mas tinha também outra denominação, Ye Ban (meio da noite), tornada oficial na dinastia Han; o segundo, Chou Shi ou Ji Ming (canto do galo); o terceiro, Yin Shi, ou Ping Dan (Sol abaixo do horizonte); o quarto, Mao Shi ou Ri Chu (Alvorada); o quinto, Chen Shi ou Shi Shi (tempo para comer); o sexto, Si Shi ou Yu Zhong (próximo do meio-dia); o sétimo Wu Shi ou Ri Zhong (meio do dia); o oitavo, Wei Shi ou Ri Die (após o meio do dia); o nono, Shen Shi ou Bu Shi (tempo de jantar); o décimo You Shi ou Ri Ru (Sol cai dentro da montanha); o décimo primeiro Xu Shi ou Huang Hun (Sol abaixo do horizonte); e o décimo segundo, Hai Shi ou Ren Ding (tempo para dormir). Se até ao início da dinastia Tang (618-907), Zi Shi, pela divisão actual das horas, começava à meia-noite e ia até às duas da manhã, a partir daí, Zi Shi passou a corresponder das 23h à uma da manhã e assim decorria sucessivamente pelos restantes onze shichen. Na dinastia Song, quando em 1088 Su Sung (10201101) criou o seu relógio de água, cada shichen passou a ter duas partes: a primeira era chu e a segunda zheng, isto é, zichu e zizheng, passando assim o dia a estar dividido em 24 partes. Com a chegada dos relógios mecânicos trazidos pelos jesuítas e o conceito de dia de 24 horas, para distinguirem os dois sistemas, as pessoas chamavam Xiaoshi (Pequeno Tempo) ao dia de 24 horas e Dashi (Grande Tempo) ao dia de 12 shichen e como já desde a dinastia Song cada shichen era dividido em dois passou cada um a ser chamado xiaoshi, correspondendo a uma hora. Assim apareceram os números a denominar as horas. Já quanto aos minutos, eles foram retirados da divisão do dia, que no início tinha 100 ke e mais tarde 96 ke, o que dava para cada hora 4 ke, correspondendo 1 ke a 15 minutos. Segundo J. Gernet, “os relógios serão uma das primeiras novidades importadas na China pelos jesuítas e Matteo Ricci parece ter-se tornado mais tarde o deus patrono dos relojoeiros chineses: no século XIX era venerado em Xangai com o nome de Bodhisattva Ricci.”
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Cidade ecrã Rui Filipe Torres*
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HEGOU dia 9 às salas portuguesas o filme escrito e realizado por Lulu Wang, co-produção CHINA - EUA, que deu um globo de ouro a Awkwafina, nome da actriz e raper Nora Lum, pela sua personagem Billi. Billi é uma mulher de 30 anos estudante de arte em Nova York, filha única, que saiu com 6 anos de Changchun, cidade do norte da China, quando os seus pais emigraram. A personagem, como de resto todo o filme, é construído com material das relações pessoais
20.1.2020 segunda-feira
A Despedida da realizadora Lulu Wang com a sua família e em particular a sua avó Nai Nai. Não se espere, no entanto, um tom confessional neste filme que cruza, com extraordinária eficácia, o material pessoal e familiar da personagem Billi, com a construção de uma narrativa fílmica ficcional, arquetipal na sua estrutura aristotélica dos três actos. Ao longo da narrativa, diálogos inteligentes e verosímeis, como uma comicidade trabalhada em regime de laboratório, estabelecem a adesão do espectador à estória vivida na tela, onde as teias finas e densas da construção dos afectos dão a conhecer aspectos profundamente significantes do que é a cultura ancestral e milenar da China no mundo familiar na diáspora contemporânea. A linha narrativa principal é simples; Billi e Nai Nai, avó e neta falam todos os dias pelo telemóvel, tem uma relação de amor forte apesar da distância geográfica, Billi vive em Nova Iorque e Nai Nai em Changchun. É diagnosticado um cancro terminal a Nai Nai. Toda a família decide esconder esse diagnóstico de Nai Nai e simultaneamente vão todos visitar a matriarca. Dado o carácter de Billi, a sua incapacidade de esconder os sentimentos, toda a família considera que é melhor ela não ir a esse encontro familiar. Para que o encontro não levante suspeitas a Nai Nai, é decidido pela família uma razão para o encontro, o casamento de um neto, o que vive no Japão e que tem uma namorada há três meses. Billi não acata a decisão de não estar presente no que é entendido como o encontro da derradeira despedida, e voa para a China. A sua chegada é vista com inquietação. Mas Billi decidiu, ainda que questionando, acatar a mentira piedosa que toda família está a vi-
ver, considerando que é o melhor para a Nai Nai. Se a morte vai acontecer, afinal porque não poupar a dor da certeza da escassez dos dias? Se esta é linha narrativa principal, o que torna o filme magnifico são as constelações formadas por pequenas camadas que se instalam ao longo do processo narrativo, e nos dão a ver de forma clara, que na China contemporânea o valor dado à família, a importância do relacional, o existir em função do outro, o carinho e até a devoção ao mais velho, ideia de uma prática em função de um axioma em que o interesse social, nas suas diferentes escalas, a família, a comunidade mais próxima, o país, é o princípio orientador e não a atomização, o altar do subjectivo, o indivíduo como lugar cardeal da existência, permanece e é agregador e principal construtor de identidade. Podem ter passaporte dos EUA, ter como objectivo que os filhos estudem nos EUA, mas ainda assim, é nos laços afectivos que se reconhecem mesmo que dos antigos bairros onde os avós viveram nada seja visível. O encontro da família dá-nos a ver a permanência de uma filosofia tão antiga como a própria China, uma visão do mundo assente nos ensinamentos ancestrais do Mestre Confúcio, num registo que alterna sem sobressaltos entre a comédia e o drama, numa realização sóbria, ancorada numa representação de grande verosimilhança com a materialidade dos quotidianos, e uma banda sonora de grande qualidade e serventia à produção da emoção. Em muitos aspectos, especialmente na necessidade do relacional, da pertença, na relevância dada aos afectos, apesar da distância geográfica, da barreira da língua, da religião e dos costumes, parece ser fácil reconhecer uma seme-
lhança com a característica afectuosa e emotiva do povo Português. Talvez por isso a particular relação de mais de 500 anos que entre nós está estabelecida e de que Macau é expoente e bandeira.
Como sempre, o cinema é um diálogo que faz notar a aproximação, a anulação da distância, geográfica e afetiva. A Despedida é afinal, nesta notável comédia, o lugar do encontro. Realizador: Lulu Wang Produção: Anita Gou, Daniele Tate Melia,
Andrew Miano, Peter Saraf, Marc Turtletaub, Chris Weitz, Jane Xheng Argumento: Lulu Wang Elenco: Shuzhen Zhao, Awkwafina, X Mayo, Hong Lu, Hong Li, Tzi Ma, Diana Lin, Yang Xuejian, Becca Khalil, Han Chen, Yongbo Jiang, Xiang Li, Aoi Mizuhara, Hongli Liu, Shimin Zhang 2019 | EUA | CHINA Comédia, Drama | 100 min.
* Cineasta, Jornalista. Doutorando em Estudos Artísticos - Estudos Fílmicos e da Imagem - FL -Universidade de Coimbra Mestre em Estudos Culturais Aplicados em Cinema - Desenvolvimento de Projecto Cinematográfico - ESTC Instituto Politécnico de Lisboa. Licenciado em Ciências da Comunicação - ISCSP - Universidade de Lisboa
ARTES, LETRAS E IDEIAS 17
cartografias Anabela Canas
ANABELA CANAS
segunda-feira 20.1.2020
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RESCENTE, minguante, ou simplesmente o quarto. Escuro. Que se teme como se tem em casa. O pavor do desconhecido que nos invade e está para além daquela porta. Que se abre sozinha num chamamento. Do lado de lá, ou do lado de cá. Quarto crescente, dizia-se, era o tempo de cortar o cabelo para que crescesse melhor. O que significa melhor? Mais rápido ou mais forte. Mas nunca as duas coisas. De acordo com as fases da lua. Mas é sempre a renovação. Tempo de mudança em catadupa ou em profundidade. A pedir paciência e distância para ler em longitude. Não tenho cortado. Há qualquer coisa impensada e ancestral, que me apetece, nisto. Talvez estranho. Se não será estranho tudo o que somos nos outros. Um bom jogador calculava a mão do adversário. Novas cartas de jogar, de marear. Mesmo as de avião chegavam com cheiro a maresia. Rasto de nuvens ou aroma de terra. Vindas sobre o mar a olhar para baixo e a contar milhas. Dias, até chegar a continente. Cheias. Mesmo se de pequenos faits divers. Palavras trazia-as o vento. Mas aquelas ficavam para sempre coladas amorosamente, com a discreta cola que une os pigmentos à folha, num para sempre que para sempre se podia revisitar. Saborear. Escrever é bom. Que pena perder-se o prazer das cartas. Não as de jogar, talvez mais sedutoras, mas de escrever. Ao outro, mesmo o outro de nós. Numa confissão de coexistência pacífica. As cartas são sempre uma emoção ao ponto de subir aquele nó. São tempo, tão tempo. Ultrapassado com tempo e com o tempo necessário. Dantes muito, hoje menos. O necessário para a ponte. O tempo parado, refeito remodelado. Um registo físico que se apertava nas mãos e prometia. E a caligrafia laboriosa, estilizada de quem se vestiu bem pela manhã para chegar ao outro. Tive um amigo. R. De há muitos anos e há muito retirado. Era apelido. Que parecia nome e era. Nunca tive tempo de passar a tratá-lo pelo primeiro nome. Pareceria uma outra pessoa. Vivia antes num quarto apertado, meticuloso e escuro, em que o visitámos – lembro - perto do antigo aquário. Um mundo recolhido. Como se a sofrer de tonturas e enjoo da trepidação do mundo. Mais tarde numa casa com luz. Tinha uma colecção de copos antigos. Delicados e lapidados, que guardava num móvel retro que abria com aqueles gestos lentos a orquestrar poesia. A voz, os olhos transparentes e as palavras repletas. Ao ponto de ser parte de um teatro e no medo de dizer coisas rudes e sem a deixa certa. Uma performance de zelo e o desafio da capa poética do tempo a passar, nessa escultura aprimorada para a memória. E um pé de rosas pequeninas e claras num vaso, que se dispôs a deixar partir porque deveria podar as raízes como os delicados ramos. São difíceis as rosas. Ou
O quarto talvez não fosse isso, mais do que o que me ficou na memória ficcionada. Talvez naquele dia ela estivesse, a roseira mínima, por ela própria, simplesmente de partida. E ele, por um desses mecanismos de negação do inevitável, a iludir o destino da roseira cruzando-o com o seu. Bebeu demais naqueles copos, uma certa desistência do mundo como a dor da desistência da rosa. Da sua. Abalou, na soberba convicção da sua estranheza máxima. E da sua inviabilidade face ao mundo. Tornar-se ilegível e invisível. Para não ver a sua invisibilidade descontrolada. Uma ilusão de poder. Esta gestão do invisível poético. Retirou-se pelo caminho mais curto. Da face visível, vista daqui. Da sua face ao mundo e deste, na sua impraticável relação com a estranheza. Mas cada um a sua. E desapareceu de qualquer mapa. Espero que esteja por aí.
Eu tinha aquele amigo. R. Escrevia cartas como ninguém. Adivinhava-as poéticas no seu hermetismo meticuloso. Que ele sabia. Porque as sabia para lá dos limites do legível. Há duas formas de abstractizar, mesmo na caligrafia. Uma, esse estender vogais e consoantes num gesto langoroso e largo que as dissolve numa linha que é quase um espreguiçar felino e sensual. Outra, esse retorno tenso e imbricado sobre si, em nós de brusquidão. Em cada haste um nó, em cada perna um cilício. Ou esse revirar a letra sobre si própria com um braço que se protege. Na caligrafia dele, tudo isto e a escala à beira do invisível. Do abismo. Que para ele seriam as palavras que só ele sabia como se despenhavam. Num pedido a serem lidas. Talvez, como se quisesse. E não nos seus limites. Angustia-me ainda, quando o lembro.
Eu tinha aquele amigo. R. Escrevia cartas como ninguém. Adivinhava-as poéticas no seu hermetismo meticuloso. Que ele sabia. Porque as sabia para lá dos limites do legível
Aquelas cartas – poucas, quando eu vivia longe - encriptadas numa escrita minúscula, indecifrável também por outros requintes que não a escala, também na forma. Já não bastasse o conteúdo. Pior do que o Edge Rank com mais de cem mil variáveis. Há tantas formas de ilegibilidade. Quase só o desfiar de linha plena de nós apertados e finos. Tão finos que não havia unhas que os desenleassem. Era para ser assim. Uma teia de sedução muito aquém do visível. A ilegibilidade assumida do ser face ao outro. A fuga desesperada à leitura. Conseguida. Desesperante. Protegida. Como um temor prévio de não ser entendido. Mas talvez maior, ainda, o pavor de ser entendido. Demais. E, não confiando no mundo, por defeito protegia as suas ínfimas flores nocturnas e exauridas. Ao ponto de as deixar ir. Quanto custa este envergonhamento de ser, de sentir, de ser sabido, sentido… Ele retirou-se em quarto minguante. Mas colecionava copos com alma. Vindos de outras casas e de outras vidas. Poeta solitário, virou-se para a poesia e esqueceu as pessoas para que não o esquecessem a ele. Uma espécie de abrupto – afinal – mergulho de novo num talvez outro quarto escuro. Aliviado de todo o peso extra, terá talvez pousado a caneta de vez. Sem ninguém de quem se esconder. Ou não. Não sei, até hoje, que lua nova lhe veio depois. Que crescente surgiu dali. Mas entendo, agora.
18 7 (f)utilidades 4 1 6 3 5 2
5 6 3 7 2 4 1 3 1 2 5 7 6 4 T6 EMP 7O 4M U2I T O1 N3U B5L A D O 2 5 6 3 4 1 7 3 7 FAZER 4 5 2 6 O1 QUE ESTA 4 2 SEMANA 5 1 6 7 3
Diariamente 39 “GAME – GIGI LEE’S MULTIMEDIA” EXPOSIÇÃO
?
3 5 1 7 6 2 4 EXPOSIÇÃO “MACAU CANIDROME-POUCHING TSAI 2EXHIBITION” 6 7 4 3 5 1 SOLO Armazém do Boi | Até 11/2 6 1 4 2 7 3 5 EXPOSIÇÃO “NO YA ARK: INVISIBLE VOYAGE” 1 3 5 6 4 7 2 Armazém do Boi | Até 2/2 7 2 3 1 5 4 6 5 4 6 3 2 1 7 4 7 2 5 1 6 3 Armazém do Boi | Até 16/2
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Cineteatro
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C I N E M A
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7 3 6 MIN 5 1 2 4
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5 4 4 7 2 3 1M A2X 6 5 7 1 3 6
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5 1 6 3 3 2 4 5 2 6 7 4 4 5 1 7 6 3 5 2 1 7 2 6 7TRÁGICOS 4 3 1
NÚMEROS 42 3 6 4 2 5 1 7
7 5 1 6 3 4 2
5 4 2 1 6 7 3
4 7 5 3 2 6 1
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 42
1 3 2 6 2 5 4 7 1 72 0 6H U4M 2 4 3 3 5 6 5 1 7 2 1 3 6 7 4 5
Um filme de: Adil El Arbi, Bilall Fallah Com: Will Smith, Martin Lawrence, Vanessa Hudgens 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2
1917 [C] Um filme de: Sam Mendes Com: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Benedict Cumberbatch 14.30, 16.45, 19.15, 21.30
3 1 2 •7 4 5 6
2 1 5 3 6 5 E4U R6 O 3 7 7 4 1 2
6 3 7 4 1 2 5
1 2 6 5 7 3 4
2 1 3 7 4 5 6
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PROBLEMA 43
1 54 66 2 7 5 13
16 3 5 1 72 7 4
3 45 4 7 6 62 1
45
7 5
Um filme de: Rupert Goold 14.30, 16.45, 19.15
UNDERWATER [B] Um filme de: William Eubank Com: Kristen Stewart,
Vincent Cassel
21.30
www. hojemacau. com.mo
PARA QUEM?
57 2 3 5 4 1 6
4 1 47 3 5 36 2
5 6 2 4 1 3 7
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“Precisamos de criar um ambiente social de maior inclusão e abertura. ‘O mar é grandioso por receber todos os rios’. O espírito de complementaridade mútua e inclusão é característica importante de Macau como uma cidade internacional. Perante o futuro, enquanto sempre aguardar a pátria no coração, devemos ter uma visão global para tornar Macau numa ponte importante de abertura bidirecional do país. Devemos promover ativamente o intercâmbio cultural internacional para elevar o prestígio e vantagem de Macau como cidade internacional onde as comunidades de diferentes origens se convivem no respeito 48mútuo 44e apoio recíproco, onde as diversas culturas se coexistem com harmonia.” Eis a resposta perfeita ao racista da universidade que tem problemas com “brancos” e ao patrioteiro da AL que quer acabar com as festividades do Natal por não serem “patrióticas”. E mesmo a muitos outros, do outro lado da virtual barricada. E de quem são estas palavras, queridos leitores? Nem mais nem menos que do actual director do Gabinete de Ligação, Fu Ziying, proferidas na sexta-feira passada na recepção de Ano Novo da referida entidade. Kung Hei Fat Chói! Carlos Morais José
1 5 7 2 6 3 4
3 6 1 5 4 7 2
4 2 5 7 3 6 1
5 3 7 2 4 1 6
7 1 6 3 5 4 2
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2 6 4 5 1 7 3
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4 3 5 7 2 6 1
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MATHIEU SCHWARTZ | PASTEUR E KOCH: DUELO DE GIGANTES NO MUNDO DOS MICRÓBIOS (2018)
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2
JUDY [B] Com: Renee Zellweger
20.1.2020 6 5 4segunda-feira 6 2 7 2 7 1 2 4 3 4 4 6 3 5 2 B N 6 1.14 6 5A H T 0 . 2 63 Y7U A 1 1 2 5 7 3 1 3 VIDA DE CÃO 6 2 4 1 5 7 PALAVRAS 1 3 5 7 6
4 7 1 2 6 3 4 7 5 7 6 4 7 3 1 5 2 6 5 1 3 6 5 7 1 4 2 2 3 5 4 2 6 3 1 7 1 4 7 1 4 5 2 6 3 3 5 6 5 1 2 7 3 4 Um6 homem2 de 84 anos, que tinha sofrido na Austrália, 2 queimaduras 3 7nos incêndios 4 6 5 morreu 1 no sábado em Sidney, elevando para 29 o número de vítimas mortais dos fogos no país. De
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SALA 2
7 5 4 6 1 7 7 28 . 8 3 5 2 6 1 3 4
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UM FILME HOJE
UNDERWATER BAD BOYS FOR LIFE [C]
4 7 3 6 0 - 9 5´% 1 6 2 5
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acordo com a polícia australiana, o homem estava hospitalizado desde 31 de dezembro em consequência de queimaduras sofridas nos incêndios na localidade de Cobargo.
O mundo do pós-guerra franco-prussiana, ficou marcado por uma grande rivalidade entre a alemães e franceses que se alastrou a várias áreas, como a ciência médica. Neste documentário é reconstituído o duelo, de forma ficcionada, entre dois rivais: Robert Koch e Louis Pasteur e a forma como se gladiaram pela superioridade científica e foram descobrindo vacinas contra doenças como a tuberculose, raiva, peste, cólera ou o tétano. João Santos Filipe
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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; In Nam Ng; João Santos Filipe; Juana Ng Cen; Pedro Arede Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
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segunda-feira 20.1.2020
reencarnações JOÃO LUZ
C
ONTINUANDO no tema da náusea provocada pela morte do significado e dos conceitos. Reflexões um nadinha mais profundas, ainda assim epidérmicas, depois da espasmódica coluna canina de sexta-feira, levaram-me a pensar na evolução das espécies, na viagem incrível de Darwin a bordo do Beagle, na sobrevivência como recompensa para maior aptidão. Tal como na biologia, também conceitos, direitos, ideias e valores dissipam-se e extinguem-se na luta constante e cruel entre fortes e fracos. Sem as constrições da genética, mas também sujeitos aos elementos, os ideários são susceptíveis ao zeitgeist político, ao panorama económico, às vontades umbilicais dos que olham para o mundo como se fosse sua propriedade. Nesse aspecto, as ideias são seres frágeis, apesar de duradouros alargando o zoom temporal para um longuíssimo-prazo. A questão linguística de deturpar o sentido dos conceitos, de tingir significados com as cores berrantes da propaganda, não é a única causa de morte, mas talvez seja uma das mais exasperantes. Eleva a raiva aos píncaros. Como o exemplo dos antigos esclavagistas norte-americanos que preferiam guerra civil a abdicar da “liberdade” de fazerem pleno uso do “direito” de disporem da sua “propriedade”, deturpando esses conceitos para retirar humanidade a outro humano. A vasta maioria das ideias perecem na imparável evolução moral e social. Em certos casos, o que já foi ética e socialmente aceitável em tempos é hoje em dia hediondo e um trauma do passado. Há bem pouco tempo, havia apenas uma ténue linha entre pedofilia e uma espécie torcida (hoje em dia) de educação sexual, de tutela íntima. Até JP Sartre escreveu sobre isso. Muito mais antiga é a noção de que a mulher não é um ser pleno, capaz como o homem, bizarria lógica e desrespeito que ainda hoje envenena algumas mentes paradas no paleolítico ético. Nunca antes na história desta aventura chamada humanidade tivemos uma situação tão favorável em termos de direitos humanos e de respeito pela vida, apesar de todos os horrores que enchem os noticiários. Mas isso não é sinónimo de passividade. Tudo o que somos hoje em dia foi conquistado com sangue, suor e lágrimas. Iniquidade e perversão estão sempre à espreita, como uma força corrosiva. Por isso, é nossa obrigação, enquanto homens e mulheres deste tempo, levantarmos o dedo do meio perante as vozes que atentam contra noções de direitos humanos, que
Evolução
tentam instrumentalizar a dor dos povos para tirar dividendos políticos. O equivalente biológico ao lagostim vermelho, ao bicho que provoca extinção sem adaptação ou evolução, mas a extinção através da chegada de uma espécie invasora, introduzida como instrumento para matar um ecossistema de valores. Transportando estas ideias para o que nos rodeia, para o mundo em que vivemos, é nossa missão maior sermos guardiões das conquistas do passado, protectores da invencível máquina da selecção natural dos princípios. Assim sendo, quando ouvimos, lemos, vemos pedras no caminho da evolução ético/social, temos a obrigação de as desviar, mesmo que o peso pareça insuportável.
Não podemos ficar de braços cruzados enquanto forças que planam por cima das preocupações do homem médio traçam cenários de regressão e ameaçam valores de decência e humanismo que conquistámos a tão elevado custo. Quando vemos a bem presente confusão local entre elevado grau de autonomia e subserviência cega perante o poder maior sobre o qual se arroga a autonomia devemos afirmar esse paradoxo e denunciá-lo. Existe aqui uma enorme contradição que mata os dois significados, um par de premissas fracas num silogismo que não vai a lado nenhum. Autonomia e servilismo não podem acontecer ao mesmo tempo, um destes organismos conceptuais está destinado à extinção.
Iniquidade e perversão estão sempre à espreita, como uma força corrosiva. Por isso, é nossa obrigação, enquanto homens e mulheres deste tempo, levantarmos o dedo do meio perante as vozes que atentam contra noções de direitos humanos, que tentam instrumentalizar a dor dos povos para tirar dividendos políticos
O mesmo acontece com um princípio basilar que rege a especial administração desta região. Não são necessárias forças externas para corromper um segundo sistema quando este está em constante assalto interno. Meus amigos, sejamos claros. Uma Assembleia Legislativa que se transformou num concurso para ver quem é o mais patriótico não tem qualquer interesse em ser autónoma. Já não tinha interesse em ser independente e fiscalizar o Executivo, muito menos defender Lei Básica, declarações conjuntas, ou o princípio “Um País, Dois Sistemas”. Para a larga maioria dos deputados de Macau, este princípio acaba em “Um País”. Estamos todos a assistir impávidos e serenos à extinção de valores e princípios basilares ao papel que Macau tem e quer ter no futuro, enquanto natural parte do território chinês. Não estão em causa lentos processos de adaptação que imprimem novas características ao organismo na ancestral corrida pela procriação e sobrevivência, como testou o visionário Darwin. Não. Estamos a olhar para o asteroide apocalíptico como se fosse um foguete de fogo-de-artifício a iluminar o céu.
Não tentes curar o mal com o mal. Heródoto
Hong Kong Polícia responde com gás lacrimogéneo
ÍNDIA EXECUÇÕES DOS QUATRO VIOLADORES DE JOVEM DE 23 ANOS ADIADAS PARA FEVEREIRO
A polícia de Hong Kong disparou ontem gás lacrimogéneo contra manifestantes que protestavam num parque público, exigindo uma reforma eleitoral e um boicote ao Partido Comunista da China. De acordo com a agência Associated Press, as autoridades terão autorizado a concentração, mas não a marcha na qual participaram milhares de pessoas, envergando roupas negras e máscaras.
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PSD Rui Rio reeleito com 53,02% dos votos
O candidato e presidente do PSD, Rui Rio, foi sábado reeleito com 53,02 por cento dos votos, derrotando o ex-líder parlamentar Luís Montenegro, que teve 46,98 por cento, anunciou o conselho de jurisdição nacional do partido. O anúncio foi feito pelo presidente do conselho de jurisdição, Nunes Liberato, na sede nacional dos sociais-democratas, em Lisboa, cerca das 23:20. Esta eleição foi decidida numa segunda volta das directas no PSD, o que aconteceu pela primeira vez na história do partido.
Lotte Morreu o fundador do grupo económico sul-coreano
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O empresário sul-coreano Shin Kyuk-ho, fundador do grupo empresarial Lotte, morreu ontem aos 98 anos vítima de uma doença crónica, informou a empresa. O empresário fundou, em 1948, a Lotte como uma empresa fabricante e distribuidora de pastilhas elásticas, mas ao longo dos anos e com o apoio do governo foi expandindo a sua actividade até ser uma dos mais fortes empresas em diversos sectores como hotelaria, restauração, industria química, construção, entretenimento, doces, bebidas, comida rápida e na electrónica na Coreia do Sul e no Japão. Shin Kyuk-ho era o último representante vivo da geração de empreendedores sul-coreanos fundadores dos denominados “chaebol” depois do falecimento dos fundadores dos gigantes da Coreia do Sul como a Samsung, Hyundai e LG. Em 2017, o empresário foi condenado a quatro anos de prisão por apropriação indevida de fundos e outros delitos criminais, mas não os chegou a cumprir devido à sua avançada idade e à frágil saúde.
segunda-feira 20.1.2020
PALAVRA DO DIA
Dezenas de manifestantes reuniram-se sábado em Naypyidaw para recordar a controvérsia em torno da barragem de Myitsone que não foi incluída nos acordos depois de a China ter assinado um contrato de construção em 2009 que não foi cumprido
Uma mão amiga Xi Jinping assina 33 acordos comerciais no Myanmar
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Presidente chinês Xi Jinping assinou sábado com a líder de facto do Governo de Myanmar, Aung San Suu Ky,i 33 acordos comerciais e um programa de infraestruturas. A visita de dois dias do Presidente chinês ocorre numa altura em que os investidores ocidentais evitam Myanmar (antiga Birmânia) devido à polémica que envolve a perseguição à minoria muçulmana dos rohingyas. Uma onda de repressão lançada em 2017 contra esta minoria muçulmana, que foi classificada como genocídio pelas Nações Unidas, forçou cerca de 740 mil rohingyas a refugiarem-se no Bangladesh. Porém, apesar da desa-
provação internacional, Pequim continua a apoiar firmemente Myanmar. Xi considerou a sua visita como “um momento histórico” para as relações entre os dois países vizinhos, segundo o jornal Global New Light of Myanmar e mencionou a “injustiça e desigualdade nas relações internacionais”.
DESCONFIANÇA EXTERIOR
A China é actualmente o maior investidor em Myanmar, gerando desconfiança da opinião pública e das intenções dos governantes do país, acentuada pelos poucos detalhes conhecidos dos 33 acordos. Um deles consiste num pacto de accionistas e uma concessão referente ao porto de águas profundas e à zona económica de
Kyaukhphyu, localizada no Estado de Rakhine. Outro dos acordos assinados é uma carta de intenções para o “novo desenvolvimento urbano” da capital birmanesa, Naypyidaw (ex-Rangum), e estudos de viabilidade para ligações ferroviárias. O objectivo do protocolo é criar um “corredor económico China-Birmânia”, que seja uma porta de entrada para o Oceano Índico na China. Dezenas de manifestantes reuniram-se sábado em Naypyidaw para recordar a controvérsia em torno da barragem de Myitsone, no norte do Estado de Kachin - que não foi incluída nos acordos depois da China ter assinado um contrato de construção em 2009 que não foi cumprido.
S execuções de quatro homens condenados pela violação e assassínio de uma estudante num autocarro em Nova Deli em 2012, que provocou indignação no país e no mundo, foram sexta-feura adiadas de 22 de Janeiro para 1 de Fevereiro. As execuções por enforcamento foram determinadas em 2017, mas adiadas devido a vários recursos dos violadores. A justiça indiana marcou recentemente as execuções para 22 de Janeiro, antes do último recurso dos condenados. “Lutamos há sete anos para obter justiça para a nossa filha. Os condenados usaram todos os tipos de tácticas de adiamento. Não ficaremos tranquilos até que sejam enforcados”, disse a mãe da jovem assassinada, após deixar o tribunal. Inicialmente, seis homens foram acusados de participar no crime atroz ocorrido num autocarro, mas um foi libertado após uma breve detenção por ser menor de idade e outro cometeu suicídio antes do julgamento. A jovem de 23 anos, estudante de fisioterapia, foi atacada num autocarro em Dezembro de 2012, depois de ir ao cinema com um amigo. Os atacantes violaram a estudante, infligiram-lhe ferimentos internos com uma barra de ferro, com a qual também espancaram o seu amigo. A estudante e o amigo foram abandonados despidos à beira de uma estrada. A jovem morreu, devido os graves ferimentos, duas semanas depois em Singapura, para onde foi transportada para receber atendimento especializado. Dezenas de milhares de indianos saíram às ruas para protestar contra o acto bárbaro. A tragédia levou a uma revisão das leis sobre abuso sexual na Índia, mas que ainda não foi suficiente para travar as frequentes violações contra mulheres e raparigas naquele país.
Europeu de andebol Portugal perde com Islândia e fica mais longe das ‘meias-finais’
A selecção portuguesa de andebol perdeu ontem com a Islândia por 28-25, no segundo encontro do Grupo 2 da ronda principal do Euro2020, em Malmö, ficando mais longe do apuramento para as meias-finais. Dois dias depois do histórico triunfo por 35-25 face à Suécia, a formação das ‘quinas’, que ao intervalo já perdia por 14-12, cedeu face a uma equipa que ainda não tinha pontuado nesta segunda fase da competição. Na classificação, Portugal manteve-se com dois pontos, a dois de Noruega e Eslovénia, os mesmos de Hungria e Islândia e mais dois do que a Suécia, sendo que conta mais um jogo disputado, tal como os islandeses.